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GERENCIAMENTO
DA CADEIA DE
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Copidesque
Cláudia Amorim
Editoração Eletrônica
Estúdio Castellani
Revisão Gráfica
Ivone Teixeira
Projeto Gráfico
Elsevier Editora Ltda.
Conhecimento sem Fronteiras
Rua Sete de Setembro, 111/16º andar
20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ
ISBN 978-85-352-2415-3
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pressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de Atendimento
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Inclui bibliografia
ISBN 978-85-352-2415-3
O Autor
Do mesmo autor:
Armazéns Gerais
Na fase colonial, os pioneiros que se aventuravam no Oeste norte-americano
necessitavam de um sem-número de mercadorias para suas atividades colo-
nizadoras. Apareceram, nessa época, os armazéns gerais (general stores), que
operavam de acordo com certas práticas, destacando-se as seguintes:
2
Comercialização por Catálogos
O estilo de operação dos armazéns gerais, embora atendendo satisfatoria-
mente às populações rurais, começou a se exaurir com o tempo. Os consumi-
dores queriam maior variedade e estilo um pouco mais sofisticado para rou-
pas, sapatos, produtos de toucador e objetos de decoração da casa. Não foi
especificamente o preço final dos produtos que levou os consumidores a
buscarem outras fontes de comercialização. Como sempre, fatores tecnoló-
gicos (técnicos, no caso) acabaram trazendo em seu bojo novas oportunida-
des de negócio. Neste caso específico, foi o sistema postal norte-americano
que deu impulso a um novo tipo de comercialização de produtos. Além de o
correio atender razoavelmente bem às regiões do interior, o governo ame-
ricano criou um incentivo especial às zonas rurais, com tarifas postais sub-
sidiadas, objetivando a fixação do homem no campo. Essas facilidades e in-
centivos abriram espaço para o sistema de comercialização de produtos por
catálogos e encomendas postais.
Em 1872 foi criada, nos Estados Unidos, a primeira empresa que co-
mercializava produtos por meio de catálogos, a Montgomery Ward. Algum
tempo depois, em 1886, Richard Sears também entrou nesse nicho de negó-
cios. Em termos logísticos, nota-se uma evolução bastante importante nesse
tipo de operação comercial. A centralização dos estoques em alguns pontos
do território possibilitava:
Especialização do Varejo
Mas a aquisição por catálogo não substituía plenamente a compra pessoal. A
visualização dos produtos através de desenhos e fotos, por melhor que seja,
não pode ser substituída pelo contato direto. A escolha de roupas e sapatos,
por exemplo, é normalmente antecedida pela experimentação direta – a pro-
va. Uma forma de contornar parcialmente o problema, e ainda hoje adotada
pela Sears, é permitir a devolução incondicional do produto dentro de um
certo prazo, com o reembolso total da importância paga. O slogan é: “Satis-
fação garantida ou seu dinheiro de volta”.
Por trás desse slogan, há alguns componentes logísticos importantes. Em
primeiro lugar, a entrega do produto do varejista ao consumidor, através do
correio ou de uma transportadora, exige um grau de confiabilidade elevado.
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Se o produto chega ao consumidor violado, quebrado ou faltando partes, ou
se há extravios frequentes, o sistema acaba caindo no descrédito. Por isso,
para seu bom funcionamento, é necessário um sistema logístico confiável.
Outro problema logístico nesse tipo de comercialização é o retorno da
mercadoria devolvida ao varejista. É necessário estabelecer um canal de de-
volução confiável e prático. Se a devolução for complicada, com burocracia
e dificuldades diversas, o sistema cairá em descrédito. Além disso, para o
bom funcionamento da venda por catálogo, é necessário que se tenha uma
moeda estável. Durante os primeiros anos do Plano Real, com a moeda esta-
bilizada, observou-se no Brasil uma pequena expansão desse tipo de negó-
cio. Caso a moeda permaneça estável por um período longo, esse tipo de co-
mercialização tenderá a crescer no país.
Em paralelo à comercialização por catálogo e em função do crescimen-
to e do maior nível de sofisticação da demanda, surgiram as lojas especiali-
zadas numa linha específica de produtos (limited line stores). Da mesma for-
ma que um açougue é operado por um profissional que conhece os cortes da
carne, sua conservação e as preferências de seus clientes, a demanda por sa-
patos, por exemplo, passou a exigir certa especialização, com o comerciante
mais atento às variações da moda, ao lançamento de novos produtos nos
grandes centros etc. Com o crescimento dos centros urbanos, distribuídos
espacialmente em torno de um centro comercial (CBD – Central Business
District) e com a introdução do bonde e do ônibus como meios de transporte
urbano e suburbano, criaram-se as condições, embora parciais, para maior
concentração espacial dos negócios. As lojas especializadas, como as de rou-
pas, calçados, móveis e utensílios domésticos, entre outras, se tornaram can-
didatas naturais a se localizarem nas áreas centrais.
O crescimento e a diversificação da demanda, por outro lado, levaram a
soluções mistas, baseadas em fatores tecnológicos e de prática profissional.
Por exemplo, o clássico farmacêutico do século XIX, que preparava os re-
médios no laboratório situado no fundo de seu estabelecimento, começou a
produzir e a comercializar produtos de beleza e de toucador, aproveitando
seus conhecimentos de química e o instrumental disponível. Essa expansão
deu origem, nos Estados Unidos, ao drugstore, que incorpora uma farmácia,
mas oferece um grande número de produtos de pequeno valor unitário,
como filmes fotográficos, jornais e revistas, guloseimas etc.
Em fins do século XIX e início do século XX, se tornaram populares,
nos Estados Unidos, as lojas de departamentos (department stores). São es-
tabelecimentos varejistas, na época localizados apenas no centro comercial
das cidades, e que congregam, num único prédio, setores diversos (depar-
tamentos), especializados na venda de diversos produtos, como eletrodo-
4
mésticos, móveis, roupas, calçados, brinquedos. A ideia por trás desse tipo
de varejo é a de incorporar, às vantagens da especialização já comentadas,
as economias de escala obtidas com os expressivos volumes de negócio tra-
zidos por tais investimentos. Assim, em cada setor da loja são colocados
vendedores especializados num tipo específico de produto, possibilitando
um atendimento dirigido. Embora oferecendo uma grande variedade de
produtos, as primeiras lojas de departamentos não podiam ser confundidas
em nada com os armazéns gerais existentes no meio rural. Naquelas, as
mercadorias eram oferecidas em setores fisicamente separados, bem arru-
mados, em contraste com a apresentação desorganizada observada nessas
últimas.
Em termos logísticos, havia também diferenças notáveis. Por comercia-
lizar um número muito mais elevado de produtos, o serviço de entrega das
compras aos clientes foi reestruturado, com melhor qualificação do pessoal,
construção de depósitos especializados, emprego de veículos mais adequa-
dos e a consequente melhoria do nível de serviço ao consumidor. De outro
lado, o maior volume de vendas levava a um maior poder econômico-finan-
ceiro dessas organizações comerciais, garantindo melhores condições na
aquisição das mercadorias, nos prazos de pagamento e nas campanhas publi-
citárias. O desempenho desse tipo de varejo foi tão bom que especialistas em
vendas por catálogo, como a Sears, aderiram logo ao novo sistema, lançando
lojas de departamentos. No caso da Sears, a nova iniciativa não implicou
abandonar a prática anterior, que foi mantida. É claro que, em razão do ta-
manho dos empreendimentos, esse tipo de comércio ficava restrito a grupos
empresariais dotados de capitais expressivos.
O Surgimento do Supermercado
O mesmo fenômeno de concentração, contudo, não foi observado com a
mesma rapidez no caso dos produtos alimentícios de primeira necessidade.
As pequenas vendas ou empórios, os açougues e as padarias, em nível de
bairro, eram os estabelecimentos típicos de varejo de produtos de primeira
necessidade até as décadas de 1940/1950. Três fatores básicos contribuíam
para isso. Em primeiro lugar, havia os hábitos domésticos tradicionais, des-
tacando-se as compras fiadas com caderneta, em que o consumidor acertava
as contas com o dono do armazém uma vez por mês, ao receber seu salário.
Outro fator importante era o uso bastante restrito da geladeira no âmbito
doméstico: somente as famílias ricas podiam se dar o luxo de possuí-las.
Assim, a compra de mantimentos era realizada praticamente dia a dia, de for-
ma a evitar as perdas por deterioração e garantir o desejado frescor dos pro-
dutos. O outro fator era o baixo nível de acesso ao automóvel. De novo, so-
mente as famílias de maior poder aquisitivo tinham carro. O deslocamento
das pessoas até os pontos de varejo ficava assim restrito a pequenas distân-
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cias, em decorrência da elevada frequência das viagens, de um lado, e das pe-
quenas quantidades consumidas, de outro.
Com a motorização acentuada da população, que se iniciou no Brasil em
fins da década de 1950 com a implantação da indústria automobilística, e com
o uso crescente da geladeira no ambiente doméstico, criaram-se condições
para o surgimento dos supermercados. A operação dos supermercados está
basicamente ligada ao conceito de autosserviço. Em lugar de ser atendido pelo
varejista do armazém, que antes conversava com o consumidor e o auxiliava
na escolha de produtos e marcas, o cliente do supermercado faz suas compras
sozinho, apanhando as mercadorias e pagando ao sair do estabelecimento.
Inicialmente eram lojas de produtos alimentícios, mais tarde incorpo-
rando outros tipos de mercadorias, como utensílios domésticos, roupas, sa-
patos e até mesmo eletroeletrônicos. Esse tipo de estabelecimento comercial
surgiu nos Estados Unidos na década de 1930, durante o período de depres-
são. Objetivando reduzir os preços dos produtos de primeira necessidade
numa época de grandes dificuldades econômicas, alguns varejistas aproveita-
ram a disponibilidade de garagens e armazéns, utilizando-os sem quaisquer
melhorias ou acabamento, e dispondo os produtos em caixas abertas, direta-
mente espalhadas no piso. A cobrança era feita à saída, de forma que apenas
uma pessoa, o proprietário, controlava todo o movimento.
Vantagens logísticas levaram a um crescimento vertiginoso desse tipo
de operação comercial. Em primeiro lugar, menores preços acabaram atrain-
do maior clientela, dando melhores condições de suprimento ao comercian-
te, que passou a ter maior poder de negociação junto aos fornecedores. Por
outro lado, em lugar de buscar margens expressivas de lucro, esse tipo de va-
rejista procurou reduzi-las, buscando ganhar com o maior giro nas vendas.
Além disso, o estabelecimento podia ser operado com poucas pessoas, possi-
bilitando o aumento da oferta de produtos sem grandes gastos adicionais
com mão de obra.
A inovação, que trazia conceitos comerciais e logísticos totalmente no-
vos, atraiu outros comerciantes, trazendo a inevitável competição. A melho-
ria das lojas e de sua decoração, a maior variedade de produtos e o emprego
de pessoal mais qualificado levaram a um aumento nos custos. Num segundo
ciclo evolutivo, os supermercados passaram a oferecer também os produtos
antes somente oferecidos nos drugstores. Passaram também a comercializar
utensílios domésticos e outros tipos de mercadoria, buscando, com isso,
aproveitar suas instalações e expandir seus negócios, como também atrair
maior clientela, que agora podia abastecer seu lar com um grande número de
produtos concentrados num único ponto. Surgiram assim os hipermercados.
Os primeiros supermercados, seguindo a tendência geral, se localiza-
6 ram nas regiões centrais das cidades. Mas a expansão das cidades em direção
aos subúrbios que foi possível nos Estados Unidos graças inicialmente ao
bonde e posteriormente ao automóvel criou polos de demanda fora dos cen-
tros comerciais tradicionais. Os supermercados foram os primeiros a abrir
lojas nas áreas suburbanas. Com a expansão do uso do automóvel, com os
crescentes congestionamentos nas vias de acesso ao Centro e as dificuldades
de estacionamento, outros tipos de grande varejo, como as lojas de departa-
mentos, também passaram a se instalar nos bairros e subúrbios.
A ideia inicial de expandir as instalações de uma única loja à medida que
as vendas iam crescendo foi substituída pela criação de várias lojas cobrindo
uma região ou mesmo um país. Surgiram então as cadeias varejistas de super-
mercados, de lojas de departamentos, de roupas, sapatos, joias e outros tipos
de produtos. A gestão de tais organizações comerciais é mais complexa quan-
do comparada à operação de uma única loja, exigindo uma administração
central mais sofisticada. Uma forma diferente de cadeia varejista que surgiu
mais recentemente e se alastrou extraordinariamente é formada pelas fran-
quias. Nesse tipo de comércio, o franqueador transfere ao franqueado todo o
know-how do negócio, mas a propriedade do estabelecimento e o capital ne-
cessário são do segundo. Esse tipo de operação permite somar, às vantagens
da operação especializada, os ganhos de escala das cadeias varejistas, sem con-
tudo exigir aportes de capital muito elevados, de um único empresário.
TIPOS DE COMÉRCIO
Além dos elementos discutidos na seção anterior, ainda há alguns aspectos
específicos sobre classificação do comércio que achamos oportuno enfatizar.
Numa primeira classificação geral, podemos dividir as atividades vare-
jistas em dois grupos: varejo com loja e varejo sem loja. O primeiro, que é a
versão tradicional, incorpora supermercados, lojas de departamentos, lojas
especializadas, enfim todos os estabelecimentos que dispõem de uma instala-
ção predial específica para expor seus produtos, receber os clientes e realizar
as vendas. O varejo sem loja, ao contrário, opera de forma diversa, estabele-
cendo contato com o consumidor de várias maneiras, mas sem dispor de um
prédio ou de uma sala para exposição das mercadorias e atendimento dos
clientes. Sua importância relativa ainda é pequena, principalmente no Brasil,
mas a tendência é de expansão acentuada nos próximos anos. Nessa catego-
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ria se inclui o sistema de venda porta a porta, a mala direta (em que o cliente
recebe material promocional pelo correio e faz sua encomenda por telefone
ou fax), o sistema de catálogo, o telemarketing (semelhante à mala direta,
mas pelo telefone ou, futuramente, pela televisão) e as compras via Internet.
Os supermercados, por sua vez, são subdivididos em hipermercados, que
são grandes lojas de autosserviço voltadas à comercialização de extensa varieda-
de de produtos alimentares e de bebidas, mas mantendo também grandes áreas
para a venda de roupas, artigos esportivos, utilidades do lar, acessórios de auto-
móveis, além de outros itens. Os autosserviços de pequeno porte, de atendi-
mento local (bairros), são muitas vezes denominados minimercados. Finalmen-
te, numa faixa intermediária, aparecem os supermercados propriamente ditos,
que são autosserviços oferecendo linha completa de itens alimentares e de pri-
meira necessidade (material de limpeza, utensílios domésticos etc.).
Hoje, estão proliferando nas grandes cidades as chamadas lojas de con-
veniência, a maioria aberta 24 horas por dia, e comercializando uma série de
produtos consumidos no dia a dia. Atendem basicamente a situações emer-
genciais: pessoas sozinhas, profissionais que trabalham em horários especiais,
entre outras. No Brasil, muitas dessas lojas operam junto a postos de gasoli-
na, em parte por questões de segurança, mas também para se beneficiar da de-
manda agregada (pessoas que param para abastecer o carro e aproveitam a
oportunidade para efetuar compras).
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A LOGÍSTICA E AS NECESSIDADES DO CONSUMIDOR
As relações interpessoais no comércio varejista não ocorrem de forma alea-
tória ou sem nexo, mas dependem de um conjunto de forças de natureza
econômica, social e tecnológica que estão por trás do comportamento dos
fabricantes, dos comerciantes e dos consumidores finais dos produtos.
O Consumidor Final
O foco básico do varejo está localizado no consumidor final. Muito embora
pequenas firmas e organizações possam comprar diretamente nas lojas de
varejo, a tendência geral é de que as empresas, por disporem de setores de
compras, crédito e pessoal especializado, adquiram produtos através de ata-
cadistas ou diretamente a partir dos fabricantes. Por isso, o foco principal do
comércio é o consumidor pessoa física. Por outro lado, não obstante parte
das compras no varejo se destinar ao uso estritamente individual, o processo
de decisão sobre o que e quando comprar tem sua base no domicílio. Dessa
forma, é muito importante entender os mecanismos mentais e psicológicos
que estão por trás dos valores e do comportamento dos consumidores. Que
necessidades e/ou expectativas impulsionam o consumidor típico quando
pretende adquirir determinado bem ou produto?
Tabela 1.1 Comportamento do varejo nos Estados Unidos por setor (2005)
Setor Participação no
faturamento (%)
12
O Papel da Logística
Hoje se observa uma dinâmica nunca antes constatada na oferta de produ-
tos. De um lado, os produtos vão se aprimorando ao longo do tempo, incor-
porando novos elementos e novas tecnologias, numa rapidez crescente. No
caso de produtos envolvendo componentes eletrônicos, esse dinamismo é
ainda mais acentuado, mas mesmo produtos de consumo corrente, ofereci-
dos em supermercados, sofrem alterações e melhorias com muita frequên-
cia. O leite, por exemplo, inicialmente comercializado nas padarias em gar-
rafas de vidro, passou a ser oferecido em sacos plásticos, e hoje vem em
embalagens mais sofisticadas, com vida mais longa, do tipo tetra pak e simi-
lares. Por outro lado, um mesmo tipo de produto normalmente apresenta
um número grande de variações, em termos de sabor, tamanho, componen-
tes, qualidade e, obviamente, preço.
Esse dinamismo, que vai se acentuando com o tempo, gera forte neces-
sidade de informação por parte do consumidor. O marketing, de um lado,
procura sanar parte dessas questões através de suas campanhas publicitárias,
pesquisas mercadológicas e contato direto com o consumidor. Mas, em que
pesem tais esforços, esse elemento importante no comércio varejista – a in-
formação – requer atenção redobrada. A Logística tem um papel muito im-
portante no processo de disseminação da informação, podendo ajudar posi-
tivamente caso seja bem equacionada, ou prejudicar seriamente os esforços
mercadológicos, quando for mal formulada. Isso porque a Logística é, na
empresa, o setor que dá condições práticas de realização das metas definidas
pelo setor de marketing. Sem ela, tais metas não têm condições de se concre-
tizar adequadamente.
Veremos também que a Logística está muito ligada, hoje, ao produto.
Na nova conceituação de cadeia varejista, todo o processo logístico, que vai
da matéria-prima até o consumidor final, é considerado entidade única, sis-
têmica, em que cada parte do sistema depende das demais e deve ser ajustada
visando o todo. Por exemplo, a Benetton, que comercializa roupas no mun-
do inteiro, não tinge seus produtos na hora de fabricá-los, porque o mercado
da moda é muito volátil. Os produtos são transportados e armazenados na
cor de fundo, cinza, recebendo o tingimento final pouco antes de serem
transportados para as lojas. Esse tipo de operação é chamado de postpone-
ment em Logística (postergação), e será discutido em mais detalhe no Capí-
tulo 2. Assim, o processo de manufatura e as funções logísticas da empresa
são encarados de forma integrada e resolvidos em conjunto.
É a Logística que dá condições reais de garantir a posse do produto, por
parte do consumidor, no momento desejado. No caso de bens duráveis, é co-
mum no Brasil o vendedor prometer a entrega do produto numa certa data,
promessa que não é cumprida por deficiências no sistema de informação, nas
operações do depósito ou no transporte. O efeito negativo que tais situações 13
acarretam na imagem da empresa ainda não foi convenientemente avaliado
no país, mas é, sem dúvida, significativo. Empresas de entrega rápida, como
a Federal Express e a UPS, por exemplo, cresceram de forma vertiginosa por
oferecer serviços confiáveis, com prazos predefinidos, possibilitando aos va-
rejistas cumprirem suas promessas aos clientes.
A gratificação ou prazer, que o consumidor frui no consumo ou no uso
do produto adquirido, está basicamente ligada à mercadoria em si, mas a in-
terferência da Logística nesse processo não é desprezível. Aqui, ela entra al-
gumas vezes de forma indireta, subjacente, mas, ainda assim, muito impor-
tante. Falhas como, por exemplo, produtos de primeira necessidade venci-
dos ou deteriorados, bens de consumo durável com partes faltando ou com
componentes errados (voltagem diversa da desejada, por exemplo), produto
entregue na cor errada, erros na instalação do aparelho etc. prejudicam se-
riamente o marketing dos produtos comercializados e a imagem das empre-
sas. Aqui fica mais clara a importância de se olhar a cadeia de distribuição
como um todo, e não somente uma parte dela. De nada adianta o comercian-
te alegar que o problema foi causado pelo fabricante ou pelo transportador,
pois a imagem fica arranhada, e o comprador vai buscar outras alternativas
na próxima vez que fizer uma compra semelhante.
A relação de confiança e parceria entre o consumidor e o varejista, em-
bora se apoiando na atenção pessoal, no profissionalismo e na honestidade
do comerciante, vai depender em muito do desempenho logístico da cadeia
de suprimento no seu todo. À medida que o consumidor vai vivenciando si-
tuações positivas no uso ou no consumo dos produtos, à medida que vê aten-
didas suas reclamações e respondidas suas dúvidas, e à medida que vai co-
nhecendo mais de perto o varejista, acreditando em suas afirmações e pro-
messas, sua confiança no sistema vai aumentando gradativamente. Essa con-
fiança se espalha pela família e pelos amigos, criando uma imagem positiva,
com benefícios palpáveis para toda a cadeia de distribuição. Qualquer desli-
ze nas operações logísticas, seja um desentendimento entre dois elementos
da cadeia percebido pelo consumidor, seja um atraso não justificável, seja
uma falta de cortesia por parte do motorista que faz a entrega ou por parte
do instalador, tudo isso vai se somando negativamente e depondo contra os
esforços de venda e de marketing das empresas participantes.
Finalmente, a continuidade na relação entre consumidor e varejista, na
fase de pós-venda, talvez seja hoje o calcanhar de aquiles do varejo de bens
duráveis no Brasil. Isso porque, embora os maiores problemas surjam no do-
mínio do fabricante (falta de peças, deficiências na assistência técnica, preços
dos serviços muitas vezes abusivos), é o varejista que serve como anteparo di-
reto nas reclamações dos consumidores. Muitas indústrias estão tentando
contornar o problema através do atendimento direto às reclamações dos
14
clientes, como também por meio do ombudsman (ouvidores), mas, na práti-
ca, as relações de pós-venda no Brasil ainda deixam muito a desejar.
A TRANSAÇÃO COMERCIAL
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Obviamente, é o quarto elemento, entre os listados, que está mais li-
gado à Logística. Aqui aparecem problemas logísticos de natureza variada.
Quando o produto é retirado diretamente da loja ou do depósito pelo com-
prador, há um acordo tácito de que ele passa a ser responsável, dali em dian-
te, pela integridade do produto. Mas a gratificação e o prazer do ato de con-
sumir vão ficar da mesma forma prejudicados no caso de ocorrerem avarias
ou quebras do produto no seu transporte ou manuseio. Uma geladeira risca-
da e uma televisão mal instalada são elementos mercadológicos negativos,
mesmo quando de responsabilidade do comprador.
No caso de produtos pesados, como geladeiras, máquinas de lavar, tele-
visores de maior porte, o problema se agrava, principalmente no Brasil, onde
as pessoas não estão acostumadas nem preparadas para providenciar seu
transporte. Algumas questões logísticas importantes ligadas a esse tipo de
problema devem ser respondidas. Deve a empresa entregar os produtos
maiores e mais pesados na casa do cliente? Se a resposta for positiva, deve
cobrar pelo serviço de entrega? Deve manter frota própria ou terceirizar o
serviço de distribuição? Qual a frequência de atendimento aos diversos bair-
ros ou zonas de distribuição?
A Visão do Comerciante
Do lado do comerciante, sua atuação está ligada a um conjunto expressivo
de fatores e condicionantes, a saber:
VAREJO 2010
As considerações que se seguem tiveram como base o artigo da Retail For-
ward (2003).
A década de 1990, no que se refere à evolução do varejo, foi caracteri-
zada por mudanças rápidas e abrangentes. Esta primeira década do século
XXI, por sua vez, continuará mostrando um forte darwinismo, ou seja, será
caracterizada pela sobrevivência dos mais fortes, com um pequeno número
de grandes empresas varejistas dominando o mercado global. As empresas
varejistas que tenderão a desaparecer do mercado não serão apenas organi-
zações do tipo padrão, tradicionais. Além disso, formatos clássicos de co-
mercialização e diversos segmentos inteiros acabarão sendo substituídos por
outras formas mais modernas e flexíveis de comercialização.
A visão difusa dos contornos entre os vários agentes do mercado, discu-
tida no interessante livro de Davis e Meyer (1999), vai impregnar fortemen-
te o setor de comércio, quando então muitos fornecedores serão varejistas e
muitos varejistas serão também fornecedores. O setor de varejo tende a do-
minar o mercado. À medida que as grandes cadeias varejistas forem se tor-
nando cada vez mais globais, procurarão novas fontes alternativas de supri-
mento. Até o final da década, muitos fornecedores notarão que entre seus
competidores mais fortes estarão diversos de seus clientes varejistas, que
avançarão no comando da produção por meio de marcas próprias, fabrica-
das dentro das especificações impostas pelo comerciante. Os fornecedores,
por outro lado, tenderão a atuar como varejistas, procurando atingir o con-
sumidor final pelo marketing direto e pela Internet.
Esses eventos tendem a gerar um ambiente de negócios muito incerto,
não visto desde os anos 70, um ambiente no qual os varejistas do mundo
todo e seus fornecedores terão dificuldades para planejar suas atividades. De
fato, em termos econômicos não se espera um ambiente de negócios estável
nesta década e, portanto, as empresas precisarão aprender a planejar dinami- 25
camente na incerteza. Além dos desafios econômicos, os varejistas se depara-
rão com consumidores cada vez mais complexos, para os quais será mais di-
fícil compreender seus interesses e valores. O varejo será fortemente domi-
nado pelo comprador em qualquer nível. Os consumidores serão mais pro
ativos, mas também mais pragmáticos.
O comportamento do consumidor nas suas compras será mais comple-
xo. Cada consumidor terá várias faces. Esse consumidor multidimensional
fará suas compras de maneiras diversas, dependendo das considerações do
momento, as quais definirão suas decisões de compra e a escolha do estabele-
cimento varejista. Até 2010 o mercado consumidor será definido fortemente
por hábitos de compra e motivação de consumo, que variarão bastante e de
forma difusa. Ou seja, muito embora as características demográficas e socio-
econômicas continuem a ter influência nas compras dos consumidores, ha-
verá uma grande variedade de fatores indutores externos, veiculados pela
mídia e pelo marketing. Assim, cada consumidor será, de fato, um consumi-
dor diferente, dependendo da compra em particular, da motivação, da pro-
paganda, das condições de preço, do financiamento etc. Por exemplo, nos
Estados Unidos o leasing de automóveis para pessoa física cresceu muito nos
últimos anos porque possibilita maior flexibilidade ao longo do tempo: o
comprador tem garantidas as possibilidades de devolução após um determi-
nado período de tempo, a troca por outro novo ou a posse do veículo atual.
Hoje já está sendo implantado nos Estados Unidos um processo de leasing
para imóveis. No Brasil, as elevadas taxas de juros e as oscilações expressivas
nas taxas de câmbio tornaram menos atrativa essa forma de comercialização,
depois de uma fase crescente no início do Plano Real.
As características demográficas dos consumidores serão um desafio
mercadológico para fabricantes e varejistas. O rápido aumento de consumi-
dores da terceira idade tende a mudar o leque de gastos de consumo. Pessoas
idosas têm renda menor e tendem a gastar menos com produtos em geral e
mais com cuidados de saúde, viagens e lazer.
Para entender melhor o comportamento dos consumidores, será neces-
sário levantar e analisar mais informações sobre suas necessidades, preferên-
cias e hábitos de compra, em um nível bastante individualizado. Por meio de
cartões eletrônicos de identificação ou de crédito, ou por outras formas
(como o RFID, ver Srivastava, 2004), as empresas varejistas poderão coletar
informações preciosas e, ao mesmo tempo, os consumidores poderão trans-
mitir suas necessidades e anseios aos comerciantes. Por exemplo, um dos
problemas atuais mais sérios no setor supermercadista é a falta de produtos
na gôndola quando o cliente vai às compras (ver Capítulo 6). Quando isso
ocorre, fica difícil para a empresa identificar quantos e quais consumidores
não conseguiram comprar os produtos desejados. Em alguns supermerca-
26 dos, os caixas perguntam aos clientes se não encontraram nas prateleiras al-
gum produto que desejavam adquirir, mas esse processo de registro é pouco
eficiente. Formas que possibilitem coletar essas informações de maneira prá-
tica e eficiente ajudarão em muito os varejistas a se adaptarem às variações
da demanda.
Quatro formas básicas de consumo desafiarão os varejistas na presente
década:
BIBLIOGRAFIA
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29
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30
2
Da Logística ao
Supply Chain
Management
O QUE É LOGÍSTICA?
Na sua origem, o conceito de Logística estava essencialmente ligado às ope-
rações militares. Ao decidir avançar suas tropas seguindo uma determinada
estratégia militar, os generais precisavam ter, sob suas ordens, uma equipe
que providenciasse o deslocamento, na hora certa, de munição, víveres,
equipamentos e socorro médico para o campo de batalha. Por se tratar de
31
um serviço de apoio, sem o glamour da estratégia bélica e sem o prestígio das
batalhas ganhas, os grupos logísticos militares trabalhavam em silêncio, na
retaguarda.
Foi o que também ocorreu nas empresas durante um bom período de
tempo. Uma indústria precisa transportar seus produtos da fábrica para os
depósitos ou para as lojas de seus clientes; precisa também providenciar e ar-
mazenar matéria-prima em quantidade suficiente para garantir os níveis de
fabricação planejados. Por outro lado, em razão das descontinuidades entre
o ritmo de produção e de demanda, precisa manter produtos acabados em
estoque. Essas operações eram antigamente consideradas atividades de
apoio, inevitáveis. Os executivos entendiam então que, no fundo, tais opera-
ções não agregavam nenhum valor ao produto. Dentro da organização em-
presarial, esse setor era encarado como um mero centro de custo, sem maio-
res implicações estratégicas e de geração de negócios. Em linguagem de hoje,
diríamos que esse setor da empresa atuava de forma reativa e não proativa.
A maioria das indústrias, por outro lado, surgiu no chão da fábrica, gi-
rando em torno do processo de fabricação de uns poucos produtos, com o
restante da organização gravitando em torno da manufatura. Ainda hoje, no
Brasil e mesmo no exterior, se observa o poder que o setor da manufatura
desfruta em muitas indústrias. Isso pode ser observado também nos cursos
de Engenharia de Produção do país, os quais, na sua maioria, focalizam pre-
dominantemente o processo de fabricação industrial. Esse contexto ainda
colabora, em muitos casos, para que algumas empresas considerem as ativi-
dades logísticas algo secundário na organização empresarial.
Um elemento básico no processo produtivo é o distanciamento espacial
entre a indústria e os mercados consumidores, de um lado, e as distâncias en-
tre a fábrica e os pontos de origem das matérias-primas e dos componentes
necessários à fabricação dos produtos, de outro. O produto, ao sair da fábri-
ca, já tem um valor intrínseco a ele agregado, mas esse valor está ainda in-
completo para o consumidor final. Para que o consumidor possa usufruir o
produto em toda sua plenitude, é necessário que a mercadoria seja colocada
no lugar desejado. Por exemplo, a geladeira comprada por uma dona de casa
só gera seu valor intrínseco quando for instalada na casa da compradora e
passar a refrigerar os alimentos da família. O sistema logístico, mesmo o
mais primitivo, agrega então um valor de lugar ao produto. Um exemplo
anedótico desse importante elemento é o de um torcedor num estádio de fu-
tebol, em dia de final de campeonato e de muito sol, que reclama do preço
da cerveja ao vendedor ambulante. O vendedor, irritado, pergunta ao com-
prador por que não vai procurá-la num supermercado, cujo preço com cer-
teza é bem inferior. A existência da cerveja mais barata no supermercado, no
caso, não agrega valor para o consumidor, pois seu alcance geográfico está
32 fora de questão naquele momento.
O valor de lugar depende, obviamente, do transporte do produto, da fá-
brica ao depósito, deste à loja, e desta ao consumidor final. Por essa razão, as
atividades logísticas nas empresas foram por muito tempo confundidas com
transporte e armazenagem. No entanto, o conceito básico de transporte é
simplesmente deslocar matérias-primas e produtos acabados entre pontos
geográficos distintos. Com a evolução do sistema produtivo e do comércio,
esse elemento, embora importante, passou a não satisfazer isoladamente às
necessidades das empresas e dos consumidores. Vejamos um exemplo nega-
tivo, antilogístico por excelência, que pode nos ajudar bastante no entendi-
mento do contexto da moderna Logística.
No início da década de 1960, quando a indústria automobilística estava
sendo implantada no Brasil, as rodovias eram muito precárias. Os veículos
que saíam das fábricas, em São Bernardo do Campo, e eram destinados ao
Nordeste tinham duas alternativas de deslocamento: ir rodando até o desti-
no pelas estradas não pavimentadas, em caravanas (as carretas especializadas
ainda não existiam), ou ser transportados de navio, a partir do porto de San-
tos. No primeiro caso, o desgaste e os riscos de avaria eram muito grandes.
Assim, o transporte marítimo de cabotagem se apresentava como uma boa
opção alternativa. A Translor, empresa de transportes pioneira nesse setor e
hoje incorporada à operadora logística internacional Ryder, decidiu fazer
um embarque maciço de veículos, contratando praça num navio brasileiro
para transporte do carregamento até Recife. O navio, o Santópolis, era uma
embarcação velha e com manutenção precária. Saindo de Santos, o barco
perdeu o hélice logo à altura de São Sebastião, ficando à matroca em al-
to-mar (sem governabilidade, na linguagem naval).
