O autor analisa a relação entre esporte e arte ao longo da história, argumentando que a beleza atlética pode proporcionar prazer estético igual à arte. Ele discute como as práticas esportivas evoluíram em diferentes épocas e culturas, desde a Grécia Antiga até os dias atuais, sempre correlacionando com aspectos sociais, políticos e filosóficos.
O autor analisa a relação entre esporte e arte ao longo da história, argumentando que a beleza atlética pode proporcionar prazer estético igual à arte. Ele discute como as práticas esportivas evoluíram em diferentes épocas e culturas, desde a Grécia Antiga até os dias atuais, sempre correlacionando com aspectos sociais, políticos e filosóficos.
O autor analisa a relação entre esporte e arte ao longo da história, argumentando que a beleza atlética pode proporcionar prazer estético igual à arte. Ele discute como as práticas esportivas evoluíram em diferentes épocas e culturas, desde a Grécia Antiga até os dias atuais, sempre correlacionando com aspectos sociais, políticos e filosóficos.
Gumbrecht, Hans Ulrich, Elogio da beleza atlética.
Trad. Fernanda Ravagnani.São Paulo:Cia. Das Letras, 2007.
O autor nasceu na Alemanha e é Professor de Literatura na Universidade de Stanford, com vários livros editados no Brasil.
O fascínio por esportes explica a intenção do autor em escrever o
“Elogio da beleza atlética”, assim como também de correlacionar esteticamente este prazer, de ser um mero espectador esportivo, de forma igualitária ao sentimento expresso como prazer por muitas pessoas na ocasião da apreciação de qualquer espetáculo/obra classificada como Arte. A partir da leitura do indizível do corpo lançado no espaço, indivisível do seu movimento, o autor relaciona e exemplifica e contextualiza, ao alcance dos que discordam do esporte-arte, a possibilidade de êxtase e agradecimento àqueles que fazem vibrar os corações dos torcedores. A leitura se torna interessante quando o autor desconstroi, já que é exímio professor de literatura, a possibilidade de que a origem dos esportes modernos ainda se possa categorizar como uma evolução de práticas esportivas que seguem obedientemente o percurso da história humana, nos elucidando os possíveis enganos e explicando o objetivo social das práticas corporais de cada época abordada. Como não admirar os esportistas, que reúnem multidões, no que intitulamos de “fenômeno de massa”? De uma forma inteligente, envolve o autor seus conhecimentos filosóficos, proporcionando aos interessados ou não, a descoberta das nuances diferenciadas que permeiam o esporte, de uma forma que permite ao leitor se situar no contemporâneo esportivo, adquirindo passo a passo a compreensão lógica do que e de que forma, os clássicos de literatura podem ajudar a discernir e explicar a tendência acentuada de se praticar esportes ou ser mobilizado por tais práticas, ao vivo ou por qualquer tipo de mídia. Um item interessante abordado é o que envolve o seu objetivo inicial,que versa sobre a perspectiva do Elogio ser necessário ou não aos atletas de hoje em dia. Neste ponto esta interrogativa surpreende, na medida em que somos sabedores da grandiosidade de elogios acoplados a uma grande valorização contratual de atletas e dos seus simples atos cotidianos, explorados e expostos através da mídia. Sugere neste item, que existe uma espécie de “deserto” neste ponto a partir do hemisfério em que se encontra o atleta. Poderemos considerar que o autor veicula esta crítica em direção aos intelectuais, que embargam o movimento do corpo no esporte de ser considerado como artístico citando que as primeiras poesias européias com Píndaro eram e são exuberantes exemplos de elogios aos atletas. A partir deste ponto o autor revela para os simples mortais, que a valorização da beleza atlética se efetuava via a cultura do elogiar. A marginalidade, não expressa, em um Beethoven ou Giotto se revela na ausência de função prática no cotidiano, tanto quanto o esporte. Ou seja, não está o esporte ao alcance de todos, ou o esporte é marginal por estar ao alcance de todos, lançando assim uma confusão genial, para os que trabalham na perspectiva da Arte ou do Esporte, restando em contrapartida o significado da Fruiç Articula Norbert Elias e Foucault na ótica da submissão do corpo e Bourdieu em relação à distinção social a partir das modalidades de elite ou não, já que os eventos surgem impositivamente por meios