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STETZER, Ed. Plantando Igrejas Missionais. São Paulo: Vida Nova, 2015. Pg. 265-278.

Pequenos grupos

O ministério de pequenos grupos é essencial para a saúde de qualquer igreja.


Esse ministério inclui células, grupos nas casas, aulas da Escola Dominical e
outros encontros que promovem os relacionamentos na família da fé.
Toda igreja saudável com uma frequência superior a cinquenta pessoas
deve criar uma rede multiplicadora de pequenos grupos que poderá tomar
lormas diversas, mas que cumprirá o objetivo de manter a igreja unida.
Segundo George Gallup, 70% dos americanos afirmam que a igreja não está
atendendo a suas a necessidades. Quando lhes perguntaram que necessidades
eram essas, foram seis as respostas mais comuns:

1. crer que a vida tem significado e propósito;


2. ter um senso de comunidade e relacionamentos mais profundos;
3. ser valorizado e respeitado;
4. ser ouvido e compreendido;
5. crescer na fé;
6. receber ajuda prática para o desenvolvimento de uma fé madura.1

D a li' (ía llo w a y , l / i r sm nll y p o i i p ( C í r a i u l Ita p id s : U cv e ll, ! W 5 ) , p . 17.


[ EEG ] PLANTANDO IGREJAS MI SSI ONAI Ü
PEQUENOS GRUPDS [ 26 7 ]

Essas necessidades podem ser atendidas em contextos diversos, porem


O versículo 42 nos diz que os discípulos “perseveravam no ensino dos
isso se dará de maneira mais eficaz num pequeno grupo de cuidado mútuo
apóstolos”. Esse processo de ensino e aprendizagem tornou-se fundamental
Esse aspecto talvez ajude a explicar a ascensão dos pequenos grupos tanto no
para seu crescimento no discipulado. O texto ressalta ainda que havia comu­
ambiente secular quanto no eclesiástico na sociedade contemporânea.
nhão. Os discípulos partiam o pão numa indicação de que celebravam juntos
a ceia do Senhor nas casas.
Estudo bíblico de cultivo Esses crentes de Jerusalém também oravam, perseverando na oração. Ha­
O grupo de cultivo que se reúne nas casas é um grupo de estudo bíblico dilr via sinais e maravilhas, possivelmente com frequência. Deus estava realizando
rente. O plantador usa esse grupo para cultivar a relação da pessoa desigrejada leitos milagrosos. Essas pessoas, que amavam a Deus, também amavam os
com Cristo e para desenvolver a maturidade do novo líder em Cristo. outros e cuidavam de suas necessidades.
Na agricultura, cultivar significa dar atenção contínua à semente plantada, O versículo 46 diz que eles adoravam juntos no templo e se reuniam nas
alimentando-a, limpando-a e preparando-a para que venha a produzir uma casas para celebrar a ceia do Senhor e para realizar outras atividades. Naquele
colheita sólida, sadia e que se multiplique. Na plantação de igrejas, cultivamos tempo, como agora, o ministério de pequenos grupos envolvia as pessoas na
pessoas: de pequenos brotos no momento em que aceitam a Cristo, elas sr adoração. Louvor e crescimento numérico significativo acompanharam o mi­
desenvolvem e se tornam crentes maduros e sadios, membros individuais di­ nistério da igreja primitiva por meio da ministração dos grupos nas casas de
urna família de igreja. Seria tolo o agricultor que ignorasse a lavoura durante lormas variadas. Devemos usar os pequenos grupos para alcançar todos esses
os quatro ou cinco meses que antecedem a colheita e depois se admirasse de propósitos: adoração, oração, estudo e comunhão, usando o tempo de que
não ter safra alguma. Contudo, como plantadores de igreja, muitas vezes nos dispomos, (cerca de uma hora e meia incluindo o lanche) já que todos têm
desdobramos para participar dos congressos mais badalados e para estudar as uma agenda muito carregada.
