Você está na página 1de 37

EXPLORAÇÃO DO SUBSOLO

7.1 INTRODUÇÃO

Qualquer obra de engenharia civil, por mais simples que seja, só pode ser
convenientemente projetada depois de um adequado conhecimento do terreno (subsolo) no
local em que vai ser implantada. No caso de obras nas quais os solos ou rochas são utilizados
como materiais de construção, como nas barragens, aterros, etc, torna-se também necessário
conhecer o subsolo das áreas que servirão de jazidas ou empréstimos para estas obras.
O planejamento para uma exploração do subsolo visando obter informações e
características de um terreno deverá ser função de alguns importantes fatores que serão
comentados mais adiante.
O conhecimento adequado das condições do subsolo do local onde deverá ser
executado a obra, é fator essencial para que o engenheiro de projeto possa desenvolver
alternativas que levem a soluções tecnicamente seguras e economicamente viáveis. O
conhecimento das condições do subsolo deve vir de um planejado programa de investigação
de forma a prover de dados, tanto o projetista quanto o construtor, no momento que deles
necessitarem.
Um programa de investigação deve levar em consideração a importância e o tipo da
obra, bem como a natureza do subsolo. Assim, a construção de um metro de uma barragem
necessita de um conhecimento mais minucioso do subsolo do que aquele necessário a
construção de uma residência térrea. Solos que apresentam características peculiares de
comportamento, como colapso, alta compressibilidade, elevada sensibilidade, e outras exigem
cuidados e técnicas diferentes das utilizadas em solos com comportamento típico.
Um programa de investigação deve fornecer várias informações do subsolo, dentre as
mais importantes pode-se considerar:
• Espessura e dimensões em planta de cada camada para a profundidade de interesse do
projeto, além da caracterização de cada camada através de observações locais ou de
resultados de laboratório.
• Profundidade do topo da camada rochosa ou do material impenetrável ao amostrador.
No caso da rocha, o tipo e suas condições geológicas.
• Existência de água com a respectiva posição do nível d’água no período da
investigação e, se possível, sua variação durante o ano. Se for o caso indicar a
existência de pressões artesianas.
• As propriedades do solo ou da rocha, tais como, permeabilidade, compressibilidade e
resistência ao cisalhamento.
Nem sempre os projetos necessitarão de todas estas informações, enquanto que para
certos projetos específicos, alguns dados não relacionados acima poderão ser necessários.

7.2 TIPOS DE OBRAS E SEUS PROBLEMAS ESPECÍFICOS

Para fins de investigação do subsolo, as obras ou estruturas podem ser divididas em


três categorias:
• Estruturas para as quais o problema básico é a interação com o solo adjacente. Como
exemplo podemos citar os muros de contenção, estacas pranchas, túneis e condutos
7:1
enterrados. Nestes casos o principal interesse é o conhecimento das características
carga-deflexão da superfície de contato.
• Estruturas como aterros rodoviários ou ferroviários, barragens de terra, enrocamento,
bases e sub-bases de pavimentos como também maciços suportados pelos muros de
arrimo, onde além de se levar em conta a interação solo-estrutura, torna-se necessário
conhecer as propriedades dos materiais usados na construção de modo que se possa
prever o comportamento da própria estrutura.
• Estruturas naturais de solo ou rocha, tais como as encostas naturais e os taludes de
cortes. Nesses casos é imprescindível o conhecimento das propriedades dos materiais
quando submetidos às mais diversas condições.

7.3 CONDIÇÕES GEOLÓGICAS DO LOCAL

O conhecimento prévio da geologia local é de suma importância em qualquer


investigação geotécnica o conhecimento prévio da geologia local.
As informações obtidas a partir de mapas geológicos, fotografias aéreas ou de satélites
e ainda reconhecimento expedito no campo, poderão indicar em termos gerais, a natureza dos
solos, os tipos de rocha, suas propriedades de engenharia mais significativas e as condições do
lençol d’água.
O estudo da geologia local não é importante apenas para indicar a possibilidade de
ocorrências que poderão trazer problemas futuros à obra, devido por exemplo àqueles
provocados por horizontes de solos moles, depósitos de talus ou presença de matacões, como
também é muito útil na interpretação dos resultados obtidos nas investigações.

7.4 CARACTERÍSTICAS DO LOCAL

As condições físicas da área a investigar são decisivas na escolha de um programa de


investigação. Alguns serviços levados à efeito facilmente em terreno firme tornam-se
impossíveis ou extremamente onerosos se previstos para serem realizados com a ocorrência
d’água.

7.5 OBJETIVOS DE UM PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO

As informações básicas necessárias para um programa de investigação do subsolo são:


a) Determinação da extensão (ou área em planta), profundidade e espessura de cada
horizonte (camada) de solo, além de uma descrição do solo, deve incluir a
compacidade se for solo granular e o estado de consistência se o mesmo for coesivo.
b) A profundidade da superfície da rocha e sua classificação, incluindo informações
sobre extensão (ou área em planta), profundidade e espessura de cada extrato rochoso,
mergulho e direção das camadas, espaçamento de juntas, planos de acamamento,
presença de falhas e o estado de alteração e decomposição.
c) Informações sobre a ocorrência de água no subsolo: profundidade do lençol freático e
suas variações e lençóis artesianos (caso exista).
d) Coleta de amostras indeformadas que possibilitem quantificar as propriedades
mecânicas do solo com que trata a Engenharia: compressibilidade, permeabilidade e
resistência ao cisalhamento.

NOTA: Em muitos casos nem todas as informações acima são necessárias, e em outros seriam
suficientes valores estimativos.

7:2
Em se tratando de fundações de estruturas convencionais já está celebrizado que elas
devem satisfazer três requisitos básicos:
• A carga de trabalho deve ser adequadamente menor que a capacidade de suporte do
solo, de modo a assegurar à fundação um determinado fator de segurança;
• Os recalques total e diferencial devem ser suficientemente pequenos e compatíveis
com a estrutura para que a mesma não venha a sofrer danos causados pelos
movimentos das fundações.
• Os efeitos da estrutura e da sua construção nas obras vizinhas devem ser avaliados e as
necessárias medidas de proteção devem ser levadas a efeito.
Dependendo da natureza do terreno investigado, muitos casos são resolvidos apenas
com as informações referidas na seção 3.1 através das sondagens de reconhecimento que
fornecem as correlações entre as indicações sobre a consistência ou compacidade dos solos e
suas cargas admissíveis.
Visando uma racionalização do projeto e, conseqüentemente da execução da obra é
desejável que as condições do subsolo que afetarão a construção sejam também analisadas.
Pode-se aqui citar a necessidade de escoramento de escavações e o rebaixamento do lençol
d’água subterrâneo.
Há ainda que ser considerado que as propriedades químicas do solo e da água do
terreno devem ser freqüentemente determinadas para avaliar principalmente o risco de
corrosão de obras de concreto (fundações profundas) e de peças metálicas tais como
tubulações de ferro.
É muito bem conhecido que alguns sais solúveis atacam de várias maneiras as
estruturas de engenharia com as quais mantém contato. Os sais em questão são usualmente os
sulfatos, principalmente os de sódio, magnésio e cálcio. Os sulfatos de sódio e magnésio são
mais solúveis que os sais de cálcio sendo, portanto potencialmente mais perigosos. Dessa
forma, determina-se através de ensaio quantitativo a proporção de sulfatos no solo e também
da acidez ou alcalinidade (valor de pH) da água do solo ou simplesmente pH do solo.

7.6 ETAPAS DE INVESTIGAÇÃO

Um programa de investigação deverá ser executado em etapas de tal forma que, de


posse dos dados obtidos em uma fase a sua interpretação e utilização no projeto possam
detectar novas necessidades e assim permitir elaborar um programa para a fase seguinte.
Portanto, um programa de investigação poderá abranger as fases de reconhecimento,
prospecção e acompanhamento. Embora uma obra nem sempre necessite de todas estas fases
de investigação. A Tabela 1 (Anexo 1) resume os processos utilizados em cada uma das fases
de investigação e que serão descritos nos itens seguintes.

7.6.1 RECONHECIMENTO

São determinadas as naturezas das formações locais, as características do subsolo para


definir as áreas mais adequadas para as construções. Deve prover de informações necessárias
ao desenvolvimento dos estudos iniciais da obra e também permitir que seja definida uma
programação para a fase seguinte. Esta fase de investigação não será necessária para obras
que se localizam em uma área limitada, sendo muito útil em obras que ocupam áreas maiores,
como barragens e estradas.
O trabalho é desenvolvido principalmente no escritório com consulta a documentos
existentes, tais como, mapas geológicos, aerofotos, trabalhos já executados no local para fins
diversos, coleta de dados com moradores da região e qualquer outra fonte que possa melhorar
o conhecimento do local. Se necessário, um geólogo ou engenheiro de solos deverá percorrer

7:3
a região, realizando uma vistoria na região.
O conjunto de informações obtidas deve ser suficiente para o planejamento e execução
do programa de trabalho para a fase seguinte.

7.6.2 PROSPECÇÃO

A prospecção é a fase da investigação que fornecerá características do subsolo de


acordo com as necessidades do projeto ou do estágio em que a obra se encontra. Dessa forma,
a prospecção poderá ser subdividida em preliminar, complementar ou localizada.
A prospecção preliminar deverá fornecer dados suficientes para permitir a localização
das estruturas principais do projeto com a estimativa de seus custos, bem como definir a
viabilidade técnica-econômica da obra. A espessura e dimensões em planta das camadas que
serão exigidas pela construção, deverão ser estudadas com os detalhes devidos. A possível
área de empréstimo deverá ser investigada e o volume determinado para cada uma delas. A
retirada de amostras do terreno de fundação das estruturas e das áreas de empréstimo para
ensaios de laboratório, será necessária para a determinação das propriedades e comportamento
dos solos. Não havendo disponibilidade de mapas geológicos da região, deverão ser
realizados trabalhos de mapeamento do local com traçado de seções nas direções principais do
projeto. A dimensão do programa nesta fase dependerá da natureza do projeto e do solo e
deve ser suficientemente flexível para permitir ajustes que levem ao melhor projeto.
A prospecção complementar deverá preencher as lacunas deixadas pelo programa
anterior, realizando investigações adicionais. Durante a prospecção preliminar, possivelmente
alguns aspectos particulares do subsolo tenham sido despercebidos em alguns pontos. Neste
caso haverá a necessidade de se executar uma exploração detalhada nestes locais através da
retirada de amostras de grande diâmetro, ensaios in situ e abertura de poços ou túneis. As
informações obtidas até esse momento não são suficientes para à preparação do edital de
concorrência e na elaboração e especificação de construção.
A prospecção localizada deverá ser realizada sempre que uma particular estrutura não
pode ser adequadamente projetada ou o comportamento do solo não pode ser adequadamente
avaliada com as informações obtidas anteriormente.
A seguir serão descritos os processos utilizados na fase de prospecção, detalhando-se
aqueles mais usados no Brasil (Ver Tabela 1 – Anexo 1).

7.6.2.1 ANTEPROJETO

Realizados nos locais indicados na etapa anterior, permitindo a escolha de soluções


para as obras e se for o caso o dimensionamento das fundações.

