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Copyright © 2010 by Dercides Pires da Silva

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CIP. Brasil. Catalogação na Fonte


BIBLIOTECA NACIONAL-FUNDAÇÃO MIGUEL DE CERVANTES

Silva, Dercides Pires da


Formação de Pregadores: metodologia com poder do Espírito
Santo, Pregação / Dercides Pires da Silva – Porto Alegre: RCC Brasil –
2010, 84pgs. Religião.

ISBN 978-85-62740-11-4 CDU: 2

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exercer a santidade.

IMPRESSO NO BRASIL
Printed in Brazil 2010
SUMÁRIO

I. O CARISMA DA PREGAÇÃO ..................................... 7

I. Carisma de pregação: conceito ........................................... 7


2. Operação do carisma de pregação ...................................... 8

II. FUNDAMENTOS DA ORATÓRIA SACRA ............. 11

1. Por que pregar bem? ......................................................... 11


2. Conceito de Oratória Sacra ............................................... 12
3. Partes do discurso ............................................................. 17
4. Eloquência.......................................................................... 19
5. Oratória: método da pregação .......................................... 21
6. Decálogo do orador sacro ................................................. 25
7. Ruídos de comunicação ..................................................... 37
8. Qualidades da oratória sacra ............................................. 46
9. Vitória sobre o medo ......................................................... 56
10. Utilização de instrumentos com sabedoria ..................... 61
11. Resumo didático .............................................................. 62

APÊNDICE (Roteiro de ensinos) .................................. 69

REFERÊNCIAS .............................................................. 81
I
O CARISMA DA PREGAÇÃO

I. CARISMA DE PREGAÇÃO: CONCEITO

O discurso religioso para ser oratória sacra haverá de ter


carisma; carisma de pregação. Não se assuste antes do
tempo, caríssimo pregador e diletíssima pregadora. Não se
incomodem além do necessário com uma simples frase.
Sabemos que no conceito comum, qualquer falatório
religioso é considerado oratória sacra. É por isso que muitos
irmãos não pregam mais. E não pregam onde deveriam
pregar. Não pregam nos encontros religiosos em geral, não
pregam nas praças públicas, nas solenidades de exéquias, nas
orações familiares, nas comemorações de aniversários, nas
Missas e até mesmo nos grupos de oração. Quando não ficam
mudos, substituem a pregação por um falar frouxo, sem vida,
sem unção; até parecem que não são batizados, pois pregam
como se não pregassem, pregam como se não tivessem fé. O
que lhes falta para pregarem? São todos batizados? Sim. Então
não lhes falta o dom do Espírito Santo. São catequizados? Sim.
Logo, não lhes faltam conhecimentos básicos de sua religião.
São inteligentes? Sim. Então não lhes faltam os dons naturais.
Sabem falar? Sim. Logo, não lhes falta oratória. O que lhes fal-
ta, então? Falta-lhes carisma de pregação, além dos recursos
necessários para bem utilizá-lo.
O carisma de pregação é um dom que o Espírito Santo
concede aos pregadores. Com esse dom as pregadoras e os
pregadores são capacitados a anunciarem a palavra de Deus
com destemor, desenvoltura, graça e com sinais e prodígios.

7
Dercides Pires da Silva

Na prática ele resulta de uma parceria formada pelo Espírito


Santo e uma pessoa que aceita o chamado do Senhor para
anunciar o Evangelho.

2. OPERAÇÃO DO CARISMA DE PREGAÇÃO

O carisma de pregação se inclui no rol daqueles que não


apresentam a ação de Deus destacada dos atos humanos.
Nalguns carismas, como os da profecia, da glossolalia, da cura
e dos milagres, é possível ouvir ou ver Deus operando, pois o
que Deus faz se destaca daquilo que é próprio do ser
humano. Assim, quando o Senhor realiza um milagre por
meio da oração de alguém, todos podem ver que aquela
determinada pessoa que orou tem o dom de milagres. Isso
não ocorre com quem tem o dom da pregação, pois quando
o Espírito Santo opera por meio de um pregador ou de uma
pregadora, o faz de forma invisível e misteriosa.
Se a ação de Deus por meio dos pregadores e das
pregadoras é de forma invisível e misteriosa, como saber se
alguém é dotado do carisma da pregação? De fato, a ação do
Senhor por meio de quem prega não é visível, mas é
perceptível. Em primeiro lugar, as pessoas dotadas do carisma
do discernimento “sabem” − percebem intimamente – quan-
do alguém está ungido pelo Espírito Santo e também quando
não está. Igualmente, se a pessoa tem ou não tem carisma de
pregação.
Há também outra forma de distinguir os que têm carisma
de pregação daqueles que não o possuem: os frutos, sendo
um deles o desejo de crer que nasce no coração de quem
lhes ouvem. O fruto bom que nasce das pregações confirma o
carisma da pregação. Entretanto, alertam-se os desavisados:

8
Formação de Pregadores

os que pregam não podem fazê-lo à cata de frutos a qualquer


custo, pois a função dos pregadores é semear1, que é a
mesma missão de Jesus; a de irrigar, é do Espírito Santo; e a
de colher, é de Deus, o dono da vinha.2
O carisma da pregação opera misteriosamente como
meio utilizado pelo Espírito Santo para fazer nascer no
coração dos ouvintes o desejo sincero de crer e de aceitar o
que lhes é anunciado. Dessa forma, quando alguém dotado do
carisma da pregação anuncia o Evangelho, os ouvintes come-
çam a desejar crer na Boa-Nova que ouvem, ao mesmo tem-
po em que também desejam acolher a mensagem que se lhes
anuncia.
Creio que todos já experimentaram na própria alma os
efeitos de uma pregação ungida, realizada por quem tem o
carisma de pregar, bem como as pregações feitas por pessoas
não dotadas do carisma necessário e nem sequer ungidas para
pregar. Quando uma pessoa sem carisma de pregação tenta
pregar, os ouvintes não conseguem desejar acolher a
mensagem, mesmo que se esforcem muito para isso; não
conseguem sequer crer e nem aceitar o que ouvem. Entre-
tanto, a mesma dificuldade ocorre quando uma pessoa com
carisma de pregação prega sem unção do Espírito Santo. Ao
contrário, ouvindo uma pregadora ou um pregador dotado de
carisma de pregação, estando eles pregando ungidos pelo
Espírito Santo, sem muito ou sem nenhum esforço, as pessoas
podem crer na Palavra anunciada, bem como poderão, com
muita naturalidade, aceitá-la inteiramente.
Esse efeito de fazer nascer no coração das pessoas o
desejo de crer e aceitar a mensagem anunciada, por si só, já
seria motivo suficiente para que nenhuma pregadora e ne-
1 VIEIRA, Pe. Antônio. Sermão da Sexágima, I a IV.
2 Jo 15,1.

9
Dercides Pires da Silva

nhum pregador aceitassem pregar sem carisma ou sem


unção. Entretanto, outros efeitos ainda podem ser citados, a
título de estímulo a quem necessitar: sinais e prodígios,
entendimento e compreensão da mensagem, abertura emo-
cional e espiritual para a Palavra de Deus.3
Penso que, entendendo a operação do carisma da
pregação, ninguém ousará pregar sem pedi-lo ao Espírito
Santo, bem como sem clamar a unção necessária para repre-
sentar o Senhor no exercício de tão nobre missão.
O carisma da pregação é um dom do Espírito Santo.
Disso nenhum pregador verdadeiro duvida. Entretanto, o que
muitos pregadores ainda não entenderam é que este carisma
pode ser mais bem exercido por quem estiver preparado
para fazê-lo, da mesma forma que pode ser mal desem-
penhado por quem não se prepara para ele. É que o
pregador, nas mãos do Espírito Santo, é como um piano nas
mãos de um bom músico. Por melhor que seja o músico, se o
piano não estiver afinado, a música não será boa. Quando o
pregador se prepara, ele está, certamente, em primeiro lugar,
afinando o seu espírito por meio do exercício da humildade;
e, em segundo lugar, afinando as suas habilidades naturais por
meio de estudos teóricos e práticos.
Pensando nessa necessária e salutar afinação, é que
elegemos a oratória sacra para formar pregadores e
pregadoras e indicamos os estudos da Sagrada Escritura, dos
documentos da Igreja e dos livros espirituais, assim como a
prática diária da oração pessoal, da Eucaristia e a graça do
jejum semanal.

3 Lc 24,45; Jo 14,26; 16,13; 2Tm 2,7; 1Jo 2,27.

10
II
FUNDAMENTOS DA ORATÓRIA SACRA

Em virtude da correria que a vida exige dos leigos:


trabalho, escola, família, grupos de oração; mais trabalho,
mais escola, mais família, mais grupos de oração e outras
missões (ufa!), e ainda, muitas vezes, não receber salário
bastante para viver dignamente, tentaremos resumir o que for
possível e esticar a conversa somente naquilo que nos parecer
necessário.
O caro irmão pregador, ou a querida irmã pregadora, ao
ler este texto, se não entender alguma coisa em virtude,
principalmente, da linguagem concisa – mas pode ser também
por qualquer outro motivo − poderá enviar uma mensagem
para o ENDEL (endereço eletrônico, em versão aportugue-
sada) do Ministério de Pregação que se encontra no Portal da
RCCBRASIL.

1. POR QUE PREGAR BEM?

Tentaremos lhe dar motivos para pregar bem com uma


pequena história:
Um dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta
Olavo Bilac, abordou-lhe na rua:
− Senhor Bilac, estou precisando vender meu sítio, que o
senhor tão bem conhece. Poderia redigir um anúncio para mim?
Olavo Bilac apanhou um papel e escreveu:
− Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os
pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristali-

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Dercides Pires da Silva

nas e marejantes águas de um ribeirão. A casa, banhada pelo sol


nascente, oferece a sombra tranquila das tardes na varanda.
Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se
havia vendido o sítio, mas, surpreendentemente, o homem respon-
deu:
− Nem pense mais nisso! Quando li o anúncio é que percebi a
maravilha que eu tinha.
“Não basta ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo
bem.”4 A mensagem é importante, mas o modo de transmiti-
la é fundamental para que os ouvintes a acolham.

2. CONCEITO DE ORATÓRIA SACRA

Parece haver alguma espécie de consenso entre os


escritores no sentido de afirmar que a oratória seja uma arte
de falar em público.5 De minha parte ainda não vi alguma
afirmação que contradiz essa ideia; contudo, conquanto
respeite a todos os bons escritores, e igualmente as boas
escritoras, concordamos, apenas em parte, com essa
afirmativa por entender que ela somente expressa um pouco
do que seja oratória. Noutros livros,6 quando apresentamos
essa ideia o fizemos sem discordância e sem discutir o assunto
por não ser lá o local próprio. Agora entendemos ser
oportuno fazê-lo.

4 DESCARTES, René. Discurso do método.


5 MENDES, Eunice; COSTACURTA JUNQUEIRA, L. A. Comunicação sem
medo, p. 63; POLITO Reinaldo. Como Falar Corretamente e sem
Inibições, p.25; FURINI, Isabel Florinda. A arte de falar em público. p. 9;
FURINI, Isabel Florinda. Praticas de oratória. 12; QUEIROZ, Jerônimo
Geraldo de, in Manual do orador.
6 PIRES DA SILVA. Dercides. Formação de pregadores e formadores,
Oratória Sacra, volumes 1 e 2.

12
Formação de Pregadores

Que oratória é uma arte todos podem concordar; que


ela serve para se comunicar com o público, também. Mas
quanto a ela ser simplesmente um modo de falar com o
público, ainda que um “modo artístico”, não podemos com-
sentir, pois ela é mais do que isso. Sei, alguns poderão dizer:
“Há, modernamente, oratórias jornalística, didática, radiofô-
nica, televisa, teatral...”. Ao que eu emendaria, em tom
replicante: há também oratórias acadêmica, forense, política,
musical e sacra. As “oratórias” jornalística, didática, radiofô-
nica e televisa podem ser reconhecidas como uma técnica de
falar com o público; ainda que, por justiça reconhecemos, na
técnica pode haver um pouco de arte. A teatral e a musical,
ninguém duvida, são autênticas artes, no sentido puro do
termo “arte”, de comunicar uma mensagem ao público.
As outras − acadêmica, forense, política e sacra – embo-
ra não componham o tradicional rol de manifestações artísti-
cas, para serem consideradas como boa oratória, devem ser
feitas com toda arte possível. Registre-se ainda que essas
quatro modalidades de oratória se diferenciam entre si no
conteúdo e nos objetivos, pois quanto ao método podem ser
quadrigêmeas.
Sei, a cara leitora e o prezado leitor podem estar pensan-
do: “... mas eu já assisti a discursos de formatura que não
tinham a vibração dos discursos forenses e nem os arroubos
dos discursos políticos, pois eram calminhos, tranquilos e
serenos...” Sou, neste ponto, obrigado a dizer algo forte.
Também já assisti a discursos assim... digamos... “pasma-
centos” (de pasmaceira). Não eram calminhos, tranquilinhos e
sereninhos, e outros “inhos” mais, em virtude da arte de
alguns oradores; foram assim, por isso digo pasmacentos, por
causa da pouca arte daqueles oradores, que, via de regra,
tiveram os poucos recursos de oratória que conseguiram

13
Dercides Pires da Silva

ajuntar prejudicados pelo nervosismo. Entretanto, se tivessem


conseguido, nada os poderia impedir de expressarem todo o
seu júbilo com a colação de grau universitário, realizando um
discurso vigoroso e vibrante, no melhor estilo da antiga e boa
oratória que tem encantado multidões ao longo dos milênios.
Antes de falar em oratória sacra, é necessário lembrar
que oratória, simplesmente a boa e tradicional oratória, é a
alma do discurso. Discurso que não seja vivificado pela
oratória nem merece ser considerado discurso. É por isso
que o método de comunicação que mais se adéqua à prega-
ção da Palavra Divina é a oratória. E é também por isso que a
oratória sacra, ou simplesmente a pregação, não é – não pode
ser − um falar qualquer; muito menos um “falarzinho” frou-
xo, pasmacento ou sem vida que mais se assemelha a um
“falar pra boi dormir”. Também é preciso advertir que falar
todos falam, exceto os que não possuem a faculdade da
comunicação verbal; nem por isso são todos oradores.
A oratória é uma arte, e como tal deve ser vista. Como
arte, ela é um modo de se comunicar bem com o público; é
uma habilidade de falar de forma cativante e atraente. Alguns
podem pensar que seja puro dom, e como tal não poderia
misturar-se com habilidades humanas, mas não é; pode ser
dom, mas haverá de ser temperado com muito esforço e
dedicação. A boa oratória gera no ânimo dos ouvintes algo
parecido com aquilo que a boa música produz. Os efeitos que
geram na emoção das pessoas e a atração que exerce sobre o
senso estético, servem para caracterizá-la, de fato, como uma
arte. Contudo, é bom que os oradores fiquem alertas, pois
como arte pode ser bem ou mal feita, agradável ou
desagradável, atrativa ou repulsiva, prazerosa ou desgostosa;
os efeitos bons e maus dependem da habilidade do artista.
Como a música e as artes cênicas religiosas, a oratória não sai