últimas tendências na esperança de que nossas igrejas cresçam rapidamenie,
ignorando, ao mesmo tempo, as oportunidades de integrar pessoas em relacio
Louvor
namentos continuados de cultivo.
Atos 2.42-47 descreve as atividades da igreja primitiva: O pequeno grupo geralmente começa com o louvor. No passado, era difícil
alguém sem preparo musical liderar o louvor. Hoje em dia, porém, com o CD,
E eles perseveravam no ensino dos apóstolos e na comunhão, no partir do arquivos midi para o computador e outras ferramentas, esse problema foi, em
pão e nas orações. Em cada um havia temor, e muitos sinais e feitos extra­ grande parte, resolvido. Esses recursos possibilitam que um grupo de cinco
ordinários eram realizados pelos apóstolos. Todos os que criam estavam pessoas pareça um coral.
unidos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens, e os Você pode orientar os líderes dos pequenos grupos incentivando-os a usar
repartiam com todos, segundo a necessidade de cada um. E perseverando de as músicas que talvez já conheçam dos cultos semanais na igreja. Especial­
comum acordo todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam mente durante os primeiros encontros, mantenha a simplicidade e deixe que
com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e contando com o as pessoas participem de acordo com seu grau de conforto. Liderar um peque­
favor de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava a cada dia os que iam no grupo pode ser um teste para os nervos de marinheiros de primeira viagem.
sendo salvos. Você poderá ajudar orientando os líderes e os hospedeiros na logística básica
da seleção das músicas, deixando-a preparada e dando o tom para essa parte
Observe a frequência com que os discípulos se reuniam nas casas. O texto
da reunião do grupo. Conserve a simplicidade em tudo.
diz que eles se reuniam no templo, mas Lucas se preocupou em descrevei
Recomendo que se usem intcncionalmente cânticos alegres e ritmados nos
também as reuniões nas casas que ocorriam regularmente.
encontros. Do ponto de vista prático, quem não canta muito bem não se sentirá
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muito exposto com esse tipo de música simplesmente porque não consegue iransforme em uma preleção, embora o estudo bíblico de cultivo pressuponha
sustentar as notas mais longas. Isso também ajuda o facilitador. É mais fácil pouco conhecimento bíblico por parte dos aprendizes.
começar a falar a um grupo de qualquer tamanho com um clima “para cima”, Os melhores e mais eficazes estudos de cultivo evitam termos do “igrejês”
positivo, e não sombrio e reflexivo. No entanto, certamente há lugar para eomo “lavados no sangue do Cordeiro” e outras expressões conhecidas da
diversos estilos de música nos pequenos grupos. maioria dos membros mais antigos das igrejas. O estudo de que estamos
Encorajo a adoração com música em todo tipo de pequeno grupo, exceto tratando aqui deve levar o aprendiz a concluir que Cristo é a resposta,
um: os que tenham menos de quatro pessoas. Grupos desse tamanho não se engrandecendo-o de tal modo que as pessoas conheçam o evangelho de um
sentem à vontade para cantar, principalmente se não estiverem habituados a modo pessoal. Na sequência, apresento alguns princípios fundamentais para a
cantar na presença de outros. condução de um estudo bíblico de cultivo.
Promova a discussão e não a transforme em preleção. O líder orienta
a discussão e resume o que está sendo dito de tempos em tempos. Comece
□ração
com perguntas fáceis, para quebrar o gelo, de modo que as pessoas participem
A oração geralmente decorre da adoração com música. É um momento que e se sintam à vontade desde o início. No caso específico dos mais tímidos,
une os membros do grupo e potencializa seu crescimento. O plantador de expressar-se logo no início da discussão parece deixá-los mais à vontade para
igreja deve reconhecer que a oração do pequeno grupo se torna, com frequência, se abrirem durante as partes mais complexas do estudo.
