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Investigação Geotécnica Para Projeto de Estabilidade de Encostas

Coutinho, R. Q.
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil, rqc@ufpe.br

Severo, R. N. F.
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil / Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil, ricardoflores@cefetrn.br

Resumo: A importância e a relevância do tema a respeito de investigação e obtenção de parâmetros de


projetos com vistas à análise da estabilidade de encostas e taludes são devidas tanto a elevadas perdas sócio-
econômicas causadas pelos deslizamentos como pelos diversos aspectos geológico-geotécnicos relacionados
ao comportamento dos solos e rochas. Esta conferência tem como objetivo apresentar e discutir o processo
de caracterização geotécnica e formas de obtenção (campo e laboratório) das propriedades ou parâmetros
relevantes para a execução de projetos de engenharia com vistas à obtenção da estabilidade requerida para
materiais e solos susceptíveis a deslizamentos. Proposta de caracterização geotécnica com a análise de risco
e consideração de fatores de causas é apresentada. Aspectos básicos do comportamento dos solos em geral e
em particular de solos residuais, colúvios e sedimentos da Formação Barreiras são apresentados e discutidos,
com ênfase em aspectos referentes à caracterização, índice de vazios, permeabilidade, resistência saturada
(pico e residual) e não-saturada e influência da sucção no comportamento dos solos. Exemplos de estudos de
casos de deslizamentos ocorridos em Pernambuco, envolvendo solos residuais de gnaisse e solo residual de
granito e de Formação Barreiras são apresentados para ilustrar o tema.

Abstract: The importance and relevance of the subject regarding geotechnical investigation and design
parameters in order to analyze the stability of slopes and embankments are due both to high socio-economic
losses caused by the landslides (or rupture) and the various geological and geotechnical aspects related to the
behaviour of soils and rocks. This conference aims to present and discuss the process of geotechnical
characterization and investigation (field and laboratory) to obtain the properties or parameters relevant to the
implementation of engineering projects with a view to achieving the stability required for materials and soils
susceptible to landslides. Proposal for geotechnical characterization with risk analysis and consideration of
causal factors is presented and discussed. Aspects of fundamental soil behaviour, in general and in particular
for residual soil, colluvial and sediments of the Barreiras Formation are presented and discussed, with
emphasis on aspects related to the characterization, void ratio, permeability, shear resistance saturated (peak
and residual) and non-saturated and the influence of suction on the behaviour of soils. Examples of case
studies of landslides occurring in Pernambuco, involving residual soils of gneiss and granite residual soil and
Barreira Formation are presented to illustrate the theme.

1 INTRODUÇÃO com a quantificação das propriedades relevantes ao


objetivo do estudo;
Quaisquer que sejam os objetivos do estudo do 3 - Análise da estabilidade e da estabilização do
comportamento de um talude, de acordo com talude quando for o caso;
Skempton e Hutchinson (1969), são necessárias as 4 - Monitoração do comportamento e correlação
seguintes etapas: entre observação de campo e valores previstos.
1 - Identificação e classificação dos vários tipos Após o estudo do comportamento do talude a
de movimentos de massas que podem ocorrer nos análise da estabilidade deve ser realizada,quando for
taludes, seus aspectos geológicos, a velocidade do o caso.
movimento e as causas da instabilização; Um efetivo e eficiente projeto geotécnico e a
2 - Classificação e descrição precisa dos construção associada requerem adequado
materiais envolvidos no movimento, juntamente conhecimento do subsolo da área. Um programa de

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caracterização geotécnica ou um programa de A investigação geotécnica envolve a
investigação geotécnica objetiva determinar as determinação da natureza e comportamento de todos
condições geológicas, geotécnicas, hidráulicas e os aspectos de uma determinada área e as condições
outras informações relevantes a um determinado ambientais que podem influenciar ou ser
projeto de engenharia. influenciada pelo projeto. A proposta básica de uma
Os requerimentos de um programa de investigação geotécnica é prover suficientes
investigação geotécnica é uma função das informações para permitir a tomada de boas
características e extensão do projeto e dos riscos decisões durante as fases de avaliação, projeto e
associados. É recomendado levar em consideração construção.
as condições de construção e tem como objetivo Esforços significativos devem ser feitos para
determinar: determinar a caracterização da área por meio de
• Regime geológico: natureza e seqüência das apropriadas investigações geotécnicas e métodos de
camadas do subsolo e a história geológica; ensaio. Cada projeto e local é único. Uma
• Regime hidrogeológico: condições da água no investigação deve ser realizada para cada área.
subsolo; Na verdade, mesmo com a caracterização da
• Regime de engenharia: propriedades de área, incertezas e imprevistos podem ainda ocorrer.
caracterização, hidro-mecânicas e comportamento Uma investigação adequada irá maximizar a
dos materiais do subsolo; economia através da redução, a um nível aceitável,
• Regime geo-ambiental: composição, as incertezas e riscos que representam as condições
distribuição e fluxo de contaminantes. locais para um projeto.
Existem várias técnicas disponíveis para se Riscos e incertezas são características do subsolo
atingir os objetivos de uma investigação de subsolo e nunca serão totalmente eliminadas. O apropriado
e nestas estão incluídos ambos os ensaios de campo nível de sofisticação da caracterização da área e
e de laboratório dos materiais. análises deve ser baseado nos seguintes critérios:
Várias propostas foram apresentadas sobre a • Experiência local e anteriores;
concepção de uma investigação ideal. Todos os • Objetivos do projeto;
autores concordam que o processo de investigação • Nível de risco geotécnico;
deve ser conduzido de uma forma iterativa. Clayton • Potencial de redução de custos.
et al. (1996) sugerem que a investigação geotécnica A avaliação dos riscos geotécnicos é dependente
ideal deve seguir uma seqüência de 11 etapas (ou do evento/perigo, probabilidade de ocorrência
eventos): (susceptibilidade) e as conseqüências. Projetos
1- Estudo preliminar de escritório ou pesquisa de podem ser classificados como de baixo, moderado
fatos ocorridos ou alto risco, dependendo dos critérios acima.O
2 - Interpretação de fotografia aérea processo de investigação geotécnica é associado ao
3 - Mapeamento detalhado de superfície da área risco. O nível de sofisticação da investigação sendo
4 - Exploração preliminar de subsuperfície também uma função dos objetivos do projeto e do
5 - Classificação do solo pela descrição e por potencial para a economia dos custos (Robertson &
ensaios simples Cabal, 2009).
6 - Exploração detalhada da subsuperfície e Investigação insuficiente, interpretação
ensaios de campo inadequada dos resultados e falha em descrever as
7 - Mapeamento físico (ensaios de laboratório) informações obtidas de forma clara e objetiva tem
8 - Avaliação dos dados contribuído para diversos problemas de projeto e de
9 - Projeto geotécnico construção (técnicos e de custos).
10 - Experiência de observação de campo As características e o nível de análise de
11 - Conexão entre o engenheiro geotécnico e diferentes projetos podem exigir distintos
equipe de campo durante construção do projeto. procedimentos de investigação, conforme
Em contraste, Dowding (1979) sugeriu que o reconhecido em normas para projeto. As
processo de investigação deve ser considerado em informações a serem obtidas na investigação devem
termos de apenas três etapas, a saber: estar associadas aos métodos de análise propostos
1 - Rever as informações disponíveis e para o projeto junto à categoria da estrutura em
reconhecimento de superfície; construção, condições desfavoráveis do subsolo e
2 - Realizar mapeamento detalhado da riscos associados.
subsuperfície, sondagens preliminares, ensaios Segundo o Manual Técnico de Encostas, volume
laboratoriais iniciais e análise preliminar; 1, GEORIO (2000) devido à grande experiência
3 - Realizar sondagens para recuperar amostras com obras de estabilização de taludes na cidade do
especializadas, levantamentos geofísicos, ensaios Rio de Janeiro, as fases de investigação se resumem,
em escavações (galerias horizontais, poço de na maioria dos casos, à inspeção por geólogo e
inspeção, sondagens, etc.), e ensaios especiais. engenheiro experientes e às sondagens a percussão e
rotativas. Nos casos correntes não são realizadas
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investigações geofísicas, nem ensaios de realização e supervisão da campanha, a avaliação
laboratório. Em casos mais complexos, as dos dados e definição do término da caracterização,
investigações são abrangentes, envolvendo com elaboração de relatório técnico final são etapas
geofísica, sondagens, retiradas de amostras, ensaios do processo de caracterização do subsolo da área, e
in situ e laboratoriais. todas devem ser realizadas através de adequadas
Deve ser registrada a publicação da revisão da equipes técnicas e em acordo com as características
norma NBR 11682 - Estabilidade de Encostas, e nível de análise do projeto (Coutinho, 2008).
válida a partir de 21/09/2009, que prescreve os De acordo com Becker (2001) antes do início de
requisitos exigíveis para o estudo e controle da qualquer investigação, deve ocorrer uma
estabilidade de encostas e taludes resultantes de comunicação eficaz entre o cliente / proprietário e o
cortes e aterros realizados em encostas. Abrangem, consultor responsável pela investigação para
também, as condições para estudos, projetos, garantir que os requerimentos do projeto estão
execução, controle e observação de obras de claramente compreendidos, e que o cliente /
estabilização. proprietário é informado da relação importante que
Maiores detalhes do processo de caracterização existe entre o risco e o custo. O grau de incerteza
geotécnica podem ser visto em Clayton et. al. sobre a área é usualmente diretamente relacionado
(1996), Turner & Schuster (1996), Bromhead ao custo da investigação. Um grau de incerteza e
(2000), Becker (2001), Leroueil et. Al (2003), risco, entretanto, sempre existirá mesmo depois que
Gomes Correia et al. (2004), Schnaid (2005, 2008, um programa abrangente de investigação tenha sido
2009), Powell (2005), Viana da Fonseca e Coutinho completado.
(2008), Coutinho (2008)). A essência da investigação é a descoberta de
Esta conferência tem como objetivo apresentar e fatos: portanto, um elemento de pesquisa está
discutir o processo de caracterização geotécnica e presente em todos os trabalhos de caracterização.
formas de obtenção (campo e laboratório) das Entretanto, qualquer decisão tomada deve ser
propriedades ou parâmetros relevantes para a sempre no contexto de: o que é melhor para o
execução de projetos de engenharia com vistas à projeto e o projeto realmente precisa disto?
obtenção da estabilidade requerida para materiais e O processo de caracterização geotécnica é
solos susceptíveis a deslizamentos. Proposta de resumido na Figura 1 na qual é mostrado que o
caracterização geotécnica com a análise de risco e processo é de natureza iterativa (Becker, 2001).
consideração de fatores de causas é apresentada. Condições do subsolo variam com locação ao longo
Aspectos básicos do comportamento dos solos em da área e em alguns casos variam significativamente
geral e em particular de solos residuais, colúvios e mesmo em pequenas distâncias. Grande parte do
sedimentos da Formação Barreiras são apresentados processo iterativo ocorre durante a investigação de
e discutidos, com ênfase em aspectos referentes à campo. Durante a avaliação dos dados obtidos, não
caracterização, permeabilidade, resistência saturada se pode ignorar nenhum dado simplesmente por ele
(pico e residual) e não-saturada e influência da não corresponder ao comportamento esperado.
sucção no comportamento dos solos. Exemplos de Aparentes anomalias, freqüentemente fornecem
estudos de casos de deslizamentos ocorridos em novas idéias e servem de estímulo para posterior
Pernambuco, envolvendo solos residuais de gnaisse trabalho para caracterizar e entender melhor
e solo residual de granito e de Formação Barreiras determinada área.
são apresentados para ilustrar o tema. Johnson & DeGraff (1988) (a partir de Turner &
McGuffey ,1996) sugeriram que uma investigação
2 PROCESSO DE CARACTERIZAÇÃO deve incluir cinco elementos:
GEOTÉCNICA – UMA ABORDAGEM • Formulação da investigação;
INTEGRADA • Coleta de dados,
• Interpretação dos Dados,
O processo de caracterização geotécnica de uma • Aplicação das técnicas de análises, e
área deve ter uma abordagem integrada a todo o • Comunicação dos resultados.
processo (planejamento, projeto, construção e A formulação da investigação é o elemento que é
comportamento) e partes integrantes (proprietário, mais freqüentemente esquecido ou ignorado. Esta
responsáveis pelos projetos gerais e específicos, formulação envolve duas componentes:
construtores) da obra de engenharia em questão. • A identificação das questões que a investigação
Todas as etapas e atividades específicas da deve responder uma clara definição da finalidade da
caracterização fazem parte de um processo investigação;
interativo e devem ser formalmente relatadas em um • Identificação de outros aspectos da
relatório técnico. Planejamento, identificação da investigação, incluindo o seu alcance, a área, a
proposta da caracterização da área, coleta e análise profundidade a ser investigada e a sua duração.
de informações existentes, definição do programa de Inadequada atenção à formulação pode resultar
investigação com seus requisitos técnicos, a efetiva uma investigação conduzida de maneira ineficiente.
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Pode levar mais tempo e maior custo para potencial para deslizamentos também pode ser
completar, e, em alguns casos, a informação avaliada por uma série de métodos qualitativos e/ou
apropriada não é obtida. quantitativos de mapeamento e avaliação. Outros
Turner e McGuffey (1996) apresentam e casos, só podem ser identificados por uma detalhada
discutem os objetivos, o escopo, a área, a investigação de campo antes do projeto. Tais
profundidade e a duração de uma investigação de investigações podem nos mostrar como prevenir ou,
deslizamento, assim como, a coleta, análise e pelo menos minimizar, os futuros movimentos, e
interpretação dos dados e a comunicação dos eles podem sugerir alternativas de rotas menos
resultados. sujeitas a deslizamentos.
Ocorrendo um deslizamento, quer durante a
construção de uma instalação ou, posteriormente, a
investigação é realizada para diagnosticar os fatores
que afetam os movimentos e para determinar quais
são as medidas corretivas adequadas para prevenir
ou minimizar outros movimentos e retroanálise.
Tais investigações têm muito em comum com
outros tipos de programas de investigação de
campo. No entanto, em muitos casos, estas
investigações podem ter que ser tomadas com
alguma urgência, porque o deslizamento é uma
ameaça à propriedade ou à segurança pública ou
pode perturbar a utilização de uma instalação de
transporte.
Sowers e Royster (1978) (a partir de Turner &
McGuffey ,1996) incluíram uma lista bastante longa
de características que devem ser consideradas no
planejamento de uma investigação de campo de um
deslizamento (ver Tabela 1). Estas características
estão divididas nos itens: topografia, geologia,
hidrologia superficial e subterrânea, clima, vibração
e histórico de mudanças na encosta. Não é esperado
que alguma específica investigação de deslizamento
envolva todos os itens desta lista.
As etapas da investigação geológica – geotécnica
destinadas à análise da estabilidade encostas são
basicamente: planejamento/formulação do programa
de investigação, levantamento de dados pré-
Figura 1: Processo de Caracterização Geotécnica existentes, investigação de superfície, investigação
(Becker, 2001) de subsuperfície, ensaios de campo e de laboratório,
Áreas instáveis propensas a deslizamentos instrumentação, análise e interpretação dos
normalmente exibem sintomas de movimentos resultados, relatório técnico / comunicação dos
passados e rupturas incipientes. Durante o estágio de resultados.
planejamento preliminar, estes sintomas podem ser .
identificados por interpretação de fotografias aéreas
ou por métodos de sensoriamento remoto. O

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Tabela 1 – Checklist de planejamento de uma investigação de deslizamento (Sowers e Royster, 1978)
I TOPOGRAFIA IV CLIMA
A. Mapa de contorno A. Precipitação
1. Forma do terreno 1. Forma (chuva ou neve)
2. Padrões anômalos (misturas, escarpas, abaulamentos) 2. Taxas horárias; 3. Taxas diárias
B. Drenagem superficial 4. Taxas mensais; 5. Taxas anuais
1. Fluxos contínuos; 2. Fluxos intermitentes B. Temperatura
C. Perfis do talude 1. Média horária e diária
1. Correlação com a geologia (II) 2. Extremos horário e diário
2. Correlação mapa de contorno (IA) 3. Déficit acumulado graus-dia (índice de
D. Mudanças topográficas congelamento)
1. Taxa de variação pelo tempo 4. Súbito degelo
2. Correlação com águas subterrâneas (III), condições C. Mudanças barométrica
meteorológicas (IV), e de vibração (V) V VIBRAÇÃO
II GEOLOGIA A. Seismicidade
A. Formações no local 1. Eventos sísmicos; 2. Intensidade
1. Seqüência de formações microssísmica
2. Colúvios 3. Mudanças microssísmicas
a. Contato com leito de rocha (Bedrock) B. Indução humana
b. Solo residual 1. Transportes;
3. Formações com má experiência 2. Explosões
4. Minerais e rochas suscetíveis a alterações 3. Maquinaria pesada
B. Estrutura: geometria tridimensional VI HISTÓRICO DE MUDANÇAS DO
1. Estratificação TALUDE
2. Dobramento geológico A. Processo natural
3. Direção de camada geológica e mergulho de 1. Alterações geológicas de longo prazo
acamamento ou foliação 2. Erosão
a. Alterações na camada geológica ou ângulo de 3. Evidência de movimento passado
inclinação 4. Emersão e submersão
b. Relação com o talude e deslizamento B. Atividade humana
4. Direção de camada geológica e mergulho de juntas com 1. Corte
relação ao talude 2. Aterro
5. Falhas, brecha geológica, zonas de cisalhamento com 3. Alterações na superfície da água
relação ao talude e deslizamento 4. Mudanças nas águas subterrâneas
C. Intemperismo 5. Alterações na cobertura vegetal, cultura,
1. Caracteres (químico, mecânico e solução) limpeza, escavação e pavimentação
2. Profundidade (uniforme ou variável) 6. Inundações repentinas e transbordamento
III ÁGUAS SUPERFICIAIS E SUBTERRÂNEAS de reservatórios
A. Níveis piezométricos dentro do talude C. Taxa de movimento
1. Normal 1. Considerações visuais
2. Lençóis suspensos em relação às formações e estrutura 2. Evidências na vegetação
3. Pressões artesianas relativas às formações e estrutura 3. Evidências na topografia
B. Variações nos Níveis piezométricos - correlacionar 4. Evidências fotográficas
com as condições meteorológicas (IV), vibração (V) e a. Obliqua
história de mudanças da encosta (VI) b Fotografias aéreas
1. Resposta às chuvas; 2. Flutuações sazonais c. Mudanças espectrais
3. Mudanças anuais; 4. Efeito da fusão da neve 5. Dados instrumentais
C. Indícios na superfície terrestre e Água de subsuperfície a. Mudanças verticais, tempo histórico
1. Fontes (nascentes); 2. Percolação e zonas úmidas b. Mudanças horizontais, tempo histórico
3. Diferenças de vegetação c. Deformações internas e inclinação,
D. Ação antrópica sobre as águas subterrâneas incluindo tempo histórico
1. Utilização das águas subterrâneas D. Correlações dos movimentos
2. Restrição de fluxo das águas subterrâneas 1. Águas subterrâneas - correlacionar com
3. Represamento de águas subterrâneas águas subterrâneas (III)
4. Alterações no solo e infiltração 2. Tempo - correlacionar com condições
5. Mudanças nas águas superficiais meteorológicas (IV)
E. Química das águas subterrâneas 3. Vibração - correlacionar com vibração (V)
1. Sais dissolvidos e gases; 2. Gases radioativos 4. Atividade Humana

