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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FCHJ37 - Identidade e memória

FICHAMENTO: O Mal-Estar na Civilização


Volume XXI

Geraldo Natanael de Lima

Orientadora:
Profª Drª Carlota Ibertis

Se a civilização impõe sacrifícios tão grandes, não apenas à


sexualidade do homem, mas também à sua agressividade, podemos
compreender melhor porque lhe é difícil ser feliz nessa civilização.
Sigmund Freud

Salvador-Ba
2013.1
2

SUMÁRIO

01- FICHAMENTO DO TEXTO O MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO 03

03- CONCLUSÃO 44

04- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 45


3

01- FICHAMENTO DO TEXTO O MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO


O texto O mal-estar na civilização, está contido no volume XXI da edição standard
brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud1 (1856-1939) possui 97 páginas
escritas iniciando na página 73 e finalizando na página 171. Joan Riviere2 ajudou na tradução e
edição inglesa. Os comentários e notas foram realizados pelo editor e tradutor inglês James
Strachey3 com colaboração de Anna Freud4 assistido por Alix Strachey e Alan Tyson. Este livro
foi traduzido do alemão e do inglês, sob a direção geral de Jayme Salomão5 e tradução de José
Octávio de Aguiar Abreu; e revisão técnica de Walderedo Ismael de Oliveira6 para a Imago
Editora em 1974.
Esta obra foi escrita em 1929 e faz parte de uma nova fase do pensamento de Freud, na
qual ele se distancia dos seus estudos clínicos, centrados no indivíduo para pensar questões
relativas a relação entre o indivíduo e a sociedade. O mal-estar na civilização, tem como tese
central à idéia de que para que tenhamos a vida em sociedade é necessária a existência de regras
e limitação da vida individual sendo necessário a repressão dos instintos de agressividade e da
libido sexual. Dessa forma, para Freud o ser humano está condenado a limitar sua felicidade ou
não ser feliz na civilização, pois por felicidade ele entende a livre “fruição”, das energias
instintivas.
Antes de Freud, Friedrich Nietzsche7 (1844-1900) publica o seu livro Genealogia da
Moral em 1887 em que critica a moral vigente a partir do estudo da origem genealógica dos

1
Sigmund Freud (1856-1939): psicanalista e médico neurologista austríaco, recebeu uma educação judaica não
tradicionalista e aberta à filosofia do Iluminismo. Foi influenciado por Schopenhauer, entretanto buscou criar
inicialmente uma psicologia científica sem influência religiosa o que resultou na fundação da psicanálise. Ele
interessou-se, inicialmente, pela histeria e, tendo como método a hipnose, estudou pessoas que apresentavam esse
quadro. Mais tarde, com interesses pelo inconsciente, pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e Leibniz
abandonando a hipnose em favor da associação livre. Estes elementos tornaram-se bases da Psicanálise. Freud, além
de ter sido um grande cientista e escritor, possui o título, assim como Darwin e Copérnico, de ter realizado uma
revolução no âmbito humano: a idéia de que somos movidos pelo inconsciente. Foi perseguido pelo nazismo e morreu
em Londres.
2
Joan Riviere (1883–1962): psicanalista inglesa, participou da fundação da British Psychoanalytical Society e ajudou
James Strachey na realização do glossário terminológico da tradução inglesa da Edição standard das obras completas
de S. Freud.
3
James Beaumont "Jembeau" Strachey (1887-1967): responsável pela edição e tradução inglesa da Edição
standard das obras completas de S. Freud.
4
Anna Freud (1885-1982): foi uma psicanalista filha de Sigmund Freud. Foi a sexta e última filha do casal Sigmund
e Martha Freud. Anna focou seu estudo principalmente no tratamento de crianças. Teve várias divergências com
Melanie Klein, psicanalista dissidente do freudismo ortodoxo, que fundou a escola inglesa.
5
Jayme Salomão: é um psicanalista, criador da editora Imago em 1967 com a idéia de publicar as obras de Freud,
coordenando a primeira tradução integral freudiana.
6
Walderedo Ismael de Oliveira: psicanalista e professor docente livre da Universidade Federal de Pernambuco e
chefe do Setor de Psicoterapia e Pesquisas Psicanalíticas.
7
Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900): filósofo alemão, sempre foi excelente aluno e queria ser pastor
protestante como seu pai e seus avós. Com a morte do pai e do irmão, cresceu na companhia da mãe, da irmã, de duas
4

princípios morais que regem o mundo ocidental. Existem muitas convergências entre o livro de
Freud e o de Nietzsche como, por exemplo, o uso do termo “má consciência”, a “introjeção da
agressividade”, que antes da consolidação das regras sociais era utilizado para fora e a “religião
como ilusão e fuga”. Nietzsche acreditava ser possível transmutar a moral vigente, criando um
mundo que afirma os valores da vida, destruindo os valores ascéticos, afirmando o indivíduo
como se é. Talvez aí esteja um distanciamento entre Nietzsche e a obra de Freud que defendia a
sublimação como forma de minimizar o sofrimento e enfrentamento dessa vida.
Posteriormente Herbert Marcuse8 (1898-1979) publica o livro Eros e Civilização em 1955
procurando construir um novo indivíduo para uma nova sociedade. Alguns livros indicados pelo
professor Samir para continuar o estudo sobre a crítica realizada por Freud à civilização foram a
Dialética do Esclarecimento de Theodor Adorno9 e Max Horkheimer10; alguns comentadores da
obra de Freud, como Renato Mezan11 com os livros Freud, Pensador da Cultura e Interfaces da

tias e da avó. Inquieto, amante das artes e crítico, estudou Filosofia e Teologia, mas se formou em Filologia se
dedicando a leitura de Schopenhauer e encaminhando-se para o ateísmo. Rompeu com Richard Wagner que era cristão
e continuava a defender os valores tradicionais. Nietzsche transmutou-se, passando a ser contra a moral tradicional e a
metafísica, defendendo a união da filosofia com a vida. Lou Salomé recusou sua proposta de casamento e aos 39 anos
ele voltou a viver com sua família, perdendo a razão devido à “paralisia progressiva”, “provavelmente de origem
sifilítica, a moléstia progrediu lentamente até a apatia e a agonia” (Ferez & Chauí, 1999, p.9).
8
Herbert Marcuse (1898-1979): filósofo heideggeriano-marxista teve grande influência das obras de Freud. A sua
crítica à sociedade unidimensional e aos seus instrumentos de repressão, acabaram por conduzi-lo a mostrar a
possibilidade de uma sociedade não repressiva, fundada sobre o princípio do prazer. Algumas das suas afirmações,
tornaram-se palavras de ordem da contestação juvenil. Marcuse nasceu em Berlim, numa família judaica. Estudou
nesta cidade. Desde muito cedo envolveu-se numa ação política. Em 1917-18 faz-se membro do Partido Social-
Democrata Alemão. Em 1919 participa na revolução de Berlim. Inicia então os seus estudos na Universidade de
Friburg, onde conhece Husserl e Heidegger. Em 1933, devido à ascensão do Nazismo é obrigado a fugir da Alemanha.
Reside algum tempo na Suíça, e depois em Paris onde trabalha com Adorno e Horkheimer, dois dos principais
pensadores da Escola de Frankfurt. O seu pensamento situa-se então no quadro do marxismo. Em 1934 chega aos
EUA, onde passa a residir. A partir desta época o seu pensamento revela uma crescente influência das idéias de Freud.
Ensina em várias universidades americanas (Columbia, Havard, San Diego, etc).
9
Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno (1903-1969): foi um filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão.
Foi membro da Escola de Frankfurt juntamente com Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen
Habermas e outros.
10
Max Horkheimer (1895-1973): foi um filósofo e sociólogo alemão. Como grande parte dos intelectuais da Escola
de Frankfurt, era judeu de origem, filho de um industrial - Moses Horkheimer -, e ele próprio estava destinado a dar
continuidade aos negócios paternos. Por intermédio de seu amigo Friedrich Pollock, Horkheimer associou-se em 1923
à criação do Instituto para a Pesquisa Social, do qual foi diretor, em 1931 sucedendo o historiador austríaco Carl
Grünberg. Teve como importante fonte de inspiração o filósofo alemão Schopenhauer de quem tinha um retrato no
escritório. Aproximou-se "obliquamente" do marxismo no final dos anos 30, mas segundo testemunhos da época
raramente citava os nomes de Marx ou de Lukács em discussões. Apenas com a emergência do nazismo, Horkheimer
se aproxima de fato de uma perspectiva crítica e revolucionária que o fará escrever, já diretor do Instituto para
Pesquisas Sociais, o ensaio - manifesto, Teoria Tradicional e Teoria Crítica (1937). Suas formulações, sobretudo
aquelas acerca da Razão Instrumental, junto com as teorias de Adorno e Marcuse compõem o núcleo fundamental
daquilo que se conhece como Escola de Frankfurt.
11
Renato Mezan: psicanalista, concluiu o doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo em 1981.
Atualmente é professor titular da Pontifica Universidade Católica de São Paulo. Publicou 33 artigos em periódicos
especializados, possui 16 capítulos de livros, 9 livros publicados, 99 itens de produção técnica. Orientou 32
dissertações de mestrado e 13 teses de doutorado na área de psicologia. Atua na área de psicologia, com ênfase em
tratamento e prevenção psicológica. Em seu currículo lattes os termos mais freqüentes na contextualização da
5

Psicanálise e no Brasil os livros e artigos de Joel Birman12 como na resenha, Mal-estar na


atualidade. Outros autores como Jürgen Habermas13 ligados à Escola de Frankfurt também
estudaram esse tema.

1.1- Nota do Editor Inglês, James Strachey – Pg.75 a 80


Pg. 75

O editor do livro afirma que o texto foi terminado em julho de 1929 e enviado para a
gráfica em novembro e publicado no final deste mesmo ano apesar de sua página de rosto constar
1930. Cita as edições de Viena na Áustria publicadas em alemão e a tradução em inglês. Lembra
outro livro de Freud O futuro de uma ilusão que foi terminado no outono de 1927 e que também
se trata de assuntos sociológicos.

produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: psicanálise, Freud, , sexualidade, história, interfaces,
adolescência, clínica, epistemologia e filosofia.
12
Joel Birman: possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/RJ, 1971), Mestre
em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ, 1976), Mestrado em Saúde Coletiva
pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/RJ, 1979), Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo
(USP/SP, 1984). Realizou seu Pós-Doutorado em Paris, no Laboratoire de Psichopathologie Fundamentale et
Psychanalyse (Université Paris VII). Membro de honra do Espace Analytique, instituição francesa de Psicanálise
dirigida por Maud Mannoni e Jöel Dor. Atualmente é professor titular / pesquisador da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (desde 1991) onde leciona e é pesquisador no programa de mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica.
Professor adjunto do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS-UERJ) desde
1986, atuando no mestrado e doutorado em Saúde Coletiva. Pesquisador no Collège International de Philosophie, em
Paris. Colabora com várias publicações especializadas, no Brasil e no exterior, e é autor de vários livros. Atuando
principalmente nos seguintes temas: psicanálise,Freud, feminilidade e sujeito.
13
Jürgen Habermas (1929-vivo): é um filósofo e sociólogo alemão. Licenciou-se em 1954, com uma tese sobre
Schelling (1775-1854), intitulado "O Absoluto e a História". De 1956 a 1959, foi colaborador de Theodor Adorno no
Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt. Em 1968, transferiu-se para Nova York, passando a lecionar na New Yorker
New School for Social Research. Em 1971, Habermas dirigiu o Instituto Max-Planck, em Starnberg, Baviera. Em
1983, transferiu-se para a Universidade Johan Wolfgang Goethe, de Frankfurt. Herdando as discussões da Escola de
Frankfurt, Habermas aponta a ação comunicativa como superação da razão iluminista transformada num novo mito
que encobre a dominação burguesa (razão instrumental). Para ele, importa cultivar o logos da troca de idéias,
opiniões e informações entre os sujeitos históricos estabelecendo o diálogo. Propõe, assim, duas abordagens teóricas
possíveis à sociedade: o sistema e o mundo da vida. Sistema refere-se à denominada 'reprodução material', regida pela
lógica instrumental (adequação de meios a fins). Mundo da vida refere-se à 'reprodução simbólica', ou seja, da rede de
significados que compõem determinada visão de mundo, atenham eles aos fatos objetivos, às normas sociais ou aos
conteúdos subjetivos. É conhecido o diagnóstico habermasiano da colonização do mundo da vida pelo sistema - a
crescente instrumentalização desencadeada pela modernidade, sobretudo com o surgimento do direito positivo, que
reserva o debate normativo aos técnicos e especialistas.
6

Pg. 76

O editor aborda a tradução para a etimologia das palavras “Das unglück in der kultur” que
foi mais bem traduzida como O mal-estar na civilização, apesar das diversas possibilidades de
tradução como, por exemplo, A infelicidade na civilização ou O desconforto do homem na
civilização.
Aponta a repressão14 devido às restrições impostas pelo processo da civilização, como
sendo causadora da neurastenia, que é definido como um “distúrbio mental caracterizado por
astenia psíquica, preocupação com a própria saúde, grande irritabilidade, cefaléia, alterações do
sono e fácil fatigabilidade. Mau humor com irritabilidade fácil” (Ferreira, 1999).

Pg. 77

O editor inglês cita que um dos fatores da causa da repressão orgânica histórica nos seres
humanos ocorreu devido à evolução da espécie dos primatas, que deixaram de movimentar-se
com a postura de quatro patas, substituindo-a por uma postura ereta e devido a isso foi substituído
o olfato pela visão como sentido dominante. Ele aborda o caso clínico de Freud, Homens dos
ratos15 e conclui que “as restrições da civilização serem algo imposto desde fora”.
Strachey relata que nos estudos de Freud sobre a psicologia do ego16, o conduziram ao
“superego17 e sua origem nas mais antigas relações objetais do indivíduo”.

14
Repressão: é a operação psíquica que pretende fazer desaparecer, da consciência, impulsos ameaçadores,
sentimentos, desejos, ou seja, conteúdos desagradáveis, ou inoportunos. Em sentido amplo, é uma operação psíquica
que tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável ou inoportuna: idéia, afeto, etc. Neste sentido,
o recalque seria uma modalidade especial de repressão. Em sentido mais restrito, designa certas operações do sentido
amplo, diferente do recalque: ou pelo caráter consciente da operação e pelo fato de o conteúdo reprimido se tornar
simplesmente pré-consciente e não inconsciente; ou, no caso da repressão de um afeto, porque este não é transposto
para o inconsciente mas inibido, ou mesmo suprimido.
15
O homem dos ratos: é o pseudônimo de um jovem jurista (Ernst Lanzer 1878-1914) inteligente, corajoso,
simpático e muito doente, que foi tratado por Sigmund Freud durante nove meses a partir de outubro de 1907. Freud
falou em cinco oportunidades nas reuniões da Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, apresentou o caso no
primeiro congresso da IPA em 1908 num relato verbal de cinco horas e publicou um resumo em 1909 com o título de
Notas sobre um caso de neurose obsessiva. Freud tratou Ernst, cujo trabalho foi publicado como "Homem dos ratos"
(1909). Freud procurou formular, a partir do estudo do caso, uma explicação sobre a neurose obsessivo-compulsiva à
luz da teoria psicossexual do desenvolvimento. Para tanto, realizou uma descrição rica e precisa de rituais e obsessões
que seu paciente apresentava, buscando interpretá-los à luz de sua teoria. Este foi o segundo grande tratamento
psicanalítico conduzido por Freud, depois de Dora e antes do Homem dos lobos. O caso Homem dos ratos foi
considerado a única terapia perfeitamente bem-sucedida de Freud.
16
Ego ou eu: é o centro da consciência, é a soma total dos pensamentos, idéias, sentimentos, lembranças e percepções
sensoriais. Freud descreveu o ego como uma parte do id, que por influência do mundo exterior, ter-se-ia diferenciado.
É a parte mais superficial do indivíduo, a qual, modificada e tornada consciente, tem por funções a comprovação da
realidade e a aceitação, mediante seleção e controle, de parte dos desejos e exigências procedentes dos impulsos que
emanam do indivíduo. Obedece ao princípio da realidade, ou seja, à necessidade de encontrar objetos que possam
satisfazer ao id sem transgredir as exigências do superego. O ego, diz Freud, é "um pobre coitado", estando reprimido
entre três escravidões: os desejos insaciáveis do id, a severidade repressiva do superego, e os perigos do mundo
exterior. Por esse motivo, a forma fundamental da existência para o ego é a angústia (sinal do Eu). Se submeter ao id,
torna-se imoral e destrutivo; se submeter ao superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação
7

Pg. 78

James Strachey afirma que o tema central do texto que Freud tem o “sentimento de
culpa 18
como o mais importante problema no desenvolvimento da civilização”. O instinto de
agressão, destruição, ou pulsão de morte19 como segundo tema mais importante.
O editor menciona o texto de Freud, Três ensaios sobre a teoria da sexualidade que
analisa o instinto de agressão vinculado ao instinto sexual como no sadismo, sendo que “o
sadismo20 corresponderia a um componente agressivo do instinto sexual que se tornou
independente e exagerado e, por deslocamento, usurpou a posição dominante”.
Strachey cita Freud que declarou que “o impulso da crueldade surge do instinto de
domínio” e menciona o caso clínico de Freud, o Pequeno Hans21.

