Você está na página 1de 9

Os instrumentos de teclado

É comum, hoje em dia, falar-se do cravo como se ele fosse um “antecessor” do


piano. Nada mais falso: são duas filiações distintas em tudo. O próprio princípio do
instrumento é inteiramente diferente nos dois casos, como se pode perceber de
imediato pelo quadro da página 25. O piano suplantou o cravo porque correspondia
melhor a certo tipo de sensibilidade própria ao final do século XVIII. Na verdade, os dois
coexistiram por algum tempo, mas isto não significa que o piano tenha nascido a partir
do cravo. São apenas primos e têm um ancestral comum: um instrumento utilizado até
hoje no Oriente e na Grécia, derivado da harpa e formado por uma base de madeira
sobre a qual se acham distendidas algumas cordas. Estas podem ser arranhadas com a
unha ou com um plectro, que pode ter formas diferentes e ser feito de materiais
também diferentes. Trata-se do saltério (psalterion) dos gregos (o nome grego deriva do
próprio ato de arranhar). Com este formato e tocado deste modo, passou o saltério ao
Ocidente medieval. Entretanto, suas cordas, ao invés de arranhadas, podem ser
percutidas com dois pequenos malhos ou maços, produzindo um som mais doce e
revelando possibilidades totalmente diferentes. Há referências a este segundo
instrumento na Idade Média, tanto com a designação de saltério (fonte de confusões!),
como com os nomes de dulcimer (nome inglês, do latim dulce melos), manicórdio
(manicordion), timpanão (tympanon) e até mesmo com o de zimbalão ou cimbalom
(cymbalum), um instrumento medieval que chegou à idade moderna e é tocado
particularmente na Hungria; suas cordas são percutidas por duas baquetas manejadas
pelo instrumentista.
O cravo deriva do instrumento de cordas arranhadas (impropriamente ditas
"pinçadas") a que foram adaptados um mecanismo e um teclado. O piano deriva do
instrumento de cordas percutidas, tendo o dulcimer como seu antepassado. Por motivos
cronológicos, convém começar pelo cravo.

Cravo e espineta

Por volta do século XV, o cravo aparece sob uma forma mais reduzida, chamada
espineta, cujo primeiro exemplar conhecido data de 1493. Por que este nome? Foi tirado
do espinho que arranhava a corda...
Em teoria, o princípio é simples, mas a execução é muito delicada. As cordas,
como no saltério, estão esticadas horizontalmente. Cada tecla levanta uma pequena
peça de madeira disposta na vertical, denominada saltarelo ou lamela, à qual está fixada
uma ponta (o espinho), feita do fragmento de uma pena de corvo, que belisca a corda
ao passar por ela. Toda a astúcia está no engenhoso mecanismo que permite à ponta
retornar à posição, sem que, na sua descida, volte a beliscar a corda... Tão delicada
quanto este mecanismo é a escolha do lugar exato onde a corda deve ser beliscada ou,
"pinçada", para melhor soar.
A espineta de pequenas dimensões é retangular e colocada sobre uma mesa. Se
for de tamanho maior, ela tem forma trapezoide e é provida de pés. Este instrumento
teve uma modesta carreira até o século XVIII, paralelamente ao cravo, assim como o
piano de armário ou vertical acompanhou a do grande piano de concerto.
O cravo surgiu no século XVI, com dimensões maiores que as da espineta: já tinha
a forma, embora não tão pesada, do nosso piano de cauda. Porém, diferentemente da
espineta, o cravo tem um segundo jogo de cordas, que toca em oitava; por analogia com
o órgão, este jogo de cordas denomina-se "quatro pés" para distinguir-se do outro jogo,
que é chamado de "oito pés". Os fabricantes Rückers, de Antuérpia, estão na origem
deste aperfeiçoamento que, como o órgão, iria permitir ao cravo "registrar".
Muito rapidamente, sempre como no órgão, um segundo teclado veio sobrepor-
se ao primeiro, ficando então completo o instrumento, no que diz respeito às suas
principais possibilidades expressivas. Uma série de sutilezas de fabricação (tipos de
material, modo do ataque à corda e certas delicadezas de feitura) fizeram com que,
durante o século XVII, o cravo viesse a alcançar sua perfeição. A família Rückers destaca-
se entre os fabricantes de cravos, tanto pelos instrumentos dotados de admirável
amplitude sonora, como pelo esplendor da fabricação e da parte decorativa, confiada a
grandes artistas da época.
O século XVIII trouxe poucas melhorias: o som do cravo tornou-se mais límpido
e mais fraco. Em todo o caso, este era o gosto da época. Como aconteceu com o órgão,
tudo já estava pronto no cravo por volta de 1700.
Não é verdade que o cravo tenha uma sonoridade afetada e seca. Ele possui
belos baixos profundos e uma admirável riqueza, ou plenitude, de sons... A falha do
cravo (que é também a do órgão) está em que não é possível agir diretamente sobre a
corda para fazer um crescendo ou um decrescendo. Mas a possibilidade de "registrar",
ou seja, de fazer oposições e contrastes de timbres, está mais de acordo com a estética
da época que promoveu sua criação.
A mudança desta estética e deste gosto, e o desejo de um fraseado provido de
nuanças, deslocaram as preferências, cada vez mais, para uma outra família: a das
cordas percutidas. Daí a pesquisa que acabou por conduzir ao "pianoforte" (o próprio
nome já indica a que ideal o novo instrumento vinha responder) e, em consequência, ao
abandono do cravo.
Após um século e meio de esquecimento, faz-se, em nossos dias, justiça ao cravo
e aos numerosos fabricantes que — depois de haverem construído, no início do século,
o primeiro cravo moderno — vêm trabalhando para tornar novamente o cravo um
instrumento vivo. Graças às numerosas obras que lhe têm sido consagradas por muitos
músicos contemporâneos, o cravo passa hoje por um renascimento inesperado, tendo-
se elaborado um estilo original de tocá-lo, que não deixa entrever qualquer sombra de
arcaísmo.
Virginal. Pequena espineta usada na Inglaterra, principalmente por moças; daí o
seu nome. Mas a palavra quase sempre designa, naquele país, qualquer instrumento de
teclado e cordas pinçadas ou beliscadas.

