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autora
SANDRA HELENA MAYWORM
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2016
Conselho editorial sergio augusto cabral, roberto paes e paola gil de almeida
todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.
isbn: 978-85-5548-307-3
Prefácio 5
1. Introdução à Cinesioterapia 7
1.1 Conceito, objetivos e consideração sobre cinesioterapia como
intervenção e CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde) 9
1.2 Conceito, efeitos fisiológicos da mobilização e do exercício
e metas 14
1.2.1 Classificação quanto ao tipo de contração: 18
1.2.2 Classificação quanto à cadeia cinética 21
1.3 Síndrome da Imobilidade 22
Bons estudos!
5
1
Introdução à
Cinesioterapia
1. Introdução à Cinesioterapia
A cinesioterapia é definida etimologicamente como a arte de curar, utilizando
todas as técnicas do movimento. Em 1847, Auguste Georgii, ao utilizar o termo
cinesioterapia, propunha esta definição: “O tratamento das doenças através do
movimento”. Em 1965, Licht (1965) definiu exercício terapêutico como “movi-
mento do corpo ou das partes corporais para alívio de sintomas ou melhorar a
função”. É o que há muito tempo se chamou de ginástica médica em oposição
à ginástica geral, cujos propósitos são essencialmente higiênicos ou estéticos.
Entretanto essa noção de movimento é muito restritiva.
Atualmente, a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
e Saúde (CIF) pode contribuir para a orientação e sistematização da prática clí-
nica do fisioterapeuta, mas ainda com seu uso limitado, principalmente, devi-
do à complexidade de sua aplicação.
Estudos sobre a aplicação da CIF realizados no Brasil demonstram haver
uma relação direta entre uma determinada patologia e as alterações de ativida-
de e participação resultantes do meio ambiente. E a cinesioterapia possibilita
intervir com sua prática no uso de metodologias que englobem os componen-
tes da CIF, operacionalizando com o enfoque biopsicossocial para a aten-
ção fisioterapêutica
OBJETIVOS
• Apresentar conceito de cinesioterapia e exercícios terapêuticos utilizados pelo fisiotera-
peuta como recursos de tratamento;
• Trazer reflexões sobre a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
e Saúde), relacionando a intervenção fisioterapêutica;
• Apresentar a Síndrome da Imobilidade e reflexões sobre a intervenção fisioterapêutica
junto à equipe multidisciplinar.
8• capítulo 1
1.1 Conceito, objetivos e consideração sobre cinesioterapia como
intervenção e CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde)
capítulo 1 •9
apenas um dos seus aspectos. A CIF fornece, por esta síntese, uma visão coeren-
te de diferentes perspectivas da saúde: biológica, individual e social. Sempre
enxergando o ser biopsicossocial (OPAS, 2000).
Com essa visão, Mário César Battisti cobra da sociedade uma visão das pes-
soas com limitações como problema, para reconhecer que os ambientes em
que vivemos são o problema:
10 • capítulo 1
FUNÇÕES E ESTRU- ATIVIDADE E FATORES
COMPONENTES FATORES SOCIAIS
TURAS CORPORAIS PARTICIPAÇÃO AMBIENTAIS
Funções Influências Influências
corporais Áreas da vida externas na fun- internas na fun-
Domínios
Estruturas (tarefas, ações) cionalidade e na cionalidade e na
corporais incapacidade incapacidade
Capacidade:
execução
Mudanças nas Impacto facilita-
de tarefas
funções corpo- dor ou dificulta-
em ambien-
rais (fisiológicas) dor de aspectos Impacto das ati-
Constructos te padronizado.
Mudanças nas do mundo tudes da pessoa
Desempenho:
estruturas corpo- físico, social e de
execução de
rais (anatômicas) mentalidade.
tarefas no am-
biente atual.
Integridade
Aspecto Atividades
funcional e Facilitadores Não aplicável
positivo Participação
estrutural
Limitação
Aspecto das atividades Barreiras
Deficiência Não aplicável
negativo Restrições à Impedimentos
participação
capítulo 1 • 11
psicológicas e o impacto dos ambientes físico e social. Os fatores de risco rela-
cionados com a incapacitação são influências ou características que predispõe
o indivíduo ao processo de incapacitação. Sendo assim eles surgem antes da
patologia, comprometimentos, limitações funcionais ou incapacidades.
Há os riscos modificáveis (comportamentais, ambientais) e os não modifi-
cáveis (fatores biológicos e genéticos). Modificar os fatores de risco por meio de
uma intervenção de educação na saúde associada ao exercício terapêutico é um
instrumento importante que o fisioterapeuta deve se apoderar para reduzir ou
prevenir a incapacitação.
Fatores socioeconômicos:
• Situação econômica inferior;
• Baixo nível educacional;
• Acesso inadequado aos serviços de saúde;
• Suporte familiar ou social limitado.
12 • capítulo 1
A compreensão básica do processo e dos vários modelos e sistemas de clas-
sificação fornece o conceito para prática e pesquisa e estabelece um fundamen-
to para a tomada de decisão, possibilitando atendimentos fisioterapêuticos
efetivos, eficientes e significativos para o paciente.
O fornecimento de um tratamento de qualidade envolve a habilidade de
fazer julgamentos clínicos adequados, solucionar problemas que aflijam o
paciente e aplicar o conhecimento das inter-relações entre patologia, compro-
metimento, limitação e incapacidade ao longo de cada fase do tratamento. A
tomada de decisão clínica envolve a escolha, implementação e modificação
de intervenções que usam exercícios terapêuticos com base nas necessidades
únicas de cada paciente. Isso só é possível após uma avaliação abrangente, um
diagnóstico cinesiológico funcional claro e preciso e um pensamento crítico e
criativo.
Depois de terminar o exame inicial, analisar os dados e estabelecer um diag-
nóstico baseado no comprometimento, é preciso determinar o prognóstico, in-
cluindo um plano de atendimento, antes de iniciar qualquer intervenção.
A determinação de um prognóstico preciso é desafiador até mesmo para fi-
sioterapeutas experientes, e o plano de atendimento é um componente integral
do prognóstico. Está relacionado às metas estabelecidas resultados funcionais
esperados – úteis, sustentáveis e mensuráveis, extensão e tempo necessário
para atingir a melhora estabelecida, frequência e duração da intervenção e esti-
mativa de plano de alta fisioterapêutica.
O estabelecimento de metas relevantes e significativas requer o engajamen-
to do paciente e/ou família na tomada de decisão desde nosso primeiro conta-
to. Os pacientes procuram a fisioterapia não para se tornarem mais fortes ou
flexíveis, mas para serem capazes de desempenhar com facilidade e conforto as
atividades físicas que gostaria ou precisam fazer.
A chave para justificar os serviços de fisioterapia no sistema de saúde atual,
com contenção de custos, é a identificação e documentação dos resultados fun-
cionais de sucesso que podem estar relacionados às intervenções com base em
evidências. Os resultados funcionais necessitam ser significativos, práticos e
sustentáveis. Tem de ter impacto na habilidade do paciente, melhorar a função
de forma eficiente e efetiva com baixo custo e se manter ao longo do tempo
após a alta fisioterapêutica.
capítulo 1 • 13
Comprometimentos físicos comuns tratados com exercícios terapêuticos:
Musculoesqueléticos: Dor; fraqueza muscular; diminuição da resistência
muscular à fadiga; amplitude de movimento limitada (restrição na cápsula ar-
ticular, no tecido conjuntivo e no comprimento muscular); hipermobilidade
articular; má postura e desequilíbrios entre comprimento e força muscular.
Neuromusculares: Dor; comprometimentos de equilíbrio, estabilidade pos-
tural ou controle; incoordenação; desenvolvimento motor tardio ou compro-
metido; tônus anormal (hipotonia, hipertonia, distonia); estratégias de movi-
mento funcional não efetivas ou insuficientes.
Cardiovasculares/pulmonares: Capacidade aeróbica diminuída; circula-
ção comprometida (linfática, venosa, arterial); dor durante a atividade físi-
ca sustentada.
Tegumentares: hipomobilidade da pele.
14 • capítulo 1
• Respeito à dor.
• Aquisição da confiança do paciente.
• Formas de mobilização.
A mobilidade ativa pode ser limitada pelos mesmos tecidos não contráteis e
contráteis que limitam também a mobilidade passiva. Encurtamento, rigidez,
espasmo ou contraturas limitam a capacidade da articulação movimentar-se
através de sua amplitude total de movimento. O movimento ativo é definido
como atividade de mobilidade realizada por contração muscular efetiva. Essas
atividades podem ser realizadas contra a gravidade ou em uma posição com
a gravidade minimizada, dependendo da força do indivíduo e dos objetivos
da Fisioterapia. Os objetivos ou resultados dos movimentos ativos incluem
aqueles associados aos movimentos passivos mais os benefícios da contra-
ção muscular.
Já o exercício resistido pode ser definido como contrações musculares reali-
zadas contra resistências graduáveis e progressivas. A resistência mais comum
são os pesos, mas também é possível utilizar resistência manual, hidráulica,
eletromagnética, molas, elásticos e outras. Seu objetivo é de estimular a integri-
dade e as funções do aparelho locomotor, além dos seus efeitos promotores de
saúde cardiovascular e alto grau de segurança geral.
De maneira geral, uma carga pode ser aplicada a um músculo em contração
de duas maneiras: manual ou mecânica. Os exercícios com resistência manual
é um tipo de exercício executado contra uma resistência imposta pelo fisiotera-
peuta. A grande vantagem da utilização desse método se dá no fato de não haver
necessidade de equipamentos para execução dos exercícios resistidos, além da
capítulo 1 • 15
possibilidade de graduação de força para um músculo muito fraco, e que pode
vencer apenas uma resistência mínima a moderada. Também é útil quando
necessitamos controlar cuidadosamente a amplitude articular. Eles podem ser
aplicados nos planos anatômicos e em padrões diagonais, que discutiremos
mais a frente.
O exercício com resistência mecânica é uma forma de exercício ativo-resis-
tido, na qual a resistência é aplicada por meio de equipamentos ou aparelhos
mecânicos. É útil quando a quantidade de resistência necessária é superior ao
que o fisioterapeuta pode aplicar manualmente. Há a possibilidade de medição
de forma quantitativa e progressiva ao longo do tempo (KISNER e COLBY, 2016).
Os estudos com pessoas idosas têm documentado a importância dos efeitos
dos exercícios resistidos para melhorar a qualidade de vida por meio do alívio
de dores articulares, maior independência funcional e melhora da autoestima.
A segurança musculoesquelética e segurança cardiovascular dos exercícios re-
sistidos também têm sido demonstradas, mesmo diante de co-morbidades.
Atualmente um significativo corpo de evidências justifica a utilização dos exer-
cícios resistidos para promoção de saúde, terapêutica e reabilitação (CÂMARA;
BASTOS; VOLPE, 2012).
Saúde musculoesquelética pode ser conceituada como a boa capacidade
funcional do aparelho locomotor e a integridade estrutural dos seus compo-
nentes como ossos, cartilagens, ligamentos, músculos e tendões.
A saúde musculoesquelética é estimulada por todo tipo de atividade física
em que as contrações musculares são realizadas contra alguma forma de re-
sistência. O trabalho braçal e as atividades esportivas mais intensas utilizam
contrações resistidas e são eficientes para estimular a integridade e a função
do aparelho locomotor.
Por meio do estímulo à saúde musculoesquelética é possível reduzir a ocor-
rência de dores articulares, limitações de aptidão para a vida diária e para o
trabalho, osteoporose, fraturas, sarcopenia, distúrbios neuroendócrinos, des-
regulação do sistema imune e fragilidade (CÂMARA; BASTOS; VOLPE, 2012).
Saúde cardiovascular é a situação de integridade dos tecidos e adequada
condição funcional do sistema cardiocirculatório. A atividade física tem sido
identificada como o mais importante fator ambiental favorável à saúde car-
diovascular. O mecanismo pelo qual a atividade física estimula a saúde car-
diovascular parece ser a profilaxia ou o melhor controle de doenças sistêmicas
16 • capítulo 1
crônicas (obesidade, diabetes, hipertensão arterial e dislipidemias) que evo-
luem para a degeneração dos vasos sanguíneos, cuja manifestação mais fre-
quente é a aterosclerose (KISNER e COLBY, 2016).
É bom atentar para os princípios básicos para as aplicações terapêuticas dos
exercícios resistidos. Eles devem ser observados em todas as situações. Uma se-
leção adequada dos exercícios deve ocorrer na prescrição e planejamento dos
programas de tratamento, evitando-se movimentos que possam ser inadequados
para cada situação. Com os exercícios selecionados, as cargas e amplitudes serão
adaptadas para as limitações individuais, com evolução gradativa, sempre res-
peitando os limites do conforto articular. O grau de esforço deve ser submáximo
e os volumes de treinamento baixos (CÂMARA; BASTOS; VOLPE, 2012).