Pg.79

O editor inglês acredita que Freud relutou em aceitar que o instinto agressivo era
independente da libido22, porém esta idéia foi auxiliada pela hipótese do narcisismo23.

insuportável; se não se submeter ao mundo, será destruído por ele. Cabe ao ego encontrar caminhos para a angústia
existencial.
17
Superego ou supereu: é uma das instâncias da personalidade tal como Freud a descreveu no quadro da sua segunda
teoria do aparelho psíquico, sendo o seu papel é assimilável ao de um juiz ou de um censor relativamente ao ego.
Freud vê na consciência moral, na auto-observação, na formação de ideais, funções do superego. Classicamente, o
superego é definido como herdeiro do complexo de Édipo; constitui-se por interiorização das exigências e das
interdições parentais. É a cultura, são as leis que causam a repressão, particularmente, a repressão sexual. Enquanto
consciência pessoal, o Superego age tanto para restringir, proibir ou julgar a atividade consciente, porém, ele também
pode agir inconscientemente. As restrições inconscientes são indiretas e podem aparecer sob a forma de compulsões
ou proibições. O superego manifesta-se à consciência indiretamente, sob forma da moral, como um conjunto de
interdições e deveres, e por meio da educação, pela produção do "eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e virtuosa.
18
Nietzsche no livro Genealogia da Moral fala sobre ressentimento como o principal problema para o homem.
19
Pulsão de Morte (tânato, thanatos): na mitologia grega, Tânatos era uma divindade masculina que personifica a
Morte, enquanto Hades reinava sobre os mortos no submundo. Tânatos era irmão gêmeo de Hipnos, o Sono e filho de
Nix, a Noite e Érebo, as trevas. Era representado como uma nuvem prateada ou um homem de olhos e cabelos
prateados. Tânatos tem um pequeno papel na mitologia, sendo eclipsado por Hades. Em Psicologia, Tânatos
(psicologia) é um impulso urgente e inconsciente de morrer. É a "pulsão de morte" em Freud.
20
Sadismo: em psicologia é considerada uma perversão sexual em que a satisfação erótica advém de atos de violência
ou crueldade física ou moral infligidos ao parceiro sexual; algolagnia ativa. Pode-se também considerar como o prazer
com o sofrimento alheio.
21
Pequeno Hans: publicado em 1909, com o título de uma Análise de uma Fobia num Menino de Cinco Anos, cujo
material foi fornecido pelo pai do pequeno paciente à Freud. O menino tinha uma fobia de cavalos e, como
conseqüência disso, recusava-se a sair à rua. Expressava o temor de que o cavalo entrasse no quarto e o mordesse e
viu-se que isso seria o castigo por um desejo de que o cavalo caísse (isto é, morresse). Depois de ter sido removido o
medo do menino pelo pai através de uma confiança renovada, tornou-se evidente que ele estava lutando contra desejos
que tinham como tema a idéia de o pai estar ausente (partindo para uma viagem, morrendo). Encarava o pai como um
competidor nos favores da mãe, para quem eram dirigidos os obscuros prenúncios de seus desejos sexuais nascentes.
Desse modo, estava situado na atitude típica de uma criança do sexo masculino para com os pais a que foi dado o
nome de ‘complexo de Édipo’ e que em geral é considerado como o complexo nuclear das neuroses. Freud identifica o
caso com uma relação com o totemismo, deslocando alguns de seus sentimentos do pai para um animal, o cavalo.
22
Libido (do latim, significando "desejo" ou "anseio"): é caracterizada como a energia aproveitável para os
instintos de vida. De acordo com Freud, o ser humano apresenta uma fonte de energia separada para cada um dos
instintos gerais. A teoria psicanalítica se interessa em compreender onde a Libido foi catexizada inadequadamente.
8

Cita a princesa Marie Bonaparte24, e em uma nota de rodapé seu amigo Adler25 e o
biógrafo Ernest Jones26.

Pg. 80

James Strachey finaliza sua nota acreditando que esta obra ultrapassa as fronteiras da
sociologia27, acredito que devido a abordagem na área da sexualidade, do inconsciente humano e
histórico. Afirma que esta obra também foi incluída no livro de Rickman28.

1.2- Capítulo I – Pg. 81 a 91.


 Sentimento Oceânico – Ilimitabilidade
 Princípio de Prazer X Princípio da Realidade

Pg. 81

Freud inicia seu livro analisando os valores da vida e afirma que “as pessoas comumente
empregam falsos padrões de avaliação – isto é, de que buscam poder, sucesso e riqueza para

23
Narcisismo: descreve a característica de personalidade de paixão por si mesmo. A palavra é derivada da Mitologia
Grega. Narciso era um jovem e belo rapaz que rejeitou a ninfa Eco, que desesperadamente o desejava. Como punição,
foi amaldiçoado de forma a apaixonar-se incontrolavelmente por sua própria imagem refletida na água. Incapaz de
levar a termos sua paixão, Narciso suicidou-se por afogamento. Freud acreditava que algum nível de narcisismo
constitui uma parte de todos desde o nascimento.
24
Marie Laetitia Bonaparte (1882-1962): sobrinha-neta de Napoleão, casou em 1907 com o príncipe Georges da
Grécia. Órfã de mãe, a menina viveu uma infância reclusa e uma adolescência dolorosa. Em 1925, à beira da
depressão e acreditando-se frígida, ela procurou Freud, de quem já conhecia as teorias. Durante o processo de análise
com o psicanalista nasce entre eles uma grande amizade. Ao mesmo tempo em que assume seus papéis de alteza real,
esposa e mãe, Marie dedica-se aos estudos. Elegante e culta, ela se torna uma psicanalista renomada e divulgadora das
teorias de Freud. Quando Hitler invade a Áustria, Freud encontra-se em perigo. Marie viaja para Viena e não poupa
esforços para retirá-lo da cidade. Se não fosse a rapidez e a ajuda financeira da princesa, o seu velho e venerado mestre
seria enviado para um campo de concentração. Freud a salvou de suas neuroses e Marie o salvou dos nazistas.
25
Alfred Adler (1870-1937): psicólogo austríaco, filho de judeus húngaros, formou-se em medicina, psicologia e
filosofia pela Universidade de Viena. Praticou clínica geral antes de se dedicar à psiquiatria. Em 1902 foi trabalhar
com Sigmund Freud, realizando pesquisas no campo da psicanálise. Mais tarde, desliga-se dele por considerar o fator
sexual superestimado por Freud. Para Adler, o meio social e a preocupação contínua do indivíduo em alcançar
objetivos preestabelecidos são os determinantes básicos do comportamento humano. Depois, passou a se preocupar
com a orientação da criança, como método preventivo na psicologia médica. Com o apoio do governo austríaco, abriu
centros de orientação infantil em escolas de Viena, Berlim e Munique. Entrevistas públicas de orientação familiar,
seguidas de discussões, disseminaram seus métodos e teorias, especialmente entre educadores. Realizou inúmeras
conferências na Europa e Estados Unidos. Em 1930, seus esforços para divulgar sua doutrina de interesse social diante
do totalitarismo europeu, marcaram-no mais como pregador do que como cientista. Morreu quando se encontrava em
Aberdeen, Escócia, ministrando um curso de psicologia. Merece lugar de destaque no movimento psicanalítico pela
importância que deu ao fator da agressividade.
26
Ernest Jones (1879-1958): médico britânico, cunhou a expressão "racionalização" no Primeiro Congresso
Psicanalítico Internacional, realizado em 1908, em Salzburgo. Político, presidiu a Associação Psicanalítica
Internacional, mediou as divergências entre Melanie Klein e Anna Freud e foi influente biógrafo de Sigmund Freud.
27
Sociologia: é o estudo objetivo das relações sociais, ou seja, das relações que só se estabelecem com fundamento na
coexistência social, as quais se concretizam em normas, leis, valores e instituições consciente ou inconscientemente
incorporada pelos indivíduos que constituem a sociedade.
28
John Rickman (1880-1951): psicanalista inglês trabalhou com Freud e publicou o livro O desenvolvimento da
teoria psicanalítica das psicoses em 1928.
9

elas mesmas e os admiram nos outros, subestimando tudo aquilo que verdadeiramente tem valor
na vida”.
No seu texto O futuro de uma ilusão de 1927, Freud tratou a religião como sendo uma
ilusão, entretanto seu amigo Romain Rolland29 apesar de concordar com seu ponto de vista,
acreditava que Freud não tinha “apreciado corretamente a verdadeira fonte da religiosidade”,
que era a “sensação de ‘eternidade’, um sentimento de algo ilimitado, sem fronteiras –
‘oceânico’, por assim dizer. Esse sentimento, acrescenta, configura um fato puramente subjetivo,
e não um artigo de fé”.

Pg. 82

Romain Rolland acreditava que “uma pessoa, embora rejeite toda crença e toda ilusão,
pode corretamente chamar-se a si mesma de religiosa com fundamento apenas nesse sentimento
oceânico”.
Em nota de rodapé: cita Romain Rolland e Christian Dietrich Grabbe30.

Pg. 83

Freud continua sua investigação sobre o sentimento oceânico que deveria ter uma
“explicação psicanalítica – isto é, genética – para esse sentimento”.
Ele acredita que “não há nada de que possamos estar mais certos do que do sentimento de
nosso eu, do nosso próprio ego. O ego nos aparece como algo autônomo e unitário”. Entretanto o
ego que é consciente tem uma continuidade para dentro da mente, no seu inconsciente “sem
qualquer delimitação nítida, por uma entidade mental inconsciente que designamos como id31,
à qual o ego serve como uma espécie de fachada”. O ego tem linhas de demarcação com o mundo
exterior, exceto quando aparece o sentimento de amor, em que “a fronteira entre ego e objeto
ameaça desaparecer”.

29
Romain Rolland (1866-1944): foi um novelista, biógrafo e músico francês, ganhou o Nobel de Literatura em 1915
e que citamos as seguintes idéias: "Quando a ordem é injusta, a desordem é já um princípio de justiça". "A felicidade
está em conhecer os nossos limites e em apreciá-los".
30
Christian Dietrich Grabbe (1801-1836): dramaturgo alemão.
31
Id ou isso: é concebido como um conjunto de conteúdos de natureza pulsional, desejos imediatos e de ordem
inconsciente. É o termo usado para designar uma das três instâncias diferenciadas por Freud na sua segunda teoria ou
segunda tópica do aparelho psíquico. Possui equivalência topográfica com o inconsciente da primeira tópica embora,
no decorrer da obra de Freud, os dois conceitos, id e inconsciente apresentem sentidos diferenciados. Formado por
instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes e regidos pelo princípio do prazer, que exige satisfação imediata.
É a energia dos instintos e dos desejos em busca da realização desse princípio do prazer. É a libido. Em suma, as
pulsões são de natureza sexual e a sexualidade não se reduz ao ato genital, mas a todos os desejos que pedem e
encontram satisfação na totalidade de nosso corpo.
10

Em nota de rodapé: o editor, na sua interpretação, cita o emprego diferente de Freud dos
termos ego e eu (self)32 no texto O ego e o id. Cita também o caso clínico de Schreber33

Pg. 84

Freud acredita que as “fronteiras do ego não são permanentes”, estando o ego sujeito a
distúrbios, afetando a vida mental, ou seja, as percepções, pensamentos e sentimentos.
Para Freud, uma “criança recém-nascida ainda não distingue o seu ego do mundo
externo34”. O ego passa por um processo de desenvolvimento em que em que a criança “aprende
gradativamente a fazê-lo, reagindo a diversos estímulos”. Freud acrescenta que:
Ela deve ficar fortemente impressionada pelo fato de certas fontes de excitação, que
posteriormente identificará como sendo os seus próprios órgãos corporais, poderem provê-
la de sensações a qualquer momento, ao passo que, de tempos em tempos, outras fontes
lhe fogem – entre as quais se destaca a mais desejada de todas, o seio da mãe –, só
reaparecendo como resultado de seus gritos de socorro (1974, p.84).

Em nota de rodapé são citados os psicólogos Sándor Ferenczi35 (1873-1933) e Federn36.


Com os comentários e notas de James Strachey, cita os artigos Navegação (1925h), Pulsões e
suas vicissitudes (1915c), A interpretação de sonhos (1900a) e o Projeto (1895).

32
Como observação pessoal, nos meios psicanalíticos lacanianos, considera-se a tradução de ego como eu.
33
Caso Schreber: o doutor em Direito Daniel Paul Schreber escreveu sua própria história clínica e publicou-a no livro
Memórias de um Doente dos Nervos, em 1903, e despertou considerável interesse entre os psiquiatras. As Memórias
de Schreber só parecem ter atraído a atenção de Freud no verão de 1910. Sabe-se que falou sobre elas e sobre todo o
tema da paranóia durante sua viagem à Sicília, com Ferenczi, em setembro desse ano. O ‘Pós-escrito’ foi lido perante
o Terceiro Congresso Psicanalítico Internacional em 22 de setembro de 1911, e publicado no início do ano seguinte.
Freud atacara o problema da paranóia numa fase muito prematura de suas pesquisas em psicopatologia. Em 24 de
janeiro de 1895, alguns meses antes da publicação dos Estudos sobre a Histeria, enviou a Fliess longo memorando
sobre o assunto. Este incluía uma breve história clínica e um exame teórico que visava a estabelecer dois pontos
principais: que a paranóia é uma neurose de defesa e que seu mecanismo principal é a projeção.
34
Este fato é o que distingue o Princípio do Prazer do Princípio da Realidade. Para David E. Zimerman, em
“‘Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental’ (1911), Freud mostrou que o bebê, na vigência do
princípio de prazer, diante da ausência da mãe, utiliza o recurso de uma ‘satisfação alucinatória do desejo’. Porém à
medida que a alucinação do seio não satisfaz sua fome, ele vai sendo obrigado a aceitar o princípio da realidade, de
modo a desenvolver as capacidades de espera, postergação da satisfação, antecipação da mãe que aparecerá mais tarde,
bem como ele utilizará com mais maturidade seus órgãos sensoriais para fazer uma aproximação com a realidade, no
lugar do imaginário” (2001, p.354).
35
Sándor Ferenczi (1873-1933): médico psiquiatra, psicanalista húngaro, originário de uma família de judeus
poloneses imigrantes e o clínico mais talentoso da história do freudismo. Estava ligado a Freud, desde1906, sendo o
discípulo favorito, e um dos raros amigos, é com E. Jones e K. Abraham, um dos maiores colaboradores para o
desenvolvimento da psicanálise fora da Áustria. O sucesso das idéias freudianas na Hungria permitiu que Ferenczi
abrisse uma clínica e até mesmo, durante a curta duração do governo Bela Kun, que ensinasse psicanálise na
universidade. Porém, a partir de 1923, começam a surgir divergências entre Freud e Ferenczi, alimentadas pela
complexidade dos vínculos afetivos existentes entre eles.
36
Paul Federn (1871-1950): médico psiquiatra e psicanalista norte-americano, tornou-se um seguidor de Freud junto
com Alfred Adler, Wilhelm Stekel e Rudolf Reitler. Interessou-se pela análise de fenômenos sociais.
11

Pg. 85

Freud aborda a alternância que ocorre entre o princípio do prazer37 que afasta, realiza a
fuga e o “desengajamento do ego com relação à massa geral de sensações” e o princípio de
realidade38 que “para o reconhecimento de um ‘exterior’, de um mundo externo – é
proporcionado pelas freqüentes, múltiplas e inevitáveis sensações de sofrimento e desprazer”.
Freud então acrescenta que:
Surge, então, uma tendência a isolar do ego tudo que pode tornar-se fonte de tal desprazer,
a lançá-lo para fora e a criar um puro ego em busca de prazer, que sofre o confronto de um
‘exterior’ estranho e ameaçador (1974, p.85).