Do clavicórdio ao piano

Do dulcimer de cordas percutidas deriva a família de instrumentos cujo último


rebento é o piano.
O primeiro membro dessa família foi o clavicórdio, que parece ter surgido no
século XV (decididamente, de extraordinária riqueza em matéria de construção de
instrumentos). Entretanto, o mais antigo clavicórdio que se conhece data de 1543.
Sobre uma caixa de madeira são fixadas as cordas, paralelamente ao teclado. Na
extremidade de cada tecla, uma pequena peça metálica vai percutir a corda. A
sonoridade do clavicórdio é fraca, mas doce e delicada, além de permitir, até certo
ponto, nuanças no "ataque" às cordas. Bach, segundo consta, amava este instrumento
e possuía vários deles.
Pesquisas feitas simultaneamente na Alemanha, na Inglaterra e na França, no
começo do século XVIII, conduziram, pouco depois de 1710, à criação do pianoforte
(inicialmente denominado forte-piano). Tais pesquisas foram desenvolvidas na
Alemanha por Andreas Silbermann, apesar das reticências por parte dos músicos, entre
os quais Johann Sebastian Bach. O instrumento não conseguiu impor-se antes de 1770.
Foi preciso esperar pelo francês Êrard, no começo do século XIX, para que o pianoforte,
progressivamente, se tornasse o piano.
O princípio é o do "escape" — e, mais tarde, do "duplo escape" — que, de um
lado, permite ao martelo ser solidário com a tecla no momento do ataque à corda
(portanto, também solidário com o dedo, que toca "forte" ou "piano") e tornar, logo em
seguida, a cair, de maneira a deixar a corda vibrar livremente; de outro lado, permite
desprender um abafador de feltro que faz cessar a vibração no instante em que o dedo
solta a nota. Pode-se dizer que com esta invenção — e por conseguinte, com Erard —
nasceu o piano, a despeito de aperfeiçoamentos introduzidos posteriormente (châssis
de ferro, cordas cruzadas, martelos revestidos de feltro, maior extensão do teclado,
pedáis, etc.).

ELEMENTOS DO PIANO
• Teclado: 7 oitavas e 1/4; teclas brancas para a escala diatónica (em marfim) e
teclas pretas para os semitons (em ébano).
• Mecânica: martelo revestido de feltro, mecânica delicada do "duplo escape",
abafador de feltro.
• Cordas: três cordas para cada nota, salvo nos graves; cordas de aço revestidas
de fio de cobre nos graves.
• Caixa harmônica: caixa que, por sua própria ressonância, aumenta a
sonoridade.
• Châssis: feito de madeira nos pianos antigos, cedeu lugar ao châssis de ferro,
ou de liga metálica, constituído por uma peça única (a tensão das cordas exerce sobre o
châssis uma tração da ordem de vinte toneladas!).
• Pedais: impropriamente chamados "doce" e "forte". O primeiro, o pedal da
surdina (esquerdo) desloca a mecânica para direita, de modo que os martelos façam
percutir apenas duas cordas, ao invés de três; o segundo (da direita) levanta os
abafadores para que as cordas continuem a vibrar depois de a mão ter soltado o teclado.

