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A história das

máquinas
abimaq 70 anos

São Paulo
2006
Supervisão Geral Pesquisa Iconográfica
expediente Magma Cultural e Editora Ricardo Cunha Lay (Rico)

M arketing Cultural R evisão de textos e Copidesque


Appraisal Cultural e Social Across the Universe Communications
José Eduardo Heide Aranha Moura / Pedro Ruiz
José Luiz Aranha Moura
Capa e Projeto Gráfico
Concepção do Projeto e Coordenação Clero Ferreira de Morais Junior (Arkhan)
Editorial
Luiz Felipe Heide Aranha Moura Escaneamento e Tratamento de Imagens
Magma Cultural e Editora
Elaboração e edição de textos Bruno Ataíde Menezes (estagiário)
Carlos Moraes
Cláudia Marques de Abreu Coordenação de M arketing e Eventos
Cláudia Dutra
Pesquisa e entrevistas Regiane Ceballos G. Pastoriza
Cláudia Marques de Abreu
Débora Rubin Impressão
Geovana Pagel Ipsis
Joel dos Santos Guimarães
Leonardo Lênin
Conhecer a história das máquinas é conhe- na obsoleta, sua carcaça alimenta outra máquina
editorial
cer a vida de grandes gênios, revolucionários e, novamente num ciclo incansável, volta molda-
que com suas invenções isoladas articularam as da para superar nossas novas demandas de pro-
veias do planeta. Pequenas engenhocas que re- dução. Máquinas que prolongam e melhoram
sultaram em grandes soluções estratégicas para nossas vidas, que diminuem as distâncias, que
os modelos econômicos atuais. Hoje, as má- nos fazem ser livres, independentes e também
quinas geram riquezas, facilitam nossas vidas, nos fazem voar. Voar, voar no tempo, no espa-
abreviam o tempo e principalmente acompa- ço, em nossos desejos. Desejo de vestir, ir e vir,
nham nossa crescente necessidade de consumo. construir, descer, subir ou simplesmente atender
Para entendermos sua importância, basta ima- a nosso instinto primitivo de produzir. Produzir,
ginar o que seria de nós um dia sem elas. dez, cem, mil para o Brasil ou Chernobyl.
O casamento entre o homem e a máquina tal- É hora de comemorar!!! Celebrar, reveren-
vez seja o relacionamento mais perfeito já visto; ciar: são 70 anos da ABIMAQ!!! Setenta anos
ela, sim, é o único fruto da criação humana que trabalhando para a energia entrar, o motor vi-
dedica a vida para nos atender, e, quando se tor- rar e a máquina funcionar.

Luiz Felipe Heide Aranha Moura


Editor – Magma Cultural
Setenta anos não é pouco! grados às federações estaduais Carta do
Nas primeiras semanas de 1937, das indústrias, mas também,
nascia a Abimaq. Constata- desde o início, com indepen-
presidente
mos que praticamente junto dência e autonomia em rela-
com o despertar da indústria ção a elas, podemos dizer que
de máquinas no Brasil surgia nesses últimos 70 anos partici-
o associativismo do setor. Em pamos ativamente da história
1937, com o incidente da Ponte da Indústria, da Agricultura,
Lu Kou Chiao, nas proximi- da Mineração, da Construção
dades de Pequim, tem início a Civil e da Economia de nosso
3ª guerra entre China e Japão, país. E tivemos sorte com os
que, estendendo-se até 1945, se homens que nos antecederam
confundiu, na Ásia, com a 2ª na liderança desta associação!
Guerra Mundial. Em 1937, na Espanha, nacio- Só para citar alguns, a indústria de máquinas e
nalistas e republicanos se confrontavam na luta equipamentos e o próprio Brasil têm um débito
brutal e fratricida da Guerra Civil. No Brasil, inequívoco para com Jorge Rezende, Einar Kok,
Getúlio Vargas suprime a Constituição de 1934 Delben Leite e Sérgio Magalhães. Em 2005, a
e proclama a nova e autoritária Constituição de indústria brasileira de máquinas e equipamentos
1937, chamada pelo povo de A Polaca, dando produziu o equivalente a 25 bilhões de dólares,
início ao Estado Novo. Para ter uma idéia de com 34% do faturamento destinado à exporta-
que época era aquela, não havia, em 1937, pro- ção. No mesmo ano, o volume das exportações
dução siderúrgica em escala ou produção de pe- de máquinas e equipamentos foi suficiente para
tróleo no Brasil. Empresas que fazem parte da cobrir, em valor, as importações brasileiras do
base da economia brasileira como a Petrobrás, a mesmo gênero de bens, restando ainda um pe-
Vale do Rio Doce e a Cia. Siderúrgica Nacional queno saldo positivo. Em 2006, os números de
não existiam; e o nosso Syndicato de Machinas nossa indústria serão aproximadamente iguais.
(com y e ch) era fundado por um pequeno grupo Foi uma longa trajetória, e certamente longo e
de pioneiros! Começava ali, naquele turbulento revestido de êxito será nosso percurso ao longo
ano de 1937, nossa história. Desde o início inte- do século XXI.

Newton de Mello
Presidente da Abimaq
A história da WEG se confunde com a histó- processo que, por sua vez, vai de alguma forma
Carta do
ria das máquinas no Brasil e no mundo. Apesar facilitar a vida de cada ser humano. E esse é um
patrocinador dos projetos visionários dos séculos passados, dos motivos pelos quais a WEG se orgulha de
como os desenhos dos aparelhos de Leonardo fazer parte dessa história: sendo ao mesmo tem-
da Vinci, o real deslumbramento com as má- po fornecedor e usuário de máquinas e equipa-
quinas data de tempos recentes. mentos, a empresa tem uma relação de simbiose
Hoje, as máquinas fazem parte de nossa vida com os fabricantes e atua no dia-a-dia de todo o
de forma tão completa que fica difícil imagi- planeta, mesmo que muita gente nem perceba.
nar o dia-a-dia sem elas; já que nos fazem mais Parceria. Essa palavra, tão desgastada no
rápidos, mais eficientes, mais produtivos. A mundo empresarial, é pouco para descrever
humanidade simplesmente não teria chegado uma relação que vai do desenvolvimento de
aonde chegou sem essa peça fundamental da produtos em conjunto à discussão de grandes
engrenagem evolutiva. Entretanto, nem sempre temas do setor produtivo.
foi assim: sabe-se que Platão, certa vez, admo- Há milhões de máquinas fazendo o mundo
estou seriamente dois discípulos que utilizaram funcionar. A cada dia, um número incalculável
um aparelho que lhes permitira realizar, em de novos modelos e novas aplicações é desen-
pouco tempo, um cálculo geométrico. Adver- volvido. Nesse cenário, dois fatores são comuns:
tiu-os de que recorrendo a um artifício técnico o princípio do movimento e o ser humano.
— a utilização de algo mecânico — “rompiam Toda e qualquer máquina funciona com
e deterioravam a dignidade de tudo o que exis- movimento. E movimento quer dizer moto-
tia de excelente na geometria”, rebaixando-a do res, inversores e outros produtos com a marca
sublime abstrato às coisas sensíveis e materiais. WEG. Com tamanha relação de proximida-
Com todas as atenções voltadas desde car- de, a WEG construiu história no segmento de
ros a computadores — ambos carinhosamente máquinas baseada na sinergia de produção e de
chamados de máquinas —, o cidadão comum desenvolvimento em conjunto.
não percebe como seu estilo de vida depende Antenada e atualizada em relação ao setor, e
das máquinas que a indústria utiliza. Não per- invariavelmente em linha com as necessidades
cebe também a evolução desse mercado. dos clientes, a WEG hoje pode considerar-se,
As indústrias criam e compram máquinas, sem sombra de dúvida e sem falsa modéstia,
que fabricam outras máquinas que atuam num uma profunda conhecedora do mercado.
O mundo da ação, representado pelo inin- contemplação. O reino deste mundo é o reino Werner Ricardo Voigt,
terrupto funcionamento das engrenagens, su- das máquinas, e elas vieram para ficar. Eggon João da Silva e
Geraldo Werninghaus,
plantou definitivamente o mundo abstrato da fundadores da WEG

Décio da Silva
Diretor Presidente Executivo da WEG
Sumário Máquinas, máquinas, do O Brasil e as máquinas, do
vapor ao computador Império à era Vargas

As primeiras máquinas-ferramenta......... 10 No embalo das primeiras ferrovias.......... 54


Uma pausa para Da Vinci........................12 Nossa primeira máquina......................... 56
James Watt e a era do vapor.....................15 Nardini, Bardella e outros pioneiros........57
Os têxteis saem na frente.........................17 A heróica saga de Delmiro Gouveia....... 58
E a Inglaterra não pára de inventar..........18 Máquinas Têxteis Ribeiro S.A............... 62
As grandes revoluções da máquina.......... 26 Vila Maria Zélia..................................... 62
A máquina de costura ponto a ponto...... 29 Companhia Construtora de Santos.........64
Uma pausa para o motor......................... 34 Ford, GM, Romi e Romi-Isetta.............. 65
Henry Ford, um fora de série ao Semeraro, Villares e Matarazzo.............. 68
contrário............................................. 36
Duas americanas de respeito....................71
Um brasileiro na história......................... 39
Enquanto isso, no campo........................ 72
Máquinas sob controle. Numérico..........40
Volta Redonda, aço para o Brasil............ 73
Uma guerra, dois Steve, um Bill............. 43
Uma política industrializante.................. 76
Os robôs estão chegando.........................46
A febril década de 1950............................ 79
E agora, as nanomáquinas.......................49
Importados versus nacionais...................80
Todas as máquinas do mundo..................51
Linha do tempo...................................... 52
Do Plano de Metas ao Plano Real Do Syndicato à Abimaq, setenta
anos de luta pelo Brasil
Meio século em cinco anos?.................... 84
O Syndicato, primeiros passos ..............124
Furnas contra o apagão........................... 88
Sindimaq, batalhas iniciais.....................126
Trepidante década de 1960...................... 89
Einar Kok, as primeiras câmaras...........128
Cacex, Concex e PND............................ 91
Máquinas brasileiras: a luta continua..... 132
Um projeto, três usinas............................ 93
Novo nome, velhas lutas......................... 133
E as máquinas não param.......................96
Nova sede, o nó da informática..............134
Weg, de Jaraguá para o mundo............. 100
Delben Leite e a descentralização..........136
Anos 1970, o II PND.............................102
Feiras, qualidade e internacionalização do
Scopus e Prológica, a nossa informática..103
setor...................................................139
Petroquímicas, Dedini, Fiat.................. 104
Novos desafios........................................142
As novas tecnologias dos anos 1980........108
Linha do tempo.................................... 146
O choque da globalização......................110
Nova euforia, o Plano Real.................... 112 Máquinas dos sonhos........................... 150
Os recordes do século XXI.................... 113
Você sabia.............................................. 156
E na agricultura......................................115
Frases..................................................... 158
A vez dos tetracombustíveis................... 116
O urânio enriqueceu.............................. 117 Bibliografia..........................................160

E dá-lhe tecnologia................................ 118 Diretoria Abimaq................................. 162


Linha do tempo.................................... 120
Iconografia...........................................166
Ide e dominai a Terra. Essa ordem bíblica (Gênesis, 1,28) foi talvez umas das mais
belamente cumpridas na história do homem, desde os primeiros rudes instrumentos,
até as mais fantásticas máquinas de hoje.
A história das máquinas é a história da paciente, persistente e genial rebeldia contra as
dificuldades e os limites para fazer deste planeta uma casa habitável.
História na qual o ser humano não poupou imaginação e audácia na descoberta de
melhores maneiras de abrir caminhos, plantar, colher, morar, vestir-se, locomover-se.
Foi assim, de invenção em invenção, que o homem terminou criando formas energia
e tecnologia que lhe vieram substituir os braços e mesmo a memória e o pensamento,
como no caso da informática.
Vamos dar aqui uma breve idéia da trajetória que começou nas cavernas e pode parar
nas estrelas, e da qual somos parte e beneficiários.

Máquinas, Máquinas, do Vapor ao Computador


As Primeiras No início do filme 2001 – Uma Odisséia no prolongar, sem energia própria, a inteligente
Espaço, um hominídeo comemora a vitória so- ação humana.
Máquinas-Ferramenta bre o bando adversário arremessando para o ar A moderna definição de máquina-ferramenta
o pedaço de pau que usara como arma-ferra- pode soar um tanto complexa, tal o grau de so-
menta. O objeto sobe aos céus e lentamente se fisticação a que chegou: “máquina estacionária,
transforma em uma nave espacial. A mensa- não portátil, acionada por uma fonte de energia
gem é curta e clara: da primeira ferramenta, externa – não humana nem animal – que modifica
que prolongou nossos braços e energia, chega- a forma de peças metálicas sólidas, ou de materiais
mos às mais inacreditáveis máquinas. alternativos com finalidades similares, por defor-
Desde a Pré-História, os seres humanos, de mação plástica ou por corte de natureza mecânica,
alguma forma, processavam pedras, depois abrasiva, eletrofísica, eletroquímica ou fotônica,
metais, depois peças cada vez mais elabora- com decorrente remoção de massa”.
das até chegar à construção de máquinas sim- Historicamente, a mais antiga máquina-
ples e eficientes, mas de propulsão manual. ferramenta a se enquadrar nessa definição é a
Por isso mesmo não eram ainda consideradas mandriladora de canhões de bronze do sécu-
Mandriladoras de canhão desenvolvidas
por John Wilkinson em 1775 máquinas-ferramenta, máquinas capazes de lo xvi, xvii e xviii. Ela dispunha de um eixo
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 11

giratório, normalmente feito a partir de um a usinar o furo do canhão de bronze fundido.


tronco de árvore (daí a expressão eixo-árvore), A máquina completava-se com trilhos, polias
apoiado num mancal de couro, engastado num e cordas, que possibilitavam puxar ou empur-
furo de uma grossa parede de pedra e lubri- rar o canhão para dentro do eixo- árvore em
ficado com gordura animal. Do lado de fora movimento. Aos olhos de hoje, uma cena tanto
da parede da tosca fábrica, o eixo era acionado primitiva, mas foi assim que começou.
por uma roda-d’água – a fonte de energia ex- Da mesma época do canhão são as laminado-
Torno de rotação contínua
terna. Do lado de dentro, o eixo recebia uma ras e perfiladoras de metais igualmente propul- acionado a mão, 1480
ferramenta de corte, feita de ferro e destinada sionadas por roda-d’água.

mandriladora
As mandriladoras são máquinas especiais, muito versá-
teis. Permitem a adaptação de diferentes tipos de fer-
ramentas. São usadas em indústrias de grande porte,
como a naval – onde a mesa da máquina pode chegar
a ter 6 metros ou mais de comprimento -, mas também
podem ser exploradas para trabalhos menores. A man-
driladora tem a capacidade de processar todas as opera-
ções de usinagem sem que seja preciso remover a peça
da máquina. Pode ser utilizada para furação, fresagem,
mandrilagem e torneamento em peças complicadas e
difíceis de se manusear.
Uma mandriladora é composta, principalmente, por ár-
vore porta-ferramentas, carro porta-árvore, montande,
coluna auxiliar, mesa da máquina e mandril.

Fonte: Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade


de Engenharia da PUC do Rio Grande do Sul.
12 a história das máquinas

Uma pausa Nesse contexto pré-Revolução Industrial, produziu um estudo das proporções humanas
um personagem merece destaque: Leonardo baseado no tratado do século I a.C. do arqui-
para da vinci Da Vinci, pintor nato e inventor por paixão e teto romano Vitruvius, redescoberto durante o
necessidade. Uma vez, durante o aprendizado Renascimento.
com o mestre Verrochio, em Florença, ouviu Leonardo tanto se debruçou sobre o chama-
um certo Benedetto Aritmético, que deu nome do “homem vitruviano”, que o estudo se acabou
à aritmética, discorrer sobre a necessidade de tornando um dos trabalhos mais famosos do
máquinas que facilitassem o trabalho manu- inventor e símbolo do espírito renascentista. O
al. Impressionado, o pintor Leonardo se pôs a desenho tão bem reproduz a anatomia humana
criar uma máquina para moer as substâncias que serviu de inspiração ao primeiro autômato
que utilizava para obter as cores. Assim, logo conhecido na história e que veio a ser chamado
de início e em causa própria, conseguiu substi- de “o robô de Leonardo”.
Esboço de protótipo de helicóptero de
tuir o pilão que usava para processar as tintas. Fascinado pelo fenômeno do vôo, Da Vinci
autoria de Leonardo da Vinci, 1483
Daí em diante foi tomando gosto por inven- produziu um detalhado estudo do vôo dos pás-
ções. Com uma guerra ameaçando Florença, saros, fez os planos para várias máquinas vo-
Leonardo largou momentaneamente os pincéis adoras, inclusive um helicóptero acionado por
e passou a dedicar-se a criações mais pragmá- quatro homens e um planador que, hoje se sabe,
O “homem vitruviano” de Leonardo da Vinci: ticas. Projetou canhões de oito e 33 bocas. De- poderia ter voado. Entre 1486 e 1490, projetou
estudo das proporções do corpo humano senhou também escadas para superar muros uma fantástica aeronave com asas de morcego
elevados, máquinas para transpor muralhas e que poderia ser dirigida por uma única pessoa,
até tanques de guerra. de dentro de uma pequena cabine.
Sua intuição científica e engenhosa tecnolo- Da Vinci também criou máquinas para aju-
gia estão registradas em cadernos que incluem dar no cotidiano do homem de sua época. Pro-
cerca de 13.000 páginas de notas e desenhos que jetou ventiladores, escavadeiras de pequeno
fundem arte e ciência. Ao redor do ano 1490, porte, fornos, roupa de mergulho e até tambo-
res mecânicos. Os desenhos de Da Vinci estão
reunidos num volumoso livro, redescoberto nos
anos 1950 – O Código Atlântico.

v
13
14 a história das máquinas
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 15

As máquinas de Leonardo Da Vinci foram A máquina por ele desenvolvida tinha potên- James Watt e a
importantes, intrigantes, desafiantes, mas a cia tão extraordinária que passou a movimentar
maioria delas nunca saiu do papel. As máqui- navios, fábricas de teares, máquinas de usina-
era do vapor
nas-ferramenta que se revelaram de fato deci- gem. A idéia básica era colocar o carvão em
sivas para a industrialização e a vida moderna brasa para aquecer a água até que ela produzisse
só começaram a surgir com o inglês James muito vapor. A máquina então girava por causa
Watt, no século xviii. Em 1765, Watt aperfei- da expansão e da contração do vapor dentro de
çoou e, pode-se melhor dizer, criou a máquina um cilindro de metal onde havia um pistão.
a vapor definitiva. Na verdade, a antiga inven- As máquinas a vapor passaram a ter muitas
ção egípcia já vinha sendo testada e modifica- utilidades. Tanto retiravam a água que inunda-
da por cientistas, pesquisadores e engenheiros va minas subterrâneas de ferro e carvão como
militares do século xvii, como o romano Gio- logo movimentavam os teares mecânicos na
vanni Branca, o francês Denis Papin, o capi- produção de tecidos.
tão inglês Thomas Savery e, por fim, Thomas Era o início da Revolução Industrial, um
Newcomen, que, em 1698, desenvolveu uma tempo de glória para os ingleses e de grande
máquina para drenar a água acumulada nas desenvolvimento para toda a humanidade. Oficina do engenheiro e inventor escocês Ja-
mes Watt, em Birmingham, Inglaterra
minas de carvão, patenteada em 1705. Mas foi
James Watt quem fez da máquina a vapor, de-
finitivamente, o motor do universo.

Motor a vapor portátil


inventado por James Watt
16 a história das máquinas

A Spinning Jenny, roda de fiar criada por Arkwright´s water frame


James Hargreaves em 1764 que podia
produzir dezesseis fios ao mesmo tempo
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 17

Depois do invento de Watt, foram desenvol- Em meio à revolução têxtil, a máquina a Têxteis saem
vidas outras máquinas igualmente fundamen- vapor , claro, estava presente. Só que, por ser
tais para o nascimento da indústria moderna. A muito barulhenta, o maquinismo normalmen-
na frente
partir de 1700 e por todo o século xviii, um dos te ficava do lado de fora, fazendo girar uma
setores que mais se favoreceu da engenhosidade roda de onde saíam correias que acionavam
e investimento inglês foi o têxtil. Máquinas e eixos através da parede da fábrica. Dos eixos
mais máquinas foram criadas para melhorar a no teto desciam outras correias que acionavam
qualidade dos fios e beneficiar o algodão. cada tear no chão da fábrica. Em antigas in-
Em 1730, por exemplo, o inventor John Kay dústrias ainda há vestígios desse sistema. Mais
deu a largada para o desenvolvimento de toda tarde, o conjunto passaria a ser acionado por
uma nova tecnologia na produção de tecidos. motores elétricos.
Três anos mais tarde, ele apresentava à Ingla- Outra invenção que impulsionaria o setor têx-
terra uma máquina chamada “flying shuttle”, til inglês aconteceu em 1771, quando o barbeiro
que possibilitava entrelaçar mecanicamente o Richard Arkwright patenteou uma máquina de
fio transversal da trama por meio da urdidura fiar revolucionária, que funcionava com força
Réplica da Spinning Jenny,
longitudinal, formando o tecido. hidráulica, a “water frame”. Arkwright se tor- de James Hargreaves, 1775
Em 1764, foi a vez de o tecelão James Hargre- nou um dos primeiros grandes industriais têx-
aves colocar o nome na história do setor têxtil teis do país.
com a criação da “spinning jenny”, uma roda de Com tantas invenções, a Inglaterra ganhou
fiar múltipla, capaz de produzir dezesseis fios mercado e se tornou a maior exportadora mun-
ao mesmo tempo. dial de tecidos.
18

Fala-se muito nos avanços do século xx, e Diante do grande sucesso, Stephenson foi
E a Inglaterra não
eles foram de fato velozes e espetaculares, do convocado para construir uma estrada de ferro
pára de inventar primeiro Ford Bigode ao ônibus espacial. Mas de 13 quilômetros entre Hetton e Sunderland.
a grande explosão das invenções tecnológicas A ferrovia usava a gravidade para mover a car-
aconteceu mesmo no período que vai de mea- ga em percurso inclinado e locomotivas para
dos do século xviii às primeiras décadas do sé- partes planas e subidas. Histórico: foi a pri-
culo xix. Considerando as limitações da época, meira linha férrea a não usar nenhum tipo de
foi o período áureo da imaginação humana e da energia animal.
capacidade de inventar máquinas para trans- Também com razão, John Wilkinson ficou
formar o mundo. Os ingleses realmente não conhecido como o grande ferreiro do século
só saíram na frente da Revolução Industrial, xviii e mesmo “pai de todas as máquinas-fer-
como corretamente entenderam a importância ramenta”. Nascido em Clifton em 1728, filho
de investir em máquinas. de um ferreiro, com apenas 20 anos já tinha
Vamos, pois, ver alguns capítulos e persona- dinheiro suficiente para montar o próprio for-
gens dessa longa e valorosa história. no de fundição. Mas Wilkinson não era um
Com razão, o inglês George Stephenson é ferreiro qualquer. Logo se tornara um reno-
considerado o pai das estradas de ferro. Foi vador da fundição, produzindo ferro fundido
ele quem desenhou a primeira delas e pôs para melhor e mais barato que os concorrentes.
funcionar a primeira locomotiva a vapor. Na Chegou até a usar o ferro para substituir pro-
juventude, Stephenson trabalhava numa mina dutos feitos de outros materiais como madeira
de carvão como operador de máquinas a va- e pedra. Criou depois uma máquina de fazer
por. Experiência que se revelou fundamental canhões – a “cannon-boring machine”.
no momento em que ele decidiu desenvolver Entre 1776 e 1779, ele construiu a primeira
as primeiras locomotivas. A número 1, proje- ponte de ferro fundido, a Coalbrookdale, em
tada em 1814 e batizada de Blücher, modesta- parceria com Abraham Darby, e depois o pri-
mente se destinava ao transporte de carvão meiro barco de ferro. A habilidade na cons-
dentro da mina. Tinha capacidade para 30 trução de canhões lhe permitiu fazer cilindros
toneladas e foi a primeira locomotiva a usar de qualidade, o que o colocou em contato com
The Rocket, locomotiva construída por rodas com rebordos que a impediam de sair James Watt, o pai da máquina a vapor. O ta-
George Stephenson em 1830 dos trilhos. lento de Wilkinson não só contribuiu para o
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 19
20 a história das máquinas

sucesso das máquinas de Watt e a Menai Suspension Bridge, ponte rodovi-


como por muitos anos lhe asse- ária pênsil sobre o Estreito de Menai, que há
gurou o monopólio dos cilindros quarenta anos vinha desafiando os melhores
que as integravam, o que o tornou projetistas do país. A ponte era extremamente
um homem muito rico. Excêntrico, necessária para fazer a ligação entre o Porto de
Wilkinson confeccionou o próprio Holyhead, no continente galês, e a Ilha de An-
caixão mortuário. De ferro, claro glesey, devido ao grande volume de tráfego.
Pastor e pedreiro na juventude, Thomas No ambicioso projeto de Telford, a barreira
Telford conseguiu tornar-se um dos engenhei- imposta pelo estreito foi vencida por uma pon-
Ironbridge, completada em 1779, em ros mais famosos de seu tempo – nasceu em te suspensa de ferro forjado com comprimento
Coalbrookdale, Inglaterra, foi a primeira
1757 – e ficou conhecido pelas estradas, canais e total de 521 metros, vão central de 177 metros e
ponte de ferro fundido a ser construída
pontes em arcos de ferro que construiu. Foi ele tabuleiro sobre a água de 30 metros. A altura
quem projetou os famosos canais de Ellesme- de cada torre era de 46,6 metros. Thomas fa-
re e Caledonian, a Estrada Londres-Holyhead leceu em 1834, coberto de honrarias e com um
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 21

extenso currículo profissional: foram mais de tempo a se importar, verdadeiramente, com o


1.500 quilômetros de estradas e 1.200 pontes, design dos produtos.
além de portos, docas e edifícios em geral. Ele costumava dizer que existiam dois ele-
Ao mudar-se para Londres em 1825, Joseph mentos fundamentais na construção de má-
Whitworth teve a sorte de trabalhar com en- quinas: uma plaina eficiente e o poder da
genheiros famosos como Henry Maudslay e medição. Até Whitworth, a superfície das
Joseph Clement. De volta a Manchester com plainas era áspera. A partir dele, passou a ser
o objetivo de abrir o próprio negócio, come- precisamente plana.
çou a produzir tornos, plainas, afiadoras de Numa exposição mundial realizada em Lon-
ferramentas e brocas. A precisão no padrão dres em 1851, no Crystal Palace, pela primeira
de máquinas e ferramentas e o cuidado com vez um fabricante de máquinas-ferramenta,
o design o tornaram conhecido. Foi por isso Withworth, tentava vender os produtos, basi-
Menai Suspension Bridge, uma das
mesmo um dos primeiros empresários de seu camente um torno e uma plaina de mesa. “Para obras mais importantes e desafiantes do
que serve isso?”, quiseram saber dois visitantes engenheiro escocês Thomas Telford
22

Crystal Palace
O Crystal Palace, construído pelo arquiteto e paisagista inglês
Joseph Paxton, constitui um marco na arquitetura mundial.
Foi uma das primeiras vezes em que se construiu um prédio de
estrutura metálica no mundo. Foi erguido para abrigar a Great
Exhibition. Foram 4.500 toneladas de ferro fundido e forjado
e 300 mil placas de vidro. Após a mostra, tinha se concordado
que o pavilhão seria posto a baixo e o Hyde Park voltaria ao
seu estado normal. Só que o edifício fez muito sucesso e se
tornou tão popular em Londres que, com o término da Great
Exhibition, ao invés de se procurar compradores para o ferro e
o vidro, iniciou-se uma maratona para manter o Crystal Palace
de pé. A solução veio em 1852: o Crystal Palace foi desmon-
tado e remontado em Sydenham, no sul de Londres. Mais um
ponto para o construtor Paxton. Ele criou um novo método
construtivo: a pré-fabricação. A estrutura, leve, foi levada com
facilidade para o novo local. O pavilhão ficou de pé por mais
84 anos. Em 1936, sofreu um incêndio, foi reconstruído e hoje
abriga a sede do time de futebol Crystal Palace.
23
24 a história das máquinas