O princípio da realidade possibilita a diferenciação entre “o que é interno – ou seja, que


pertence ao ego – e o que é externo – ou seja, que emana do mundo externo”. Tem também a
“finalidade prática de nos capacitar para a defesa contra sensações de desprazer”, é como se
criássemos uma força para enfrentar a realidade do dia-a-dia, aceitando os fatos e os momentos
de desprazer com maior naturalidade39. E Freud acrescenta que:
Desse modo, então, o ego se separa do mundo externo. Ou, numa expressão mais correta,
originalmente o ego inclui tudo; posteriormente, separa, de si mesmo, um mundo externo.
(1974, p.85).

A técnica do princípio da realidade é tentada ser executada pelo ego contra o id, porém é
fonte de doenças neuróticas como afirma Freud:
A fim de desviar certas excitações desagradáveis que surgem do interior, o ego não pode
utilizar senão os métodos que utiliza contra o desprazer oriundo do exterior, e este é o
ponto de partida de importantes distúrbios patológicos (1974, p.85).

Em nota de rodapé são realizados comentários sobre o Projeto e Dois princípios do


funcionamento mental.

Pg. 86
Freud concorda com o seu amigo Romain Rolland com o sentimento oceânico na
existência um sentimento de “ilimitabilidade e o de um vínculo com o universo”, entretanto este

37
Princípio do prazer: é a atividade psíquica que evita o desprazer e busca o prazer. Como princípio econômico, o
desprazer está ligado ao aumento das quantidades de excitação e o prazer à sua redução.
38
Princípio de realidade: é o princípio que rege o funcionamento psíquico e corrige as conseqüências do princípio de
prazer, em função das condições impostas pelo mundo exterior. O princípio do prazer busca a satisfação pelos
caminhos mais curtos, mesmo que sejam alucinatórios, sendo que o princípio de realidade vai regular essa busca,
engajando-a nos necessários desvios.
39
Nietzsche defende que devemos ser o que se é, amando todos os fatos (amor fati), o que as pessoas consideram
como bons ou maus, estando para além do bem e do mal (super homem), pois não existe outra possibilidade de ser
(teoria do eterno retorno).
12

sentimento está presente no conteúdo ideacional na vida mental de muitas pessoas como um
sentimento primário do ego.
Apesar de Freud não citar nominalmente Charles Darwin 40, ele concorda com a teoria da
evolução das espécies, e acredita que:
No reino animal, atemo-nos à opinião de que as espécies mais altamente desenvolvidas se
originaram das mais baixas; no entanto, ainda hoje, encontramos em existência todas as
formas simples (1974, p.85).

Freud faz uma analogia entre a teoria da evolução de Darwin com a evolução da mente e
considera que em sentido quantitativo, muitos impulsos instintivos permaneceram inalterados e
outros sofreram modificações posteriores, e acrescenta que:
No domínio da mente, por sua vez, o elemento primitivo se mostra tão comumente
preservado, ao lado da versão transformada que dele surgiu, que se faz desnecessário
fornecer exemplos como prova.

Pg. 87
Freud acredita que não existe esquecimento, ou seja, não existe destruição do resíduo
mnêmico, pois “na vida mental, nada do que uma vez se formou pode perecer” e que de alguma
maneira tudo é preservado e que em determinadas circunstâncias, pode ser trazido de volta, por
exemplo, através do processo de regressão41.
Como se fosse um arqueólogo, que busca desvelar a história pelos restos e ruínas, Freud
acredita que podemos investigar e quem sabe recuperar restos psíquicos. Ele lembra a história de
Roma com as ruínas soterradas em várias épocas como a Roma Quadrata sediada sobre Palatino,
depois os Septimontium, o Muro de Sérvio e o muro construído na república do imperador
Aureliano.
Em nota de rodapé, cita o livro do historiador Hugo Last42.

40
Charles Robert Darwin (1809-1882): foi um biólogo e naturalista britânico, conhecido como o formulador da
Teoria da Evolução que explica como se deu a evolução das espécies por meio da seleção natural e sexual.
41
Regressão: é o processo psíquico em que o Ego recua, fugindo de situações conflituosas atuais, para um estágio
anterior. É o caso de alguém que depois de repetidas frustrações na área sexual, regrida, para obter satisfações, à fase
oral, passando a comer em excesso. No seu sentido temporal, a regressão supõe uma sucessão genética e designa o
retorno do sujeito a etapas ultrapassadas do seu desenvolvimento (fases libidianis, relações de objeto, identificações,
etc.). No sentido formal, a regressão designa a passagem a modos de expressão e de comportamento de nível inferior
do ponto de vista da complexidade, da estruturação e da diferenciação. A regressão é uma noção de uso muito
freqüente em psicanálise e na psicologia contemporânea; é concebida, a maioria das vezes, como um retorno a formas
anteriores do desenvolvimento do pensamento, das relações de objeto e da estruturação do comportamento.
42
O livro referenciado The Cambridge Ancient History (1928): The Founding of Rome foi escrito por Nicholas Purcell
e editado por Alan K. Bowman, Peter Garnsey, Dominic Rathbone. Não encontramos a referência a Hugo Last.
13

Pg. 88

Como nos sítios históricos de Roma que é preservado o passado que se encontra enterrado
no solo da cidade, a “habitação humana” que Freud considera como uma entidade psíquica, o
seu passado longo e abundante também tem suas ruínas preservadas.

Pg. 89

É difícil o domínio das características da vida mental através das representações,


comparações ou fantasias.
Podemos realizar uma comparação entre o passado de uma cidade com o passado da
mente, com a “condição de que o órgão da mente tenha permanecido intacto e que seus tecidos
não tenham sido danificados por trauma ou inflamação”. Existe uma diferença básica entre a
cidade e a mente, pois a primeira sofre substituições de suas edificações, mesmo em períodos
pacíficos do desenvolvimento.
Na formação do ser humano, as “primeiras fases do desenvolvimento já não se acham, em
sentido algum, preservadas; foram absorvidas pelas fases posteriores”, entretanto “só na mente é
possível a preservação de todas as etapas anteriores”.

Pg. 90

Freud faz uma ressalva que é “sempre possível que, mesmo na mente, algo do que é
antigo seja apagado ou absorvido”, entretanto ele considera uma “regra, e não exceção, o passado
achar-se preservado na vida mental”.
O sentimento oceânico, remonta ao passado em uma “fase primitiva do sentimento do
ego” em que não há distinção entre o indivíduo e o mundo, porém questiona: “que direito tem
esse sentimento de ser considerado como a fonte das necessidades religiosas”. Freud acredita que
a “origem da atitude religiosa pode ser remontada, em linhas muito claras, até o sentimento de
desamparo infantil” e foi posteriormente vinculado à religião.

Pg. 91

Freud relata que outro amigo seu através de uma sabedoria do misticismo, pode realizar
“regressões a estados primordiais da mente que há muito tempo foram recobertos”. Freud realiza
uma crítica a estes estados e obscuros transes e êxtases e cita as palavras de um personagem
14

mergulhador do filósofo Schiller43 traduzidas na nota de rodapé: “Regozije-se aquele que aqui em
cima respira, na rósea luz!”.

1.3- Capítulo II – Pg. 92 a 104


 Técnicas da arte de viver
 Métodos para ser feliz
Pg. 92

Para Freud, cita o seu livro O futuro de uma ilusão de 1927 e afirma que:
...o homem comum entende como sua religião – o sistema de doutrinas e promessas que,
por um lado, lhe explicam os enigmas deste mundo com perfeição invejável, e que, por
outro, lhe garantem que uma Providência cuidadosa velará por sua vida e o compensará,
numa existência futura, de quaisquer frustrações que tenha experimentado aqui (1974,
p.92).

A religião é entendida por Freud como algo paternalmente infantil, porém “a grande
maioria dos mortais nunca será capaz de superar essa visão de vida”. Alguns filósofos buscaram
“salvar o Deus da religião, substituindo-o por um princípio impessoal, obscuro e abstrato44”.
Alguns poetas vinculam a religião à arte e à ciência.

43
Johann Christoph Friedrich von Schiller (1759-1805): foi um poeta, dramaturgo, filósofo e historiador alemão,
que juntamente com Goethe foi um dos líderes do movimento literário romântico alemão Sturm und Drang
(Tempestade e Ímpeto). Em 1775 a escola se muda para Stuttgart, onde Schiller muda para o estuda da Medicina.
Visita Weimar em 1787, onde se torna amigo de Herder e Goethe. Uma de suas mais famosas poesias, a "An die
Freude" (Ode à Alegria) com a Divina exaltação a fraternidade humana, inspirou Ludwig van Beethoven a escrever
Nona sinfonia de Beethoven.
44
Segundo o Profº Samir, esta visão é parecida com a do filósofo Espinosa.
Baruch Spinoza (1632-1677): foi um grande filósofo racionalista moderno holandês, de uma família judaica
portuguesa. Em 1656, foi excomungado da comunidade judaica, pois defendia o panteísmo, ou seja, que Deus e
Natureza eram dois nomes para a mesma realidade. Esta formulação é uma solução panpsíquica que historicamente
remete ao problema da mente-corpo e é conhecida como o monismo neutro. Espinoza acreditava profundamente no
determinismo e propunha que absolutamente tudo o que acontece, ocorre através da operação da necessidade. Para ele,
mesmo o comportamento humano é totalmente determinado, sendo a liberdade a nossa capacidade de saber que somos
determinados e compreender porque agimos como agimos. A filosofia de Espinoza tem muito em comum com o
estoicismo, mas difere muito dos estóicos num aspecto importante: ele rejeitou fortemente a afirmação de que a razão
pode dominar a emoção. Pelo contrário, ele defendeu que uma emoção pode ser ultrapassada apenas por uma maior
emoção. Ele criticou a ortodoxia religiosa, defendendo que Deus é o mecanismo imanente da natureza e do universo, e
a Bíblia uma obra metafórico-alegórica usada para ensinar a natureza de Deus, duas proposições baseadas numa
argumentação cartesiana. Espinoza defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a saber, a
única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades menores constituem modalidades ou
modificações. Ele afirmou que esse "Deus sive Natura" ("Deus ou Natureza") era um ser de infinitos atributos, entre os
quais a extensão e o pensamento eram dois. Sua visão da natureza da realidade, então, parece tratar os mundos físicos
e mentais como dois diferentes, submundos paralelos; que nem se sobrepõem nem interagem.
15

Pg. 93

Freud trabalha as satisfações substitutivas e afirma que:


As satisfações substitutivas, tal como as oferecidas pela arte, são ilusões, em contraste
com a realidade; nem por isso, contudo, se revelam menos eficazes psiquicamente, graças
ao papel que a fantasia assumiu na vida mental. As substâncias tóxicas influenciam nosso
corpo e alteram a sua química. (1974, p.93).

Freud afirma a inevitabilidade do sofrimento45 na vida e afirma que:


A vida, tal como a encontramos, é árdua demais para nós; proporciona-nos muitos
sofrimentos, decepções e tarefas impossíveis. A fim de suportá-la, não podemos dispensar
as medidas paliativas. ‘Não podemos passar sem construções auxiliares’ (Ibidem).

Cita: Theodor Fontane46, Voltaire47, Goethe48, Wilhelm Busch49,

Pg. 94

Para Freud, “só a religião é capaz de resolver a questão do propósito da vida50”, porém “se
fosse demonstrado que a vida não tem propósito, esta perderia todo valor51 para eles”.

45
Segundo o Profº Samir e alguns colegas como Emília, Freud tem uma visão pessimista da vida, acredito que
parecida com a de Schopenhauer.
46
Theodor Fontane (1819-1898): estudou Farmácia, tendo exercido essa profissão em Leipzig e Berlim. A partir de
1848 dedica-se ao jornalismo e à escrita de relatos de guerra. Iniciou-se na literatura com dois volumes de poesia,
Gedichte (1851) e Balladen (1861), e foi quase com 60 anos que se iniciou no romance de costumes, género do qual
foi um dos primeiros mestres na Alemanha. Publicou, entre outros, L'Adultera (1882), Irrungen, Wirrungen (1888),
Frau Jenny Treibel (1893), e a sua obra-prima, Effi Briest (1895). Publicou ainda textos autobiográficos, Meine
Kinderjahre (1894) e Von Zwanzig bis Dreissig (1898).
47
François-Marie Arouet (1694-1778): conhecido pelo pseudônimo Voltaire, foi um poeta, ensaísta, dramaturgo,
filósofo e historiador iluminista francês. Iniciado maçom em 1778, na Loja Maçônica "Les Neuf Soeurs", da cidade
Paris. Tinha a visão de que não importava o tamanho de um monarca, deveria antes de punir um servo, passar por
todos os processos legais, e só então executar a pena, se assim consentido por lei. As idéias presentes nos escritos de
Voltaire, estruturam uma teoria coerente, que em muitos aspectos expressa a perspectiva do Iluminismo. Defendia a
submissão ao domínio da lei, baseava-se em sua convicção de que o poder devia ser exercido de maneira racional e
benéfica. Por ter convivido com a liberdade inglesa, não acreditava que um governo, e um Estado ideais justos e
tolerantes, fossem utópicos. Não era um democrata, e acreditava que as pessoas comuns estavam curvadas ao
fanatismo e à superstição. Para ele, a sociedade devia ser reformada mediante o progresso da razão e o incentivo à
ciência e tecnologia. Introduziu várias reformas na França, como a liberdade de imprensa, um sistema imparcial de
justiça criminal, tolerância religiosa, tributação proporcional e redução dos privilégios da nobreza e do clero.
48
Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832): escritor, cientista e filósofo alemão. Autor da grande obra literária
Fausto e uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e
inícios do século XIX. Juntamente com Schiller foi um dos líderes do movimento literário romântico alemão Sturm
und Drang.
49
Wilhelm Busch (1832-1908): foi um escritor, pintor, caricaturista e cartunista alemão, considerado o precursor das
Histórias em Quadrinhos (banda desenhada).
50
É uma teleologia, ou seja, prega uma finalidade para a vida, existindo um determinismo na religião.
51
Nietzsche também trabalha esta questão na Genealogia da moral, mostrando a necessidade de religião contra o
sentimento do niilismo europeu, que a civilização teve dificuldade de enfrentá-lo.
16

Freud acredita que a felicidade é a “ausência de sofrimento e de desprazer”, sendo que


este é “o que decide o propósito da vida é simplesmente o programa do princípio do prazer”
que é o princípio que “domina o funcionamento do aparelho psíquico”.

Pg. 95

Segundo Freud, a infelicidade na nossa vida é constante e a felicidade, necessariamente é


feita de momentos e cita Goethe que afirma que: “nada é mais difícil de suportar que uma
sucessão de dias belos”, pois quando “qualquer situação desejada pelo princípio do prazer se
prolonga, ela produz tão-somente um sentimento de contentamento muito tênue”.
O sofrimento nos ameaça através do nosso corpo, da decadência e da dissolução. Estamos
acostumados a moderar a nossa felicidade, assim como o “princípio do prazer, sob a influência do mundo
externo, se transformou no mais modesto princípio da realidade”.

