Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Neimar Soares Silva (1) (neimarsoares@yahoo.com.br), Plínio Ricardo dos Santos (1)
(plinioricardosantos@hotmail.com), Vandeir Silva Miranda (1) (f130vsm@yahoo.com.br), Diego
Amorim (1) (dddids@yahoo.com.br), André Luís Cerávolo de Carvalho(1)
(ceravoloandre@gmail.com)
(1)
Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ); Departamento de Engenharia Mecânica
RESUMO: Desde 1999, a SAE BRASIL promove anualmente em São José dos Campos a competição
SAE BRASIL AERODESIGN. A competição tem como objetivos, promover conhecimentos
aeronáuticos e estimular o espírito de trabalho em equipe. Torna-se necessário desenvolver uma
aeronave otimizada e com grande eficiência estrutural e que transporte a maior carga possível, além
de atender todos os requisitos propostos pelo regulamento. As longarinas têm como principais
objetivos, resistir às forças de flexão e torção, causadas pelas forças de sustentação e arrasto. Por
isso, torna-se necessário projetar e construir longarinas mais eficientes, aprimorando técnicas e
projetos anteriores da equipe “Trem ki voa” de aerodesign da Universidade Federal de São João Del
Rei (UFSJ). Neste trabalho, objetiva-se comparar longarinas tipo caixão em madeira com a
longarina cilíndrico-cônica em carbono bidirecional. Nos projetos foram usados os softwares
Ansys® para a simulação em métodos de elementos finitos e Matlab® para a determinação das
cargas através do método de Sherenk. Através desta comparação, é possível comprovar que a
longarina do tipo cilíndrico-cônica é mais eficiente.
ABSTRACT: Since 1999, SAE BRAZIL promotes annually in São José dos Campos the competition
SAE BRAZIL AERODESIGN. The competition aims to promote aeronautical knowledge and
encourage the spirit of teamwork. It is necessary to develop an aircraft with optimized and highly
efficient structural and carrying the heaviest load possible, in addition to meeting all the
requirements proposed by the regulation. The stringers have as main goals, resist bending and
twisting forces caused by the forces of lift and drag. Therefore, it becomes necessary to design and
build stringers more efficient, improving techniques and previous projects team "Trem ki Voa"
AeroDesign of the Federal University of São João Del Rei (UFSJ). This work aimed to compare
stringers type coffin wood stringer with carbon bidirectional cylindrical-conical. In designs were
used Ansys ® software for simulations by element finite methods and Matlab ® for determination of
loads by the method of Sherenk. Through this comparison, it is possible to prove that the stringer type
is cylindrical-conical more efficient.
KEYWORDS: Coffin Stringer, Stringer Tubular, UAV, Finite Elements.
1. INTRODUÇÃO
Desde o primeiro voo de uma aeronave tripulada por Alberto Santos Dumont em 1906,
a indústria aeronáutica tem apresentado um nível de desenvolvimento jamais visto em
qualquer outro setor. Exaustivas horas têm sido gastas no desenvolvimento, criação e testes
dos novos produtos e conceitos. Em pouco mais de 100 anos foram notáveis os avanços na
aerodinâmica, sistemas de propulsão e, principalmente, no desenvolvimento de novos
materiais empregados em componentes estruturais das aeronaves.
As primeiras aeronaves utilizavam materiais provenientes da natureza, como varas de
bambus e madeiras leves, então utilizadas na construção naval. No revestimento de asas e
fuselagens, usavam-se tecidos que necessitavam de impermeabilização, porém com o tempo
apresentavam desgaste e necessitavam de constantes reparos.
Com o advento das duas grandes guerras mundiais, fez-se necessário o estudo e
desenvolvimento de materiais mais leves e resistentes, especialmente as ligas de alumínio e
alguns polímeros. Destaca-se o uso do alumínio aeronáutico no revestimento das fuselagens,
permitindo maior durabilidade e resistência a choques mecânicos. Porém, algumas aeronaves,
devido à simplicidade de projeto e ao menor custo de produção, ainda se utilizam de técnicas
produtivas empregando materiais dos primórdios da aviação.
Deve-se ressaltar que com o surgimento de novos materiais, entre eles os compósitos,
novas técnicas de otimização e fabricação têm sido desenvolvidas para a concepção de
elementos estruturais, visando reduzir peso, aumentar o desempenho das novas aeronaves,
além de simplificar o processo construtivo.