um momento de enorme ansiedade para as pessoas que não estão habituadas Prepare perguntas direcionadoras. Estas levarão o aprendiz a refletir,
a orar. Incentive as pessoas a orar da maneira que se sentirem mais à vontade deixar o sentimento fluir e analisar uma passagem para extrair dela a espe­
e com palavras do dia a dia. rança ou as expectativas divinas. As perguntas direcionadoras permitem ao
Ilá recursos excelentes que ensinam a orar. Talvez você pudesse começai aprendiz tirar conclusões pessoais com base no conteúdo do estudo. Evite
dando um modelo de como orar ao recitar as Escrituras. Ajude as pessoas a lazer perguntas que suscitem respostas do tipo sim/não ou as que possam ser
dar pequenos passos e proporcione a elas experiências para começar a com lacilmente respondidas com uma única palavra.
preender esse aspecto um tanto intimidador de “falar com Deus” e o que isso Não perca o foco. Envolva todos os participantes de modo que mani-
significa. Esteja preparado, porque todo grupo tem pelo menos uma pessoa íestem sua opinião, mas não perca o foco. O estudo não deve se tornar uma
que se sente constrangida a orar em voz alta. Cuidado para não demous oportunidade para que pessoas desinformadas do grupo compartilhem suas
trar preferência por um integrante. Esforce-se para que as pessoas sejam incertezas sobre certas questões. Por exemplo, em vez de explicar os diferentes
equipadas para orar. Até mesmo momentos de oração silenciosa individual pontos de vista sobre o fim dos tempos, um estudo bíblico de cultivo pode
podem ser muito significativos, porque permitem que todos partilhem desse mostrar como fazer de Cristo o centro do seu lar.
momento de oração a despeito dos seus temores. Ensine a eles que a oração Evite digressões. Alguns integrantes do grupo tentarão desviar a discus­
é um elemento importante dos pequenos grupos porque é nosso meio de são para tópicos estranhos ao estudo. Às vezes, isso acontece porque o apren­
comunicação com Deus. diz tem perguntas genuínas que precisam ser respondidas, porém o estudo
de cultivo não é o momento nem o lugar para isso. Às vezes, os que levam
Estudo bíblico o grupo a se desviar do assunto tratado estão tentando tomar a liderança do
lacililador ou frustrar o propósito cristocêntrico do estudo. Cristãos, muitas
O louvor motiva a oração, e a oração prepara o grupo para o estudo bíblico vezes de maneira involuntária, causam grandes dificuldades para o não crente
Os estudos de cultivo priorizam os aprendizes e estão centrados na Bíblia; eles ou para o novo ercnlc ao introduzir assuntos complexos, como, por exemplo,
não são monopolizados pelo professor. Ccriiíique-se de que o estudo nao se o destino dos que jamais ouviram o evangelho, diferentes perspectivas sobre o
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fim dos tempos ou sobre os dons carismáticos. São questões importantes, mas c a sua interpretação dessa passagem? Um estudo bíblico eficaz não pede a
o estudo de cultivo não é o momento para discuti-las. pessoas que não frequentam a igreja para que digam qual é o significado de
E nesse momento que o papel do orientador é essencial. Depois de uma passagem. Em vez disso, suas perguntas devem ser formuladas de tal
algumas semanas, muitos líderes de pequenos grupos chegam à conclusão modo que deixem transparecer que o texto tem um significado. A tarefa do
de que gostariam de fazer uma especialização em psicologia e teologia antes de líder do estudo é orientar os participantes numa discussão que lhes permitirá
realmente abraçar a causa. Para que não se sintam sobrecarregados, a cada se descobrir esse significado.
mana, dê a eles um ou dois conselhos práticos sobre como manter a discussão Use o poder do silêncio. Geralmente, o silêncio aterroriza o novo líder.