O armador solicitou, então, socorro à Marinha, no Rio de Janeiro. Um
rebocador foi enviado ao local e conduziu o navio até a Baía da Guanabara.
Lá, ficou esperando para ser docado, enquanto os armadores buscavam um
hélice substituto nos estaleiros locais. A Marinha, analisando a carga,
concluiu que a embarcação poderia ser docada com os veículos a bordo, de-
vido à baixa densidade do carregamento. O embarcador, no caso a Translor,
tentou reaver parte do frete, pois foi obrigada a transferir a carga para outro
navio e seguir viagem. O valor dos automóveis embarcados era muito maior
do que o valor do navio, gerando custos financeiros elevados. O armador,
numa resposta totalmente antilogística, alegou que a “documentação do
transporte (o conhecimento) apenas indicava que a carga deveria ser entre-
gue em Recife, mas não dizia quando”. Ou seja, o transportador entregaria o
valioso carregamento de veículos em Recife tão logo os serviços de reparo fi-
cassem prontos, talvez uns dois meses após o acidente!
No antiexemplo descrito acima – um caso real – notamos que um outro
elemento muito importante passou a fazer parte da cadeia produtiva, o valor
do tempo. Isso porque o valor monetário dos produtos passou a crescer apre- 33
ciavelmente, gerando custos financeiros elevados e obrigando ao cumpri-
mento de prazos muito mais rígidos. Um caso típico de produto com extre-
ma restrição de valor de tempo é o jornal diário. Sua edição tende a ser feita o
mais tarde possível, de forma a incorporar as últimas notícias. Mas o valor de
sua leitura fica restrito a uma janela de tempo muito curta. Se o leitor não ti-
ver acesso ao jornal logo pela manhã (no caso de um matutino), o valor do
produto, para ele, fica prejudicado. Então, todo o deslocamento da redação
às bancas e à casa do assinante tem de ser realizado de forma muito ágil e
bem planejada. Neste caso, a logística de distribuição do jornal tem um forte
valor de tempo agregado ao produto. Hoje, em função da grande preocupa-
ção das empresas com a redução de estoques e com a busca da satisfação ple-
na do cliente, que implica a entrega do produto rigorosamente dentro dos
prazos combinados, o fator tempo passou a ser um dos elementos mais críti-
cos do processo logístico. No comércio eletrônico, as exigências do consu-
midor em relação ao cumprimento dos prazos são ainda mais severas (ver
Capítulo 3).
Admitindo que o produto seja deslocado corretamente desde a origem
até o destino dentro dos prazos preestabelecidos, ainda assim não estariam
completas as funções logísticas. Um elemento adicional, de grande impor-
tância na cadeia de suprimentos, é o fator qualidade. Por exemplo, conside-
re um carregamento de iogurte, saindo de um centro de distribuição e desti-
nado a um varejista. Suponhamos que o sistema de refrigeração do veículo
esteja defeituoso ou que foi criminosamente desligado pelo motorista duran-
te o percurso, com o objetivo de economizar combustível. Ao receber o pro-
duto no supermercado, a verificação da data de fabricação e do prazo de va-
lidade levaria à aceitação do lote. No entanto, poderiam ocorrer reclama-
ções dos consumidores sobre as condições do produto, prejudicando a ima-
gem do varejista.
Outro exemplo é a entrega de um determinado bem durável, mas na cor
errada. Uma pessoa que tenha comprado uma bicicleta, escolhendo a cor ver-
melha, acaba recebendo o produto em casa, na cor preta. Mesmo conside-
rando que o produto tenha as mesmas especificações, o mesmo preço e foi
entregue no momento prometido, ainda assim o valor de qualidade agregado
ao produto, na ótica do cliente, não será o mesmo. Observe que, em ambos
os casos, o produto saiu da fábrica sem restrição alguma de qualidade. Ou
seja, a qualidade intrínseca do produto foi respeitada. Mas ficou faltando,
nesses dois casos, a qualidade associada à operação logística. A logística mo-
derna deve incorporar então um valor de qualidade ao processo, sem o qual
o resultado final na cadeia de suprimento passa a ser prejudicado.
Hoje em dia, muitas empresas de ponta no exterior estão introduzindo
um elemento adicional a suas atividades logísticas: o valor da informação. A
34 FedEx (Federal Express), por exemplo, permite que o cliente rastreie uma
determinada encomenda pela Internet, a qualquer momento. Noutro caso,
montadora automotiva na Argentina pressionou o operador logístico situa-
do no ABC paulista a instalar um sistema de rastreamento de veículos e da
carga no percurso São Paulo–Buenos Aires. Por que essa exigência? Traba-
lhando com estoques e prazos apertados, a indústria automobilística em
questão não pode tomar conhecimento de situações emergenciais no último
instante. Acompanhando a evolução das remessas de componentes, a empre-
sa argentina pode tomar medidas corretivas tão logo constate alguma altera-
ção séria no processo. Esse caso é um exemplo vívido do valor da informação
na cadeia logística.
Um terceiro caso refere-se à transferência, ao cliente, de informações
importantes e de forma gratuita. Por exemplo, o fornecedor muitas vezes in-
corpora, em seu sistema de código de barras, informações importantes para
o comerciante, mesmo que tais informações não tenham aplicação direta em
sua empresa. Com isso tende a ganhar a preferência do cliente diante da con-
corrência, pois está adicionando um valor de informação a seus serviços lo-
gísticos.
Observamos então que a Logística Empresarial evoluiu muito desde
seus primórdios. Agrega valor de lugar, de tempo, de qualidade e de infor-
mação à cadeia produtiva. Além de agregar os quatro tipos de valores positi-
vos para o consumidor final, a Logística moderna procura também eliminar
do processo tudo que não tenha valor para o cliente, ou seja, tudo que acar-
rete somente custos e perda de tempo. Movimentos como o ECR e QR1 vi-
sam, entre outras coisas, ao enxugamento do processo logístico, com benefí-
cios diretos aos consumidores. A Logística envolve também elementos hu-
manos, materiais (prédios, veículos, equipamentos, computadores), tecnoló-
gicos e de informação. Implica também a otimização dos recursos, pois, se de
um lado se busca o aumento da eficiência e a melhoria dos níveis de serviço
ao cliente, de outro, a competição no mercado obriga a uma redução contí-
nua nos custos.
Assim podemos conceituar Logística adotando a definição do Council
of Supply Chain Management Professionals norte-americano:
1
ECR: Efficient Customer Response; QR: Quick Response. 35
Na Figura 2.1 é apresentado um quadro sinóptico contendo os princi-
pais elementos conceituais da Logística. A Logística começa pelo estudo e a
planificação do projeto ou do processo a ser implementado. Uma vez plane-
jado e devidamente aprovado, passa-se à fase de implementação e operação.
Muitas empresas acham que o processo termina aí. Na verdade, devido à
complexidade dos problemas logísticos e à sua natureza dinâmica, todo sis-
tema logístico precisa ser constantemente avaliado, monitorado e controla-
do. Há inclusive uma especialização, denominada auditoria logística, que
executa de forma sistemática e permanente essas atividades de avaliação,
monitoramento e controle.
Processo de
planejar, operar, controlar
Fluxo e Armazenagem
Matéria-prima
Do ponto Produtos em processo Ao ponto
de Produtos acabados de
origem Informações destino
Dinheiro
Satisfazendo as
De forma econômica, necessidades e
eficiente e efetiva preferências
dos clientes
FLUXO DE INFORMAÇÃO
FLUXO DE MATERIAIS
FLUXO DE DINHEIRO
37
CADEIA DE SUPRIMENTO E SEU GERENCIAMENTO
Quando adquirimos um produto, não imaginamos o longo processo neces-
sário para converter matéria-prima, mão de obra e energia em algo útil ou
prazeroso. Muitas vezes, produtos complexos como o automóvel requerem
matéria-prima de natureza variada (metais, plásticos, borracha, tecidos) e
são montados a partir de um número muito elevado de componentes. Nou-
tros casos, como uma bandeja de ovos frescos, o produto é formado pelo ele-
mento básico (os ovos), mas há que se considerar também o suporte de plás-
tico, a etiqueta e o código de barras. Mas, na maioria dos casos, o caminho é
mais longo. Uma geladeira, por exemplo, utiliza componentes fabricados
por outras indústrias, como é o caso do compressor. A fábrica de compresso-
res, por sua vez, necessita de fios elétricos, metais e outros elementos para
sua produção, componentes esses fornecidos por outras empresas. O longo
caminho que se estende desde as fontes de matéria-prima, passando pelas fá-
bricas dos componentes, pela manufatura do produto, pelos distribuidores e
chegando finalmente ao consumidor através do varejista constitui a cadeia
de suprimento.
A cadeia de suprimento típica é mostrada na Figura 2.3. Fornecedores de
matéria-prima entregam insumos de natureza variada para a indústria princi-
pal e também para os fabricantes dos componentes que participam da fabrica-
ção de um determinado produto. A indústria fabrica o produto em questão,
que é distribuído aos varejistas e, em parte, aos atacadistas e distribuidores.
Esses últimos fazem o papel de intermediários, pois muitos varejistas não co-
mercializam um volume suficiente do produto que lhes possibilite a compra
direta, a partir do fabricante. As lojas de varejo, abastecidas diretamente pelo
fabricante ou indiretamente por atacadistas ou distribuidores, vendem o pro-
duto ao consumidor final. Há ainda outros aspectos não considerados na Fi-
gura 2.3, como a Logística Reversa e as operações de pós-venda.
Quando se fala na cadeia de suprimento, pensa-se imediatamente no
fluxo de materiais, formado por insumos, componentes e produtos acaba-
dos. Por isso, as setas na Figura 2.3 são orientadas de cima para baixo. Mas
esse não é o único tipo de fluxo na cadeia de suprimento, conforme vimos
anteriormente (Figura 2.2).
Há algumas décadas, as grandes indústrias produziam a maior parte dos
componentes necessários à fabricação de seus produtos. Isso ocorria, em
parte, porque conseguiam produzi-los com custos mais baixos. De outro
lado, por questões estratégicas e de poder econômico, não gostavam de ficar
na dependência de fornecedores. A tendência então era a verticalização in-
dustrial. Hoje, os conceitos de vantagem competitiva e de core competence
(Porter, 1986) estão presentes na definição das estratégias das grandes em-
presas. É mais proveitoso concentrar as atividades naquilo que a empresa
38 consegue fazer bem, diferenciando-a positivamente dos concorrentes e ad-
Fornecedores
de matéria-
prima
Fabricantes
de
componentes
Indústria
principal
Atacadistas
e
distribuidores
Produto
Varejista
acabado
Consumidor
final
EVOLUÇÃO DA LOGÍSTICA
Dividimos o processo de evolução da Logística em quatro fases, que analisa-
remos a seguir. A quarta fase corresponde ao moderno Gerenciamento da
Cadeia de Suprimento (SCM).
Subsistemas otimizados
separadamente, com estoques
servindo de pulmão
CENTRO DE
MANUFATURA VAREJISTA
DISTRIBUIÇÃO
Integração formando
um duto rígido, com
otimização dois a dois
Transporte
Atacadista
Consumidor
Fábrica Varejista
Transporte
Fornecedor
Transporte
Transporte
D E
Consumidor
C
B Distribuidor
A
Manufatura
Fornecedor Fornecedor
matéria-prima componentes
Custos gerais
• Juros 23 2,3
Custos de transporte
• Ferroviário 42 4,1
• Hidroviário 27 2,7
• Aéreo 31 3,8
Outros custos
• Armazenagem 82 8,1
90
Custo relativo em relação ao PIB
80
70
60
Total
50
Transporte
Estoque
40
30
1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
FIGURA 2.8 • Índices de custos logísticos globais nos Estados Unidos, período
de 1984-2004
PARIS
ROTTERDAM
DETROIT
Deslocamento
NAVIO
TREM
CAMINHÃO
FIGURA 2.9 • Combinações multimodais no percurso Paris–Detroit
LOGÍSTICA REVERSA
A Logística Reversa cuida dos fluxos de materiais que se iniciam nos pon-
tos de consumo dos produtos e terminam nos pontos de origem, com o obje-
tivo de recapturar valor ou de disposição final. Por exemplo, as latas de alu- 53
mínio, de refrigerantes e de cerveja são hoje coletadas por pessoas de baixa
renda, compactadas em volumes menores e retornadas às fábricas, num pro-
cesso de reciclagem economicamente importante, tendo em vista o custo re-
lativamente alto do metal. Esse processo reverso é formado por etapas carac-
terísticas, envolvendo intermediários, pontos de armazenagem, transporte,
esquemas financeiros etc.
Leite (2003) separa os canais de distribuição reversos em dois. Um deles
é formado pelos canais reversos de pós-consumo. Os produtos têm vida útil
variável, mas, após um tempo de utilização, perdem suas características bási-
cas de funcionamento e têm de ser descartados. Por exemplo, uma geladeira
usada, já sem serventia para seu dono original, pode ser vendida para uma
firma de conserto e comercialização de equipamentos de segunda mão. Ela é
transportada até a oficina, reparada e, uma vez revendida, conduzida ao
novo endereço.
A geladeira pode também ser desmontada e seus componentes comer-
cializados separadamente, num processo de reciclagem. Entende-se por reci-
clagem o processo em que componentes de produtos já usados sofrem trans-
formação de forma que a matéria-prima neles contida possa ser reincorpora-
da à fabricação de novos produtos. Exemplo típico é o do aço, em que a su-
cata proveniente de produtos descartados é misturada ao minério de ferro
nos altos fornos das indústrias siderúrgicas.
Muitas vezes o produto descartado, no todo ou em parte, já não tem ser-
ventia alguma para o processo industrial. Isso ocorre quando a reciclagem é
antieconômica ou quando há excesso de oferta no mercado. Nessas circuns-
tâncias, há necessidade de se garantir a disposição final para onde os produtos
não mais utilizáveis sejam colocados de forma segura para a população e para
o meio ambiente. Por exemplo, a disposição de pilhas e baterias usadas é hoje
um problema sério em razão da disseminação do uso de telefones celulares,
notebooks, aparelhos de som portáteis etc. O mesmo se dá com pneus.
Outro tipo importante de canais de distribuição reversos é o de pós-
venda. Nesse caso, incluímos o retorno de embalagens e a devolução de pro-
dutos ao varejista ou ao fabricante. Por exemplo, Rogers e Tibben-Lembke
(1998) mencionam que cerca de 25% dos produtos vendidos por empresas
de catálogo nos Estados Unidos são devolvidos pelos consumidores, seja
porque não serviram (no caso de roupas e de calçados), seja porque o
comprador não ficou satisfeito, seja por outra razão qualquer. Como esse
tipo de comércio se apoia na plena satisfação do consumidor e como o pro-
cesso de aquisição a distância é mais crítico, os varejistas aceitam esses níveis
excepcionais de devolução, que podem chegar a 35% em alguns casos.
O leitor interessado em conhecer mais profundamente esse assunto
pode ler o texto de Rogers e Tibben-Lembke (1998), disponível gratuita-
54
mente na Internet. São também referências importantes o livro de Leite
(2003) e o artigo de Ferrer e Whyback (2000).
A LOGÍSTICA NO BRASIL
Com a abertura da economia e a globalização, as empresas brasileiras pas-
saram a buscar novos referenciais para sua atuação, inclusive no domínio
da Logística. No entanto, os passos ainda estão muito tímidos, à mercê de
uma série de fatores. Há muitas empresas trabalhando ainda na primeira
fase, isto é, controlando seus fluxos logísticos através de estoques e tendo
seus diversos setores atuando de forma isolada. Outras operam na segunda
fase, tentando passar para a terceira fase. Essas empresas estão buscando
melhor articulação com seus fornecedores e adotando um planejamento
mais integrado de suas operações. Algumas delas já estão interligadas via
EDI, de forma a possibilitar maior flexibilização na entrega dos componen-
tes ou produtos acabados. Na quarta fase, em que se observa a integração
estratégica otimizada entre os participantes da cadeia de suprimento, no-
tam-se movimentos, como o ECR, mas de resultados ainda incipientes. De-
ve-se considerar, no entanto, que mesmo nos Estados Unidos, onde essa
evolução se iniciou há mais tempo, há também muitas empresas operando
na segunda e terceira fases, sendo poucas as que já conseguiram evoluir ple-
namente para a quarta fase.
Uma das limitações observadas nas empresas brasileiras, quanto às pos-
sibilidades de evolução em termos logísticos, é sua estrutura organizacional.
A clássica divisão da empresa em setores girando em torno de atividades
afins (manufatura, finanças, vendas, marketing, transporte e armazenagem)
não permite o tratamento sistêmico e por processo das operações logísticas.
Em alguns casos, o gerente de transporte e do depósito é promovido a geren-
te de logística, mas a organização continua a operar de forma estanque entre
seus diversos setores. Mais ainda, em razão do poder restrito que o setor de
transporte sempre recebeu dentro da empresa, o novo gerente, se tiver capa-
citação para tanto, praticamente não será ouvido pela administração supe-
rior da companhia na solução de conflitos. Acabará por ter unicamente um
novo título no cartão de visita, se tanto.
Há também casos em que a alta administração da empresa já reconhece
melhor as especificidades das funções logísticas, criando uma diretoria espe-
cífica e recrutando externamente um profissional gabaritado para assumi-la.
Mas, muitas vezes, o esquema de poder dentro da empresa acaba engessando
o executivo recém-chegado, deixando-o sem ação. Por exemplo, há o caso
de uma indústria de porte do setor alimentício que criou uma diretoria de
Logística, a qual acabou sufocada pela diretoria de Marketing, cuja área
apresenta interfaces importantes com a primeira.
55 55
Muitas vezes, as empresas nacionais, em lugar de se reestruturarem de
forma adequada para enfrentar os novos desafios logísticos, simplesmente
lançam mão de pseudossoluções, com resultados parciais e incompletos,
quando não contraproducentes. Por exemplo, não é incomum ver diretores
de empresas comprarem softwares de roteirização de veículos, achando que,
somente com isso, vão resolver os problemas logísticos da firma.
Há casos, como nas lojas de departamentos, em que os pontos de entre-
ga dos produtos (os domicílios dos consumidores) variam dia a dia, tornan-
do a aplicação de softwares de roteirização pouco prática. Para esses casos, o
mínimo a se esperar seria a busca de um aplicativo especialmente voltado
para esse tipo de problema ou o desenvolvimento de um programa customi-
zado. Há também o problema da base informacional precária. Os mapas di-
gitalizados e confiáveis, disponíveis nos Estados Unidos e cobrindo as redes
viárias urbanas e as rodovias, têm ainda poucos similares no Brasil. Algumas
tentativas vêm sendo realizadas, mas os custos de desenvolvimento são ca-
ros, uma vez que os órgãos governamentais (prefeituras, institutos de
controle fundiário e censitário), que deveriam fornecer os dados básicos,
possuem, na maioria das vezes, informações desatualizadas e incompletas.
Um outro aspecto que, de certa forma, dificulta os avanços das empre-
sas nacionais na direção da modernização de suas funções, fruto dos longos
anos de inflação elevada e de dificuldades econômicas, é a concentração de
esforços, por parte das empresas, nas funções puramente financeiras. Numa
época não muito distante, com taxas de inflação muito além do razoável, os
executivos de maior capacitação e criatividade gastavam uma parte expressi-
va de seu tempo em malabarismos financeiros, tentando manter suas empre-
sas à tona e deixando de aplicar maiores esforços no aprimoramento de seus
negócios. Hoje, ainda se notam resquícios dessas práticas, pois nossa econo-
mia está longe de apresentar aquele nível de estabilidade tão almejado pelos
brasileiros. O baixo crescimento da economia, por outro lado, com diminui-
ção acentuada na demanda por produtos e serviços, também contribuiu mui-
to para que não sobrasse fôlego às empresas para se modernizar. Essa mo-
dernização, embora não exigindo grandes inversões no caso da Logística, re-
quer, ainda assim, algum investimento em pessoal, equipamentos, atualiza-
ção dos recursos de informática, entre outros.
No que se refere à informática e ao tratamento da informação, os
problemas encontrados são bastante sérios. Muitas empresas vêm investindo
paulatinamente em informática ao longo do tempo (software e hardware), e
hoje possuem um número razoável de sistemas autônomos que não conver-
sam entre si e que são utilizados nas atividades rotineiras de operação e de
controle. No tratamento da moderna Logística, e principalmente no SCM, é
vital o acompanhamento das operações real time ao longo da cadeia de su-
56 primento. Assim, os sistemas computadorizados precisam operar de forma 56
integrada. Hoje, a utilização crescente de sistemas integrados de gestão
(ERP) tem facilitado essa integração, o que favorece a introdução das mo-
dernas técnicas logísticas nas grandes empresas. Nas demais, integrações de
sistemas do tipo data warehouse possibilitam também agilizar e modernizar
as operações logísticas.
Outra questão bastante presente nas relações entre empresas que atuam
numa mesma cadeia de suprimento é a dificuldade de se estabelecer entrosa-
mento mais profundo entre elas, com acordos reais de parceria. Muita des-
confiança impera nessas relações, com avanços lentos. Pior do que isso, há
muitos casos de transferência de ineficiência de um parceiro mais forte para
outro mais fraco. Por exemplo, o filho de uma professora da UFSC, que fazia
seu doutorado no Canadá, entrou na Internet e comprou um buquê de flores
para homenageá-la no Dia das Mães. Para isso, há uma rede virtual de flori-
culturas espalhadas pelo mundo, possibilitando a entrega em muitas partes
do globo. Só que o agente brasileiro, situado em São Paulo, despachou o bu-
quê como encomenda para Florianópolis, e o produto chegou murcho ao
seu destino. O valor de qualidade ficou assim totalmente prejudicado. Há
também muitos casos de indústrias que entregam produtos à transportadora
além do prazo indicado nas notas, forçando o transportador a assumir a res-
ponsabilidade pelo atraso. No transporte de produtos resfriados e refrigera-
dos, não são incomuns casos em que o motorista do caminhão desliga o siste-
ma de controle de temperatura da carga para economizar combustível, ligan-
do-o novamente quando se aproxima da cidade de destino.
O rol de situações esdrúxulas, como as relatadas, infelizmente é grande.
O importante a frisar é que a realização de parcerias com resultados efetivos
só pode dar certo quando as relações entre as empresas participantes forem
apoiadas em mútua confiança e em ações profissionais permanentes.
Há um aspecto adicional que dificulta sobremaneira a evolução das em-
presas brasileiras na direção da moderna Logística e do SCM. As operações lo-
gísticas são muitas vezes complexas e, para que as inter-relações entre os agen-
tes da cadeia de suprimento se desenrolem adequadamente, é preciso dispor
de um sistema de custos adequado. Por exemplo, um fornecedor que entenda
que a recepção de seus produtos no centro de distribuição do varejista está
sendo feita de forma excessivamente lenta deveria apresentar dados concretos
sobre os impactos nos custos e na redução de eficiência em seu sistema de dis-
tribuição. Para isso, deve dispor de um sistema de custeio que possa evidenciar
as principais relações de causa e efeito em suas operações. Só a boa vontade
entre as partes, sem que haja transparência nas informações e consistência dos
dados, não vai ajudar muito nos entendimentos. Em razão da importância des-
se assunto, incorporamos um capítulo sobre custeio ABC neste texto.
Nessa fase de queda de demanda por produtos e serviços, muitas vezes
as empresas competem entre si de forma desleal. Por exemplo, o transporte 57
rodoviário de cargas no Brasil está infestado de operadores arrivistas, sem a
mínima experiência e tradição na área, e que oferecem seus serviços com fre-
tes excessivamente baixos. Muito embora a busca pela redução de custos seja
uma constante na moderna prática logística, a qualidade e a confiabilidade
dos serviços são de fundamental importância. Um dos resultados dessa com-
petição ruinosa dos transportadores de carga no Brasil é a pouca evolução
observada nos últimos anos nesse setor, salvo algumas honrosas exceções.
Isso tem favorecido a entrada no país de grandes operadores logísticos inter-
nacionais, como Ryder, Penske, Maclane, TNT, Danzas, sem que boa parte
das transportadoras nacionais se capacite para competir efetivamente com
eles.
A Empresa
Li & Fung é a maior trading exportadora de Hong Kong, e uma inovado-
ra no desenvolvimento do moderno gerenciamento da cadeia de supri-
mento num contexto globalizado. Fundada em 1906, em Cantão, sul da
China, pelo avô de Victor Fung, a empresa foi a primeira companhia ex-
58 portadora chinesa, numa época em que o comércio do país era controlado
por empresas estrangeiras. Sua única vantagem comparativa, na época de
sua criação, era que seus membros falavam inglês. No início do século
XX, uma carta do Ocidente gastava um mês para chegar à China. Merca-
dorias, por sua vez, demoravam três meses, no mínimo. Ninguém, nas fá-
bricas chinesas, falava inglês, e os comerciantes americanos, por sua vez,
não falavam chinês.
Na fase administrada pelo pai de Victor Fung, a empresa atuava basica-
mente como broker (intermediário), recebendo uma comissão para estabele-
cer contatos entre compradores e fabricantes de produtos. Mas, como mera
intermediária, a empresa estava sendo paulatinamente espremida entre os
clientes estrangeiros e as fábricas: recebendo 15% de comissão no início das
atividades, o percentual foi caindo cada vez mais, chegando a apenas 3% no
início da década de 1970.
Em 1976, Victor Fung lecionava na Harvard Business School e foi cha-
mado por seu pai, juntamente com seu irmão William, para dirigir a empre-
sa. A primeira constatação dos dois foi que brokers, como a Li & Fung, não
teriam mais do que 10 anos de vida, se tanto. A ideia era transformar o negó-
cio em algo diferente, desenvolvendo e implementando uma nova forma de
atuação para a empresa. A firma foi então se transformando, percorrendo
vários estágios de desenvolvimento.
Organização da Empresa
A maior parte das grandes tradings é organizada geograficamente, com as fi-
liais em cada país atuando como centros de negócio. Como resultado, fica 65
difícil gerenciar o processo sob o ponto de vista global da cadeia de valor.
Isso porque as filiais, em cada país, estarão competindo umas com as outras
nos negócios. Dessa forma, tentam definir um cliente-padrão, e procuram
produzir sistemas e processos que se ajustem à maior parte da clientela. Ou
seja, sua estratégia de negócio gira em torno dos produtos e serviços que ofe-
recem aos clientes. Estão, assim, dando maior ênfase à comercialização da
sua linha de produtos, embora afirmem estar focalizando as necessidades
dos clientes.
Li & Fung, por outro lado, procura organizar para o cliente. A unida-
de operacional básica da empresa é a divisão. Hoje, a empresa é formada
por aproximadamente 60 divisões. Sempre que possível, uma divisão é de-
dicada a apenas um cliente. Clientes menores, com necessidades semelhan-
tes, são agrupados em divisões específicas. Cada divisão é focalizada nas
necessidades do cliente, e são mantidas pequenas e com mentalidade forte-
mente empresarial. Sua receita varia de US$20 a 50 milhões cada uma. São
tocadas por executivos líderes, denominados “pequenos John Waynes”,
pela semelhança com o mocinho, montado numa carroça e dando tiros nos
bandidos à sua volta. Todas as decisões ligadas a um programa de produção
específico são de responsabilidade do gerente da divisão. Para as ações cria-
tivas do negócio, é dada ênfase ao comportamento tipicamente empresari-
al e, por isso, Li & Fung dá aos líderes das divisões liberdade operacional e
compensações baseadas em seu desempenho. As divisões podem ser vistas
como portfólios: quando o mercado se altera, a empresa pode criar ou fe-
char uma divisão quase instantaneamente, adaptando-se ao novo contexto
com grande rapidez.
Uma divisão típica é a Gymboree, uma das maiores de Li & Fung. Seu
staff de 40 pessoas tem escritório separado no edifício-sede da empresa, em
Hong Kong. Em cada escrivaninha há um microcomputador ligado ao
cliente Gymboree. O staff é organizado em times especializados em áreas,
como suporte técnico, merchandising, aquisição de matéria-prima, contro-
le de qualidade e despacho. Ada Liu, a gerente da divisão, controla técnicos
espalhados pela China, Filipinas e Indonésia, para as compras para o clien-
te, nesses países. Essas pessoas, que desempenham papel importante no
processo, são diretamente recrutadas pela gerente. Empresas trading só
conseguem ser eficientes quando pequenas. A Li & Fung tem conseguido
crescer rapidamente sem se burocratizar, para isso mantendo suas unidades
pequenas e independentes.
A administração central da companhia se incumbe do controle financei-
ro e dos procedimentos operacionais. A Li & Fung possui um sistema ope-
racional totalmente computadorizado para executar e monitorar os pedidos,
e todo mundo na empresa usa esse sistema. A direção da firma também con-
66 trola de perto o capital de giro. Nas palavras de Victor Fung, “estoque é a
raiz de todo o mal”. No mínimo, o estoque aumenta a complexidade do ge-
renciamento de qualquer negócio. Qualquer descuido, por outro lado, eleva
exponencialmente as necessidades de recursos financeiros. No que se refere
ao fluxo de caixa, a empresa é bastante conservadora. Victor Fung afirma
que poderia aumentar seus negócios de 10% a 20%, desde que desse crédito
aos clientes; no entanto, prefere agir com segurança nesse quesito: uma carta
de crédito é exigida de todo cliente antes que seu pedido seja executado.
Um aspecto importante na administração da empresa está ligado à for-
mação americana dos dois irmãos Fung. Victor diz que precisou, de início,
colocar de lado muito do que havia aprendido no Ocidente sobre adminis-
tração de empresas. A Li & Fung, que seu avô havia fundado, era um típico
conglomerado familiar chinês. Mesmo hoje, na Ásia, a maioria das empresas
é construída dentro desse modelo; no entanto, esse tipo de organização lida
essencialmente com poucas relações internas e externas. Durante a década
de 1980, por exemplo, a maioria dos magnatas asiáticos concentrava seus
negócios em atividades intensivas em propriedades, como imóveis e navega-
ção marítima. Para esse tipo de negócio, é requerido um pequeno número de
decisões, de valor muito elevado cada uma. Por exemplo, o empreendedor
decide se constrói ou não um edifício, ou se encomenda ou não um novo na-
vio supertanque. No início de sua atuação à frente da Li & Fung, os dois ir-
mãos foram obrigados a seguir o esquema oriental de administração.
Mas a Li & Fung de hoje administra sistemas grandes e complexos, sen-
do muito diferente da empresa criada em 1906. Num certo momento, mais de
50 compradores da empresa podem estar realizando centenas de transações
individuais na sede, em Hong Kong. É um grande número de decisões, de pe-
queno valor individual. A empresa tem uma atuação extremamente focalizada
no cliente, e adota um enfoque sistêmico constante em suas operações. Assim,
o aprendizado na Harvard Business School, deixado de lado num primeiro
instante, está sendo colocado em prática na atual fase da companhia.
Importância da Informação
A informação é, talvez, o ingrediente mais importante na fórmula de negócio
de Li & Fung. Diariamente são trocadas informações dos mais variados tipos
entre a empresa e seus inúmeros clientes, e entre ela e seus fornecedores. São
chamadas telefônicas, fax, intercâmbio de dados via Internet, bem como vi-
sitas pessoais in loco. Victor Fung acredita que logo a empresa vai precisar de
um sistema sofisticado de informação com arquitetura aberta, de forma a
acomodar os diferentes protocolos de fornecedores e clientes. Esse sistema
deve ser robusto o suficiente para atuar em Hong Kong e Nova York, mas
também em países como Bangladesh, onde o sistema de comunicação é mais
problemático.
67
Victor Fung descreve o executivo ideal de sua empresa, que vislumbra
para o mundo de hoje. Seria um elemento vestindo uma roupa de safári e ca-
pacete. Numa das mãos levaria uma machete e, na outra, um computador
portátil avançado e um aparelho de comunicação. Na prática, a empresa tra-
ta com relatórios convencionais de fornecedores de países emergentes. De
outro, a empresa está ligada diretamente aos pontos de venda de grandes va-
rejistas nos Estados Unidos e na Europa, recebendo dados precisos e instan-
tâneos, que lhe permitem reabastecer as lojas do cliente automaticamente.
Em outras palavras, a Li & Fung tem de estar preparada para atuar em re-
giões onde há muito o que fazer em termos de tratamento da informação, e
noutras onde já se está operando com tecnologia de ponta.
Reflexões
No Brasil, temos uma diversidade de recursos humanos, com regiões extre-
mamente carentes de emprego, em contraste com outras já bem desenvolvi-
das. Treinar pessoal para executar tarefas simples, como as observadas no
contexto asiático, não parece de difícil execução. Na verdade, já existem ini-
ciativas no Brasil, voltadas ao setor de confecções, e coordenadas por grupos
nacionais e internacionais. O que falta para que esse esquema de “manufatu-
ra dispersa” possa ser implantado no país, coordenado não por empresários
orientais, mas por empreendedores brasileiros?
Em primeiro lugar, seria necessário criar a competência técnica e opera-
cional, à maneira da Li & Fung, que possibilitasse gerenciar a cadeia de su-
primento dispersa, de forma eficiente em termos logísticos. A infraestrutura
logística, por outro lado, representada pelos modos de transportes, portos,
terminais, rodovias, burocracia governamental e outros componentes, é bas-
tante deficiente e desarticulada. Além do “custo Brasil”, as deficiências ob- 69
servadas impedem, hoje, a compressão do ciclo do pedido, na forma realiza-
da pela empresa Li & Fung. No entanto, é nossa meta competir eficiente-
mente no comércio internacional. Esse exemplo oriental nos deve servir, en-
tão, de estímulo.
Questões Propostas
1. Em qual das quatro fases da Logística você colocaria a empresa Li &
Fung? Justifique.
2. As operações da Li & Fung se enquadram dentro dos modernos
conceitos de gerenciamento da cadeia de suprimentos? Por quê?