A competição SAE Brasil Aerodesign foi trazida ao país em 1999, sendo realizada
desde então na cidade de São José dos Campos – SP. A partir do ano 2001 a Equipe Trem ki
Voa Aerodesign iniciou sua participação na competição sob o nome Coiote, mantendo-o este
até meados de 2004. A equipe sempre teve um comportamento crescente nas classificações da
competição, mantendo-se a partir de 2008 entre os 10 primeiras colocadas, em 2010 alcançou
o 6º lugar geral e em 2011 a equipe recebeu a 6º posição em projeto, tendo todos os anos uma
média de 70 equipes inscritas.
A competição é dividida em três categorias, Micro, Regular e Advanced. Cada
categoria é avaliada em três etapas sendo: relatório escrito com 37 páginas que deve descrever
todas as etapas de projeto e testes. A segunda avaliação é durante uma apresentação oral, na
qual a equipe tem 15 minutos para apresentar o projeto a uma banca de quatro juízes, e 5
minutos para esclarecer as dúvidas dos mesmos. Após estas etapas se realizam as competições
de voo, que dentre várias regras deve-se, construir uma aeronave leve e que carregue o maior
peso possível, além de decolar em 50m e pousar em 100m, realizando um circuito de voo pré-
determinado com a maior segurança possível.
O dimensionamento estrutural correto representa um quesito fundamental para que se
consiga redução de peso, sem prejudicar a resistência e a segurança do projeto. A equipe no
ano de 2011 não conseguiu realizar as provas de voo devido à fratura da longarina, o que
prejudicou a colocação geral da mesma, surgindo então a necessidade de se realizarem
melhorias no seu projeto e construção.
Como possível solução para a longarina, a equipe iniciou estudos para desenvolver
uma longarina tubular em material compósito de matriz epóxi e reforço de carbono
bidirecional, esta tem como função principal, resistir às cargas de Flexo-torção geradas
durante o voo. Foi adotado pela equipe longarina de secção cilíndrica na parte reta da asa e
cônica da parte trapezoidal, sendo está considerada pela equipe a que apresentou melhor
facilidade construtiva e melhor relação peso/resistência.
O presente trabalho tem como objetivo comparar o projeto de uma longarina do tipo
caixão e de uma longarina tubular de carbono, levando em consideração sua contribuição para
a massa final da asa, a carga máxima suportada e o tempo de fabricação, através dos
resultados obtidos de ensaios mecânicos e via elementos finitos para uma aeronave rádio
controlada e não tripulada destinada a participar da XIV Competição SAE Brasil Aerodesign.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Na longarina tubular de carbono, foi usada a matriz de resina epóxi, com reforço de
manta de carbono bidirecional, sendo que os moldes foram feitos de isopor do tipo P4 e
cobertos com fita adesiva.
A longarina é parte da estrutura de uma asa que trabalha essencialmente como uma viga
solicitada por flexão. Para longarinas de madeira, a seção mais aconselhável pelas suas
vantagens em economia de material e, consequentemente, redução de peso, é a forma em
caixão (Brotero, 1941).
Basicamente uma longarina caixão é constituída por duas mesas, uma de compressão e
outra de tração, ambas confeccionadas em freijó. O conjunto é revestido de cada lado com
chapas de contraplacado de madeira leve. No caso das aeronaves da equipe Trem Ki Voa usa-
se a madeira balsa, solidárias as mesas (Figura 2), com a função de resistir aos esforços
cortantes longitudinais (Brotero, 1941).
(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 5. Diagramas da distribuição de sustentação (a), do momento Fletor (b), Força
Cortante (c) e Momento Torçor (d).
Apesar de a sustentação gerada poder ser considerada como uma carga distribuída do
ponto de visto do exterior da asa, as cargas geradas na entelagem são transmitidas para as
nervuras de balsa que retransmitem para uma pequena área de contato com a envergadura.
Isso faz com que a sustentação seja transformada em cargas concentradas e aplicadas somente
nas áreas onde os perfis são colados na longarina.
Para a determinação da carga que cada área de contato está sujeita, considera-se que a
força gerada para cada perfil é relativa à área formada entre os planos dispostos
simetricamente entre dois perfis, à direita e a esquerda (figura 6).
2.1.4 Ensaios
Para verificar a capacidade da longarina de suportar as cargas ao qual ela foi projetada,
foram realizados testes de carregamento.
Com base nos dados de carregamento obtidos pelo método de aproximação de Shrenk,
foram determinadas as cargas atuantes nas regiões de cada perfil. Com estes dados, a equipe
separou os pesos equivalentes em sacos de areia, sendo colocados sob os respectivos perfis, a
fim de comprovar se a longarina resistiria as cargas máximas de voo (Figura 9).
