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CINESIOTERAPIA

autora
SANDRA HELENA MAYWORM

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2016
Conselho editorial  sergio augusto cabral, roberto paes e paola gil de almeida

Autora do original  sandra helena mayworm

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  paola gil de almeida, paula r. de a. machado e aline


karina rabello

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  fátima figueiredo da conceição

Imagem de capa  kieferpix | shutterstock.com

todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

M474c Mayworm, Sandra Helena


Cinesioterapia / Sandra Helena Mayworm.
Rio de Janeiro : SESES, 2016.
114 p. : il.

isbn: 978-85-5548-307-3

1. Fisioterapia. 2. Cinesioterapia. 3. Exercícios terapêuticos. 4. Biomecânica.


I. SESES. II. Estácio.
cdd 613.7

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 5

1. Introdução à Cinesioterapia 7
1.1  Conceito, objetivos e consideração sobre cinesioterapia como
intervenção e CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde) 9
1.2  Conceito, efeitos fisiológicos da mobilização e do exercício
e metas 14
1.2.1  Classificação quanto ao tipo de contração: 18
1.2.2  Classificação quanto à cadeia cinética 21
1.3  Síndrome da Imobilidade 22

2. Exercícios terapêuticos de ADM passiva 27

2.1  Conceitos básicos do movimento articular 29


2.1.1  Osteocinemática e Artrocinemática 30
2.2  Exercícios de ADM passiva, efeitos fisiológicos, indicação e
contraindicação 34
2.3  Princípios e procedimentos para aplicação das técnicas de
exercícios de ADM 36
2.4  Técnicas de aplicação 37
2.4.1  Membros superiores 37
2.4.2  Membros inferiores 38
2.4.3  Região cervical da coluna vertebral 39
2.4.4  Região lombar da coluna vertebral 39
2.5  Exercícios de ADM auto assistidos 40
2.6  Mobilização passiva contínua 43
2.7  Mobilização e manipulação articular 43
3. Exercícios terapêuticos ativo-livres e resistidos 47

3.1  Definição: Princípio de sobrecarga 49


3.2  Efeitos fisiológicos. Indicação e contraindicação 51
3.3  Precauções para os exercícios resistidos 57
3.4  Contraindicações para o exercício resistido: 58
3.5  Tipos de exercícios resistidos: Exercícios terapêuticos
ativo-resistidos de forma manual. 58

4. Exercícios terapêuticos de alongamento 71

4.1  Mobilidade e alongamento 72


4.2  Indicações e contraindicações dos exercícios de alongamento 77
4.3  Tipos de alongamento 80

5. Exercícios para diversas áreas do corpo 91

5.1  Exercícios para coluna vertebral 92


5.1.1  Exercícios de Willians e McKenzie 94
5.1.2  Escola de Postura 97
5.1.3  Exercícios de estabilização da coluna vertebral 98
5.1.4  Exercícios de Pilates 101
5.1.5  Método Mézieres e a Reeducação Postural Global 102
5.2  Exercícios para membros inferiores e superiores 103
5.3  Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) 109
5.4  Abordagem neuroevolutiva no tratamento de doenças
neuromusculares 111
Prefácio
Prezados (as) alunos (as),

A prescrição do tratamento fisioterapêutico utilizando os recursos do movi-


mento é necessária para a recuperação funcional.
Um comprometimento da capacidade funcional a ponto de impedir o exer-
cício da atividade dentro dos limites considerados “normais” para o ser huma-
no, essenciais para a vida cotidiana, pode ser temporário ou permanente. E a in-
capacidade reflete as consequências da deficiência em termos de desempenho
e atividade funcional do indivíduo, sua adaptação e interação na sociedade.
A cinesioterapia é um recurso utilizado pelo fisioterapeuta na prevenção e
no tratamento das doenças neuromusculares por meio de movimentos passi-
vos e/ou ativos, visando a manutenção e/ou recuperação das articulações e gru-
pos musculares. Considero esse recurso o “carro chefe” da fisioterapia, pois a
cinética e a função são os objetos de estudo de um fisioterapeuta.
Neste livro abordamos, de forma resumida, os exercícios passivos, ativos e
de fortalecimento muscular, como educação, prescrição e programa de trata-
mento na recuperação da função; o alongamento e suas variedades como recur-
so para atingir uma meta e objetivo específico predeterminado; os exercícios
proprioceptivos e de equilíbrio, além de conceitos, protocolos e métodos es-
pecíficos para áreas específicas do sistema axial e apendicular e suas disfun-
ções neuromusculares.
O tratamento é a parte mais nobre de nossa atividade profissional, como
fisioterapeuta. A essência da recuperação funcional está na restauração dos
movimentos e na independência do ser humano.
Espero contribuir para seu conhecimento e aguçar sua curiosidade para
aprofundamento na cinesiologia, biomecânica e cinesioterapia; essa ciência
tão ampla.

Bons estudos!

5
1
Introdução à
Cinesioterapia
1.  Introdução à Cinesioterapia
A cinesioterapia é definida etimologicamente como a arte de curar, utilizando
todas as técnicas do movimento. Em 1847, Auguste Georgii, ao utilizar o termo
cinesioterapia, propunha esta definição: “O tratamento das doenças através do
movimento”. Em 1965, Licht (1965) definiu exercício terapêutico como “movi-
mento do corpo ou das partes corporais para alívio de sintomas ou melhorar a
função”. É o que há muito tempo se chamou de ginástica médica em oposição
à ginástica geral, cujos propósitos são essencialmente higiênicos ou estéticos.
Entretanto essa noção de movimento é muito restritiva.
Atualmente, a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
e Saúde (CIF) pode contribuir para a orientação e sistematização da prática clí-
nica do fisioterapeuta, mas ainda com seu uso limitado, principalmente, devi-
do à complexidade de sua aplicação.
Estudos sobre a aplicação da CIF realizados no Brasil demonstram haver
uma relação direta entre uma determinada patologia e as alterações de ativida-
de e participação resultantes do meio ambiente. E a cinesioterapia possibilita
intervir com sua prática no uso de metodologias que englobem os componen-
tes da CIF, operacionalizando com o enfoque biopsicossocial para a aten-
ção fisioterapêutica

OBJETIVOS
•  Apresentar conceito de cinesioterapia e exercícios terapêuticos utilizados pelo fisiotera-
peuta como recursos de tratamento;
•  Trazer reflexões sobre a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
e Saúde), relacionando a intervenção fisioterapêutica;
•  Apresentar a Síndrome da Imobilidade e reflexões sobre a intervenção fisioterapêutica
junto à equipe multidisciplinar.

8• capítulo 1
1.1  Conceito, objetivos e consideração sobre cinesioterapia como
intervenção e CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde)

A Cinesioterapia sempre foi definida pelo uso do movimento ou exercício como


forma de terapia (exercício terapêutico), mas podemos também afirmar que é o
tratamento do movimento. Os primeiros estudos sobre a utilização dos exercí-
cios terapêuticos datam da Grécia e Roma antiga, porém foi a partir da I Guerra
Mundial que houve um aumento acentuado da utilização deste recurso para a
reabilitação de pacientes. Isso devido ao grande número de incapacitados. Sua
principal finalidade é a manutenção ou desenvolvimento do movimento livre
para a sua função, e tem como efeitos principais a melhora da força, resistência
à fadiga, coordenação motora, mobilidade e flexibilidade.
Cinesioterapia ou exercício terapêutico é o treinamento planejado e siste-
mático de movimentos corporais, posturas ou atividades físicas com objetivos
de proporcionar ao indivíduo meios de:
•  Tratar ou prevenir comprometimentos;
•  Melhorar, restaurar ou potencializar a função física;
•  Prevenir ou reduzir fatores de risco ligados à saúde;
•  Otimizar o estado de saúde geral, seu preparo físico ou sensação de
bem-estar.

Muitas pessoas já ouviram falar da CID-10, que é uma classificação interna-


cional de doenças. Nos atestados médicos, por exemplo, o CID normalmente
é inserido.
Menos conhecida é a CIF, Classificação Internacional de Incapacidade,
Funcionalidade e Saúde elaborada pela Organização Mundial de Saúde para ser
usada de forma transversal em diferentes áreas como saúde, educação, econo-
mia e desenvolvimento de políticas. Enquanto a CID-10 está focada na doença, a
CIF se volta para o indivíduo e o exercício de suas funcionalidades na interação
entre a pessoa e o ambiente social ao redor. Ela é hoje o modelo da Organização
Mundial da Saúde (OMS) para saúde e incapacidade, constituindo a base concei-
tual para definição, mensuração e formulação de políticas nesta área.
É baseada num modelo de incapacidade que poderia ser chamado de mo-
delo biopsicossocial. Este modelo sintetiza o que é verdadeiro nos modelos mé-
dico e social, ou seja, não comete o erro de reduzir a noção de incapacidade a

capítulo 1 •9
apenas um dos seus aspectos. A CIF fornece, por esta síntese, uma visão coeren-
te de diferentes perspectivas da saúde: biológica, individual e social. Sempre
enxergando o ser biopsicossocial (OPAS, 2000).
Com essa visão, Mário César Battisti cobra da sociedade uma visão das pes-
soas com limitações como problema, para reconhecer que os ambientes em
que vivemos são o problema:

Precisamos confrontar o quanto somos capazes de gerar barreiras e gerar infelicidade


para os outros e como não somos freados nessa capacidade de tornar o outro infeliz.
(Câmara dos Deputados, 2015)

Os componentes da CIF se interligam e compõem um modelo multidi-


mensional, multidirecional e dinâmico. Com este modelo, pode-se inverter
a compreensão da incapacidade a partir da doença ou da condição de saúde,
entendendo, ao contrário, o ambiente, levando à incapacidade e à doença. O
respeito às múltiplas dimensões envolvidas no processo de saúde e funcionali-
dade/incapacidade (biológica, individual, social), além do reconhecimento do
importante papel do ambiente (não só físico, mas social e de atitudes), traz uma
nova luz sobre "saúde" e "incapacidade", em especial sobre questões de Saúde
do Trabalhador (DI NUBILA, 2010).
A CIF reconhece que todo ser humano pode experimentar uma perda ou
diminuição na sua saúde e, portanto, experimentar alguma incapacidade.
Isso não é algo que acontece somente a uma minoria da humanidade, mas é
uma experiência humana universal. Mudando o foco da causa para o impac-
to, todas as condições de saúde são colocadas em pé de igualdade, permitindo
que sejam comparadas, usando uma medida comum, uma escala de saúde e
de incapacidade.
O "diagnóstico" sozinho não prevê a necessidade de serviços, tempo de
hospitalização, nível de cuidados ou resultados funcionais. Isso significa que,
se usarmos uma classificação médica de diagnósticos sozinha, não teremos
a informação necessária para propósitos de gerenciamento e planejamento
de saúde.
A CIF permite coletar dados vitais sobre tipos e níveis de funcionalidade e
incapacidade de modo consistente e comparável internacionalmente, forne-
cendo a base para compor dados em nível nacional, ajudando a guiar o desen-
volvimento de políticas nesta área (tabela 1.1). O fisioterapeuta deve estar pre-
sente de forma abrangente nessas discussões.

10 • capítulo 1
FUNÇÕES E ESTRU- ATIVIDADE E FATORES
COMPONENTES FATORES SOCIAIS
TURAS CORPORAIS PARTICIPAÇÃO AMBIENTAIS
Funções Influências Influências
corporais Áreas da vida externas na fun- internas na fun-
Domínios
Estruturas (tarefas, ações) cionalidade e na cionalidade e na
corporais incapacidade incapacidade

Capacidade:
execução
Mudanças nas Impacto facilita-
de tarefas
funções corpo- dor ou dificulta-
em ambien-
rais (fisiológicas) dor de aspectos Impacto das ati-
Constructos te padronizado.
Mudanças nas do mundo tudes da pessoa
Desempenho:
estruturas corpo- físico, social e de
execução de
rais (anatômicas) mentalidade.
tarefas no am-
biente atual.

Integridade
Aspecto Atividades
funcional e Facilitadores Não aplicável
positivo Participação
estrutural

Limitação
Aspecto das atividades Barreiras
Deficiência Não aplicável
negativo Restrições à Impedimentos
participação

Tabela 1.1  –  CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde).

Sabemos que, progressivamente, a CIF vem sendo conhecida e que cada


vez mais os profissionais de saúde, em especial das áreas de reabilitação e, em
particular, da área de reabilitação profissional, vêm se apropriando do enten-
dimento deste modelo. Isso possibilita a ampliação do pensamento de novas
intervenções, bem como em políticas mais voltadas à realidade das complexas
relações dentro do tema "saúde e incapacidade/funcionalidade no trabalho"
(DI NUBILA, 2010).
Tradicionalmente, a fisioterapia, como profissão, tem sido definida por
um corpo de conhecimento e aplicações clínicas que estão direcionadas para
a eliminação ou remediação da incapacidade. Contudo, conforme a profissão
foi se desenvolvendo, o escopo da prática ultrapassou o simples tratamento da
incapacidade e agora inclui a promoção do bem-estar de pessoas saudáveis e
a prevenção ou redução de fatores de risco que possam levar à incapacidade.
Vários fatores de risco podem estar envolvidos junto à incapacidade fun-
cional. Alguns fatores que aumentam o risco da incapacidade têm caracte-
rísticas biológicas, comportamentos ligados ao estilo de vida, características

capítulo 1 • 11
psicológicas e o impacto dos ambientes físico e social. Os fatores de risco rela-
cionados com a incapacitação são influências ou características que predispõe
o indivíduo ao processo de incapacitação. Sendo assim eles surgem antes da
patologia, comprometimentos, limitações funcionais ou incapacidades.
Há os riscos modificáveis (comportamentais, ambientais) e os não modifi-
cáveis (fatores biológicos e genéticos). Modificar os fatores de risco por meio de
uma intervenção de educação na saúde associada ao exercício terapêutico é um
instrumento importante que o fisioterapeuta deve se apoderar para reduzir ou
prevenir a incapacitação.

Fatores de risco para incapacidade:


Fatores biológicos:
•  Idade, sexo, raça;
•  Relação peso/altura;
•  Anormalidades ou distúrbios congênitos;
•  História familiar de doença – predisposição genética.

Fatores comportamentais, psicológicos e de estilo de vida:


•  Vida sedentária;
•  Uso de cigarro, álcool, outras drogas;
•  Má nutrição;
•  Baixo nível de motivação;
•  Inadequação para lidar com adversidades;
•  Dificuldade para lidar com mudanças;
•  Sentimentos negativos.

Características ambientais físicas:


•  Barreiras arquitetônicas em casa, na comunidade e local de trabalho;
•  Características ergonômicas do ambiente de casa, trabalho ou escola.

Fatores socioeconômicos:
•  Situação econômica inferior;
•  Baixo nível educacional;
•  Acesso inadequado aos serviços de saúde;
•  Suporte familiar ou social limitado.

12 • capítulo 1
A compreensão básica do processo e dos vários modelos e sistemas de clas-
sificação fornece o conceito para prática e pesquisa e estabelece um fundamen-
to para a tomada de decisão, possibilitando atendimentos fisioterapêuticos
efetivos, eficientes e significativos para o paciente.
O fornecimento de um tratamento de qualidade envolve a habilidade de
fazer julgamentos clínicos adequados, solucionar problemas que aflijam o
paciente e aplicar o conhecimento das inter-relações entre patologia, compro-
metimento, limitação e incapacidade ao longo de cada fase do tratamento. A
tomada de decisão clínica envolve a escolha, implementação e modificação
de intervenções que usam exercícios terapêuticos com base nas necessidades
únicas de cada paciente. Isso só é possível após uma avaliação abrangente, um
diagnóstico cinesiológico funcional claro e preciso e um pensamento crítico e
criativo.
Depois de terminar o exame inicial, analisar os dados e estabelecer um diag-
nóstico baseado no comprometimento, é preciso determinar o prognóstico, in-
cluindo um plano de atendimento, antes de iniciar qualquer intervenção.
A determinação de um prognóstico preciso é desafiador até mesmo para fi-
sioterapeutas experientes, e o plano de atendimento é um componente integral
do prognóstico. Está relacionado às metas estabelecidas resultados funcionais
esperados – úteis, sustentáveis e mensuráveis, extensão e tempo necessário
para atingir a melhora estabelecida, frequência e duração da intervenção e esti-
mativa de plano de alta fisioterapêutica.
O estabelecimento de metas relevantes e significativas requer o engajamen-
to do paciente e/ou família na tomada de decisão desde nosso primeiro conta-
to. Os pacientes procuram a fisioterapia não para se tornarem mais fortes ou
flexíveis, mas para serem capazes de desempenhar com facilidade e conforto as
atividades físicas que gostaria ou precisam fazer.
A chave para justificar os serviços de fisioterapia no sistema de saúde atual,
com contenção de custos, é a identificação e documentação dos resultados fun-
cionais de sucesso que podem estar relacionados às intervenções com base em
evidências. Os resultados funcionais necessitam ser significativos, práticos e
sustentáveis. Tem de ter impacto na habilidade do paciente, melhorar a função
de forma eficiente e efetiva com baixo custo e se manter ao longo do tempo
após a alta fisioterapêutica.

capítulo 1 • 13
Comprometimentos físicos comuns tratados com exercícios terapêuticos:
Musculoesqueléticos: Dor; fraqueza muscular; diminuição da resistência
muscular à fadiga; amplitude de movimento limitada (restrição na cápsula ar-
ticular, no tecido conjuntivo e no comprimento muscular); hipermobilidade
articular; má postura e desequilíbrios entre comprimento e força muscular.
Neuromusculares: Dor; comprometimentos de equilíbrio, estabilidade pos-
tural ou controle; incoordenação; desenvolvimento motor tardio ou compro-
metido; tônus anormal (hipotonia, hipertonia, distonia); estratégias de movi-
mento funcional não efetivas ou insuficientes.
Cardiovasculares/pulmonares: Capacidade aeróbica diminuída; circula-
ção comprometida (linfática, venosa, arterial); dor durante a atividade físi-
ca sustentada.
Tegumentares: hipomobilidade da pele.

1.2  Conceito, efeitos fisiológicos da mobilização e do exercício e metas

O uso apropriado do exercício pode acelerar o processo de cicatrização, e a falta


de exercício durante os estágios iniciais da recuperação da função pode resultar
em incapacidade permanente. As condições ideais para a cicatrização depen-
dem de um equilíbrio entre a proteção contra o estresse e o retorno a função
normal no período mais precoce possível.
A remobilização pode restaurar as propriedades mecânicas e estruturais
dos tecidos ligamentares. As forças de cisalhamento e compressivas que ocor-
rem na superfície articular provocada pelo movimento faz com que aumente a
síntese de colágeno e proteoglicanos (HALL e BRODY, 2001).
O exercício passivo pode ser definido como exercício realizado por uma for-
ça externa, em que os músculos motores do movimento em questão não este-
jam atuando. E isso é difícil, pois o paciente, quando tem o movimento ativo
presente, sempre auxilia ou resiste ao movimento passivo.
Esta força externa pode ser realizada pelo terapeuta, por aparelhos, ou até
mesmo pelo próprio paciente. É utilizado em casos onde a pessoa é incapaz de
produzir o movimento ativo por paralisia muscular (força grau 0), por fraqueza
muscular grave (força grau 1) ou quando o movimento ativo é doloroso.
Para uma boa mobilização passiva, devemos levar em consideração:
•  Posicionamento do paciente.
•  Posicionamento do terapeuta.

14 • capítulo 1
•  Respeito à dor.
•  Aquisição da confiança do paciente.
•  Formas de mobilização.

Os objetivos a serem alcançados pela mobilização passiva:


•  Manter a integridade da articulação e tecidos moles.
•  Evitar formação de contraturas.
•  Manter a elasticidade dos músculos.
•  Assistir a circulação sanguínea, evitando a formação de trombos.
•  Melhorar o movimento sinovial para nutrir as cartilagens articulares.
•  Diminuir ou inibir dor.
•  Auxiliar o processo de cicatrização após cirurgia e evitar aderências.
•  Ganhar e/ou manter a ADM (amplitude do movimento) da articulação.
•  Manter os padrões cinestésicos do movimento.

