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WILHELM VON HUMBOLDT

E O ESTUDO FILOSÓFICO DAS LÍNGUAS

Adina Pereira de Lima Silva*

RESUMO
Este trabalho apresenta uma visão geral sobre o projeto lingüístico de Humboldt a
partir de uma abordagem de sua filosofia a respeito da diversidade das línguas,
sua forma e matéria.

Palavras-chave: Filosofia. Língua. Linguagem

* Professora de Língua Portuguesa e Língua Inglesa


FAFICA - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru/PE - Brasil
Especialista em Lingüística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa
FUNESO – Fundação de Ensino Superior de Olinda/PE - Brasil
Mestranda em Letras e Lingüística
UNINTER – Universidad Internacional Tres Fronteras – Asunción/PY
E-mail: adilima.dina@gmail.com
INTRODUÇÃO

A Filosofia da Linguagem é um ramo da Filosofia ainda não muito definido,


pois os problemas da linguagem que são tipicamente tratados pelos filósofos
constituem uma coleção pouco conexa, para a qual é difícil encontrar qualquer
critério nítido que a distinga dos problemas de linguagem de que se ocupam
gramáticos, psicólogos e antropólogos.

―Seria ilusório sugerir que a filosofia da linguagem, mesmo como é


praticada pelos filósofos analíticos, esteja limitada à análise conceptual, ao
esclarecimento dos conceitos básicos referentes à linguagem.‖ (W. P. 1972)

Há várias outras tarefas que os filósofos tipicamente se impõem:


classificação de atos lingüísticos, "usos" ou "funções" da linguagem, tipos de
indefinição, tipos de termos, várias espécies de metáforas. Existem estudos sobre
o papel da metáfora na ampliação da linguagem; sobre as inter-relações entre
linguagem, pensamento e cultura; e sobre as peculiaridades do discurso poético,
religioso e moral.

Escolher Humboldt1 para falar de filosofia da linguagem significa


compreender a linguagem não como um sistema acabado. Em suas palavras ―é
preciso considerar a linguagem não como um produto morto (todtes Erzeugtes),
mas, sobretudo, como uma produção (Erzeugung) (...) Em si mesma, a linguagem
não é um produto (Ergon), mas uma atividade (Energeia)‖ (Humboldt, 2002, p.
416 e 418).

São as reflexões humboldtiana um marco importante não só para a


lingüística, mas também para a filosofia contemporânea.

Conforme precisa Cristina Lafont:

―A mudança de paradigma levada a cabo por Humboldt ocorre em duas dimensões


diferentes. Em sua dimensão cognitivo-semântica, essa mudança consiste em encarar a
linguagem não como um mero sistema de signos, não como algo objetificável
(intramundanamente), mas como algo constitutivo da atividade de pensar, como a própria
condição de possibilidade dessa atividade. A linguagem é, então, elevada a um estatuto
quasi-transcendental, que reivindica contra a subjetividade a autoria das operações
constitutivas da visão de mundo do sujeito (...) Em sua dimensão comunicativo-
pragmática, a mudança consiste em ver esse caráter constitutivo da linguagem como o
resultado de um processo ou atividade: especificamente, a atividade de falar. Nesse
sentido, a linguagem se torna a garantia da intersubjetividade da comunicação, a condição
de possibilidade do entendimento entre falantes‖ (Lafont, 1999, p. 17-18).
Humboldt se atém coerentemente em toda sua obra à convicção de que da
linguagem só se pode falar metaforicamente. É justamente esta convicção que
contribui para o enriquecimento do léxico da lingüística.

Para Humboldt o estudo da linguagem está subdividido em 3 âmbitos:


tipologia, lingüística da estrutura e lingüística do caráter. O que separa o projeto
humboldtiano da lingüística moderna é a centralidade que ele atribui à lingüística
do caráter. Ele seleciona a linguagem como uma, ou talvez, a mais importante
das diversas formas de manifestação do espírito.

Ao longo de suas obras surge a pergunta: Como se pode falar de


linguagem? De fato, a linguagem não é um objeto de cuja essência se pode retirar
uma definição científica. Em Humboldt se buscará em vão fórmulas fixas,
definições únicas e precisas destinadas a determinar por completo a essência da
linguagem.

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SESSÃO I

DA RAZÃO À LINGUAGEM: O GIRO LINGUÍSTICO DA FILOSOFIA


DE HUMBOLDT

Para Humboldt a antropologia não se situa ao lado da filosofia, antes a


envolve, acabando inevitavelmente por modificá-la e ser modificada por ela. Essa
mudança de perspectiva comporta inevitavelmente uma transformação do modo
de filosofar. Nessa síntese do transcendental e o empírico, do filosófico e o
histórico, do possível e o real, é onde se deve situar o motivo condutor de toda
obra de Humboldt e que recebe sua primeira forma (parcial) na união da filosofia
com a antropologia.