O teste de torção da asa foi realizado com o auxílio de uma camionete D 20, estando a
asa com um ângulo de ataque de zero grau e fixa a um suporte na sua carroceria. Este ensaio
foi realizado em local nivelado com o auxílio de um inclinômetro e de uma câmera acoplada
na ponta da asa para registrar a variação do ângulo na ponta da asa, obtendo assim a torção
sofrida pela mesma, o valor máximo medido foi de 240 (Figura 10). A velocidade de
deslocamento do veículo foi de, aproximadamente 84 km/h, que é a respectiva velocidade de
mergulho da aeronave, segundo o envelope de voo.
Para realizar a comparação e escolher qual a melhor longarina, equipe iniciou estudos
para desenvolver uma longarina tubular em material compósito de matriz epóxi e reforço de
carbono bidirecional, esta tem como função principal, resistir às cargas de Flexo-torção
geradas durante o voo. Foi adotado pela equipe longarina de secção cilíndrica na parte reta da
asa e cônica da parte trapezoidal, sendo esta considerada pela equipe por melhor apresentar
melhor facilidade construtiva e melhor relação peso/resistência.
Para laminados projetados para serem leves e fortes, a forma de reforço mais eficiente
são os tecidos, pois permitem fabricar um laminado muito fino e com alto teor de fibras,
podendo assim dimensionar exatamente as propriedades de resistência necessárias para
determinado projeto. Utilizamos na longarina tecido bidirecional (0º – 90º) com trama plana,
este é o tecido mais leve (120 a 400 g/m²) e também o mais simples. Consiste em cabos
intercalados em direções ortogonais que se dispõem em um padrão onde os cabos da trama
cruzam acima e abaixo do cabo do urdume. Este tipo de material tem sua resistência reduzida
devido ao maior número de cruzamentos por unidades de área, pode ser balanceada, com alta
ou baixa porosidade dependendo do tex e do número de terminações por centímetro [Nasseh,
2007].
As resinas epóxi são uma classe de resinas termofixas de alto desempenho, com uma
grande variedade de aplicações, podendo ser usadas em diferentes técnicas e processos. O
desenvolvimento das resinas epóxi se iniciou por volta de 1920, mas foi só mesmo a partir de
1960 que seu uso começou em escala industrial.
Resinas Epóxi são uma das mais importantes classes de polímeros termoestáveis
usados para aplicações estruturais, mostra alta força de tensão e módulo, fácil processamento,
boa resistência química e térmica, sua baixa resistência à fratura é a sua maior deficiência.
Após a cura, os sistemas epóxi apresentam pequena contração, em média na ordem de 2%.
Este comportamento indica que para formar o sistema curado é necessário um baixo grau de
rearranjo molecular. Quanto à estabilidade química, o epóxi é um dos termorrígidos mais
inertes e possui boa estabilidade dimensional em serviço [G. Pires, et al., 2005].
A alta adesão apresentada por estes polímeros é consequência da polaridade dos
grupos éteres e hidroxilas alifáticas que, frequentemente, constituem a cadeia da resina inicial
e a rede do sistema curado. A polaridade desses grupos serve para criar forças de interação
entre a molécula epóxi e a superfície adjacente a ela, otimizando o seu uso como adesivo e
revestimento. Como matriz em compósitos, a existência desses grupos polares minimiza
problemas relativos à interface resina/reforço [RUSHING, et al., 1994.].
Para esta construção, foi utilizado resina epóxi ARALDITE LY 5052 1Kg lote número
AAA1708200 e catalizador ARADUR 5052 CH 1Kg lote número AAA1462200, na
proporção 67% Resina e 33% catalisador.
Suas propriedades são mostradas na tabela 3.
Para fabricação da longarina, foi utilizado polímero reforçado com fibras de carbono
bidirecional 0º - 90º (CFRP), este material vem sendo utilizado como alternativa para reforçar
e fabricar peças estruturais, mostrando-se altamente promissor no desempenho destas funções,
além de apresentar uma excelente resistência à corrosão [Taylor et al., (1994) apud Beber et
al., (1999)]. Para a escolha deste material foi decisivo considerar suas propriedades
mecânicas, pois devido aos seus altos valores de resistência e baixo peso, conseguimos
elaborar um projeto, capaz de resistir às forças de flexo-torção, existentes em uma longarina
tubular, sem sofrer grandes deformações ou variações de ângulo de ataque.
As propriedades do laminado são mostradas na tabela 4.