3. Poderíamos classificar a Li & Fung como uma manufatura? Por quê?
4. Considere as seguintes funções logísticas: (a) suprimento, (b) manu-
fatura, (c) transportador (d) distribuidor, (e) atacadista, (f) repre-
sentante, (g) comerciante e (h) varejista. Quais dessas funções a Li
& Fung exerce? Justifique.
5. No texto, se fala muito pouco sobre o transporte de insumos e com-
ponentes dentro da região, bem como sobre a distribuição de pro-
dutos acabados a partir da Ásia para a Europa e para a América do
Norte. Discuta os requisitos e os condicionantes para que esse sub-
sistema logístico consiga oferecer satisfatoriamente o nível de servi-
ço exigido pelas operações da Li & Fung.
6. Como uma empresa do tipo da Li & Fung pode controlar a qua-
lidade dos insumos e dos produtos, bem como os prazos, numa
cadeia de suprimento tão dispersa espacialmente?
7. Discuta a questão da confiança entre a Li & Fung e seus fornecedo-
res e clientes.
8. Considere a seguinte situação para a fabricação de um certo tipo de
roupa no Brasil, destinada à exportação: (a) planejamento e coorde-
nação em São Paulo; (b) tecido produzido em Santa Catarina, na re-
gião de Blumenau; (c) zíperes e botões fabricados em Minas Gerais;
(d) confecção da roupa no Ceará e no Sul de Minas; (e) despacho
pelo porto de Santos. Você acha viável adotar o esquema da Li &
Fung para as condições hoje vigentes no Brasil? O custo final seria
competitivo? Discutir os efeitos de tal prática no desempenho logís-
tico final, caso esse sistema fosse implantado.
9. Em relação à Questão 6 discuta os condicionantes culturais que fa-
voreceram a adoção da “manufatura dispersa” na Ásia e faça um pa-
ralelo com as condições vigentes no Brasil.
10. Em uma época em que um grande número de empresas ponto.com
saiu do mercado quase vertiginosamente, a Li & Fung virtual pare-
70
ce estar indo muito bem. Discuta as vantagens competitivas que a
empresa conseguiu incorporar somando seus conhecimentos obti-
dos na prática direta com o maior alcance propiciado pela Internet.
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72
3
Os Desafios
do Comércio
Eletrônico
1
74 Ato de folhear aleatoriamente as páginas e as linhas de um texto na tela.
correspondem a domicílios com renda relativamente alta, seu impacto no
comércio eletrônico tende a ser bastante forte. De fato, espera-se um aumen-
to significativo no movimento geral do comércio eletrônico à medida que a
banda larga vá sendo adotada em maior escala, como resultado da agilização
na comunicação entre os compradores e as empresas vendedoras.
2
EDI, Electronic Data Interchange, ou Intercâmbio Eletrônico da Dados.
3
Rede com valor adicionado. 75
para o marketing, envolvendo perfil do consumidor, preferências,
hábitos de compra (horários mais utilizados, dias do mês, volume de
compras etc.). Mesmo não fazendo uso dos cookies, os provedores
podem colher informações importantes sobre seus clientes a partir de
seus hábitos e frequência de compras, faixa etária, sexo etc.
G Segurança: os mecanismos de segurança hoje existentes na Internet
autenticam a fonte de informação e garantem a integridade e a priva-
cidade na troca de informações. Esses mecanismos de segurança são
de grande importância nesse tipo de atividade porque, ao contrário
das transações tradicionais, o comércio eletrônico não implica a pro-
ximidade física entre comprador e vendedor no momento de se efeti-
var a transação. Infelizmente, à medida que vão sendo conseguidos
avanços nas técnicas de segurança eletrônica, os hackers acabam en-
contrando novas formas de ludibriá-las.
Informações Técnicas
Esse tipo de informação ocorre na comunicação comprador-vendedor e en-
volve aspectos técnicos relacionados com o produto. É muito usada nas tran-
sações entre empresas, procurando responder às necessidades de informação
do comprador, na aquisição de matérias-primas e de componentes necessários
à fabricação de seus produtos. É o caso de uma empresa-cliente ao abrir o
site de um fornecedor, que oferece uma extensa linha de produtos, com dife-
rentes especificações. O sistema a ajuda, então, a escolher o produto adequa-
do em termos de tamanho, potência, resistência física, resistência à corrosão
etc. Esse tipo de informação está ligado a “o quê” buscar ou comprar.
Por exemplo, na aquisição de uma ponte rolante, um sistema especialis-
ta (expert system) desenvolvido pelo fabricante vai solicitando informações
do possível comprador: peso máximo a deslocar, vão do depósito, tipo de
material a ser levantado, velocidade etc. Ao fim de uma sessão de perguntas e
respostas, o sistema especialista indica o tipo de produto mais adequado às
78 necessidades do cliente.
No caso de vendas ao consumidor, o site MySimon.com, um serviço
americano de apoio às compras na Internet, é um exemplo típico (Wise e
Morrison, 2000). Suponhamos que o cliente deseje comprar um aparelho
DVD. Em primeiro lugar, o site fornece informações gerais sobre DVDs,
destacando as especificações mais importantes e as diferenças críticas entre
os vários modelos disponíveis. Depois, com o auxílio de um software desen-
volvido pela empresa Active Research, o sistema leva o internauta através de
um processo de avaliação sistematizada, permitindo que ele faça escolhas en-
tre as diversas opções oferecidas. Uma vez concentrada a análise sobre um
subconjunto reduzido de atributos, a MySimon recomenda uma lista de
DVDs que melhor atendam às necessidades do consumidor.
Informações Comerciais
Uma vez conhecido ou definido o produto ou serviço, o cliente deseja anali-
sar as ofertas de diferentes fornecedores, envolvendo preços, prazos de en-
trega, condições de pagamento etc. O fornecedor, por sua vez, está também
interessado em obter informações sobre os possíveis clientes, tais como ca-
racterísticas socioeconômicas e hábitos dos consumidores, para formar uma
base de dados de marketing, preferências sobre os produtos (próprios e de
concorrentes), reclamações mais frequentes etc. Esse tipo de informação está
ligado a “quem” buscar e identificar no processo.
Informações Administrativas
Depois de realizada a transação, torna-se necessária a troca de informações
entre comprador e fornecedor, envolvendo encaminhamento do pedido,
transferência de notas fiscais, faturas e outros documentos, informações so-
bre o andamento do processo etc. Esse tipo de informação está ligado ao
“quanto, onde e quando”.
Informações Projetivas
Estão relacionadas com o planejamento das necessidades futuras das empre-
sas da cadeia de suprimento, principalmente quando há integração direta
entre as partes (just-in-time, ECR). Por exemplo, o fornecedor pode acessar
diretamente as informações de planejamento, de vendas e de estoque exis-
tentes nas instalações da empresa cliente (ver Capítulo 6). Com os dados as-
sim obtidos, projeta a demanda do produto para os próximos períodos e,
com base nessas projeções, efetua a reposição dos estoques de forma auto-
mática (Estoque Administrado pelo Fornecedor – Vendor Managed Inven-
tory). Esse tipo de informação se prende ao “e depois?”, nas transações co-
merciais da cadeia de suprimento. 79
Tipos de Comércio Eletrônico
O comércio eletrônico vem sendo realizado por meio de EDI há mais de vin-
te anos. Hoje, boa parte do comércio eletrônico está migrando para a Inter-
net. Os dois tipos principais de comércio eletrônico observados atualmente
na Internet são: o B2B, ou comércio eletrônico business-to-business, e o
B2C, ou comércio eletrônico business-to-consumer.
4
A certificação eletrônica se apoia na assinatura digital, formada por uma chave numérica privada
e criptografada, de conhecimento exclusivo de seu titular, e uma chave pública, que permite que o
82 documento seja aberto e autenticado por um destinatário autorizado.
Comunidades
Hubs verticais V
Soluções
Explosão de sites na Internet
horizontais
III IV
II Integração
I no Supply
Sites de Chain (ERP)
EDI centrado vendedores
no comprador na Internet
Tempo
Fonte: Duracher (2000b).
FIGURA 3.1 • Evolução do comércio eletrônico B2B
F1
C1
F2
C2
F3 e-mercados
C3
F4
F5 C4
FIGURA 3.2 • Comunidades comerciais (e-mercados) interligando empresas fornecedoras
e compradoras na Internet
China 95 7,2
Japão 75 58,7
Alemanha 41 49,7
Brasil 22 11,7
México 14 13,0
Argentina 5 13,9
2001 0,55 –
2002 0,85 54
2003 1,20 41
2004 1,75 46
2005 2,50 43
4,0
Faturamento anual (R$ bilhões)
3,0
2,0
1,0
0,0
2001 2002 2003 2004 2005 2006
Ano
Fonte: ebit, 2006.
FIGURA 3.3 • Evolução do faturamento do comércio eletrônico B2C no Brasil
87
serviços na Internet não significa resultados financeiros imediatos. Compu-
tadores, por exemplo, seriam teoricamente fortes candidatos a serem comer-
cializados na Internet, como é o caso dos produtos da Dell. Mas, por causa
dos elevados valores monetários nas transações, os compradores são mais
cuidadosos ao fazer suas compras, com muitas pesquisas por vários sites an-
tes de tomarem a decisão final. Em muitos casos, a compra acaba se realizan-
do presencialmente na loja, servindo a Internet como mera fonte informati-
va, tendo em vista a desconfiança que muitos consumidores ainda têm em re-
lação às transações na Web.
CDs e DVDs 21
Aparelhos eletrônicos 9
Artigos de informática 7
Outros 37
Outras situações 3% 3%
P01 30,3 X X
P02 25,5 X
P03 10,5 X X X
P04 8,8 X X X
P05 8,2 X X X X
P06 6,2 X X X X
P07 5,3 X X
P08 2,7 X X X
P09 1,0 X X
P10 0,7 X X X
P11 0,6 X X
P12 0,2 X X X
Total 100,0 – – – – –
Mas a análise não para aí. Para cada pacote ou subpacote, seria realiza-
do um estudo minucioso do perfil dos consumidores que adquiriram as com-
binações de componentes selecionadas. Seriam analisadas suas característi-
cas socioeconômicas, como faixa etária, renda, região onde reside etc., bus-
cando padrões homogêneos de comportamento. Depois, seria feita uma pes-
quisa mercadológica de campo junto aos consumidores e concessionárias
buscando descobrir as razões das escolhas: segurança, status, conforto, valor
potencial de revenda etc. De posse dessas informações, a área de marketing
100 da empresa prepararia programas mercadológicos específicos visando me-
lhor orientar o mercado na aquisição de seus produtos, atuando diferencial-
mente nos diversos nichos identificados na análise.
Outro possível resultado desse tipo de estudo é a análise do lead-time real-
mente cumprido pela montadora. O internauta que compra seu carro na Inter-
net precisa esperar várias semanas até que o veículo lhe seja finalmente entre-
gue. Muitas vezes esse processo demora de um mês e meio a dois meses no Bra-
sil. Na Europa, as seis montadoras que participam do programa 5DayCar apre-
sentam um lead-time médio de 40 dias. Nos Estados Unidos o prazo é maior,
em torno de 60 a 70 dias. Deve-se somar a esse tempo mais dois ou três dias
para que a concessionária prepare o carro e, a seguir, o entregue ao proprietário.
A análise de mercado que descrevemos sucintamente pode também ser
usada para verificar as expectativas de prazo de recebimento (lead-time) dos
veículos adquiridos na Internet por parte dos diversos grupos de consumido-
res. Um estudo realizado recentemente nos Estados Unidos (CNW Marketing,
2003) mostrou haver diferenças nítidas entre grupos diferentes de consumi-
dores. Por exemplo, para os compradores de veículos econômicos, de menor
valor, o lead-time esperado era de 21 a 22 dias; já os compradores de carros
esportivos, bem mais sofisticados, estavam dispostos a esperar até 54 dias.
Pode-se concluir dessa breve análise da customização em massa que,
embora o comércio eletrônico tenha introduzido expectativas novas nos
consumidores, há formas inteligentes de contornar as consequências logísti-
cas negativas nas grandes cadeias de suprimento, como a da indústria auto-
motiva, por exemplo.
5
Tradução do inglês de e-tailers, que são os varejistas (retailers) que comercializam produtos na
Internet.
6 Tradução de brick and mortar, expressão em inglês. 105
automóvel para um estacionamento pago e tem de percorrer uma boa dis-
tância a pé para chegar à loja. O estabelecimento está cheio de gente, e a con-
sumidora procura um atendente para fazer algumas indagações. Mas todos
estão ocupados, atendendo outras pessoas, e pedem que espere. A mulher
continua procurando e encontra um dos objetos de seu desejo na vitrine. De-
pois de muito esperar, um atendente lhe responde que é o último em esto-
que, mas já está vendido. A consumidora se conforma e vai atrás de outros
produtos de sua lista. Na hora de pagar, a moça da caixa lhe diz que a opera-
dora de seu cartão de crédito está fora do ar. E a compradora em potencial é
obrigada a pagar em cheque, depois de várias tentativas de registro da com-
pra através do cartão, por parte da atendente...
Fazendo as compras na Internet tudo é mais fácil e rápido. Não é preci-
so sair de casa, os produtos lhe são entregues na data certa, o pagamento
com cartão de crédito é tranquilo. Sim, mas não tanto. As empresas que ope-
ram sites de B2C gastam grandes importâncias de dinheiro para atualizar e
melhorar sua imagem junto aos internautas. Grande parte do faturamento
dessas empresas vai para o setor de marketing. Gastam somas expressivas
com outros provedores para instalação de banners7 e links que veiculam pro-
paganda de suas atividades e que dão acesso ao site da empresa. Mas nem
sempre os serviços de logística, envolvendo processamento dos pedidos, en-
trega dos produtos e atendimento ao cliente, estão à altura.
A partir de sua criação em 1997, em Los Angeles, Califórnia, a
eToys.com cresceu rapidamente, aumentando seu quadro de funcionários
de 13 pessoas para 235 durante o ano de 1998. Mas, simultaneamente com o
aumento da popularidade junto aos consumidores, veio o aumento das des-
pesas, e, no fim de 1998, depois de 14 meses de operação, a empresa tinha
um déficit acumulado de 17,5 milhões de dólares. Em fevereiro de 1999,
anunciou o plano de abrir o capital para conseguir, na bolsa de valores, mais
recursos financeiros para suas atividades.
Déficits de empresas desse tipo, nos primeiros anos de operação, são
normalmente aceitos pelos investidores. Os analistas de mercado se apoiam
no conceito de “escalabilidade”, já definida. Conforme enunciado anterior-
mente, a “escalabilidade” representa o potencial de aumento do lucro da
empresa à medida que o número de acessos ao site vai crescendo. Para em-
presas de elevada “escalabilidade”, perdas nos primeiros anos de operação
podem ser compensadas de muito no futuro, e os investidores se apoiam nes-
sa ideia. Já as empresas que comercializam produtos na Internet, o fator de
“escalabilidade” também existe, mas é menor. Isso porque a comercialização
de produtos envolve custosos estoques, pessoal no depósito para embalar e
7
106 Banners são as faixas de propaganda colocadas nos sites de outras empresas.
despachar os pedidos, transporte, atendimento aos clientes e diversas outras
atividades logísticas, cujo custo cresce diretamente com a demanda.
A eToys dedicou o ano de 1999 à expansão de suas atividades. Acelerou
a implantação de um segundo depósito e adquiriu a empresa BabyCenter por
mais de 150 milhões de dólares. Em agosto daquele ano assinou um acordo de
marketing com a American Online. Em função desse acordo, a eToys se tor-
nou a varejista líder de produtos infantis nos sites da AOL, comercializando
brinquedos, livros, vídeos, além de outros produtos do gênero. Ainda naquele
mês, tornou público o plano de expandir suas atividades para o Reino Unido,
estabelecendo um depósito de distribuição em Swindon, perto de Londres.
Os executivos da eToys planejaram diversas outras formas de ação para
melhorar suas margens de lucro. Uma ideia era a de comercializar produtos
de outras categorias com maiores margens, tais como artigos esportivos e
roupas. Pensaram também em criar produtos de marca própria, que poderiam
gerar lucros bem mais elevados. Mas esse esforço excessivo elevou sobrema-
neira os custos. Em 1999, 37% do faturamento foi despendido em propa-
ganda. Os custos relacionados com atendimento ao cliente, processamento
dos pedidos e despesas com cartões de crédito totalizaram outros 33%.
Junto com Amazon e eBay, a eToys figurava como um dos sites mais vi-
sitados durante a época de Natal de 1999. Cerca de 1,5 milhão de consumi-
dores utilizavam o site da eToys para suas compras. A empresa atingia assim
o ponto mais alto na montanha-russa de nossa analogia.
Mas os investidores já começavam a perder a fé na atuação da empresa
bem antes da crise da Nasdaq. Em janeiro de 2000, a eToys indicou um pre-
juízo de 62,5 milhões de dólares para o quarto trimestre de 1999, muito alto
quando comparado com um déficit de 8,2 milhões observado no mesmo pe-
ríodo do ano anterior. As ações da empresa, que atingiram o valor unitário
de US$84,35 em outubro de 1999, caíram para US$26,25 no início de
janeiro, chegando a US$13,06 por ação pouco depois.
Para acalmar os investidores, a eToys agiu agressivamente em 2000.
Anunciou planos de abrir seu site para propaganda de terceiros, eliminou a
terceirização dos serviços de logística e, em junho, conseguiu levantar 100
milhões de dólares no mercado financeiro para capitalizar a empresa.
Mas, em novembro do ano 2000, as ações da eToys caíram para um va-
lor de apenas US$2,56 quando os analistas previram que a empresa não iria
conseguir lucro positivo até 2004, um prazo dois anos além do prometido
por seus executivos. No entanto, os administradores da eToys tinham a es-
perança de retomar seu nível de crescimento nas festas de Natal de 2000.
Mas de nada adiantaram seus esforços.
No dia 15 de dezembro de 2000, a empresa anunciou que iria reduzir
drasticamente seu quadro de funcionários para compensar os prejuízos ocor- 107
ridos no trimestre anterior. Em janeiro de 2001, 700 funcionários da eToys
já haviam sido dispensados, o que representava 70% de sua força de traba-
lho. Na mesma ocasião, a divisão inglesa fechou suas portas. Pouco antes de
falir, a empresa cancelou abruptamente as entregas de seus produtos no
Canadá.
Em fevereiro de 2001, os executivos da eToys comunicaram aos inves-
tidores que as ações da empresa haviam perdido totalmente seu valor de
mercado e que iriam fechar suas portas em março. Subitamente, as ligações
telefônicas passaram a ser atendidas por uma gravação e ninguém mais da
firma podia ser contatado por telefone ou por outro meio. A eToys havia fa-
lido e atingia, nesse ponto, a curva mais baixa da montanha-russa de nossa
analogia.
Problemas Logísticos
As empresas B2C gastam grandes somas de dinheiro em marketing e no de-
senvolvimento de seus sites, mas muitas vezes ignoram aspectos importantes
de atendimento ao cliente e de solução dos problemas logísticos. Por exem-
plo, a Eve.com, um e-varejista norte-americano que vende produtos de bele-
za na Internet, tentou vender perfume, mas logo descobriu que esse tipo de
produto era considerado “material perigoso” pelas autoridades. Para en-
viá-lo pelo operador logístico UPS era necessária uma licença especial. A li-
cença levou meses para ser obtida, com impactos negativos nas operações. O
setor de logística da empresa deveria ter participado dos planos comerciais
da administração, tomando assim as providências cabíveis de licenciamento,
com a devida antecedência.
Muitas empresas B2C têm falhado, com frequência, nas entregas de
seus produtos por ocasião das principais festas, principalmente a do Natal.
Um levantamento feito pela eToys mostrou que 90% dos pedidos no mês de
dezembro chegavam ao seu destino dentro do prazo estabelecido. Mas esse
índice, aparentemente razoável, embora não ideal, mostrava, na verdade,
que a empresa havia quebrado o compromisso com 10% dos clientes, que re-
presentavam, em termos absolutos, muitas famílias insatisfeitas. A difusão de
rumores, principalmente os negativos, é muito rápida, e esses 10% podem
significar a destruição da credibilidade da empresa se nada for feito para eli-
minar os problemas logísticos observados na vida real.
Mas havia ainda outro parâmetro nesse processo que complicava ainda
mais a imagem da eToys. Um levantamento realizado por uma consultoria
independente verificou que, de forma geral, as empresas B2C puras (isto é,
que somente operam na Internet) tinham conseguido um nível médio de
65% de atendimento cem por cento correto nas entregas, contra um índice
108 de 80% para os varejistas do tipo tijolo e argamassa. Esse resultado compara-
tivo foi considerado indesculpável pelos analistas, e suas opiniões acabaram
se refletindo negativamente sobre os consumidores, através da mídia.
Mas deixemos os próprios consumidores falarem por si próprios. O
Wall Street Journal, na sua edição interativa de 30 de dezembro de 1999, pu-
blicou a seguinte queixa de uma consumidora (Hallowell, 2000)
8
O Dia de Ações de Graças (Thanksgiving Day) é uma festa muito importante nos Estados Unidos,
e cai na segunda-feira da segunda semana de outubro. 109
A Sra. Cicci enviou então um e-mail para a empresa reclamando da
situação e argumentando que o site indicava que o avião estava
disponível quando ela fez o pedido. Mas não obteve resposta. Depois
de mais duas mensagens por e-mail e três ligações telefônicas para o
serviço de atendimento ao consumidor, lhe disseram que o brinquedo
lhe seria enviado e que ela seria ressarcida pelo custo da remessa das
pilhas. O avião da Barbie foi finalmente entregue pela FedEx 19 dias
depois que a Sra. Cicci fez o pedido.
A eToys Hoje
A falência da eToys não impediu que continuasse a funcionar na Internet.
Digite www.etoys.com e você vai ver que ela ainda está lá. A Figura 3.4
mostra o portal da eToys na Internet. Na verdade, não se trata da eToys
inicial, mas de uma nova empresa, a eToys Direct, sucessora daquela. No
início era uma pequena empresa na Internet denominada Brainplay.com.
Em 1999, suas operações chamaram a atenção de varejistas de porte e
acabaram formando uma joint venture com a Consolidated Stores, que pos-
suía uma subsidiária chamada KB Toys. Juntos lançaram a KBtoys.com na
Internet em junho de 1999. No Natal daquele ano, a nova empresa foi clas-
sificada como o 12o site do setor mais visitado nos Estados Unidos. E o
Wall Street Journal classificou a empresa como o melhor varejista de brin-
quedos do ano.
Em 2001 adquiriram a maior parte dos ativos da falida eToys, incluin-
do seu depósito principal, na Virginia. Em maio de 2004 foi formada a
eToys Direct, separando-se da KBtoys.com, e logo se expandindo através
da aquisição de boa parte do acervo da My Twinn Doll Company e, em
2005, adquirindo a Silvestri, Inc., especializada no comércio por atacado
de artigos de presentes, acessórios para decoração do lar e outros produtos
do gênero.
A eToys Direct opera hoje em paralelo com os sites eToys.com,
MyTwinn.com e KBtoys.com, vendendo brinquedos, jogos eletrônicos e
presentes, ao que parece, com boa aceitação por parte dos consumidores
e sem problemas financeiros. Assim, a eToys, que subiu e desceu vertiginosa-
mente na montanha-russa do comércio eletrônico, acabou atingindo um pa-
112 tamar estável.
FIGURA 3.4 • O portal da nova empresa eToys na Internet
Questões Propostas
1. Uma empresa que vende produtos na Internet, por exemplo, brin-
quedos como a eToys.com, pode oferecer teoricamente melhores
preços para seus consumidores, quando comparados com os das lo-
jas tijolo-e-argamassa. Por quê?
2. Faça um resumo das falhas da eToys no que se refere aos pontos
identificados como os quatro pilares da qualidade do serviço ao
consumidor, no B2C.
3. Faça uma comparação entre duas situações: (a) uma empresa vare-
jista do tipo tijolo-e-argamassa com vários anos no mercado e que
decide operar também na Internet, como, por exemplo, a Ponto
Frio; e (b) uma empresa que nunca operou no varejo e decide entrar
nesse setor operando somente na Internet, como, por exemplo, a
Submarino.com. Que vantagens e desvantagens você identifica em
ambas as situações? Quais os principais problemas logísticos que
podem ser enfrentados em cada caso e como solucioná-los?
3. Uma empresa tem um site na Internet para vender somente bilhetes
eletrônicos de empresas aéreas, fazendo a reserva do voo, cobrando
o valor por meio de cartão de crédito e enviando o tíquete eletrôni-
co ao consumidor, por e-mail. Uma outra empresa vende entradas
de teatro, de cinema e de jogos esportivos pela Internet e os entrega
113
na casa do comprador. Qual das duas empresas tem maior nível de
“escalabilidade” e por quê?
4. Por que, na sua opinião, muitos empreendedores que criam empre-
sas B2C puras, como a eToys.com, frequentemente evitam investir
diretamente em logística, preferindo deixar esse tipo de atividade a
cargo de terceiros?
5. É muito comum, no mercado, uma empresa bem-sucedida comprar
os ativos de uma firma que faliu, pois isso lhe dá oportunidade de ad-
quirir equipamentos e instalações por um bom preço, muitas vezes de
boa qualidade e bem localizados. Mas a eToys Direct não somente
comprou os ativos da eToys, como também adotou o seu nome. Ten-
do sido um caso rumoroso de ascensão e queda (a montanha-russa de
nossa analogia), com bastante repercussão na mídia e no mercado,
não lhe parece que o mais lógico seria mudar o nome, de forma a ace-
lerar o esquecimento do ocorrido? Por que, na sua opinião, a eToys
Direct decidiu manter o nome da eToys em seu site?
A Empresa Submarino.com
Lançada em junho de 1999, com capital inicial de US$2,5 milhões, a Subma-
rino.com é uma loja virtual de B2C internacional, pois opera no Brasil,
Argentina, México, Portugal e Espanha. Não possui lojas brick-and-mortar,
operando exclusivamente na Internet. É líder na venda de livros, CDs, brin-
quedos, jogos, vídeos e DVDs, aparelhos eletrônicos, software e celulares,
entre outros produtos (Applegate, 2001).
O sucesso alcançado pela Amazon.com no Natal de 1998 acentuou o in-
teresse de empreendedores em investir em negócios na Internet. A ideia de re-
plicar o modelo de negócio da Amazon na América Latina emergiu como uma
oportunidade potencial atraente. De fato, muitas cidades médias e pequenas
não dispõem de livrarias e lojas de música com ampla oferta de livros, CDs etc.
No entanto, a região servida pelo Submarino.com é bastante heterogênea em
termos de língua, de hábitos e de preferências. Por exemplo, vender equipa-
mentos de esqui para argentinos e chilenos faz sentido, mas tais produtos não
têm utilidade para os brasileiros, à exceção de uma minoria que pratica o es-
porte em nível internacional. Adicionalmente, a infraestrutura logística na
América Latina é relativamente pobre quando comparada com a vigente nos
114
Estados Unidos e na Europa. A consultoria McKinsey, por exemplo, verificou
que as entregas das compras no B2C latino-americano demoravam cinco dias
em média, contra dois dias nos países desenvolvidos. E os pedidos eram cum-
pridos integralmente em 55% dos casos, contra um índice de 75-85% nos paí-
ses desenvolvidos. Outro aspecto levantado pela empresa McKinsey foi que
apenas um cliente latino-americano entre mil atendidos num site de B2C se
tornava um consumidor fiel. Esse índice era cerca de dez vezes menor do que
o observado nos Estados Unidos e na Europa.
Apesar dessas desvantagens, em fins do ano 2000 o Submarino já tinha
estabelecido uma posição de liderança nos mercados B2C brasileiro, argenti-
no, mexicano e português, mas era apenas o terceiro na Espanha. Em dezem-
bro daquele ano a empresa tinha 600 empregados, sendo que metade da for-
ça de trabalho operava no Brasil. Em fevereiro de 2001, foi realizada uma re-
estruturação da firma, reduzindo o total de funcionários para 547, sendo
que 164 atuavam em marketing e vendas, 119 em atendimento e serviços ao
consumidor, 86 no desenvolvimento de produtos, 46 na administração da
empresa e os 132 restantes noutras funções. As operações da Submari-
no.com são altamente descentralizadas. Cada um dos gerentes dos cinco paí-
ses onde atua a empresa supervisiona o depósito local, as operações de aten-
dimento ao cliente, o gerenciamento de produtos, o web design e o conteúdo
do site. Utilizando um conceito do moderno SCM, a ideia é pensar global-
mente e atuar localmente.
A Empresa Officenet.com
Na Argentina, a empresa Officenet iniciou suas operações no comércio
B2B em 1997. Seu campo de atuação era o suprimento de material de escri-
tório para pequenas e médias empresas. Seus criadores, A. Freire e S. Bi-
linkis, fizeram um levantamento desse mercado nos Estados Unidos e na
Argentina e concluíram favoravelmente sobre seu potencial (Kuemmerle,
2004a). Nos Estados Unidos, os atacadistas desse tipo de produto conse-
guiam comprar a preços mais baixos e ofereciam maior facilidade de com-
pra, já que os clientes podiam concentrar suas aquisições numa única tran-
sação. Parte dos atacadistas utilizava catálogos de seus produtos, atingindo
com sucesso pequenas e médias empresas. Assim, a ideia de lançar um siste-
ma de venda por catálogo, de material de escritório para pequenas e médias
empresas na Argentina, pareceu atrativa para Freire, Bilinkis e seus finan-
ciadores.
A logística na Argentina apresentava muitos problemas. Era comum um
pacote destinado a uma determinada cidade acabar numa outra localidade,
situada em região diametralmente oposta. Nas palavras de Freire, “a única
certeza ao mandar uma carta pelo correio era de que ela nunca chegaria ao
seu destino” (Kuemmerle, 2004a). Nessa época, ninguém, incluindo o Cor-
reio, investia em logística. Por outro lado, a corrupção corria solta. Era co-
mum, em muitas firmas, o recebimento de propinas por parte de seus funcio-
nários, ao selecionarem os fornecedores da empresa. Assim, a introdução da
compra por catálogos abriria espaço para transações mais impessoais e mais
profissionais.
Em julho de 1996, Freire e Bilinkis apresentaram um plano preliminar
de negócio aos investidores e, depois de uma viagem de estudos aos Estados
Unidos e da preparação do projeto detalhado, receberam um aporte de capi-
116 tal de US$2 milhões, em 1997. Contrataram, inicialmente, 23 funcionários e
selecionaram 80 fornecedores. Conseguiram bons preços dos fornecedores e
mais US$180.000 de verba para propaganda e elaboração de catálogos. De
fato, a primeira fase de operação da Officenet não envolvia a Internet, sendo
as vendas realizadas somente por meio de catálogos impressos.
Embora os clientes não estivessem acostumados aos catálogos, sua
apresentação de fácil manuseio conquistou rapidamente as empresas clien-
tes. Mas logo foram constatados alguns problemas não existentes nos Esta-
dos Unidos. Enquanto, na América do Norte, uma empresa do mesmo tipo,
faturando 40 milhões de dólares por ano, conseguia realizar suas cobranças
com apenas um funcionário, a Officenet tinha que alocar cerca de 10% de
seu quadro de funcionários para desempenhar a mesma função. Isso ocorria
porque era tradição, no cenário empresarial argentino, postergar ao máximo
os pagamentos a terceiros.
Outro problema era a entrega do produto aos consumidores. A Office-
net teve que montar sua própria rede de entregas para garantir o nível de ser-
viço prometido aos clientes. Mas, para isso, tiveram que impor um valor mí-
nimo para os pedidos e foram forçados a limitar geograficamente a área de
atuação da empresa.
Em setembro de 1999, a Officenet já havia alcançado 15% do mercado
de suprimento de material de escritório na Argentina, com US$30 milhões
anuais de faturamento. Nessa época abriu seu site na Internet (versão 1.0),
com uma migração imediata de 15% da demanda para esse novo canal de
vendas. Os executivos da Officenet perceberam então que era necessário in-
troduzir melhorias urgentes no sistema, envolvendo o processo de cobrança,
o replanejamento das rotas de entrega, a introdução da automação no depó-
sito e o aumento de pessoal no setor de marketing e de vendas. Em janeiro de
2000 lançaram a versão 2 de seu site na Internet.
Freire e Bilinkis pensaram em expandir as atividades da Officenet
para o Brasil, mas desistiram devido ao tamanho do mercado brasileiro,
três vezes maior do que o da Argentina. Além disso, diferenças culturais e
de língua colocavam outras dificuldades. Pensaram também em expandir
as atividades da Officenet, na Argentina, para o comércio B2C. Lembra-
ram, no entanto, que o custo médio de atendimento de um pedido do tipo
B2B, na Officenet, era de 40 dólares, para um valor médio de compras de
190 dólares. No B2C o valor médio dos pedidos é significativamente me-
nor, conforme dados da Submarino.com apresentados na seção anterior.
Além disso, o nível de fidelidade dos consumidores no B2C é bem menor
do que no B2B.
De qualquer forma, a ideia de estender ao Brasil as atividades B2B da
Officenet falhou por falta de aporte do capital necessário, perto de US$30
milhões. Ao fim desse processo, a empresa Officenet aceitou uma oferta de
compra por parte da Submarino.com. 117
A Aquisição da Officenet pela Empresa Submarino
Em dezembro de 1999, a Officenet alcançou 21,4 milhões de dólares de ven-
das líquidas e vendeu 13% de suas ações para a Submarino, sendo 4 milhões
em dinheiro. Em fevereiro de 2000 vendeu os 87% restantes de suas ações
por US$9 milhões em dinheiro, e a diferença em ações do Submarino.com.
No total, a operação de compra custou 31 milhões de dólares, com a Subma-
rino assumindo 100% do controle da Officenet e passando esta última a de-
ter 4,5% das ações da Submarino (Kuemmerle, 2004b).
Em agosto de 2000, a Officenet se tornou líder do varejo de suprimen-
tos de escritório para pequenas e médias empresas na América Latina, com
US$36 milhões de vendas, sendo que 40% do total comercializado via Web.