A mobilidade ativa pode ser limitada pelos mesmos tecidos não contráteis e
contráteis que limitam também a mobilidade passiva. Encurtamento, rigidez,
espasmo ou contraturas limitam a capacidade da articulação movimentar-se
através de sua amplitude total de movimento. O movimento ativo é definido
como atividade de mobilidade realizada por contração muscular efetiva. Essas
atividades podem ser realizadas contra a gravidade ou em uma posição com
a gravidade minimizada, dependendo da força do indivíduo e dos objetivos
da Fisioterapia. Os objetivos ou resultados dos movimentos ativos incluem
aqueles associados aos movimentos passivos mais os benefícios da contra-
ção muscular.
Já o exercício resistido pode ser definido como contrações musculares reali-
zadas contra resistências graduáveis e progressivas. A resistência mais comum
são os pesos, mas também é possível utilizar resistência manual, hidráulica,
eletromagnética, molas, elásticos e outras. Seu objetivo é de estimular a integri-
dade e as funções do aparelho locomotor, além dos seus efeitos promotores de
saúde cardiovascular e alto grau de segurança geral.
De maneira geral, uma carga pode ser aplicada a um músculo em contração
de duas maneiras: manual ou mecânica. Os exercícios com resistência manual
é um tipo de exercício executado contra uma resistência imposta pelo fisiotera-
peuta. A grande vantagem da utilização desse método se dá no fato de não haver
necessidade de equipamentos para execução dos exercícios resistidos, além da

capítulo 1 • 15
possibilidade de graduação de força para um músculo muito fraco, e que pode
vencer apenas uma resistência mínima a moderada. Também é útil quando
necessitamos controlar cuidadosamente a amplitude articular. Eles podem ser
aplicados nos planos anatômicos e em padrões diagonais, que discutiremos
mais a frente.
O exercício com resistência mecânica é uma forma de exercício ativo-resis-
tido, na qual a resistência é aplicada por meio de equipamentos ou aparelhos
mecânicos. É útil quando a quantidade de resistência necessária é superior ao
que o fisioterapeuta pode aplicar manualmente. Há a possibilidade de medição
de forma quantitativa e progressiva ao longo do tempo (KISNER e COLBY, 2016).
Os estudos com pessoas idosas têm documentado a importância dos efeitos
dos exercícios resistidos para melhorar a qualidade de vida por meio do alívio
de dores articulares, maior independência funcional e melhora da autoestima.
A segurança musculoesquelética e segurança cardiovascular dos exercícios re-
sistidos também têm sido demonstradas, mesmo diante de co-morbidades.
Atualmente um significativo corpo de evidências justifica a utilização dos exer-
cícios resistidos para promoção de saúde, terapêutica e reabilitação (CÂMARA;
BASTOS; VOLPE, 2012).
Saúde musculoesquelética pode ser conceituada como a boa capacidade
funcional do aparelho locomotor e a integridade estrutural dos seus compo-
nentes como ossos, cartilagens, ligamentos, músculos e tendões.
A saúde musculoesquelética é estimulada por todo tipo de atividade física
em que as contrações musculares são realizadas contra alguma forma de re-
sistência. O trabalho braçal e as atividades esportivas mais intensas utilizam
contrações resistidas e são eficientes para estimular a integridade e a função
do aparelho locomotor.
Por meio do estímulo à saúde musculoesquelética é possível reduzir a ocor-
rência de dores articulares, limitações de aptidão para a vida diária e para o
trabalho, osteoporose, fraturas, sarcopenia, distúrbios neuroendócrinos, des-
regulação do sistema imune e fragilidade (CÂMARA; BASTOS; VOLPE, 2012).
Saúde cardiovascular é a situação de integridade dos tecidos e adequada
condição funcional do sistema cardiocirculatório. A atividade física tem sido
identificada como o mais importante fator ambiental favorável à saúde car-
diovascular. O mecanismo pelo qual a atividade física estimula a saúde car-
diovascular parece ser a profilaxia ou o melhor controle de doenças sistêmicas

16 • capítulo 1
crônicas (obesidade, diabetes, hipertensão arterial e dislipidemias) que evo-
luem para a degeneração dos vasos sanguíneos, cuja manifestação mais fre-
quente é a aterosclerose (KISNER e COLBY, 2016).
É bom atentar para os princípios básicos para as aplicações terapêuticas dos
exercícios resistidos. Eles devem ser observados em todas as situações. Uma se-
leção adequada dos exercícios deve ocorrer na prescrição e planejamento dos
programas de tratamento, evitando-se movimentos que possam ser inadequados
para cada situação. Com os exercícios selecionados, as cargas e amplitudes serão
adaptadas para as limitações individuais, com evolução gradativa, sempre res-
peitando os limites do conforto articular. O grau de esforço deve ser submáximo
e os volumes de treinamento baixos (CÂMARA; BASTOS; VOLPE, 2012).
Os tipos de exercícios escolhidos para um programa de treinamento depen-
dem de muitos fatores, incluindo a causa e a extensão dos comprometimentos
primários e secundários. É preciso considerar os déficits no desempenho mus-
cular, o estágio da cicatrização dos tecidos, a condição das articulações e sua to-
lerância a compressão e movimento, as habilidades gerais (físicas e cognitivas)
do paciente, a disponibilidade dos equipamentos e obviamente, as metas do
paciente e os resultados funcionais desejados com o programa. O fisioterapeu-
ta tem uma infinidade de exercícios para escolher ao elaborar um programa
de exercícios que supra as necessidades de cada paciente. Não há uma forma
ou tipo de treinamento resistido que seja melhor. Antes de escolher tipos es-
pecíficos de exercícios para o programa de reabilitação do paciente, devemos
considerar algumas questões:
•  Qual o tipo e extensão de déficit no desempenho muscular?
•  É a patologia de base? Ou o estágio de cicatrização que levarei em conside-
ração para a escolha do treinamento?
•  Quais a metas e resultados funcionais previstos?
•  Quais exercícios são mais compatíveis com essas metas?
•  Qual tipo de fortalecimento seria mais efetivo?
•  Há alguma limitação em relação ao paciente? O apoio de peso é contrain-
dicado? Há hipomobilidade na articulação? Há restrição em algum grau de mo-
bilidade articular?
•  Há comprometimentos cardiorrespiratórios?
•  Espera-se independência nesses exercícios?
•  Quais tipos de equipamentos tenho disponíveis?

capítulo 1 • 17
Sempre que um músculo recebe um estímulo nervoso gera uma contração
que pode ser de dois tipos: isotônica ou isométrica.

1.2.1  Classificação quanto ao tipo de contração:

•  Exercício isotônico.
Na contração isotônica, a força gerada pelo músculo é superior à propor-
cionada pela força de gravidade e à resistência dos segmentos esqueléticos nos
músculos aos quais está unido, o que provoca a contração do músculo e a sua
consequente aproximação ao segmento esquelético que movimenta. Ocorre
quando há, associada a uma contração muscular, uma alteração em seu com-
primento. Ele pode ser:
Concêntrico: quando há durante a contração uma diminuição no compri-
mento muscular com aproximação das peças ósseas por ele unidas.
Excêntrico: quando há durante a contração um aumento no comprimento
muscular com afastamento das peças ósseas por ele unidas.
O exercício excêntrico proporciona em relação ao concêntrico:
•  Aumento da capacidade produtora de força
•  Aumento da eficiência
•  Aumento da P.A
•  Maior risco de microtraumas.

Figura 1.1  –  Exercício concêntrico e exercício excêntrico.

18 • capítulo 1
•  Exercício isométrico:
É uma forma de exercício em que um músculo se contrai e produz força sem
uma mudança apreciável no seu comprimento e sem movimento articular visí-
vel (Figura 2). As fontes de resistência para o exercício isométrico incluem sus-
tentar-se contra uma força aplicada manualmente, segurar um peso em uma
posição específica, manter uma posição contra uma posição específica, manter
uma posição contra a resistência do peso corporal ou empurrar ou puxar um
objeto imóvel. O treinamento isométrico é um meio viável de melhorar a força
muscular.

Figura 1.2  –  Exercício Isométrico (músculo reto abdominal).

Base teórica para o uso do exercício isométrico:


•  Tem sido sugerido que a resistência muscular à fadiga tem um papel mais
importante do que a força muscular para manter a estabilidade postural su-
ficiente e prevenir lesões durante tarefas diárias. A estabilidade dinâmica das
articulações é obtida pela ativação e manutenção de uma co-contração de baixo
nível, ou seja, contrações isométricas simultâneas dos músculos antagonistas
que cercam as articulações.

Tipos de exercícios isométricos: todos os tipos, com exceção dos isométri-


cos leves, incorporam alguma forma de resistência significativa e, portanto,
são usados para melhorar a força estática ou desenvolver o controle muscular
sustentado.
•  Exercícios isométricos leves: envolvem contrações isométricas de baixa
intensidade feitas contra pouca ou nenhuma resistência. São usados para di-
minuir a dor muscular e o espasmo e para promover o relaxamento e a circula-
ção depois de lesões de tecidos moles durante o estágio agudo da cicatrização.

capítulo 1 • 19
Os isométricos leves podem retardar a atrofia muscular e manter a mobilidade
entre as fibras musculares quando a imobilização de um músculo é necessária
para proteger os tecidos em cicatrização.
•  Exercícios de estabilização: usada para desenvolver um nível submáximo,
porém, sustentado, de co-contração, visando melhorar a estabilidade postural
ou a estabilidade dinâmica de uma articulação por meio de contrações isomé-
tricas resistidas no meio da amplitude. O peso do corpo ou a resistência ma-
nual geralmente são as fontes de resistência.
•  Isométricos em múltiplos ângulos: refere-se a um sistema de exercícios
isométricos em que a resistência é aplicada, manual ou mecanicamente, em
múltiplas posições articulares dentro da amplitude articular disponível.

Apesar de os dois tipos de exercícios serem benéficos para a musculatura es-


quelética, os isotônicos contribuem para o desenvolvimento do volume, força,
potência e resistência do músculo, enquanto o benefício dos isométricos passa
pelo aumento do tônus e da força muscular.
Os exercícios isométricos são muito fáceis de realizar, pois não necessitam
de qualquer material ou acessório especial, já que apenas consistem na con-
tração de músculos de ação oposta ou antagônica em simultâneo, como, por
exemplo, ao juntar as duas mãos e tentar estender um antebraço, enquanto se
tenta contrair o outro.
Os exercícios isométricos costumam ser indicados para prevenir a atrofia
muscular, em caso de imobilização de um segmento corporal ou em caso de
indicação de repouso absoluto. Para, além disso, são muito úteis como comple-
mento de praticamente qualquer tipo de treino. Todavia, é preciso ter em conta
que, como podem provocar uma subida transitória significativa da pressão ar-
terial, são contraindicados para as pessoas hipertensas.

•  Exercício isocinético:
Os exercícios isocinéticos são conseguidos quando o músculo encurta con-
tra uma resistência cooperante igualada com a força produzida pelo músculo e
requerem uma velocidade constante durante toda a amplitude do movimento
(Figura 3). Quanto mais lenta for a velocidade do movimento isocinético, maior
será o ganho em força e endurance (resistência). Estes exercícios devem ser ini-
ciados com um mínimo de resistência ao movimento (sem permitir que este
ocorra), que é aumentada gradativamente. Contribuem para a coordenação
motora, flexibilidade e força (KISNER e COLBY, 2016).

20 • capítulo 1
Figura 1.3  –  Exercício isocinético.

1.2.2  Classificação quanto à cadeia cinética

O termo cadeia foi originalmente utilizado para analisar sistemas articulados


em engenharia, no entanto em 1955 tal termo foi empregado para o corpo hu-
mano, considerando que nosso organismo nada mais é que uma série de seg-
mentos rígidos conectados por articulações.
Durante o final da década de 1980, os clínicos e pesquisadores em reabi-
litação, que estavam se familiarizando com a abordagem de cadeias cinéticas
(ou cinemáticas) abertas e fechadas para classificar os movimentos humanos,
começaram a descrever os exercícios com base nesses conceitos (Figura 4).
Uma fonte de discordância é se o apoio de peso é um componente inerente
dos movimentos em cadeia cinética fechada. Outro ponto de ambiguidade é
se o segmento distal precisa estar absolutamente fixo em uma superfície para
ser classificado como movimento em cadeia fechada (KISNER e COLBY, 2016).
Enquanto isso:

•  Cadeia cinética aberta


Refere-se ao exercício no qual a extremidade distal esteja movendo-se livre-
mente no espaço. O segmento distal move-se em torno do proximal.

capítulo 1 • 21
•  Cadeia cinética fechada
Refere-se ao exercício no qual a extremidade distal esteja fixa. Neste caso, o
segmento proximal move-se em relação à extremidade fixa. Atualmente acredi-
ta-se que os exercícios em cadeia cinética fechada sejam mais funcionais, pois:
•  promovem a descarga de peso nas diferentes estruturas;
•  estimulam os mecanoceptores;
•  estimulam a co-contração;
•  melhora na proteção articular;
•  alterando-se a cadeia cinética de um movimento podemos estar alterando
a dinâmica articular e o recrutamento muscular.

Figura 1.4  –  Exercícios de cadeia cinética aberta e fechada.

1.3  Síndrome da Imobilidade

A imobilidade é definida como a perda da capacidade de realizar movimentos


autônomos empregados no desempenho atividades de vida diária (AVDs) em
decorrência da diminuição das funções motoras. Este fato compromete a inde-
pendência do indivíduo e, por fim, leva ao estado de incapacidade ou fragilida-
de. Podemos aplicar esse conceito num caso de indivíduo acamado por mais de
15 dias ou em segmento imobilizado por período elevado.

22 • capítulo 1
Entendemos melhor a síndrome de imobilidade ou imobilismo no leito
se conhecer a biomecânica de nosso organismo. Sabemos que o ser humano
é desenhado para ser móvel, principalmente porque 40% do nosso organismo
é composto de músculos esqueléticos. Além do mais somos dependentes da
atividade física para que haja a manutenção deste sistema musculoesquelético
e para a melhor função de nossos órgãos internos.
Sabemos, por exemplo, que a reabsorção óssea é feita através dos estímulos
de pressão e tração que este segmento recebe ao longo do dia onde nos loco-
movemos e pressionamos as estruturas. Outros exemplos da falta de atividade
física são insuficiência cardíaca, deterioração articular, condições tromboem-
bólicas, estase gastrointestinal e estase urinária.
A patofisiologia das alterações que acontecem devido ao longo decúbito come-
ça cedo e evolui rapidamente. Muitas das desordens são reversíveis, mas quanto
maior o período de imobilização mais difícil será a sua recuperação e reabilitação.
O sistema musculoesquelético mostra as manifestações mais evidentes da
imobilização com a fraqueza e a atrofia por desuso. Com a imobilização ocorre
1 a 2% perda da força muscular por dia, podendo atingir 40% nos longos perío-
dos. Os grupos musculares que se atrofiam mais rapidamente são: quadríceps,
flexores plantares e extensores da coluna. Observam-se também alterações bio-
químicas, ocasionando o aumento de ácido lático nos músculos. A formação de
contratura é uma das consequências mais comum na imobilização.

Figura 1.5  –  Síndrome da Imobilidade.

capítulo 1 • 23
A seguir listaremos os efeitos adversos que ocorrem devido ao lon-
go decúbito:
No sistema músculo-esquelético:
•  Hipotrofia, atrofia e descondicionamento muscular;
•  Contraturas;
•  Osteoporose e osteopenia;
•  Deterioração articular;
•  Ossificação heterotrópica;
•  Osteomielite;
•  Deformidades.

Para estes pacientes preconizamos um trabalho de cinesioterapia motora


inicialmente utilizando, se possível a cinesioterapia livre ou assistida e isome-
tria e, quando em estados onde o paciente não é muito colaborativo usa-se a
cinesioterapia passiva. Além disto, deve-se fazer um programa de alongamento
mantido visando trabalhar tanto o tecido conectivo quanto o alongamento da
fibra muscular. Também deve estar presente o ortostatismo precoce (pode ser
necessário o uso de tábua ortostática). A massoterapia é de fundamental im-
portância para a liberação de aderências e "trigger points".

Na função visceral:
Alteração no sistema respiratório:
•  Diminuição do trabalho respiratório com consequente perda de força da
musculatura da ventilação;
•  Diminuição de volumes e capacidades pulmonares;
•  Estase de muco em áreas mal ventiladas levando a infecções pulmonares;
•  Atelectasias;
•  Dificuldade para tossir;
•  Broncoaspiração.

Alteração do sistema cardiovascular:


•  Diminuição da função cardiovascular;
•  Diminuição do volume cardíaco (miocárdio);
•  Alteração no volume de distribuição dos fluídos corporais;
•  Descondicionamento cardíaco;
•  Hipotensão ortostática;

24 • capítulo 1
•  Trombose venosa profunda;
•  Tromboembolismo pulmonar.

Alterações no sistema urinário:


•  Estase da urina;
•  Cálculo renal;
•  Infecções;
•  Bexiga neurogênica;
•  Incontinência.

Sistema gastrointestinal:
•  Perda de apetite;
•  Incontinência fecal;
•  Fecaloma;
•  Constipação e obstrução.

Mobilização precoce diminui a incidência de tromboembolismo e de trom-


bose venosa profunda além de permitir a melhor oxigenação e nutrição dos ór-
gãos internos. A movimentação ativa quando possível, a mobilização passiva, a
massoterapia, padrões ventilatórios e uso de incentivadores inspiratórios são
as principais formas de prevenir as alterações nos sistemas viscerais.
Do ponto de vista psicológico, a imobilidade prolongada pode provocar an-
siedade, depressão, insônia, agitação, irritabilidade, desorientação no tempo e
no espaço, diminuição da concentração e diminuição da tolerância à dor.
Devemos ter, junto a equipe multiprofissional e a família, alguns cuidados
fundamentais com o indivíduo acamado:
•  Estimulação da mobilidade;
•  Evitar restrição ao leito;
•  Cuidado com o toque (firmeza mas sem agressão);
•  Diminuir a dor e o desconforto;
•  Realizar trocas posturais constantes;
•  Posicionar corretamente com o uso de coxins;
•  Não alimentar o indivíduo acamado deitado e nem com extensão ou rota-
ção do pescoço;
•  Caso o indivíduo esteja engasgando, sente-o, e evite alimentos mais líqui-
dos. Prefira os pastosos;

capítulo 1 • 25
•  Evite a posição em flexão das articulações;
•  Faça mobilizações articulares constantes;
•  Trocas constantes de fraldas;
•  Manter a pele sempre seca e hidratada;
•  Deixar os lençóis sempre esticados e sem restos alimentares;
•  Não fazer fricção durante as transferências;
•  Hidratação sempre.

ATIVIDADE
Aprofunde seu conhecimento sobre a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde).
Acesse: http://www.inr.pt/uploads/docs/cif/CIF_port_%202004.pdf

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CÂMARA, Lucas Caseri; BASTOS, Carina Corrêa; VOLPE, Esther Fernandes Tinoco. Exercício resistido
em idosos frágeis: uma revisão da literatura. Fisioter. Mov., Curitiba, v. 25, n. 2, p. 435-443, abr./jun.
2012
DI NUBILA, Heloisa B. V. Uma introdução à CIF: classificação internacional de funcionalidade,
incapacidade e saúde. Rev. bras. saúde ocup. vol.35 no.121 São Paulo Jan./June 2010.
DUTTON, Mark. Fisioterapia Ortopédica - Exame, avaliação e intervenção. 2 ed. Porto Alegre: Ed.
Artmed. 2010.
HALLl, M., BRODY, T. Exercício Terapêutico na Busca da Função. Rio de Janeiro, Editora
Guanabara Koogan. 2001.
KISNER, Carolin e COLBY, Lynn Allen. Exercícios Terapêuticos – Fundamentos e Técnicas. 6 ed.
Rio de Janeiro: Ed. Manole. 2016.
OPAS, OMS. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde. 10a revisão (CID-10), vol.1. 8a ed. São Paulo: Editora da USP; 2000.

26 • capítulo 1
2
Exercícios
terapêuticos de
ADM passiva
2.  Exercícios terapêuticos de ADM passiva
Nós dispomos de várias intervenções que permitem tratar uma diminuição da
mobilidade. Dentre as modalidades, podemos citar a mobilização articular,
que pode ser indicada para aumentar a amplitude de movimento (ADM).
O movimento ao redor de uma articulação, seja ele passivo, ativo assistido
ou ativo, produz uma carga que irá atuar nos tecidos moles. Essa carga pode
manter a integridade do tendão, ligamento e das fixações ósseas, e da cartila-
gem articular e do músculo.
Os movimentos passivos são usados quando o movimento ativo pode rom-
per o processo de cicatrização, quando o paciente é física ou cognitivamente in-
capaz de se movimentar ativamente, ou quando o movimento ativo é doloroso.
Os objetivos relacionados à prescrição da ADM passiva dependem do paciente
e das circunstâncias. Em um ambiente terapêutico, a ADM passiva é usada fre-
quentemente para evitar os efeitos deletérios da imobilização após uma lesão
ou cirurgia. A prevenção das contraturas articulares e da rigidez dos tecidos mo-
les ou encurtamento adaptativo, a manutenção das relações móveis normais
entre as camadas de tecidos moles, a redução da dor e o aprimoramento da
dinâmica vascular e da difusão sinovial são objetivos da ADM passiva.

OBJETIVOS
•  Apresentar os exercícios terapêuticos de ADM passivos utilizados pelo fisioterapeuta
como recursos de tratamento;
•  Trazer reflexões sobre as diversas formas de se fazer uso dos os exercícios terapêuticos
de ADM passivo;
•  Trazer reflexões sobre os conceitos básicos do movimento articular – osteocinemática e
artrocinemática – e relacionar as técnicas e conceitos utilizados como tratamento fisiotera-
pêutico para ganho de ADM.

Os exercícios terapêuticos de ADM passiva são usados para determinar a quanti-


dade de amplitude de movimento (AM) realmente existente em uma articulação,
assim como a “sensação” ao final da AM articular (sensação final). Durante os
movimentos passivos, você deverá comparar os dois lados e estar atento a(o):

28 • capítulo 2
•  Quando e onde a dor ocorre durante cada movimento;
•  Se o movimento altera a intensidade e a qualidade da dor;
•  Padrão de limitação do movimento;
•  Sensação final do movimento;
•  Movimento de articulações associadas;
•  ADM disponível:
•  Qual é a ADM normal para aquela articulação e para aquele indivíduo?
•  A articulação se mostra normal, com pouco movimento ou mui-
to movimento?
•  As articulações adjacentes estão compensando?
•  Qual articulação (ou articulações) é dolorida?

Como proposta de tratamento, os exercícios terapêuticos de ADM passiva,


como dito no primeiro capítulo deste livro, podem ser definidos como exercício
realizado por uma força externa, em que os músculos motores do movimento
em questão não estejam atuando. E isso é difícil controlar, quando o paciente
tem força muscular presente.
Esta força externa pode ser realizada pelo terapeuta, por aparelhos, ou até
mesmo pelo próprio paciente. É utilizado em casos onde a pessoa é incapaz de
produzir o movimento ativo por paralisia muscular (força grau 0), por fraqueza
muscular grave (força grau 1) ou quando o movimento ativo é doloroso.

2.1  Conceitos básicos do movimento articular

A questão é simples, mas vamos elucidar aqui uma dúvida que, por vezes, con-
funde: Osteocinemática? Artrocinemática?
“Osteo” e “cinemática” já dizem tudo, são os movimentos dos ossos, os mo-
vimentos que aparentam realizar, como flexão e extensão. São os movimentos
angulares grosseiros do corpo dos ossos descritos nos três planos do corpo: fle-
xão e extensão no plano sagital, abdução e adução no plano frontal e rotação
medial e lateral no plano transverso. São os movimentos fisiológicos ou clássi-
cos da diáfise óssea.
Já “artro” e “cinemática” fazem referência aos movimentos articulares
propriamente ditos, como rotação, rolamento, giro, compressão e tração, que
ocorrem dentro da articulação. São os movimentos acessórios que ocorrem en-
tre superfícies articulares durante movimentos fisiológicos.

capítulo 2 • 29
Na figura 2.1, podemos ver a seta com a direção do movimento osteocinemá-
tico, enquanto os movimentos artrocinemáticos ocorrem simultaneamente.

Movimento osteocinemático
Compressão

Rolamento Tração
Deslizamento

Fixo

Figura 2.1  –  Movimentos osteocinemáticos e artrocinemáticos.

2.1.1  Osteocinemática e Artrocinemática

2.1.1.1  Movimentos osteocinemáticos


O plano sagital divide o corpo em lados direito e esquerdo. Os movimentos que
ocorrem neste plano são os movimentos de flexão e extensão. Quando dois seg-
mentos se aproximam um do outro é realizado o movimento de flexão e quando
eles se afastam é realizado o movimento de extensão.
O plano horizontal divide o corpo em partes superior e inferior. Os movi-
mentos que ocorrem neste plano são os movimentos de rotação. O movimento
de rotação interna ocorre quando a superfície articular roda anteriorizando-se
em relação ao corpo, ou seja, uma rotação para dentro ou medial. Já o movi-
mento de rotação externa a superfície articular roda em direção a parte poste-
rior do corpo, ou seja, uma rotação para fora ou lateral. No antebraço, a rotação
interna é chamada de pronação e a rotação externa, de supinação.
O plano frontal divide o corpo em partes da frente e de trás. Os movimentos
realizados neste plano são o de abdução e o de adução. Quando um segmento
se afasta da linha mediana do corpo é realizado o movimento de abdução. E
quando um segmento se aproxima da linha mediana é realizado o movimento
de adução. No punho o movimento de abdução é definido como desvio radial e
o movimento de adução é definido como desvio ulnar.

30 • capítulo 2
Os planos secundários são destinados à articulações onde os planos frontal,
horizontal e sagital passam em outros pontos que não o centro de gravidade do
corpo, definindo, assim, o centro de uma articulação como a dos dedos, mão e
pé. Um exemplo são os movimentos de flexão dorsal e flexão plantar que ocor-
rem no tornozelo.

2.1.1.2  Movimentos artrocinemáticos


Os movimentos artrocinemáticos são os movimentos que ocorrem no interior
da articulação e, eles descrevem a distensibilidade na cápsula articular permi-
tindo que os movimentos fisiológicos ocorram ao longo da amplitude de mo-
vimento sem lesar as estruturas articulares. Estes movimentos não podem ser
realizados ativamente pelo paciente, geralmente são muito utilizados para res-
taurar a biomecânica articular normal diminuindo a dor, alongando ou libe-
rando com menos trauma determinadas estruturas.