na direção correta ou sobre como redirecionar os aprendizes a encontrar res Não tenha medo do silêncio do participante. As melhores perguntas deverão
postas para questões não relacionadas ao tema em discussão (fora da reunião), suscitar tanta reflexão que a maior parte das pessoas não será capaz de res­
para que todos os presentes se concentrem em aprender mais sobre Deus c pondê-las de maneira inteligente, pelo menos não imediatamente. Além disso,
sobre si mesmos. Se os líderes dos pequenos grupos perceberem que você os o líder deve evitar fornecer as respostas. Se os participantes souberem que o
apoia e que acredita neles, Deus o surpreenderá incontáveis vezes mostrando líder sempre dará as respostas, eles delegarão a reflexão ao líder, tornando-se
-lhe como os usa para cultivar urh corpo de crentes em sua igreja que está cm dependentes dele e não sentirão necessidade de arriscar as respostas.
processo de maturação. À medida que os participantes forem se habituando ao processo do
Usem a mesma tradução e edição da Bíblia. Boa parte dos não alcançados estudo, eles se sentirão à vontade para responder às perguntas. Tranquilize-os
não faz idcia de onde encontrar Mateus (para não falar de Habacuque). Se eles e ajude-os regularmente a entender que não há problema algum em dar
usarem uma Bíblia igual à sua, você poderá entregar a eles anotações com o respostas erradas.
número das páginas e outros detalhes durante o estudo. Outra opção, espc Extraia conclusões. O segmento final do estudo bíblico de cultivo deve
cialmente em caso de aperto financeiro, seria imprimir as passagens bíblicas consistir numa aplicação cujo propósito será o de indagar: “O que o aprendiz
para cada estudo.2 deve fazer, ser e sentir como consequência do estudo?”. Com base na aplica­
Providencie um esboço dos pontos ou princípios que você abordará cm ção, os participantes deverão se posicionar de que maneira permitirão que o
cada lição. Esse esboço deverá conter de três a cinco verdades tiradas da pas lexto bíblico remodele sua vida.
sagem e que constituem a essência do estudo. Esses pontos poderão apresen Fomente a liderança. Desde os primeiros estágios, incentive a liderança
tar tópicos individuais, por exemplo: (1 ) A necessidade da humanidade; (2) A dos pequenos grupos a recrutar outros membros para que liderem partes do
providência divina; (3) A resposta de fé. Preste bastante atenção à redação tias estudo bíblico. Mesmo que um integrante do grupo lidere o estudo por sete
perguntas ou dos comentários para cada ponto, certificando-se de que levarão minutos apenas e faça as duas primeiras
a uma reflexão sobre Jesus Cristo e a conclusões a seu respeito. perguntas, isso é provavelmente mais do Veja um modelo em www.
Formule cuidadosamente as perguntas. Perguntas perspicazes contri que ele jamais fez anteriormente. Não
newchurches.com/examples
buern para que se tenha um bom estudo bíblico de cultivo distinguindo-o dos está escrito em parte alguma que, para se
e dezenas de estudos bíblicos
demais estudos feitos por pequenos grupos. As melhores perguntas não são as lornar líder, você tenha de dar grandes
de cultivo elaborados pelos
que suscitam respostas do tipo sim/não. Além disso, não se devem fazer pei passos. À medida que os líderes dos pe­
meus alunos.
guntas que requeiram sua própria “interpretação”. Oriente seus líderes paia quenos grupos orientam seus integrantes
que não cometam o erro muito comum de perguntar a seus aprendizes: Qual a se tornar facilitadores de partes do en­
contro, cada um crescerá um pouco na liderança devido à necessidade de re-
llctir mais intem ionalmente sobre suas responsabilidades importantes, ainda
2Há diversas páginas na internet em qnc se pode escolher a tradução preterida da llihli.i
para o respectivo estudo (N. do E.) que pequenas.
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Comunhão substitui os pequenos grupos e, mais especificamente, os pequenos grupos


de cultivo.