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3 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA E brasileira no estudo de solos residuais no contexto
COMPORTAMENTO GERAL DOS SOLOS de movimentos de massa;
2 - Na descrição geral de uma encosta. Onde uma
3.1 Caracterização geotécnica –riscos caracterização geotécnica força o engenheiro a
definir os diferentes fatores que influenciam ou
Segundo Leroueil (2001) uma caracterização podem influenciar os movimentos em uma dada
geotécnica constitui uma importante ferramenta para encosta, e as conseqüências deste movimento,
análise de movimentos de massa e sua importância ajudando, desta forma no entendimento da situação /
se deve aos seguintes aspectos: mecanismos e conseqüentemente na seleção de
1 - No conhecimento de movimentos de massa soluções apropriadas;
sob diferentes contextos geomorfológicos, 3 - Na análise da suscetibilidade e do risco.
geológicos e climáticos. Podemos citar também As causas e características que contribuem para
aspectos no que diz respeito ao conhecimento do os movimentos de massa estão sumarizadas na
comportamento de vários tipos de materiais Tabela 2, agrupados em quatro grupos (geológicos,
envolvidos em deslizamentos; onde Leroueil (2001) morfológicos, físicos e antrópicos) de acordo com as
cita como exemplos as argilas com estrutura ferramentas e procedimentos necessários para iniciar
complexa, argilas rijas fissuradas bem estudadas na uma investigação (Cruden & Varnes, 1996).
Itália, as argilas moles, e por fim a experiência

Tabela 2 – Inventário de causas de movimentos de massa (Cruden & Varnes, 1996)


1. Causas Geológicas 3. Causas Físicas
a. Materiais Fracos a. Chuvas intensas
b. Materiais sensíveis b. Derretimento rápido de neve
c. Materiais desgastados (intemperizados) c. Precipitação excepcional prolongada
d. Materiais cisalhados d. Rebaixamento rápido (de inundações e marés)
e. Materiais fissurados e. Terremoto
f. Massa com descontinuidade orientada f. Erupção vulcânica
adversamente (estratificação, xistosidade, etc.) g. Descongelamento
g. Estrutura com descontinuidade orientada h. Intemperismo/desgaste devido ao congelamento-e-
adversamente (falha, contato, sem conformidade) descongelamento
h. Contraste na permeabilidade i. Intemperismo/desgaste devido à contração-e-
i. Contraste na rigidez (duro, material denso sobre expansão
material plástico)
2. Causas Morfológicas 4. Causas humanas
a. Subpressão tectônica ou vulcânica a. Escavação de talude ou do seu pé
b. Reação glacial b. Carregamento de talude ou de sua crista
c. Erosão fluvial de pé de talude c. Rebaixamento (de reservatórios)
d. Erosão de onda de pé de talude d. Desmatamento
e. Erosão glacial de pé de talude e. Irrigação
f. Erosão de margens laterais f. Mineração
g. Erosão subterrânea (dissolução, “piping”) g. Vibração artificial
h. Deposição de carga no talude ou na sua crista h. Vazamentos de águas servidas ou de
i. Remoção da vegetação (por fogo na floresta, seca) abastecimento
Tendo em vista que as classificações de mesmos definidos por Cruden & Varnes (1996), isto
movimentos de massa propostas eram, em sua é, quedas, tombamento, expansão lateral,
maioria, essencialmente geomorfológicas, Leroueil escorregamento (translacional e rotacional) e
et al. (1996) propuseram uma classificação escoamento (rastejo e corrida). Em termos de
geotécnica de movimentos de massa onde tanto os materiais, Cruden & Varnes (1996) consideraram
aspectos geomorfológicos como o comportamento apenas três classes principais (solo rocha e debris),
mecânico de solos e rochas fossem abordados. A entretanto, Leroueil et al. (1996) acharam necessário
Figura 2 ilustra o esquema da classificação proposta considerar um maior número de classes,
por Leroueil et al. (1996) representada numa matriz considerando-se que as características mecânicas de
tridimensional, onde os eixos representam os tipos solos e rochas dependem da origem – formação,
de materiais, os tipos de movimentos e os estágios mineralogia, distribuição granulométrica, condição
dos movimentos, associados a um conjunto de de estado, grau de saturação, etc. A Figura 3 ilustra
informações pertinentes. os tipos de materiais considerados na caracterização
Os tipos de movimentos da classificação de geotécnica
Leroueil et al. (1996) foram essencialmente os

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Controle de leis e parâmetros

Fatores predisponentes

Fatores acionantes

Conseqüências

Figura 2: Caracterização geotécnica dos movimentos de massa (Leroueil et al., 1996).

Figura 3: Tipos de materiais considerados na caracterização geotécnica (Leroueil et al., 1996).

A Figura 4 ilustra os estágios dos movimentos de efetivas cisalhantes. As rupturas são influenciadas
massa. O primeiro estágio refere-se ao estágio de pelos efeitos da velocidade de deformação, ruptura
pré-ruptura, incluindo-se todo o processo de progressiva e descontinuidades.
deformação conduzindo à ruptura. A massa de solo
está essencialmente pré-consolidada, intacta e
contínua. Esse processo é determinado a
relativamente pequenas razões de deslocamento,
sendo controlado principalmente pelos fenômenos
de ruptura progressiva e creep. A razão de
deslocamento aumenta ao se aproximar da ruptura,
como conseqüência tem-se uma gradual formação e
propagação da zona de cisalhamento na massa de
solo. A duração do estágio de pré-ruptura depende
das características do solo e do estado de tensões
inicial, que pode ser extremamente variável. Como
fatores agravantes para esses movimentos, podemos
ter condições temporárias que venham a ter efeito na
velocidade dos mesmos, como, por exemplo,
carregamento no topo do talude; condições que Figura 4: Estágios dos movimentos de massa
induzam variação de poro-pressão, erosão no pé do (Leroueil et al., 1996).
talude, etc.
O estágio da primeira ruptura é caracterizado pela O estágio de pós-ruptura representado na Figura 5
formação de uma zona ou superfície de descreve o movimento da massa de solo envolvida
cisalhamento contínua na massa de solo. Embora o no deslizamento depois da ruptura. Inclui o
processo de ruptura seja geralmente complexo e movimento de massa de solo ou de rocha, envolvida
resultante de uma combinação de fatores, é no deslizamento, logo após a ruptura até ela
geralmente caracterizado pela envoltória de tensões essencialmente parar. Este estágio é geralmente
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caracterizado por um aumento na razão de de ruptura significativamente maior do que um fator
deslocamento logo após a ruptura; seguido por um de segurança de 1.40 obtido com um baixo nível de
progressivo decréscimo na massa de solo incertezas. O modelo pode também ser uma fonte de
mobilizada. O comportamento do material incertezas. No caso de estabilidade os processos
deslizante durante este estágio depende envolvidos são geralmente complexos (influência da
principalmente da redistribuição da energia estrutura e anisotropia, efeitos na velocidade de
potencial requerida na ruptura, que se divide na deformação, ruptura progressiva, influência de
energia de fricção, na energia de desagregação e na anomalias geológicas, erosão interna, etc.) e não
energia cinética. A duração do estágio de pós- completamente representados pelos métodos
ruptura é extremamente variável com as existentes.
características mecânicas dos materiais envolvidos e
com as características geométricas da encosta.
O estágio de reativação descreve o deslizamento
de uma massa de solo ao longo de uma ou várias
superfícies de ruptura pré-existentes. Este estágio é
controlado pelo comportamento de atrito de solo
após grandes deslocamentos (ângulo de atrito
residual). A reativação pode ser ocasional ou
contínua, com variações sazonais de velocidade de
movimento.
Finalizando o entendimento da caracterização
proposta por Leroueil et al. (1996), temos que
identificar para cada elemento conjunto da matriz de
caracterização apresentada na Figura 2:
1 - As leis de controle e os parâmetros, onde
temos como exemplo o critério de Mohr – Coulomb,
com c’ e Ф’ referentes ao estágio de ruptura. Como
já abordado anteriormente, os parâmetros de Figura 5: Fator de segurança e probabilidade de
resistência variam consideravelmente de um estágio ruptura (Lacasse & Nadim, 1994) (a partir de
de movimento para outro, podendo variar também Leroueil & Locat, 1998).
com o tipo de material, de movimento e do grau de
saturação; Uma caracterização geotécnica constitui-se de
2 - Os fatores predisponentes, os quais fornecem uma estrutura básica necessária para análise de um
informações a respeito da situação atual e determina movimento de massa, já que a mesma permite
a resposta do talude seguindo a ocorrência de um relacionar os tipos de movimentos e tipos de
fator acionante (Tabela 2 – grupos 1 a 4); materiais relacionando-os num determinado estágio
3 - Os fatores acionantes, os quais conduzem à do movimento. Desta forma, ao se examinar o
ruptura ou os fatores agravantes, os quais produzem comportamento de um talude sob um ponto de vista
uma modificação significativa nas condições da relacionado a aspectos mecânicos, estamos desta
estabilidade ou na velocidade do movimento forma, permitindo a realização de uma avaliação do
(Tabela 2 – grupos 2 a 4); risco associado a movimentos de massa. Em
4 - Os fatores revelantes, os quais fornecem a qualquer análise de risco o primeiro passo consiste
evidência antes e/ou depois do movimento no talude em se definir todos os possíveis danos, isto é, no
mas geralmente não participa do processo; nosso caso, todos os possíveis movimentos de massa
5 - As possíveis conseqüências do movimento. que podem causar conseqüências (econômicas,
Leroueil & Locat (1998) comentam que as sociais, perdas de vidas humanas) em uma
incertezas a respeito dos parâmetros identificados determinada área. Leroueil & Locat (1998)
numa caracterização geotécnica dizem respeito à recomendam aos engenheiros organizar as
variação espacial dos parâmetros que caracterizam informações a respeito de um dado deslizamento
os materiais e os fatores predisponentes; da extensão forçando o mesmo a responder uma série de
e da qualidade da investigação realizada e das perguntas essenciais ao entendimento da situação,
incertezas devido à variação temporal dos fatores sejam elas qual o tipo e quais as características
agravantes ou acionantes. Como exemplo de geométricas do movimento, qual o estágio em que o
incertezas a respeito dos parâmetros tome o caso movimento se encontra quais os materiais
apresentado por Lacasse & Nadim (1994) (a partir envolvidos, quais os fatores predisponentes,
de Leroueil & Locat, 1998) apresentado na Figura 5. acionantes ou revelantes e quais as consequências
Pode-se observar que um fator de segurança de 1.79 do movimento (sendo esta informação essencial
obtido com um alto nível de incerteza diz respeito a para a análise de risco). No contexto de uma
parâmetros que podem corresponder à probabilidade caracterização geotécnica os elementos de risco e
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sua vulnerabilidade são relacionados as um fenômeno em uma determinada área em um
“conseqüências do movimento” (Leroueil et al., período qualquer; Ri = representa os elementos de
1996), conforme ilustra a Figura 6. Varnes et al. risco; Vi = representa a vulnerabilidade de cada
(1984) definiu o risco total Rt como uma série de elemento representado pelo grau do dano
danos resultantes da ocorrência de um fenômeno, (compreendido entre os valores 0 – sem danos a 1-
representado pela seguinte equação: Rt = ∑H Ri Vi; perda total).
onde Rt = risco total; H = representa a
suscetibilidade ou a probabilidade da ocorrência de

Figura 6: Caracterização geotécnica, elementos em risco e a sua vulnerabilidade (Leroueil & Locat, 1998).

Os processos envolvidos em movimentos de propostos por Leroueil (2004), os quais são


massa compreendem uma contínua série de eventos divididos em três grupos: (a) os que aumentam as
a partir de causas para efeitos (Varnes, 1978; solicitações (b) os que diminuem a resistência (c) os
Cruden & Varnes, 1996). O projeto de apropriadas que possivelmente aumentam as solicitações e
medidas / intervenções de custo efetivo, requer um diminuem a resistência. Os principais processos de
claro entendimento dos mecanismos e fatores que ativação e reativação em colúvios são relatados por
são importantes no movimento de massa. Os Lacerda (2004) e listados na Tabela 4 divididos em
processos de movimentos de massa podem ser duas classes: (a) interferência humana e (b) causas
classificados em três grandes grupos: naturais.
• Aumento das tensões cisalhantes; Os movimentos de massa referentes à Formação
• Contribuição para baixas resistências ao Barreiras na RMR estão relacionados, de um modo
cisalhamento; geral, a ocupação antrópica desordenada, a qual
• Redução na resistência do material. provoca uma maior possibilidade de ocorrência de
As causas e características que contribuem para processos erosivos e movimentos de massa. Os
os movimentos de massa estão sumarizados na principais fatores de causa de movimentos de massa
Tabela 2, agrupados em quatro grupos (geológicos, na Formação Barreiras em encostas situadas na
morfológicos, físicos e antrópicos) de acordo com as Região Metropolitana do Recife (RMR) podem ser
ferramentas e procedimentos necessários para iniciar divididos em fatores antrópicos e naturais, conforme
uma investigação (Cruden & Varnes, 1996). ilustra a Tabela 5.
A Tabela 3 apresenta a lista dos principais fatores
agravantes ou acionantes de movimentos de massa
terrestres e submarinos, no estágio de pré-ruptura,

9
Tabela 3. Principais fatores agravantes ou acionantes – estágio de pré-ruptura (Leroueil, 2004).
TERRESTRES SUBMARINOS
Aumento das solicitações
Erosão e escavação no pé X X
Sobrecarga na crista, sedimentação X X
Rebaixamento rápido X
Terremoto X X
Atividade vulcânica X X
Queda de rocha X X
Diminuição da resistência
Infiltração devido a chuva, X
derretimento de neve, irrigação por
vazameto de águas servidas
Intemperismo X
Mudanças fisico-químicas X
Cravação de estacas X X
Fadiga devido a carregamento X X
cíclico e creep
Possível aumento das solicitações e decréscimo na resistência
Vibrações e terremotos que podem X X
gerar excesso de poro pressão
Balanço de árvores devido a X
rajadas de ventos
Ondas de tormenta e mudanças no X
nível do mar

Tabela 4. Processos de ativação e reativação em colúvios (Lacerda, 2004).


a. Aumento de carregamento no topo
Interferência humana
b. Cortes no pé
c. Elevação do nível d’água
d. Diques impermeáveis causando elevação do nível
d’água
e. Artesianismo
Causas naturais f. Injeção de água do aquífero através de veios
permeáveis e zonas intemperizadas da rocha matriz
g. Aumento do carregamento local no meio do talude
devido a acumulação do colúvio
h. Carregamento súbito por queda de rochas

Tabela 5. Principais fatores de causa de movimentos de massa em encostas da Formação Barreiras - RMR.
Antrópicos Cortes na encosta
Aumento de carga no topo
Vazamento de tubulações
Infiltração de águas servidas
Retirada da vegetação superficial
Colocação de grandes árvores
Naturais Geologia da área (heterogeneidade, contraste
de permeabilidade / resistência, contato de
diferentes depósitos, etc.)
Infiltração devido às chuvas

10
3.2 Aspectos gerais dos elementos básicos do na resistência até um determinado limite que o solo
comportamento do solo pode oferecer, sendo esta resistência denominada de
resistência de pico. À medida que o deslocamento
Segundo Leroueil et al. (1996) características do aumenta, a resistência deste solo irá decrescer até
comportamento da maioria dos solos podem ser atingir primeiramente uma resistência equivalente
descritas utilizando-se os conceitos de estado crítico ao estado crítico, onde não ocorrem mudanças de
e a curva de escoamento. A mecânica dos solos no volume ou teor de umidade com as deformações;
estado crítico abrange conceitos que são para em seguida a grandes deslocamentos ser
extremamente importantes para o entendimento e atingida a resistência residual, onde ocorre uma
análise do comportamento dos solos. Leroueil reorientação das partículas, resultando na obtenção
(2001) utilizou os conceitos de estados críticos e de um mínimo valor de resistência. O ângulo de
incorporou aspectos, tais como, o efeito da atrito residual (Ф´r) é menor do que o ângulo de
anisotropia, efeito da velocidade de deformação e atrito no estado crítico (Ф´cr) em solos que
temperatura, efeito de estrutura, de descontinuidades apresentem predominância de partículas de forma
como fissuras, desenvolvimento de deformações lamelar. Quando a predominância das partículas é
plásticas dentro dos limites da curva de escoamento de forma não-lamelar, o ângulo de atrito residual se
e influência da saturação parcial no comportamento torna aproximadamente igual ao obtido no estado
dos solos. crítico (Lupini et al., 1981; Skempton, 1985).
Considerando-se o solo num estágio de pré-
ruptura, a curva de escoamento ilustrada no
diagrama de tensões representado na Figura 7,
delimita uma área em que o comportamento do solo
nem sempre é essencialmente elástico. Leroueil
(2001) afirma que apenas na Zona 1 representada
pelas condições iniciais de tensões, o solo apresenta
comportamento elástico-linear caracterizado por
pequenas deformações. Na Zona 2 o material
apresenta comportamento elástico não-linear, e na
Zona 3 ocorre o desenvolvimento de deformações
visco-plásticas até ocorrer a ruptura ao atingir a
envoltória de resistência de pico.
Entretanto, quando a ruptura é considerada, é
importante lembrar que os solos são, em geral,
Figura 7: Elementos básicos do comportamento do
caracterizados por três níveis de resistência (Figura
solo (Leroueil, 2001).
8). Quando um solo é submetido a deformações sob
uma dada tensão normal efetiva, ocorre um aumento

Figura 8: Níveis de resistência dos solos (Leroueil et al., 2001)

Os níveis de água nos perfis residuais (assim se desenvolvam fenômenos de condicionamento de


como em outros depósitos), em particular nos comportamento pela instalação de sucção (definida
trópicos, estão muitas vezes em grandes com a diferença entre a pressão do ar, uar, e da água
profundidades, ou, pelo menos, suficientes para que em menisco, uw). O comportamento mecânico dos
11
solos não saturados depende de quatro variáveis –
tensão média efectiva (p–ua), tensão de desvio, q,
sucção, s (uar – uw), e volume específico, ν (e.g.
Fredlund, 1979; Alonso et al. 1990; Wheeler and
Sivakumar, 1995; Futai et al. 1999). A sua
consideração na interpretação dos ensaios,
nomeadamente nos ensaios in situ, é indispensável
pois tem direta conseqüência na resistência e rigidez
dos solos. A principal diferença entre os solos
saturados e os parcialmente (ou não) saturados
reside na pressão neutra negativa instalada na fase
líquida (água) intersticial, denominada de sucção,
que tende a crescer com a resistência e rigidez dos
solos. Figura 9: Influência da sucção matricial na curva de
A influência do efeito da sucção matricial em escoamento e na envoltória de resistência dos solos
solos não saturados na curva de escoamento e na (Leroueil et al., 2001).
envoltória de resistência dos solos pode ser
observada na Figura 9. A curva de escoamento A curva característica é um relacionamento que
correspondente a sucção zero (condição saturada) é descreve a umidade volumétrica de um solo em
representada por y0, à medida que a sucção matricial várias sucções mátricas (Figura 10a), onde uma
aumenta, o limite da curva de escoamento tende a função de permeabilidade é um relacionamento que
expandir, gerando um particular aumento na descreve o coeficiente de permeabilidade de um solo
resistência de pico e do estado crítico. Entretanto, se em várias sucções mátricas (Figura 10b).
o solo não saturado tende a se umedecer, com
conseqüente decréscimo na sucção matricial, o
limite da curva de escoamento tende a diminuir
junto com a resistência.