NOTA: Os movimentos artrocinemáticos são influenciados pela forma das superfícies


articulares, as quais determinam as articulações em ovóide ou selar.
1. Ovóide – neste tipo de articulação encontram-se uma superfície convexa e
outra côncava.
2. Selar – esta articulação é formada por uma superfície côncava em uma
determinada direção e convexa em outra direção, com uma superfície oposta
semelhante côncava e convexa ao mesmo tempo.

São cinco os movimentos artrocinemáticos: giro, rolamento, tração, com-


pressão e deslizamento.
Rolamento: durante o rolamento um osso rola sobre o outro, e temos as se-
guintes características:
•  As superfícies são incongruentes.
•  Novos pontos de uma superfície encontram novos pontos na superfí-
cie oposta.
•  Nas articulações com a biomecânica normal o rolamento só ocorre em
combinação com os movimentos de deslizamentos e giro, porém quando o ro-
lamento ocorre sozinho causa compressão nas superfícies do lado que o osso
esta se movendo, o que pode provocar uma lesão articular, e uma separação no
outro lado.

capítulo 2 • 31
•  A superfície que se move seja ela convexa ou côncava não influencia a di-
reção do movimento ósseo.

Deslizamento: durante o deslizamento um osso desliza sobre o outro com


as seguintes características:
•  As superfícies articulares são congruentes.
•  O mesmo ponto em uma superfície faz contato com novos pontos na su-
perfície oposta.
•  O deslizamento não ocorre sozinho devido as superfícies articulares não
ser totalmente planas, ou seja, completamente congruente.
•  Diferentemente do rolamento, a superfície articular que se move influen-
cia a direção do deslizamento, o que é chamado como regra convexo-côncava.
•  Quando a superfície articular que se move é convexa o deslizamento ocor-
re na direção aposta à do movimento angular do osso.
•  Quando a superfície que se move é côncava o deslizamento ocorre na mes-
ma direção do movimento angular do osso.
•  A regra do côncavo – convexo é importante para o terapeuta determinar a
direção da força mobilizadora em técnicas de manipulação articular.

Giro: durante o giro um osso gira sobre o outro com as seguin-


tes características:
•  O osso faz uma rotação sobre um eixo mecânico estacionário.
•  O ponto na superfície que se move faz um círculo na medida em que o
osso gira.
•  O giro dificilmente ocorre sozinho, mas geralmente em combinação com
o deslizamento.

Compressão: durante a compressão uma superfície articular se aproxima


uma da outra com as seguintes características:
•  A compressão causa diminuição no espaço articular entre as partes ósseas.
•  Ocorre normalmente nos membros inferiores e na coluna durante a sus-
tentação do corpo.
•  Ocorre compressão com a contração muscular gerando estabilidade arti-
cular, impedindo lesões articulares.
•  Com a compressão o líquido sinovial move-se para as estruturas articula-
res avasculares nutrindo-as e lubrificando-as.

32 • capítulo 2
•  Cargas excessivas de compressão causam lesões articulares, principal-
mente na cartilagem articular.

Tração: durante o movimento de tração as superfícies articulares afastam-


se uma da outra com as seguintes características:
•  Ocorre separação das superfícies articulares quando são puxadas distal-
mente uma da outra.
•  Pode ocorrer tração no eixo longo do osso resultando em deslizamen-
to caudal.
•  Pode ocorrer tração em ângulo reto onde resulta na separação articular
propriamente dita.

2.1.1.3  Regra do Côncavo-convexo:


O movimento articular é uma combinação variável de movimentos acessórios
(rolamento, deslizamento ou giro), como relatado anteriormente.
E a variação dessa combinação depende da direção em que ocorre o movi-
mento, da área de superfície do osso estacionário ou em movimento.
"Se um osso da convexidade move-se sobre o osso que apresenta a concavi-
dade, a superfície convexa move-se em sentido oposto ao do segmento ósseo."
(LEHMKUHL, 1997)
Explicação: Quando um osso convexo move-se sobre um côncavo, ele deve
primeiro realizar um movimento de rolamento anterior e deslizamento poste-
rior. Portanto, as direções são opostas (figura 2.2).

Movimento
angular

Rolamento

Deslizamento

Figura 2.2  –  Osso convexo sobre superfície côncava.

capítulo 2 • 33
"Se o osso com a concavidade for movido sobre o osso com a convexidade, a
estrutura côncava se moverá no mesmo sentido do segmento ósseo."
Explicação: Quando um osso côncavo for movido sobre um osso convexo, a
estrutura côncava deve primeiro rolar anterior e deslizar anterior. Portanto, as
direções dos dois movimentos são para o mesmo sentido.

Movimento
angular

Rolamento

Deslizamento

Figura 2.3  –  Osso côncavo sobre superfície convexa.

2.2  Exercícios de ADM passiva, efeitos fisiológicos, indicação e


contraindicação

A principal meta da ADM passiva é diminuir as complicações que poderiam ocor-


rer em virtude da imobilização, como degeneração da cartilagem, formação de
aderências e contraturas e má circulação. Especificamente as metas são:
•  Manter a mobilidade da articulação e do tecido conjuntivo;
•  Minimizar os efeitos da formação de contraturas;
•  Manter e elasticidade mecânica do músculo;
•  Auxiliar a circulação e a dinâmica vascular;
•  Favorecer o movimento sinovial para nutrição da cartilagem e difusão de
materiais dentro da articulação;
•  Diminuir ou inibir a dor;
•  Auxiliar o processo de cicatrização após lesão ou cirurgia;
•  Ajudar a manter no paciente a percepção dos movimentos.

34 • capítulo 2
Outros usos da ADM passiva:
•  Quando um fisioterapeuta examina estruturas inertes, faz-se uso da ADM
passiva para determinar limitações de movimento, estabilidade articular e elas-
ticidade dos músculos e outros tecidos moles.
•  Quando um fisioterapeuta ensina um programa de exercícios ativos, faz-
se uso da ADM passiva para demonstrar o movimento desejado.
•  Quando um fisioterapeuta prepara um paciente para o alongamento, faz
uso da ADM passiva para preparo dos tecidos para receber técnicas de alonga-
mento passivo (KISNER e COLBY, 2016).

Indicações para o uso de exercícios de ADM passiva:


•  Locais com processos inflamatórios sem edema articular (efusão) devido
a trauma ou doença.
•  Quando o paciente não é capaz ou não está autorizado a exercer o movi-
mento ativo (comatoso, paralisado ou em repouso absoluto).

Os movimentos artrocinemáticos são muitos utilizados pelos fisioterapeu-


tas no tratamento das disfunções articulares. Além de restaurar a biomecânica
articular proporcionam efeitos fisiológicos benéficos no tecido articular e nas
estruturas periarticulares e indicações, como já citados anteriormente.
Podemos acrescentar:
•  Hipomobilidade articular causada por processos degenerativos como
traumas, microtaumas de repetição, imobilização, maus hábitos posturais, de-
suso, idade avançada.
•  Dor e espasmo muscular.
•  Patologias que causam uma hipomobilidade articular progressiva, como
artrite reumatoide.

Limitações. A ADM passiva não serve para:


•  Prevenir atrofia muscular;
•  Ganhar força ou resistência à fadiga;
•  Não auxilia a circulação na mesma extensão de ativação que a contração
muscular voluntária.
Contraindicações relativas e cuidados:
•  Hipermobilidade;
•  Dor articular ou muscular severa;

capítulo 2 • 35
•  Imediatamente após rupturas agudas, fraturas e cirurgias;
•  Quando prejudicar o processo de cicatrização;
•  Efusão articular: Devido ao acumulo de líquido no interior da cápsula arti-
cular (líquido sinovial, sangue, exsudado etc.) que já está distendida, provocan-
do dor devido ao estimulo dos nociceptores, um alongamento ou mobilização
articular irá provocar uma maior distensibilidade causando mais dor. Porém
movimentos delicados oscilatórios podem em alguns casos ajudar a diminuir a
dor e o edema articular por melhorar o fluxo de líquido e manter a mobilidade
já existente da articulação lesionada.
•  Devemos ter precauções com doenças ósseas detectadas no RX, fraturas
não consolidadas, tecido conectivo recém-formado (processos cirúrgicos), ar-
trite reumatoide e idosos (devido ao enfraquecimento do tecido mole).

2.3  Princípios e procedimentos para aplicação das técnicas de


exercícios de ADM

1. Examinar e avaliar os comprometimentos e o grau de função do pacien-


te, determinar as precauções e o prognóstico e planejar a intervenção.
2. Determinar as habilidades do paciente para participar da atividade de
ADM e se os exercícios de ADM podem suprir as metas imediatas – escolha dos
exercícios passivos, ativos ou ativo-assistidos.
3. Determinar a quantidade de movimento que pode ser aplicada com se-
gurança para condição dos tecidos e saúde da pessoa.
4. Decidir quais padrões podem alcançar as metas de forma mais adequa-
da. As técnicas de exercícios de ADM podem ser feitas:
•  Com utilização dos movimentos artrocinemáticos para ganho de arco
de movimento.
•  Nos planos anatômicos de movimentos osteocinemáticos: frontal, sagital
e transverso.
•  Na amplitude de alongamento do músculo.
•  Em padrões combinados: movimentos diagonais ou que incorporem vá-
rios planos de movimento.
•  Em padrões funcionais usados nas atividades de vida diária (AVDs).

36 • capítulo 2
2.4  Técnicas de aplicação

2.4.1  Membros superiores

Escápula:
•  Elevação/depressão;
•  Prostração/ retração;
•  Rotação para cima/para baixo.

Ombro:
•  Flexão/extensão;
•  Abdução e adução;
•  Rotação medial e lateral (figura 2.4);
•  Abdução horizontal e adução horizontal.

Cotovelo:
•  Flexão e extensão.

Antebraço:
•  Pronação/Supinação.

Punho:
•  Flexão e extensão;
•  Desvio radial (abdução) e desvio ulnar (adução).

Figura 2.4  –  Exercício passivo de ADM de ombro – rotação medial e lateral.

capítulo 2 • 37
2.4.2  Membros inferiores

Quadril:
•  Flexão/extensão;
•  Adução/abdução;
•  Rotação medial e Lateral (figura 2.6);
•  Flexão e Extensão – quadril e joelho combinados.

Joelho:
•  Flexão/extensão (figura 2.5).

Tornozelo e pé:
•  Flexão dorsal e flexão plantar;
•  Inversão e eversão da articulação subtalar;
•  Flexão e extensão de dedos;
•  Adução e abdução de dedos.

Figura 2.5  –  Exercício passivo de ADM em joelho – flexão

Figura 2.6  –  Rotação de quadril com joelho flexionado em 90º (KISNER e COLBY, 2016)

38 • capítulo 2
2.4.3  Região cervical da coluna vertebral

•  Flexão – inclinação anterior


•  Extensão – inclinação para trás ou hiperextensão
•  Flexão lateral – inclinação lateral
•  Rotação (figura 2.7)

Figura 2.7  –  Rotação de coluna cervical.

2.4.4  Região lombar da coluna vertebral

•  Flexão
•  Extensão
•  Rotação (figura 2.8)

Figura 2.8  –  Flexão da região lombar.

capítulo 2 • 39
2.5  Exercícios de ADM auto assistidos

O envolvimento do paciente nos cuidados pessoais deve começar assim que a


pessoa for capaz de compreender e aprender o que fazer. Mesmo com fraqueza
ou paralisia, o paciente pode aprender como mover a parte comprometida e ser
instruído sobre a importância do movimento dentro de parâmetros seguros.
Após uma cirurgia ou lesão traumática, a técnica de ADM autoassistida é usada
para proteger os tecidos em cicatrização. Uma variedade de dispositivos, assim
como o uso do membro não comprometido, pode ser usada para alcançar as
metas de ADM passiva ou auto assistida.

Formas de exercícios de ADM auto assistidos:


•  Manual;
•  Com equipamentos: bastão, escada de dedos. Polias, prancha com rodas,
dispositivos para exercícios recíprocos.

Diretrizes para ensino de exercícios de ADM auto assistidos:


•  Oriente o paciente sobre a importância do movimento;
•  Ensine o paciente o alinhamento e a estabilização corporais corretos;
•  Observe o desempenho do paciente e corrija movimentos compensató-
rios ou perigosos;
•  Se for usado equipamento, certifique-se de ter eliminado todos os riscos
para que a aplicação seja segura;
•  Forneça ilustrações e diretrizes claras sobre o número de repetições
e frequência.
OBS.: Faça uma revisão dos exercícios em uma sessão de acompanhamento.
Modifique ou progrida o programa de exercícios com base na resposta do pa-
ciente e no plano de tratamento para alcançar as metas desejadas.

Exercícios com bastão


Quando um paciente tem controle muscular voluntário em um membro su-
perior, mas precisa de condução ou motivação para completar a ADM de ombro
ou cotovelo, um bastão (vara de cortina, cano de PVC, bengala) pode ser usado
para assistência (figura 2.9).

40 • capítulo 2
Figura 2.9  –  Exercícios com bastão.

Escada de dedos
O exercício de escalar a parede (ou usar um dispositivo como a escada de
dedos) pode dar ao paciente um reforço objetivo, e desse modo, motivação para
realizar exercícios de ADM de ombro. O braço pode ser usado em flexão ou ab-
dução (figura 2.10).

Figura 2.10  –  Escadas de dedos.

Polias elevadas
Se os exercícios forem ensinados de forma correta, sistemas de polias (fi-
gura 2.11) podem ser usados efetivamente para assistir os movimentos de um
membro comprometido funcionalmente na realização de exercícios de ADM.
Tem sido comprovado que a polia utiliza uma atividade muscular significa-
tivamente maior que a ADM assistida pelo fisioterapeuta e por aparelhos de

capítulo 2 • 41
mobilização passiva contínua. É uma forma de assistência que deve ser usada
apenas quando a atividade muscular for desejada.

Figura 2.11  –  Uso de polias elevadas para exercícios autoassistidos.

Pranchas deslizantes (skates)


O uso de uma superfície lisa pode encorajar o movimento sem a resistência
da gravidade ou atrito. Se for possível poderá ser usada uma prancha com rodas
para estimular e assessorar o movimento. Outros métodos incluem colocar talco
ou óleo em uma superfície para que o movimento se processe por deslizamento.

Equipamentos para exercícios recíprocos


Vários dispositivos como bi-
cicleta, ergômetros de membro
superior e inferior podem ser usa-
dos para fornecer alguma flexão
ou extensão ao membro, além de
encorajar o movimento e aumen-
tar a ADM (figura 2.12).
Existem dispositivos móveis
que pode ser fixados no leito do
paciente, cadeira de rodas ou ca-
deira comum. Figura 2.12  –  Exercícios de ADM com uso de
ciclo ergômetro.

42 • capítulo 2
2.6  Mobilização passiva contínua

Mobilização passiva contínua (MPC) refere-se ao movimento passivo feito por


um dispositivo mecânico que move uma articulação de forma lenta e continua-
da ao longe de uma ADM controlada.
A MPC (figura 2.13) é empregada em diversas articulações, tanto dos mem-
bros superiores quanto dos inferiores. No que se refere à articulação do joelho,
seus benefícios já foram evidenciados no pós-operatório de artroplastia total
do joelho, fraturas de patela, fraturas de platô tibial e nas reconstruções liga-
mentares do joelho.
Tem-se relatado que a MPC é eficaz para amenizar os efeitos negativos da
imobilização articular em condições como artrite, contraturas e fraturas intra-
-articulares, bem como para a melhorar a velocidade de recuperação e manuten-
ção da ADM após uma variedade de procedimentos cirúrgicos (STEFANUTTO
et all, 2011).

Figura 2.13  –  Mobilização Passiva Contínua.

2.7  Mobilização e manipulação articular

Mobilização articular e manipulação articular são técnicas da terapia manual


usadas para modular a dor e tratar as disfunções articulares que limitam a
ADM, abordando especificamente alterações na mecânica articular. A mecâni-
ca articular pode ser alterada em razão de dor, mecanismos de defesa muscu-
lar, derrame articular, contraturas ou aderências nas cápsulas articulares ou
ligamento de suporte, ou desalinhamento das superfícies ósseas (KISNER e
COLBY, 2016).

capítulo 2 • 43
Dotados de um cérebro capaz de pensar fora do contexto e com “insights”
originais, pessoas como Kaltenborn, Maitland, McKenzie, Stanley Paris, Bob
Elvey e Brian Mulligan desenvolveram enfoques terapêuticos, que ajudam mui-
tos pacientes e terapeutas na solução de seus problemas musculo esqueléticos.
Para o estudo dos movimentos dos componentes ósseos e articulares,
Kaltenborn baseou-se nos princípios da osteocinemática e na artrocinemática.
Kaltenborn distingue três principais movimentos do jogo articular:
•  Tração - é um procedimento passivo translatório com o qual através de
um estiramento se produz a separação dos ossos. A direção deste movimento é
perpendicular ao plano de tratamento.
•  Compressão - é o procedimento oposto ao anterior. Se realiza de maneira
perpendicular ao plano de tratamento e através dele se comprime as superfí-
cies articulares. A presença de dor ao realizar este procedimento indica a lesão
articular
•  Deslizamento - é um movimento passivo translatório retilíneo de um osso
e em consequência se produz um deslizamento retilíneo entre as faces articu-
lares. A direção do movimento é paralela ao plano de tratamento (e não à su-
perfície articular). Esta prova se realiza para um teste de mobilidade passiva da
articulação e também como técnica de mobilização.

O tratamento é toda uma filosofia de aplicações, recomendações e precau-


ções. De igual maneira, utiliza-se uma série de artefatos, como, por exemplo,
camas especiais, cinturões, cintas, pesos, bolsas com areia, que são muito úteis
para uma correta aplicação das técnicas. Estes artefatos muito comuns, hoje
em dia, no uso de cada terapeuta manual em particular e o fisioterapeuta gene-
ricamente, permitem assegurar uma correta aplicação, mas também permitem
ao terapeuta adaptar as posições eficientes e seguras ao realizar os tratamen-
tos. Kaltenborn foi um dos pioneiros no desenho e elaboração destes.
No tratamento de uma articulação hipomóvel, aplicam-se as técnicas
de deslizamento. O movimento deve ser aplicado na direção de restrição do
deslizamento. É básico determinar qual é esta direção. Com esta finalidade,
Kaltenborn aplica duas provas:
1. Teste de deslizamento (método direto): realizam-se os movimentos
translatórios passivos em todas as direções do movimento articular para deter-
minar diretamente qual destes está restrito. Cada articulação tem seu procedi-
mento específico.

44 • capítulo 2
2. Regra Convexo-côncava (método indireto): a determinação da direção
do deslizamento restrito pode se obter ao aplicar a regra convexo-côncava.
A regra geral a seguir deve ser: * mobilizar o osso com a superfície articular
convexa na direção oposta a direção de restrição * mobilizar o osso com a super-
fície articular côncava na mesma direção da direção de restrição (PILAT, 2016).
Já o Método Maitland foi desenvolvido pelo fisioterapeuta australiano
Geoffrey D. Maitland. É assim definido por seu tratamento não ser embasado
apenas numa técnica de mobilização articular em si, mas sobre uma filosofia
que engloba a avaliação e o tratamento, que defende o raciocínio clínico basea-
do principalmente nos achados clínicos.
Esse método é utilizado para aliviar dores e liberar com segurança deter-
minadas estruturas, apresentando o objetivo de restaurar os movimentos e a
amplitude de movimento normal, melhorando, assim, a função do indivíduo.
O tratamento está indicado para pacientes com disfunções neuromuscu-
loesqueléticas (podendo estar envolvidas as articulações periféricas e/ou da
coluna vertebral, além da articulação temporomandibular – ATM). Porém, es-
sas técnicas são preferencialmente usadas para tratamento de disfunções da
coluna vertebral.
A anamnese no Maitland deve ser sempre minuciosa, através de um exame
físico detalhado, com avaliação dos sinais e sintomas. Ao utilizar a filosofia do
Conceito Maitland, os fisioterapeutas são encorajados a formular e testar várias
hipóteses a fim de encontrar o melhor método de tratamento para o paciente.
O exame físico compreende a aplicação de movimentos vertebrais oscilató-
rios passivos e acessórios (artrocinemáticos) nas articulações para tratar a dor
e a rigidez de natureza mecânica. As técnicas procuram a restauração dos mo-
vimentos articulares e são classificados de acordo com a sua amplitude. Assim,
as mobilizações podem ser classificadas em 5 graus, sendo 1 a de menor deslize
e 5 a de maior grau de deslizamento.
O grande impacto do conceito Maitland não reside nas técnicas, mas sim no
processo de avaliação clínica meticulosa que permite, inclusive, que quaisquer
outras modalidades de mobilização ou manipulação possam ser agregadas,
aplicadas e reavaliadas sem comprometer em absolutamente nada o processo
de raciocínio clínico (TERAPIA MANUAL, 2016).
O Conceito Mulligan® surgiu tem como um de seus “princípios” o de que
“falhas posicionais” limitam movimentos fisiológicos e causam dor.
As técnicas do Conceito Mulligan® foram desenvolvidas para reparar es-
sas pequenas falhas, fazendo uso de técnicas que envolvem a combinação de

capítulo 2 • 45
mobilização articular acessória associada ao movimento fisiológico ativo de
forma indolor. O resultado esperado é o alivio imediato da dor e o aumento do
arco de movimento (MULLIGAN, 2016).
Para que as técnicas e os conceitos de mobilização e manipulação sejam
usadas efetivamente como tratamento, o profissional precisa conhecer e ser
capaz de examinar a anatomia, a artrocinemática e a patologia dos sistemas
neurológico e musculoesquelético, e identificar quando essas técnicas são
indicadas ou quando outras técnicas seriam mais efetivas para recuperação
da mobilidade perdida. O uso indiscriminado de técnicas de mobilização ar-
ticular, quando não indicadas, pode causar dano às articulações do paciente.
Quando indicadas, as técnicas de mobilização articular são um meio seguro e
efetivo de restaurar ou manter a mobilidade intra-articular e podem também
ser usadas para tratar dor (KISNER e COLBY, 2016).

ATIVIDADE
Faça pesquisas sobre os diversos conceitos e técnicas existentes para manutenção ou au-
mento da ADM e retorne aos conhecimentos de anatomia e biomecânica, relacionando-os.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KISNER, Carolin e COLBY, Lynn Allen. Exercícios Terapêuticos – Fundamentos e Técnicas. 6 ed.
Rio de Janeiro: Ed. Manole. 2016.
Método Maitland. Terapia Manual. Disponível em: <http://fisioterapiamanual.com.br/blog/areas-da-
fisioterapia/metodo-maitland/>. 2016
MULLIGAN, Brian. Conceito Mulligan. Disponível em: <https://www.institutomulligan.com.br/>.
2016.
PILAT, Andrezj. Técnica de Kaltenborn. Movimentos conscientes. Disponível em: <http://www.
colunasemdor.com.br/fisioterapia/tecnica_de_kaltenborn.html>. 2016.
STEFANUTTO, Anderson dos Santos; LOURENÇO, Raquel Espírito Santo; OLIVEIRA, Regiane de
Sá Sousa; OLIVEIRA William de; RAMPAZO, Mariana Kátia; DIAS, Luciara Irene de Nadai. O uso da
mobilização passiva contínua na reabilitação de pacientes com fraturas do complexo articular do joelho.
Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. 15, núm. 1, 2011, p. 19-32.