7.6.2.2 PROJETO EXECUTIVO

Tem por finalidade complementar as informações geotécnicas disponíveis, visando a


resolução de problemas específicos do projeto de execução. Deve ser realizado sempre que
surgem problemas não previstos nas etapas anteriores. Dependendo do vulto da obra e de suas
peculiaridades, algumas das etapas assinaladas podem ser dispensadas.

NOTAS: 1.Tanto a escolha do método e da técnica como a amplitude das investigações devem ser
funções das dimensões (cargas) e finalidades da obra. das características do terreno, inclusive dos
dados disponíveis de investigações anteriores e da observação do comportamento de estruturas
próximas. 2) Sem dúvida, para um estudo prévio, os mapas geológicos fornecem muitas vezes
indicações úteis sobre a natureza dos terrenos.3) Da mesma forma, o conhecimento do
comportamento de estruturas próximas existentes, em condições semelhantes à que se pretende

7:4
projetar, no que diz respeito à pressão admissível do terreno, tipo de fundação e características da
estrutura propicia valiosos subsídios.

7.6.3 ACOMPANHAMENTO

A fase de acompanhamento de uma investigação do subsolo começa durante a


construção e continua após o termino da obra com a finalidade de se avaliar as hipóteses do
projeto e fazer comparações entre o comportamento previsto e o apresentado pelo solo. Este
acompanhamento é realizado através de instrumentos instalados antes e durante a construção
para a medida da posição do nível d’água da pressão neutra, tensão total, recalque,
deslocamento, vazão e outros itens que possam vir a interessar. Esta parte da mecânica dos
solos, que vai desde o desenvolvimento dos instrumentos até a medida dos valores, constitui
uma parte muito importante, denominada de instrumentação. Para um maior conhecimento
deste assunto sugere-se a leitura, entre outros, dos trabalhos de (Hanna, 1972; Hvorslev, 1949;
Lindquist, 1963). Neste último trabalho, o autor descreve com clareza e precisão alguns
pontos importantes da instrumentação, tais como, seu valor e suas limitações, classificação e
descrição dos instrumentos de medidas baseando-se na experiência da CESP (Cia Energética
de São Paulo) e terminando por apresentar sugestões que facilitarão a vida de um iniciante da
área.

7.7 CUSTO DE UMA INVESTIGAÇÃO

A investigação desejável é aquela que fornece os elementos necessários no prazo


previsto e com custo compatível com o valor da informação. Pode-se estimar, empiricamente,
o custo das investigações do subsolo entre 0,5% e 1% do custo da construção da obre. A
porcentagem mais baixa refere-se aos grandes projetos e projetos sem "condições críticas de
execução". A porcentagem mais alta diz respeito aos projetos menores ou com "condições
críticas de execução". No entanto, sem um conhecimento prévio do subsolo não é possível
nem mesmo escolher o tipo de fundação para uma obra. Na maioria dos casos nem é mesmo
conveniente comprar um terreno sem que se tenha idéia da natureza do subsolo e se o mesmo
conduz a uma solução econômica para o que se pretende construir. A importância desses
estudos é de tal forma evidente que já se comparou o engenheiro que o omitisse com um
cirurgião que operasse sem um prévio diagnóstico ou com um advogado que defendesse uma
causa sem um prévio entendimento com seu cliente. Assim, pode-se dizer que a importância
de uma investigação pode ser medida pelo custo na construção se a investigação não tivesse
sido feita.
Quando um projetista trabalha com informações insuficientes ou inadequadas tem
forçosamente que compensar essa deficiência com um super dimensionamento. Quando um
empreiteiro recebe informações incompletas certamente ele aumenta seu orçamento visando
"cobrir" possíveis imprevistos, tais como alteração de projeto ou do método construtivo.
Assim, conclui-se que o custo de informações incompletas (inadequadas) é maior que o custo
da correta investigação.

7.8 RISCOS NAS INVESTIGAÇÕES

Quando se trata de uma estrutura de aço ou de concreto, por exemplo, os projetistas


podem especificar as características desses materiais e controlar com uma certa facilidade se
os materiais fornecidos ou fabricados na obra atendem às especificações. No caso de solo e
rochas, torna-se difícil um controle rígido de qualidade.
Importantes informações podem estar escondidas pelas camadas superficiais ou ainda
por espessas vegetações e ainda há que se considerar que o fabricante não pode ser chamado
7:5
para dar explicações de uma certa especificação ou garantir um certo padrão de qualidade.
Portanto avaliar o subsolo é muito difícil e há uma margem de insegurança muito maior do
que quando do estabelecimento das propriedades de qualquer outro material de construção.
Haverá, assim, sempre algum risco pelo surgimento de condições desconhecidas; risco
este que nunca será totalmente eliminado, mas que deve ser minimizado por um programa de
investigação bem planejado, especificado e executado cuidadosamente. Para tanto, impõe-se
uma fiscalização rigorosa para garantir que a finalidade das investigações está sendo
adequadamente interpretada e cumprida, e que os objetivos estão sendo alcançados. É
necessário um acompanhamento a cada passo para que possam ser procedidas eventuais
modificações no programa de exploração à medida que as condições do subsolo sejam
determinadas.
O executante (firma) das sondagens deve manter estreita ligação com os projetistas de
modo que as decisões de engenharia possam ser feitas sem que haja descontinuidade na
elaboração dos projetos.
Por menor que seja o porte do serviço, é extremamente importante que o mesmo seja
acompanhado por um técnico conhecedor do assunto.
O operador, mesmo que experimentado no uso do equipamento e métodos de
perfuração, trabalha de forma mais efetiva quando adequadamente instruído sobre o que ele
deve obter. Portanto, é importante a decisão do engenheiro e não se deve esperar do operador
sobre quais informações deve dar, que procedimento seguir até o encerramento de uma
sondagem.

NOTA:
NBR 6497 de MAR/1983 - Levantamento geotécnico - Procedimento
NBR 6044 de JUN/1983 - Projeto geotécnico - Procedimento

7.9 CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS

Sendo a prospecção geotécnica um conjunto de operações destinadas a determinar a


natureza, disposição, conformação e outras características de um terreno em que se vai
realizar uma obra, os seus métodos classificam-se em: indiretos, semidiretos e diretos.

7.9.1 MÉTODOS INDIRETOS

São aqueles em que as determinações das propriedades das camadas do subsolo são
feitas indiretamente pela medida da resistividade elétrica ou da velocidade de propagação de
ondas elásticas (ondas sonoras). Os índices medidos mantêm correlações com a natureza
geológica dos diversos horizontes, podendo-se ainda determinar suas respectivas
profundidades e espessuras e ainda o nível d’água. Incluem-se nessa categoria os métodos
geofísicos.
Os processos indiretos apresentam a vantagem de serem rápidos e econômicos,
principalmente em obras de grande porte ou de grande comprimento linear. Além disso,
fornecem informações numa zona mais ampla e não apenas em torno de um furo como na
maioria dos processos diretos. Contudo, a interpretação destas informações exige, quase
sempre, que se leve a efeito as prospecções diretas. Em geral estes processos detectam
singularidades do terreno (presença de grandes blocos de rocha ou cavidades subterrâneas) o
que é especialmente importante no estudo preliminar do projeto de grandes obras (aterros,
pontes, barragens, etc). O seu emprego pode reduzir a execução de outros ensaios, facilitando,
por exemplo, no planejamento e localização de furos de sondagens, conduzindo a uma
redução do custo de uma investigação assim como nos estudos principalmente quando se trata

7:6
de áreas muito extensas (estradas) a serem exploradas. No Brasil as utilizações dos métodos
indiretos na prospecção encontram-se em franco desenvolvimento.
Toda vez que uma grande área tiver que ser investigada sem necessidade de
detalhamento das condições do subsolo, os processos geofísicos são os mais indicados devido
a rapidez de execução e baixo custo. Nestes processos não são retiradas amostras nem
fornecem indicações quanto aos tipos de solos abrangidos pelos ensaios. São, em geral,
satisfatórios quando se pretende determinar a profundidade da camada rochosa ou localizar
irregularidades no subsolo criadas por materiais em contacto de características bem diferentes
e só poderiam ser detectadas por outros processos de prospecção a um custo muito maior.
A existência e localização do nível d’água podem também ser detectada, embora as
condições locais possam prejudicar a interpretação dos resultados e levar a valores diferentes
dos reais.
Entre os processos geofísicos existentes os mais usados na prospecção do subsolo na
engenharia civil são o ensaio de resistividade elétrica e o ensaio sísmico. O primeiro mede a
resistividade elétrica que um material apresenta à passagem de uma corrente elétrica. As
diferenças na resistividade indicam condições diferentes do subsolo, lembrando que, quanto
mais densa e menor teor de umidade a camada apresentar mais alto será o valor da
resistividade. O ensaio sísmico é baseado no princípio de que a velocidade de propagação de
uma onda é maior em um meio mais denso. A sua aplicação a camadas pouco profundas é
relativamente recente, mas já era utilizado há muito tempo na exploração de petróleo.
A utilização dos processos indiretos na investigação do subsolo requer uma mão de
obra qualificada e pessoal de muita experiência na interpretação dos resultados (Acker III,
1974; Mineiro, 1976).

7.9.2 MÉTODOS SEMIDIRETOS

São processos que fornecem informações sobre as características do terreno sem


contudo possibilitarem a coleta de amostras. Os valores obtidos através de correlações
indiretas possibilitam obter informações sobre a natureza dos solos.
Os métodos ou processos semidiretos foram desenvolvidos por causa de dificuldade na
execução de amostragem em alguns tipos de solos, como areias puras ou submersas, e argilas
sensíveis de consistência muito mole. Assim, os processos semidiretos, que são ensaios
executados in situ, têm a vantagem teórica de minimizarem as perturbações causadas pela
variação do estado de tensões e distorções inevitáveis provocadas durante o processo de
amostragem além de evitar choques e vibrações decorrentes do transporte e subseqüente
manuseio das amostras. Além disso, o efeito da configuração geológica do terreno está
presente nos ensaios in situ de modo que eles permitem uma medida mais realística das
propriedades físicas de uma formação. Os ensaios mais utilizados no Brasil serão
apresentados a seguir.

7.9.2.1 ENSAIO DE PALHETA

O ensaio de palheta também conhecido por Vane


Test foi introduzido na Suécia com o objetivo de medir a
resistência ao cisalhamento não drenado de solos coesivos
moles saturados. O equipamento utilizado no ensaio e
desenvolvido pelo U.S. Bureau of Reclamation, está
mostrado na Figura 22, sendo suas partes principais, a
palheta colocada na extremidade inferior das hastes e uma
mesa, situada na boca do furo, contendo um dispositivo de

7:7
aplicação do momento de torção e acessórios para medida do momento e das deformações.
O diâmetro e a altura da palheta devem manter uma relação constante de 1:2, existindo
diversos modelos, conforme mostrado na Tabela 5, que deverão ser usadas com os tubos de
revestimento mostrados na mesma tabela. Solos mais moles requerem palhetas maiores
conforme normalizado (ASTM-D 2573-76).
Para a instalação da palheta na cota de ensaio, deve ser aberto um furo por um
processo qualquer, devendo-se tomar o devido cuidado para não amolgar o solo a ser
ensaiado. Com a palheta na posição do ensaio deve-se girar a manivela as velocidades
constantes, fazendo-se medidas da deformação do anel dinamométrico a intervalos de tempo
até atingir o momento máximo. Em seguida, deve--se girar a manivela, rapidamente, com um
mínimo de 10 revoluções para se garantir o amolgamento da argila e, logo em seguida realizar
novo ensaio para se medir a resistência da argila amolgada e com isto calcula-se a
sensibilidade da argila.