Porém, como se explica o quase repentino interesse pela linguagem? Uma


vez que a linguagem é a manifestação por excelência do espírito humano, o
estudo do homem remete impreterivelmente ao estudo da linguagem, pois ela é a
chave para penetrar na natureza humana.

Podemos chegar a uma maior reflexão sobre a linguagem ao compreender


suas três fases distintas. A primeira, que coincide com a filosofia antiga e
medieval, se caracteriza pelo interesse metafísico do ser e por um estudo da
linguagem em função deste ser, em seu valor ontológico. A segunda, que coincide
com a filosofia moderna, aparece marcada pela consolidação do conhecimento do
sujeito. E a terceira, inaugurada por Humboldt, se caracteriza por um interesse na
linguagem sem outro fim que não seja a própria linguagem.

O deslocamento da linguagem para o centro da filosofia ocorre, sobretudo,


através de uma crítica à concepção da linguagem mas óbvia e imediata, porém
mais redutora. Nesta contraposição metafórica se perfila a diferença que separa
a concepção lingüística de Humboldt em relação à tradicional, pois para ele deve-
se considerar a linguagem como um órgão e não um instrumento. Pensar em
linguagem como instrumento significa reduzi-la a um conjunto de signos
convencionais e privado de qualquer função formativa. No entanto, como órgão
significa que a linguagem é parte de um organismo vivo que produz outras partes
e, por sua vez, é produzido por elas.

Muito mais que um simples instrumento de comunicação, a linguagem é o


meio pelo qual o homem forma simultaneamente a si mesmo e ao mundo. Assim,
Humboldt conclui que o ―homem é homem somente através da linguagem‖ (UVS
IV: 16, tr.44) e que o mundo só é mundo enquanto se constitui linguisticamente. A
função da linguagem é unir o EU ao MUNDO, mediando assim uma
contraposição. Em sua natureza re se reúnem as naturezas de ambos, dando
vida a uma nova criação. ―E assim, do mundo que se reflete no homem nasce
entre ambos a língua que vincula o homem com o mundo e que fecunda a este
por meio daquele‖ (E VII; 213, tr.272)

O mundo não está ao redor do homem que o contempla imóvel para


descobrir sua origem. O homem, em seu movimento ordenador não apenas dá
forma ao mundo (aqui está sua semelhança com Kant 2) como mostra que esse
movimento ordenador só pode ocorrer através da linguagem (o que marca
precisamente seu distanciamento definitivo de Kant).

A linguagem não é um instrumento para designar objetos já pensados, ela


é mais que isso, é ― o órgão formador do pensamento‖, ou seja, sem a palavra
não há conceito e conseqüentemente não há objeto, já que o objeto só adquire
essência completa quando tem um conceito. No entanto, Humboldt ainda vai mais
longe ao dizer que toda formação de um objeto surge de forma subjetiva e que
para tornar-se conceito se faz necessário objetivar-se e isso só é possível através
da linguagem.

Ainda no conceito de objetivação, Humboldt afirma que o conceito se


completa quando o EU percebe sua representação objetivada fora de si mesmo, u
seja no TU. Somente quando a palavra criada pelo EU resulta proferida pelo TU,
quando ecoa em seu ouvido como uma palavra do outro, então aí sim ocorre a
objetividade real.

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SESSÃO II

A PALAVRA ENTRE A IMAGEM E O SIGNO – A


DIVERSIDADE DAS LINGUAS

Seguindo Humboldt no exame da estrutura semiótica da palavra, partimos


do conceito por ele dado à linguagem como sendo o órgão formador do
pensamento.

A estrutura semiótica da palavra reflete a mediação que a linguagem


exerce sobre os sentidos e o entendimento, entre a receptividade e a
espontaneidade. A palavra é ao mesmo tempo imagem e signo, ela comparte
algumas propriedades com ambas as coisas, porém em sua natureza mais íntima
é diferente delas.

De acordo com Humboldt, ainda que pareça uma fusão entre símbolo e
signo em verdade não se trata de uma unidade. No signo o objeto possui uma
existência autônoma, com predominância do elemento espiritual e espontâneo. Já
no símbolo, ele mesmo representa o objeto, logo prevalece aqui o elemento
material, a receptividade. A palavra se situa no meio desse processo. Som e
conceito não permitem separação alguma e são incompletos cada um por si
mesmo.