46 • capítulo 2
3
Exercícios
terapêuticos
ativo-livres e
resistidos
3.  Exercícios terapêuticos ativo-livres e
resistidos

Qualidades de aptidão como força, resistência, coordenação e flexibilidade são


importantes para a realização confortável e segura das atividades de vida diária,
mesmo em situações de atividades com solicitação acentuada, como é o caso
de muitas atividades profissionais.
Músculos fortes funcionam como amortecedores de forças externas, ali-
viando as articulações e os exercícios resistidos, geralmente realizados de for-
ma manual ou mecânica, e proporcionam grande benefício nas disfunções evi-
denciadas nas doenças reumatológicas, ortopédicas e neurológicas.
Os exercícios resistidos podem ser elaborados e praticados de muitas for-
mas. Desde um sistema sofisticado em uma clínica, como o exercício dinâmi-
co, com uso de um dinamômetro isocinético, até mesmo em domicílio sem ne-
nhum aparato mais elaborado: com os exercícios resistidos manualmente e/ou
os exercícios em cadeia fechada com uso do próprio corpo.
O fisioterapeuta deverá estar apto a, após uma avaliação minuciosa, elabo-
rar uma proposta de exercícios resistidos como elemento essencial dos pro-
gramas de reabilitação para pessoas com função comprometida, além de um
componente integral dos programas de condicionamento para aqueles que de-
sejam promover ou manter a saúde.

OBJETIVOS
•  Apresentar conceito, efeitos fisiológicos, indicações e contraindicações dos exercícios re-
sistidos, assim como os tipos desses exercícios;
•  Capacitar a prescrição de exercícios resistidos, assim como fazer uso da resistência (ma-
nual e mecânica), em uma organização de programas de treinamento de força;
•  Promover reflexões sobre o uso dos programas de treinamento de força no processo rea-
bilitacional e de preparação física funcional do indivíduo.

48 • capítulo 3
3.1  Definição: Princípio de sobrecarga

Exercício resistido é qualquer forma de exercício ativo no qual uma contração


muscular dinâmica ou estática é resistida por uma força externa aplicada de
modo manual ou mecânico (VAISBERG e MELLO, 2010). O exercício resistido
pode ser chamado de treino resistido e é um elemento essencial dos programas
de reabilitação para pessoas com função comprometida, além de um compo-
nente integral dos programas de condicionamento para aqueles que desejam
promover ou manter a saúde e o bem-estar físico, potencializar o desempenho
de habilidades motoras e reduzir o risco de lesões, disfunções e doenças. Além
disso, por ter um impacto positivo no desempenho muscular, o treinamento
resistido pode produzir muitos outros benefícios potenciais:
•  Otimização do desempenho muscular: restauração, melhora ou manu-
tenção de força, potencia e resistência à fadiga;
•  Aumento da força dos tecidos conjuntivos: tendões, ligamentos, tecido
conjuntivo intramuscular;
•  Maior densidade mineral óssea;
•  Diminuição da sobrecarga nas articulações;
•  Redução do risco de lesões;
•  Melhora no equilíbrio;
•  Aumento da massa magra e diminuição da gordura corporal;
•  Sensação de bem-estar;
•  Possível melhora na percepção da incapacidade e qualidade de vida.

Força muscular pode ser definida como a força ou tensão que um músculo
ou, mais corretamente, um grupo muscular consegue exercer contra uma resis-
tência, em um esforço máximo.
Potência muscular, outro aspecto do desempenho muscular, relaciona-se
com a força e velocidade do movimento e é definida como trabalho (força x dis-
tância). Quando um músculo se encurta ao levantar uma carga constante, a ten-
são desenvolvida em uma determinada amplitude de movimento depende do
comprimento do músculo, do ângulo de tração do músculo sobre o esqueleto
e da velocidade do encurtamento. Em outras palavras é a rapidez com que o
trabalho é realizado (KISNER e COLBY, 2016).
Endurance (resistência muscular a fadiga) é a habilidade de um músculo
de contrair-se repetidamente contra uma carga (resistência), gerar e sustentar

capítulo 3 • 49
a tensão e resistir à fadiga durante um período extenso. O termo potência aeró-
bia é, às vezes, usado como sinônimo de resistência muscular. A manutenção
do equilíbrio e do alinhamento apropriados dos segmentos corporais requer a
manutenção do controle (resistência à fadiga) pelos músculos posturais.
Força muscular, potência e endurance (resistência) podem ser muito apri-
moradas com programas de exercícios corretamente planejados e cuja resis-
tência é representada por pesos.
Um exame e uma avaliação minuciosa do paciente são a base do fisioterapeu-
ta para determinar se um programa de exercícios resistidos é indicado para me-
lhorar o nível atual de função ou prevenir disfunções potenciais. É preciso levar
em consideração fatores como a patologia de base; a extensão e a gravidade dos
acometimentos no desempenho muscular; a presença de outros déficits; o está-
gio de cicatrização dos tecidos após uma lesão ou cirurgia; a idade do paciente,
seu nível geral de preparação física e sua habilidade de cooperar e aprender.
Assim que um programa de exercícios resistidos é desenvolvido e prescrito,
para alcançar as metas funcionais e os resultados específicos, torna-se necessá-
rio a intervenção direta do fisioterapeuta para implementar inicialmente o pro-
grama e ensinar e supervisionar os exercícios prescritos, fazendo uma transição
suave para um programa domiciliar independente (VAISBERG e MELLO, 2010).
Um dos princípios que orientam a prescrição de exercícios é o princípio da
sobrecarga, que resulta de uma relação entre estímulo, adaptação e aumento
da sobrecarga. Isso se deve ao fato de que, depois de um tempo realizando exer-
cícios com uma determinada carga, devemos aumentá-la para continuarmos a
ter os benefícios que o exercício proporciona, elevando o limite de adaptação.
Se permanecêssemos com a mesma carga, manteríamos apenas o mesmo nível
de condicionamento já alcançado.
•  Em um programa de treinamento de força, a quantidade de resistência
aplicada ao músculo é aumentada aos poucos e de forma progressiva.
•  Para o treinamento de resistência à fadiga, enfatiza-se mais o aumento
do tempo durante o qual uma contração muscular é mantida ou o número de
repetições realizadas, em vez de aumentar a resistência.

Para que esse aumento seja progressivo, adequado às possibilidades do pa-


ciente, o fisioterapeuta deve estar atento à execução do movimento, pois o au-
mento da carga não deve acontecer à custa da perda de qualidade de execução
dos movimentos.

50 • capítulo 3
Tem-se observado que um programa de exercícios elaborados para desen-
volver força muscular também melhora a resistência muscular à fadiga, pelo
menos de forma moderada. Por outro lado, o treinamento de resistência à fadi-
ga tem pouco ou nenhum efeito cruzado sobre a força (KISNER e COLBY, 2016).
A maioria dos estudos confirma a importância de se elaborar um progra-
ma de exercícios que simule muito bem as atividades funcionais desejadas. O
maior número possível de variáveis do programa de exercícios deve estar de
acordo com os requisitos e as demandas encontradas e vivenciadas pelo pa-
ciente durante a realização das atividades funcionais específicas.
As mudanças adaptativas nos sistemas corporais, como o aumento de força
e resistência à fadiga, em resposta a um programa de exercícios resistidos, são
transitórias, a menos que as melhoras produzidas pelo treino sejam usadas re-
gularmente nas atividades funcionais ou o paciente participe de um programa
de manutenção com exercícios resistidos.
O destreinamento, que se reflete por uma redução no desempenho muscular,
começa após uma ou duas semanas da interrupção dos exercícios resistidos e con-
tinua até os efeitos dos treinos serem perdidos. Por essa razão, é fundamental que
os ganhos de força e resistência à fadiga, sejam incorporados às atividades diárias
o mais cedo possível em um programa de reabilitação. Também é aconselhável
que os pacientes participem de um programa de manutenção com exercícios re-
sistidos, um componente integral do programa de preparo físico permanente, que
pode ser acompanhado por outro profissional de saúde, como o educador físico.

REFLEXÃO
Sabe-se há muito tempo que, se um exercício leve for feito durante o período de recuperação
(recuperação ativa), essa ocorre mais rapidamente do que com repouso total (recuperação
passiva). A recuperação mais rápida com exercício leve é, provavelmente, resultado de in-
fluências neurais e circulatórias.

3.2  Efeitos fisiológicos. Indicação e contraindicação

Os exercícios resistidos são sempre anaeróbios, a não ser quando realizados


com intensidade muito baixa, o que normalmente não é utilizado. O limiar
anaeróbio corresponde a cerca de 30% a 40% das fibras musculares em ativida-

capítulo 3 • 51
de, e o treinamento resistido costuma recrutar percentuais mais elevados de
fibras (SIMON NETO, 2006).
Os exercícios resistidos podem ser considerados muito seguros, mesmo
para pessoas idosas e debilitadas. A segurança musculoesquelética é dada pela
adequação ideal das sobrecargas às condições físicas dos praticantes. Não ape-
nas as cargas, e consequentemente as repetições, mas também a amplitude dos
movimentos, os intervalos de descanso, o número de séries e de exercícios, e a
frequência das sessões de intervenção. Os movimentos são relativamente len-
tos e cadenciados, sem acelerações ou desacelerações violentas. O corpo per-
manece em posições anatômicas e confortáveis durante os exercícios, sem a
possibilidade de desequilíbrios, quedas e torções (SIMON NETO, 2006).
O trabalho de força muscular é de fundamental importância na medida em
que proporciona um incremento da massa muscular e, consequentemente, a
força muscular evita quedas e preserva a capacidade funcional e a independên-
cia. Nos idosos, em especial, devem ser priorizados os grandes grupos muscu-
lares (glúteos, quadríceps, músculos posteriores da coxa, peitorais, dorsais,
abdominais) que são importantes das atividades do cotidiano (VAISBERG e
MELLO, 2010).
A segurança cardiovascular é garantida pela adequação do duplo produto às
condições individuais. Como em toda forma de atividade física, a pressão arte-
rial se eleva também nos exercícios resistidos, mas dentro de limites seguros,
mesmo com cargas elevadas, desde que não se realizem contrações isométri-
cas em apneia. Devido ao caráter interrompido do treinamento, a frequência
cardíaca eleva-se em níveis discretos. O resultado é um duplo produto de baixo
risco cardíaco. Em função de sua segurança e das qualidades de aptidão que
desenvolvem, os exercícios com pesos têm sido utilizados com sucesso na rea-
bilitação cardíaca e profilaxia de incapacidades em pessoas idosas.
Todas as qualidades de aptidão física são estimuladas pelos exercícios re-
sistidos: força, potência, resistência, coordenação e flexibilidade. O músculo
torna-se mais forte devido a dois mecanismos básicos: maior recrutamento das
unidades motoras das fibras e hipertrofia das fibras musculares individuais.
Durante as primeiras semanas de treinamento, a força aumenta em conse-
quência das adaptações neurais.
Aumentos na força e na endurance são acompanhados por certas alterações
fisiológicas tipo aumento do tamanho muscular (hipertrofia), pequenas altera-
ções bioquímicas e adaptações dentro do sistema nervoso.

52 • capítulo 3
O princípio fisiológico subjacente ao desenvolvimento da força e da endu-
rance é denominado princípio da sobrecarga, já citado anteriormente.
O desempenho muscular se modifica ao longo da vida. Se a meta de um
programa de treinamento resistido é tratar comprometimentos e limitações na
execução de atividades (limitações funcionais) ou melhorar o preparo físico e
o desempenho de atividades físicas, é necessária uma compreensão das mu-
danças “típicas” no desempenho muscular e na resposta aos exercícios durante
cada fase da vida (figura 3.1).

Primeira infância, segunda infância e pré-adolescência


•  No nascimento, os músculos constituem cerca de 25% do peso corporal.
•  O número total de fibras musculares é estabelecido logo no início da infância.
•  As alterações pós-natais na distribuição das fibras tipo I e tipo II nos músculos estão
relativamente completas no final do primeiro ano de vida.
•  O tamanho das fibras musculares e a massa muscular aumentam linearmente da infância
até a puberdade.
•  A força muscular e a resistência muscular à fadiga aumentam linearmente com a idade
cronológica em meninos e meninas ao longo da infância até a puberdade.
•  A massa muscular (absoluta e relativa) e a força muscular são levemente maiores
(aproximadamente 10%) nos meninos do que nas meninas, desde a idade pré-escolar até
a puberdade.
•  Os ganhos de força induzidos pelo treinamento ocorrem igualmente nos dois sexos
durante a infância, sem evidências de hipertrofia (aumento da massa muscular) até a
puberdade.
Puberdade
•  Ocorre rápida aceleração no tamanho das fibras musculares e na massa muscular,
especialmente nos meninos. Durante a puberdade, a massa muscular aumenta mais do
que 30% ao ano.
•  Aumento rápido na força muscular nos dois sexos.
•  Desenvolve-se uma diferença acentuada nos níveis de força em meninos e meninas.
•  Nos meninos, a massa muscular, a altura do corpo e o peso atingem o pico antes da força
muscular; nas meninas, a força atinge o pico antes do peso corporal.
•  Ganhos de força relativa, como resultado do treinamento resistido, são comparáveis entre
os sexos, com uma hipertrofia significativamente maior nos meninos.

capítulo 3 • 53
Idade adulta: jovens e indivíduos de meia-idade
•  A massa muscular atinge o pico nas mulheres entre 16 e 20 anos de idade; a massa
muscular nos homens atinge o pico entre os 18 e 25 anos de idade.
•  Ocorrem diminuições na massa muscular desde os 25 anos de idade.
•  A massa muscular constitui aproximadamente 40% do peso corporal total durante o início
da idade adulta; os homens têm um pouco mais de massa muscular do que as mulheres.
•  Os músculos continuam a desenvolver-se durante a segunda década. especialmente
nos homens.
•  A força muscular e a resistência à fadiga atingem o pico durante a segunda década, mais
cedo para as mulheres do que para os homens.
•  Em algum ponto da terceira década, a força declina entre 8 e 10% por década até a quinta
ou sexta década.
•  A força e a resistência muscular à fadiga se deterioram com menor velocidade nos adultos
fisicamente ativos em comparação com os adultos sedentários.
•  São possíveis melhoras na força e na resistência à fadiga com um aumento apenas
modesto na atividade física.
Idade adulta avançada
•  A taxa de declínio da força muscular acelera-se para 15 a 20% por década durante a sexta
e sétima década e aumenta para até 30% por década depois desse perlado.
•  A perda de massa muscular continua: por volta da oitava década, a massa muscular
esquelética já diminuiu cerca de 50% em comparação com o pico de massa muscular da
Idade adulta.
•  O tamanho das fibras musculares (área de secção transversa), o número de fibras do tipo
I e tipo II e o número de moto neurônios alfa diminuem. Ocorre atrofia preferencial das fibras
musculares do tipo II.
•  Diminuição na velocidade das contrações musculares e no pico de potência.
•  Diminuição gradual, porém progressiva, da resistência fadiga e captação máxima de oxigênio.
•  A perda da flexibilidade reduz a capacidade do músculo de produzir força.
•  Declínio mínimo no desempenho de habilidades funcionais durante a sexta década.
•  Deterioração significativa nas habilidades funcionais por volta da oitava década, associada
com um declínio na resistência muscular à fadiga.
•  Com um programa de treinamento resistido, é possível uma melhora significativa na força
muscular, potência e resistência à fadiga na terceira idade.
•  As evidências sobre o impacto do treinamento resistido no nível de desempenho de
habilidades motoras funcionais são confusas, porém promissoras.
Figura 3.1  –  Alterações no músculo e no desempenho muscular relacionado à idade no
decorrer da vida (KISNER e COLBY, 2016).

54 • capítulo 3
CURIOSIDADE
A dor muscular aguda é causada pela falta de um fluxo sanguíneo adequado (isque-
mia), ao passo que a dor muscular tardia é causada provavelmente pela ruptura dos teci-
dos conjuntivos.

Muitos elementos (variáveis) determinam se um programa de exercícios


é apropriado, efetivo e seguro. Cada um desses elementos inter-relacionados
deve ser evidenciado para melhorar um ou mais aspectos do desempenho mus-
cular e atingir os resultados funcionais desejados. O alinhamento e a estabili-
zação são elementos básicos e a dosagem conveniente de exercícios também
deve ser determinada.
A escolha e prescrição dos exercícios são determinadas por:
•  Alinhamento dos segmentos corporais durante o exercício;
•  Estabilização das articulações envolvidas, prevenindo as substituições;
•  Intensidade (carga do exercício) relacionada a resistência;
•  Número, sequência e frequência dos exercícios propostos;
•  Intervalo do repouso para recuperação dos tecidos;
•  Duração do tempo de exercícios;
•  Tipo de contração, fonte de resistência, arco de movimento e posição
do paciente;
•  Velocidade do exercício;
•  Periodização;
•  Integração dos exercícios em atividades funcionais.

Os exercícios resistidos são graduados de acordo com o desenvolvimento da


força, respeitando o ritmo constante e a máxima amplitude articular possível
durante a execução. A sobrecarga de trabalho muscular é que determina as me-
lhoras nos níveis de força e resistência muscular. Treinar com pesos elevados e
com baixas repetições visam aumentos de força; e com pesos mais leves e maior
número de repetições resulta em melhor resistência muscular e força (KISNER
e COLBY, 2016). Não há um número ideal de repetições, mas se obtém bons re-
sultados treinando de 2 a 10 resistências máximas (RM), onde a carga utilizada
cumpra somente o número de repetições estipuladas.
Em experimentos científicos, o percentual de 1RM é amplamente utilizado
por sua acessibilidade, e facilidade de mensuração. Sua utilização se propaga
tanto como medida diagnóstica da força muscular, quanto como parâmetro
para a prescrição e monitoração de um determinado exercício.

capítulo 3 • 55
O teste de carga máxima é chamado de 1RM (uma repetição máxima) e re-
fere-se à “maior quantidade possível de peso, imposto externamente, que se
pode mover/levantar em uma única repetição completa por meio de um deter-
minado movimento padronizado”. Esse teste tem importância para documen-
tar a medida inicial da força dinâmica de um músculo ou grupo muscular para
ser comparada posteriormente e para identificar uma carga de exercício inicial
(quantidade de peso) para ser usado durante o exercício em um número espe-
cífico de repetições.
Após estabelecer a RM basal, a quantidade de exercício a ser usada no iní-
cio do treinamento resistido é calculada, geralmente, por uma porcentagem de
1RM para um grupo muscular em particular. No início de um programa de exer-
cícios, a porcentagem necessária para conseguir adaptações na força induzida
pelo treinamento é baixa (30 a 40%) para pessoas sedentárias e não treinadas.
A intensidade de esforço relatada na literatura para ganhos de força e hi-
pertrofia é sempre superior a 60%, sendo geralmente, na maioria dos trabalhos
científicos entre 70 a 85% de 1RM, onde o número de repetições varia entre 8 a
12 repetições máximas.
A carga é considerada a principal variável para que ocorram alterações de
força e endurance muscular. A quantidade de carga a ser utilizada é a neces-
sária para cumprir o número de repetições por série com boa eficiência mecâ-
nica. Logo, quando se seleciona a carga, a última repetição deve ser executada
com um pouco mais de dificuldade. Caso ela seja fácil de executar, deve-se au-
mentar a sobrecarga, pois só assim consegue-se o fortalecimento muscular.

ATENÇÃO
O uso de 1 RM como medida basal de força dinâmica é inapropriado para alguns pacientes,
pois requer apenas um esforço máximo. Isso não é seguro, por exemplo, para pacientes com
comprometimentos articulares, em recuperação de lesões de tecidos moles ou que apresen-
tem risco para tais lesões, ou pacientes com osteoporose ou patologias cardiovasculares,
conhecidas ou potenciais.

Nos exercícios resistidos a intensidade de trabalho é dosada principalmen-


te pela carga e pelos intervalos entre as séries. A velocidade não é frequente-
mente utilizada como parâmetro de controle, pois prioriza-se uma boa eficiên-
cia mecânica.

56 • capítulo 3
3.3  Precauções para os exercícios resistidos

Independente das metas do programa de exercícios resistidos e dos tipos de


exercícios prescritos e implementados, eles precisam não só ser efetivos como
também seguros. A interpretação do fisioterapeuta sobre os achados do exame
determina a prescrição dos exercícios, e a conscientização das precauções ma-
ximiza a segurança do paciente.
Algumas precauções:
•  Temperatura ambiente confortável;
•  Ausência de dor durante o exercício;
•  Não iniciar o treinamento usando nível máximo de resistência;
•  Evitar usar resistência pesada para crianças, idosos e pacientes
com osteoporose;
•  Atenção às articulações instáveis;
•  Atenção à manobra de Valsalva (prender a respiração);
•  Evitar movimentos balísticos descontrolados;
•  Observar e prevenir movimentos compensatórios;
•  Evitar sobrecargas sobre a coluna vertebral;
•  Conhecer medicamentos utilizados pelo paciente;
•  Evitar fadiga cumulativa (frequência e/ou treinamento excessivos);
•  Interromper exercícios na presença de dor, tontura ou falta de ar não
usual ou súbita.

Sinais e sintomas da fadiga muscular:


•  Sensação de desconforto muscular, tremor dor ou cãibras;
•  Inabilidade para completar o padrão de movimento;
•  Uso de movimentos substitutivos.

Há apenas alguns casos em que os exercícios resistidos são contraindicados.


O treinamento resistido é frequentemente contraindicado durante período de
inflamação aguda e em algumas doenças e distúrbios agudos. Escolhendo cui-
dadosamente o tipo apropriado (modo) de exercício (estático versus dinâmico;
com ou sem apoio de peso) e mantendo a intensidade inicial do exercício em
um nível bem baixo a moderado, os efeitos adversos o treinamento resistido
podem ser evitados.

capítulo 3 • 57
3.4  Contraindicações para o exercício resistido:

•  Inflamação aguda;
•  dor articular ou muscular intensa durante o exercício resistido ou por
mais de 24 horas após o exercício;
•  doença neuromuscular inflamatória;
•  doença cardiopulmonar grave.

3.5  Tipos de exercícios resistidos: Exercícios terapêuticos


ativo-resistidos de forma manual.

Exercício com resistência manual é um tipo de exercício ativo-resistido, no qual


a resistência é feita pelo fisioterapeuta ou outro profissional da saúde. É útil
nos estágios iniciais de um programa de exercícios quando o músculo está fra-
co e pode vencer apenas uma resistência mínima a moderada. Há vantagens e
desvantagens para seu uso.
É fundamental a escolha de uma maca com altura ideal para favorecer o
uso de uma mecânica corporal ideal, evitando com isso, sobrecarga em região
lombar. Possibilita maximizar o controle de membros inferiores e superiores.
A utilização de uma base alargada mantém uma postura estável e possibilita a
transferência de peso de um membro para o outro, enquanto o paciente move
o membro (figura 3.2).

Figura 3.2  –  Ergonomia no tratamento.

Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva: princípios técnicas


Inicialmente desenvolvida por Kabat, nas décadas de 1940-1950, e em se-
quência por Knott e Voss, a Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP)
tem como objetivo permitir aos terapeutas analisar e avaliar o movimento do

58 • capítulo 3
paciente, enquanto, ao mesmo tempo, facilita estratégias de movimentos fun-
cionais mais eficientes.
Tem como princípios a estimulação dos proprioceptores para aumentar a
demanda feita ao mecanismo neuromuscular, integrando técnicas manuais de
alongamento e exercício resistido para fortalecimento com princípios neurofi-
siológicos de indução sucessiva, inervação e inibição recíproca, além do fenôme-
no de irradiação.
Desde o seu início, a FNP integrou, com sucesso, vários dos conceitos de
intervenções contemporâneas em neuroreabilitação. Ela combina padrões dia-
gonais funcionais de movimento com técnicas de facilitação neuromuscular,
para evocar respostas motoras e melhorar o controle e a função neuromuscular.
A FNP inclui:
•  Aprendizagem motora e retenção funcional de atividades aprendidas
com a repetição de uma demanda específica;
•  O uso da progressão de desenvolvimento do comportamento motor, que per-
mite aos pacientes criar e recriar estratégias de movimento funcional eficiente;
•  A análise biomecânica e comportamental do controle motor.

Todas as atividades dentro da intervenção da


FNP são direcionadas a um objetivo funcional e
relacionadas ao ambiente no qual o objetivo deve
ser alcançado. Este método pode ser aplicado em
crianças e adultos com disfunções neurológicas e/
ou ortopédicas.
As técnicas de FNP podem ser usadas para desen-
volver a força e a resistência muscular à fadiga; facilitar
a estabilidade, a mobilidade, o controle neuromuscu-
lar e a coordenação dos movimentos; e servem como
base para restauração da função (ADLER; BECKERS;
BUCK, 2007). Tem características próprias como o uso
de padrões diagonais, como dito anteriormente, e a
aplicação de pistas sensoriais – especificamente estí-
mulos proprioceptivos, cutâneos, visuais e auditivos –
para desencadear ou aumentar as respostas motoras
(figura 3.3).
Figura 3.3  –  Padrão usado no FNP.

capítulo 3 • 59
Os padrões de movimentos associados ao FNP são compostos de movimen-
tos multiarticulares, multiplanares, diagonais e rotacionais dos membros,
tronco e pescoço. Há dois pares de padrões diagonais para os membros supe-
riores e inferiores: diagonal (1) e diagonal (2), sedo que cada um pode ser feito
tanto em flexão como em extensão (tabela 3.1).

ARTICULAÇÕES OU DIAGONAL 1: DIAGONAL 1: DIAGONAL 2: DIAGONAL 2:


SEGMENTOS FLEXÃO (D,FIX) EXTENSÃO (D,EXT) FLEXÃO (D,EXT) EXTENSÃO (D,EXT)
Movimentos componentes dos membros superiores
Extensão-a-
Flexão-adução Extensão-abdu- Flexão-adução
Ombro dução-rotação
-rotação lateral ção medial -rotação lateral
medial

Elevação-abdu- Depressão, adu- Elevação-abdu- Depressão,


Escápula ção-rotação para ção, rotação para ção-rotação para adução, rotação
cima baixo cima para baixo

Flexão ou Flexão ou Flexão ou Flexão ou


Cotovelo
extensão extensão extensão extensão

Antebraço Supinação Pronação Supinação Pronação

Flexão, desvio Extensão, desvio Extensão, desvio Extensão, desvio


Punho
radial ulnar radial ulnar

Dedos e Extensão, Extensão,


Flexão, adução Flexão, adução
polegar abdução abdução

Movimentos componentes dos membros inferiores

Extensão-ab- Extensão-a-
Flexão-adução Flexão-abdução-
Quadril dução-rotação dução-rotação
-rotação lateral -rotação-medial
medial lateral

Flexão ou Flexão ou Flexão ou Flexão ou


Joelho
extensão extensão extensão extensão

Dorsiflexão, Flexão plantar, Dorsiflexão, Flexão plantar,


Tornozelo
inversão eversão eversão inversão

Dedos do pé Extensão Flexão Extensão Flexão

Tabela 3.1  –  Movimentos componentes dos padrões FNP: membros superiores e membros
inferiores (KISNER e COLBY, 2016).

Exercícios terapêuticos ativo-resistidos de forma mecânica


Nos exercícios com resistência mecânica, a resistência é aplicada por
meio de equipamentos ou aparelhos mecânicos. É útil quando a quantidade

60 • capítulo 3
de resistência necessária é superior ao que o fisioterapeuta pode aplicar
manualmente.
O exercício com resistência mecânica é um componente integral de reabili-
tação e dos programas de condicionamento para as pessoas de todas as idades.
Contudo, o uso da resistência mecânica em um programa de exercícios tem
vantagens e desvantagens. Como vantagens podemos citar:
•  Medida de base quantitativa do desempenho basal;
•  Podem ser aplicadas cargas maiores;
•  Mais fáceis para documentar os acréscimos na carga;
•  Possibilitam variedades e são mais práticos;
•  O treinamento é mais seguro.

Desvantagens:
•  Inapropriados para músculos muito fracos;
•  Resistências externas podem colocar carga máxima no músculo em ape-
nas uma ADM;
•  Maior gasto com compra dos equipamentos.

Nos últimos 50 – 60 anos, os profissionais e pesquisadores das áreas de rea-


bilitação e preparo físico têm tido grande interesse nos exercícios resistidos e
no treinamento funcional.
O Exercício Resistido Progressivo (ERP) é um sistema de treinamento resis-
tido dinâmico que uma carga externa constante é aplicada ao músculo em con-
tração por algum meio mecânico (geralmente um peso livre ou aparelho com
pesos) aumentado aos poucos.
Os resultados de incontáveis estudos têm demonstrado que os programas
de ERP melhoram a capacidade do músculo de gerar força e esta pode ser trans-
ferida para uma melhora no desempenho físico.
O conceito de ERP foi introduzido há quase 60 anos por DeLorme, que pro-
pôs e estudou o uso de 3 séries de 10RM com cargas progressivas durante cada
série. Outros pesquisadores desenvolveram um programa, técnica de Oxford,
com cargas regressivas em cada série (KISNER e COLBY, 2016).

capítulo 3 • 61
Comparação entre os dois programas:

PROGRAMA DELORME PROGRAMA OXFORD


Determinação de 10RM Determinação de 10RM

10 reps com 50% de 10RM 10 reps com 100% de 10RM

10 reps com 75% de 10 RM 10 reps com 75% de 10RM

10 reps com 100% de 10RM 10 reps com 50% de 10 RM

reps= repetições.

Equipamentos para o treinamento resistido:


•  Pesos livres;
•  Sistemas simples de polias com pesos;
•  Aparelhos com resistências hidráulica ou pneumática;
•  Faixas e tubos de resistência elástica;
•  Bastões, bolas suíças e medicine ball.

O treinamento com bolas inclui bolas de estabilidade e as chamadas medi-


cine balls. Embora a bola de estabilidade, também conhecida como bola suíça,
venha evoluindo como uma modalidade inovadora de exercícios, o uso de uma
bola nos exercícios, na verdade vem desde o Século II d.C.
Vários mecanismos fisiológicos obtêm resultados positivos a partir do trei-
namento com bolas de estabilidade. Fisioterapeutas usam com frequência as
bolas de estabilidade em seus treinamentos de resistência, pois a sensação
de movimento e a posição das articulações, que envolvem a propriocepção,
contribui tanto para a programação motora para o controle neuromuscular,
exigindo movimentos precisos, como proporcionando estabilidade articular
(GOLDENBERG e TWIST, 2010).
Os treinamentos de força com bolas são úteis para toda a população, uma
vez que podem ser facilmente adaptados de modo a atender uma série de neces-
sidades e metas. Bolas de tamanhos, densidades e pesos variados, mudanças
de exercícios e uso de carga de estabilização dinâmica, assim como o desloca-
mento das cargas, permitem que os praticantes jovens e veteranos aproveitem
os exercícios adequados segundo seus níveis de habilidade (figura 3.4).

62 • capítulo 3
Figura 3.4  –  Uso da bola de estabilidade para exercício de fortalecimento abdominal.

Exercício isométrico (exercício estático): É uma forma de exercício em que


um músculo se contrai e produz força sem uma mudança apreciável no seu
comprimento e sem movimento articular visível. As fontes de resistência para
o exercício isométrico incluem sustentar-se contra uma força aplicada manual-
mente, segurar um peso em uma posição específica, manter uma posição con-
tra uma posição específica, manter uma posição contra a resistência do peso
corporal ou empurrar ou puxar um objeto imóvel. O treinamento isométrico é
um meio viável de melhorar a força muscular.
Tem-se sido sugerido que a resistência muscular à fadiga tem um papel
mais importante do que a força muscular para manter a estabilidade postural
suficiente e prevenir lesões durante tarefas diárias. A estabilidade dinâmica
das articulações é obtida pela ativação e manutenção de uma co-contração de
baixo nível, ou seja, contrações isométricas simultâneas dos músculos antago-
nistas que cercam as articulações.
Todos os tipos de exercícios isométricos, com exceção dos isométricos leves,
incorporam alguma forma de resistência significativa e, portanto, são usados
para melhorar a força estática ou desenvolver o controle muscular sustentado.
•  Exercícios isométricos leves: Envolvem contrações isométricas de baixa
intensidade feitas contra pouca ou nenhuma resistência. São usados para di-
minuir a dor muscular e o espasmo e para promover o relaxamento e a circula-
ção depois de lesões de tecidos moles durante o estágio agudo da cicatrização.
Os isométricos leves podem retardar a atrofia muscular e manter a mobilidade
entre as fibras musculares quando a imobilização de um músculo e necessária
para proteger os tecidos em cicatrização (figura 3.5).

capítulo 3 • 63
Figura 3.5  –  Exercício isométrico leve.

•  Exercícios de estabilização: Usada para desenvolver um nível submáximo,


porém sustentado, de co-contração visando melhorar a estabilidade postural
ou a estabilidade dinâmica de uma articulação por meio de contrações isomé-
tricas resistidas no meio da amplitude. O peso do corpo ou a resistência ma-
nual geralmente são as fontes de resistência (figura 3.6).

Figura 3.6  –  Exercício de estabilização.

•  Isométricos em múltiplos ângulos: Refere-se a um sistema de exercícios


isométricos em que a resistência é aplicada, manual ou mecanicamente, em
múltiplas posições articulares dentro da ADM disponível.

Para se obter mudanças adaptativas no desempenho muscular estático,


uma contração isométrica deve ser mantida por pelo menos 6 segundos e não
mais do que 10 segundos, porque a fadiga muscular se desenvolve rapidamente.

64 • capítulo 3
O uso de contrações repetitivas, mantidas por 6 a 10 segundos cada, diminui a
ocorrência de cãibras e aumenta a efetividade do programa isométrico.
Ao realizar exercícios isométricos em múltiplos ângulos, recomenda-se nor-
malmente que a resistência seja aplicada em 4 a 6 pontos da ADM. Durante o
exercício isométrico, deve ser sempre feita uma respiração rítmica enfatizan-
do a expiração durante a contração, para minimizar a resposta de aumento de
pressão.

Exercício dinâmico: concêntrico e excêntrico


Uma contração muscular dinâmica causa movimento articular e a excursão
de um segmento do corpo enquanto o músculo se contrai e encurta ou se alon-
ga sob tensão. Durante o exercício concêntrico e excêntrico, a resistência pode
ser aplicada de várias maneiras: Resistência constante, como o peso do corpo,
um peso livre ou um sistema simples de polias. Um equipamento com peso
fornece resistência variável. Já um dispositivo isocinético controla a velocidade
de movimento do membro.
Evidentemente, com o crescente número de pesquisas e trabalhos cientí-
ficos envolvendo o trabalho muscular excêntrico, alterou-se definitivamente a
concepção equivocada e simplista de que a contração muscular excêntrica seria
única e meramente o retorno, ou a segunda fase dos movimentos isotônicos.
Quando se leva em consideração a fase excêntrica do movimento, sobretudo
aplicada aos programas de treinamento humano (de caráter reabilitativo ou
não), devem-se avaliar os benefícios, vantagens e principalmente as precauções
que são excepcionalmente distintas quando relacionadas à fase concêntrica
dos exercícios isotônicos.
O treinamento excêntrico certamente aplica-se de forma bastante eficiente
a várias populações, podendo ser útil desde disfunções geriátricas articulares
até programas de treinamento atlético de elite (GREGO NETO e PREIS, 2005).
As contrações musculares concêntricas aceleram os segmentos do corpo, en-
quanto as contrações excêntricas os desaceleram. As contrações excêntricas tam-
bém agem como fonte de absorção de choque durante atividades de alto impac-
to. Os programas de exercícios que enfatizam o uso de cargas excêntricas, como o
treinamento pliométrico (ciclos de alongamento-encurtamento) ou treinamento
isocinético excêntrico de alta velocidade são normalmente usados para preparar
um paciente para esportes ou atividades de alta demanda ligadas ao trabalho.

capítulo 3 • 65
Características:
•  Em uma contração concêntrica, números maiores de unidades motoras
precisam ser recrutados para controlar a mesma carga em comparação com
uma contração excêntrica;
•  O exercício concêntrico tem menos eficiência mecânica do que o exercí-
cio excêntrico;
•  A resistência máxima durante a fase concêntrica de um exercício não for-
nece uma carga máxima durante a fase excêntrica;
•  Os ganhos adaptativos relativos na força excêntrica e concêntrica parecem ser
similares na conclusão de um programa de exercícios concêntricos ou excêntricos.

Nas velocidades lentas com carga máxima, uma contração excêntrica gera
maior tensão do que uma contração concêntrica. Nas velocidades altas, a ten-
são da contração concêntrica diminui de modo rápido e contínuo, enquanto as
forças de contração excêntrica aumentam levemente, mas logo depois atingem
um platô sob condições de carga máxima.
O exercício excêntrico consome menos oxigênio e reservas de energia do
que o exercício concêntrico contra cargas similares. O uso de atividades excên-
tricas pode melhorar a resistência muscular à fadiga.
O treinamento concêntrico e o excêntrico causam um efeito cruzado de
treinamento, ou seja, um leve aumento na força do mesmo grupo muscular do
membro oposto que não se exercitou. Esse efeito no grupo muscular não exer-
citado pode ser causado por contrações repetidas do membro não exercitado,
em uma tentativa de estabilizar o corpo durante o exercício com alto esforço.

Exercício em cadeia aberta e cadeia fechada.


As definições e características operacionais dos exercícios em cadeia aberta
ou cadeia fechada são apresentadas a seguir, na tabela 3.2, e são os mais fre-
quentemente observados na literatura atual.
Exercícios em cadeia aberta: Envolvem movimentos nos quais o segmento
distal (mão ou pé) está livre para movimentar-se no espaço, sem necessaria-
mente causar movimentos simultâneos de articulações adjacentes.

Exercícios em cadeia fechada: Envolvem movimentos nos quais o corpo


se move sobre um segmento distal que está fixado ou estabilizado sobre uma
superfície de apoio. O movimento em uma articulação causa movimentos

66 • capítulo 3
simultâneos nas articulações distais e proximais de um modo relativamente
previsível. Por exemplo, quando um paciente faz um movimento de agacha-
mento bilateral em arco curto e depois retorna a posição ereta.

EXERCÍCIOS EM CADEIA ABERTA EXERCÍCIOS EM CADEIA FECHADA


O segmento distal permanece em contato com a
O segmento distal se move no espaço
superfície de apoio ou estacionário (fixo)

Movimento articular independente; não se Movimentos articulares interdependentes;


prevê movimento articular nas articulações padrões de movimento relativamente previsíveis
periféricas. nas articulações adjacentes.

O movimento dos segmentos do corpo pode


Movimento dos segmentos corporais apenas
ocorrer distal e/ou proximal à articulação que
distais à articulação que se move
se move.

A ativação muscular ocorre predominantemen- A ativação muscular ocorre em múltiplos grupos


te no movimentador primário e é isolada para musculares, tanto distais quanto proximais à
os músculos da articulação em movimento. articulação que se move.

Tipicamente realizados em posições sem Tipicamente, porem nem sempre, em posições


apoio de peso. com apoio de peso.

Uso de carga rotatória externa. Uso de carga axial.

Estabilização interna por meio de ação muscular,


Normalmente necessária estabilização externa
compressão articular, congruência e controle
(manual ou de equipamento)
postural.

Tabela 3.2  –  Características dos exercícios em cadeia aberta e cadeia fechada.

Equipamentos para exercícios recíprocos:


•  Exercícios em bicicletas estacionárias;
•  Aparelhos de step;
•  Treinadores elípticos ou aparelhos de esqui;
•  Ergômetros de membro superior.

Exercício Isocinético.
É uma forma de exercício dinâmico em que a velocidade de encurtamento
ou alongamento do músculo do músculo, assim como a velocidade angular do
membro, são predeterminadas e mantidas constantes por um dispositivo limi-
tador de velocidade, conhecido como dinamômetro isocinético.

capítulo 3 • 67
Avanços tecnológicos têm levado ao desenvolvimento de equipamentos iso-
cinéticos que permitem a execução de exercícios excêntricos em associação à
atividade concêntrica. O uso deste tipo de equipamento vem se popularizando
no Brasil, por meio dos conhecidos dinamômetros isocinéticos, usando e valo-
rizando o treinamento muscular excêntrico.
Em linhas gerais, pode-se dizer que uma vantagem do exercício isocinético
é fornecer um método de carregar dinamicamente os músculos em contração
a uma velocidade que pode ser facilmente manipulada. O músculo é, portanto,
capaz de manter um estado de máxima contração em toda a sua amplitude,
permitindo uma demanda máxima da sua capacidade de trabalho. As velocida-
des angulares podem ser ajustadas para permitir que o músculo funcione em
relação às condições dinâmicas simulando as demandas impostas pelas ativi-
dades funcionais do indivíduo em relação à biomecânica dos gestos motores
do esporte. (GREGO NETO e PREIS, 2005).
Torna-se imperativo que os fisioterapeutas visualizem cada vez mais o
quanto os pacientes podem se beneficiar do treinamento muscular multimo-
dal, criativo e eficiente e que não negligencie a devida importância que deve ser
atribuída à fase de fortalecimento muscular durante o processo reabilitacional
e de preparação física funcional do indivíduo.

ATIVIDADE
Determine 1RM e 10 RM para os seguintes grupos musculares em você ou algum familiar:
flexores de ombro, abdutores de ombro, rotatores externos de ombro; flexores e extensores
de cotovelo; abdutores de quadril; flexores e extensores de joelho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADLER, Susan S.; BECKERS, Dominiek; BUCK, Match. Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva.
Um guia ilustrado. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Manole. 2007.
GOLDENBERG, Lorne e TWIST, Peter. Treinamento de Força com Bola. Estabilidade Total e
exercícios com Medicine Ball. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Manole. 2010
KISNER, Carolin e COLBY, Lynn Allen. Exercícios Terapêuticos – Fundamentos e Técnicas. 6 ed.
Rio de Janeiro: Ed. Manole. 2016.

68 • capítulo 3
GREGO NETO, Anselmo e PREIS, Cássio. A valorização do treinamento muscular excêntrico na
fisioterapia desportiva. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.18, n.1, p. 19-26, jan./mar., 2005.
SIMON NETO, Daniel. Efeitos dos exercícios resistidos sobre as atividades da vida diária em
idosos: revisão bibliográfica. Monografia do Curso de Especialização em Fisiologia do Exercício e
Treinamento Resistido na Saúde, na Doença e no Envelhecimento. Disciplina de Geriatria da Faculdade
de Medicina da USP-SP. 2006.
VAISBERG, Mauro e MELLO, Marco Tulio de. Exercícios na Saúde e na Doença. Rio de Janeiro: Ed.
Manole. 2010

capítulo 3 • 69
70 • capítulo 3
4
Exercícios
terapêuticos de
alongamento
4.  Exercícios terapêuticos de alongamento
A flexibilidade é algo tão inerente ao ser humano quanto o próprio movimento.
Todos os meios de expressão humana, como falar, dançar, pintar, correr, escre-
ver, entre tantos outros, dão-se por meio da movimentação. Quanto mais ativa
é a pessoa, maior sua amplitude movimento. O mover-se está intimamente liga-
do à vida e à sobrevivência, sendo a flexibilidade um de seus aspectos.
O alongamento é um método frequentemente executado para aumentar
a amplitude de movimento (ou a flexibilidade) de determinadas articulações.
Embora não haja evidências científicas que comprovem a sua eficácia na dimi-
nuição do risco de lesões e na minimização de dores musculares tardias, tra-
dicionalmente faz parte do aquecimento para atividades físicas e proporciona
bem-estar e habilidades funcionais diárias.
Mesmo sendo difícil escolher, na prática clínica, um protocolo de alonga-
mento apropriado, este capítulo se propõe a contribuir para seu conhecimento,
pois, independentemente de qual técnica é mais efetiva, o alongamento ainda
é altamente recomendado para ganhos de amplitude de movimento e flexibili-
dade para as atividades de vida diária.

OBJETIVOS
•  Apresentar conceitos sobre termos relacionados ao alongamento;
•  Promover uma breve revisão da mobilidade (articular e muscular);
•  Trazer reflexões sobre os tipos de exercícios de alongamento mais utilizados – e relacionar
as técnicas como tratamento fisioterapêutico para mobilidade e flexibilidade.

4.1  Mobilidade e alongamento

Quando falamos sobre mobilidade, estamos relacionando dois parâmetros di-


ferentes. Um relacionado à mobilidade dos segmentos corporais, necessárias
as atividades funcionais (ADM funcional – já citada no segundo capítulo desse
livro). E o outro está relacionado à habilidade de um indivíduo em controlar e
manter movimentos ativos necessários a realização de tarefas diárias (mobili-
dade funcional).
Como estão inter-relacionadas, a ADM funcional e a mobilidade fun-
cional necessitam de uma integridade articular e da flexibilidade. E para a

72 • capítulo 4
compreensão desse processo, vamos relembrar, inicialmente, alguns mecanis-
mos fundamentais relacionados ao alongamento.
O músculo é composto de tecido contrátil e não contrátil. Nos músculos
existem as fibras musculares dispostas em paralelo. Cada fibra muscular tem
uma grande quantidade de mio fibrilas, que, por sua vez, é constituída de es-
truturas ainda menores chamadas de sarcômeros, representando a unidade
funcional do músculo. Os sarcômeros são compostos de pontes transversas de
actina e miosina que se sobrepõem e dão ao músculo a capacidade de relaxar
ou contrair (DELIBERATO, 2007; KISNER; COLBY, 2016).
Existem dois órgãos sensoriais no músculo: o fuso muscular e o Órgão
Tendinoso de Golgi (OTG). O primeiro se situa no ventre muscular e é o principal
órgão sensitivo do músculo, sendo composto por fibras intrafusais paralelas às
fibras extrafusais. O fuso muscular é responsável por detectar alterações do com-
primento do músculo e percebe alterações bruscas de velocidade do alongamen-
to. Em situações específicas, como no alongamento balístico, onde são aplicadas
velocidades bruscas de alongamento, corre-se o risco de lesão por alongamento
excessivo. Com a contração das fibras extrafusais, também há a situação de se
originar um estiramento no músculo, conhecido como reflexo de estiramento ou
reflexo miotático, como demonstrado na figura 4.1 (DELIBERATO, 2007).