TIPOS DE PIANO

• Piano de cauda. O grande piano de concerto chega a ter 2,60m de


comprimento: suas dimensões permitem maior ressonância da caixa harmônica e das
cordas mais longas. É a disposição mais racional e que melhores resultados dá.
• Meia-cauda, quarto-de-cauda, crapaud são designações dadas ao piano de
cauda que foi reduzido em seu tamanho por motivo de economia e espaço.
• Piano vertical ou piano de armário: as cordas estão dispostas obliquamente no
sentido vertical; os martelos também estão em posição vertical e recuam sob a ação de
uma mola.
• Piano de pedaleira: piano equipado com pedaleira, criado para exercitar os
organistas. Schumann e outros compositores escreveram música para esse instrumento.

EM TORNO DO PIANO

Pianola ou piano mecânico. Instrumento inventado em 1900 pelo norte-


americano Votey. Através de uma folaria, acionada por pedáis, passa um rolo de música,
perfurado, que recobre uma barra com um número de furos igual ao das notas; a
coincidência dos furos da barra com os do rolo produz o som. A pianola pode também
ser utilizada como instrumento de teclado normal, munido de registros e pedáis. Os seus
fabricantes, a firma yEolian, vendiam aos usuários sinfonias, arranjos de óperas, etc, na
forma de rolos perfurados. A aparição do disco fez com que este instrumento entrasse
em declínio.
Luteal. É um acessório do piano de cauda, ao qual acrescenta possibilidades de
jogos ("harpa", "cravo") e timbres, sem impedir a execução normal do instrumento.
Inventado em torno de 1920, foi utilizado praticamente só por Ravel para evocar o
zimbalão húngaro em Tzigane e o cravo em L'Enfant et les sortilèges [O menino e os
sortilégios].
Piano preparado. Os compositores norte-americanos Henry Cowell e Charles
Ivés, já no início do século, exploraram os recursos do "piano preparado", que modifica
a vibração das cordas pela introdução, entre elas, de uma variedade de materiais
(borracha, madeira, metal, etc.). Alguns decênios mais tarde, John Cage deu um impulso
decisivo às técnicas do piano preparado, através de obras como as Sonatas and
interludes [Sonatas e interlúdios, 1945-1948]. Em 1949, por essa iniciativa, Cage recebeu
o prêmio da National Academy of Arts and Letters "por ter alargado as fronteiras da arte
musical".
Os Instrumentos de Teclado (Roy Bennett)

Todos os instrumentos descritos aqui possuem teclado. São eles: os órgãos e os


cravos em suas inúmeras e diferentes versões, o clavicórdio, e ainda os diversos tipos
de pianoforte, ou simplesmente “piano”, como fora chamado na grande maioria das
vezes.
O Órgão
De todos os instrumentos de teclado, o órgão é de longe o mais antigo. Sua
invenção é creditada ao engenheiro grego Ctesíbio, que viveu durante o século III a.C.
Documentos escritos, não muito depois de sua época descrevem o invento como
uma das maravilhas do mundo, e dão a entender que o órgão por ele construído estava
possivelmente baseado na ideia de utilizar mecanicamente a provisão de ar que era
levado para um imenso jogo de tubos. Estava, pois, o ar armazenado em uma espécie
de “someiro” e já havia inclusive um teclado que controlava a sua saída para os tubos.
O instrumento de Ctesíbio ficou conhecido como hidraulos (palavra construída
com os vocábulos gregos que significam água e tubo) pois era a água que mantinha a
pressão constante do ar no someiro.
Durante o século IV d.C. o princípio hidráulico começou a ser substituído pelo
pneumático (do grego – vento), no qual o fornecimento de ar se fazia por meio de foles.

A Família do Cravo
Os instrumentos de cordas com teclado que pertencem a família do cravo são: o
virginal, a espineta e obviamente, o próprio cravo.
Em todos esses instrumentos o som é produzido através do pinçamento das
cordas, diferente do clavicórdio e do piano que tem as suas cordas batidas ou
marteladas.