14
Formação de Pregadores

deste esquema artístico; a não ser que o pregador renuncie à


oratória como método de pregação e se contente em ser um
simples “falador”.
Noutro local dissemos que a oratória, nos dias atuais,
tem adquirido significado diferente da retórica,7 chegando a
ser, de certa forma, uma parte desta; entendida a retórica
como sendo o estudo do uso persuasivo da linguagem, em
especial para o treinamento de oradores, abrangendo entre
outras coisas o conjunto de regras que disciplina a arte da
oratória e orienta o orador para o bom exercício da arte do
discurso.
A oratória sacra, por sua vez, é um ramo da oratória; ela
se ocupa da transmissão da mensagem sagrada, sendo uma
forma de comunicação da mensagem divina que, utilizando os
recursos da oratória em conjunto com o conhecimento
bíblico-doutrinário e com a unção do Espírito Santo, denomi-
namos metodologia com poder do Espírito Santo, pois se
trata, de fato, de um método de pregação no qual se
empregam recursos oratórios, dependendo do Espírito Santo
em tudo: dependendo do Espírito Santo nos estudos da
doutrina sagrada, a partir das Escrituras, passando pela Dou-

7
“Ainda em relação à oratória, quanto a ela ser uma arte, a arte do bem
falar, parece ser uma unanimidade entre os escritores. Com efeito,
como Maurício Góis fez na citação acima, outros a tratam como arte.
Com isso notamos que o uso tem consagrado sentidos diferentes para
oratória e retórica, deixando à oratória uma significação artística e
reservando à retórica os trabalhos de pesquisa cuja finalidade é prover o
orador de melhores recursos para a comunicação. Assim, os termos
“oratória” e “retórica”, conquanto na origem tivessem o mesmo signifi-
cado, hoje estão registrando fatos diferentes, embora semelhantes, por
enquanto muito semelhantes e entrelaçados” (PIRES DA SILVA,
Dercides. Formação de pregadores e formadores, Oratória Sacra, volume
1).

15
Dercides Pires da Silva

trina da Igreja, pelos livros espirituais e pelas lições aprendidas


no silêncio das orações e das meditações; dependendo do
Espírito Santo para receber as revelações, por meio dos dons
carismáticos, do que se deve pregar; dependendo do Espírito
Santo para ser enviado a quem se deve anunciar a Boa-Nova;8
dependendo da unção do Espírito Santo para pregar a Boa-
Nova com autoridade, ousadia, parresia e poder do próprio
Espírito Santo; dependendo do Espírito Santo para aprender a
pregar; dependendo do Espírito Santo para bem desempe-
nhar a arte da oratória; dependendo do Espírito Santo para
ter a pregação confirmada com sinais e prodígios. Portanto, a
oratória sacra é, pelo menos deve ser, de fato, uma metodo-
logia com poder do Espírito Santo, sem, contudo, deixar de
ser oratória no sentido artístico do termo.
A raiz remota da oratória sacra são as homilias feitas
pelos primeiros cristãos.9 Ela nasceu quando os pregadores
cristãos perceberam que podiam usar a retórica grega ou a
oratória romana para anunciar a palavra de Deus. Seu
objetivo é veicular uma mensagem religiosa, como já foi
mencionado antes.
Em suma,

Oratória Sacra é o instrumento de trabalho do pregador e do


formador. Ela utiliza a mesma metodologia que compõe a
Retórica e a Oratória, todavia difere destas em dois aspectos:
conteúdo evangelizador e dependência da unção do Espírito
Santo, necessariamente. É por isso que necessitamos de formar
pregadores e formadores que consigam reunir a um só tempo
três atributos: conhecimento bíblico-doutrinário, metodologia e
unção, pois é a junção destes três elementos que faz a Oratória

8 At 16,9-10.
9 GOIS, Maurício. Curso prático de comunicação verbal, p. 285.

16
Formação de Pregadores

Sacra (SILVA, Dercides Pires da. Formação de Pregadores e


Formadores, Oratória Sacra, volume 1).

3. PARTES DO DISCURSO

Compreensão, segundo Piaget, é o segundo estágio do


conhecimento, que ocorre quando o indivíduo se apropria da
informação (www.ufrgs.br, acessado em 16/4/2008).

Para facilitar a compreensão dos oradores e dos ouvintes,


os estudiosos, desde a Antiguidade, organizam o discurso em
partes. Essa organização foi se modificando com o tempo,
conforme podemos ver a seguir.

a) Divisão antiga10

Na Antiguidade, a oratória foi organizada em cinco


partes: inventio, dispositio, elocutio, memoria, pronuntiatio.
A fase da inventio (invenção) era dedicada à descoberta
das ideias e dos argumentos que se utilizavam durante o dis-
curso.
Já a dispositio (disposição) se destinava à organização das
ideias.
A elocutio (elocução), não significava apenas a exposição
oral das ideias do discurso; nela o orador também descobria a
melhor forma para expor a mensagem. Era nesta fase que ele
embelezava o discurso, escolhendo figuras de linguagem,
histórias, parábolas e tropos. Entretanto, era também nesta
fase que o orador transformava em palavras o material
inventado e organizado anteriormente.

10 SOUSA, Américo de. A persuasão: estratégias para uma comunicação


influente.

17
Dercides Pires da Silva

A fase da Memoria (memorização) era utilizada para o


orador decorar (memorizar) os discursos, pois naquele
tempo não havia papel para roteirizá-los e tanto os pergami-
nhos quanto os papiros, que não existiam em abundância, não
proporcionavam as facilidades de manuseio que o papel e os
recursos eletrônicos oferecem nos dias de hoje, principal-
mente com as impressões digitalizadas.
Memorizando o discurso, o orador conseguia expressar
suas ideias com clareza e segurança. Esta fase, nos dias de
hoje, perdeu quase todo o sentido que tivera outrora.
Entretanto, não está proscrita; quem desejar poderá decorar
seus discursos. O que não se deve fazer é, a pretexto de usar
a decoreba, não preparar um bom roteiro e nem decorar a
pregação. Decorar pode significar ter no coração, saber de
coração,11 dar cor (vida) às ideias. Portanto, quem desejar
decorar, saiba que deverá ter sua pregação ou o seu ensino
bem firme no coração; bem preparado e organizado. Falando
doutro modo, não se deve negligenciar a preparação da
pregação e do ensino, sob o pretexto de tê-los decorado.
Na pronuntiatio (pronunciação), como o próprio nome
indica, o orador fazia o seu discurso.

b) Divisão moderna

Modernamente, conservaram-se três fases do discurso:


invenção, disposição e elocução.
É na invenção que o orador planeja o seu discurso
estrategicamente. Estratégia do ponto de vista pedagógico. É
na invenção que ele busca as ideias que utilizará, escolhendo o

11 “Decor: prep. lat. de + subst. lat. cor, cordis „coração, sede da


afetividade e tb. da inteligência e da memória‟”, Dicionário Eletrônico
Houaiss.

18
Formação de Pregadores

que há de melhor. É também nesta fase que ele prepara os


argumentos e seleciona as provas. Em se tratando de oratória
sacra, para nós, pregadores, pregadoras, formadoras e forma-
dores, esta parte é entendida como acolhimento da revelação
para a pregação e o ensino, e é apresentada no livro Forma-
ção de Pregadores e Formadores, Oratória Sacra, Roteiri-
zação, Volume 1.
Já a disposição é dedicada à organização das ideias da
forma mais didática possível. É nesta fase que os roteiros de
pregação e de ensino ganham corpo. Tratamos deste assunto
no livro Formação de Pregadores e Formadores, Oratória
Sacra, Roteirização, Volume 2.
Da elocução, dedicada à exposição das ideias de forma
estética e convincente, estamos tratando neste livro.

4. ELOQUÊNCIA

“A eloqüência tem forças e belezas incomparáveis.” 12

Eloquência é qualidade fundamental da boa oratória, ou,


como queiram, do bom discurso. O que equivale a dizer que
o é também da boa pregação. Ausente a eloquência, seria
difícil reconhecer qualquer pronunciamento como sendo um
discurso, no real sentido estético do conceito deste termo.
Difícil imaginar alguém discursando de forma titubeante, com
frases entrecortadas, com gaguejamentos, truncando a comu-
nicação ou com linguagem monótona, sendo aplaudido por
qualquer assembleia. Sejamos francos, juntamente com o tom
da oratória – pronunciamento forte, vigoroso, ardoroso,

12 DESCARTES, René. Discurso do método, p. 41.

19
Dercides Pires da Silva

vibrante − é a eloquência que realmente transforma um falar


qualquer num belo discurso.
Em estudos de linguagem, eloquência significa a arte de
falar bem. Há quem diga que é um dom nato,13 e, portanto,
uma qualidade que não dependeria de ação humana. Nossa
opinião é que, se de fato a eloquência é uma habilidade, ela
pode ser perfeitamente desenvolvida naqueles que de alguma
forma a tem hibernando. Além disso, as oficinas de pregação
nos autorizam a dizer que ela é também uma técnica que se
aprende e aperfeiçoa com estudos teóricos e práticos. Isso, a
experiência tem demonstrado em nossas oficinas de prega-
ção.
Não desconhecemos que, referindo-se à eloquência, há
mais de uma categoria de pessoas a necessitar de ajuda, quer
seja para desenvolvê-la − entendendo-a como habilidade,
quer seja para adquiri-la e também desenvolvê-la − tendo-a
como técnica. Uma dessas categorias é composta por quem
nasce com a bela qualidade de se exprimir com facilidade. É
que até esta classe de eloquentes se torna muito melhor com
as experiências e práticas das oficinas.
Entretanto, para bem entender a eloquência e aplicá-la
melhor, deve-se lembrar das pessoas que integram a segunda
espécie de eloquentes. Elas são as que podem ter nascido
eloquentes, mas que, sufocadas por traumas de diversas
origens ou vítimas de educação repressora, mal conseguem se
apresentar em público. Estas, com terapias − entre as terapi-
as podemos citar análises, psicoterapia, tratamentos fonoaudi-
ológicos e nossas tão bem sucedidas curas interiores – conse-
guem discursar e pregar com grande eloquência.

13 GOIS, Maurício. Curso prático de comunicação verbal, p. 285.

20
Formação de Pregadores

Em nossas oficinas de pregação temos encontrado


também uma terceira categoria de pessoas que seria
contraindicada para fazer qualquer discurso em virtude de
não ser nada eloquente, se tornar tão ou mais eloquente do
que outra que seria naturalmente classificada como integrante
do rol das eloquentes.
Para entender melhor a eloquência, é bom dizer que ela
é também a capacidade de exprimir-se com facilidade.
Todavia, há quem sustente que ela é a arte e o talento de
persuadir, convencer, deleitar ou comover por meio da
palavra. Isso é verdade; se não em tudo, pelo menos em
grande parte, pois grande quantidade do prazer que se sente
ao ouvir bons oradores vem de sua eloquência. Cá entre nós,
irmãos em Cristo e companheiros de missão, podemos dizer:
é bom ouvir oradores que conhecem o ofício da oratória; é
ótimo ouvir pregadores que pregam bem. Grande parte do
pregar bem é fruto da eloquência. Eloquência conduzida pelo
dom da sabedoria que o Espírito Santo concede aos que são
de Jesus.

5. ORATÓRIA: MÉTODO DA PREGAÇÃO

Em Pedagogia, método é um processo ou técnica de


ensino. O método é composto por várias técnicas utilizadas
para transmitir conhecimento. Ora, mesmo este livro não
tratando diretamente da didática da pregação e do ensino, é
oportuno lembrar que toda espécie de comunicação será
mais eficaz se seguir algum método, principalmente se utilizar
o método mais adequado.
A esta altura da conversa, cremos que ninguém duvida de
que a pregação é um modo de comunicar-se com as pessoas,

21
Dercides Pires da Silva

de modo que podemos tratar, sem sobressaltos, de um


método próprio a ela.
A oratória é a técnica natural para o pregador
evangelizar, pois uma ótima utilidade do discurso feito com
oratória robusta, ardorosa e vibrante é transmitir ideias fortes
no campo político e teses atraentes na seara forense. Aqui
vemos um ponto de contato entre a pregação e o discurso
forense, assim como com o discurso político. Justificamos este
ponto de vista, indagando: haveria ideia mais forte do que
Jesus Cristo e suas propostas? Ou mais atraente do que ser
salvo dos pecados, do maligno, do inferno, das enfermidades,
enfim, de toda espécie de mal? Qual ser humano poderia dar-
se ao luxo de dispensar Jesus ou alguma de suas propostas?
Quem poderia ser alijado da salvação?
As perguntas acima servem para nos abrir os olhos a fim
de que vejamos o modo pelo qual devemos pregar. O
pregador e a pregadora devem pregar com mais vibração do
que o melhor candidato a cargo político. Ele, o candidato,
vende-se a si mesmo; por isso, de certo modo, poderá
enfrentar muitas barreiras relacionadas com as competições
pessoais e com a concupiscência. Os pregadores e as
pregadoras nada vendem; apresentam um Deus – Jesus – e
sua proposta de felicidade. A pregadora e o pregador devem
pregar com mais vigor e ardor do que um apaixonado
causídico num tribunal. Ele, o advogado, defende a liberdade
terrena do réu, que poderá ser inocente ou não; os
pregadores e as pregadoras defendem as liberdades terrena e
eternal de inocentes14 que sofrem injustamente nas mãos do
Inimigo de Deus.