Figura 4.1  –  Reflexo miotático - Uma extensão do braço (A) leva a um estiramento do bí-
ceps, estirando o fuso neuromuscular. O neurônio sensorial, que se projeta monossinapti-
camente sobre o motoneurônio, é então ativado (B, linha grossa), ativando em seguida o
motoneurônio (C, linha grossa).

capítulo 4 • 73
No mesmo circuito neural medular que se processa o reflexo miotático, há
inibição de motoneurônios que inervam músculos antagonistas ao músculo
estimulado (inervação recíproca). Essa inibição não é realizada monossinap-
ticamente, mas por intermédio de interneurônios inibitórios presentes em
circuitos da substância cinzenta medular. Cada fibra aferente Ia faz conexões
excitatórias com virtualmente todos os motoneurônios que inervam o músculo
estimulado, e com até 60% dos motoneurônios responsáveis pela inervação dos
músculos agonistas (figura 4.2).

Figura 4.2  –  Inervação recíproca. No reflexo miotático, como em vários outros processos de
integração motora, após a ativação (linha grossa) do neurônio sensorial (A), observamos, em
(B), tanto uma ativação do motoneurônio responsável pela inervação do músculo estimulado
(linha grossa) quanto uma inibição (linha interrompida) de músculos antagonistas (B). Essa
inibição é executada por interneurônios que integram circuitos neurais medulares.

O princípio de inervação recíproca não é observado apenas no reflexo mio-


tático, mas também em movimentos voluntários, em que o mesmo conjunto
de interneurônios inibitórios é utilizado para realizar a inibição dos moto-
neurônios, que inervam um dado grupo muscular, quando motoneurônios que

74 • capítulo 4
inervam um grupo muscular antagonista são recrutados. A inervação recíproca
contribui assim para aumentar a velocidade e eficiência de uma contração, já
que a ativação de um dado grupo de músculos ocorre sem a oposição de uma
contração antagônica ao movimento desejado. Assim, neurônios corticospi-
nais originários do córtex motor projetam-se tanto sobre os motoneurônios
que inervam um dado músculo quanto sobre interneurônios (inibitórios) que
inibem motoneurônios de músculos antagonistas.
Esse processo de inibição recíproca, embora eficiente do ponto de vista
energético, não se constitui, porém, em uma boa estratégia quando o objetivo
é o posicionamento firme e estável de uma articulação. Nesse caso, a estraté-
gia adequada é a contração simultânea de músculos agonistas e antagonistas,
processo então chamado de co-contração. Embora mais dispendiosa quanto ao
gasto energético, a co-contração permite a adoção de posturas estáveis, como
quando necessitamos de uma firmeza motora necessária a um ato cirúrgico ou a
imobilidade requerida para se fotografar uma cena qualquer (BANDY e SANDER,
2003; DELIBERATO, 2007; HALL e BRODY, 2007; KISNER e COLBY, 1998).
O OTG é uma estrutura localizada próxima à junção musculotendínea do
músculo e é fixada em série às fibras extrafusais. Ele é sensível à tensão no ten-
dão ocasionada por alongamento passivo e também por contração muscular.
Sua função é proteger o músculo de contrações e alongamentos excessivos e
impedir a atividade excessiva das fibras nervosas que inervam o músculo extra-
fusal (neurônios motores alfa). Isso ocorre quando há um alongamento prolon-
gado. O OTG inibe a tensão, sobrepondo-se ao fuso muscular e facilita o alon-
gamento através de fibras nervosas tipo Ib relaxando o músculo. O OTG é um
mecanismo aferente inibitório (gera relaxamento), enquanto o fuso neuromus-
cular é um sistema aferente excitatório (gera contração) (DELIBERATO, 2007).
As intervenções de alongamento são elaboradas para aumentar o compri-
mento dos componentes contráteis e não contráteis das unidades musculoten-
dínea e das estruturas periarticulares.
A deformação (alongamento) do tecido conjuntivo ocorre com graus dife-
rentes em intensidades diferentes de força e com frequências de aplicação di-
ferentes. Requer a quebra de ligações de colágeno e o realinhamento das fibras,
para que o alongamento ou o aumento da flexibilidade seja permanente.
Entende-se como flexibilidade a capacidade de mover uma única articula-
ção ou uma série de articulações, de modo suave e com facilidade, ao longo de
uma ADM sem restrições e indolor. Ela está relacionada com a extensibilidade

capítulo 4 • 75
das unidades musculotendínea que atravessam uma articulação, com base em
sua habilidade de relaxar ou deformar e ceder a uma força de alongamento
(KISNER e COLBY, 2016).
Muitos processos patológicos podem restringir o movimento e comprome-
ter a mobilidade. Como fator extrínseco, podemos citar a imobilização prolo-
gada, através do uso de aparelho gessado, talas (splints) ou tração esquelética.
Já os fatores intrínsecos estão relacionados à presença de dor, inflamação e
derrame articular; distúrbios no músculo, tendão ou fáscia; distúrbios na pele;
bloqueio ósseo; distúrbios vasculares; estilo de vida sedentário e posturas habi-
tuais assimétricas; paralisia, alterações no tônus e desequilíbrios musculares,
além dos desalinhamentos posturais congênito ou adquirido.
A restrição de movimento pode variar de um leve encurtamento até contra-
turas irreversíveis.
Definimos contratura como o encurtamento adaptativo da unidade mus-
culotendínea e outros tecidos moles que cruzam ou cercam uma articulação e
resulta em resistência significativa ao alongamento passivo ou ativo e na limita-
ção da ADM, podendo levar a disfunções(KISNER e COLBY, 2016).

COMENTÁRIO
Um alongamento excessivo é um alongamento além do comprimento normal dos músculos
e da ADM de uma articulação e tecidos moles ao redor. Torna-se prejudicial, pois cria insta-
bilidade articular quando as estruturas que suportam uma articulação e a força dos músculos
em torno dela são insuficientes e não conseguem manter a articulação em uma posição
funcional estável durante as atividades – hipermobilidade.

Várias intervenções terapêuticas têm sido utilizadas para melhorar a


mobilidade dos tecidos moles e, consequentemente, aumentar a a ADM e
a extensibilidade.
•  Alongamento manual ou mecânico – passivo/ativo: uma força de alonga-
mento externa no final da amplitude do movimento, mantida ou intermitente,
aplicada com pressão adicional e por meio de contato manual ou dispositivo
mecânico, alonga uma unidade musculotendínea encurtada e os tecidos con-
juntivos periarticulares, movendo a articulação limitada um pouco além da
ADM disponível.

76 • capítulo 4
•  Autoalongamento: qualquer exercício de alongamento feito de for-
ma independente por um indivíduo, após instrução e supervisão é chamado
de autoalongamento.
•  Técnicas de facilitação e inibição neuromuscular: tem o objetivo de rela-
xar de forma reflexa, a tensão dos músculos encurtados, antes ou durante um
alongamento muscular. Está associado a uma abordagem de exercícios conhe-
cida como facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP). Alguns autores se
referem a esses procedimentos combinados de inibição/facilitação e alonga-
mento muscular como alongamento FNP ((KISNER e COLBY, 2016).
•  Técnicas de energia muscular: são procedimentos de manipulação que
surgiram na medicina osteopática e visam alongar músculos e fáscias e mobi-
lizar articulações. Empregam contrações voluntárias dos indivíduos com dire-
ção e intensidade controladas de forma precisa, contra uma força de oposição
aplicada pelo profissional. Como sua base são os princípios da inibição neu-
romuscular, outro termo utilizado para descrever tais técnicas é relaxamento
pós-isométrico (CHAITOW, 2008).
•  Mobilização/manipulação articular: são técnicas da fisioterapia manual
aplicadas especificamente às estruturas articulares para modular a dor e tratar
comprometimentos articulares que limitam a ADM (KALTENBORN, 2001).
•  Mobilização e manipulação de tecidos moles: são elaboradas para me-
lhorar a extensibilidade muscular envolvendo a aplicação de formas manuais
específicas e progressivas, provocando mudanças nas estruturas miofasciais.
Podemos citar a massagem transversa, a liberação miofascial, acupressão e te-
rapia por pontos gatilhos (FERGUSON e GERWIN, 2007; SIMONS; TRAVELL, e
SIMONS, 2006; IRNICH, 2012) .
•  Mobilização de tecidos neurais: aderências ou tecidos cicatriciais podem
se formar em torno das meninges e raízes nervosas ou no local de lesão no ple-
xo ou nos nervos periféricos. A tensão colocada sobre essas aderências ou teci-
do cicatricial causa dor e sintomas neurológicos. Após testes para determinar a
mobilidade desses tecidos, a via neural é mobilizada por meio de procedimen-
tos seletivos (BUTLER, 2003).

4.2  Indicações e contraindicações dos exercícios de alongamento

Há indicações nas quais os exercícios de alongamento são apropriados e segu-


ros; contudo, há também casos nos quais o alongamento não deve ser prescrito
e implementado.

capítulo 4 • 77
Indicações para o uso do alongamento:
•  A ADM está limitada porque os tecidos moles perderam sua extensibilida-
de em decorrência de aderências, contraturas e formação de tecido cicatricial,
causando limitação funcional (limitação nas atividades) ou incapacidades (res-
trições à participação).
•  A fraqueza muscular ou encurtamento do tecido oposto ocasionaram
uma diminuição da ADM.
•  Pode ser usado como parte de um programa de preparo físico total ou de
condicionamento esportivo, ou pós treino de exercícios vigorosos para possível
redução da dor muscular pós-exercício.
•  Para relaxamento muscular.
•  Auxiliam no desenvolvimento da consciência corporal, melhorando
a postura.
•  Diminuição dos riscos de lesões e distensões, apesar de não confirmado
experimentalmente, a prática nos tem demonstrado sua veracidade.

Contra indicações para o uso do alongamento:


•  Bloqueio ósseo que limite o movimento.
•  Fratura recente em consolidação.
•  Processo inflamatório agudo ou infeccioso.
•  Cicatrização aguda do tecido mole.
•  Dor aguda com o movimento articular ou de alongamento.
•  Existência de hipermobilidade.

Determinantes para o uso dos exercícios de alongamento:


Como ocorre com outros exercícios terapêuticos, há diversos elementos
essenciais que determinam a efetividade e os resultados para as prescrições
e intervenções por meio dos exercícios de alongamento. Eles estão todos
inter-relacionados:
•  Alinhamento: posicionamento do corpo, de modo que a força de alonga-
mento seja direcionada para o grupo muscular apropriado.
•  Estabilização do corpo durante o alongamento: postura que possibilite
a fixação do local de inserção do músculo (proximal ou distal) à medida que a
força é aplicada.
•  Intensidade: magnitude da força de aplicação do alongamento.
•  Duração e velocidade: período no qual o alongamento é mantido e veloci-
dade da aplicação inicial.

78 • capítulo 4
•  Frequência: número de sessões (intervenções) feitas no dia ou na semana.
•  Modo de alongamento: forma ou maneira com que a força de alongamen-
to (estática, balística, cíclica – mecânica ou manual) é aplicada e nível de parti-
cipação do indivíduo (passivo, assistido, ativo).

Muitos conceitos são usados para diferenciar um alongamento de longa du-


ração de um de curta duração. Termos como estático, sustentado, mantido e
prolongado são usados para descrever um alongamento de longa duração, en-
quanto termos como cíclico, intermitente ou balístico são usados para carac-
terizar um alongamento de curta duração. Não há um intervalo específico para
qualquer um desses descritores, nem há um tempo específico para distinguir
um alongamento de longa duração de um de curta duração.
Há uma relação inversa entre intensidade e duração, assim como intensida-
de e frequência de alongamento.
•  Quanto mais baixa a intensidade do alongamento, maior o tempo em que
o paciente tolera o alongamento e os tecidos moles podem ser mantidos na po-
sição alongada.
•  Quanto mais alta a intensidade, menor a frequência com que a interven-
ção de alongamento pode ser aplicada, pois é necessário um tempo para cica-
trização dos tecidos e resolução da dor muscular residual.

Um alongamento de longa duração e baixa carga (baixa intensidade) é con-


siderado a forma mais segura de alongar, conseguir uma deformação elásti-
ca mais significativa e mudanças plásticas em longo prazo nos tecidos moles
(KISNER E COLBY, 2016).
Em geral, quanto mais curta a duração de um único ciclo de alongamen-
to, maior o número de repetições aplicadas durante a sessão de alongamento.
Verifica-se que 30 segundos de alongamento muscular realizado uma vez por
dia são suficientes para promover ganhos na extensibilidade muscular de adul-
tos jovens, e não há diferenças em relação a tempos de manutenção superiores
a 30 segundos. Para indivíduos com idade de 65 anos, o alongamento deve ser
mantido por 60 segundos.
A relação da eficiência do alongamento antes do exercício ou treino com o
objetivo de prevenir lesões não tem sido sustentado por muitos autores, apesar
de existir controvérsias a respeito do assunto. Autores acreditam que a incidên-
cia de lesão está estritamente ligada a idade e ao nível do condicionamento e
não a prática de alongamento estático antes da atividade física.

capítulo 4 • 79
A prática do alongamento agudo apresenta efeito prejudicial a performance
muscular e a realização do alongamento antes do exercício não implica em me-
nor número de lesões. Acredita-se que há outros mecanismos, provavelmente
relacionados ao processo de aquecimento, que justificariam uma menor inci-
dência de lesões e melhora na performance.
O alongamento de baixa intensidade em comparação com o alongamento
de alta intensidade torna a manobra mais confortável para o indivíduo e mini-
miza a defesa muscular voluntária ou involuntária. Para indivíduos em recupe-
ração funcional, pós-imobilização, ele é efetivo e apresenta melhora na ADM
sem expor os tecidos, possivelmente enfraquecidos pela imobilização, a cargas
excessivas e lesão potencial. Alonga o tecido conjuntivo denso mais efetivamen-
te, com menos danos aos tecidos moles e menos dor muscular pós-exercício do
que o alongamento de alta intensidade (ALMEIDA et al, 2009).
Em paciente com contraturas fibróticas crônicas, decorrentes de distúrbios
neurológicos ou musculoesqueléticos, durações comuns de alongamento ma-
nual ou auto alongamento (repetições de alongamentos com duração de 15 a
30 segundos) podem não ser efetivas. O uso de alongamento estático mecânico
com talas ou aparelhos de gesso é mais efetivo. A duração do alongamento me-
cânico relatada na literatura varia de 15 a 30 minutos até 8 a 10 horas por vez ou
continuamente durante o dia.
Como evidenciado junto a outros tipos de exercícios terapêuticos, a avaliação
criteriosa para a prescrição do exercício de alongamento, contribui para melho-
res resultados tanto no treinamento quanto na reabilitação e prevenção de lesões.
Uma avaliação precisa e minuciosa contribui para um tratamento eficaz e efetivo.

4.3  Tipos de alongamento

As técnicas de alongamento podem ser enquadradas em três tipos: alongamen-


to estático, cíclico/intermitente, balístico e por facilitação neuromuscular pro-
prioceptiva (FNP) (BANDY; SANDER, 2003; HALL; BRODY, 2007; KISNER E COL-
BY, 2016). Podem também ser divididos em manual e mecânico e dependendo
do nível de participação do indivíduo, passivo ou ativo (autoalongamento).

Alongamento Estático
Consiste em alongar um músculo até um ponto tolerável e sustentar a po-
sição por um período de tempo. O alongamento estático apresenta o menor

80 • capítulo 4
risco de lesão e acredita-se ser o mais seguro método de alongamento, além de
ser este o mais usado. Ademais, resolve os problemas de restrições de tempo e
espaço limitados, podendo ser realizado em qualquer lugar. Pode ser passivo
(exercido pelo terapeuta) ou ativo (auto alongamento).
O alongamento manual pode ser mais apropriado nos estágios iniciais
de um programa de alongamento, quando o fisioterapeuta deseja deter-
minar como o paciente responde a intensidades ou durações diferentes de
alongamento e quando uma estabilização máxima é muito importante. É
uma escolha apropriada, caso o paciente não possa realizar autoalonga-
mento (figura 4.3).

Figura 4.3  –  Alongamento passivo

O autoalongamento, também chamado de exercício de flexibilidade ou


alongamento ativo é um procedimento de alongamento que o indivíduo execu-
ta sozinho, após uma instrução cuidadosa e prática supervisionada. Permite ao
indivíduo manter ou aumentar a ADM obtida como resultado da intervenção
direta do fisioterapeuta (figura 4.4).
Pesquisas têm mostrado que a tensão criada no músculo durante o alonga-
mento estático é aproximadamente a metade da criada durante o alongamento
balístico (KISNER E COLBY, 2016).

capítulo 4 • 81
Figura 4.4  –  Alongamento ativo estático ou auto alongamento

Alongamento estático progressivo


Os tecidos moles encurtados são mantidos em uma posição confortavel-
mente alongada até que um grau de relaxamento seja sentido pelo paciente ou
pelo terapeuta. Então, os tecidos encurtados são alongados um pouco mais e
mantidos na nova posição máxima por um tempo adicional.

Alongamento Dinâmico Balístico


Usa o momento do balanço de um
segmento corporal de maneira rítmi-
ca para alongar os músculos vigoro-
samente (figura 4.5). A produção de
tensão rápida e intensa num período
curto de tempo contradiz o uso de pou-
ca força num período longo de tempo
e o rápido aumento em tensão causado
pelo reflexo miotático pode produzir a
ruptura do tecido. Por causa desses ar-
gumentos, o uso do alongamento ba-
lístico é baixo. Figura 4.5  –  Alongamento dinâmi-
co balístico.

82 • capítulo 4
Em relação ao desempenho e ao alongamento, há evidências que o alonga-
mento agudo, realizado antes da prática esportiva e ou de exercícios, promo-
ve diminuição da performance muscular principalmente em salto vertical. O
alongamento por FNP e o estático são os que mais induzem déficits na perfor-
mance do músculo quando comparado com o balístico (ALMEIDA et al, 2009).
Embora tenha sido mostrado que o alongamento balístico aumenta a ADM
com segurança em pessoas jovens e saudáveis que participam de um programa
de condicionamento, este procedimento em geral, não é recomendado para
pessoas idosas ou sedentárias ou para pacientes com patologias musculoes-
queléticas ou contraturas clínicas. A base teórica para essa recomendação é:
•  Tecidos enfraquecidos pela imobilização ou por desuso são facilmen-
te lesionados.
•  O tecido conjuntivo denso encontrado em contraturas crônicas não cede
com facilidade mediante um alongamento de curta duração e alta intensidade.
Em vez disso, torna-se mais quebradiço e rompe-se mais prontamente (KISNER
E COLBY, 2016).

Alongamento cíclico (intermitente)


Uma força de alongamento com duração relativamente curta, que é apli-
cada de modo repetido, porém gradual, então liberada e depois reaplicada. É
por natureza, aplicado em múltiplas repetições durante uma única sessão de
tratamento.
Com base na experiência clínica, os fisioterapeutas acreditam que, quando
aplicado de maneira apropriada, o alongamento cíclico na amplitude final é
tão efetivo e mais confortável para o paciente do que um alongamento estático
de intensidade comparável, sobretudo se o alongamento estático for aplicado
de modo contínuo por mais de 30 segundos. Há evidências que suportam essa
opinião (KISNER E COLBY, 2016).

Alongamento por Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP)


Entre as técnicas de alongamento, as mais utilizadas, junto a Fisioterapia,
são a facilitação neuromuscular proprioceptiva e o alongamento estático. A FNP
é uma técnica de alongamento que, por meio da estimulação de propriocepto-
res, busca o aumento da amplitude de movimento (ADM) e da flexibilidade.

capítulo 4 • 83
Também chamado de alongamento ativo ou alongamento facilitativo, os
alongamentos por FNP, integram propositalmente contrações musculares ati-
vas nas manobras de alongamento para facilitar ou inibir a ativação muscular e
aumentar a possibilidade de que o músculo a ser alongado permaneça o mais
relaxado possível durante o procedimento. Envolve técnicas que usam contra-
ções isométricas breves do músculo a ser alongado antes do alongamento está-
tico. Por vezes, são realizadas com grupos musculares combinados agindo em
padrões de movimentos diagonais.
O alongamento por FNP procura facilitar o Órgão Tendinoso de Golgi a ini-
bir os músculos nos quais se situa e usa o principio da inibição recíproca. Esta
técnica tem obtido resultados mais satisfatórios que o alongamento estático.
Esta técnica de alongamento pode ser dividida em três fases: na primeira,
ocorre a mobilidade do grupo muscular alvo até a sua amplitude limite, acio-
nando o fuso muscular; na segunda fase, ocorre a contração voluntária isomé-
trica, resistida pelo profissional durante 6 segundos, desencadeando um pro-
cesso de inibição autogênica, culminando na ativação do Órgão Tendinoso de
Golgi e na subsequente redução na tensão muscular.
Este processo permite que, na terceira fase, o alongamento seja realizado
além da amplitude observada na primeira fase, diminuindo a resistência ao alon-
gamento e aumentando a amplitude de movimento (FELAPPI e LIMA, 2015).
A idade, o gênero, o nível de flexibilidade inicial dos indivíduos e o tem-
po de aplicação do alongamento parecem influenciar os resultados efetivos
do alongamento. Independentemente de qual técnica é mais efetiva, estático
ou FNP, ambas são altamente recomendadas para ganhos de amplitude de
movimento e flexibilidade, sendo eficientes para o objetivo a que se propõe
(maior flexibilidade).
As técnicas de FNP exigem inervação íntegra e controle voluntário do múscu-
lo encurtado, ou do músculo em função oposta ao músculo a ser alongado. Desse
modo, não é uma técnica recomendada de maneira efetiva para pacientes com
paralisia ou espasticidade resultante de doenças ou lesões neuromusculares,
quando se tem o objetivo de ganho de flexibilidade (KISNER E COLBY, 2016).
A desvantagem em relação ao estático é que o alongamento por FNP não
só requer um profissional para aplicá-la, mas também atenção para o devido
treinamento para aplicação da técnica.
Há vários tipos de procedimentos de alongamentos por FNP e todos resul-
tam na melhora de ADM:

84 • capítulo 4
•  Manter-relaxar (MR) e contrair-relaxar (CR)
O músculo que limita a amplitude é primeiramente alongado até o ponto da
limitação ou de forma confortável para o paciente, que faz, então, uma contra-
ção isométrica no final da amplitude do movimento (durante cerca de 5 segun-
dos), seguida pelo relaxamento voluntário do músculo encurtado. O membro é,
então, movido de forma passiva para nova amplitude, enquanto se processa o
alongamento (figura 4.6).

Figura 4.6  –  Exercício de alongamento por FNP.

Presume-se que a contração mantida antes do alongamento é seguida por


um relaxamento reflexo acompanhado por uma diminuição na atividade ele-
tromiográfica (EMG) no músculo que limita a amplitude, possivelmente como
resultado da inibição autógena.
Para minimizar os efeitos adversos de uma manobra de Valsava (com eleva-
ção da pressão arterial), o paciente deve respirar regulamente enquanto realiza
contrações isométricas submáximas (de baixa intensidade) mantidas por 5 a 10
em cada repetição do procedimento de alongamento.
Estudos mostram que múltiplas repetições de contrações isométricas má-
ximas antes do alongamento resultam em aumento agudo da pressão arterial,
mais notadamente após a terceira repetição (KISNER E COLBY, 2016).