Depois da venda, a Officenet continuou suas operações normais na
Argentina, com a diretoria pensando em realizar uma oferta pública oficial
de venda de ações na Nasdaq, mas o mercado explodiu antes. Foi decidido
então seguir um caminho mais cauteloso, mantendo a Submarino e a Office-
net operando como se fossem negócios independentes, com suas próprias di-
retorias, mas sob um único conselho de administração. No entanto, após a
integração entre as duas empresas, ocorreram algumas alterações importan-
tes nas operações da Officenet.
Em janeiro de 2000, a Officenet estava testando a versão 2 de seu site na
Internet, mas as vendas na Web eram ainda tímidas. Como as vendas na
Internet eram mais lucrativas, a Officenet se valeu da experiência da Subma-
rino, e passou a dar incentivos para operações on line, endereçados a geren-
tes de contas e clientes que fizessem suas compras na Web. Em agosto de
2000, 40% de todas as vendas eram realizadas on line. Mas a Officenet ainda
operava com catálogos impressos e mantinha um sistema de telemarketing
para fechar compras, atividades essas de custo elevado.
Em agosto de 2000, a Officenet iniciou suas operações no Brasil, com-
partilhando espaço de armazém no novo centro de distribuição da Submari-
no, localizado nas vizinhanças de São Paulo e mantendo em estoque 2.200
SKUs. Nessa ocasião, seus diretores anunciaram planos de entrar no Chile,
México e Espanha nos próximos dois anos.
Desde suas operações na Argentina, a Officenet oferecia uma série de
informações e serviços grátis em seu site, tais como notícias e ferramentas di-
versas para download. Por exemplo, orientações sobre a forma correta de se-
lecionar fornecedores, como organizar uma agenda diária, como conduzir
entrevistas com empregados em potencial etc. Já na fase sob a égide da Sub-
marino.com, a Officenet ampliou suas ofertas, incluindo reserva de voos,
cursos de língua inglesa etc. Tais serviços envolvem parcerias com empresas
especializadas, que repassam parte das receitas para a Officenet, na forma de
118 comissões.
Muito embora a ideia dos controladores das duas empresas fosse uni-las
operacionalmente com o tempo, logo notaram que, de fato, eram dois negó-
cios diferentes, com segmentos de clientela distintos e modelos econômicos
e de atuação diversos. A Submarino era uma empresa de B2C pura, enquanto
a Officenet atuava no B2B e realizava comercializações dentro e fora da
Web. Ademais, em fins de 1999 havia um certo otimismo em relação ao B2B.
Por exemplo, analistas de mercado nos Estados Unidos estimaram em cerca
de US$1.705,00 os gastos anuais de um cliente médio de B2B na América La-
tina, contra apenas US$306,00 para consumidores de B2C, o que valorizava
as operações da Officenet. Para a Officenet, a Web era uma plataforma im-
portante, mas não a única.
Outra diferença importante entre a Submarino e a Officenet era a
situação financeira de ambas. Muito embora seja sabido que investimentos
no B2C têm um prazo muito mais longo de retorno, ainda assim havia uma
grande discrepância entre as duas empresas: enquanto a Submarino faturava
cerca de 15 a 20 milhões de dólares em 2000, a Officenet projetava uma re-
ceita de 40 milhões de dólares para o mesmo ano.
Apesar das diferenças, a experiência da Submarino na Internet e a tradi-
ção da Officenet no B2B num setor importante, que é o do suprimento de
material para escritório, têm trazido um resultado sinergístico importante
para ambas. Dessa forma, apesar das diferenças, os executivos das duas em-
presas decidiram permanecer unidos sob uma mesma holding.
Questões Propostas
1. Por que a Officenet decidiu implantar seu sistema de vendas na for-
ma de catálogos impressos e não diretamente na Internet?
2. Que problemas logísticos a Officenet enfrentou ao lançar seu em-
preendimento?
3. Por que, na sua opinião, a Submarino se interessou em comprar a
Officenet? Quais as vantagens que auferiu com a aquisição? Em ter-
mos logísticos, havia alguma vantagem?
4. Por outro lado, por que os dirigentes da Officenet ficaram tentados
em vender sua empresa para a Submarino?
5. A transação entre a Submarino e a Officenet foi uma fusão ou sim-
plesmente uma compra do controle da empresa? Por quê?
6. Em termos logísticos, quais as principais diferenças em operar por
meio de catálogo impresso ou através da Internet?
7. Abra o site da Officenet (www.officenet.com) e faça uma análise das
informações e ofertas ali disponíveis.
119
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122
4
Canais de
Distribuição
CONCEITUAÇÃO
O processo de abastecer a manufatura com matéria-prima e componentes é
denominado Inbound Logistics na literatura internacional. Mais frequente-
mente, no Brasil, é chamado de logística de suprimento. É uma parte impor-
tante da Logística, por seu cunho estratégico e pela grande importância eco-
nômica a ela associada pelos governantes e pelas empresas quando da
instalação de novas unidades industriais. Para as atividades de varejo, no en-
tanto, é o segmento da Logística que desloca os produtos acabados desde a
manufatura até o consumidor final, denominado distribuição ou Outbound
Logistics, que assume importância mais imediata.
Na prática, a distribuição de produtos é analisada sob diferente pers-
pectiva funcional pelos técnicos de Logística, de um lado, e pelo pessoal de
marketing e de vendas, de outro. Os especialistas em Logística denominam
distribuição física de produtos ou resumidamente distribuição física os pro-
cessos operacionais e de controle que permitem transferir os produtos desde
o ponto de fabricação até o ponto em que a mercadoria é finalmente entre-
gue ao consumidor. Em geral, esse ponto final da distribuição física é a loja
de varejo, mas há muitos casos de entrega do produto na casa do consumi-
dor, situação essa observada principalmente com produtos pesados e/ou vo-
lumosos. Assim, os responsáveis pela distribuição física operam elementos
específicos, de natureza predominantemente material: depósitos, veículos
de transporte, estoques, equipamentos de carga e descarga, entre outros. 123
Já o pessoal de marketing e de vendas encara a cadeia de suprimento fo-
calizando mais os aspectos ligados à comercialização dos produtos e à sua
propriedade. A maior parte dos produtos comercializados no varejo chega às
mãos dos consumidores através de intermediários: o fabricante que produz
o objeto, o atacadista ou distribuidor, o varejista e eventualmente outros in-
termediários. Sob esse enfoque, um canal de distribuição representa a se-
quência de organizações ou empresas que vão transferindo a posse de um
produto desde o fabricante até o consumidor final (Rolnicki, 1998). Por
exemplo, o canal de distribuição de um determinado produto pode envolver
os seguintes setores:
G Fabricante
G Atacadista
G Varejo
G Serviços pós-venda (montagens, assistência técnica)
Depósito
da Fabricante
Fábrica
Transporte
Depósito
(centro de Atacadista
distribuição)
Transporte
Depósito
Varejista
Varejista
CONSUMIDOR FINAL
FIGURA 4.1 • Paralelismo entre canais de distribuição e distribuição física
TIPOS E FUNÇÕES
Evolução das Formas de Distribuição
Por que existem intermediários no processo de comercialização de pro-
dutos? Os grandes varejistas, por exemplo, poderiam fabricar eles mes-
mos os produtos que comercializam. Mas, na prática, oferecem aos con-
sumidores uma gama razoavelmente ampla de mercadorias. Dedicar-se à
fabricação de uma variedade de produtos, numa situação dessas, implicaria
aportes excepcionais de recursos financeiros, além de forçar a empresa a
atuar fora de seu core competence. Uma forma intermediária utilizada por
grandes varejistas para penetrar, ainda que marginalmente, o setor da manu-
fatura é encomendar a fabricação de produtos com marcas e especificações
próprias. Por exemplo, a empresa Marks and Spencer, tradicional varejista
da Grã-Bretanha, comercializa roupas com sua marca St. Michael, as quais
são produzidas por fabricantes selecionados, dentro de especificações rígi-
das por ela definidas.
A situação inversa, com a manufatura se incumbindo de todas as fun-
ções do canal, inclusive as vendas no varejo, também não é economicamente
produtiva. Isso porque, para atingir um volume de vendas que justificasse as
instalações e as equipes na ponta do varejo, a empresa seria eventualmente
forçada a comercializar produtos de seus concorrentes. Uma loja de eletro- 125
domésticos, por exemplo, oferece televisores de diversos tipos e de diversas
marcas. Provavelmente, não seria a situação desejada por qualquer indústria.
Se fosse forçada a tanto, uma indústria talvez acabasse optando por lojas de
menores dimensões, oferecendo somente seus produtos, o que não seria eco-
nomicamente viável e não atenderia aos interesses dos consumidores.
Por trás dessa especialização, está o ganho de eficiência que a empresa
pode obter através da concentração no seu core competence. Cada tipo de ne-
gócio pode obter um retorno maior quando concentra seus investimentos no
seu ramo principal de atividades. Assim, a utilização de intermediários na ca-
deia de suprimento se justifica por sua maior eficiência na colocação dos pro-
dutos no mercado. Considerando a cadeia de valor, um canal de distribuição
pouco eficiente seria logo substituído por outro mais produtivo. É o que se
vem observando hoje, à mercê da evolução da tecnologia da informação.
As formas como as empresas estruturam seus canais de distribuição têm
se alterado substancialmente nas últimas décadas, fruto do ambiente cada
vez mais competitivo, da maior atenção dirigida ao consumidor final, do uso
crescente da tecnologia da informação, da maior diversificação da demanda
e da distribuição física mais ágil e mais confiável. Questões de natureza estra-
tégica, derivadas da dinâmica crescente observada no ambiente de negócios,
passaram a preocupar os executivos. Por exemplo, é possível utilizar os
canais para criar barreiras à entrada de concorrentes? Até que ponto certos
canais favorecem uma maior intimidade com os consumidores, em contra-
posição a outras formas de distribuição? Com que intensidade os canais utili-
zados conseguem amortecer as incertezas da demanda no processo de supri-
mento da empresa?
No processo de distribuição dos produtos, desde a fábrica que o pro-
duz, até o consumidor final na cadeia de suprimento, podem ocorrer situa-
ções diversas, formando canais típicos de comercialização. As principais si-
tuações são as seguintes:
Cadeia de Suprimento
Consumidor
Canais Verticais
Os canais de distribuição eram tradicionalmente vistos, numa primeira fase,
como estruturas mercadológicas verticais, onde a responsabilidade ia sendo
transferida de um segmento da cadeia de suprimento para o seguinte, como
um bastão é passado numa corrida de revezamento. A Figura 4.3a mostra
esse tipo de distribuição. O fabricante envia um caminhão carregado com
seu produto (lotação completa) ao armazém do atacadista, onde a carga é
desconsolidada. O atacadista vende o produto a diversos varejistas. O vare-
jista estoca a mercadoria nas lojas e a vende ao consumidor final. Serviços
pós-venda (instalação, atendimento a reclamações, informações sobre uso
etc.) são realizados diretamente pelo varejista, quando solicitados pelos clien-
tes finais.
Em termos logísticos, essa forma de estrutura do canal de distribuição
se insere dentro da fase 1, conforme discutido no Capítulo 2. Os estoques
128 nos diversos segmentos do processo, conforme vimos, exercem a função de
pulmão (buffer). Nesse tipo de estrutura vertical, os demais elementos da ca-
deia de suprimento, além do varejista, desempenham papéis de apoio, atuan-
do nos bastidores do processo.
O atacadista desconsolida lotes completos, de vários fabricantes, e vende
os produtos em pequenos lotes aos varejistas. No entanto, o atacadista e o fa-
bricante não têm acesso direto ao consumidor. É o varejista que interpreta as
preferências do consumidor, as tendências da demanda, as necessidades de
serviços pós-venda etc. Mesmo considerando outras formas de distribuição,
como as representadas nas Figuras 4.3b e 4.3c, a satisfação das necessidades
do cliente é sempre exercida, nesse tipo de distribuição, pelo último elemento
da cadeia de suprimento, aquele que atende diretamente o consumidor.
Um consumidor que compra diretamente do varejista (Figuras 4.3a e
4.3c) poderia ter preferido obter informações técnicas diretamente do fabri-
cante, em razão, digamos, da maior sofisticação tecnológica do produto ad-
quirido. Mas, na distribuição vertical, é o varejista o elemento encarregado
dessa função. Muitas vezes, essa atribuição de fornecer informações técnicas
aos consumidores é deixada por conta dos vendedores das lojas. Estes nem
sempre conseguem absorvê-las na sua plenitude, em razão da crescente com-
plexidade e variedade dos produtos. Como resultado, não conseguem trans-
mitir o que lhes é solicitado pelos clientes, em muitos casos.
Essas restrições puderam ser contornadas com a revolução tecnológica
e informacional da década de 1990. Basicamente, e como resultado desses
avanços, a manufatura e a distribuição de produtos mudaram radicalmente
naquela década. Partindo da fase 1 da Logística, passando pelas fases inter-
Atacadista Setor de
vendas Varejo
do
fabricante
Varejo
Consumidor Consumidor
Consumidor
Canais Híbridos
Neste tipo de estrutura, uma parte das funções ao longo do canal é executa-
da em paralelo por dois ou mais elementos da cadeia de suprimento, que-
brando o esquema vertical rígido descrito anteriormente. Por exemplo, a
divisão Vacutainer, da indústria americana Becton-Dickinson, fabricante
de agulhas para coletar sangue, seringas e acessórios, negocia a venda de
seus produtos diretamente com os setores de compras dos grandes hospitais.
Quando a transação é consumada, a indústria entrega ao hospital uma lista
de seus distribuidores autorizados. O distribuidor escolhido se encarrega,
por sua vez, da distribuição física dos produtos adquiridos, formalização
130
Indústria
Setor de Unidades de
Distribuidor
vendas do serviço
externo
fabricante (ext. e int.)
Funções de
Distribuição Serviços
geração da
física pós-venda
demanda
C o n s u m i d o r
dos pedidos, armazenagem e entrega dos lotes ao hospital nos tempos cer-
tos e nas quantidades desejadas. O fabricante, que dispõe dos especialistas
com o know-how sobre o uso dos produtos comercializados, se encarrega
dos serviços de pós-venda. A estrutura do canal de distribuição é a indicada
na Figura 4.4.
Quais as razões para esse tipo de canal híbrido? De um lado, a Bec-
ton-Dickinson valoriza o contato direto com os grandes consumidores, não
somente por questões mercadológicas, mas também para melhoria de sua
linha de produtos e desenvolvimento de novos itens. Para os grandes hos-
pitais, a aquisição de lotes maiores lhes traz descontos expressivos, que não
conseguiriam se comprassem através dos atacadistas. A utilização de distri-
buidores por parte da Becton-Dickson é vantajosa, pois eles atendem um
grande elenco de fornecedores e conseguem oferecer assim serviços logísti-
cos com mais eficiência e com menores custos.
A adoção de um canal híbrido traz consigo o problema da compensa-
ção financeira aos elementos da cadeia de suprimento que realizam no-
vas funções. Agora, o elemento da cadeia de suprimento que tem relacio-
namento direto com o cliente não é mais responsável por executar todas
as funções do canal. Então, torna-se necessário realizar uma compensa-
ção monetária entre os elementos da cadeia, o que obriga as partes a uma
grande transparência na troca de informações e maior precisão no cálculo
dos custos envolvidos. Além disso, é necessário definir esquemas de par-
cerias bem estruturados, com compromissos de médio e longo prazo e ob-
jetivos claros.
Um dos problemas encontrados em canais híbridos do tipo descrito é a
duplicidade de atuação de alguns dos elementos da cadeia de suprimento.
Por exemplo, no caso da empresa Becton-Dickison, os distribuidores traba- 131
Indústria Indústria
A B
Distribuidor
(Híbrido) (Vertical)
Funções de
Funções Funções
geração da
parciais (A) integrais (B)
demanda
C o n s u m i d o r
1
132 Voláteis porque a tecnologia associada aos produtos muda muito rapidamente.
ser satisfatoriamente transmitidas pelos distribuidores ou varejistas. Quanto
melhor for atendido o consumidor, maior o valor agregado na cadeia de su-
primento. Assim, o fabricante não elimina o apoio dado ao cliente pelos
demais elementos do canal de distribuição; ele apenas agrega mais valor à
cadeia de suprimento.
Canais Múltiplos
Uma outra forma de melhorar o desempenho no gerenciamento da cadeia
de suprimento é utilizar mais de um canal de distribuição. Isso ocorre em
função da diversidade de tipos de consumidor. Por exemplo, o compra-
dor em potencial de um microcomputador pode adquiri-lo por telefone
ou pela Internet, a partir de uma lista publicada numa revista de informá-
tica, ou poderá se dirigir a uma loja especializada, que lhe pedirá um pre-
ço um pouco mais alto, mas onde conseguirá informações mais detalha-
das e atendimento personalizado. Assim, o consumidor que já tem um
conhecimento mais aprofundado do produto, de seus possíveis usos e
eventuais problemas, sendo ao mesmo tempo mais sensível ao preço, po-
derá ser atraído a fazer sua compra através de uma lista publicada na mí-
dia. Já outro comprador, que não acompanha de perto as evoluções tec-
nológicas dos produtos de computação, pode necessitar de um maior
volume de informações para escolha da marca, do tipo e da versão da
mercadoria procurada.
Esse tipo de estruturação dos canais de distribuição melhora as condições
globais de competitividade da cadeia, mas não é isento de problemas. A gran-
de incógnita é a área cinzenta do mercado consumidor que fica entre dois ou
mais tipos de cliente. Enquanto o preço cobrado na loja especializada não for
exagerado, representando adequadamente o valor atribuído pelo consumidor
aos serviços por ela oferecidos, não haverá problemas. Mas pode acontecer, e
acontece frequentemente, que o comprador em potencial procure a loja e ob-
tenha todas as informações de que necessita. Posteriormente, já sabendo o que
deseja, faz seu pedido através do telefone ou da Internet, conseguindo um pre-
ço mais em conta. Uma forma de contornar esse tipo de problema, garantindo
até certo ponto a fidelidade do cliente, mas que é válido apenas para alguns ti-
pos de produto (computadores principalmente), é a possibilidade de atualiza-
ção do equipamento (upgrade) após certo tempo de uso. Comprando num es-
tabelecimento especializado, o comerciante pode garantir a troca ao cliente ou
lhe dar serviços de montagem e manutenção grátis, sempre que o consumidor
necessitar. Outro ponto importante é a garantia do produto, em que o contato
pessoal com o comerciante pode trazer mais confiança ao comprador. Dessa
forma o varejista pode criar uma ligação mais estável e mais duradoura entre
seu estabelecimento e o consumidor.
133
Indústria
Atacadista “A”
Varejista “B”
(Produtos
(Produto P2)
P1 e P2)
?
Grande Pequeno
Consumidor Consumidor
(P1 e P2) (P2)
134
PROPRIEDADES DOS CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO
Extensão e Amplitude
A extensão de um canal de distribuição está ligada ao número de níveis inter-
mediários na cadeia de suprimento, desde a manufatura até o consumidor fi-
nal. Cada patamar de intermediação na cadeia de suprimento forma um ní-
vel do canal. O chamado canal de nível zero (Kloter, 1993) não possui níveis
intermediários, com o fabricante vendendo seu produto diretamente ao con-
sumidor. É o caso da Avon, que comercializa seus produtos através de suas
próprias vendedoras, de porta em porta. As empresas que vendem por meio
de catálogo diretamente aos consumidores são outro exemplo de canal de
nível zero.
Os grandes varejistas, por seu lado, compram os produtos diretamente
dos fabricantes e os revendem em suas lojas. Nesse caso tem-se um canal de
um nível, uma vez que há apenas um intermediário na cadeia, o varejista. As
grandes cadeias de supermercado constituem um exemplo típico de canal de
um nível. Há casos com dois intermediários, formando canais de dois níveis.
Por exemplo, os minimercados de vizinhança normalmente adquirem os
produtos a partir de atacadistas que, por sua vez, os adquirem dos fabrican-
tes. Podem ocorrer canais com mais níveis, embora sejam menos frequentes.
A amplitude, também chamada largura do canal, definida para cada
segmento intermediário da cadeia de suprimento, é representada pelo núme-
ro de empresas que nela atuam. Três tipos de amplitude são normalmente
observados na prática (Dolan, 1992):
Encurtando os Canais
Hoje, com a revolução no tratamento e no uso da informação e com a am-
pliação do comércio eletrônico, nota-se uma tendência de utilização de ca-
nais mais curtos na cadeia de suprimento. De todos os intermediários, são os
atacadistas os mais propensos a ser eliminados da cadeia de suprimento.
Com o advento de sistemas logísticos de entregas rápidas, associados ao in-
tercâmbio eletrônico de informações, os varejistas têm menos dificuldades
em colocar seus pedidos diretamente junto aos fabricantes. E, do lado da
indústria, com a disponibilidade de tecnologia avançada de tratamento da
informação, o monitoramento e o atendimento dos pedidos individuais dos
lojistas e dos consumidores são hoje perfeitamente factíveis.
Em alguns tipos de mercado, os fabricantes lançam mão de distribuido-
res e de atacadistas visando atingir regiões geograficamente mais distantes
ou para dar maior cobertura a seus consumidores a partir dos estoques dos
intermediários e, principalmente, para atender os pequenos varejistas. Para
esses últimos, que necessitam de maior assistência no abastecimento de suas
lojas e condições mais flexíveis de crédito, a utilização de distribuidores ou
atacadistas ainda é um fato. Mas o aumento da concorrência e o avanço dos
grandes varejistas na divisão dos mercados vêm obrigando os grandes ataca-
distas e distribuidores a manter uma postura mais proativa, oferecendo ser-
viços mais avançados de informação e resposta rápida no atendimento dos
pedidos dos clientes.
Um dos problemas enfrentados atualmente pelas grandes indústrias é
administrar a transição de uma estrutura tradicional, com vários intermediá-
rios no canal, para uma estrutura enxuta, com um canal bastante mais curto.
Nos casos em que um atacadista ou distribuidor vem atuando por um longo
período de tempo, é relativamente difícil eliminá-lo de uma hora para outra.
Isso porque boa parte das funções ligadas à estocagem do produto ao longo
da cadeia e o papel de intermediário financeiro são frequentemente executa-
dos pelo atacadista ou distribuidor. Sua substituição repentina pode signifi-
car investimentos maciços em infraestrutura e riscos de insucesso não des-
prezíveis para a cadeia de suprimento.
A eliminação de funções intermediárias no canal de distribuição é rea-
lizada com maior facilidade quando o mercado está crescendo, porque en-
tão fica mais fácil repartir o bolo de forma diferente da atual. Mas, muitas
empresas, premidas por margens mais reduzidas, menores fatias do merca-
do (market share) e aumento de custos frequentemente decidem por cortes 137
precipitados nas atividades de distribuidores e atacadistas, no canal de dis-
tribuição. É comum, por exemplo, eliminar o intermediário nas relações
com grandes clientes, deixando para o atacadista ou distribuidor somente
os pequenos varejistas. Com o tempo, os pequenos varejistas, enfrentando
um diferencial de preço ainda maior em relação a seus grandes concorren-
tes, tendem a ser eliminados do mercado. O fornecedor verá então reduzi-
da sua clientela, passando a negociar com um número restrito de grandes e
fortes clientes.
Para manter o mercado razoavelmente equilibrado, em condições pró-
ximas à que opera hoje, o fornecedor pode eliminar a intermediação de uma
vez, assumindo os riscos e os custos inerentes, ou ajudar na reestruturação
das operações do atacadista ou distribuidor. Outra boa ocasião para proce-
der ao enxugamento do canal de distribuição é o momento de lançar uma
nova linha de produtos bastante atrativa. Em outras palavras, o momento
certo para o enxugamento deve ser tal que a demanda “puxada” ao longo da
cadeia é suficientemente forte para compensar a súbita falta da demanda
“empurrada”, exercida pelo distribuidor. A demanda puxada pode ocorrer
em função de uma linha nova de produtos, como foi dito, ou por uma mu-
dança radical nas operações logísticas, através da adoção das técnicas do
gerenciamento da cadeia de suprimento.
A definição das funções para cada canal deve ser feita preferencialmen-
te com base em informações diretamente colhidas junto aos clientes.
Setor de
Distribuidor
vendas do
regional
fabricante
A
Representantes
Varejistas Varejistas
(dealers)
Organização da Empresa
Em novembro de 1997, Jed Smith procurou apoio financeiro para montar
seu negócio. Uma primeira versão de seu plano foi apresentada aos investi-
dores em janeiro de 1998. Estes últimos manifestaram interesse, mas não
ofereceram recursos imediatos para o projeto. Logo depois, um dos executi-
vos do grupo de investidores sondou o diretor-presidente de uma grande ca-
deia de drogarias tradicional e este mostrou preocupação com a possível
entrada de um concorrente na Internet. Essa reação confirmou para os investi-
dores as possibilidades reais do empreendimento. O plano definitivo de
Drugstore.com acabou sendo aprovado pelos investidores em junho de 1998.
Comestíveis diversos 9
Outros 20
Evolução da Empresa
Nos primeiros seis meses de 1999, cerca de 168.000 consumidores foram
atendidos na loja virtual da Drugstore.com, com uma receita bruta de
US$4,2 milhões, representando uma média de gasto de US$25 por transa-
ção. Desde sua fundação até janeiro de 2001, mais de um milhão de clientes
150 fizeram suas compras na Drugstore.com.
Em fevereiro de 2000, a Drugstore.com adquiriu a Beauty.com, Inc.,
uma empresa ponto-com líder no varejo on-line de produtos de beleza de
prestígio. Por outro lado, a Drugstore.com mantém uma parceria estratégica
com a Amazon.com, com o fim de intercambiar funções diversas de marke-
ting nos sites das duas empresas.
Em termos econômico-financeiros, a Drugstore.com, como a maioria
das empresas ponto-com, tem apresentado déficits continuados. Nos pri-
meiros seis meses de 1999, a empresa apresentou um prejuízo operacional
de US$29 milhões. Na Tabela 4.2 são mostradas as principais informações
econômico-financeiras para esse período. Apesar do déficit operacional, a
empresa vem ampliando seus serviços e aumentando suas vendas.
Comparado com outros concorrentes na Internet, o site da Drugsto-
re.com tem apresentado um nível de visitas bastante razoável. Em junho de
1999, apresentava 1,6 ponto, enquanto o Planetrx.com tinha 0,9 ponto4, o
Vitaminshoppe.com, 0,6, o Enutrition, 0,3 ponto e o Healthshop.com, 1,5
ponto. O Mothernature.com, por sua vez, superou o nível da Drugsto-
re.com, com 2,2 pontos (Nolan, 2000).
Receitas 4.202
Despesas operacionais:
4
Cada ponto representa cerca de 600 a 650 mil visitantes por mês. 151
Estrutura Logística
Procurando concentrar inicialmente suas atividades naquilo que constitui
seu core competence, a Drugstore.com acertou uma parceria com a empresa
Walsh Distribution, localizada no Texas, para realizar as operações logísti-
cas. Essa empresa ficou encarregada da distribuição dos produtos que não
exigiam receita. Para distribuição dos remédios vendidos contra receita foi
escolhida uma empresa tradicional da área, a RxAmerica, também localizada
no Texas.
A Walsh Distribution recebia os pedidos encaminhados eletronicamen-
te pela Drugstore.com, empacotava os produtos e os despachava via UPS
(empresa de entrega rápida dos Estados Unidos) ou via correio. Da mesma
forma, se incumbia do recebimento e estocagem, em seu depósito, dos pro-
dutos adquiridos dos fornecedores. A Drugstore.com, por sua vez, mantinha
um grupo de especialistas nas dependências da Walsh, com a função de mo-
nitorar a qualidade dos produtos e a expedição das encomendas. Na sede da
Drugstore.com, situada no estado de Washington, se localiza um grupo de
farmacêuticos, que atende os clientes que solicitam o serviço “Pergunte a seu
Farmacêutico”, oferecido no site da empresa.
Todos os remédios vendidos contra receita são adquiridos da RxAmeri-
ca, que foi formada através de uma joint-venture das empresas American
Stores Company e Long’s Drugs. Os farmacêuticos da Drugstore.com execu-
tam todas as fases do tratamento dos pedidos de remédios com receita, mas
deixam para os seus colegas da RxAmerica o preparo físico dos medicamen-
tos e seu empacotamento.
Em janeiro de 2000, a Drugstore.com inaugurou seu centro de distri-
buição próprio, localizado em Bridgeport, no estado de New Jersey, com
cerca de 27.000m2, deixando de operar com operadores logísticos como a
Walsh Distribution, mas realizando a entrega das encomendas via empresas
de courier tradicionais.
A expedição e a entrega de um pedido são cobradas à parte do preço do
produto, variando com a categoria do produto (com receita ou sem receita) e
com o tempo de atendimento (lead-time). Na Tabela 4.3, são mostradas as ca-
racterísticas logísticas de atendimento dos pedidos de produtos sem receitas. A
taxa de expedição/entrega depende da urgência do pedido. Quatro tipos de
serviço são oferecidos: padrão, 3 dias, 2 dias e 1 dia (overnight). Há um tempo
para processar o pedido, isto é, fazer a apanha dos produtos, dar baixa no esto-
que etc., seguido pelo empacotamento, etiquetagem e expedição. No caso do
pedido padrão, a variação no lead-time é significativa, pois oscila de cinco a
nove dias.
No caso de remédios com receita, o lead-time é expressivamente maior
(Tabela 4.4). Isso ocorre porque a farmácia virtual só pode iniciar o processo
152
após a autorização expressa do médico, que é feita por telefone ou fax. Além
disso, como a Drugstore.com não faz o preparo físico dos medicamentos,
operação realizada pela RxAmerica, há ainda um tempo adicional de prepa-
ração e transferência dos produtos. Esse tempo é menor para reposições (re-
fill), conforme mostrado na Tabela 4.4. Por outro lado, o preço da expedi-
ção e entrega, para medicamentos com receita, é bem menor do que os co-
brados para produtos sem receita. Isso ocorre em razão de serem, tipicamen-
te, de pequeno volume e pouco peso.
a) Primeira vez
• Autorização do médico (dias) 8 a 10 5a7 4a6 3a5
b) Reposição (refill)
• Processamento farmacêutico (dias) 6a8 4a5 3a4 2a3
153
O Problema do Reembolso
Um dos problemas enfrentados pela Drugstore.com foi o do reembolso das
despesas com remédios vendidos contra receita médica. Nos Estados Uni-
dos, cerca de 80% da população tem cobertura de seguro de saúde, de forma
que as despesas com remédios são geralmente reembolsadas. As organiza-
ções denominadas PBM (Pharmaceutical Benefit Management) recebem os
formulários preenchidos pelas drogarias, verificam os contratos de seguro e
liberam os reembolsos para os varejistas. No início, as drogarias on-line
preenchiam os documentos de maneira igual às farmácias tradicionais.
Logo, porém, as PBMs começaram a cancelar os contratos com as drogarias
virtuais. Isso significava que as pessoas seguradas tinham que pagar antecipa-
damente as despesas dos remédios ao adquiri-los da Drugstore.com, para de-
pois preencher a papelada e conseguir o reembolso junto à PBM.
A Drugstore.com foi então obrigada a negociar com a empresa Rite
Aid, que serve a mais de 50 milhões de pessoas nos Estados Unidos e que, por
sua vez, mantém contratos de parceria com a maioria dos planos de saúde do
país. Na verdade, a empresa Rite Aid desejava ter um parceiro na Internet.
Como consequência, hoje, cerca de 25% dos US$200 milhões gastos em
propaganda anualmente pela Rite Aid faz menção aos serviços da Drugsto-
re.com, de uma forma ou de outra.
Seguro
HMO
(MCOs)
Distri-
Médicos PBM
buidor
IV - Varejistas
farmácia.com Internet
Logística
Consumidor
Questões Propostas
1. Num mercado envolvendo US$165 bilhões por ano, com concorren-
tes bricks-and-mortar muito fortes, como a Walgreens, a CVS e a Rite
Aid, Jed Smith decidiu implantar uma drogaria ponto-com. Resuma
sua estratégia e as justificativas para tal decisão, pensando convencer
um investidor hipotético a dar suporte financeiro ao projeto.
5
Organizações de Manutenção da Saúde. 155
2. Que vantagens comparativas um consumidor tem ao comprar pro-
dutos através da Drugstore.com, considerando: a) apenas remédios
com receita; b) apenas produtos e remédios que não exigem receita;
c) mix de produtos dos dois tipos?
3. Qual o papel estratégico dos remédios vendidos contra receita no
negócio da Drugstore.com?
4. Por que Jed Smith decidiu terceirizar as operações logísticas num
primeiro instante e, posteriormente, resolveu implantar e operar
seu próprio centro de distribuição?
5. Analise e critique as estruturas de cobrança de taxas de expedição e
o lead-time, hoje prevalecentes na Drugstore.com.
6. Leia os trabalhos de Machline e Amaral (1998) e de Almeida (2002)
e compare o mercado farmacêutico brasileiro com o americano.
Procure, na Internet, empresas ponto-com que operam com produ-
tos similares no Brasil e faça uma comparação com a Drugstore.com
no que diz respeito aos canais de distribuição.
BIBLIOGRAFIA
Almeida, M. (2002). ‘Medicamentos no Brasil: Os Desafios para Distribuição e Comer-
cialização”, Revista Grupemef, no 70, dezembro de 2002, <www.grupemef.com.br
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157
5
Previsão da
Demanda
CONCEITUAÇÃO E CARACTERÍSTICAS
O planejamento do processo de distribuição depende da antevisão da forma
como a demanda dos produtos vai evoluir no futuro. O varejista precisa defi-
nir um plano de pedidos aos fornecedores e, estes, precisam programar as
encomendas de matéria-prima e de componentes necessários à fabricação de
seus produtos. É necessário também prever a mão de obra necessária, insta-
lações fixas, depósitos, recursos financeiros e um sem-número de variáveis
que exigem tempo para serem concretizadas. Dessa forma, projeções da de-
manda bem elaboradas e robustas podem significar ganhos competitivos,
econômicos e financeiros para a empresa e para a cadeia de suprimento em
que ela se insere.