PALHETA
C x 103
REVESTIMENTO d H
m-3
(mm) (mm)
AX 38 76 4,972
BX 51 102 2,057
NX 63 126 1,091
102 mm 92 184 0,350

Durante a rotação da palheta será desenvolvida uma resistência ao cisalhamento ao


longo da superfície lateral, base e topo do cilindro. No instante da ruptura, pode-se admitir
que o momento resistente será igual ao momento de torção aplicado, e com isto calcular a
resistência não drenada da argila representada pela coesão. O momento aplicado é igual a
soma dos momentos desenvolvidos nas superfícies lateral, topo e base do cilindro.
Mo = Mol + 2 Mob (4)
onde Mol, momento ao longo da superfície lateral é igual a
π
M ol = ⋅ d 2 ⋅ H ⋅ c (5)
2
e Mob momento desenvolvido ao longo do topo e base.
d2
M ob = π ⋅ c ⋅ (6)
12
Substituindo (5) e (6) em (4) e tornando-se H = 2 d , tem-se o valor da coesão da argila.
6
c= ⋅Mo
πd 3
6
Na Tabela 5, em sua ultima coluna estão mostrados os valores da constante C = para
7πd 3
palhetas com diversos diâmetros e medidos em metros; medindo-se Mo em N⋅m o valor da
coesão será em kPa.
Diversos fatores, dentre os quais a velocidade de rotação e a heterogeneidade da
camada de argila, podem influenciar no resultado do ensaio. As hipóteses de superfície
cilíndrica de ruptura e distribuição uniforme das tensões levam ao cálculo de valores distantes
aos dos reais.

NBR 10905 de OUT/1989 - Solo - Ensaio de palheta in situ - Método de Ensaio.

7.9.2.2 ENSAIO DE PENETRAÇÃO ESTÁTICA DE CONE (CPT)

7:8
Desenvolvido na Holanda e muito utilizado nas Américas, este ensaio é também
conhecido por DEEP-SOUNDING ou DEEPSOUNDERING ou ainda CONE PENETRATION
TEST (CPT). É usado para complementar informações já obtidas em outras investigações já
realizadas, principalmente para projetos de fundações profundas. Os dados obtidos no ensaio,
quando usados em correlações, fornecem boas indicações das propriedades do solo como:
ângulo de atrito interno e compacidade de areias, coesão e consistência das argilas,
compressibilidade e resistência ao cisalhamento. Tais dados são facilmente utilizáveis no
dimensionamento de estacas cravadas.

NBR 12069 de JUN/1991 - Solo - Ensaio de Penetração de Cone in situ - (CPT) - Método de
Ensaio.

7.9.2.2.1 PENETRÔMETROS

Os penetrômetros são ferramentas utilizadas na obtenção de resistências as


penetrações do solo devido a uma energia de cravação dinâmica ou estática. Por isto são
geralmente denominados de penetrômetros dinâmicos ou estáticos. Por serem de ponta
fechada não retiram amostra do solo durante o processo de cravação.
Os penetrômetros dinâmicos são cravados no solo, com a energia gerada pela queda
livre de um martelo, conforme mostrado na Figura 16, e de acordo com a energia de cravação
podem ser classificados em, leves, médios e pesados. A cravação deve ser realizada a uma
velocidade constante de 30 golpes por minuto, sem interrupções. A resistência à penetração
definida como o número de golpes necessários a cravação de 25 cm no solo poderá ser
transformada em unidades de pressão através da "formula dos Holandeses", (Sanglerat, 1972):
M m2 H
Rd = 4 N 25
(M m + M h )Ap
onde: Rd = resistência à penetração, em unidades de pressão
Mm = massa do martelo
Mh = massa total das hastes
H = altura de queda do martelo
Ap = área da ponta do penetrômetro
N25 = número de golpes necessários a cravação de 25 cm

O resultado de um ensaio é apresentado em gráfico com as cotas em ordenadas e o


número de golpes (N25) ou a resistência a penetração (Rd) em abscissas. O baixo custo e a
rapidez de execução do ensaio são fatores de sua utilização na prospecção de grandes áreas,
enquanto a não obtenção de amostras é um dos inconvenientes do ensaio (pouco usado no
Brasil). Alguns problemas de interpretação do resultado do ensaio devido a fatores ligados ao
solo e ao aparecimento de atrito lateral são comentados em (Schultze, 1957).

7:9
Para a medida da resistência as penetrações estáticas do solo são utilizadas dois tipos
de penetrômetros, os de ponta fixa e os de ponta móvel.
O penetrômetro de ponta fixa não tendo movimento com relação às hastes medirá a
resistência total do solo não se podendo separar as resistências de ponta e de atrito lateral.
Como exemplo, tem-se o desenvolvido por Terzaghi, em 1929, para estudar o comportamento
de uma camada de areia (Figura 17). A pressão necessária à cravação do penetrômetro de um
comprimento igual a 25 cm será lida em um manômetro situado na superfície do terreno.
Após a realização do ensaio é injetada água sob pressão pelo interior das hastes e com isso
tornando mais fácil à descida do revestimento de um comprimento igual ao ensaiado. A
circulação de água conforme mostrado na Figura provoca a limpeza do furo e possibilitando o
ensaio em um novo trecho (Terzaghi-Peck, 1967).

O penetrômetro de ponta móvel


difere do anterior, pela possibilidade de se
medir separadamente as resistências de
ponta e total e por diferença a de atrito
lateral desenvolvida ao longo de um
comprimento especificado. Este
penetrômetro foi desenvolvido pelo
Laboratório de Mecânica dos Solos de
Delft, Holanda e o ensaio realizado se
tornou conhecido como Ensaio de
Penetração Continua (EPC) ou Cone
Penetration Test (CPT), (Begeman, 1953), sendo o mais usado no Brasil, podendo-se
encontrar mais detalhes do penetrômetro mostrado na Figura 18, em (Begeman, 1953 e 1965;
Sanglerat,1972).
As medidas das resistências de ponta e total são feitas da seguinte forma; com o
penetrômetro na cota de ensaio, a sua ponta é cravada no solo através de uma haste interna
que é forçada por um sistema hidráulico na superfície, sendo medida a força necessária a esta
cravação (l para 2, na Figura 18). Devido a um sistema próprio do equipamento, a camisa e a
ponta são cravadas, medindo-se a força usada para a obtenção da resistência total, ou seja a de
ponta mais atrito lateral ao longo da superfície de 13 cm de altura (2 para 3, na Figura 18). O
passo seguinte será a colocação do penetrômetro em nova posição de ensaio, geralmente
realizado a cada 20cm. Para isto, pressionam-se as hastes externas podendo nesta fase medir a
resistência total do conjunto (ponta mais atrito lateral ao longo do comprimento das hastes).
Os resultados de um ensaio são apresentados como mostrados na Figura 19 (Anexo 3),
onde também aparecem os resultados obtidos em uma sondagem de simples reconhecimento.
Uma análise ampla do ensaio e dos resultados obtidos foi feita por Schmertmann
(1976). Neste trabalho está indicado o conhecimento necessário à interpretação do ensaio
7:10
tendo em vista a identificação dos solos, a uniformidade e continuidade das camadas,
permeabilidade e resistência ao cisalhamento dos materiais encontrados, ao controle da
compactação e ao projeto de fundações em sapatas e estacas pelos critérios de capacidade de
carga e de recalques. Faz uma análise das vantagens do ensaio, como rapidez, economia,
informações quase pontuais e também das desvantagens, como não obtenção de amostras para
inspeção visual, a não penetração em camadas muito densas, a presença de pedregulhos pode
tornar os resultados extremamente variáveis e de difícil interpretação, enquanto a presença de
matacões pode interromper a penetração para dar á ilusão de se ter atingido rocha.
O ensaio de penetração estática não foi ainda normalizado pela ABNT, podendo-se
usar a norma americana ASTM-D 3441.
Existem outros tipos de penetrômetros, tanto de ponta fixa como móvel e que poderão
ser encontrados em Sanglerat (1972), Esopt (1974).

7.9.2.3 ENSAIO PRESSIOMÉTRICO

O princípio do pressiômetro foi idealizado por Köegler e Scheidig em 1930. A


utilização do pressiômetro na determinação in situ das características de resistência e de
compressibilidade do solo foi aperfeiçoada a partir do trabalho de Ménard (1957) e da criação
do Centro de Estudos Ménard (CEM), na França. Diferentes tipos de pressiômetros foram
desenvolvidos neste Centro, cada um com características específicas para permitir utilização
em solos moles até mesmo em rocha (Baguelin et alli, 1976).
O aparelho é constituído de três partes: a sonda, a unidade de controle e as tubulações
unindo as duas primeiras partes tal como mostrado no esquema
da Figura 23.
A sonda é formada por três células passíveis de se
dilatarem quando solicitadas. A célula do meio é utilizada na
determinação das características do solo, enquanto, as células das
extremidades servem de proteção e estabelecimento de um
campo de tensões homogêneo na região do ensaio. A Tabela 6
mostra as dimensões principais de duas sondas, codificadas
segundo o Diamond Core Drill Manufacture’s Association
(DCDMA), bem como o intervalo de variação do diâmetro do
furo onde a sonda deverá ser instalada.
A unidade de controle e a parte do sistema que fica na
superfície contém um depósito de CO2, manômetros para medir a
pressão aplicada na célula de medidas e nas de proteção,
podendo estas pressões ser iguais ou diferentes.
A tubulação usada entre a unidade de controle e a sonda poderá
ser coaxial ou separada dependendo do tipo de pressiômetro.