•  Contração do agonista (CA)


Outra técnica de alongamento FNP é o procedimento de contração do ago-
nista. Esse termo tem sido usado por vários autores, mas pode ser mal com-
preendido. “Agonista” se refere ao músculo oposto ao músculo que limita a am-
plitude do movimento. Desse modo, o “antagonista” é efetivamente o músculo
que está limitando a amplitude (figura 4.7).

capítulo 4 • 85
Para fazer o procedimento, o indivíduo contrai concentricamente (encur-
ta) o músculo oposto ao que está limitando a amplitude e, então, mantém a
posição final por pelo menos alguns segundos. Quando o agonista é ativado
e se contrai concentricamente, o antagonista é reciprocamente inibido, o que
permite seu relaxamento e facilita o alongamento.

Figura 4.7  –  Exercício de alongamento por FNP.

A teoria clássica do FNP sugere que quando o agonista (músculo oposto ao


que está causando a limitação) é ativado e se contrai de nodo concêntrico, o an-
tagonista (o músculo que está limitando a amplitude do movimento) é inibido
de forma recíproca, o que permite que esse relaxe e se alongue mais pronta-
mente (SCHMITZ e O'SULLIVAN, 2010).
A técnica de CA parece ser efetiva, sobretudo, quando uma defesa muscular
significativa restringe o alongamento muscular e o movimento articular, sendo
menos efetiva para reduzir contraturas crônicas (KISNER E COLBY, 2016).
Também é útil quando o indivíduo não pode gerar uma contração forte e
indolor do músculo que está limitando a amplitude do movimento. Além de
favorecer o inicio do controle neuromuscular na amplitude recém-obtida, de
modo a restabelecer a flexibilidade dinâmica.

•  Manter-relaxar com contração do agonista (MR-CA)


A técnica do alongamento MR-CA combina os procedimentos de MR e
CA. Para realizar o procedimento move-se o membro até o ponto em que seja
sentida a resistência dos tecidos no músculo encurtado (que está limitando a

86 • capítulo 4
amplitude); então, faz-se o paciente executar uma contração isométrica resis-
tida pré-alongamento no músculo que está limitando a amplitude seguida do
relaxamento desse músculo e uma contração concêntrica imediata do músculo
oposto ao que está encurtado.

Alongamento global
Os exercícios de alongamento são usados também com o objetivo de corri-
gir e prevenir desvios posturais, proporcionando maior flexibilidade. Entre os
métodos existentes, podem-se destacar dois muito conhecidos: um que utiliza
posturas estáticas com alongamento global ativo e esforço excêntrico, a reedu-
cação postural global (RPG) que utiliza as cadeias musculares e mantém o alon-
gamento por um longo período de tempo para cada postura (em média 15/20
minutos). A outra, segmentar, que alonga um músculo específico ou grupos
musculares, trabalhando num curto período de tempo, 30 segundos em cada
músculo, com já citado.
Uma característica que diferencia as duas técnicas é que o alongamento de
curta duração é também segmentar enquanto que o alongamento de longa du-
ração é feito em cadeias musculares.
A ideia de cadeias musculares se baseia na observação empírica da criado-
ra do método (Mézières) que percebeu que o encurtamento de um músculo cria
compensações em músculos próximos ou distantes. Portanto, a ideia do alon-
gamento global é, ao invés de tratar um músculo isoladamente, alongar vários
músculos organizados em cadeias. Este conceito se distancia do alongamento
segmentar que trata músculo por músculo encurtado, geralmente aqueles dire-
tamente envolvidos na articulação com diminuição da amplitude de movimento.
Embora não haja trabalhos que comprovem a eficácia deste método, por
se tratar de um alongamento que se estende por muito tempo (20 minutos em
média), ele está de acordo com estudos que afirmam que o tempo necessário
para alongar um tecido é inversamente proporcional à força aplicada. Portanto,
o alongamento de longa duração requer menos força para produzir um ganho
em flexibilidade que só seria possível em alongamentos de menor duração com
a aplicação de uma força muito alta, podendo produzir lesões.
O alongamento global (figura 4.8) tem o seu efeito terapêutico empirica-
mente comprovado. Procurar uma comprovação científica e estabelecer parâ-
metros que comprovem qual é o melhor tipo de alongamento estático, se de
longa duração, excêntrico e em cadeias ou se de curta duração, passivo e seg-
mentado em grupos musculares, é fundamental para constituir bases de um

capítulo 4 • 87
tratamento baseado em evidências científicas, diminuindo o custo e aumen-
tando a efetividade do processo de reabilitação do paciente.

Figura 4.8  –  Alongamento global.

Está clara a existência de achados conflitantes mostrando haver a necessi-


dade de estudar a eficácia destas duas formas de alongamento quanto a am-
plitude de movimento, flexibilidade, dinamometria e postura. Praticantes do
alongamento segmentar colocam as cadeias musculares como mais uma técni-
ca que visa alongar e que resultados semelhantes em desvios da postura são en-
contrados com as duas técnicas. Já aqueles que praticam o método mais atual,
por cadeias musculares, dizem ser esta uma evolução da maneira de promo-
ver alongamento e interferir beneficamente no arranjo postural dos pacientes,
bem como nas suas consequências álgicas e patológicas.
Há um ponto de concordância entre as duas correntes que é a importância
de uma avaliação bem feita para a realização de um bom tratamento.
Ao comparar as duas técnicas de alongamento, a segmentar, que alonga um
músculo ou grupo muscular isoladamente e global a que utiliza a Reeducação
Postural Global e realiza alongamento em cadeias musculares, os dados deste
estudo, ROSÀRIO (2003) mostrou que as duas técnicas de alongamento mos-
tram-se igualmente eficazes no ganho de amplitude de movimento, flexibili-
dade e dinamometria, mas o alongamento global foi superior ao segmentar e
controle no ganho de alinhamento postural, sendo a técnica indicada para o
tratamento deste tipo de problema.

88 • capítulo 4
ATIVIDADE
Elabore uma série efetiva e eficiente de exercícios de autoalongamento para uma pessoa
que trabalha em um escritório, a maior parte do dia, e possa incorporar no seu cotidiano uma
rotina domiciliar diária de preparo físico. Demonstre e ensine cada exercício de autoalonga-
mento para o seu parceiro de laboratório.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Paulo Henrique Foppa de; BARANDALIZE, Danielle; RIBAS, Danieli Isabel Romanovitch;
GALLON, Daniela; MACEDO, Ana Carolina Brandt de; GOMES, Anna Raquel Silveira. Alongamento
muscular: suas implicações na performance e na prevenção de lesões. Fisioter. Mov., Curitiba, v. 22, n.
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de Janeiro: Editora Guanabara Koogan. 2003.
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DELIBERATO, Paulo. C. Exercícios terapêuticos: guia teórico para estudantes e profissionais. 1.
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FELAPPI, Cassiele Janina e LIMA, Cláudia Silveira. Efeitos da prática de alongamento estático e
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FERGUSON, Lucy W. e GERWIN, Robert. Tratamento Clínico da Dor Miofascial. São Paulo: Artmed 2007
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IRNICH, Dominik. Myoascial Trigger Points. EUA: Elsevier. 2012.
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ROSÁRIO, José Luís Pimentel do. Reeducação Postural Global e alongamento segmentar: um estudo
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SIMONS, David G.; TRAVELL, Janet G.; SIMONS, Louis S. Dor e Disfunção Miofascial - Manual dos
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capítulo 4 • 89
90 • capítulo 4
5
Exercícios para
diversas áreas do
corpo
5.  Exercícios para diversas áreas do corpo
Este último capítulo se propõe a apresentar alguns exercícios utilizados com
mais frequência em espaços terapêuticos para várias partes do corpo. É breve,
pois utilizamos em nossa vida profissional uma gama de exercícios, conceitos
e protocolos validados de forma abrangente. Eles foram compilados para dar a
você um apoio em seu programa de exercícios.
O conhecimento prévio de anatomia, cinesiologia, biomecânica e neurofi-
siologia possibilitarão a escolha e o alcance dos objetivos propostos para cada
paciente. O fisioterapeuta seleciona os mais adequados para cada caso, e, con-
forme a evolução, irá prescrevendo e utilizando outros exercícios, substituindo
ou adicionando conforme necessidade específica.
Aproveite e aprofundem seus conhecimentos junto às aulas práticas, discu-
tindo com seus pares as melhores opções.

OBJETIVOS
•  Apresentar de forma sucinta exercícios para coluna vertebral;
•  Apresentar de forma sucinta exercícios para membros superiores e inferiores;
•  Trazer reflexões sobre algumas propostas de protocolos e exercícios utilizados como recur-
sos de recuperação funcional na fisioterapia.

5.1  Exercícios para coluna vertebral

As alterações posturais estáticas, na criança e no adolescente, são considera-


das um problema de saúde pública, principalmente as que atingem a coluna
vertebral, pois podem ser um fator predisponente às condições degenerativas
da coluna vertebral do adulto. Além disso, a depender da sua magnitude, são
capazes de gerar algum tipo de incapacidade para as atividades diárias.
As fases da infância e adolescência correspondem àquelas em que os jovens
frequentam o ambiente escolar, no qual permanecem longos períodos sentados,
normalmente em uma postura inadequada e, na maioria das vezes, em mobi-
liários inadequados que, somados à tendência de um estilo de vida sedentário
adotado na fase escolar, podem também favorecer o surgimento das alterações
posturais estáticas. Além disso, parece existir uma tendência de que os hábitos

92 • capítulo 5
posturais adotados durante a infância e adolescência poderão se refletir na vida
adulta dos jovens (Fatores de risco associados a alterações posturais estruturais
da coluna vertebral em crianças e adolescentes (SEDREZ, et al, 2015)
Má postura é a causa de base de muitos distúrbios de coluna e membros.
Com frequência, simplesmente corrigindo as sobrecargas posturais subjacen-
tes, os sintomas primários podem ser minimizados ou mesmo aliviados.
A Organização Mundial de Saúde relata que cerca de 65 a 80% da população
possui ou possuirá um dia o quadro clínico de dor lombar, sendo que 40% desses
casos se tornarão um problema crônico. A lombalgia é um importante problema
clínico, sócioeconômico e de saúde pública, sendo uma das afecções mais co-
muns da coluna vertebral caracterizando-se por quadros dolorosos nas regiões
lombares inferiores, lombossacrais ou sacroilíacas (GALDINO et al, 2015).
Antes de desenvolver um plano de tratamento e escolher a intervenção, ava-
lie e documente os achados do exame do paciente, incluindo história, revisão
de órgãos e sistemas e os testes e medidas específicos, além de pleno conheci-
mento das atividades diárias do indivíduo.
Dentro desse contexto, apresentaremos diretrizes para a intervenção fisio-
terapêutica junto a comprometimentos da coluna vertebral.
Educar o paciente: envolver o paciente em todas as atividades, para que
aprenda o autocuidado. Informar o paciente sobre o progresso esperado
e precauções.
Diminuir os sintomas agudos: modalidades da eletrotermofototerapia, re-
cursos manuais (massoterapia, tração, mobilização e/ou manipulação), confor-
me a necessidade. Repouso intercalado com caminhadas breves.
Desenvolver percepção e controle do alinhamento vertebral: treinamento ci-
nestésico; movimentos cervicais e escapulares, inclinações pélvicas, controle da
coluna neutra. Utilizar procedimentos para desenvolver e reforçar o controle da
postura na posição sentada, em pé, andando e realizando atividades funcionais.
Orientar o paciente sobre a relação entre postura comprometida e os sinto-
mas: praticar posições e movimentos para experimentar o controle dos sinto-
mas em várias posturas.
Ensinar uma biomecânica corporal segura: exercícios funcionais para pre-
paro de uma mecânica corporal segura (agachamentos, avanços, estender os
braços para várias direções, empurrar/puxar objetos, erguer e virar cargas com
a coluna estável).

capítulo 5 • 93
Avaliar ergonomicamente a casa e os ambientes de trabalho e recreação:
adaptar o ambiente de trabalho, casa e recreação.
Aprender a lidar com o estresse e métodos de relaxamento: exercícios de
relaxamento e alívio da sobrecarga postural.
Favorecer a ativação neuromuscular e o controle dos músculos estabilizado-
res: técnicas de ativação dos músculos segmentares profundos:
•  Região lombar da coluna vertebral: manobra de “encolher a barriga”, con-
tração de multifídio; avançar nas repetições, enfatizando a resistência muscu-
lar à fadiga; evoluir para exercícios mais elaborados de força;
•  Região cervical da coluna vertebral: movimentos suaves da cabeça para a
frente e para trás;
•  Estabilização básica: com movimentos ativos de membros superiores e
inferiores e evolução para exercícios dinâmicos de fortalecimento, com resis-
tência à fadiga, enfatizando as metas funcionais.
Identificar atividades aeróbicas seguras: implemente e prossiga com um
programa de exercícios aeróbios.
Desenvolver hábitos de exercícios saudáveis para automanutenção: inte-
grar, na vida cotidiana, um programa de preparo físico, exercícios regulares e
mecânica corporal segura (KISNER E COLBY, 2016).
Podemos observar que a educação na saúde associada à conscientização
corporal e às intervenções específicas levam a resultados efetivos em compro-
metimentos agudos e crônicos da coluna vertebral. Apresentaremos algumas
propostas de intervenção, pois além dos exercícios de alongamento e fortale-
cimento específicos para a coluna vertebral, temos alguns protocolos já vali-
dados e a reeducação postural global, já apresentada no capítulo anterior, com
uma visão de alongamento muscular.

5.1.1  Exercícios de Willians e McKenzie

O Dr. Robin McKenzie acreditava que as lombalgias tinham três mecanismos res-
ponsáveis pela causa da dor. A Síndrome de Postura, causada por uma deforma-
ção mecânica dos tecidos moles adjacentes aos segmentos vertebrais. A Síndro-
me de Disfunção, causada por um encurtamento ou aderência tecidual, devido a
má postura ou por contratura do tecido fibroso-colágeno, desenvolvido após um
trauma. E o terceiro e último mecanismo, a Síndrome de Desarranjo causada por
um deslocamento do disco intervertebral. O tratamento é desenvolvido em gran-

94 • capítulo 5
de parte pela extensão, sendo que a flexão também poderia ser incorporada, de
acordo com o mecanismo da lombalgia e com a fase do tratamento (figura 5.1).
O método tem como principal explicação as desordens biomecânicas causadas
por posturas, exercícios ou atividades inadequadas, causando, posteriormente,
alterações estruturais da coluna lombar. Sendo que, através dessas, o tratamento
será conduzido para a alteração específica (LEMOS; SOUZA; LUZ, 2005).

Figura 5.1  –  Exercícios de McKenzie.

Com outra visão, o Dr. Paul Williams desenvolveu seu método, observando
que a maioria dos pacientes que apresentavam dores lombares crônicas, pos-
suíam alterações degenerativas esqueléticas secundárias a lesões dos discos
intervertebrais. Também acreditava que o homem forçava seu corpo para se
manter ereto, levando a uma deformação da coluna, redistribuindo o peso pelo
corpo nas proximidades dos discos intervertebrais da coluna cervical e lombar.
Essa permanência do homem em pé, aumentaria a lordose lombar, compri-
mindo a parte posterior do disco (L1 a S1), acelerando o processo degenerativo.
Utiliza como princípio do tratamento exercícios de flexão da coluna e quadril.
Com o propósito de reduzir a dor e estabilizar o tronco, desenvolve ativamente
os músculos flexores e alonga passivamente os músculos extensores lombo sa-
cros. Williams dá muito enfoque na questão da inclinação posterior da pelve,
sendo essencial para obter ótimos resultados no tratamento
Os exercícios de flexão de Williams (figura 5.2) são bastante utilizados para o
tratamento de grande variedade de problemas lombares. Em muitos casos, o méto-
do é utilizado quando a causa da desordem ou as características não são bem com-
preendidas. Constantemente os exercícios são ensinados com modificações pró-
prias dos terapeutas. Qualquer modificação dos exercícios deve ser feita sob muita
consideração da ação muscular, porque os exercícios que violam o mecanismo de
inclinação posterior da pelve, podem ser suficientes para prolongar os sintomas
clínicos. Os exercícios em geral visam o fortalecimento dos músculos abdominais,
glúteos e o alongamento de parte da cadeia posterior (LEMOS; SOUZA; LUZ, 2005).

capítulo 5 • 95
Exercício 1
Com as costas apoiadas sobre uma superfície dura,
e com os joelhos dobrados, encolha a barriga e
contraia os músculos das nádegas. Permaneça por
30 segundos e relaxe. Repita esse exercícios até Posição inicial

10 vezes.

Posição do exercício

Exercício 2
Deitado na posição inicial, contraia os músculos
abdominais, cruze os braços sobre o peito, levan-
te a cabeça e leve o queixo em direção ao peito.
Mantenha-se nessa posição durante 20 segundos. Posição inicial

Relaxe. Repita esse exercício até 10 vezes.

Posição do exercício

Exercício 3
Deitado na posição inicial, levante um joelho em di-
reção ao tórax, alternadamente (direito e esquerdo).
Ao mesmo tempo, levante a cabeça e os ombros do
chão como no exercício 2. Mantenha esta posição Posição inicial

durante 20 segundos. Relaxe. Repita esse exercício


até 10 vezes.

Posição do exercício

96 • capítulo 5
Exercício 4
Deitado na posição inicial, puxe os dois joelhos
em direção ao tórax e, ao mesmo tempo, levante a
cabeça e o ombro do chão. Mantenha esta posição
durante 20 segundos. Relaxe. Repita esse exercício Posição inicial

até 10 vezes.

Posição do exercício

Figura 5.2 – Exercícios de Williams

Há também uma série de exercícios (figura 5.3) para alongamento da cadeia


posterior, com provável analgesia.

Figura 5.3 – Série de exercícios de Williams.

5.1.2 Escola de Postura

A “Escola de Postura”, introduzida em 1972 no Hospital do Servidor Público


Estadual de São Paulo por Knoplich, surgiu a partir da observação de que no
Departamento de Ortopedia mais de 80% dos pacientes tinham queixas de dor
crônica na coluna, o que aumentava a demanda tanto no atendimento médico,
como na fisioterapia. Em sua proposta inicial, as aulas eram ministradas para
10 a 15 pacientes. Em período de férias, porém, eram oferecidas para grupos
de até 80 pessoas, sendo observado um rendimento inferior quando eram mi-
nistradas a grandes grupos. Em 1978, Knoplich publicou o livro Viva bem com
a coluna que você tem, onde foi enfatizada a aplicação da “Escola de Postura”.
O esquema da Escola de Postura se divide em: aulas teóricas de postura cor-
poral, aulas de relaxamento muscular e aulas de exercícios, sendo estes mais de
movimentação do que de ginástica. A educação postural tem como finalidade

capítulo 5 • 97
capacitar a pessoa a proteger-se ativamente de lesões durante seus movimen-
tos nas suas atividades de vida diária e profissional, seja no plano estático ou
dinâmico. As técnicas de relaxamento muscular também são necessárias, pois
o paciente com dores crônicas na coluna pode ficar com os músculos muito
tensos e contraídos, o que pode gerar ou aumentar a dor. Existe um conceito di-
fundido entre terapeutas e pacientes que os exercícios são fundamentais para
a recuperação de pacientes com dores na coluna, e que os exercícios da coluna
são recomendados para: corrigir a lordose; aumentar a força dos eretores-fle-
xores; aumentar potência dos abdominais; melhorar a postura. O programa da
Escola de Postura tem como estratégia básica a educação e treinamento dos
pacientes que o integram, buscando prepará-los para a prevenção, tratamento
e a convivência com os problemas da coluna vertebral. As premissas da Escola
de Postura é o incentivo para que o paciente assuma a responsabilidade de seu
tratamento e recuperação (MUNIZ e CORRÊA, 2011).
Uma proposta para atendimento em grupo e de educação na saúde, com
incentivo ao auto tratamento.

5.1.3  Exercícios de estabilização da coluna vertebral

A coluna vertebral possui diversos músculos com diferentes funções, entre


eles estão os músculos estabilizadores dos segmentos da coluna, que possuem
características particulares de antecipação, assim agem em conjunto propor-
cionando estabilidade e proteção as estruturas vertebrais impedindo qualquer
sobrecarga a coluna. Estudos evidenciaram que pessoas que possuem dor na
coluna, seja por qualquer causa, possuem um processo de inibição e fraqueza
destas musculaturas estabilizadoras dos segmentos vertebrais. Portanto essa
musculatura perde seu caráter de antecipação e proteção, sendo causa funda-
mental para a progressão de patologias degenerativas da coluna vertebral.
A hipótese é de que há dois sistemas atuando na estabilidade. O global, que
consiste de grandes músculos produtores de torque, atuando no tronco e na
coluna sem serem diretamente ligados a ela (reto do abdome, o oblíquo externo
e a parte torácica do iliocostal lombar); e o local, formado por músculos ligados
diretamente à vértebra e responsáveis pela estabilidade e controle segmentar
(multífido lombar, o transverso do abdome, o quadrado lombar e as fibras pos-
teriores do oblíquo interno) (FRANÇA et al, 2008).

98 • capítulo 5
O treinamento desses músculos pode ser feito por meio de exercícios espe-
cíficos e tem o objetivo de recuperar a sua contração, que agem como um cin-
turão interno com o diafragma e os músculos do assoalho pélvico. Estes exer-
cícios são associados com a respiração e priorizam a qualidade e percepção da
contração dos músculos estabilizadores, evoluindo para exercícios funcionais
com alterações do centro de gravidade e movimentos amplos de extremidades.
• Reeducação em quatro apoios para o transverso do abdome (TA):
Preconiza-se que a posição inicial no aprendizado seja a posição em quatro
apoios (figura 5.4). Ensina-se ao paciente como localizar e manter as curvas to-
rácica e lombar em posições normais para a execução de exercícios. A partir da
posição inicial, é necessário treinar esse mesmo exercício em decúbito dorsal,
em pé e sentado. A contração do transverso do abdômen pode ser palpada me-
dialmente à espinha ilíaca ântero-superior e inferiormente à cicatriz umbilical.

Figura 5.4 – Exercício em quatro apoios com contração do transverso do abdômen.

• Treinamento do quadrado lombar.


A ponte lateral é a técnica escolhida para ativação do estabilizador lateral,
quadrado lombar, em virtude de otimizar a ativação e de minimizar a sobrecar-
ga na coluna lombar. Na ponte inicial, o apoio inferior é realizado com o joelho,
evoluindo para os pés (figura 5.5). Em um exercício mais avançado, ponte late-
ral avançada, o paciente começa da posição lateral da ponte, isto é, com apoio
inferior dos pés e gira sobre os cotovelos enquanto o abdome realiza o suporte
segmentar "travando" a pelve e a caixa torácica.

capítulo 5  • 99
Figura 5.5 – Ponte lateral.

• Exercícios para o multífido lombar (ML).