O elemento final do estudo bíblico de cultivo é o tempo para comunhão.
Enquanto as outras partes do estudo desenvolvem a compreensão espiritual, o
período de comunhão desenvolve os relacionamentos sociais congregacionais. Ministérios de pequenos grupos
Antes que sua igreja dê início ao culto dominical, o estudo bíblico de cultivo Em Prepare your church fo r the future [Prepare sua igreja para o futuro],3 Carl
talvez seja a única oportunidade que o grupo tem de incentivar os participantes George apresenta uma estratégia de crescimento para a igreja em que a con­
a caminhar em direção à maturidade espiritual.
gregação é dividida em pequenos grupos. Ele descreve esse tipo de comunhão
O estudo bíblico de cultivo traz, com frequência, outro resultado vital,
como “metaigreja”.4 Ele utiliza esse termo em vez de megaigreja. De acordo
embora secundário. Criados principalmente com o objetivo de ganhar os per­
com George, as metaigrejas podem ser de qualquer tamanho.
didos e agregar os crentes ao corpo, grupos eficazes também identificam líde­
Embora a metaigreja use células, igrejas baseadas unicamente em
res talentosos e os treinam para liderar grupos no futuro. Os plantadores mais
células diferem das metaigrejas porque uma igreja baseada exclusivamente
eficazes geralmente delegam, oportunamente, a liderança do estudo bíblico
em células é uma congregação de grupos, e não uma igreja com pequenos
para líderes leigos em processo de amadurecimento. O estudo de cultivo serve
grupos (metaigreja). Portanto, uma igreja baseada em células está geralmente
como plataforma de treinamento para identificar e equipar líderes que, no
voltada para o culto semanal do grande grupo, mas se reúne em casas (ou
futuro, vão liderar outros estudos de cultivo ou células na igreja.
outros locais) durante a semana. Afora o culto dominical, toda a vida da igreja
ocorre nas células nas casas.
A importância dos pequenos grupos A metaigreja pode assumir várias formas. Ela pode ser uma congregação
exclusivamente de células ou pode ser uma igreja baseada na escola dominical
Há trinta anos, muitos plantadores começaram novas igrejas com pequenos
que proporciona cuidado e ministração por meio dos pequenos grupos. Pode
grupos de estudos bíblicos. A partir de então, o progresso se deu de forma
ser uma reunião intencionalmente centrada no estudo bíblico em que os par­
uniforme e lógica. Os grupos de estudo se tornaram congregações, depois
missões e, por fim, igrejas. No novo milênio, a maior parte das novas igrejas ticipantes se dividem em grupos no domingo ou na quarta-feira à noite. Neste
não surge mais de uma progressão tão ordenada. caso, a igreja não costuma se reunir nas casas.
A maioria dos plantadores atuais edifica os interessados por meio de estudos Em Êxodo 18, vemos um dos melhores exemplos de ministério de pequenos
bíblicos de cultivo, dos quais surge um núcleo. Durante esse tempo, o plan­ grupos encontrado nas Escrituras. Nessa passagem, o sogro de Moisés, Jetro,
tador treina líderes, e depois disso a igreja abre as portas ao público — um recomendou um meio para que ele evitasse o estresse, uma vez que Moisés
evento a que normalmente chamamos de culto inaugural. Contudo, o culto estava trabalhando demais e não delegava tarefas a outros.
inaugural não substitui o desenvolvimento do núcleo congrcgacional. Os líde­
No dia seguinte, Moisés assentou-se para julgar o povo, o qual ficou em pé
res congregacionais já devem ter sido confirmados até a hora do culto inaugural.
diante dele, desde a manhã até a tarde. Quando o sogro de Moisés viu tudo o
Alguns plantadores tentaram iniciar igrejas com um grande público, mas sem
que ele fazia ao povo, perguntou: Que é isso que estás fazendo com o povo?
um núcleo estabelecido. Essas tentativas raramente tiveram êxito porque a
Por que fazes isso sozinho, deixando todo o povo em pé diante de ti, desde a
igreja não dispunha de um eixo no centro da roda que permitisse suportar o
manhã até a tarde?
fardo e carregar o peso.