14 “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

22
Formação de Pregadores

Uma das funções da oratória é apresentar uma tese


sustentando-a de forma convicta, vigorosa e ardorosa; com
ideias e argumentos verdadeiros, sérios e compreensíveis, de
forma a preparar os ouvintes para se decidirem por ela.
Nisso, um discurso forense é semelhante a uma pregação. De
mais a mais, cada tema de pregação assemelha-se a uma tese;
pode, falando com rigor científico, não ser uma tese, porém
em tudo é semelhante a ela, e como tal deve ser apresentada.
Ninguém deve apresentar uma tese científica de forma
chata e enfadonha; uma tese jurídica num tribunal de forma a
embalar o sono dos julgadores; uma proposta política num
palanque ladeado por redes de dormir. Ora, o mundo sabe
muito bem apresentar suas propostas de forma encantadora...
Por que os servos do Senhor haveriam de ser inferiores,
pregando sem pregar, se apresentam algo melhor do que uma
tese jurídica, mais verdadeira do que uma tese científica e
mais salvadora do que uma proposta política?
Já vi muita gente se queixando da Nova Era, do modo
como vem utilizando os frutos da ciência e da tradição para
dominar o mundo; pelo menos para tentar dominá-lo. Não há
muito tempo, ouvia-se dizer: “Não use „isso‟, pois „isso‟ é da
Nova Era”. “Não use „aquilo‟, porque „aquilo‟ é da Nova Era”.
Observando “isso” e “aquilo”, percebi que não eram da Nova
Era, mas ela espertamente os têm usado para atingir os seus
fins, enquanto os filhos de Deus os têm relegado a segundo
plano, quando muito; porque, em verdade, a maioria das
pessoas não utilizam os recursos tecnológicos e nem os frutos
da tradição para o bem como deveriam usar.
Então, em vez de maldizer os bons advogados ou as
raposas políticas por utilizarem os atraentes recursos para
obterem vitórias nem sempre boas, legítimas e honestas, o
que os bons pregadores e as boas pregadoras devem fazer?

23
Dercides Pires da Silva

Em minha opinião devem dominar todos os recursos de


comunicação que a retórica disponibiliza e praticarem uma
excelente oratória em pregações ungidas e audaciosas, a fim
de ganharem pessoas para Jesus.
E agora, queridos leitores e amadas leitoras?!... Por que a
oratória seria, por excelência, o método da pregação? Vocês
já devem ter as respostas prontas, eu sei. Mas, como também
sou pregador, e como tal gosto de partilhar minhas opiniões,
vamos a elas:
Caso você tenha respondido que a oratória é o método
indicado para pregar porque na pregação não se deve poupar
vigor, vibração, força, garra, ousadia, ardor, unção e outros
substantivos semelhantes, acertou em cheio, porque é
precisamente esta espécie de oratória que preenche a prega-
ção daquilo que ela mais necessita para deixar de ser falação e
se tornar de fato pregação.
Se você disse que a oratória é o método adequado à
pregação porque nela, na pregação, se transmitem ideias
semelhantes às teses, e que a melhor forma de apresentar
uma tese é demonstrando confiança e segurança, além de
fundamentá-la com argumentos corretos, acertou novamen-
te.
Se você pensa que a oratória é um método excelente
para pregar porque ela permite ao pregador expressar toda a
sua alegria, vivacidade, rapidez de raciocínio, além de toda a
sua pujança comunicativa, acertou outra vez.
Agora, se o amado leitor e a querida leitora têm certeza
de que a oratória forte, alegre, vibrante, audaz, vigorosa,
ousada, confiante, vivaz, ardorosa e pujante é o método que
mais fará o pregador e a pregadora dependerem do Espírito
Santo, de forma a atrair toda a atenção dos ouvintes, e que

24
Formação de Pregadores

por isso ela é o único método realmente bom para a prega-


ção, acertaram definitivamente.

6. DECÁLOGO DO ORADOR SACRO

A definição do pregador é a vida e o exemplo (Pe. Antônio


Vieira, Sermão da Sexagésima, IV).

Alguns livros de oratória apresentam propostas de


decálogo aos oradores com o propósito de orientá-los rumo
ao sucesso. Conquanto nosso objetivo não seja constituir
oradores famosos, mas formar pregadores eficazes no anún-
cio do Evangelho, entendemos ser oportuno utilizar a inspira-
ção dos bons escritores e apresentar uma proposta que seja
adequada às nossas necessidades. Também o fazemos tendo
em mente que é milenar o costume de reunir normas de
conduta com o objetivo de facilitar sua assimilação por parte
dos seus destinatários. Foi assim com a Lei das XII Tábuas dos
Romanos, com os Dez Mandamentos dos Hebreus, com as
três Virtudes Teologais, com as quatro Virtudes Cardeais,
com os sete pecados capitais, com os Sete Dons do Espírito
Santo, com os Cinco Mandamentos da Igreja e com os cinco
mistérios de cada parte do Rosário.
A proposta que apresentamos pode ser resumida no
seguinte dito mnemônico: OS DA PAZ ETC, onde cada letra
representa uma orientação: orar diariamente, simplicidade na
exposição e profundidade nas ideias, docilidade ao Espírito
Santo, amar as pessoas, pregar o que se vive, aprender com
os bons pregadores, zelar pela própria santidade, escolher
cuidadosamente o tema e as ideias principais para compor o
roteiro, treinar exaustivamente e começar a pregação com
serenidade.

25
Dercides Pires da Silva

Orar diariamente é requisito fundamental para pregar


com unção a mensagem que Jesus deseja. É na oração que o
pregador e a pregadora acolhem de Deus o que deve ser
anunciado.15 É orando que ambos recebem a unção para
pregar com ousadia, graça e destemor.
Quem aceita a vocação de pregar a Boa-Nova saiba que
seu chamado é para evangelizar com simplicidade na exposi-
ção do assunto, porém, ao mesmo tempo, é para ser profun-
do nas ideias. Penso que seja oportuno alertar que simplici-
dade nada tem a ver com chulisse (derivado de chulo). A
simplicidade na exposição significa não utilizar linguagem
complicada, como aquele linguajar que o povo diz ser uma
fala difícil. Simplicidade na forma de expressão é utilizar
formas verbais, construções frasais e palavras que o povo
possa entender sem buscar o dicionário durante a pregação.
As pregadoras e os pregadores podem ser simples sem
caírem na chulisse. Isso é uma virtude.
Profundidade nas ideias é não “chover no molhado”; é
não repetir na pregação tudo e tão somente o que se leu
nalgum texto, bíblico ou não. Alguns pregadores leem algum
trecho bíblico e, ao tentarem pregar, somente repetem aquilo
que leram, sem nada acrescentar. Nesses casos, de duas uma:
ou não precisava ter lido o texto bíblico, ou não carecia ter
tentado pregar. Ora, o Senhor não reúne seus amados para
perderem tempo; se Ele, o bom Pastor, reúne suas ovelhas
nalgum redil, é porque, certamente, deseja que sejam bem
alimentadas; deseja que recebam alimentos novos, feitos de
novas ideias, de ideias que venham da profundidade do seu
amor; de ideias que certamente revelará ao pregador e à

15 Para não ser repetitivo, informamos que este assunto é tratado no Livro
Formação de pregadores e formadores, Oratória Sacra, Roteirização,
Volume 1.

26
Formação de Pregadores

pregadora, caso orem com a Palavra a ser anunciada, caso


meditem essa Palavra.
Para sair da superficialidade, uma boa dica é conhecer a
época histórica da produção do texto a ser utilizado na
pregação (o povo: seus hábitos, suas leis, onde viviam; as
circunstâncias sociais: a política, a economia, as leis etc).
Outras dicas deveras úteis são consultar dicionários e mais de
uma versão do texto bíblico; falamos de dicionários de língua
portuguesa e teológicos para compreender o significado das
palavras do texto. Tudo isso temperado na graça da oração e
apurado no crisol do jejum.
Docilidade ao Espírito Santo é fundamental. Sem ela não
poderemos dizer, com certeza, se o pregador e a pregadora
são oradores sacros. É por essa docilidade que eles permane-
cem ungidos.
Você confiaria seu filho ou sua filha a um professor que os
odiasse? Como seria bom deixar nossos filhos aos cuidados de
um médico ou de um catequista que os amasse! Fico
pensando o quanto Deus deseja confiar seus filhos a coorde-
nadores e pregadores que os amem profundamente.
O pregador e a pregadora que amam não são
carapuceiros. Não falamos do fabricante de barretes ou
gorros; falamos daqueles palestristas que se comprazem em
constranger os ouvintes com “lições de moral” ou com
conselhos inoportunos. Deus não reúne seus filhos para rece-
berem desaforadas carapuças, nem para serem chicoteados
verbalmente. Para bater no povo já existe a economia, a
politicagem, as famílias sem Deus, os maus patrões, enfim,
muitas circunstâncias da vida diária. O Espírito Santo reúne
os filhos de Deus na Igreja do Senhor para que recebam o
amor de Deus que deve se manifestar também por meio das
pregações.

27
Dercides Pires da Silva

Quando ingressei no abençoado movimento eclesial


pentecostal católico, conhecido no Brasil por Renovação
Carismática Católica, notei logo no início um estilo de
pregação que tem frutificado muito e que é bom de se ouvir,
pois os pregadores se exprimem com grande facilidade e
pregam convictamente. Depois, vim a saber que pregam
desse modo porque são ungidos pelo Espírito Santo.
Entretanto, não fiquei satisfeito com a resposta, porque sabia
que deveria haver algo mais, posto que Deus opera por meio
do ser humano mediante a concorrência de algumas condi-
ções espirituais e humanas. Sendo eu, pouco depois, também
pregador, descobri muitas respostas aos meus questiona-
mentos sobre o estilo das pregações carismáticas. Uma delas
foi que a maioria dos bons pregadores pregava quase sempre
coisas que experimentava no cotidiano de suas vidas. Isso
muito me alegrou, pois no dia dessa descoberta tive esperan-
ça de ser realmente um pregador.
Ora, é muito mais fácil pregar o que se vive! Quem prega
o que já experimentou em sua vida anuncia as verdades
divinas com mais autoridade, consegue transmitir a mensa-
gem com mais clareza e convicção, além de não ficar sem
assunto durante a pregação. Isso para pontuar somente estes
tópicos, à guisa de exemplos estimuladores.
Aprender com os bons pregadores, com os melhores,
com os especialistas, é, antes de tudo, prova de inteligência e
maturidade espiritual.
Infelizmente, muitos não se abrem a este salutar modo
de aprender. É deveras uma pena! Quem aprende com os
outros erra menos.
É bom aprender observando como os melhores fazem as
coisas. Sobre isso, na história da humanidade temos muitos
exemplos animadores. Josué aprendeu com Moisés, Eliseu

28
Formação de Pregadores

com Elias e Pedro com Jesus. Também há aqueles que não


aprendem com os especialistas e perdem muito, como
Roboão que não aprendeu com seu avô Davi e com seu pai
Salomão e veio a perder Israel, tendo ficado somente com
Judá, assim mesmo como especial benevolência divina em
consideração à fidelidade de Davi.
Quem não cuida da própria santidade corre o risco de
plantar ao alvorecer e arrancar antes do crepúsculo. Os
pregadores e as pregadoras precisam se lembrar constante-
mente de que suas ovelhas lhes pousam os olhares diuturna-
mente. Essas ovelhas, como todas as fracas ovelhas do
rebanho de nosso Senhor Jesus Cristo, tendem a legitimar
uma multidão de pecados ao verem seus líderes, principal-
mente pregadores e coordenadores, cometerem um só
deslize. Elas aumentam desmensuradamente a proporção a
favor dos próprios pecados, partindo de um pequeno erro de
quem lhe deve dar bons exemplos. Assim, se um pregador
comete um só ato de infidelidade conjugal, suas ovelhas
poderão desejar um harém; se tirarem um trago de cigarro,
tenderão a fumar um maço; se beberem um copo de cerveja,
elas poderão brigar pelo direito de beber um tonel; se come-
tem um ato de corrupção, uma desonestidade qualquer, as
ovelhas poderão desistir da santidade para sempre.
Conheço um tristonho caso que pode ilustrar este ponto.
Nos idos dos anos noventa, estávamos evangelizando uma
pessoa que havia sido alcoólatra. Ele era e é um bom homem,
que infelizmente voltou ao vício do álcool, para desgosto de
sua mulher. Não consigo deixar de pensar que um pregador,
um dos melhores do Brasil, em se tratando de conhecimento
e oratória, teve responsabilidade nisso. Vou esclarecer o que
estou com dificuldade de expressar. É que este assunto é por
demais penoso. Este pregador, certa vez, durante uma prega-

29
Dercides Pires da Silva

ção, quando eu tinha mais ou menos dois ou três anos de


Renovação, durante um Seminário de Vida no Espírito Santo,
enquanto testemunhava seu modo de vida, mencionou que
bebia cerveja. Daquele dia para frente tivemos grande
trabalho com as ovelhas no quesito bebidas. Naquela época
Deus me deu a coragem de abordá-lo e pedir para que não
repetisse mais aquelas palavras durante as pregações. Parece
que ele tentou não repetir, mas não mudou de vida. Talvez
não mudou porque eu era um iniciante na caminhada
espiritual e ele já era um veterano.
Este mesmo pregador, numa confraternização do
ministério para as famílias de minha arquidiocese, cujo ex-
coordenador era e ainda é “cervejólatra” – ele há vários anos
se afastou dos caminhos do Senhor – “regou” a festa com
muitos litros de cerveja. Aquele pregador era convidado
especial, e bebeu “todas”. Sua mesa ficou derramando de
latas vazias. O nosso evangelizando lá chegou e viu aquela
cena. Ao ver aquele dantesco espetáculo para a santidade,
questionou de pronto nossas pregações que o incentivavam a
não voltar ao vício. Ele disse à sua mulher que se aquele
pregador podia beber ele também poderia, pois não haveria
problema algum. Ela, com sabedoria, conseguiu contornar a
situação, tentando dizer que um pregador como aquele não
beberia bebida alcoólica e, que, certamente, aquelas latas
haviam sido esvaziadas por outras pessoas. Inicialmente ela
obteve sucesso, que não durou os anos necessários, pois
aquele alcoólatra em recuperação não sossegou até descobrir
que as latas haviam sido esvaziadas pelo pregador. Ao
descobrir isso falou comigo. Seu rosto estava marcado pelo
pesar de ter perdido algo importante – as cervejas que não
havia bebido por alguns anos – e seu tom de voz era tenso e
demonstrava um pouco de amargura. Estava tentando me

