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Instituto Federal Goiano – Campus Ceres

Especialização em Ensino de Ciências da Natureza e Educação Matemática


Professora: Simone
Aluna: Elivane Leandro
Trabalho - Resenha Crítica

Capítulo 01 – A produção da Pesquisa em Educação no Brasil e suas


Implicações.
GATTI, Bernardete Angelina. A construção da Pesquisa em Educação no Brasil. Liber
Livro Editora – Brasília - 2010 – 3º Edição – 87p. (Série Pesquisa, 1)

Em definição, pesquisa é o ato pelo qual procuramos obter conhecimento


sobre alguma coisa. Essa ação, no entanto, possui características muito específicas
que irá objetivar um conhecimento que ultrapasse nosso entendimento imediato na
explicação ou na compreensão da realidade que observamos.
A margem da incerteza, já que o conhecimento não é absoluto e nem definitivo,
faz parte da pesquisa. Outra característica é o fato de que, quem pesquisa procura
descrever, compreender ou explicar alguma coisa. Assim a pesquisa é um
conhecimento vinculado a critérios de escolha e interpretação de dados, qualquer que
seja a natureza destes dados.
Os dados são adquiridos através de depoimentos, entrevistas, diálogos,
discussões, observações, etc. Nesses dados é considerado o momento histórico, o
contexto, a teoria, os métodos, as técnicas utilizadas, dentre outros.
Em educação, a pesquisa se torna ainda mais específica, já que o principal
envolvido são seres humanos e seu processo de vida, no qual nem todos os fatores da
situação podem ser controlados. Isso porque, o ser humano vive em um constante
processo dinâmico, simultâneo, de consolidação, contradição e mudança. Assim, a
pesquisa em educação abrange questões filosóficas, sociológicas, psicológicas,
políticas, biológicas, administrativa, etc.
A produção da Pesquisa em educação, no Brasil, é datada a partir do
século 20. No percurso de seu desenvolvimento é possível destacar avanços a partir
da criação do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). Essas
pesquisas focaram formação em métodos e técnicas de investigação científica em
educação, de natureza experimental, contribuindo para sua institucionalização. Nesse
ponto a autora descreve de forma detalhada o percurso das pesquisas em educação
no Brasil. Predominam pesquisas com visíveis convergências temáticas e
metodológicas especialmente em psicopedagogia, processos de ensino e
instrumentos de medida de aprendizagem. Em outro momento as pesquisas
apresentam as condições culturais e a tendência de desenvolvimento da sociedade
brasileira. No período ditatorial o objeto de atenção mais comum era a relação entre o
sistema escolar e certos aspectos da sociedade. Houve o enfoque na educação como
investimento, demanda profissional, formação de recursos humanos, técnicas
programadas de ensino, etc. Em seguida são observados temas como currículos,
caracterizações de redes e recursos educativos, avaliação de programas, relação
entre educação e profissionalização, características de alunos, famílias e ambientes
de que provem nutrição e aprendizagem, validação e crítica de instrumentos de
diagnostico e avaliação, estratégias de ensino, etc. Os métodos agora envolvem
pesquisas, não só quantitativamente, mas também qualitativamente com abordagens
mais criticas. Apesar dos avanços, são identificados problemas de base na construção
dessas pesquisas. A partir do final da década de 90, o enfoque passa ser
alfabetização e linguagem, aprendizagem escolar, formação de professores, ensino e
currículo, educação infantil, fundamental e médio, educação de jovens e adultos,
ensino superior, gestão escolar, avaliação educacional, historia da educação, políticas
educacionais, trabalho e educação.
Dos problemas/implicações nas construções das pesquisas em educação,
teoria e método são os mais apontados, especialmente em procedimentos de coleta
de dados e de análise. No presente a pesquisa educacional traz desafios teóricos e
metodológicos que ainda permanecem em aberto.
Pesquisa em educação no Brasil reflete modismos periódicos, pouca
institucionalização e pequena tradição em produção científica nessa área. Outra
tendência é o imediatismo quanto à escolha dos problemas de pesquisa.
Demonstrando que a relação pesquisa-ação-mudança é encarada de maneira
simplista.
A autora chama a atenção para certa cautela quanto às tendências/problemas
já citadas (os). Para ela o imediatismo empobrece a teoria, justificando que a pesquisa
não pode estar a serviço de solucionar impasses pequenos do cotidiano. Uma
pergunta adequada, que não tem resposta evidente, constituindo o ponto de origem de
uma investigação cientifica. Problema não encontrado apenas em pesquisas
brasileiras.
Para solucionar os problemas de investigações, ela aponta que se deve
realizar levantamento de questões mais de fundo e obter capacidade de antecipar hoje
problemas que estão se descortinando, carecendo com isso, manter constância e
continuidade no trabalho de pesquisadores dedicados a temas preferenciais por
períodos mais longos, caracterizando certa especificidade com conhecimento mais
sistematizado.
As universidades/instituições, nas quais a pesquisa veio a se desenvolver,