Figura 10: Propriedades de solos não saturados (a) curva característica solo-água (b) função de
permeabilidade (a partir de Rahardjo et.al, 2009)

Para um melhor entendimento do comportamento fissuras e lentes de outros tipos de solo. A


dos solos, Picarelli (1991) (a partir de Leroueil, macroestrutura está relacionada com a maioria dos
2001) apresenta as diferentes escalas que podem ser problemas de engenharia, incluindo os planos de
empregadas no estudo da estrutura dos materiais, fraqueza e as juntas. A megaestrutura inclui fraturas,
conforme mostrado na Figura 11. A microestrutura dobramentos e outras características geológicas,
está relacionada com as partículas do solo, seu sendo fundamental no estudo de grandes obras de
arranjo e suas ligações. A mesoestrutura pode ser engenharia. Todos estes tipos de estrutura resultam
analisada nas amostras de laboratório e inclui da história geológica da área.

12
Figura 11: Relação entre estrutura e comportamento do material (Picarelli, 1991) (a partir de Leroueil, 2001).

3.3 Fatores agravantes ou acionantes relativos à complexo por estar relacionado às condições
água em encostas iniciais, no que diz respeito ao perfil do grau de
saturação e poro-pressões, os quais são dependentes
Inúmeros fatores atuam no desencadeamento de das condições hidrológicas antecedentes. A
movimentos de massa, conforme abordado no item condutividade hidráulica relaciona-se diretamente
anterior. Entretanto as águas sejam as de com o grau de saturação e a sucção matricial,
subsuperfície e/ou as provenientes de chuvas tornando complexa a análise do processo de
representam, de um modo geral, o fator acionante ou infiltração em meio não saturado, comum na
agravante de maior influência nos deslizamentos de maioria das encostas.
massa em todo o mundo. Os principais mecanismos Observações realizadas por Leroueil (2001) a
de atuação das águas no desencadeamento de partir de Lacerda (1989) e Johnson & Sitar (1990)
movimentos de massa são: mostram que o desenvolvimento de poro-pressões
Infiltração de água com o aumento do grau de em encostas podem não resultar apenas de
saturação e redução da coesão aparente, em infiltrações verticais, mas também de fluxos de água
depósitos não saturados; em camadas de solos mais permeáveis e rochas
Variação do nível piezométrico em massas fraturadas. A resposta hidrológica de um
homogêneas – reduzindo as tensões efetivas e em deslizamento provocado por intensas precipitações
conseqüência a resistência; pode ser vista como esquematizada na Figura 12.
Rebaixamento rápido do nível d’água Taludes (encostas) em virtualmente alguma
(reservatórios); formação de solo e clima permanecem parcialmente
Elevação da coluna d’água em descontinuidades e saturados nos seus níveis mais altos. A ocorrência
Erosão subterrânea retrogressiva (“pipping”); da chuva inevitavelmente leva a um caso de fluxo
Carregamento dinâmico (terrremoto, vibração de não saturado. Em adição, resistência depende da
máquina, cravação de estaca, queda de bloco de sucção e, portanto, o estudo de estabilidade de
rocha, etc.), com aumento da poro-pressão. talude é uma aplicação natural dos conceitos básicos
As chuvas atuam de um modo geral, como o da mecânica dos solos não saturados. (Alonso,
principal agente na deflagração dos movimentos de 2006).
massa. A maioria dos deslizamentos registrados está Sucção é a variável chave para interpretar o
associada a episódios de elevada pluviosidade, de comportamento do talude e para estabelecer o nível
duração compreendida entre algumas horas até de risco. No caso de taludes, contudo, os valores
alguns dias (Guidicini & Nieble 1984). absolutos da permeabilidade e, especialmente, a
Segundo Leroueil et al. (2001), o processo de heterogeneidade espacial do perfil do subsolo
infiltração em encostas não saturadas é bastante exercem um papel decisivo. Estes comentários são

13
ilustrados por Alonso (2006) em um caso prático / proeminente/importante fator acionante na
pesquisa, procurando melhor entendimento do papel instabilidade de taludes. Entretanto, estudos
da sucção, ação do meio ambiente e objetivando quantificar a quantidade de infiltração
heterogeneidade do subsolo na estabilidade taludes, em um talude a partir de um evento de chuva são
através de um modelo de elementos finitos com limitados e insuficientes. A Figura 15a mostra que a
fluxo-deformação acoplado para condição de solo fração da chuva contribuindo para infiltração
não saturado / saturado. decresce com um aumento na quantidade de chuva.
A infiltração da chuva foi aproximada por um Resultados de chuva natural e correspondentes
procedimento que leva em consideração a medidas de escoamento (runoff) de taludes em
ocorrência de escoamento superficial (“runoff”). Singapura são mostrados na Figura 15b, indicando
Para tanto, a capacidade de infiltração do talude é que uma quantidade de cerca de 10 mm de chuva
comparada com o registro real de chuva. O efeito da deve ser excedida em ordem para produzir um
sucção na permeabilidade e na resistência (coesão escoamento significante (Rahardjo et al., 2009).
variando com a sucção) foi introduzido no modelo.

Figura 12: Diagrama esquemático da resposta Figura 13: Correlação entre o número de
hidrológica da encosta a chuvas intensas. As setas deslizamentos e chuva acumulada – Coréia (Kim et
indicam a direção do fluxo d’água (Leroueil, 2001) al.,1992; a partir de Leroueil et al.,1996).
A associação entre a deflagração de
deslizamentos e os índices pluviométricos tem
levado alguns pesquisadores a tentarem estabelecer
correlações empíricas, probabilísticas ou físico-
matemáticos entre a pluviosidade e os movimentos
de massa. O principal objetivo da maioria dos
estudos sobre correlações entre deslizamentos e
chuvas é a busca de um índice representativo da
previsibilidade da chuva crítica, a partir da qual seja
possível alertar, antecipadamente a população da
possibilidade de deslizamentos.
Coutinho e Silva (2005) apresentam e discutem
algumas propostas internacionais e nacionais para
estas correlações. No âmbito internacional trabalhos
pioneiros foram desenvolvidos em Hong Kong. No
Brasil existem algumas propostas como, por Figura 14: Gráfico da envoltória de deslizamentos
exemplo, Tatizana et al.(1987) e D’Orsi et al. induzidos na Serra do Mar (Tatizana et al.,1987).
(1997).
As Figuras 13 e 14 apresentam exemplos de A literatura técnico-científica tem contemplado
correlação entre índices pluviométricos e eventos de largamente estudos a respeito de precipitações
movimentos de massas na Serra do Mar – SP e pluviométricas. Em áreas ocupadas de forma
Coréia, respectivamente. desordenada, a infiltração de águas servidas é
Numerosos estudos têm examinado a causa de também considerada um possível fator agravante ou
ruptura de taludes em regiões tropicais e concluído acionante. Assunção (2005) verificou a importância
que infiltração de água de chuva é o mais
14
do estudo do descarte de águas residuárias de confirmaram que em vários meses do ano a
encostas em Salvador, em áreas de ocupação precipitação antrópica é superior ou igual à
antrópica e analisou sua influência nos processos de pluviométrica. Neste estudo, entretanto, a
instabilidade. precipitação antrópica representou 35,5% da
O modelo proposto por Assunção (2005) para o precipitação pluviométrica anual. O estudo estimou
descarte de águas servidas considera que essas águas também que para a encosta estudada 42% da lâmina
descartadas no ambiente podem sofrer processos de antrópica anual (302,8mm/ano) estarão infiltrando,
evaporação, infiltração ou escoamento ao longo de 33% (237,9mm/ano) escoando e 25%
uma encosta, onde estas águas apresentam-se de (180,3mm/ano) estarão evaporando.
forma pontual, distribuído ou em forma de sulcos. Os resultados a serem obtidos dependem das
Os resultados obtidos mostraram que na maioria dos condições climáticas e da forma e intensidade de
dias do ano a precipitação antrópica é superior a ocupação da encosta. Entretanto, em geral, seja
pluviométrica, entretanto, devido às descargas apenas a chuva freqüentemente associada a
pluviométricas intensas abruptas no período movimentos de massa, em áreas de encostas
chuvoso, o valor anual da precipitação ocupadas desprovidas de infra-estrutura de
pluviométrica é superior, mas com ambos os valores esgotamento sanitário e drenagem, as águas servidas
significativos. A relação precipitação antrópica (PA) (precipitação antrópica) podem, em conjunto com as
e a precipitação pluviométrica (PP) variou na faixa precipitações pluviométricas, agravar ou deflagrar,
de 68, 55% (ano 2002) a (2,94% (ano 1976). ou pelo menos, predispor o ambiente a processos
Silva (2007) aplicou o modelo proposto por erosivos e de instabilizações (Assunção, 2005,
Assunção (2005) em uma pesquisa realizada em Coutinho& Silva, 2005 e Silva, 2007).
uma encosta ocupada do Município de Camaragibe
– PE. Os resultados obtidos no ano de 2005

(a) (b)
Figura 15: Relação entre intensidade de chuva e percentagem de infiltração (a) e escoamento
(runoff) (b) (Rahardjo et al., 2009)

4 INVESTIGAÇÃO DE CAMPO E DE local, investigação superficial e antes da escolha da


LABORATÓRIO instrumentação.
A Investigação de subsuperfície segue um
A instabilidade de encostas reflete as condições dos processo iterativo que incorpora novos
solos, rochas e da água subterrânea que estão abaixo procedimentos e adaptações à medida que a
da superfície do terreno. A investigação de informação é descoberta e testada contra várias
superfície pode fornecer importantes informações hipóteses de trabalho e propostas estratégias de
geológicas e geotécnicas, mas investigações de mitigação.
subsuperfície são necessárias para a obtenção de Seleção dos métodos de exploração e
dados definitivos e amostras para ensaios. desenvolvimento de um plano para um programa de
Explorações de subsuperfície apresentam uma exploração subsuperficial são baseadas em
variada gama de custos. A fim de poupar tempo e considerações dos objetivos do estudo objetivas,
dinheiro, programas de exploração subsuperficiais tamanho da área do deslizamento, condições
deveriam ser feitos seguindo reconhecimento no geológicas, condições de superfície, acesso à área e
as limitações de tempo e orçamento. Informações

15
disponíveis relativas à área, incluindo quaisquer campo sejam devidamente executadas, de modo que
planos para construção, reparação ou tratamento, os resultados desejados possam ser alcançados.
deverão ser utilizadas para auxiliar este processo de A Tabela 6 apresenta como base para uma
planejamento. programação de investigação, uma síntese de
Um programa de exploração de subsuperfície procedimentos para a obtenção de parâmetros
deverá fornecer informações que permitam a geotécnicos em depósitos de argilas moles (pode ser
qualificação e quantificação das propriedades dos referência para outros materiais).
materiais pertinentes. O programa de exploração A literatura é repleta de publicações sobre
deve prover, por exemplo, valores de ângulo de investigação tais como: Clayton et al. (1996), Head
atrito e resistência à ruptura por cisalhamento na (1994), McGuffey et al. (1996), Lunne et al, (1997),
condição indeformada e residual de todos os Manual Técnico de Encostas, volume 1, GEORIO
depósitos geológicos, poro pressões na camada (2000), Bromhead (2000), Coutinho (2008), Viana
aqüífera, a profundidade para controlar essas da Fonseca (2008)_ e Schnaid (2009).
características, e prováveis limites laterais e
verticais do deslizamento. A interpretação desses 4.1 Ensaios de Campo
dados identifica e quantifica as potenciais soluções
para os deslizamentos. Atualmente existe uma variedade de ensaios in
Métodos de investigação de subsuperfície podem situ disponíveis para serem utilizados em um
ser classificados nas seguintes categorias programa de investigação. Uma lista dos principais
fundamentais: ensaios é apresentada na Tabela 7 (Lunne et al.
• Métodos de reconhecimento/levantamento 1997), com sua aplicabilidade e uso para diferentes
(topográfico, geológico, geotécnico, etc.) tipos de condições do subsolo. Pode ser observado
• Métodos geofísicos na superfície e em que um grande número de parâmetros pode ser
perfuração; obtido através de ensaios de campo. O nível de
• Sondagens com ensaios e amostragem (SPT, confiabilidade esperado é também indicado.
rotativa etc.); Ensaios in situ podem ser classificados em dois
• Sondagem com registro/ amostragem continua; principais grupos (Schnaid 2005): (a) ensaios não-
• Ensaios de campo (CPTU, DMT, pressiômetro, destrutivo ou semi-destrutivo os quais são
palheta, permeabilidade, etc.); executados com um mínimo de perturbação geral da
• Ensaios de laboratório (caracterização, estrutura do solo e pouca modificação das tensões
compressibilidade, permeabilidade e resistência); efetivas iniciais. Este grupo compreende os ensaios
• Procedimentos de amostragem (deformada e geofísicos sísmicos, pressiômetros e ensaio de placa,
indeformada); sendo um conjunto de ensaios que geralmente são
• Instrumentação. possíveis de rigorosa interpretação dos dados do
As decisões sobre os tipos, quantidades e a ensaio sob um número de hipóteses simplificadoras;
localização das explorações de subsuperfície a (b) ensaios invasivo, destrutivo onde inerente
serem realizadas numa campanha de investigação perturbação é imposta pela penetração ou instalação
são dependentes das informações necessárias para do instrumento ou elemento sensor no subsolo.
quantificar as diversas hipóteses de trabalho e do Neste caso compreendem SPT, CPT e Dilatômetro.
nível da investigação. Estes ensaios apresentam equipamentos mais
A segurança da equipe de exploração do subsolo robusto, fácil para usar e relativamente de menor
deve ser avaliada antes do local ser ocupado. custo, mas o mecanismo associado para o processo
Investigações de deslizamentos são muitas vezes de instalação é freqüentemente razoavelmente
localizados em terrenos difíceis e escavações podem complexo e, portanto uma interpretação rigorosa é
exigir medidas e equipamentos para proteger o apenas possível em poucos casos. Os parâmetros em
pessoal. O deslizamento pode ainda estar ativo e, geral são obtidos através de correlações empíricas.
assim, pode representar um risco constante para os Alguns autores separam o primeiro grupo em dois
trabalhadores e equipamentos. Precauções, como a classificando os ensaios in situ em três categorias.
construção de gaiolas de proteção ou criação de Considerando esta classificação o grupo (a) pode
dispositivos de alerta, devem ser tomadas. ser esperado para ser usado mais universalmente,
A supervisão local por um experiente engenheiro enquanto o grupo (b) aplicará nos casos para os
geotécnico (e geólogo) é crítica para o sucesso da quais as correlações foram estabelecidas e diferentes
maioria das investigações subsuperficiais, para correlações podem ser requeridas para diferentes
garantir que todas as especificações do programa de solos.
investigação sejam seguidas e que as atividades de

16
Tabela 6 - Procedimentos recomendados na bibliografia para determinação de parâmetros de argilas moles
( modificada de Coutinho, 2008)
Parâmetro Geotécnico Procedimento Recomendado Procedimento Alternativo e Observações
SPT – com determinação de
Umidade deve ser determinada pelo menos em
Perfil geotécnico umidade natural através do
cada metro (Coutinho et al. 1998a)
preliminar (camada, NA, perfil
etc) Piezômetros Obtenção do regime piezométrico da área
Métodos Geofísicos Grandes áreas associados à sondagens
Estratigrafia Piezocone Amostragem integral de pequeno diâmetro
Condição da amostra, detalhes do perfil,grau de
Raio-X amolgamento e presença de anormalidades
Limites de Atteberg LL e LP;
Parte necessária de qualquer programa de
Caracterização e Ensaios umidade natural; massa
caracterização geotécnica
básicos específica; granulometria,
Realizar os ensaios de LL e LP com amostras a
densidade dos grãos;e teor de
partir da umidade natural (sem secagem prévia)
matéria orgânica.
Não pode providenciar parâmetros de projetos
Considerar qualidade de amostragem
Ensaios edométrico
convencional. Palheta de campo - utilização da correlação
História de tensões
Adensamento com velocidade Su = f (OCR) (Coutinho et al. 2000)
(OCR) Dilatômetro
de deformação constante
(CRS). Consideração / correção da velocidade de
deformação no CRS
Pressiômetro autocravante
Coeficiente de empuxo Ensaio caro; usar correlação Ko = f (OCR) para
(SBPMT)
em repouso (ko) avaliar resultado do DMT
Dilatômetro (DMT).
Considerar qualidade de amostragem
Parâmetros de Ensaio eodométrico Estimativa e uso de correlações a partir da
compressibilidade convencional umidade natural (ex. Coutinho et al. 1998a)
(e0, Cs, Cc) CRS Consideração / correção da velocidade de
deformação no CRS
Ensaio edométrico não necessariamente
Coeficiente de Dissipação com piezocone. confiável
adensamento (Cv, Ch) CRS. Consideração / correção da velocidade de
deformação no CRS
Coeficiente de Piezocone e/ou Ensaio edométrico para obter k = f (índice de
permeabilidade permeabilidade in situ vazios)
Ensaio palheta de campo é mais apropriado
(Ladd e DeGroot 2003)
Ensaios de campo (CPTU,
Vane) Usar correlação Su = f (OCR) para avaliar
Resistência não drenada Ensaios de laboratório triaxial resultados
(Su) UU e CU (TC e TE) Consolidação para tensões efetivas iniciais de
Ensaio de cisalhamento puro campo
(DSS) Consideração da anisotropia
Avaliação da resistência por mais de um tipo de
ensaio
Parâmetros de resistência Cuidado na saturação do corpo-de-prova e na
Ensaio triaxial adensado não
em tensões efetivas (c’, medida da poro-pressão (CU).
drenado CU ou CD (TC e TE)
Ф’) Velocidade lenta – drenado (CD)
Ensaio triaxial adensado não Considerar qualidade da amostragem;
Módulo de elasticidade
drenado (com escarregamento diagramas Eu / Su = f (IP,OCR) podem auxiliar
(Eu)
/ recarregamento)
Medidas de veloc id. ondas Piezocone sísmico, SCPTU; “Cross Hole”
Módulo de cisalhamento a
sísmicas / Ensaios geofísicos Go = ρVs2
pequenas deformações
sísmicos Uso em Lab de “bender ellements e
(Go)
(campo e laboratório) compression transducer”