Código Diâmetro (mm) Célula de medida


DCDMA Furo Sonda Comprimento (cm) Volume (cm3)
AX 46 – 52 44 36
535
BX 60 - 66 58 21

Na abertura do furo para a realização do ensaio,


os cuidados a serem tomados são diferentes daqueles
de uma amostra indeformada, pois neste caso interessa
manter a parte retirada indeformada, enquanto que no
outro caso são as paredes do furo que não podem ser

7:11
alteradas conforme esquema mostrado na Figura 24. Por isso, não se pode realizar um ensaio
pressiométrico aproveitando um furo de amostragem por amostradores de parede fina.
A distância entre pontos ensaiados não devera ser inferior a 50 cm a fim de se evitar a
superposição de zonas de influência de cada ensaio. A pressão limite de cada ensaio será
alcançada por estágios, devendo-se fazer medidas do volume de água introduzida na célula
central em tempos padronizados. Devido ao material com que é construído o equipamento as
pressões lidas no manômetro não são iguais àquelas aplicadas ao solo, e por isso, o
equipamento deverá ser previamente calibrado.
Com os pares de valores, pressão aplicada e volume d’água injetado, ambos,
devidamente, corrigidos será construída a curva pressiométrica (Figura 25), e na qual são
definidas três fases: a primeira corresponde a uma reposição de tensões no solo e representada
pelo trecho 0-Po; a segunda fase, denominada pseudo-elástica, com uma variação linear
(trecho AB da curva) é representada pelo intervalo de pressões Po-Pf. Na última fase, a partir
de B, a relação pressão-deformação não é linear e a pressão tende para um valor assintótico
denominado pressão limite; esta fase é representada pelo intervalo Pf-Pl.
Da curva pressiométrica são obtidos três parâmetros:
• A pressão de fluência, Pf, correspondente ao último ponto do trecho linear da fase
pseudo-elástica.
• Pressão limite, Pl
• Módulo pressiométrico de Ménard
E(M)
O Pl é utilizado no cálculo de
tensões e E(M) no cálculo das
deformações. Admitindo-se uma sugestão
do Centro de Estudos Ménard para o
coeficiente de Poisson igual a 0,33 para
qualquer tipo de solo, tem-se

 V0 + V f  p f − p0
E (M ) = 2,66 ⋅ Vc +  ⋅
 2  V f − V0

onde Vc é uma constante da sonda e os demais valores retirados da curva pressiométrica.

7.9.2.4 PERMEABILIDADE DO SOLO

O coeficiente de permeabilidade, k, de um solo poderá ser


determinado através de ensaios de laboratório sobre amostras
indeformadas ou no local da obra.
Os ensaios de laboratório são mais simples e menos onerosos,
porém nem sempre apresentam valores representativos da
permeabilidade in situ, em face das dificuldades de se obter amostras
indeformadas de boa qualidade, das pequenas dimensões do corpo de
prova e, às vezes, da não representatividade das condições do solo.
Assim, sempre que o custo total da obra justifique, deve ser obtido o
coeficiente de permeabilidade através de ensaios in situ.
Há uma variedade muito grande de ensaios de campo, e que
consideram como variáveis, desde a forma do furo de ensaio até o tipo
de fluxo que se estabelece no local. A bibliografia existente é extensa,
podendo-se encontrar descrições detalhadas, tanto do ponto de vista

7:12
teórico quanto prático, em (Cedergren,1977; Glover,1973; Harr,1966; Hvorslev,1951;
Matsuo-Akai, 1953; Mineiro,1978; Muskat,1937; O1iveira-Correa Filho,1961;
Todd,1960;USA-Corps of Engineers,1972; USDI-Bureau of Reclamation,1973,1974;USDN-
Navfac, 1974; Villar, 1982), entre tantas outras.

7.9.2.5 NÍVEL D'ÁGUA

O nível d’água poderá ser determinado de uma maneira simples e rápida, utilizando
furos de sondagem de simples reconhecimento. Após o termino da sondagem, espera-se
algum tempo até a estabilização do nível d’água no furo,e utilizando-se de pêndulo ou do fio
elétrico constituído de uma ponteira com terminais positivo e negativo, e ligada a um micro-
amperímetro através de um cabo graduado. O contacto entre a ponteira e a água fechará o
circuito, e neste instante uma lâmpada ou uma campainha indicara o ocorrido e a leitura do
comprimento do cabo mostrara a profundidade do nível d’água. Para o acompanhamento da
variação do nível d'água ao longo do tempo, alguns cuidados deverão ser tomados, como pode
ser visto em (Galeti et alli, 1983).

7.9.2.6 DETERMINAÇÃO DA PRESSÃO NEUTRA

Para a medida da pressão neutra in situ são usados equipamentos denominados


piezômetros. Há diversos tipos de piezômetros que podem ser distribuídos em três grupos, de
acordo com a forma utilizada na medida da pressão neutra. Assim, têm-se os piezômetros de
tubo aberto, pneumáticos e os elétricos.
Os piezômetros de tubo aberto são os mais simples, onde o modelo construído por
Casagrande é o mais conhecido e utilizado (Figura 26), tal como deve ser instalado no solo.
Para que se obtenha bons resultados, deve-se garantir um bom confinamento da região onde o
piezômetro esta colocado. A colocação do capacete é necessária para proteger a instalação,
visto que, um piezômetro deve ter uma vida útil bastante longa. A água penetra no piezômetro
através do tubo poroso para estabelecer, após algum tempo, o equilíbrio entre interior do tubo
e exterior. Quando isso ocorre, é feita a medida do nível d'água, obtendo-se assim o valor da
pressão neutra. Atualmente, existem no Brasil diversas
variantes deste tipo de piezômetro.
Os piezômetros pneumáticos medem a pressão neutra
da seguinte forma: a água quando penetra na ponteira
pressiona o diafragma flexível que desloca uma válvula
esférica permitindo assim uma comunicação entre tubulação
de entra da e de saída, conforme mostrado na Figura 27. Do
terminal de medida da pressão neutra, é injetado um liquido
sob pressão que percorrerá um trajeto percorrendo a tubulação
de entrada, válvula esférica, diafragma tubulação de retorno e
manômetro, enquanto a pressão aplicada for menor que a
pressão neutra. Quando ambas se igualarem, o fluxo é
interrompido pelo retorno da válvula esférica a sua posição
inicial. Neste instante a pressão de injeção mede a pressão
neutra. Na Figura 27, também esta mostrada uma das
maneiras de se instalar estes piezômetros.
Os piezômetros elétricos do tipo Maihak são constituídos de um diafragma metálico
flexível que pressionado pela água do solo atravessa uma pedra porosa e deforma e altera a
freqüência de uma corda vibrante existente na célula. Por comparação entre as freqüências da
corda na célula e outra semelhante existente no modulo de leitura, é medida a pressão de

7:13
instalação do piezômetro,
Os principais requisitos a que um piezômetro deve são, segundo (Hanna, 1972):
• Acusar com precisão as pressões neutras e suas variações (positivas ou negativas) e
que os erros estejam dentro dos limites tolerados pelo projeto.
• Que a colocação do piezômetro no solo cause um mínimo de interferência no local.
• Que apresente um tempo de resposta rápido a qualquer variação do nível d’água.
• Que seja resistente, de boa construção e permaneça estável pelo período de tempo
necessário a investigação.
• Que as leituras possam ser feitas de uma forma continua ou intermitente, conforme a
necessidade do projeto.
A comparação do comportamento de três tipos de piezômetros, instalados em seções
menos permeáveis de barragens levou (Sherard, 1961) a concluir que os piezômetros elétricos
de corda vibrante apresentaram-se melhores do que os demais.
Uma descrição mais completa sobre piezômetros, poderá ser encontrada em (Lindquist,
1963).

7.9.2.6 PROVA DE CARGA

Uma prova de carga pode ser realizada diretamente sobre o terreno utilizando para isso
uma placa rígida sobre uma estaca ou grupo de estacas, ou ainda sobre um tubulão. As provas
de carga sobre grupo de estacas ou um tubulão são mais raras devido à exigência de uma força
de reação muito alta. Neste item será descrito o procedimento de ensaio para uma prova de
carga direta sobre o terreno de fundação e que está normalizada pela (ABNT, NBR 6469/60).

A prova de carga direta é


apenas uma parte dos requisitos
necessários à investigação do subsolo
para o projeto da fundação de uma
estrutura. Na Figura 20 está mostrado
o esquema de montagem da prova de
carga, utilizando uma placa rígida de
0,80 m de diâmetro e área de 0,50 m2;
na Figura vê se também a disposição
em planta dos apoios, do caixão e dos medidores de deformação do solo. O ensaio é realizado
em duas fases; inicialmente, o solo é carregado em estágios até atingir uma pressão no qual
ocorra a ruptura do terreno ou uma deformação total igual a 25 mm, ou ainda, igual ao dobro
da taxa de trabalho estimada para o solo. Em cada estágio deverão ser feitas medidas da
deformação do solo ao longo do tempo. Desde que o solo não tenha rompido após o último
estagio de carregamento, inicia-se o descarregamento da mesma forma feita na fase anterior.
Terminada a prova, os resultados deverão ser apresentados em forma de um gráfico
pressãoxdeformação; além do gráfico, deve-se também informar a situação, em planta, do
local da prova e sempre que possível, o perfil do solo obtido por uma sondagem de simples
reconhecimento em ponto próximo ao local do ensaio.
Exemplo 3 - Na Figura (Anexo 4) está indicado o resultado de uma prova de carga direta realizada
no Campus da Universidade Federal de São Carlos, em 1976. Na parte inferior da Figura estão
mostrados o perfil do subsolo, a localização em planta e o esquema da prova. Na parte superior do
gráfico pressãoxdeformação mostra o tempo de carregamento e descarregamento em cada estágio e
os valores correspondentes de deformações.

7:14
A pressão máxima de 500 kPa foi alcançada através
da aplicação em estágios iguais a 20%.
Como o bulbo de pressões desenvolvido pela placa é
da ordem de duas vezes o seu diâmetro, as camadas
mais profundas não serão solicitadas na prova de
carga. Uma sapata de dimensões maiores do que a
placa desenvolverá um bulbo também maior,
conforme mostrado na Figura 21, solicitando
camadas mais profundas, resultando com isso
recalques na estrutura não previstos na prova de
carga.

7.9.3 MÉTODOS DIRETOS

Consistem em qualquer conjunto de operações destinadas a observar diretamente o


solo e ainda obter amostras ao longo de uma perfuração. Os principais métodos diretos são:
Os métodos diretos permitem o reconhecimento do solo prospectado, através de
amostras obtidas de "furos" executados no terreno. As amostras deformadas fornecem
subsídios para um exame visual táctil das camadas e sobre elas podem-se executar ensaios de
caracterização (teor de umidade, limites de consistência, massa específica e granulometria).
Permitem também a coleta de amostras indeformadas para se obter informações seguras sobre
o teor de umidade, resistência ao cisalhamento e compressibilidade dos solos.
Através dos métodos diretos pode-se obter a delimitação entre as camadas do subsolo,
a posição do nível do lençol freático e informações sobre a consistência das argilas e
compacidade das areias. Conclui-se então que as principais características esperadas de um
programa de prospecção são alcançadas com a utilização destes métodos. Há em todos eles, o
inconveniente de oferecer uma visão pontual do subsolo.

7.9.3.1 MANUAIS

7.9.3.1.1 POÇOS E TRINCHEIRAS

NBR 9604 de SET/19S6 - Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo com retirada de
amostras deformadas e indeformadas - Procedimento Normas complementares:
NBR 6502 de DEZ/1980 - Rochas e Solos - Terminologia
NBR 7250 de ABR/1982 - Identificação e descrição de amostras de solos obtidos em
sondagens de simples reconhecimento dos solos - Procedimento

7.9.3.1.2 TRADOS MANUAIS

NBR 9603 de SET/1986 - Sondagem a trado - Procedimento Normas complementares:


NBR 6502 NBR 7250

7.9.3.2 MECÂNICOS
- Sondagens especiais com extração de amostras indeformadas
- Sondagens rotativas
- Sondagens mistas

7.9.3.2.1 SONDAGENS À PERCUSSÃO COM CIRCULAÇÃO D’ÁGUA

7:15
NBR 6484 de DEZ/1980 - Execução de sondagens de simples reconhecimento dos solos -
Métodos de ensaio.
Normas complementares e/ou pertinentes:
NBR 6502 NBR 7250
NBR 8036 de JUN/1983 - Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos
para fundações de edifícios - Procedimento
NBR 9820 de MAI/1987 - Coleta de amostras indeformadas de solo em furos de sondagem -
Procedimento.