não há apoio à pesquisa educacional, incentivando pesquisas individuais até nos
programas de pós-graduação stricto sensu. As universidades brasileiras não nasceram
conjugando pesquisa e ensino. Não foram estruturadas para incorporar a produção de
conhecimento de modo sistemático. Elas reproduzem um conhecimento que não
produziu com o qual não trabalhou investigativamente, mas que absorveu e transfere.
Dentre os contrapontos importantes, observados a partir dos anos 80, e
citados pela autora, enumeram-se discussões típicas que refletem as questões
teórico-metodológicas. Aqui a autora utiliza como exemplo Luna (1988) e Franco
(1988) expondo as argumentações desses autores. Por exemplo, Luna (1988) trabalha
a ideia de um falso conflito entre tendência metodológica enquanto que Franco (1988)
contrapõe-se argumentando porque o conflito entre tendências metodológicas não é
falso. A intenção aqui é demonstrar que os confrontos entre os autores podem ser
caracterizados como pesquisa qualitativa, com uso de métodos alternativos aos
modelos experimentais e aos estudos empiricistas. Os confrontos entre os trabalhos
tipificam posturas epistemológicas ente métodos e formas específicas de utilização de
técnicas, o que logicamente integra a investigação científica.
Problemas ligados ao uso de certos métodos (procedimentos na
investigação) são comuns na área educacional, tanto no Brasil quanto fora dele. As
técnicas não são discutidas em profundidade, bem como sua apropriação de forma
consistente. Dando origem a pesquisas instrumentalizadas. Aqui a autora compara a
pesquisa qualitativa, quantitativa, experimental e não experimental. Em pesquisas são
exigidas uso de técnicas não quantitativas de obtenção de dados, alto grau de
exigência no trato com a realidade e sua reconstrução, domínio consistente de
métodos e técnicas de investigação. São exatamente nesses pontos que a autora
constata fragilidades que merecem ser apontadas. Nos trabalhos quantitativos, como
indica a autora, verificou-se hipóteses mal-colocadas, variáveis pouco
operacionalizadas ou operacionalizadas de modo inadequado, sem se preocupar com
a validade e a fidedignidade dos instrumentos de medida, dentre outros. A autora
aponta vários outros problemas e destaca que, os mesmos não são poucos,
concluindo que há uma precária formação que tivemos e temos em pesquisas e critica
tanto os métodos ditos quantitativos como os qualitativos. Finalizando, nem tudo o que
se faz sob o rótulo de pesquisa educacional pode ser realmente considerado como
fundado em principio da investigação cientifica.
A pesquisa em educação produz impacto social. Aqui a autora cita dois
trabalhos com objetivos de analisar como e em que magnitude as pesquisas
realizadas nas instituições de ensino superior contribuíram para o desenvolvimento de
reformas e inovações no sistema educacional, nos níveis fundamental e médio.
Respeitando o fator tempo na investigação científica, as pesquisas realizadas
refletiram iniciativas politicas, locais, em instituições específicas, em Estados e
municípios. Ela ressalta ainda que, enquanto a pesquisa questiona e tenta
compreender as questões educacionais, os administradores, técnicos e professores
estão atuando a partir dos conceitos e informações que lhes foram disponibilizados
através dessas pesquisas. É um processo de sucessividade e de simultaneidade, num
contexto histórico, histórico pessoal e social. Ou seja, as ações daqueles que
receberam orientações a partir das pesquisas manifestam ações daquilo que
construíram como conhecimento, a partir de seu próprio processo educativo e de sua
pratica social e profissional. Assim, a pesquisa, de fato, produz impacto social.
Na ultima parte do texto, há argumentos plausíveis relacionando pesquisas
com maior consistência metodológica e sua disseminação pelo social. Nas palavras da
autora, trabalhos com maior rigor metodológico além de ser entendido como mais
confiável; menos frágil e não facilmente contra-argumentável são mais aceitos e por
isso acabam por causar algum impacto social. Além do rigor metodológico outras
qualidades como abrangência, nível de consistência, foco de impacto, aderência ao
real e tocando os pontos críticos concretos são colocados como essenciais para que
uma pesquisa seja vista como relevante e especialmente politicamente interessante.
O texto base possui uma linguagem acessível, mas deve ser lido e relido varias
vezes para evitar interpretação superficial. É interessante para acadêmicos que
desejam realizar pesquisas com qualidade observando falhas comuns a pesquisas já
publicadas. Especialmente aquelas com inconsistência metodológica.
Carece atenção e mais discussões, o fato de que, pesquisas descontínuas e
sem constância, acredito, pode se caracterizar como um problema cultural (não somos
ensinados a pesquisar, tão pouco fazemos uso dela) e político (não há investimentos).
Conforme a autora os problemas apontados não são exclusivos de pesquisas
brasileiras. Um questionamento me veio então. As pesquisas fora do Brasil, com
problemas parecidos, podem ser também produtos de cultura e política?

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