Não há fundamento melhor que o estudo bíblico de cultivo para a matu
'Carl F George, Prepare your church fo r the future (Tarrytown: Revell, 1991).
ridade congrcgacional e organizacional antes do culto inaugural. Apesar da '“Meta” transmite a idéia de mudança. Portanto, “metaigreja” é uma igreja cm “translorma-
eficácia da mala-direta, da internet, da publicidade e do telemarUeling, nada çíto’’, uma igreja que muda ou se transforma para transformar vidas.
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Moisés respondeu a seu sogro: É porque o povo vem a mim para con­ perseveravam no ensino dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
sultar a Deus. orações (At 2.42)”.6
Quando têm alguma questão, eles vêm a mim; e julgo entre eles e lhes
A tarefa específica do líder consiste em cuidar e alimentar espiritualmente
declaro os estatutos de Deus e as suas leis. Mas o sogro de Moisés lhe disse:
essas dez famílias de pequenos grupos. Uma vantagem dessa estratégia é que
O que estás fazendo não é bom. Com certeza, tu e este povo que está conti­
não cabe ao líder supervisionar um grande grupo. Dez não é demais para que
go desfalecereis, pois a tarefa é pesada demais; não podes fazer isso sozinho.
alguém se sinta sobrecarregado. Além disso, o tamanho permite um conta­
Ouve-me agora. Eu te aconselharei, e que Deus esteja contigo: Deves represen­
to maior com o líder. Uma vez que são apenas dez famílias, cada líder pode
tar o povo diante de Deus, a quem deves levar as causas do povo; ensina-lhes
os estatutos e as leis, mostra-lhes o caminho em que devem andar e as obras
contatá-las semanalmente.
que devem praticar. Além disso, procura dentre todo o povo homens capazes, No sistema de Carl George, todo líder de pequeno grupo com dez pessoas
tementes a Deus, homens confiáveis e que repudiem a desonestidade; e coloca- também apoia um líder em treinamento que substitui o líder do grupo por
-os como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez; um período. Muitos esperam que cada grupo se multiplique no prazo de um
para que eles julguem o povo todo o tempo. Que levem a ti toda causa difícil, ano. O grupo original daria origem a um segundo pequeno grupo que seria
mas que eles mesmos julguem toda causa simples. Assim aliviarás o teu fardo, supervisionado pelo aprendiz. Se o grupo não se reproduziu no prazo de um
pois te ajudarão a levá-lo. Se procederes assim, e se Deus desse modo te orde­ ano, algumas igrejas fecham o grupo e acolhem os integrantes em pequenos
nar, poderás suportar; e todo este povo também voltará para casa tranquilo grupos que tiveram mais êxito em sua reprodução. A incorporação de inte­
(Êx 18.13-23). grantes com menos êxito em grupos mais produtivos permite que eles sejam
contagiados pela multiplicação.
Um plantador-pastor que queira membros satisfeitos e amados por sua Quando plantamos e pastoreamos uma igreja, já esperamos que dois
igreja deve encorajar uma estratégia em que os membros recebam amor dos tipos de indivíduos vão chamar atenção em cada grupo. Carl George chama
líderes, e não apenas do pastor. Os plantadores jamais terão tempo e energia o primeiro indivíduo de EGR (sigla em inglês para Necessitado de Graça
para expressar amor suficiente para atender às necessidades da igreja. Um Adicional). Parece que todo grupo atrai pelo menos uma pessoa particularmente
pequeno grupo pode atender essas necessidades porque pode construir rela­ necessitada que deseja ser o centro das atenções e anseia que o grupo fique
cionamentos que fazem a diferença. obcecado por seus problemas em todos os encontros.