Pg. 96

Freud continua sua pesquisa com o objetivo de evitar o sofrimento e obter o prazer. A
satisfação imediata, porém pode significar “colocar o gozo antes da cautela, acarretando logo o
seu próprio castigo”.
Contra o sofrimento, podemos escolher o “isolamento voluntário, o manter-se à distância das
outras pessoas”, que é a felicidade da quietude; o método químico, ou seja, a intoxicação com drogas que
provoca “sensações prazerosas, que nos tornamos incapazes de receber impulsos desagradáveis”.

Pg. 97

Analisa o efeito das drogas com efeitos semelhantes ao estado patológico da mania52, afastando-se
“da pressão da realidade e encontrar refúgio num mundo próprio”. Freud afirma então que:
Assim como a satisfação do instinto equivale para nós à felicidade, assim também um
grave sofrimento surge em nós, caso o mundo externo nos deixe definhar, caso se recuse a
satisfazer nossas necessidades (1974, p.97).

A ioga para Freud é uma forma de encontrar a felicidade através do aniquilamento dos
instintos.

52
Mania: Síndrome mental caracterizada por exaltação eufórica do humor, excitação psíquica, hiperatividade, insônia,
etc., e, em certos casos, agitação motora em grau variável. Uma das duas fases alternativas da psicose maníaco-
depressiva.
17

Pg. 98

O princípio da realidade é uma forma de controle da vida instintiva, entretanto existe um


obstáculo a ser enfrentado que é:
O sentimento de felicidade derivado da satisfação de um selvagem impulso instintivo não
domado pelo ego é incomparavelmente mais intenso do que o derivado da satisfação de
um instinto que já foi domado (1974, p.97).

Uma outra forma de afastar o sofrimento seria a sublimação dos instintos, reorientando
os objetos instintivos de um prazer imediato sexual, deslocando a satisfação da libido para uma
produção intelectual ou para a criação artística.

Pg. 99

A busca de satisfação das pessoas no trabalho ou em processos psíquicos internos como nas
ilusões, nas fantasias.

Pg. 100

O louco é “alguém que, a maioria das vezes, não encontra ninguém para ajudá-lo a tornar real o
seu delírio” e constrói um outro mundo próprio e exclusivo para viver. O “paranóico, corrige algum
aspecto do mundo que lhe é insuportável pela elaboração de um desejo e introduz esse delírio na
realidade”. As “religiões da humanidade devem ser classificadas entre os delírios de massa” em que
através de uma proteção contra o sofrimento faz um remodelamento delirante da realidade.

Pg. 101

Freud continuar a sua busca de enumerar os “métodos pelos quais os homens se esforçam
para conseguir a felicidade e manter afastado o sofrimento”, ou a procura pela “fuga do
desprazer”, que compõe as “técnicas da arte de viver”.
O amor sexual, ou seja, a procura da satisfação em amar e ser amado, é considerado por
Freud como “um modelo para nossa busca da felicidade”, entretanto existe um risco:
É que nunca nos achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos, nunca
tão desamparadamente infelizes como quando perdemos o nosso objeto amado ou o seu
amor. Isso, porém, não liquida com a técnica de viver baseada no valor do amor, como um
meio de obter felicidade (1974, p.101).

A busca da beleza também pode ser uma busca de obter felicidade na vida, considerada
como uma atitude estética.
18

Pg. 102

A beleza53 é em sua finalidade um impulso inibido, pois “beleza e atração são, originalmente,
atributos do objeto sexual”.

Freud afirma que a “atitude estética em relação ao objetivo da vida oferece muito pouca
proteção contra a ameaça do sofrimento”.

Pg. 103

A felicidade, “constitui um problema da economia da libido do indivíduo”, sendo que “todo


homem tem de descobrir por si mesmo de que modo específico ele pode ser salvo” e de “quanta satisfação
real ele pode esperar obter do mundo externo” ou de “quanta força sente à sua disposição para alterar o
mundo, a fim de adaptá-lo a seus desejos”.
Freud enumera alguns tipos de homem:
a) O homem erótico: “dará preferência aos seus relacionamentos emocionais com outras pessoas”.

b) O homem narcisista54: “tende a ser auto-suficiente, buscará suas satisfações principais


em seus processos mentais internos”.

53
O professor Samir solicitou uma pesquisa sobre o que é deslocamento e condensação em Freud.
Deslocamento: “Operação característica dos processos primários, por meio da qual uma quantidade de afetos
se desprende da representação inconsciente, a qual está ligada, indo ligar-se a uma outra, cujos vínculos com a anterior
são vínculos associativos pouco intensos ou, mesmo, contingentes. Esta última representação recebe, então, uma
intensidade de interesse psíquico desproporcional, em relação àquela, que normalmente deveria comportar, enquanto
que a primeira, desinvestida, fica como que recalcada. Encontra-se um processo desse tipo em todas as formações do
inconsciente. J. Lacan, de acordo com as indicações de R. Jakobson, comparou o deslocamento com a metonímia
(CHEMAMA, 1995, P.46)”. “Verschiebung (ver: prolongar-se + schieb: empurrar + ung: ção)” (HANNS, 1996,
P.161).
Condensação: “Mecanismo pelo qual uma representação inconsciente concentra os elementos de uma série
de outras representações. De uma maneira geral, é observada em todas as formações do inconsciente (sonhos, lapsos e
sintomas). Esse mecanismo de condensação foi isolado primeiramente por S. Freud, no trabalho do sonho. Segundo
ele, a condensação visa não apenas concentrar os pensamentos esparsos do sonho, formando unidades novas, mas
também criar compromissos e meios-termos entre diversas séries de representações e pensamentos. Por seu trabalho
criativo, a condensação parece mais adequada do que outros mecanismos, para fazer emergir o desejo inconsciente,
frustrando a censura, mesmo que, por outro lado, torne mais difícil a leitura da narrativa manifesta do sonho. No nível
econômico, permite o investimento em uma representação particular de energias ligadas, primitivamente, a uma série
de outras representações. Na teoria lacaniana sobre formações do inconsciente, a condensação é assimilada a uma
‘superimposição de significantes’, cujo mecanismo se ocupara ao da metáfora. Nessa perspectiva, a primazia é
conferida à condensação dos elementos de linguagem, e as imagens do sonho são retidas, principalmente, por seu valor
de significantes. Verdichtung” (CHEMAMA, 1995, p.33-34).
54
O professor Samir solicitou uma pesquisa sobre o que é narcisismo primário e narcisismo secundário.
Roland Chemama (1995, p.139) afirmou que a partir d a década de 20 e do advento da segunda tópica, Freud
passou a preferir distinguir o narcisismo em duas formas, qualificando-as como primária e secundária, sendo que o
narcisismo primário quase é assimilado ao auto-erotismo. O narcisismo também representa uma espécie de estado
subjetivo, relativamente frágil e de equilíbrio facilmente ameaçado. São construídas sobre essa base as noções de
ideais, em particular a do eu ideal e do ideal do eu. E podem ocorrer alterações do funcionamento narcisista. Por
exemplo, as psicoses e mais exatamente a mania e, sobretudo melancolia, são, para Freud, doenças narcisistas,
caracterizadas tanto por uma inflação desmedida do narcisismo como por sua depressão irredutível; por isso, são
também chamadas de psiconeuroses narcisistas.
Narcisismo primário: representa tanto uma etapa do desenvolvimento subjetivo como seu resultado. A evolução do
filho do homem irá leva-lo não só a descobrir seu corpo, mas também e principalmente a se apropriar dele, a descobri-
19

c) O homem de ação: “nunca abandonará o mundo externo, onde pode testar sua força”.
Freud acredita que devemos procurar uma mistura entre as diversas técnicas de viver, não
apostando nossas fichas em uma única escolha.
O editor cita a frase atribuída a Frederico o Grande55 “em meu Estado, cada homem pode
salvar-se à sua própria maneira”.

Pg. 104

Outras técnicas de vida e que trazem satisfações substitutivas são a enfermidade neurótica, a
intoxicação, a psicose, a religião, que consiste “em depreciar o valor da vida e deformar o quadro
do mundo real de maneira delirante” e é considerada por Freud como um “estado de infantilismo
psicológico e por arrastá-las a um delírio de massa, a religião consegue poupar a muitas pessoas
uma neurose individual”.
Freud faz uma crítica afirmando que a “religião restringe esse jogo de escolha e adaptação,
desde que impõe igualmente a todos o seu próprio caminho para a aquisição da felicidade e da
proteção contra o sofrimento”.

1.4- Capítulo III – Pg. 105 a 118.


 Fontes de Sofrimento
 Natureza – Corpo – Sociedade
 Primitivo – Organismo – Civilização
 Deslocamento – Sublimação – Neuroses

lo com lhe pertencendo. Isso significa que suas pulsões, e em particular suas pulsões sexuais, tomam seu corpo por
objeto.
Narcisismo secundário: depois do narcisismo primário, há um investimento permanente do sujeito sobre si mesmo, o
que contribui, de forma notável, para sua dinâmica e participação nas pulsões do eu e nas pulsões de vida. Esse
narcisismo constitutivo e necessário, que deriva daquilo que Freud chamou, desde o início, de auto-erotismo, em geral
se desdobra em uma outra forma de narcisismo, a partir do momento em que a libido também é investida nos objetos
externos ao sujeito. De fato, sucede que os investimentos objetais ocorrem ao mesmo tempo que os investimentos
egóicos; é quando advém um certo desinvestimento dos objetos e uma retirada da libido sobre o sujeito, que se pode
observar essa segunda forma de narcisismo, que intervém, de alguma forma, como uma segunda fase.
55
Frederico II, o Grande (1712-1786): foi o terceiro rei da Prússia entre 1740 e 1786, era conhecido como um
amante da música, arte e literatura francesa. Seu pai, o rei Frederico Guilherme I, não compartilhava seu amor às artes
e tentou moldar Frederico como uma imagem de si, que era um grande militar. Quando Frederico se rebelou contra sua
educação, foi declarado traidor, encarcerado, ameaçado de execução e obrigado a assistir a decapitação de seu amigo,
Hans Hermann von Katte. Casou-se com Isabel Cristina, filha do duque de Braunschweig-Bervern e sobrinha do
imperador Carlos VI. Frederico se tornou um grande líder militar, liderando as forças prussianas com sucesso em três
guerras. Ele era um grande estrategista que tinha a habilidade de impedir que forças opositoras se unissem contra ele.
Ao mesmo tempo em que se ocupava de seus interesses na literatura e na arte da guerra, Frederico também foi capaz
de transformar a Prússia em uma potência econômica. Por esse vasto leque de sucessos dentro e fora dos campos de
batalha, Frederico foi apelidado de "o Grande". Atraiu à Prússia Voltaire, com quem mantinha correspondência, e
numerosos sábios franceses. Foi o tipo perfeito do déspota esclarecido do século XVIII.
20

Pg. 105

Freud enumera as principais 3 fontes do sofrimento humano: requisitos da natureza, a


fragilidade do corpo e as regras da sociedade.

Pg. 106

Freud acredita que a insatisfação contra as exigências da civilização é devido à repressão


aos instintos primitivos o que causa através dos ideais culturais e frustrações as neuroses.
A vitória do cristianismo contra as religiões pagãs foi o principal indicador da “baixa
estima dada à vida terrena56” o que não foi constatado nos povos primitivos durante observações
realizadas no descobrimento de novos continentes pelos europeus.

Pg. 107

O progresso técnico e científico controlando a natureza “não aumentou a quantidade de


satisfação prazerosa que poderiam esperar da vida e não os tornou mais felizes57”.

Pg. 108

Freud levanta uma questão de “que nos vale uma vida longa se ela se revela difícil e estéril
em alegrias, e tão cheia de desgraças que só a morte é por nós recebida como uma libertação?”. Ele
mesmo responde que a “felicidade, contudo, é algo essencialmente subjetivo”, dependendo das
escolhas e satisfações específicas de cada indivíduo.

Pg. 109

Freud busca um sentido etimológico da palavra civilização, sendo que ele acredita que:
...civilização descreve a soma integral das realizações e regulamentos que distinguem
nossas vidas das de nossos antepassados animais, e que servem a dois intuitos, a saber: o
de proteger os homens contra a natureza e o de ajustar os seus relacionamentos mútuos
(1974, p.109).

O homem cultural buscou tornar útil a terra, os seus recursos, protegendo-se contra as
forças da natureza, controlando o fogo e construindo habitações.

56
Tema abordado por Nietzsche anteriormente no livro Genealogia da moral.
57
Tema abordado por Martin Heidegger (1889-1976) no conceito de errância e terra. Heidegger foi um filósofo
alemão, nascido na pequena vila de Messkirch, inicialmente ele quis ser padre e chegou mesmo a estudar num
seminário. Depois, ele estudou na Universidade de Friburgo com o professor Edmund Husserl, o fundador da
fenomenologia e tornou-se professor ali em 1928. É seguramente um dos pensadores fundamentais do século XX, quer
pela recolocação do problema do ser e pela re-fundação da Ontologia, quer pela importância que atribui ao
conhecimento da tradição filosófica e cultural.
21

Pg. 110

O homem desenvolveu tecnologias que recriasse ou substituíssem os seus órgãos


sensórios como o que possibilitaram sua locomoção como os navios, aviões; óculos para
melhorar sua deficiência visual; microscópios e telescópios para enxergar onde os seus olhos não
podiam ver; telefone e a escrita para se comunicar à distância.
Em nota de rodapé cita a história de Gulliver em Liliput58 e o Gargântua de Rabelais59
como “uma espécie de ato sexual com um indivíduo do sexo masculino, um gozo da potência
sexual numa competição homossexual”. Cita também o Caso Dora como uma “conexão existente
entre ambição, fogo e erotismo uretral”.

Pg. 111

O homem através da tecnologia e da ciência busca ser deus, pois os "deuses constituíam
ideais culturais”. Sendo assim, o “homem por assim dizer, tornou-se uma espécie de ‘Deus de
prótese”, com órgãos auxiliares como os aviões, carros, navios, óculos, etc.
Em nota de rodapé, o editor cita George Wilkins60, Georg Brandes61 e Shakespeare62.

58
Gulliver no País de Liliput é a primeira história do livro As Viagens de Gulliver, o personagem principal luta para
se libertar dos ‘Liliputianos’, pessoinhas de 20cm de altura que são descritos como ‘malvados, moralmente corruptos,
hipócritas e mentirosos; ciumentos e invejosos, avarentos e ingratos – na verdade, completamente humanos que
usaram suas cordas ou linhas para o tamanho de Gulliver, para deixá-lo sem qualquer escolha ou liberdade de
movimento. Na verdade, Jonathan Swift (1667-1745) escreveu um livro político, criou sua Liliput como uma
parábola da Inglaterra do século XVIII. Como Gulliver, uma linha não foi capaz de nos imobilizar, mas milhões delas
conseguiram. Estes milhões de linhas nada mais são do que os conceitos que nos controlam, nossa ‘programação’ que
repete, insiste em dizer que somos livres enquanto fazemos nossas escolhas. Nossa historinha mostra que não achamos
nenhuma maneira de sustentar os poucos, curtos momentos que chamamos de ‘felicidade’. E, como os pequenos
Liliputianos usaram suas ‘linhas’ para aprisionar Gulliver, nossa mente usa e abusa dos conceitos para embaçar nossa
visão. Parecemos zumbis, vagando pela vida com um olhar perdido, com olhos abertos o suficiente para somente dar
‘encontrões’ por aí, sem enxergar – verdadeiramente – o que somos. Para se libertar, Gulliver teve que arrebentar não
uma ou duas, mas todas as ‘cordas’. O emaranhado de conceitos que forma nossa mente é o que nos aprisiona. Para
permitir que a luz entre e nos dê a oportunidade de clareza de que tanto necessitamos a teia de idéias e conceitos que
nós tão orgulhosamente chamamos de ‘minha mente’, deve ser rasgada. Essa percepção só acontece quando
arrebentamos a última amarra.
59
François Rabelais (1490-1593) publica a saga de Gargântua e Pantagruel (1541), aos cinqüenta e um anos de
idade. Nela, destaca-se a forma engraçada de ver a educação calcada em velhos preceitos, como viciosa, suja, doente e
depravada, e de higienizá-la se novos procedimentos fossem adotados. O corpo, sobretudo, assume uma dimensão
muito importante na obra, ao ser utilizado como um ponto incisivo na crítica ao comportamento desregrado, glutão e
preguiçoso dos pais, do seu séqüito e do próprio Gargântua antes de começar a ser educado de acordo com as novas
idéias. Rabelais, pensou a educação do corpo no interior da sociedade francesa do século XV, com a Gargântua e
Pantagruel, utiliza uma agressiva sátira para mostrar a forma correta de se educar o corpo, que é a possibilidade de se
formar um homem livre dos valores da decadente sociedade feudal e atinado com uma sociedade menos "cômica".
60
Sir George Hubert Wilkins (1888-1958): engenheiro explorador e pesquisador australiano, aviador e explorador
com submarino em expedições na Antártica e no Ártico.
61
Georg Morris Cohen Brandes (1842-1927): crítico dinamarquês, foi um acadêmico de grande influência da
literatura escandinava.
62
William Shakespeare (1564-1616): escritor, dramaturgo e poeta britânico. Considerado poeta nacional inglês e
maior dramaturgo da literatura universal. Seus textos e temas permaneceram vivos até aos nossos dias, sendo
revisitados com freqüência pelo teatro, televisão, cinema e literatura. Entre suas obras é impossível não ressaltar
22

Pg. 112

A civilização possibilitou ao homem a exploração da terra e a proteção contra as forças da


natureza.