O engenheiro mecânico Joseph ilustres, a rainha Vitória e o primeiro-ministro, Há mais sobre Withworth: em 1856, ele criou
Whitworth, um dos pioneiros na John Russel. Withworth explicou que eram um sistema de medição capaz de determinar
construção de máquinas-ferramenta
“machine tools”, ou seja, ferramentas de traba- com exatidão diferenças de comprimento tão
lhar metais, acionadas não pela mão humana pequenas quanto 1 milionésimo de polegada. O
mas por máquinas, e serviam para fazer outras maior legado talvez tenha sido a padronização
O torno de Joseph Witworth máquinas, navais, ferroviárias, e até mesmo das roscas de parafusos na Inglaterra. O sistema
permitia a fabricação de máquinas- armas. A rainha e o ministro ficaram tão en- de medição de roscas leva seu nome até hoje.
ferramenta com extrema precisão
cantados que até quiseram proibir a exportação Withworth trabalhou também no aperfeiçoa-
dessas cruciais novidades. mento de rifles e, em 1862, construiu um pode-
A título de curiosidade: o Crystal Palace, roso canhão, com alcance de 6 milhas terrestres
construído pelo arquiteto Joseph Paxton, cons- britânicas (cerca de 8.400 metros). No final da
titui um marco na arquitetura mundial. Foi década de 1850, Whitworth já era considera-
uma das primeiras vezes em que se construiu do o maior fabricante de máquinas-ferramenta
um prédio de estrutura metálica. O pavilhão do mundo. Foi ele quem introduziu a fôrma de
ficou de pé por 85 anos. Em 1936, sofreu um máquinas e a excelência no padrão de fabrica-
incêndio, foi reconstruído e hoje abriga a sede ção de máquinas que, sem dúvida, dominaram
do time de futebol Crystal Palace. a prática na Inglaterra por muitos anos.
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 25

Outros personagens importantes do início com a família em Grand Detour, Illinois, no


foram Samuel Bentham e Marc Brunel. Mes- Meio Oeste americano, onde, de saída, enfren-
mo não sendo engenheiros, nem propriamen- tou um desafio: os arados até então usados pelos
te inventores, ambos deram uma contribuição fazendeiros não serviam para a terra úmida e
muito importante para a indústria de má- pegajosa da região. A lama grudava na lâmina,
quinas. Bentham trabalhava para a Marinha e, a toda hora, o agricultor tinha de interromper
inglesa, na construção de navios, quando foi o trabalho para limpá-la. Além disso, o esforço
contratado pelo príncipe russo Potemkin. Na adicional quebrava os arados.
Rússia, ele chefiou um projeto de construção Longe de se alegrar com o problema, que
naval e depois um conjunto de outras inicia- só lhe aumentava a freguesia, John Deere, em
tivas destinadas a introduzir diversas tecno- 1837, desenvolveu um arado feito de aço forja-
logias no país. Nas obras, com rara precisão, do altamente polido e com formato adequado
valia-se de números, desenhos, planos, roteiros às condições do solo lamacento. O sucesso foi
e mapas. Muito contribuiu para que a cons- tanto que, por volta de 1850, John Deere esta-
trução de navios no final do 1700 passasse a va produzindo cerca de 1.600 arados por ano.
ser a montagem de elementos projetados com Em 1855, mais de 10.000 arados já haviam sido Arado de aço desenvolvido
precisão de medidas, e não mais uma produção produzidos e comercializados por sua fábrica. por John Deere em 1837
artesanal de cortar e encaixar a partir da habi- Desde o princípio, o jovem empreendedor in-
lidade do artesão. sistia em fazer produtos de alta qualidade. Cos-
Mas nem só do gênio inglês viveu a era das pri- tumava dizer: “Eu nunca colocaria meu nome
meiras grandes invenções. Nos Estados Unidos, em um produto que não tivesse em si o melhor
um ferreiro do Vermont, John Deere, depois de que há em mim”. Em 1868, os negócios deram
fracassar na terra natal, Rutland, estabeleceu-se origem à Deere e Company.
26 a história das máquinas

As grandes O surgimento das máquinas-ferramenta,


vapor à frente, deflagrou muitas revoluções na
revoluções moderna história da humanidade. O próprio
da máquina Karl Marx reconhece que a Revolução Indus-
trial, iniciada na Inglaterra, integra o conjunto
das chamadas Revoluções Burguesas do sé-
culo xviii, responsáveis pela crise do Antigo
Regime, na passagem do capitalismo comer-
cial para o industrial. Nesse quadro, a Revo-
lução Industrial pode figurar entre os outros
dois movimentos que assinalam a transição da
Idade Moderna para a contemporânea, como
a Revolução Francesa e a Independência dos
Estados Unidos. o início do processo de acumulação rápida de
Mas a passagem da energia humana, hidráu- bens de capital e o fortalecimento do capitalis-
lica e animal para motriz foi apenas o ponto mo como sistema econômico dominante. An-
culminante de uma evolução tecnológica, so- tes dela, o progresso econômico era mais lento,
cial e econômica que se vinha processando na a renda per capita da população levava séculos
Europa desde a Baixa Idade Média, com parti- para aumentar sensivelmente. Com a indus-
cular incidência na Inglaterra, Escócia, Países trialização, a renda começou a crescer de forma
Baixos e Suécia, onde a Reforma Protestante nunca vista na história da humanidade. A ren-
tinha conseguido destronar a inf luência da da e a própria população. Entre 1500 e 1780, por
Igreja Católica. E tudo começou com a criação exemplo, a população da Inglaterra aumentou
Johannes Gutenberg examina página da máquina a vapor, que propiciou à Inglaterra, de 3,5 milhões para 8,5 milhões – e, entre 1781 e
impressa na primeira prensa gráfica França, Alemanha e Estados Unidos um espe- 1880, saltou para 36 milhões de habitantes.
tacular desenvolvimento da indústria de ferro Mas a mais sutil e devastadora das revoluções
e de máquinas, além da instalação de milhares ligadas à máquina talvez tenha sido aquela de-
de quilômetros de ferrovias. flagrada por um certo Johannes Gensfleisch zur
A Bíblia foi o primeiro livro impresso
por Gutenberg, processo que levou Ao lado da rápida expansão da mecaniza- Laden zum Gutenberg, ou simplesmente Gu-
aproximadamente cinco anos ção, a Revolução Industrial significou também tenberg, que no começo do século xv revolucio-
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 27

nou a tecnologia da tipografia e especialmente invenção, um aperfeiçoamento dos blocos de


da impressão. Acredita-se que a imprensa tenha impressão já em uso, então, na Europa.
sido uma das maiores invenções da humanida- Antes de Gutenberg, os livros eram escritos a
de na medida em que estimulou a liberdade de mão por monges, alunos e escribas. Cada obra
informação e a formação de opinião. demorava meses para ser montada, era caríssi-
Leitor apaixonado e joalheiro experiente ma e restrita a uns poucos afortunados.
na arte da construção de moldes e fundição O primeiro livro impresso por Gutenberg
de ouro e prata, Gutenberg inventou uma foi a Bíblia, processo que ele iniciou em 23
liga para os tipos de metal e tinta à base de de fevereiro de 1455 e concluiu uns cinco
óleo, além de uma prensa gráfica, inspirada anos depois. A popularização da Bíblia
nas prensas utilizadas para espremer uvas na seria fundamental para a difusão da
fabricação do vinho. Reforma Protestante e, conseqüen-
Seus tipos móveis reutilizáveis, que tanto fa- temente, a liberdade de pensamen-
cilitaram a impressão, foram, mais do que uma to e ação.
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 29

Desde as cavernas, o homem de alguma cas para a produção de máquinas desenvolvidas A máquina
forma se veste, e o inventor da máquina de comercialmente.
costura teria tudo para tornar-se, em todos os Um protótipo da primeira tentativa de pro-
de costura,
tempos, ídolo unânime de todas as mulheres dução comercial foi construído em 1829 por ponto a ponto
do mundo. Barthélemy Thimmonier, modesto alfaiate da
Só que o invento, que tanta rapidez, quali- cidadezinha francesa de Amplepuis. Dois anos
dade e diversidade trouxe para o guarda-roupa mais tarde, ele receberia uma encomenda de
da humanidade, não contou, infelizmente, com oitenta máquinas de uma fábrica de roupas de
um único inventor. Tantos foram os passos na Paris, que fazia uniformes militares. Thimmo-
direção da obra final que, pode-se dizer, a má- nier passou a trabalhar na fábrica como super-
quina de costura como a conhecemos é quase visor e mecânico.
uma criação coletiva de gênios diversos. Culpa Mas, pobre Thimmonier: alfaiates de Pa-
da indiferença dos homens ou da paciência das ris viram naquelas máquinas uma ameaça
mulheres, que não reclamavam de longas horas ao ganha-pão e incentivaram uma multidão
de agulha e linha? a destruí-las. Um único modelo sobreviveu.
Ao certo ninguém sabe, mas é fascinante Thimmonier levou-o de volta para Amplepuis,
acompanhar a máquina de costura tecendo onde o protótipo podia ser visto à beira da es-
a própria história na linha no tempo. Foram trada como curiosidade em troca de alguns
muitos inventores. Um concebeu; outro reto- centavos...
cou; outro chuleou; outro pespontou; outro fa- A sina de gênio humilhado terminaria em
bricou; e até um reverendo entrou na história. 1845, quando um empresário, M. Magnin ,
Tudo começou em 17 de julho de 1790, quan- propôs utilizar aquele último modelo para fa-
do o marceneiro inglês Thomas Saint fez a pri- bricação regular em série.
meira máquina para costurar sapatos e botas. Inteiramente de metal, as máquinas produ-
Só que as especificações do grande invento fi- zidas pelas oficinas Magnin eram capazes de
caram enterradas no meio de outras patentes dar 200 pontos por minuto, tinham tudo para
relacionadas a botas e sapatos e só foram des- estourar no mercado e só precisavam de um
cobertas por Newton Wilson em 1874. Já eram, tempo para superar o conservadorismo francês.
Plano original de máquina de costura
no entanto, notáveis por antecipar muitas ca- Sem chances! Três anos, depois a multidão in- para pedido de patente de autoria
racterísticas que mais tarde se tornaram bási- terveio novamente e destruiu tudo. de Barthélemy Thimmonier
30 a história das máquinas

Enquanto isso, por volta de E logo outro pesadelo co-


1846, nos Estados Unidos, o meçava. Com o aparecimen-
engenheiro mecânico norte- to de novos modelos, Elias
americano Elias Howe, de entrou numa briga judici-
Spencer, Massachusetts, que ária pela posse da patente
trabalhava numa fábrica de contra Isaac Merrit Singer,
máquinas para industrialização do algodão, há inventor norte-americano fundador da pode-
anos vinha trabalhando na invenção da máqui- rosa Singer, que em 1851 aperfeiçoou, fabricou
na de costura de ponto de laçada. Mas todas e patenteou uma máquina de costura em série.
as tentativas de colocar o buraco no meio da Howe venceu a disputa em 1854 e passou a ter o
agulha haviam fracassado. Não encontravam direito de receber royalties sobre cada máquina
o ponto certo. Howe passava dias e noites en- de costura fabricada nos Estados Unidos.
volvido com cálculos complicados e novas ten- Mas o nome Singer é quase um símbolo de
tativas sem chegar a uma solução. Até que seu máquina de costura. Sua história também é
sonho foi salvo – por um pesadelo! curiosa. Nascido em Pittstown, New York, aos
Uma noite, exausto, nervoso, Elias sonhou 12 anos era ajudante de maquinista de trem, so-
que havia sido capturado por uma tribo de ín- nhou depois com a carreira de ator e chegou a
dios, e o cacique berrava, ameaçador: “Elias, ter a própria companhia, The Merrit Players.
sob pena de morte eu te ordeno: termina tua Com a falência do grupo, passou a trabalhar
máquina”. Era tudo tão real que o pobre Elias numa loja de máquinas de costura, a Lerow e
suava frio, agitado na cama. E como, assim de Blodgett. Consertando máquinas alheias, aos
uma hora para outra, terminar a máquina com poucos foi desenvolvendo idéias próprias. Em-
aquela selvagem pressão toda? Levado para o bora a máquina de Elias Howe fosse superior
Máquina de costura patenteada local da execução, pôde reparar que as lanças na época, a de Singer tinha a vantagem de fa-
pelo americano Elias Howe dos selvagens tinham um buraco em forma de zer costura contínua. O sucesso o levou, com
olho na ponta. Era isso! Tudo que ele precisava o apoio de sócios, a fundar uma empresa. Fa-
era uma agulha com um furo na ponta. Acor- leceu em Torquay, Devon, em 1875. Hoje, The
dou aliviado, pulou da cama e desenhou o mo- Singer Company, a maior empresa na indústria
O inventor e empreendedor americano
Isaac Merrit Singer, cujo nome hoje é delo definitivo da agulha. Sua grande invenção de máquinas de costura, produz cerca de 250
sinônimo de máquina de costura chegava ao fim. modelos diferentes em todo o mundo.
Máquina de costura da
Singer, de 1854
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 33

Saint, Howe, Singer? Bem, há outros nomes de várias espécies foram emitidas. A eletricida-
importantes nessa história. A primeira má- de e os rolamentos aperfeiçoados aumentaram
quina de costura verdadeiramente usada teria a velocidade na costura. Hoje uma máquina de
sido obra de um alemão. Já a primeira máqui- costura de uso doméstico pode fazer até 1.500
na americana a ser efetivamente fabricada foi pontos por minuto. Já algumas de uso indus-
obra de um reverendo, John Adams Dodge. trial chegam a fazer 7.000 pontos por minuto.
Fora os muitos chuleios e pespontos. A Walter Dia e noite, homens e mulheres em toda parte
Hunt pertence a honra de ter sido o primeiro a do mundo vestem e usam artigos feitos com a
combinar uma lançadeira e agulha com olho na máquina de costura, seja doméstica, seja indus-
ponta para fazer uma costura fechada prática. trial. A máquina de costura aumentou os guar-
John Bachelder desenvolveu e patenteou a da-roupas, tornou possível a produção em massa
primeira máquina de alimentação contínua. de inúmeros produtos e, mais do que muita ide-
Lerow e Blodgett inventaram a primeira lan- ologia, emancipou mulheres de todos os países.
çadeira de movimento contínuo girando em “Depois do arado, esta máquina de costu-
plano horizontal; e, em 1851, Allen B. Wilson ra é talvez o instrumento mais abençoado da
contribuiu com o gancho rotativo e a alimen- humanidade”, escreveu Louis Antoine Godey,
tação de quatro movimentos. Também em 1851, em 1856. Mahatma Gandhi, o líder hindu, en-
William O. Grover concebeu o dispositivo de quanto estava na prisão, aprendeu a costurar
ponto corrente de dois fios. em uma máquina Singer, depois a isentou-a na
Tão variados como os inventores foram os interdição que fez sobre o maquinário ociden-
usos e aperfeiçoamentos: no século passado, tal e um dia chegou a dizer: “Ela é uma das
cerca de 46.000 patentes de máquina de costura poucas coisas úteis já inventadas”.

Mulher opera máquina de


costura da Callebaut, 1862

Além de possibilitar a produção em massa de


roupas, a emergência de máquinas de costura
cada vez mais aperfeiçoadas serviu para
emancipar mulheres de todos os países
34 a história das máquinas

Uma pausa O motor elétrico foi criado em 1866, quando gundo tal princípio poderiam, no máximo, ob-
o cientista berlinense Werner Von Siemens in- ter rendimento de 50% em relação à potência
para o motor ventou o primeiro gerador de corrente contínua, consumida.
um dínamo. Surge, com Siemens, a máquina Outro cientista, o croata Nikola Tesla – o
de acionamento tão sonhada pelos industriais mesmo que projetou a primeira usina hidrelé-
de seu tempo. O dínamo de corrente elétrica de trica, nas Cataratas do Niagara –, apresentou,
alta tensão de Siemens podia funcionar tanto em 1887, um pequeno protótipo de motor de in-
como gerador de eletricidade como motor. dução bifásico,que impressionou a firma norte-
Primeira locomotiva elétrica, criada por
A nova máquina de corrente contínua apre- americana Westinghouse. A empresa pagou na
Werner von Siemens e apresentada na
Feira Industrial de Berlim em 1879 sentava vantagens em relação à maquina a va- época 1 milhão de dólares pelo equipamento.
por, à roda-d’água e à força animal. Entretanto, Em 1889, foi a vez do engenheiro eletricista
o alto custo de fabricação levou pesquisadores a Dolivo-Dobrowolsky entrar para a história do
procurar um modo para melhorar a descoberta. motor elétrico. Nesse ano, ele requereu pedido
O advento da luz elétrica estimulou Em 1879, a firma Siemens e Halske apresenta de patente, em Berlim, de um motor trifásico. O
o desenvolvimento industrial,
especialmente de eletrodomésticos na feira industrial de Berlim a primeira loco- motor apresentado tinha potência de 80 watts.
motiva acionada por um motor elétrico de 2 As vantagens do motor de corrente alternada
quilowatts. Dois anos depois, na mesma cida- para o motor de corrente contínua eram mar-
de, aparece o primeiro bonde elétrico. cantes: construção mais simples, silencioso, óti-
Em 1885, o engenheiro eletricista Galileu ma partida, mais resistente, mais barato e exigia
Ferraris construiu um motor de corrente al- pouca manutenção. Dois anos mais tarde, Do-
ternada de duas fases. Ferraris, apesar de ter browolsky desenvolveu a primeira fabricação em
inventado o motor de campo girante, concluiu série de motores na Europa. Era o motor ideal
erroneamente que os motores construídos se- para o acionamento de indústrias e oficinas.
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 35

Com o aparecimento da luz elétrica subs-


tituindo a iluminação a óleo e a gás, as taxas
de lucratividade cresceram e estimularam o
desenvolvimento industrial. Os motores mo-
vidos a eletricidade permitiram, por sua vez, a
disseminação de utilidades domésticas, bens de
consumo duráveis popularmente conhecidos,
a partir do século xx, como eletrodomésticos.
Era a sociedade moderna.
Mas a era moderna não estaria completa se no
meio da história não tivesse surgido um certo
Rudolf Diesel. Em 1897, o engenheiro alemão
desenvolveu um motor a combustão de pistões
que, mais tarde, seria chamado de motor die-
sel. Para chegar ao produto final, foi necessário
criar uma série de outros equipamentos, como
bombas e bicos injetores e sistemas de engre-
nagens. No início do século xx, Diesel levou
a cria à mostra mundial de Paris, na França.
Na exibição para o público, ele usou óleo de
amendoim como combustível para alimentar o
motor. Foi um sucesso.
36 a história das máquinas

Henry Ford, um Para entender a ousadia e o talento de Hen- adiante em produtividade, mas perdeu flexi-
ry Ford, é bom lembrar que até ali imperava bilidade. Por isso a máquina universal nunca
fora de série na indústria a máquina universal, uma mesma foi totalmente abandonada. Mas o fato é que,
ao contrário máquina que servia para fazer diferentes tare- com a produção em série e automatizada, Ford
fas ou tipos de peça – por exemplo, diferentes conseguiu fazer perfeitamente o que se pro-
tipos de tecido ou de artefato metálico. pôs: um carro tão barato que mesmo um ope-
É então que Henry Ford entra em cena, em rário seu pudesse comprar. Foi uma revolução
1903, e inventa a linha de montagem, a produ- tão impactante que logo, no mundo inteiro,
ção em série. Uma mesma máquina fabricava todas as indústrias automobilísticas estavam
100 peças de automóvel e depois tinha de pa- seguindo o exemplo.
rar para fazer outra? Isso, na visão de Ford, era Henry Ford não foi, no entanto, pioneiro
perda de tempo e dinheiro. Cada máquina de- absoluto. Antes dele, outros inventores tam-
via propiciar agora maior volume de produção. bém tiveram sucesso com a produção em sé-
Funcionário da Ford trabalha em
fornalha de ferro, Inglaterra, 1933 Aí surgem máquinas para fazer apenas uma rie. Joseph Bramah, que em 1784 inventou a
determinada peça, e com alto grau de automa- fechadura, foi um deles. Na busca por uma
ção e produtividade. máquina que produzisse fechaduras em série,
Henry Ford costumava dizer: “Se você quer ele conheceu Henry Maudslay, que mais tarde
comprar um automóvel da Ford, pode escolher se tornaria famoso por ter inventado um torno
O empreendedor e inventor Henry Ford com o filho a cor que quiser, desde que seja preto”. Longe que ajudou a Inglaterra a assumir a liderança
Edsel ao lado do primeiro automóvel da Ford e do de
número 10.000.000. A produção em série possibilitava de ser um empresário ranheta, queria apenas na fabricação de equipamentos de madeira,
maior volume de unidades a custos mais baixos ressaltar que era preciso produzir em alta esca- metal e manufaturados.
la, sem flexibilidade. Se um quer carro preto, Estimulado pelo sucesso das fechaduras,
outro amarelo, mais um acessório aqui, outro Bramah, diga-se, continuou em plena efer-
acessório ali – a produção terminaria ficando vescência criadora. É dele a prensa hidráuli-
lenta e cara. Era a produção em série. Era o ca, a bacia sanitária com descarga hidráulica e
início do século xx. também uma máquina capaz de cortar a pena
Só que nem tudo no mundo é pura van- abrindo espaço para a tinta e, dessa forma, fa-
tagem: a máquina automática deu um passo cilitar a escrita.
38
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 39

A efervescência criativa da Europa e dos mont, era conhecido como o rei do café – que Um brasileiro
Estados Unidos, pode se dizer, contagiou o bancou as aventuras de Santos Dumont em
Brasil. Nosso maior representante no período Paris e a invenção do que seria o primeiro ae-
na história
é Alberto Santos Dumont. A intimidade de roplano a voar na Europa, o 14bis, em outubro
Santos Dumont com as máquinas começou de 1906. O aeroplano foi a primeira máquina
com equipamentos para a produção de café. mais pesada que o ar que voou no continen-
Aos 7 anos, ele dirigia as chamadas locomó- te. O primeiro vôo de sucesso durou 21,2 se-
veis, máquinas movidas a vapor que carrega- gundos, e 220 metros foram percorridos pela
vam a colheita para a estrada de ferro principal. melindrosa máquina, que saiu do chão com a
Com 12 anos, Santos Dumont convenceu um ajuda de um motor de 50 hp.
maquinista a deixá-lo guiar uma das principais Antes do 14bis, Dumont tinha conquistado
locomotivas do país na época, uma Baldwin, fama na Europa com os balões controlados.
transportando um vagão cheio de café para a Antes do brasileiro, os balões inflamáveis voa-
usina de beneficiamento. vam ao sabor do vento, o que fazia com que os
E foi o dinheiro do café brasileiro – o pai de balonistas soubessem somente de onde iriam
Santos Dumont, o engenheiro Henrique Du- decolar. O local do pouso era sempre dúvida.

O primeiro aeroplano a voar na


Europa, o 14bis, inventado pelo
brasileiro Alberto Santos Dumont

Santos Dumont em um de
seus balões controlados
40 a história das máquinas

Máquinas Foi o francês Joseph Marie Jacquard, no iní- a fabricação de aviões e material bélico. Na
cio do 1800, quem deu um passo fundamental busca, os americanos encontraram uma pe-
sob controle. em direção à automação industrial. Ele inven- quena empresa fabricante de hélices e roto-
Numérico tou um tear mecânico com uma leitora automá- res de helicópteros, a Parsons Corporation.
tica de cartões. A máquina de tecer de Jacquard Dois anos antes, a Parsons tinha experimen-
trabalhava tão bem que milhares de tecelões tado usar uma forma rudimentar de controle
perderam o emprego com a automação, rebe- por números em uma máquina de usinagem
lando-se e quase matando o inventor. A idéia convencional – ligando esta máquina a um
do francês era que as ações de um ou mais equi- computador que era alimentado por dados via
A máquina de tecer de Jacquard foi importante pamentos fossem controladas por meio da in- cartões perfurados.
marco para a automação industrial. Era tão eficiente terpretação automática de instruções expressas A FAA contratou a Parsons e patrocinou
que muitos funcionários perderam o emprego
em números. estudos e o desenvolvimento do controle nu-
No início da década de 1900, surgiu outro mérico. Em pouco tempo, a empresa conse-
nome importante: Herman Hollerith, físico guiu adaptar o controle numérico para uma
que mais tarde fundaria a empresa que deu máquina-ferramenta convencional da Cincin-
origem à gigante Internacional Business Ma- nati Lamb – fabricante, na época, de máqui-
chines (IBM). Ele desenvolveu um sistema de nas-ferramenta convencionais – e, desse modo,
armazenamento de dados para os cartões per- juntas criaram o protótipo de uma máquina
furados para o departamento de recenseamento CN (Controle Numérico), que foi demons-
dos Estados Unidos. trado em 1953 no Instituto de Tecnologia de
No processo de evolução industrial, tinham Massachusetts (MIT).
sido criados equipamentos para facilitar o de- Na década de 1960, outra evolução: já eram
senvolvimento de produtos. Novas máquinas produzidos cartões perfurados com números
surgiram desse desejo. Já com a armazenagem em código indicando dimensões de peças e ou-
e o processamento de dados, os computadores tros dados. Também surgiram controles com
poderiam aliviar a memória dos homens. Dessa fita magnética e fita perfurada. Isso durou até
forma, foi inevitável ligar as duas áreas. os anos 1980, quando a informática entrou para
Um marco do desenvolvimento dessa par- valer na indústria. Os dados numéricos então
ceria foi o ano de 1949, quando a Força Aé- passaram a ser gravados em disquetes e depois
rea Americana (FAA) procurava melhorar em bancos de dados centralizados.
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 41

Máquinas de controle numérico e


armazenamento de dados da Hollerith
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 43

Como se vê, na trepidante história das máqui- pelo governo americano até o final da guerra, Uma guerra,
nas há três momentos decisivos, três momentos quando, então, foi anunciado ao mundo.
de gênios. A Revolução Industrial foi a possi- Mas ainda faltava alguma coisa no compu-
dois Steves
bilidade de acionar máquinas por meio da má- tador, ele era apenas um calculador eletrônico. e um Bill
quina a vapor de James Watt, sem uso de força Nesse ponto, surge o matemático húngaro, de
humana. Outro momento crucial foi a produção origem judia e naturalizado americano, John
em série com as máquinas automáticas, detona- von Neumann. Ele lançou a pedra fundamental
da por Henry Ford e logo copiada mundo afora. que transformou os computadores em cérebros
Já a terceira revolução, a das máquinas compu- eletrônicos: modelou a arquitetura do compu-
tadorizadas, bem essa começa com uma guerra. tador segundo o sistema nervoso central. Nas-
Foi na Segunda Guerra Mundial que, realmen- cia o computador moderno.
te, nasceram os computadores atuais. A história da informática prossegue na enso-
A Marinha americana, em conjunto com a larada Califórnia, com dois jovens Steve e com
Universidade de Harvard, desenvolveu o com- um certo Bill Gates lá do outro lado do país, na
putador eletromecânico Mark I, projetado pelo gélida Seatle. Eniac, primeiro computador a válvulas,
desenvolvido pelo Exército dos EUA
professor Howard Aiken, com base em experi- Quando tinha cerca de 20 anos de idade,
mentos feitos pelo matemático Charles Babba- Steve Jobs e o amigo Steve Woznik criaram o
ge em 1837 em Cambridge. O Mark I ocupava primeiro computador Macintosh. Jobs traba-
120 metros cúbicos aproximadamente e conse- lhava como designer de jogos na Atari. Largara Eniac da IBM
guia multiplicar dois números de dez dígitos a faculdade por falta de recursos e tinha talvez
em três segundos. como maior bem a perua Volkswagen, bastante
Simultaneamente, e em segredo, o Exército velha, na garagem. Woz, como era chamado
dos EUA desenvolvia um projeto semelhante, entre os colegas, tinha se evadido da Universi-
chefiado pelos engenheiros J. Presper Eckert dade de Berkeley e trabalhava para a HP. Em
e John Mauchy, cujo resultado foi o primeiro vez de terminar a faculdade, andava ocupado
computador a válvulas: o Eletronic Numeric em inventar uma coisa chamada Blue Box, um
Integrator And Calculator — Eniac. O equi- acessório ilegal para fazer ligações interurbanas
pamento era capaz de fazer 500 multiplicações de graça. Começaram uma parceria, com Jobs
por segundo. Foi projetado para calcular traje- ajudando Woz a vender o produto para alguns
tórias balísticas e, por isso, mantido em segredo clientes selecionados.
44 a história das máquinas