Também conhecido por sondagem de simples reconhecimento é um dos ensaios in situ


mais utilizado em todo o universo na investigação do subsolo, permitindo tanto a retirada de
amostras, quanto a medida da resistência ã penetração dinâmica do solo. A sua execução esta
normalizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (NBR-6464/60) e as
recomendações constantes, tanto para equipamento quanto para procedimento, devem ser,
rigorosamente, seguidas para a obtenção de resultados comparáveis com ensaios realizados
em outros lugares.
A história da sondagem de simples reconhecimento, começa em 1902, com uma
proposta de Cow para um processo de amostragem, utilizando um amostrador de parede
grossa com diâmetro de 25,4 mm e comprimento cravado variando entre 300 e 450 mm em
substituição a amostragem por circulação de água, já descrita e mostrada na Figura 3. O
amostrador era cravado no solo, usando-se um martelo de massa aproximada de 50 kg.
Em 1927, Hart e Fletcher introduziram um amostrador, com diâmetro externo e
interno de 51 e 35 mm, respectivamente, constituído por três partes, engate, corpo e sapata,
tendo como principal modificação o fato do corpo ser bipartido, possibilitando uma colheita
mais fácil da amostra retirada (Figura 2). Este amostrador, por razões diversas ficou
conhecido como amostrador Raymond ou Terzaghi-Peck sendo atualmente, o único que deve
ser usado no ensaio de penetração realizado durante a execução de uma sondagem de simples
reconhecimento. A Figura 9 mostra um corte do amostrador indicando suas principais
dimensões.
Em 1930, Mohr introduziu a técnica da
contagem dos números de golpes necessários
para a cravação de uma parte do amostrador no
solo por meio de uma energia gerada pela queda
livre de um martelo de massa e altura de queda
padronizadas, criando-se assim, uma medida da
resistência a penetração dinâmica do solo
convencionando-se chamar a este ensaio e ao
número de golpes resultante de SPT (Standard Penetration Test).
A sondagem de simples reconhecimento foi introduzida no Brasil em 1939, através da
Seção de Solos e Fundações do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), que
em face das dificuldades encontradas em conseguir tubos com as dimensões do amostrador
Raymond, desenvolveu seu próprio amostrador, utilizando-o até a década de 70. Com a
tendência internacional de normalização do equipamento e procedimento de ensaio este
equipamento foi deixado de ser usado. Vale a pena ressaltar a necessidade de se seguir o
procedimento normalizado, pois a técnica operacional e o equipamento utilizado influem
decididamente na ordem de grandeza dos índices de resistência a penetração medidos
(Teixeira, 1974).
Para uma descrição mais didática dos procedimentos de uma sondagem de simples
reconhecimento, dividem-se as operações em diversas fases:
• Abertura do furo

7:16
• Ensaio de penetração
• Amostragem
• Avaliação do nível d’água
• Identificação e classificação das amostras
• Relatório
A execução de uma sondagem é um processo repetitivo das três primeiras fases, para
cada metro de solo sondado, conforme esquema mostrado na Figura 10. Assim, em cada
metro faz-se inicialmente a abertura do furo de um comprimento igual a 55 cm, deixando-se
os restantes 45 cm de solo para a realização do ensaio de penetração e amostragem.
A abertura do furo é iniciada com um trado
cavadeira com 100 mm de diâmetro até completar o
primeiro metro, quando deverá ser colocado o primeiro
segmento do tubo de revestimento dotado de sapata cortante
em sua ponta para facilitar a cravação de outros segmentos.
A partir do segundo metro e até se atingir o nível d’água a
abertura devera ser feita com um trado helicoidal. Abaixo
do nível d’água a abertura será feita com o processo de
circulação de água, com o mesmo equipamento usado para
amostragem, Figura 3. A lama,formada com partículas
desagregadas do solo devido a injeção de água sob pressão
e percussão e rotação do trépano, retornará a superfície pelo
anel formado pelo tubo de revestimento e hastes de perfuração, sendo depositada em
reservatório próprio; nesta fase o mestre-sondador deverá recolher as amostras da lama, na
bica e identificando o solo para detectar possível mudança de camada. Quando a cota de
ensaio for atingida, suspende-se o conjunto de hastes de uma altura de 20 cm e deixa-se
circular água até que, na bica, não se perceba a existência de partículas. O furo esta, então,
preparado para a realização do ensaio de penetração.
As fases de ensaio e de amostragem são realizadas simultaneamente e se utilizam os
tripés (Figura 3), amostrador Raymond (Figura 9) e de um martelo de massa igual a 65 kg
(Figura 11), que tem como particularidades, um coxim de madeira dura e uma haste que
servirá de guia durante a queda. Após a colocação do amostrador, em uma extremidade de um
segmento de haste, deverá ser descido com cuidado para evitar batidas nas paredes e apoiado,
suavemente, no fundo do furo. A seguir, deve-se fixar a cabeça de bater no topo das hastes e
apoiar o martelo sobre esta peça, anotando-se uma eventual penetração das hastes no solo. A
partir de um ponto fixo qualquer, marca-se sobre as hastes três segmentos de 15 cm cada. O
martelo é, então elevado manualmente a uma
altura de 75 cm a partir do topo da cabeça de
bater e deixado-o cair em queda livre, como
mostrado na Figura 12. Esta operação deverá
se repetir até o amostrador tenha sido
penetrado 45 cm no solo; durante a penetração
deve ser contado o número de golpes
necessários á cravação de cada 15 cm. O
resultado do ensaio de penetração será
expresso pelo número de golpes necessários a
cravação dos 30 cm finais, sendo este número
conhecido por SPT (Standard Penetration
Test). Deve-se tomar o cuidado para que o
revestimento esteja no mínimo 50 cm acima do
fundo do furo antes do início do ensaio.
7:17
A colheita da amostra será feita após a retirada e abertura do amostrador, com solo
sendo identificado no local e amostras enviadas ao laboratório, onde permanecem guardadas
por algum tempo, para esclarecimentos de alguma dúvida que porventura venha a ocorrer.
Como o diâmetro do amostrador é menor do que o diâmetro interno do tubo de
revestimento deve ser feito um alargamento do furo naquela região logo após a amostragem
para em seguida, voltar-se a fase de abertura do metro abaixo.
Durante a fase de abertura a trado, o mestre-sondador deverá ficar atento no aumento
no teor de umidade do solo, indicativo da proximidade do lençol freático, devendo paralisar o
serviço e fazer medidas de subida de água no furo utilizando-se de processos simples. Sempre
que houver paralisação no serviço, antes do reinício é conveniente uma verificação do nível.
A ocorrência de artesianismos ou mais de um nível d’água deverá sempre ser informado no
relatório. Os processos de determinação do nível d’água serão descritos no item 2.2.3.4.
A identificação e a classificação das amostras deverá ser feita segundo a ABNT-NBR
7250/60. A identificação será feita com testes visuais e tácteis procurando definir
características granulométricas, de plasticidade, presença acentuada de mica, origem orgânica
ou marinha, se o solo e residual e cores predominantes e o nome dado ao solo não deverá
conter mais do que duas frações conforme recomendado pela Norma, que sugere ainda as
cores: branco, cinza, preto, marrom, amarelo, vermelho, roxo, azul e verde, podendo -se usar
o claro e escuro, para um máximo de duas cores, e o termo variegado quando não houver duas
cores predominantes.
Com o valor do SPT obtido em cada metro, os solos são classificados quanto a
compacidade dos solos grossos ou consistência dos solos finos, conforme mostrado na Tabela
3.

SOLO SPT DESIGNAÇÃO


<4 Fofa
5–8 Pouco compacta
Areia e silte
9 – 18 Medianamente compacta
arenoso
19 – 40 Compacta
> 40 Muito Compacta
<2 Muito mole
3–5 Mole
Argila e silte
6 – 10 Média
argiloso
11 – 19 Rija
> 19 Dura

Os resultados de uma sondagem deverão ser apresentados em forma de relatório e


anexos. O relatório fornecerá dados gerais sobre o local e o tipo de obra, descrição sumária
sobre equipamentos e outras julgadas pertinentes. Uma planta de localização dos furos e da
referência de nível (RN) adotada, bem como os perfis individuais de cada furo serão
apresentados em anexo. Em cada perfil deverão constar seguintes informações:
• Número do furo de sondagem.
• Cota da boca do furo
• Data de Início e término da sondagem
• Posição das amostras colhidas e das não recuperadas
• Profundidade das diversas transições entre camadas e do fim do furo
• Os índices de resistência à penetração (SPT)
• Identificação classificação e a convenção gráfica das amostras segundo a NBR
6502/60, mostrada na Figura 13.
7:18
• Posição do N.A. e data de observação.
• Processos de perfuração empregados e profundidades atingidas: TH para trado
helicoidal, CA para circulação de
água..
• Cota da boca do tubo de
revestimento. Os valores dos
índices de resistência à penetração
poderão ser alterados por fatores
ligados ao equipamento usado, a
técnica operacional, ao tipo de solo
ensaiado e até a erros acidentais
(Teixeira, 1974).
Os fatores ligados ao equipamento
são:
• Amostrador: deve ter,
rigorosamente, as dimensões
indicadas na Norma, pois que,
quanto maior a seção ou mais
espessa sua parede, maiores serão
os índices de resistência,
conservadas as demais variáveis.
• Haste de perfuração: hastes com massa maior levam a índices maiores, por
absorverem uma maior quantidade da energia aplicada; por isto, foram normalizadas
para terem massa variando entre 3,2 e 4,3 kg/m.