Pg. 113

A civilização possibilitou a ordem capacitando ao homem “utilizarem o espaço e o tempo


para seu melhor proveito, conservando ao mesmo tempo as forces psíquicas deles”. A higiene e
limpeza foram outros fatores, pois a “sujeira de qualquer espécie nos parece incompatível com a
civilização”.

Pg. 114

Assim, “a beleza, a limpeza e a ordem ocupam uma posição especial entre as exigências
da civilização”. As atividades mentais foram desenvolvidas tendo as “realizações intelectuais,
científicas e artísticas” assumido um papel fundamental às idéias na vida humana.

Pg. 115

A civilização é criada como árbitro dos indivíduos nos relacionamentos sociais, pois
se não fosse assim “os relacionamentos ficariam sujeitos à vontade arbitrária do indivíduo, o que
equivale a dizer que o homem fisicamente mais forte decidiria a respeito deles no sentido de
seus próprios interesses e impulsos instintivos”. Freud vai mais a diante e afirma que:
A vida humana em comum só se torna possível quando se reúne uma maioria mais forte
do que qualquer indivíduo isolado e que permanece unida contra todos os indivíduos
isolados. O poder dessa comunidade é então estabelecido como ‘direito’, em oposição ao
poder do indivíduo, condenado como ‘força bruto’. A substituição do poder do indivíduo
pelo poder de uma comunidade constitui o passo decisivo da civilização (1974, p.109).

Pg. 116

Freud continua sua investigação sobre o processo civilizatório e afirma que a


“primeira exigência da civilização, portanto, é a da justiça, ou seja, a garantia de que uma lei,
uma vez criada, não será violada em favor de um indivíduo”. Logo, sempre existirá um conflito
entre a vontade e liberdade individual contra a vontade do grupo.

Romeu e Julieta, que se tornou a história de amor por excelência e Hamlet, que possui uma das frases mais conhecidas
da língua inglesa: "Ser ou não ser: esta é a questão".
23

Pg. 117

Freud acredita que teve o cuidado “de não concordar com o preconceito de que
civilização é sinônimo de aperfeiçoamento”.
Freud vincula o erotismo anal das crianças com o senso de ordem e limpeza na idade
adulta.
Cita seu amigo Ernest Jones.

Pg. 118

Freud afirma que:


A sublimação63 do instinto constitui um aspecto particularmente evidente do
desenvolvimento cultural; é ela que torna possível às atividades psíquicas superiores,
científicas, artísticas ou ideológicas, o desempenho de um papel tão importante na vida
civilizada (1974, p.118).

Para Freud, a sublimação é que “torna possível às atividades psíquicas superiores,


científicas, artísticas ou ideológicas”, e “constitui uma vicissitude que foi imposta aos instintos
de forma total pela civilização”.
As neuroses têm origem na renúncia aos instintos, ou seja, na frustração cultural do
processo civilizatório64.
O editor cita em nota de rodapé a carta aberta de Freud para Einstein65.

63
Como opinião pessoal acredito que exista uma relação entre a sublimação e a formação das neuroses, pois como
Nietzsche afirmou, “devem ser o que se é” e com a sublimação seremos sempre algo diferente, reprimindo os nossos
instintos, sem dar chance a estes da possibilidade de satisfação.
64
Para Nietzsche, com a civilização, ocorre o advento da moral, com a privação dos instintos surge a má consciência,
o ressentimento e o sentimento de culpa.
65
Albert Einstein (1879-1955): foi o físico que propôs a teoria da relatividade. Ganhou o Prêmio Nobel da Física de
1921 pela correta explicação do Efeito fotoelétrico; no entanto, o prêmio só foi anunciado em 1922. O seu trabalho
teórico possibilitou o desenvolvimento da energia atômica, apesar de ter sido contra seu desenvolvimento como arma
de destruição em massa. Após a formulação da teoria da relatividade em Junho de 1905, Einstein tornou-se famoso
mundialmente, na época algo pouco comum para um cientista. Nos seus últimos anos, a sua fama excedeu a de
qualquer outro cientista na história, e na cultura popular, Einstein tornou-se um sinônimo de alguém com uma grande
inteligência e um grande gênio. A sua face é uma das mais conhecidas em todo o mundo. Em sua honra, foi atribuído o
seu nome a uma unidade usada na fotoquímica, o einstein, bem como a um elemento químico, o Einstênio. Foi um dos
maiores gênios da Física, tendo o seu QI estimado em cerca de 240. Algumas fontes informam um suposto resultado
de 158, provavelmente limitado pelo teto do teste
24

1.5- Capítulo IV – Pg. 119 a 128.


 Totem e Tabu
 Repressão e Teoria da Bissexualidade

Pg. 119

Freud inicia este capítulo falando que desde a sua “pré-história simiesca, o homem adotara
o hábito de formar famílias” e provavelmente os seus familiares foram seus auxiliares no trabalho.
E com o objetivo de ter uma satisfação genital constante,
...o macho adquiriu um motivo para conservar a fêmea junto de si, ou, em termos mais
gerais, seus objetos sexuais, a seu lado, ao passo que a fêmea, não querendo separar-se de
seus rebentos indefesos, viu-se obrigada, no interesse deles, a permanecer com o macho
mais forte (1974, p.119).

Em uma nota de rodapé que continua na página 120, Freud fala da evolução do homem,
erguendo-se do chão e diminuindo os estímulos olfativos devido a sua nova postura ereta,
tornando seus órgãos genitais visíveis, conforme reproduziremos uma parte abaixo:
A própria diminuição dos estímulos olfativos parece ser conseqüência de o homem ter-se
erguido do chão, de sua adoção de uma postura ereta; isso tornou seus órgãos genitais,
anteriormente ocultos, visíveis e necessitados de proteção, provocando desse modo
sentimentos de vergonha nele (1974, p. 119-120).

Pg. 120

Freud fala do seu livro Totem e tabu (1912-12) e da horda primeva.


O editor cita em uma nota de rodapé a família ciclópica de Atkinson 66 (1903).

Pg. 121

Freud afirma que “a cultura totêmica baseia-se nas restrições que os filhos tiveram de
impor-se mutuamente, a fim de conservar esse novo estado de coisas. Os preceitos do tabu
constituíram o primeiro ‘direito’ ou ‘lei’”.
A vida em comunidade gerou uma necessidade externa que foi a compulsão para o
trabalho.
Freud fala sobre Eros67 (amor) e Ananke68 (necessidade).

66
James Jasper Atkinson: nasceu na Índia e publicou em 1903 junto com o escritor escocês Andrew Lang (1844-
1912) o livro Social Origins: Primal Laws em que afirma ela que, em épocas primevas, o homem primitivo vivia em
pequenas hordas cada uma das quais sob o domínio de um macho poderoso.
67
Eros: Cupido, no panteão romano, era o deus grego do amor. Significa vida para Freud. Hesíodo na teogonia
considera-o filho de Caos, um deus primordial. Sendo muito belo e irresistível, levando a ignorar o bom senso, tem um
papel unificador e coordenador dos elementos, contribuindo para a passagem do caos ao cosmos. Deus olímpico, filho
de Afrodite e de Zeus, Hermes ou Ares, conforme as versões. Tendo, certa vez, Afrodite desabafado com Métis,
25

Pg. 122

Com o objetivo de o homem obter uma satisfação sexual constante em função da busca da
felicidade, fez com que “tornasse o erotismo genital o ponto central dessa mesma vida”.

Cita São Francisco de Assis69 e a busca de um “amor universal pela humanidade e pelo
mundo representa o ponto mais alto que o homem pode alcançar”.

Pg. 123

Freud trabalha a questão do amor e afirma que:


As pessoas dão o nome de ‘amor’ ao relacionamento entre um homem e uma mulher cujas
necessidades genitais os levaram a fundar uma família; também dão esse nome aos
sentimentos positivos existentes entre pais e filhos, e entre os irmãos e as irmãs de uma
família, embora nós sejamos obrigados a descrever isso como ‘amor inibido em sua
finalidade’ ou ‘afeição’ (1974, p.123).

Ele acredita que o “amor genital conduz à formação de novas famílias, e o amor inibido
em sua finalidade, a ‘amizades’”.

Pg. 124

Freud trabalha a questão do papel da mulher que “representam os interesses da família e


da vida sexual” e o papel do homem ficou com o trabalho da civilização e as sublimações
instintivas.
Freud cita o tabu do incesto como uma mutilação a vida erótica do homem. E a separação
do jovem da família “torna-se uma tarefa com que todo jovem se defronta, e a sociedade
freqüentemente o auxilia na solução disso através dos ritos de puberdade e de iniciação”.

queixando-se que seu filho continuava sempre criança, a deusa da prudência lhe explicou que era porque Eros era
muito solitário. Haveria de crescer se tivesse um irmão. Antero nasceu pouco depois e, Eros começou a crescer e
tornar-se robusto. Eros casou-se com Psiquê, com a condição de que ela nunca pudesse ver o seu rosto, pois isso
significaria perdê-lo. Mas Psiquê, induzida por suas invejosas irmãs, observa o rosto de Eros à noite sob a luz de uma
vela. Encantada com tamanha beleza do deus, se distrai e deixa cair uma gota de cera sobre o peito de seu marido, que
acorda. Irritado com a traição de Psiquê, Eros a abandona. Esta, ficando pertubada, passa a vagar pelo mundo até se
entregar à morte. Eros, que também sofria pela separação, implora para que Zeus tenha compaixão deles. Zeus o
atende e Eros resgata sua esposa e passam a viver no Olimpo.
68
Ananke: significa necessidade e destino. Na mitologia grega, Ananké era a mãe das moiras e a personificação do
destino, necessidade inalterável e fato. Ela era raramente adorada até a criação da religião mística de Orphic. Em
Roma, ela se chamava Necessitas ("necessidade").
69
São Francisco de Assis (1181-1226): Giovane di Bernardone foi um santo católico que nasceu em Assis na Itália,
vindo de uma família de comerciantes. Em Assis ficou conhecido como Francisco, ou seja o "pequeno francês".
Fundou a ordem dos Frades Menores (Capuchinhos e Conventuais) conhecida como Ordem dos Franciscanos, cujos
religiosos tem os votos de pobreza, castidade e obediência, e tem a missão de praticar e pregar simplicidade, o amor a
Deus e a caridade cristã, vivendo em fraternidades em conventos junto às cidades.
26

Pg. 125

Freud continua relatando as exigências dos tabus e leis geradas pela civilização através da
opressão dos instintos e da sexualidade. O casamento monogâmico e a exclusividade do sexo
como forma de preservação da espécie são outras exigências construídas durante o processo de
criação da sociedade.

Pg. 126

Os fracos se submeteram a privação da sua liberdade sexual e os fortes “só o fizeram


mediante uma condição compensatória”.
Freud cita na nota de rodapé John Galsworthy70. Como terceira nota Freud afirma que “o
homem é um organismo animal com (como outros) uma disposição bissexual inequívoca” e
acrescenta:
Acostumamos-nos a dizer que todo ser humano apresenta impulsos, necessidades e
atributos instintivos tanto masculinos quanto femininos, e, ainda que a anatomia, é
verdade, possa indicar as características de masculinidade e feminilidade, a psicologia não
pode (1974, p.126).

Pg. 127

Esta página é uma continuidade da nota de rodapé da página 126 em que continua a falar
sobre a bissexualidade, do papel ativo masculino, a passividade feminina e os componentes
sádicos.
Freud cita Breuer71, Iwan Bloch72, Friedrich S. Krause73.

70
John Galsworthy (1867-1933): novelista e dramaturgo inglês, Prêmio Nobel de Literatura em 1932.
71
Josef Breuer (1842-1925): foi um médico e fisiologista austríaco judeu a quem se atribui a fundação da psicanálise,
junto com Freud. Em 1880, Breuer descobriu que havia aliviado os sintomas de depressão de uma paciente, Bertha
Pappenheim, depois de induzi-la a recordar experiências traumatizantes sofridas na infância. Breuer fez uso da hipnose
e de um novo método, a terapia de conversa. Descobriu o principal problema desse método, os fenômenos que depois
Freud chamaria de transferência e contra-transferência devido ao envolvimento emocional do paciente. Bertha
Pappenheim, de 21 anos, na ficha médica "Anna O", sofria de depressão e nervosismo, com um quadro de hipocondria
com os mais diversos sintomas (uma condição na época denominada "histeria"). Após estimular a paciente a conversar
francamente, aos poucos ficou claro para Breuer que a hipnose poderia ser dispensada, se o médico conduzisse a
conversa habilmente, no sentido de provocar as recordações mais difíceis de serem trazidas à consciência. Aos poucos
entendeu que os sintomas eram conexões simbólicas com recordações dolorosas – relacionadas à morte de seu pai – as
quais ela revelou durante a terapia. Dessa experiência Breuer concluiu que os sintomas neuróticos resultam de
processos inconscientes e desaparecem quando esses processos se tornam conscientes. Chamou a esse processo
Catarse. Breuer ensinou seu método a Freud que discutiu com ele seus casos, a técnica e os resultados do tratamento.
Em 1893 ambos publicaram em conjunto um artigo sobre o método desenvolvido, e dois anos depois fizeram o livro
que marcou o início da teoria psicanalítica, Estudos sobre a histeria. A parceria entre os dois analistas foi
interrompida, devido a Breuer não aceitar o ponto de vista de Freud quanto a recordações infantis de sedução. Freud
acreditava que as suas pacientes tinham sido realmente seduzidas quando crianças. Só mais tarde Freud reconheceu
que Breuer estava certo ao contestar, quando dissera que essas memórias eram fantasias infantis.
72
Iwan Bloch (1872-1922): médico dermatologista alemão, contesta as classificações das manifestações sexuais como
psicopatologias e propõe o conceito de Sexologia como o estudo teórico-científico da sexualidade, tornando-se assim o
“pai da Sexologia” e Berlim passa a ser considerada o berço da Sexologia moderna.
27

Pg. 128

O editor finaliza a nota de rodapé iniciada por Freud na página 126, afirmando que existe
“importantes conseqüências da proximidade existente entre os órgãos sexuais e excretórios” e
cita o Caso Dora74.

1.6- Capítulo V – Pg. 129 a 138.


 “O homem é o lobo do homem” citado por Thomas Hobbes (1588-1679) e
originalmente por, Plauto (254-184 a.C.), Asinaria II, p.477
 Civilização X Sexualidade e Agressividade

Pg. 129

Para Freud, as “frustrações da vida sexual são precisamente aquelas que as pessoas
conhecidas como neuróticas não podem tolerar”. Ele vai mais a diante e afirma que:
O neurótico cria, em seus sintomas, satisfações substitutivas para si, e estas ou lhe causam
sofrimento em si próprias, ou se lhe tornarem fontes de sofrimento pela criação de
dificuldades em seus relacionamentos com o meio ambiente e a sociedade a que pertence
(1974, p.129).