Os moldes foram feitos em isopor e protegidos com fita plástica, podendo assim
realizar o tratamento com cera desmoldante para facilitar a retirada, estes foram divididos em
três partes: Parte reta cilíndrica, parte trapezoidal cônica direita e trapezoidal cônica esquerda,
as partes foram unidas com resina epóxi. Após a laminação, o isopor foi retirado com o
auxílio de gasolina e a fita adesiva se desprendeu facilmente do laminado devido à cera.
cargas utilizadas são as mesmas usadas para a longarina tipo caixão, porém para a longarina
tubular as áreas de contato tornaram-se circulares (figura 5). Foi demarcada na longarina a
posição de cada perfil e aplicada nesses pontos o carregamento equivalente a que age naquele
ponto. A geometria inicial adotada pela equipe era de uma longarina totalmente cônica, mas
devido à dificuldade construtiva encontrada pela equipe durante a fabricação do molde e
durante a etapa de retirada do molde, a equipe resolveu adotar uma longarina mista, sendo
cilíndrica na parte reta e cônica na parte trapezoidal da asa. Esta configuração acelerou o
processo construtivo e atendeu as necessidades da equipe.
Os diâmetros dos tubos foram estimados pela equipe de modo que melhor se
posicionassem em relação aos perfis, chegando a um diâmetro de 30 mm na raiz e 20 mm na
ponta da asa, a parte superior da longarina é reta, facilitando o alinhamento dos perfis.
Após estas definições, foram realizadas análises em elementos finitos com o auxílio do
software Ansys14®. A malha desenvolvida foi composta de somente elementos de casca
quadrados (figura 11), o que permitiu uma maior velocidade durante a geração desses
elementos e o posterior cálculo das tensões e deformações.
Convém destacar que esse tipo de longarina por si só já é capaz de resistir aos esforços
torcionais gerados pelas forças aerodinâmicas. Como são utilizados perfis hipersustentadores
de alto arqueamento, a resultante da sustentação desloca-se em direção ao bordo de fuga do
perfil, se distanciando do ponto correspondente aos 25% da corda, o ponto da resultante da
sustentação para perfis simétricos. Esse deslocamento passa a gerar um momento que a
longarina passa a ter que suportar.
2.2.2 Ensaios
3. Resultados e conclusões
baixa densidade e resistência necessária para que o produto final contribua para se ter uma
aeronave com uma excelente eficiência estrutural.
O custo de produção da longarina de compósito foi elevado se comparada a caixão,
mas os materiais utilizados em sua construção são obtidos em forma de patrocínio na empresa
ALLTEC Materiais Compostos até então sem dificuldades e restrições. A madeira freijó é
mais barata e fácil de conseguir, apesar desta ser adquirida com recursos da equipe. Portanto o
custo de fabricação não seria o grande diferencial na escolha.
A massa da longarina caixão em madeira foi de 156 g mais 50 g de madeira balsa
usada no chapeamento do bordo de ataque (necessário para resistir à torção). A quantidade de
cola gasta foi de 12 g. A longarina em carbono apresentou uma massa de 138,6 g. Para a
colagem dos perfis foram gastos 32 g de cola, não se utiliza bordo de ataque, pois, está devido
ao seu formato resiste às cargas de torção.
O tempo gasto nos processos construtivos da longarina caixão, entre eles corte,
desbaste e colagem, foi de 36 horas. Na longarina tubular, o tempo gasto na construção foi de
21 horas, sendo a maior parte do tempo gasto com a construção do molde em isopor e pelo
processo de laminação do compósito, sendo o tempo de cura de sete dias desconsiderado.
Logo, no quesito tempo de construção e peso final, a longarina tubular destacou-se,
sendo selecionada para o projeto oficial 2012.
REFERÊNCIAS:
Structural Analysis with the Finite Element Method, Linear static. Volume 1. Basis and
Solids. Universitat Politècnica de Catalunya (UPC), Barcelona, Spain. 2009
MASCIA, N. T. “Considerações a respeito da anisotropia da madeira”. São Carlos, Tese
de doutorado – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1991.
NASSEH, J.. Barcos: Métodos Avançados de Construção em Composites. Rio de Janeiro,
2007, 363 p.
NASSEH, J.. Manual de Construção de Barcos, 4 ed. Rio de Janeiro, 2011, 660 p.
PULLIN, D. C.. Apostila de Aerodinâmica do Avião; Desempenho. Belo Horizonte:CEA–
EEUFMG, 1976
RAYMER, D. P.. Aircraft Design: A Conceptual Approach. Washington D. C.: AIAA
Education Series, Inc.. Washington, 1989.
RUSHING, R.A., THOMPSON, C., CASSIDY, P.E., J. Applied Polymer Science, v. 53,
pp. 1211-1219, 1994.
SCHRENK, O. A simple approximate method for obtaining the span-wise lift
distribution. NACA Technical Memo No. 948, 1940.