Um breve estudo da passagem de Êxodo acima nos ajuda a compreender O segundo indivíduo que chama atenção em todo pequeno grupo é aquele
a contribuição eficaz do ministério de pequenos grupos. A sugestão de Jetro que está em busca das coisas espirituais, sedento por um verdadeiro relaciona­
a Moisés propunha um sistema de administração a ser aplicado por este líder. mento com Deus — um não cristão que deseja conhecer a Cristo. Durante nossos
Para o plantador de igreja, os princípios são claros. Ele deve dividir inicial­ encontros com os pequenos grupos, insistimos que uma cadeira permaneça vazia
mente as pessoas em pequenos grupos desde o primeiro momento da nova para representar essa pessoa. Oramos todas as semanas por esse novo integrante,
igreja. As pessoas precisam saber desde o início que o plantador não é o único para que Deus preencha aquela cadeira com seu escolhido, a quem ministraremos.
na igreja que cuidará deles. O plantador terá de decidir se exigirá que todos os membros da igreja fa­
A igreja Christ the King Anglican Church,5 em Monument, no Colorado, çam parte de um pequeno grupo. De todo modo, recomenda-se que 60% dos
aplicou o sistema administrativo de Jetro à organização da sua igreja. II.» que frequentam os cultos de domingo participem desses grupos.
designou inicialmente um líder leigo para cada dez famílias. Esse líder orienta Se a igreja optar por classes de escola dominical em vez de células, é melhor
o pequeno grupo em “quatro elementos do cristianismo histórico/bíblico: eles não planejar o cuidado pastoral por meio da estrutura da escola dominical. A

'Veja http://www.chnsuhekinganglican.org. '■Disponível rm http /A lu iMlhrkinuanglican.org/ilocs/sni^rps.hlin.


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razão para isso é simples: a frequência nas aulas da escola dominical em geral subsequentes. Em seguida, em encontros com os líderes dos pequenos
cresce além das possibilidades de uma assistência pastoral bem gerida. grupos, lembre-os de sua responsabilidade: agir de acordo com o mo­
Contudo, se mesmo assim a igreja quiser proporcionar o cuidado pastoral delo legado pelo líder que configurou para eles o modelo da liderança
por meio da estrutura da escola dominical, sugiro que leve em conta duas re­ para esses grupos.
comendações. Em primeiro lugar, o número de integrantes deve ser limitado • Forme líderes, e não apenas membros de pequenos grupos. Toda
a aproximadamente dez. Esse tamanho facilita a combinação saudável de con­ pessoa espiritualmente madura em cada um dos grupos deve ser
forto e prestação de contas. Em segundo lugar, o tempo das aulas não deve ser encarada como futuro líder de um grupo. Os líderes desses grupos
totalmente consumido pelo ensino bíblico. Os grupos precisam dedicar um não devem apenas conduzí-los rumo à comunhão cristã, devem tam­
tempo significativo às necessidades das pessoas. Deve-se separar um tempo bém identificar e preparar todos aqueles que são líderes em potencial.
para questões de âmbito pastoral, especialmente porque o cuidado pastoral se • Leve os membros do grupo a contar as histórias uns dos outros e
dará na estrutura do estudo bíblico. que isso seja uma característica fundamental da vida de grupo. Até
Não importa a forma que esses grupos tomem, toda igreja saudável pre­ que as pessoas se conheçam de verdade, elas não se considerarão
cisa de uma rede multiplicadora de pequenos grupos que ajudem a mantê-la efetivamente parte significativa do corpo de Cristo. Uma das neces­
unida. Não raro, uma igreja sem esses grupos terá dificuldades de interação sidades mais importantes da vida é conhecer outras pessoas e ser por
entre os membros. elas conhecido.