Os tipos de exercícios escolhidos para um programa de treinamento depen-
dem de muitos fatores, incluindo a causa e a extensão dos comprometimentos
primários e secundários. É preciso considerar os déficits no desempenho mus-
cular, o estágio da cicatrização dos tecidos, a condição das articulações e sua to-
lerância a compressão e movimento, as habilidades gerais (físicas e cognitivas)
do paciente, a disponibilidade dos equipamentos e obviamente, as metas do
paciente e os resultados funcionais desejados com o programa. O fisioterapeu-
ta tem uma infinidade de exercícios para escolher ao elaborar um programa
de exercícios que supra as necessidades de cada paciente. Não há uma forma
ou tipo de treinamento resistido que seja melhor. Antes de escolher tipos es-
pecíficos de exercícios para o programa de reabilitação do paciente, devemos
considerar algumas questões:
• Qual o tipo e extensão de déficit no desempenho muscular?
• É a patologia de base? Ou o estágio de cicatrização que levarei em conside-
ração para a escolha do treinamento?
• Quais a metas e resultados funcionais previstos?
• Quais exercícios são mais compatíveis com essas metas?
• Qual tipo de fortalecimento seria mais efetivo?
• Há alguma limitação em relação ao paciente? O apoio de peso é contrain-
dicado? Há hipomobilidade na articulação? Há restrição em algum grau de mo-
bilidade articular?
• Há comprometimentos cardiorrespiratórios?
• Espera-se independência nesses exercícios?
• Quais tipos de equipamentos tenho disponíveis?
capítulo 1 • 17
Sempre que um músculo recebe um estímulo nervoso gera uma contração
que pode ser de dois tipos: isotônica ou isométrica.
• Exercício isotônico.
Na contração isotônica, a força gerada pelo músculo é superior à propor-
cionada pela força de gravidade e à resistência dos segmentos esqueléticos nos
músculos aos quais está unido, o que provoca a contração do músculo e a sua
consequente aproximação ao segmento esquelético que movimenta. Ocorre
quando há, associada a uma contração muscular, uma alteração em seu com-
primento. Ele pode ser:
Concêntrico: quando há durante a contração uma diminuição no compri-
mento muscular com aproximação das peças ósseas por ele unidas.
Excêntrico: quando há durante a contração um aumento no comprimento
muscular com afastamento das peças ósseas por ele unidas.
O exercício excêntrico proporciona em relação ao concêntrico:
• Aumento da capacidade produtora de força
• Aumento da eficiência
• Aumento da P.A
• Maior risco de microtraumas.
18 • capítulo 1
• Exercício isométrico:
É uma forma de exercício em que um músculo se contrai e produz força sem
uma mudança apreciável no seu comprimento e sem movimento articular visí-
vel (Figura 2). As fontes de resistência para o exercício isométrico incluem sus-
tentar-se contra uma força aplicada manualmente, segurar um peso em uma
posição específica, manter uma posição contra uma posição específica, manter
uma posição contra a resistência do peso corporal ou empurrar ou puxar um
objeto imóvel. O treinamento isométrico é um meio viável de melhorar a força
muscular.
capítulo 1 • 19
Os isométricos leves podem retardar a atrofia muscular e manter a mobilidade
entre as fibras musculares quando a imobilização de um músculo é necessária
para proteger os tecidos em cicatrização.
• Exercícios de estabilização: usada para desenvolver um nível submáximo,
porém, sustentado, de co-contração, visando melhorar a estabilidade postural
ou a estabilidade dinâmica de uma articulação por meio de contrações isomé-
tricas resistidas no meio da amplitude. O peso do corpo ou a resistência ma-
nual geralmente são as fontes de resistência.
• Isométricos em múltiplos ângulos: refere-se a um sistema de exercícios
isométricos em que a resistência é aplicada, manual ou mecanicamente, em
múltiplas posições articulares dentro da amplitude articular disponível.
• Exercício isocinético:
Os exercícios isocinéticos são conseguidos quando o músculo encurta con-
tra uma resistência cooperante igualada com a força produzida pelo músculo e
requerem uma velocidade constante durante toda a amplitude do movimento
(Figura 3). Quanto mais lenta for a velocidade do movimento isocinético, maior
será o ganho em força e endurance (resistência). Estes exercícios devem ser ini-
ciados com um mínimo de resistência ao movimento (sem permitir que este
ocorra), que é aumentada gradativamente. Contribuem para a coordenação
motora, flexibilidade e força (KISNER e COLBY, 2016).
20 • capítulo 1
Figura 1.3 – Exercício isocinético.
capítulo 1 • 21
• Cadeia cinética fechada
Refere-se ao exercício no qual a extremidade distal esteja fixa. Neste caso, o
segmento proximal move-se em relação à extremidade fixa. Atualmente acredi-
ta-se que os exercícios em cadeia cinética fechada sejam mais funcionais, pois:
• promovem a descarga de peso nas diferentes estruturas;
• estimulam os mecanoceptores;
• estimulam a co-contração;
• melhora na proteção articular;
• alterando-se a cadeia cinética de um movimento podemos estar alterando
a dinâmica articular e o recrutamento muscular.
22 • capítulo 1
Entendemos melhor a síndrome de imobilidade ou imobilismo no leito
se conhecer a biomecânica de nosso organismo. Sabemos que o ser humano
é desenhado para ser móvel, principalmente porque 40% do nosso organismo
é composto de músculos esqueléticos. Além do mais somos dependentes da
atividade física para que haja a manutenção deste sistema musculoesquelético
e para a melhor função de nossos órgãos internos.
Sabemos, por exemplo, que a reabsorção óssea é feita através dos estímulos
de pressão e tração que este segmento recebe ao longo do dia onde nos loco-
movemos e pressionamos as estruturas. Outros exemplos da falta de atividade
física são insuficiência cardíaca, deterioração articular, condições tromboem-
bólicas, estase gastrointestinal e estase urinária.
A patofisiologia das alterações que acontecem devido ao longo decúbito come-
ça cedo e evolui rapidamente. Muitas das desordens são reversíveis, mas quanto
maior o período de imobilização mais difícil será a sua recuperação e reabilitação.
O sistema musculoesquelético mostra as manifestações mais evidentes da
imobilização com a fraqueza e a atrofia por desuso. Com a imobilização ocorre
1 a 2% perda da força muscular por dia, podendo atingir 40% nos longos perío-
dos. Os grupos musculares que se atrofiam mais rapidamente são: quadríceps,
flexores plantares e extensores da coluna. Observam-se também alterações bio-
químicas, ocasionando o aumento de ácido lático nos músculos. A formação de
contratura é uma das consequências mais comum na imobilização.
capítulo 1 • 23
A seguir listaremos os efeitos adversos que ocorrem devido ao lon-
go decúbito:
No sistema músculo-esquelético:
• Hipotrofia, atrofia e descondicionamento muscular;
• Contraturas;
• Osteoporose e osteopenia;
• Deterioração articular;
• Ossificação heterotrópica;
• Osteomielite;
• Deformidades.
Na função visceral:
Alteração no sistema respiratório:
• Diminuição do trabalho respiratório com consequente perda de força da
musculatura da ventilação;
• Diminuição de volumes e capacidades pulmonares;
• Estase de muco em áreas mal ventiladas levando a infecções pulmonares;
• Atelectasias;
• Dificuldade para tossir;
• Broncoaspiração.
24 • capítulo 1
• Trombose venosa profunda;
• Tromboembolismo pulmonar.
Sistema gastrointestinal:
• Perda de apetite;
• Incontinência fecal;
• Fecaloma;
• Constipação e obstrução.
capítulo 1 • 25
• Evite a posição em flexão das articulações;
• Faça mobilizações articulares constantes;
• Trocas constantes de fraldas;
• Manter a pele sempre seca e hidratada;
• Deixar os lençóis sempre esticados e sem restos alimentares;
• Não fazer fricção durante as transferências;
• Hidratação sempre.
ATIVIDADE
Aprofunde seu conhecimento sobre a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde).
Acesse: http://www.inr.pt/uploads/docs/cif/CIF_port_%202004.pdf
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CÂMARA, Lucas Caseri; BASTOS, Carina Corrêa; VOLPE, Esther Fernandes Tinoco. Exercício resistido
em idosos frágeis: uma revisão da literatura. Fisioter. Mov., Curitiba, v. 25, n. 2, p. 435-443, abr./jun.
2012
DI NUBILA, Heloisa B. V. Uma introdução à CIF: classificação internacional de funcionalidade,
incapacidade e saúde. Rev. bras. saúde ocup. vol.35 no.121 São Paulo Jan./June 2010.
DUTTON, Mark. Fisioterapia Ortopédica - Exame, avaliação e intervenção. 2 ed. Porto Alegre: Ed.
Artmed. 2010.
HALLl, M., BRODY, T. Exercício Terapêutico na Busca da Função. Rio de Janeiro, Editora
Guanabara Koogan. 2001.
KISNER, Carolin e COLBY, Lynn Allen. Exercícios Terapêuticos – Fundamentos e Técnicas. 6 ed.
Rio de Janeiro: Ed. Manole. 2016.
OPAS, OMS. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde. 10a revisão (CID-10), vol.1. 8a ed. São Paulo: Editora da USP; 2000.
26 • capítulo 1
2
Exercícios
terapêuticos de
ADM passiva
2. Exercícios terapêuticos de ADM passiva
Nós dispomos de várias intervenções que permitem tratar uma diminuição da
mobilidade. Dentre as modalidades, podemos citar a mobilização articular,
que pode ser indicada para aumentar a amplitude de movimento (ADM).
O movimento ao redor de uma articulação, seja ele passivo, ativo assistido
ou ativo, produz uma carga que irá atuar nos tecidos moles. Essa carga pode
manter a integridade do tendão, ligamento e das fixações ósseas, e da cartila-
gem articular e do músculo.
Os movimentos passivos são usados quando o movimento ativo pode rom-
per o processo de cicatrização, quando o paciente é física ou cognitivamente in-
capaz de se movimentar ativamente, ou quando o movimento ativo é doloroso.
Os objetivos relacionados à prescrição da ADM passiva dependem do paciente
e das circunstâncias. Em um ambiente terapêutico, a ADM passiva é usada fre-
quentemente para evitar os efeitos deletérios da imobilização após uma lesão
ou cirurgia. A prevenção das contraturas articulares e da rigidez dos tecidos mo-
les ou encurtamento adaptativo, a manutenção das relações móveis normais
entre as camadas de tecidos moles, a redução da dor e o aprimoramento da
dinâmica vascular e da difusão sinovial são objetivos da ADM passiva.
OBJETIVOS
• Apresentar os exercícios terapêuticos de ADM passivos utilizados pelo fisioterapeuta
como recursos de tratamento;
• Trazer reflexões sobre as diversas formas de se fazer uso dos os exercícios terapêuticos
de ADM passivo;
• Trazer reflexões sobre os conceitos básicos do movimento articular – osteocinemática e
artrocinemática – e relacionar as técnicas e conceitos utilizados como tratamento fisiotera-
pêutico para ganho de ADM.
28 • capítulo 2
• Quando e onde a dor ocorre durante cada movimento;
• Se o movimento altera a intensidade e a qualidade da dor;
• Padrão de limitação do movimento;
• Sensação final do movimento;
• Movimento de articulações associadas;
• ADM disponível:
• Qual é a ADM normal para aquela articulação e para aquele indivíduo?
• A articulação se mostra normal, com pouco movimento ou mui-
to movimento?
• As articulações adjacentes estão compensando?
• Qual articulação (ou articulações) é dolorida?
A questão é simples, mas vamos elucidar aqui uma dúvida que, por vezes, con-
funde: Osteocinemática? Artrocinemática?
“Osteo” e “cinemática” já dizem tudo, são os movimentos dos ossos, os mo-
vimentos que aparentam realizar, como flexão e extensão. São os movimentos
angulares grosseiros do corpo dos ossos descritos nos três planos do corpo: fle-
xão e extensão no plano sagital, abdução e adução no plano frontal e rotação
medial e lateral no plano transverso. São os movimentos fisiológicos ou clássi-
cos da diáfise óssea.
Já “artro” e “cinemática” fazem referência aos movimentos articulares
propriamente ditos, como rotação, rolamento, giro, compressão e tração, que
ocorrem dentro da articulação. São os movimentos acessórios que ocorrem en-
tre superfícies articulares durante movimentos fisiológicos.
capítulo 2 • 29
Na figura 2.1, podemos ver a seta com a direção do movimento osteocinemá-
tico, enquanto os movimentos artrocinemáticos ocorrem simultaneamente.
Movimento osteocinemático
Compressão
Rolamento Tração
Deslizamento
Fixo
30 • capítulo 2
Os planos secundários são destinados à articulações onde os planos frontal,
horizontal e sagital passam em outros pontos que não o centro de gravidade do
corpo, definindo, assim, o centro de uma articulação como a dos dedos, mão e
pé. Um exemplo são os movimentos de flexão dorsal e flexão plantar que ocor-
rem no tornozelo.
capítulo 2 • 31
• A superfície que se move seja ela convexa ou côncava não influencia a di-
reção do movimento ósseo.
32 • capítulo 2
• Cargas excessivas de compressão causam lesões articulares, principal-
mente na cartilagem articular.