Exemplo 2 - Para a construção de um bloco de salas de aulas no Campus da Universidade de São


Paulo, São Carlos, foram realizadas diversas sondagens de simples reconhecimento. A localização
em planta e o perfil obtido em uma das sondagens estão mostrados no Anexo 2.
A camada superior, com espessura media de 6 metros e uma areia fina argilosa fofa a pouca
compactada, marrom, é geologicamente classificada como um sedimento cenozóico, "originado a
partir do retrabalhamento dos materiais do Grupo Bauru e das Formações Serra Geral e Botucatu,
através de um pequeno transporte em meio aquoso", (Bortolucci, 1982).
As duas camadas seguintes, areia fina a média siltosa, pouco a medianamente compacta, marrom e
areia fina a média argilosa medianamente compacta e vermelha são, geologicamente, classificadas
como Grupo Bauru.
A camada inferior é de silte argiloso, duro, marrom e vermelho, geralmente impenetrável à
percussão e oriundo da Formação Serra Geral.
• Sistema de aplicação da energia: a utilização de um sistema mecânico, para
erguimento do martelo, se por um lado traz vantagem por uma maior regularidade na
altura de queda, por outra, trará desvantagem se houver o desenvolvimento de atrito
entre corda e tambor, não permitindo a sua queda livre e acarretando aumentos dos
índices obtidos.
• Tubo de revestimento: quanto maior o diâmetro do tubo de revestimento, maior será a
interação com o solo. Os diâmetros internos normalizados são 67 e 76 mm.
• Martelo: o coxim de madeira deve estar sempre em boas condições. Não deverá
ocorrer golpe de metal-metal.
Quanto a técnica de operação tem-se:
• O martelo deve cair sempre em queda livre e de altura constante igual a 75 cm. Com
relação à primeira observação, a haste guia do martelo, mostrado na Figura 11, não
poderá tocar internamente as hastes de perfuração. A opção de uso de um martelo de
furo central (Figura 14) exige a verticalidade das hastes de perfuração, a fim de se
evitar atrito.
7:19
Quanto à segunda observação, há uma tendência
com o transcorrer do dia a diminuição da altura de
queda devido ao cansaço dos operadores, e com isto
aumentando-se os valores dos índices.
• A descida do amostrador em furos não
revestidos deve ser feita com cuidado a fim de
não provocar batida na parede e queda de
material. Se isto acontecer, o amostrador deve
ser retirado e realizar nova limpeza.
• A parte do furo onde ocorreu a amostragem
deverá ser alargada.
• O tubo de revestimento não deve se situar a
distância menor do que 50 cm do fundo do furo
antes da amostragem.
Quanto às características do solo, tem-se:
• Areias finas saturadas de baixa compacidade
tendem a se liquefazer na ponta do amostrador devido ao efeito dinâmico da cravação.
Isto diminui os índices obtidos.
• Argilas muito sensíveis poderão sofrer amolgamento na ponta do amostrador com
perda de resistência.
• A presença de pedregulhos em areias de baixa densidade tende a aumentar os valores
dos índices de resistência, enquanto que a presença de mica tende a diminuí-los.
• Em solos colapsíveis o emprego de circulação d’água acima do nível de água tenderá a
diminuir os valores dos índices.
Quanto aos erros acidentais são mais difíceis de serem constatados. Por isto cabe ao
engenheiro responsável a conscientização da importância do trabalho em execução. A maior
parte destes erros são cometidos devido ao despreparo dos operadores.
Recomenda-se uma consulta ao trabalho de Mello (1971) sobre a avaliação do SPT, a
nível internacional, para um melhor entendimento deste ensaio.
O número e distribuição de sondagens em planta dependerão do tipo de obra e da fase
em que se encontra a investigação do subsolo. Quando a estrutura tem sua localização bem
definida dentro do terreno, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (NB-12/76), sugere o
número mínimo de sondagens a serem realizadas em função da área construída, conforme
mostrado na Tabela 4. Os furos deverão ser externos a projeção da área construída e alguns
exemplos de distribuição estão mostrados na Figura 15.

NÚMERO MÍNIMO DE
ÁREA CONSTRUÍDA (m2)
FUROS
200 2
200 – 400 3
400 – 600 3
600 – 800 4
800 – 1000 5
1000 – 1200 6
1200 – 1600 7
1600 – 2000 8
2000 – 2400 9
> 2400 A critério

Quando as estruturas não estiverem ainda localizadas, o número de sondagens deve ser
fixado de modo que a máxima distancia entre furos seja de 100 m cobrindo uniformemente
7:20
toda a área.
Quanto a profundidade, a sondagem deve ser conduzida até o impenetrável ao
amostrador ou até a cota mais baixa da isobárica igual a 0,10 e estimada pelo engenheiro
projetista da fundação.

7.9.3.2.2 SONDAGEM ROTATIVA

Constituem um dos mais importantes e eficazes meios para a exploração de


subsuperfície. Essas sondagens permitem a extração de amostras das rochas, de grandes
profundidades. A sonda rotativa consta de:
a) Motor: elétrico, a gasolina ou a óleo, ligado a uma caixa de câmbio por um sistema de
embreagem para mudanças de velocidade.
b) Coroa e pinhão: recebem a rotação do câmbio, para transmiti-la ao cabeçote.
c) Cabeçote: possui uma parte interna que recebe o movimento rotatório e, por um
sistema de engrenagem, possui ainda um movimento de avanço longitudinal. O
cabeçote possui um movimento completo de 180°, para imprimir o ângulo de
perfuração.
d) Hastes: são tubos ocos de aço, presos superiormente ao cabeçote em pedaços de 3 m a
4 m, atarraxáveis entre si e transmitem o movimento ao fundo do furo.
e) Barrilete: é um tubo oco que se destina a receber o testemunho de sondagem (cilindro
compacto da rocha perfurada). O barrilete é preso dentro da primeira haste a penetrar o
solo e possui molas em bisel de vários tipos, para poder prender o testemunho quando
de sua retirada.
f) Coroa alargadora: é uma peça oca, cilíndrica, cravada de diamantes, rosqueada na
extremidade da primeira haste e serve para alargar o furo produzido pela coroa.
g) Coroa: é uma peça também cilíndrica, oca ou não, cravada de diamantes, rosqueada à
coroa alargadora que corta a rocha, permitindo o avanço.
h) Cabeçote de circulação da água: é uma peça ligada ao cabeçote geral e à última haste,
e por meio de rolamentos permanece fixo, enquanto que a haste continua seu
movimento rotatório.
i) Mangueira de água: pressionada, são ligadas no sistema para a circulação da água que
provém de uma bomba d'água.
j) Bomba d'água: consta de um motor para injetar sobre pressão a água ou lama para
dentro das hastes.
k) Tanque d'água ou de lama: podem ser construídos num buraco escavado perto das
instalações da sondagem, ou ligados a uma série de tambores de 200 litros de
capacidade, periodicamente reenchidos por um caminhão d'água. A água sob pressão
penetra por dentro das hastes e reflui em forma de lama entre a haste e as paredes da
rocha perfurada e é recolhida em uma calha destinada a recuperar a parte sólida, que
normalmente consta de fragmentos da rocha cortada.
Completando o esquema geral de uma sonda, ainda existe uma torre metálica com um
sistema de guinchos, para poder levantar o sistema de hastes, quando se retira o barrilete para
colher o testemunho.
Certos tipos de sondagens rotativas não permitem a extração de testemunho. As
hastes são giradas e pressionadas contra o fundo do furo sem o barrilete. As brocas não são
em forma de anel mas podem ter formas variadas e são dotadas de um furo para passagem de
água. A função da água é remover os detritos, esfriar a coroa, evitar o desmoronamento das
paredes, etc.

ESQUEMA DE UMA SONDA ROTATIVA

7:21
Nas sondagens rotativas, além da
determinação dos tipos de rochas e de seus
contatos e dos elementos estruturais presentes
(xistosidade, falhas, fraturas, dobras, etc.), é
importante a determinação do estado da rocha,
Lê., do seu grau de fraturamento e de alteração ou
decomposição.
O grau de fraturamento de uma rocha é
representado pelo número de fraturas por metro
linear em sondagens ou mesmo em paredes de
escavação ao longo de uma dada direção.
Entende-se por fratura qualquer descontinuidade
que, num maciço rochoso, separe blocos, com
distribuição espacial caótica. As superfícies
formadas pela fratura apresentam-se, via de regra,
rugosa e irregular. Por diáclase, uma
descontinuidade com distribuição espacial regular.
As superfícies formadas pela diáclase são
relativamente planas. Tendem a formar sistemas,
por ex., ortogonais, etc.
Consideram-se logicamente apenas as fraturas originais e não as provocadas pela
própria perfuração ou escavação. Não são por outro lado consideradas as fraturas soldadas por
materiais altamente coesivos.
A tabela sugerida pela ABGE mostra os diferentes graus de fraturamento:

ESTADO DA ROCHA NÚMERO DE FRATURAS POR METRO


Ocasionamente fraturada 1
Pouco fraturada 1–5
Medianamente fraturada 6-10
Muito fraturada 11-20
Extremamente fraturada 20
torrões ou pedaços de diversos tamanhos
Em fragmentos
caoticamente dispostos
O grau de decomposição ou alteração das rochas é dado de forma ainda
subjetiva e empírica, segundo a seguinte relação:
GRAU DE ALTERAÇÃO ESTADO DA ROCHA
São Não são percebidos sequer sinais de alteração do material.
0 material mostra "manchas" de alteração. Ex.: os feldspatos
Ligeiramente alterado
dos granitos.
Medianamente alterado As "faixas" de alteração se igualam às de material são.

0 material toma aspecto pulvurulento ou friável, fragmentando-


Muito alterado se entre os dedos. Este estado pode se confundir com o "solo
de alteração de rocha".

A)EQUIPAMENTOS MAIS COMUNS PARA SONDAGEM ROTATIVA


A1) Tipos do coroas
7:22
O "corpo" das coroas é sempre de aço, porém a parte cortante pode ser de diamante,
aços especiais, carbeto de tungstênio, mistas, etc. Quanto à forma, podem ser;
• ocas, em forma de anel para permitir a entrada do testemunho no barrilete.
• compactas - somente com função de triturar, sem produzir o testemunho.
Entre as compactas pode ser citado o coroa-piloto, que possui um degrau na ponta e é
comumente usada em rochas fraturadas ou de consistência muito variada e sobretudo se a
perfuração faz um ângulo pequeno com o acamamento das rochas. Sua função é dirigir a
perfuração, evitando desvios.
A coroa em forma de cauda de peixe tripla possui as facas de carbeto de tungstênio e
só tritura. A coroa tricone possui três cones denteados com diâmetros diferentes, voltados para
o centro da coroa. Emprega-se para petróleo.
As coroas a diamante classificam-se pelo seu diâmetro e pelo número de pedras por
quilate. Diamantes grandes podem se fraturar, o desgaste é maior e possui menor número de
arestas, em relação a muitas pedras de tamanho pequeno.
Em rochas pouco abrasivas, usam-se coroas com pedras grandes. Para rochas
resistentes com minério de ferro, usam-se pedras pequenas em grande número. O número de
pedras pode variar de 4 a 40 pedras por quilate.
Os diamantes podem ser restaurados, adicionando-se novas pedras aos lugares vazios
ou mudando todas as pedras de posição.
Quando um diamante se desprende da coroa no fundo do furo, causa o perigo de
desgastar as outras pedras.
Para evitar esse problema, há coroas impregnadas que são fabricadas misturando-se pó
de diamante e pó de ferro com ligas especiais, de modo que, no aquecimento, o ferro chegue a
fundir-se parcialmente, fixando o pó de diamante.

A2) Tipos de coroas

A3) Barrilete
Classificam-se em simples, duplos e duplos livres. Os simples constam de um tubo
cilíndrico oco, onde o testemunho penetra e fica preso por molas em bisel. A água passa
através do testemunho e sai por fora da coroa, e o barrilete gira juntamente com a haste. Há
desgaste mecânico pelo giro do barrilete e desgaste mecânico e de dissolução pela água que
passa através do testemunho. Os duplos possuem dois tubos concêntricos, evitando o desgaste
pela água, porém, continua o desgaste mecânico, porque os dois tubos giram com a haste.
Os duplos livres possuem dois tubos concêntricos com rolamentos de mancais
deixando parado o tubo interno que guarda o testemunho. Evitam todos os tipos de desgaste.
A4) Tabela de diâmetro de coroas e hastes

COROAS HASTES
interno externo interno externo
Ex 21,4 mm 37,7 mm E 11,1 mm 33,3 mm
Ax 30,1 mm 48,0 mm A 14,3 mm 41,3 mm
Bx 42,0 mm 60,0 mm B 15,9 mm 48,4 mm
Nx 54,7 mm 75,7 mm N 25,4 mm 60,3 mm

7:23
As principais etapas de um ciclo de operações da sonda são: locação, instalação, seção
de brocas e hastes, revestimento, avanço e retirada do testemunho. Os interessados em
maiores detalhes deverão consultar literatura especializada ou, de uma maneira simplificada o
livro Geologia Aplicada à Engenharia, autor Nivaldo José Chiossi, Cap. 13.