Um dos maiores presentes que você poderá dar a si mesmo, aos líderes de • Multiplique quando necessário, não quando recomendado. Inte­
pequenos grupos e ao reino de Deus é uma boa orientação e apoio à medida grar as massas a todos os aspectos da vida da igreja é mais impor­
que eles assumirem seu papel de líderes. Relembre-os com frequência de que tante do que algumas pessoas experimentarem níveis elevados de
não precisam saber tudo para agradar a você ou ao grupo que lideram; tam­ intimidade. A maior parte dos especialistas em pequenos grupos re­
pouco têm de fazer tudo. Incentive-os a delegar tudo que puderem a alguém comenda que os grupos permaneçam juntos de dezoito meses a dois
do grupo. Lanches? Delegue. Abrir a casa para o grupo? Delegue. Telefonemas anos antes de se multiplicarem. Igrejas recém-plantadas não podem
para o grupo? Delegue. Liderar o louvor e o momento de oração? Delegue. se dar esse luxo.
Será que os líderes dos pequenos grupos ficarão preguiçosos por causa disso? • Multiplique com maestria. A multiplicação sem sentido deixa as
Não, isso fará deles fazedores de discípulos. Eles se reproduzirão por meio de pessoas infelizes, e pessoas infelizes vão fazer com que você se sinta
outros, e mais grupos brotarão das pessoas com experiência de atuação em infeliz. Na hora de multiplicar os grupos, divida-os de acordo com os
várias funções. Derrame sua vida na vida deles e encoraje-os a derramar sua dons espirituais, e não de acordo com as simpatias que uns tenham
vida nos grupos que eles lideram. Você ficará surpreso ao ver Deus em ação. pelos outros, ou pelos desejos do aprendiz e do líder, ou ainda pelos
Com o crescimento da sua igreja, há vários princípios a considerar. caprichos do grupo.
Rick Elowerton, especialista em pequenos grupos da Serendipity House,
compartilhou comigo vários princípios sobre os quais as novas igrejas devem Nos pequenos grupos, você verá as maravilhas de Deus em ação. Os
refletir à medida que amadurecem e os pequenos grupos se multiplicam: casais encontram apoio e cura. As pessoas encontram esperança em Cristo;
os pais, encorajamento; os solteiros, significado e interação. Não importa
• Empenhe-se para que o grupo-modelo continue a ser o grupo-modelo. o número de pessoas que você veja durante os cultos do grande grupo no
Os líderes de pequenos grupos lideram seus grupos a fazer o que viram linal tle semana, os números que importam de verdade são aqueles que apa­
ser feito. Faça tudo que for necessário para que seu primeiro grupo (ou recem nas reuniões tios pequenos grupos ao longo tia semana. Essa é sua
grupos) faça o que você espera que todos os grupos laçam nas gerações igreja de verdade.
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Conclusão
Não importa que forma esses grupos tomem, toda igreja saudável precisa de
uma rede multiplicadora de pequenos grupos que a ajude a permanecer unida.
As igrejas que planejam crescer devem se concentrar tanto nos cultos com o
grupo grande quanto nos pequenos grupos. O plantador de igreja que se preo­
cupa exclusivamente com o culto dominical não plantará uma igreja saudável.
Uma igreja sem pequenos grupos terá dificuldades para criar vínculos entre
seus membros na maioria dos casos.

Leitura complementar
A rnold , Jeffrey. The hig book on small groups. Ed. rev. (Downers Grove:
InterVarsity, 2004).
C orrigan , Thom; Pilgrimage Training Team. How to build community
through small groups (Littleton: Pilgrimage NavPress, 1998).
D onahue , Bill. Lcculing life-changing small groups (Grand Rapids:
Zondervan, 1996).
F razee , Randy. The connecting church (Grand Rapids: Zondervan, 2001).
Neal E How to lead small groups (Colorado Springs: NavPress,
M c B r id e ,
1990).
S tanley ,Andy; W iel it s , Bill. Creating community: five keys to building a
small gwup culture (Portland: Multnomah, 2005).

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