30
Formação de Pregadores

dizer, para ser sincero entendi sua mensagem nas entrelinhas,


que o havíamos privado do álcool “cervegítico” inutilmente,
pois já que aquele pregador que tanto admirava bebia,
também ele podia beber.
Para encurtar a história, daquele dia em diante redobrei
meus cuidados para com aquele neófito; entretanto, precisei
trabalhar noutro Estado, e ele voltou ao vício e do vício a
outros velhos pecados; pecados tristes e dolorosos para a sua
mulher que a fizeram chorar. Soube disso há poucos dias.
Sinceramente, tive vontade de colocá-lo no meu carro e levá-
lo ao pregador que, imagino, é responsável pela tibieza espiri-
tual dessa ovelha.
Quem não tem cuidado de sua própria santidade talvez
esteja carecendo de compreender o que seja escândalo. O
povo em geral entende por escândalo um ato ou fato que
provoca indignação nas pessoas que se sentem ofendidas em
suas crenças religiosas e em seus valores morais. Comumente
o escândalo provoca revolta na população ou no povo cujas
convenções ou regras de decoro foram violadas. Entretanto,
em matéria religiosa, este assunto é um pouco mais grave,
pois se trata de condutas de quaisquer pessoas cristãs que
fazem outros perderem a fé. Fé na palavra de Deus, fé em
Deus (Pai, Filho e Espírito Santo), fé na Igreja, nos cristãos,
nas obras de evangelização, nas pregações. Enfim, escândalos
são atos que fazem as pessoas titubearem ou caírem na
caminhada da fé.
Sobre o escândalo, Jesus se pronunciou com severidade,
conforme o testemunho do evangelista Lucas: “Jesus disse
também a seus discípulos: É impossível que não haja escânda-
los, mas ai daquele por quem eles vêm! Melhor lhe seria que
se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e
que fosse lançado ao mar, do que levar para o mal a um só

31
Dercides Pires da Silva

destes pequeninos. Tomai cuidado de vós mesmos” (Lc 17,1-


2).
Ainda sobre o escândalo, há um episódio narrado em
Mateus16 que revela o pensamento de Deus sobre as coisas e
as pessoas que fazem os filhos de Deus saírem do caminho da
fé. Certo dia Jesus ouviu de Pedro a confissão de que ele,
Jesus, era filho do Deus vivo. O Mestre ficou muito feliz,
elogiou o Apóstolo e lhe deu as chaves do céu e ainda o
poder de ligar e desligar coisas no céu e na terra. Isso é um
poder imenso. Em seguida, quando Jesus começou a revelar
sua paixão, Pedro tencionou convencê-lo do contrário,
chegando a usar o nome de Deus e tentando profetizar que a
Paixão do Senhor não ocorreria. Naquele ponto da conversa,
Jesus interrompeu aquele discípulo a quem confiou a terra e
uma grande influência no céu, dizendo: “Afasta-te, Satanás! Tu
és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de
Deus, mas dos homens!” (Mt 16,23). Que reprimenda dura
Pedro sofreu, e em público! E sem nem saber direito o que
estava tentando fazer! Ora, se Jesus não poupou seu primeiro
Papa, seu eleitíssimo para o Reino de Deus, quando este
estava prestes a provocar um escândalo, certamente com isso
estará querendo dizer algo muito importante aos líderes,
principalmente aos coordenadores e coordenadoras, junta-
mente com as pregadoras e os pregadores. Estes precisam
entender o que o Mestre está dizendo. Paulo entendeu
perfeitamente e expressou isso com as seguintes palavras:

Acaso não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de


Deus? Não vos enganeis: nem os impuros, nem os idólatras,
nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem
os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os

16 Mt 16,16-23.

32
Formação de Pregadores

difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de


Deus. Ao menos alguns de vós têm sido isso. Mas fostes
lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em
nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus.
Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é
permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma.
Os alimentos são para o estômago e o estômago para os
alimentos: Deus destruirá tanto aqueles como este. O corpo,
porém, não é para a impureza, mas para o Senhor e o Senhor
para o corpo: Deus, que ressuscitou o Senhor, também nos
ressuscitará a nós pelo seu poder. Não sabeis que vossos
corpos são membros de Cristo? Tomarei, então, os membros
de Cristo e os farei membros de uma prostituta? De modo
algum! (1Cor 6,9-15).

E mais:

Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos muito amados.


Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos
amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício
de agradável odor. Quanto à fornicação, à impureza, sob
qualquer forma, ou à avareza, que disto nem se faça menção
entre vós, como convém a santos. Nada de obscenidades, de
conversas tolas ou levianas, porque tais coisas não convêm; em
vez disto, ações de graças. Porque sabei-o bem: nenhum
dissoluto, ou impuro, ou avarento - verdadeiros idólatras! - terá
herança no Reino de Cristo e de Deus. E ninguém vos seduza
com vãos discursos. Estes são os pecados que atraem a ira de
Deus sobre os rebeldes. Não vos comprometais com eles (Ef
5,1-7).

Há ainda uma grande quantidade de exortações nas


cartas de Paulo e nas dos demais Apóstolos que são preciosas
orientações para pregadores e pregadoras. Lendo-as, todos
poderão cuidar melhor da própria santidade. Entre-tanto, é
útil transcrever mais esta passagem paulina: “Tudo me é

33
Dercides Pires da Silva

permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas


eu não me deixarei dominar por coisa alguma” (1Cor 6,12).
As exortações sobre o escândalo têm sido entendida e
acolhida pelos bons pregadores ao longo da história; infeliz-
mente, não por todos, como alerta padre Antônio Vieira, num
dos seus sermões:

Entre o semeador e o que semeia há muita diferença. Uma


coisa é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é o
governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma
coisa é o semeador e outra o que semeia; uma coisa é o
pregador e outra o que prega. O Semeador e o Pregador é
nome; o que semeia e o que prega é ação; e as ações são as que
dão o ser ao Pregador. Ter o nome de pregador, ou ser
pregador de nome não importa nada; as ações, a vida, o
exemplo, as obras, são as que convertem o Mundo. O melhor
conceito que o pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? É o
conceito que de sua vida têm os ouvintes (Pe. Antônio Vieira,
Sermão da Sexagésima, IV).

Escolher cuidadosamente o tema e as ideias principais


para compor o roteiro. Sobre isso tratamos no já mencionado
livro Formação de Pregadores e Formadores, Oratória Sacra,
Roteirização, Volume 2. O tema e os itens devem ser um
perfeito resumo do assunto. Devem ser escolhidos cuidado-
samente, como os bons jornalistas redigem e selecionam
manchetes.
Treinar exaustivamente é, em muitos casos, mais do que
uma necessidade. O treinamento exaustivo marca o quanto o
pregador está determinado a aprender a pregar bem. Exem-
plo de determinação no sentido de aprender a discursar bem
é o grego Demóstenes. Ele é conhecido como um dos
maiores oradores da humanidade. Entretanto ele não nasceu
bom orador; ao contrário de ser bom com as palavras,

34
Formação de Pregadores

chegava a ser gago. Diz a tradição dos filósofos que ele, para
se tornar um bom orador, submeteu-se a um autotreina-
mento muito rigoroso, porém eficaz. Seu rigor consistiu em
treinar exaustivamente. Ele discursava várias horas por dia.
Para isso, raspou os cabelos da metade de sua cabeça,
ocultou-se no porão da casa de sua irmã, serviu-se de alimen-
tação leve e usou pedras na boca para vencer a gagueira e se
tornar eloquente. Por certo, dizem que sim, sua boca se feria
a ponto de sangrar, mas ele venceu as barreiras naturais e
culturais que lhe impediam de ser um bom orador. Depois
disso, quando discursava, o povo parava para ouvi-lo e aplau-
dir.
O treinamento não pode ser somente do ponto de vista
didático ou retórico; deve ser também no quesito oração. Li
num livro17 um episódio interessante que ilustra essa
necessidade. Havia um pregador da Ordem Dominicana que
pregava muito bem. Em certo dia ele quis saber a opinião de
um leigo de sua paróquia sobre sua pregação. O leigo disse
que ele pregava bem, mas faltava alguma coisa. Ao tentar
saber o que faltava, o leigo sugeriu que ele orasse. Surpreen-
dentemente, ele, um padre, seguindo a direção espiritual de
um leigo, orou por cerca de dois anos. Neste tempo não
pregou. Após aquele período, inusitadamente, indagou ao
leigo o que deveria fazer, ouvindo daquele homem a resposta
de que ele deveria pregar novamente. Narra o livro que na
próxima missa que celebrou, enquanto pregava, muitas
pessoas caíram repousando no Espírito Santo.
Os campos de treinamentos do pregador e das prega-
doras são a oração e a formação; formação teórica e prática.
A teoria pode ser adquirida estudando a Sagrada Escritura, os

17 MacNUTT, Francis. O poder de curar, pp. 152-153.

35
Dercides Pires da Silva

livros espirituais, livros sobre oratória; participando de


encontros diversos, principalmente os de formação de
pregadores; ouvindo áudios e assistindo a vídeos. A formação
prática se dá, com muitos frutos, nas oficinas de pregação. As
oficinas podem e devem ser feitas com muita criatividade,
abrangendo todos os itens da formação, desde a escuta de
Deus, passando pelo discernimento das ideias acolhidas na
escuta, pela organização dos roteiros e chegando às
pregações propriamente ditas.
Também é apropriado às oficinas os concursos de
oratória entre os próprios membros dos ministérios,
abordando temas de conhecimentos gerais. Também é muito
útil praticar oficinas de teatro, priorizando os monólogos, nos
quais os pregadores podem ser treinados a explorarem
muitas espécies de emoções em poucos minutos. Podem ser
feitas também oficinas de histórias e parábolas. Enfim, as
possibilidades que podem ser exploradas nas oficinas somente
encontram limites na criatividade dos pregadores e, óbvio,
nas coisas lícitas e santas.
Um pregador assim treinado terá maiores recursos para
pregar de forma atraente e adequada ao estilo dos prega-
dores sacros.
Começar a pregação com serenidade é orientação dos
bons professores de oratória, para os oradores errarem
menos e acertarem mais. Também é uma boa técnica para
vencer o medo inicial.
Não é bom iniciar as pregações a plenos pulmões. Os
arroubos são para depois. Contudo, começar a pregação
serenamente, não significa pregar pasmaceiramente. É pos-
sível, no início da pregação, ser sereno e ao mesmo tempo
pregar com vigor, ardor, entusiasmo, alegria.

36
Formação de Pregadores

7. RUÍDOS DE COMUNICAÇÃO

Ruídos de comunicação são todas as coisas que desviam


do pregador ou da pregadora a atenção das pessoas. Assim,
se durante a pregação alguém entra ou sai do local, se há
barulho no ventilador, no condicionador de ar, na
aparelhagem de som; se alguém entabula conversa paralela, se
há nas proximidades folguedos infantis, pessoas conversando
alto, roncos de motores estaremos diante de ruídos de
comunicação.
Os próprios pregadores podem gerar ruídos de
comunicação, como é o caso do pregador que prega mal, que
tem vícios de linguagem, nervosismo ou dificuldades de
pronunciar determinadas palavras.
As possibilidades de haverem ruídos que interferem na
comunicação entre pregadores e ouvintes podem chegar ao
infinito, pois sempre poderá haver uma interferência
repentina ou uma nova espécie de ruído. A título ilustrativo,
elencamos as mais comuns: má articulação, ambiguidade,
desconhecimento da norma gramatical, inadequação voca-
bular, inibição, nervosismo, insegurança, desconhecimento
das leis da comunicação verbal coletiva, emprego inadequado
da concisão, exagero de expressões desconhecidas e de
palavras “difíceis”, discurso decorado de forma mecanizada,
usar a imaginação a seu desfavor, velocidade vocal inade-
quada, mau uso do aparelho fonador, má articulação ou
articulação não natural, exagero de citações, exagero de
ilustrações, imitação inconsciente de outro pregador, exces-
sos de cortesias, exagero no uso das figuras de linguagem,
vícios de linguagem, excesso de movimento, imobilidade,
expressão de abatimento, cansaço, depressão, inferioridade
ou superioridade, repetição constante de um mesmo gesto,

37
Dercides Pires da Silva

citar fontes sem variedade retórica, exagero de citações sem


comentários, levar os ouvintes para trechos e não para a ideia
principal, olhos voltados para dentro da pregação e não para
dentro da realidade do ouvinte, inobservância de simples
combinações de vestuário, falar de forma monótona, mau uso
da aparelhagem de som, narcisismo, excesso de altivez,
presunção, vulgaridade, negatividade, falsa humildade, belico-
sidade, prepotência, vaidade, competição, descrença, precon-
ceito, visão limitada, etc.
O rol de possibilidades de haver ruídos na comunicação é
realmente longo. A lista acima demonstra isso, embora esteja
longe de ser completa. Vamos resumir algum comentário
sobre eles.
Má articulação das palavras é causada principalmente por
gagueira ou por dificuldade de pronunciar determinadas
palavras. Isso é particularmente danoso ao ministério de
pregadoras e de pregadores inseguros, pois quanto mais
errarem, mais ficarão ansiosos e nervosos e mais errarão,
dispersando a atenção dos ouvintes.
Ambiguidade na comunicação é expressar ideias que
oferecem pelo menos duas possibilidades de entendimento,
de forma que o ouvinte não tenha certeza sobre qual deles
deve acolher. Ora, enquanto as pessoas se esforçam para
decidir sobre qual entendimento deve acolher, perde boa
parte da pregação.
Desconhecimento da norma gramatical. É necessário
entender este ruído no contexto da pregação. Quando, de
fato, o desconhecimento da norma gramatical se torna um
ruído de comunicação no âmbito da oratória sacra? Essa
indagação se torna oportuna em virtude da pouca cultura
formal de nosso povo. Querer exigir pureza linguística do
nosso povo é tentar colher onde não se plantou. Entretanto,

38
Formação de Pregadores

caso o pregador tenha formação suficiente, não terá direito a


negligenciar com as normas gramaticais, devendo aplicar pelo
menos as regras mais usadas, sob pena de desrespeitar os
ouvintes. Todavia, caso o pregador ou a pregadora não tenha
estudo escolar suficiente, poderá naturalmente se sentir livre
da obrigação de não errar no trato da língua portuguesa.
Contudo, embora devamos ser compreensíveis e tolerantes,
devemos dizer que bom seria que todos os pregadores e
todas as pregadoras se dedicassem também aos estudos
escolares, pois além de conseguirem se expressar melhor,
também aproveitariam os conhecimentos adquiridos em prol
de si e de suas famílias.
Inadequação vocabular. Há usos de palavras de forma
imprópria que se originam da falta de estudos, porém os há
também em razão da falta de cuidado. Isso ocorre porque há
pessoas que não se dedicam a compreender um pouco mais a
língua portuguesa. É que sobre este item, alguns se esquecem
de que existem um vocabulário passivo e um ativo, além do
fato de não haver sinônimos perfeitos. Esquecendo isso,
alguns ouvem determinada palavra usada em certo contexto,
de forma adequada, que serviria de sinônimo para algo que
ela entendeu. Isso ocorre em virtude do vocabulário passivo.
Gostando daquela palavra, mas não investigando os seus
significados, a pessoa começa a empregá-la em situações onde
não deveria.
Inibição, nervosismo, insegurança, cansaço, depressão,
prepotência, narcisismo, excesso de altivez, presunção
(excesso de autoconfiança), expressão de abatimento,
expressão de inferioridade ou superioridade, falsa humildade,
preconceito, sentimento de competição com outros prega-
dores ou com os ouvintes, vaidade e descrença são ruídos de
comunicação porque transparecem no semblante, nos gestos,