O Apple II foi concebido em 1977. Seu invólucro, Da amizade com Woz e na industrial de Seattle, Estado de
de plástico, era raridade para a época garagem de Jobs, nascia uma Washington. Já aos 13 anos foi
máquina que revolucionaria ser interno numa escola para
o mercado de computadores pequenos gênios.
domésticos e uma empresa cha- Em 1974, a capa da revista
mada Apple. Os dois ofereceram Popular Eletronics anunciava o
o produto a um empreendedor, que, lançamento do Altair 8800, que
de cara, encomendou 25 unidades do equipa- prometia ser o primeiro microcomputador do
mento. Sem dinheiro para construí-los, eles mundo. Só que a nova maravilha não tinha te-
venderam os bens mais preciosos que possuí- clado nem drive de disquete. De bate-pronto,
am, o carro de Jobs e a calculadora científica de Gates ligou para os empresários da gigante Intel
Woz , e se enfurnaram na garagem, onde pas- – fabricante de microprocessadores para o Al-
saram madrugadas trabalhando e montando os tair, fundada em 1968 – oferecendo o Basic, um
computadores pioneiros. O primeiro, o Apple software que poderia funcionar no Altair. Era
I, foi vendido por 666,66 dólares em 1976. um chute, ele e seu partner Allen ainda não ha-
Dois anos antes, em outra ponta dos EUA, viam produzido uma só linha de código sequer.
o futuro pop star da informática, Bill Gates, Mas um chute de gênio. Em poucas semanas, a
ou William Henry Gates III, dava os primei- dupla ralou sem descanso e conseguiu criar um
ros passos. Ao contrário de Jobs, Gates nasceu demo do produto. Era o início do mercado de
rico numa família de banqueiros da cidade software. Era o início da Microsoft.
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 45

Gates e Jobs, ou Mas a verdade é que a


Microsoft e Apple, maçã da Apple foi quem
só se conheceram inaugurou o paraíso da
em 1977, no lança- computação doméstica.
mento do Apple II, e Até então, os computado-
logo se tornaram inimigos. Por um bom tem- res pessoais estavam restritos às empresas. O
po, Jobs acusou Gates de ter copiado o sistema micro da Apple tinha monitor, drive de ar-
Mac. Dizia que o Windows era a prova disso. mazenamento (na época, um revolucionário
Gates fechara um contrato para fornecer pro- disquete), mouse e sistema operacional com
gramas para o Mac, mas abandonou o projeto interfaces gráficas.
no meio e logo lançava o Windows, muito si- A presença da Apple no mercado conta com
milar ao sistema Macintosh. outra forte influência. O design dos aparelhos
A guerra hoje é das máquinas: PCs e Macs. da companhia é uma unanimidade mundial e
Os chamados PCs são computadores monta- facilmente reconhecido. Pesquisadores de de-
dos aos pedacinhos em milhares de lugares do sign afirmam que até mesmo programas de TV
mundo. Todos movidos exclusivamente por e equipamentos domésticos se inspiraram nas
programas da Microsoft. Já os Macs, além do curvas sutis e no visual com cores fortes e efei-
sistema operacional diferenciado dos PCs, são tos de transparência introduzidos pela primeira
fabricados por uma única empresa, a Apple. linha iMac.
46 a história das máquinas

Os robôs Foi o escritor checo Karel Capek quem, em Mas aquele que é considerado o primeiro robô
1921, introduziu a palavra robô num texto de autônomo eletrônico foi criado por Grey Wal-
estão chegando uma peça de teatro. Mas a palavra em si, robô, ter, na Universidade de Bristol, na Inglaterra,
foi inventada pelo irmão Josef, outro respeitado no ano de 1948.
escritor checo, e vem da palavra checa robota, Uma criatura quase humana, com certa in-
que significa, olha aí, trabalho forçado... teligência e certa independência? Um tanto
Mas o primeiro projeto documentado de um assustador... Muito antes do pleno desenvolvi-
O robô humanóide Elektro, da Westinghouse,
em exibição no Word’s Fair em 1939 robô humanóide foi feito, como já vimos, por mento e uso dos robôs, a literatura e o cinema
Leonardo Da Vinci por volta de 1495. As notas começaram a refletir os pavores do ser humano
de Da Vinci, escritas no Código Atlântico, conti- em relação a esse novo brinquedo perigoso e,
nham desenhos detalhados de um cavaleiro me- um dia talvez, incontrolável. Frankenstein, de
O robô humanóide Plen, da empresa cânico que aparentemente era capaz de sentar, 1818, é freqüentemente considerado o primeiro
japonesa Systec Akazawa, patinando na
Robot Expo em Tókio, agosto de 2006 mexer os braços, mover a cabeça e o maxilar. romance de ficção científica a abordar as per-
O primeiro robô funcional foi criado em 1738 turbadoras clonagens mecânicas.
pelo francês Jacques de Vaucanson. Ele fez um Foi quando, poucos anos depois da peça de
andróide que tocava flauta... O passo seguinte Capek sobre uma linha de montagem que uti-
já não foi assim tão pacífico: muitos consideram lizava robôs para tentar construir mais robôs, o
que o primeiro robô segundo as definições mo- tema começou a inquietar corações e mentes com
dernas foi o barco teleoperado de Nikola Tesla questões que iam bem da além da tecnologia, da
– o mesmo do motor elétrico –, exibido em 1898 indústria e da economia. No cinema, desde o
no Madison Square Garden. Como ele mesmo clássico Metropolis (1927) até os populares Blade
descreve na patente de nº 613 809 para o teleau- Runner (1982) e The Terminator (1984) de nossos
tomation, Tesla desejava desenvolver um torpe- dias, o tema não parou de assombrar milhões de
do sem fio para fazer parte do sistema de armas espectadores. Os desafios dos robôs inteligen-
da Marinha americana. O barco teleguiado era tes e uma maior compreensão da interação entre
similar a um Veículo Operado Remotamente robôs e homens foram também abordadas em
(ROV) de hoje. filmes como A.I. (2001) e Eu, Robô (2004).
Nos anos 1930, a Westinghouse desenvolveu Na história, aliás, de ficção científica em que
um robô humanóide conhecido como Elektro. se baseou o filme Eu, Robô, o escritor Isaac
Ele foi exibido no World’s Fair de 1939-1940. Asimov já em 1941 consagrava a palavra robó-
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 47

tica. Ali, o autor se refere às três regras da ro-


bótica, que posteriormente se tornaram as Três
Leis da Robótica.
Como ciência e arte de criação de robôs, a
robótica requer conhecimentos de eletrônica,
mecânica e software. Dependendo do tamanho
do projeto, conhecimentos sobre cinemática,
pneumática, hidráulica e microcontroladores
podem ser necessários.
O processo padrão de criação de robôs co-
meça pela exploração de sensores, algoritmos
etc. Uma vez acabada a plataforma móvel bá-
sica, os sensores, as entradas e as saídas do
robô são conectados a um dispositivo, um mi-
crocontrolador, que tomará as decisões. Esse
circuito avalia os sinais de entrada, calcula a
resposta apropriada e envia os sinais aos atua-
dores de modo a causar uma reação. E pronto,
eis um robô em ação.
Pronto para trabalhar. Sim, porque, enquan-
to a literatura e o cinema exibem seus temores,
os robôs trabalham, ralam nas mais diversas
tarefas. Hoje, o uso mais comum de robôs in-
dustriais é nas linhas de produção. Outras apli-
cações incluem tarefas mais arriscadas como
limpeza de lixo tóxico, exploração subaquática
e espacial, cirurgias, mineração, busca, regaste,
procura de minas terrestres, desarme de bombas
urbanas. Já começam a atuar também na área de
cuidados com saúde e no entretenimento.
48 a história das máquinas

Robô solda peça de automóvel em linha de Os manipuladores industriais possuem ca- manipular contêineres, laboratórios, instala-
produção da Honda Siel Cars India, em Noida. pacidade de movimento bastante similar ao ções de servidores e outras aplicações em que
Com a ajuda de robôs, a companhia aumentou a
produção anual de 30.000 para 50.000 unidades braço humano e são os mais comumente uti- a confiabilidade e a segurança diante dos riscos
lizados na indústria. As aplicações incluem se revelam fatores importantes.
soldagem, pintura, carregamento de máqui- No começo do século xxi, os robôs domés-
nas. A indústria automotiva é onde mais se ticos começaram a surgir na mídia, com o su-
A nanotecnologia pode ser muito útil utilizam robôs programados para substituir a cesso do Aibo, da Sony, e uma série de outros
para a indústria de roupas e tecidos. Na
imagem, casaco com tratamento especial mão-de-obra humana em trabalhos repetiti- fabricantes lançando aspiradores robóticos
evita infiltração de gotas de água vos ou perigosos. como a iRobot, Electrolux, e Karcher. Para ter
Outra versão de robô industrial é o “veículo uma idéia: até o final de 2004 cerca de 1 milhão
guiado automaticamente” (AGV). O AGV é de unidades de aspiradores foram vendidas em
utilizado em estoques, hospitais, portos para todo o mundo.
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 49

Máquinas minúsculas, do tamanho de um tomobilístico e aeronáutico, por exemplo, as E agora, as


vírus? São as nanomáquinas, produto da nano- nanomáquinas ajudam no desenvolvimento
tecnologia, que manipula e reorganiza átomos de materiais mais leves, pneus mais duráveis,
nanomáquinas
e moléculas para promover combinações e, com plásticos mais baratos. No caso da indústria
isso, gerar novos produtos. Uma novidade que de máquinas, propicia o desenvolvimento de
está transformando a medicina, a agricultura e ferramentas de corte mais duras, materiais
até mesmo a indústria. mais resistentes. Já para o setor têxtil, fala-se
A palavra nanotecnologia foi usada pela pri- no desenvolvimento de tecidos impermeáveis,
meira vez em 1974 pelo professor Norio Tanigu- em roupas que não mancham. São mudanças
chi para descrever as tecnologias que permitiam possíveis nos materiais, justamente, porque
a construção de matérias à escala minúscula de os cientistas reorganizam as moléculas como
1 nanômetro. Para termo de comparação, 1 na- quem encaixa bloquinhos de madeira – como
nômetro equivale a um bilionésimo de metro. o Lego – e criam novas funções para mate-
No diâmetro de um fio de cabelo, por exemplo, riais conhecidos.
cabem 100.000 nanômetros. Na medicina, a expectativa com a nanotecno-
Nos anos 1980, o conceito de nanotecnologia logia também é grande. Novos medicamentos
foi popularizado por Eric Drexler com a publi- poderão ser desenvolvidos baseados em nano-
cação do livro Engines of Creation. Apesar de estrutura. No tratamento de câncer, por exem-
especulações muito próximas da ficção cientí- plo, os testes estão avançando. Os cientistas
fica, o livro baseou-se nas idéias desenvolvidas já conseguem levar partículas diretamente às
quando Drexler trabalhava como cientista no células tumorais. A idéia é construir máquinas
MIT. Ele foi o primeiro pesquisador do mundo moleculares ativas e controláveis que possam
a doutorar-se em nanotecnologia. consertar as células danificadas pela doença.
De lá para cá, as aplicações práticas da na- Outra novidade do mundo nano são os car-
notecnologia têm sido testadas em diversas ros, ou melhor, os nanocarros. O primeiro foi
áreas e em todas se mostrado promissoras. desenvolvido no final do ano passado por um
Muitos produtos hoje consumidos já adotam grupo de cientistas da Universidade de Rice,
a nanotecnologia. nos EUA. O carro foi construído com uma
Na indústria, a nanotecnologia pode ser útil única molécula. As rodas são moléculas es-
nos setores mais diversos. No segmento au- féricas de carbono, hidrogênio e boro. Mas o
50 a história das máquinas

modelo não é adaptável a todas as superfícies;


por enquanto, o nanocarro só se movimenta
mergulhado em um líquido, uma solução de
tolueno. Para se ter uma idéia do tamanho do
nanocarro, ele é um pouco mais largo que uma
estrutura de DNA (moléculas que contém ma-
terial genético), mas altura muito menor. Mede
entre 3 e 4 nanômetros.
A robótica também ganha com a nanotec-
nologia. Os nanorrobôs estão revolucionando
a fabricação de sensores, câmeras e um sem-
número de outros equipamentos médicos. Os
nanorrobôs – na verdade diminutas mãos ro-
bóticas – são capazes de manipular moléculas
em tempo real. A operação é coordenada por
um operador humano, munido de um pode-
roso microscópio eletrônico que manipula os
elementos necessários para construir os pixels
individuais que formam os sensores.
Nanotecnologia, a ficção científica entre nós...
Máquinas, Máquinas, Do Vapor ao Computador 1 51

Mesmo diante de tanta sofisticação tecnoló- plo, sabe que ela vai ser única, feita em máquina Todas as
gica, é bom lembrar que nas máquinas compu- universal e não em automáticas montadas para
tadorizadas se juntam tanto as automatizadas trabalhar em série. Então isso explica por que
máquinas
como as universais. A máquina computadori- as três categorias continuam existindo. É cla- do mundo
zada pode fazer dez peças de um tipo e, ato ro que as máquinas universais se modernizam,
contínuo, dez diferentes e outras dez diferen- melhoram a precisão e o desempenho, podem
tes. Mas, para isso, é preciso que um especia- até ter componentes informatizados para auxi-
lista em máquinas universais e um especialista liar o operador, mas é ele quem que vai operá-la.
em máquinas automáticas apliquem os conhe- As máquinas universais são, assim, uma espécie
cimentos para aquele programa de computador. de coringa entre as automáticas e as computa-
Por melhor que seja a máquina, sem uma boa dorizadas. São, como se diz, pau para toda obra
programação ela é inútil. Ou vale a piada dos e mantêm a flexibilidade. Com um tear de pro-
dois diretores de uma fábrica diante de máqui- gramação totalmente manual, é possível fazer
nas hipermodernas em plena produção: “Pois é, um tecido hoje e um diferente amanhã, o que só
depois que introduzimos toda essa nova tecno- é viável, claro, em casos de baixa produção.
logia, estamos fazendo as coisas erradas muito Há, pois, um momento, um belo momento
mais depressa”. na história das máquinas, em que as máquinas
As máquinas universais não perderam, pois, pau para toda obra, as especializadas e as com-
a importância. Mesmo agora, no século xxi, a putadorizadas, o John Watt da primeira loco-
indústria tem às vezes necessidade de produ- motiva, o Henry Ford da produção em série e
zir itens em pequena escala, protótipos ou bens os meninos geniais dos primeiros computado-
especiais de uma única peça a ser produzida. res, todos se unem na mesma e antiga tarefa
Quem quiser construir uma turbina tipo Ka- de fazer deste planeta uma casa cada vez mais
plan para uma usina hidroelétrica, por exem- habitável e confortável para o ser humano.

Wilson Double Core: tratamento nanotecnológico para


maior resistência. O interior das bolas conta com uma
película extra — revestimento de massinha misturada
com borracha com espessura de 1 nanômetro
— que mantém o ar preso por mais tempo
linha do tempo
• 1730 John Kay cria a Flying shuttle, • 1851 Isaac Merritt Singer aperfeiçoa,
máquina que permitia formar o fabrica e patenteia uma máquina
tecido de costura produzida em série

• 1738 O francês Jacques de Vaucanson • 1862 Whitworth constrói o primeiro


cria o primeiro robô funcional, era canhão com alcance de 6 milhas
um andróide que tocava música
• 1866 Werner von Siemens inventa
• 1814 George Stephenson projeta a o primeiro gerador de corrente
primeira locomotiva a vapor contínua

• 1837 John Deere desenvolve o primeiro • 1890 Herman Hollerith desenvolve


arado feito de aço um sistema de armazenamento
de dados por meio de cartões
• 1837 Charles Babbage desenvolve um perfurados
equipamento que é considerado
• 1764 James Hargreaves cria Spinning o ponto de partida para os • 1897 Rudolf Diesel cria o motor a
jenny, uma roda de fiar múltipla computadores modernos combustão com pistão

• 1765 James Watt inventa a máquina a • 1846 Elias Howe desenvolve a máquina • 1898 Nikola Tesla exibe o barco
vapor definitiva de costura de ponto de laçada teleoperado, no Madison Square
Garden
• 1771 Richard Arkwright patenteia uma
máquina de fiar revolucionária,
que funcionava com força
hidráulica, a Water frame

• 1779 John Wilkinson constrói a


primeira ponte de ferro fundido
• 1851 Joseph Whitworth apresenta à
• 1784 Joseph Bramah inventa a rainha da Inglaterra um torno e
fechadura e a fabricação em série uma plaina de mesa • 1903 Henry Ford inaugura a Ford
de um produto Motor Company e, com isso, dá
• 1851 o arquiteto Joseph Paxton ergue no início à era da montagem em série
• 1801 Joseph Marie Jacquard inventa o Hyde Park, em Londres, o Crystal na indústria
tear mecânico Palace
• 1906 O 14bis, de Santos Dumont, é a
primeira máquina mais pesada que • 1969 O supersônico Concorde faz o
o ar a voar, em Paris primeiro vôo

• 1909 Pela primeira vez um aeroplano é • 1968 É fundada a Intel


usado por militares, nos Estados
Unidos • 1946 É construído o Eniac, primeiro
• 1974 Surge o Altair 8800, que promete
computador eletrônico da história
ser o primeiro microcomputador
do mundo
• 1948 Grey Walter desenvolve o primeiro
robô autônomo eletrônico
• 1974 O professor Norio Taniguchi
descreve, pela primeira vez,
• 1949 A empresa Parsons, a pedido da
a tecnologia que permite a
Força Aérea Americana (FAA),
construção de matéria à escala de 1
desenvolve o protótipo da primeira
nanômetro
máquina de controle numérico
• 1916 O primeiro tanque de guerra entra (CN)
• 1975 É fundada a Microsoft
em ação na França, durante a
Primeira Guerra Mundial • 1976 É vendido o primeiro computador
Apple, o Apple I
• 1922 Construído o primeiro porta-
aviões, o japonês Hosho • 2005 Cientistas americanos criam o
primeiro nanocarro
• 1939 A empresa Westinghouse
desenvolve um robô humanóide
conhecido como Elektro • 1954 É desenvolvido o primeiro
submarino nuclear, o USS Nautilus
• 1944 É construído o Mark I, primeiro
computador eletromecânico da • 1961 Criado o Unimate, primeiro robô
história industrial da história
Desde que o barão de Mauá inaugurou a primeira ferrovia, o Brasil foi, entre altos e
baixos, encontrando o caminho da industrialização e o pleno emprego das máquinas.
De modestas garagens foram surgindo grandes empresas, de Volta Redonda veio o
aço, o petróleo tornou-se cada vez mais nosso e a presença estrangeira contribuiu para
inspirar uma tecnologia própria.

O Brasil e as Máquinas, do Império à Era Vargas


no embalo das Depois de 300 anos como país essencialmente Sua coragem foi exemplar. Logo surgiram
agrícola, no início do século xix o Brasil come- as ferrovias ligando o Recife ao São Francis-
primeiras ferrovias ça a dar os primeiros passos na direção de uma co (1858); a Estrada de Ferro Dom Pedro ii
indústria nacional. Como a máquina a vapor (1858), no Rio de Janeiro; a Paranaguá–Curiti-
deflagrou a Revolução Industrial, também aqui ba (1877), no Paraná. E assim nossa malha fer-
as primeiras ferrovias vieram colocar o país nos roviária foi crescendo. Uma variante trágica:
trilhos do desenvolvimento. O grande nome entre 1907 e 1912, foi construída, em plena Flo-
dessa arrancada é Irineu Evangelista de Souza, resta Amazônica, a fatídica Estrada de Ferro
o barão de Mauá, banqueiro e empresário gaú- Madeira–Mamoré, que o Brasil foi obrigado a
cho, dono da Imperial Companhia de Navega- construir como forma de pagamento pela in-
ção a Vapor e da Estrada de Ferro Petrópolis. corporação do Acre. A função da ferrovia seria
Foi ele o responsável pela construção, em 1854, transportar o látex produzido na região norte
da primeira ferrovia brasileira, a Estrada de da Bolívia, mas em poucos anos foi tragada
Ferro de Mauá, que ligava o Porto de Estrela, pela floresta.
na Baía de Guanabara, a Fragoso, no caminho A força das primeiras ferrovias impulsionou
de Petrópolis. o crescimento. Resfolegando, aquelas bravas e
o br asil e as máquinas, Do império à er a vargas 2 55

operosas marias-fumaça faziam a ponte neces- to industrial . Em 1889, o número de empresas Estrada de Ferro Santos—Jundiaí,
sária entre os setores produtores de matéria, as passava de 200 para 600. O país não era mais da companhia inglesa São Pau-
lo Railway, início do século XX
indústrias e o mercado consumidor. Tanto que, totalmente agrícola. Já se podia ouvir, aqui e
na década de 1880, o país vivia o primeiro sur- ali, o fragor de outras máquinas.

v
56 a história das máquinas

nossa primeira A primeira máquina construída no Brasil, em íra um museu para abrigar a coleção particular
1860, teve um toque tropical: foi uma prensa a de aves empalhadas.
máquina vapor para cunhar moedas, feita e instalada na A função dessa histórica máquina era padro-
Casa dos Pássaros. Na verdade, já fora trans- nizar as moedas brasileiras, que, na época de
formada em Casa da Moeda do Brasil, mas era D. Pedro i, eram bem irregulares e feias.
conhecida como Casa dos Pássaros porque ali De concepção bastante moderna, a máquina foi
Dom João vi, encantado com a fauna, constru- inaugurada pelo próprio imperador D. Pedro ii.

Primeira máquina construída no Brasil, em


1860: prensa a vapor para cunhar moedas

Moeda de prata brasileira de


1860 com valor de 200 réis
o br asil e as máquinas, Do império à er a vargas 2 57

Um censo de 1907 sobre a atividade industrial brasileiro. O arado americano quebrava com Nardini,
no Brasil contabiliza cerca de 3.200 empresas, facilidade e não tinha aderência à terra. Depois
60% do setor têxtil. O segmento, aliás, fora mui- de muitas pesquisas, Nardini desenvolveu um
Bardella
to favorecido pelo crescimento de nossa cultura tratamento de têmpera que tornava a lâmina e outros
do algodão em razão da Guerra de Secessão dos mais resistente a nossas condições. pioneiros
Estados Unidos. Grande produtor e exportador, Outros empreendedores foram surgindo.
os Estados Unidos foram obrigados a desenvol- Por vias às vezes curiosas. Durante a Revo-
ver outras culturas para alimentar soldados e ci- lução Constitucionalista de 1932, um ferreiro
vis durante o conflito. Sorte à brasileira. da Barra Funda, Antônio Bardella, imigrante
Um ano depois do censo nascia uma em- italiano como Nardini, começou a produzir
presa importante para o setor de máquinas, a granadas de mão para as forças revolucioná-
Indústria Nardini, de Domingos Nardini, um rias. Bardella fez história: sua oficina chegou a
pioneiro no Brasil na fabricação de máquinas e fundir 3.000 granadas por dia. Passado o con-
equipamentos agrícolas. Em 1912, a indústria flito, a empresa se voltou para a indústria de
desse imigrante italiano já fabricava arados, se- máquinas, investiu em inovações tecnológi-
meadeiras, foices, machados, troles, charretes e cas e projetos audaciosos. Chegou a construir
carroções próprios para uso no campo. uma ponte rolante de 20 toneladas.
Mas o grande feito da empresa foi a adapta-
ção do arado americano às condições do solo

A Oficina do Imigrante Italiano Antonio


Bardella produzia granada de mão para
os revolucionários brasileiros
58 a história das máquinas

A heróica saga de É quando, longe da já efervescente São Pau- Era o tipo do visionário eficiente. Já em 1899
lo, um explosivo nome eclode no cenário in- era dono, no Recife, do Mercado do Derby, uma
Delmiro Gouveia dustrial: Delmiro Gouveia, o alagoano pobre espécie de shopping center onde se encontrava
que um dia simplesmente ajudou a quebrar o de tudo. Único estabelecimento da capital com
monopólio inglês da linha de coser e defla- energia elétrica, vendia produtos pela metade do
grou a geração de energia no Nordeste do país. preço e funcionava 24 horas por dia. O complexo
O empreendedor alagoano Delmiro Gouveia, um
Analfabeto e sem dinheiro, começou a vida incluía ainda hotel, parque de diversões e res-
visionário de origem pobre, criou a Hidrelétrica como bilheteiro na estação ferroviária de Olin- taurante. A maior preocupação do alagoano era
Paulo Afonso (abaixo e pág. seguinte) no Rio São da. Intuitivo e valente, logo estava trabalhando provar que o Nordeste tinha, sim, grande po-
Francisco e a Companhia Agro Fabril Mercantil,
rivalizando os ingleses da Machine Cottons com comércio na minúscula cidade de Água tencial para a indústria. Só faltava uma grande
Branca, no sertão alagoano. hidrelétrica, e Delmiro, como era de seu feito,
o br asil e as máquinas, Do império à er a vargas 2 59

foi em frente. Começou a importar equipamen- Tanta obstinação deu frutos. Com a hidrelé- Antes da morte, ele havia encomendado
tos e, em 1911, trouxe um grupo de engenheiros trica em funcionamento, por volta de 1913 a luz quatro novas turbinas e pretendia gerar 10.000
americanos para elaborar um projeto de apro- e a água finalmente chegaram às fábricas que hp para alimentar uma fábrica de tecidos com
veitamento e exploração do Rio São Francisco. ficavam a 400 quilômetros de centros como 2.000 teares. Pesquisava ainda a possibilidade
Nascia a Hidrelétrica de Paulo Afonso. Recife e Salvador. Outra ousadia de Delmi- de industrializar as fibras da região como sisal
Para ter uma idéia do temperamento e deter- ro foi a criação, em 1914, da Companhia Agro e caroá. Pretendia ainda plantar fumo, fabri-
minação de Delmiro Gouveia, na construção Fabril Mercantil. Logo nos primeiros meses car cigarros e lançar-se à produção de papel
da hidrelétrica, alguns operários hesitavam de vida, já produzia 216.000 carretéis de linha extraindo celulose da abundante cana-de-açú-
na hora de descer os 80 metros de profundi- de algodão – ramo então dominado pelos in- car da região. Foi, em pessoa, uma hidrelétri-
dade da queda-d’água. Delmiro primeiro deu gleses da Machine Cottons. ca de idéias.
o exemplo, descendo ele próprio o penhasco Obstinado e temperamental, Delmiro foi
amarrado a uma corda. Depois, para estimular fazendo também desafetos, e até hoje não há
os indecisos, ficou lá em cima à beira da cacho- uma explicação definitiva para seu assassinato,
eira, de revólver em punho. ocorrido em 10 de outubro de 1917.

v
Setor de fiação da Companhia
Agro Fabril Mercantil
62 a história das máquinas

Máquinas O segundo censo industrial ilustra bem o ce- de máquinas de tecido do país, a Indústria de
nário de desenvolvimento e empolgação vivido Máquinas Têxteis Ribeiro S.A., de 1920. O in-
têxteis por nosso empresariado no final da década de vestimento foi de 18 contos de réis, fruto das
ribeiro S.A. 1910. O levantamento, feito em 1920, mostrava economias acumuladas do português Joaquim
a existência de mais de 13.000 empresas. Jorge Ribeiro, que chegou ao Brasil com 2 anos
Um dos motivos do crescimento foi a políti- e tinha alma e têmpera de empreendedor.
ca de substituição das importações, que come- Ribeiro começou numa oficina de 35 metros
çou a ser praticada no país já antes da Primeira quadrados: um torno era emprestado, uma
Guerra Mundial. A medida fora adotada pela furadeira comprada à prestação e uma serra
indústria para atravessar o duro período de de fita improvisada numa armação com dor-
guerra, uma vez que o Brasil dependia da com- mentes de uma velha estrada de ferro. No iní-
pra de equipamentos importados para o desen- cio, vinte operários trabalhavam produzindo
volvimento do setor. teares para as indústrias têxteis. Um começo
O processo de substituição de importações modesto e heróico, mas o setor ganhava forma
deu origem, por exemplo, à primeira indústria no Brasil.

v
Com uma fábrica têxtil, a Companhia Nacio- des européias do início do século xx. Além das
vila
nal de Juta, e uma idéia na cabeça, o industrial casas, o empreendimento contava com uma
maria zélia Jorge Street entrou para a história da indústria infra-estrutura de fazer inveja: tinha escolas
brasileira como o primeiro empresário a cons- e proporcionava lazer aos moradores. Street
truir uma vila para abrigar os funcionários da era um visionário...Com a crise de 1929, no
empresa. O empreendimento, chamado de Vila entanto, o empresário quebrou, e a fábrica foi
Maria Zélia, tomou forma em 1916, abrigando desativada. A Vila Maria Zélia, no entanto,
cerca de 2.100 operários, que trabalhavam na continuou de pé, conservando valor histórico
companhia, e alterou todo o entorno. inestimável para o país. Street cravou o nome
Companhia Nacional de Juta, A vila foi projetada pelo arquiteto francês na selva de pedra.
do visionário Jorge Street Pedaurrieux e tinha como referência as cida-
o br asil e as máquinas, Do império à er a vargas 2 63
64 a história das máquinas