financeiros. Aponta o autor que nos Jogos Olímpicos de 1936 (documentado por filme que uniu o esporte e a tecnologia), o apelo de utilização do esporte como instrumento de manipulação política saiu como um “tiro pela culatra” e que na medida em que surgiu o inverso na identificação da opressão aos negros, esta inversão não constituiu por si um Elogio à beleza atlética, mas sim de uma espécie de instrumento da Crítica. Surge neste ponto mais uma questão do autor em diálogo com seus leitores que é a instigante escolha de ser atleta, praticante esportivo ou torcedor? Seguida da resposta de que o seu livro versa nada mais nada menos do que sobre o prazer que o esporte gera em cada um de nós. Exemplifica com Aristóteles em Retórica, que o gênero de escrita do Elogio não contém função específica, dando prosseguimento à questão da Beleza principalmente quando não se permite admitir que este fascínio possa ocorrer via esporte como mais um exemplo de apelo estético, como acontece nas outras formas de cultura ( a pintura, o teatro, a música, a literatura etc.). Ilustra mais adiante nos expondo Kant, onde o Belo surge do juízo do gosto, como uma satisfação pura e desinteressada. Esta analogia filosófica agrada ou desagrada principalmente aos puristas, mas para Grumbrecht está formalizada com a intensidade sentida por ele, em vários momentos de concentração dos atletas. Define o autor que o termo Esporte acontece como nas Artes Dramáticas, onde nada é fingimento, mas sim visível realidade. Participa sua preferência pelo termo arete já que significa uma Excelência de qualquer tipo de movimento corporal, principalmente por nos permitir solidariedade com a dor e a tragédia de derrotas em competições justas, o que na atualidade pode até apontar para a vulgaridade de alguns torcedores ao explorar este acontecimento com desprezo. Interessantíssimo se mostra o discurso do autor sobre a inutilidade das regras de um esporte no cotidiano das pessoas, embora sejamos conhecedores aprofundados de muitas destas regras, o que talvez indique que faz parte do esquecimento outras regras sociais necessárias à convivência diária, (este último dizer um grifo meu). Com prazer desenrola o autor a ênfase do gestual dos atletas em comemorações ou derrotas, gestos estes que nos marcam por sua visível repetição. A partir deste momento esclarece o autor, as descontinuidades da prática esportiva que foram influenciadas até por condições de esforço físico que em determinadas épocas eram necessárias à sobrevivência. Em fim, as condições dos que foram chamados atletas gregos, não eram acobertadas pelas mesmas estruturas de equipamentos, tecnologia, fisioterápicos entre os muitos que envolvem os atletas atuais. E que a maioria dos espectadores da Grécia antiga eram profundos conhecedores por causa da relação estreita com o seu cotidiano, daquelas árduas tarefas. Ser vencedor da competição era crucial, pois não havia prêmio consolação, apontando assim para a possibilidade de profissionalismo muito antes da idealização do amadorismo.Como os limites separavam os homens e os deuses, os vencedores eram intitulados de semi-deuses (o herói). Prosseguindo passa o autor a discernir sobre os gladiadores, diferenciando genialmente a forma do estádio olímpico grego do formato do Coliseu, já que o sentido religioso apontava para o portão de entrada aberto dos gregos em direção ao templo de Zeus e que a forma fechada do estádio romano demonstra o que o autor intitula de “insularidade” esportiva. Neste instante cita o autor a figura de Sêneca, que apontava o investimento monetário nos eventos esportivos como sintoma de crise ética do império, além de apontar metaforicamente, os gladiadores com a existência humana. Mas o autor revela aos incautos que o mais importante que ali se mostrava nos combates, era a máscara impassível do lutador perante a turba e a eminência da morte. Alguma relação com a Fórmula 1, Ralis ou os Races de aviões? Mas dando continuidade o autor explica a adversidade da prática esportiva diante das questões religiosas na Idade Média e nos lança em face aos trovadores apontando para a curiosa relação entre as conquistas atléticas e o êxtase erótico, ao lado da possibilidade ao menos temporária de fuga ao controle religioso. O boxe é o grande exemplo tomado pelo autor na explicação das descontinuidades esportivas abordando a proximidade da prostituição e da criminalidade