39
Dercides Pires da Silva

nas palavras e nas atitudes dos pregadores, negativamente,


podendo torná-los antipáticos aos ouvintes. Com tais ruídos,
dentro de poucos minutos de pregação, muitos da assembleia
passarão a prestar atenção nos defeitos dos pregadores,
deixando de ouvi-los ativamente.
Desconhecimento das leis da comunicação verbal
coletiva. As leis da comunicação verbal coletiva são
ministradas nos cursos e nos livros de oratória; em nosso
caso, em cursos de pregação e em livros de formação de
pregadores e de pregadoras. O povo não costuma dizer, mas
conhece um mínimo de regras de oratória. Quando o
pregador as negligencia em alto grau, os ouvintes expressam
sua insatisfação dizendo que não gostaram da pregação,
mesmo sem saberem explicar o motivo do seu desgosto.
Ressalte-se, por oportuno, que entre nós a unção é
elemento importantíssimo de nossas comunicações verbais
coletivas, que denominamos de pregação ou de ensino,
conforme o caso.
Emprego inadequado da concisão é falar muito pouco ou
muito mais do que deveria falar. Falando muito pouco, os
ouvintes terão que se esforçar em demasia para entender a
mensagem; enquanto isso perderá parte da pregação. Falando
em excesso, muitos evangelizandos começarão a se desinte-
ressar pela pregação.
Exagero de expressões desconhecidas e de palavras
difíceis. Esses ruídos, além de prejudicarem o entendimento
da mensagem, ainda exigem demasiado esforço dos ouvintes
no sentido de compreenderem a pregação, impedindo o
acolhimento da Palavra de Deus proclamada.
Um discurso decorado de forma mecanizada leva os
ouvintes a criticarem o orador, mesmo que de forma silenci-

40
Formação de Pregadores

osa, prejudicando sobremaneira a compreensão e o acolhi-


mento da mensagem.
Usar a imaginação a seu desfavor é fator de ruído de
comunicação porque, ao imaginar que está pregando mal, ou
que não está sendo acolhido pelo povo, poderá realmente
prejudicar seu desempenho e levar os ouvintes a desviarem a
atenção da mensagem para os defeitos do pregador.
Velocidade vocal inadequada é pregar muito rápido ou
muito devagar. Tanto num quanto noutro caso, a atenção dos
ouvintes estaria muito prejudicada.
O aparelho fonador é o conjunto de ferramentas que
Deus, pelas leis naturais, disponibiliza às pregadoras e aos
pregadores para que preguem bem a mensagem da salvação.
Usá-lo mal, modulando a voz de forma inadequada, desperta
a atenção da assembleia de forma negativa.
Má articulação significa, por exemplo, abrir a boca de
forma exagerada, ou não abri-la na quantidade suficiente.
Com pouca articulação, as palavras ficarão mal pronunciadas;
com excesso, a pregadora ou o pregador assume uma posição
de destaque negativo por ferir a estética da oratória.
Até as melhores dádivas precisam ser servidas da forma
correta e na quantidade adequada. Isso serve também para as
citações bíblicas e doutrinárias. Ao apresentar uma citação, é
justo que o povo espere pelo menos um breve comentário a
respeito. Caso isso não ocorra, muitos começarão a tentar
entender as citações por conta própria, perdendo parte da
pregação.
Exagero de ilustrações também rouba a atenção da
assembleia. Ilustrações são histórias, testemunhos, exemplos,
anedotas, entre outras coisas do gênero. O mesmo se diga do
exagero no uso das figuras de linguagem, da citação de fontes
sem variedade retórica e do exagero de citações.

41
Dercides Pires da Silva

A imitação de outro pregador poderá estar sendo


inconsciente para a pregadora ou o pregador enquanto
pregam, porém, para a assembleia, ela não é nem um pouco
inconsciente, pois o povo bem reconhece qual pregador é
objeto de imitação. Ao reconhecer o pregador imitado,
muitas pessoas deixarão de conceder a quem está pregando a
atenção necessária para se obter um bom entendimento da
pregação.
Excessos de cortesias, delicadezas artificiais, maneirismos
e outras coisas semelhantes a estas podem provocar nos
ouvintes alguns sentimentos de repulsa, impedindo que
dediquem a necessária atenção ao conteúdo da pregação ou
do ensino.
Entre os ruídos feitos pelos próprios pregadores, os
vícios de linguagem se destacam negativamente por
desviarem a atenção dos ouvintes do conteúdo da pregação
por serem motivos de gracejos e piadas por parte de muitos
integrantes das assembleias de ouvintes. Enquanto brincam
com o vício dos pregadores, deixam de receber a mensagem
que se transmite na pregação.
Excesso de movimento e imobilidade, tanto um quanto o
outro poderá despertar negativamente a atenção dos
ouvintes, levando-os a não darem ouvidos ao pregador ou à
pregadora. Igualmente a repetição constante de um mesmo
gesto. A repetição constante de qualquer gesto tem o mesmo
efeito dos vícios de linguagem.
Levar os ouvintes para trechos e não para a ideia
principal. Este ruído pode advir da falta de treinamento do
pregador ou de pouca sabedoria aplicada ao uso das técnicas
de ensino e de oratória. Ele ocorre quando o pregador ou a
pregadora transforma sua pregação num arquipélago de ideias
desconexas entre si, sendo ainda pior quando não tiverem

42
Formação de Pregadores

relação com o tema. Há também pregadores que se


assemelham a caçadores de pato voando, que atiram em
muitas direções, sem, contudo, atingir o alvo principal. No
final não se sabe sobre o que pregou. Ora, com tal confusão
de estilo e com essa falta de objetividade, será muito difícil
alguém acolher a mensagem da pregação.
Olhos voltados para dentro da pregação e não para
dentro da realidade do ouvinte é uma falha que ocorre
principalmente com os iniciantes no ministério de pregação,
entretanto não é raro ocorrer também nas pregações de
veteranos. Em relação aos primeiros dá para compreender e
até aceitar, pois eles, como têm pouca experiência como
pregadores, assim como pouco tempo de vida oracional e
pouco conhecimento acabam por ter pouca habilidade para
ligar fé e vida em suas pregações. Entretanto, com os
veteranos... Ah! Os veteranos!... Como nos dão trabalho...
Não vão para as formações, não frequentam as oficinas de
pregação, mas servem de modelos para os novos que lhes
seguem os maus exemplos pregando ao povo do Senhor
verdadeiras maçarocas verbais. É uma pena!
Inobservâncias de simples combinações de vestuário
despertam as atenções mais do que muitos possam imaginar.
Basta ver para notar como alguém que se traja de forma
bizarra se torna um ruído de comunicação tão logo adentra
uma sala de aula, uma igreja, um grupo de oração. Imagine
essa pessoa pregando.
Falar de forma monótona faz muitos da assembleia se
esforçarem em demasia para dar à pregação a atenção
necessária. Enquanto se esforçam demasiadamente, estão, na
prática, desviando a atenção da mensagem.
A aparelhagem de som é um excelente recurso nas mãos
de quem sabe usá-la. Todavia, seu mau uso pode se tornar

43
Dercides Pires da Silva

um péssimo ruído de comunicação. Quem já viu e ouviu


algum pregador que prega soprando o microfone? E pregando
com o som estridente? E muito alto? E muito agudo? E com o
microfone “dentro” da boca? E com eco se espalhando pelo
local, impedindo o povo de entender o que se prega? Nem
precisava dizer, mas digo: esses ruídos são tremendamente
irritantes por agredirem, uns, o aparelho auditivo dos
ouvintes; outros, a capacidade de assimilação. Por outro lado,
como é bom e agradável ouvir uma pregação, um cântico,
uma oração por meio de aparelhos de sons bem regulados e
com volumes adequados, de forma não agressiva aos ouvidos
das pessoas.
Até hoje não consigo entender como certas pessoas,
entre elas técnicos de som, instrumentistas, animadores de
oração, e, lamentavelmente, até pregadoras e pregadores,
insistem em maltratar os ouvidos de quem gentilmente
comparece aos encontros para ouvi-los. Seria imperícia no
manejo dos aparelhos? Ou doença dos próprios ouvidos? Ou
excesso de desejo de serem ouvidas, motivado por carência,
vaidade, orgulho espiritual? Ou simples descaso com os
ouvidos dos outros, por absoluta falta de amor ao próximo?
Não sei a resposta. Gostaria que esses irmãos me explicassem
seus motivos.
Há quem confunda simplicidade com vulgaridade ou
“chulisse”. Simplicidade é uma virtude e nada tem a ver com
esses vícios. Uma pregação pode se tornar vulgar em razão da
forma debochada que alguém pode demonstrar nos gestos,
no semblante ou nas palavras. Piadas de mau gosto são
formas de vulgaridade que pode fulminar de morte qualquer
pregação que poderia ter sido boa. Também surtem o
mesmo efeito as palavras e os gestos obscenos, ou o uso de

44
Formação de Pregadores

palavras científicas ditas de forma debochada de modo que


envergonhe algum ouvinte.
A negatividade marca a pregação negativamente –
desculpem o trocadilho. Negatividade é ter olhos mais para
os problemas e menos para as soluções; é destacar os vícios
das pessoas e ofuscar suas virtudes; é considerar meio copo
de leite como meio vazio, e não como meio cheio. Alguém
assim, mesmo numa pregação sobre o amor de Deus ou a
salvação, consegue fazer os ouvintes se sentirem mal, não
amados e não salvos. Este ruído é uma lástima!
A pessoa portadora de negativismo é vítima de si mesma.
Comumente não consegue ver suas possibilidades de vitória e
nem suas virtudes; todavia, por outro lado, veem com as
lentes de aumento do senso crítico – autocrítico – exacer-
bado suas menores falhas, seus pecadilhos, suas ínfimas der-
rotas para colocar-se permanentemente não no banco dos
réus, pois para ela isso já seria uma injusta vitória, mas
diretamente no cárcere dos condenados. Vitimando-se a si
mesma, torna-se especialista em vitimar os outros; afinal, se
ela TEM que ser condenada, por que os outros poderiam
merecer liberdade, vitória, admiração, respeito e amor?
Belicosidade vem de bélico, que leva a belicoso. Belicosa
é a pessoa tendente à guerra, é alguém que parece sempre
estar disposto a brigar. Uma de suas características é atacar
sem aviso; primeiro ataca, depois verifica se o ataque era
necessário, pois acredita que a melhor defesa social é o
ataque. Pessoas assim, durante as pregações, conseguem
atacar por meio de críticas diretas ou indiretas até mesmo
quando estão pregando o amor de Deus. É difícil não se
desviar da mensagem de alguém assim; é mesmo difícil algum
ouvinte abrir o coração para sua pregação, pois se de um lado

45
Dercides Pires da Silva

usa o tempo torpedeando a assembleia com carapuças, do


outro, as pessoas se ocupam em se defender dos ataques.
A visão limitada se manifesta numa interpretação pobre,
maculada de preconceitos, sobre algum assunto. Também é
comum surgir quando o pregador ou a pregadora tem pouco
conhecimento sobre o tema da pregação, principalmente
quando a assembleia sabe mais do que eles. Porém, de todas
as formas limitativas da visão, pensamos que a pior de todas
se manifesta quando a pregadora ou o pregador prega
utilizando uma linguagem absolutizante, daquelas que não
permitem aos ouvintes divergirem de sua opinião. Pregadores
e pregadoras assim, comumente utilizam linguagem fechada,
como esta: “Isto tem que ser assim”, que às vezes vem
seguida de ameaça punitiva: “senão...”.
Julguem vocês mesmos, caros leitores e prezadas
leitoras: Vocês gostam de ouvir pregadores de visão limitada?

8. QUALIDADES DA ORATÓRIA SACRA

Oratória para ser boa deve possuir determinadas


qualidades. Com a oratória sacra também é assim. Eis as
principais: unção, eloquência, clareza, linguagem direta e
atual, equilibrada na balança cujos pratos são cultura e
linguagem coloquial, coerência, bem fundamentada, conca-
tenada, empática, concisa, convincente, confiável, coloquial,
comovente, circunstancial, congratulante, comunicativa, ade-
quada aos ouvintes, frutífera, conceitual, criativa, conveniente,
geradora de ação, bilateral, liberal, lógica, amorosa.
Além dessas qualidades, é muito bom que oratória sacra,
como pregação, tenha um piloto: você, e que também seja ela
um sinal de contradição. O piloto ideal para dirigir sua
pregação é você contando com a unção do Espírito Santo.