Eros, a pulsão de vida, busca tornar um casal de amantes um único ser, ou seja, “um casal
de amantes se basta a si mesmo”.

73
Karl Christian Friedrich Krause (1781-1832): filósofo alemão, foi professor em Jena (1802), Göttingen (1823) e
Munique (1831). A filosofia de Krause pretendia ser uma continuação autêntica do pensamento de Kant, contra o que
ele considerava as falsas interpretações de Fichte, Schelling e Hegel. Para Krause, Deus, conhecido intuitivamente
pela consciência, não é uma personalidade, mas uma essência que contém o próprio universo. Mas isso não significa
que Krause aceitasse a designação de panteísmo pois não identifica Deus com o universo, mas antes considera o
mundo como mundo-em-Deus. O homem e o universo formam um todo orgânico feito à imagem de Deus e a vida do
todo se desenvolveria segundo uma lei perfeita. Para Krause, haveria na humanidade a unidade do Espírito e da
Natureza. A humanidade compõe-se de seres que se influenciam reciprocamente e estão vinculados a Deus. Os
períodos históricos seriam etapas sucessivas da ascensão a Deus, que culminaria com uma humanidade racional. Essa
concepção aplica-se sobretudo à ética e à filosofia do direito. Krause rejeita a teoria absolutista do Estado e ressalta a
importância das associações que considera de finalidade universal: a família e a nação. O ideal da humanidade não
seria que um Estado dominasse os demais, mas que se constituísse uma federação das associações universais, sem
prejuízo para suas peculiaridades. Através do processo federativo chegar-se-ia gradualmente ao ideal de uma
humanidade unida, cujos membros poderiam participar da razão suprema e do bem. Krause desenvolveu esse conceito
de "união da humanidade" a partir das idéias da maçonaria.
74
Caso Dora: foi uma análise de uma paciente a quem Freud deu o nome de “Dora” [1905e], realizada em 1899.
Depois que Freud ter chegado em análise até a infância de Dora, surgiu um sonho que, ao ser analisado, lhe trouxe à
mente detalhes de uma cena do lago, até então esquecidos, e assim uma compreensão e solução do conflito do
momento tornaram-se possíveis. Freud afirmou que o conflito de um neurótico torna-se compreensível e admite
solução somente quando é remontado à sua pré-história, quando uma pessoa volta atrás ao longo do caminho que sua
libido seguiu quando ela adoeceu. O caso relata um relacionamento entre o pai de Dora e a Sra. K e a tentativa de
relacionamento entre o Sr. K e Dora.
28

Pg. 130

A exigência ideal defendida pelo cristianismo afirma que devemos amar a teu próximo
como a ti mesmo, sendo que para Freud deveríamos amar a teu próximo como este te ama.

Pg. 131

Freud dá ênfase a um aspecto egoísta do ego, afirmando que:


Ela merecerá meu amor, se for de tal modo semelhante a mim, em aspectos importantes,
que eu me possa amar nela; merece-lo-á também, se for de tal modo mais perfeita do que
eu, que nela eu possa amar meu ideal de meu próprio eu (self) (1974, p.131).

Pg. 132

O judaísmo e posteriormente o cristianismo têm como mandamento “Ama o teu próximo


como a ti mesmo” (Lv75 19,18). e “‘Ama os teus inimigos’”, entretanto ele acredita que o lema,
para ser compatível com a vida deveria ser: de “‘Ama a teu próximo como este te ama’”.
Para Freud, critica as exigências da civilização determina um padrão de normalidade que
descrimina as diferenças, então ele afirma que:
Ainda assim, o comportamento dos seres humanos apresenta diferenças que a ética,
desprezando o fato de que tais diferenças são determinadas, classifica como ‘boas’ ou
‘más’. Enquanto essas inegáveis diferenças não forem removidas, a obediência às elevadas
exigências éticas acarreta prejuízos aos objetivos da civilização, por incentivar o ser mau 76
(1974, p.132).

O editor em nota de rodapé cita Heine77 que afirmou que:


Minha disposição é a mais pacífica. Os meus desejos são: uma humilde cabana com um
teto de palha, mas boa cama, o leite e a manteiga mais frescos, flores em minha janela e
algumas belas árvores em frente de minha porta; e, se Deus quiser tornar completa a
minha felicidade, me concederá a alegria de ver seis ou sete de meus inimigos enforcados
nessas árvores. Antes da morte deles, eu, tocado em meu coração, lhes perdoarei todo o
mal que em vida me fizeram. Deve-se, é verdade, perdoar os inimigos – mas não antes
de terem sido enforcados (HEINE, apud JAMES STRACHEY, 1974, p.132).

75
Levítico: no antigo testamento é o terceiro livro do Pentateuco, escrito pelo “Senhor a Moisés”: “Não te vingarás,
nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”.
76
Nietzsche no livro Genealogia da moral, critica os conceitos definidos como bom e ruim, afirmando que “devemos
ser o que se é” caminhando para além do bem e do mal. Nietzsche defende os valores da vida, combatendo o ideal
ascético com uma ética elaborada por sacerdotes fracos, que para dominar seus discípulos criaram uma moral que nega
o ser humano, que são diferentes, únicos e tem subjetividades singulares e característica de cada indivíduo.
77
Christian Johann Heinrich Heine (1797-1856): foi um importante poeta judeu alemão do século XIX. Heine é
mais bem conhecido pela sua poesia lírica, boa parte da qual (especialmente a sua obra de juventude) foi orquestrada
por vários compositores musicais, notavelmente por Robert Schumann mas também por Franz Schubert, Felix
Mendelssohn, Fanny Mendelssohn, Brahms, Hugo Wolf, e Richard Wagner; e no século XX Hans Werner Henze e
Lord Berners. Descobriu que tinha sífilis aos 44 anos. Nos últimos anos de vida viveu exilado em Paris.
29

Pg. 133
Freud aborda a questão do homem natural e selvagem e cita a frase “Homo homini lupus”
que foi traduzida do latim pelo editor em uma nota de rodapé como “O homem é o lobo do
homem”, citado por Plauto78 em Asinaria, II, entretanto foi retomado pelo filósofo Thomas
Hobbes79 em Leviatã80. Freud então afirma:
O elemento de verdade por trás disso tudo, elemento que as pessoas estão tão dispostas a
repudiar, é que os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no
máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos
dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa quota de agressividade. Em
resultado disso, o seu próximo é, para eles, não apenas um ajudante potencial ou um
objeto sexual, mas também alguém que os tenta a satisfazer sobre ele a sua agressividade,
a explorar sua capacidade de trabalho sem compensação, utilizá-lo sexualmente sem o seu
consentimento, apoderar-se de suas posses, humilha-lo, causar-lhe sofrimento, tortura-lo e
mata-lo. Homo homini lupus (1974, p.133).

Freud analisa e “revela o homem como uma besta selvagem” e lembra as:
...atrocidades cometidas durante as migrações raciais ou as invasões dos hunos, ou pelos
povos conhecidos como mongóis sob a chefia de Gengis Khan81 e Tamerlão82, ou na

78
Plauto (254-184 a.C.): foi um dramaturgo da República Romana e Comediógrafo latino. Suas 21 peças que se
preservaram até os dias atuais datam entre os anos de 205 a.C. e 184 a.C. As comédias de Plauto, que são os escritos
mais antigos da literatura latina que se preservaram praticamente intactos, são quase todas adaptações de modelos
gregos para o público romano, tal como ocorria na mitologia e na arquitetura romanas. Seus trabalhos foram também
fonte de inspiração para muitos renomados escritores, tais como Shakespeare e Molière.
79
Thomas Hobbes (1588-1679): foi um filósofo empirista (ciência sustentada pela observação e pela experimentação)
e racionalista inglês, sendo um pensador político, com idéias de direito natural e direito civil, iniciador da filosofia
moderna, autor de Leviatã (1651) e Do cidadão (1651). Hobbes acreditava que o estado de natureza, no qual as
relações dos homens entre si são deixadas à livre iniciativa de cada um: "O homem é um lobo para o homem". O
estado é social: a sociedade política é a obra artificial de um pacto voluntário de um cálculo; todos os homens são
iguais por natureza; do lado do conhecimento, tudo vem da sensação. A moralidade é o acordo da natureza com a
ação: é bem tudo o que favorece e conduz à paz; pela paz e pela razão os homens fazem pactos. O papel do soberano é
o de garantir a segurança e a prosperidade de seus súditos; o poder absoluto é legítimo quando assegura a paz civil; o
soberano tem todos os direitos; a justiça é inteiramente dominada pela lei positiva; a lei imposta pelo soberano é justa
por definição; a Igreja deve subordinar-se ao Estado; devemos seguir a lei do Estado de preferência à lei divina; a paz
civil é o soberano bem, devendo ser mantida a todo preço; o papel do soberano, que Hobbes chama de Leviatã,
indomável e terrível dragão bíblico, é puramente utilitário. Na guerra de todos contra todos, há a necessidade de um
pacto social entre os indivíduos-cidadão, cada um renunciando à sua liberdade em favor do soberano absoluto.
80
Leviatã (1651): É uma obra de Hobbes que explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a
necessidade de governos e sociedades. No estado natural, enquanto que alguns homens possam ser mais fortes ou mais
inteligentes do que outros, nenhum se ergue tão acima dos demais por forma a estar além do medo de que outro
homem lhe possa fazer mal. Por isso, cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas são escassas,
existe uma constante guerra de todos contra todos. No entanto, os homens têm um desejo, que é também em interesse
próprio, de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades entrando num contrato social.
81
Gengis Khan (1162-1227): seu nome significa imperador do mundo, foi um grande conquistador e imperador
mongol, nasceu com o nome de Temutchin junto do rio Onon, perto do Lago Baikal. Nasceu cercado de lendas
xamânicas sobre a vinda de um lobo cinzento que devoraria toda a Terra. Ainda jovem, enfrentou a rejeição de sua
família por seu próprio clã, mas voltaria para conquistar sua liderança, vencer seus rivais de clãs distintos e unificar os
povos mongóis sob seu comando. Estrategista brilhante, com hábeis arqueiros montados à sua disposição, venceria a
Grande Muralha da China e conquistaria aquele país e estenderia seu império em direção ao oeste e ao sul. Genghis
morreria antes de ver seu império alcançar sua extensão máxima, mas todos os líderes mongóis posteriores
associariam sua própria glória às conquistas de Genghis Khan, que foi o comandante militar mais bem sucedido da
história da humanidade.
30

captura de Jerusalém pelos piedosos cruzados83, ou mesmo, na verdade, os horrores da


recente guerra mundial, quem quer que relembre tais coisas terá de se curvar
humildemente ante a verdade dessa opinião (Ibidem).

Pg. 134

Freud continua trabalhando o tema da agressividade natural do ser humano e afirma que
em “conseqüência dessa mútua hostilidade primária dos seres humanos, a sociedade civilizada se
vê permanentemente ameaçada de desintegração”.
Os instintos agressivos são então controlados pela sociedade e a vida sexual é retingida,
entretanto estes limites se manifestam em “formações psíquicas reativas”.
Freud critica os comunistas, pois:
Segundo eles, o homem é inteiramente bom e bem disposto para com seu próximo, mas a
instituição da propriedade privada corrompeu-lhe a natureza. A propriedade da riqueza
privada confere poder ao indivíduo e, com ele, a tentação de maltratar o próximo, ao passo
que o homem excluído da posse está fadado a se rebelar hostilmente contra o seu opressor
(1974, p.134).

Pg. 135

Freud critica a lógica do comunismo como se todos os problemas fossem resolvidos com a
extinção da propriedade privada e “a hostilidade desapareceriam entre os homens”. Assim, como
“as necessidades de todos seriam satisfeitas, ninguém teria razão alguma para encarar outrem
como inimigo”, entretanto Freud acredita que “as premissas psicológicas em que o sistema se
baseia são uma ilusão insustentável” e que “A agressividade não foi criada pela propriedade.
Reinou quase sem limites nos tempos primitivos”.

Pg. 136

Freud acredita que a agressividade é uma “característica indestrutível da natureza


humana” e mesmo que fosse abolida a família que é a “célula germinal da civilização” e fosse
permitida uma liberdade sexual completa, ainda a agressividade continuaria existindo.

82
Tamerlão (1336 – 1405): foi o último dos grandes conquistadores de origem mongol (Uzbequistão, Ásia), nascido
nos domínios do Canato Chagatai, em família de pastores, agregou em torno de si diversas tribos mongóis graças a sua
competência como guerreiro, sua astúcia como político e seu carisma como entusiasta da religião e das artes. Com a
ajuda de um vasto exército, construiu um poderoso e agressivo império, conhecido como Império Timúrida, que não
resistiria após a sua morte.
83
Cruzadas: foi movimentos militares, de caráter parcialmente cristão, que partiram da Europa Ocidental e cujo
objetivo era colocar a Terra Santa (nome pelo qual os cristãos denominavam a Palestina) e a cidade de Jerusalém sob a
soberania dos cristãos. Estes movimentos estenderam-se entre os séculos XI e XIII, época em que a Palestina estava
sob controle dos turcos muçulmanos. Os ricos e poderosos cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém
(Hospitalários) e dos Cavaleiros Templários foram criados pelas Cruzadas.
31

Freud ressalta o “narcisismo das pequenas diferenças” como o responsável pelas rixas
entre os povos, como entre os espanhóis e portugueses, ingleses e escoceses, cristão e judeus.
Freud afirma que mesmo Apóstolo Paulo84 postulando o amor universal, a intolerância
continuou existindo para quem não fosse cristão.

Pg. 137

Freud com uma visão pessimista sobre a possibilidade de o homem ser feliz na civilização
afirma que:
Se a civilização impõe sacrifícios tão grandes, não apenas à sexualidade do homem, mas
também à sua agressividade, podemos compreender melhor porque lhe é difícil ser feliz
nessa civilização. Na realidade, o homem primitivo se achava em situação, melhor, sem
conhecer restrições de instinto. Em contrapartida, suas perspectivas de desfrutar dessa
felicidade, por qualquer período de tempo, eram muito tênues. O homem civilizado
trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de
segurança. Não devemos esquecer, contudo, que na família primeva apenas o chefe
desfrutava da liberdade instintiva; o resto vivia em opressão servil (1974, p.137)

Pg. 138

Freud cita a cultura em formação nos Estados Unidos da América.


O editor cita Janet e a “incapacidade de síntese mental que atribui aos neuróticos”.

1.7- Capítulo VI – Pg. 139 a 145.


 Eros85 (Civilização = Vida) X Pulsão de Morte (Destruição = Instinto de
Agressividade - Tanatos, thanatos).
Pg. 139

Freud cita o desenvolvimento da teoria analítica e a teoria dos instintos. Cita um


pensamento do poeta-filósofo Schiller “são a fome e o amor que movem o mundo”
A fome pode ser vista como representando os instintos que visam a preservar o indivíduo,
ao passo que o amor se esforça na busca de objetos, e sua principal função, favorecida de
todos os modos pela natureza, é a preservação da espécie. Assim, de início, os instintos do
ego e os instintos objetais se confrontavam mutuamente. Foi para denotar a energia destes
últimos, e somente deles, que introduzi o termo ‘libido’ (1974, p.139).

84
São Paulo (5-67 d.C.): foi no início, um perseguidor dos primeiros cristãos. Após uma profunda revelação de Cristo
quando se dirigia a Damasco, mudou seu nome para Paulo e tornou-se o pregador mais ardente de Sua mensagem no
Mundo Ocidental. De perseguidor a perseguido, sofreu muito pela fé e foi coroado com o martírio, sofrendo morte por
decapitação.
85
Posteriormente Herbert Marcuse (1898-1979) escreve Eros e Civilização, uma crítica à obra de Freud.
32

Pg. 140
Freud afirma que a “neurose foi encarada como o resultado de uma luta entre o interesse
de autopreservação e as exigências da libido, luta da qual o ego saiu vitorioso, ainda que ao preço
de graves sofrimentos e renúncias”.
Freud afirma que no narcisismo, “o ego se acha catexizado pela libido” sendo o ego o
lugar da libido. “Essa libido narcísica se volta para os objetos, tornando-se assim libido objetal, e
podendo transformar-se novamente em libido narcísica”.
Freud cita o amor em um sentido mais amplo, e que o editor em nota de rodapé afirma que
é o mesmo sentido que foi utilizado por Platão.
Freud cita C.G. Jung86 que afirmava que os instintos do ego também são libidinais e que a
energia libidinal coincide com a energia instintiva em geral.