17
Coutinho (2008) e Viana da Fonseca (2008) procedimento de extração, transporte,
apresentam e discutem investigação geotécnica, armazenamento e utilização em laboratório de forma
particularmente de campo, destacando avanços nos a se obter amostra de boa qualidade. Em relação à
procedimentos / equipamentos e na obtenção de amostra bloco (indeformada) e saco (deformada) as
parâmetros geotécnicos de projeto para uso na recomendações estão descritas na Norma NBR 9604
prática de engenharia, particularmente em solos - Abertura de Poço e Trincheira de Inspeção em
sedimentares e residuais. Schnaid & Coutinho Solo, com Retirada de Amostras Deformadas e
(2005) apresentam o relatório nacional (“Brazilian Indeformadas.
Report”) a cerca do uso, equipamentos, potencial e Procedimentos complementares devem ser
aplicação em pesquisa e prática do ensaio estabelecidos em cada obra, função da atualização
pressiômetro. do conhecimento pela literatura, de forma a garantir
McGuffey et al. (1996) discutem as atividades de a melhor qualidade possível (Coutinho, 2008).
coleta de dados de campo para uma investigação de Os efeitos mais importantes da perturbação da
taludes/deslizamento, abordando as opções de amostra são a significante redução na tensão efetiva
exploração e amostragem e as opções para da amostra e a redução na pressão de escoamento
caracterizar as condições de subsuperfície. O mérito σ’p (pressão de pré-adensamento) estimada em
dos vários métodos de exploração geofísicos, bem ensaios de adensamento.
como uma grande gama de métodos envolvendo É consenso na literatura que é essencial avaliar e
ensaios in situ, sondagens, ensaios em escavações e registrar a qualidade da amostra quando da
procedimentos de amostragem manual. avaliação de dados de compressibilidade e de
O Boletim nº 3, 4ª edição da ABGE (1999) resistência, o qual ainda não é comumente feito na
orienta a execução da maior parte das atividades prática. Algumas metodologias têm sido propostas:
rotineiras relacionadas às sondagens geológico- 1 - Inspeção visual da estrutura (“fabric”);
geotécnicas. Tratando de: sondagem a trado, poço e 2 - Medição da tensão média efetiva inicial, p’;
trincheira de inspeção e solo, sondagem a percussão, 3 - Medição da deformação durante
ensaio de permeabilidade em solo, sondagem reconsolidação;
rotativa, ensaio de perda d’água sob pressão, 4 - Comparação de velocidade de ondas sísmicas
amostragem integral e sondagem a rotopercussão. / módulo cisalhante máximo em campo e em
laboratório.
4.2 Amostragem Hight (2000), ver também FEUP (2001),
apresenta uma sistematização dos métodos de
A qualidade de amostragem tem sido reconhecida avaliação da perturbação e técnicas para alta
pela engenharia geotécnica como um dos mais qualidade de amostragem em solos.
importantes fatores para a obtenção de parâmetros Coutinho (2008) e Viana da Fonseca (2008)
geotécnicos adequados a partir de ensaios de apresentam resultados e discussão de
laboratório (ver, por exemplo: Ladd 1973, Coutinho procedimentos, amostradores e qualidade de
1976, 1986, 2007; Hight 2000; Hight e Leroueil amostragem, particularmente para solos moles e
2003, Tanaka 2008, Viana da Fonseca & Coutinho, solos residuais, incluindo metodologias para
2008, Coutinho, 2008). A perturbação da amostra é avaliação da qualidade da amostra.
causada no processo de amostragem e durante a Uma das responsabilidades de uma equipe de
preparação do corpo de prova para ensaios de investigação de campo são a rigorosa identificação
laboratório. Um número de métodos de amostragem (rotulagem) e locação de todas as amostras. É
incluindo tipos de amostradores para a obtenção de evidente que amostram mal rotuladas ou mal
amostras de boa qualidade tem sido desenvolvido e locadas no campo não têm valor e podem, na
alguns deles estão sendo utilizados na investigação verdade, ser objeto de muitas análises infrutíferas se
para prática. A avaliação da qualidade da amostra essa rotulagem errônea ou má locação são
ou métodos para correção de valores derivados a problemas desconhecidos.
partir de amostras de má qualidade tem sido Muitos tipos de amostras de solo exigem proteção
proposta por vários pesquisadores (por exemplo, e impermeabilização para evitar a secagem. Mesmo
Lunne et al. 1997; Viana da Fonseca & Coutinho, amostras amolgadas ou amostras de furos de trado,
2008, Coutinho 2007 e 2008). que são apenas misturas de materiais, devem ser
Uma grande variedade de técnicas de sondagens manuseadas de forma que preserve as suas
(perfurações) e amostradores estão disponíveis em características de campo o máximo possível.
NAVFAC (1982) e na edição do Workshop de As amostras obtidas através de amostradores são
Técnicas de Amostragem em Solos e Rochas extrudadas a partir de seus tubos no laboratório, e
Brandas e Controlo de Qualidade (FEUP, 2001) devem ser sempre extrudadas na mesma direção que
A Norma Brasileira NBR 9820 – Amostragem de entrou no tubo em campo, ou a qualidade da
solos coesivos em furos de sondagem recomenda e amostra pode ser comprometida.
ressalta vários aspectos do amostrador e do
18
Tabela 7 – Aplicação e utilização de ensaios de campo (Lunne et al. 1997)

Aplicabilidade: A = alta, B = moderada, C = baixa, - = nenhuma; *φ’ = depende do tipo de solo; 1 = apenas quando for
medida a poro-pressão; 2 = apenas quando for medido o deslocamento. Parâmetros de solo definido: u = poro-pressão
estática de campo; φ’ = ângulo de atrito interno efetivo; Su = resistência ao cisalhamento não drenada; mv = módulo de
compressibilidade; cv = coeficiente de adensamento; k = coeficiente de permeabilidade; Go = módulo cisalhante a
pequenas deformações; OCR = razão de pré-adensamento; σ-ε = relação tensão-deformação; ID = índice de densidade

No caso de solos fortemente coesivos, o atrito determinar as condições da amostra, detalhes do


com a parede do tubo pode tornar-se excessivo e a perfil, grau de amolgamento e presença de
extrusão deve ser realizada após o tubo da amostra anomalias. Para a obtenção de resultados confiáveis
ser cortado em comprimentos curtos. em laboratório é fundamental a qualidade da
Testemunhos em rocha (sondagem rotativa) amostragem e do manuseio no laboratório /corpo de
necessitam freqüentemente um tratamento prova.
cuidadoso para evitar fraturas adicionais. Valores de Wu (1996) visando uma análise de estabilidade
RQD para testemunhos em rocha devem ser de talude apresenta diversos métodos disponíveis
determinados imediatamente. Um manuseio para medições da resistência ao cisalhamento em
indevido da caixa (especial de madeira) de campo e em laboratório. São apresentados desde
testemunhos pode resultar em danos significativos métodos simples até ensaios de laboratório mais
para os testemunhos. elaborados que permitem a combinação de tensões
normais e cisalhantes para serem empregadas e poro
pressões para ser medida ou controlada (drenagem),
4.3 Ensaios de laboratório procurando simular as condições de deformação ou
tensão de campo. Recomendações técnicas para
Amostras indeformadas são geralmente enviadas ensaios e procedimentos podem ser obtidas em
para o laboratório em seus tubos de amostragem (ou Head (1994), Clayton et al. (1996) etc.
em blocos), fechados e rotulados. Antes da tentativa DeGroot e Landon (2007) apresentam um
de remoção das amostras de seus tubos, os tubos trabalho sobre métodos de laboratório para
podem ser submetidos a exames de raios-X para determinar o comportamento tensão-deformação-

19
resistência-fluxo de argilas e determinar parâmetros pelo menos minimizar, os futuros movimentos, e
geotécnicos. O trabalho descreve três níveis de podem sugerir alternativas de projeto menos sujeitas
grupos de ensaios; de simples ensaios de a deslizamentos.
classificação para ensaios avançados para medir Ocorrendo um deslizamento durante a
parâmetros de projeto. Procedimentos construção ou posteriormente, a investigação é
recomendados são descritos para a obtenção de realizada para diagnosticar os fatores que afetam os
parâmetros de qualidade nos ensaios, incluindo movimentos e para determinar quais são as medidas
procedimentos para qualidade da amostragem – corretivas adequadas para prevenir ou minimizar
corpo de prova, da reconsolidação do corpo de outros movimentos. Na investigação de estabilidade
prova e controle – automação dos ensaios (Tabela a instrumentação e a retroanálise são ferramentas
8). extremamente úteis para reduzir a ameaça à
Novas técnicas e equipamentos de ensaios propriedade ou à segurança das pessoas.
avançados, incluindo técnicas experimentais Bromhead (2000) afirma que a instrumentação
aplicáveis a solos não saturados (curva em taludes tem um número de usos / objetivos,
característica, cisalhamento direto e triaxial com incluindo a provisão de dados específicos em
sucção controlada etc), a medição interna do conhecidos taludes instáveis, a verificação de
comportamento do solo - deformações, ensaios de hipóteses de projeto a qual a estabilidade de obras
natureza dinâmica, determinação do módulo de terra pode depender, ou para prover a base para o
cisalhante em diferentes níveis de deformação – controle de um processo construtivo. Em casos
muito pequenas a grandes (uso de “bender elements extremos, o monitoramento pode ser usado para
e compression transducers”, ensaio de coluna fornecer em avanço de eminentes movimentos
ressonante etc) vêm permitindo avanços na seleção quando a única resposta possível para evento /
de parâmetros de projetos para a prática, junto ao acidente particular é as evasão ou fuga.
avanço do conhecimento do comportamento de Em taludes em movimento pode ser desejável
solos saturados e não saturados. instalar instrumentos para medir as deformações de
Vilar (2006) apresenta e discute ensaios de superfície e subsuperfície e/ou para monitorar as
laboratório de Mecânica dos Solos clássicos e condições de água subterrâneas. Alguns dos
opções para caracterização micro-estrutural e instrumentos utilizados para tais fins são:
ensaios para medidas de propriedades mecânicas, inclinômetros, indicadores da superfície do
com ênfase na resistência ao cisalhamento. Novas movimento (“slip indicator”), extensômetros,
demandas do meio técnico, como ensaios na área extensômetros magnéticos, marcos de superfície,
ambiental, ensaios de interação de solos com piezômetros (Casagrande - máxima, hidráulico,
geossintéticos e fundamentos das técnicas pneumático e elétrico), medidores de vazão e
experimentais aplicáveis a solos não saturados, características da água de surgências etc.. O
incluindo uma síntese de métodos de medição de acompanhamento da ocorrência das chuvas
medidas de sucção, complementam o trabalho. Para (intensidade etc) também pode ser um fator
o caso dos solos não saturados ver também os importante e pode ser realizada com instrumentos
trabalhos de Fredlund (2006) e Vilar (2007). tipo pluviômetros. Dunnicliff (1988) apresenta e
A Tabela 6 modificada a partir de Coutinho descreve os diversos instrumentos utilizados em
(2008) apresenta procedimentos recomendados na instrumentação, bem como descreve sua utilização e
bibliografia para determinação de parâmetros de aplicação em diversos tipos de obras de engenharia
argilas moles, podendo, contudo, ser referência para geotécnica.
outros materiais, considerando a suas Trabalhos Nacionais sobre o tema podem ser
particularidades e técnicas correspondentes. encontrados nos Anais: Simpósio Sobre
Em Viana da Fonseca & Coutinho (2008) e no Instrumentação de Campo em Engenharia de Solos
item 5 do presente trabalho são apresentados e e Fundações (COPPE/UFRJ, 1975) e Simpósio
discutidos diversos resultados e técnicas de ensaios Sobre Instrumentação Geotécnica (SINGEO,1990).
de laboratório realizados em diferentes formações Coutinho & Ortigão (1990) apresentam e discutem
geológicas (solos residuais, Formação Barreiras e tipos, desempenho e acurácia de diversos
colúvio) na condição saturada e não saturada. equipamentos de instrumentação geotécnica
Na investigação da estabilidade de taludes ou
4.4 Instrumentação e retroanálise encostas há um predomínio da utilização de
métodos analíticos convencionais ou
Áreas susceptíveis a ocorrência de deslizamentos determinísticos. Os métodos analíticos, empregando
normalmente exibem características de movimentos o equilíbrio-limite, expressam a estabilidade da
passados e rupturas incipientes. O potencial para encosta por um coeficiente ou fator de segurança
deslizamentos pode ser avaliado por métodos (FS). Nas retroanálises em geral, que empregam os
qualitativos e/ou quantitativos. A instrumentação e a métodos determinísticos, são feitos cálculos
retroanálise podem nos mostrar como prevenir ou, tentativos do Fator de Segurança, até ajustar os
20
parâmetros de resistência (coesão e ângulo de atrito) a resistência do material é contra a segurança, pois
à condição de FS = 1,0. Esses cálculos devem ocorre uma maior área de atuação da resistência do
considerar as condições geométricas, hidrológicas e material durante o movimento tri-dimensional.
a superfície do movimento durante a ruptura. Entretanto, mesmo com dificuldades, a retroanálise
Dificuldades inerentes ao processo de obtenção utilizada de forma adequada, é uma ferramenta útil
de resultados confiáveis em um trabalho de retro- de trabalho para a obtenção de parâmetros de
análise ou investigação de rupturas existem. resistência do solo de fundação calibrados
Leroueil e Tavenas (1981) e Leonards (1982) regionalmente.
apresentam interessantes discussões a respeito deste Os exemplos de casos apresentados no item 6.1 e
assunto. O efeito tri-dimensional no caso da 6.2 apresentam estudos / pesquisa que utilizaram
retroanálise, por exemplo, caso significativo e não instrumentação e a ferramenta da retroanálise.
seja considerado no estudo, o resultado obtido para

Tabela 8 – Ensaios de laboratório para caracterização de argilas (DeGroot & Landon, 2007)
Categoria do Ensaio Tipo de Ensaio Vantagens e Desvantagens
teor de umidade execução simples e relativamente rápida;
densidade equipamentos normalmente disponíveis;
Ensaios de classificação e
limites de atterberg parte necessária de algum programa de
de índices físicos
análise granulométrica investigação geotécnica;
peso específico não fornece parâmetros de projeto.
execução simples e relativamente rápida;
penetrômetro
equipamentos normalmente disponíveis;
“fall cone”
freqüentemente fornecem resultados
Ensaios de resistência “torvane”
dispersos;
Indices palheta de laboratório
uso adequado como parâmetros de projeto
ensaio de compressão
requer correlações específicas para os solos
não confinada
da área.
carregamento fornece melhor controle do estado do solo e
oedométrico incremental condições do laboratório;
adensamento sob fornece medidas diretas dos parâmetros de
velocidade constante de projeto;
Ensaios de laboratório deformação equipamentos mais complexos e caros;
avançados triaxial (TC e TE) PC automação potencializa o aumento da
cisalhamento direto puro produtividade e veracidade dos resultados
cisalhamento direto dos ensaios;
condutividade hidráulica requer maior nível técnico do operador;
conta com amostras de boa qualidade

5 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS situações / obras de engenharia são decorrentes de


um longo e complexo processo que vem desde a sua
5.1 Caracterização de Principais depósitos em origem e formação (“in situ”, transportados e
movimentos de massa orgânicos) passando por diversos processos de
transformações pedogenéticos no ambiente de
Os principais depósitos associados aos eventos de formação, com fatores relacionados ao clima, rocha
movimentos de massa ocorridos no Brasil referem- matriz, relevo e tempo transcorrido, sendo principais
se aos solos residuais, aos solos provenientes da responsáveis pelo desenvolvimento do perfil e
Formação Barreiras e aos colúvios. Solos características geotécnicas. A condição de estado
denominados tropicais são largamente encontrados onde se inclui a compacidade / consistência, história
no território brasileiro, devido às condições de tensões – grau de pré-adensamento, a anisotropia
climáticas favoráveis à sua formação (clima quente e o grau de saturação do solo, influencia diretamente
com alto índice de pluviosidade). Ressalta-se que o as propriedades geotécnicas.
intemperismo e os processos pedogenéticos Os níveis de água nos perfis residuais e Formação
(laterização) influenciam na extensão do perfil e no Barreiras, em particular nos trópicos, estão muitas
comportamento dos solos tropicais. Estes solos vezes em grandes profundidades, ou, pelo menos,
raramente são encontrados na Europa e América do suficientes para que se desenvolvam fenômenos de
Norte, o que tornou o estudo deste tipo de solo condicionamento de comportamento pela instalação
responsabilidade dos países de clima tropical de sucção (definida com a diferença entre a pressão
(Barata, 1981). O comportamento dos solos frente a do ar, ua, e da água em menisco, uw). O