46
Formação de Pregadores

Tem pouca utilidade uma pregação sem controle, com


direção incerta, sem alvo certo, sem local de partida e sem
ponto de chegada. Pouco serve aos ouvintes uma pregação
que corporifica meia dúzia de gritinhos sem unção e outro
tanto de arrulhos sem propósito. A ousadia na pregação deve
ser dirigida pelo triunvirato do sucesso: unção, discernimento
e sabedoria.
Os pregadores e as pregadoras devem afastar de si, e
principalmente das assembleias que lhes ouvem, e de forma
vigorosa, as pregações risco n‟água ou pedras no pântano.
Você já viu risco n‟água? Mas, com certeza, já passou alguma
coisa sobre superfície de água: um pedaço de pau, uma faca
ou o próprio dedo. Você se lembra o que ocorreu com a
água? Parecia que estava sendo riscada, mas tão logo o objeto
passou por ela, a superfície imediatamente voltou ao estado
anterior, de forma que o risco não surtiu nenhum efeito.
Assim são as pregações risco n‟água.
E as pregações pedra de pântano? Você já jogou ou já viu
jogar alguma pedra ou torrão nalgum pântano ou nalgum
brejo? Se não, não perdeu grande coisa. Quando a pedra
atinge a superfície, um pouco de lama pode subir; quando ela
mergulha na substância lamacenta, pode até fazer um barulho:
“Tigum!”; caso a lama seja rala, poderá também fazer algumas
ondas, mas não passará disto: lama subindo e descendo, para
se acomodar onde estava; “tigum”, seguido do eterno silêncio
que perdura depois da onda estéril. São assim algumas
pregações. Deus nos livre delas! Deus nos livre de ministrar
pregações pedras de pântano!
Para não haver pregações risco n‟água ou pedras de
pântano, ela deve se tornar um sinal de contradição na vida
de quem a ouve; deve marcar a vida do ouvinte de forma que
ele perceba a sua vida em duas etapas distintas: antes e depois

47
Dercides Pires da Silva

da pregação. Jesus foi um sinal de contradição fazendo o


mundo se dividir em duas etapas: antes e depois de Cristo.
Quem ouve uma pregação precisa encontrar em Jesus, com a
ajuda da mensagem transmitida, motivos para se colocar em
contradição com o mundo, com a injustiça, com o pecado,
com o seu antigo modo de vida.
Da unção tratamos no livro Ardor Missionário;18 de
clareza, linguagem direta e atual, concatenação e lógica
tratamos no livro Formação de Pregadores e Formadores,
Oratória Sacra, Roteirização, Volume 2, e sobre a eloquência já
comentamos antes. Agora resumiremos alguns pensamentos
sobre as outras qualidades.
É bom que a pregação seja recheada de boa cultura
religiosa para que o povo seja convenientemente instruído no
caminho do Senhor. Ela não deve se perder nas escorregadias
curvas da linguagem rebuscada, de difícil entendimento ou
pedante. Nem mesmo formal deve ser; ao contrário, a
linguagem utilizada na pregação deve ser coloquial para que
os ouvintes entendam a mensagem sem muito esforço. Além
disso, a pregadora e o pregador devem primar pela coerên-
cia; não falamos aqui de coerência de vida, que também é
muito importante. Falamos de coerência comunicativa, de
forma que uma ideia não contradiga outra. Ideias contra-
ditórias impedem o bom entendimento da mensagem.
Já que a pregação se assemelha à apresentação de uma
tese, mesmo que seja minúscula, necessita de boa fundamen-
tação; afinal, ninguém é obrigado a aceitar as palavras dos
pregadores somente porque eles são deste ou daquele movi-
mento eclesial, ou desta ou daquela pastoral. De mais a mais,
todos os ouvintes merecem o respeito das pregadoras e dos
18 PIRES DA SILVA, Dercides. Ardor missionário: metodologia com poder
do Espírito Santo.

48
Formação de Pregadores

pregadores e uma boa forma de respeitá-los é fundamentar as


ideias anunciadas. Isso aumenta a confiabilidade dos pregado-
res e da pregação. Confiabilidade é fator que atua fortemente
no ânimo dos ouvintes, no sentido de ajudá-los a acolher a
mensagem, e deriva também de uma boa fundamentação; por
isso, é bom caprichar nos fatos e argumentos, assim como no
sábio uso da Sagrada Escritura, da Doutrina da Igreja, de bons
livros, dos exemplos de pessoas respeitáveis e do próprio
testemunho.
Uma função da pregação, que se for bem aproveitada se
torna uma qualidade, é que ela deve ser apta a gerar empatia
nos ouvintes. Falando doutro modo, é muito útil para aceita-
ção da mensagem, que a pregação atinja a assembleia também
emocionalmente e não somente com a razão. A pregação
precisa gerar nos ouvintes a capacidade de compreendê-la
com emoção. De uma pregação assim, diz-se que é empática,
por ser capaz de produzir empatia nas pessoas. Pregações
empáticas normalmente são concisas, convincentes, co-
moventes, circunstanciais, congratulantes, comunicativas, ade-
quadas aos ouvintes, conceituais, criativas, convenientes,
bilaterais, liberais, amorosas.
Sobre a concisão, é preciso dizer que existem pregadoras
e pregadores que insistem em tentar convencer os ouvintes
pelo muito falar, e não pela unção e por argumentos verda-
deiros e consistentes. Para pregar nos grupos de oração não é
necessário muito tempo, mas de muita unção, fé e amor. É
preferível um minuto de pregação ungida, a um milhão de
anos de falatório desprovido de unção, pois, com certeza, um
segundo de unção é suficiente para produzir algum fruto.
Antecipadamente, peço desculpas pelo que vou dizer, mas
não resisti: Nossos grupos são grupos de oração; não são
grupos de pregação, embora neles haja espaço para muitas

49
Dercides Pires da Silva

coisas, incluindo breves dez minutos de pregação. Breves,


dependendo de quem prega, pois se faltar a unção aos
pregadores, poderão parecer mais longos do que um dia.
Para quem sabe pregar, tendo fé, amor e unção, dez
minutos são suficientes para transmitir não a catequese sobre
o amor de Deus, mas a experiência viva desse amor; não a
infelicidade de ser pecador, mas a ventura de se preparar
para a salvação, reconhecendo a necessidade de ser salvo por
experimentar em si a dor do pecado; não a mensagem de
salvação, mas o próprio salvador; não a esperança de cura,
mas o próprio milagre; não a obrigação da conversão, mas a
própria santidade; não somente o conhecimento de que há
uma Trindade Divina, mas o batismo experiencial do Espírito
Santo. Isso, de fato, é possível, e muito mais, em poucos
minutos de pregação ungida.
Pregação convincente é aquela que serve de veículo ao
Espírito Santo, no qual possa ele percorrer livremente os
corações dos ouvintes a fim de iluminar-lhes o entendimento,
a compreensão e a fé para que possam, com a liberdade de
filhos de Deus, optar pela mensagem divina que lhes chega
aos ouvidos.
Por muitos anos os seres por demais “inteligentes” do
mundo ocidental negligenciaram a graça inata ao ser humano
de serem dotados não somente de razão e inteligência pura,
mas também de sentimentos e emoções. Ainda bem que já se
fala em inteligência emocional. Já se fala também em memória
emocional. Sou muito simpático a estas ideias, pois sempre
identifiquei essas coisas em mim, em meus pais, em meus
irmãos, em meus colegas, em meus professores, enfim, em
todas as pessoas que convivem comigo. A emoção é um
importante componente do ser humano. Negligenciar isso, ou
considerar que as pessoas devem ser vistas somente do ponto

50
Formação de Pregadores

de vista racional, é querer alijar os filhos de Deus de um dos


seus dons mais importantes, precisamente o dom que o torna
mais humano, mais parecido com o seu Criador; é não
reconhecer que Deus ama com o coração, é pensar que Deus
nem sequer ama. Por amar é que Deus, ao fazer do homem
seu semelhante, o dotou da capacidade de sentir e se
emocionar. Deus também sente e se emociona: “Meu
coração se revolve dentro de mim, eu me comovo de dó e
compaixão (Os 11,8)”, diz o Deus que nos ama. Os senti-
mentos e as emoções dos filhos e das filhas de Deus devem
ser levados em consideração pelos pregadores e pelas prega-
doras. Não se deve pregar somente para o intelecto, como a
robôs; prega-se também para os sentimentos e as emoções
dos ouvintes, como a filhos de Deus completos, pois se o
convencimento ocorre no campo das ideias, na seara da
razão, é na cidadela da emoção e do sentimento que se
experimenta o sabor de ter feito a opção certa.
Pregações circunstanciais levam em consideração as
circunstâncias de vida dos ouvintes, como o lugar onde vivem,
como trabalham, estudam e se divertem; como participam da
vida social, religiosa e política. Não se pode negligenciar
nenhum pormenor. Tudo deve ser considerado em prol de
uma boa pregação.
Há duas formas básicas de pregar: ranzinzamente,
ressaltando os problemas dos ouvintes, ou alegremente, de
forma congratulante. Pregação congratulante é aquela que
cria um ambiente de fraternidade enquanto o pregador prega.
Numa situação dessas, naturalmente as pessoas começam a
se ver na pregação, a simpatizar com o que ouvem e a
compreender a mensagem empaticamente. Isso é importante
para que aceitem a mensagem com disposição de praticá-la.

51
Dercides Pires da Silva

Como é bom ouvir uma pessoa comunicativa! A pregação


precisa ser comunicativa do ponto de vista da técnica de
comunicação do pregador ou da pregadora. Isso significa que
devem se comunicar bem enquanto pregam. Quanto melhor
for a comunicação, mais as pessoas ficarão dispostas a acolher
a mensagem divina que na pregação se lhes transmite.
Não adequar a pregação aos ouvintes é erro crasso. A
pregação não é um livro do qual se interrompe a leitura para
consultar o dicionário. O que se ouve na pregação deve ser
entendido imediatamente, sob pena de prejudicar a
compreensão e o acolhimento da mensagem.
Por pregação conceitual entende-se aquela que traz
ideias, conceitos, pensamentos originais e engenhosos. Aqui
vale o provérbio oriental: “Cale ou fale, mas se falar, diga uma
palavra que valha o silêncio”. Ninguém é obrigado a ser
pregador ou pregadora, mas se aceitar a vocação de pregar,
precisa merecer a atenção dos ouvintes. Deus não reúne seus
filhos para perder tempo. O povo que ouve uma pregação,
mas não escuta nada que seja novo, pode ter perdido o
tempo. Pior do que isso: pessoas sedentas, se não forem
saciadas por nossas pregações, poderão abandonar o redil e
saírem à procura de quem lhes dê qualquer espécie de bebida
ou de comida.
É muito bom ouvir uma pregação criativa. Os pregadores
deveriam aprender com Jesus sobre a criatividade. Ele repetiu
o ensinamento sobre o Reino de Deus muitas vezes, porém o
fez de forma criativa, variando a forma do ensino por meio de
parábolas diferentes.
Conveniente é a pregação que está de acordo com a
situação do público ouvinte. Nem sempre uma verdade,
somente por ser verdade, é conveniente. Para entender o
que seja conveniente, pense no seu contrário, no inconve-

52
Formação de Pregadores

niente. É necessário esclarecer a uma pessoa o perigo que


corre se entregando às falsas doutrinas? Sim. Porém, não
sendo ela evangelizada, é conveniente, sem mais nem menos,
acusá-la de idólatra? Acaso, conveniente não seria dizer-lhe
isso depois de anunciar a salvação de Jesus, enriquecida com
os demais temas do querigma? Cada evangelizador, bem
como a evangelizadora, deve se esforçar para ser conve-
niente, para evangelizar convenientemente.
Pensemos noutra situação: Isso ou aquilo, se for dito vai
ajudar as pessoas a se entregarem a Jesus ou vai afastá-las
dele? Vai ajudar as pessoas acolherem a mensagem de
salvação ou vai dificultar? Se a resposta não for “vai ajudar”, é
inconveniente e não deve ser usada.
Para ajudar a entender a conveniência, leiamos uma his-
torinha que a tradição dos filósofos atribui a Sócrates:

AS TRÊS PENEIRAS

Alguém tentou narrar um acontecimento a Sócrates,


porém antes que iniciasse a narrativa, o filósofo indagou:
− O que você vai me dizer já passou pelas três peneiras?
− Três peneiras? O que é isso?
− Sim, três peneiras. A primeira peneira é a VERDADE.
O que você quer falar é um fato? Caso não seja, a coisa deve
morrer com você mesmo. Mas suponhamos que seja
verdade.
Sendo verdade, deve ser coada pela segunda peneira: a
BONDADE. O que vai dizer é coisa boa? Ajuda a construir ou
destruir? Edifica a boa fama de alguém ou destroi? Se o que
você quer me falar passar por esta peneira, deve ir para a
próxima: a da NECESSIDADE.

53
Dercides Pires da Silva

Se for verdade e bom, para dizer aos outros deve haver


uma necessidade para tal. Então indague: Convém dizer?
Resolve alguma coisa? Ajuda alguém? Ajuda um povo? E,
arremata o amigo da sabedoria:
− Se passar pelas três peneiras, diga! Eu, você e alguém
mais seremos beneficiados. Caso contrário, esqueça, enterre
tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o mundo e
levar discórdia entre irmãos, colegas do planeta.

O pregador pode ser inconveniente pelo menos de duas


formas: usando palavras inconvenientes, ou o sendo nos seus
modos. Cada qual deve analisar seu comportamento e suas
palavras; se não conseguir, é bom buscar ajuda de algum
amigo sincero. “O verdadeiro amigo é o que diz que seu
hálito é um pouco forte... Os outros o deixam continuar com
mau hálito.”19
Pregação bilateral é aquela na qual o pregador ou a
pregadora leva em consideração que do outro lado há
pessoas inteligentes e dotadas de sentimento e emoções que
tem direito de pensar doutro modo e que podem,
exatamente no momento da pregação, ou depois, discordar
do que ouviu. Essa qualidade é mais própria do pregador do
que propriamente da pregação, pois é o pregador que precisa
dar aos ouvintes o direito de discordar ou aceitar, embora
deva oferecer todas as condições para que aceitem.
Os pregadores, entendendo o caráter bilateral das
pregações, conseguirão ser também liberais e assim trocarem
as pregações fechadas, encaixotadas, taxativas, por pregações
liberais; por pregações que não imponham aos ouvintes o seu

19 SALOMÉ, Jacques; GALLAND, Sylvie. O segredo da comunicação


interpessoal, p 41.

54
Formação de Pregadores

ponto de vista, mas que espera deles resposta positiva ou


negativa, embora ore ardorosamente por uma resposta
positiva.
Uma das melhores qualidades da pregação é ser
amorosa. Sendo amorosa, a resposta dos ouvintes vem cheia
de confiança no amor de Deus, particularmente a confiança
de que não serão rejeitados quer aceitem, quer recusem a
mensagem. Acreditem, isso faz nascer nos evangelizandos
respostas positivas duradouras e comprometidas, pois nascem
de uma resposta a um amor que só pode nascer de outro
amor.
Vendo o amor na pregação, os ouvintes acreditam em
quem prega e confiam em Deus, pois todos sabem por
experiência que o “amor é paciente, o amor é bondoso. Não
tem inveja. O amor não é orgulhoso. Não é arrogante. Nem
escandaloso. Não busca os seus próprios interesses, não se
irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas
se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo es-
pera, tudo suporta. O amor jamais acabará” (1Cor 13,4-8a).
O Senhor deseja que cada semente produza cem frutos.
Esse é o significado de cem por um.20 Não podem, portanto,
os pregadores e as pregadoras pregarem como se não
tivessem responsabilidade pelos frutos. É certo que os
pregadores são semeadores e que os frutos são colhidos pelo
ceifador, isto é, por Jesus. Mas é bom lembrar que uma boa
colheita começa com uma boa semeadura.
Por fim, a pregação deve ser apta a gerar ações positivas
por parte de todos que a ouvem. Ninguém poderá ficar
indiferente ao ouvir um pregador ou uma pregadora anunci-
ando a palavra de Deus, pois de fato é a Palavra do Senhor

20 Mt 13,23.

55
Dercides Pires da Silva

que está sendo proclamada ao povo por alguém ungido pelo


Espírito Santo. Numa situação dessas, não poderá haver lugar
para a indiferença. O ouvinte deverá sentir-se confrontado
com o seu modo de vida, de forma a desejar mudar alguma
coisa, ou, então, que se sinta no dever de questionar-se
movido pelo que ouviu, mesmo que não aceite.
Questionando-se, guiado pelo Espírito Santo, que certamente
recebeu de forma renovada durante a pregação, conseguirá
compreender a mensagem e com o tempo aceitá-la. A
indiferença, entretanto, poderá servir-lhe de antessala da
perdição, uma vez que é própria dos mornos.21 É bom que os
evangelizadores se lembrem disso para que assumam a
responsabilidade que lhes cabe na salvação dos filhos de
Deus.