com o boxe e como geradora de uma energia explosiva, ressaltando o contraste dos níveis sociais dos espectadores. Chama-nos atenção a uma semelhança com os gladiadores romanos Mas quais os intelectuais amantes da prática esportiva nos trás o autor neste momento? Goethe e Rosseau, que valorizavam a prática esportiva. E assim o autor aponta a importância conflitante do lazer operário versus o privilégio de fruição das horas vagas pela aristocracia, onde o incremento deste lazer apontava para uma pretensa igualdade independente da camada social a que pertencia o homem. O conhecimento de que as grandes impulsionadoras do esporte moderno foram as universidades da Inglaterra, onde a forma socializada do esporte coletivo adquiriu espaço junto à Pedagogia, como também aos conceitos de profissionalismo ou amadorismo, ao lado da criação das instituições esportivas internacionais e seus regulamentos. Mais adiante o autor nos propicia a diversidade de esportes com bola que surgiram na época, apesar de não ter sido efetuado nenhum jogo de bola na primeira Olimpíada, mas que hoje ocupam lugar cativo nos eventos. Com leveza e humor o autor levanta o véu das interpretações equivocadas de Coubertain no tocante aos Jogos Olímpicos Modernos, que foram as questões do amadorismo e a valorização da participação em vez da vitória. Lemas que tentamos implantar nos estudantes ainda hoje. Válidos ou não? O consumo é outro item interessante adequando a importância das questões de longevidade e dos seguros-saúde e onde paralelamente aos Jogos de 1984 e 1988, as receitas de publicidade e transmissão televisiva foram superiores às despesas. O alerta mais interessante deste item é quando o autor nos leva a refletir se a nacionalidade dos esportistas está sendo substituída pelas marcas que os atletas representam.Em futuro próximo torceremos por marcas ou por clubes? Mas será possível que o autor a finalizar esteja tomando outro partido, diferente do inicial? Principalmente ao comentar que o esporte disfarçado da cultura de lazer, possa estar fugindo a limites impostos e nos colocando no papel de consumidores em vez de torcedores? Indica mais adiante que a crítica ao esporte se alimenta dos escritos sobre o mau uso das instituições esportivas, afirmando que as instituições sempre usam e usaram-se umas às outras perante a historicidade. Mas finalmente adentra ao item do fascínio esportivo acoplado aos movimentos corporais reduzidos a sete categorias: os corpos esculpidos, sofrimento diante da morte, a graça, instrumentalização para aumentar a potência corporal, as jogadas sensacionais, o timing e as formas personificadas ou seja a criação de um movimento nunca executado antes. Conclui o autor através dos Diálogos de Platão, que as trocas intelectuais nas academias gregas nunca se distanciaram da beleza corporal, que nos leva hoje a entender a tendência de transformação do corpo através de variados meios, lentos ou dolorosos, ficando de lado a saúde ou mesmo qualquer forma de educação pelo esporte ou formação do caráter surgindo uma reflexão da nossa parte: e o fairplay? Não passa de um ideal? A assistência esportiva se reparte entre os que comungam e os que analisam os atos dos atletas e ao nos trazer Nietzsche, o autor nos implica em escolher a atitude apolínea ou a dionisíaca ou ainda a sugerida no O banquete de Platão? A gratidão do autor aos famosos esportistas é demonstrada na recordação de jogadas sensacionais, de momentos sublimes sentidos ante a beleza, a concentração e superação dos atletas em momentos cruciais, sendo também comovente o confronto de um grande atleta no momento de abdicar do caminho percorrido, ocasionando muitas vezes uma destruição da sua vida pessoal, a partir de seqüelas físicas, ou mesmo inadequação ao lugar comum, após terem sido agraciados como semi-deuses, no teatro da vida. Como espectadores, somos obrigados a assistir ao vivo ou em colorido o maravilhoso e o desperdício nos servindo de transcendência para a experiência do dia a dia. Afinal nos apaixonamos e nos fascinamos, por querermos nos completar. O livro é leve, fácil de ler, indicado para aqueles que trabalham com esportes, como também para aqueles que estranham a beleza atlética dos seus praticantes, estimulando a uma reflexão sobre o que leva o esporte a ser mobilizador de multidões e a atentar para o fato de que a beleza existe em nossos movimentos corpóreos.