Alguém poderia argumentar que os modernos processos de suprimento,
como o JIT, o VMI (Estoque Gerenciado pelo Fornecedor), o Quick Respon-
se, entre outros, acabaram eliminando a necessidade de se fazerem projeções,
visto que o processo de fabricação e suprimento de produtos funciona não
mais na modalidade empurrada (push), mas puxada (pull), respondendo dire-
ta e dinamicamente à demanda dos consumidores. Essa afirmação está longe
de ser verdadeira. De fato, o sistema pull não funcionará se o planejamento na
ponta do varejo, que atende diretamente o consumidor, não se apoiar em pro-
jeções bem fundamentadas. Isso porque toda mudança na programação das
encomendas de produtos por parte do varejista e do fabricante, com seus pedi-
dos de componentes e matéria-prima aos fornecedores, consome tempo e a 159
resposta desses agentes não é instantânea. O que se faz, na prática, é definir
um esquema de previsão o mais preciso possível e ir ajustando as projeções de
forma suave e dinâmica ao longo do tempo. O case Sport Obermeyer, apre-
sentado no Capítulo 6, e que envolve um processo dinâmico de previsão da
demanda de roupas esportivas, ilustra bem esse ponto.
Embora extremamente necessária, a previsão da demanda, por envol-
ver desdobramentos futuros que dependem de aspectos políticos, econômi-
cos e sociais, não só do país, como também do exterior, está necessariamente
sujeita a erros. Por outro lado, dependendo dos objetivos da organização, as
projeções da demanda podem envolver prazos (ou horizontes) variados.
Quando se trata de decisões estratégicas, as projeções são normalmente
de longo prazo. Por exemplo, uma montadora de automóveis que pretende
instalar uma nova fábrica no país precisa estimar os níveis de venda de veícu-
los por alguns anos. Há também as decisões táticas, que envolvem prazos de
alguns meses, normalmente menores do que um ano. Por exemplo, o geren-
te do depósito de uma cadeia varejista precisa determinar a mão de obra ne-
cessária para operá-lo em função dos fluxos de mercadoria, para isso neces-
sitando de projeções mês a mês, durante um determinado período. Final-
mente, há o planejamento operacional, feito em nível semanal ou mesmo
diário. Por exemplo, o encarregado do transporte no depósito tem que defi-
nir as necessidades diárias de veículos para a distribuição física, acionando
transportadores autônomos sempre que necessário, para que se apresentem
ao serviço no momento programado.
Ao se fazerem previsões da demanda, não se pode esperar resultados
precisos, pois tudo que envolve decisões humanas (comprar ou não comprar
um produto, por exemplo) está sujeito a muitos fatores, como variação na
renda dos indivíduos, preços, linhas de crédito, mudanças de hábitos, propa-
ganda etc. Dessa forma, o encarregado de elaborar as projeções deve ter
sempre presente alguns pontos importantes, a saber (Chopra e Meindl,
2003; Gonçalves, 2004):
REQUISITOS
Ross (1998) indica seis requisitos básicos para a elaboração de uma previsão
satisfatória da demanda:
700
Valores mensais
600
500
400
300
200
100
0
0 6 12 18 24 30 36
Meses
FIGURA 5.1 • Variação da demanda com média constante
4500
4000
3500
Tendência exponencial
3000
Valor
2500
2000
1500
1000
Tendência linear
500
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Tempo
FIGURA 5.2 • Variação da demanda com tendência
164
Sport Obermeyer (veja Capítulo 6), mostram um comportamento ni-
tidamente dinâmico, pois sua demanda vai mudando ao longo do
tempo em função de variáveis de difícil previsão.
G Demanda dependente e demanda independente. O consumo de pneus
ilustra bem a diferença entre esses dois tipos de demanda. O consu-
mo de pneus na fabricação de automóveis caracteriza uma demanda
dependente, pois cada auto sempre recebe cinco unidades. É, assim,
uma variável nitidamente dependente da fabricação de veículos.
MÉTODOS DE PREVISÃO
A escolha do método mais apropriado para se fazer uma determinada previ-
são da demanda vai depender da análise criteriosa dos requisitos listados an-
teriormente, vis-à-vis a situação real do problema. Procuraremos analisar os
métodos mais comumente empregados no processo de distribuição. Existem
também no mercado softwares especialmente desenvolvidos para essa finali-
dade. Sistemas do tipo ERP (Enterprise Resource Planning), como SAP, Ora-
cle, Baan e outros, têm rotinas de previsão embutidas.
Métodos Qualitativos
Os métodos qualitativos envolvem processos mentais de julgamento sobre
possíveis desdobramentos de ações internas e externas, visando definir pro-
váveis cenários futuros para a tomada de decisões. Essa definição fica mais
clara com um exemplo.
Uma empresa X, fabricante de automóveis, atua num certo país e divide
o mercado local com uma única indústria concorrente Y. Um elemento im-
portante na competição entre as empresas concorrentes é o market share, ou
seja, a divisão do mercado entre as duas rivais. Verificou-se que, neste exem-
plo, as variáveis que comandam as vendas dos automóveis são o seu preço e
o número de lojas de empresas concessionárias existentes no país. Hoje, a si-
tuação vigente nesse mercado é a mostrada na Tabela 5.1, observando-se
que a montadora X detém 55% das vendas.
166
E se a empresa Y mantiver o preço atual, com mais quatro concessioná-
rias nossas, o que aconteceria?, pergunta o presidente. Nosso market share
subiria para perto de 59%, responde o diretor de vendas. “Pois então é o que
proponho fazer”, respondeu o presidente. “Vamos manter o preço do carro
e implantar mais quatro concessionárias.”
O mercado vai crescer a uma taxa de 5% neste próximo ano, completa o
diretor de vendas. Isso significa um total de 630.000 veículos. Se o concorren-
te diminuir o preço, ficaremos com 54,5% do total ou 343 mil veículos apro-
ximadamente, uma expansão de 4%. Mas, se eles mantiverem o preço, pode-
remos chegar a 372 mil veículos, um aumento de 12,7% em nossas vendas. Va-
mos nos programar então para esse segundo cenário, concluiu o presidente.
As projeções de vendas foram assim realizadas pela empresa X dentro
de um esquema nitidamente qualitativo e, ao que tudo indica, de forma con-
sistente e eficaz. Mas alguém poderia argumentar que foram utilizados nú-
meros na análise (o preço dos veículos e a quantidade de concessionárias). E
a presença desses números não daria ao processo decisório a característica
quantitativa? Na verdade não foram utilizados modelos quantitativos, mate-
máticos ou estatísticos, apenas hipóteses mais ou menos subjetivas, o que dá
ao processo uma característica qualitativa.
1
168 A média e o desvio-padrão foram calculados no Excel.
A fórmula para ajuste através da regressão linear simples é a seguinte:
Dt = a + b × t, (5.1)
a 576,78 22,75
b 30,75 25,73
Graus de liberdade 34
R2 0,950
Dt = a × (1 + )t, (5.2)
170
Neste caso, o modelo matemático não é linear. Uma vez que a regressão
exige linearidade da função a ser ajustada, torna-se necessário línearizar a
função. Isso é feito aplicando logaritmos à expressão 5.2:
Dt* = a* + * × t , (5.4)
a* 6,41581 275,07
* 0,04794 43,61
Graus de liberdade 34
R2 0,982
171
• Valor esperado (média): 3.603
• Valor mínimo (com 95% de certeza): 3.436
• Valor máximo (com 95% de certeza): 3.778
1600
Média móvel trimestral Demanda
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
0 3 6 9 12 15 18
Meses
FIGURA 5.3 • Demanda com variações sazonais
172
Tabela 5.6 Exemplo de média móvel trimestral
Tempo t (meses) Vendas do produto Média móvel trimestral
1 614 –
2 1288 781,7
3 443 812,7
4 707 859,3
5 1428 876,7
6 495 919,7
7 836 819,3
8 1127 787,0
9 398 737,7
10 688 787,3
11 1276 816,3
12 485 846,7
13 779 831,7
14 1231 813,0
15 429 823,3
16 810 807,3
17 1183 826,3
18 486 –
Sejam D1, D2, ..., Dn os valores da venda do produto nos meses 1,2,...,n,
mostrados na Tabela 5.6. Seja m a periodicidade da média móvel. No nosso
exemplo, fazemos m = 3, que é o ciclo nas variações da demanda observado
na Figura 5.3, ao longo dos meses. Para determinar os valores da média mó-
vel, tomamos a sequência de valores dados por:
D1 + D2 + D3 D2 + D3 + D4 D3 + D4 + D5
, , , ... (5.6)
3 3 3
Ou seja:
174
Tabela 5.7 Média móvel de doze meses
t (mês) Ano Vendas Média móvel t (mês) Ano Vendas Média móvel
de 12 meses de 12 meses
A média móvel de doze meses é calculada da mesma forma com que foi de-
terminada a de três meses, mas tomando agora 12 elementos sucessivos da
série e depois tirando a média aritmética. O primeiro valor da média móvel é
dado por:
D1 + D2 +...+ D11 + D12
= 1630 ,
12
Dt = fmês × a × (1 + )t (5.8)
4000
3500
Vendas mensais
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72
Meses
FIGURA 5.6 • Ajuste do modelo de médias móveis aos valores observados e projeções
Tabela 5.10 Previsões das vendas utilizando o método das médias móveis
(a) (b) (c) (d)*
Mês Componente de tendência fmês Previsão das vendas
1 2460 0,402 989
2 2479 0,140 347
3 2497 0,932 2327
4 2516 1,724 4337
5 2535 1,524 3863
6 2554 1,282 3274
7 2573 0,932 2398
8 2592 1,320 3421
9 2611 1,161 3031
10 2631 1,128 2968
11 2650 0,770 2040
12 2670 0,601 1605
Total 30600
* Coluna (b) multiplicada pela coluna (c)
180
Previsão Dinâmica: Método do Amortecimento Exponencial
A utilização do método de médias móveis, embora bastante robusto e ade-
quado, apresenta três limitações. Em primeiro lugar, o cálculo da média mó-
vel, principalmente com componente sazonal, exige o registro de uma série
extensa de dados, como, por exemplo, o caso que acaba de ser analisado. Em
segundo lugar, à medida que se faz necessária uma grande quantidade de da-
dos históricos, possíveis mudanças na tendência de evolução da demanda fi-
cam diluídas na grande quantidade de dados passados. Ou seja, a grande
quantidade de dados históricos mascara os possíveis efeitos súbitos de mu-
danças na demanda. Finalmente, o método da média móvel dá igual peso às
informações antigas e às recentes.
Hoje, com a grande volatilidade observada no mercado consumidor,
sujeito a oscilações econômicas e impactos políticos, tanto internos como
externos, tornou-se necessária a utilização de métodos de previsão mais di-
nâmicos, que deem maior peso às mudanças observadas recentemente. O
método de amortecimento exponencial é um deles. Ele permite que o analis-
ta aloque pesos para ponderar dados históricos passados e informações recen-
tes, de maneira a melhor refletir formas de evolução da demanda, incluindo
tendência e sazonalidade. Por outro lado, ao contrário da técnica de médias
móveis, o método de amortecimento exponencial requer poucos registros de
dados para fornecer previsões. O processo de previsão da demanda é dinâ-
mico, pois permite ajustá-lo facilmente às novas condições de mercado ob-
servadas no momento da análise.
Num certo momento t, o valor da projeção exponencialmente amorte-
cida, para o período t+1, é dada pela seguinte expressão:
St = S0 + t, (5.11)
182
Tabela 5.11 Modelo de amortecimento exponencial, com componente
tendencial
Mês t Dt At Mês t Dt At
1 600 600 31 968 1014
2 603 609 32 1106 1008
3 605 615 33 1057 1068
4 636 620 34 1083 1079
5 595 637 35 996 1097
6 650 627 36 1072 1067
7 636 647 37 1061 1085
8 639 652 38 1178 1091
9 590 656 39 1194 1147
10 715 636 40 1286 1186
11 779 681 41 1218 1249
12 716 736 42 1286 1254
13 669 738 43 1274 1287
14 758 718 44 1356 1301
15 808 747 45 1148 1345
16 755 786 46 1326 1275
17 843 784 47 1258 1318
18 774 822 48 1240 1310
19 778 813 49 1298 1298
20 789 809 50 1405 1317
21 814 812 51 1248 1377
22 897 825 52 1410 1339
23 907 825 53 1509 1391
24 973 875 54 1431 1466
25 919 933 55 1454 1472
26 970 940 56 1478 1486
27 941 968 57 1464 1505
28 981 970 58 1511 1509
29 956 990 59 1604 1532
30 1011 989 60 1593 1588
1800
1600
1400
1200
Vendas
1000
800
600
0
0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60
Meses
FIGURA 5.7 • Ajuste do modelo de amortecimento exponencial
1600
1400
1200
Vendas
1000
800
600
0
0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60
Meses
FIGURA 5.8 • Ajuste do modelo de amortecimento exponencial quando ocorre
um repentino salto na demanda
1 – 100,0 15701
Dt = c × (PIBt)b , (5.13)
ln c 4,469412 8,979
b 1,124 10,855
Graus de liberdade 10
R2 0,922
25000
20000
Demanda anual
15000
Demanda real
Demanda estimada
10000
5000
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Anos
FIGURA 5.9 • Ajuste do modelo de previsão baseado em variável exógena
188
6
Focalizando
o Nível de
Serviço ao
Consumidor
3000
Demanda real
(Erro médio da previsão: 55%)
2000
1000
0
0 1000 2000 3000 4000
Demanda projetada
2500
2000
1500
1000
500
0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800
1 1.200 1.500
2 1.150 700
3 1.250 1.200
4 1.300 300
5 1.100 2.075
6 1.200 1.425
Desvio-padrão 65 572
196
Sobravam os produtos de demanda incerta, do tipo B, cujo processo de
previsão tinha que ser solucionado pela Sport Obermeyer. Uma primeira
análise desses produtos mostrou que, muito embora a demanda ao nível do
varejo era difícil de se prever por parte da Sport Obermeyer, o comporta-
mento dos varejistas, ao fazerem seus pedidos, era muito similar entre si.
Muito provavelmente chegavam a esse consenso através de suas associações,
troca de opiniões, análises independentes do mercado etc. Os analistas da
Sport Obermeyer observaram que, de fato, os pedidos dos clientes varejistas
traziam informações novas, de grande valor para as previsões da empresa.
Numa primeira análise, os analistas lançaram mão dos primeiros 20%
dos pedidos encaminhados pelos varejistas e utilizaram esses dados para me-
lhorar as previsões realizadas pelo seu comitê. A consequência disso foi que a
precisão das previsões melhorou consideravelmente. Isso pode ser visto
comparando as Figuras 6.1 e 6.3. A primeira espelha os resultados das previ-
sões inicialmente produzidas pelo comitê e, a segunda, os resultados híbri-
dos, envolvendo as projeções do comitê melhoradas com os dados dos pri-
meiros 20% dos pedidos. Observa-se que os pontos resultantes se situam
bem mais próximos da reta de erro zero.
4000
3500
Venda total de parkas femininas
3000
2500
(peças)
2000
1500
1000
500
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
3000
1000
0
0 1000 2000 3000 4000
Demanda projetada
produto (variando o tipo, o estilo e a cor), a partir dos dados estatísticos le-
vantados. Suponhamos que, para a parka B, as estimativas individuais dos
membros do comitê, mais as informações dos pedidos, levaram a uma média
de demanda n = 1.200 e um desvio-padrão σ = 100. Suponhamos que a
margem (lucro) na venda de uma peça da parka B seja de L = $14,50. Por
outro lado, admitamos que o prejuízo ao produzir uma unidade e vendê-la
com grande desconto na liquidação seja de S = $5,00. Admite-se que a de-
manda é regida por uma distribuição normal, de média n e desvio-padrão .
De acordo com os conceitos básicos de microeconomia, a empresa deve pro-
duzir parkas do tipo B de forma que o lucro marginal de comercializar uma
parka iguale o prejuízo marginal de vendê-la na liquidação. Na Figura 6.5,
que representa a distribuição normal em questão, deseja-se achar o nível de
produção n* que garanta essa igualdade.
A área da parte da curva à esquerda de n* representa a probabilidade P1
de se ter uma demanda real menor ou igual a n* e, nesse caso, haverá produ-
to encalhado. A parte da curva à direita de n*, por sua vez, representa a pro-
babilidade p2 de se ter uma demanda real maior do que n*, havendo então
comercialização plena. Essas duas probabilidades podem ser obtidas em ta-
belas da distribuição normal ou a partir de programas de computador de
estatística (ou do Excel). Assim, de acordo com as propriedades de microeco-
nomia, o número de parkas do tipo B a produzir é dado por 199
Valor médio
f(n)
p1 p2
n n´
n (nº de peças)
FIGURA 6.5 • Ponto de equilíbrio entre o lucro marginal e o prejuízo marginal
Mas, uma vez que p2 = 1 – p1, substituindo essa expressão em 6.1 e sim-
plificando, obtemos
L 14,50
p1 = = = 0,743 (6.2)
L + S 14,50 + 5,00
n* = n + × 1,96 × , (6.3)
(a)
Compra
produto de
maior preço
Outra (a)
Sim Compra pro-
marca?
duto de mes-
Sim
mo preço
Não
Consumidor (a)
procura o Dispo- Compra
produto nível? produto de
menor preço
Sim
Não (b)
Compra pro-
Substitui duto de ou-
produto? tro tamanho
206
Observa-se que o comportamento do consumidor varia bastante com o
tipo de produto. Por exemplo, as compras de artigos da categoria de cosmé-
ticos são bem mais sensíveis ao stockout: em 43% dos casos a consumidora
vai procurar o produto noutra loja quando não o encontra na primeira tenta-
tiva. Uma explicação possível é a grande atenção que o sexo feminino urba-
no atribui à beleza. Assim, a vinculação de uma consumidora com uma deter-
minada marca e tipo de produto é muito mais profunda do que ocorre, por
exemplo, com o xampu. No caso de salgadinhos, por outro lado, a variedade
de tipos no lar é bastante comum, e a troca por um produto da mesma ou de
outra marca não traz preocupações maiores.
1
O termo marca própria se refere aos produtos que são fabricados especialmente para uma gran-
de rede varejista seguindo especificações próprias, tais como a marca propriamente dita, a embala-
210 gem, os tamanhos e tipos, além de outras características intrínsecas e extrínsecas do produto.
a ocupar 22% do mercado norte-americano de fraldas descartáveis, com pre-
ços 15% inferiores aos produtos similares da P&G e da concorrente Kim-
berly-Clark. Para enfrentar a competição, a P&G colocou as fraldas descar-
táveis no seu programa de preços baixos todos os dias, cortou os custos entre
15% e 20%, e reduziu os preços em 8%. Pouco depois, a P&G cortou os pre-
ços de suas fraldas Luvs em 16%, para isso eliminando extras como alças na
embalagem, promoções para os consumidores etc. Mas, mesmo assim, o pre-
ço da fralda Luvs ficou 17% acima do praticado pelos fabricantes menores.
Como consequência, a P&G acabou cortando em mais 5% o preço das fral-
das Pampers, a terceira redução de preços num só ano. A maior concorrente,
Kimberly-Clark, acompanhou rapidamente a P&G, reduzindo em 7% o pre-
ço de suas fraldas.
Nessa época, as fraldas descartáveis da P&G representavam a categoria
de produto mais importante e mais rentável da empresa. No entanto, mesmo
com todos os seus esforços, o market share da P&G no mercado nor-
te-americano havia caído de forma apreciável. Considerando seu apogeu em
1987, quando participava com 53% do mercado de fraldas descartáveis, seu
market share foi reduzido a 42,4% em 1993, uma redução apreciável.
Observa-se, assim, que o mercado de fraldas descartáveis é muito competiti-
vo, e variáveis diversas, tais como tecnologia do produto, marketing, proces-
so de fabricação, controle de custos e logística, além de outras, são fatores
importantes na obtenção de um market share satisfatório para a empresa.
Os produtos da P&G eram vendidos através de diversos canais, como lo-
jas, atacadistas, grandes cadeias varejistas, além de outros. O uso crescente das
vendas promocionais era uma tendência naquele período, com a P&G com-
petindo com outros fabricantes por espaço, nas gôndolas e displays, para as
frequentes promoções. A aquisição antecipada de mercadorias para as promo-
ções, com bons descontos, era a norma do setor. Nesses casos, os produtos
permaneciam estocados por mais de três meses à espera do momento oportu-
no para as promoções. Nessa época, o presidente Nixon impôs o controle de
preços, visando reduzir os níveis de inflação nos Estados Unidos. A inflação,
combinada com taxas de juros mais elevadas e grandes descontos obtidos dos
fabricantes na aquisição de grandes lotes, tornou a compra antecipada de pro-
dutos bastante atrativa para as grandes cadeias varejistas.
Essa prática levou os fabricantes a manterem grandes estoques, de for-
ma a atenderem a demanda em grandes lotes. As compras pelas redes varejis-
tas passaram a ser, de certa forma, espasmódicas, com grandes flutuações
nos volumes ao longo do tempo, tornando muito difícil a previsão da de-
manda por parte dos fornecedores. Além disso, e dentro dessa prática de
procurement, o pessoal de vendas da P&G ganhava polpudas comissões ao
efetuar transações de grande volume. E o impacto desse procedimento no
planejamento e controle da produção, aumentando apreciavelmente os cus- 211
tos de manufatura, levou os executivos da P&G a iniciarem um processo de
reformulação radical de suas relações com os clientes varejistas.
Assim, a P&G decidiu testar, em 1985, um novo sistema de reposição
de estoques de fraldas descartáveis, trabalhando juntamente com uma cadeia
varejista de médio porte. Esse teste envolvia a utilização de EDI para trans-
mitir dados diários de vendas de fraldas do varejista para o sistema computa-
cional da P&G, que calculava as quantidades de reposição, que eram então
enviadas ao cliente no dia seguinte. Esse método visava substituir o sistema
tradicional, em que o cliente calculava periodicamente suas necessidades de
reposição e encaminhava o pedido ao fabricante.
Os resultados desse projeto-piloto foram bastante positivos, com
apreciável redução do custo de estoque, melhoria do nível de serviço aos
consumidores, principalmente através da redução das taxas de ruptura de
estoque (falta do produto na gôndola) e redução de custo de pessoal para o
varejista (no controle de estoque e no setor de compras). O segundo teste
da P&G foi em 1986, envolvendo uma grande cadeia varejista, com resul-
tados bastante satisfatórios, o que levou a P&G a expandir o novo sistema
para todo o setor. Hoje, o sistema VMI é largamente utilizado nas grandes
cadeias varejistas.
Um Exemplo de VMI
Uma cadeia varejista possui várias lojas numa cidade, vendendo fraldas des-
cartáveis da marca Neném Feliz, produzidas por uma grande indústria.
Numa fase anterior, cada loja fazia periodicamente o levantamento do esto-
que e comunicava o resultado à administração central. Lá se fazia a análise
das necessidades de reposição dos estoques das lojas, o setor de compras
negociava o preço e depois providenciava o pedido. O fornecedor planeja-
va a entrega e, no dia aprazado, a mercadoria era entregue no CD do varejis-
ta, a partir do qual as lojas eram abastecidas.
Numa segunda etapa, o varejista estabeleceu a ligação de seu CD com o
computador do fornecedor, via EDI. Os pedidos passaram a ser enviados ao
fornecedor por EDI, mas era o varejista que determinava as quantidades ne-
cessárias para reposição de seus estoques. Esse sistema é o RMI, Retail Mana-
ged Inventory ou Estoque Gerenciado pelo Varejista. Como vimos no caso
da Procter & Gamble, essa sistemática gera pedidos em grandes volumes
para facilitar as compras, reduzir os custos de transporte e garantir preço
unitário menor para o varejista. É comum também nessa modalidade que o
varejista solicite ao fornecedor formas customizadas para o produto, tais
como embalagens especiais, por exemplo. Pedidos emergenciais, para cobrir
falhas de previsão dos gerentes das lojas, também são frequentes. Além disso,
212
no caso em questão, o produto era entregue separadamente às lojas, em res-
posta direta aos seus pedidos.
Visando evoluir para o VMI, os executivos do fabricante e da cadeia va-
rejista se reuniram para traçar um plano de trabalho. Alguns pontos impor-
tantes foram definidos:
Essa preocupação dos dirigentes das duas empresas fazia sentido, pois
alguns fracassos em tentativas anteriores mostraram várias dificuldades na
implantação desse sistema. Um ponto falho básico era a falta de liderança
na condução do processo. As diretorias designavam as equipes, que depois
ficavam soltas, sem poder atuar sobre a estrutura administrativa e operacio-
nal das duas firmas. Os gerentes, não querendo perder poder, boicotavam o
novo projeto, e a alta administração não tinha disponibilidade de tempo
nem motivação para interferir nas contendas.
Outro ponto negativo era a inconsistência dos dados. Muitas vezes, o
registro de unidades em estoque, no computador, não coincidia com o esto-
que físico, devido a vários fatores. Era necessário, então, ir a fundo e sanar
todas as possibilidades de falhas no registro e na sistemática de armazenagem
dos produtos no CD central e nas lojas.
Um terceiro elemento que precisava ser contornado era a tradição dos
gerentes da cadeia varejista em não respeitar os lotes encomendados. Ao per-
ceberem que a demanda era maior do que imaginavam, colocavam pedidos
emergenciais junto ao fornecedor, que, quase sempre, procurava atendê-los.
Essa prática tinha respaldo na equipe de vendedores do fabricante, que rece-
bia comissões em função do volume vendido, sem qualquer consideração so-
bre eventuais impactos negativos no processo produtivo e nos seus custos.
Finalmente, a equipe do projeto sabia que o seu sucesso dependeria de
um acompanhamento diário e detalhado do processo, não somente na fase
de planejamento e implementação, como também no monitoramento dos
resultados. Assim, após as reuniões estratégicas da alta administração das
213
duas empresas e da designação da equipe, passou-se ao trabalho, que seguiu,
em linhas gerais, os seguintes passos:
Além dos benefícios listados na Tabela 6.5, que se referem tão somente à
loja sujeita ao teste-piloto, o sistema VMI, se adotado juntamente com cross-
docking no CD do varejista, pode gerar redução apreciável do estoque do pro-
duto no depósito, liberando também espaço vital para outras atividades.
Uma vez implementado o sistema VMI, o processo segue uma rotina
diária de atividades, com ciclo de 24 horas, conforme pode ser visto esque-
maticamente na Tabela 6.6. O processo começa no instante em que uma
consumidora-padrão vai à loja, num momento crítico que ocorre, no caso,
na parte final do expediente, quando as vendas do dia reduziram bastante o
nível de estoque do produto na loja. Sua compra é registrada no caixa. Ao
fim do expediente, o sistema computacional da loja consolida todas as ven-
das do produto registradas no dia e envia, por EDI, o nível de estoque resul-
tante para o computador do fornecedor. Este último realiza as atividades
que lhe cabem durante o dia seguinte e, ao fim da tarde, um carregamento do
produto, cobrindo as necessidades das lojas, é descarregado no CD do vare-
jista, num processo de cross-docking pré-agendado.
Além dos benefícios de redução dos níveis de estoque e de ruptura do
mesmo, o processo VMI traz também outras vantagens às empresas partici-
pantes. Em primeiro lugar, por controlar mais de perto as vendas, os níveis
de estoque e as rupturas, o sistema reduz os níveis de erros das estimativas.
Assim, nas épocas de festas e noutras ocasiões específicas, os gerentes conse-
guem estimar com mais acuidade as tendências da demanda. Em segundo lu-
gar, pode-se conseguir reduções significativas nos custos de transporte, prin-
cipalmente quando as entregas do produto deixam de ser feitas loja por loja,
passando a ser realizadas na forma consolidada no CD do varejista (cross-
docking). Um outro ponto muito importante nesse processo é a liberação dos
vendedores da indústria e dos compradores do varejista para atividades mais
nobres. A parte repetitiva do processo é realizada agora pelos computadores,
ficando o pessoal do setor livre para visitas in loco às lojas, troca de ideias,
programação conjunta de promoções, planejamento da introdução de novos
produtos etc. Finalmente, o consumidor final é beneficiado, pois encontra o
produto desejado, no momento em que necessita dele. 215
Tabela 6.6 Ciclo típico do processo VMI
LOCAL HORA AÇÃO
17:30 Notas fiscais prontas e veículos saem com a carga para lojas
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217
7
A Cadeia de
Valor e a
Logística
Suprimento da
manufatura
Trans-
porte
Manufatura
Trans-
porte
CD do
Distribuição
varejista
física
Trans-
porte
Consumidor
Final
G 50% do valor das vendas dos veículos pela montadora eram compos-
tos por compras de insumos dos fornecedores;
G os fornecedores, por sua vez, gastavam 37% de suas receitas com-
prando insumos de outros fornecedores, sendo os 63% restantes o
seu valor agregado;
G assim, o valor agregado dos fornecedores correspondia a 63% ×
50% = 31,5% da receita da montadora.
A CADEIA DE VALOR
O conceito de cadeia de valor foi desenvolvido por Michael Porter, profes-
sor da Harvard Business School, sendo, hoje, um dos pilares do moderno
gerenciamento da cadeia de suprimento (Porter, 1989). Quando um consu-
midor compra um determinado produto numa loja, a um determinado pre-
ço, o pagamento que faz cobre uma série de elementos de natureza diversa,
que participam do processo de fabricação, do transporte da mercadoria e
dos serviços complementares. De um lado, se somarmos as despesas elemen-
tares correspondentes a todos esses fatores, chegaremos a uma determinada
importância X, que representa o custo final do produto em questão.
Num ambiente competitivo, valor é o montante que os compradores
estão dispostos a pagar por aquilo que uma empresa, ou indivíduo, lhe for-
nece (Porter, 1989). Assim, se uma lata de cerveja tem um custo final, no
varejo, de R$0,80, ela pode ser vendida gelada, num estádio de futebol, em
pleno jogo, e sob um sol forte de 35°C, por R$3,00. Isso porque o torce-
dor, com sede, e sem condições práticas de buscá-la em casa ou no super-
mercado, sabe avaliar a situação e concorda em atribuir-lhe um valor subs-
tancialmente maior. Caso contrário, refrearia sua sede, deixando para be-
ber a cerveja em casa ou no bar, após o encerramento do jogo. É claro que,
por trás desse exemplo, supomos que haja concorrência perfeita. No caso,
a concorrência se dá quando aparecem vários vendedores independentes
no estádio. Se um deles exagera na fixação do preço, haverá outros dispos-
tos a disputar-lhe a clientela. A definição de valor não se aplica, portanto,
aos casos de monopólio ou a outras situações em que a lei da oferta e da
procura não vigora.
O valor não é medido pelo custo final, mas sim pela receita total, resul-
tante do preço que a empresa estabelece para o produto, em função do mer-
cado e do número de unidades que ela pode vender. A empresa será rentável
quando a soma dos custos envolvidos na geração do produto for menor do
que o valor que ela consegue estabelecer para ele.1 A meta de uma empresa
moderna, competitiva, é de aumentar ao máximo o valor agregado de seus
produtos, ao mesmo tempo em que busca minimizar os custos globais na ca-
deia de suprimento.
1
Algumas empresas conseguem sobreviver durante certos períodos em que o custo supera o valor,
compensando o prejuízo durante períodos de alta. Por exemplo, uma exportadora de soja em
224 grãos, que tem lucro durante a estação de safra, e déficit durante a entressafra.
O valor de um determinado produto é composto pela margem e pelas
atividades de valor. As atividades de valor são formadas pelos processos físi-
cooperacionais tecnologicamente distintos de que uma empresa lança mão
para criar um produto com um determinado valor de mercado. Se subtrair-
mos do valor do produto a soma dos custos referentes às atividades de valor,
teremos a margem. A margem é normalmente dividida (não necessariamente
em partes iguais) entre varejista, fabricante, fornecedores, transportadoras,
intermediários e todos mais que participam da cadeia de suprimento.
Cada atividade de valor utiliza insumos diversos, tais como recursos hu-
manos (mão de obra e gerência), materiais, tecnologia e informação, podendo
gerar ativos financeiros, como estoques e contas a receber, e passivos, como
contas a pagar. Porter classifica as atividades de valor em duas categorias: ativi-
dades primárias (logística de suprimento ou inbound, operações, logística de
distribuição ou outbound, marketing e vendas, assistência técnica) e ativida-
des de apoio (infraestrutura da empresa, gerenciamento de recursos humanos,
desenvolvimento de tecnologia, aquisição de insumos e serviços). A in-
fraestrutura da empresa compreende as atividades de administração, como ge-
rência geral, planejamento, finanças, contabilidade, assistência jurídica e ge-
rência de qualidade. Graficamente, Porter representa a composição das ativi-
dades primárias e de apoio conforme mostrado na Figura 7.2.
A cadeia de suprimento é formada por uma sequência de cadeias de va-
lor, cada uma correspondendo a uma das empresas que formam o sistema.
Embora as atividades de valor sejam os elementos-chave da vantagem com-
petitiva, a cadeia de valor não é um conjunto de atividades independentes, e
sim um sistema de atividades interdependentes. As interligações entre as ati-
vidades de valor são formadas por elos, que refletem as relações dentro da
Atividades de apoio
Infraestrutura da empresa
E
Marketing
Logística Logística Assistência
Operações e M
inbound outbound técnica
vendas
Atividades primárias
(Fonte: Porter, 1989)
Estrutura de Custo
Na nossa análise vamos considerar os custos das seguintes atividades de valor:
1. Nível do fabricante:
G custo de materiais (adquiridos de fornecedores);
G custo de mão de obra direta;
G custos indiretos;
G custo de estoque do produto acabado;
G custo de armazenagem do produto acabado.