7.9.3.2.3 REGISTRO DE DADOS DE SONDAGEM E APRESENTAÇÃO

Pelo menos três tipos diferentes de registros para as sondagens rotativas devem ser
efetuados, em folhas especialmente confeccionadas, a saber:

a. Folha de campo da sondagem a percussão e rotativa


É uma folha que registra o resultado, objeto da investigação. Tecnicamente é a mais
importante. A folha de sondagem e os testemunhos devem definir o que seria o perfil
individual do furo. Nessa folha indica-se, pelo menos, o tipo de equipamento, os
comprimentos das manobras e o tempo gasto; recuperação de testemunho, correspondente a
cada manobra (%); número de fragmentos que compõe os testemunhos de cada manobra (grau
de fraturamento); natureza do terreno atravessado (litologia, fraturas, zonas alteradas, etc.);
nível d'água no início de cada dia de trabalho; diâmetro da sondagem, etc.

b. Folha de controle de brocas para sondagem rotativa


Cada coroa é acompanhada de uma folha de controle onde se registra o número de
metros perfurados, desde a coroa nova até o estado em que se torna necessária a recravação,
especificando-se a natureza do material perfurado. Os dados registrados devem revelar:
incidência do material de corte no custo unitário de perfuração para cada tipo de rocha;
anomalias na qualidade da broca, equipamento ou mesmo do operador; tipos adequados de
brocas para cada formação.

c. Relatório diário da sondagem


É uma folha onde se registra a produção e o tempo gasto pela equipe nas diversas
operações e atividades de cada dia, bem como o gasto de materiais e combustíveis. A folha de
campo da sondagem é de interesse puramente técnico, ao passo que a folha de brocas, bem
como o relatório diário, são de interesse econômico-administrativo da obra.

Apresentação Final dos Dados Obtidos na Investigação

d. Perfis individuais
Todos os dados colhidos na sondagem e no ensaio de perda d'água de um determinado
furo podem ser resumidos em forma de perfil individual do furo. Além do perfil geológico, o
desenho deve indicar o estado mecânico em que se encontram as rochas atravessadas,
evidenciando as zonas críticas do maciço; recuperação baixa, zonas muito fraturadas e com
altas perdas d'água, etc.

e. Secções geológicas-geotécnicas
Com base nos perfis individuais, traçam-se perfis geológicos-geotécnicos. Esse tipo de
apresentação permite uma visão de conjunto da região pesquisada.

f. Conclusões
No que se refere às aplicações da sondagem rotativa e a percussão para fins de
Geologia Aplicada à Engenharia Civil, deve-se salientar a necessidade de desenvolver

7:24
equipamentos mais eficientes, bem como mão-de-obra especializada. Outra carência que se
observa ainda, no Brasil, é a falta de padronização dos equipamentos e especificações para
execução das sondagens, fatores muito importantes para trabalhos de correlação entre duas
sondagens, principalmente quando executadas por firmas diferentes.
A seguir será apresentado um exemplo de um perfil geológico completo de uma
sondagem a percussão, mostrando as cotas de cada camada, a posição do nível d'água, a
resistência à penetração e os ensaios de granulometria, em termos de porcentagem.

7:25
EXEMPLO TÍPICO DE PERFIL DE
SONDAGEM A PERCUSSÃO

Devemos destacar no perfil a


importância do gráfico na indicação da resistência
à penetração (SPT), principalmente para fins de
escavação e fundação.

O perfil seguinte mostra a representação usual de uma sondagem rotativa. A descrição


do material, as cotas dos limites entre as sondagens, a posição do nível d'água, etc., são
indicados como no perfil da sondagem a percussão. O gráfico abaixo indica a porcentagem de
recuperação dos testemunhos (amostras) e é muito importante, pois revela o grau de alteração
da rocha. Junto, estão assinalados também os eventuais ensaios de perda d'água executados.
EXEMPLO DE SONDAGEM ROTATIVA BARRAGEM DE ILHA SOLTEIRA

Quando se observa um perfil de sondagem rotativa, a


porcentagem de recuperação pode fornecer a seguinte interpretação
do estado de fraturamento da rocha:
RECUPERAÇÃO ROCHA
acima de 90% sã a ligeiramente fraturada
75 - 90% pouco ou ligeiramente fraturada
50 - 75% medianamente fraturada
25 - 50% bastante fraturada
abaixo de 25% excessivamente fraturada
(amostras fragmentadas)
Entende-se por porcentagem de recuperação dos
testemunhos ou amostras de uma sondagem rotativa a relação entre
o número de metros perfurados numa determinada rocha e número de
metros de testemunhos recuperados ou amostrados. Assim, por
exemplo, se ao se perfurar uma profundidade de 3 m foi possível a
obtenção de apenas 2,50 m de amostras (testemunhos), dizemos que
a percentagem de recuperação foi de 83,3%. Sua determinação é
através de uma simples regra de três.

EXEMPLO DE APLICAÇÃO DAS SONDAGENS PARA


INTERPRETAÇÃO ESTRUTURAL
As amostras dos diversos tipos de sondagens são colocadas
numa seção vertical, a fim de serem correlacionadas e assim
permitirem a definição dos tipos de rochas e estruturas atravessadas. Essa correlação permite a
confecção do mapa geológico do subsolo. Exemplos esquemáticos são dados a seguir.

EXEMPLO DE APLICAÇÃO DAS SONDAGENS PARA DETERMINAÇÃO DO LENÇOL FREÁTICO


Dois problemas devem ser considerados com relação à água no subsolo: o primeiro é a
7:26
determinação da cota do nível freático no subsolo c suas condições de pressão, e o segundo se
relaciona à permeabilidade e drenabilidade das diferentes camadas. Correlatamente, a água deve ser
analisada quimicamente, pois poderá conter elementos reativos com o concreto das fundações. A
posição do lençol freático não é necessariamente aquela profundidade na qual a sondagem atinja
água, sendo necessário pelo menos uma hora de observação para a estabilização do nível freático.
Dessa maneira, é possível estabelecer um gráfico tempo x profundidade (ou elevação) do N.A..

9.10 AMOSTRAGEM EM SOLOS

9.10.1 OBJETIVOS

A amostragem é executada quando se pretende determinar a composição e a estrutura


do material, propiciando ainda, a obtenção de corpos de prova para ensaio.

9.10.2 CLASSIFICAÇÃO DE AMOSTRAS

9.10.2.1 NÃO REPRESENTATIVAS

São aquelas em que devido ao próprio processo de extração foram removidos ou


trocados alguns constituintes do solo “in situ”. Entre elas incluem-se as "amostras lavadas",
colhidas durante o processo de perfuração por circulação de água nas sondagens à percussão.

9.10.2.2 REPRESENTATIVAS: INDEFORMADAS E DEFORMADAS

São aquelas que conservam todos os constituintes minerais do solo “in situ” e se
possível, seu teor de umidade natural, entretanto, sua estrutura foi perturbada pelo processo de
extração. Nesta categoria incluem-se as amostras colhidas a trado e as amostras do barrilete
padrão de sondagens à percussão.

9.10.2.3 INDEFORMADAS

Além de representativas, as amostras indeformadas conservam ao máximo a estrutura


dos grãos e, portanto, as características de massa específica e nulidade natural do solo in situ.
A viabilidade técnica e econômica da retirada de amostras indeformadas é função da
natureza do solo a ser amostrado, da profundidade em que se encontra e da presença do nível
d'água. Esses fatores determinam o tipo de amostrador e os recursos a utilizar. Algumas
formações apresentam maiores dificuldades que outras no processo de extração de amostras
indeformadas.
A seguir alguns solos típicos em ordem crescente de dificuldade de obtenção de
amostras indeformadas e preservação das propriedades:
• Solos predominantemente argilosos de baixa consistência;
• Siltes argilosos de fraca compacidade;
• Solos argilosos de consistência acima da média;
• Solos residuais argilo-siltosos;
• Solos predominantemente arenosos;
• Areias puras;
• Areias com pedregulhos;
• Pedregulhos.
As amostras indeformadas merecem cuidados especiais tais como:
• Manipulações cuidadosas, evitando-se impactos e vibrações;
• Parafina logo após a extração evitando a exposição ao sol;
• Conservação cm câmara úmida;
• Evitar armazenamento por período demasiadamente longo.
a. Amostra indeformada
Este tipo de amostra deverá ser
representativo do solo quanto as composições
granulométrica e mineralógica, teor de umidade e
estrutura. Alguns cuidados deverão ser tomados
para se evitar a perda d’água e alteração estrutural
durante a retirada, o transporte e o manuseio da
amostra no laboratório. A retirada de uma amostra
indeformada pode ser feita de duas maneiras:
manualmente ou através de amostradores de parede
fina.
A amostragem manual, geralmente realizada
à superfície do terreno ou no interior de um poço e
acima do nível d'água, é feita coletando-se uma
amostra em forma de bloco cúbico ou cilíndrico. A
retirada da amostra deve seguir o esquema mostrado na Figura 4, a fim de se garantir a boa
qualidade tanto para a estrutura quanto para o teor de umidade. Para que isto aconteça, o
serviço de abertura do poço deve ser interrompido cerca de 10 cm acima da cota de topo de
bloco a partir do qual o trabalho deverá ser realizado por pessoa afeita a esta técnica de
amostragem.
A utilização de um molde metálico de lado ou diâmetro da ordem de 30cm,
respectivamente de forma quadrada ou cilíndrica, servirá de revestimento e proteção ao bloco
durante a amostragem. O molde deverá entrar justo, porém, sem cortar as suas paredes. Após
a cravação total do molde, deverá ser aplicada uma primeira camada de parafina no topo do
bloco e colocada uma etiqueta contendo informações sobre a localização da amostra. A
separação da amostra do solo deve ser feita conforme mostrado na Figura 4. Após o acerto da
base, aplica-se uma primeira camada de parafina nesta superfície. A seguir, o molde será
retirado e as paredes laterais do bloco deverão também receber uma camada de parafina para
manter o teor de umidade de campo por um bom período.
Exemplo 1 - Com a finalidade de comparar diversas formas de proteção do solo contra perda de
umidade foram utilizados corpos de prova cilíndricos, com 50 mm de diâmetro e 100 mm de altura,
moldados com a argila azul de Boston, USA, com massa especifica igual a 1,93 g/cm3 e teor de
umidade igual a 27,6%. Além dos corpos de prova cilíndricos, também, foram usadas amostras
retiradas com tubos de parede fina e com elementos diferentes de proteção. As amostras foram
armazenadas horizontalmente em local onde a temperatura variava entre 20 e 35°C. Foram medidas
as perdas de umidade com o tempo e os valores percentuais obtidos estão mostrados na Tabela
anterior.