21
comportamento mecânico dos solos não saturados Solos residuais são formados “in situ” através da
depende de quatro varáveis – tensão média efetiva desintegração e decomposição de rochas causadas
(p–ua), tensão de desvio, q, sucção, s (ua – uw), e por processos de intemperismo. Fatores associados a
volume específico, ν (e.g. Fredlund, 1979; Alonso et rocha matriz, clima, topografia, condições de
al. 1990; Futai et al. 1999). A sua consideração na drenagem e tempo influenciam a espessura das
interpretação dos ensaios, nomeadamente nos camadas e as propriedades geológicas do perfil de
ensaios in situ, é indispensável, pois tem direta solo formado. Em áreas tropicais estes fatores atuam
conseqüência na resistência e rigidez dos solos. A de forma mais acentuada do que em áreas não
principal diferença entre os solos saturados e os tropicais. No perfil de intemperismo, é possível
parcialmente (ou não) saturados reside na pressão encontrar materiais variando desde rocha sã, rocha
neutra negativa instalada na fase líquida (água) alterada, solos com características da rocha matriz
intersticial, denominada de sucção, que tende a (solo residual jovem ou saprolito) e horizontes onde
crescer com a resistência e rigidez dos solos. não são encontrados características da rocha matriz
Os solos tropicais (residuais etc.) resultantes de (solo residual maduro ou solo laterítico). No topo da
vários tipos de rochas podem manifestar tendências sua camada, podem-se encontrar solos transportados
de colapsibilidade, particularmente quando (ex. colúvio), os quais podem dificultar a
desenvolvem estruturas abertas (elevada porosidade) identificação dos solos residuais. Várias propostas
com ligações em pontes cimentícias sensíveis a para classificação de perfis de solos residuais já
mudanças de estado hídrico (Vargas, 1973). foram apresentadas na literatura (Deere & Patton,
Usualmente, estes solos desenvolvem-se em 1971; Vargas, 1985). Pastore (1992) relaciona
condições climáticas de pluviosidades elevadas e algumas proposições de perfis de intemperismo
concentradas, em ciclos de longos períodos de seca, típicos do Brasil.
alta temperatura e evaporações intensas, com O horizonte II (solo laterítico) é usualmente
alguma inclinação para lixiviação de material mais formado sob condições de temperatura e umidade,
fino e alterado. As pontes argilosas dos materiais envolvendo uma alta permeabilidade no perfil, que
mais sensíveis são de caulinita ou argilas um pouco frequentemente resulta numa estrutura com alto teor
mais ativas, como a gipsita e a aloisita. Depósitos de óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio
coluvionares (ou solos residuais maduros) podem (laterização). Os solos lateríticos caracterizam-se
tornar-se colapsíveis em ambientes em que haja pela presença de grãos com elevado percentual de
grandes e sistemáticas alterações de estações muito hidróxidos e óxidos de ferro ou alumínio, muito
úmidas e muito secas, com capitalização de resistentes mecânica e quimicamente.
processos de lixiviação por dissolução de sais e O horizonte III (solo saprolítico) pode apresentar
partículas coloidais (Mitchell & Coutinho, 1991). um alto grau de heterogeneidade tanto verticalmente
Os solos residuais e outros podem apresentar-se como horizontalmente resultando numa estrutura de
como solos expansivos, que aumentam em volume arranjo bastante complexa. A textura e mineralogia
quando em presença de água, mas contraem se a destes solos pode variar consideravelmente, em
água é removida. Estes solos são uma continua fonte função do grau de intemperismo a que são
de problemas no projeto,construção e manutenção submetidos. A mineralogia pode influenciar
de edifícios, tubos de abastecimento, estradas e significativamente nos ensaios de caracterização
pistas de pouso,canais e estruturas.Os tipos e física e na classificação dos solos residuais. Em
quantidade de argilo-minerais são o principal fator solos lateríticos consideráveis decréscimos nos
que controla a deformação e pressão de expansão. Limites de Atterberg e na fração fina podem ocorrer
Para uma dada composição de solo, a densidade, devido à secagem das amostras antes dos ensaios.
teor de umidade inicial e a estrutura do solo também Em alguns solos saprolíticos (solos micáceos), a
afetam significativamente o comportamento presença do mineral mica na fração silte pode
expansivo. O grupo das esmectitas de argilo- conduzir este solo a uma atividade “fictícia”
minerais (montimorilonita e outros) tem maior (Vargas, 1988). As ligações e a estrutura dos solos
capacidade absorção de água e causa o maior residuais podem influenciar os parâmetros de
comportamento de expansão/contração. resistência, devido a anisotropia proveniente da
Neste trabalho serão abordados de forma sucinta, estrutura reliquiar da rocha matriz. Nestas
aspectos gerais e exemplos de algumas propriedades condições, a estrutura formada durante a evolução
geotécnicas dos depósitos de solos residuais, do processo de intemperismo, pode se tornar
Formação Barreiras e dos colúvios, encontrados em bastante sensível a carregamentos externos,
alguns estados brasileiros (Região Sudeste e requerendo desta forma, técnicas de amostragem e
Nordeste). de ensaio adequadas a fim de se preservar a
estrutura reliquiar do solo. Como exemplos de
5.1.1 Aspectos Gerais trabalhos podemos citar Barata (1981); Vargas
(1981); Lacerda & Almeida (1995); Mitchell &
a) Solos residuais Coutinho (1991); Coutinho et al. (2004), etc.
22
Os solos residuais, particularmente de rochas 1994, 2006, Ng & Leung, 2006). Há algumas provas
ígneas, são formados por uma camada superior de de boas correlações entre índices de alteração e
massas geralmente muito heterogêneas com propriedades de engenharia (Massey et al. 1989,
expressões muito variáveis, sobrejacente a rochas Irfan, 1996), mas na prática de projecto de estruturas
mais ou menos alteradas (Blight, 1997). De facto, estas relações não são estáveis e suficientemente
processos de alteração muito variáveis, temperatura, precisas.
drenagem, e topografia, reduzem as massas rochosas Alguns solos, dependendo do grau de alteração,
em jazida a solos que podem cobrir granulometrias não preservam as estruturas relicares da rocha-mãe,
diversas (argila até cascalho) e que gradualmente enquanto outras são fortemente influenciadas e
aprofundam para saprólitos e rocha-mãe revelam essas relíquias (Rocha Filho et al. 1985,
parcialmente meteorizada (Martin, 1977). Rochas Costa Filho et al. 1989), sendo que estas estruturas
ígneas, como o granito, são compostas revelam pontes de cimentícias, algumas de
principalmente de quartzo, feldspato e mica. O precipitação, mas também fraturas e fissuras
quartzo é resistente à decomposição química, remanescentes de rochas originalmente fraturadas
enquanto o feldspato transforma-se sobretudo em (Mayne and Brown, 2003).
minerais de argila. Com o progresso desta Num perfil de alteração (a seqüência dos
meteorização, as tensões são aliviadas pela perda de horizontes que se formam neste processo) pode-se
peso sobrejacente acelerando a esfoliação, enquanto encontrar materiais variando desde rocha-sã, rochas
que os processos de umedecimento e secagem mais ou menos alterada e solo com fábrica e
potenciam esta criação de vazios. Estes processos estrutura da rocha (solos residuais jovens ou
aumentam a área de rocha exposta à alteração saprolíticos), até solo sem “resquícios da rocha que
química, aprofundando ainda mais os perfis de lhe deu origem (solos maduros ou lateríticos). Neste
alteração (Irfan 1996, Ng & Leung, 2006). Estudos horizonte superior pode aparecer solo transportado
micropetrográficos evidenciam que a meteorização (por ex. colúvio), que pode ser difícil de distinguir
reduz gradualmente o conteúdo de feldspato tanto dos verdadeiros solos residuais. As Figuras 16 a e
em rochas vulcânicas como plutônicas. A 16 b apresentam uma proposta para classificação
percentagem de minerais de argila, microfraturas e destes perfis.
vazios cresce, mantendo-se os cristais de quartzo
(Viana da Fonseca, 2003, Viana da Fonseca et al.

Solos residuais I –orgânico


ou II – horizonte de
transportados solo laterítico
III – horizonte de
Solos residuais
solo saprolítico
Transição
IV – saprólito
entre solo e
rocha
V – horizonte de
rocha muito
Massas alterada
rochosas VI - horizonte de
rocha alterada
VII –rocha sã

(a) (b)
Figura 16: (a) Perfis típicos de solos residuais do Brasil (alguma das 5 zonas podem não estar presente) (Vargas,
1985); (b) Perfil de alteração segundo Pastore (1992), apud Lacerda & Almeida (1995).

b) Formação Barreiras brasileiro, estendendo-se desde a Foz do Amazonas,


por toda a região costeira norte e nordeste, até o Rio
A Formação Barreiras é uma unidade de expressão de Janeiro. Para o sul, seqüências equivalentes têm
continental, de grande ocorrência no litoral sido encontradas até o Uruguai. A Formação

23
Barreiras constitui-se de uma cobertura sedimentar escorregadas, os detritos de avalanches e suas
continental, de idade pliocênica (Alheiros et al., misturas e a deposição por erosão de solo oriundo
1988), possuindo tonalidades com coloração viva e de cotas superiores. Lacerda (2004) identifica um
que variam desde vermelhas, amarelas até brancas, tipo de colúvio denominado “novo colúvio”; sendo
aflorando nas falésias erodidas ao longo das praias e este formado pela instabilização do solo residual
nas vertentes íngremes dos vales. Litologicamente presente numa encosta, onde, em decorrência de
temos as areias quartzosas, as argilas e os siltes mudanças no regime hidrológico, pode-se ter a
como sedimentos da Formação Barreiras. formação de uma superfície de ruptura no solo
A Formação Barreiras, associada aos processos residual.
fluviais, mostra pelo menos três fácies distintas: Quanto à origem dos colúvios, os mesmos podem
leque aluvial proximal, leque distal/planície aluvial se formar em decorrência dos processos erosivos
e canal fluvial (Alheiros et al., 1988). Os sedimentos atuando na superfície da rocha, onde podem formar
da fácies de leque proximal, mostra granulação blocos ou lascas (especialmente em gnaisses), que
grossa e má seleção granulométrica. A fácies de se desprendem e se acumulam no pé da encosta,
canal fluvial é caracterizada por ser de formando um tálus. As massas escorregadas
granulometria arenosa, bem susceptível a processos referem-se a um solo residual presente no topo da
erosivos. A fácies de leque distal/planície aluvial encosta que escorrega e se deposita no pé da encosta
mostra uma estratificação horizontal com com total desagregação do solo residual.
intercalação de camadas arenosas e argilosas. Essa Lacerda (2004) propõe que os colúvios podem ser
alternância argila/areia cria situações peculiares divididos em duas classes: os colúvios
quanto à estabilidade das encostas: se o talude desestruturados, os quais são resultados da
cortado tiver como camada de topo a argila, esta deposição de material escorregado; e o “novo
segurará o relevo, reduzindo a erosão da camada colúvio”, definido acima.
subjacente; quando a camada de topo é a areia, a alta Turner (1996) identifica fatores que podem
infiltração em superfície favorecerá a saturação, a influenciar a instabilidade de um colúvio, tais como:
erosão na crista e possíveis escorregamentos propriedades dos solos, geomorfologia, hidrologia e
associados no talude. cobertura vegetal das encostas. A massa de um
Na Região Metropolitana do Recife, os depósitos colúvio é geralmente complexa devido a estas
da Formação Barreiras distribuem-se diferentes formas de deposição, apresentando em
discordantemente sobre o embasamento cristalino e geral índices de vazios maiores do que o solo na sua
as bacias cretáceas (Sub–Bacia Cabo e Sub-Bacia posição original. Os estudos a respeito de colúvios
Olinda) podendo alcançar até 150m de espessura na se concentram na região Sudeste do Brasil, onde
área norte do Recife. Com sua coloração forte e podemos citar os trabalhos de Sandroni (1982),
variada, as camadas da Formação Barreiras, no Lacerda & Silveira (1992), Lacerda (1997, 2002,
trecho Recife – João Pessoa, são identificadas por 2004).
um conjunto de fácies fluviais entrelaçadas,
juntamente com leques aluviais a oeste. 5.1.2 Propriedades geotécnicas
Embora, a Formação Barreiras ocupe uma área
aproximada de 31 Km2, equivalendo a um total de a) Propriedades Índices
18% da cidade do Recife e habitados por cerca de
400.000 habitantes, são poucos os estudos Os resultados dos ensaios índice e a mineralogia de
aprofundados desenvolvidos em solos desta um solo residual de Ouro Preto, no Brasil, estão
formação. Entretanto, em alguns locais, estes solos sumariados na Figura 17. A percentagem de argila é
são bem estudados, onde podemos citar como maior no horizonte B e a comparação das análises
exemplos os trabalhos de Gusmão Filho et al. granulométricas, com e sem defloculantes, revelam
(1986); Ferreira (1991); Coutinho et al. (1999; que há floculação de argilas – reflexo de cimentos e
2006) ; Lafayette (2000); Lima (2002); Bandeira agregados que explicam a estruturação. Na Figura
(2003); Bandeira et al. (2004, 2005); Lafayette et al. 18 apresentam-se os resultados da descrição de um
(2003, 2005). furo de sondagem de um maciço residual de gnaisse
não saturado.
c) Colúvios Em geral, o solo residual maduro (horizonte B) é
composto por uma argila arenosa porosa, com as
Lacerda & Sandroni (1985) definem colúvio como partículas de argila floculadas (agregadas). O solo
sendo um depósito composto por blocos e/ou ou residual jovem (horizonte C/Cr) é uma areia siltosa
grãos de qualquer dimensão, transportados por com mica, com as características da rocha-mãe
gravidade e acumulados no pé ou a pequena preservadas em parte (foliação em torno de 30º com
distância em taludes mais íngremes ou escarpas a horizontal). A rocha (gnaisse biotítico) apresenta
rochosas. Lacerda (2002; 2004) considera como um elevado grau de fraturamento com valores de
casos particulares de colúvios, os talus, as massas RQD baixos.
24
3
Water content (%) γnat (kN/m ) Void ratio Mineralogical content (%)
Grain size (%)
0 20 40 60 0.6 0.9 1.2 1.5 0 20 40 60 80 100
14 16 18 20 0 25 50 75 100
0 wP

gibbsite

e
wnat

/F
B Horizon
wL IP = 29 %

us
1 Clayey

ho
sand clay

or p
22 sand

Am
2

24
3
Silt

other
Depth (m)

C Horizon kaolinite quartz


21
4 saprolitic
soil
22
5 Sandy silt

19
6

16
7
Exposed
saprolitic
soil 21

Figura 17: Ensaios índice e mineralogia de um solo residual tropical de Ouro Preto, no Brasil (Futai e tal., 2004)

Figura 18: Resultados de um furo de sondagem (SPT/RQD) e propriedades singulares de um solo residual
gnáissico não saturado de Pernambuco, no Brasil (Coutinho et al., 2000)

25
Os índices de vazios iniciais (e0) de alguns solos representa G0/N60 versus (N1)60 em solos residuais,
residuais e solos provenientes da Formação em que (N1)60 = N60 (pa/σ´vo)0.5. Os valores do campo
Barreiras do estado de Pernambuco, são experimental da FEUP também estão incluídos.
apresentados na Tabela 9 em conjunto com os
índices de vazios de alguns solos residuais e Monterey: 1% cemented Monterey: 2% cemented Porto Alegre, Brazil

colúvios pertencentes aos estados de São Paulo, Rio Sao Paulo, Brazil
Guarda, Portugal (PT)
Spring Villa, USA
Matosinhos, Porto, PT
Opelika, USA
CEFEUP, Porto, PT
de Janeiro e Minas Gerais. Observa-se que os
1000
índices de vazios dos colúvios – neste caso, os Upper bound (cemented geomaterials)
colúvios desestruturados - (2,5 - 1,0) são geralmente Lower bound (cemented geomaterials)
maiores do que os dos saprolitos (0,9 - 0,6), dos
solos residuais (1,7 - 0,55) e dos solos provenientes 100
da Formação Barreiras (0,91 – 0,62). Vale registrar

G0/qc
que o índice de vazios dos solos da Formação
Barreiras são relativamente baixos e em uma faixa 10
pequena, com valores próximos ao do saprolito de
granito estudado. Unaged uncemented sands

1
b) Classificação de solos não usuais baseada em
10 100 1000
índices mecânicos de resultados de ensaios in situ
qc1

Os ábacos de classificação baseados num ensaio


com o piezocone (CPTU) tais como os propostos Figura 19: Relação entre G0 e qc para solos residuais
por Robertson (1990), foram baseados em solos de (Viana da Fonseca & Coutinho, 2008 - completado
comportamento mais padronizados (areia e argila), e a partir de Schnaid et al., 2004).
podem refletir dispersões consideráveis no tipo de
material, particularmente no caso dos solos não A variação de G0 com N60 pode ser expressa pelos
usuais. Há um claro desajuste entre as limites superior e inferior (Schnaid et al., 2004):
classificações, o que evidencia a especificidade que Moema, SP, Brazil Bela Vista, SP, Brazil Vila Madalena, SP, Brazil
estes solos têm e a necessidade eminente de se Paraizo, SP, Brazil Bauru, Brazil São Carlos, Brazil
Campinas, Brazil Caximbu, SP, Brazil Brooklin, SP, Brazil
adaptarem as propostas clássicas à sua realidade. São Carlos, Brazil Campinas, Brazil Porto Alegre, Brazil

Viana da Fonseca & Coutinho (2008) apresentam 1000


Guarda, Portugal (PT) Matosinhos, Porto, PT CEFEUP, Porto, PT

resultados e discussão neste tópico.


As medidas combinadas de velocidade da onda
cisalhante e de resistência do cone fornecem uma
.

oportunidade para identificar estes solos não usuais.


Ratio (G0/pa)/N60

A resistência do cone (qt) é uma boa medida de 100

resistência do solo (very large strains). A velocidade


da onda cisalhante (Vs) é uma medida direta da
rigidez do solo (G0) (very small strains). Recentes
pesquisas têm mostrado que areias não envelhecidas
e não cimentadas tem dados que estão situados 10

dentro de uma estreita faixa de valores conjuntos de 1 10


Normalized (N1)60
100

qt e G0. Os solos (residuais, etc.), que exibam uma


estrutura originada de envelhecimento e/ou
cimentação apresentam resultados fora e acima de Figura 20: Relações entre G0 e N60 para solos
faixa observada para as areias não envelhecidas e residuais (Viana da Fonseca & Coutinho, 2008 -
não cimentadas. A Figura 19 apresenta resultados de completado a partir de Schnaid et al. 2004).
Schnaid et al., 2004 (ver também Robertson &
Cabal, 2009), com inclusão de resultados de campos A linha disposta a traço cheio, um pouco acima
experimentais do Porto – FEUP. da linha de fronteira entre a cimentada e não
A variação de G0 e qc observado na gama de cimentada, foi obtida em solos residuais do granito
depósitos de areia foi expressa em limites inferior e do Porto, no estudo particular, já referido, do campo
superior, sendo este limite superior o limite inferior experimental da FEUP. Tem sido observado que
dos solos cimentados (ver Schnaid et al., 2004). este sinal de “cimentação” ainda é mais evidente nos
Quanto ao SPT, Schnaid et al. (2004) apontam solos lateríticos do que nos saprolíticos, já de si
também a relação entre NSPT com as medidas claros.
sísmicas de G0 para assistir na avaliação da presença
de estrutura e a sua variação em profundidade. Essa
combinação está expressa na Figura 20, que
26
Tabela 9 – Índice de vazios de alguns solos residuais, colúvios e solos provenientes da Formação Barreiras
(Modificada de Lacerda, 2002 e 2004).
INDICE DE VAZIOS
LOCAL MATERIAL INICIAL
(e0 )
Residual, migmatito
0,8 - 1,4
Pinto et al. (1993)
Residual, basalto
São Paulo 1,4 - 1,7
Pinto et al. (1993)
Colúvio
1,0 - 1,8
Pinto et al. (1993)
Saprolito, granito
0,6 - 0,9
Clementino e Lacerda (1992)
Residual, granito
0,75 - 1,1
Clementino e Lacerda (1992)
Colúvio, granito
1,1 - 1,65
Clementino e Lacerda (1992)
Rio de Janeiro Residual, granito
1,1 - 1,19
Lacerda e Silveira (1992)
Colúvio, granito
2,0 - 2,5
Lacerda e Silveira (1992)
Residual, gnaisse 0,7 - 1,0
Minas Gerais
Colúvio, gnaisse 1,3 - 1,5
Residual Gnaisse
0,7 - 1,36
Coutinho et al. (2000)
Residual Calcário
0,55 - 0,69
Silva et al. (2004)
Residual, Granito
0,86 - 0,90
Lafayette et al. (2003, 2005)
Residual, Granito
1,04 - 1,17
Silva (2005)
Formação Barreiras
0,62 - 0,82
Lafayette (2000)
Formação Barreiras
0,82 - 0,84
Fácies: Leque fluvial
Pernambuco Lafayette et al. (2003, 2005)
Formação Barreiras
0,65 - 0,91
Fácies: Aluvial de canal
Silva et al. (2005)
Formação Barreiras
0,62 - 0,69
Coutinho et al. (1999)
Formação Barreiras
Fácies: Leque Proximal 0,63 – 0,84
Bandeira et al. (2004)
Formação Barreiras
0,61 – 0,92
Silva (2007))
Formação barreiras
0,62 – 0,98
Meira (2008)
Rio Grande do Formação Barreiras
0,40 – 0,75
Norte Severo et al.(2006)
A elevada rigidez elástica e a baixa resistência propriedades elásticas e a resistência última é uma
(em termos relativos) nos horizontes mais aproximação interessante para refletir uma estrutura
superficiais são causadas pelos processos de de cimentação frágil e incipiente num arranjo relicar
laterização que enriquecem os solos de elementos muito estável. Qualquer perturbação, como a
cimentícios de ferro e de alumínio e elementos associada penetração estática do CPT tem reflexo na
associados, que potenciam a formação de estruturas queda do valor da resistência, quando comparada
ligadas de elevada porosidade. A relação entre as com a rigidez a muito baixas deformações.
27
Estes latossolos de idade terciária/quaternária c) Propriedades Mecânicas e Hidráulicas
podem, em zona de grande generalização, expressar-
se com espessuras de poucos centímetros a quarenta
metros. A sua expressão depende de vários fatores, Resultados de ensaios de permeabilidade de
tais como a topografia, a cobertura vegetal e da laboratório e de campo para alguns solos residuais,
rocha-mãe. Em pontos localizados o latossolo pode colúvios e solos provenientes da Formação Barreiras
estar sobrejacente a solos saprolíticos residuais com são apresentados na Tabela 10.
um comportamento com uma forte anisotropia e Devido à sua natureza porosa, aliada aos
elevados valores de SPT. macroporos derivados de raízes mortas e de origem
Recentemente, Robertson & Cabal (2009) animal (formigueiros principalmente), os colúvios
apresentam uma extensão da classificação de são muito permeáveis. Ensaios para determinação da
Robertson (1990) para comportamento de solos, permeabilidade de colúvios e solos residuais “in
procurando integrar os registros de velocidades de situ” tendem a fornecer maiores resultados do que
ondas sísmicas de corte, em complemento (ou os ensaios realizados em laboratório (Lacerda,
mesmo, em alternativa) ao registro de excessos de 2004).
pressão neutra, para procurar envolver de forma A Figura 22 apresenta faixa de valores típicos de
mais clara os materiais cimentados, com ênfase para permeabilidade de alguns solos residuais obtidas
os solos residuais (Figura 21). através de vários pesquisadores (Schnaid et al.,
2004). Faixas de valores de permeabilidade dos
solos residuais de granito, gnaisse e calcário, alguns
colúvios e solos da Formação Barreiras
apresentados na Tabela 10 também foram inseridas
na Figura 22. Pode ser observado que os solos
residuais apresentam uma ampla faixa de valores de
permeabilidade (10-4 a 10-7 m/s) a depender do tipo
de rocha matriz, destacando a grande faixa dos solos
residuais de basalto. Os saprolitos apresentam
permeabilidade de média a alta, devido a presença
de grãos de areia e silte agregados e pela estrutura
fraturada herdada da rocha matriz. Observa-se
também que o solo residual de calcário apresenta a
menor faixa dos valores de permeabilidade de 1,25 a
4,7x 10-8 m/s, devido à sua granulometria
predominantemente constituída por grãos finos (silte
e argila).