O homem vive imerso nos objetos que percebe através de sua língua, daí
que para Humboldt a idéia de que as línguas simplesmente designam de
diferentes maneiras os mesmo objetos e conceitos. Logo, as línguas não são
simples meios de representar uma verdade conhecida e sim meios de descobrir a
verdade que está por vir. E, se o mundo se constitui através da linguagem, e esta
só se manifesta pela língua,logo não existe apenas um mundo e sim uma
pluralidade de mundos correlativas à pluralidade das perspectivas que abre cada
língua.

As línguas em seu conjunto se assemelham a um prisma capaz de refratar


o mundo sempre em ângulos novos. O fenômeno da diversidade das línguas não
é um fenômeno casual senão um fenômeno necessário para divisão natural dos
povos e formação da humanidade. Humboldt considera a diversidade lingüística
sobretudo como diversidade nacional, pois as línguas tem uma forma nacional e
através delas as nações podem criar de forma autêntica e imediata. Importante
ressaltar que ‗nação‘ aqui se refere à individualidade humana.

Humboldt define a linguagem como um todo orgânico, onde nenhum


elemento está isolado. Na língua, cada elemento se apresenta como uma parte
do todo, logo, quando se pronuncia uma palavra já se pressupõe toda a língua.
Aflora aqui a metáfora mais famosa desse filósofo: a metáfora do organismo.

O vínculo que Humboldt estabelece entre organismo lingüístico e


organismo vivo é estritamente metafórico e cumpre uma função explicativa de
algumas peculiaridades da língua, não para determinar por completo sua
essência. A organicidade da língua expõe a ação do indivíduo, sendo testemunho
vivo de como este se forma a si mesmo e dá forma ao mundo..

Em seus primeiros livros Humboldt relaciona a organicidade da língua


analogicamente. Ele afirma que a língua não é um conglomerado, um caos
disperso de palavras e regras, ao contrário, trata-se de um todo orgânico em que
cada parte só subsiste porque está atada às outras. Esse vínculo ele denomina
de analogia.

Enquanto os gramáticos antigos afirmam que a analogia é um critério de


proporcionalidade que se aplica à língua, de fora para dentro, para evitar
possíveis irregularidades e desvios, para Humboldt, precisamente por ter a
analogia um valor cognoscitivo e ontológico ela é capaz de reconduzir o sentido
lingüístico tornando-se necessária a sua estrutura. Logo, o nexo analógico se
estende a toda estrutura da língua. Ele fala, então, de uma espécie de rede ou
tecido da língua.

Olhando mais de perto, a visão do mundo a partir de uma língua configura-


se como uma rede de analogias entrelaçadas uma com as outras. Desse modo, a
relação entre a língua e o indivíduo não é um simples instrumento já que ela
carrega sempre a visão do mundo e falar uma língua requer aceitar, ainda que de
modo inconsciente, essa visão do mundo. Nesse sentido, cada língua contém em
si todo o enredo dos conceitos e maneiras de representar a humanidade.

Cada língua traça em torno do povo a que pertence um círculo do qual não
se pode sair. Portanto, a rede de uma língua estrangeira é a aquisição de uma
nova visão do mundo, porém essa aquisição se dá em parte pois, a uma língua
estrangeira sempre se transporta em maior ou menor medida a própria visão do
mundo, a própria visão da língua materna.

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SESSÃO III
FORMA E MATÉRIA DA LÍNGUA,

FORMAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO.

Humboldt introduz na lingüística o conceito de forma muito antes de


Saussure e lhe confere um valor que segue sendo muito atual em vários sentidos.
Para ele forma e matéria estão relacionadas, ou seja, forma e matéria não estão
separadas uma da outra. Só compreendemos forma quando esta se apropria da
matéria ao mesmo passo que a matéria só ganha sentido quando possui uma
forma.

Referindo-se à língua, o conceito de forma condiciona a maneira de


entender e estudar a língua. De acordo com Humboldt, no interior da língua não
existe matéria informe. Para encontrar a matéria real da forma da língua temos
que nos deslocar para fora dos limites desta.

O conceito de forma vai muito mais além das regras que envolve o discurso
ou das que definem a formação das palavras, compreende também o léxico e
dentro dele se aplica a formação das palavras incluindo até as peculiaridades
fônicas. Nesse ponto Humboldt deixa questiona a rígida separação entre léxico e
gramática. Não se trata de abolir a gramática e sim deixar de tomá-la em sentido
absoluto, pois se faz necessário distinguir dois tipos de designação, a dos objetos
e a das conexões entre eles, que corresponde respectivamente ao léxico e à
gramática. É fácil constatar empiricamente a presença das relações gramaticais
revelando designações léxicas em seu interior e o inverso, as designações léxicas
revelando aspectos conectores. Humboldt repete por várias vezes que as
palavras constituem a matéria sobre a qual se opera o impulso formador da
gramática.