2. Nível do varejista:
G custo de aquisição do produto;
G custo de transporte (frete);
G custo de estoque em trânsito;
G custo de estoque do produto no depósito do varejista;
G custo de armazenagem do produto;
G custo de entrega às lojas e aos clientes finais.
227
Tabela 7.1 Valores dos principais itens de custo adotados no exemplo
Item Valor (R$/unidade)
Situação Inicial
A situação inicial corresponde a um esquema pouco competitivo, em que
cada elemento da cadeia de suprimento age independentemente, buscando
maximizar suas vantagens à maneira clássica, isto é, atuando sobre seus cus-
tos de forma a aumentar sua margem no processo. A transferência do produ-
to da fábrica para o depósito do varejista é deixada por conta da transporta-
dora, que selecionou uma carreta de 25 toneladas para fazer essa operação.
Uma vez que uma unidade de eletrodoméstico pesa 44kg, cada carreta
transportará L = 25.000/44 = 568 unidades. Na Tabela 7.2 é apresentada a
cadeia de valor para a situação atual.
Fabricante
Varejista
3
Situação que decididamente ainda não ocorre no Brasil. 229
Caso o varejista insistisse em continuar pagando um frete de R$3,96
por unidade, o que poderia acontecer? Uma possibilidade seria levar a trans-
portadora à falência, levando à sua substituição por outra, e assim sucessiva-
mente. Outra possibilidade seria conseguir a anuência verbal ou contratual
da transportadora, a qual, na prática, não cumpriria o prometido. Retiraria a
mercadoria nas quantidades e frequências combinadas, mas manteria a carga
no seu armazém à espera de consolidação, antes de seguir viagem em cami-
nhões de maior porte.
Qual o benefício que o varejista aufere ao aceitar o novo frete solicitado
pela transportadora? O custo de transporte apresenta uma forte economia
de escala, isto é, o custo unitário por tonelada tende a cair significativamente
à medida que a capacidade de carga do veículo aumenta. Mas o efeito no
custo de estoque é diametralmente contrário. De fato, quando aumentamos
a capacidade de carga do veículo, o lote de despacho aumenta na mesma
proporção (admitindo que o veículo viaje lotado) e o efeito no custo finan-
ceiro do estoque cresce apreciavelmente.
Os efeitos simultâneos desses dois fatores, atuando de forma inversa,
acabam levando a uma situação intermediária, de mínimo custo. Assim, o
varejista, que tinha antes um custo de transporte mais estoque igual a 3,96
+ 0,45 + 2,97 = $7,38, passa a ter um custo de 4,58 + 0,45 + 2,15 =
$7,18, mais baixo portanto que o anterior. Analisando seus custos, o vare-
jista sabe que sua margem na cadeia de valor vai aumentar, conforme mos-
trado na Tabela 7.3. Observa-se que o preço final para o consumidor não
foi alterado, pois admitimos que o varejista possa impor suas condições
não somente aos demais participantes da cadeia de suprimento, como tam-
bém aos clientes finais. Nessas condições de vantagem, o varejista aufere
agora uma margem de R$97,23, com um acréscimo de apenas de R$0,19
em relação à situação anterior.
Insatisfeito com seus ganhos, o varejista procura se apropriar do ganho
do fabricante. Observa que a mudança no esquema de distribuição fábrica-
depósito ocasiona também uma redução nos custos de estoque do fabricante.
De fato, na situação anterior havia um custo de estoque de produto acabado
na fábrica de R$2,46, custo este que foi reduzido para R$1,78 na nova situa-
ção, uma redução de R$0,68 para o fabricante. O varejista, exercendo do-
mínio absoluto sobre a cadeia de suprimento, pressiona o fabricante para
reduzir o preço do produto. Ao fim, a indústria concorda em reduzi-lo des-
de que seja mantida sua margem anterior em valor absoluto, de R$41,18
por peça.
A cadeia de valor resultante para essa situação é a indicada na Tabela
7.4. Observa-se que o varejista passa a ter agora uma margem de R$97,99
por unidade vendida, correspondente a 25,25% do preço final de venda do
230 produto. O fabricante continua a auferir sua margem anterior (em valores
absolutos) e a transportadora, por sua vez, está em melhor situação do que
antes, porque fatura 15,6% a mais, recebendo um frete que cobre todos os
seus custos e lhe dá uma margem aceitável.
Nesse quadro em que o varejista exerce domínio absoluto, todos os par-
ticipantes ganham ou mantêm sua posição inalterada, ou seja, nenhum deles
perde, inclusive o consumidor final, que adquire o produto ao mesmo preço
vigente antes. Isso se tomarmos a situação atual como referência. Mas esse
quadro não é uma boa referência, pois apresenta distorções gritantes. A rea-
lidade dos dias atuais é bem diferente. Os competidores, reduzindo seus cus-
tos e remarcando seus preços para baixo, vão forçar os participantes da nos-
sa cadeia de suprimento a oferecer preços menores também. Por exemplo, o
varejista poderia manter sua margem absoluta de R$97,04 vigente na situa-
ção inicial, reduzindo o preço do produto no varejo para R$386,61. Com
isso poderia vender mais, diluindo mais facilmente os custos indiretos, e au-
mentando, assim, sua margem e o seu faturamento.
Fabricante
Varejista
231
Tabela 7.4 Cadeia de valor – situação de domínio do varejista
(após negociação com a transportadora e com o fabricante do produto)
Item Valor (R$/unidade)
Fabricante
Varejista
80.000
70.000
60.000
50.000
ajuste por regressão
40.000
30.000 situação
inicial
20.000
10.000
0
200 250 300 350 400 450 500 550 600
Preço (R$/unidade)
FIGURA 7.3 • Relação preço-demanda típica
⎛ ΔQ⎞ ⎛ Δp⎞
ε=⎜ ⎟÷⎜ ⎟ (7.3)
⎝ Qx ⎠ ⎝ px ⎠
234
Tabela 7.5 Cadeia de valor – situação de domínio do fabricante
(após negociação com transportadora)
Item Valor (R$/unidade)
Fabricante
Custo de materiais 112,80
Custo de mão de obra direta 55,20
Custos indiretos 62,60
Custo de armazenagem do produto acabado 0,30
Custo de estoque do produto acabado 1,35
Custo do transporte (frete) 5,25
Custo de estoque em trânsito 0,38
Margem do fabricante 42,36
Preço de venda para varejista 280,24
Varejista
Custo de aquisição do produto 280,24
Custo de estoque do produto no depósito do varejista 1,67
Custo de armazenagem do produto 0,30
Custo de entrega às lojas e aos clientes finais 8,90
Margem do varejista 97,04
Preço final para o consumidor 388,15
90.000
70.000
60.000
50.000
X'
Q'
DQ
X
Q
20.000
10.000 Dp
0
200 250 p' p 350 400 450 500 550 600
Preço (R$/unidade)
FIGURA 7.4 • Elasticidade preço-demanda
Q <25.000 – 112,80
Q ≥100.000 2% 94,80
Nessa expressão, supôs-se que 20% do custo unitário (ou R$0,06) seja variá-
vel, sendo os restantes 80% (ou R$0,24) fixos. Admitimos também que, num
primeiro estágio, a indústria possa aumentar sua produção até um limite de
50.000 unidades por ano. Para isso aproveitará a capacidade ociosa existente
e passará a operar em três turnos, quando hoje trabalha apenas com um turno.
Os participantes da cadeia devem pensar agora nos resultados globais
de sua operação integrada, e não nas suas vantagens individuais. A estratégia
dos participantes da cadeia logística será então a de maximizar a margem
anual global do processo, dada pela seguinte relação:
Fabricante
Transporte 3,97
Varejista
Por unidade Global (R$) Por unidade Global (R$) (R$) (%)
É importante observar que grande parte das medidas possíveis para me-
lhorar a cadeia de valor depende de um bom equacionamento das atividades
logísticas. Mais do que isso, a Logística de hoje, dentro dos conceitos do
gerenciamento da cadeia de suprimento, não trata tão somente das opera-
ções logísticas clássicas, mas é eminentemente estratégica, ou seja, atua forte-
mente na concepção, planejamento, implementação e execução dos projetos
estratégicos das empresas.
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240
8
Distribuição
Física:
Conceitos e
Condicionantes
CONCEITUAÇÃO
A cadeia de distribuição clássica é formada por um canal de um nível, isto é,
entre o fabricante e o consumidor existe um único intermediário, o varejista.
Uma vez definidos os canais de distribuição, conforme discutido no Capítulo
4, torna-se necessário detalhar o processo logístico que concretizará, na prá-
tica, o projeto mercadológico selecionado.
O objetivo geral da distribuição física, como meta ideal, é o de levar os
produtos certos para os lugares certos, no momento certo e com o nível de
serviço desejado, pelo menor custo possível. Há um certo antagonismo em
garantir um nível de serviço elevado, ao mesmo tempo em que se pretende
reduzir custos. Isso porque as possíveis melhorias no sistema, de uma forma
geral, implicam custos maiores de transporte, de armazenagem e de estoque.
Essa visão, no entanto, está presa ao conceito de valor agregado, quando a
forma correta de focalizar o problema é através da cadeia de valor, conforme
discutido no Capítulo 7. No primeiro caso, as empresas que formam a cadeia
de suprimento procuram otimizar apenas as atividades que lhes tocam dire-
tamente, enquanto, no moderno gerenciamento da cadeia de suprimento, o
enfoque é o sistema no seu todo.
No estudo de caso da trading Li & Fung, de Hong Kong (Capítulo 2),
vimos que a empresa procura atuar sobre os “3 dólares soft”, que compre-
endem as despesas ao longo da distribuição, contra “1 dólar hard”, que
corresponde aos custos de fabricação do produto. Nas palavras de Victor 241
Fung, reduzir as despesas de produção de 10 ou 20 centavos de dólar por
unidade é uma tarefa quase impossível hoje, pois todas as empresas já vêm
realizando campanhas de racionalização de custos há um certo tempo,
não sobrando muito espaço para reduções adicionais. Mas, atuando sobre
os “3 dólares soft”, ainda é possível conseguir reduções de custos apreciá-
veis, racionalizando, para isso, os processos logísticos que participam do
Supply Chain.
A distribuição física cobre os segmentos que vão desde a saída do pro-
duto na fábrica até sua entrega final ao consumidor. Algumas vezes, o produ-
to é despachado da fábrica para o depósito de um atacadista. Noutras vezes,
o produto é transportado do fabricante para o centro de distribuição do va-
rejista. São também comuns os casos em que o fabricante abastece direta-
mente a loja de varejo. Na prática, podem também ocorrer outros esquemas
de distribuição física, mas os mencionados são os mais comuns.
Em muitas atividades varejistas o produto é entregue diretamente ao
consumidor na loja, no ato da compra. Mas há muitos casos em que o produto
é entregue posteriormente ao comprador em seu domicílio, seja porque é
volumoso ou pesado (uma geladeira ou uma televisão, por exemplo), seja
porque o varejista oferece esse serviço ao cliente, principalmente nos casos em
que a aquisição é feita via fax, Internet ou outra forma remota de compra.
1
Embarcador é um termo usado no Brasil para designar todo aquele que despacha mercadoria uti-
lizando um meio de transporte qualquer ou um operador logístico. Corresponde ao termo ship-
242 per, em inglês.
ponder ao menor custo total de transporte de porta a porta, respeitados, no
entanto, os limites mínimo e máximo de tempo (janela de tempo). Ou seja,
para a montadora em Detroit não interessa receber os componentes muito
cedo, pois isso a obrigaria a estocar, controlar, fiscalizar o material recebido,
atividades essas que geram custos, mas também não pode receber os compo-
nentes além do prazo, o que acarretaria problemas e eventuais paralisações
na linha de produção. Há assim uma flexibilidade modal para o embarcador,
flexibilidade essa que pode ser utilizada sempre que houver um elenco de al-
ternativas disponíveis.
Mas as possibilidades de otimização do transporte combinado não se
exaurem aqui. O computador vai analisando dia a dia as alterações não
previstas nas modalidades envolvidas: atrasos, greves, problemas meteoro-
lógicos etc. O sistema revê os custos e os novos tempos previstos, mudando a
programação de forma a mantê-la de acordo com a janela de tempo inicial-
mente estabelecida. Por exemplo, se a carga já está num navio a caminho de
Nova York, mas com atraso, e a conexão prevista era a ferroviária, o sistema
pode reprogramar o segmento terrestre para agora ser feito por rodovia, que
é mais rápido, embora com frete mais caro. Ou seja, a rede de transporte
multimodal oferece também uma flexibilidade temporal, de grande valia
para os embarcadores.
A conjugação da flexibilidade modal com a temporal dá aos embar-
cadores grandes vantagens, pois podem lançar mão de modos de menor con-
fiabilidade, mas de menor custo, refazendo suas programações sempre que
for necessário. Aqui é importante introduzir duas definições. Os especialis-
tas da área costumam utilizar o termo transporte intermodal para designar a
conjugação de duas ou mais modalidades sem maiores preocupações além da
simples integração física e operacional. Por exemplo, um produto pode ser
embarcado num navio de cabotagem no Rio de Janeiro, descarregado no
porto de Recife e de lá ser transportado por caminhão até seu destino final,
digamos Garanhuns. Já o termo transporte multimodal designa muito mais
do que uma simples inter-relação física: envolve a integração de responsabi-
lidades (integridade da carga, seguro etc.), de conhecimento (o documento
de despacho que acompanha a carga), de programação (horários combina-
dos, cumprimento dos mesmos etc.), de cobrança do frete e demais despesas
etc. Na verdade, quando se alcança um estágio de transporte multimodal,
toda a integração entre as modalidades fica transparente para o embarcador.
O agente de transporte, ou operador logístico, faz a escolha das modalidades
de forma integrada, cotejando os possíveis ganhos de custo e as exigências de
prazos e de segurança necessárias.
No Brasil, não temos essa disponibilidade de opções modais. Nossas
ferrovias não formam uma rede com boa cobertura do território nacional. As
opções de transporte marítimo também não são amplas. Na distribuição in- 243
terna, a esmagadora parte do transporte de produtos manufaturados é cons-
tituída pelo transporte rodoviário. Para os embarcadores, restam poucas op-
ções de transporte conjugado, levando ao uso intensivo de apenas um deles,
o rodoviário. Se fizermos uma análise ABC dos fluxos de carga transporta-
dos no Brasil, expressos em toneladas/quilômetro, vamos observar que o
transporte rodoviário corresponde ao grupo A, a ferrovia forma o grupo B, e
as demais modalidades, juntas, constituem o grupo C. A seguir, vamos anali-
sar as características mais importantes das diversas modalidades de interesse
para a distribuição de produtos. Não abordamos o transporte dutoviário por
ser muito específico, de interesse bem mais restrito.
Transporte Rodoviário
Na América do Norte são usadas as siglas FTL (full truck load) e LTL (less
than truck load) para indicar as duas formas mais usadas de transporte de
carga. A primeira sigla indica um carregamento completo, ou seja, o veículo
é carregado totalmente com um lote de despacho. No segundo caso, a capa-
cidade do veículo é compartilhada com a carga de dois ou mais embarcado-
res. No Brasil, costumamos chamar de lotação completa o primeiro caso, e
de carga fracionada o segundo.
Operacionalmente, há grandes diferenças entre essas duas formas de
transporte de carga. No caso da carga fracionada, a operação mais comum é
formada por diversas etapas, a saber:
Transporte Aquaviário
O transporte aquaviário, como sua denominação indica, envolve todos os ti-
pos de transporte efetuado sobre a água. Inclui o transporte fluvial e lacustre
(aquaviário interior) e o transporte marítimo. Este último pode ser dividido
em transporte marítimo de longo curso, que envolve as linhas de navegação
ligando o Brasil a outros países mais distantes, e a navegação de cabotagem,
que cobre a nossa costa. A navegação de cabotagem, por sua vez, é dividida
em pequena cabotagem, cobrindo apenas os portos nacionais, e a grande ca-
botagem, que corresponde às ligações marítimas com países próximos,
como, por exemplo, Uruguai e Argentina.
Há muitos tipos de navios cargueiros, dependendo do tipo de carga e das
características da rota. Um navio cargueiro típico que vemos nos nossos portos é
o navio de carga geral. Grande parte das mercadorias despachadas por via marí-
tima não pode ser movimentada como carga a granel, pois alguns tipos não são
passíveis de ser manuseados por equipamento automático de transbordo, e ou-
tros são transportados em pequenas quantidades. Tomemos o exemplo do que-
rosene, que pode ser transportado a granel se houver grandes lotes a despachar,
mas é usualmente transportado em latas, que por sua vez vão acondicionadas
em caixas ou pallets, quando são destinadas ao comércio varejista.
Hoje, grande parte da carga geral, no transporte marítimo de longo
curso, é deslocada em contêineres, que são caixas metálicas padronizadas de
diversos tipos. Os contêineres padrões mais comuns têm 12 pés de compri-
mento (cerca de 3,60m) ou 24 pés. 247
O termo carga geral representa qualquer produto que vai embalado ou,
no caso de ir solto, que pode ser acomodado junto com outras cargas. Por
exemplo, produtos comestíveis enlatados são transportados geralmente em
caixas, na forma paletizada ou não, e podem ser estivados (arrumados) nos
porões ou cobertas do navio. Barras de aço, por outro lado, não são embaladas
em recipientes, mas podem ser estivadas na embarcação junto com outros pro-
dutos. Na prática, há produtos que não podem ser estivados próximo, como,
por exemplo, produtos alimentícios juntamente com produtos químicos.
Outro tipo de embarcação bastante utilizada é o navio graneleiro, volta-
do ao transporte de produtos sólidos a granel, como soja, milho, minério de
ferro e carvão. Esse tipo de produto, em razão de suas características físicas e
de valor unitário, não precisa ser acondicionado em recipientes. Tira-se van-
tagem dessa condição fazendo o carregamento do produto através da gravi-
dade, o que agiliza e barateia as operações. Isso é feito utilizando-se dutos ou
esteiras rolantes, que vão despejando a carga diretamente nos porões, sem
necessidade do auxílio de guindastes. Na operação inversa, isto é, na descar-
ga do produto, utilizam-se grabs1 para o caso de minérios, carvão etc., e du-
tos sugadores para grãos. Há também os navios petroleiros, voltados a uma
série de insumos e produtos a granel, como o óleo bruto e a gasolina, álcool,
óleo diesel etc.
Hoje também são comuns, no transporte marítimo, navios construídos
especialmente para deslocar produtos específicos. Por exemplo, no trans-
porte de bobinas de papel, automóveis etc., há um tipo de embarcação deno-
minada box-shaped (com forma de caixa), em que o casco apresenta linhas
mais retas, permitindo melhor estivagem da carga. É também dotada de ram-
pas, dando condições para que os veículos e empilhadeiras entrem e saiam
rodando. Por isso denomina-se também navio roll-on, roll-off.
Em termos comerciais e econômicos é muito importante distinguir dois
tipos básicos de transporte marítimo de longo curso. De um lado há o trans-
porte conferenciado, formado pelas empresas regulares de navegação que
oferecem transporte de carga geral convencional e de contêineres. O comér-
cio marítimo entre as nações originou-se em tempos remotos, formando re-
gras e práticas nem sempre justas e equânimes, muitas vezes baseadas na lei
do mais forte. O princípio fundamental desse tipo de comércio é a liberdade
dos mares. Por isso, qualquer navio, de qualquer nação ou bandeira,3 desde
2
Grabs são caçambas de volume apreciável que operam acopladas a guindastes, apanhando uma
quantidade razoável de carga por ciclo, desde o porão do navio até um veículo (vagão, caminhão)
ou recipiente apropriado (moega ou esteira rolante, por exemplo).
3
Nem sempre a bandeira de um navio, que indica o país onde o navio foi registrado, corresponde
à nação onde está localizada a sede da empresa de navegação (armadora). Há países, denominados
genericamente de bandeiras de conveniência, como Panamá e Libéria, que oferecem vantagens fis-
248 cais para que as empresas de navegação lá registrem seus navios mercantes.
que respeite as regras de segurança, pode, em princípio, entrar e sair de qual-
quer porto, carregando e descarregando mercadorias previamente escolhi-
das e cobrando as taxas de frete que seu armador estipular. Essa liberdade di-
ficulta a ação dos governos no sentido de implantar uma regulamentação
mais rígida do transporte marítimo e das taxas de frete.
No caso do transporte marítimo regular (carga geral) não existe uma
entidade internacional independente que regule o processo, como faz a
IATA no caso do transporte aéreo. As empresas de navegação que realizam
serviços regulares se reúnem em associações, que recebem o nome genérico
de conferências de fretes. Daí a expressão transporte marítimo conferencia-
do. O termo conferência, que vem do inglês conference, indica simplesmente
uma associação com objetivos comuns. Fazem parte de uma determinada
conferência de fretes as empresas de navegação que mantêm linhas de nave-
gação atendendo uma mesma região geográfica ou rota mercante. As carac-
terísticas básicas do serviço de transporte marítimo conferenciado são:
Transporte Aéreo
A expressão “transporte aéreo” nos dá a ideia imediata do transporte de pas-
sageiros, tal é sua importância nos dias de hoje. O cidadão comum não visuali-
za imediatamente que, no setor de transporte de carga, principalmente interna-
cional, a modalidade aérea ocupa um espaço muito importante e apresenta
forte tendência de crescimento no mundo todo. Além de transportar carga
com velocidades muito superiores às demais modalidades, o transporte aéreo
apresenta níveis de avarias e extravios mais baixos, resultando em maior segu-
rança e confiabilidade. Por essa razão, não somente produtos de alto valor
agregado, tais como eletrônicos e aparelhos de precisão, são transportados
por avião, como também uma série de produtos sensíveis à ação do tempo,
como alimentos perecíveis, flores, encomendas, correspondência etc.
A importância do transporte aéreo na Logística aumentou muito com a
globalização, pois agora as cadeias produtivas estenderam suas ramificações
pelo mundo todo, e muitas vezes o fornecimento de componentes e a distri-
buição de produtos não podem ficar dependendo do transporte marítimo,
principalmente quando os embarcadores não conseguem níveis de confiabi-
lidade satisfatórios nos prazos de entrega.
Nos últimos trinta anos foram observadas mudanças sensíveis no trans-
porte aéreo mundial. De um lado, a expectativa da utilização do avião super-
sônico no transporte aéreo se frustrou. De fato, com o crescente congestio-
namento nas grandes cidades, de nada adianta ganhar umas poucas horas
durante o voo quando o acesso ao aeroporto, as longas filas no check-in e as
esperas na imigração consomem cada vez mais tempo nas viagens.
Os fabricantes de aviões comerciais preferiram percorrer outros cami-
nhos. Desenvolveram os aviões de fuselagem larga (wide-body), que trouxe-
ram melhores perspectivas para o transporte de mercadorias, agilizando o
processo de carga e descarga dos aviões e aumentando o volume interno útil.
Os níveis de confiabilidade das aeronaves e de seus equipamentos foram sen-
sivelmente melhorados, a tal ponto que os aviões permanecem parados por
pouco tempo para manutenção e revisão. Isso aumenta apreciavelmente o 251
nível de utilização da aeronave, reduzindo os custo unitários de transporte.
Hoje, estão sendo utilizados materiais mais resistentes e mais leves na fabri-
cação dos aviões (fibras reforçadas de carbono, por exemplo), reduzindo
também o peso próprio e aumentando a capacidade de carga das aeronaves.
Na parte operacional, têm sido implantados processos práticos para
agilizar a movimentação da carga nos terminais. Por exemplo, existem
aviões para os quais se pode converter rapidamente a configuração interna,
de passageiro para cargueiro e vice-versa, permitindo que a empresa aérea
utilize o avião com mais flexibilidade, obtendo maior receita e amortizando
os custos. Esse tipo de avião é muito utilizado no transporte de correio e de
encomendas. São comuns também as versões combi, em que uma parte do
avião é destinada aos passageiros, e a carga é acondicionada separadamente.
A utilização dos porões de aeronaves de passageiros para o transporte de car-
ga também é muito comum.
Os aviões exclusivos para transporte de carga foram dotados de portas
amplas e rampas de acesso para veículos e contêineres. A capacidade de car-
ga desses aviões é apreciável para esse tipo de transporte. Um cargueiro
MD-11, por exemplo, pode transportar até 92 toneladas de carga, e o
Boeing 747, até 112 toneladas. Já o Antonov 223, o maior cargueiro do
mundo, leva até 250 toneladas de carga.
As turbinas dos jatos de hoje são mais eficientes, mais econômicas e me-
nos barulhentas. É verdade que, no Brasil, as empresas de transporte aéreo
de carga utilizam, na sua maioria, antigas aeronaves de transporte de passa-
geiros, já tecnologicamente ultrapassadas, com níveis de ruído elevados.
Mas o tráfego aéreo desse tipo de avião não é tão intensivo, o que reduz os
possíveis impactos negativos. No Brasil, o transporte aéreo é regulamentado
e controlado pela ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil.
4
Sistema de Informações Geográficas. 253
Hoje, grande parte das atividades de distribuição é planejada, progra-
mada e controlada por meio de softwares aplicativos, que ajudam na prepa-
ração dos romaneios de entrega, roteirização dos veículos, controle dos pe-
didos, devoluções, monitoramento da frota, além de outros. Esses softwares
funcionam em computadores (hardware) especificamente instalados para
isso ou, seguindo tendência moderna, centralizados num sistema computa-
cional abrangente, muitas vezes como parte de pacotes de gerenciamento
amplos, do tipo genericamente denominado ERP (Enterprise Resource
Planning). Outros tipos de hardware são também empregados na distribuição
de produtos, tais como sistemas do tipo GPS para monitoramento da frota
de veículos, computadores de bordo, scanners, coletores de dados de radio-
frequência, entre outros.
O sexto elemento necessário para operar de forma competitiva um sis-
tema de distribuição física é a disponibilidade de uma estrutura de custos
adequada e constantemente atualizada. Tradicionalmente, no Brasil, as
transportadoras, de um lado, e os departamentos de transporte das indústrias
e das empresas comerciais, de outro, estavam mais acostumados a trabalhar
com uma situação muito específica de deslocamento de carga, situação essa
denominada transferência de produtos, quando um carregamento em lota-
ção completa é deslocado de um ponto A para outro ponto B. Nesses casos, e
para distâncias entre A e B não muito curtas, o custo do transporte, para um
determinado tipo de produto, é quase totalmente explicado pela distância e
pela quantidade de carga deslocada. Mesmo no caso de carga fracionada, em
que os lotes despachados não lotam o veículo, é comum se cobrar o frete em
função da distância e da quantidade de carga.
Na distribuição física, por outro lado, são bastante comuns roteiros com-
partilhados por vários clientes, com o veículo realizando uma sequência de en-
tregas numa única viagem. Há clientes que demoram muito tempo para receber
a mercadoria, forçando o veículo e sua equipagem a esperar em fila por longos
períodos ou empregando rotinas excessivamente burocráticas na recepção do
pedido. Essas práticas não implicam nenhum aumento na quilometragem per-
corrida pelo veículo, mas oneram o custo do serviço como resultado das horas
inativas do pessoal e do equipamento alocado à distribuição física.
No caso dos operadores logísticos (Capítulo 9), que estão sendo solici-
tados pela indústria e pelo comércio a desempenhar funções logísticas ante-
riormente realizadas pelas empresas-clientes, a determinação do custo de um
sem-número de atividades novas também passou a exigir um enfoque especí-
fico. Torna-se necessário, assim, adotar uma estrutura de custos mais eficaz
para os serviços logísticos associados à distribuição física de produtos. Hoje,
o emprego de formas de custeio modernas, como o ABC (Activity Based Cos-
ting), está se tornando um imperativo, razão por que damos certo destaque a
esse assunto no presente texto (Capítulo 11).
254
Finalmente, para que um sistema de distribuição física funcione a con-
tento e de forma competitiva, é necessário dispor de pessoal devidamente ca-
pacitado e treinado. Com a sofisticação dos equipamentos e do tratamento
da informação nas atividades logísticas nos dias de hoje, torna-se necessário
reciclar o elemento humano em todos os níveis. O motorista e seu ajudante,
ao fazerem uma entrega, têm contato direto com o cliente e, se mal orienta-
dos ou mal treinados, podem transmitir imagem negativa sobre a empresa
para a qual trabalham. Da mesma forma, os empregados que trabalham no
centro de distribuição e noutras atividades correlatas precisam estar a par
dos conceitos básicos de Logística, de forma a desempenhar suas tarefas em
sintonia com os objetivos estratégicos da empresa. A própria administração
da empresa deve se reciclar permanentemente, devido às mudanças constan-
tes que se observam na estratégia e nas operações das organizações.
Elementos Básicos
A distribuição “um para um”, ou transferência de produtos, é influenciada
por 14 fatores, quando encarada sob o ponto de vista logístico. São eles: 255
G distância entre o ponto de origem e o ponto de destino;
G velocidade operacional;
G tempo de carga e descarga;
G tempo porta a porta;
G quantidade ou volume do carregamento (medida em toneladas, me-
tros cúbicos, pallets etc.);
G disponibilidade de carga de retorno;
G densidade da carga;
G dimensões e morfologia das unidades transportadas;
G valor unitário;
G acondicionamento (carga solta, paletizada, a granel etc.);
G grau de fragilidade;
G grau de periculosidade;
G compatibilidade entre produtos de natureza diversa;
G custo total.
5
Os valores monetários apresentados no texto servem apenas um objetivo didático, não devendo
260 ser encarados como reais.
escolha do caminhão fosse deixada a critério da transportadora, o veículo
mais econômico seria o maior de todos, no caso, o rodotrem de 45 toneladas.
E do lado do fabricante e do varejista, como é que a escolha do veículo se
reflete nos custos de estoque? O custo de estoque num dos extremos da cadeia
(digamos, no depósito do fabricante) pode ser aproximadamente calculado
conforme mostra a Figura 8.2. Sendo L o lote de remessa do produto e ES o es-
L
toque de segurança, o estoque médio é igual a + ES O estoque de segurança
2
pode ser estimado através de um coeficiente corretivo fS > 1. Assim, o estoque
L
médio é expresso por (1 + fS). O custo de estoque num dos extremos (diga-
2
mos, no depósito do fabricante) pode ser calculado através da expressão:
261
110
100
L
CD = custo anual de estoque no fabricante = (1 + fS) × v × j (8.2)
2
L
CE = custo anual de estoque nas duas pontas (1 + fS) × v × j (8.3)
44
Q× v × T × j
262 CT = , (8.4)
365
Estoque
L
Estoque
médio
Estoque de
segurança
t
FIGURA 8.2 • Variação do nível de estoque no depósito do fornecedor
W
Custo anual de estoque = 7.108,60 (1 + fS) × v × j (8.5)
44
2500
2000
Custo anual (1.000 reais)
1500
Veículo
menor custo
1000
Custo total
500
Custo de estoque Custo de transporte
0
0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000
Elementos Básicos
A distribuição “um para muitos” é influenciada por 15 fatores, quando enca-
rada sob o ponto de vista logístico. São eles:
265
Região
servida
Bolsão
Percurso até
o bolsão CD (depósito)
Escolha do Veículo
No caso da distribuição “um para muitos”, a escolha do tipo de veículo mais
apropriado para um determinado serviço depende de vários fatores, desta-
cando-se os seguintes:
*Caminhão com 7.800kg úteis, com custos unitários indicados na Tabela 8.2.
**Caminhão com 3.800kg úteis, com custos unitários indicados na Tabela 8.2.
+
+
+
Custo unitário (R$/visita)
+
+ +
+
3,5 + +
+
+ +
d = 5 visitas/km2 +
+
+
d = 10 visitas/km2 + +
+ d = 15 visitas/km2
3,0 +
+ +
+
+ +
+ + Tráfego
+
+
+
Tráfego urbano
2,5 urbano +
interurbano
2,0
0 5 10 15 20 25 30
Distância do bolsão ao depósito (km)
FIGURA 8.5 • Custos unitários, exemplo de distribuição de bebidas
1,6
+
1,5 +
+
Custo unitário (R$/visita)
+ +
+
+ +
1,4 +
+ +
+
d = 5 visitas/km2 + +
1,3 +
+
d = 10 visitas/km2 +
+
+
1,2 +
+
+
+ d = 15 visitas/km2
+
+ +
1,1 + Tráfego
+ +
+
+ + Tráfego urbano
+
1,0 + urbano +
+
+ interurbano
0,9
0 5 10 15 20 25 30
Distância do bolsão ao depósito (km)
FIGURA 8.6 • Custos unitários, exemplo de distribuição de pacotes
269
bela 8.2 são meros exemplos, valendo os resultados apenas como ilustração
da metodologia.
Outra observação importante é que veículos sabidamente inadequados
para a distribuição de produtos, devido a seu tamanho, foram introduzidos
propositadamente na análise, conforme se pode observar na Tabela 8.2.
Alguns desses veículos não podem trafegar nas regiões urbanas, mas, mesmo
que fossem permitidos, não seriam selecionados. Isso porque a restrição de
tempo, quase sempre mais severa, força a escolha de veículos menores.
Outros Condicionantes
A análise do processo de distribuição que apresentamos não se esgota aqui.
Há questões importantes que não foram analisadas e que influem decisiva-
mente na seleção do tipo de veículo e no dimensionamento da frota. É o que
discutiremos resumidamente a seguir.
A primeira questão a colocar é sobre a natureza das variáveis, a maior
parte delas aleatória. Por exemplo, o tempo de percurso entre o CD e o bol-
são de entrega não é determinístico, mas varia diariamente em função das
condições de tráfego, da meteorologia, do motorista e de outros fatores im-
previsíveis. Os tempos de parada nos pontos de entrega também variam, pois
dependem basicamente da rapidez no recebimento, do tamanho do lote e
das condições de estacionamento na porta do cliente. A quantidade de mer-
cadoria entregue para cada cliente, por sua vez, flutua com os pedidos, po-
dendo variar de caso para caso, oscilando no tempo e também em função das
variações sazonais da demanda.