Figura 21: Novo ábaco de classificação de


comportamento dos solos (ver Robertson & Cabal,
2009).

Figura 22: Permeabilidades saturadas típicas em solos residuais, collúvio e Formação Barreiras (a partir de
Schnaid et al., 2004; Coutinho e Silva, 2006) com a inclusão de solos residuais do Brasil e residuais de
granito do Porto.

28
Tabela 10 – Permeabilidade em colúvios, solos residuais e Formação Barreiras (Modificada de Lacerda,
2004).
Permeabilidade (m/s) Tipo de
Solo Referência Local
“in situ” Laboratório ensaio
Método de
2 x 10 -6 a Wilson (1989)
Avelar & Netto (1992) Bananal, SP 5,8 x10-6
4 x 10-7 em furo a
trado
Infiltração em
2 x 10 –4 a
Schilling et al. (1992) Rio de Janeiro, RJ --- piezômetro
8 x 10-7
Casagrande
Colúvio - gnaisse Permeâmetro
Moraes Silva (2000) Ouro Preto, MG --- 2x 10 -6 e ensaios
edométricos
Ensaio de
Bacellar (2000) Ouro Preto, MG 10 -5 ---
infiltração
a) 4,5x 10 –6 a
Colúvio – gnaisse
Vista Chinesa 10-5 Ensaio de
amarelo S. Rocha et al. (1992) ---
Rio de Janeiro b) 4,1x 10 -6 a infiltração
vermelho
1,5 x10-5
Residual gnaisse Coutinho et al. (2004) Machados, PE 0,4 a 1,1 x 10-5 --- Guelph
Silva (2003) 1,2 a
Residual calcário Paulista, PE --- Triflex
Silva et al. (2004) 4,7 x 10-8
1,2x 10 -6 a Guelph e
Silva (2005) Camaragibe, PE 5 x 10-7
4,3 x10-7 Triflex
Residual granito
2,8 a
Lafayette et al. (2005) Cabo, PE Triflex
4,8 x10-7
Coutinho et al. (1999) Recife, PE 4,8 x10-5 --- Guelph
Guelph e
Lafayette (2000) Recife, PE 2,5x 10 -5 7,6x 10 -5
Triflex
2,26 a
Lima (2002) Recife, PE --- Guelph
5,5 x10-7
4,03 a
Lafayette et al. (2005) Cabo, PE --- Guelph
8,9 x10-6
Formação 1,2x 10 -6 a 1,2x 10 -6 a Guelph e
Silva et al. (2005) Camaragibe, PE
Barreiras 3,6 x10-7 4,8 x10-7 Triflex
1,2 a 1,2 a Guelph e
Silva (2007) Camaragibe, PE
7,3 x10-6 4,8 x10-6 Triflex
1,3x 10 -5 a 1,0x 10-5 a Guelph e
Meira (2008) Ibura-Recife, PE
9,1 x10-7 6,4 x10-7 Triflex
Ensaio de
1,75 x 10-6 a 6,5 X 10-5 a
Severo et al. (2006) Tibau do Sul, RN infiltração e
6,6 x 10-8 1,5 X 10-8
Permeâmetro

Verifica-se que os resultados dos solos residuais A Figura 23 ilustra os valores de permeabilidade
de granito e gnaisse estão de acordo com a proposta encontrados em um solo residual de gnaisse
de (Schnaid et al., 2004). Os colúvios apresentam utilizando-se o ensaio de campo Guelph (Coutinho
faixa de valores de permeabilidade variando de et al., 1997; 2000). Pode-se observar que o solo
2x10-4 a 8x10-7 m/s, devido à sua estrutura porosa residual maduro, argila arenosa, apresenta maior
(Lacerda, 2002) e os solos da Formação Barreiras permeabilidade (Kfs=1,1 ± 0,48 x 10-5 m/s) do que o
variando de 2,5 x 10-5 a 5,5 x 10-7 m/s, onde a solo residual jovem, areia siltosa (Kfs=0,41 ± 0,15 x
variação dos resultados depende dos teores mais 10-5 m/s); sendo este resultado devido à estrutura
argilosos ou arenosos dos materiais estudados. granular e porosa do solo residual maduro
ocasionado por processos pedogenéticos.

29
Figura 23: Permeabilidade saturada e não saturada de um solo residual de gnaisse (Coutinho et al., 1997;
2000)
.
Estes solos residuais exibem uma clara superfície cisalhamento direto. Esse comportamento segundo
de cedência. Esta se define como uma tensão, ou o Lacerda (2004) explica porque deslizamentos em
estado de tensão, para o qual há uma solos residuais podem ser súbitos, enquanto que
descontinuidade no comportamento tensão- deslizamentos em colúvios em geral são lentos.
deformação e um claro decréscimo de rigidez. Esta
tensão de cedência é similar à de um solo
sedimentar sobreadensado, distinguindo-se por ser
causada por ligações cimentícias interparticulares.
Antes desta tensão ser atingida, as deformações são
muito pequenas, sendo que, quando é excedida pela
quebra das ligações, as deformações crescem muito.
A variação do índice de vazios com o logaritmo da
tensão é função simultaneamente da tensão de
cedência – logo do cimento interparticular – e do
índice de vazios inicial – Figura 24 – mais do que
uma propriedade intrínseca do solo, função de
granulometria e da mineralogia (Vaughan et al.,
1988; GSEGWP, 1990; Mitchell e Coutinho, 1991).
Geralmente, a compressibilidade dos solos é medida
em laboratório num ensaio edométrico (ou qualquer Figura 24: Correlações entre log σ’m e e0 (ver
ensaio unidimensional), expresso também na Figura Mitchell e Coutinho, 1991)
19. Os parâmetros Ccs para solos cimentados
constituem uma medida e uma conseqüência do
afastamento que atinge a tensão de cedência em
relação à linha intrínseca (Vaughan, 1998; Lacerda e
Almeida, 1990).
Na Figura 25 apresenta-se um conjunto de
resultados de várias fontes, incluindo os de solos
residuais jovens (saprolíticos) e maduros
(lateríticos) do Brasil, em particular em Pernambuco
e no Rio de Janeiro (Coutinho et al., 1998 e Futai et
al., 2007); os solos residuais jovens apresentam a
correlação: Cc = 0,41 (e0-0,2)+0,01.
A diferença no comportamento tensão-
deformação de colúvios e solos residuais pode ser
verificada na Figura 26. Em geral, os solos residuais
apresentam picos bem definidos, e os colúvios
apresentam tensões cisalhantes crescentes com os
deslocamentos horizontais em ensaios de Figura 25: Correlação entre Cc e e0 (adaptado por
Coutinho et al. 1998)
30
Lacerda (2002, 2004) observa que os colúvios apresenta menores tensões de cisalhamento em
podem exibir comportamento dilatante para baixas relação aos ensaios de cisalhamento direto com
tensões (25 e 50 kPa), revelando o efeito de reversões; já que os ensaio “ring shear” permite uma
estrutura, como pode ser verificado nas curvas maior orientação dos minerais presentes no solo.
tensão-deformação também representadas na Figura Diversas correlações envolvendo o ângulo de
26c, indicando que deslizamentos em colúvios atrito residual, a fração argila e as propriedades
também podem ser bruscos nestes casos. índices dos solos, já foram propostas por vários
O comportamento observado nos solos residuais autores durante as últimas décadas (Skempton,
(picos bem definidos) chama a atenção para o 1964; Lupini et al.,1981; Skempton, 1985; Mesri &
mecanismo de ruptura progressiva; onde este Cepeda-Diaz, 1986). A Figura 28 ilustra a relação
mecanismo tem influência nas deformações e na entre a resistência residual e a fração argila (%<
resistência ao cisalhamento mobilizadas na massa de 2µm) proposta por Skempton (1985) onde os
solo. Como conseqüência, temos que na ruptura, em resultados de alguns solos residuais, colúvios e solos
geral, a resistência ao cisalhamento mobilizada pode da Formação Barreiras foram inseridos.
se situar entre a resistência de pico e a resistência a Observa-se que os solos da Formação Barreiras e
grandes deformações (Leroueil, 2001). os solos residuais de gnaisse se enquadram
Os solos residuais e Formação Barreiras satisfatoriamente na proposta de Skempton (1985).
apresentam uma natureza coesivo-friccional com Os colúvios apresentam elevados ângulos de atrito
uma resistência ao corte fortemente influenciada residuais, apesar do alto teor da fração argila, sendo
por: (i) presença de partículas com pontes de ligação este comportamento devido a sua estrutura ser de
com resistência à tração e com rigidez intrínseca; (2) forma agregada (Lacerda, 2004, Fonseca et
índices de vazios muito variáveis, que são função do al.,2004). Verifica-se também que o solo residual de
processo de alteração e não são relacionados com a calcário, a princípio não se enquadra na faixa
história geostática de tensões; e, (3) saturação proposta por Skempton (1985); vale observar, que a
parcial, possivelmente até profundidades análise mineralógica do solo de calcário estudado
consideráveis (GSEGWP, 1990). A medição da (Silva, 2003; Silva et al.,2004) indicou a presença
resistência ao corte de solos residuais impõe a do mineral quartzo na fração argila
recolha de amostras de grande qualidade, e os (Anagnostopoulos et al., 1989). Desta forma, o
provetes têm que ter dimensões suficientes para percentual <2µm, referente apenas a fração argila
incluir em si mesmo a fábrica e as heterogeneidades pode ser menor do que o encontrado, enquadrando-
mais determinantes. se desta forma na faixa proposta por Skempton
A Figura 27 ilustra um exemplo de envoltórias de (1985).
resistência de pico e pós-pico obtidas de ensaios de Fonseca (2006) apresenta um importante trabalho
cisalhamento direto convencionais; e envoltórias de relativo a tipos de ensaios, resultados obtidos e
resistência residuais obtidas de ensaios de propostas de correlações entre o ângulo de atrito
cisalhamento direto convencionais com reversões residual e parâmetros índices / mineralogia. Os
múltiplas (Head, 1994) e ensaios “ring shear” resultados obtidos pela autora e em outros trabalhos
realizados num solo residual de calcário envolvido não se enquadram na proposta de Skempton (1985)
em sucessivos deslizamentos ocorridos numa mostrando a necessidade de estabelecimento de
encosta em Pernambuco (Silva, 2003; Silva et al. correlações próprias para os solos laterizados
2004). (tropicais) e solos saprolíticos com forte presença do
De um modo geral, observa-se elevados valores mineral mica.
dos ângulos de atrito de pico, pós-pico e residual A influência da mineralogia na resistência ao
(faixa de 32,6º a 24,6º), podendo estar relacionados cisalhamento de pico de solos residuais pode ser
a mineralogia deste solo, o qual apresenta 70 % do observada na Figura 29. Envoltórias obtidas em
mineral calcita em sua composição. Na envoltória estudos em Pernambuco de solos residuais de
de pico, pode-se verificar uma certa curvatura inicial gnaisse (Souza Neto, 1998; Coutinho et al, 2000),
no trecho entre as tensões normais de 25kPa e de granito (Lafayette et al, 2005) e de calcário (Silva
100kPa, coincidindo estar este trecho próximo ao et al., 2004) também foram inseridas na referida
valor da tensão de pré-adensamento deste solo. O figura. Verifica-se que os teores de mica e quartzo
elevado intercepto de coesão obtido (41,0 kPa), têm apresentado boa correlação com a resistência do
pode ser devido a presença de carbonatos, solo, a qual tende a crescer com o aumento de
responsável pela existência de ligações químicas, feldspato e diminuir com o aumento no percentual
gerando assim cimentação das partículas do solo de mica.
(Mitchell, 1992). As envoltórias de resistência
residuais mostram que para tensões normais
superiores a 100 kPa, o ensaio “ring shear”

31
Figura 26: Curvas tensão - deformação em solo residual (a) colúvio(b) e (c) - ensaios de cisalhamento direto
(Lacerda 2004).
400

300
τ (kPa)

200

100

0
0 100 200 300 400 500
σ (kPa)

Figura 27: Envoltórias de resistência de pico, pós-pico e residual de um solo residual de calcário (Silva,
2003; Silva et al, 2004).

Figura 28: Resistência residual de colúvios, solos residuais e solos da Formação Barreiras (Skempton 1985
modificada de Lacerda, 2004).

32
Dimensão do grão
Envolvente de rotura
Material (%) Mineralogia
(condição saturada)
Areia Silte Argila
Ф’= 29,3º , c’ = 2,9
Solo saprolítico de gnaisse - Mica (M) = 40-50%,
83 11 4 kPa
PE Quartzo (Q) e outros
60-68 19-23 7-12 Ф ’= 30,1º , c’ = 2,2
(Coutinho et al. 2000) ~ 50-60%
kPa
Solo saprolítico de gnaisse - Caulinita = 40%, Q=
Ф ’= 30º , c’ = 10 kPa
RJ 38 50 12 45%, gipsita e
(média)
(Futai et al. 2006) outros
Solo saprolítico de calcário - Calcita = 70%, ilita,
Ф ’= 31,6º , c’ = 11,3
PE 20 39 40 caulinita, outros
kPa
(Silva et al. 2004) ~30%
Ф ’= 31,3º , c’ = 7,6
Solo laterítico de granito - PE
24 16 60 kPa caulinita, ilita e Q
(Lafayette, 2006)
Ф ’= 26,3º , c’ = 9,7
Solo laterítico de granito - PE caulinita, Q
28 23 49 kPa
(Silva, 2007) (predominante) e M
Solo saprolítico de granito,
Ф ’= 37-38º, c’= 9-
Porto M ~ 23%, Q ~ 38%,
52-69 17-32 4-8 12kPa
(Viana da Fonseca, F ~ 14%, K ~ 24%
’cv=31,6°
1996,2003)
Solo saprolítico de granito,
M~12-45%,Q~1-
Porto Ф ’= 46 º, c’= 5kPa
50-95 10-41 1-8 25%, F ~ 2%, K ~
(Viana da Fonseca et al., ’cv=33°
54-90%
2006)

Figura 29: Influência da mineralogia na resistência dos solos residuais de gnaisse (modificado de Sandroni,
1977, a partir de Coutinho et al, 2004).