Porém, é preciso compreender que na linguagem, a criação do novo nunca


é inédita, pois o homem sempre incorpora o que já existe, o que já está posto ao
longo da história, uma vez que toda língua tem recebido das gerações anteriores
contribuições provenientes de tempos que não se pode vislumbrar. Logo, a
formação da língua é, na verdade, uma transformação. Esse processo de
transformação se realiza analogicamente.

A propósito, Humboldt fala do ―curso natural analógico‖ da língua, onde ela


pode salvaguardar seu nexo harmônico interior e com ele a sua própria
existência. Nesse ponto chegamos a questão central da teoria lingüística de
Humboldt: a criação de novas línguas.
Sem dúvida, inicialmente Humboldt atribui o nascimento de uma nova
língua à mistura, a confluência de vários dialetos e mais adiante o efeito que essa
mistura causa na língua, ou seja, a degeneração é que se define como a principal
causa do surgimento de novas línguas.

Humboldt tenta determinar tanto os gêneros como os motivos do processo


de surgimento de uma nova língua. Os gêneros são de dois tipos: o primeiro
refere-se a línguas que possuem uma estrutura gramatical mais completa e rica
em formas, e o segundo se dá o inverso. Já os motivos que determinam o
nascimento de novas línguas são quatro: o tempo, as migrações dos povos, as
miscigenações e as mudanças políticas nos costumes de um povo. Em relação ao
tempo, Humboldt não crê que ele por si só, possa produzir a transformação de
uma língua. Já as migrações podem produzir mudanças apenas no léxico. A
miscigenação, por sua vez também não teria esse poder já que só se pode
chamar de nova a uma língua que possua uma nova forma. Sendo assim, o
quarto motivo seria o mais aceitável para explicar o surgimento de uma nova
língua, ou seja, as mudanças políticas e a decadência cultural que as
acompanham.

Para concluir a exposição do conceito humboldtiano de forma da língua


temos que nos deter por um momento na distinção de forma interior e forma
exterior.

Essas duas formas se referem aos dois materiais reais da língua que tem
sido identificado como o som e o pensamento, sendo a forma exterior a
constituição de um sistema de sons e a forma interior a configuração do sentido,
ou seja, a organização dos significados léxicos e gramaticais. Para Humboldt é o
sistema de sons que de verdade faz a língua.

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SESSÃO IV
A LINGUÍTICA DA ESTRUTURA E A

LINGUÍSTICA DO CARÁTER

A lingüística da estrutura é a primeira parte da subdivisão que Humboldt faz


da do estudo lingüístico comparativo. Essa subdivisão observa o desenvolvimento
da língua a partir de dois períodos: o de organização e o de seu afinamento. O
primeiro se estende desde o momento hipotético de sua origem até a cristalização
da língua. O segundo é o período de afinação da língua mediante o uso dos seus
falantes, o período em que a língua define suas potencialidades e assume seu
caráter.

A Lingüística da estrutura tem seu clímax com a ―tipologia das línguas‖ já


que esta oferece uma perspectiva privilegiada sobre os diversos modos em que
se realiza historicamente a tarefa transcendental de produção da linguagem.

Humboldt, reconhecido como o fundador da tipologia, foi o primeiro que


introduziu na lingüística o conceito de ―tipo‖ que toma diretamente de Goethe3, o
qual havia elaborado em sua morfologia comparada uma teoria dos tipos
orgânicos, entendendo-se por ―tipos‖ princípio de formação de um organismo. No
projeto humboldtiano esse princípio passa a ser base para toda comparação, um
guia para orientar-se dentro do espaço da diversidade.

A lingüística do caráter é a coroa do projeto humboldtiano do estudo da


linguagem. Isso não quer dizer que a lingüística da estrutura seja irrelevante,
porém ela só alcança sua plenitude na lingüística do caráter. O que a primeira
proporciona é a base necessária, o solo firme da língua que por si só não esgota
a tarefa de investigação, a qual se dirige a algo muito mais sutil, profundo e oculto
e muito menos fácil de analisar que é o caráter que a língua adquire durante seu
período de afinamento. ―A língua é o infinito que se desprega paulatinamente no
tempo‖ (EVII: 178, TR 228-229). O caráter nasce do uso, da maneira em que se
atualizam suas potencialidades como resultado da ação exercida continuamente
pelos usuários da língua.