Pg. 141

Freud cita o seu livro Mais além do princípio do prazer (1920g), que a pulsão de morte é
um instinto contrário à preservação da vida e busca conduzir ao estado primevo e inorgânico. O
instinto de agressividade é derivado da pulsão de morte. O sadismo é um instinto componente da
sexualidade, entre o amor e o instinto de agressividade.

Pg. 142

O masoquismo constitui “uma união entre a destrutividade dirigida para dentro e a


sexualidade”.
Freud cita Goethe e a “inata inclinação humana para a ‘ruindade’, a agressividade e a
destrutividade, e também para a crueldade”.

Pg. 143

Deus seria para a humanidade como o Eros, criador da vida. O demônio seria a Pulsão de
morte. A dicotomia entre Eros x Tânatos, Deus x Demônio, Pulsão de vida x Pulsão de morte,
Ariano x Judeu.
O editor cita Goethe com sua obra Fausto, Mefistófeles está diretamente vinculado ao
“princípio do mal com o instinto destrutivo”, sendo que “o próprio Demônio nomeia como seu

86
Carl Gustav Jung (1875-1961): foi um psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica. Psiquiatra formado pela
Universidade de Basiléia em 1900, Jung conheceu Freud em 1907, quando já usava a teoria freudiana e se
correspondia com ele. Foi o primeiro presidente da Associação Psicanalítica Internacional. Crescentes divergências
com Freud fizeram com que rompesse com o movimento psicanalítico em 1913.
33

adversário, não o que é santo e bom, mas o poder que a Natureza tem de criar, de multiplicar a
vida, ou seja, Eros”.

Pg. 144

Para Freud, o sadismo é “onde o instinto de morte deforma o objetivo erótico em seu
próprio sentido”.
Cita o Insight como compreensão interna.

Pg. 145

Freud conclui esse capítulo com “a luta entre Eros e a Morte, entre o instinto de vida e o
instinto de destruição”, sendo que “a evolução da civilização pode ser simplesmente descrita
como a luta da espécie humana pela vida”.
...a civilização constitui um processo a serviço de Eros, cujo propósito é combinar
indivíduos humanos isolados, depois famílias e, depois ainda, raças, povos e nações numa
única grade unidade a unidade da humanidade (1974, p.145).

O editor afirma que a citação de Freud na luta entre Eros e Tânatos “é essa batalha de
gigantes que nossas babás tentam apaziguar com sua cantiga de ninar sobre o Céu”, é do poeta
Heine.

1.8- Capítulo VII – Pg. 146 a 157.


 Superego e Má Consciência
Pg. 146

Freud cita o superego como o meio que a civilização utiliza para inibir a agressividade e
afirma que:
Sua agressividade é introjetada87, internalizada; ela é, na realidade, enviada de volta para o
lugar de onde proveio, isto é, dirigida no sentido de seu próprio ego. Aí, é assumida por
uma parte do ego, que se coloca contra o resto do ego, como superego, e que então, sob a
forma de ‘consciência’, está pronta para pôr em ação contra o ego a mesma agressividade
rude que o ego teria gostado de satisfazer sobre outros indivíduos, a ele estranhos (1974,
p.146).

87
Nietzsche anteriormente no livro Genealogia da moral cria o termo má consciência para representar esta introjeção
do sentimento de agressividade.
34

Pg. 147
Freud analisa a origem do sentimento de culpa88 e faz uma associação com o pecado,
“quando fez algo que sabe ser ‘mau’” e acrescenta que “mesmo quando a pessoa não fez
realmente uma coisa má, mas apenas identificou em si uma intenção de fazê-la, ela pode encarar-
se como culpada”. Freud vai mais longe e afirma que o “que é mau, freqüentemente, não é de
modo algum o que é prejudicial ou perigoso ao ego; pelo contrário, pode ser algo desejável pelo
ego e prazeroso para ele”.
O desamparo é o “medo da perda do amor. Se ela perde o amor de outra pessoa a quem é
dependente, deixa também de ser protegida de uma série de perigos. Acima de tudo, fica exposta
ao perigo de que essa pessoa mais forte mostre a sua superioridade sob forma de punição”.
O mau “é tudo aquilo que, com a perda do amor, nos faz sentir ameaçados”.

Pg. 148

O perigo se instaura quando a autoridade descobre algo que o desagrade ou quebre uma
regra estabelecida.
A má consciência89 é um estado mental que se manifesta com o sentimento de culpa que
é o “medo da perda de amor, uma ansiedade ‘social’” ou o medo de ser descoberto, lembrado
por Freud, em uma nota de rodapé, através do caso do mandarim de Rousseau. Freud ressalta que
nada pode ser escondido do superego, assim não existe distinção entre fazer algo mau ou desejar
faze-lo, pois o sentimento de culpa será parecido.

Pg. 149

Freud explica o mecanismo de punição do superego contra o ego e afirma que o


“superego atormenta o ego pecador com o mesmo sentimento de ansiedade e fica à espera de
oportunidades para fazê-lo ser punido pelo mundo externo”.
A frustração com o mundo externo “acentua grandemente o poder da consciência no superego”.

Pg. 150

Freud aborda o mecanismo do pecado, culpa e castigo e afirma que “quando o infortúnio
lhe sobrevém, ele busca sua alma, reconhece sua pecaminosidade, eleva as exigências de sua
88
Nietzsche vincula a origem do sentimento de culpa ao sentimento de dívida eterna atribuída aos antepassados e à
moral estabelecida pelos sacerdotes ascéticos que atribuem à Deus os mandamentos e regras que caso não cumpridas
é um pecado, ou seja, uma quebra de regra estabelecida por algo divino e que não pode ser contestado pelos homens
mortais.
89
Má consciência também foi um termo criado por Nietzsche anteriormente no livro Genealogia da moral, que
determina o estado que o homem ficou quando interiorizou o sentimento de agressividade.
35

consciência, impõe-se abstinência e se castiga com penitências”. Ele ressalta em uma nota de
rodapé Mark Twain e seu conto O primeiro melão que jamais roubei, em que pôs em dúvida em
uma conferência se realmente o melão roubado, que estava verde, tinha sido realmente o primeiro.
O editor ressalta que Freud também abordou esse assunto com seu amigo Fliess em uma carta em
9 de fevereiro de 1898.
Para Freud o destino “é encarado como um substituto do agente parental”, e no sentido
religioso é “uma expressão da Vontade Divina”.
Freud faz uma análise da crença do povo de Israel ser o filho favorito de Deus e mesmo
quando ocorreram infortúnios, os sacerdotes e profetas “apontaram a pecaminosidade desse povo,
e, de seu sentimento de culpa, criaram-se mandamentos super-estritos de sua religião sacerdotal”.
Freud faz então uma comparação com o homem primitivo que quando “se defronta com
infortúnio, não atribui a culpa a si mesmo, mas a seu fetiche, que evidentemente não cumpriu o
dever, e dá-lhe uma surra, em vez de se punir a si mesmo”.

Pg. 151

Freud analisa as duas origens do sentimento de culpa:


a) Uma que surge do medo de uma autoridade externa: que insiste em renunciar às
satisfações instintivas, para não perder o amor da autoridade. “Se se efetuava essa
renúncia, ficava-se, por assim dizer, quite com a autoridade e nenhum sentimento de culpa
permaneceria”. O “medo da perda de amor equivale, pois o amor constitui proteção contra
essa agressão punitiva”.
b) Outra posterior que surge do medo do superego (autoridade interna): além de renunciar
às satisfações instintivas por medo da autoridade interna, exige punição, devido aos
desejos proibidos não puderem ser escondidos do superego, ao medo da consciência.
“Aqui, a renúncia instintiva não basta, pois o desejo persiste e não pode ser escondido do
superego. Assim, a despeito da renúncia efetuada, ocorre um sentimento de culpa”. Freud
vai mais adiante e afirma que “Uma ameaça de infelicidade externa – perda de amor e
castigo por parte da autoridade externa – foi permutada por uma permanente infelicidade
interna, pela tensão do sentimento de culpa”.

Pg. 152
Freud afirma que a “agressividade da consciência continua a agressividade da autoridade”.
Freud busca reconstituir a gênese da consciência ou a história da origem da consciência e
afirma que:
36

a) “... a consciência é o resultado da renúncia instintiva”, ou que,


b) “... a renúncia instintiva (imposta a nós de fora) cria a consciência, a qual, então, exige
mais renúncias instintivas”.
A renúncia de agressão é um tipo de renúncia instintiva.

Pg. 153
Freud afirma que cada agressão que o indivíduo desiste “é assumida pelo superego e
aumenta a agressividade deste (contra o ego)”, sendo que, “a agressividade original da consciência
é uma continuação da severidade da autoridade externa”.
Freud analisa os mecanismos familiares em que o “ego da criança tem de contentar-se com
o papel infeliz da autoridade – o pai – que foi assim degradada”, sendo que a “identificação,
incorpora a si a autoridade inatacável”.
O relacionamento entre o superego e o ego constitui um retorno, deformado por um
desejo, dos relacionamentos reais existentes entre o ego, ainda individido, e um objeto
externo (1974, p.153)

Freud afirma que “a consciência surge através da repressão de um impulso agressivo, sendo
subseqüentemente reforçada por novas repressões do mesmo tipo”.

Pg. 154
Freud cita que “a agressividade vingativa da criança será em parte determinada pela
quantidade de agressão punitiva que espera do pai”. Freud vai mais longe e afirma que:
... a severidade da criação também exerce uma forte influência na formação do superego
da criança. Isso significa que, na formação do superego e no surgimento da consciência,
fatores constitucionais inatos e influências do ambiente real atuam de forma combinada
(1974, p.154).

Freud então analisa o modelo filogenético90 da herança da pré-histórica em que afirma


que:
Pode-se também asseverar que, quando uma criança reage às suas primeiras grandes
frustrações instintivas com uma agressividade excessivamente forte e um superego
correspondentemente severo, ela está seguindo um modelo filogenético e indo além da
reação que seria correntemente justificada, pois o pai dos tempos pré-históricos era
indubitavelmente terrível e uma quantidade extrema de agressividade lhe pode ser
atribuída (Ibidem).

Em nota de rodapé Freud faz uma análise dos dois principais métodos patogênicos de
criação: ser-rigidez e mimo. A “consciência severa surge da operação conjunta de dois fatores: a

90
Lacan trabalha essa questão afirmando que a “filogênese recaptula a ontogênese”, ou seja, as fases do
desenvolvimento são uma revivência do desenvolvimento genético.
37

frustração do instinto, que desencadeia a agressividade, e a experiência de ser amado, que volta a
agressividade para dentro e a transfere para o superego”.
Continuando na nota de rodapé é citado: Melanie Klein91, Franz Alexander92, Aichhorn93.

Pg. 155

Freud volta a questão da origem do sentimento de culpa94 vinculando a origem da horda


primeva em Totem e Tabu e afirma que não pode “afastar a suposição de que o sentimento de
culpa do homem se origina do complexo edipiano e foi adquirido quando da morte do pai pelos
irmãos reunidos em bando” e acrescenta que:
Ou não é verdade que o sentimento de culpa provém da agressividade reprimida, ou então
toda a história da morte do pai é uma ficção e os filhos do homem primevo não mataram
os pais mais do que as crianças o fazem atualmente.

Pg. 156

Freud continua o processo investigativo da origem do sentimento de culpa nos homens e


afirma que “se o sentimento humano de culpa remonta à morte do pai primevo, trata-se, afinal de
contas, de um caso de ‘remorso’”. Esta também é a história da gênese do superego, que Freud
relata dessa maneira:

91
Melanie Klein (1882-1960): foi uma psicanalista austríaca, em geral é classificada como pós-freudiana. Iniciou seus
estudos de psicanálise em Budapeste, orientada por seu analista Sándor Ferenczi. Em 1919, apresentou à Associação
Psicanalítica Húngara as primeiras conclusões sobre psicanálise em crianças, foco principal de sua pesquisa. Granjeou
fama sobretudo no Reino Unido, onde, nas décadas de 30 e 40, disputou com Anna Freud a liderança da vanguarda
teórica.
92
Franz Alexander (1891-1964): foi um da segunda geração de psicanalistas. Ele nasceu em Budapeste, onde
freqüentou sua escola de medicina, formando-se em 1912. Ele conduziu pesquisas sobre bacteriologia no Instituto para
Patologia Experimental até a Primeira Guerra Mundial, quando ele praticou microbiologia clínica no front italiano,
principalmente combatendo a malária. Após a guerra, ele se juntou ao departamento de psiquiatria na Escola de
Medicina da Universidade de Budapeste como pesquisador do cérebro. Esta pesquisa levou a um encontro com o
trabalho de Freud e em 1919 ele tornou-se o primeiro estudante no Instituto Psicanalítico de Berlin. Em 1930, tornou-
se um professor visitante de psicanálise na Universidade de Chicago e em 1932 fundou o Chicago Psychoanalytic
Institute. Estabeleceu o instituto independente das sociedades psicanalíticas, levando o instituto de Chicago a ser uma
das mais criativas fontes de pensamento psicanalítico.Durante a mesma época, despertou seu interesse por doenças
psicossomáticas, ajudando a fundar o jornal Psychossomatic Medicine. Um princípio orientador de seu trabalho foi
tornar a psicanálise uma parte integral da medicina. Em 1946, Alexander tornou-se professor de psicanálise na
University of Southern Califórnia, onde continou seu trabalho sobre medicina psicossomática e tornou-se interessado
na ligação da teoria da aprendizagem à psicofisiologia do estresse e psicanálise.
93
August Aichhorn (1878-1949): colaborador próximo de Freud: August Aichhorn, ótimo pedagogo e o primeiro a
aplicar os princípios da psicanálise na reeducação e na psicoterapia de menores infratores, e foi através dele e de
alguns amigos e colaboradores seus que se manteve viva a chama da psicanálise, ainda que sob uma espécie de
hibernação, em Viena, na Aústria no período de 1938 quando passou de república independente, para ser anexada pela
Alemanha do Terceiro Reich.
94
Nietzsche no livro Genealogia da Moral antes de Freud afirma que o homem teve necessidade de criar uma dívida
impagável aos deuses pelas vitórias alcançadas durante gerações e que gerou um sentimento de dívida eterna (culpa),
que os leva a justificar seus sofrimentos (falta).
38

Seus filhos o odiavam, mas também o amavam. Depois que o ódio foi satisfeito pelo ato
de agressão, o amor veio para o primeiro plano, no remorso dos filhos pelo ato. Criou o
superego pela identificação com o pai; deu a esse agente o poder paterno, como uma
punição pelo ato de agressão que haviam cometido contra aquele, e criou as
restrições destinadas a impedir uma repetição do ato. E visto que a inclinação à
agressividade contra o pai se repetiu nas gerações seguintes, o sentimento de culpa
também persistiu, cada vez mais fortalecido por cada parcela de agressividade que
era reprimida e transferida para o superego.

O conflito entre Eros e Tânatos e entre a Agressão e Culpa é posto em prática quando os
homens tiveram que viver juntos em família e em comunidade, sendo que “o sentimento de culpa é
uma expressão tanto do conflito devido à ambivalência, quanto da eterna luta entre Eros e o
instinto de destruição ou morte”.