A análise estatística dos tempos que compõem o ciclo de um roteiro vai
fornecer o tempo médio de ciclo (TC) e seu desvio-padrão σTC. Como o tem-
po de ciclo é formado por uma série de tempos estatisticamente independen-
tes, a distribuição resultante pode ser representada por uma normal. É o que
mostra a Figura 8.7.
Define-se um nível de confiança estatístico para fins de dimensiona-
mento do sistema, digamos, 98% de certeza. Entrando numa tabela estatísti-
ca da distribuição normal, podemos extrair o limite superior esperado para a
variável considerada, no caso o tempo de ciclo TC. Para nível de confiança
de 98% e distribuição monocaudal, temos
Distribuição
normal
Probabilidade
de exceder TCMÁX
TC TCMÁX
Tempo de ciclo
FIGURA 8.7 • Tempo de ciclo regido por uma distribuição normal
272
77 75
79
80 73
74
81 78 76
61
69 68 72
60 67
58 59 66 65
64
71
56 57 39 38 37 36 35
40 34 63
41 33
55 42 32
54 17 16 15
18 14 70
53 43 31
19 13 62
52 44 20 5 4 3 48
51 12
45 6 2 30
21
1
50 7
46 26
22 11
9
8 • 81 bolsões
47 23
10
• Veículo com 500 kg
25
49 24 de capacidade
29 27
28
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274
9
Operadores
Logísticos
INTRODUÇÃO
Indícios históricos parecem revelar que a contratação de serviços de armaze-
nagem e de transporte é uma prática por demais antiga. No que se refere à
armazenagem, por exemplo, o livro do Gênesis relata a utilização de arma-
zéns (celeiros), controlados por superintendentes em todo o território do
Egito, com a finalidade de estocar as colheitas nos anos de fartura, garantin-
do assim a alimentação durante os sete anos de penúria que se seguiam. Indo
um pouco mais adiante na história, podem ser observados contratos de
transporte de bens, os quais foram diversas vezes utilizados pelos governos
como forma de transferir riscos a terceiros.
Apesar da prática antiga, a terceirização de serviços logísticos, na forma
conhecida hoje, ganhou força nas últimas décadas, principalmente dentro
dos conceitos do Supply Chain Management. Nos Estados Unidos, a
Armstrong & Associates2 (2006) estima que, em 2005, o valor da contrata-
ção de serviços logísticos de terceiros atingiu o valor de 103,7 bilhões de dó-
1
Professora Doutora, Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Fede-
ral de Santa Catarina (e-mail: monica@deps.ufsc.br).
2
Estimativa da Armstrong & Associates para 2006, disponível em http://www.3plogis-
tics.com/3PLmarket.htm, acesso em 24/08/2006. 275
lares, um aumento de 16% em relação ao ano de 2004, que foi de 89,4 bi-
lhões. Este valor girava em torno de 15 bilhões de dólares em 1994 (Sink et
al., 1996) e, até 1999, cresceu aproximadamente 25% ao ano, quando atin-
giu o valor de 45,3 bilhões (Wilson & Delaney, 2000). Esse crescimento não
é um fenômeno limitado ao território norte-americano, refletindo uma ten-
dência mundial.
A Logística, incluindo a prestação de serviços, é, ainda, um setor em
fase de crescimento e de transformação. Isso é resultado da propensão mais
intensa de as empresas terceirizarem serviços de uma maneira geral, quan-
do antes os realizavam por conta própria. Ao repassar serviços logísticos a
terceiros, fazem-no de forma integrada, contratando “pacotes” que incluem,
cada vez mais, serviços de maior valor agregado, com forte conteúdo infor-
macional.
No Brasil, observa-se a nítida inclinação das empresas a lançarem mão
do outsourcing de serviços logísticos. Daí a razão para dedicarmos um capí-
tulo deste livro ao assunto. Iniciaremos com uma discussão sobre o aumen-
to da propensão a terceirizar serviços logísticos, bem como um breve histó-
rico sobre a evolução deste setor. Isso nos permitirá entender as recentes
mudanças que desencadearam o processo. A conceituação dos prestadores
logísticos, suas origens e a classificação dos mesmos serão discutidas em se-
guida. Em particular, procuraremos conceituar um tipo específico – o ope-
rador logístico – e apresentar um novo ator nesse mercado: o integrador
logístico.
A forma de contratação desses serviços também evoluiu e tornou o pro-
cesso de seleção de fornecedores mais complexo. Com o objetivo de estabe-
lecer um referencial prático para o problema de escolher um prestador de
serviços logísticos, apresentaremos um modelo conceitual para sua imple-
mentação. Por fim, discutiremos as novas tendências e desafios que tendem a
incrementar ou restringir a expansão deste mercado. Em especial, tratare-
mos das novas tecnologias de informação e do seu impacto na indústria de
prestação de serviço logístico.
EVOLUÇÃO DO SETOR
O abandono do paradigma da verticalização, nas modernas cadeias de supri-
mento, cria demandas que são, em grande parte, supridas por outros agentes
econômicos. Parte desses agentes surgiu da redefinição ou ampliação de seus
antigos negócios (as empresas transportadoras, por exemplo), dando origem
aos novos prestadores de serviços logísticos. Outras empresas, por sua vez,
nasceram mais recentemente na onda da tecnologia, e oferecem serviços lo-
gísticos baseados principalmente na larga utilização da informação e da co-
municação, bem como na administração de serviços. Essa última categoria
de prestadores de serviços vem ganhando importância à medida que as ca-
deias de suprimento abandonam a estrutura vertical, o que aumenta a neces-
sidade de coordenação das atividades interfirmas.
Os prestadores de serviços logísticos são originários de vários setores:
grande distribuição, indústria, setor de transporte e armazenagem e setor de
serviços. Detoni (2003) observou que, a exemplo da Europa e Estados Uni-
dos (Lieb & Randall, 1999a; Paché, 1994), a maior parte dos prestadores de
serviços logísticos que atuam no Brasil é originária do setor de transporte ro-
doviário – Águia Branca, Expresso Joaçaba, Ouro e Prata, Transportadora 279
Cometa, TA Logística, Delta Records, Estrada, Hércules, Itamarati, Jamef,
Real, Rod. Transbueno e Transportadora Grande ABC – ou são as operado-
ras logísticas estrangeiras que se instalaram no país – Ryder Logistics, Danzas
e TNT Logistics (Tabela 9.1).
Indústria 3 2,38
Outros 5 3,97
Esse conceito traz a ideia central subjacente às definições citadas por vá-
rios autores (Razzaque e Sheng, 1998; Sink, Langley Jr. e Gibson, 1996;
Sink e Langley Jr., 1997; Africk e Calkins, 1994). Fica implícito no uso do
termo “operador logístico”, a coordenação e a integração de um conjunto de
atividades logísticas, mesmo que seja restrito (armazenagem e transporte,
por exemplo) e um grau de sofisticação e avanço compatível com o observa-
do nas modernas cadeias de suprimento.
A ABML (Associação Brasileira de Movimentação e Logística), por sua
vez, apresenta a seguinte definição de operador logístico:
4
Serviço one-stop é aquele em que o cliente estabelece um contrato de longo prazo com um pres-
tador de serviço, de tal forma que qualquer solicitação de atendimento é feita apenas através dele,
sem burocracia, por meio de um único contato (EDI, Internet, fax, telefone).
5
Case disponível em http://logistics.kuehne-nagel.com/cs/KN_case_Nortel_Lead_Logistics_061504.pdf, visi-
tado em 25/08/2006. 283
CLASSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES LOGÍSTICAS
As várias atividades logísticas, susceptíveis de serem subcontratadas, podem
ser agrupadas de acordo com sua posição na cadeia de suprimentos, na for-
ma apresentada no esquema da ABML (Figura 9.1). Identificam-se dois
grandes grupos (logística de suprimento e logística de distribuição) e seis
subgrupos, que representam portfólios de atividades de natureza variada.
Em geral, os operadores logísticos se ocupam do conjunto de atividades
relacionadas a um dos dois grupos, chamados respectivamente de logística de
entrada ou de suprimento (inboud logistics) e logística de saída ou de distribui-
ção (outbound logistics). A Rapidão Cometa, por exemplo, tem como especia-
lidades: gerenciamento de centros de armazenagem e distribuição, separação
de pedidos (pickings), montagem de kits especiais, gerenciamento de estoques
e transporte. Outras empresas têm unidades especializadas na realização de
ADMINISTRAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO
FORNECEDORES MANUFATURA CLIENTE CONSUMIDOR
MATERIAIS FÍSICA
! Acompanhamento dos ! Apoio à produção: ! Embalagem de ! Recebimento de ! Entrega de produtos ! Entrega direta do
pedidos a fornecedores: kanban e JIT, produto acabado ou produto acabado e secos ou refrigerados fornecedor ao consumidor
rastreamento de pedidos preparação de kits de semiacabado semiacabado ! Abastecimento de ! Serviços de atendimento
rastreamento de veículos produção ! Unitização: paletização ! Desconsolidação gôndolas ao consumidor
! Recebimento de materiais e abastecimento de linha de produto acabado e ! Conferência física, ! Retirada de pallets vazios ! Gestão de informações
componentes ! Armazenagem semiacabado quantitativa e ! Coleta de mercadorias logísticas
! Conferência física, ! Gestão de informações ! Conteinerização documental ! Prestação de contas
devolvidas
quantitativa e documental logísticas ! Armazenagem ! Nacionalização de ! Gestão de informações ! Medidas de desempenho
! Transporte primário ! Prestação de contas ! Identificação de produtos importados logísticas (performance)
! Controle e pagamento de ! Medidas de volumes ! Armazenagem ! Prestação de contas
fretes desempenho ! Conferência física, ! Controle de estoques ! Medidas de desempenho
! Paletização de materiais e quantitativa e ! Embalagem
componentes documental
! Unitização
! Armazenagem ! Montagem de kits
! Separação (pick/pack)
! Controle de estoques comerciais de produto
acabado ! Montagem de kits
! Identificação de volumes
! Roteirização comerciais
! Expedição de materiais e ! Identificação de
! Geração e controle de
componentes volumes
documentos
! Gestão de informações ! Roteirização
! Expedição industrial
logísticas
! Geração e controle de
! Estudos de viabilidade ! Distribuição direta da
documentos
fábrica, transferência
! Prestação de contas ! Expedição de produtos
para centros de
! Medidas de desempenho distribuição ! Distribuição direta da
! Rastreamento de fábrica, de CDs e
veículos transferência entre CDs
! Crossdocking ! Crossdocking
! Controle e pagamento ! Rastreamento de
de fretes veículos
! Gestão de informações ! Controle e pagamento
logísticas de fretes
! Prestação de contas ! Gestão de informações
! Medidas de logísticas
desempenho
Aumento da complexidade
Contratos
de serviços Contratos de
e customização
logísticos serviços logísticos
físicos integrados
Contratos de
Serviços serviços logísticos
básicos de administração
G frota própria;
G armazéns próprios;
G equipamentos de movimentação manual, que não exigem treinamen-
to de pessoal para sua utilização e são usados principalmente na mo-
vimentação de cargas unitizadas em pallets.
TNT Logistics
Fator propriedade
de ativos
Rapidão
Cometa
Fator arco
(ligações entre facilidades)
6
Consulte: http://www.rapidaocometa.com.br/site/downloads/cometa-abril2006.pdf. 299
pedido, que será entregue pelo PSL ao cliente final. O prestador de serviço
logístico, além de ser responsável pela distribuição, também realiza ativida-
des de armazenagem, preenchimento de pedidos e logística pós-venda.
As expectativas do comércio eletrônico fazem com que os embarcado-
res passem a subcontratar não somente a entrega final ao consumidor, mas
todas as atividades relacionadas à distribuição física, como forma de garantir
os níveis de serviço atualmente exigidos. Isso amplia a gama de serviços lo-
gísticos oferecidos, à medida que novas atividades vão sendo incorporadas.
Nessa linha, destacam-se: o postponement ou postergação, em que os PSLs
passam a realizar atividades de finalização do processo de produção, como
montagem final de produtos; os serviços de logística pós-venda, como é o
caso da coleta e posterior devolução de aparelhos submetidos a conserto etc.
(veja Capítulo 2).
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302
10
Roteirização
de Veículos
CONCEITUAÇÃO
Um problema real de roteirização é definido por três fatores fundamentais:
decisões, objetivos e restrições (Partyka e Hall, 2000). As decisões dizem res-
peito à alocação de um grupo de clientes, que devem ser visitados, a um con-
junto de veículos e respectivos motoristas, envolvendo também a programa-
ção e o sequenciamento das visitas. Como objetivos principais, o processo de
roteirização visa propiciar um serviço de alto nível aos clientes, mas ao mes-
mo tempo mantendo os custos operacionais e de capital tão baixos quanto
possível. Por outro lado, deve obedecer a certas restrições. Em primeiro lu-
gar, deve completar as rotas com os recursos disponíveis, mas cumprindo to-
talmente os compromissos assumidos com os clientes. Em segundo lugar, 303
deve respeitar os limites de tempo impostos pela jornada de trabalho dos
motoristas e ajudantes. Finalmente, devem ser respeitadas as restrições de
trânsito, no que se refere às velocidades máximas, horários de carga/descar-
ga, tamanho máximo dos veículos nas vias públicas etc.
Na prática, problemas de roteirização ocorrem com bastante frequên-
cia na distribuição de produtos e de serviços. Alguns exemplos são listados a
seguir:
CD
Bolsão de Clientes
distribuição
FIGURA 10.1 • Roteiro simples (12 clientes) num bolsão de distribuição
Ponto
inicial
L = 55,69 km
FIGURA 10.2 • Aplicação do método do vizinho mais próximo para obtenção
de uma solução inicial para o PCV
I I
J J
K K
L L
IK £ IC + CK
IK + JL £ IL + JK
JL £ JC + CL
FIGURA 10.3 • Eliminação de cruzamento num roteiro do PCV
306
4 4 4
3 3 3
2 6 6
5 2 2 6
5 5
4 4 4
3 3
3
6 2 6
2 6 2 5
5 5
K K
L L
arcos a modificar
J J
I I
roteiro
básico
4 5 6 7
36 clientes
L = 43,68 km
FIGURA 10.7 • Roteiro obtido através da aplicação do método 3-opt sobre o resultado
inicial apresentado na Figura 10.2
309
O PCV – Problema do Caixeiro-Viajante – apresenta dificuldades cres-
centes de resolução (tempo de processamento) quando o número de clientes
aumenta. Problemas de pequeno porte são facilmente resolvidos, enquanto
problemas maiores, com número de pontos visitados maior do que 100, re-
querem tempos de processamento apreciavelmente mais elevados.
G método de varredura;
G método de Clarke e Wright.
Método de Varredura
É um método fácil de se usar e de computação rápida. Mas é menos preciso
que o método de Clarke e Wright e deve ser utilizado com certo cuidado, de
forma a evitar distorções nos resultados. Algumas limitações ficarão claras
através do exemplo. Segundo Ballou (1999), o método de varredura apre-
senta precisão de 10%, tomando como referência a solução ótima absoluta.
Esse nível de precisão pode ser aceitável em situações em que as característi-
cas do problema mudam muito rapidamente, sendo preferível obter uma so-
lução razoável, num prazo curto, do que a solução ótima, num período de
tempo incompatível com as necessidades reais. Ballou ( 1999) indica que há
situações em que os encarregados da elaboração de roteiros têm que desen-
volvê-los, muitas vezes, num prazo de uma hora após terem recebido os da-
dos sobre os pontos de entrega e as quantidades a transportar.
O método de varredura consta da seguinte sequência de procedi-
mentos:
Região Região
atendida atendida
Clientes Clientes
Roteiro 2
Ângulo Roteiro 3
variável
Roteiro 1
Eixo
CD CD
(a) (b)
312
Região de
distribuição
CG
Pontos a serem
visitados
(60 clientes)
CG – centro de gravidade
FIGURA 10.9 • Localização dos clientes e do centro de gravidade (CG) numa região
de distribuição
R3 R2
R1
R4
CG
R7
R5
R6
Região de
distribuição
R2
R3
R1
R4
CG
R7
R5
R6
FIGURA 10.11 • Roteiros obtidos com o método 3-opt, aplicado sobre os roteiros gerados
com o método da varredura
j j
D (depósito) D (depósito)
Etapa 5. Cada vez que acrescentar um ou mais pontos num roteiro ou quan-
do fundir dois roteiros num só, verificar se a nova configuração satisfaz as
restrições de tempo e de capacidade. Se atender aos limites das restrições, a
nova configuração é aceita.
Etapa 6. O processo termina quando todos os pontos (clientes) tiverem sido
incluídos nos roteiros.
1 7 50 10,65 11 31 50 9,50
2 30 56 10,19 12 7 30 9,48
3 6 30 10,03 13 6 16 9,47
4 50 51 10,03 14 7 56 9,46
5 6 56 9,92 15 45 49 9,44
6 7 51 9,83 16 16 38 9,43
7 30 50 9,61 17 16 56 9,35
8 16 30 9,58 18 4 50 9,28
9 50 56 9,55 19 4 7 9,26
10 7 31 9,52 20 31 56 9,23
(a) (b)
CD CD
50 50
Região de Região de
7 51 7
30 distribuição 30 distribuição
56 56 6
(c) (d)
CD CD
51 Região de 51 Região de
7 30 7
distribuição 30 distribuição
31 56 31 56
6 6
16
(e) (f)
CD CD
50 50
51 Região de Região de
7 51 7
30 distribuição 30 distribuição
45 49 31 56 45 49 56
6 6
16 16
38
(g) (h)
CD
CD
R2
R3
CG
R4
R5
R6
Região de
distribuição
R1
R2
R3
CG
R4
R5
R6
321
Comparando os resultados obtidos através das duas metodologias, ob-
servamos que o método de Clarke e Wright é mais preciso. De fato, os se-
guintes benefícios são obtidos pela utilização do segundo método em relação
ao primeiro, na aplicação analisada:
322
Tabela 10.3 Características dos roteiros gerados pelo método de Clarke
e Wright (veículos de 4t, jornada de 8h/dia)
Roteiro Número de clientes Tempo de ciclo diário Lotação do veículo (t)
1 21 5h42min 3,9
2 22 6h 4,0
3 17 4h36min 3,9
Região de
distribuição
R1
R2
323
É importante observar que a definição das condições operacionais para
um sistema de distribuição física é um processo relativamente complexo, que
transcende a mera aplicação de métodos de roteirização ou de softwares es-
pecializados. De fato, há muitas variáveis em jogo e, além disso, os resulta-
dos são muito sensíveis a mudanças nas condições operacionais.
1 31 8h18min 5,9
2 29 7h48min 5,9
SOFTWARES DE ROTEIRIZAÇÃO
Hoje se dispõe, no mercado, de um número razoável de softwares de
roteirização, que ajudam as empresas a planejar e programar os serviços
de distribuição física. A publicação OR/MS Today, do Institute for Opera-
tions Research and Management Sciences, realiza periodicamente uma
pesquisa junto a fornecedores de softwares de roteirização e usuários
(Hall, 2006). Apresentamos, nesta seção, um resumo das principais carac-
terísticas de alguns dos roteirizadores mais conhecidos. Não é nossa in-
tenção recomendar nem tampouco discriminar qualquer fornecedor, mas
apenas fornecer alguns dados preliminares, para apreciação dos leitores.
Para mais informações, pode-se consultar diretamente os sites dos forne-
cedores na Internet.
Tendências Tecnológicas
Há algum tempo, os despachantes localizados nos depósitos e centros de dis-
tribuição só conseguiam falar com os motoristas dos veículos através de rá-
dio, e assim mesmo quando estavam dentro da área de alcance das transmis-
sões. Muitas vezes, no entanto, o contato só era realizado em algumas
ocasiões em que o motorista conseguia um acesso telefônico e ligava para a
sede. Hoje, as possibilidades são muitas e a oferta ainda está crescendo: tele-
fones celulares, pagers alfanuméricos, scanners portáteis e pequenos compu-
tadores de bordo.
Muitos veículos são hoje equipados com RFID e rastreadores, muitas
vezes dispondo de receptores GPS (Global Positioning System), que forne-
cem a latitude e a longitude do caminhão real-time. O GPS, combinado com
uma base geográfica de dados (GIS) e comunicação por satélite, permite ao
324 despachante localizar o veículo, na rede viária, a qualquer instante. Essa faci-
lidade permite alocar o veículo mais próximo e disponível a uma tarefa
emergencial. Também é usada largamente na alocação dos veículos para
apanha real time de pacotes e documentos.
A Internet vem também sendo usada cada vez mais em associação
com a roteirização de veículos. Por exemplo, permite aos usuários visuali-
zarem informações sobre seus pedidos. Permite também que os clientes
submetam seus pedidos eletronicamente. Uma tendência que está se fir-
mando, embora ainda embrionária, é a Internet móvel ou sem fio (veja
Capítulo 3). As pessoas, carregando pequenos aparelhos de mão, podem
acessar uma gama muito grande de informação. Assim, os motoristas dos
veículos de distribuição poderão não somente se comunicar com a sede,
como também obter informações sobre tráfego e sobre condições de tem-
po, como adicionalmente trocar mensagens com os clientes e solicitar so-
corro, quando necessário.
326
fornecedor do software, se não dispõe dessa base de dados, deve indi-
car como adquiri-la.
G Em algumas aplicações, os clientes não são fixos, mas variam diaria-
mente. É o caso, por exemplo, das lojas de departamento, que ofere-
cem serviço de entrega a seus consumidores. Os pontos de entrega
mudam continuamente, o que dificulta a elaboração dos roteiros,
uma vez que o sistema não pode usar um cadastro dos clientes previa-
mente preparado, na forma usual.
327
328
ETMS – EDGAR Edgar Manag. Consulting 1973 n.d. taxa anual n.d.
Optrak4 Optrak Distribution Software 2001 a partir de 28.000/ano incluído na licença anual 10 dias
Paragon Routing & Scheduling System Paragon Software Systems, Inc. 1997 62.000 (100 rotas) 94 – 116/hr 80 horas
Roadnet Transportation Suite UPS Logistics Technologies 1983 n.d. 120/hora 80 horas
TourSolver for MS Map/Point Scheduling Magellan Ingenierie 2002 a partir de 4.000 n.d. n.d.
Versa Trans RP Versa Trans Solutions, Inc. 1982 n.d. n.d. 4 horas
(Continua)
Tabela 10.5 Continuação
o
N de organizações
que utilizam o
Produto Tamanho máximo da aplicação software Instalações mais significativas
No de visitas por dia o
N de veículos
o
N de CDs
A.MAZE Ilimitado Ilimitado Ilimitado entre 1e 100 NAPA, Purolator, Craft Oil, Pepsi, Galderma, Hogan
Harwoods, McPherson Oil, Tanguay Furnitures
ArcLogistics Route Ilimitado Ilimitado Ilimitado entre 500 e 1000 n.d.
Descartes Delivery Ilimitado Ilimitado Ilimitado n.d. Coca-Cola (Rep. Checa), Schwan´s, Ashley Furniture, Old
Dominium Freight Lines, Ferreligas, Tomra
Direct Route Ilimitado Ilimitado Ilimitado entre 500 e 1000 Walgreens, Ryder, Schneider, Kraft, Dunkin Donuts,
Tru-Value, Atrium, Goldkist, Swift, Ruan, Simmons
ETMS EDGAR limitado pela limitado pela limitado pela entre 1e 100 Fort Worth School District, San Francisco Unified School
capacidade memória capacidade memória capacidade memória District
GalaxyFlow 4.2 Ilimitado Ilimitado 200 entre 1e 100 Grandes transportadoras carga parcelada
ILOG Dispatcher limitado pela limitado pela limitado pela entre 1e 100 TNT Express, JB Hunt, Schneider National
capacidade memória capacidade memória capacidade memória
ILOG Transp. limitado pela limitado pela limitado pela entre 1e 100 n.d.
PowerOps capacidade memória capacidade memória capacidade memória
Network Analyst Ilimitado Ilimitado Ilimitado > 1000 n.d.
Optrak4 40.000 1.000 1 entre 100 e 500 Total Elf, Shell, Matthew Clark Wholesale, Robert Horne
Paragon Routing & 20.000 3.000 500 entre 100 e 500 McLane, TNT, Ryder Canada, Spirit Delivery, Safeway, Ryder
Scheduling System BrandsMart
PlanOp Ilimitado Ilimitado Ilimitado entre 1e 100 Correio Austrália, Schweppes Austrália
REACT Ilimitado Ilimitado Ilimitado entre 1e 100 n.d.
Roadnet Ilimitado Ilimitado Ilimitado > 1000 Anheuser Busch, Office Depot, Pepsi, Sysco, Mohawky
Transportation Suite Industries, Apria Healthcare
SHORTREC Suite Ilimitado Ilimitado Ilimitado entre 100 e 500 Coca-Cola, InBev, BP, DHL, Yellow Transportation, Phillips,
Royal Ahold.
STARS 4.2 Ilimitado 150 30 entre 1e 100 New Nihon Oil, Takenaka Corporation
TourSolver for MS n.d. n.d. n.d. entre 100 e 500 n.d.
Map/Point Scheduling
TruckStops Routing & Ilimitado Ilimitado Ilimitado > 1000 The Home Depot, Chicago Tribune, fastenal, King Provision
Scheduling
TS n.d. n.d. n.d. entre 100 e 500 Iowa Department of Transportation, South Carolina
Department of Transportation
Versa Trans RP Ilimitado Ilimitado Ilimitado entre 500 e 1000 Buffalo-NY, Orleans parish – LA, Davis County,
Albuquerque, Fort Wayne, Dayton
Fonte: Hall, 2006.
32
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330
11
O Custeio
ABC na
Logística
CUSTO MARGINAL
O conceito de custo marginal é de fundamental importância nas análises
econômicas ligadas ao setor público. Isso porque, segundo a economia do
bem-estar (Wellfare Economics), o preço a ser cobrado pelo uso de um servi-
ço público, e que maximiza o bem-estar, está diretamente ligado ao custo
marginal. No setor privado, a determinação do custo marginal pode também
ser de grande utilidade, em muitos casos.
Suponhamos que um determinado serviço prestado por uma empresa
gere um custo total mensal conforme a curva mostrada na Figura 11.1. O
custo total apresenta uma parcela fixa e outra variável em relação ao volume
oferecido. Num certo momento, a empresa está operando com um volu-
me mensal VA, correspondente ao ponto A na Figura 11.2. Suponhamos que
um cliente potencial deseje contratar os serviços da empresa. Se isso ocorrer,
o volume mensal produzido passará para VB, correspondente ao ponto B, na
Figura 11.2. Os custos totais passariam então de CA para CB. Admitindo que
o acréscimo ΔV = VB – VA seja pequeno relativamente a VA, a diferença de cus-
to ΔC = CB – CA representa o custo marginal de se atender o novo cliente.
Vamos ilustrar o conceito de custo marginal com um exemplo simples.
Uma empresa transportadora faz regularmente a transferência de produtos
336 de uma cidade A para uma cidade B, situadas dAB = 1.000 quilômetros entre
Custo Função
custo
Custo
variável
Custo
fixo
Volume produzido
Custo
CB
DC B
CA
A
DV Volume V
VA VB
FIGURA 11.2 • Variação marginal do custo
B
B
dBC
dAB
dAB C
dBA
dCA
A
A
Situação (A) Situação (B)
FIGURA 11.3 • Serviço marginal: carga de retorno
337
dBC = 150km. A viagem entre C e A apresenta distância e tempo praticamen-
te igual ao do trecho entre B e A. Qual o custo marginal dessa operação?
O custo marginal é simplesmente a soma do custo fixo de meio dia com
o custo variável correspondente a 150km, ou seja:
Custos indiretos
Materiais
Componentes (direto)
de custo
0%
convencional hierárquico integrado
UM EXEMPLO SIMPLES
A literatura sobre custeio baseado em atividades apresenta um exemplo pa-
drão, que nos ajuda a melhor entender os conceitos e objetivos desse método
(Kaplan, 1998; Kaplan e Cooper, 1998). São consideradas, no exemplo,
duas indústrias quase iguais. A indústria A produz um milhão de canetas es-
ferográficas por ano, todas iguais, na cor azul. O fabricante B, por sua vez,
também produz um milhão de canetas por ano, mas de tipos, tamanhos e co-
res diferentes. Esse segundo fabricante, num ano típico, produz cerca de
1.000 variedades diferentes de canetas. Alguns tipos especiais de caneta, fa-
bricados sob encomenda para serem oferecidos como brinde por grandes
empresas, não passam de 100 a 200 por ano. Mas a indústria B também pro-
duz canetas comuns (azul, preta e vermelha), cuja produção anual atinge cer-
ca de 100.000 unidades.
340
Apesar de ambas produzirem a mesma quantidade de canetas, a indús-
tria B precisa de muito mais recursos para fabricar seu variado mix de produ-
tos. Relativamente à empresa A, a indústria B necessita de maior equipe téc-
nica de planejamento e de controle da produção, mais empregados para pro-
gramar e fazer o set up das máquinas, inspecionar a qualidade dos produtos,
acompanhar a execução dos pedidos, projetar novos produtos e aperfeiçoar
os existentes, negociar com os fornecedores, inspecionar a matéria-prima e
os componentes recebidos e atualizar as bases de dados do sistema de infor-
mação da companhia. Adicionalmente, a empresa B vai operar com níveis
bem mais elevados de tempo de espera entre os diversos processos de fabri-
cação, tempos de set up, horas extras dos funcionários, bem como de esto-
que de insumos e de rejeitos. Mesmo apresentando o mesmo output físico, o
custo de aquisição da matéria-prima para a empresa B tende a ser maior, vis-
to que coloca pedidos menores para uma série de itens, ao contrário da in-
dústria A, que consome uma variedade bem menor de insumos. Finalmente,
é de se esperar que a firma B apresente um custo de administração maior, já
que tem maior trabalho nos setores de marketing e vendas, finanças, conta-
bilidade e compras, principalmente.
A análise tradicional de custos começa com a escolha de um fator expli-
cativo básico, de natureza físico-operacional, que permita à gerência e à dire-
toria da empresa a gestão econômico-financeira do negócio. Esse fator expli-
cativo é normalmente algo que exprime o volume de produção. No caso da
fabricação de canetas, a escolha natural seria o número de canetas produzi-
das. No caso da indústria A, não haveria maiores problemas em calcular o
custo unitário: basta dividir a soma do custo total pelo número de canetas
produzidas para se obter o valor unitário. Já para a empresa B, o cálculo re-
quer maior detalhamento. Para isso, parte-se dos conceitos clássicos de custo
fixo e de custo variável.
A empresa B consegue medir as quantidades de matéria-prima utiliza-
das em cada tipo de caneta. Isso porque, no projeto da caneta, estão especifi-
cadas as quantidades de cada insumo, o que possibilita calcular o custo unitá-
rio da matéria-prima. Por outro lado, medindo no chão de fábrica as sobras e
as perdas de materiais, se chega a uma estimativa do custo adicional corres-
pondente. Assim, pode-se avaliar, com precisão satisfatória, os custos unitá-
rios de matéria-prima para cada tipo de caneta produzida. Como esse custo é
proporcional ao número de itens, esse elemento é um custo variável. De for-
ma semelhante, é possível calcular os custos variáveis de utilização das má-
quinas na fábrica, de mão de obra direta, e de outros fatores de produção.
Outros gastos, como as despesas de administração, por exemplo, não
estão diretamente ligados a um determinado tipo de produto, mas sim à ope-
ração da empresa como um todo. São custos fixos, pois não variam direta-
mente com a quantidade produzida. Mas a empresa precisa estimar de algu- 341
ma forma esses custos, individualizando-os para cada tipo de produto.
Como o fator explicativo clássico, neste exemplo, é o número de canetas
produzidas, a forma tradicional de alocar o custo de administração a cada
produto é realizar o rateio com base nesse elemento. Por exemplo, suponha-
mos que um determinado tipo de caneta tenha uma produção de 200.000
itens, ou seja, 20% do total. Tomamos 20% do custo de administração e di-
vidimos esse valor por 200.000, obtendo assim a parcela alocável à atividade
em questão para o tipo de produto considerado. O mesmo é feito para ou-
tros tipos de custo fixo, tais como gastos com energia, vigilância, informáti-
ca, seguro e outros.
No caso da empresa B, a menos de uma pequena diferença no custo da
matéria-prima e nos custos variáveis, o resultado do processo de custeio le-
varia a valores quase iguais para todos os tipos de canetas fabricadas. Se os
preços das canetas forem estabelecidos com base nesses custos estimados,
poderão ocorrer distorções sérias. Em geral, os produtos mais elaborados te-
rão seus custos subestimados, enquanto os produtos de menor dificuldade
de fabricação terão seus custos superestimados.
Por que isso acontece? Hoje, na era da informação, os custos fixos
têm uma participação muito grande nos custos do produto, quando
comparados com os custos variáveis. Isso acontece por várias razões.
Em primeiro lugar, os custos de mão de obra direta caíram para uma
porcentagem relativamente baixa na formação do custo dos produtos
(Figura 11.4). Segundo, a competitividade global e crescente entre as
empresas tem levado a produzir itens mais sofisticados, em termos tec-
nológicos e de acabamento, bem como a esforços de marketing e serviços
de pós-venda mais diferenciados. Em terceiro lugar, a atual tecnologia de
computadores e de sistemas de informação tem levado a um crescimento
exponencial nas atividades de obtenção e uso de dados e de informações
no domínio empresarial. Esses avanços nas operações e na gestão das em-
presas ocasionaram um aumento expressivo nos custos fixos. Por outro
lado, os preços das matérias-primas não cresceram na mesma proporção
dos demais custos, e o impacto do custo da mão de obra vem caindo em
decorrência da automação industrial.