Movimento
angular
Rolamento
Deslizamento
capítulo 2 • 33
"Se o osso com a concavidade for movido sobre o osso com a convexidade, a
estrutura côncava se moverá no mesmo sentido do segmento ósseo."
Explicação: Quando um osso côncavo for movido sobre um osso convexo, a
estrutura côncava deve primeiro rolar anterior e deslizar anterior. Portanto, as
direções dos dois movimentos são para o mesmo sentido.
Movimento
angular
Rolamento
Deslizamento
34 • capítulo 2
Outros usos da ADM passiva:
• Quando um fisioterapeuta examina estruturas inertes, faz-se uso da ADM
passiva para determinar limitações de movimento, estabilidade articular e elas-
ticidade dos músculos e outros tecidos moles.
• Quando um fisioterapeuta ensina um programa de exercícios ativos, faz-
se uso da ADM passiva para demonstrar o movimento desejado.
• Quando um fisioterapeuta prepara um paciente para o alongamento, faz
uso da ADM passiva para preparo dos tecidos para receber técnicas de alonga-
mento passivo (KISNER e COLBY, 2016).
capítulo 2 • 35
• Imediatamente após rupturas agudas, fraturas e cirurgias;
• Quando prejudicar o processo de cicatrização;
• Efusão articular: Devido ao acumulo de líquido no interior da cápsula arti-
cular (líquido sinovial, sangue, exsudado etc.) que já está distendida, provocan-
do dor devido ao estimulo dos nociceptores, um alongamento ou mobilização
articular irá provocar uma maior distensibilidade causando mais dor. Porém
movimentos delicados oscilatórios podem em alguns casos ajudar a diminuir a
dor e o edema articular por melhorar o fluxo de líquido e manter a mobilidade
já existente da articulação lesionada.
• Devemos ter precauções com doenças ósseas detectadas no RX, fraturas
não consolidadas, tecido conectivo recém-formado (processos cirúrgicos), ar-
trite reumatoide e idosos (devido ao enfraquecimento do tecido mole).
36 • capítulo 2
2.4 Técnicas de aplicação
Escápula:
• Elevação/depressão;
• Prostração/ retração;
• Rotação para cima/para baixo.
Ombro:
• Flexão/extensão;
• Abdução e adução;
• Rotação medial e lateral (figura 2.4);
• Abdução horizontal e adução horizontal.
Cotovelo:
• Flexão e extensão.
Antebraço:
• Pronação/Supinação.
Punho:
• Flexão e extensão;
• Desvio radial (abdução) e desvio ulnar (adução).
capítulo 2 • 37
2.4.2 Membros inferiores
Quadril:
• Flexão/extensão;
• Adução/abdução;
• Rotação medial e Lateral (figura 2.6);
• Flexão e Extensão – quadril e joelho combinados.
Joelho:
• Flexão/extensão (figura 2.5).
Tornozelo e pé:
• Flexão dorsal e flexão plantar;
• Inversão e eversão da articulação subtalar;
• Flexão e extensão de dedos;
• Adução e abdução de dedos.
Figura 2.6 – Rotação de quadril com joelho flexionado em 90º (KISNER e COLBY, 2016)
38 • capítulo 2
2.4.3 Região cervical da coluna vertebral
• Flexão
• Extensão
• Rotação (figura 2.8)
capítulo 2 • 39
2.5 Exercícios de ADM auto assistidos
40 • capítulo 2
Figura 2.9 – Exercícios com bastão.
Escada de dedos
O exercício de escalar a parede (ou usar um dispositivo como a escada de
dedos) pode dar ao paciente um reforço objetivo, e desse modo, motivação para
realizar exercícios de ADM de ombro. O braço pode ser usado em flexão ou ab-
dução (figura 2.10).
Polias elevadas
Se os exercícios forem ensinados de forma correta, sistemas de polias (fi-
gura 2.11) podem ser usados efetivamente para assistir os movimentos de um
membro comprometido funcionalmente na realização de exercícios de ADM.
Tem sido comprovado que a polia utiliza uma atividade muscular significa-
tivamente maior que a ADM assistida pelo fisioterapeuta e por aparelhos de
capítulo 2 • 41
mobilização passiva contínua. É uma forma de assistência que deve ser usada
apenas quando a atividade muscular for desejada.
42 • capítulo 2
2.6 Mobilização passiva contínua
capítulo 2 • 43
Dotados de um cérebro capaz de pensar fora do contexto e com “insights”
originais, pessoas como Kaltenborn, Maitland, McKenzie, Stanley Paris, Bob
Elvey e Brian Mulligan desenvolveram enfoques terapêuticos, que ajudam mui-
tos pacientes e terapeutas na solução de seus problemas musculo esqueléticos.
Para o estudo dos movimentos dos componentes ósseos e articulares,
Kaltenborn baseou-se nos princípios da osteocinemática e na artrocinemática.
Kaltenborn distingue três principais movimentos do jogo articular:
• Tração - é um procedimento passivo translatório com o qual através de
um estiramento se produz a separação dos ossos. A direção deste movimento é
perpendicular ao plano de tratamento.
• Compressão - é o procedimento oposto ao anterior. Se realiza de maneira
perpendicular ao plano de tratamento e através dele se comprime as superfí-
cies articulares. A presença de dor ao realizar este procedimento indica a lesão
articular
• Deslizamento - é um movimento passivo translatório retilíneo de um osso
e em consequência se produz um deslizamento retilíneo entre as faces articu-
lares. A direção do movimento é paralela ao plano de tratamento (e não à su-
perfície articular). Esta prova se realiza para um teste de mobilidade passiva da
articulação e também como técnica de mobilização.
44 • capítulo 2
2. Regra Convexo-côncava (método indireto): a determinação da direção
do deslizamento restrito pode se obter ao aplicar a regra convexo-côncava.
A regra geral a seguir deve ser: * mobilizar o osso com a superfície articular
convexa na direção oposta a direção de restrição * mobilizar o osso com a super-
fície articular côncava na mesma direção da direção de restrição (PILAT, 2016).
Já o Método Maitland foi desenvolvido pelo fisioterapeuta australiano
Geoffrey D. Maitland. É assim definido por seu tratamento não ser embasado
apenas numa técnica de mobilização articular em si, mas sobre uma filosofia
que engloba a avaliação e o tratamento, que defende o raciocínio clínico basea-
do principalmente nos achados clínicos.
Esse método é utilizado para aliviar dores e liberar com segurança deter-
minadas estruturas, apresentando o objetivo de restaurar os movimentos e a
amplitude de movimento normal, melhorando, assim, a função do indivíduo.
O tratamento está indicado para pacientes com disfunções neuromuscu-
loesqueléticas (podendo estar envolvidas as articulações periféricas e/ou da
coluna vertebral, além da articulação temporomandibular – ATM). Porém, es-
sas técnicas são preferencialmente usadas para tratamento de disfunções da
coluna vertebral.
A anamnese no Maitland deve ser sempre minuciosa, através de um exame
físico detalhado, com avaliação dos sinais e sintomas. Ao utilizar a filosofia do
Conceito Maitland, os fisioterapeutas são encorajados a formular e testar várias
hipóteses a fim de encontrar o melhor método de tratamento para o paciente.
O exame físico compreende a aplicação de movimentos vertebrais oscilató-
rios passivos e acessórios (artrocinemáticos) nas articulações para tratar a dor
e a rigidez de natureza mecânica. As técnicas procuram a restauração dos mo-
vimentos articulares e são classificados de acordo com a sua amplitude. Assim,
as mobilizações podem ser classificadas em 5 graus, sendo 1 a de menor deslize
e 5 a de maior grau de deslizamento.
O grande impacto do conceito Maitland não reside nas técnicas, mas sim no
processo de avaliação clínica meticulosa que permite, inclusive, que quaisquer
outras modalidades de mobilização ou manipulação possam ser agregadas,
aplicadas e reavaliadas sem comprometer em absolutamente nada o processo
de raciocínio clínico (TERAPIA MANUAL, 2016).
O Conceito Mulligan® surgiu tem como um de seus “princípios” o de que
“falhas posicionais” limitam movimentos fisiológicos e causam dor.
As técnicas do Conceito Mulligan® foram desenvolvidas para reparar es-
sas pequenas falhas, fazendo uso de técnicas que envolvem a combinação de
capítulo 2 • 45
mobilização articular acessória associada ao movimento fisiológico ativo de
forma indolor. O resultado esperado é o alivio imediato da dor e o aumento do
arco de movimento (MULLIGAN, 2016).
Para que as técnicas e os conceitos de mobilização e manipulação sejam
usadas efetivamente como tratamento, o profissional precisa conhecer e ser
capaz de examinar a anatomia, a artrocinemática e a patologia dos sistemas
neurológico e musculoesquelético, e identificar quando essas técnicas são
indicadas ou quando outras técnicas seriam mais efetivas para recuperação
da mobilidade perdida. O uso indiscriminado de técnicas de mobilização ar-
ticular, quando não indicadas, pode causar dano às articulações do paciente.
Quando indicadas, as técnicas de mobilização articular são um meio seguro e
efetivo de restaurar ou manter a mobilidade intra-articular e podem também
ser usadas para tratar dor (KISNER e COLBY, 2016).
ATIVIDADE
Faça pesquisas sobre os diversos conceitos e técnicas existentes para manutenção ou au-
mento da ADM e retorne aos conhecimentos de anatomia e biomecânica, relacionando-os.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KISNER, Carolin e COLBY, Lynn Allen. Exercícios Terapêuticos – Fundamentos e Técnicas. 6 ed.
Rio de Janeiro: Ed. Manole. 2016.
Método Maitland. Terapia Manual. Disponível em: <http://fisioterapiamanual.com.br/blog/areas-da-
fisioterapia/metodo-maitland/>. 2016
MULLIGAN, Brian. Conceito Mulligan. Disponível em: <https://www.institutomulligan.com.br/>.
2016.
PILAT, Andrezj. Técnica de Kaltenborn. Movimentos conscientes. Disponível em: <http://www.
colunasemdor.com.br/fisioterapia/tecnica_de_kaltenborn.html>. 2016.
STEFANUTTO, Anderson dos Santos; LOURENÇO, Raquel Espírito Santo; OLIVEIRA, Regiane de
Sá Sousa; OLIVEIRA William de; RAMPAZO, Mariana Kátia; DIAS, Luciara Irene de Nadai. O uso da
mobilização passiva contínua na reabilitação de pacientes com fraturas do complexo articular do joelho.
Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. 15, núm. 1, 2011, p. 19-32.
46 • capítulo 2
3
Exercícios
terapêuticos
ativo-livres e
resistidos
3. Exercícios terapêuticos ativo-livres e
resistidos
OBJETIVOS
• Apresentar conceito, efeitos fisiológicos, indicações e contraindicações dos exercícios re-
sistidos, assim como os tipos desses exercícios;
• Capacitar a prescrição de exercícios resistidos, assim como fazer uso da resistência (ma-
nual e mecânica), em uma organização de programas de treinamento de força;
• Promover reflexões sobre o uso dos programas de treinamento de força no processo rea-
bilitacional e de preparação física funcional do indivíduo.
48 • capítulo 3
3.1 Definição: Princípio de sobrecarga
Força muscular pode ser definida como a força ou tensão que um músculo
ou, mais corretamente, um grupo muscular consegue exercer contra uma resis-
tência, em um esforço máximo.
Potência muscular, outro aspecto do desempenho muscular, relaciona-se
com a força e velocidade do movimento e é definida como trabalho (força x dis-
tância). Quando um músculo se encurta ao levantar uma carga constante, a ten-
são desenvolvida em uma determinada amplitude de movimento depende do
comprimento do músculo, do ângulo de tração do músculo sobre o esqueleto
e da velocidade do encurtamento. Em outras palavras é a rapidez com que o
trabalho é realizado (KISNER e COLBY, 2016).
Endurance (resistência muscular a fadiga) é a habilidade de um músculo
de contrair-se repetidamente contra uma carga (resistência), gerar e sustentar
capítulo 3 • 49
a tensão e resistir à fadiga durante um período extenso. O termo potência aeró-
bia é, às vezes, usado como sinônimo de resistência muscular. A manutenção
do equilíbrio e do alinhamento apropriados dos segmentos corporais requer a
manutenção do controle (resistência à fadiga) pelos músculos posturais.
Força muscular, potência e endurance (resistência) podem ser muito apri-
moradas com programas de exercícios corretamente planejados e cuja resis-
tência é representada por pesos.
Um exame e uma avaliação minuciosa do paciente são a base do fisioterapeu-
ta para determinar se um programa de exercícios resistidos é indicado para me-
lhorar o nível atual de função ou prevenir disfunções potenciais. É preciso levar
em consideração fatores como a patologia de base; a extensão e a gravidade dos
acometimentos no desempenho muscular; a presença de outros déficits; o está-
gio de cicatrização dos tecidos após uma lesão ou cirurgia; a idade do paciente,
seu nível geral de preparação física e sua habilidade de cooperar e aprender.