A Tabela 11 apresenta os parâmetros de Pernambuco, junto com a classificação dos solos,


resistência de pico solos da Formação Barreiras de associado às várias fácies da Formação Barreiras.
33
Tabela 11 - Parâmetros de resistência de pico de solos provenientes da Formação Barreiras na RMR -
Pernambuco.
Condição
Referência/ Tipo de Descrição/
Fácies IP do corpo de c (kPa) Ф (º)
Local ensaio Classificação
prova
Gusmão Filho et
A ser Triaxial Areia argilosa
al. (1986) / 31 - 40 Inundado 20 - 50 20 - 24
identificada (CU) SC
Olinda -PE
Coutinho et al. Natural 13 31
(1999; 2006)
Santos (2001) A ser Cis. Areia argilosa
10 - 16
Horto Dois identificada Direto SC Inundado 0 30
Irmãos
Recife-PE
Lafayette (2000)
Alto do A ser Cis. Areia argilosa
11 - 18 Inundado 7 - 13 24 - 26
Reservatório- identificada Direto SC
Recife - PE
Lima (2002) / Natural 28 31
Alto do
A ser Cis. Argila arenosa
Reservatório- 16
identificada Direto SC Inundado 10 32
Recife -PE

Lafayette et al. Natural 33 - 56 33- 36


(2003; 2005) Leque Cis. Areia argilosa
9 - 13
Cabo de S. fluvial Direto SC Inundado 1,5 - 1,8 33- 35
Agostinho -PE
Silva (2005) Aluvial de Cis. Areia argilosa Natural 43 - 46 31 - 45
12 - 13
Camaragibe -PE canal Direto SC Inundado 0 - 3,7 31 - 35
Bandeira et al.
Leque Cis. Silte arenoso
(2004) 14 - 16 Inundado 12 29
Proximal Direto ML
Camaragibe -PE
Silva (2007) Planície Cis. Areia argilosa Natural 45 - 47 31 - 44
12 - 14
Camaragibe - PE aluvial Direto SC Inundado 0 - 3,7 31 - 34
Canal Cis. Areia argilosa Natural 1,0 - 4,2 28 - 34
Meira (2008) 7,9-9,2
fluvial Direto SC Inundado 0,4 - 3,5 23 - 26
Severo et al. Argila baixa Natural 116-192 27 - 32
A ser Cis.
(2006) Tibau do plasticidade 7 – 19
identificada Direto Inundado 23 - 54 26 - 30
Sul - RN CL

Observa-se que o IP varia de 9 a 40 kPa, a Argilas pré-adensadas oriundas de rochas argilitos,


depender da natureza dos materiais. Os parâmetros basalto etc. podem ser fonte de problemas em cortes
de resistência na condição inundada variam de 0 a / escavações. A Figura 30 apresenta um exemplo de
50 kPa (c) e 20º a 36º (Ф); na condição natural varia resultado de ensaio de cisalhamento direto em argila
de 13 a 56 kPa (c) e 31º a 45º (Ф). expansiva (condição inundada – c’ = 12,5 kPa e
Quando solos expansivos são encontrados na área Ф’=21°) de área de Suape –PE. Na condição natural
a estabilidade de taludes pode ser um importante o resultado apresentou alta coesão (c’ = 95 kPa e
aspecto a ser considerado na análise. Solos Ф’=21°), mostrando forte influência da redução da
expansivos, em geral, têm baixos valores de sucção nesta área/solo.
condutividade hidráulica e são altamente plásticos. Os solos não saturados de várias tipologias ou
Entretanto, quando seco o solo pode tornar-se classes (solos residuais, solos colapsíveis, solos
altamente fissurado e fraturado, criando caminhos expansivos e outros) são encontrados em muitas e
de fluxo de água através de canais e juntas. Também diversas geografias. A sua importância em termos
pode ocorrer a redução da resistência ao geotécnicos pôde ser reconhecida com o
cisalhamento em solos expansivos que foram desenvolvimento de comunidades em diferentes
submetidos a ciclos de secagem e umedecimento. condições climáticas (árida, semi-árida ou tropical),
34
que conduziam os engenheiros geotécnicos a
trabalhar com uma geomecânica distinta da 350
mecânica dos solos clássica, esta dominada pelo
300
principio das tensões efetivas de dupla fase que é

Tensão Cisalhante (kPa)


bem adaptada a climas úmidos e temperados. 250
Fredlund (2006) ilustra a progressão desde o 200
desenvolvimento das teorias às formulações para a
prática de engenharia para uma série de problemas 150

de mecânica de solos não saturados (ex: percolação, 100


resistência ao corte e variação de volume). O clima 50
Coesão = 12,25 kPa
Ângulo de atrito = 21o
à superfície é o fator primário que controla a
profundidade do nível freático e, portanto, a 0
0 100 200 300 400 500
profundidade ou espessura da zona de solo não
Tensão Normal (kPa)
saturado. Nesta zona não saturada, com graus de
saturação entre 0 e 100%, as alterações de sucção
podem ser avaliadas a partir do conhecimento Figura 30: Resultado cisalhamento direto em argila
daquele grau de saturação ou teor em água e da expansiva em condição inundada - Suape - PE
curva característica (Fredlund, 2006).
Há várias zonas que são marcantes nestas curvas As medições de porosidade parecem confirmar os
características: a franja capilar, que é fortemente resultados da análise granulométrica, i.e., o
influenciada pelos efeitos de fronteira; duas fases de horizonte B possui vazios mais reduzidos e
fluxo de fluído – transição; zona seca (transporte de conteúdos de argila maiores do que o horizonte C. A
vapor) – zona residual. Na Figura 31a (Futai et al., análise global sugere que há uma estrutura meta-
2006) comparou-se as curvas características de dois estável para o horizonte B com microporos e
solos gnáissicos residuais, um maduro – B – e outro macroporos. As Figuras 31b e 32 (Lafayette, 2006e
jovem – C, para sucções mais baixas do que 30 kPa Silva & Coutinho, 2009) apresentam curvas de
com placa de sucção e mais elevadas com a placa de retenção de solos residual maduro de granito - PE,
pressão (30-500 kPa) e ainda com o papel de filtro medida com o funil de Haines, a câmara de Richards
(Chandler e Gutierrez, 1986) para muito elevadas e pela técnica do papel de filtro, ambas apresentando
sucções. As diferenças entre dois solos em relação à comportamento bimodal.
distribuição granulométrica, composição
mineralógica e microestrutura influenciam
diretamente a capacidade de retenção de água.

60
1m
5m
Volumetric water content (%)

50

40

30

20
0.1 1 10 100 1000 10000
Suction, ua - uw (kPa)
(a)

(a) (b)
Figura 31: Curvas de retenção com sucção de solos residuais: (a) saprolítico – 5m – e laterítico – 1m (Futai
et al., 2006); b) solo laterítico ou residual maduro (Lafayette, 2006).

35
do que a resistência residual do solo em condições
55 saturadas (Fredlund, 2006; Vilar, 2007). Algumas
Paper filter - drying
50 Paper filter - wetting funções empíricas têm sido propostas para formular
Haines funnel a não linearidade da envolvente de resistência ao
45 Richard´s chamber corte dos solos não saturados, nomeadamente a
Gravimetric water content (%)

40 equação hiperbólica proposta por Vilar (2007).


Numa tentativa de estabelecer um método prático
35
e expedito, este autor propôs utilizar os resultados
30 de amostras saturadas e de amostras secas ao ar ou,
em alternativa, a partir de amostras ensaiadas, em
25
sucções específicas e conhecidas, mas superiores
20 aos valores de sucção esperados para este
15
determinado problema.
As envoltórias de resistência obtidas através dos
10 ensaios de cisalhamento direto convencionais
5
(condições - inundado e na umidade natural) e
ensaios com controle da sucção (sucção de 30kPa),
0 para um solo da Formação Barreiras, são
0,1 1 10 100 1000 10000 100000 apresentadas na Figura 33. Observa-se que as
Suction (kPa) envoltórias de ruptura são lineares e praticamente
paralelas, apresentando pequena variação nos
Figure 32: Curva característica ou de retenção - valores dos ângulos de atrito (35,7º a 37,2º), com o
solo residual maduro de granito - CL – Camaragibe aumento da sucção matricial; verifica-se um
– PE (Silva & Coutinho, 2009) aumento pequeno, porém consistente, do intercepto
de coesão com o aumento da sucção matricial,
As curvas de retenção ou sucção bimodais dos passando de 7,7 kPa para 19,7 kPa (Santos, 2001;
solos residuais maduros - lateríticos são típicos de Coutinho et al, 2006).
solos fortemente alterados (Camapum de Carvalho e
Leroueil, 2004) que contém partículas agregadas
não cimentadas e cimentadas por ligações de óxidos
de ferro ou pontes de argilas. Segundo estes autores,
estes solos têm dois pontos de entrada de ar,
correspondentes aos macroporos e aos microporos
(ver também Feuerhamel et al., 2007). A sucção que
se desenvolve num solo não saturado pode afetar a
resposta em tensão-deformação, a resistência ao
corte e a curva de cedência plástica, assim como a
permeabilidade do solo.
Alonso (2006) enfatiza o papel fundamental da
sucção em problemas práticos envolvendo solos não
saturados. Três casos práticos (entre eles, chuva e
estabilidade de taludes) com materiais
significativamente diferentes (enrocamento, argila
siltosa com areia e argila bentonítica altamente
expansiva) são apresentados e discutidos,
considerando o efeito da sucção no comportamento Figura 33: Envoltórias de ruptura de cisalhamento
dos solos, a partir de um modelo/estrutura válido direto convencional e com sucção controlada –
para todos os solos. Formação Barreiras / Recife - PE (Santos, 2001).
As propriedades dos solos não saturados têm
algumas “nuances”, uma das quais é o fato da
resistência ao corte variar não linearmente com a Envoltórias de resistência para diferentes
sucção matricial. Esta curvatura está relacionada condições de sucção (0 – 500 kPa) para um solo
com a curva característica ou de retenção (SWCC – residual maturo de granito – Camaragibe – PE estão
“Soil Water Characteristic Curve”). Em muitos apresentadas na Figura 34. Os resultados indicam
solos a resistência ao corte atinge um valor limite, que as envoltórias são basicamente lineares, embora
ou mesmo, como alguns autores defendem – seguida nem sempre paralelas entre si, como proposto na
de uma subseqüente queda gradativa até valores literatura, mostrando um Ф em geral variando de
muito elevados de sucção, mas ainda assim maior 26,3° a 31,5°.

36
Vilar, 2000), mas, noutros casos, não o são, ou seja,
não têm características isotrópicas (Cui e Delage,
1996; Maâtouk et al., 1995; Leroueil e Barbosa,
250 2000).
inundated
Ua - Uw = 25 kPa Futai et al. (2007) determinaram, em zonas
Ua - Uw = 100 kPa
Ua - Uw = 300 kPa
superficiais de perfis não saturados, as curvas da
200 Ua - Uw = 500 kPa cedência para condições saturadas e para valores de
Linear (inundated )
sucção de 100kPa, de 300kPa e para condições de
150
amostras secas ao ar, tanto para corpos de prova de
τ (kPa)

amostras de solos residuais jovens, como de


maduros (Figura 35). Observa-se – ver Figura 36 -
100 que a sucção tem uma forte influência no
crescimento da dimensão da superfície de cedência,
mas mantém-se a forma.
50
As curvas de cedência das amostras de solos
lateríticos (Figura 36a) parecem manter a isotropia
0 (centralidade, em relação ao eixo hidrostático). Já o
0 50 100 150 200 250 horizonte de 5m de profundidade – solo saprolítico
de arenito (Figura 36b) – mantém a anisotropia de
σ (kPa) condição saturada para as sucessivas sucções
crescentes, ou seja, as superfícies são homotéticas.
(Ua–Uw)= 0kPa c = 9,7kpa φ = 26,3° R = 0,996 Registros convergentes desta manutenção de forma,
2

são reportadas por Cui e Delage (1996) e Machado e


(Ua–Uw)~ 5kPa c = 9,8kpa φ = 29,2° R = 0,977 Vilar (2002). Tal é fundamentalmente pouco
2

explicável à luz da noção de que o efeito da sucção


(Ua–Uw)= 25kPa c = 15,4kpa φ = 31,6° R = 0,999 no ganho de rigidez e resistência é eminentemente
2

isotrópico, deve ser objeto de desenvolvimentos


(Ua–Uw)= 100kPa c = 36,5kpa φ = 31,3° R = 0,991 futuros.
2

A influência da sucção na forma da curva de


(Ua–Uw)= 300kPa c = 58,7kpa φ = 31,5° 2
R = 0,987 escoamento de solos residuais tropicais tem sido
estudada por alguns autores (Leroueil & Vaughan,
(Ua–Uw)= 500kPa c = 74,7kpa φ = 34,4° R2= 0,956 1990; Futai et al, 2004). A Figura 36 ilustra as
curvas de escoamento de amostras de um solo
Figura 34: Envoltória de resistência ao cisalhamento residual de gnaisse, coletadas a 1 e 5m de
com sucção controlada – solo residual maduro de profundidade, submetidas a diferentes sucções. Os
granito - CL – Camaragibe – PE (Silva & Coutinho, resultados obtidos confirmam que o aumento da
2009). sucção impõe um significativo efeito de expansão
da curva de escoamento das amostras estudadas
Futai et al. (2006), Lafayete (2006) e Silva & (Futai & Almeida, 2005). Observa-se que para
Coutinho (2009) apresentam valores do intercepto moderados valores de sucção, a região elástica do
coesivo, c, e do ângulo de atrito, Ф em função da solo a 5m de profundidade é consideravelmente
sucção. O crescimento do intercepto coesivo, c, com maior do que a da amostra a 1m de profundidade;
a sucção é consensual, mas o crescimento de Ф é enquanto que para altos valores de sucção, o
menos ou não esperado. Na Figura 35 são comportamento oposto é observado. Segundo Futai
apresentados os resultados do intercepto coesivo, c et al. (2004) este comportamento deve-se a
em função da sucção para os solos residuais diferenças no tamanho dos grãos, na mineralogia e
estudados do RJ – PE. na estrutura dos solos residuais.
O efeito do crescimento da sucção é o de
expandir as superfícies de plastificação, mantendo a
sua forma. Estas curvas de cedência são, em alguns
casos, centrados no eixo hidrostático (Machado e

37
(b)
350
Normal stress
300 50 kPa
100 kPa
250 150 kPa
200 kPa
Seqüência5

τ (kPa)
200

150

100

50

0
0 100 200 300 400 500 600
Suction (kPa)

(a)

φ´(°) σn (kPa) τsat (kPa) c* (kPa)

50 36,29 103,3

26,3 100 67,48 110,0

150 92,22 179,0

200 127,53 153,5

Figura 35: Intercepto coesivo, c em função da sucção –solos residuais RJ – PE (a) Futai et al. (2007) e
Lafayette (2006)e (b) Silva & Coutinho (2009)

Figura 36: Curvas de escoamento de um solo residual de gnaisse (a) 1m; (b) 5m (Futai & Almeida, 2005)

38
5.2 Parâmetros de Resistência para uso em Análise partículas, resultando na obtenção de um mínimo
valor de resistência.
Aspectos gerais a respeito dos parâmetros de Skempton (1970) e Clemente (1992) chamam a
resistência adotados em análises de estabilidade A atenção para a utilização de parâmetros de
resistência a ser considerada na avaliação da resistência no estado crítico, sugerindo que o uso
estabilidade de um talude dependerá dos níveis de destes parâmetros de resistência pode conduzir a
tensão e deformação, das condições de drenagem e fatores de segurança excessivamente baixos em
do grau de saturação. Quanto aos níveis de tensão, deslizamentos onde não há indícios de formação de
desde o trabalho de Skempton (1964) que se superfícies de ruptura definidas. Clemente (1992)
questionam quais os parâmetros mais corretos a mesmo com base em retroanálises, onde os
serem utilizados numa análise de estabilidade. parâmetros de resistência se referiam ao do estado
Supõe-se que os mesmos devam ser adotados de crítico, adotou parâmetros de resistências residuais
acordo com nível de tensões e deformações em que em deslizamentos, já que havia a desconfiança deste
a encosta em questão se apresente. Aspectos como a talude apresentar o fenômeno de ruptura
presença de juntas e fissuras, grau de intemperismo progressiva.
e desenvolvimento de ruptura progressiva, devem Bianchini et al. (1998) justificou uma ruptura
ser levados em consideração ao se avaliar os ocorrida de forma progressiva, na região Sul do
parâmetros de resistência a serem utilizados numa Brasil, ao considerar parâmetros de resistência a
análise de estabilidade. Morgenstern (1980, 1992) grandes deformações. A presença de fissuras e
afirma que fatores de segurança são extremamente juntas pode conduzir a uma ruptura progressiva num
influenciados pelas propriedades dos solos, em deslizamento, e o limite deste processo pode
especial aos parâmetros de resistência. continuar até se atingir a resistência residual.
Considerando-se um talude estável, os solos estão Segundo Skempton (1964) e Bjerrum (1967) a
geralmente num estado préconsolidado escolha de parâmetros de resistências residual deve
comportando-se elasticamente (Leroueil et al., ser empregada em taludes que apresentem ruptura
2001). Pequenas mudanças na tensão efetiva, progressiva onde a resistência residual pode
associadas a variações sazonais nas condições de eventualmente ser mobilizada. Esta, por sua vez é
fluxo d´água subterrâneo, podem ocasionar representativa de um material que tenha sofrido
deformações ou deslocamentos da massa de solo. grandes deformações. É considerada a mínima
Entretanto, quando a ruptura é considerada, é resistência que um material pode apresentar. Em
importante considerar que os solos são, em geral, geral, é mobilizada ao longo de uma superfície de
caracterizados por três níveis de resistência os quais ruptura formada por deslizamento prévio, ocorrendo
estão representados na Figura 2.21. uma reorientação das partículas de solo ao longo da
Quando um solo é submetido a deformações sob superfície de cisalhamento, provocado por
uma dada tensão normal efetiva, ocorre um aumento movimentos momentâneos, ao longo do tempo,
na resistência até um determinado limite que o solo devido às variações nas condições de tensões do
pode oferecer, sendo esta resistência denominada de maciço. O ângulo de atrito residual (φ´r) é menor do
resistência de pico (Figura 2.21a.). que o ângulo de atrito no estado crítico (φ´cr) em
Skempton (1970) destacou que em algumas solos que apresentem predominância de partículas
argilas pré-adensadas (notadamente as sem fissuras), de forma lamelar (Figura 2.21).
a resistência apropriada para uma primeira ruptura é Quando a predominância das partículas é de
aproximadamente igual à resistência de pico, forma não-lamelar, o ângulo de atrito residual se
incluindo-se aí a importância da parcela de coesão. torna aproximadamente igual ao obtido no estado
Entretanto, Mesri & Shahien (2003) chamam a crítico (Lupini et al, 1981; Skempton, 1985). Fell &
atenção que mesmo numa primeira ruptura, parte da Jeffery (1987) também avaliaram o uso de
superfície de ruptura pode atingir a condição parâmetros de resistência na análise de estabilidade
residual. Este fato pode ocorrer se o cisalhamento na de taludes, afirmando que se existir um plano de
massa de solo estiver localizado em pequenas faixas escorregamento bem definido no talude, a
do maciço, onde as partículas de argila possam estar resistência residual deve ser utilizada nas análises.
orientadas paralelamente a direção do cisalhamento Bressani et al. (1996) também utilizou parâmetros
atingindo a condição residual. À medida que o de resistência residual na análise de estabilidade de
deslocamento aumenta (Figura 2.21), a resistência uma ruptura ocorrida numa encosta no Sul do
deste solo irá decrescer até atingir primeiramente Brasil, com superfície de ruptura pré-definida.
uma resistência equivalente ao estado crítico, onde Existem materiais que podem submeter-se a
não ocorrem mudanças de volume ou teor de consideráveis deformações, antes que seu nível
umidade com as deformações; para em seguida a máximo de resistência seja alcançado. Taludes
grandes deslocamentos ser atingida a resistência formados por materiais dessa natureza estão, com
residual, onde ocorre uma reorientação das relativa freqüência, sujeitos a movimentos lentos,
que podem acelerar com as variações cíclicas do
39
nível d’água subterrâneo. Tais movimentos tendem 6.1 CASO 1: Ruptura de um talude em solos
a reduzir a resistência desses materiais, podendo vir residuais de gnaisse não saturados
a desencadear escorregamentos em taludes ao longo
do tempo. Neste caso, o nível de resistência no Este caso diz respeito ao estudo de um movimento
momento do escorregamento é bem inferior à de massa em solo residual de gnaisse ocorrido numa
resistência de pico, porém superior a resistência encosta localizada na PE-89 em Machados – PE
residual. Uma descrição detalhada deste mecanismo (Costa, 1996; Souza Neto, 1998; Barros, 2000;
denominado de fadiga é apresentada em Lacerda .Coutinho et al. 2000; Melo Neto, 2005).
(1997). A região possui clima quente e úmido com média
Quanto à drenagem, duas condições gerais devem de precipitações pluviométricas de 1200 a 1600 mm
ser consideradas. Condição drenada, muito comum por ano, com maiores intensidades no período de
em solos arenosos com elevada permeabilidade e abril a agosto. No ano do deslizamento (1972), a
condição não drenada, para solos finos com baixa precipitação foi da ordem de 200 mm/mensal
permeabilidade. Quanto ao grau de saturação, duas durante o período de abril a agosto. A principal
condições devem ser observadas. A primeira litologia presente na área refere-se à biotita-gnaisse,
condição é a saturada, geralmente em materiais onde sua estrutura apresenta plano de foliação com
localizados acima de uma superfície impermeável e direção praticamente paralela ao talude em torno de
abaixo do nível freático; e a condição não saturada, 30º. A ruptura geral ocorreu no primeiro período
em materiais localizados acima do nível freático. intenso de chuvas (inverno) logo após o corte na
Nesse ultimo caso, o maciço pode ter sua encosta para a construção da estrada PE-89.
resistência, consideravelmente majorada devido ao A Figura 37 apresenta o mapa topográfico da área
efeito da sucção do solo, favorecendo a estabilidade de estudo juntamente com as indicações dos locais
do talude. Todavia, o ganho de resistência onde foram realizadas as atividades de campo. A
proveniente da sucção tende a diminuir ou Tabela 12 apresenta as atividades de campo e
desaparecer com o aumento do grau de saturação do ensaios de laboratório realizados.
maciço, em decorrência das precipitações
pluviométricas.
Condições do subsolo variam com locação ao
longo da área e em alguns casos variam
significativamente mesmo em pequenas distâncias.
Grande parte do processo iterativo ocorre durante a
investigação de campo. Durante a avaliação dos
dados obtidos, não se pode ignorar nenhum dado
simplesmente por ele não corresponder ao
comportamento esperado. Aparentes anomalias,
freqüentemente fornecem novas idéias e servem de
estímulo para posterior trabalho para caracterizar e
entender melhor determinada área.