Deitado em prono, com os joelhos estendidos e os braços ao longo do corpo.
O terapeuta toca com seus polegares os ML adjacentes ao processo espinhoso.
Solicita então que o paciente realize uma contração leve como se quisesse em-
purrar os dedos, e a mantém por 10 segundos. Repete-se 10 vezes. O terapeuta
deve sentir com seus polegares a contração no local palpado e verificar a capaci-
dade de execução de uma contração simétrica e bilateral por parte do paciente,
assim como a intensidade e a capacidade da manutenção de forma homogê-
nea, sem compensações.
A co-contração dos músculos TA e ML começa preferencialmente nas po-
sições em pé e sentada. Em ambas, o paciente realiza exatamente os mesmos
exercícios para o TA e o ML (figura 5.6) ao mesmo tempo.

Figura 5.6 – Músculos multifídos e co-contração dos multífidos e do transverso do abdome.

100 • capítulo 5
A literatura sugere que os exercícios de estabilização são positivos tanto na
prevenção, quanto no tratamento da dor lombar crônica, mostrando ser efica-
zes na redução da dor e na melhora da função em indivíduos com lombalgia
(FRANÇA et al, 2008) e parecem ter mais efeitos positivos quando associados a
outras intervenções (VOLPATO et al, 2012).

5.1.4  Exercícios de Pilates

O Método Pilates envolve treinamento específico da musculatura abdominal


profunda, visando o aumento do tônus e da força destes músculos, diminuin-
do o estresse das articulações da coluna vertebral. Se baseia no treinamento
da capacidade de co-contrações dos músculos abdominais e lombo-pélvicos
profundos, anteriores e posteriores, que garantem a estabilidade do tronco,
durante os movimentos das extremidades, como pernas, braços e cabeça, sob
a ação da força de gravidade (GALDINO et al, 2015). É uma abordagem de exer-
cício que combina teorias ocidentais de biomecânica, estabilidade do centro
corporal e controle motor com teorias orientais de interação de corpo, mente
e espírito. Os componentes de uma sessão de Pilates típica incluem exercícios
de respiração profunda e estabilização do centro corporal, com foco na ativação
e no relaxamento de grupos musculares específicos, treino de controle e cons-
ciência corporal, treinamento de força (usando primariamente o peso corporal
como resistência), exercícios de equilíbrio e de flexibilidade (KISNER E COLBY,
2016).
Existe a preocupação em manter as curvaturas fisiológicas da coluna verte-
bral e tem o abdômen como centro de força, o qual trabalha constantemente
em todos os exercícios da técnica, realizada com poucas repetições. A estabili-
dade do centro de força da musculatura abdominal depende de co-contrações
musculares de pares agonista-antagonista, suficientes para manter a postura
em estabilidade isométrica.
Este método é muitas vezes indicado para o tratamento da lombalgia, apesar
de se ter pouca evidência de sua eficácia no tratamento da lombalgia (GALDINO
et al, 2015). Atua na prevenção e preservação da saúde, tendo o objetivo de cor-
reção da postura corporal, melhora da circulação de fluidos no corpo, além de
controlar a dor, elevar a autoestima, melhorar a força e as habilidades motoras.

capítulo 5 • 101
5.1.5  Método Mézieres e a Reeducação Postural Global

Todos os nossos músculos são indiretamente ligados uns aos outros por forma
de cadeias musculares, que são a passagem das linhas de força que percorrem
o nosso corpo, fazendo-o reagir de uma extremidade à outra. Toda atividade
dentro de uma parte do corpo terá repercussões no corpo todo.
A definição clássica de cadeia muscular dada por Françoise Meziéres é:

Conjunto de músculos de mesma direção e sentido, geralmente poliarticulares que se


comportam como se fossem um só músculo e se recobrem como telhas de um retalho.

A partir de observações práticas e estudos anatômicos, ela, pioneira


nesta área, descreve também três leis relacionadas às cadeias musculares,
que seguem:
•  Toda tentativa de correção local irá gerar uma compensação à distância;
•  Toda tentativa de tensionamento de uma cadeia muscular, resulta em
uma tendência de rotação interna dos membros;
•  Toda tentativa de tensionamento de uma cadeia muscular, leva a tendên-
cia de um bloqueio respiratório em apneia inspiratória.
O que segura o nosso corpo em pé é a cadeia dos músculos estáticos. Os
músculos que compõem esta cadeia possuem maior quantidade de tecido con-
juntivo e um tônus mais elevado, pois exercem uma função antigravitacional,
exigindo uma contração parcial constante. São músculos que tendem a ser
mais tensos, encurtados e menos flexíveis, e são os mais atingidos nos casos
de patologias.
Quando os músculos estáticos encurtam-se demasiadamente, podem ocor-
rer desvios ósseos e compressões das articulações. Quando um músculo de
uma cadeia muscular é afetado, todos os outros músculos da mesma cadeia
são afetados.
Para os nossos principais movimentos, utilizamos a cadeia dos músculos
dinâmicos. Estes músculos têm uma quantidade menor de tecido conjuntivo e
tônus muscular mais baixo, por esta razão, podem tornar-se extremamente flá-
cidos e hipotônicos. Um exemplo clássico disso são os músculos abdominais
de pessoas sedentárias.
O método desenvolvido por Mézières na década de 1960 salientou a ideia de
solidariedade muscular através da noção de que um segmento em sofrimento
é a expressão particular de um conjunto de anomalias, sendo que a causa deve

102 • capítulo 5
ser tratada em níveis frequentemente muito distantes do problema que preo-
cupa o paciente. Mézières considerava que a causa primária das deformidades
eram as lordoses, e estruturou seu trabalho com base na tensão existente nos
músculos posteriores responsáveis pela manutenção da postura estática — a
qual chamou de cadeia muscular posterior — juntamente com os músculos
rotadores internos da coxofemoral e o músculo diafragma. Para tratar essas al-
terações, fazia-se necessário alongar a cadeia posterior inteira, não adiantando
alongar apenas um dos músculos desse conjunto, pois, se assim se fizesse, ha-
veria compensações e, com isso, não se atingiria a principal causa do problema
(VIEIRA, 1998).
Françoise Mézières nasceu na França em 1909, e ensinou o seu método do
fim dos anos 1950 até sua morte em 1991. Acabou influenciando alunos que
vieram a criar suas próprias técnicas, como Philippe-Emmanuel Souchard,
criador do método conhecido como Reeducação Postural Global (RPG), além
de outros teóricos como Godelieve Denys Struyf (Método GDS) Ilda Rolfing (Iso
Streching), Serge Peyrot (MARP), Thérese Bertherat (Antiginástica).

5.2  Exercícios para membros inferiores e superiores

Não importa qual seja o nível do exercício, o importante é desafiar os pacientes


em exercícios e intensidades nas quais eles consigam trabalhar, de modo que
possam progredir com segurança para os níveis mais intensos do tratamento.
Os objetivos e as metas devem ser organizados de forma clara, onde a edu-
cação do paciente e o controle dos sintomas deverão ser prioridades. As pro-
gressões ocorrerão visando o desempenho muscular e função dos complexos
apendiculares do corpo humano.
Diante disso apresentamos uma progressão dos exercícios, após diminui-
ção do quadro álgico:
•  Desenvolver percepção e controle dos músculos fracos ou mal utilizados.
•  Para uma musculatura fraca ou reparada cirurgicamente, iniciar com
exercícios isométricos intermitentes e em vários ângulos contra mínima resis-
tência e ADM ativo assistida em posições de cadeia aberta e fechada, dentro das
amplitudes indolores e protegidas.
•  Proporcionar resistência e repetições apenas suficientes para desafiar os
músculos, sem provocar os sintomas.
•  Incluir exercícios concêntricos e excêntricos.

capítulo 5 • 103
•  Desenvolver controle dos músculos posturais para dar estabilidade à re-
gião, usando exercícios de estabilização.
•  Desenvolver resistência muscular à fadiga.
•  Progredir para padrões combinados de movimento que simulem ativida-
des funcionais e treinar os grupos musculares para que funcionem em uma se-
quência coordenada de controle e movimento.
•  Integrar tarefas funcionais simples ao programa de exercícios e progredir
para tarefas mais complexas e desafiadoras, sempre incorporando uma mecâ-
nica corporal apropriada.
•  Implementar exercícios corporais totais para melhorar a resistência car-
diopulmonar e o equilíbrio.
•  Conforme a necessidade, baseando-se nas metas funcionais, incorporar ao
programa de reabilitação exercícios excêntricos de alta intensidade, treinamento
pliométrico (exercícios de alongamento-encurtamento rápido) e exercícios de agi-
lidade com velocidades de movimento cada vez maiores (KISNER E COLBY, 2016).

CONCEITO
Pliometria: uma forma de exercício que busca a máxima utilização dos músculos em mo-
vimentos rápidos e de explosão. Seu conceito baseia-se na exploração do músculo em se-
quências de contrações excêntricas e concêntricas buscando a otimização do mesmo. Se-
gurar e arremessar uma bola e saltar são exemplos de exercício pliométrico, pois trabalha a
contração e o alongamento do músculo de forma sequenciada, buscando a força máxima em
um menor período de tempo.

Exercícios de Codman
Ernest Amory Codman (1869 - 1940) foi um cirurgião norte-americano que
fez importantes contribuições em seis diferentes campos da medicina (aneste-
siologia, radiologia, cirurgia de úlcera duodenal, oncologia ortopédica, cirurgia
do ombro, e também no estudo de desfechos clínicos – mais tarde seria consi-
derado um dos pais da medicina baseada em evidências).
Em 1934, ele propôs um tipo especial de mobilização do ombro, especial-
mente recomendada após o reparo do manguito rotador. Os exercícios de
Codman (figura 5.7), ou exercícios de pêndulo, como também são conhecidos,
consistem basicamente na realização de uma automobilização por meio de
movimentos circulares e pendulares com o braço. Forma simples e custo eficaz

104 • capítulo 5
para diminuir a dor e restaurar a amplitude de movimento do ombro após uma
lesão ou cirurgia. Estes exercícios incorporam três padrões distintos de movi-
mento do ombro: circundução, flexão e extensão (para frente e para trás) e ab-
dução horizontal (de um lado para o outro).

Figura 5.7 – Exercícios de Codman

Protocolo de Rockwood
Dentre os protocolos que existem para o fortalecimento dos músculos do
manguito rotador, o mais conhecido é o descrito por Rockwood.
Os exercícios propostos por Rockwood visam o fortalecimento muscular
das estruturas do manguito rotador com o auxílio de faixas elásticas com dife-
rentes resistências, envolvendo movimentos de rotação interna, externa, abdu-
ção, flexão e extensão do ombro.

capítulo 5 • 105


Figura 5.8 – Protocolo de Rockwood.

Treinamento proprioceptivo
A propriocepção (ou cinestesia), termo empregado por Sherrington, por vol-
ta de 1900, é definida como sendo qualquer informação postural e posicional,
encaminhada ao sistema nervoso central (SNC) pelos receptores encontrados
em órgãos, músculos, tendões, ligamentos, articulações ou pele. Em outras pa-
lavras, é a consciência dos movimentos produzidos pelos nossos membros.
É o termo que descreve a percepção do próprio corpo, e inclui a consciência
da postura, do movimento, das partes do corpo e das mudanças no equilíbrio,
além de englobar as sensações de movimento e de posição articular. Embora
seja estudada há muito tempo, a propriocepção ainda é não é totalmente
conhecida.
É impossível falar em propriocepção sem falar em receptores sensoriais.
Afinal de contas são eles que informam o nosso SNC sobre a posição articular e
o nível de tensão muscular (LENT, 2010)
Os receptores sensoriais fazem parte do sistema sensorial somático, res-
ponsável pelas diferentes experiências sensoriais captadas e interpretadas
pelo nosso corpo. A função mais elementar dos receptores sensoriais é prover
o SNC com informações sobre o estado interno de estruturas orgânicas e do
ambiente externo. São eles que definem o que chamamos de sentidos (visão,
audição, sensibilidade corporal, olfação, gustação). Porém, um único receptor
não é capaz de identificar os diferentes estímulos que nos bombardeiam a cada
instante. Desta forma, contamos com diferentes tipos receptores sensoriais,
cada um com características próprias que permitem que ele "sinta" diferentes
estímulos. Podemos classificar os receptores sensoriais de acordo com a sua
função (mecanoceptores, termoceptores, fotoceptores, quimioceptores e noci-
ceptores). Além da classificação funcional, podemos também classificá-los de

106 • capítulo 5
acordo com a sua localização anatômica: exteroceptor, interoceptor e proprio-
ceptor (esta última classe é a que nos interessa no momento).
Os proprioceptores são receptores que se localizam mais profundamente
nos músculos, aponeuroses, tendões, ligamentos, articulações e no labirinto
cuja função reflexa é locomotora ou postural. Podem gerar impulsos nervosos,
conscientes ou inconscientes. Os primeiros atingem o córtex cerebral e per-
mitem que, mesmo de olhos fechados, se tenha a percepção do próprio corpo,
seus segmentos, da atividade muscular e do movimento das articulações. São
responsáveis pelo sentido de posição e de movimento (cinestesia).
Estes receptores desempenham, em simultâneo, a função de detectar todas
as variações mecânicas e de enviar a informação recolhida ao sistema nervoso
central. Para além dos proprioceptores, o aparelho vestibular e o sistema visual
também fornecem importantes informações somatosensoriais. Pode-se dizer,
portanto, que a propriocepção é responsável pelo envio constante de informa-
ção sobre eventuais deslocamentos de segmentos no espaço auxiliando-nos
nas diversas tarefas motoras. Apropriadamente, os proprioceptores estão loca-
lizados nos músculos (fusos musculares), tendões (órgãos tendinosos de Golgi)
e nas cápsulas articulares (corpúsculos de Ruffini e Pacini).
A propriocepção, num sentido amplo, atua como atividade reflexa no caso
de movimentos bruscos, inesperados ou simplesmente na mudança de direção
de determinado movimento. Ou seja, é um mecanismo que protege as articula-
ções. Ela é efetiva devido à presença de receptores específicos que são sensíveis
a alterações físicas, como variações na angulação de uma articulação, rotação
da cabeça, tensão exercida sobre um músculo, e até mesmo o comprimento da
fibra muscular.
Alguns dos sensores, como já citados, responsáveis por tais sensações:
•  Órgãos tendinosos de Golgi, que são sensíveis à tração exercida nos ten-
dões indicando a força que está sendo exercida sobre a musculatura, impedin-
do lesões.
•  Fuso muscular, que se divide em dois subtipos, fuso neuromuscular de
bolsa, e de cadeia nuclear, sendo estes responsáveis pelo comprimento da fibra
muscular no repouso (postura) e durante o movimento.
•  Sistema vestibular, localizado no ouvido junto à cóclea, é sensível a altera-
ções angulares da cabeça. As alterações podem ser no sentido vertical (rotação
vertical, deslocamento do queixo para cima e para baixo) ou horizontal (rota-
ção horizontal ou lateral, deslocamento do queixo lateralmente ou seja, direi-
ta e esquerda). Este sistema também atua na identificação da posição de todo

capítulo 5 • 107
o corpo, permitindo que alguém saiba se está deitado, em pé ou em qualquer
outro posicionamento espacial. Perturbações no sentido de equilíbrio podem
levar a correções inadequadas, que em casos extremos podem impedir a manu-
tenção da posição vertical, além de causar vertigem e náusea.

Após alguma lesão e/ou procedimentos cirúrgicos, essa informação é im-


portantemente afetada. Nestes casos, haverá um déficit na capacidade proprio-
ceptiva do indivíduo. Isto pode deixar a pessoa propensa a se lesionar nova-
mente, ou diminuir a sua coordenação durante suas atividades.
Os exercícios de propriocepção são fundamentalmente importantes para
manter normal a cinética e função das articulações.
O treino proprioceptivo envolve geralmente superfícies instáveis. Esta ins-
tabilidade fornece ao organismo constantes oportunidades para avaliar a sua
orientação no espaço, desenvolvendo e treinando a consciência corporal. Uma
melhora na reposta proprioceptiva proporciona ao corpo maior equilíbrio
e estabilidade.
Tipos de exercícios proprioceptivos
•  Exercícios de equilíbrio, em prancha com apoio bipodal ou unipodal
(figura 5.9), Com ou sem auxílio da visão;
•  Exercícios em pranchas de equilíbrio, cama elástica, balancim
(figura 5.9), etc;
•  Exercícios de deslocamentos, estimulando as mudanças de direção;
•  Exercícios estimulando a atividade profissional ou esportiva;
•  Circuitos com diversos tipos de piso, direção, obstáculos.

Figura 5.9 – Equipamentos (pranchas bipodal e unipodal, bolas terapêuticas, balancim) para
exercícios de propriocepção.

108 • capítulo 5
5.3  Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP)

O Método de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP), desenvolvido


por Kabat na década de 1950, foi o primeiro a considerar a solidariedade mus-
cular como forma de reestruturação do movimento, utilizando combinações
de movimentos que estavam relacionados aos padrões primitivos e ao emprego
de reflexos de postura e de endireitamento. Sua intenção era promover ou pre-
cipitar a reação de mecanismos neuromusculares através da estimulação dos
proprioceptores (ORSINI, 2012).
Os pesquisadores Kabat, inicialmente e Knott e Voss, após extensivas ob-
servações de atividades de vida diária, identificaram padrões de movimento
específicos que acreditavam formar os substratos básicos ou linguagem do
movimento humano. Esses movimentos raramente, talvez nunca, ocorriam em
planos cardinais puros de flexo-extensão ou abdução-adução, e sim em planos
diagonais-cruzados, parecendo ser essa a estrutura de base para construção
de movimentos coordenados. Como o alinhamento topográfico das inserções
musculares distais e proximais se apresenta de modo diagonal-cruzado, foi de-
fendida a ideia de que a função muscular ótima é obtida através de contrações
musculares em direções diagonal e rotatória (VIEIRA, 1998).
A FNP, já citada nos capítulos de alongamento e exercícios resistidos, tem
como princípios a estimulação dos proprioceptores para aumentar a demanda
feita ao mecanismo neuromuscular, integrando técnicas manuais de alonga-
mento e fortalecimento com princípios neurofisiológicos de indução sucessi-
va, inervação e inibição recíproca, além do fenômeno de irradiação. Desde o
seu início, a FNP integrou, com sucesso, vários dos conceitos de intervenções
contemporâneas em neuroreabilitação. A FNP também inclui: aprendizagem
motora e retenção funcional de atividades aprendidas com a repetição de uma
demanda específica; o uso da progressão de desenvolvimento do comporta-
mento motor, que permite aos pacientes criar e recriar estratégias de movimen-
to funcional eficiente; e a análise biomecânica e comportamental do controle
motor. Todas as atividades dentro da intervenção da FNP são direcionadas a
um objetivo funcional e relacionadas ao ambiente no qual o objetivo deve ser
alcançado. Este método pode ser aplicado em crianças e adultos com disfun-
ções neurológicas (ADLER; BECKERS; BUCK, 2007).

capítulo 5 • 109
Princípios:
•  O enfoque terapêutico é sempre positivo, reforçando e utilizando o que o
paciente pode fazer, em nível físico e psicológico.
•  O objetivo primário de todo tratamento é facilitar o paciente a alcançar
seu mais alto nível funcional.
•  FNP é uma abordagem global: cada tratamento é direcionado para o ser
humano como um todo e não para um problema especifico ou um segmento
corporal.

Procedimentos básicos:
•  Resistência: auxilia a contração muscular e o controle motor e aumenta
a força.
•  Irradiação e reforço: utilizam a deflagração da resposta ao estímulo.
•  Contato manual: aumenta a força e guia o movimento com toque e
pressão.
•  Posição corporal e biomecânica: guiam e controlam o movimento por
meio do alinhamento do corpo, dos braços e das mãos do terapeuta.
•  Comando verbal: utiliza palavras e tom de voz apropriada para direcionar
o paciente.
•  Visão: usa a visão para guiar o movimento e aumentar o empenho.
•  Tração e aproximação: o alongamento ou a compressão dos membros e
do tronco facilita o movimento e a estabilidade.
•  Estiramento: o uso do alongamento muscular e do reflexo de estiramento
facilita a contração e diminui a fadiga.
•  Sincronização de movimentos: promove sincronismo e aumenta a força
da contração muscular por meio da “sincronização para ênfase”.
•  Padrões de facilitação: movimentos sinérgicos em massa são componen-
tes do movimento funcional normal.

O objetivo das técnicas de FNP é promover o movimento funcional por meio


da facilitação, da inibição, do fortalecimento e do relaxamento de grupos mus-
culares. As técnicas utilizam contrações musculares concêntricas, excêntricas
e isométricas, combinadas com resistência propriamente graduada e procedi-
mentos facilitatórios adequados, todos ajustados para atingir as necessidades
de cada paciente.

110 • capítulo 5
5.4  Abordagem neuroevolutiva no tratamento de doenças
neuromusculares

A terapia neuroevolutiva é baseada na preparação de uma tarefa funcional es-


pecífica, em que há vivência, execução e aprendizagem do movimento. Promo-
ve a ampla exploração do paciente e do terapeuta.
Baseados em observações empíricas, Berta e Karel Bobath elaboraram, na
década de 1940, o que seria um novo conceito para o tratamento das seque-
las neuromotoras das lesões do SNC – o conceito neuroevolutivo ou “método”
Bobath. Incialmente desenvolvido para crianças com paralisia cerebral, o con-
ceito neuroevolutivo é uma abordagem baseada na resolução de problemas
para avaliação e tratamento de indivíduos com distúrbios de postura, movi-
mento, tônus e alterações de funcionalidade (ORSINI, 2012).
Tem evoluído por mais de 50 anos e baseia-se fundamentalmente nas teo-
rias do controle motor, aprendizagem motora, plasticidade cerebral, princí-
pios da biomecânica, além do aprimoramento dos profissionais na análise do
observar, analisar e interpretar a execução das tarefas funcionais. Sendo assim,
o Conceito Bobath, caracteriza-se por uma abordagem de raciocínio clínico e
não apenas pela aplicação de técnicas de tratamento.
Apoiado em teorias reflexa, hierárquica e maturacional do desenvolvimento
motor, atualmente, esta intervenção vem passando por reformulações e assi-
milando novos preceitos da neurociência para controle e aprendizagem mo-
tora, com incorporação da teoria dos sistemas na importância da tarefa e do
ambiente.
Nesta abordagem, o paciente aprende a sensação do movimento, e não o
movimento em si. Sendo que os objetivos são: diminuir a espasticidade mus-
cular, introduzir os movimentos automáticos e voluntários a fim de preparar
o paciente para os movimentos funcionais, onde o tônus anormal pode ser ini-
bido e os movimentos mais normais, facilitados. O movimento surge da inte-
ração entre processos múltiplos, incluindo processos perceptivos, cognitivos
e motores de cada indivíduo, e interações entre o indivíduo, a tarefa e o meio
ambiente, sempre respeitando o desenvolvimento psicomotor (ORSINI, 2012).
Os equipamentos mais utilizados neste conceito são: bola terapêutica,
cunha para posicionamento, espelho, pranchas de equilíbrio, escadas, rampas
e barras paralelas, no tratamento terapêutico. Promove uma ampla exploração

capítulo 5 • 111
do potencial do paciente e do terapeuta, em um processo interativo, que forne-
ce estrutura para a prática, com vivência, execução e aprendizagem do movi-
mento e da postura.

ATIVIDADE
Elabore um circuito efetivo e eficiente de exercícios propriocepção para um grupo de idosos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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capítulo 5 • 113
ANOTAÇÕES

114 • capítulo 5

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