Assim que um programa de exercícios resistidos é desenvolvido e prescrito,
para alcançar as metas funcionais e os resultados específicos, torna-se necessá-
rio a intervenção direta do fisioterapeuta para implementar inicialmente o pro-
grama e ensinar e supervisionar os exercícios prescritos, fazendo uma transição
suave para um programa domiciliar independente (VAISBERG e MELLO, 2010).
Um dos princípios que orientam a prescrição de exercícios é o princípio da
sobrecarga, que resulta de uma relação entre estímulo, adaptação e aumento
da sobrecarga. Isso se deve ao fato de que, depois de um tempo realizando exer-
cícios com uma determinada carga, devemos aumentá-la para continuarmos a
ter os benefícios que o exercício proporciona, elevando o limite de adaptação.
Se permanecêssemos com a mesma carga, manteríamos apenas o mesmo nível
de condicionamento já alcançado.
• Em um programa de treinamento de força, a quantidade de resistência
aplicada ao músculo é aumentada aos poucos e de forma progressiva.
• Para o treinamento de resistência à fadiga, enfatiza-se mais o aumento
do tempo durante o qual uma contração muscular é mantida ou o número de
repetições realizadas, em vez de aumentar a resistência.
50 • capítulo 3
Tem-se observado que um programa de exercícios elaborados para desen-
volver força muscular também melhora a resistência muscular à fadiga, pelo
menos de forma moderada. Por outro lado, o treinamento de resistência à fadi-
ga tem pouco ou nenhum efeito cruzado sobre a força (KISNER e COLBY, 2016).
A maioria dos estudos confirma a importância de se elaborar um progra-
ma de exercícios que simule muito bem as atividades funcionais desejadas. O
maior número possível de variáveis do programa de exercícios deve estar de
acordo com os requisitos e as demandas encontradas e vivenciadas pelo pa-
ciente durante a realização das atividades funcionais específicas.
As mudanças adaptativas nos sistemas corporais, como o aumento de força
e resistência à fadiga, em resposta a um programa de exercícios resistidos, são
transitórias, a menos que as melhoras produzidas pelo treino sejam usadas re-
gularmente nas atividades funcionais ou o paciente participe de um programa
de manutenção com exercícios resistidos.
O destreinamento, que se reflete por uma redução no desempenho muscular,
começa após uma ou duas semanas da interrupção dos exercícios resistidos e con-
tinua até os efeitos dos treinos serem perdidos. Por essa razão, é fundamental que
os ganhos de força e resistência à fadiga, sejam incorporados às atividades diárias
o mais cedo possível em um programa de reabilitação. Também é aconselhável
que os pacientes participem de um programa de manutenção com exercícios re-
sistidos, um componente integral do programa de preparo físico permanente, que
pode ser acompanhado por outro profissional de saúde, como o educador físico.
REFLEXÃO
Sabe-se há muito tempo que, se um exercício leve for feito durante o período de recuperação
(recuperação ativa), essa ocorre mais rapidamente do que com repouso total (recuperação
passiva). A recuperação mais rápida com exercício leve é, provavelmente, resultado de in-
fluências neurais e circulatórias.
capítulo 3 • 51
de, e o treinamento resistido costuma recrutar percentuais mais elevados de
fibras (SIMON NETO, 2006).
Os exercícios resistidos podem ser considerados muito seguros, mesmo
para pessoas idosas e debilitadas. A segurança musculoesquelética é dada pela
adequação ideal das sobrecargas às condições físicas dos praticantes. Não ape-
nas as cargas, e consequentemente as repetições, mas também a amplitude dos
movimentos, os intervalos de descanso, o número de séries e de exercícios, e a
frequência das sessões de intervenção. Os movimentos são relativamente len-
tos e cadenciados, sem acelerações ou desacelerações violentas. O corpo per-
manece em posições anatômicas e confortáveis durante os exercícios, sem a
possibilidade de desequilíbrios, quedas e torções (SIMON NETO, 2006).
O trabalho de força muscular é de fundamental importância na medida em
que proporciona um incremento da massa muscular e, consequentemente, a
força muscular evita quedas e preserva a capacidade funcional e a independên-
cia. Nos idosos, em especial, devem ser priorizados os grandes grupos muscu-
lares (glúteos, quadríceps, músculos posteriores da coxa, peitorais, dorsais,
abdominais) que são importantes das atividades do cotidiano (VAISBERG e
MELLO, 2010).
A segurança cardiovascular é garantida pela adequação do duplo produto às
condições individuais. Como em toda forma de atividade física, a pressão arte-
rial se eleva também nos exercícios resistidos, mas dentro de limites seguros,
mesmo com cargas elevadas, desde que não se realizem contrações isométri-
cas em apneia. Devido ao caráter interrompido do treinamento, a frequência
cardíaca eleva-se em níveis discretos. O resultado é um duplo produto de baixo
risco cardíaco. Em função de sua segurança e das qualidades de aptidão que
desenvolvem, os exercícios com pesos têm sido utilizados com sucesso na rea-
bilitação cardíaca e profilaxia de incapacidades em pessoas idosas.
Todas as qualidades de aptidão física são estimuladas pelos exercícios re-
sistidos: força, potência, resistência, coordenação e flexibilidade. O músculo
torna-se mais forte devido a dois mecanismos básicos: maior recrutamento das
unidades motoras das fibras e hipertrofia das fibras musculares individuais.
Durante as primeiras semanas de treinamento, a força aumenta em conse-
quência das adaptações neurais.
Aumentos na força e na endurance são acompanhados por certas alterações
fisiológicas tipo aumento do tamanho muscular (hipertrofia), pequenas altera-
ções bioquímicas e adaptações dentro do sistema nervoso.
52 • capítulo 3
O princípio fisiológico subjacente ao desenvolvimento da força e da endu-
rance é denominado princípio da sobrecarga, já citado anteriormente.
O desempenho muscular se modifica ao longo da vida. Se a meta de um
programa de treinamento resistido é tratar comprometimentos e limitações na
execução de atividades (limitações funcionais) ou melhorar o preparo físico e
o desempenho de atividades físicas, é necessária uma compreensão das mu-
danças “típicas” no desempenho muscular e na resposta aos exercícios durante
cada fase da vida (figura 3.1).
capítulo 3 • 53
Idade adulta: jovens e indivíduos de meia-idade
• A massa muscular atinge o pico nas mulheres entre 16 e 20 anos de idade; a massa
muscular nos homens atinge o pico entre os 18 e 25 anos de idade.
• Ocorrem diminuições na massa muscular desde os 25 anos de idade.
• A massa muscular constitui aproximadamente 40% do peso corporal total durante o início
da idade adulta; os homens têm um pouco mais de massa muscular do que as mulheres.
• Os músculos continuam a desenvolver-se durante a segunda década. especialmente
nos homens.
• A força muscular e a resistência à fadiga atingem o pico durante a segunda década, mais
cedo para as mulheres do que para os homens.
• Em algum ponto da terceira década, a força declina entre 8 e 10% por década até a quinta
ou sexta década.
• A força e a resistência muscular à fadiga se deterioram com menor velocidade nos adultos
fisicamente ativos em comparação com os adultos sedentários.
• São possíveis melhoras na força e na resistência à fadiga com um aumento apenas
modesto na atividade física.
Idade adulta avançada
• A taxa de declínio da força muscular acelera-se para 15 a 20% por década durante a sexta
e sétima década e aumenta para até 30% por década depois desse perlado.
• A perda de massa muscular continua: por volta da oitava década, a massa muscular
esquelética já diminuiu cerca de 50% em comparação com o pico de massa muscular da
Idade adulta.
• O tamanho das fibras musculares (área de secção transversa), o número de fibras do tipo
I e tipo II e o número de moto neurônios alfa diminuem. Ocorre atrofia preferencial das fibras
musculares do tipo II.
• Diminuição na velocidade das contrações musculares e no pico de potência.
• Diminuição gradual, porém progressiva, da resistência fadiga e captação máxima de oxigênio.
• A perda da flexibilidade reduz a capacidade do músculo de produzir força.
• Declínio mínimo no desempenho de habilidades funcionais durante a sexta década.
• Deterioração significativa nas habilidades funcionais por volta da oitava década, associada
com um declínio na resistência muscular à fadiga.
• Com um programa de treinamento resistido, é possível uma melhora significativa na força
muscular, potência e resistência à fadiga na terceira idade.
• As evidências sobre o impacto do treinamento resistido no nível de desempenho de
habilidades motoras funcionais são confusas, porém promissoras.
Figura 3.1 – Alterações no músculo e no desempenho muscular relacionado à idade no
decorrer da vida (KISNER e COLBY, 2016).
54 • capítulo 3
CURIOSIDADE
A dor muscular aguda é causada pela falta de um fluxo sanguíneo adequado (isque-
mia), ao passo que a dor muscular tardia é causada provavelmente pela ruptura dos teci-
dos conjuntivos.
capítulo 3 • 55
O teste de carga máxima é chamado de 1RM (uma repetição máxima) e re-
fere-se à “maior quantidade possível de peso, imposto externamente, que se
pode mover/levantar em uma única repetição completa por meio de um deter-
minado movimento padronizado”. Esse teste tem importância para documen-
tar a medida inicial da força dinâmica de um músculo ou grupo muscular para
ser comparada posteriormente e para identificar uma carga de exercício inicial
(quantidade de peso) para ser usado durante o exercício em um número espe-
cífico de repetições.
Após estabelecer a RM basal, a quantidade de exercício a ser usada no iní-
cio do treinamento resistido é calculada, geralmente, por uma porcentagem de
1RM para um grupo muscular em particular. No início de um programa de exer-
cícios, a porcentagem necessária para conseguir adaptações na força induzida
pelo treinamento é baixa (30 a 40%) para pessoas sedentárias e não treinadas.
A intensidade de esforço relatada na literatura para ganhos de força e hi-
pertrofia é sempre superior a 60%, sendo geralmente, na maioria dos trabalhos
científicos entre 70 a 85% de 1RM, onde o número de repetições varia entre 8 a
12 repetições máximas.
A carga é considerada a principal variável para que ocorram alterações de
força e endurance muscular. A quantidade de carga a ser utilizada é a neces-
sária para cumprir o número de repetições por série com boa eficiência mecâ-
nica. Logo, quando se seleciona a carga, a última repetição deve ser executada
com um pouco mais de dificuldade. Caso ela seja fácil de executar, deve-se au-
mentar a sobrecarga, pois só assim consegue-se o fortalecimento muscular.
ATENÇÃO
O uso de 1 RM como medida basal de força dinâmica é inapropriado para alguns pacientes,
pois requer apenas um esforço máximo. Isso não é seguro, por exemplo, para pacientes com
comprometimentos articulares, em recuperação de lesões de tecidos moles ou que apresen-
tem risco para tais lesões, ou pacientes com osteoporose ou patologias cardiovasculares,
conhecidas ou potenciais.
56 • capítulo 3
3.3 Precauções para os exercícios resistidos
capítulo 3 • 57
3.4 Contraindicações para o exercício resistido:
• Inflamação aguda;
• dor articular ou muscular intensa durante o exercício resistido ou por
mais de 24 horas após o exercício;
• doença neuromuscular inflamatória;
• doença cardiopulmonar grave.
58 • capítulo 3
paciente, enquanto, ao mesmo tempo, facilita estratégias de movimentos fun-
cionais mais eficientes.
Tem como princípios a estimulação dos proprioceptores para aumentar a
demanda feita ao mecanismo neuromuscular, integrando técnicas manuais de
alongamento e exercício resistido para fortalecimento com princípios neurofi-
siológicos de indução sucessiva, inervação e inibição recíproca, além do fenôme-
no de irradiação.
Desde o seu início, a FNP integrou, com sucesso, vários dos conceitos de
intervenções contemporâneas em neuroreabilitação. Ela combina padrões dia-
gonais funcionais de movimento com técnicas de facilitação neuromuscular,
para evocar respostas motoras e melhorar o controle e a função neuromuscular.
A FNP inclui:
• Aprendizagem motora e retenção funcional de atividades aprendidas
com a repetição de uma demanda específica;
• O uso da progressão de desenvolvimento do comportamento motor, que per-
mite aos pacientes criar e recriar estratégias de movimento funcional eficiente;
• A análise biomecânica e comportamental do controle motor.
capítulo 3 • 59
Os padrões de movimentos associados ao FNP são compostos de movimen-
tos multiarticulares, multiplanares, diagonais e rotacionais dos membros,
tronco e pescoço. Há dois pares de padrões diagonais para os membros supe-
riores e inferiores: diagonal (1) e diagonal (2), sedo que cada um pode ser feito
tanto em flexão como em extensão (tabela 3.1).
Extensão-ab- Extensão-a-
Flexão-adução Flexão-abdução-
Quadril dução-rotação dução-rotação
-rotação lateral -rotação-medial
medial lateral
Tabela 3.1 – Movimentos componentes dos padrões FNP: membros superiores e membros
inferiores (KISNER e COLBY, 2016).
60 • capítulo 3
de resistência necessária é superior ao que o fisioterapeuta pode aplicar
manualmente.