9. VITÓRIA SOBRE O MEDO

Não é vergonhoso admitir que se tem medo; mesmo


para “machões” que nasceram no milênio passado. A emoção
do medo é uma das características que denotam a fragilidade
humana. Reconhecer essa fraqueza é sinal de humildade; é
admitir que não se é Deus, mas um simples ser humano como
todos os mortais que povoam a terra.
Uma coisa é admitir que se tem medo; outra, é sucum-
bir-se a ele, ficar por ele imobilizado, ser por ele dominado.
De qualquer modo, a vitória sobre o medo começa
reconhecendo sua existência. Em se tratando de pregação, há
três momentos para sua manifestação: antes da pregação, no
seu início e durante o seu exercício.

21 Ap 3,16.

56
Formação de Pregadores

Conforme for a causa do medo, deverá ser seu remédio.


Alguns se amedrontam por não saberem o que pregar; ou-
tros, por não saberem como pregar. Há também os que,
mesmo sabendo o que deve pregar e como fazê-lo, tem
medo de ser rejeitado pela assembleia.
Para vencer o medo pode ser necessário batalhar com
ele com as armas que a oratória sacra disponibiliza aos
pregadores e às pregadoras, como ouvir o Senhor e acolher o
que ele deseja que seja anunciado e aprender a pregar.
Também é muito útil praticar a cura interior. Dizemos
praticar a cura interior; não falamos participar de orações de
cura interior de vez em quando. Participar de orações de cura
interior é muito útil, mas poderá ser insuficiente para livrar os
pregadores muito traumatizados das causas do seu medo. Há
causas complexas que se enraízam e se escondem tão profun-
damente no íntimo do ser humano, que exigem tratamento
constante por longo período. Tratamento profissional e ou
por meio da oração.
Eis algumas sugestões que poderão ser utilizadas como
armas para lutar contra o medo, e vencê-lo: falar na sua
língua; conhecer as regras da oratória sacra; à medida que
repetir a mesma pregação, buscar em Jesus coisas novas para
ela; preparar a pregação para você e preparar-se para ela;
começar a pregação de maneira serena; confessar o medo,
criativa e sabiamente, no início da pregação; conhecer suas
qualidades e limitações, aceitá-las e modificar o que for
possível; vencer a inibição; não cair na tentação de combater
os defeitos de comunicação durante a pregação; manter o
bom humor; vencer o olhar da assembleia; deixar-se avaliar;
pregar sob unção e entregar o medo a Jesus.
Os alfabetizados têm pelo menos duas línguas: uma
transmitida pela família; outra, adquirida na escola. Por ter

57
Dercides Pires da Silva

alguma noção de linguagem formal, muitos pregadores se


inibem, chegando a sentir um grande medo diante do povo,
por ter consciência de que está falando errado, do ponto de
vista das formalidades linguísticas. Isso chega a ser uma
armadilha. Ao pregar, o pregador e a pregadora devem
entender que se deve usar na pregação a linguagem coloquial;
aquele modo de falar que herdou da família e que foi
aperfeiçoado no contato com os colegas, com os amigos e na
escola. Essa é a linguagem ideal para pregar. Durante a
pregação não se usa a linguagem do dicionário, dos tratados
científicos, da literatura dos romances e nem da poesia.
Igualmente, não se usa a linguagem dos ofícios, dos memo-
randos e nem do diário oficial. Usa-se a própria linguagem, o
mais corretamente que conseguir. A própria linguagem, por
mais simples que seja, é mais bonita do que o papaguear de
algo que não pertence ao pregador. O povo entenderá
perfeitamente a linguagem coloquial, aquela que ele reconhe-
ce ser do pregador e da pregadora. Entendendo, assimilará
com mais presteza a mensagem transmitida.
Uma coisa é conhecer as regras da oratória sacra e
praticá-las; outra, é escravizar-se por elas, ou, pior ainda,
querer escravizar os outros pregadores. As normas são úteis
para ajudar a didática da pregação e para lhe emprestar a arte
da oratória. Elas não podem ser gesso ou prisão a tolher a
liberdade dos pregadores. Normalmente os que sentem
medo por não dominarem as regras da oratória são os seus
escravos. Temem a rejeição da assembleia porque tem medo
de errar não seguindo as regras. Um consolo: não se
preocupe com as regras de oratória; elas padronizam os
procedimentos dos pregadores, mas não são elas, de per si, a
pregação.

58
Formação de Pregadores

Preparar a pregação para você e preparar-se para ela é


muito importante porque grande dose de medo surge em
razão de não se saber o que pregar e, não raro, por não saber
pregar. Prepara-se a pregação orando, ouvindo o Senhor,
acolhendo a revelação do que pregar e organizando um bom
roteiro.22 Prepara-se para a pregação, aprendendo a pregar e
acolhendo toda a unção que conseguir por meio das orações
e dos jejuns.
Começar a pregação de maneira serena é uma orientação
dos professores de oratória para vencer o nervosismo inicial,
pois, dizem, enquanto o orador fala calmamente, no início, ele
retoma a serenidade e vence o medo inicial.
Confessar o medo, criativa e sabiamente, no início da
pregação, é também um bom recurso, pois, sendo a confissão
bem feita, de forma natural e agradável, já se pode estabe-
lecer, desde o início, a empatia com os ouvintes.
Conhecer suas qualidades e limitações é de grande valia
para os que desejam progredir no carisma da pregação. As
qualidades podem ser aperfeiçoadas nas oficinas de pregação
e as limitações, se forem reconhecidas e aceitas convenien-
temente, poderão ser modificadas naquilo que for possível.
A inibição, advinda de traumas, repressão ou rejeição de
si mesmo – rejeição que pode advir de problemas físicos ou
emocionais, reais ou imaginários − poderá ser vencida por
meio de cura interior e, se for o caso, com tratamento
psicológico. Há também um tipo de inibição que nasce do
medo de errar por não saber pregar; para esse, participar de
cursos de pregador e de oficinas de pregação poderá ser uma
solução.

22 PIRES DA SILVA, Dercides. Formação de pregadores e formadores,


Oratória Sacra, Roteirização, Volume 1 e Formação de pregadores e
formadores, Oratória Sacra, Roteirização, Volume 2.

59
Dercides Pires da Silva

Não cair na tentação de combater os defeitos de


comunicação durante a pregação. Se o pregador e a pregado-
ra tentarem corrigir seus defeitos durante a pregação, quem
ainda não os tenha notado passará a vê-los. As oficinas de
pregação são os locais indicados para corrigir os erros.
Manter o bom humor é um recurso que serve também
para vencer o medo, pois, ao sorrir para a assembleia, via de
regra, ela corresponde com outros sorrisos. Esta simpática
resposta da assembleia aumenta a confiança e o sentimento
de aceitação no íntimo do pregador e da pregadora.
Há muitas causas que geram medo nos pregadores ao
verem o olhar da assembleia. Muitos têm medo de ver a
reprovação nos olhares; outros, temem a rejeição estampada
na face das pessoas. Outros, ainda, são simplesmente tímidos.
Entretanto, todos precisam da mesma solução: vencer o olhar
da assembleia. Isso também pode ser conseguido por meio de
curas interiores, tratamentos e treinamentos nas oficinas de
pregação.
Deixar-se avaliar. Prestem a atenção, irmãos e irmãs, eu
disse “deixar-se” avaliar. Não falei para avaliar à força, pois a
avaliação que mais produz bons frutos é aquela na qual a
pessoa avaliada se submete humildemente à correção dos
irmãos. Esse tipo de avaliação é um bom recurso para vencer
o medo das rejeições, pois ajuda a pregadora e o pregador a
se aperfeiçoarem como pessoas e como servos do Senhor.
Você quer mesmo não se conduzir pelo medo? Então
pregue somente sob unção do Espírito Santo.
Você quer realmente jamais ter medo? Entregue-o a
Jesus. Como? Uma sugestão é utilizar os recursos acima como
meio de entregá-lo ao Senhor. Enquanto se ora, se prepara,
treina e jejua; enquanto pratica as demais sugestões expostas
acima, ore sinceramente entregando toda a espécie de medo

60
Formação de Pregadores

àquele que não temeu a rejeição dos inimigos, dos amigos, do


Templo, das autoridades, dos parentes e nem a humilhação
da cruz. Ele entende de vitória sobre o medo.

10. UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS COM


SABEDORIA

Consideramos instrumentos todas as coisas que podem


ser utilizadas na pregação: Bíblia, livros, gravuras, aparelhos
eletrônicos.
A função de todos os equipamentos é melhorar a prega-
ção.
No que toca à aparelhagem de som, todos sabem que ela
serve para aumentar o volume e o alcance da fala do pré-
gador, mas parece que quase todos têm se esquecido de
outras funções muito importantes desempenhadas por estes
equipamentos, como a melhoria da qualidade da voz.
Outra função que também parece estar sendo relegada, é
a de que o som deve sair da aparelhagem de forma que seja
agradável aos ouvinte; isso se não for prazerosa. O contrário
disso é uma sonoridade agressiva aos ouvidos e irritante aos
sentimentos, daquelas que fazem extinguir a unção de quem
prega e de quem ouve; de quem ora e de quem recebe
oração.
Assim, resumamos as qualidades do som com essas pala-
vras: clareza, inteligibilidade, e, principalmente, agradável ao
ouvinte.
O ideal é que os pregadores sejam treinados a usar os
equipamentos nas oficinas de pregação, até conseguirem
utilizá-los bem, principalmente aqueles que são fáceis de
serem empregados indevidamente, como os microfones e os
datashows.

61
Dercides Pires da Silva

Quanto aos livros, às apostilas, aos roteiros de pregação


e à Bíblia, embora não sejam difíceis de serem utilizados, há
quem se embaraça com eles. Assim, podemos dizer que
podem ser incluídos como itens de treinamento nas oficinas
de pregação.
Mais uma palavra sobre a Bíblia. O treinamento para bem
utilizá-la precisa ser duplo: como empregá-la durante a
pregação, tendo-a como um dos instrumentos a serem usa-
dos pelos pregadores e pelas pregadoras, e prática vivencial
de suas orientações, como Deus determinou por meio do
profeta Jeremias:

Olhei e vi avançando para mim uma mão, que segurava um


manuscrito enrolado, que foi desdobrado diante de mim: estava
coberto com escrita de um e de outro lado: eram cânticos de
luto, de queixumes e de gemidos. Abri a boca, e ele mo fez
engolir. Filho do homem, falou-me, nutre o teu corpo, enche o
teu estômago com o rolo que te dou. Então o comi, e era doce
na boca, como o mel. Em seguida, acrescentou: Filho do
homem, vai até a casa de Israel para lhe transmitir as minhas
palavras (Ez 2,9-10; 3,1-4).

11. RESUMO DIDÁTICO

a) Conceito de Oratória Sacra:

A oratória é uma arte, e como tal deve ser vista. Como


arte, ela é um modo de se comunicar bem com o público; é
uma habilidade – há quem diga que seja um dom – de falar de
forma cativante e atraente. A boa oratória gera no ânimo dos
ouvintes algo parecido com aquilo que a boa música produz.
A oratória sacra, por sua vez, é um ramo da oratória.

62
Formação de Pregadores

Oratória Sacra é o instrumento de trabalho do pregador e do


formador. Ela utiliza a mesma metodologia que compõe a
Retórica e a Oratória, todavia difere destas em dois aspectos:
conteúdo evangelizador e dependência da unção do Espírito
Santo, necessariamente. É por isso que necessitamos de formar
pregadores e formadores que consigam reunir a um só tempo
três atributos: conhecimento bíblico-doutrinário, metodologia e
unção, pois é a junção destes três elementos que faz a Oratória
Sacra (Silva , Dercides Pires da. Formação de Pregadores e
Formadores, Oratória Sacra volume 1).

b) Partes da oratória:

b.1) Antiga:

Inventio (invenção): descoberta de argumentos;


Dispositio (disposição): arranjo das ideias;
Elocutio: descoberta da melhor forma para expor as
ideias;
= Emprego de figuras e tropos;
Memória: memorização;
Pronuntiatio (pronunciação): apresentação oral.

b.2) Moderna:

Invenção, disposição e elocução.


É na invenção que o orador planeja o seu discurso estra-
tegicamente. Estratégia do ponto de vista pedagógico. É na
invenção que ele busca as ideias que utilizará, escolhendo o
que há de melhor.
Já a disposição é dedicada à organização das ideias da
forma mais didática possível. É nesta fase que os roteiros de
pregação e de ensino ganham corpo.