O Cravo
O Cravo possui um formato semelhante ao de uma asa,(tal como o piano de
cauda), com cordas de metal esticadas à frente do executante, formando um ângulo
reto com o teclado.
Os primeiros cravos tinham um só teclado ou manual e uma única corda para
cada nota. Já um cravo construído depois do século XVII, é bem provável que tenha dois
teclados (o segundo colocado em nível mais alto atrás do primeiro) e é possível que
apresente dois, três, ou até mesmo quatro jogos de cordas completos.
As cordas são presas as cravelhas que, por sua vez, se acham fixadas no cepo,
atrás dos teclados, é girando essas cravelhas que se afina o instrumento.
Cada corda se acha distendida através de dois cavaletes (um fixado no cepo e
outro sobreposto a tábua de harmonia) e segura por uma aselha que pode estar fixada
tanto na extremidade do móvel, pelo lado de dentro, como na tábua de harmonia. Os
cavaletes transmitem as vibrações das cordas para a tábua de harmonia, cuja
ressonância ao mesmo tempo amplia e enriquece a sonoridade.

O Virginal
O Virginal nada mais é do que uma modalidade simplificada do cravo, sua forma
mais comum é a oblonga, ou seja, possui o comprimento maior que a largura. Possui
apenas um teclado situado em algum ponto de um dos seus lados mais compridos, seja
mais à direita, mais à esquerda, ou mais ao centro.
As cordas de arame, uma para cada nota, correm da esquerda para a direita, mais
ou menos paralelas ao teclado, sem formar ângulos retos com este, diferente, portanto
do cravo.
As cordas devem permanecer esticadas através de dois cavaletes que lhes
transmitem as vibrações à tábua de harmonia. As cravelhas ficam a direita, e as cordas
do baixo as mais longas, estão colocadas defronte as mais curtas, situadas no fundo do
instrumento.
A Espineta
A Espineta é uma espécie de cravo “maior”, foi inventado no final do século XVII,
e é um instrumento que possui apenas um teclado, um único jogo de cordas e uma corda
para cada nota.

O Clavicórdio
A forma do clavicórdio é semelhante a de uma caixa oblonga, ou seja seu
comprimento é maior que a sua largura, e o seu teclado fica posicionado em um dos
lados mais compridos desta caixa.
As cordas de arame vão da esquerda para a direita, mais ou menos paralelas ao
teclado, elas partem das aselhas, seguem por cima das teclas, e depois de passarem pelo
cavalete e pela tábua de harmonia, chegam as aselhas do lado direito. Perto das aselhas
encontram-se tiras de panos, trançadas por entre as cordas
Enquanto as cordas do cravo, do virginal e da espineta são pinçadas, as do
clavicórdio são levemente marteladas ou batidas.

O Mecanismo do Clavicórdio
Dos instrumentos de teclado, o clavicórdio é o que tem a ação ou mecanismo de
produção de som mais simples. Na extremidade de cada tecla está fixada uma pequena
lâmina de bronze, na vertical, chamada de tangente.
Quando a tecla é abaixada, a sua extremidade oposta se levanta, tal como uma
gangorra, fazendo a tangente bater no par de cordas, posicionadas logo acima. A
tangente continua a exercer pressão sobre as cordas até que a tecla seja solta.
O Piano
O primeiro tipo de piano foi inventado em 1697 por Bartolomeu Cristofori, foi
uma solução para dar maior expressividade ao cravo, que para muitos instrumentistas
e compositores da época pecava pela sua falta de dinâmica.
Por volta de 1700, Cristofori já havia construído um instrumento do novo tipo.
Era então chamado de gravicembalo col piano e forte (cravo com piano e forte). Mas
enquanto o cravo tem suas cordas pinçadas, no instrumento de Cristofori elas são
atingidas por martelos cobertos por camurça. A força em que as cordas são marteladas
dependem da força empregada pelo executante, o que faz o instrumento ganhar muito
em expressão e dinâmica.
Não só podia o instrumentista fazer contrastes súbitos entre piano e forte (fraco
e forte) como também lhe era possível controlar as múltiplas nuances intermediárias de
volume.
Cristofori fabricou ao longo de sua vida mais de vinte pianos, e nos seus últimos
modelos já se encontram quase todos os elementos existentes do piano moderno, seja
no de cauda, com forma de asa e cordas horizontais, seja no vertical com as cordas
posicionadas na vertical.
Pelo o que se sabe o primeiro compositor a ter escrito peças especificamente
para piano, foi o italiano Ludovico Giustini (1685-1743).

Você também pode gostar