O exercício com resistência mecânica é um componente integral de reabili-
tação e dos programas de condicionamento para as pessoas de todas as idades.
Contudo, o uso da resistência mecânica em um programa de exercícios tem
vantagens e desvantagens. Como vantagens podemos citar:
• Medida de base quantitativa do desempenho basal;
• Podem ser aplicadas cargas maiores;
• Mais fáceis para documentar os acréscimos na carga;
• Possibilitam variedades e são mais práticos;
• O treinamento é mais seguro.
Desvantagens:
• Inapropriados para músculos muito fracos;
• Resistências externas podem colocar carga máxima no músculo em ape-
nas uma ADM;
• Maior gasto com compra dos equipamentos.
capítulo 3 • 61
Comparação entre os dois programas:
reps= repetições.
62 • capítulo 3
Figura 3.4 – Uso da bola de estabilidade para exercício de fortalecimento abdominal.
capítulo 3 • 63
Figura 3.5 – Exercício isométrico leve.
64 • capítulo 3
O uso de contrações repetitivas, mantidas por 6 a 10 segundos cada, diminui a
ocorrência de cãibras e aumenta a efetividade do programa isométrico.
Ao realizar exercícios isométricos em múltiplos ângulos, recomenda-se nor-
malmente que a resistência seja aplicada em 4 a 6 pontos da ADM. Durante o
exercício isométrico, deve ser sempre feita uma respiração rítmica enfatizan-
do a expiração durante a contração, para minimizar a resposta de aumento de
pressão.
capítulo 3 • 65
Características:
• Em uma contração concêntrica, números maiores de unidades motoras
precisam ser recrutados para controlar a mesma carga em comparação com
uma contração excêntrica;
• O exercício concêntrico tem menos eficiência mecânica do que o exercí-
cio excêntrico;
• A resistência máxima durante a fase concêntrica de um exercício não for-
nece uma carga máxima durante a fase excêntrica;
• Os ganhos adaptativos relativos na força excêntrica e concêntrica parecem ser
similares na conclusão de um programa de exercícios concêntricos ou excêntricos.
Nas velocidades lentas com carga máxima, uma contração excêntrica gera
maior tensão do que uma contração concêntrica. Nas velocidades altas, a ten-
são da contração concêntrica diminui de modo rápido e contínuo, enquanto as
forças de contração excêntrica aumentam levemente, mas logo depois atingem
um platô sob condições de carga máxima.
O exercício excêntrico consome menos oxigênio e reservas de energia do
que o exercício concêntrico contra cargas similares. O uso de atividades excên-
tricas pode melhorar a resistência muscular à fadiga.
O treinamento concêntrico e o excêntrico causam um efeito cruzado de
treinamento, ou seja, um leve aumento na força do mesmo grupo muscular do
membro oposto que não se exercitou. Esse efeito no grupo muscular não exer-
citado pode ser causado por contrações repetidas do membro não exercitado,
em uma tentativa de estabilizar o corpo durante o exercício com alto esforço.
66 • capítulo 3
simultâneos nas articulações distais e proximais de um modo relativamente
previsível. Por exemplo, quando um paciente faz um movimento de agacha-
mento bilateral em arco curto e depois retorna a posição ereta.
Exercício Isocinético.
É uma forma de exercício dinâmico em que a velocidade de encurtamento
ou alongamento do músculo do músculo, assim como a velocidade angular do
membro, são predeterminadas e mantidas constantes por um dispositivo limi-
tador de velocidade, conhecido como dinamômetro isocinético.
capítulo 3 • 67
Avanços tecnológicos têm levado ao desenvolvimento de equipamentos iso-
cinéticos que permitem a execução de exercícios excêntricos em associação à
atividade concêntrica. O uso deste tipo de equipamento vem se popularizando
no Brasil, por meio dos conhecidos dinamômetros isocinéticos, usando e valo-
rizando o treinamento muscular excêntrico.
Em linhas gerais, pode-se dizer que uma vantagem do exercício isocinético
é fornecer um método de carregar dinamicamente os músculos em contração
a uma velocidade que pode ser facilmente manipulada. O músculo é, portanto,
capaz de manter um estado de máxima contração em toda a sua amplitude,
permitindo uma demanda máxima da sua capacidade de trabalho. As velocida-
des angulares podem ser ajustadas para permitir que o músculo funcione em
relação às condições dinâmicas simulando as demandas impostas pelas ativi-
dades funcionais do indivíduo em relação à biomecânica dos gestos motores
do esporte. (GREGO NETO e PREIS, 2005).
Torna-se imperativo que os fisioterapeutas visualizem cada vez mais o
quanto os pacientes podem se beneficiar do treinamento muscular multimo-
dal, criativo e eficiente e que não negligencie a devida importância que deve ser
atribuída à fase de fortalecimento muscular durante o processo reabilitacional
e de preparação física funcional do indivíduo.
ATIVIDADE
Determine 1RM e 10 RM para os seguintes grupos musculares em você ou algum familiar:
flexores de ombro, abdutores de ombro, rotatores externos de ombro; flexores e extensores
de cotovelo; abdutores de quadril; flexores e extensores de joelho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADLER, Susan S.; BECKERS, Dominiek; BUCK, Match. Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva.
Um guia ilustrado. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Manole. 2007.
GOLDENBERG, Lorne e TWIST, Peter. Treinamento de Força com Bola. Estabilidade Total e
exercícios com Medicine Ball. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Manole. 2010
KISNER, Carolin e COLBY, Lynn Allen. Exercícios Terapêuticos – Fundamentos e Técnicas. 6 ed.
Rio de Janeiro: Ed. Manole. 2016.
68 • capítulo 3
GREGO NETO, Anselmo e PREIS, Cássio. A valorização do treinamento muscular excêntrico na
fisioterapia desportiva. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.18, n.1, p. 19-26, jan./mar., 2005.
SIMON NETO, Daniel. Efeitos dos exercícios resistidos sobre as atividades da vida diária em
idosos: revisão bibliográfica. Monografia do Curso de Especialização em Fisiologia do Exercício e
Treinamento Resistido na Saúde, na Doença e no Envelhecimento. Disciplina de Geriatria da Faculdade
de Medicina da USP-SP. 2006.
VAISBERG, Mauro e MELLO, Marco Tulio de. Exercícios na Saúde e na Doença. Rio de Janeiro: Ed.
Manole. 2010
capítulo 3 • 69
70 • capítulo 3
4
Exercícios
terapêuticos de
alongamento
4. Exercícios terapêuticos de alongamento
A flexibilidade é algo tão inerente ao ser humano quanto o próprio movimento.
Todos os meios de expressão humana, como falar, dançar, pintar, correr, escre-
ver, entre tantos outros, dão-se por meio da movimentação. Quanto mais ativa
é a pessoa, maior sua amplitude movimento. O mover-se está intimamente liga-
do à vida e à sobrevivência, sendo a flexibilidade um de seus aspectos.
O alongamento é um método frequentemente executado para aumentar
a amplitude de movimento (ou a flexibilidade) de determinadas articulações.
Embora não haja evidências científicas que comprovem a sua eficácia na dimi-
nuição do risco de lesões e na minimização de dores musculares tardias, tra-
dicionalmente faz parte do aquecimento para atividades físicas e proporciona
bem-estar e habilidades funcionais diárias.
Mesmo sendo difícil escolher, na prática clínica, um protocolo de alonga-
mento apropriado, este capítulo se propõe a contribuir para seu conhecimento,
pois, independentemente de qual técnica é mais efetiva, o alongamento ainda
é altamente recomendado para ganhos de amplitude de movimento e flexibili-
dade para as atividades de vida diária.
OBJETIVOS
• Apresentar conceitos sobre termos relacionados ao alongamento;
• Promover uma breve revisão da mobilidade (articular e muscular);
• Trazer reflexões sobre os tipos de exercícios de alongamento mais utilizados – e relacionar
as técnicas como tratamento fisioterapêutico para mobilidade e flexibilidade.
72 • capítulo 4
compreensão desse processo, vamos relembrar, inicialmente, alguns mecanis-
mos fundamentais relacionados ao alongamento.
O músculo é composto de tecido contrátil e não contrátil. Nos músculos
existem as fibras musculares dispostas em paralelo. Cada fibra muscular tem
uma grande quantidade de mio fibrilas, que, por sua vez, é constituída de es-
truturas ainda menores chamadas de sarcômeros, representando a unidade
funcional do músculo. Os sarcômeros são compostos de pontes transversas de
actina e miosina que se sobrepõem e dão ao músculo a capacidade de relaxar
ou contrair (DELIBERATO, 2007; KISNER; COLBY, 2016).
Existem dois órgãos sensoriais no músculo: o fuso muscular e o Órgão
Tendinoso de Golgi (OTG). O primeiro se situa no ventre muscular e é o principal
órgão sensitivo do músculo, sendo composto por fibras intrafusais paralelas às
fibras extrafusais. O fuso muscular é responsável por detectar alterações do com-
primento do músculo e percebe alterações bruscas de velocidade do alongamen-
to. Em situações específicas, como no alongamento balístico, onde são aplicadas
velocidades bruscas de alongamento, corre-se o risco de lesão por alongamento
excessivo. Com a contração das fibras extrafusais, também há a situação de se
originar um estiramento no músculo, conhecido como reflexo de estiramento ou
reflexo miotático, como demonstrado na figura 4.1 (DELIBERATO, 2007).
Figura 4.1 – Reflexo miotático - Uma extensão do braço (A) leva a um estiramento do bí-
ceps, estirando o fuso neuromuscular. O neurônio sensorial, que se projeta monossinapti-
camente sobre o motoneurônio, é então ativado (B, linha grossa), ativando em seguida o
motoneurônio (C, linha grossa).
capítulo 4 • 73
No mesmo circuito neural medular que se processa o reflexo miotático, há
inibição de motoneurônios que inervam músculos antagonistas ao músculo
estimulado (inervação recíproca). Essa inibição não é realizada monossinap-
ticamente, mas por intermédio de interneurônios inibitórios presentes em
circuitos da substância cinzenta medular. Cada fibra aferente Ia faz conexões
excitatórias com virtualmente todos os motoneurônios que inervam o músculo
estimulado, e com até 60% dos motoneurônios responsáveis pela inervação dos
músculos agonistas (figura 4.2).
Figura 4.2 – Inervação recíproca. No reflexo miotático, como em vários outros processos de
integração motora, após a ativação (linha grossa) do neurônio sensorial (A), observamos, em
(B), tanto uma ativação do motoneurônio responsável pela inervação do músculo estimulado
(linha grossa) quanto uma inibição (linha interrompida) de músculos antagonistas (B). Essa
inibição é executada por interneurônios que integram circuitos neurais medulares.
74 • capítulo 4
inervam um grupo muscular antagonista são recrutados. A inervação recíproca
contribui assim para aumentar a velocidade e eficiência de uma contração, já
que a ativação de um dado grupo de músculos ocorre sem a oposição de uma
contração antagônica ao movimento desejado. Assim, neurônios corticospi-
nais originários do córtex motor projetam-se tanto sobre os motoneurônios
que inervam um dado músculo quanto sobre interneurônios (inibitórios) que
inibem motoneurônios de músculos antagonistas.
Esse processo de inibição recíproca, embora eficiente do ponto de vista
energético, não se constitui, porém, em uma boa estratégia quando o objetivo
é o posicionamento firme e estável de uma articulação. Nesse caso, a estraté-
gia adequada é a contração simultânea de músculos agonistas e antagonistas,
processo então chamado de co-contração. Embora mais dispendiosa quanto ao
gasto energético, a co-contração permite a adoção de posturas estáveis, como
quando necessitamos de uma firmeza motora necessária a um ato cirúrgico ou a
imobilidade requerida para se fotografar uma cena qualquer (BANDY e SANDER,
2003; DELIBERATO, 2007; HALL e BRODY, 2007; KISNER e COLBY, 1998).
O OTG é uma estrutura localizada próxima à junção musculotendínea do
músculo e é fixada em série às fibras extrafusais. Ele é sensível à tensão no ten-
dão ocasionada por alongamento passivo e também por contração muscular.
Sua função é proteger o músculo de contrações e alongamentos excessivos e
impedir a atividade excessiva das fibras nervosas que inervam o músculo extra-
fusal (neurônios motores alfa). Isso ocorre quando há um alongamento prolon-
gado. O OTG inibe a tensão, sobrepondo-se ao fuso muscular e facilita o alon-
gamento através de fibras nervosas tipo Ib relaxando o músculo. O OTG é um
mecanismo aferente inibitório (gera relaxamento), enquanto o fuso neuromus-
cular é um sistema aferente excitatório (gera contração) (DELIBERATO, 2007).
As intervenções de alongamento são elaboradas para aumentar o compri-
mento dos componentes contráteis e não contráteis das unidades musculoten-
dínea e das estruturas periarticulares.
A deformação (alongamento) do tecido conjuntivo ocorre com graus dife-
rentes em intensidades diferentes de força e com frequências de aplicação di-
ferentes. Requer a quebra de ligações de colágeno e o realinhamento das fibras,
para que o alongamento ou o aumento da flexibilidade seja permanente.