Pg. 157

Freud acredita que “a civilização obedece a um impulso erótico interno que leva os seres
humanos a se unirem num grupo estreitamente ligado, ela só pode alcançar seu objetivo através de
um crescente fortalecimento do sentimento de culpa”.
Freud cita um trecho de uma poesia de Goethe que é traduzida pelo editor assim:
À Terra, a esta Terra cansada, nos trouxestes,
À culpa nos deixastes descuidados ir,
Depois deixastes que o arrependimento feroz nos torturasse,
A culpa de um momento, uma era de aflição!

1.9- Capítulo VIII – Pg. 158 a 171.


 Revisão geral dos conceitos
Pg. 158

Freud em um misto de humildade e certeza pede “o perdão dos leitores por não ter sido um
guia mais hábil” e que sua análise “poderia ter sido feito de forma melhor”. Ele acredita que “o
sentimento de culpa95 [é] o mais importante problema no desenvolvimento da civilização”.

Pg. 159

Freud ressalta da importância do “sentimento de culpa inconsciente”, sendo que na


“neurose obsessiva, o sentimento de culpa faz-se ruidosamente ouvido na consciência” e que “o

95
Como afirmamos, Nietzsche no livro Genealogia da moral afirma que o ressentimento e a má consciência são o
maior entrave para o desenvolvimento da humanidade.
39

sentimento de culpa nada mais é do que uma variedade topográfica da ansiedade96; em suas fases
posteriores, coincide completamente com o medo do superego” e afirma que a “ansiedade está
sempre presente, num lugar ou outro, por trás de todo sintoma; em determinada ocasião, porém,
toma, ruidosamente, posse da totalidade da consciência”.

Pg. 160

É nesse momento que Freud retoma a questão do porque no mal-estar na civilização e


afirma que “o sentimento de culpa produzido pela civilização seja percebido como tal, e em grande
parte permaneça inconsciente, ou apareça como uma espécie de mal-estar, uma insatisfação”.
Nesse momento é inserida uma nota de rodapé em que o editor cita que Freud, entretanto ressalta
que “sentimento não podem ser corretamente descritos como ‘inconscientes’”.
Freud acredita que foi necessário “redimir a humanidade desse sentimento de culpa, a que
chamam de pecado” e que “no cristianismo, essa redenção é conseguida – pela morte sacrificial de
uma pessoa isolada [cristo], que, desse modo, toma sobre si mesma a culpa comum a todos”,
porém esse sentimento remonta “o primórdio da civilização” quando foi adquirido na horda
primeva em Totem e Tabu.
Freud cita os principais conceitos abordados nesse artigo: superego, consciência,
sentimento de culpa, necessidade de punição e remorso.
Freud afirma que a principal função do superego é “manter a vigilância sobre as ações e as
intenções do ego e julgá-las, exercendo sua censura” e acrescenta que o “sentimento de culpa, a
severidade do superego, é, portanto, o mesmo que a severidade da consciência”.

Pg. 161

Freud afirma que “a necessidade de punição, constitui uma manifestação instintiva por
parte do ego, que se tornou masoquista sob a influência de um superego sádico” e acrescenta que
isso ocorre devido à “uma parcela do instinto voltado para a destruição interna presente no ego,
empregado para formar uma ligação erótica com o superego”.
Freud acredita que o sentimento de culpa “existe antes do superego e, portanto, antes da
consciência também”, ele é a “expressão imediata do medo da autoridade externa, um
reconhecimento da tensão existente entre o ego e essa autoridade”. O sentimento de culpa é “o
derivado direto do conflito entre a necessidade do amor da autoridade e o impulso no sentido da
satisfação instintiva, cuja inibição produz a inclinação para a agressão”. Esses dois estratos do

96
No grupo Lacaniano a tradução correta não seria ansiedade, mas angústia.
40

sentimento de culpa, um é “oriundo do medo da autoridade externa; o outro, do medo da


autoridade interna”, que Freud afirmou que dificultou a sua “compreensão interna (insight)”.
Freud fala da angústia sendo que “o material sensorial da ansiedade que opera por trás do
sentimento de culpa; ele próprio é uma punição, ou pode incluir a necessidade de punição,
podendo, portanto ser também mais antigo do que a consciência”.

Pg. 162

Freud retoma a questão da origem do sentimento de culpa através da ambivalência, ou seja,


o conflito entre os dois instintos primitivos de agressão (tânatos) e de vida (Eros). Ele mostra a
diferença entre ação e impulso afirmando que:
Pode-se pensar que o sentimento de culpa surgido do remorso por uma ação má deve ser
sempre consciente, ao passo que o sentimento de culpa originado da percepção de um
impulso mau pode permanecer inconsciente.

Freud, entretanto cita a neurose obsessiva como uma exceção para a regra acima: ação
consciente e pulsão inconsciente.
O superego para Freud tem uma energia agressiva interna que é uma continuidade da
energia punitiva da autoridade externa que se mantém vida na mente, ou seja, é uma
“agressividade deslocada para dentro”.

Pg. 163

Freud acredita que “qualquer satisfação instintiva frustrada, resulta, ou pode resultar, numa
elevação do sentimento de culpa”. Em uma nota de rodapé, é afirmado que essa opinião é
assumida também por Ernest Jones, Susan Isaacs97, Melanie Klein, Theodor Reik98 e Franz
Alexander.

97
Susan Sutherland Isaacs (1885-1948): psicóloga infantil e educadora britânica, desafiou os conceitos existentes
sobre desenvolvimento da criança. Após estudar nas universidades de Manchester e de Cambridge, transformou-se em
uma estudiosa na instrução adiantada da infância. Com uma orientação realizada por Sigmund Freud e de John Dewey,
ela fundou uma escola progressiva experimental na casa do Malting, em Cambridge de 1924 a 1927. A escola
enfatizou a instrução direta e não teve nenhum curriculum estabelecido. Foi uma das primeiras críticas aos estágios de
Jean de Piaget sobre o desenvolvimento da criança. Entre 1933 a 1943, ensinou no instituto de Educação da
Universidade de Londres. Suas escritas incluem o crescimento intelectual nas crianças novas (1930) e o
desenvolvimento social das crianças novas (1933).
98
Theodor Reik (1888-1969): psicólogo e psicanalista, foi um dos primeiros discípulos de Freud em Viena na
Áustria. Reik recebeu o grau de PhD em psicologia pela universidade de Viena em 1912. Sua dissertação foi um
estudo sobre Flaubert de Saint Anthony. Após ter recebido seu doutorado, foi estudar com Freud, que suportou
financeiramente Reik e sua família durante seus estudos com a psicanálise. Durante este tempo, Reik foi analisado por
Karl Abraham. Reik, que era Judeu, emigrou da Áustria para os Estados Unidos em 1938 fugindo do Nazismo. Em
1944, transformou-se um cidadão naturalizado americano. As teorias de Reik eram uma influência forte sobre a teoria
psicanalítica do francês Jacques Lacan e na psicanálise nos E.U.A. com ênfase na intersubjetividade e na
contratransferência.
41

Freud introduz a questão do recalque e afirma que:


... a prevenção de uma satisfação erótica exige uma agressividade contra a pessoa que
interferiu na satisfação, e que essa própria agressividade, por sua vez, tem de ser
recalcada. Se as coisas se passam assim, é em suma, apenas a agressividade que é
transformada em sentimento de culpa, por ter sido recalcada e transmitida para o superego.

Freud afirma que “sintomas neuróticos são, em sua essência, satisfações substitutivas para
desejos sexuais não realizados”, sendo que “talvez toda neurose oculte uma quota de sentimento
inconsciente de culpa, o qual, por sua vez, fortifica os sintomas, fazendo uso deles como punição”.
Assim, “quando uma tendência instintiva experimenta a repressão, seus elementos libidinais são
transformados em sintomas e seus componentes agressivos sem sentimentos de culpa”.

Pg. 164

Freud retoma a questão da “luta entre Eros e o instinto de morte” que foi “empregada para
caracterizar o processo de civilização que a humanidade sofre, mas também vinculada ao
desenvolvimento do indivíduo, e, além disso, dela se disse que revelou o segredo da vida orgânica
em geral”. Ele vai mais longe e afirma que:
...o processo civilizatório constitui uma modificação, que o processo vital experimenta sob
a influência de uma tarefa que lhe é atribuída por Eros e incentivada por Ananke – pelas
exigências da realidade –, e que essa tarefa é a de unir indivíduos isolados numa
comunidade ligada por vínculos libidinais.

Freud acredita que o “processo da civilização da espécie humana é, naturalmente, uma


abstração de ordem mais elevada do que a do desenvolvimento do indivíduo, sendo, portanto, de
mais difícil apreensão em termos concretos”.

Pg. 165

Freud cita o “princípio do prazer, que consiste em encontrar a satisfação da felicidade”. Ele
acredita que o desenvolvimento do indivíduo é um produto ocorreu com o “sentido da felicidade,
que geralmente chamamos de ‘egoísta’, e a premência no sentido da união com os outros da
comunidade, que chamamos e ‘altruísta’”. Então a felicidade é egoísta e a civilização que é
cultural impõe restrições à nossa felicidade.
Freud compara o movimento do ser humano com o movimento da terra e afirma que:
Assim como um planeta gira em torno de um corpo central enquanto roda em torno de seu
próprio eixo, assim também o indivíduo humano participa do curso do desenvolvimento
da humanidade, ao mesmo tempo que persegue o seu próprio caminho da vida.
42

Pg. 166

Freud afirma que:


... a luta entre o indivíduo e a sociedade não constitui um derivado da contradição –
provavelmente irreconciliável – entre os instintos primevos de Eros e da morte. Trata-se
de uma luta dentro da economia da libido, comparável àquela referente à distribuição da
libido entre o ego e os objetos.

No processo civilizatório, “a comunidade desenvolve um superego sob cuja influência se


produz a evolução cultural”, logo o “superego de uma época de civilização tem origem semelhante
à do superego de um indivíduo”.
Freud faz uma analogia entre a morte do pai primevo em Totem e Tabu e Jesus Cristo
afirmando que:
Do mesmo modo, na verdade, o pai primevo não atingiu a divindade senão muito tempo
depois de ter encontrado a morte pela violência. O exemplo mais evidente dessa
conjunção fatídica pode ser visto na figura de Jesus Cristo – se, em verdade, essa figura
não faz parte da mitologia, que a conclamou à existência a partir de uma obscura
lembrança daquele evento primevo.

O medo desse evento, ou seja, a morte do pai primevo ou mais recentemente, do próprio
filho de Deus, ou o próprio Deus morreu em sacrifício pela humanidade. Outra questão é que há
uma concordância entre o superego cultural e o individual, pois existem exigências ideais cuja
“desobediência é punida pelo ‘medo da consciência’”.

Pg. 167

As exigências do superego sob “a forma de censuras, se faz ruidosamente ouvida; com


freqüência, suas exigências reais permanecem inconscientes no segundo plano”.
Freud acredita que “o desenvolvimento cultural do grupo e o do desenvolvimento cultural
do indivíduo, se acham, por assim dizer, sempre interligados”.
Freud fala das relações humanas e da ética afirmando que:
O superego cultural desenvolveu seus ideais e estabeleceu suas exigências. Entre estas,
aquelas que tratam das relações dos seres humanos uns com os outros estão abrangidas
sob o título de ética.

Freud define então que a “ética deve, portanto ser considerada como uma tentativa
terapêutica – como um esforço por alcançar, através de uma ordem do superego, algo até agora não
conseguido por meio de quaisquer outras atividades culturais”.
A ordem do superego de “amar ao próximo como a si mesmo”, então constitui uma
tentativa de eliminar agressividade mútua, que constitui o “maior estorvo à civilização”.
43

O superego se preocupa muito pouco com a felicidade do ego e este, com “a força
instintiva do id [em primeiro lugar] e as dificuldades apresentadas pelo meio ambiente externo real
[em segundo]”.

Pg. 168

O ego inicialmente acredita que tem o domínio sobre o id, entretanto trata-se de um
equívoco, pois “o id não pode ser controlado além de certos limites. Caso se exija mais de um
homem, produzir-se-á nele uma revolta ou uma neurose, ou ele se tornará infeliz”.
Freud afirma que o “mandamento ‘Ama a teu próximo como a ti mesmo’ constitui a defesa
mais forte contra a agressividade humana e um excelente exemplo dos procedimentos não
psicológicos do superego cultural”.
A “ética natural” oferece uma “satisfação narcísica de se poder pensar que se é melhor do
que os outros”. A “ética baseada na religião introduz suas promessas de uma vida melhor depois
da morte”.

Pg. 169

A repressão do superego, o processo civilizatório tem como conseqüência para a


humanidade “se tornarem ‘neuróticas”, que podem ser neuroses individuais ou neuroses sociais.

Pg. 170

Freud faz uma reflexão e afirma que não vale a pena todo esse esforço para o processo
civilizatório se o indivíduo não for capaz de tolerar, pois “os juízos de valor do homem
acompanham diretamente os seus desejos de felicidade, e que, por conseguinte, constituem uma
tentativa de apoiar com argumentos as suas ilusões”.
Para se buscar a felicidade é necessário minimizar as restrições da vida sexual, entretanto
Freud coloca um obstáculo que o “instinto humano de agressão e autodestruição”.

Pg. 171

Freud finaliza o texto levantando uma questão da luta entre Eros e a pulsão de morte,
perguntando “quem pode prever como que sucesso e com que resultado?”. Em nota de rodapé o
editor afirma que esta “frase final foi acrescentada em 1931, quando a ameaça de Hitler já
começava a se evidenciar”.
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02- Conclusão – um breve comentário.


Esse é um dos textos mais sociológicos de Freud, pois realiza uma abordagem de como o
homem se tornou o que é, ao longo do processo da evolução e do desenvolvimento da civilização.
Com a evolução dos nossos antepassados primatas, estes deixaram de andar de quatro patas e foi
adotada a postura ereta. O sentido do olfato foi substituído pela visão e devido aos seus órgãos
sexuais estarem à vista, surgiu a vergonha e como conseqüência, os órgãos foram escondidos.
Devido a necessidade do homem viver em sociedade foram adotados tabus, ou seja,
proibições e regras que deveriam ser seguidas por todos. A contenção dos instintos de
agressividade e da libido sexual foi necessário para atender aos novos requisitos da civilização.
Esta contenção dos instintos significou uma introjeção de atos que normalmente eram colocados
para fora e foi uma das causas da origem do sofrimento e da insatisfação humana. Quando
nascemos somos educados para conter os nossos instintos, o que causa a frustração devido ao
desejo insatisfeito. Freud identifica assim a causa da origem das neuroses devido ao controle do
superego que controla o ego e este vigia e restringe os impulsos do id.
Freud acredita que a felicidade, é a realização imediata de um impulso instintivo, porém de
curta duração, o que nos leva a um projeto contínuo de vida para que possamos continuar vivendo.
Freud esclarece que a sublimação é a busca de um prazer substituto que pode ser por exemplo
através de saberes como na arte, na filosofia ou na ciência, entretanto depende da condição de
desenvolvimento de cada indivíduo. Existe a auto-realização narcísica ou através do amor com
outra pessoa que é uma das formas mais eficientes de realização dos nossos desejos, superando as
frustrações e atendendo aos nossos impulsos instintivos básicos. Entretanto o amor pode tornar-se
dor com a perda do companheiro, ou devido à queda do objeto desejado.
A religião que é um delírio coletivo, que se apresenta como solução para desistir dos
desejos instintivos, pois para seus seguidores a verdadeira vida ocorrerá após a morte. Devemos
obedecer aos mandamentos das leis de Deus, que foram criados pelo homem para conter os
impulsos sexuais e agressivos do homem vivendo na sociedade. Entretanto a religião infantiliza
pela fé o homem que depende continuamente dessa ilusão para continuar vivendo. Algumas
pessoas preferem a fuga da realidade através da loucura, criando um mundo interior, ou com o uso
de drogas que é uma solução química, porém causa a degradação física do seu usuário.
Sou Nietzschiano e Lacaniano e defendo inicialmente a vida como ela é, entendendo sua
falta, aceitando as diferenças. A sublimação somente em último caso, a fantasia como necessidade
de suportar esta vida crua. A sociedade é fruto desta necessidade de vivermos juntos e nos
suportarmos. Porém é necessário antes, suportarmos a nós mesmos!
45

03- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.


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