6 EXEMPLOS DE CASOS
Figura 37: Mapa topográfico da área do
Os exemplos a serem descritos dizem respeito a dois deslizamento (Coutinho et al., 2000).
casos de movimentos de massa ocorridos em
encostas no estado de Pernambuco - PE; sendo o A Figura 38 apresenta o resultado de um furo de
primeiro caso, um deslizamento ocorrido em solo sondagem mista (SPT + rotativa) da área junto com
residual de ganisse e o segundo caso em solo algumas propriedades físicas dos materiais presentes
proveniente de sedimentos da Formação Barreiras e no deslizamento. Em geral, o solo residual maduro
solo residual de granito. (horizonte B) é composto por uma argila arenosa
O objetivo da apresentação de exemplos de casos com espessura da camada de 2m. O solo residual
refere-se à aplicação dos conceitos descritos neste jovem (horizonte C/Cr) corresponde a uma areia
trabalho relativos à classificação, caracterização siltosa, apresentando o mineral mica com
geotécnica e análise / retroanálise de estabilidade, características preservadas da rocha matriz (planos
junto com o registro de exemplos de experiências de xistosidade em relação à horizontal) e espessura
técnicas e de pesquisa anterior e atual no tema de camada da ordem de 15m. A rocha (biotita –
desenvolvidas na Área de Geotecnia – DEC / UFPE. gnaisse) apresenta um alto grau de fraturamento
com baixos valores de RQD em algumas
profundidades.

40
Tabela 12 - Atividades de campo e ensaios de laboratório realizado na encosta estudada – Área 1 a Área 6.
ATIVIDADES DE CAMPO ENSAIOS DE LABORATÓRIO
Levantamento topográfico e geológico Caracterização física e mineralógica
Sondagens à percussão e rotativa Ensaios edométricos
Ensaios de perda d´ água e infiltração Ensaios de cisalhamento direto convencionais
Coleta de amostras (deformadas/ indeformadas) Ensaios MCT
Determinação de perfis de umidade Ensaios de permeabilidade
Ensaios de permeabilidade “in situ” – Guelf Ensaios para determinação da curva característica

Figura 38: Furo de sondagem, perfil de umidade e caracterização física dos materiais presentes no
deslizamento – Área 1 (Coutinho et al., 2000).

Os resultados mostraram que a superfície de Considerando o volume estimado de material


ruptura situa-se próximo ao contato solo-rocha deslocado pode-se dizer que o movimento de massa
(impenetrável ao SPT). Valores de índice de vazios pode ser considerado como de significativas
e permeabilidade saturada e não saturada dos proporções (superior a 50.000,00 m3)
materiais presentes na encosta estudada foram A avaliação da estabilidade da encosta foi
apresentados no item 5.1.2 deste trabalho (Tabelas 9 realizada considerando-se uma análise bi-
e 10 e Figura 23). dimensional na condição não saturada, sendo
O volume aproximado do material deslocado dividida em duas etapas. A primeira considerando-
antes do movimento foi determinado como segue: se a análise de fluxo para o histórico de
1 1 precipitações pluviométricas antes da ruptura; e a
VOLls = π .Dr .Wr .Lr = π .15,2.80,0.170,4 segunda análise, considerando o método do
6 6 equilíbrio limite (Sarma, 1979), considerando a poro
= 108.493,02m³ pressão distribuída obtida da análise de fluxo. Vale
Sendo: ressaltar que ambas as análises de estabilidade
Largura da superfície de ruptura, Wr = 80,0m tiveram a colaboração da PUC/RJ.
Comprimento da superfície de ruptura,Lr = Duas condições foram consideradas na análise de
170,4m estabilidade: sendo a primeira, a seção transversal
Profundidade da superfície de ruptura, Dr = antes da construção da estrada no pé da encosta
15,2m (condição natural) e, a segunda como sendo a seção
transversal após a construção da estrada (condição
41
da ruptura). Para a condição da ruptura, duas A Figura 40 (a) apresenta os parâmetros de
hipóteses foram consideradas para o deslizamento; resistência utilizados na análise de estabilidade junto
sendo uma ocorrida em uma etapa – deslizamento com a faixa de valores obtidos em laboratório para a
como um todo (Figura 39 a) e a outra ocorrida em resistência de pico. A Figura 40 (b) ilustra os
duas etapas – um pequeno deslizamento perto do pé resultados do fator de segurança crítico
da encosta, e o outro dando continuidade até atingir considerando-se o deslizamento ocorrido em uma
o topo da encosta (Figura 39 a). A Figura 39 (b) etapa (seção 2 - Figura 39) para diferentes hipóteses
apresenta uma seção típica para o caso do dos valores de coesão e sucção e considerando a
deslizamento em uma única etapa. permeabilidade do saprolito maior do que a
Os resultados da análise de fluxo mostraram permeabilidade do solo residual jovem (KS > KRJ)..
basicamente dois tipos de comportamento: i) para Para análise de estabilidade empregando-se as
sucções iniciais menores ou iguais a 10 kPa a chuva malhas de poro pressão obtida nas análises de fluxo,
infiltra alcançando o topo da rocha (superfície realizou-se um estudo paramétrico para quatro
impermeável adotada nas análises), gerando poro possíveis faixas de valores representativas de
pressões positivas ao longo da superfície coesões obtidas para ambos os solos residual
impermeável; ii) para sucções iniciais maiores do maduro e residual jovem, já que a coesão apresentou
que 10 kPa, a infiltração gerada pela chuva não uma maior variação em seus valores obtidos através
satura a região da superfície impermeável gerando dos ensaios de cisalhamento direto, considerando-se
poro pressões negativas em toda a encosta. também a influência da presença de sucção na
encosta.

(a) (b)

Figura 39: a) Seções transversais para análise de estabilidade, b) Seção transversal - seção 2.

(a) (b)
Figura 40: (a) Parâmetros de resistência considerados na análise de estabilidade – estudo paramétrico (b)
Relação entre o FS e a sucção (seção 2) (Coutinho et al, 2000)

42
O comportamento do FS mostra uma contínua 39 a), as mesmas observações foram verificadas
redução com a redução da sucção inicial com relação às análises do FS e da sucção para a
considerada na análise. Observa-se que a redução do hipótese de ruptura ocorrida em uma etapa,
fator de segurança FS aumenta para valores de indicando a possibilidade de ocorrência das duas
sucção iguais ou menores que 10 kPa, situações. A Tabela 13 apresenta os resultados
provavelmente devido a ocorrência de poro pressões síntese da aplicação, neste caso, da proposta de
positivas durante a infiltração das chuvas. Observa- Leroueil et al. (1996) de caracterização geotécnica
se que para c’ = 0 a 5 kPa (hipóteses a e b), o FS é de movimentos de massa, considerando-se que o
aproximadamente igual a 1 considerando sucções movimento tenha ocorrido em uma etapa e para o
iniciais da ordem de 7 a 10 kPa. Considerando-se estágio de ruptura.
que a ruptura tenha se dado em duas etapas (Figura
Tabela 13 – Caracterização geotécnica para o estágio de ruptura (Modificada de Melo Neto, 2005)

Movimento: escorregamento de terra Estágio: ruptura


translacional-rotacional

Material: solo residual de gnaisse, areia siltosa (solo residual jovem)


Parâmetros e leis de controle: critério de ruptura de Mohr – Coulomb para solos não
saturados: τ = c′ + (σ − ua) tg φ ′ + (ua − uw) tg φ b
Relação teor de umidade x sucção
Relação permeabilidade x sucção
Possível ruptura progressiva

Fatores predisponentes:
- Complexo climático;
- Estabilidade precária da encosta: estrutura biotita-gnaisse – plano de foliação com
direção paralela ao talude (em torno de 30º);
- Anisotropia do SRJ;
- Elevada quantidade do mineral mica, implicando elevado Índice de Atividade e
φ’= 29,6º e c’ = 2,9KPa ⇒ redução da resistência;
- Maior permeabilidade do SRM, com menor permeabilidade da camada de rocha
alterada, com o fluxo da água ocorrendo preferencialmente ao longo da camada de
SRM, criando altas poro-pressões na água na camada do solo residual jovem;
- A suposta maior permeabilidade da camada de saprolito (existente entre o solo
residual jovem e a superfície impermeável verificada através da análise de fluxo)
em relação ao solo residual jovem.

Fatores acionantes ou agravantes:


- Fator agravante: o corte na encosta para passagem da estrada, implicando aumento das
tensões cisalhantes e diminuição do fator de segurança;
- fator acionante: a ação da infiltração da água das chuvas intensas, com aumento na
poro-pressões e redução na resistência da camada de solo residual jovem.

Fatores relevantes:
- Deslocamento da massa de solo, encosta abaixo, evidenciando-se, claramente e
visualmente, a natureza micácea e os planos de xistosidade do SRJ e a superfície
impermeável da rocha biotita-gnaisse, podendo-se, assim, observar toda a superfície
de deslizamento.

Conseqüências do movimento:
- Estágio da pós-ruptura, com deslocamento de toda a massa de solo rompida, sendo
que parte do solo permaneceu na área rompida e outra parte do solo avançou sobre
a rodovia destruindo parcialmente a estrada no local, interrompendo o tráfego e
ocasionando prejuízos econômicos e sociais.
43
Como conclusões a respeito deste caso de estudo, instrumentação realizada (Pluviômetro, piezômetros,
podemos verificar que os fatores predisponentes medidor de nível d’água, inclinômetro e marcos
estão principalmente relacionados à geologia; superficiais). Uma intensa campanha de laboratório
associada com a direção da foliação da rocha foi também realizada constando pelo menos de
gnaisse e a forte presença do mineral mica no ensaios de caracterização completa (física, química
material envolvido no movimento. Os fatores e mineralógica), compressidade, permeabilidade e
agravantes ou acionantes estão relacionados à de resistência ao cisalhamento não saturada e
escavação no pé da encosta para construção da saturada. A Figura 34 deste presente trabalho
estrada e posteriormente a um período de intensas apresenta os resultados dos ensaios de cisalhamento
precipitações pluviométricas. A análise de direto saturado e não saturado (Silva & Coutinho,
estabilidade indicou que a superfície crítica obtida é 2009).
próxima da superfície de ruptura observada no A Figura 42 mostra o perfil geotécnico da encosta
campo (contato solo residual-rocha alterada); e que estudada, apresentando em certa área o afloramento
os parâmetros de resistência de pico ou próximo ao do solo residual de granito. Este afloramento
estado crítico podem explicar a ruptura associado a influenciou de forma significativa o mecanismo de
baixos valores de sucção (≤ 10 kPa). A análise de instabilidade ocorrido na área. Este depósito
estabilidade indicou também que a área apresenta apresenta uma permeabilidade dez vezes menor que
suscetibilidade a escorregamento durante a estação o depósito da Formação Barreiras, provocando
úmida, já que foram encontrados baixos valores do mudança da direção do fluxo subterrâneo da encosta
fator de segurança da ordem de 1.15 a 1.20 na nesse local criando zona de fluxo ascendente.
condição natural (antes do corte da estrada). O entendimento do mecanismo de instabilização
ocorrido na área se fez em conjunto com a
6.2 CASO 2: Estudo de um movimento de massa retroanálise do movimento de massa, a qual foi
ocorrido em uma encosta em Camaragibe, realizada para os estágios de ruptura e reativação do
Pernambuco movimento de massa. Ambas as análises foram
realizadas em conjunto com as análises de fluxo.
A área de estudo está situada no Município de Será apresentada apenas a analise considerando o
Camaragibe, pertencente à Região Metropolitana do estágio de ruptura.
Recife, Estado de Pernambuco. A encosta estudada A análise de estabilidade / retroanálise do
foi classificada como sendo de grau de risco alto; movimento de massa ocorrido foi realizada (após
com forma de ocupação variando entre conjuntos estudos) considerando-se que a ruptura se deu em
habitacionais e invasões. Este estudo foi realizado duas etapas; sendo uma primeira ruptura ocorrida
com o apoio financeiro do projeto PRONEX –CNPq entre os patamares SM-02 e SP-01. Neste caso o
/ FACEPE. Maiores informações podem ser obtidas fator de segurança obtido foi próximo a 1,0
em Silva, 2007, Silva & Coutinho, 2009 e Silva et justificando a ruptura ocorrida neste local. A
al. 2009. retroanálise indicou que os parâmetros de resistência
Devido ao trabalho Silva et al. 2009 estar sendo obtidos no laboratório e utilizados nas análises
publicado nos anais deste V COBRAE, aqui será correspondem aproximadamente aos parâmetros de
apresentado apenas uma breve síntese e resistência do instante da primeira ruptura ocorrida
complementos. na área.
Conforme ilustra o mapa topográfico A primeira ruptura ocorrida entre os patamares
representado na Figura 41, o trecho da encosta em SM-02 e SP-01 propiciaram a desestabilização do
que ocorreu o deslizamento possui dimensões de restante do maciço, fazendo com que ocorresse uma
117,0m x 130,0m com cotas variando entre 51,50m segunda ruptura entre os patamares SP-01 e SP-02,
e 27,75m. Com relação à topografia após a ruptura devido ao depósito de um dado volume de solo entre
sua declividade é da ordem de 11º, com uma rampa os pontos SP-01 e SP-02, o que conseqüentemente
bastante comprida, apresentando também cobertura gerou uma sobrecarga neste local. Esta sobrecarga
vegetal. Com relação à geologia, a área onde se situa em conjunto com as poro-pressões positivas, que
a encosta estudada é constituída pela Formação são bastante atuantes neste local conforme os
Barreiras, sobreposta, em geral, ao solo residual de resultados das análises de fluxo realizadas, fez com
granito, o qual constitui o embasamento local. Em que ocorresse uma desestabilização do maciço ao
alguns locais na encosta observa-se o afloramento longo do tempo na sua parte inferior, provocando a
do solo residual de granito. formação do desnível existente entre os pontos SP-
Na Figura 41 está também apresentada a 01 e SP-02. A Figura 43 apresenta o croqui do
campanha de investigação de campo (sondagem a mecanismo de ruptura ocorrido na área de estudo.
percussão e rotativa, ensaio de permeabilidade Como conclusões a respeito deste caso de estudo
Guelph,obtenção de amostras deformadas e a caracterização geotécnica do movimento de massa
indeformadas e mapeamento geológico-geotécnico considerando o estágio de ruptura (síntese
de superfície e subsuperfície,etc.) e de apresentada na Tabela 14.) classifica o movimento
44
como rotacional múltiplo. Os fatores acionantes ou Furo SP-02 encontra-se um perfil de solo residual de
agravantes foram precipitações pluviométricas granito desde o nível do terreno, onde os materiais
intensas gerando aumento de poro-pressões e apresentam permeabilidade da ordem de 10 vezes
contribuindo no desenvolvimento de deslocamentos menor do que os materiais encontrados próximos ao
horizontais. A mudança da formação geológica Furo SP-01 (Formação Barreiras). A retroanálise
(fator predisponente) contribuiu para ocorrência de realizada indicou que o movimento de massa
contatos, aumento de poro-pressões positiva e a ocorreu em etapas ao longo do tempo e que os
mudança de direção do fluxo subterrâneo entre os parâmetros de resistência obtidos em laboratório
pontos SP-01 e SP-02, contribuindo foram representativos do estágio da ruptura.
significativamente para o desencadeamento das
movimentações ocorridas na encosta estudada. No

Figura 41: Mapa topográfico da área de estudo após a ruptura e locação das investigações.

45
Figura 42. Perfil geotécnico da encosta do Vale das Figura 43. Mecanismo de ruptura ocorrido na
Pedreiras. Seção topográfica pós-ruptura. encosta estudada referente ao estágio de ruptura.

Tabela 14 - Caracterização geotécnica para o estágio de ruptura da Encosta em Camaragibe - PE

Movimento: escorregamento rotacional avançado Estágio: ruptura

Material: solo residual de granito e sedimentos da Formação Barreiras

Parâmetros e leis de controle: critério de ruptura de Mohr – Coulomb para solos


saturados: τ = c′ + σn tg φ ′

Fatores predisponentes: geologia da área (contato entre as duas litologias) e a ação


antrópica (realização de cortes, aterros, construção de fossas nas bordas do talude e despejo
de águas sevidas).

Fatores acionantes ou agravantes: precipitações pluviométricas intensas gerando


aumento de poro pressões.

Fatores revelantes: formação de patamares e presença de fendas e fissuras ao longo da


encosta; surgimento de fissuras em algumas casas situadas na parte central da encosta.

Conseqüências do movimento: desocupação e demolição de algumas casas atingidas no


deslizamento.

46
7 COMENTÁRIOS FINAIS E CONCLUSÕES trabalho ilustrando o tema e onde é possível ser
observados tópicos importantes para um projeto de
Neste trabalho procurou-se inicialmente apresentar o estabilidade de encostas (definição do modelo
tema de investigação geotécnica / caracterização geológico-geotécnico, definição do mecanismo do
geotécnica (e sua importância) função das movimento, parâmetros geotécnicos, análise de
características e extensão do projeto, da área e dos fluxo e de estabilidade na encosta saturada e não
riscos associados. É reforçada a importância de a saturada, técnica de retroanálise, etc.).
caracterização geotécnica ser uma abordagem
integrada a todo o processo (planejamento, projeto, 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
construção e comportamento) e partes integrantes
(proprietário, responsável pelos projetos gerais e ABGE. (1999). Manual de Sondagens. Boletim n° 3.
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apresentadas e discutidas, com vistas à obtenção da 11.682: Estabilidade de Encostas. Rio de Janeiro,
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