Dessa forma, os custos variáveis, diretamente alocáveis aos diferentes
tipos de produto, passaram a ter menor participação no cômputo dos custos
de produção. Assim, uma fábrica de canetas da década de 1940 tinha uma es-
trutura de custos baseada predominantemente nos custos variáveis. Mas,
para a indústria B de nosso exemplo, esse tipo de cálculo de custos seria ex-
tremamente prejudicial, pois levaria, de um lado, a custos subestimados para
os itens especializados e de baixo volume, e, de outro, a custos superestima-
dos para os produtos de tipo comum e de volume elevado. O que fazer então
342 para corrigir essa distorção?
O MÉTODO DE CUSTEIO ABC
Eventos, Transações e Atividades
Um dos objetivos do método ABC é ir a fundo na explicação da composição
dos custos da empresa e da cadeia de suprimento. A meta principal dessa téc-
nica de custeio é alocar custos que reflitam ou “espelhem” a dinâmica físi-
co-operacional da empresa (Ostrenga et al., 1993). De uma maneira geral,
os recursos da empresa são consumidos na realização de atividades diversas,
e estas são executadas para gerar produtos ou serviços que, por sua vez, vão
ser alocados a clientes diversos. Temos então três estágios:
Direcionadores
Basicamente, o relacionamento entre os recursos utilizados pela empresa, as
atividades e os objetos das ações da empresa (produtos, serviços, clientes) se
apoia num conceito triplo:
Direcionador
de recurso
Medidas de
Evento Transação Atividades
desempenho
Direcionador
de atividade
Objetos de
processo
Baseado em Nakagawa (1994)
recebimento sequência
do pedido do processo
2 3
verificação coleta da
do cliente carga
4 5
entrega cobrança
pós-venda
entrega carregamento
dos produtos do veículo
aos clientes na doca
Atividade 1 Atividade 2
FIGURA 11.8 • Relação entre recursos e atividades
des,1 o custo de capital destes deve ser ligado a ambas. Finalmente, o pessoal
de operação nas docas está relacionado tão somente com a atividade 2. No-
tar que ainda não realizamos nenhum cálculo de custo, como também não os
alocamos às diversas atividades. Isso é feito posteriormente, depois que defi-
nirmos os direcionadores.
Para cada relação recurso/atividade devemos selecionar um direciona-
dor de recurso (resource driver), escolhido cuidadosamente entre os possí-
veis fatores explicativos, de forma a melhor representar a relação de causa
e efeito específica para cada caso. Por exemplo, a utilização de uma empi-
lhadeira no CD pode ser relacionada com o tempo de uso da mesma (R$/ho-
ra-máquina). Já a atividade expedição pode estar associada ao número de
notas de despacho, o esforço do setor de compras ao número de pedidos, e
assim por diante. A escolha de um direcionador de recurso para uma ativida-
de específica reflete um compromisso, até certo ponto subjetivo, entre preci-
são e facilidade de mensuração.
No exemplo da Figura 11.8, tanto para o recurso veículos como para o
custo de mão de obra, carga/descarga, o direcionador mais adequado é o
tempo de operação da atividade. Por outro lado, o recurso combustível/veí-
culos está diretamente relacionado com a quilometragem. A atividade entre-
ga dos produtos aos clientes utiliza os recursos 1 e 2, mas não o 3.
Observamos que a atividade 1, entrega dos produtos aos clientes, se re-
laciona com os recursos através de dois direcionadores diversos. O recurso
1, combustível, é explicado pela quilometragem, enquanto o recurso 2, veí-
culos, tem como direcionador o tempo de uso. Quando essa situação ocorre,
é necessário analisar o processo com mais detalhe. Pode ocorrer que uma das
1
Mesmo parado na doca, o veículo está sendo utilizado, pois seu uso fica bloqueado para possíveis
346 usos em outras atividades.
Recurso 1 Recurso 2
combustível capital
(veículos) (veículos)
Atividade 1 entrega
dos produtos
aos clientes
percurso entrega
percurso
dentro aos
CD – bolsão
do bolsão clientes
Ativ. 1.1 Ativ. 1.2 Ativ. 1.3
FIGURA 11.9 • Desdobramento de atividades no método ABC
Tipos de Direcionadores
Normalmente os direcionadores, no método ABC, são de três tipos: 347
G direcionadores de transação;
G direcionadores de duração;
G direcionadores de intensidade.
tempo de parada
x direcionador
nº de visitas
349
EXEMPLO DE CUSTEIO ABC NA TRANSFERÊNCIA DE PRODUTOS
A transferência de produtos, ou distribuição um para um, ocorre quando se
deslocam mercadorias da fábrica para o depósito do cliente ou para outro
destino qualquer, mas transportando um carregamento completo de cada
vez. Ou seja, o veículo parte de um ponto de origem e leva a carga para um
ponto de destino. Daí a expressão um para um (veja Capítulo 8).
Neste exemplo vamos considerar uma pequena transportadora que
atende dois clientes I e II, fornecendo serviços regulares de transferência de
carga, assim discriminados:
G duração da atividade;
G quilometragem percorrida;
G tonelagem transportada.
Total: 32.379,00
Total: 18.958,00
50000
Custeio empírico
45000
Custeio ABC
40000
Custo mensal (R$)
35000
30000
25000
20000
15000
10000
5000
0
Cliente I Cliente II
FIGURA 11.11 • Comparação do custo empírico e ABC para clientes I e II
354
Em primeiro lugar, a transportadora estimou em 5.000km a quilome-
tragem mensal percorrida para cada um dos caminhões de sua frota. Vimos
que a quilometragem mensal total da frota, no serviço I, é igual a 27.500km.
Como são alocados permanentemente 12 veículos a esse cliente, cada veícu-
lo percorre uma média de 27.500km ÷ 12 = 2.291,7km/mês, índice este
bem abaixo da quilometragem estimada pela transportadora. Para o serviço
II, são cobertos 33.000km mensais pela frota de 10 veículos, levando a uma
média de 3.300km por veículo e por mês, índice este também bem abaixo do
valor adotado pela transportadora. Assim, o custo variável (R$/km) estima-
do pela transportadora está bem acima do real.
Outro aspecto importante a considerar é a folga temporal observada no
aproveitamento dos veículos. Conforme estimativa apresentada, cada veícu-
lo fica disponível para as operações de transporte durante 235 horas por
mês. No caso do cliente I, cada viagem consome um tempo total dado por:
São realizadas 125 viagens por mês para atender o cliente I, levando a
um total de 125 × 18,0 = 2.250 horas de utilização mensal da frota no servi-
ço I. Uma vez que são alocados 12 veículos ao serviço I, a disponibilidade
mensal da frota para o serviço I é então 235 × 12 = 2.820 horas/mês. Há
assim uma folga de 2820 – 2250 = 570 veículos-horas por mês, ou cerca de
20% da disponibilidade de tempo. Essa folga observada no serviço I pode ser
necessária para acomodar variações diversas nas operações. Por exemplo, é
possível que o cliente I não mantenha um planejamento rígido de solicita-
ções para os serviços da transportadora. Nesse caso, ela é obrigada a manter
veículos de plantão para atender chamadas fora do programado. Isso expli-
ca, em parte, a alocação de frotas específicas para cada um dos dois clientes.
No entanto, seria conveniente analisar diretamente as operações por um de-
terminado período de forma a verificar se a transportadora poderia atender
o cliente I com 11 caminhões, em lugar de 12.
Fazendo a mesma análise para o serviço II, observamos que são gastas
20 horas para realizar uma viagem redonda entre A e C, e que são realizadas
400/8 = 50 viagens por mês. Assim, são consumidas 20 × 50 = 1.000 veícu-
los-horas por mês. Por outro lado, a disponibilidade de tempo da frota, com-
posta por 10 caminhões, é igual a 235 × 10 = 2.350 horas mensais, havendo
uma folga de 2.350 – 1.000 = 1.350 h/mês ou 57,4% da disponibilidade.
Observa-se, assim, que a frota alocada ao serviço II apresenta grande folga. É 355
possível que o cliente II não tenha uma programação organizada, solicitando
os serviços da transportadora em momentos imprevisíveis, não permitindo
assim que se faça uma alocação mais racional dos veículos.
Uma possível iniciativa de gestão da transportadora seria juntar as fro-
tas I e II de forma a reduzir o número total de caminhões e, consequente-
mente, reduzir os custos. Mas, para tal, seria necessário melhorar o sistema
de programação dos atendimentos aos clientes, buscando melhor entrosa-
mento e troca de informações entre as empresas, implantar um sistema de
custeio apropriado, além de outras medidas operacionais e de planejamento
adequadas.
Observe que a análise de custeio ABC pode levar à identificação de pon-
tos falhos na operação da empresa. Essa observação levou à evolução do
ABC para o ABM (Activity Based Management ou Gestão Baseada em Ativi-
dades), em que o processo não se exaure com a determinação dos custos,
mas é empregado adicionalmente para identificar falhas na operação e indi-
car possíveis soluções (Develin, 1995).
A seguir, apresentaremos uma aplicação do método de custeio ABC à
operação de um CD ou depósito.
G recebimento de produtos;
G inspeção e controle;
G armazenagem;
G expedição.
Total 624.000,00
Direcionador de recurso 10 10 18 13 51
(no empregados
equivalentes)
359
Tabela 11.8 Alocação dos custos de depreciação e manutenção
do prédio
Atividade Recebimento Inspeção Armazenagem Expedição Total
e controle
Tabela 11.9 Desagregação dos custos por recurso e por atividade (R$)
Atividade Recebimento Inspeção Armazenagem Expedição Total
Recurso e controle
362
Atividade “armazenagem”: a primeira constatação foi de que a empresa
não tinha registro do tempo de permanência das diversas categorias de
produto no armazém. Falava-se que o estoque girava, 24 vezes por ano,
correspondendo a uma permanência média de 15 dias. Mas esse índice
era geral, não havendo dados desagregados por categoria. Por outro lado,
todos os produtos são estocados em pallets, havendo um registro eletrô-
nico de sua movimentação na entrada e na saída da armazenagem. Ideal-
mente, o melhor direcionador para essa atividade seria o produto do nú-
mero de pallets pelo tempo médio de permanência no estoque, calculado
para cada categoria de produto.
Na falta de dados de permanência dos produtos no estoque, pensou-se,
numa primeira avaliação, em escolher a movimentação de pallets como dire-
cionador dessa atividade. Analisando mais atentamente o armazém, obser-
vou-se que havia posições de pallets reservadas para cada uma das três cate-
gorias de produtos. Conversando com o gerente do centro de distribuição,
percebeu-se que essa alocação não era aleatória, mas respondia satisfatoria-
mente às necessidades reais. Foi concluído então que o número de posições
de pallets, alocado a cada categoria de produto na área de armazenagem, re-
fletia razoavelmente o volume e o tempo de permanência no estoque, ado-
tando-o então como direcionador dessa atividade. Resultou nos valores indi-
cados na Tabela 11.13.
363
Tabela 11.14 Alocação dos custos de expedição às categorias de produtos
Produtos Artigos de
alimentícios Produtos higiene e
Categoria de produto não perecíveis enlatados beleza Total
Fator de
Rateio Inspeção
Supervisão complexi-
estimado e controle Produto 2
dade
o
Alocação N de posições
Equipamentos Armazenagem
direta de pallets
Produto 3
o
Instalações 2
N de caixas
m de área Expedição
fixas despachada
8 Categoria de produto
1 - Produtos alimentícios
6 não perecíveis
2 - Enlatados
4 3 - Artigos de higiene
e beleza
2 Método de custeio
0 convencional
1 2 3 ABC
–2
Categoria de produto
FIGURA 11.13 • Margens líquidas: método ABC e sistema tradicional
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369
12
Produtividade,
Eficiência e
Benchmarking
de Serviços
Logísticos
AS ATIVIDADES LOGÍSTICAS, dentro dos modernos conceitos do Supply Cha-
in Management, ganharam conotação estratégica ímpar, colaborando efeti-
vamente para a conquista de novos mercados, para a melhoria da competiti-
vidade e para o aumento do market share das empresas participantes da
cadeia de suprimento. Dessa forma, medir a eficiência e monitorar perma-
nentemente o desempenho das empresas e subsistemas da cadeia de supri-
mento passam a ser atividades de grande importância nesse contexto.
Neste capítulo discutiremos inicialmente os conceitos de produtividade
e de eficiência aplicados a problemas de logística. A seguir, analisaremos a
eficiência de unidades logísticas utilizando uma metodologia recente, deno-
minada DEA – Análise Envoltória de Dados (Data Envelopment Analysis).
Finalmente, abordaremos a questão do benchmarking, em que se procura
melhorar o desempenho de empresas ou subsistemas, tomando-se como re-
ferência as melhores práticas, isto é, aquelas que conseguiram apresentar
melhores níveis de produtividade e de eficiência.
MEDINDO A PRODUTIVIDADE
A produtividade de um sistema de produção (uma empresa, um setor da eco-
nomia ou mesmo uma nação) é definida como a relação entre o que foi pro-
duzido e os insumos utilizados para tal, num certo intervalo de tempo (Mo-
reira, 1991). Um sistema de produção é qualquer conjunto de elementos (ou
371
partes) que atuam de forma integrada e harmônica para transformar insu-
mos diversos em produtos ou serviços (Moreira, 1991). No domínio em-
presarial, podemos analisar a produtividade dos diversos setores da empre-
sa ou considerar um conjunto de firmas atuando num certo ramo de ativida-
de, ou mesmo a produtividade de um setor da economia.
Os insumos que o sistema utiliza e que geram produtos ou serviços são
também chamados de fatores de produção. Os sistemas de produção podem
ser vistos como sistemas de conversão de insumos em serviços ou produtos.
Essa conversão de insumos em outputs pode ser de vários tipos. Por exem-
plo, uma ferrovia utiliza vagões, locomotivas, pessoal, energia, via perma-
nente etc. (fatores de produção) para gerar transporte de passageiros e de
carga, medidos respectivamente em passageiros/km e toneladas/km (servi-
ços). Uma empresa varejista utiliza área de lojas, check-outs, funcionários,
veículos de transferência e distribuição, depósitos etc., para gerar fatura-
mento de vendas de um determinado mix de produtos.
Na maioria dos casos, os sistemas de produção consomem mais do que
um insumo. Podemos então calcular a produtividade considerando apenas
um dos fatores de produção por vez. Nesse caso a produtividade é dita par-
cial. Noutras vezes, consideramos simultaneamente todos os insumos, esta-
belecendo, para isso, uma soma ponderada desses inputs de forma a se ter
uma medida única dos mesmos. Essa medida da produção é denominada
produtividade total dos fatores (Moreira, 1991) e, obviamente, fornece
mais informação sobre o desempenho do sistema.
O problema é definir pesos adequados para os diferentes insumos, visto
que há infinitas possibilidades e, muitas vezes, a escolha dos pesos é feita
com certo grau de subjetividade. No entanto, existem metodologias um pou-
co mais sofisticadas que permitem medir com maior rigor a produtividade
total dos fatores para sistemas de produção.
Índices de Produtividade
É comum definir um ou mais índices de produtividade para um determinado
sistema de produção. Em alguns casos, são escolhidos índices parciais e, nou-
tros, índices totais. Os resultados servem então para comparar as diversas
unidades que formam o sistema em estudo. Os índices podem servir também
para comparar os elementos do sistema com outras unidades externas, de
desempenho semelhante.
Por exemplo, tomemos o caso de operadores logísticos operando no
país (Revista Tecnologística, março e junho de 2000). Um índice parcial, de
interesse para comparações, é o faturamento por m2 de armazém. Calculan-
do esse índice e o colocando num gráfico, obtemos o resultado mostrado na
372 Figura 12.1. Notamos que uma boa parte das empresas de pequeno porte,
com faturamento até cerca de R$15 milhões por ano, apresenta índice de fa-
turamento por área de armazenagem abaixo de R$200/m2. Mas outra parte
das empresas situadas nessa faixa de faturamento apresenta valores bem
mais elevados.
À medida que o faturamento cresce, observa-se uma tendência de au-
mento no valor do índice, tendência esta indicada pela reta, que foi ajustada
por regressão. Observa-se que, para faturamento tendendo a zero, o índice
esperado seria de R$200/m2. Por outro lado, para faturamento da ordem de
R$150 milhões por ano, o índice esperado é da ordem de R$450/m2. Há,
portanto, uma tendência de crescimento do índice com o tamanho da em-
presa. Ou seja, há economias de escala nesse processo. Por que, no entanto,
ocorrem oscilações tão pronunciadas nesse índice de produtividade, ao lon-
go da faixa de variação do faturamento?
Em primeiro lugar, devemos lembrar que há diferenças apreciáveis no
desempenho dos operadores logísticos. Muitas empresas têm anos de expe-
riência no setor, algumas também no exterior, enquanto outras são bastante
novas, com até dois anos de atividade. É óbvio que a tradição e a experiência
têm um papel muito importante na geração de resultados. Mas há um outro
aspecto que talvez explique melhor a razão para tal disparidade.
Tomemos, como exemplo, o caso da empresa Delara Transportes.
Apresenta um índice elevado, de R$1.428/m2 , para um faturamento anual
de R$65 milhões (Figura 12.1). Ora, apesar de oferecer serviços logísticos, a
empresa é uma transportadora tradicional e, portanto, uma boa parte de seu
faturamento é representada pelos resultados obtidos no transporte de mer-
1750
1500
Faturamento e armazenagem
Delara Transportes
1250
1000
750
tendência
500
250 Ryder
Colúmbia
0
0 25 60 75 100 125 150
Faturamento (milhões de reais)
FIGURA 12.1 • Operadores logísticos – variação de índice de produtividade
com o faturamento
373
cadorias. E, muito embora o transporte de cargas necessite de instalações de
armazenagem para a triagem dos produtos, as necessidades de área são bem
menores do que no caso de operadores logísticos, que oferecem espaço para
estocagem de mercadorias durante prazos bem mais longos, de semanas e até
meses.
Esse caso mostra a dificuldade em se analisar a produtividade com base
em índices desse tipo. Para se ter uma visão mais precisa do processo, seria
necessário desagregar os dados de faturamento e de utilização da área de ar-
mazenagem por tipo de serviço, no caso transporte, de um lado, e estocagem
de produtos, de outro. Mas isso nem sempre é fácil de se fazer. A desagrega-
ção do faturamento é relativamente simples, mas a utilização da área do ar-
mazém é mais complicada visto que, normalmente, ambas as atividades com-
partilham das instalações fixas, não permitindo uma identificação imediata
das áreas utilizadas em cada caso.
Noutras situações, índices parciais do tipo analisado podem canalizar
informações bastante interessantes para a análise da produtividade. Por
exemplo, para empresas supermercadistas, o índice de faturamento por m2
de loja é bastante utilizado nas análises comparativas. Na Figura 12.2 é mos-
trada a variação desse índice em função do faturamento, para as 50 maiores
empresas supermercadistas brasileiras (ABRAS, 1998). Pode-se observar que
o comportamento desse índice de produtividade é bem mais estável para su-
permercados do que para operadores logísticos. Para supermercados de me-
nor porte, nota-se uma dispersão grande em torno da tendência média (cerca
de R$10.000,00 de faturamento por m2 de loja). Mas, à medida que o porte
25.000
20.000
faturamento/área de loja
Índice de produtividade:
15.000
tendência
10.000
5.000
0
0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000
Faturamento (milhares de R$)
FIGURA 12.2 • Supermercados: índice de faturamento por m2 de loja
374
vai crescendo, a variação do índice vai se afunilando, mostrando maior uni-
formidade de comportamento.
Outros índices parciais são usualmente determinados, servindo de base
para as avaliações e comparações. Por exemplo, faturamento por funcioná-
rio, faturamento por check-out (no caso de supermercados) etc. No caso es-
pecífico de centros de distribuição, Frazelle e Goelzer (1999) citam como ín-
dices de produtividade o número de caixas ou pallets embarcados anualmen-
te, dividido pelo total de homens/horas empregado no mesmo período; índi-
ce de falhas, medido pelo número de caixas ou pallets despachados com er-
ros, dividido pelo número total de unidades despachadas; densidade de ar-
mazenagem, representada pelo número total de caixas movimentadas, divi-
dido pela área de estocagem do armazém etc.
Os índices parciais, embora forneçam elementos importantes para a
análise de produtividade, apresentam o inconveniente de representar aspec-
tos isolados do comportamento do sistema de produção. Assim, a análise da
produtividade total, sempre que for possível e prática, atende melhor às ne-
cessidades do analista. Uma metodologia muito utilizada para se conseguir
tal análise integrada é a da função de produção, normalmente ajustada aos
dados por meio de métodos estatísticos (regressão múltipla).
Função de Produção
É uma representação matemática da transformação de insumos (fatores de
produção) em produtos. De maneira geral, uma empresa utiliza uma série de
fatores de produção (mão de obra, instalações fixas, energia etc.), represen-
tados genericamente pelas variáveis x1, x2, ...xn, e transforma-os em produ-
tos (físicos ou serviços), representados pelas variáveis y1, y2, ...ym (Figura
12.3). A função de produção permite analisar a produtividade de um con-
junto de empresas de um determinado setor, e é definida como a relação en-
tre o que foi produzido e os insumos utilizados num certo intervalo de tem-
po (De Neufville e Stafford, 1971). O desafio desse tipo de análise é definir
X1 Y1
X2 Y2
PROCESSO
. .
. .
. .
Xn Ym
Insumos Produtos
FIGURA 12.3 • Transformação de fatores de produção (insumos) em produtos ou serviços
375
uma função matemática que possa representar adequadamente o processo
de transformação de um determinado setor da economia.
Normalmente, a função de produção é ajustada aos dados através de
métodos estatísticos. Um problema que ocorre frequentemente nesse tipo
de análise é que, muitas vezes, o output não é caracterizado por uma única
variável. No caso dos operadores logísticos, cuja produtividade analisare-
mos mais adiante neste capítulo por meio do método DEA, são considerados
dois outputs: o faturamento e o número de clientes atendidos pela empresa.
Os métodos clássicos só permitem considerar, em geral, uma única variável
como output.
Ao se ajustar uma função de produção, teoricamente não se deve lançar
mão de variáveis de natureza monetária. Isso porque os valores monetários
atribuídos aos insumos e aos produtos são, via de regra, condicionados ex-
ternamente pelo mercado, ficando sujeitos a variações sensíveis e introdu-
zindo ruído no ajuste da função de produção. Os princípios de microeco-
nomia nos dizem que, para um determinado setor e para uma determinada
tecnologia, o processo de transformação, considerando somente variáveis
não monetárias, guarda uma estrutura lógica global que nos permite fazer
análises amplas e estudar tendências. Ou seja, as empresas que atuam com
sucesso num determinado setor da economia, como, por exemplo, o super-
mercadista, procuram otimizar seus fatores de produção, atuando sobre va-
riáveis sob seu controle, a saber:
Função Função
2 Função de 6
custo receita
Produção
Y Função de
produção
Y* P (fronteira)
Produtos
B
Região Região de
não viável soluções
viáveis
X1 insumo X
FIGURA 12.5 • Fronteira de máxima produtividade
377
estiverem na fronteira, sobre a curva de produção, serão consideradas efi-
cientes.
Para ajustar uma função de produção a um conjunto de dados, precisa-
mos selecionar, de início, as variáveis da mesma e, a seguir, escolher um tipo
de função matemática para representar o processo. Esse tipo de modelo é de-
nominado paramétrico no jargão estatístico. Veremos que a DEA, a ser apre-
sentada e analisada mais adiante neste capítulo, é uma abordagem não para-
métrica, pois não requer a escolha a priori de um tipo de função matemática.
Há vários tipos possíveis de função de produção. Eles foram exaustiva-
mente estudados, juntamente com suas propriedades, por Shephard (1970),
num livro muito citado na literatura científica, mas de leitura um tanto difícil
em razão das formulações matemáticas.
Um tipo de função de produção muito utilizado pelos economistas é a
Cobb-Douglas, em que os insumos aparecem na forma multiplicativa, com
expoentes ajustados por meio de regressão múltipla:
y = a x 1b x 2c x 3d (12.1)
O número de clientes atendidos pela empresa, que faz parte dos dados
levantados pela Revista Tecnologística, não foi introduzido na regressão por-
que preferimos considerar essa variável como output e não como input. No
caso do processo clássico de regressão clássica, só podemos ter uma variável
como output. Mais adiante, neste capítulo, analisaremos o mesmo problema
com o método DEA, que permite considerar mais de uma variável como out-
put. Aí, então, essa variável fará parte dos outputs. 379
A função de produção a ser ajustada via regressão, do tipo Cobb-
Douglas, tem a seguinte expressão:
F = a T b 1 NF b 2 AR b 3 NV b 4 NE b 5 NS b 6 NT b 7 (12.2)
onde a, b1, b2, ..., b7 são coeficientes a determinar por meio da regressão
múltipla. Para o ajuste da função de produção (12.2) foi utilizado o pacote
Statistica, versão 5, após linearização das variáveis por meio de logaritmos.
Foram obtidos os resultados apresentados na Tabela 12.1. Um parâmetro
importante para avaliar a robustez do ajuste é o coeficiente de determinação
R2, também chamado de coeficiente de correlação linear múltipla. Esse coe-
ficiente representa a fração da variância da variável dependente explicada
pela regressão. Quanto mais perto da unidade for seu valor, melhor o ajuste.
No caso, obtivemos um valor R2 = 0,949, bastante satisfatório.
T b1 0,284 2,883
NF b2 0,496 6,852
AR b3 0,341 6,226
NV b4 0,192 –0,338
NE b5 0,234 3,153
NS b6 –0,078 –0,338
NT b7 –0,145 –1,153
2
Coef. de determinação R 0,949 –
380
Na verdade, o grau de significância estatística dessas três variáveis na
amostra não nos permite tirar nenhuma conclusão sobre seus efeitos na gera-
ção de receita para as empresas. O grau de significância dos coeficientes
pode ser analisado através da estatística t, de Student. Entrando na tabela
apropriada, disponível nos livros de estatística, com grau de liberdade G =
51 (G = no de casos na amostra, menos o número de coeficientes ajustados
= 59 – 8), observamos que os coeficientes b1, b2, b3, e b5 são significantes a
1%, enquanto os coeficientes b4, b6 e b7 não o são. A porcentagem indica a
margem de erro envolvida no ajuste, mostrando que as variáveis T, NF, AR e
NE explicam bem o processo.
Como consequência da análise estatística, foram excluídas da função de
produção as variáveis não significantes, e ajustada novamente a equação, re-
sultando nos valores apresentados na Tabela 12.2. Observa-se que, agora,
todos os coeficientes têm o sinal algébrico esperado, sendo significantes a
1%, de acordo com a estatística t, de Student.
T b1 0,255 2,726
NF b2 0,483 6,812
AR b3 0,343 6,449
NE b5 0,205 3,341
2
Coef. de determinação R 0,947 –
Empresas
Insumos (X)
FIGURA 12.6 • Tipos de ajuste da função de produção
X = v1 x1 + v2 x2 + ... + vM xM (12.6)
Y u y + u 2 x 2 +...+ u S y S
P= = 1 1 (12.7)
X v1 x 1 + v 2 x 2 +...+ u M y M
u1 y1 + u 2 y 2 +...+ u S y S
ϕE = (12.9)
v1 x 1 + v 2 x 2 +...+ v M x M
100
Embage
Cesamar Ryder
80
Eficiência DEA (%)
60
40
20
0
0 25 50 75 100 125 150
BENCHMARKING
Originalmente, a expressão benchmark refere-se a um marco geográfico de
referência fixo, com coordenadas e altitude conhecidas, utilizado para bali-
zar levantamentos topográficos. De forma mais geral, benchmarking pode
ser entendido como o processo de aferir medidas contra padrões predefini-
390 dos, numa bancada (bench). Mais particularmente, benchmarking é definido
como sendo os procedimentos sistemáticos utilizados para identificar as me-
lhores práticas observadas num determinado setor e modificar a atuação de
um determinado participante de forma a atingir um nível de desempenho su-
perior (Bowersox e Closs, 1996).
O benchmarking de empresas se apoia em duas premissas básicas. Em
primeiro lugar, admite-se que as firmas devam buscar aperfeiçoamentos contí-
nuos em todas as facetas de suas operações, se quiserem sobreviver. Isso signi-
fica que a empresa deve corrigir ou aperfeiçoar os processos, ou as atividades,
que estejam apresentando problemas, antes que se deteriorem completamen-
te. Deve-se evitar, assim, a busca de uma solução tardia, em que se procura
corrigir o sistema depois que acabou se degradando de forma irremediável.
A segunda premissa é que as melhores práticas devem ser buscadas ex-
ternamente à empresa, sempre que possível. Tradicionalmente, as empresas
avaliavam seu desempenho fazendo comparações internas. Assim, os admi-
nistradores comparavam a produtividade das unidades regionais entre si,
atribuindo prêmios às mais produtivas, de forma a estimular as demais a au-
mentarem a produção. Essa estratégia dava resultados numa época menos
competitiva e economicamente estável. Hoje, tal política pode ser potencial-
mente desastrosa, eventualmente levando a firma a um forte grau de endoge-
nia, afastando-a das melhores práticas observadas no mercado e tornando-a
pouco competitiva. No entanto, é recomendável que as empresas iniciem o
bechmarking internamente, procurando homogeneizar suas várias unidades
e fazendo o upgrade das menos eficientes de modo a se aproximarem das efi-
cientes. Uma vez vencida essa etapa, é necessário realizar um benchmarking
externo, tomando como referência as melhores práticas do mercado.
A experiência da Xerox, vivida em princípios da década de 1980, é nor-
malmente considerada o marco zero do moderno benchmarking de empre-
sas. Na sua primeira fase, o benchmarking visava comparar apenas produtos,
expandindo-se depois para todo tipo de serviço, dentre eles os serviços logís-
ticos. O objetivo inicial da Xerox era examinar comparativamente as opera-
ções da manufatura, visando reduzir os custos de fabricação (Camp, 1995).
Hoje, o benchmarking é largamente utilizado no processo de aprimoramen-
to contínuo das empresas.
Em Logística, há diversos casos de benchmarking relatados na literatu-
ra. A Gillete, por exemplo, com unidades industriais no México, Chile, Bra-
sil, Colômbia, Argentina, Venezuela, Equador e Peru, avalia anualmente
seus gerentes de logística através de 12 indicadores de desempenho, incluin-
do níveis de falha na expedição e no estoque, tempo de ciclo do pedido, pro-
dutividade do CD, densidade de estoque, giro anual do estoque e nível de
serviço ao cliente (Frazelle e Gloelzer, 1999). O vencedor de cada categoria
é solicitado a ensinar ao grupo de gerentes como conseguiu alcançar o suces-
so no ano anterior. 391
Uma das etapas críticas do benchmarking é identificar as empresas efi-
cientes que devem servir de parceiras para referenciação nesse processo. A
análise envoltória de dados pode servir de excelente apoio nesse processo.
Por ser um método matemático, que incorpora apenas parte das variáveis
necessárias a esse tipo de investigação, ela não deve ser vista como uma siste-
mática autossuficiente. Ao contrário, deve estar associada aos procedimen-
tos usuais de benchmarking, complementando-os.
Um dos objetivos do benchmarking é determinar as ações necessárias
para tornar eficiente uma empresa considerada não eficiente. A utilização do
DEA como ferramenta de análise pode ajudar enormemente nesse processo,
muito embora o benchmarking não se limite à aplicação desse método. Não
devemos nos esquecer que o computador e os modelos matemáticos são de
grande valia para esse tipo de estudo, mas não dispensam outras formas de
análise complementares, tanto qualitativas como quantitativas, pois levam
em conta apenas uma parte das informações necessárias para se fazer um
benchmarking eficaz.
Vimos, na descrição do método DEA, que algumas empresas são eficien-
tes, mas atuam isoladamente no mercado, seja porque são grandes demais em
relação às outras, seja porque utilizam tecnologias ou estratégias de negócio
muito particulares. Por outro lado, há um conjunto de empresas eficientes que
servem de referência para o benchmarking das não eficientes. Estas últimas
podem ser identificadas no DEA através de um modelo obtido a partir da con-
figuração básica de PL. Esse modelo determina, para cada empresa não
eficiente quais as empresas eficientes que devem lhe servir de base para plane-
jar sua reengenharia. Além disso, o DEA indica o grau de participação de cada
empresa eficiente no benchmarking de uma outra não eficiente. Através de um
exemplo, mostraremos como o DEA determina essas relações.
Outputs:
G F: faturamento, em milhões de reais por ano;
G MS: market share, isto é, a fatia do mercado conquistado pela uni-
392 dade operacional da empresa na sua região.
Inputs:
GAR: área total do depósito (m2);
GNF: número de funcionários do depósito;
GCX: caixas de bebidas expedidas;
Das três unidades eficientes apontadas pelo DEA para servir de referên-
cia para o benchmarking de Belém, São Paulo deve entrar com um peso bem
maior, de 66,5%. Londrina participa com peso menor, de 23,5%, e Salva-
dor, com apenas 10%.
Eficiência Virtual
Vamos analisar a forma como o DEA relaciona as empresas não eficientes
com seus pares eficientes situados na fronteira. Quando uma empresa não é 395
eficiente, mas está próxima da fronteira de produtividade máxima, a análise
envoltória de dados permite estimar uma projeção virtual dessa empresa, lo-
calizada sobre a fronteira. Por exemplo, o ponto F, na Figura 12.8, represen-
ta uma empresa não eficiente. Aplicando uma regra predefinida, o DEA pro-
jeta o ponto F para o ponto F´, este localizado sobre a fronteira.
Empresas:
A eficientes
não eficientes
Input X
FIGURA 12.8 • Eficiência virtual no DEA
São José
Unidade regional Vitória Londrina Salvador Rio Preto
Situação Upgrade
atual via DEA
Número de funcionários 70 70 50 85 92
2
Área do CD (m ) 7.300 7.300 5.000 9.800 8.700
Índices:
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