O setor de construção Em 1932, Simonsen se


Companhia
civil também fervilha- destacou participando
construtora va no país no início da ativamente do Movi-
de santos década de 1900. Gran- mento Constitucionalis-
des obras, inclusive no ta de São Paulo, contra
setor de planejamen- o governo federal. Ele
to urbano, eram fei- era o responsável pela
tas nas cidades mais adequação do parque
importantes do Brasil, industrial paulista à si-
como São Paulo, San- tuação de guerra. Com
tos e Rio de Janeiro. a derrota, foi exilado
Um nome surge com em Buenos Aires, na
força nesse segmento, Argentina, durante um
o do empresário Ro- mês. Retornou ao Brasil
berto Simonsen. Dono e logo começou a movi-
da Companhia Cons- mentar-se novamente.
trutora de Santos, ele Em 1937, assumiu a pre-
ergueu muitas obras pelo país. No entanto, sidência da Federação das Indústrias do Estado
sua maior contribuição para a industrialização de São Paulo (Fiesp). Força e determinação não
foi representar os industriais em questões de faltavam a Simonsen. Cinco anos mais tarde,
interesse nacional e internacional. Suas idéias lá estava ele no governo federal: fora nomeado
e propostas sobre os rumos das indústrias e para o Conselho da Coordenação de Mobili-
da economia brasileira ganharam prestígio e, zação Econômica, departamento que tinha a
muitas delas, foram implementadas. função de conduzir a economia do país durante
a Segunda Guerra Mundial.
o br asil e as máquinas, Do império à er a vargas 2 65

Outro segmento que dava os primeiros pas- primeiro “recall” feito no Brasil. Deu-se que Ford, GM, Romi
sos e ganhava representatividade no país, ainda os inspetores da empresa identificaram um
na década de 1900, era o automobilístico. Em problema na coroa e no pinhão do motor dos
e Romi-Isetta
1919, a Ford se instala no Brasil, precisamente caminhões fabricados. Que fizeram? Iam até
na Rua Florêncio de Abreu, bem no centro da as revendas, pediam as peças suspeitas, amon-
capital paulista. O primeiro veículo montado toavam no pátio e acabavam com elas a poder
foi o Modelo T, que teve boa aceitação no mer- de marreta, com a promessa, claro de que logos
cado. Os carros chegavam encaixotados, com outras, corretas, seriam enviadas. Só que aí es-
algumas peças soltas. Três anos mais tarde toura a guerra, e as novas peças não chegam.
era construída a primeira verdadeira linha de Os caminhões começam a quebrar, e que fa-
montagem no Brasil, nos moldes das fábricas zem os revendedores? Improvisam. Começam
de Detroit, mas trabalhando sempre com pe- a soldar as peças do recall frustrado. Tem início
ças importadas. No final de 1927 era lançado no aí, no jeitinho, nossa hoje vigorosa indústria de
país o Modelo A, apelidado simplesmente de autopeças?
Ford, ao mesmo tempo que nos EUA. Em 1932 Voltamos aos anos 1930. O Brasil estava en-
chegava o Ford V8. trando na Era Vargas, e é quando surge, em
Os veículos da Ford eram montados no Brasil 1930, outra indústria importante para o setor de
em CKD, ou seja, vinham prontos, e alguns máquinas e equipamentos: a Romi, montada
componentes como bateria, pneus e outras par- em São Paulo pelo imigrante Américo Emílio
tes eram montados aqui, prática que durou até Romi. Inspirada e apoiada por imigrantes ame-
os anos 1950.
Em 1925, seis anos depois da Ford, a GM
Brasileira S.A. se instalava no Brasil, em gal-
pões alugados no bairro do Ipiranga, São Pau-
lo, onde, no início, apenas montava automóveis
e caminhões importados dos Estados Unidos. O empresário Roberto Simonsen e
a Companhia Construtora
Em 1930, a GM inaugurava oficialmente a
fábrica número um, em São Caetano do Sul,
onde começou a produzir também carrocerias
para ônibus. Em 1940, a GM protagoniza o Garage Santa Bárbara, da Romi, 1931
66 a história das máquinas

ricanos de Americana, no interior de São Pau- tamente, para estimular os compradores, a série
lo, a Máquinas Agrícolas Romi Ltda. começa a começava no número 101... Em 1944, a Romi já
fabricar arados e implementos agrícolas, carro- exportava equipamentos para a Argentina.
ções e equipamentos bastante avançados para a Aceleremos um pouco a história das ousadias
época, mais modernos dos que existiam aqui. da Romi. Em 1956, Emílio lança o primeiro ve-
Detalhe curioso: ainda na década de 1930, a ículo nacional, a Romi-Isetta. Com a anuência
Romi apóia uma pesquisa sobre um combus- de um fabricante de Milão, a novidade passa a
tível à base de álcool e gasolina, batizado de ser produzida pela Romi, e 70% das peças eram
“autolina”. Com o advento da Segunda Guerra nacionais. O carrinho, mesmo minúsculo e cha-
Mundial e com a escassez geral de combustí- mado de “lambreta grávida”, faz sucesso. Apa-
vel, a experiência não vai adiante. rece num programa de TV, Alô Doçura, com
Em meio às turbulência da guerra, em 1941 a os apresentadores Eva Wilma e John Herbert, e
família Romi começa a fabricar tornos. Emí- num filme de Anselmo Duarte. Em 1959, pára
lio e os filhos desmontam um dos tornos, ob- de ser fabricado. Os benefícios concedidos pelo
servam a estrutura, desenvolvem melhorias e governo ao setor automobilístico só se aplicam a
criam o primeiro produto da nova indústria, carros maiores. No Romi-Isetta cabiam apenas
batizado de Imor – Romi ao contrário. Esper- três pessoas. Apertadas.

Torno modelo TP da Romi, 1941

Trator Toro, no pátio da Romi Matriz


o br asil e as máquinas, Do império à er a vargas 2 67

Romi-Isetta, primeiro veículo nacional, em


cena do filme Absolutamente Certo, de 1956
(acima, à esq.); na linha de montagem (aci-
ma, direita); e no programa de TV Alô Doçura
(à esq.), com Eva Wilma e John Herbert.
68 a história das máquinas

Semeraro, No final dos anos 1930, outro grupo impor- cidade de São Paulo, com as fábricas ocupan-
tante no setor de máquinas foi o dos irmãos do uma área imensa, entre o Viaduto Antártica
Villares e Semeraro, pioneiros na fabricação de máquinas e Pompéia, no bairro da Água Branca. Ali se
Matarazzo para plásticos. Numa simples garagem da Zona produzia de tudo, de açúcar a velas e sabão.
Leste de São Paulo, Francisco Augusto e José As Indústrias Matarazzo concentram, na
Sylvio montaram a empresa que, em poucos história, a própria gênese da indústria e do ca-
anos, se tornaria uma das principais fabricantes pitalismo no Brasil. Fruto do trabalho pessoal e
de injetoras termoplásticas, termofixos, borra- isolado do imigrante italiano Francesco Mata-
cha e metais não ferrosos de toda a América razzo, elas se tornaram, já das décadas de 1940
Latina. Alguns anos depois, em 1946, os ir- e 1950, a maior potência industrial da história
mãos Semeraro brilharam outra vez na história do Brasil e da América Latina. A Metalúrgi-
Francisco Matarazzo da industrialização do país: com a chegada das ca Matarazzo fabricava latas para conservas,
primeiras resinas plásticas ao Brasil, eles deci- como azeite. Contava com tecnologia própria,
diram construir, com pleno êxito, a primeira prensas, dobradeiras, cortadeiras e máquinas
máquina injetora da América Latina. gráficas que imprimiam no metal. Um desafio
Outras indústrias começam a fazer história todo especial de geometria e arte era fazer e
na industrialização no país. A rápida expansão imprimir o nome e o desenho na lata do queijo
de uma companhia chamada Lowsby e Pirie, Palmira, que era redonda – uma bola! Com a
fundada em 1920 para fazer manutenção de guerra, esse tipo de máquina parou de ser im-
elevadores em São Paulo, chama a atenção do portada, e as indústrias Matarazzo criaram
empreendedor Carlos Dumont Villares, que um departamento para projetar tudo no Brasil.
propõe sociedade aos donos da empresa, que Nascia a fábrica de máquinas dos Matarazzo,
passa a chamar-se Pirie,Villares e Cia. que passou a atender a todo o mercado interno.
Vinte e quatro anos mais tarde, em 1944, nas- A empresa durou até 1951.
ceu a Aço Villares S.A., em São Caetano do Sul. Na década de 1980, os Matarazzo faliram.
A empresa era dedicada à exploração da indús- Do antigo complexo, somente o prédio da Casa
tria e do comércio do aço e produtos correlatos. das Caldeiras sobreviveu. Em 1986, foi tomba-
Outro gigante das décadas de 1910 e 1920 são do pelo Conselho de Defesa do Patrimônio
as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico
que formaram o primeiro parque industrial da (Condephaat).

v
o br asil e as máquinas, Do império à er a vargas 2 69

Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo


70 a história das máquinas
o br asil e as máquinas, Do império à er a vargas 2 71

A IBM chegou ao Brasil em 1917. As máqui- eletrônicas, que provocaram marcantes trans- Duas
nas, na época, eram perfuradoras mecânicas, formações nos métodos de ensino e de produ-
separadoras verticais e tabuladoras. Em 1924, a ção. Em 1959, a IBM novamente revolucionava
americanas
empresa se estabeleceu para valer no país, ado- os sistemas administrativos das empresas no de respeito
tou o nome de IBM Brasil e logo começou a Brasil: lança o Ramac 305, o primeiro compu-
prestar serviços e oferecer produtos e soluções tador eletrônico IBM.
às indústrias e ao comércio. Na década de 1930, outra empresa norte-
Um ano depois, a empresa fazia, em terras americana, a Anderson Clayton, tornou-se a
tropicais, as primeiras instalações de relógios primeira a fazer extração de óleo de algodão
auto-regulados. O ano de 1928 foi de grandes em escala industrial, na região de Paraguaçu
mudanças para a IBM, quando se deu a intro- Paulista. Em 1959, a Anderson Clayton adqui-
dução no país do cartão de oitenta colunas (um ria o primeiro computador fabricado no Brasil,
cartão perfurado com duas vezes mais espaço o Ramac 305 da IBM.
para armazenar dados do que o criado inicial- Com 2 metros de largura, 1,80 metro de altu-
mente por Herman Hollerith, para o recense- ra e 1.000 válvulas em cada porta de entrada e
amento da população dos EUA, na década de saída da informação, a imponente máquina ocu-
1880) e dos primeiros cursos técnicos. pava um andar inteiro da empresa. Só a unidade
Em 1939, a IBM inaugurou a primeira fábrica de disco tinha 2 metros de altura e era exibida
na América do Sul. As instalações ficavam no numa redoma de vidro. Levava cinco minutos
bairro do Benfica, no Rio de Janeiro. De 1950 para procurar uma informação. A impressora
a 1954, entre os novos equipamentos introdu- operava à espantosa velocidade de 12,5 caracteres
zidos pela empresa, estavam as calculadoras por segundo. Velhos tempos, velhos tempos.

Calculadora da IBM, de 1954. A introdução


das máquinas causou grandes transformações
no método de ensino e produção
72 a história das máquinas

Enquanto isso, Na década de 1940, ainda merecem destaque de máquinas e equipamentos agrícolas. Corria o
duas empresas de implementos agrícolas, a Ju- ano de 1946, quando dois irmãos, de ascendência
no campo mil e a Jacto. A Jumil, por exemplo, foi a pri- italiana, na pequena cidade de Matão, interior de
meira e desenvolver, em 1942, uma plantadora São Paulo, abriram um pequeno negócio, a Ofi-
e adubadora que não precisava da força animal cina Brasil. A experiência acumulada no campo
para locomover-se. Funcionava com um “siste- deu suporte ao crescimento da companhia. E
ma pneumático de distribuição de sementes”, os meninos, que começaram ferrando cavalos,
oferecendo plantio de precisão e colocando os cresceram e deram forma ao negócio: surgiu a
produtores nos padrões mais avançados. Irmãos Marchesan, que fabricava implementos
A Jacto, por seu lado, teve o mérito de desen- agrícolas de tração mecânica. Algum tempo de-
volver e patentear a primeira polvilhadeira de- pois, com mais experiência, nascia a Marchesan
senvolvida no Brasil. No primeiro ano já eram Implementos e Máquinas Agrícolas Tatu S.A.
construídas trinta polvilhadeiras por mês, em a empresa passou a fabricar discos para grades,
Pompéia, no interior de São Paulo. arados, implementos e máquinas agrícolas de
A história da Marchesan é outro exemplo da ponta, para ser tracionados mecanicamente. A
força de vontade dos empreendedores do setor história de sucesso estava escrita.

Primeira polvilhadeira nacional,


desenvolvida e patenteada pela Jacto
o br asil e as máquinas, Do império à er a vargas 2 73

No período imediatamente posterior à Primei- Nacional (CSN). Criada em 1941, em Volta Re- Volta Redonda,
ra Guerra Mundial, a indústria brasileira viveu, donda, Estado do Rio de Janeiro, a CSN nasceu
pode-se dizer, uma época áurea, mas efêmera: de um acordo entre Vargas e o governo dos Es-
aço para o Brasil
de 1924 a 1930 o setor começou a patinar. Um dos tados Unidos. A indústria seria construída para
principais motivos foi a adoção de uma política fornecer aço para os aliados durante a Segunda
cambial que favorecia as importações e a entrada Guerra, dedicando-se depois ao desenvolvimen-
de capitais estrangeiros, sem proteção para a in- to do Brasil. E foi o que aconteceu.
dústria nacional, que ainda engatinhava. Como Outra grande indústria desse período é
conseqüência, várias empresas fecharam, e ou- a Companhia Vale do Rio Doce, criada em
tras sobreviveram, mas com dificuldades. 1942, em Itabira, Minas Gerais. O objetivo
A retomada veio com Getúlio Vargas e o era desenvolver o potencial dos recursos mi-
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)
Estado Novo. Vargas comprou a idéia da força nerais do Quadrilátero Ferrífero. O governo nasceu de um acordo entre Getúlio Vargas e
do trabalho industrial e tomou medidas para de Getúlio Vargas também organizou, nesse o governo dos Estados Unidos para fornecer
proteger e incentivar a indústria. Na véspera do período, uma empresa de economia mista para aço para os aliados durante a Segunda
Guerra Mundial e, em seguida, atender à alta
Natal de 1937, decretou o monopólio do câmbio desenvolver a indústria de álcalis e eliminar demanda de aço de qualidade no Brasil
e impôs moratória externa, abrindo caminho os gastos em importação de barrilha, matéria-
para as primeiras decisões estratégicas de uma prima essencial à produção do vidro. Em 1943,
política industrial no país. E os passos iniciais foi criada a Companhia Nacional de Álcalis,
se revelaram promissores. no município de Arraial do Cabo, Rio de Ja-
As Forças Armadas clamavam por combus- neiro. Hoje a empresa é a única produtora de
tível? Vargas instalou o Conselho Nacional do barrilha da América do Sul. Sua produção é
Petróleo (CNP). O país demandava aço de qua- vendida principalmente para as indústrias de
lidade? O governo impulsionou outro ambicioso, vidro, detergentes e sabões, além de diversas
projeto: a construção da Companhia Siderúrgica indústrias químicas.
Altos-fornos da CSN
76 a história das máquinas

Uma política Nos anos 1930, também foram criadas leis e O esforço conjunto de empreendedores e go-
órgãos essenciais para regulamentar a nascente verno resultou em anos seguidos de crescimen-
industrializante industrialização no país. Em 1934, por exem- to na casa de 8%, e empregos de qualidade não
plo, o Conselho Federal de Comércio Exterior paravam de surgir. Criados que foram em 1930,
viria a definir as ações de órgãos públicos para o Ministério do Trabalho, Indústria e Comér-
instalação de indústrias de insumos básicos. cio e a cartilha da Consolidação das Leis Tra-
Em 1937, a Carteira de Crédito Agrícola e In- balhistas (CLT) datam também da chamada
dustrial do Banco do Brasil surgia para finan- Era Vargas.
ciar máquinas e equipamentos, reforçando a Com tais iniciativas, Vargas operava uma há-
implantação de indústrias de insumos. bil e decisiva mudança no âmbito da política
Por meio do Banco do Brasil, Vargas também interna. Neutralizou o poder das oligarquias
decretou o primeiro pacote de fundos públicos tradicionais, que representavam os interesses
para dar suporte direto à criação de fábricas agrário-comerciais, e adotou uma política in-
em setores estratégicos. O valor, 150 milhões dustrializante, regulamentando o mercado de
de dólares, representava dez vezes a conta de trabalho urbano e dirigindo investimentos es-
importação de ferro e aço. Da verba, surgiram tatais para a indústria de base.
mais iniciativas, como a empresa Klabin em Foram também criadas grandes restrições à
Monte Alegre, Paraná – nossa primeira fábrica entrada de imigrantes, estimulando e valorizan-
de papel para a imprensa –, as instalações para do a mão-de-obra nacional, bastante disponível,
reparos navais no Rio de Janeiro, investimentos aliás, em função dos movimentos migratórios
em minas de carvão mineral e fábricas destina- nordestinos e do êxodo rural para o eixo Rio–
das à fabricação de bens de consumo. São Paulo motivado pela decadência do café.

Getúlio Vargas teve papel importante na Klabin, maior produtora e exportadora


industrialização do País, tomando várias de papéis do Brasil e líder no mercado
medidas que procuravam proteger e incentivar de papel e cartão para embalagem,
a indústria e a mão-de-obra nacional embalagem de papelão ondulado e
sacos industriais, é também a maior
recicladora de papéis da América do Sul
o br asil e as máquinas, Do império à er a vargas 2 77
78
o br asil e as máquinas, Do império à er a vargas 2 79

No segundo governo (1951-1954), Vargas re- Ainda nos anos 1950, o desenvolvimento in- A febril década
tomou os investimentos na indústria de base e dustrial no Brasil ganhou mais órgãos de apoio,
infra-estrutura. Em outubro de 1953, nascia a como o Conselho Nacional do Desenvolvimen-
de 1950
Petrobras, e o mundo passou a olhar com res- to Científico e Tecnológico, criado em janeiro
peito ousadias brasileiras como a extração de de 1951, e, em 1952, o Banco Nacional de De-
petróleo em águas profundas. senvolvimento Econômico (BNDE).
A Petróleo Brasileiro S.A. iniciou as ativida- A criação dos órgãos e das estatais significou
des com o acervo recebido do antigo Conselho o começo da presença do governo atuando di-
Nacional do Petróleo (CNP), que manteve a retamente no setor produtivo. Ainda em 1952,
função fiscalizadora. Ao longo de quatro dé- uma medida da Superintendência de Moeda
cadas, a companhia tornou-se líder em dis- e Crédito estabelecia leilões de câmbio, com
tribuição de derivados no país. Com todos os critérios que favoreciam a importação de má-
segmentos do setor abertos à competição, a em- quinas e equipamentos industriais. O governo
presa deixou de ser a única executora do mono- também permitiu a importação de máquinas e
pólio do petróleo da União. equipamentos sem cobertura cambial por em-
presas estrangeiras instaladas no país.

Petróleo extraído pela Petrobrás


em Candeias, Bahia

Cavalo de pau no campo da


Petrobrás em Carmópolis, Sergipe.
80 a história das máquinas

Importados Nesse contexto, na Era Vargas o país enca- A idéia de atrair investidores estrangeiros para
ra também o desafio da produção nacional de a abertura de fábricas no Brasil foi um sucesso.
versus nacionais máquinas e motores. Um ambicioso primeiro Em 1951, começam os estudos para a instalação
passo foi a fundação da Fábrica Nacional de da Mercedes-Benz. Em 1952, são fundadas a
Motores, em 1942, em Xerém, Rio de Janeiro, Willys e a Vemag. Em 1953, é a vez da Volks.
concebida para produzir motores de aviação. Ford e GM também iniciam a construção de
Com o fim da guerra, a necessidade diminuiu, plantas.
e a planta passou a produzir caminhões. A O maior estímulo para a indústria nacional
indústria buscou licença com a italiana Isotta vem nesse ano, quando Vargas proíbe a impor-
Fraschini e começou a fabricar, entre 1949 e tação de veículos montados e exige nacionali-
1950, os caminhões FNM 9.500 – com 30% de zação cada vez maior de peças.
componentes nacionais. Em 1955, a Mercedes instala em São Bernar-
No pós-guerra, uma farra de importações do do Campo a primeira fábrica de caminhões
rapidamente esgotou as grandes reservas cam- com motor nacional. Na inauguração, o pre-
biais acumuladas durante o conflito. O país sidente Juscelino Kubitschek dirigiu o L-312,
passou a trazer carros, freneticamente e de to- o Torpedo, primeiro caminhão fabricado aqui
das as marcas. Foi aí que Vargas mais uma vez pela empresa. A partir de 1958, a produção da
tenta mudar o rumo das coisas. Com o objeti- Mercedes se intensifica para atender à crescen-
vo de estancar o sangramento de divisas, cria a te demanda, a tecnologia avança, os processos
Subcomissão de Tratores, Caminhões e Auto- construtivos se modernizam. A linha de mon-
móveis. tagem fabrica o O-321 H, que trouxe para o

Mercedes-Benz, primeira fábrica de caminhões


com motor nacional, até hoje um dos líderes
em veículos de grande porte. À direita, chassi
do modelo 500 M Buggy. Na página seguin-
te, linha de produção do modelo Accelo
o br asil e as máquinas, Do império à er a vargas 2 81
82

Em 1953, a Volkswagen inicia as atividades


no Brasil em um armazém alugado no
bairro do Ipiranga, em São Paulo

Linha de montagem do Fusca, 1968

Brasil um conceito renovador em transporte nha. Entre 1953 e 1957, a empresa montou quase
coletivo – os ônibus de fabricação integral, co- 3.000 veículos, entre Fusca e Kombi.
nhecidos como monoblocos. Os planos da Volks ganharam novo impulso
A Volks também começou modesta, em um em 1956, quando o governo brasileiro passou a
pequeno armazém alugado no bairro do Ipi- incentivar a indústria automobilista no país. A
ranga, região central de São Paulo. Foi dessa empresa logo iniciou a construção da fábrica
fábrica, com apenas doze empregados, que sa- em São Bernardo do Campo. Mas a essa altura
íram os primeiros Fusca montados no Brasil. já estamos em plena era JK, e a industrialização
As peças eram todas importadas da Alema- brasileira vai viver um novo ciclo.

v
83

Fusca Pé de Boi, janeiro de 1959


Do otimismo dos anos JK aos PNDs dos governos militares, do “milagre econômico”
dos anos 1970 à globalização meio forçada dos 1990, o país chega a certa estabilidade
econômica e incorpora respeitáveis avanços tecnológicos

Do Plano de Metas, ao Plano Real


Meio século em Para entender melhor o processo de indus- ção governamental no aparelho industrial. A
trialização no Brasil e mesmo a explosão da era partir de 1956, a indústria em geral e a mecâni-
cinco anos? Juscelino Kubitschek, é bom lembrar que até a ca em particular entraram na segunda fase de
década de 1950 prevaleciam, entre nós, as ativida- desenvolvimento, dinamizada pela implemen-
des industriais mais tradicionais. Predominavam tação do Plano de Metas, a primeira experiên-
o setor têxtil e de alimentos e a agroindústria. cia brasileira de programação das ações de um
As indústrias eram tecnologicamente limitadas. governo central.
O país não ia muito além de uma transformação O programa previa ambiciosos investimentos
de produtos extrativos ou primários. em energia, transporte, siderurgia e refino de
Foi então que, nos anos 1950, já implantada a petróleo, contemplando, notadamente, o setor
usina siderúrgica de Volta Redonda, teve início de bens de capital e a indústria automobilística.
a segunda fase da industrialização no Brasil. São os cinqüenta anos em cinco, o grande
Com o aço, veio a indústria pesada: mecânica, sonho de Juscelino. Jamais se vira no Brasil ta-
elétrica e de construção naval. manho dinamismo. Carros, estradas asfaltadas,
É quando surge o Plano de Metas de Jusceli- aviões, navios, Brasília. Os eixos do projeto po-
no, o grande momento da política de interven- deriam ser divididos em dois blocos: fábricas
do plano de metas , ao plano real 3 85

de maior complexidade, geralmente controla- marcar visitas a obras e datas para as cerimô-
das por capitais estrangeiros, e a montagem de nias de inauguração.
uma base de serviços públicos. Esse foi o efeito JK na nossa indústria. Po-
O Plano de Metas representa o triunfo da líticas setoriais foram implementadas para o
política de intervenção governamental na desenvolvimento da indústria automobilísti-
indústria. Até então – excluindo o pontapé ca, têxtil, naval, aeronáutica e de produção de
inicial desfechado às vésperas da Segunda máquinas. Era o nascimento de uma política
Guerra Mundial –, os sucessivos governantes industrial. Os Grupos Executivos decidiam
brasileiros não tinham planejado cuidadosa- sobre os incentivos financeiros e fiscais. Equi-
mente o setor. Juscelino fez isso. Ele mandou pamentos para produzir carros, por exemplo,
selecionar os segmentos com maior potencial vinham sem nenhum imposto, desde que não
de crescimento, apontou quais empreendedo- houvesse similar nacional.
res deveriam receber suporte e subsídios do JK abre as fronteiras para os investimentos es-
governo, definiu ações com chamados Grupos trangeiros. Uma empresa brasileira ou se asso-
Juscelino Kubitscheck com
Executivos – base para as atuais Câmaras Se- ciava a uma indústria estrangeira detentora de o então Presidente Dwight
toriais – nas reuniões do BNDE e começou a tecnologia ou comprava tecnologia por meio de Eisenhower dos Estados Unidos
86 a história das máquinas

um contrato. Uma grande preocupação do go- governo um projeto de substituição de equipa-


verno era trazer para o país empresas detentoras mentos da fábrica por um produto importado,
de tecnologia para fabricar os produtos aqui. com isenção de impostos. Se o projeto fosse
Nessas condições, a indústria automobilísti- aprovado, o empresário ia até a Abimaq e pedia
ca causa uma revolução em um atestado de que a máquina a ser importa-
cadeia. Passa a movimentar, da não tinha similar nacional, era a Análise de
com enorme intensidade, Similaridade Nacional. A Abimaq então con-
certos setores, principal- sultava os associados, o cadastro de fabricantes
mente de máquinas-ferra- e liberava, ou não, a proposta.
menta, plásticos, couro e Foi assim que ganhou corpo no Brasil a fa-
material elétrico, além de bricação de produtos como automóveis, trato-
outros que demandassem res, navios, máquinas de alta potência, bens de
equipamentos de fundição, capital mecânicos e elétricos em geral, todos,
tratamento térmico, pintura claro, acompanhados de avanços na elaboração
e movimentação de mate- de bens de consumo.
riais, como o setor de auto- O crescimento regional também é contem-
peças. plado no período. No final dos anos 1950, uma
Nos anos 1960, o Brasil iniciativa importante para a indústria brasileira
continua apontando os ru- foi a criação da Superintendência de Desenvol-
mos para a indústria. É nes- vimento do Nordeste (Sudene). A estratégia
se período que o Ministério também fazia parte da política desenvolvimen-
da Indústria e Comércio tista do presidente Juscelino Kubitschek e do
inicia os planos gradativos de industrialização Plano de Metas.
de máquinas e equipamentos, que estabeleciam Numa região marcada pela exclusão social,
regras para aprovação de projetos individuais a função da Sudene era gerar desenvolvimen-
das empresas. O objetivo era incentivar a fa- to e criar empregos principalmente por meio
bricação de novos tipos de máquinas e, dessa de indústrias. Incentivadas pela Sudene, duas
forma, substituir as importadas. Tudo era pro- empresas do setor de máquinas e equipamentos
Kubitscheck desfila em Romi-Iset-
ta na chegada da Caravana de gramado e devidamente acompanhado pelo construíram plantas na região: a Romi e a Má-
Integração Nacional a Brasília setor interessado. A empresa apresentava ao quinas Piratininga.
do plano de metas , ao plano real 3 87

A Romi iniciou as atividades em outubro de


1965, no Recife, Pernambuco, e ficou por lá até
1983. No ano do encerramento da operação, a
empresa tinha 204 funcionários.
No mesmo ano em que foi criada em São
Paulo, 1964, a Máquinas Piratininga abriu uma
unidade também no Recife. A empresa fabri-
cava máquinas para esmagar sementes na pro-
dução de óleo.
Na mesma linha de incentivos regionais,
em 1966 surgiu a Superintendência do Desen-
volvimento da Amazônia (Sudam). O órgão
substituiu a Superintendência do Plano de Va-
lorização Econômica da Amazônia (SPVEA).
A Sudam fazia parte de um plano estratégico
traçado pelos militares para promover o desen-
volvimento e a ocupação da Amazônia, dimi-
nuindo as desigualdades sociais e regionais e
integrando a região ao restante do país. “In-
tegrar para não entregar”, bradava um slogan
corrente da época.
Por muitas razões, a Abimaq foi contra o in-
centivo à indústria de máquinas no Norte do
país. Pois a verdade é que na Amazônia não
havia fundição nem havia infra-estrutura, e os
fornecedores de peças e componentes se encon-
travam, e ainda se encontram, maciçamente no
Sul, junto dos clientes.