Entende-se como flexibilidade a capacidade de mover uma única articula-
ção ou uma série de articulações, de modo suave e com facilidade, ao longo de
uma ADM sem restrições e indolor. Ela está relacionada com a extensibilidade
capítulo 4 • 75
das unidades musculotendínea que atravessam uma articulação, com base em
sua habilidade de relaxar ou deformar e ceder a uma força de alongamento
(KISNER e COLBY, 2016).
Muitos processos patológicos podem restringir o movimento e comprome-
ter a mobilidade. Como fator extrínseco, podemos citar a imobilização prolo-
gada, através do uso de aparelho gessado, talas (splints) ou tração esquelética.
Já os fatores intrínsecos estão relacionados à presença de dor, inflamação e
derrame articular; distúrbios no músculo, tendão ou fáscia; distúrbios na pele;
bloqueio ósseo; distúrbios vasculares; estilo de vida sedentário e posturas habi-
tuais assimétricas; paralisia, alterações no tônus e desequilíbrios musculares,
além dos desalinhamentos posturais congênito ou adquirido.
A restrição de movimento pode variar de um leve encurtamento até contra-
turas irreversíveis.
Definimos contratura como o encurtamento adaptativo da unidade mus-
culotendínea e outros tecidos moles que cruzam ou cercam uma articulação e
resulta em resistência significativa ao alongamento passivo ou ativo e na limita-
ção da ADM, podendo levar a disfunções(KISNER e COLBY, 2016).
COMENTÁRIO
Um alongamento excessivo é um alongamento além do comprimento normal dos músculos
e da ADM de uma articulação e tecidos moles ao redor. Torna-se prejudicial, pois cria insta-
bilidade articular quando as estruturas que suportam uma articulação e a força dos músculos
em torno dela são insuficientes e não conseguem manter a articulação em uma posição
funcional estável durante as atividades – hipermobilidade.
76 • capítulo 4
• Autoalongamento: qualquer exercício de alongamento feito de for-
ma independente por um indivíduo, após instrução e supervisão é chamado
de autoalongamento.
• Técnicas de facilitação e inibição neuromuscular: tem o objetivo de rela-
xar de forma reflexa, a tensão dos músculos encurtados, antes ou durante um
alongamento muscular. Está associado a uma abordagem de exercícios conhe-
cida como facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP). Alguns autores se
referem a esses procedimentos combinados de inibição/facilitação e alonga-
mento muscular como alongamento FNP ((KISNER e COLBY, 2016).
• Técnicas de energia muscular: são procedimentos de manipulação que
surgiram na medicina osteopática e visam alongar músculos e fáscias e mobi-
lizar articulações. Empregam contrações voluntárias dos indivíduos com dire-
ção e intensidade controladas de forma precisa, contra uma força de oposição
aplicada pelo profissional. Como sua base são os princípios da inibição neu-
romuscular, outro termo utilizado para descrever tais técnicas é relaxamento
pós-isométrico (CHAITOW, 2008).
• Mobilização/manipulação articular: são técnicas da fisioterapia manual
aplicadas especificamente às estruturas articulares para modular a dor e tratar
comprometimentos articulares que limitam a ADM (KALTENBORN, 2001).
• Mobilização e manipulação de tecidos moles: são elaboradas para me-
lhorar a extensibilidade muscular envolvendo a aplicação de formas manuais
específicas e progressivas, provocando mudanças nas estruturas miofasciais.
Podemos citar a massagem transversa, a liberação miofascial, acupressão e te-
rapia por pontos gatilhos (FERGUSON e GERWIN, 2007; SIMONS; TRAVELL, e
SIMONS, 2006; IRNICH, 2012) .
• Mobilização de tecidos neurais: aderências ou tecidos cicatriciais podem
se formar em torno das meninges e raízes nervosas ou no local de lesão no ple-
xo ou nos nervos periféricos. A tensão colocada sobre essas aderências ou teci-
do cicatricial causa dor e sintomas neurológicos. Após testes para determinar a
mobilidade desses tecidos, a via neural é mobilizada por meio de procedimen-
tos seletivos (BUTLER, 2003).
capítulo 4 • 77
Indicações para o uso do alongamento:
• A ADM está limitada porque os tecidos moles perderam sua extensibilida-
de em decorrência de aderências, contraturas e formação de tecido cicatricial,
causando limitação funcional (limitação nas atividades) ou incapacidades (res-
trições à participação).
• A fraqueza muscular ou encurtamento do tecido oposto ocasionaram
uma diminuição da ADM.
• Pode ser usado como parte de um programa de preparo físico total ou de
condicionamento esportivo, ou pós treino de exercícios vigorosos para possível
redução da dor muscular pós-exercício.
• Para relaxamento muscular.
• Auxiliam no desenvolvimento da consciência corporal, melhorando
a postura.
• Diminuição dos riscos de lesões e distensões, apesar de não confirmado
experimentalmente, a prática nos tem demonstrado sua veracidade.
78 • capítulo 4
• Frequência: número de sessões (intervenções) feitas no dia ou na semana.
• Modo de alongamento: forma ou maneira com que a força de alongamen-
to (estática, balística, cíclica – mecânica ou manual) é aplicada e nível de parti-
cipação do indivíduo (passivo, assistido, ativo).
capítulo 4 • 79
A prática do alongamento agudo apresenta efeito prejudicial a performance
muscular e a realização do alongamento antes do exercício não implica em me-
nor número de lesões. Acredita-se que há outros mecanismos, provavelmente
relacionados ao processo de aquecimento, que justificariam uma menor inci-
dência de lesões e melhora na performance.
O alongamento de baixa intensidade em comparação com o alongamento
de alta intensidade torna a manobra mais confortável para o indivíduo e mini-
miza a defesa muscular voluntária ou involuntária. Para indivíduos em recupe-
ração funcional, pós-imobilização, ele é efetivo e apresenta melhora na ADM
sem expor os tecidos, possivelmente enfraquecidos pela imobilização, a cargas
excessivas e lesão potencial. Alonga o tecido conjuntivo denso mais efetivamen-
te, com menos danos aos tecidos moles e menos dor muscular pós-exercício do
que o alongamento de alta intensidade (ALMEIDA et al, 2009).
Em paciente com contraturas fibróticas crônicas, decorrentes de distúrbios
neurológicos ou musculoesqueléticos, durações comuns de alongamento ma-
nual ou auto alongamento (repetições de alongamentos com duração de 15 a
30 segundos) podem não ser efetivas. O uso de alongamento estático mecânico
com talas ou aparelhos de gesso é mais efetivo. A duração do alongamento me-
cânico relatada na literatura varia de 15 a 30 minutos até 8 a 10 horas por vez ou
continuamente durante o dia.
Como evidenciado junto a outros tipos de exercícios terapêuticos, a avaliação
criteriosa para a prescrição do exercício de alongamento, contribui para melho-
res resultados tanto no treinamento quanto na reabilitação e prevenção de lesões.
Uma avaliação precisa e minuciosa contribui para um tratamento eficaz e efetivo.
Alongamento Estático
Consiste em alongar um músculo até um ponto tolerável e sustentar a po-
sição por um período de tempo. O alongamento estático apresenta o menor
80 • capítulo 4
risco de lesão e acredita-se ser o mais seguro método de alongamento, além de
ser este o mais usado. Ademais, resolve os problemas de restrições de tempo e
espaço limitados, podendo ser realizado em qualquer lugar. Pode ser passivo
(exercido pelo terapeuta) ou ativo (auto alongamento).
O alongamento manual pode ser mais apropriado nos estágios iniciais
de um programa de alongamento, quando o fisioterapeuta deseja deter-
minar como o paciente responde a intensidades ou durações diferentes de
alongamento e quando uma estabilização máxima é muito importante. É
uma escolha apropriada, caso o paciente não possa realizar autoalonga-
mento (figura 4.3).
capítulo 4 • 81
Figura 4.4 – Alongamento ativo estático ou auto alongamento
82 • capítulo 4
Em relação ao desempenho e ao alongamento, há evidências que o alonga-
mento agudo, realizado antes da prática esportiva e ou de exercícios, promo-
ve diminuição da performance muscular principalmente em salto vertical. O
alongamento por FNP e o estático são os que mais induzem déficits na perfor-
mance do músculo quando comparado com o balístico (ALMEIDA et al, 2009).
Embora tenha sido mostrado que o alongamento balístico aumenta a ADM
com segurança em pessoas jovens e saudáveis que participam de um programa
de condicionamento, este procedimento em geral, não é recomendado para
pessoas idosas ou sedentárias ou para pacientes com patologias musculoes-
queléticas ou contraturas clínicas. A base teórica para essa recomendação é:
• Tecidos enfraquecidos pela imobilização ou por desuso são facilmen-
te lesionados.
• O tecido conjuntivo denso encontrado em contraturas crônicas não cede
com facilidade mediante um alongamento de curta duração e alta intensidade.
Em vez disso, torna-se mais quebradiço e rompe-se mais prontamente (KISNER
E COLBY, 2016).
capítulo 4 • 83
Também chamado de alongamento ativo ou alongamento facilitativo, os
alongamentos por FNP, integram propositalmente contrações musculares ati-
vas nas manobras de alongamento para facilitar ou inibir a ativação muscular e
aumentar a possibilidade de que o músculo a ser alongado permaneça o mais
relaxado possível durante o procedimento. Envolve técnicas que usam contra-
ções isométricas breves do músculo a ser alongado antes do alongamento está-
tico. Por vezes, são realizadas com grupos musculares combinados agindo em
padrões de movimentos diagonais.
O alongamento por FNP procura facilitar o Órgão Tendinoso de Golgi a ini-
bir os músculos nos quais se situa e usa o principio da inibição recíproca. Esta
técnica tem obtido resultados mais satisfatórios que o alongamento estático.
Esta técnica de alongamento pode ser dividida em três fases: na primeira,
ocorre a mobilidade do grupo muscular alvo até a sua amplitude limite, acio-
nando o fuso muscular; na segunda fase, ocorre a contração voluntária isomé-
trica, resistida pelo profissional durante 6 segundos, desencadeando um pro-
cesso de inibição autogênica, culminando na ativação do Órgão Tendinoso de
Golgi e na subsequente redução na tensão muscular.
Este processo permite que, na terceira fase, o alongamento seja realizado
além da amplitude observada na primeira fase, diminuindo a resistência ao alon-
gamento e aumentando a amplitude de movimento (FELAPPI e LIMA, 2015).
A idade, o gênero, o nível de flexibilidade inicial dos indivíduos e o tem-
po de aplicação do alongamento parecem influenciar os resultados efetivos
do alongamento. Independentemente de qual técnica é mais efetiva, estático
ou FNP, ambas são altamente recomendadas para ganhos de amplitude de
movimento e flexibilidade, sendo eficientes para o objetivo a que se propõe
(maior flexibilidade).
As técnicas de FNP exigem inervação íntegra e controle voluntário do múscu-
lo encurtado, ou do músculo em função oposta ao músculo a ser alongado. Desse
modo, não é uma técnica recomendada de maneira efetiva para pacientes com
paralisia ou espasticidade resultante de doenças ou lesões neuromusculares,
quando se tem o objetivo de ganho de flexibilidade (KISNER E COLBY, 2016).
A desvantagem em relação ao estático é que o alongamento por FNP não
só requer um profissional para aplicá-la, mas também atenção para o devido
treinamento para aplicação da técnica.
Há vários tipos de procedimentos de alongamentos por FNP e todos resul-
tam na melhora de ADM:
84 • capítulo 4
• Manter-relaxar (MR) e contrair-relaxar (CR)
O músculo que limita a amplitude é primeiramente alongado até o ponto da
limitação ou de forma confortável para o paciente, que faz, então, uma contra-
ção isométrica no final da amplitude do movimento (durante cerca de 5 segun-
dos), seguida pelo relaxamento voluntário do músculo encurtado. O membro é,
então, movido de forma passiva para nova amplitude, enquanto se processa o
alongamento (figura 4.6).
capítulo 4 • 85
Para fazer o procedimento, o indivíduo contrai concentricamente (encur-
ta) o músculo oposto ao que está limitando a amplitude e, então, mantém a
posição final por pelo menos alguns segundos. Quando o agonista é ativado
e se contrai concentricamente, o antagonista é reciprocamente inibido, o que
permite seu relaxamento e facilita o alongamento.
86 • capítulo 4
amplitude); então, faz-se o paciente executar uma contração isométrica resis-
tida pré-alongamento no músculo que está limitando a amplitude seguida do
relaxamento desse músculo e uma contração concêntrica imediata do músculo
oposto ao que está encurtado.
Alongamento global
Os exercícios de alongamento são usados também com o objetivo de corri-
gir e prevenir desvios posturais, proporcionando maior flexibilidade. Entre os
métodos existentes, podem-se destacar dois muito conhecidos: um que utiliza
posturas estáticas com alongamento global ativo e esforço excêntrico, a reedu-
cação postural global (RPG) que utiliza as cadeias musculares e mantém o alon-
gamento por um longo período de tempo para cada postura (em média 15/20
minutos). A outra, segmentar, que alonga um músculo específico ou grupos
musculares, trabalhando num curto período de tempo, 30 segundos em cada
músculo, com já citado.
