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RESENHA DO ARTIGO ESTÁGIO E DOCÊNCIA: DIFERENTES

CONCEPÇÕES
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. “Estágio e docência:
diferentes concepções”. Revista Poiésis – Volume 3, Números 3 e 4, pp. 5-22,
2005/2006.
Acadêmica: Hellen Amaral
No artigo Estágio e docência: diferentes concepções, as autoras Selma Garrido e
Maria Socorro abordam temas relacionados ao estágio docente que ocorre dentro dos
cursos de formação de professores, no decorrer do trabalho elas utilizam diferentes
estudiosos da área, para discutir e abordar a problemática da formação dos professores e
a relação entre teoria e prática nos estágios.
As autoras comentam que em uma visão geral, o estágio é concebido como a
parte prática do curso, ou seja, primeiro existe uma formação teórica e no final coloca-
se à prova aquilo visto em teoria. Isso é fomentado não somente na fala dos alunos,
como também no desenvolvimento das disciplinas desenvolvidas pelos professores das
instituições que ministram disciplinas isoladas e não conseguem atrelar relação com
aquilo que é ensinado e como isso pode ser usado na realidade escolar na qual esses
futuros professores estarão inseridos. Além disso a própria estrutura curricular dos
cursos de licenciatura estimula essa dissociação, no sentido de que dispõe de cargas
horárias reduzidas e baixos investimentos destinados ao estágio.
Dois modelos de práticas são discutidos ao longo do artigo, o primeiro é o da
prática como imitação, onde as autoras afirmam que “o exercício de qualquer profissão
é prático, no sentido que se trata de aprender a fazer algo”, ou seja, nessa perspectiva o
aluno observa, escolhe algumas coisas/características que julgam adequadas e imitam
reproduzindo aquilo que observaram. Entretanto essa prática é limita e insuficiente visto
que muitos alunos não possuem senso crítico para analisar/refletir sobre o universo ao
qual estão inseridos e acabam reproduzindo modelos prontos que muitas vezes não são
adequados para as diferentes situações daquele contexto. Esse tipo de prática é
conhecido por alguns autores como “artesanal”, caracterizando o modelo tradicional de
atuação docente, onde o professor se detém fiel e restritamente ao conteúdo
programático da disciplina, não levando em consideração o conhecimento prévio dos
alunos e não se importando de fato se o aluno compreendeu ou não o assunto abordado.
Portanto essa concepção da prática como imitação reduz a atividade docente á apenas
um fazer, onde não existe reflexão crítica com fundamentação teórica e levando em
consideração a realidade social.
O segundo modelo trata sobre a prática como instrumentalização técnica, no
qual as autoras asseguram que “o exercício de qualquer profissão é técnico, pois é
necessário a utilização de técnicas/habilidades para desenvolver e executar as
operações”. Adotando essa postura o profissional trata a teoria e a prática de forma
isolada, reforçando uma teoria desvinculada da prática ou uma teoria onde não existe
relação com a prática. Existe sim a necessidade de se desenvolver habilidades e técnicas
que auxiliem na ação docente, mas é muito importante salientar que nem sempre essas,
serão adequadas ou capazes de solucionar os diversos problemas que surgirão no âmbito
profissional. É importante que o professor entenda essa premissa e possa sempre
analisar o contexto e refletir sobre qual (is) técnica (as) e habilidades ele deve lançar
mão ou ainda se existe a necessidade do desenvolvimento de novas habilidades/técnicas
para a efetivação do conhecimento teórico-prático.
No entanto o artigo mostra que o Estágio docente é um campo de conhecimento
que não pode ser reduzido meramente á uma prática que se distancia da parte teórica,
por isso no tópico “O que entendemos por teoria e por prática” as autoras explicam
diversos conceitos, iniciam abordando que a profissão docente é uma prática social, ou
seja, a partir dela é possível intervir na realidade social e isso acontece por meio da
educação que se dá na maioria das vezes dentro das instituições. Nesse contexto surgem
dois outros conceitos importantes o de prática e o de ação, onde afirmam que a prática
é a forma de educar que ocorre em diferentes contextos dentro das instituições e que
também obedece á múltiplos determinantes como os parâmetros institucionais, as
tradições metodológicas, as condições dos professores e da estrutura institucional
existente. Já a ação se refere aos sujeitos, a atividade humana, que leva em
consideração seus modos de agir, pensar, valores, desejos, seu modo de planejar,
executar e ensinar.
Nesse sentido a prática e a ação pedagógica que permeiam o ensino ministrado
pelos professores devem ser “iluminadas” pelas teorias pedagógicas, para que dessa
maneira sejam utilizadas como instrumentos de análise e reflexão gerando
questionamentos, é dessa maneira que o profissional constrói a práxis, sempre buscando
o conhecimento científico e refletindo sobre como suas ações interferem e transformam
a realidade social.
Outro aspecto importante que as autoras defendem no texto é o de que, o estágio
como campo de conhecimento pode se constituir em uma atividade de pesquisa, isso
porque os estudantes poderão a partir da análise e reflexão sobre as problemáticas
encontradas na escola, desenvolver projetos que busquem compreender as situações ali
presentes na escola e ainda a possibilidade de intervir nesse meio juntamente com o
auxílio dos professores da universidade, buscando uma solução. Assim o estágio com e
como pesquisa supera a dicotomia entre teoria e prática, além de contribuir para formar
futuros professores com pensamento crítico reflexivo com capacidade analisar as
situações, as realidades, a práxis, as dificuldades e problemáticas que impedem a
formação de qualidade.
Por fim, fica claro que a superação desse paradigma ainda hoje é um grande
desafio, mas é de suma importância que tanto os professores de estágio como os futuros
professores tenham plena consciência de que o estágio docente proporciona aspectos
para a construção do profissional (identidade, saberes e postura) e que a partir da análise
e reflexão sobre a ação e prática docente poderemos intervir na realidade social de
maneira efetiva. Por isso o trabalho docente só será produtivo se o ensino se converter
em conhecimentos, habilidades, capacidades e atitudes tanto do aluno como do
professor, esses devem ter capacidade de pensamento crítico e reflexivo, pois é
entendendo a realidade que poderemos intervir buscando a transformação.

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