Linha de montagem do Fusca em


São Bernardo do Campo, 1959
88 a história das máquinas

Furnas Com o boom da industrialização, o país este- 1963 – tempo recorde para uma hidrelétrica.
ve à beira de um colapso enérgico no final dos Com potência de 1.216 megawatts, Furnas abas-
contra o apagão anos 1950. Sorte que Furnas estava ali, quase tece São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
pronta para entrar em operação. A usina co- O reservatório da usina é um dos maiores do
meçou a ser construída em 1958, e a primeira Brasil, são 1.440 quilômetros quadrados.
unidade geradora de energia foi inaugurada em
São Paulo em meados do século
XX. O boom da industrialização leva
o país à beira de um apagão
v
do plano de metas , ao plano real 3 89

A euforia dos anos de JK deu lugar, nos anos O controle inflacionário era visto como pre- Trepidante
década de 1960
1960, a um quadro mais agitado e incerto no condição para a retomada do desenvolvimento,
Brasil. O analfabetismo crônico, o serviço públi- e o combate à inflação só poderia ser feito aco-
co atrasado e burocrático, o despreparo técnico e plado às reformas institucionais. O PAEG re-
científico e alguns resquícios escravocratas con- formou o sistema financeiro, estancou a emissão
denavam o país a viver em duas velocidades di- de moedas, garantiu a poupança com a correção
ferentes: o desenvolvimento e o atraso. Coube ao monetária. Foi criado um Banco Central, para
diplomata e economista Roberto Campos tentar regulamentar e conduzir a estabilidade, abriu-
orquestrar a modernização produtiva do país. se caminho para os trabalhadores ingressassem
Seu Plano de Ação Econômica do Governo no mercado de capitais por meio do Fundo de
(PAEG) visava acelerar o ritmo de desenvol- Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
vimento econômico, conter o processo infla- No entanto, se por um lado a inflação estava
cionário, atenuar os desequilíbrios setoriais e administrada, por outro o Paeg não contri-
regionais, aumentar o investimento e o empre- buía para o crescimento do país. Sob o argu-
go e corrigir a tendência ao desequilíbrio nas mento de promover o saneamento básico, o
contas externas. plano utilizou medidas restritivas. Resultado: a

O diplomata e economista Roberto


Campos criou o Plano de Ação Econômica
do Governo (PAEG), buscando coordenar
a modernização produtiva do país
90 a história das máquinas

taxa de crescimento da economia e do setor in- necessidade de importação e pouca receita de


dustrial começou a se reduzir substancialmente exportação.
em comparação ao período anterior. A política restritiva terminara se revelando
Nos anos 1960, para poder importar máqui- importante, de certa forma, para a maturidade
nas ou até matéria-prima, o empresário tinha do setor de bens de capital. O final da década
de participar de um leilão de divisas. Era difí- de 1960 deixava claro os sinais do “milagre eco-
cil contar com moeda estrangeira e, para im- nômico”, com taxas elevadas de crescimento e
portar, era preciso entrar no leilão, pagando redução da inflação. O país passou a necessitar
aquilo que o devedor de divisa quisesse. Era de menos divisas cambiais: a indústria começou
uma dura disputa entre oferta e procura. Mais a fabricar bens no país, reduzindo as exporta-
oferta, o câmbio caía. Maior procura, o câm- ções e deixando de consumir divisas.
bio subia. Outro fenômeno positivo do período: o Bra-
Para importar, o empresário brasileiro tinha sil exportava produtos de maior valor agre-
de ser, além de empreendedor, malabarista. gado. De minério de ferro, passou a exportar
Tinha de ir ao Banco do Brasil e entrar com aço; de algodão, tecido; e assim por diante. O
um pedido de, digamos, 500.000 dólares de resultado foi maior equilíbrio na balança, ge-
divisas para poder importar, de acordo com rando maior entrada de dólares e tendo menos
a cotação do dia. Na época, o Brasil expor- necessidade de obter dólares para importar. Si-
tava café, que estava com o preço deprimido. tuação que durou até o início da primeira crise
Esse era o quadro: câmbio complicado, muita do petróleo, em 1974.

v
do plano de metas , ao plano real 3 91

A década de 1960 deve ser lembrada também O Brasil chega, pois, ao final da década de CACEX, CONCEX,
pelas várias medidas governamentais em bene- 1960 com imenso potencial de crescimento e
fício da industrialização, como o Conselho de ainda algumas questões estruturais a ser re-
PND
Desenvolvimento Industrial (CDI), que veio solvidas. Nesse contexto, cresce a influência
incorporar as funções dos antigos grupos exe- do economista João Paulo dos Reis Velloso,
cutivos setoriais de desenvolvimento, voltados chamado pelo presidente Emílio Médici para
Minério de ferro da
à administração de incentivos fiscais. Também desenvolver as bases do I Plano Nacional de Companhia Vale do Rio Doce
foram criados, em 1966, o Conselho Nacional Desenvolvimento (PND). O novo programa
de Comércio Exterior (Concex) e o Fundo de se concentra intensamente na urgência de pro-
Financiamento à Exportação (Finex – atual piciar eletricidade e outros insumos a grandes
Proex). No ano seguinte, o Banco do Brasil companhias sedentas de condições para expan- Mina de Carajás, no Pará, de onde a Companhia
Vale do Rio Doce extrai minério de ferro
criava a Carteira de Comércio Exterior (Cacex). dir a produção.
Também nesse ano se instalou a Superinten- O velho Plano de Metas foi reformulado, e
dência da Zona Franca de Manaus (Suframa), antigos sonhos como a Mega-Hidrelétrica de
com a missão de ajudar o desenvolvimento da Itaipu, usinas nucleares, a Rodovia Transama- Descida de rotor para montagem da
Região Norte, trazendo indústrias para o pólo zônica e outros projetos grandiosos são retoma- unidade 18A da Hidrelétrica de Itaipu — o
equipamento pesa 295 toneladas
industrial amazônico. Foi criada uma área de dos. O PND vigorou até 1975.
livre comércio de importação, exportação e de A usina de Itaipu foi um dos projetos que
incentivos fiscais especiais. mais teve sucesso. As negociações para a cons-
Outro passo importante é a criação do Ins- trução da hidrelétrica, iniciadas nos anos 1960,
tituto Nacional de Propriedade Industrial ganharam força nos anos 1970. Em 1973, o Bra-
(INPI), que substituia o antigo Departamento sil e o Paraguai assinaram o Tratado de Itaipu
Nacional de Propriedade Industrial (DNPI). – que sinalizava para o aproveitamento hidre-
92 a história das máquinas

létrico do Rio Paraná pelos dois países. No ano primeira unidade geradora de energia de Itaipu
seguinte, foi criada uma empresa binacional começou a operar em 1984. As dezoito unidades
para administrar a construção da usina. seguintes foram instaladas ao ritmo de duas ou
Em 1982, foram concluídas as obras da barra- três por ano. Em 1991, a última unidade entrou
Vista de uma das três calhas do gem, as comportas foram fechadas e começou em operação. A hidrelétrica é, atualmente, a
vertedouro da Usina Hidrelétrica de a ser formado o Lago de Itaipu, com área de maior do mundo, com potência de 12.600 me-
Itaipu. A capacidade de vazão é de
62.200 metros cúbicos por segundo 1.350 quilômetros quadrados. O reservatório gawatts. Em 2000, a produção bateu recorde,
levou apenas catorze dias para ser formado. A sendo gerados 93,4 bilhões de quilowatts-hora.

v
do plano de metas , ao plano real 3 93

A entrada da energia nuclear no Brasil tam- Governo Federal decidiu retomar a construção Um projeto,
bém data dos anos 70. A oportunidade existia. de Angra 2. Quatro anos mais tarde foi feita
Na época, o governo brasileiro estudava mé- uma nova concorrência, dessa vez para monta-
três usinas
todos para aumentar a produção de energia do gem eletromecânica de Angra 2. O consórcio
país. Depois de algumas discussões, chegou-se vencedor – Unamon - reiniciou as atividades
a um acordo: seria construída a primeira usina em 1996. A primeira reação foi em 2000. A po-
nuclear no Brasil. Eletrobrás e Furnas foram as tência da Usina é 1.350MW.
responsáveis pelo processo de contratação da A construção da Usina Angra 3 ainda não
empresa para a construção da obra. Foi feita uma foi iniciada. O projeto é idêntico ao da Usina
licitação e a empresa norte-americana Westin- Angra 2. Desde a época da compra de Angra 2
ghouse saiu vencedora. Em 1972, tiveram início (1976) estão estocados na Central Nuclear Al-
as obras de Angra 1. Dez anos depois, em 1982, mte Alvaro Alberto, em Angra dos Reis (RJ), e
aconteceu a primeira reação em cadeia da usina. na Nuclebras Equipamentos Pesados – Nuclep,
Em 1985, ela entrou em operação comercial. em Itaguaí (RJ), componentes de grande porte
Angra 1 abriu espaço para o projeto de mais já adqüiridios como vaso de reator, geradores
duas usinas – Angra 2 e Angra 3. As obras da de vapor, pressurizadores, etc... A partir do
Angra 2 começaram em 1976, coube à cons- momento em que o Governo Federal tome a
trutora Norberto Odebrechet a execução do decisão de construir Angra 3 serão necessários
projeto. Em meados da década de 80, o em- 66 meses para a sua implantação. O Plano De-
preendimento andou a passos lentos. Protesto cenal de Expansão de Energia do Ministério
A usina nuclear Angra 1 entrou
de ambientalistas e redução de recursos finan- de Minas e Energia planeja a entrada em ope- em operação comercial em 1985,
ceiros foram os motivos do retardo. Em 1991, o ração de Angra 3 em 2013. após treze anos de obras
Angra 2, cujas obras foram interrompidas
devido a protestos de ambientalistas
e redução de recursos financeiros, foi
inaugurada somente em 2000
Angra 1 e Angra 2
96 a história das máquinas

E as máquinas Em meio às turbulências políticas, novas em- Em 1969, é fundada a Empresa Brasileira
presas despontam ou intensificam projetos. Em Aeronáutica S.A, Embraer, decidida a produ-
não param 1962, surgia a Ergomat, fabricante de tornos. zir aviões na terra de Alberto Santos Dumont.
A Jaraguá, uma empresa de equipamentos de A Embraer era a concretização de um antigo
informática, atua com sucesso em ramos como projeto de militares que sonhavam em cons-
siderurgia, óleo e gás, mineração, ferrovias e tituir uma indústria aeronáutica no país. O
indústria alimentícia. Bandeirantes foi o primeiro avião fabricado e
Outra grande empresa que surge no período comercializado em larga escala no Brasil.
é a Caterpillar, que chega ao Brasil em 1954 e Na área automobilística, em 1964, foi criado
começa a produzir em 1960, com sede no bairro um programa de financiamento de carros po-
da Lapa, em São Paulo. O investimento da Ca- pulares pela Caixa Econômica. Nasciam
terpillar no país foi o segundo da empresa fora aí versões de automóveis mais simples,
O Bandeirantes, da Embraer, foi o
primeiro avião fabricado e comercializado de território americano. Uma aposta do grupo como o Teimoso, uma derivação do
em larga escala no Brasil no país do futuro. já franciscano Gordini, o Pracinha,
da Vemaguet, o Fusca Pé-de-boi
do plano de metas , ao plano real 3 97

e o Profissional, da Simca. Os compradores seqüentemente, a falta de dinheiro para investir Greve dos metalúrgicos em 1979 e 1980
mais exigentes saíam das concessionárias dire- anunciam a morte prematura do Gurgel. Em com Luiz Inácio Lula da Silva: desponta a
classe operária na política brasileira
tamente às lojas de acessórios para transformar 1994, foi decretada a falência da empresa, após
os carrinhos em carrões. uma produção de cerca de 40.000 carros.
Em 1969, o empresário João Augusto do Não custa lembrar: foi no coração da indús-
Amaral Gurgel ousa uma empresa com o pró- tria automobilística, o ABC Paulista – formado
prio nome. Traz na bagagem a experiência de pelas cidades de Santo André, São Bernardo do
estagiário da GM americana e o sonho de ter Campo, São Caetano do Sul e Diadema –, que
uma marca 100% nacional. Começa produzin- surgiu um novo personagem da política brasi-
do jipes e utilitários em Rio Claro, no interior leira: a classe operária. Com as históricas greves
de São Paulo. Surge o Xavante, com mecânica de 1979 e 1980, os metalúrgicos afrontaram a
básica da Volks. Gurgel também criou o Itaipu, ditadura e lutaram por condições melhores. Foi
um carro elétrico. Em 1988, nasce o BR-800. A nesse ambiente que cresceu a liderança de Luiz
concorrência com modelos estrangeiros e, con- Inácio Lula da Silva, atual presidente do país.

v
Bandeirantes, da Embraer
100 a história das máquinas

Weg, de Jaraguá Mas a história da Weg, em Jaraguá do Sul, porte para segmentos como mineração, petro-
Santa Catarina, talvez seja o melhor exemplo química, usinas, papel e celulose.
para o mundo do quanto o talento e a coragem de empreen- A empresa compra também uma fábrica de
der podem sobrepor-se às turbulências de uma tintas e investe em reflorestamento para uso
época. No começo da década de 1960, o funcio- próprio – já que a madeira é muito utilizada
nário de uma empresa de escapamentos da re- na produção de motores. Uma estratégia feliz:
gião de Jaraguá do Sul, Santa Catarina, Eggon os anos 1990 ficaram marcados pela instalação
João da Silva, soube que um amigo estava ten- de filiais em outros países; e a década de 2000
do dificuldades com os motores que trazia de pela instalação das fábricas nos principais blo-
São Paulo para o frigorífico. cos comerciais.
Eggon, outro mecânico, Geraldo Wernin- Hoje são 15.000 funcionários, 11.000 só na
ghaus, e um eletricista, Werner Ricardo Voigt, unidade principal de Jaraguá do Sul, e 2.000
montaram uma fábrica de motores, Weg, que fora do país. São 9 milhões de motores por ano,
em alemão quer dizer caminho. De um mo- de 30.000 tipos diferentes.
torzinho para refrigerador e capital de 11.000 O sucesso da Weg é resultado de investimen-
dólares nascia uma empresa que, nos primeiros to em pessoas e tecnologia e de uma bem de-
três meses, fabricava 146 motores e viu que ti- finida estratégia de longo prazo. Isso em todos
nha um grande caminho pela frente. os momentos da história. Um exemplo claro:
De 1961 até 1970, o número de funcionários já em 1968, a empresa investia num Centro de
da Weg salta de nove para 409; e a produção Treinamento, apostava na mão-de-obra local.
pula de 146 para 45.560 motores. Na década de A Weg também tem programa de participa-
1970, a empresa começa a exportar. E não pára ção nos lucro para os funcionários. Chegou nos
de crescer: em 1972, montam uma fundição e, anos 1990 com distribuição de 12,5% do lucro
em 1973, ampliam ainda mais o parque fabril. para todos os funcionários, em cotas propor-
Em 1980, já são 3.542 funcionários e 971.000 as cionais ao salário de cada um.
máquinas produzidas. A companhia também aposta nas expor-
No começo da década de 1980, a Weg enfren- tações, que trouxeram, além de dólares, uma
ta turbulências, as vendas despencam e surge a experiência muito enriquecedora: clientes mais
idéia de diversificar. Nasce a Weg Máquinas, exigentes, mercados mais sofisticados e concor-
para produzir máquinas elétricas de grande rentes de peso. O processo começou em 1970, e,
do plano de metas , ao plano real 3 101

nos primeiros anos de vendas externas, a Weg


já chegava a cinqüenta países.
Para cuidar da parte comercial, na década de
1990 foram implantadas as filiais industriais,
que hoje são dezenove. Uma terceira fase co-
meça em 2000, com a instalação de fábricas
fora do país: na Argentina, México, Portugal
e, agora, China. Dentre os 2.000 funcionários
no exterior, estão setenta brasileiros.
O próximo passo da Weg é entrar firme na
área de soluções para automação da indústria
e na área de energia, além de manter presença
mais ativa no mercado de ações.

A WEG, que no início em 1961


fabricava 146 motores, atingiu a marca
de 100 milhões de motores em 2006

Ferramentaria da WEG, onde são


construídas ferramentas utilizadas
na fabricação de seus produtos
102 a história das máquinas

Anos 1970, Apesar da crise mundial do petróleo, o chama- O período foi, realmente, de passos decisivos
do “milagre brasileiro” dos anos 1970 foi marcado para o futuro do país. Entidades representativas
o II PND pela continuidade da substituição das importa- da indústria tomaram a frente nas negociações
ções de bens de capital e insumos básicos – por entre parceiros locais, fornecedores multina-
meio do II Plano Nacional de Desenvolvimento cionais de tecnologia e órgãos governamentais.
(II PND) – e por grandes obras de empreiteiras. Uma lei do governo dava o tom da conversa: es-
A execução do II PND implicou elevados inves- tabelecia que, para ser financiado pelo BNDES,
timentos, que permitiram a manutenção do cres- o equipamento deveria apresentar pelo menos
cimento do PIB e da produção industrial, ainda 70% de conteúdo nacional.
que em taxas inferiores ao período 1968-1974. O O plano previa, ainda, uma divisão regio-
governo defendia a vanguarda tecnológica. Com- nal da planta industrial do país. Parte era fiel
putadores, enriquecimento de urânio, combustí- à vocação clássica do país, e outra, de olho nas
vel sólido para foguetes espaciais, química fina, vantagens geopolíticas de cada região, visava
tudo aquilo que os empreendedores brasileiros alocar os recursos de forma inteligente.
vislumbravam como sonho inatingível se tornara
assunto para discussão com o governo.

Angra 2 durante processo de


reabastecimento de urânio,
processo que ocorre uma vez por
ano, durante dois meses
do plano de metas , ao plano real 3 103

Especialmente a informática começa a ga- que acabavam de montar. Seis meses depois, Scopus e
nhar força. Surge a estatal Computadores Bra- lançavam o produto no mercado nacional. Pas-
sileiros, a Cobra, nossa primeira fabricante de saram de distribuidores a produtores de equi-
Prológica,
computadores, e, a seguir, a Scopus. pamentos eletrônicos. a nossa
Fundada em 1975 por Josef Manasterski, Cé- A partir de 1980, a Prológica ocuparia destaca- informática
lio Yoshiyuki e Edson Fregni, a Scopus começa da posição entre as produtoras nacionais da área
as atividades como prestadora de serviços, tan- de informática. Em 1985, já ocupava o terceiro lu-
to na manutenção de computadores como na gar na classificação das companhias nacionais do
pesquisa e em projetos de informática. Deman- setor, empregando mais de 1.500 funcionários.
da em alta, logo a empresa passou a produzir, Uma das razões do sucesso da Prológica foi a
em pequena escala, equipamentos digitais. diversificação. Sua linha de micros incluía des-
Experiência não faltava aos três professores: de modelos mais simples até equipamentos mé- TVA 80 da Scopus, primeiro terminal de vídeo
além de participar de projetos desenvolvidos em dios. Em 1985, seguindo tendência do mercado fabricado no Brasil. Era um modelo simples,
sem capacidade de processamento
1971-1972 na Universidade de São Paulo (USP) internacional, lançou o SP 16, um micro modu-
para nacionalizar a tecnologia dos computado- lar compatível com o PC da IBM. Impressoras
res, um deles, Manasterski, foi, no período de matriciais, unidades de disco rígido e de disco
1973-1975, o coordenador da equipe que criou o flexível completavam a linha da Prológica.
primeiro computador de médio porte da Escola
Politécnica da USP, o G-10.
Os fundadores da Scopus também haviam
participado, em 1972, da montagem do primei-
v
ro computador projetado no Brasil, apelidado
de Pato Feio, integrando a equipe do Labora-
tório de Sistemas Digitais da USP.
Em 1976, nasce a Prológica, outra empresa do
setor de informática. Os fundadores, Leonar-
do Bellonzi e Joseph Blumenfeld, resolveram
comercializar o protótipo da máquina contábil
104 a história das máquinas

Petroquímicas, A década de 1970 foi marcada também pela com o advento do Pró-alcool, que a empresa
inauguração de pólos petroquímicos. Entre dá o grande salto tecnológico e passa a liderar
Dedini, Fiat 1972 e 1973, começava a operar no país a Cen- o mercado nacional de fabricantes de fábricas.
tral de Matérias Primas do Pólo Petroquímico Constrói maquinário e equipamentos usados
de São Paulo (I Pólo Petroquímico Brasileiro). em usinas de açúcar e álcool, siderúrgicas ou
Em 1978, iniciam-se as Operações da Central cervejarias. A tecnologia, desenvolvida aqui, é
Petroquímica do Pólo de Camaçari, o II Pólo exportada para vários países.
Petroquímico Brasileiro. Em 1982, é a vez do Em 1976, outra montadora aporta no Brasil.
terceiro pólo petroquímico, a Central Petro- A Fiat Automóveis, que monta fábrica em Be-
química de Triunfo, no Rio Grande do Sul. tim, Minas Gerais. É o marco da descentrali-
No setor de máquinas, vale lembrar a forte zação do setor automotivo.
presença da Dedini. Criada em 1920, é em 1975,

I Pólo Petroquímico brasileiro em


São Paulo, com destaque para a
Refinaria de Capuava da Petrobras

Funilaria da Fiat, em
Betim, Minas Gerais
Produção do primeiro
protótipo da FIAT, 1975
108 a história das máquinas

As novas Os anos 1980 foram marcados por progresso caracterizada pelo domínio de novas tecnolo-
no campo político e desempenho bastante ra- gias: computadores, automação industrial no
tecnologias zoável nos indicadores sociais. A construção do Brasil, microcomputadores e softwares. Mas
dos anos 1980 Estado de Direito, o aperfeiçoamento constan- nem mesmo isso conseguiu levantar o setor in-
te do sistema eleitoral, a alternância no poder, dustrial, que passava por um período de grandes
a obediência a decisões da Justiça, o reconheci- dificuldades. A expansão da capacidade insta-
mento da cidadania vinham impor nova agen- lada ocorreu, principalmente, em conseqüência
da social aos governantes, com melhoria nos dos projetos remanescentes do II PND, mas li-
indicadores da educação, dos serviços urbanos mitada a setores como siderurgia e celulose.
e até na saúde pública. Na área econômica, po- Sob o peso da dívida externa e do elevado
rém, a indústria e a sociedade brasileira tinham preço do petróleo, os países em desenvolvimen-
de lidar com velhos fantasmas e problemas, to enfrentaram graves crises econômicas na dé-
O movimento “diretas já” buscava a como o crescimento tímido e as trepidações do cada de 1980. Os governos militares chegavam
instituição do Estado de Direito processo de abertura. ao fim, mas o Brasil continuava vivendo uma
Na década de 1980, também acontece a chama-
da terceira fase do processo de industrialização,
do plano de metas , ao plano real 3 109

séria turbulência econômica, que veio culminar segmento responsável e capaz de gerar os in-
no Plano Cruzado, hiperinflação e moratória. vestimentos necessários aos novos desafios do
A sociedade brasileira sofre com o aumento desenvolvimento.
dos preços e os sucessivos planos econômicos. Nas indústrias, o choque de competitividade
Depois de quase quinze anos de preços razo- começou de dentro para fora. As empresas ti-
avelmente estáveis e sem o incômodo de cri- veram de investir em certificação de qualidade,
ses cambiais, o país viu esse quadro mudar na operadores de logística integrada, prestadores
década de 1980. A inflação alta apontava para externos de serviços de informática, cursos
tempos turbulentos, e os sindicatos, agora li- profissionais, todas as inovações da gestão con-
vres, clamavam por reajustes salariais trimes- temporânea. Claro que, com isso, aumentaram
trais. As contas externas escaparam tanto do os problemas das indústrias menos preparadas
controle que, às vésperas do Natal de 1982, o para enfrentar tal situação.
país decretou moratória. Durante o governo de José Sarney, a indús-
Do início dos anos 1970 até o final dos 1980, o tria ganhou reforço com as chamadas Câmaras
Brasil vinha realizando grandes investimentos Setoriais e os Programas Setoriais Interligados,
na área de infra-estrutra e energia, especial- com enfoque nas cadeias produtivas.
mente por meio das estatais. Daí para a frente, Entre as várias iniciativas testadas no proces-
sem recursos e com o custo do capital tornan- so de redemocratização do país, o Plano Cru-
do-se proibitivo, o governo parou de investir. zado revelou-se o mais ousado e impactante
Logo viriam as privatizações. projeto concebido para acabar com a inflação e
A intensa mobilização popular que sustentou relançar o crescimento no país. Ele retirou três
o congelamento de preços, em vigor a partir zeros da moeda e mudou-lhe o nome: passou
de março de 1986, e a conseqüente disposição de cruzeiro para cruzado. Outro ponto impor-
de buscar um modelo estável de preços deram tante: em 1984, por meio da Política Nacional
ao setor industrial oportunidade para provar de Informática, o governo criou a reserva de
que meio século de incentivos oficiais havia mercado para microcomputadores.
amadurecido a indústria nacional, tornado o
110 a história das máquinas

O choque da A era de Fernando Collor foi marcada pela pesado, ditando nova estratégia: o mercado
abertura econômica e por uma amarga con- global. A ordem era concentrar a produção
globalização tinuação da década perdida. Foi um período para ganhar em escala.
decepcionante para o setor industrial, pois o Nesse quadro, ao longo da década de 1990
processo de abertura pressupunha também, do ocorreu aumento da participação estrangeira
lado do governo, uma série de modernizações: no setor de máquinas e equipamentos brasilei-
redução de impostos, melhoria nos portos, na ro. Em 1997, ela correspondia a 42% da receita
legislação trabalhista, na modernização do Es- operacional líquida do setor. Em quase todos
tado – e nada isso aconteceu. os ramos da indústria de bens de capital ins-
Até então muitas empresas vinham atuando talada no país, exceto máquinas-ferramenta, a
num mercado protegido, sem se preocupar com liderança nos anos 1990 cabia a empresas mul-
a competitividade tanto em termos tecnológi- tinacionais. Elas predominavam no segmen-
cos como em termos econômicos. Não foi fácil, to de bens de capital feitos sob encomenda.
para elas, enfrentarem os desafios diretos da As estrangeiras se aproveitavam de vantagens
concorrência externa. O choque foi menor para como disponibilidade de matéria-prima e mão-
aquelas empresas que já vinham exportando e, de-obra barata para produzir aqui. Em geral,
conseqüentemente, enfrentando a competição as companhias escolhiam o Brasil como base
dos países mais desenvolvidos. produtiva para atender também ao mercado
Com o governo de Fernando Collor, pode-se sul-americano.
dizer que a filosofia do setor industrial mudou. Assim, parte da cadeia produtiva brasileira
Antes, a meta era fazer com que um produto de bens de capital foi internacionalizada na dé-
fosse mais nacional possível, e não importava o cada de 1990. Entre as principais razões está a
preço final. Com a abertura, a regra agora era ausência, no país, de escala de produção para
produzir o que tem escala e é economicamen- alguns componentes, principalmente aqueles
te viável da forma mais competitiva possível. tecnologicamente sofisticados. Com elos no
Desse conjunto de critérios vai depender o con- exterior, o setor viu os custos nesse período
A abertura da economia que marcou teúdo de nacionalização da produção. Resulta- passarem a depender, cada vez mais, do com-
a era Collor trouxe novos desafios do: passou-se a importar mais componentes e a portamento da taxa de câmbio – algumas em-
ao setor industrial. Fernando
Collor e George Bush discutem a fabricação de alguns produtos foi abandonada presas aqui instaladas importavam entre 30% e
abertura da economia brasielira definitivamente. As multinacionais entraram 40% de insumos.
do plano de metas , ao plano real 3 111