Desse ponto em diante se introduz a distinção entre o uso científico e o uso


retórico da língua. O primeiro é instrumental, no qual o entendimento aliado à
situação reduz unilateralmente a língua a sua mera condição de signo. Este uso é
legítimo nas ciências de pura construção conceitual, também prevalece na
linguagem dos negócios, nas ocupações práticas do dia-a-dia. Já o segundo, ao
contrário, exige entendimento, intuição, imaginação, forças indivisíveis do ser
humano. Tal é a razão pela qual o uso retórico se revela como o uso mais
apropriado da língua. A poesia, a filosofia e a história constituem seus âmbitos
literários mais elevados.
É pois através do uso retórico que se forma o caráter da língua. O caráter
se forma no período em que floresce a literatura. O ponto mais alto do processo
de afinamento é representado pela poesia e pela prosa que se revelam como
duas vias de desenvolvimento da língua, cada uma delas faz aflorar uma das
dimensões que intervém na produção lingüística: a poética e a pragmática.

Aqui se evidencia uma vez mais a originalidade da posição de Humboldt


que reconhece na escrita o fundamento sobre o qual se vai constituindo a
individualidade lingüística. Desse modo, a tarefa que cabe ao lingüista é investigar
a língua em seus textos, no ponto de intersecção ente a lingüística e a literatura,
excluindo qualquer barreia entre ambas. O estudo da literatura, descartado
tradicionalmente pela ciência da linguagem, se converte aqui em parte integrante
do projeto humboldtiano.

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CONCLUSÃO

Humboldt leva a cabo uma mudança de paradigma que afeta não apenas a
lingüística, cujo desenvolvimento no século XX revela as conseqüências dessa
mudança de maneira bastante clara, mas também a filosofia para qual a
linguagem (vista como sistema de signos objetificados) nunca teve uma
dimensão filosófica. Essa mudança de paradigma ocorre em duas dimensões
diferentes; a cognitivo-semântica onde a linguagem é encarada não mais como
sistema de signos e sim como algo constitutivo da atividade de pensar, e que por
meio dela criam-se novos conceitos, novos conteúdos, tornando o mundo mais
acessível, e a comunicativo-pragmática, onde a mudança consiste em ver esse
caráter constitutivo da linguagem como resultado do processo de falar.
RESUMEN

Este trabajo presenta una visión general sobre el proyecto lingüístico de


Humboldt a partir de un abordaje de su filosofía a respecto de la diversidad de las
lenguas, su forma y materia.

Palabras-llave: Filosofía del lenguaje. Lenguaje. Gramática comparada.

NOTAS
1. Friedrich Wilhelm Christian Karl Ferdinand, Barão von Humboldt
(22 de junho de 1767, Potsdam - 8 de abril de 1835, Berlim), funcionário
do governo, diplomata, filósofo, fundador da Universidade de Berlim
(hoje, Humboldt-Universität), amigo de Goethe e especialmente de
Schiller, é principalmente conhecido como um linguista alemão que fez
importantes contribuições à filosofia da linguagem, à teoria e prática
pedagógicas e influenciou o desenvolvimento da filologia comparativa.
É particularmente reconhecido como tendo sido o pai do sistema
educacional alemão, que foi usado como modelo em países como os
Estados Unidos e Japão. Seu irmão mais novo Alexander von Humboldt
ficou famoso na área de Ciências Naturais.

2. Immanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 — Königsberg, 12 de


fevereiro de 1804) foi um filósofo prussiano, geralmente considerado
como o último grande filósofo dos princípios da era moderna,
indiscutivelmente um dos pensadores mais influentes.

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3. Johann Wolfgang von Goethe (Frankfurt am Main, 28 de Agosto de
1749 — Weimar, 22 de Março de 1832) foi um escritor alemão e
pensador que também fez incursões pelo campo da ciência. Como
escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura
alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do
século XIX. Juntamente com Friedrich Schiller foi um dos líderes do
movimento literário romântico alemão Sturm und Drang. De sua vasta
produção fazem parte: romances, peças de teatro, poemas, escritos
autobiográficos, reflexões teóricas nas áreas de arte, literatura e
ciências naturais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CESARE, Donatella di. Wilhelm von Humboldt y El estúdio filosófico de las


lenguas. Rubi (Barcelona); Anthropos Editorial 1999.

WHITNEY, W.D. A vida da Linguagem; tradução de Marcio Alexandre Cruz.


Petrópolis – RJ.Vozes, 2010.

BASTOS, Cleverton Leite. Filosofia da Linguagem. Petrópolis – RJ. Vozes,


2007.

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