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Gilles Deleuze

Biografia
Entre 1944 e 1948, Gilles Deleuze cursou filosofia na Universidade de Paris (Sorbonne),
onde encontrou Michel Butor, François Châtelet, Claude Lanzmann, Olivier Revault
d’Allonnes e Michel Tournier. Seus professores foram Ferdinand Alquié, Georges
Canguilhem, Maurice de Gandillac, Jean Hyppolite.

Concluído o curso em 1948, ele dedica-se à história da filosofia, tornando-se professor da


matéria na Sorbonne de 1957 a 1960. Em 1962, conhece Michel Foucault, de quem se
torna amigo até sua morte em 1984. Apesar da amizade, não trabalharam juntos, mas
foram apontados como responsáveis pelo renascimento do interesse pela obra
de Nietzsche.

Entre 1964 e 1969, foi professor de História da Filosofia na ainda unificada Universidade
de Lyon. Em 1968, Deleuze apresenta como tese de doutoramento Diferença e
Repetição (Différence et répétition), orientado por Gandillac, na qual critica o conhecimento
via representação mental e a ciência derivada desta forma clássica lógica e representativa;
e como tese secundária, Espinoza e o problema da expressão (Spinoza et le problème de
l’expression) orientado por Alquié.
Na Universidade de Vincennes, onde ensinou até 1987, Gilles Deleuze promoveu um
número significativo de cursos. Graças a sua esposa, Fanny Deleuze, uma parte
importante destas aulas foi transcrita e disponibilizada no sítio de Richard Pinhas.
Para Deleuze, "a filosofia é criação de conceitos" (O que é a filosofia?), coisa da qual
nunca se privou ("máquinas desejantes", "corpo sem órgãos", "desterritorialização",
"rizoma", "ritornelo" etc.), mas também nunca se prendeu a transformá-los em "verdades"
a serem reproduzidas. A sua filosofia vai de encontro à psicanálise, nomeadamente a
freudiana, que aos seus olhos reduz o desejo ao complexo de édipo (ver O Antiédipo -
Capitalismo e Esquizofrenia, escrito com Félix Guattari), à falta de algo. A sua filosofia é
considerada como uma filosofia do desejo. Com a crítica radical do complexo de édipo,
Deleuze consagrará uma parte de sua reflexão à esquizofrenia. Segundo ele, o processo
esquizofrênico faz experimentar de modo direto as "máquinas-desejantes" e é capaz de
criar (e preencher) o "corpo sem órgãos". Seu intuito sempre foi o de explorar as suas
potencialidades, ao máximo. Em Mil Platôs, Deleuze e Guattari enfatizam a necessidade
de extrema prudência nos processos de experimentação, para que não se prendam a
qualquer preceito moral. Deleuze sempre advertiu quanto ao perigo de se tornar um
"trapo" através de experimentações, que inicialmente poderiam ser positivas, mas que
depois são regulamentadas por uma moral subjetiva: "a queda de um processo molecular
em um buraco negro".
Desde 1992, seus pulmões, afetados por um câncer, funcionavam com um terço da
capacidade. Em 1995, só respirava com a ajuda de aparelhos. Sem poder realizar seu
trabalho, Deleuze atirou-se pela janela do seu apartamento em Paris, em 4 de novembro
de 1995. Seus seguidores consideraram seu suicídio coerente com sua vida e obra: "Para
ele, o trabalho do homem era pensar e produzir novas formas de vida".
Filosofia
O trabalho de Deleuze pode ser dividido em dois grupos:

 monografias interpretando filósofos modernos


(Spinoza, Leibniz, Hume, Kant, Nietzsche, Bergson, Foucault) e obras de artistas
(Proust, Kafka e o pintor moderno Francis Bacon)
 exploração de temas filosóficos ecléticos, centrados na produção de conceitos como
diferença, sentido, evento, rizoma, etc.

Suas principais influências filosóficas terão sido Nietzsche, Henri Bergson e Spinoza. Para
o filósofo do corpo-sem-órgãos (figura estética de Antonin Artaud, retomada como conceito
filosófico por Deleuze em parceria com Félix Guattari), o ofício do filósofo é inventar
conceitos. Assim como Nietzsche cria a personagem-conceito de Zaratustra, Deleuze
afirma em L'abécédaire, entrevista dada a Claire Parnet, ter criado, com Félix Guattari, o
conceito de ritornelo - refrão, forma de reterritorialização (povoamento) e
desterritorializaçao. A filosofia de Deleuze é uma filosofia da imanência absoluta. Nela não
há nada de transcendente, negação ou falta, mas uma "conspiração de afetos", uma
"cultura da alegria", uma "denúncia radical do poder". Uma filosofia da vida e da pura
afirmação - da imanência, portanto, como saída das fronteiras do sujeito.

Uma das grandes contribuições de Deleuze foi ter se utilizado do cinema para expor sua
forma de pensamento, através dos conceitos de imagem-movimento e imagem-tempo.

Deleuze foi um dos filósofos que teorizaram as instâncias do atual e do virtual (já
elaboradas por outros pensadores), construindo um olhar sobre o mundo a partir das
possibilidades: "Um pouco de possível, senão sufoco" (Foucault)
Obras
Deleuze publicou estudos sobre pensadores como Nietzsche, Kant e Spinoza. Entre suas
obras principais estão Nietzsche et la philosophie (1962); Proust et les
signes (1964); Logique du sens (1969) Spinoza (1970); Foucault (1986); e Critique et
clinique(1993).

Ano da edição original em francês:

 Hume, sa vie, son oeuvre, avec un exposé de sa philosophie (avec André Cresson)
(1953)
 Instincts et Institutions (1955)
 Nietzsche e a Filosofia (1962)
 A Filosofia Crítica de Kant (1963)
 Proust e os Signos (1964)
 Nietzsche (1965)
 O Bergsonismo (1966)
 Apresentação de Sacher-Masoch (1967)
 Spinoza e o problema da Expressão (1968)
 Diferença e Repetição (1968)
 Lógica do Sentido (1969)
 Spinoza: Filosofia Prática (1970) (reedição aumentada, (1981))
 Francis Bacon: Lógica da Sensação (1981)
 Cinema-1: A Imagem-movimento (1983)
 Cinema-2: A Imagem-tempo (1985)
 Pericles e Verdi (1988)
 Conversações (1990)
 L'Epuisé (Posfácio a Samuel Becket) (1992)
 Crítica e Clínica (1993)
Com Félix Guattari:

 O Anti-Édipo (1972)
 Kafka. Por uma literatura menor (1975)
 Mil Platôs (1980)
 O que é a filosofia? (1991)
Com Claire Parnet:

 Deleuze, G. e Parnet, C. (1977/2002), Dialogues, 276 pp. Londres: Athlone Press.

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