Sem se dispor a enfrentar um problema cru- Industrial (PCI) e o Programa de Apoio à Ca- Mas no início dos anos 90 ficava claro que a
cial, a própria reforma, o governo criou, diga- pacitação Tecnológica (Pacti). capacidade de financiamento do governo central
se, mais medidas para incentivar o crescimento Nessa mesma linha foi criado, em 1991, o se esgotara. Crescia a convicção de que chegara o
e a modernização. Já em 1990, lançava uma Programa de Financiamento às Exportações momento de privatizar o aparato construído sob o
Política Industrial e de Comércio Exterior. (Proex). Em 1993, foram lançados incentivos comando do Estado. Os leilões de ativos, esporádi-
Vieram também políticas de competição com fiscais para a capacitação tecnológica da indús- cos até 1993, tornaram-se cada vez mais freqüentes.
cronograma de redução das tarifas de importa- tria e da agropecuária, Programas de Desen- Na base industrial, capitais locais se aglutinaram
ção e defesa da concorrência. É dessa época o volvimento Tecnológico Industrial (PDTI) e e puderam sustentar o controle de setores chaves,
Programa Brasileiro de Qualidade e Produtivi- Agropecuário (PDTA). Em 1995, surgia a Câ- como a siderurgia, a petroquímica e a grande mi-
dade (PBQP), o Programa de Competitividade mara de Comércio Exterior (Camex). neradora Companhia Vale do Rio Doce.
112 a história das máquinas

Nova euforia, Em 1994, um pacote de medidas do governo O ano 2000 foi de instalação dos chamados
trouxe nova perspectiva à economia brasileira. Fóruns de Competitividade, do Ministério do
o Plano Real Era o Plano Real, e o sucesso não se fez esperar. Desenvolvimento, Indústria e Comércio Ex-
No mesmo ano, o Produto Interno Bruto (PIB) terior. O projeto foi criado com o objetivo de
cresceu 5,67% e o setor industrial apresentou aumentar a produtividade e a competitividade
evolução de 7%. A agropecuária também se ex- internacional de alguns setores da economia.
pandiu – 7,6% – e colheu uma safra que há muito Entre outros, foram instalados fóruns da cadeia
não se via no país: cerca de 80 milhões de tone- do algodão e têxteis, madeira e móveis, couro
ladas de grãos. Tempo de justificada euforia. e calçados.
No ano seguinte, 1995, o faturamento do se- Em 2003, foi criada e aprovada uma nova
tor de máquinas e equipamentos contabiliza- Política Industrial, Tecnológica e de Comércio
va faturamento de 26 bilhões de dólares, mas Exterior (Pitce). Em 2004, a Agência Brasi-
algumas pendências ainda impediam novos leira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e
investimentos. A indústria inteira clamava por o Conselho Nacional de Desenvolvimento In-
reformas, como a tributária, que até hoje não dustrial (CNDI). São os tempos do governo do
foi completada. Em 1996 é promulgada a Lei ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva.
de Propriedade Industrial. O país continua
sentindo os efeitos positivos do Plano Real.

v
do plano de metas , ao plano real 3 113

A tecnologia de ponta acompanha o Brasil A companhia também se destaca na América Os recordes


no século xxi, a indústria do país é referência Latina. É a maior empresa privada da região. E
em diversos setores, como agronegócio, aero- não pára de crescer. Está investindo na produ-
do século XXI
náutica e biotecnologia. Um dos motivos é que ção de cobre e na implantação de novas siderúr-
as companhias, que sobreviveram aos vários gicas no Brasil. A estratégia é ter participação
planos econômicos, aos intensos períodos de minoritária nessas empresas e também inves-
crise e à abertura da economia saíram fortale- tir no melhoramento da estrutura logística do
cidas dos períodos turbulentos. Investiram em país. A Vale do Rio Doce já controla ferrovias
equipamentos dos mais modernos e passaram a importantes do país. Tudo isso com a ajuda de Plataforma P-50 da Petrobras
fabricar produtos e serviços muito competitivos máquinas modernas, com tecnologia ponta.
no novo século. Outra companhia que representa a tecnologia
Os números das grandes indústrias do Brasil brasileira no exterior é a Petrobras. As boas no-
impressionam os estrangeiros. A Companhia vas começaram em 1997, quando, por meio da
Siderúrgica Nacional (CSN), por exemplo, fe- estatal do petróleo, o Brasil ingressou no seleto
chou o ano de 2005 batendo recordes. A principal grupo de dezesseis países que produzem mais
usina produziu cerca de 6 milhões de toneladas de 1 milhão de barris de óleo por dia.
de aço bruto e mais de 5 milhões de toneladas Em 2003, ano do aniversário de cinqüenta
de laminados, sendo considerada, atualmente, anos da empresa, a Petrobras dobrou a produ-
uma das mais produtivas do planeta. ção diária de óleo e gás natural, ultrapassando
A Companhia Vale do Rio Doce também se a marca de 2 milhões de barris, no Brasil e no
sagrou no mercado mundial. É a maior produ- exterior. Investindo em pesquisa e tecnologia, a
tora e exportadora de minério de ferro do mun- companhia identificou novas províncias petro-
do e uma das maiores produtoras integradas de líferas de óleo leve no Estado do Espírito Santo
alumínio. Calcula-se que suas reservas de ferro e em Sergipe.
– isso sem contar os outros minérios – possam O ano de 2005 também foi cenário de diver-
durar 400 anos. A empresa também expan- sas conquistas da Petrobras. Foi produzida uma
diu seus negócios em pontos estratégicos, está média diária de óleo e gás de 2,217 milhões de
presente em países dos cinco continentes e tem barris por dia. E a companhia ultrapassou, pela
escritórios em Nova Iorque, Bruxelas, Johanes- primeira vez, a marca nacional de 1,8 milhão
burgo, Tóquio e Xangai. de barris de petróleo por dia, fazendo o país
114 a história das máquinas

Plataforma P-50 da Petrobras chegar perto da auto-suficiência. Com equipa- perfuração com um poço inclinado que chegou
mentos de ponta, em 2005, a empresa também a 6.915 metros além do solo do fundo do mar,
bateu o recorde brasileiro de profundidade de na Bacia de Santos.
do plano de metas , ao plano real 3 115

No agronegócio, as exportações brasileiras de de Vagões e a Cobrasma – que atualmente per- E na agricultura


carne, soja e suco de laranja, por exemplo, são tence a uma joint-venture entre a norte-ame-
fruto de investimentos pesados, principalmen- ricana Amsted Industries e a brasileira Iochpe
te em tecnologia, com maquinário moderno, Maxion. Novas companhias também entraram
tecnologia de ponta nas plantas fabris e gestão no ramo, como a Randon. Com isso, o setor se
eficiente do negócio. consolidou no Brasil, inclusive, como platafor-
As exportações de carne de frango dos últi- ma de exportação para multinacionais. Ponto,
mos anos podem ilustrar bem tal cenário. Em novamente, para nossa indústria.
2004, o Brasil conquistou, pela primeira vez, a As máquinas agrícolas igualmente são um
posição de maior exportador do mundo. Isso exemplo do Brasil moderno. O país é, hoje,
tanto em volume quanto em receita. O ano se- referência em agricultura tropical e isso graças
Locomotiva da concessionária MRS
guinte, 2005, também foi de recordes históricos aos investimentos em tecnologia. Máquinas,
para o setor, e o Brasil se consolidou como o tratores, colheitadeiras impressionam pela
maior exportador mundial de carne de frango, destreza e particularidade. De Canoas, no
foram 2,8 milhões de toneladas – crescimento Rio Grande do Sul, por exemplo, saem tra-
de 15% em comparação a 2004. E as máquinas, tores e colheitadeiras adequadas à agricultura
principalmente a máquina-ferramenta, têm de precisão para todos os cantos do Brasil e
papel importante nesse desenvolvimento. São para vários outros países. As colheitadeiras
equipamentos construídos pela indústria de são preparadas pare receber receptor de GPS
máquinas que garantem agilidade e eficiência e monitor de rendimento.
às empresas exportadoras. Com os equipamentos adequados, as colhei-
A tecnologia industrial brasileira também tadeiras realizam mapas de produtividade, o
pode ser vista por meio da reativação das fer- que possibilita racionalização de custos e au-
rovias. Os investimentos feitos nos últimos dez mento da rentabilidade no campo. O painel que
anos modernizaram o parque industrial e, em acompanha as máquinas permite monitorar to-
2005, um número recorde de vagões foi pro- das as funções com um simples toque na tela,
duzido no país – 7.500. Isso aconteceu graças além de controlar funções automáticas como
a antigas empresas que receberam sangue – e altura de corte, da plataforma e velocidade sin-
investimento – novo, como a Fábrica Nacional cronizada do molinete. Tudo de primeira.

v
116 a história das máquinas

A vez dos E não foi só o campo que viu a chegada da tipos de combustível. E o usuário não precisa
tecnologia de ponta, as ruas também presencia- apertar nenhum botão nem acionar chave algu-
tetracombustíveis ram uma revolução. O Brasil é o país dos carros ma. É tudo automático.
com motores bicombustíveis e, agora, tetracom- E, por falar em combustível, o Brasil também
bustíveis. O motor bicombustível foi o primeiro avançou os estudos com biodiesel. Usinas para
a chegar ao mercado, há três anos, e permite o processar mamona, soja, etc. estão se espalhan-
abastecimento com álcool e gasolina. Já os mo- do pelo país. Estados como Piauí, Rio Grande
tores tetracombustíveis ficaram prontos há um do Norte, Pará, Minas Gerais e Mato Grosso,
ano e permitem que os carros rodem com álcool, entre outros, já abrigam várias usinas. A corrida
gasolina, GNV (gás natural) e nafta (gasolina é para atender à medida do governo que, a partir
Mamona, usada para produção de pura). de 2008, exige a mistura de 2% de biodiesel ao
biodiesel exigida pelo governo No sistema tetra, a troca de combustível acon- diesel normal. Mas, da necessidade, está nas-
tece sem o motorista perceber. Uma central ele- cendo uma tecnologia brasileira que pode ser, no
trônica comanda toda a distribuição dos quatro futuro próximo, exportada.
do plano de metas , ao plano real 3 117

O Brasil do século XXI também produz urâ- dulos, perfazendo um total de dez cascatas de O urânio
nio enriquecido. Em 2006, foi inaugurado o pri- ultracentrífugas nessa unidade industrial.
meiro módulo do conjunto de ultracentrífugas O urânio brasileiro é extraído das minas de
enriqueceu
(cascatas) da usina de enriquecimento isotópi- Caetité, na Bahia, e tem sido enriquecido na
co de urânio da Indústrias Nucleares do Brasil Europa. A previsão é que a primeira etapa do
(INB), em Resende, no Rio de Janeiro. Com o projeto, quando concluída, atenda a 60% das
início da produção nacional, o País passa a in- necessidades das usinas Angra 1 e Angra 2. É o
tegrar o seleto grupo de países que detêm essa Brasil dominando mais uma tecnologia impor-
tecnologia. Ao todo serão instalados quatro mó- tante para o autodesenvolvimento. Fábrica de combustível nuclear
da INB. Unidade de reconversão,
enriquecimento e produção de pastilhas

v
Medição computadorizada da placa do
bocal inferior do elemento combustível
118 a história das máquinas

E dá-lhe Outra indústria que desponta no Brasil do isso que outros segmentos como o têxtil, a in-
século xxi é a de software. O Brasil já ocupa dústria automobilística, de máquinas agrícolas
tecnologia a 12ª posição no ranking mundial de empresas despontam no exterior. Atualmente, o setor de
geradoras de software e serviços. O valor das máquinas e equipamentos é formado por cer-
vendas do segmento corresponde a 10% do PIB. ca de 4.000 empresas distribuídas em mais de
O maior mercado de software, claro, é o norte- trinta subsetores. De máquinas gráficas, máqui-
americano, seguido do Japão, mas os brasileiros nas-ferramenta, bombas e motobombas até má-
não estão fazendo feio lá fora, não. quinas agrícolas e equipamentos de ginástica. É
A tecnologia nacional também pode ser me- um universo muito grande.
dida pela Embraer, a empresa já produziu cerca E muitos desses segmentos são extremamente
Trator John Deere 6615
de 3.900 aviões. As aeronaves operam em cerca competitivos, como o de máquinas agrícolas e
de sessenta países. Entre os anos de 1999 e 2001, rodoviárias, bombas e motobombas e máqui-
a companhia foi a maior exportadora brasileira, nas-ferramenta. O Brasil exporta prensas para a
Linha de produção da Mercedes-Benz nos anos de 2002, 2003 e 2004, a empresa foi a indústria automobilística americana, francesa e
segunda no ranking. Em 2006, as entregas da alemã. Tudo feito no país, com qualidade, serie-
Embraer somaram 63 aeronaves. dade e tecnologia para estrangeiro ver.
No setor de máquinas não é diferente, a tec-
nologia é igualmente de ponta. E é também por

v
do plano de metas , ao plano real 3 119
linha do tempo
1854 O barão de Mauá constrói a instaladas em solo brasileiro – 60% 1916 Bardella instala a primeira
primeira ferrovia brasileira, a eram do setor têxtil. fundição.
Estrada de Ferro de Mauá.
1908 Nasce a Indústria Nardini. 1917 Chega ao Brasil a IBM.

1911 Delmiro Gouveia começa a 1919 A Ford se instala num galpão na


construção da primeira hidrelétrica Rua Florêncio de Abreu, centro de
da Região Nordeste, aproveitando São Paulo.
as águas do Rio São Francisco.
1920 Nasce a Indústria de Máquinas
1911 Surgem as Indústrias Reunidas Têxteis Ribeiro S.A.
Francisco Matarazzo.
1920 Surge a Dedini, fabricante de
1911 Nascem as Oficinas Bardella. fábricas inteiras.

1925 A General Motors se instala no


1860 Construída a primeira máquina Brasil, em galpões alugados no
no país, uma prensa para cunhar bairro do Ipiranga, São Paulo.
moedas, que foi instalada na Casa
da Moeda do Brasil. 1927 Lançado no Brasil o carro Modelo
A, da Ford, logo apelidado
1889 Registro do primeiro surto simplesmente de Ford.
industrial no país. O Brasil
contabilizava 600 empresas.

1889 Inaugurada a Usina de Marmelos 1914 Delmiro Gouveia inaugura a


Zero, em Minas Gerais. É a Companhia Agro Fabril Mercantil
primeira hidrelétrica para uso e começa a fabricar carretéis de
público da América do Sul. linha de algodão.

1899 Delmiro Gouveia constrói no 1916 O empresário Jorge Street, da


Recife o Mercado Derby, uma Companhia Nacional de Juta,
espécie de shopping center. constrói a Vila Maria Zélia, em
São Paulo. O empreendimento 1930 Nasce a Máquinas Agrícolas Romi
1907 Resultado do segundo censo abrigava os funcionários da Ltda.
industrial: 3.200 empresas estavam fábrica.
1930 Criado o Ministério do Trabalho, 1942 Fundada a Companhia Vale do 1955 A Mercedes Benz inaugura a
Indústria e Comércio e também Rio Doce (CVRD). primeira fábrica de caminhões com
a Consolidação das Leis motor nacional, em São Bernardo
Trabalhistas (CLT). 1942 Inaugurada a Fábrica Nacional de do Campo.
Motores (FNM), em Xerém, no
1937 Roberto Simonsen assume a Rio de Janeiro.
presidência da Fiesp.
1943 Nasce a Companhia Nacional de
1940 O primeiro “recall” de carros Álcalis.
de que se tem notícia no Brasil,
realizado pela GM. As peças 1944 Surge a Aço Villares S.A.
com defeito eram amontoadas e
destruídas a marretadas. 1948 Funda-se a Jacto, que desenvolve e
patenteia a primeira polvilhadeira
1941 As indústrias Romi começam a do Brasil.
fabricar tornos. 1956 A Romi lança o primeiro carro
1949 Começam a ser fabricados no país nacional, a Romi-Isetta.
os caminhões FNM 9.500.
1958 Começou a ser construída a Usina
1952 Fundadas a Willys e a Vemag. Hidrelétrica de Furnas.

1959 A IBM lança o primeiro


computador para o mercado
brasileiro, o Ramac 305.

1959 A Anderson Clayton é a primeira


companhia a utilizar o Ramac 305,
da IBM.
1941 Inaugurada a Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN). 1959 Criada a Superintendência de
1953 A Volkswagen inaugura a primeira Desenvolvimento do Nordeste
1942 A empresa Jumil desenvolve a fábrica. (Sudene), e duas empresas do setor
primeira plantadora e adubadora de máquinas se instalam na região:
do país que não precisava de força 1953 Criada a Petrobras. a Romi (1965) e a Máquinas
animal para se locomover. Piratininga (1964).
1954 A Caterpillar chega ao país
1972 Iniciadas as obras da usina de 1976 Funda-se a Prológica, outra
Angra 1. pioneira em informática no país.

1961 É fundada a Weg.


1972 e 1973 Começa a operar no país a Central
1962 Surge a Ergomat, fabricante de de Matérias-Primas do Pólo 1976 A Fiat Automóveis monta fábrica
tornos. Petroquímico de São Paulo (I Pólo em Betim, Minas Gerais.
Petroquímico Brasileiro).
1963 Inaugurada a primeira unidade 1976 Começa a ser construída a usina
geradora de energia de Furnas. 1973 Brasil e Paraguai assinam o de Angra 2.
Tratado de Itaipu – que buscava o
1966 Criada a Superintendência do aproveitamento hidrelétrico do Rio 1978 Iniciam-se as operações da
Desenvolvimento da Amazônia Paraná pelos dois países. Central Petroquímica do Pólo de
(Sudam). Camaçari, o II Pólo Petroquímico
1974 Surge a Computadores Brasileiros Brasileiro.
1966 Criados o Conselho Nacional (Cobra).
de Comércio Exterior (Concex) 1982 É a vez do Terceiro Pólo
e o Fundo de Financiamento à Petroquímico, a Central
Exportação (Finex atual Proex). Petroquímica de Triunfo, no Rio
Grande do Sul.
1967 O Banco do Brasil cria a Carteira
de Comércio Exterior (Cacex). 1982 Primeira reação em cadeia da usina
de Angra 1
1969 Fundada a Empresa Brasileira
Aeronáutica S.A. (Embraer). 1984 Entra em operação a primeira
1975 Nasce a Scopus, umas das unidade geradora de energia da
1969 Nasce a Gurgel, do empresário primeiras empresas brasileiras de Hidrelétrica de Itaipu.
João Augusto do Amaral Gurgel. informática.
1990 Fernando Collor de Mello assume 2000 Instalação dos Fóruns de 2006 Lançado no país o primeiro carro
a Presidência da República e dá Competitividade. tetracombustível – que circula com
início ao processo de abertura gasolina, álcool, GNV e nafta.
econômica.

2003 A Petrobras dobrou a produção


diária de óleo e gás natural 2006 Inauguração do primeiro módulo
1991 Entra em operação a última ultrapassando a marca de 2 da fábrica de enriquecimento de
unidade geradora de energia da milhões de barris, no Brasil e no urânio das Indústrias Nucleares do
Hidrelétrica de Itaipu. exterior. Brasil (INB), no Rio de Janeiro.

1994 Lançamento do Plano Real. 2004 O Brasil conquista, pela primeira


vez, a posição de maior exportador
1995 Surge a Câmara de Comércio de frango do mundo – em volume
Exterior (Camex). e receita.

1997 O Brasil entra no seleto grupo de


dezesseis países que produzem
mais de 1 milhão de barris de óleo
por dia.

2000 A Hidrelétrica de Itaipu bate


recorde de produção, foram
gerados 93,4 bilhões de quilowatts-
hora.

2000 Primeira reação em cadeia da usina


de Angra 2. 2005 Um número recorde de vagões
foi produzido no país – 7.500
unidades.
Desde a fundação, em 1937, até os dias de hoje, mudou o nome da entidade,
centuplicou-se o número de associados, ampliou-se o raio de ação, só uma coisa
manteve-se a mesma: a união em torno do sonho de um Brasil orgulhoso das
máquinas que produz e do seu desenvolvimento.

Do Syndicato à Abimaq, setenta anos de luta pelo Brasil


O Syndicato, Em janeiro de 1937, numa pequena sala Era a primeira página de uma longa histó-
da Rua Quintino Bocaiúva, nº 4, na região ria de negociações, definições de bandeiras e
primeiros passos central de São Paulo, nascia o Syndicato dos posturas, modernizações constantes e muitas
Constructores de Machinas e Acessórios mudanças na entidade. A primeira modifica-
Texteis de São Paulo. Nascia, assim com y, a ção significativa aconteceu em 1940, quando o
primeira entidade representativa do setor de Syndicato mudou de nome, passou a se chamar
máquinas e equipamentos do Brasil. Come- Sindicato da Indústria de Máquinas do Estado
çava ali uma bela e valorosa história de união, de São Paulo (Simesp). Motivo: a entidade co-
lutas e conquistas para o desenvolvimento do meçava a agregar fabricantes de outros setores.
Brasil. O Syndicato era resultado do empe- Nesse turbulento período de guerra na Europa
nho dos empresários do setor de máquinas e adequação da indústria à situação no Brasil,
têxteis, os primeiros a perceber a necessidade o Sindicato já contava com algumas dezenas de
de se associar. E o momento era oportuno: associados.
Getúlio Vargas acabara de criar uma lei que O ano seguinte, 1941, também foi importan-
incentivava a organização de entidades de te. Pela primeira vez, muda a presidência da
classe para defender interesses comuns. entidade. Sai Luiz Jorge Ribeiro, o primeiro
do plano de metas , ao plano real 3 125

presidente, e assume Jorge de Souza Resende. Em 1942, já com mais empresas associadas, o Luiz Jorge Ribeiro
A gestão de Ribeiro fora marcada pela organi- Sindicato muda pela primeira vez de endereço, (presidente, 1937-1941)
zação da entidade. Já a de Jorge de Sousa Re- passa a ocupar uma sala da Federação das In-
zende tem como mérito a filiação à Federação dústrias Paulistas, na Rua XV de Novembro,
das Indústrias Paulistas (Fiep) – atual Fede- 244, também na região central da cidade. Sousa Jorge de Souza Resende
ração das Indústrias do Estado de São Paulo Rezende fica no comando até 1952, quando João (presidente, 1941-1952)
(Fiesp). Cavallari Sobrinho assume a presidência.

João Cavallari Sobrinho


(presidente, 1952-1956)
126 a história das máquinas

Sindimaq, Em 1956, o presidente eleito é Milton Ayres Nos anos seguintes, a indústria automobi-
de Almeida Freitas. No ano seguinte, é contra- lística chega ao Brasil para ficar. Como vimos
primeiras tado o primeiro funcionário da entidade, Ni- no capítulo anterior, Ford, General Motors,
batalhas collino de Cillo Filho, estudante de engenharia Volkswagen e outras montadoras causam uma
de 23 anos. revolução no país. Com impressionante intensi-
A indústria brasileira de máquinas ainda en- dade, as fábricas passam a movimentar diversos
gatinhava e só vai tomar grande impulso com setores, principalmente, o de máquinas-ferra-
Torno automático monofuso de o advento da indústria automobilística, já bem menta, plásticos, couro e material elétrico, além
carros múltiplos Ergomat A 25 no final da década – o que também ampliará de outros que demandam equipamentos de fun-
consideravelmente o número de filiações. dição, tratamento térmico, pintura e movimen-
Sob coordenação da Fiesp, o Simesp passa a tação de materiais, como o setor de autopeças.
participar ativamente das negociações de acor- O governo de Juscelino Kubitschek permi-
Milton Ayres de Almeida Freitas
(presidente, 1956-1958) dos salariais com os sindicatos de metalúrgicos. tia a importação de equipamentos, inclusive
Ainda em 1957, o Simesp realiza importante usados. O Sindicato, então, reivindica partici-
trabalho em conjunto com a Carteira de Co- pação no processo de compra do exterior, pas-
mércio Exterior do Banco do Brasil (Cacex): sando a atuar ao lado da Comissão de Política
líderes do Sindicato sugerem ao Congresso a Aduaneira para que fosse feita seleção nas im-
elaboração de uma lei que modernize o trata- portações. É nesse momento que se introduz o
mento alfandegário do país. conceito de similar nacional. Cabia ao Simesp
Aprovada a partir da reivindicação do Si- determinar, mediante consulta aos associados,
mesp, a nova lei estipula que o imposto alfan- se uma peça a ser importada tinha ou não simi-
degário, por exemplo, passe a incidir sobre o lar nacional.
valor dos equipamentos e não mais sobre o peso
e os tipos de componente do produto.

v
do syndic ato à abimaq, setenta anos de luta pelo br asil 4 127

Fundição de ferro das


Indústrias Romi
128 a história das máquinas

Einar Kok, Em novembro de 1959, é realizada a primei- tria de máquinas corria o risco de se dividir em
ra Feira da Mecânica Nacional, no Parque do vários fragmentos, Kok chamou os empresários
as primeiras Ibirapuera. O evento serviu para conscientizar do setor para uma conversa e os convenceu a in-
Câmaras os empresários brasileiros de que a indústria tegrar o Simesp. Surgiram então as primeiras
nacional era forte, que podia e sabia fabricar Câmaras da Abimaf, respectivamente a de Má-
máquinas. Na feira só eram exibidos produtos quinas Têxteis, congregando os fundadores da
nacionais. Os empresários estrangeiros só po- casa e a de Máquinas-Ferramenta.
deriam expor protótipos de máquinas que, no Kok conseguiu mostrar que as reivindicações
futuro, pretendiam produzir no Brasil. Essa de um setor da indústria podiam estender-se
postura severa, depois amenizada, foi impor- aos outros, pois todos, no fundo, eram bens de
tante para estabelecer limites e valorizar a feira. capital. Dessa forma, eram poucos os pleitos
Desde as primeiras edições, a Feira Mecânica individualizados. Uma reivindicação que iria
se consolidou como o principal evento do setor atender aos interesses de um fabricante de má-
de bens de capital do país. quinas da indústria gráfica também terminaria
A Feira Mecânica foi um evento pioneiro, or- atendendo às necessidades do segmento de má-
ganizado pela Alcântara Machado, que convi- quinas têxteis ou do setor de plástico.
dou o Simesp para uma parceria na organização A palavra mais celebrada na entidade era
e patrocínio. Na época, a cultura das grandes uma só: união. Kok a usou também para conter
feiras ainda não estava disseminada no país. os conflitos internos do Sindicato, que eram, de
O presidente do Sindicato na época era Einar certa forma, curiosos. O pequeno empresário
Kok. Eleito em 1958 e reeleito até 1983, ele esteve ficava ressabiado com o grande, o que contava
à frente da entidade por 25 anos. Tinha como com a participação estrangeira olhava meio de
grande bandeira assegurar maior participação lado para o que era inteiramente nacional. O
da indústria nacional no mercado de máquinas. grande desafio da entidade foi harmonizar to-
Durante sua gestão, a entidade deu passos im- dos os grupos e interesses.
portantes. É mérito de Kok agregar ao Simesp As câmaras setoriais eram inicialmente cha-
vários outros setores da indústria de máquinas. mados de Departamentos Nacionais. Dentro
Um fato lembrado com orgulho: em 1958, quan- do propósito e arte de convencer os empresários
do foi criada a Associação Brasileira da Indústria de diferentes setores da indústria de máquinas
de Máquinas-Ferramenta (Abimaf) e a indús- a se associar, Kok propôs a criação de novos
do syndic ato à abimaq, setenta anos de luta pelo br asil 4 129

departamentos. O diferencial era que o pre- segundo, as discussões são restritas ao mercado, Einar Kok
sidente de câmara deveria ser escolhido pelos as estratégias são diferenciadas. Estudam-se, (presidente de 1958-1983)
empresários do setor. Era eleição mesmo, não por exemplo, as políticas do setor, a forma de
mera nomeação do presidente. Uma postura contratação das empresas, na maioria estatais,
que cativou os empreendedores. como no caso do saneamento básico.
Surgiram então as diversas câmaras, confor- Em 1963, foi editado o primeiro catálogo-
me pode ser visto na Linha do Tempo ao final geral das indústrias de máquinas do país. Ti-
do capítulo. nha o nome de Especificações do Comprador
As câmaras setoriais se dividem em dois gru- Industrial e não foi feito pela Abimaq, mas as
pos: o que segue a lógica do produto – máqui- empresas mencionadas eram associadas.
nas-ferramenta, bombas, válvulas, por exemplo Em 1964, o Sindicato assume a liderança no
–; e o que segue a lógica do mercado – sanea- incentivo à criação do Programa Especial de
mento básico. No primeiro, discutem-se ques- Financiamento (Finame), ativo até hoje e que
tões amplas, porém pontuais, como o destino financia novos equipamentos, de fabricação
do produto, preços, clientes, concorrência. No nacional, a taxas subsidiadas e prazos mais di-
130 a história das máquinas

latados para pagamento. Os recursos são cap- Sindicato não só promoveu reuniões para ven-
tados no Banco Nacional de Desenvolvimento der a idéia como contribuiu para a realização
Econômico e Social (BNDES) e no exterior. O dos primeiros contratos.