Uma característica que diferencia as duas técnicas é que o alongamento de
curta duração é também segmentar enquanto que o alongamento de longa du-
ração é feito em cadeias musculares.
A ideia de cadeias musculares se baseia na observação empírica da criado-
ra do método (Mézières) que percebeu que o encurtamento de um músculo cria
compensações em músculos próximos ou distantes. Portanto, a ideia do alon-
gamento global é, ao invés de tratar um músculo isoladamente, alongar vários
músculos organizados em cadeias. Este conceito se distancia do alongamento
segmentar que trata músculo por músculo encurtado, geralmente aqueles dire-
tamente envolvidos na articulação com diminuição da amplitude de movimento.
Embora não haja trabalhos que comprovem a eficácia deste método, por
se tratar de um alongamento que se estende por muito tempo (20 minutos em
média), ele está de acordo com estudos que afirmam que o tempo necessário
para alongar um tecido é inversamente proporcional à força aplicada. Portanto,
o alongamento de longa duração requer menos força para produzir um ganho
em flexibilidade que só seria possível em alongamentos de menor duração com
a aplicação de uma força muito alta, podendo produzir lesões.
O alongamento global (figura 4.8) tem o seu efeito terapêutico empirica-
mente comprovado. Procurar uma comprovação científica e estabelecer parâ-
metros que comprovem qual é o melhor tipo de alongamento estático, se de
longa duração, excêntrico e em cadeias ou se de curta duração, passivo e seg-
mentado em grupos musculares, é fundamental para constituir bases de um
capítulo 4 • 87
tratamento baseado em evidências científicas, diminuindo o custo e aumen-
tando a efetividade do processo de reabilitação do paciente.
88 • capítulo 4
ATIVIDADE
Elabore uma série efetiva e eficiente de exercícios de autoalongamento para uma pessoa
que trabalha em um escritório, a maior parte do dia, e possa incorporar no seu cotidiano uma
rotina domiciliar diária de preparo físico. Demonstre e ensine cada exercício de autoalonga-
mento para o seu parceiro de laboratório.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Paulo Henrique Foppa de; BARANDALIZE, Danielle; RIBAS, Danieli Isabel Romanovitch;
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DELIBERATO, Paulo. C. Exercícios terapêuticos: guia teórico para estudantes e profissionais. 1.
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ROSÁRIO, José Luís Pimentel do. Reeducação Postural Global e alongamento segmentar: um estudo
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SIMONS, David G.; TRAVELL, Janet G.; SIMONS, Louis S. Dor e Disfunção Miofascial - Manual dos
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capítulo 4 • 89
90 • capítulo 4
5
Exercícios para
diversas áreas do
corpo
5. Exercícios para diversas áreas do corpo
Este último capítulo se propõe a apresentar alguns exercícios utilizados com
mais frequência em espaços terapêuticos para várias partes do corpo. É breve,
pois utilizamos em nossa vida profissional uma gama de exercícios, conceitos
e protocolos validados de forma abrangente. Eles foram compilados para dar a
você um apoio em seu programa de exercícios.
O conhecimento prévio de anatomia, cinesiologia, biomecânica e neurofi-
siologia possibilitarão a escolha e o alcance dos objetivos propostos para cada
paciente. O fisioterapeuta seleciona os mais adequados para cada caso, e, con-
forme a evolução, irá prescrevendo e utilizando outros exercícios, substituindo
ou adicionando conforme necessidade específica.
Aproveite e aprofundem seus conhecimentos junto às aulas práticas, discu-
tindo com seus pares as melhores opções.
OBJETIVOS
• Apresentar de forma sucinta exercícios para coluna vertebral;
• Apresentar de forma sucinta exercícios para membros superiores e inferiores;
• Trazer reflexões sobre algumas propostas de protocolos e exercícios utilizados como recur-
sos de recuperação funcional na fisioterapia.
92 • capítulo 5
posturais adotados durante a infância e adolescência poderão se refletir na vida
adulta dos jovens (Fatores de risco associados a alterações posturais estruturais
da coluna vertebral em crianças e adolescentes (SEDREZ, et al, 2015)
Má postura é a causa de base de muitos distúrbios de coluna e membros.
Com frequência, simplesmente corrigindo as sobrecargas posturais subjacen-
tes, os sintomas primários podem ser minimizados ou mesmo aliviados.
A Organização Mundial de Saúde relata que cerca de 65 a 80% da população
possui ou possuirá um dia o quadro clínico de dor lombar, sendo que 40% desses
casos se tornarão um problema crônico. A lombalgia é um importante problema
clínico, sócioeconômico e de saúde pública, sendo uma das afecções mais co-
muns da coluna vertebral caracterizando-se por quadros dolorosos nas regiões
lombares inferiores, lombossacrais ou sacroilíacas (GALDINO et al, 2015).
Antes de desenvolver um plano de tratamento e escolher a intervenção, ava-
lie e documente os achados do exame do paciente, incluindo história, revisão
de órgãos e sistemas e os testes e medidas específicos, além de pleno conheci-
mento das atividades diárias do indivíduo.
Dentro desse contexto, apresentaremos diretrizes para a intervenção fisio-
terapêutica junto a comprometimentos da coluna vertebral.
Educar o paciente: envolver o paciente em todas as atividades, para que
aprenda o autocuidado. Informar o paciente sobre o progresso esperado
e precauções.
Diminuir os sintomas agudos: modalidades da eletrotermofototerapia, re-
cursos manuais (massoterapia, tração, mobilização e/ou manipulação), confor-
me a necessidade. Repouso intercalado com caminhadas breves.
Desenvolver percepção e controle do alinhamento vertebral: treinamento ci-
nestésico; movimentos cervicais e escapulares, inclinações pélvicas, controle da
coluna neutra. Utilizar procedimentos para desenvolver e reforçar o controle da
postura na posição sentada, em pé, andando e realizando atividades funcionais.
Orientar o paciente sobre a relação entre postura comprometida e os sinto-
mas: praticar posições e movimentos para experimentar o controle dos sinto-
mas em várias posturas.
Ensinar uma biomecânica corporal segura: exercícios funcionais para pre-
paro de uma mecânica corporal segura (agachamentos, avanços, estender os
braços para várias direções, empurrar/puxar objetos, erguer e virar cargas com
a coluna estável).
capítulo 5 • 93
Avaliar ergonomicamente a casa e os ambientes de trabalho e recreação:
adaptar o ambiente de trabalho, casa e recreação.
Aprender a lidar com o estresse e métodos de relaxamento: exercícios de
relaxamento e alívio da sobrecarga postural.
Favorecer a ativação neuromuscular e o controle dos músculos estabilizado-
res: técnicas de ativação dos músculos segmentares profundos:
• Região lombar da coluna vertebral: manobra de “encolher a barriga”, con-
tração de multifídio; avançar nas repetições, enfatizando a resistência muscu-
lar à fadiga; evoluir para exercícios mais elaborados de força;
• Região cervical da coluna vertebral: movimentos suaves da cabeça para a
frente e para trás;
• Estabilização básica: com movimentos ativos de membros superiores e
inferiores e evolução para exercícios dinâmicos de fortalecimento, com resis-
tência à fadiga, enfatizando as metas funcionais.
Identificar atividades aeróbicas seguras: implemente e prossiga com um
programa de exercícios aeróbios.
Desenvolver hábitos de exercícios saudáveis para automanutenção: inte-
grar, na vida cotidiana, um programa de preparo físico, exercícios regulares e
mecânica corporal segura (KISNER E COLBY, 2016).
Podemos observar que a educação na saúde associada à conscientização
corporal e às intervenções específicas levam a resultados efetivos em compro-
metimentos agudos e crônicos da coluna vertebral. Apresentaremos algumas
propostas de intervenção, pois além dos exercícios de alongamento e fortale-
cimento específicos para a coluna vertebral, temos alguns protocolos já vali-
dados e a reeducação postural global, já apresentada no capítulo anterior, com
uma visão de alongamento muscular.
O Dr. Robin McKenzie acreditava que as lombalgias tinham três mecanismos res-
ponsáveis pela causa da dor. A Síndrome de Postura, causada por uma deforma-
ção mecânica dos tecidos moles adjacentes aos segmentos vertebrais. A Síndro-
me de Disfunção, causada por um encurtamento ou aderência tecidual, devido a
má postura ou por contratura do tecido fibroso-colágeno, desenvolvido após um
trauma. E o terceiro e último mecanismo, a Síndrome de Desarranjo causada por
um deslocamento do disco intervertebral. O tratamento é desenvolvido em gran-
94 • capítulo 5
de parte pela extensão, sendo que a flexão também poderia ser incorporada, de
acordo com o mecanismo da lombalgia e com a fase do tratamento (figura 5.1).
O método tem como principal explicação as desordens biomecânicas causadas
por posturas, exercícios ou atividades inadequadas, causando, posteriormente,
alterações estruturais da coluna lombar. Sendo que, através dessas, o tratamento
será conduzido para a alteração específica (LEMOS; SOUZA; LUZ, 2005).
Com outra visão, o Dr. Paul Williams desenvolveu seu método, observando
que a maioria dos pacientes que apresentavam dores lombares crônicas, pos-
suíam alterações degenerativas esqueléticas secundárias a lesões dos discos
intervertebrais. Também acreditava que o homem forçava seu corpo para se
manter ereto, levando a uma deformação da coluna, redistribuindo o peso pelo
corpo nas proximidades dos discos intervertebrais da coluna cervical e lombar.
Essa permanência do homem em pé, aumentaria a lordose lombar, compri-
mindo a parte posterior do disco (L1 a S1), acelerando o processo degenerativo.
Utiliza como princípio do tratamento exercícios de flexão da coluna e quadril.
Com o propósito de reduzir a dor e estabilizar o tronco, desenvolve ativamente
os músculos flexores e alonga passivamente os músculos extensores lombo sa-
cros. Williams dá muito enfoque na questão da inclinação posterior da pelve,
sendo essencial para obter ótimos resultados no tratamento
Os exercícios de flexão de Williams (figura 5.2) são bastante utilizados para o
tratamento de grande variedade de problemas lombares. Em muitos casos, o méto-
do é utilizado quando a causa da desordem ou as características não são bem com-
preendidas. Constantemente os exercícios são ensinados com modificações pró-
prias dos terapeutas. Qualquer modificação dos exercícios deve ser feita sob muita
consideração da ação muscular, porque os exercícios que violam o mecanismo de
inclinação posterior da pelve, podem ser suficientes para prolongar os sintomas
clínicos. Os exercícios em geral visam o fortalecimento dos músculos abdominais,
glúteos e o alongamento de parte da cadeia posterior (LEMOS; SOUZA; LUZ, 2005).
capítulo 5 • 95
Exercício 1
Com as costas apoiadas sobre uma superfície dura,
e com os joelhos dobrados, encolha a barriga e
contraia os músculos das nádegas. Permaneça por
30 segundos e relaxe. Repita esse exercícios até Posição inicial
10 vezes.
Posição do exercício
Exercício 2
Deitado na posição inicial, contraia os músculos
abdominais, cruze os braços sobre o peito, levan-
te a cabeça e leve o queixo em direção ao peito.
Mantenha-se nessa posição durante 20 segundos. Posição inicial
Posição do exercício
Exercício 3
Deitado na posição inicial, levante um joelho em di-
reção ao tórax, alternadamente (direito e esquerdo).
Ao mesmo tempo, levante a cabeça e os ombros do
chão como no exercício 2. Mantenha esta posição Posição inicial
Posição do exercício
96 • capítulo 5
Exercício 4
Deitado na posição inicial, puxe os dois joelhos
em direção ao tórax e, ao mesmo tempo, levante a
cabeça e o ombro do chão. Mantenha esta posição
durante 20 segundos. Relaxe. Repita esse exercício Posição inicial
até 10 vezes.
Posição do exercício
capítulo 5 • 97
capacitar a pessoa a proteger-se ativamente de lesões durante seus movimen-
tos nas suas atividades de vida diária e profissional, seja no plano estático ou
dinâmico. As técnicas de relaxamento muscular também são necessárias, pois
o paciente com dores crônicas na coluna pode ficar com os músculos muito
tensos e contraídos, o que pode gerar ou aumentar a dor. Existe um conceito di-
fundido entre terapeutas e pacientes que os exercícios são fundamentais para
a recuperação de pacientes com dores na coluna, e que os exercícios da coluna
são recomendados para: corrigir a lordose; aumentar a força dos eretores-fle-
xores; aumentar potência dos abdominais; melhorar a postura. O programa da
Escola de Postura tem como estratégia básica a educação e treinamento dos
pacientes que o integram, buscando prepará-los para a prevenção, tratamento
e a convivência com os problemas da coluna vertebral. As premissas da Escola
de Postura é o incentivo para que o paciente assuma a responsabilidade de seu
tratamento e recuperação (MUNIZ e CORRÊA, 2011).