NÚMERO DE DIAS
TIPO DE PROTEÇÃO 125
0,5 1 7 32 130 324 539
0
Nenhuma 15,6 30,1 92,8 97,6 98,2 94,2 98,2 98,6
Uma camada 1,8 3,6 25,7 95,3 97,8 94,2 97,8 98,2
Papel encerado
Duas camadas 1,1 2,2 19,2 85,9 96,7 93,1 96,4 96,7
Papel celofane Duas camadas 0,4 0,7 2,9 11,2 61,2 94,2 98,2 98,2
e = 1,6 mm - - - - 0,7 5,8 20,7 69,2
Camada de
e = 3,2 mm - - - - 0,4 0,4 0,4 38,4
parafina
e = 12,7 mm - - - - 0,4 0,7 1,1 35,9
e = 19,0 100,
Tubo - - - - 3,6 29,3 97,5
Camada mm 0
de parafina e = 38,1 100,
- - - - 0,4 4,7 17,0
mm 0
Disco+ camada de
- - - - 0,4 1,8 6,9 90,6
parafina e = 19,0 mm
A parafina preserva o teor de umidade do solo mas não satisfaz quanto a manutenção
da estrutura. Para que se possa preservar a estrutura é necessário que após a primeira camada
de parafina, o bloco seja revestido com um tecido poroso, tipo tela ou estopa, aplicando-se a
seguir nova camada de parafina, tal como mostrado na Figura 5. Tomados estes cuidados, o
bloco está preparado para ser enviado ao laboratório, devendo-se providenciar um bom
acondicionamento, caso a distância de transporte seja grande. Durante o manuseio do bloco
no laboratório para a retirada dos corpos de prova deve ser tomado cuidado quando da
remoção do tecido para evitar quebra da estrutura e manter o bloco sempre parafinado para
não se perder umidade. No laboratório, o bloco deverá ser colocado em uma câmara úmida,
que deverá manter uma umidade relativamente do ar próxima a 100 %. Outros cuidados
durante a retirada, transporte e manuseio de uma amostra em blocos poderão ser encontrados
em (Nogueira, 1977; Stancati et alli, 1981).

Quando por motivo técnico ou custo elevado, não for possível retirar amostra em
bloco, deve-se utilizar um amostrador de parede fina construído com um tubo de latão ou aço
de diâmetro interno não inferior a 50 mm e com características próprias para garantir a
obtenção de amostra indeformada.
Foram definidas a partir das variáveis mostradas na Figura acima, duas relações entre
diâmetros folga interna (Fi) e relação de áreas (RA) para qualificar um tubo como um
amostrador de parede fina e a amostra obtida como uma amostra indeformada.
di − d p
Fi =
dp
e uma relação de comprimentos, percentagem de recuperação, Rr
L
Rr =
H
H - comprimento cravado do amostrador
L - comprimento da amostra

Para minimizar a perturbação estrutural do solo, a parede do tubo não deve ser grossa,
não devendo também ser multo fina, para que, não ocorra flambagem ou amassamento do
tubo durante a sua cravação. Para satisfazer a estas exigências têm-se usado uma relação de
áreas com valor inferior a 10.
Quando o tubo é cravado no solo, a amostra cortada sofre um alívio de tensões e há
uma tendência a expansão, e com isto, se desenvolverá um atrito entre parede interna e
amostra. Para que este atrito seja diminuído deve-se ter um diâmetro de ponta menor do que o
diâmetro interno, definido pela variação da folga interna entre l e 3%; outra vantagem do
diâmetro de ponta ser menor do que o interno aparece na retirada do tubo, quando parte da
amostra fica apoiada sobre o anel desenvolvido pela ponta. Outra restrição importante é
quanto ao valor do ângulo α, que deverá ser pequeno a fim de se evitar o amolgamento do
solo situado abaixo da ponta do tubo.
A relação de áreas e a folga interna definem as características que um tubo deve ter
para que este possa ser considerado um amostrador de parede fina e utilizado na extração de
amostra indeformada.
O comprimento da amostra obtida, nem sempre será igual ao comprimento cravado do
amostrador, sendo a situação mais comum a da amostra sofrer um encurtamento em face da
folga interna não ter sido suficiente para anular a expansão lateral do solo. Um aumento na
folga interna diminuirá o atrito possibilitando a obtenção de amostras com um comprimento
mais próximo do cravado, porém aumentando o risco de perda da amostra durante a retirada
do tubo por falta de sustentação. Às vezes pode ocorrer também uma expansão na direção
vertical resultando uma amostra com um comprimento maior do que o cravado. Desde que, a
percentagem de recuperação esteja entre 95 e 100%, a amostra obtida é considerada
indeformada.
Na Tabela 2 estão indicados os diâmetros e espessuras das paredes do tubo para dois
valores da relação de áreas e folga interna e três diâmetros de amostras.

Espessura
di RA de Fi dp
da parede
(mm) (%) (mm) (mm) (mm)
(mm)
10 52,4 1 49,5 1,2
50,0
5 51,2 3 48,5 0,6
10 78,6 1 74,3 1,8
75,0
5 76,8 3 72,8 0,9
10 104,8 1 99,0 2,4
100,0
5 102,4 3 97,1 1,2

O amostrador de parede fina mais antigo, foi introduzido por Mohr em 1936, sendo
conhecido por Shelby, que é o nome comercial do tubo inicialmente usado na construção do
amostrador, e tem um diâmetro de 50 mm para ser introduzido no furo da sondagem de
simples reconhecimento. Alguns outros detalhes, além dos já descritos, tais como existências
de uma janela e uma válvula de alívio na parte superior completam o amostrador de parede
fina que está mostrado na Figura 7. A função de ambos é a de permitir a saída de água de
dentro do tubo durante a cravação e diminuir a pressão hidrostática aplicada ao topo da
amostra durante a retirada do amostrador.
O comprimento do amostrador depende do tipo de solo e do diâmetro desejado da
amostra, devendo-se esperar que para um mesmo solo diâmetro maior implica em
comprimento menor da amostra.
Diferentes tipos de amostradores de parede fina foram
desenvolvidos a partir do Shelby e apresentando vantagens em relação
a este. Assim, os amostradores de pistão que permitem obter amostras
com Rc = 100%, o amostrador sueco que permite uma amostragem
continua do terreno devido a um dispositivo que elimina o atrito
amostrador-solo, o amostrador Bishop para areias submersas e outros
que estão descritos com detalhes em (Hvorslev, 1949; Mori, 1979;
Nogueira, 1977).
Os amostradores de parede fina são utilizados em solos de
baixa densidade, acima ou abaixo do nível d’água e devem ser
cravadas com dispositivo que mantenha um movimento contínuo e
rápido, condições necessárias para a obtenção de uma amostra
indeformada de boa qualidade. A cravação poderá ser feita usando um
macaco hidráulico ou uma talha manual ou elétrica (Figura 6) sendo este último preferível por
se conseguir uma penetração constante a uma velocidade menor e obter amostra maior e de
qualidade superior àquelas obtidas usando-se um macaco hidráulico.
Para solos densos, poderá ser usado o amostrador Denison
que penetra no solo cortando-o através de uma sapata e que tem um
sistema de suporte da amostra que impede a perda durante a
retirada do amostrador.
As amostras obtidas com amostradores serão encaminhadas
dentro do tubo, tornando-se os mesmos cuidados na
impermeabilização do topo e da base, para manutenção do teor de
umidade e na embalagem dos tubos, para garantir a
indeformabilidade da amostra.
Quando da execução de um programa de amostragem para
ensaios de laboratório, é preciso que se tenha em mente, o número e
os diferentes ensaios que deverão ser feitos, para se dimensionar a
massa de solo deformado e a quantidade de blocos ou tubos a serem
retirados. É sempre bom lembrar, que e preferível sobrar material
no laboratório o que se fazer nova amostragem o que nem sempre é
possível devido ao andamento da obra; por outro lado, um excesso de amostras provocará um
aumento no custo para o cliente, o que também não e desejável. Por estes dois motivos, um
dimensionamento criterioso das amostras, deverá ser feito pelo engenheiro.

9.10.2.3.1 AMOSTRAS INDEFORMADAS DE SUPERFÍCIE

Quando se pretende, coletar amostras próximas à superfície do terreno natural, ou em


poços, trincheiras, etc, utiliza-se a escavação de blocos ou a cravação de cilindros biselados.

BLOCOS

NBR 9604 – SET/1986 - Abertura de poços e trincheiras de inspeção em solo com retirada de
amostras deformadas e indeformadas - Procedimento

CRAVAÇÃO DE CILINDROS

NBR 9813 de MAI/1987 - Solo - Determinação da massa especifica aparente in situ, com o
emprego do cilindro de cravação - Método de Ensaio.

7.10.2.3.2 AMOSTRAS INDEFORMADAS EM PROFUNDIDADE

São utilizados amostradores especiais. Um estudo detalhado foge ao escopo do nosso


curso.
NBR 920 de MAI/1987 - Coleta de amostras indeformadas de solo em furos de sondagem -
Procedimento.

9.10.2.3.4 AMOSTRAS DEFORMADAS

NBR 9603 de SET/1986 – Sondagem a trado. Procedimento


NBR 9604 de SET/1980 - Abertura de poço e trincheiras de inspeção. Embolo com retirada
de amostras deformadas e indeformadas - Procedimento
NBR 6184 de DEZ/1980 Execução de sondagens de simples reconhecimento dos solos -
Método de Ensaio.
Este tipo de amostra deverá ser representativo do solo tanto na composição
granulométrica como na mineral, não devendo conter vegetação ou qualquer outro elemento
estranho ao solo. É utilizada nos ensaios de caracterização do solo (granulometria, limites de
consistência, massa específica dos sólidos e testes de identificação), para determinar os
parâmetros de compactação e para a moldagem de corpos de prova, sob determinadas
condições de grau de compactação e teor de umidade, para os ensaios de permeabilidade,
compressibilidade e resistência ao cisalhamento.
A retirada de uma amostra deformada não exige ferramenta especial. Pode ser
recolhida de diversas formas: manualmente com o auxílio de pás, enxadas, coleta mais
profunda com o auxílio de trados (Figura 1) ou de amostradores de paredes grossas, bipartidos
ou não, cravados dinamicamente no solo (Figura 2), ou ainda pelo processo de circulação de
água, que consiste na introdução de água sob pressão no interior de uma tubulação que tem
em sua extremidade inferior uma ferramenta de corte, denominada trépano (Figura 3). O jato
d’água e as batidas do trépano contra o solo provocarão a sua desagregação e a lama formada
retornará a superfície externamente a haste sendo recolhida em um deposito. A identificação
visual e táctil do solo deverá ser feita no instante em que a lama chega ao reservatório.
Embora este processo não permita a obtenção de amostras de boa qualidade, poderá ser usado
sempre que não se conseguir amostras por um dos outros processos.
ANEXO 1
ANEXO 2
ANEXO 3
ANEXO 4

Você também pode gostar