Einar Kok com o engenheiro Jarbas O.


Nascimento (à esq.) e o então diretor
administrativo do SFSA, Domingos
Somma (à dir.), em visita à usina
de São José dos Campos, 1976
131
132 a história das máquinas

Máquinas Durante os anos 1960, o Ministério da In- Americana de Livre Comércio, obtendo con-
dústria e Comércio dá início aos planos gra- cessões tarifárias para exportação de produtos
brasileiras: a dativos de industrialização de máquinas e aos países-membros.
luta continua equipamentos que terminaram estabelecendo Em 1969, surgiram os Acordos de Parti-
regras para a aprovação de projetos individuais cipação, que estabeleceram uma divisão de
das empresas. O objetivo era incentivar a fa- interesses entre o comprador e a indústria
bricação de novos tipos de máquina no Brasil de máquinas. O comprador poderia impor-
em substituição às importadas. O Sindicato tar determinados equipamentos com redução
marcou presença no Conselho de Desenvol- de tarifas alfandegárias, desde que adquiris-
vimento Industrial (CDI), chegando a apre- se outros produtos de fabricação nacional.
sentar cerca de quarenta planos de Quando havia divergência entre o governo e
nacionalização de fabricação de o importador, as consultas sobre a existência
máquinas-ferramenta, rodoviárias, de similares nacionais eram feitas por meio do
têxteis, agrícolas e automotrizes. Sindicato, que virou uma referência nesse tipo
O Sindicato também foi atuante de acordo. Era a chamada Análise de Simila-
nas reuniões da Associação Latino- ridade Nacional.

v
do syndic ato à abimaq, setenta anos de luta pelo br asil 4 133

Outros desafios esperavam a entidade num livre para se dedicar a questões mais amplas Novo nome,
país que buscava novos ares. Em 1975, para do setor.
complementar a atuação do Sindicato, foi fun- Em 1978, o Simesp participou do Grupo 14,
velhas batalhas
dada a Associação Brasileira da Indústria de da Fiesp, que foi o principal articulador de ne-
Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Quatro gociação na retomada do processo democrático,
anos depois, 1979, o Simesp, em fase de gran- depois de catorze anos num cenário em que os
de crescimento, muda de nome para atender salários eram ditados por normas governamen-
os fabricantes de máquinas de todo o país, tais. Pelo lado patronal, o Simesp se destacou
vira Sindicato Interestadual da Indústria de nas negociações com os Sindicatos dos Meta-
Máquinas (Sindimaq). E a entidade passa a lúrgicos, principalmente da região do ABC, li-
ter nome e sobrenome: Abimaq-Sindimaq. O derado, naquela época, por Luiz Inácio Lula da
motivo é claro. Um sindicato patronal (Sin- Silva. Ao lado do Simesp, estavam também o
dimaq) tem por finalidade negociar com os sindicato patronal da indústria automobilística
sindicatos dos empregados; e a Abimaq fica e outros setores da indústria.

v
134 a história das máquinas

Nova sede, o nó Em 1983, Walter dif iculdades para


Sacca é eleito presi- que nossa indústria
da informática dente, e em sua ges- acompanhasse os
tão a Abimaq ganha passos do planeta.
nova sede. O prédio Era vedado ao em-
próprio de sete an- presário importar um
dares, inaugurado produto eletrônico se
em 1984 na Avenida houvesse similar na-
Jabaquara, cuja cons- cional. Independen-
trução foi iniciada na temente da qualidade
gestão de Einar Kok, do produto ou da boa
foi mais um marco na história do setor de má- intenção da lei, o fato é que o preço daqui era de
quinas e equipamentos. Com espaçosas instala- três a cinco vezes maior que lá fora. A diferen-
ções, 7.500 metros quadrados, a entidade podia ça criava um sério problema de competitividade
ampliar e melhorar a assistência aos associados. para a indústria nacional e um risco de defasa-
Em boa hora, pois nesse período o número gem tecnológica. E quem está disposto a com-
de sócios começa a crescer. Com a abertura prar um equipamento independente de preço? E
democrática e a intensificação das negociações mais defasado em relação ao importado?
trabalhistas, a indústria de máquinas passou a A Abimaq entrou nessa queda de braço com
ter, todo ano, um dissídio coletivo, e esse fato o governo, mas o problema só acabou em 1990,
despertou o interesse de muitos empresários. quando Fernando Collor revogou a Lei de Re-
Os salários se tornam assunto importante, serva de Informática, numa decisão que criou
constantemente debatido pelos empresários de condições para modernizar e tornar competiti-
Durante o mandato de Walter Sacca
(presidente, 1983-1986), a Abimaq máquinas e equipamentos. va nossa tecnologia em todos os setores.
passou a administrar, organizar e No início da década de 1980, ainda vigorava Outra atividade importante na gestão 1983-
coordenar os Acordos de Participação
a Lei de Reserva de Informática, que regula- 1986 do Sindicato: a Abimaq passou a adminis-
mentava um tanto rigidamente a utilização da trar, organizar e coordenar, aliada ao governo, os
eletrônica nas máquinas e equipamentos fabri- já conhecidos Acordos de Participação. Em fun-
Fachada da Abimaq na cados no Brasil, enquanto no resto do mundo ção da legislação da época – que ia muito além da
Avenida Jabaquara, 2925 ela avançava em ritmo acelerado. A lei criava Lei de Reserva de Informática –, a importação
do syndic ato à abimaq, setenta anos de luta pelo br asil 4 135

de bens de capital era, como vimos, condicionada ticipação, com valor total negociado da ordem
aos acordos com a indústria nacional. de 41 bilhões de dólares. E em 1987, no período
Foi uma ação muito importante. De 1975 a de janeiro a abril, foram homologados dezeno-
1986, homologaram-se pela Cacex quase 2.000 ve novos acordos, movimentando mais de 100
casos de acordos e revisões de Acordos de Par- milhões de dólares.

v
136 a história das máquinas

Delben Leite e a Em 1986, com a democracia sacudindo o país, Outro ponto importante é que o país era
a Abimaq também respirou novos ares. Com o arrebatado pelos vários pacotes econômicos
descentralização fim do ciclo de governos militares, a entidade – Plano Cruzado, Verão, Collor I e Collor II
viveu, após 49 anos, a primeira disputa eleito- –, que exigiam grande movimentação do se-
ral. Com comparecimento de 96% dos associa- tor de máquinas e equipamentos e postura de
dos e após dois intensos turnos – no primeiro diálogo constante com empresários, governo e
deu empate –, a oposição venceu a situação; e trabalhadores.
Luiz Carlos Delben Leite foi eleito presidente. A gestão de Delben Leite foi também marca-
Na época, Delben era diretor do departamento da pela abertura e descentralização da Abimaq.
de Máquinas Gráficas da entidade. A acirrada Antes, as decisões eram muito concentradas na
disputa provocou algumas fissuras, mas logo a presidência e na diretoria-geral. Logo nos pri-
causa comum se revelou mais forte. A atuação meiros anos, foram criadas entre doze ou treze
da entidade, até então mais voltada para a pro- diretorias, cada uma com ações específicas. Pe-
teção do produto nacional diante dos estran- ríodo em que surgiram vários departamentos,
geiros e questões tributárias, foi redirecionada. como o de Relações Trabalhistas, Promoção de
A Abimaq ganhou mais agilidade com Comércio Exterior, Administrativo, Financei-
a informatização e a reestruturação. ro e Assuntos Jurídicos. Também foi criado um
Novos serviços passaram a ser ofereci- comitê de política industrial para debater, no
dos, e trabalhos de maior envergadura âmbito da Abimaq, todos os assuntos relativos
puderam ser desenvolvidos. à política industrial do país. Dessa forma, a en-
Um dos problemas sérios identifi- tidade pôde se posicionar de maneira correta
cados na gestão de Delben Leite foi defendendo todos os interesses da indústria de
a questão trabalhista. Os acordos, as máquinas e equipamentos nas conversas com o
convenções coletivas, eram feitos sem- governo ou com outros setores. Os empresários
pre obedecendo aos interesses da indús- estavam afinados no discurso.
tria automobilística, o que nem sempre Com a nova gestão, a entidade conquistou
era bom para a indústria de máquinas. posição política destacada, mais forte e de
Comércio Exterior e dúvidas jurídicas muito respeito não só entre entidades como
também passaram a integrar a pauta da Fiesp e Confederação Nacional das Indústrias
Abimaq. (CNI), como no governo federal e no Minis-
do syndic ato à abimaq, setenta anos de luta pelo br asil 4 137

tério da Ciência e Tecnologia, do Desenvolvi- tações da Abimaq em Minas Gerais, Recife,


mento, Indústria e Comércio e no Ministério Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Rio
do Trabalho. Grande do Sul. Foi nesse período aberto um
Outro fato importante da primeira gestão de escritório em Brasília para acompanhar mais
Delben Leite foi a criação do prêmio Sindimaq de perto a evolução de todos os assuntos que
de Desenvolvimento Tecnológico, em 1987. O afetavam um setor tão variado e complexo
objetivo era incentivar os investimentos em como o que produz de máquinas.
tecnologia. A Abimaq passou a pregar o de- No final da década de 1980, foi criada a Di-
senvolvimento da indústria local e não apenas retoria de Feiras e Exposições Nacionais e
a defesa das fronteiras nacionais. Vários pro- Internacionais. A Abimaq passou a organizar
fissionais da área tecnológica foram chamados a participação do Brasil em feiras no exterior
para avaliar os trabalhos inscritos no prêmio. com ajuda do governo federal, por meio do
E a busca pelo desenvolvimento tecnológico Itamaraty. O objetivo da parceria com Brasí-
não parou aí. A divisão de Desenvolvimento lia era diminuir o custo para que os associa-
Tecnológico e Profissional, também criada no dos que participavam de eventos no exterior
período, firmou, entre outros, acordos com a pudessem mostrar com mais força a cara no
Itália e a França. O ob- mercado internacional.
jetivo era identif icar Foi nesse perío- Luiz Carlos Delben Leite
empresas semelhantes do, e nessa gestão, (presidente, 1986-1991)
nesses países e, dessa que a Abimaq co-
forma, transferir tecno- meçou a promover
logia ao Brasil. missões comerciais
Também nos anos para os países com Anúncio do Prêmio Sindimaq de
1980, foram criadas as os quais o Brasil já Desenvolvimento Técnológico
delegacias regionais, mantinha relações
com a intenção de fa- comerciais e tam-
cilitar o atendimento bém para regiões
de associados fora de onde os empresários Fachada do edifício da Associação
Empresarial de Joinville, onde se
São Paulo. Foram brasileiros manifes- localiza a nova Sede Regional de
instaladas represen- tavam interesse em Santa Catarina (SRSC) da Abimaq
138 a história das máquinas

comercializar produtos. A estratégia era par- que financiava até 70% do valor; e os bancos
ticipar de eventos lá fora, mostrar o que era a financiavam mais 20%.
indústria de máquinas no Brasil e o papel da Outro marco foi a transformação, em 1988,
Abimaq e fazer contatos, atraindo assim ao do Sindimaq em sindicato nacional. O nome,
país potenciais compradores estrangeiros. no entanto, foi mantido, pois o Sindimaq já era
A Abimaq conseguiu ainda firmar parcerias conhecido internacionalmente e era um dos
importantes com bancos, como o Bradesco e maiores da América Latina.
o Banco do Brasil. A intenção era disponibi- As ações da gestão Delben Leite acabaram
lizar mais crédito para a compra de máquinas atraindo mais associados. De 700, quando ele
principalmente durante eventos promocio- assumiu, o número passou para 1.420, quando
nais, como a Feira Mecânica. Foi nessa época, Delben Leite deixou a presidência, em 1991. En-
pelo final da década de 1980, que se criou o trou Luiz Péricles Muniz Michelin, que ficou
programa Ouromaq. Os empresários podiam apenas um ano no comando da Abimaq e foi
então comprar máquinas por meio do Finame, substituído por Sérgio Paulo Pereira de Maga-
lhães, que permaneceu na presidência até 1998.

Luiz Péricles Muniz Michielin,


presidente da Abimaq entre 1991 e 1992

Desde 1980, a Abimaq organiza


a participação do Brasil em feiras
internacionais como a Argenplás 2006
do syndic ato à abimaq, setenta anos de luta pelo br asil 4 139

A década de 1990 foi marcada, além da de- deixa o cargo, deixa as cotas para o sucessor. Feiras, qualidade e
fesa da indústria nacional, pela promoção de A Publiê tem a própria contabilidade, fatura
feiras, o estímulo à qualidade e à inovação a receita, paga todos os impostos e transfere o
internacionalização
tecnológica. Foi nos anos 1990 que nasceu o lucro para os acionistas, no caso a Abimaq. do setor
sistema Agrishow, formada pela Abimaq, Dois outros pontos marcaram a gestão de
Anda, Abag e Sociedade Rural. A primeira Sérgio Magalhães: a consolidação de uma cen-
feira aconteceu em Ribeirão Preto, em 1994. tral de serviços completa para os associados e
Oitenta e seis empresas participaram do even- a internacionalização do setor. Magalhães foi
to, e o público registrado foi de cerca de 50.000 um dos responsáveis pela profissionalização da
pessoas. Em 1999, passou a participar também ação institucional. Criou um programa para
a Agrishow Pecuária, feira de tecnologia de transformar as duas entidades – Abimaq e Sin- Sérgio Paulo Pereira de Magalhães
(presidente, 1992-1995)
produção animal. O negócio deu bons resulta- dimaq – em verdadeiros bancos de serviços aos
dos, e o sistema foi ampliado para novas regi- associados e ao setor. Os funcionários das duas
ões do país, como Mato Grosso e Bahia. Em entidades receberam treinamento para aten-
2002, surgiu a Agrishow Cerrado, realizada der a todas as demandas dos associados. Entre
em Rondonópolis. Dois anos mais tarde foi a as práticas adotadas na gestão de Magalhães,
vez de Rio Verde receber a Agrishow Comigo. estava a disponibilização da sede para eventos
Em 2004, o ano da expansão para o Nordes- dos associados. Foram realizados mais cursos
te, a Agrishow foi realizada em Luís Eduardo técnicos, seminários e exposições. O Salão do
Magalhães, na Bahia. Cerca de 20.000 pesso- Marceneiro e o Salão da Costura, por exemplo,
as afluíram ao local. foram realizados nesse período.
Para cuidar das feiras, inclusive do Agrishow, Magalhães incentivou a participação do setor
foi criada uma agência, a Publiê, que pertence de máquinas e equipamentos em eventos inter-
à Abimaq: uma forma encontrada pela entida- nacionais. Os associados passaram a ser capaci-
de para administrar os lucros obtidos em feiras tados para o processo de internacionalização. O
de máquinas e exposições, por exemplo, pois a departamento de Comércio Exterior também
Abimaq é uma instituição sem fins lucrativos. foi revigorado. As estratégias comerciais, em
A Publiê é uma empresa limitada, mas 99% tempos de abertura econômica, passaram a in-
das cotas pertencem à Abimaq e 1% ao pre- tegrar a pauta das duas entidades. Seminários e
sidente da entidade. Quando um presidente cursos para entender a nova situação eram fre-
140 a história das máquinas

qüentes no período. Magalhães também criou do-se mais competitivas nos mercados interno
um agressivo programa de missões comerciais. e externo.
O objetivo era visitar as principais feiras do se- Outra luta grande do período foi o estímulo
tor na Europa, Ásia e Estados Unidos. Em um ao desenvolvimento tecnológico das empresas
ano – de 1994 a 1995 –, cerca de 400 empre- por meio de vantagens fiscais. Numa parceria
sários viajaram com a Abimaq-Sindimaq em com o governo do presidente Fernando Hen-
missões comerciais. Foi também quando um rique Cardoso e com a Secretaria da Receita
grupo técnico da área de Recursos Humanos Federal, a Abimaq criou uma lei para promo-
fez uma viagem à Europa para entender as mu- ver a inovação tecnológica. A intenção era per-
danças nas relações de trabalho, aprender como mitir às empresas jogar como despesa todos os
funcionava a equação “capital, mão-de-obra e gastos realizados em processos de pesquisa e
produtividade”. desenvolvimento tecnológico – da compra de
No final dos anos 1990, Delben Leite assu- máquinas ao registro da patente. Foi também
me novamente a presidência da Abimaq. Na quando surgiu o Instituto de Pesquisa e Desen-
época, surge o Informaq, veículo direcionado volvimento da Abimaq.
exclusivamente aos associados cujo objetivo é Em 1978, o Simesp participou do Grupo 14,
manter informados os empresários do setor de da Fiesp, que foi o principal articulador de ne-
máquinas e equipamentos. gociação na retomada do processo democrático,
Com o advento dos programas de qualidade depois de catorze anos num cenário em que os
nas empresas, outra novidade dos anos 1990 é a salários eram ditados por normas governamen-
criação do Selo Abimaq de Qualidade, basea- tais. Pelo lado patronal, o Simesp se destacou
do na adequação às regras da certificação ISO nas negociações com os Sindicatos dos Meta-
9000 e no prêmio da Fundação Nacional da lúrgicos, principalmente da região do ABC, li-
Qualidade. O objetivo era estimular as empre- derado, naquela época, por Luiz Inácio Lula da
sas a se dedicarem, cada vez mais, às políticas Silva. Ao lado do Simesp, estavam também o
de qualidade dentro das companhias, tornan- sindicato patronal da indústria automobilística
e outros setores da indústria.

v
do syndic ato à abimaq, setenta anos de luta pelo br asil 4 141

Capa da 1ª. edição do Informaq


142 a história das máquinas

Novos desafios A década de 2000 começou com novos desa- Petrolina, Pernambuco. A estratégia é descobrir
fios para o setor de máquinas e equipamentos e novos mercados para as máquinas agrícolas.
também, claro, para a Abimaq. O gigante chi- As relações com o governo, principalmente a
nês acordou, mostrou a que veio; e a política Agência de Promoção de Exportações e Inves-
industrial do Brasil deu-se ao luxo de continuar timentos no Brasil (Apex), foram fortalecidas
em berço esplêndido. Setores produtivos como na gestão de Mello. Desenvolveram-se ações
a indústria e agricultura tentam se equilibrar específicas de promoção de comércio exterior
com o real valorizado, fato que agrada aos in- do setor de máquinas e equipamentos com os
vestidores estrangeiros, mas desaquece nossa mercados de quatro países: Argentina, México,
indústria. Em meio a esse turbulento contex- Reino Unido e Itália. As relações com o Mer-
to, Newton de Mello assume a presidência da cosul também estiveram na agenda da Abimaq
Abimaq, em 2004. Para enfrentar melhor a nos últimos dois anos.
concorrência chinesa, a entidade abriu um es- No corpo-a-corpo com as grandes compa-
critório na China. A Abimaq também lançou nhias, a Abimaq também conseguiu pontos
um livro, em 2006, sobre o mercado chinês: importantes nos últimos anos. Conseguiu, por
China. E o seu Efeito sobre a Indústria de exemplo, adotar novos procedimentos de com-
Máquinas e Equipamentos do Brasil, base- pras e pagamentos com a Petrobras e com a
ado num estudo elaborado pela economista Companhia Vale do Rio Doce.
Patrícia Marrone. A publicação é dirigida Internamente, a Abimaq também alçou vôos
aos fabricantes de máquinas brasileiros que altos — obteve a certificação pela norma ISO
querem conhecer a economia chinesa. 9000. Tantas conquistas uniram ainda mais
Os estudos também avançaram sobre a equipe da Abimaq, formada, atualmente,
outro setor, o siderúrgico. O documento, por 119 funcionários, catorze estagiários e 26
igualmente baseado num trabalho de Pa- câmaras setoriais: Ar comprimido e Gases
trícia Marrone, desvenda a siderurgia no (CSAG); Bombas e Motobombas (CSBM);
Brasil e no exterior para os empresários Equipamentos para Cimento e Minera-
do segmento de máquinas. ção (CSCM); Equipamentos para Irrigação
Outro feito importante da gestão (CSEI); Empilhadeiras (CSEMP); Equipa-
de Newton Mello foi a realização da mentos Navais e Offshore (CSEN); Fornos e
Agrishow Semi-Árido, em 2006 em Estufas Industriais (CSFEI); Ferramentas e
do syndic ato à abimaq, setenta anos de luta pelo br asil 4 143

Modelações (CSFM); Equipamentos para Gi- po de Trabalho dos Fabricantes de Máquinas e Imagem aérea da Agrishow.
nástica (CSGIN); Hidráulica, Pneumática e Equipamentos para a Construção Civil (GT- Ao lado, o atual presidente da
Abimaq Newton de Mello
Automação Industrial (CSHPA); Máquinas e CIVIL); Grupo de Trabalho dos Fabricantes
Acessórios para a Indústria do Plástico (CS- de Ferramentas (GTFF); Grupo de Trabalho
MAIP); Máquinas e Acessórios Têxteis (CS- dos Fabricantes de Máquinas e Equipamentos
MAT); Máquinas e Equipamentos Gráficos para Jóias e Afins (GTJOIAS); e Sindicato
(CSMEG); Máquinas e Equipamentos para Nacional das Indústrias de Equipamentos para
Madeira (CSMEM); Máquinas-Ferramenta Saneamento Básico e Ambiental (Sindesam).
(CSFM); Máquinas e Implementos Agrícolas Agora, a luta da entidade é para desonerar as
(CSMIA); Alimentícia, Farmacêutica e Refri- máquinas e equipamentos de impostos para que
geração (CSMIAFRI); Máquinas Rodoviárias o investimento fique barato, como é no resto
(CSMR); Projetos e Equipamentos Pesados do mundo, especialmente na China. Tradição
(CSPEP); Máquinas, Equipamentos e Instru- para essa nova luta a Abimaq tem. Basta lem-
mentos para Controle de Qualidade, Ensaio brar que foi por intervenção da entidade que os
e Medição (CSQI); Transmissão Mecânica importados passaram também a sofrer tributa-
(CSTM); Válvulas Industriais (CSVI); Gru- ção específica, o que igualou o tratamento para
144
do syndic ato à abimaq, setenta anos de luta pelo br asil 4 145

produtos nacionais e importados. A Abimaq as exportações. Com isso, os números do se- O Agrishow atrai público de
conseguiu que tanto no importado quanto no tor podem melhorar ainda mais. Em 2005, o aproximadamente 120.000 a
130.000 pessoas anualmente
nacional o comprador pudesse contar com os segmento de bens de capital mecânico expor-
créditos desses impostos. tou 118,31 bilhões de dólares e importou 73,55
Como é de interesse do Brasil que ocorra bilhões. O saldo na balança comercial foi de
desoneração tributária do investimento produ- 44,76 bilhões de dólares. O setor de máquinas e
tivo, a Abimaq levanta essa bandeira com os equipamentos exportou 8,59 bilhões e importou
demais setores da indústria. Afinal, à medi- 8,49 bilhões de dólares. O saldo da balança foi
da que a produção cresce, aumenta o número positivo pela primeira vez em dez anos. Sinal
de empregos, estimula-se a competitividade e de novos rumos e muito trabalho pela frente.

v
linha do tempo
1937 Início da entidade 1952 Criação do BNDES

1958 Toma posse como presidente,


1952 Eleito para presidente da entidade, Einar Kok, que foi reeleito por
João Cavallari Sobrinho. (1952 sucessivas gestões até 1983
1937 Presidente: Luiz Jorge Ribeiro -1956)
(1937-1941)

1940 Nova denominação - Simesp


(Sindicato da Indústria de
Máquinas do Estado de São
Paulo) 1959 Primeira Feira da Mecânica

1960 Políticas industriais


1956 Assume a presidência Milton Conselho de Desenvolvimento
Ayres de Almeida Freitas (1956- Industrial
1958)
1960 Criação da Câmara Setorial de
1956 Fundada a Câmara de Máquinas Bombas e Motobombas
Têxteis, pioneira na entidade
1961 Criação da Câmara Setorial de
1941 Toma posse o segundo presidente 1958 (63) Criação da Câmara de Máquinas- Máquinas Rodoviárias
da entidade, Jorge de Souza Ferramenta – Fundador:
Resende (1941-1952) Geraldo de Mendonça Mello 1964 O sindicato assume a liderança no
– Continuador: Estevam Faraoni incentivo à criação da Finame
1945 Fim da II Guerra Mundial
1965 Criação da Câmara Setorial de
1950 Início da indústria automobilística Máquinas e Equipamentos para a
Planos de meta do governo JK Indústria do Plástico
1965 Criação da Câmara Setorial 1977 Criação da Câmara Setorial 1984 Criação da Câmara Setorial de
de Máquinas e Implementos de Equipamentos Hidráulicos, Equipamentos Pesados
Agrícolas Pneumáticos e de Automação
Industrial 1984 Criação da Câmara Setorial
1966 Criação da Câmara Setorial 1ª. Bitmex, depois denominada de Elementos de Transmissão
de Máquinas e Equipamentos Itmex (Feira Internacional de Mecânica
Gráficos Máquinas Têxteis)

1967 Origem da Fiepag (Feira 1978 Criação da Câmara Setorial


Internacional da Indústria Gráfica) de Equipamentos para Ar
Comprimido e Gases
1972 Criação da Câmara Setorial de
Cimento e Mineração 1980 junho - Criação da Câmara
Setorial de Máquinas e
1973 Criação da Câmara Setorial de Equipamentos para Madeira
Válvulas Industriais 1986 Luiz Carlos Delben Leite assume
a presidência da Abimaq (1986-
1991)

1987 Criação da Câmara Setorial de


Fornos e Estufas Industriais

1987 Criação da Câmara Setorial


de Máquinas para a Indústria
1983 A entidade mudou-se do prédio Alimentícia, Farmacêutica e de
1975 Mudança de denominação para no Palácio Mauá e instalou-se em Refrigeração Industrial
Abimaq sede própria na Av. Jabaquara
1987 Inauguração da sede regional do
1975 Criação da Câmara Setorial de Rio de Janeiro
Empilhadeiras 1ª. Brasilplast (Feira Internacional
da Indústria do Plástico)
1975 Criação da Câmara Setorial de
Equipamentos para Saneamento 1988 Muda o nome do Sindimaq para
Ambiental Sindicato Nacional da Indústria de
Máquinas

1983 Walter Sacca é eleito o novo


presidente da Abimaq (1983-1986)
1988 Inauguração das regionais de do agronegócio Transferência
Minas Gerais, Paraná (junho), da Câmara de Máquinas para
Santa Catarina (julho) Rio Madeira para Curitiba
Grande do Sul
1999 Início do Apexmaq (Programa de
1988 Criação da Câmara Setorial de apoio às exportações do setor da
Máquinas, Equipamentos para Apex-Brasil)
Controle de Qualidade, Ensaio e
Medição 1992 Sérgio Paulo Pereira de Magalhães 1999 05/10 – Inauguração da regional de
assume a presidência (1992-1995) Piracicaba
1988 Criação da Câmara Setorial de
Ferramentaria e Modelações 2000 março – 1ª. edição da Femade

1989 1.ª Feimafe – Feira Internacional 2001 Luiz Carlos Delben Leite é
de Máquina-Ferramenta reeleito presidente (2001 – 2004)

1989 Criação da Câmara Setorial


de Equipamentos Navais e de
Offshore
1994 Agrishow estréia em Ribeirão
1991 Instalação do escritório da Abimaq Preto (SP)
em Brasília
1994 Criação da Câmara Setorial de
Equipamentos de Irrigação

1995 Sérgio Magalhães é reconduzido à


presidência (1995 – 1998)
2001 Lançamento do Informaq – jornal
1996 Criação da diretoria de mensal da Abimaq
Financiamentos
1991 Luiz Péricles Muniz Michielin 2001 Criação do Grupo de Trabalho de
sucede Luiz Carlos Delben Leite 1998 Luiz Carlos Delben Leite é eleito Construção Civil
na presidência (1991-1992) para o triênio 1998 – 2001 1ª. Agrishow Cerrado (MT)

1999 março – Lançamento da 2002 dezembro – Lançamento


Panorama Rural – Revista mensal do estudo “Rumos da
Competitividade”
2002 dezembro – Entregue a primeira 2004 Criação da Câmara Setorial de
edição do Prêmio Abimaq de Equipamentos para Ginástica
Jornalismo
2005 agosto – Lançamento do estudo
2003 novembro – Criação do IPD- do Impacto do Aço sobre o setor
Maq (Instituto de Pesquisa e
Desenvolvimento da Indústria de 2005 dezembro – Premiação Integração
Máquinas) Setorial da Câmara de Comércio
Argentino-Brasileira de São Paulo 1ª. Agrishow Semi-Árido (PE)
2003 dezembro – Inauguração da Lançamento do fundo de
regional de Ribeirão Preto recebíveis da Abimaq 2006 12/09 – Primeira Food Tech
– Feira Internacional de Máquinas
2004 Criação do Modermaq pelo para a Indústria Alimentícia
governo, a partir de sugestão da
Abimaq 2006 Criação do Grupo de Trabalho
1a. Agrishow Comigo (GO) dos Fabricantes de Máquinas e
1ª. Agrishow Luis Eduardo Equipamentos para Jóias e Afins
Magalhães (BA)
2006 Criação do Grupo de Trabalho
dos Fabricantes de Ferramentas
Industriais

2006 21/6 – Instalação do escritório na 2006 Inauguração da sede regional


China – Beijing Norte/Nordeste, em Pernambuco

2006 janeiro – Certificação ISO 9001

2004 Newton de Mello é eleito


presidente da entidade (2004
– 2007)
150 a história das máquinas

Máquinas • De sol a sol com charme. A colheita está, • Trator assinado. O design, quem diria, che-
cada vez mais, ganhando conforto e tecnolo- gou aos tratores. Um exemplo disso são os
de sonhos gia, e nada deixando a desejar dos carros de modelos da série 15 da John Deere – o 6415,
luxo. Explica-se: as máquinas agrícolas agora 6615 e o 7515. O desenho permite o bascula-
vêm equipadas com ar-condicionado acio- mento do capô e da cabine. O mecanismo,
nado eletronicamente, câmbio automático, segundo dados do fabricante, proporciona
computador de bordo para monitorar perdas menor tempo de oficina, pois é de fácil ma-
na colheita e suspensão a ar. Um dos modelos nuseio – vantagem para o produtor. O motor
com todos esses atributos é a Axial Flow Ex- é turbinado, e a potência varia entre 106 e 140
treme, da Case IH. Custa cerca de 700.000 cavalos. Outro ponto positivo: conta com um
reais. Outra colheitadeira que desperta inte- sistema que permite a troca de quatro mar-
resse é a John Deere 9750 STS. Com motor chas sem uso de embreagem e sem interrom-
turbinado e 325 cavalos de potência, possui per o fluxo de potência. O trator consegue
excelente desempenho. A cabine de operação unir motor potente, sistema de transmissão
foi projetada para dar conforto ao operador. eficiente, moderno sistema eletrônico e ca-
Comandos e controles foram projetados de bine que privilegia a ergonomia. Ergonomia,
forma ergonomicamente correta. A 9750 tem aliás, é a preocupação do momento de boa
ainda um assento auxiliar, para outro profis- parte dos fabricantes de máquinas agrícolas.
sional que ajuda na colheita. Os modelos da Massey Ferguson da série
6000 também são projetados para proporcio-
nar movimentação adequada e conforto ao
operador. O MF 6350 e o 6360 são robustos,
potência de 190 e 220 cavalos, respectiva-
mente, e trazem todo o aparato moderno: ar-
condicionado e a famosa cabine ergonômica.
Tudo à mão, sem esforço.