Uma proposta para atendimento em grupo e de educação na saúde, com
incentivo ao auto tratamento.
98 • capítulo 5
O treinamento desses músculos pode ser feito por meio de exercícios espe-
cíficos e tem o objetivo de recuperar a sua contração, que agem como um cin-
turão interno com o diafragma e os músculos do assoalho pélvico. Estes exer-
cícios são associados com a respiração e priorizam a qualidade e percepção da
contração dos músculos estabilizadores, evoluindo para exercícios funcionais
com alterações do centro de gravidade e movimentos amplos de extremidades.
• Reeducação em quatro apoios para o transverso do abdome (TA):
Preconiza-se que a posição inicial no aprendizado seja a posição em quatro
apoios (figura 5.4). Ensina-se ao paciente como localizar e manter as curvas to-
rácica e lombar em posições normais para a execução de exercícios. A partir da
posição inicial, é necessário treinar esse mesmo exercício em decúbito dorsal,
em pé e sentado. A contração do transverso do abdômen pode ser palpada me-
dialmente à espinha ilíaca ântero-superior e inferiormente à cicatriz umbilical.
capítulo 5 • 99
Figura 5.5 – Ponte lateral.
100 • capítulo 5
A literatura sugere que os exercícios de estabilização são positivos tanto na
prevenção, quanto no tratamento da dor lombar crônica, mostrando ser efica-
zes na redução da dor e na melhora da função em indivíduos com lombalgia
(FRANÇA et al, 2008) e parecem ter mais efeitos positivos quando associados a
outras intervenções (VOLPATO et al, 2012).
capítulo 5 • 101
5.1.5 Método Mézieres e a Reeducação Postural Global
Todos os nossos músculos são indiretamente ligados uns aos outros por forma
de cadeias musculares, que são a passagem das linhas de força que percorrem
o nosso corpo, fazendo-o reagir de uma extremidade à outra. Toda atividade
dentro de uma parte do corpo terá repercussões no corpo todo.
A definição clássica de cadeia muscular dada por Françoise Meziéres é:
102 • capítulo 5
ser tratada em níveis frequentemente muito distantes do problema que preo-
cupa o paciente. Mézières considerava que a causa primária das deformidades
eram as lordoses, e estruturou seu trabalho com base na tensão existente nos
músculos posteriores responsáveis pela manutenção da postura estática — a
qual chamou de cadeia muscular posterior — juntamente com os músculos
rotadores internos da coxofemoral e o músculo diafragma. Para tratar essas al-
terações, fazia-se necessário alongar a cadeia posterior inteira, não adiantando
alongar apenas um dos músculos desse conjunto, pois, se assim se fizesse, ha-
veria compensações e, com isso, não se atingiria a principal causa do problema
(VIEIRA, 1998).
Françoise Mézières nasceu na França em 1909, e ensinou o seu método do
fim dos anos 1950 até sua morte em 1991. Acabou influenciando alunos que
vieram a criar suas próprias técnicas, como Philippe-Emmanuel Souchard,
criador do método conhecido como Reeducação Postural Global (RPG), além
de outros teóricos como Godelieve Denys Struyf (Método GDS) Ilda Rolfing (Iso
Streching), Serge Peyrot (MARP), Thérese Bertherat (Antiginástica).
capítulo 5 • 103
• Desenvolver controle dos músculos posturais para dar estabilidade à re-
gião, usando exercícios de estabilização.
• Desenvolver resistência muscular à fadiga.
• Progredir para padrões combinados de movimento que simulem ativida-
des funcionais e treinar os grupos musculares para que funcionem em uma se-
quência coordenada de controle e movimento.
• Integrar tarefas funcionais simples ao programa de exercícios e progredir
para tarefas mais complexas e desafiadoras, sempre incorporando uma mecâ-
nica corporal apropriada.
• Implementar exercícios corporais totais para melhorar a resistência car-
diopulmonar e o equilíbrio.
• Conforme a necessidade, baseando-se nas metas funcionais, incorporar ao
programa de reabilitação exercícios excêntricos de alta intensidade, treinamento
pliométrico (exercícios de alongamento-encurtamento rápido) e exercícios de agi-
lidade com velocidades de movimento cada vez maiores (KISNER E COLBY, 2016).
CONCEITO
Pliometria: uma forma de exercício que busca a máxima utilização dos músculos em mo-
vimentos rápidos e de explosão. Seu conceito baseia-se na exploração do músculo em se-
quências de contrações excêntricas e concêntricas buscando a otimização do mesmo. Se-
gurar e arremessar uma bola e saltar são exemplos de exercício pliométrico, pois trabalha a
contração e o alongamento do músculo de forma sequenciada, buscando a força máxima em
um menor período de tempo.
Exercícios de Codman
Ernest Amory Codman (1869 - 1940) foi um cirurgião norte-americano que
fez importantes contribuições em seis diferentes campos da medicina (aneste-
siologia, radiologia, cirurgia de úlcera duodenal, oncologia ortopédica, cirurgia
do ombro, e também no estudo de desfechos clínicos – mais tarde seria consi-
derado um dos pais da medicina baseada em evidências).
Em 1934, ele propôs um tipo especial de mobilização do ombro, especial-
mente recomendada após o reparo do manguito rotador. Os exercícios de
Codman (figura 5.7), ou exercícios de pêndulo, como também são conhecidos,
consistem basicamente na realização de uma automobilização por meio de
movimentos circulares e pendulares com o braço. Forma simples e custo eficaz
104 • capítulo 5
para diminuir a dor e restaurar a amplitude de movimento do ombro após uma
lesão ou cirurgia. Estes exercícios incorporam três padrões distintos de movi-
mento do ombro: circundução, flexão e extensão (para frente e para trás) e ab-
dução horizontal (de um lado para o outro).
Protocolo de Rockwood
Dentre os protocolos que existem para o fortalecimento dos músculos do
manguito rotador, o mais conhecido é o descrito por Rockwood.
Os exercícios propostos por Rockwood visam o fortalecimento muscular
das estruturas do manguito rotador com o auxílio de faixas elásticas com dife-
rentes resistências, envolvendo movimentos de rotação interna, externa, abdu-
ção, flexão e extensão do ombro.
Treinamento proprioceptivo
A propriocepção (ou cinestesia), termo empregado por Sherrington, por vol-
ta de 1900, é definida como sendo qualquer informação postural e posicional,
encaminhada ao sistema nervoso central (SNC) pelos receptores encontrados
em órgãos, músculos, tendões, ligamentos, articulações ou pele. Em outras pa-
lavras, é a consciência dos movimentos produzidos pelos nossos membros.
É o termo que descreve a percepção do próprio corpo, e inclui a consciência
da postura, do movimento, das partes do corpo e das mudanças no equilíbrio,
além de englobar as sensações de movimento e de posição articular. Embora
seja estudada há muito tempo, a propriocepção ainda é não é totalmente
conhecida.
É impossível falar em propriocepção sem falar em receptores sensoriais.
Afinal de contas são eles que informam o nosso SNC sobre a posição articular e
o nível de tensão muscular (LENT, 2010)
Os receptores sensoriais fazem parte do sistema sensorial somático, res-
ponsável pelas diferentes experiências sensoriais captadas e interpretadas
pelo nosso corpo. A função mais elementar dos receptores sensoriais é prover
o SNC com informações sobre o estado interno de estruturas orgânicas e do
ambiente externo. São eles que definem o que chamamos de sentidos (visão,
audição, sensibilidade corporal, olfação, gustação). Porém, um único receptor
não é capaz de identificar os diferentes estímulos que nos bombardeiam a cada
instante. Desta forma, contamos com diferentes tipos receptores sensoriais,
cada um com características próprias que permitem que ele "sinta" diferentes
estímulos. Podemos classificar os receptores sensoriais de acordo com a sua
função (mecanoceptores, termoceptores, fotoceptores, quimioceptores e noci-
ceptores). Além da classificação funcional, podemos também classificá-los de
106 • capítulo 5
acordo com a sua localização anatômica: exteroceptor, interoceptor e proprio-
ceptor (esta última classe é a que nos interessa no momento).
Os proprioceptores são receptores que se localizam mais profundamente
nos músculos, aponeuroses, tendões, ligamentos, articulações e no labirinto
cuja função reflexa é locomotora ou postural. Podem gerar impulsos nervosos,
conscientes ou inconscientes. Os primeiros atingem o córtex cerebral e per-
mitem que, mesmo de olhos fechados, se tenha a percepção do próprio corpo,
seus segmentos, da atividade muscular e do movimento das articulações. São
responsáveis pelo sentido de posição e de movimento (cinestesia).
Estes receptores desempenham, em simultâneo, a função de detectar todas
as variações mecânicas e de enviar a informação recolhida ao sistema nervoso
central. Para além dos proprioceptores, o aparelho vestibular e o sistema visual
também fornecem importantes informações somatosensoriais. Pode-se dizer,
portanto, que a propriocepção é responsável pelo envio constante de informa-
ção sobre eventuais deslocamentos de segmentos no espaço auxiliando-nos
nas diversas tarefas motoras. Apropriadamente, os proprioceptores estão loca-
lizados nos músculos (fusos musculares), tendões (órgãos tendinosos de Golgi)
e nas cápsulas articulares (corpúsculos de Ruffini e Pacini).
A propriocepção, num sentido amplo, atua como atividade reflexa no caso
de movimentos bruscos, inesperados ou simplesmente na mudança de direção
de determinado movimento. Ou seja, é um mecanismo que protege as articula-
ções. Ela é efetiva devido à presença de receptores específicos que são sensíveis
a alterações físicas, como variações na angulação de uma articulação, rotação
da cabeça, tensão exercida sobre um músculo, e até mesmo o comprimento da
fibra muscular.
Alguns dos sensores, como já citados, responsáveis por tais sensações:
• Órgãos tendinosos de Golgi, que são sensíveis à tração exercida nos ten-
dões indicando a força que está sendo exercida sobre a musculatura, impedin-
do lesões.
• Fuso muscular, que se divide em dois subtipos, fuso neuromuscular de
bolsa, e de cadeia nuclear, sendo estes responsáveis pelo comprimento da fibra
muscular no repouso (postura) e durante o movimento.
• Sistema vestibular, localizado no ouvido junto à cóclea, é sensível a altera-
ções angulares da cabeça. As alterações podem ser no sentido vertical (rotação
vertical, deslocamento do queixo para cima e para baixo) ou horizontal (rota-
ção horizontal ou lateral, deslocamento do queixo lateralmente ou seja, direi-
ta e esquerda). Este sistema também atua na identificação da posição de todo
capítulo 5 • 107
o corpo, permitindo que alguém saiba se está deitado, em pé ou em qualquer
outro posicionamento espacial. Perturbações no sentido de equilíbrio podem
levar a correções inadequadas, que em casos extremos podem impedir a manu-
tenção da posição vertical, além de causar vertigem e náusea.
Figura 5.9 – Equipamentos (pranchas bipodal e unipodal, bolas terapêuticas, balancim) para
exercícios de propriocepção.
108 • capítulo 5
5.3 Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP)
capítulo 5 • 109
Princípios:
• O enfoque terapêutico é sempre positivo, reforçando e utilizando o que o
paciente pode fazer, em nível físico e psicológico.
• O objetivo primário de todo tratamento é facilitar o paciente a alcançar
seu mais alto nível funcional.
• FNP é uma abordagem global: cada tratamento é direcionado para o ser
humano como um todo e não para um problema especifico ou um segmento
corporal.
Procedimentos básicos:
• Resistência: auxilia a contração muscular e o controle motor e aumenta
a força.
• Irradiação e reforço: utilizam a deflagração da resposta ao estímulo.
• Contato manual: aumenta a força e guia o movimento com toque e
pressão.
• Posição corporal e biomecânica: guiam e controlam o movimento por
meio do alinhamento do corpo, dos braços e das mãos do terapeuta.
• Comando verbal: utiliza palavras e tom de voz apropriada para direcionar
o paciente.
• Visão: usa a visão para guiar o movimento e aumentar o empenho.
• Tração e aproximação: o alongamento ou a compressão dos membros e
do tronco facilita o movimento e a estabilidade.
• Estiramento: o uso do alongamento muscular e do reflexo de estiramento
facilita a contração e diminui a fadiga.
• Sincronização de movimentos: promove sincronismo e aumenta a força
da contração muscular por meio da “sincronização para ênfase”.
• Padrões de facilitação: movimentos sinérgicos em massa são componen-
tes do movimento funcional normal.
110 • capítulo 5
5.4 Abordagem neuroevolutiva no tratamento de doenças
neuromusculares
capítulo 5 • 111
do potencial do paciente e do terapeuta, em um processo interativo, que forne-
ce estrutura para a prática, com vivência, execução e aprendizagem do movi-
mento e da postura.
ATIVIDADE
Elabore um circuito efetivo e eficiente de exercícios propriocepção para um grupo de idosos.
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capítulo 5 • 113
ANOTAÇÕES
114 • capítulo 5