• Iluminação de estádio. A New Holland


desenvolveu um modelo de colheitadeira – a
CS660 – que tem bom desempenho até du-
151

rante a noite. Tudo mérito do projeto que va- Elizabeth Taylor. Após a morte de Onassis,
lorizou o sistema de iluminação da máquina. o iate foi doado ao governo da Grécia. Um
São onze faróis, do tipo usado em estádios grupo de investidores se interessou pelo iate e
de futebol, que possibilitam visão noturna de o reformou, mantendo as características ori-
toda a extensão da colheitadeira, inclusive da ginais, inclusive o famoso mosaico cravado
barra de corte. O design também favoreceu a no fundo da piscina, as torneiras de ouro da
visão frontal do operador, que consegue ilu- suíte do bilionário e uma charmosa escada
minar melhor a área a ser percorrida. Fora as em caracol. A reforma custou 50 milhões de
luzes, a CS660 ainda tem direção hidrostática, dólares, e o barco foi colocado à venda, recen-
280 cavalos de potência, monitor de perdas na temente, por cerca de 60 milhões de dólares.
colheita, banco do carona e a novidade: uma
alavanca multifunção, que permite controlar • O carro do Batman. O Murciélago LP640
e ordenar diversas funções com apenas uma da Lamborghini. A máquina foi destaque do
das mãos. O operador consegue assim, por Salão do Automóvel de Genebra em 2006 e
exemplo, modificar a velocidade da máquina, desafia os amantes de automóveis. A pergunta
o posicionamento da plataforma, a altura do feita pelo fabricante é: pronto para correr? A
molinete e a abertura do tubo de descarga.

• O iate do armador grego Aristóteles Onas-


sis, Christina O., tem 325 pés, dezoito suí-
tes – um quarto de 220 metros quadrados –,
piscina, sala de jantar, sala de estar, bibliote-
ca e bares em vários pontos. Pode não ser o
mais luxuoso do mundo, mas, com certeza,
é o mais glamouroso. Desfilaram no Chris-
tina O. personalidades do mundo inteiro,
como Jackie Kennedy, Winston Churchill,
Frank Sinatra, Eva Perón, o príncipe Ranier
e a princesa Grace Kelly, de Mônaco, e atri-
zes como Marilyn Monroe, Greta Garbo e
152 a história das máquinas

propaganda tem motivo. O carro possui mo- são resultado da combinação correta de alu-
tor de 640 cavalos, V12, atinge velocidade má- mínio e fibra de carbono. O câmbio tem o
xima de 340 quilômetros por hora e é capaz de aval dos pilotos de Fórmula 1 da Ferrari. A
chegar a 100 quilômetros por hora em apenas marca testa inovações na pista de F-1 e depois
3,4 segundos. É mais veloz que outros mode- transfere o que funciona aos carros de varejo.
los da Lamborghini. O touro, realmente, está Valor sugerido: 286.000 euros.
solto. O LP 640 vem equipado com GPS. A
tecnologia da máquina também pode ser vista • Passagem ultra-secreta. Como nos filmes
no uso de fibra de carbono, inclusive no teto e detetivescos, quando se desloca um livro
no painel. Valor sugerido: 280.000 euros. numa estante, uma porta secreta se abre e o
mocinho pode escapar do bandido – ou, no
• Mais um “cavallino rampante”. A Ferrari 599 caso do Batman, transformar-se em super-
GTB Fiorano foi lançada no Salão do Au- herói. Foi com essa referência que a empresa
tomóvel de Genebra em 2006 e é o exemplo americana Hidden Passage Way criou um
do casamento perfeito entre a sofisticação e o sistema de alavancas que pode ser adequado
estilo esportivo – marca registrada da Ferra- às casas modernas. A companhia constrói
ri. O motor é de 620 cavalos, V12, e atinge a passagens blindadas por trás de bibliotecas,
velocidade de 200 quilômetros por hora em escadas com alçapão e lareiras fictícias, que
apenas onze segundos, e chega a 100 quilô- também se transformam em passagem secre-
metros por hora em 3,7 segundos. A veloci- ta, caso seja necessário uma fuga repentina.
dade máxima da máquina é 330 quilômetros Valor sugerido: 10.000 dólares.
por hora. A leveza e a estabilidade do carro
• Supermoto. As máquinas da empresa ameri-
cana Confederate Motor Company são conhe-
153

cidas, mundialmente, pelo design agressivo e


construção quase artesanal. O lançamento da
companhia em 2006 é o modelo Renovatio
Project. Com visual futurístico e minima-
lista, a moto parece destinada a explorar até
outros planetas. Faria isso com louvor. Com
motor de 150 cavalos – ou o de 190 opcional, a
máquina chega, facilmente, a 300 quilômetros
por hora. Construída inteiramente de fibra de
carbono, titânio e alumínio, é leve – pesa 154
quilos – e é feita com peças essenciais. Arte
contemporânea para o olhar.

• Robô humanóide a preço acessível. Um gru-


po de pesquisadores associados a investidores
japoneses da General Robotix, Moving Eye
e Pirkux Robotix criaram, em 2006, o Cho-
romet. O robô tem 35 centímetros de altura,
pesa 1,5 quilo e tem raio de ação de 20 graus
de liberdade de movimentos. Os sensores
responsáveis pelos movimentos do humanói-
de estão espalhados em pontos nas pernas, no
tronco e um controlador central. O pequeno
robô funciona a partir do sistema operacional
Linux e tem 32 MB de memória. A idéia é
que o Choromet se apresente como alterna-
tiva mais acessível às indústrias e centros de
pesquisa que queiram usar robôs como piloto
de provas. O valor ainda não está definido.
154 a história das máquinas

• Um Embraer de luxo. A companhia brasilei- dispõe de autonomia de 7.778 quilômetros e é preparado para suportar a pressão da água.
ra Embraer entrou para a aviação executiva de capaz de atingir altura de 12.497 metros. Va- A aventura começa na chegada ao hotel: os
luxo. O modelo Lineage 1000 é considerado lor: 40,9 milhões de dólares. hóspedes entrarão por meio de túneis que os
um dos jatos mais exuberantes do mercado levarão até as acomodações. No quarto, a vi-
atualmente. Produzido sobre a plataforma do • O rei dos mares. Chegou a vez das viagens são será como nos filmes infantis A Pequena
E 190, o modelo comercial da Embraer, aco- subaquáticas, como nas mais ousadas cenas Sereia e Procurando Nemo: os visitantes po-
moda dezenove pessoas e pode ser adaptado de realidade virtual. Em 2008, está prevista derão observar a vida marinha o tempo todo,
ao gosto do cliente. O jato possui cinco zonas a inauguração de um hotel seis estrelas sub- já que o teto é transparente, feito de acrílico.
independentes que podem ser transformadas merso nas águas de uma ilha particular em E, quando o fundo do mar estiver escuro,
em salas de reuniões, suítes e sala de jantar. Fiji, no Pacífico; trata-se do Poseidon Resort. basta acender as luzes externas. O espetáculo
Dois lavatórios integram o projeto original, O hotel foi projetado com a ajuda dos mesmos estará montado. Na suíte presidencial, o hós-
mas há espaço para um terceiro, opcional, engenheiros que desenvolvem os submarinos pede poderá ver tudo isso de Jacuzzi. A diária
assim também como uma ducha. O Lineage da Marinha americana e, evidentemente, é presidencial: 20.000 dólares.
155

• Supersônico privado. A companhia ame- Japão também pode ser encurtada: oito horas um toque no painel. As rodas se levantam
ricana Supersonic Aerospace International de Nova Iorque a Tóquio. O tempo das via- automaticamente, e basta guiar o veículo na
desenvolveu um modelo de aeronave super- gens é reduzido à metade. Valor sugerido: 80 água, usando o acelerador. Todo o processo
sônica para a aviação executiva. Trata-se do milhões de dólares. leva apenas doze segundos. A potência do
Quiet Supersonic Travel, que tem capacidade Aquada também não é de desprezar: tem
para doze pessoas e alcança 2.200 quilôme- • Carro ao mar. A companhia inglesa Gibbs força para puxar um ski aquático. O motor é
tros por hora (2,3 Mach). Com tal desempe- Technologies, especialista em veículos anfí- de 175 cavalos, V6. O carro é vendido como
nho, o QSST leva apenas quatro horas para ir bios, que se movimentam na terra e na água, novo conceito de liberdade para dirigir.
de Miami ao Rio de Janeiro. O mesmo tempo criou o Aquada. A máquina se encaixa per- Custa 300.000 dólares.
é gasto para cruzar o Atlântico num vôo de feitamente num filme do agente 007: da es-
Chicago a Paris, na França. A viagem para o trada pode passar para a água com apenas
156

VOCÊ SABIA? • O Brasil produziu a maior safra de café de com 170 metros de altura, erguido em 1960; e
toda a história em 2002. Foram 45 milhões de o Edifício Itália, também em São Paulo, com
sacas. 165 metros de altura, erguido em 1965.

• A safra de 2002-2003 de grãos foi recorde • Cerca de 83% dos domicílios particulares do
no Brasil. Foram 112,4 milhões de toneladas, Brasil possuem rede de água, 48,8% rede de
crescimento de 70% num prazo de apenas dez esgotos e 85,8% contam com coleta de resídu-
anos. No período, o agronegócio brasileiro os sólidos. Mas 82 milhões de pessoas ainda
passou a valer 424,4 bilhões de reais. vivem sem esgoto, 43 milhões sem água po-
tável e 14 milhões não dispõem de coleta de
• Na safra 2002-2003, o país produziu 51,8 mi- lixo. Os dados são da Pesquisa Nacional por
lhões de toneladas de soja. Um recorde. A Amostra de Domicílios (PNAD) de 2004.
soja é o principal produto agrícola brasileiro,
representando em torno de 40% da produção • A década de 1970 foi o período em que mais
de grãos do Brasil. se ergueu prédio no Brasil. O boom da ver-
ticalização foi movido pela criação do Banco
• O Edifício Martinelli, construído entre 1922 Nacional da Habitação (BNH), criado em
e 1930, é considerado o primeiro arranha-céu 1964. A instituição não operava diretamen-
de São Paulo. Tem 25 andares e 100 metros te com o povo, mas era responsável por gerir
de altura. Foi erguido pelo italiano Giuse- o FGTS. Também ficou a cargo do BNH a
ppe Martinelli. Até então, arranha-céu era formulação e implementação do Sistema Fi-
prédio de dez andares. Perdeu a posição dez nanceiro de Habitação (SFH) e do Sistema
anos depois de inaugurado, quando surgiu o Financeiro de Saneamento (SFS). Foi extin-
Edifício Sede do Banespa, com 35 andares e to em 1986.
161,22 metros de altura.
• A região com a maior riqueza mineral do país
• Três edifícios são considerados os maiores do conhecida é Minas Gerais. O Estado abas-
país atualmente: o Conde Pereira Carneiro, tece de minérios os mais diversos setores e
no Rio de Janeiro, com 172 metros, erguido países desde quando o Brasil era colônia por-
em 1976; o Mirante do Vale, em São Paulo, tuguesa. Mas é bom lembrar que o Estado
157

do Pará tem grande potencial, cuja riqueza • Na Europa, o uso médio de um trator é de
ainda não é possível quantificar. 900 horas por ano; e nos Estados Unidos é
de 1.300 horas por ano. Já no Brasil, o núme-
• Na safra 2004-2005, a indústria de suco bateu ro dobra: são cerca 2.300 horas por ano. Haja
recorde de produção. Na ocasião, foi exporta- fôlego, mecânica e tecnologia. Dessa forma,
do 1.411.173 toneladas de suco de laranja con- uma máquina feita para o Brasil resiste ao
centrado e congelado. O resultado foi 4,5% trabalho em qualquer lugar do mundo.
superior à safra anterior, de 1.350.287 tonela-
das. No ano seguinte ao recorde, o número • Antes de fundar a Ford Motor, Henry Ford
voltou a cair, o volume de exportações foi de criou um minitrator a vapor usando peças
1.341.737 toneladas. de um velho cortador de grama e fabricando
outras num torno de pedal. Corria o ano de
• Em 1966, foi inaugurado o primeiro shopping 1822. Tempos depois, com a Ford estruturada,
center do Brasil, o Iguatemi, em São Paulo. ele levou a idéia de fazer trator aos acionistas.
A imensa vitrine mudou a vida das pessoas. Foi rejeitado. Insatisfeito, criou uma empresa
Cheio de lojas, deu mais glamour ao consu- só para fazer a tal máquina. Nasceu a Ford e
mo e proporcionou aos brasileiros uma nova Sons e o Fordson. O brinquedinho de Ford
forma de lazer. acabou se tornando o primeiro trator de pro-
dução em massa e vendeu 750.000 unidades
• A década de 1950 revolucionou a indústria nos EUA nos primeiros dez anos.
têxtil no Brasil. Foi nesse período que o país
começou a usar tecido sintético na confecção • O programa Moderfrota, criado em 2000
de roupas, que a partir de então eram feitas pelo governo federal, contribuiu para que, até
em massa, o que barateava os produtos. Foi 2005, chegassem ao produtor brasileiro mais
também quando aparece a chamada calça de 25.000 colheitadeiras e quase 160.000 tra-
rancheira, de brim, que evoluiu para a popu- tores, segundo um balanço feito pelo BN-
lar calça jeans. A peça veio para substituir as DES. A linha de financiamento, vinculada
calças de tecido. ao Banco, é destinada à compra de máquinas
agrícolas. A vantagem são juros mais baixos
que os praticados no mercado.
158

frases Cláudio Lembo, governador do Estado de Guilherme Raposo, diretor de Suprimentos


São Paulo: e Logística da CSN:

“Construir máquinas e equipamentos é conferir “A CSN, como uma das precursoras do processo
instrumento para conquistar o bem comum e ela- industrial no Brasil, parabeniza a Abimaq e re-
borar o progresso”. conhece sua importância para o desenvolvimento
da indústria de máquinas e equipamentos, for-
Paulo Skaf, presidente da Federação das In- talecendo o segmento cujo desempenho tem im-
dústrias do Estado de São Paulo (Fiesp): pacto direto sobre os demais setores produtivos do
país. Além disso, nos últimos setenta anos vem
“Uma entidade de classe que registra a história promovendo a modernização da indústria e am-
do setor, identifica suas necessidades, estuda e pliando a competitividade do Brasil no cenário
cria saídas para cada uma delas e, principalmen- internacional”.
te, une a todos os que nele atuam na luta por seus
ideais é verdadeiramente representante de seus Rogelio Golfarb, presidente da Associação
associados. Essa é a Abimaq”. Nacional dos Fabricantes de Veículos Au-
tomotores (Anfavea) e diretor de Assuntos
João de Almeida Sampaio Filho, presidente Corporativos e Comunicação da Ford Motor
da Sociedade Rural Brasileira (SRB): Company Brasil:

“A Abimaq tem papel fundamental no atual “A Abimaq é uma das mais relevantes associações
estágio e futuro desenvolvimento da indústria empresariais do país, com enorme folha de serviços
brasileira. Sua trajetória é marcada pela disse- prestados em favor do setor produtor de máqui-
minação de moderna tecnologia em máquinas, nas em geral. O papel da indústria de máquinas
gestão de negócios e de pessoas. Em especial para o na industrialização brasileira e na permanente
agronegócio, a entidade usa seu conhecimento em modernização e expansão industrial do país deve
máquinas e tecnologia para promover o progresso ser reconhecido. É um setor de ponta para o futuro
do país com base no avanço da agricultura e do da indústria brasileira, e a atuação da Abimaq é
sistema agroindustrial”. fundamental para o desenvolvimento e a consoli-
dação da indústria de máquinas no Brasil”.
159
160

Bibliografia Livros: Sites consultados:


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Aventuras de um Pioneiro. DBA, Romi
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História da Vida Privada no Brasil. Vol. 4. www.biotecnologia.com.br/
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161

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www.poseidonresorts.com André Romi
www.saiqsst.com Cláudio Cavalheiro
www.aquada.co.uk Carlos Bartasevicius
www.romi.com.br Casemiro Bruno Taleikis
www.mpm.com.br Christina Stein
www.intel.com Décio da Silva
www.weg.com.br Demétrio Prior Travessa
www.thk.com.br Einar Kok
www.dedini.com.br Hiroyuki Sato
www.jumil.com.br Lisiane Durau
www.mellfaber.com.br Luiz Carlos Delben Leite
www.franho.com.br Moacyr Rogério Sens
www.ergomat.com.br Nadia Somekh
www.jaraguaequipamentos.com Newton de Mello
www.randon.com.br Sônia Maria Orlando
www.cat.com e brasil.cat.com Sueli Corrêa Soares
www.novadimensaonacolheita.com.br Otamar da Costa e Silva
Walter Sacca
162

Diretoria Presidente Luiz Aubert: “Tesouraria”


Newton de Mello Maristela Miranda: “Financiamentos”
2004-2007 Newton Silva Araújo: “Coordenação
ABIMAQ & SINDIMAQ Diretoria Executiva: de Câmaras e Regionais”
Newton de Mello Rubens Dias de Morais:
Rubens Dias de Morais “Assuntos Agrícolas”
Carlos Pastoriza Sérgio Magalhães: “Feiras Próprias
Newton Silva Araújo e Sistema Agrishow”
Dante Battaglio Sílvio Orsini: “Patrimônio”
Luiz Aubert Suely Agostinho: “Negociações
José Velloso D. Cardoso Internacionais”
André Romi
Maristela Miranda Diretorias R egionais:
Edgard Dutra André Meyer: Porto Alegre - RS
Francisco Matturro Waldir Albrecht: Joinville - SC
Valentim Verzenhassi: Curitiba - PR
Diretoria Estratégica: Marcelo Veneroso : Belo Horizonte - MG
Alida Bellandi: “Marketing Internacional”: Giorgio Santoni: Rio de Janeiro - RJ
A.C. Germano Gomes: “Assuntos Valter Furlan: Piracicaba - SP
Tributários e Jurídicos” Maria Inez Cestari: Ribeirão Preto - SP
A.P. Xavier de Brito: “Assuntos Sebastião Pontes: Recife -PE
Metalúrgicos”
Carlos Nogueira: “Economia e Estatística” Presidentes de Câmaras e
Carlos Pastoriza: “Relações Trabalhistas” Grupos de Trabalho:
Christina Stein:”Tecnologia” e Ar Comprimido e Gases: Edgard Dutra
“Recursos Humanos” Bombas: Wagner Vilela Cipola
Cláudio Miquelin: “Ação Política” Empilhadeiras: João Pascarelli Campos
Jayme Bydiowski: “Feiras Apoiadas” Elementos de Transmissão: Alexandre Reis
José Velloso D. Cardoso: “Négócios” Equipamentos de Construção
e “Secretaria Geral” Civil: Ramón Barral
163

Equipamentos de Metrologia e Controle Diretoria do Sindimaq:


de Qualidade: René Albuja Newton de Mello
Equipamentos para Ginástica: Carlos Pastoriza
José Manuel Correia A.P. Xavier de Brito
Equipamentos de Irrigação: Celso Vicente
Eugênio Brunheroto Carlos Martins
Equipamentos de Mineração: José Velloso D. Cardoso
Carlos Trubbianelli Luiz Aubert
Equipamentos Navais: Francisco
Edgar da Silva Conselho Gestor da P ubllê:
Equipamentos Pesados: João Newton de Mello,
Afonso Pereira da Silva Rubens Dias de Morais,
Equipamentos de Saneamento: Luiz Aubert Neto,
Gilson Cassini Sérgio Magalhães,
Ferramentarias: Nelson Gonçalves Sílvio Orsini,
Ferramentas Industriais: José Rocha Lopes José Velloso D. Cardoso,
Fornos e Estufas: Nelson Delduque A.C. Germano Gomes,
Hidráulica e Pneumática: Carlos Padovan Francisco Matturro,
Máquinas Agrícolas: Francisco Matturro Eugênio Brunheroto
Máquinas Alimentícias: Luiz Belloli Neto
Máquinas-Ferramenta: André Romi Diretorias Especiais de A ssessorias:
Máquinas Gráficas: Fowler Braga “Responsabilidade Social”: Flávia Aubert
Máquinas para Jóias: Antônio Monteiro “Eventos”: Cláudia Dutra
Máquinas para Madeira: Ronald Obrusnik “Marketing Nacional”: Regiane Pastoriza
Máquinas para Plásticos: Guido Pelizzari
Máquinas Rodoviárias: Pérsio Pastre Vice-Diretores R egionais:
Máquinas Têxteis: Dante Battaglio Ivan Rodrigues
Motores de Combustão Interna: Luiz Carlos de Lameu
Suely Agostinho Vendelino Titz
Válvulas Industriais: Lourenço Righetti José Amílcar Barbosa
164

Érika Laranjeira José Alberto Marchesan


Lonard Scofield Luiz Barella
Marno lockheck Nilson Schemmer
Raimundo Vasconcelos Shiro Nishimura
Alexandre Cardoso Walter Lapietra
Alberto Crespo de Souza Adélia Mudrei
José Miguel Picerni Edson Miranda
Fabrício Rosa de Morais Marcelo Cruañez
Arnaldo Ribeiro
Marcelo Taparelli Conselho Consultivo:
Marcello Luparia Einar Kok
Walter Sacca
Conselhos Fiscal Luiz Carlos Delben Leite
Maks Behar Sérgio Magalhães
Antônio Roberto Pereira Aécio Souza
João Afonso Pereira da Silva Andréas Meister
Ladislau Caldas Antonio Roso
Paulo Cury Elizabeth Bozza
Custódio Vás Haroldo Cortopassi
João Burin
Outros Diretores e Outros Miguel Rodrigues Júnior
Vice-Presidentes: Nestor Perini
Duílio de La Corte Ovandi Rosenstock
Gilberto Chiarelli Walter Salim
Henry Goffaux
165
166

iconografia Acervo F undação Joaquim Nabuco A rquivo Ergomat


Pág. 58 (a) Pág. 126 (a)

Acervo M agma Cultural A rquivo Fiat


Págs. 56 (b), 109 Pág. 03

Acervo RFFSA A rquivo Imprensa Volkswagen


Pág. 55 Págs. 82, 83, 86, 87

Agência Estado A rquivo Jacto - Foto Rômulo Fialdini


Págs. 97, 108 Pág. 72

A rquivo A bimaq A rquivo John Deere


Págs. 125, 126 (b), 128, 129, 130, 131, 133, 134, Págs. 118, 150
135, 136, 137, 138, 140, 141 (a), 142, 143
A rquivo Lindolfo Collor
A rquivo Bardella - CPDOC/FGV
Pág. 57 Pág. 63

A rquivo CSN A rquivo Mercedez-Benz


Págs. 73, 75 Pág. 119

A rquivo CVRD A rquivo MRS


Pág. 90 Pág. 115

A rquivo Embraer A rquivo Paulo A fonso


Págs. 96, 98-99, 154 Págs. 58 (b), 59

A rquivo Embrapa A rquivo Romi


Págs. 116, 112 Págs. 65, 66, 67, 127
167

A rquivo Scopus Getty Images


Pág. 103 Págs. Capa, 01, 12, 13, 14, 15, 16, 19, 20, 20-21,
25, 26, 27, 30 (b), 31, 34, 37, 38, 39, 41, 42, 43,
A rquivo Secret Passageway 44 (b), 46, 47, 48, 70, 76, 85, 88, 89, 102, 111,
Pág. 152 (a) 152 (b), 153, 155

A rquivo WEG Holanda Cavalcanti


Págs. 100, 101 Pág. 141 (b)

Banco de Imagens Petrobrás Igor Pessoa


Pág. 78 Pág. 117

Caio Coronel / Itaipu Binacional J. Valpereiro / Banco de


Págs. 91, 92 Imagens Petrobrás
Pág. 104
Central Nuclear / Eletronuclear
Págs. 93, 94, 95 K átia A rantes
Pág. 139
Dario Zális
Pág. 77 R eprodução / AE
Págs. 04, 68, 69
Divulgação A pple
Pág. 44 (a) Science and Society
Págs. 11 (b), 17, 24, 28, 30 (a), 32, 33, 35, 36, 40,
Divulgação Daimler-Chrysler 49, 50
Pág. 80
Stéferson Faria / PETROBRAS
Foto Osael, R ecife / Acervo Págs. 113, 114
F undação Joaquim Nabuco
Págs. 60, 61 Umberto Cerri
Págs. 105, 106, 107
F undação A rquivo e Memória de Santos
Pág. 64
Este livro foi diagramado utilizando
fontes das famílias Adobe Caslon Pro, de
William Caslon (1692 - 1766), e Myriad Pro,
de Carol Twombly (1959 - ).

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