63
Dercides Pires da Silva

A elocução destina-se à exposição das ideias de forma


estética e convincente.

c) Eloquência:

Eloquência é qualidade fundamental da boa oratória, ou,


como queiram, do bom discurso. O que equivale a dizer que
o é também da boa pregação. Em estudos de linguagem,
eloquência significa a arte de falar bem. Para entender melhor
a eloquência, é bom dizer que ela é também a capacidade de
exprimir-se com facilidade. Todavia, há quem sustente que
ela é a arte e o talento de persuadir, convencer, deleitar ou
comover por meio da palavra. É bom ouvir oradores que
conhecem o ofício da oratória; é ótimo ouvir pregadores que
pregam bem. Grande parte do pregar bem é fruto da
eloquência. Eloquência conduzida pelo dom da sabedoria que
o Espírito Santo concede aos que são de Jesus.

d) Oratória: método da pregação:

Uma das funções da oratória é apresentar uma tese


sustentando-a de forma convicta, vigorosa e ardorosa; com
ideias e argumentos verdadeiros, sérios e compreensíveis, de
forma a preparar os ouvintes para se decidirem por ela. Cada
tema de pregação assemelha-se a uma tese; pode, falando
com rigor científico, não ser uma tese, porém em tudo é
semelhante a ela, e como tal deve ser apresentada.

e) Decálogo do orador sacro:

OS DA PAZ ETC. Orar diariamente, simplicidade na


exposição e profundidade nas ideias, docilidade ao Espírito

64
Formação de Pregadores

Santo, amar as pessoas, pregar o que se vive, aprender com


os bons pregadores, zelar pela própria santidade, escolher
cuidadosamente o tema e as ideias principais para compor o
roteiro, treinar exaustivamente, começar a pregação com
serenidade.

f) Ruídos da comunicação:

Ruídos da comunicação são todos os sons, fatos e coisas


que dispersam a atenção das pessoas.
Ruídos mais comuns: má articulação, ambiguidade, desço-
nhecimento da norma gramatical, inadequação vocabular,
inibição, nervosismo, insegurança, desconheci-mento das leis
da comunicação verbal coletiva, emprego inadequado da
concisão (falta ou excesso de concisão); prolixidade, exagero
de expressões desconhecidas e de palavras “difíceis”, discurso
decorado de forma robotizada, usar a imaginação em
desfavor de si mesmo, velocidade vocal inadequada, mau uso
do aparelho fonador (má colocação da voz, má articulação ou
articulação não natural), exagero de citações comentadas
(bíblicas, doutrinárias), exagero de citações sem comentários,
exagero de ilustrações e exemplos, imitação inconsciente de
outro pregador, excessos de cortesias (delicadezas artificiais,
maneirismo), exagero no uso das figuras de linguagem,
excesso de movimento, imobilidade, expressão de abati-
mento e de inferioridade (cansaço, depressão), expressão de
superioridade (narcisismo, excesso de altivez, presunção,
excesso de autoconfiança), repetição constante de um
mesmo gesto, citar fontes sem variedade retórica, levar os
ouvintes para trechos e não para a ideia principal, olhos
voltados para dentro da pregação e não para dentro da
realidade do ouvinte, inobservância de simples combinações

65
Dercides Pires da Silva

de vestuário, falar de forma monótona, mau uso da


aparelhagem de som (microfone, amplificador, etc.), vulgari-
dade, negatividade, falsa humildade, belicosidade, prepotên-
cia, vaidade, competição, descrença, preconceito, visão
limitada.

g) Qualidades da Oratória Sacra:

Unção, eloquência, clareza, linguagem direta e atual


(equilibrada na balança cujos pratos são cultura e linguagem
coloquial), mensagem coerente, bem fundamentada, concate-
nada, concisa, convincente, confiável, coloquial, comovente,
empatia (desenvolve empatia com os ouvintes), tem um
piloto: você (orador sacro, pregador), circunstancial, congra-
tulação (ambiente de fraternidade), sinal de contradição,
comunicativa, adequada aos ouvintes, frutífera, conceitual
(cale ou fale, mas se falar, diga uma palavra que valha o
silêncio), criativa, conveniente, geradora de ação, bilateral,
liberal, lógica, amorosa.

h) Vitória sobre o medo:

Para vencer o medo é bom começar a entendê-lo;


depois, é importante reconhecer que todos os seres humanos
normais têm medo e que não é vergonhoso senti-lo. O que
não pode é deixar-se imobilizar pelo medo.
Momentos mais comuns de manifestação do medo: antes
da pregação, no início da pregação e durante a pregação. A
manifestação do medo durante a pregação não é normal; caso
isso se repita muitas vezes, é bom que se busque ajuda.
Nas batalhas contra o medo, para vencê-lo, estas armas
podem ajudar: falar na sua língua (os alfabetizados têm “duas

66
Formação de Pregadores

línguas”: uma transmitida pela família; a outra, adquirida na


escola), conhecer as regras, porém sem se escravizar por
elas; à medida que repetir a mesma pregação, buscar em
Jesus coisas novas para ela, preparar a pregação para você e
preparar-se para ela; começar a pregação de maneira serena;
confessar o medo, criativa e sabiamente, no início da
pregação; conhecer suas qualidades e limitações, vencer a
inibição (inibição sim, silêncio jamais: o pregador é aquele que
fala), não cair na tentação de combater os defeitos de
comunicação enquanto prega, manter o bom humor, vencer
o olhar da assembleia, deixar-se avaliar, pregar sob unção,
entregar o medo a Jesus.

i) Utilização dos equipamentos com sabedoria:

O som deve ser claro, inteligível e, principalmente, agra-


dável ao ouvinte.

12. RESUMO (MORAL DA HISTÓRIA):

A pregadora ou o pregador é, a um só tempo, filho, formador,


soldado, atleta, lavrador, pescador dedicado e filósofo que emprega
a inteligência, dom de Deus, para entender todas as coisas. Por
isso, entendendo a missão de pescador de homens que lhes cabe,
ligamos nossa conclusão à exortação do Apóstolo, pois, além da
unção do Espírito Santo, sem trabalho, consagração e disciplina,
assunto subjacente a este pequeno livro, nenhum pregador irá
longe:
“Tu, portanto, meu filho, procura progredir na graça de Jesus
Cristo. O que de mim ouviste em presença de muitas testemunhas,
confia-o a homens fieis que, por sua vez, sejam capazes de instruir a
outros. Suporta comigo os trabalhos, como bom soldado de Jesus
Cristo. Nenhum soldado pode implicar-se em negócios da vida civil,

67
Dercides Pires da Silva

se quer agradar ao que o alistou. Nenhum atleta será coroado,


se não tiver lutado segundo as regras. É preciso que o lavrador
trabalhe antes com afinco, se quer boa colheita. Entende bem o
que eu quero dizer. O Senhor há de dar-te inteligência em tudo”
(2Tm 2,1-7).
Amém. Muito obrigado. Bênçãos de Deus para Você. Até
outro texto. “Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai
também por mim” (Ef 6,18-19).

68
APÊNDICE

ROTEIROS DE ENSINOS
FUNDAMENTOS DA ORATÓRIA SACRA
(Primeira Parte)

I – INTRODUÇÃO
(Pedir oração)

1. APRESENTAÇÃO DO FORMADOR
- (nome), casado, Ministério de Pregação.
2. MOTIVAÇÃO
Um dono de um pequeno comércio, amigo do grande
poeta Olavo Bilac, abordou-lhe na rua:
− Senhor Bilac, estou precisando vender meu sítio, que
o senhor tão bem conhece. Poderia redigir um anúncio
para mim?
Olavo Bilac apanhou um papel e escreveu:
− Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os
pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada
por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A
casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra
tranquila das tardes na varanda.
Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-
lhe se havia vendido o sítio, mas, surpreendentemente,
o homem respondeu:
− Nem pense mais nisso! – Disse o homem – Quando li
o anúncio é que percebi a maravilha que eu tinha.

69
Dercides Pires da Silva

“Não basta ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo


bem”23.
A mensagem é importante, mas o modo de transmiti-la
é fundamental para que os ouvintes a acolham.
3. APRESENTAÇÃO DO ENSINO
a) TEMA: FUNDAMENTOS DA ORATÓRIA SACRA
(primeira parte)
b) Itens:
b.1) CARISMA DA PREGAÇÃO
b.2) CONCEITO DE ORATÓRIA
b.3) PARTES DA ORATÓRIA
b.4) ELOQÜÊNCIA
b.5) ORATÓRIA: MÉTODO DA PREGAÇÃO
b.6) DECÁLOGO DO ORADOR SACRO

II – DESENVOLVIMENTO

1. CARISMA DE PREGAÇÃO
a) Conceito
b) Operação do carisma de pregação
2. CONCEITO DE ORATÓRIA
- Oratória: arte de falar em público.
- É uma parte da retórica
= Retórica: em estudo de linguagem significa o estudo do
uso persuasivo da linguagem, em especial para o
treinamento de oradores.
= Tratado que encerra essas regras.
- Oratória Sacra

23 DESCARTES, René. Discurso do método, p. 37.

70
Formação de Pregadores

= Oratória Sacra é um método de pregação que combina


docilidade ao Espírito Santo, dependência a ele e
vinculação à sua unção, com o qual o pregador ou a
pregadora anuncia o Evangelho de nosso Senhor Jesus
Cristo, empregando as técnicas e os recursos de
comunicação ensinados pela retórica e utilizados pela
oratória.
= Sua raiz remota são as homilias feitas pelos primeiros
cristãos
= Nasceu quando os pregadores cristãos perceberam que
podiam usar a retórica grega ou a oratória romana
= Seu objetivo é veicular uma mensagem religiosa
3. PARTES DA ORATÓRIA
a) Antiga
- Inventio (invenção): descoberta de argumentos
- Dispositio (disposição): arranjo das ideias
- Elocutio: descoberta da melhor forma para expor as ideias
= Emprego de figuras e tropos
- Memória: memorização
- Pronuntiatio (pronunciação): apresentação oral
b) Moderna
- Invenção: planejamento estratégico (busca de ideias,
provas, argumentos).
= Acolhimento da revelação para a pregação e para o
ensino.
- Disposição: organização de forma mais didática possível
- Elocução: exposição das ideias de forma estética e
convincente

71
Dercides Pires da Silva

4. ELOQUÊNCIA
- “A eloqüência tem forças e belezas incomparáveis.”24
- Habilidade de falar e exprimir-se com facilidade. É a arte e
o talento de persuadir, convencer, deleitar ou comover
por meio da palavra.
- Em estudos da linguagem é a arte de falar bem.
5. ORATÓRIA: MÉTODO DA PREGAÇÃO
- Método é um processo ou técnica de ensino
- A oratória é a técnica natural para o pregador evangelizar,
pelos seguintes motivos:
= Uma das funções da oratória é apresentar uma tese,
sustentá-la e deixar os ouvintes em condições de decidir
por ela.
= Cada tema de pregação assemelha-se a uma tese
6. DECÁLOGO DO ORADOR SACRO
- OS DA PAZ ETC.
- Orar diariamente
- Simplicidade na exposição e profundidade nas ideias
- Docilidade ao Espírito Santo
- Amar as pessoas
- Pregar o que se vive
- Aprender com os bons pregadores
- Zelar pela própria santidade
- Escolher cuidadosamente o tema e as ideias principais
para compor o roteiro
- Treinar exaustivamente
- Começar a pregação com serenidade (os arroubos são
para depois)

24 DESCARTES, René. Discurso do método, p. 41.

72
Formação de Pregadores

III – CONCLUSÃO

1. RESUMO
a) Recapitulação (retomar Itens)
b) Avaliação (indagar, responder perguntas, sanar
dúvidas, complementar, etc).
c) Fecho (fixação-síntese)
2. CONVITE À AÇÃO
3. ORAÇÃO FINAL
Amém. Deus os abençoe. Muito obrigado.

73
Dercides Pires da Silva

74
Formação de Pregadores

FUNDAMENTOS DA ORATÓRIA SACRA


(Segunda Parte)

I – INTRODUÇÃO
(Pedir oração)

1. APRESENTAÇÃO DO FORMADOR
– (nome), casado, Ministério de Pregação.
2. MOTIVAÇÃO
3. APRESENTAÇÃO DO ENSINO
a) TEMA: FUNDAMENTOS DA ORATÓRIA SACRA
(segunda parte)
b) Itens:
b.1) Ruídos da comunicação
b.2) Qualidades da oratória sacra
b.3) Vitória sobre o medo
b.4) Utilização dos equipamentos com sabedoria

II – DESENVOLVIMENTO

1. RUÍDOS DA COMUNICAÇÃO
- Ruídos da comunicação são todas as coisas que dispersam
a atenção das pessoas
- Espécies de ruídos mais comuns:
Má articulação
Ambiguidade
Desconhecimento da norma gramatical
Inadequação vocabular
Inibição
Nervosismo

75
Dercides Pires da Silva

Insegurança
Desconhecimento das leis da comunicação verbal
coletiva
Emprego inadequado da concisão (falta ou excesso de
concisão)
Prolixidade
Exagero de expressões desconhecidas e de palavras
“difíceis”
Discurso decorado de forma robotizada
Usar a imaginação em desfavor de si mesmo
Velocidade vocal inadequada
Mau uso do aparelho fonador (má colocação da voz,
má articulação).
Exagero de citações comentadas (bíblicas,
doutrinárias)
Exagero de citações sem comentários
Exagero de ilustrações e exemplos
Imitação inconsciente de outro pregador
Excessos de cortesias (delicadezas artificiais,
maneirismo)
Exagero no uso das figuras de linguagem
Excesso de movimento
Imobilidade
Expressão de abatimento e de inferioridade (cansaço,
depressão)
Expressão de superioridade (narcisismo, excesso de
altivez, presunção, excesso de autoconfiança).
Repetição constante de um mesmo gesto
Citar fontes sem variedade retórica
Levar os ouvintes para trechos e não para a ideia
principal

76
Formação de Pregadores

Olhos voltados para dentro da pregação e não para


dentro da realidade do ouvinte
Inobservância de simples combinações de vestuário
Falar de forma monótona
Mau uso da aparelhagem de som (microfone,
amplificador, etc.)
Vulgaridade
Negatividade
Falsa humildade
Belicosidade
Prepotência
Vaidade
Competição
Descrença
Preconceito
Visão limitada.
2. QUALIDADES DA ORATÓRIA SACRA
- Unção
- Eloquência
- Clareza
- Linguagem direta e atual (equilibrada na balança cujos
pratos são cultura e linguagem coloquial)
- Mensagem coerente, bem fundamentada, concatenada,
concisa, convincente, confiável, coloquial, comovente.
- Empatia (desenvolve empatia com os ouvintes)
- Tem um piloto: você (orador sacro, pregador).
- Circunstancial.
- Congratulação (ambiente de fraternidade).
- Sinal de contradição
- Comunicativa
- Adequada aos ouvintes

77
Dercides Pires da Silva

- Frutífera
- Conceitual (Cale ou fale, mas se falar, diga uma palavra
que valha o silêncio).
- Criativa
- Conveniente
- Geradora de ação
- Bilateral
- Liberal
- Lógica
- Amorosa.
3. VITÓRIA SOBRE O MEDO
- Reconhecer que todos os seres humanos normais têm
medo
- Momentos do medo:
= Antes da pregação
= No início da pregação
= Durante a pregação (não é normal, precisa de ajuda).
- Batalhas contra o medo (armas):
= Falar na sua língua (temos duas línguas: transmitida,
pela família; adquirida, na escola).
= Conhecer as regras, porém sem se escravizar.
= À medida que repetir a mesma pregação, buscar em
Jesus coisas novas para ela.
= Preparar a pregação para você e preparar-se para ela.
= Começar a pregação de maneira serena
= Confessar o medo, criativa e sabiamente, no início da
pregação.
= Conhecer suas qualidades e limitações.
= Vencer a inibição (inibição sim, silêncio jamais: o
pregador é aquele que fala).

78
Formação de Pregadores

= Não cair na tentação de combater os defeitos de


comunicação enquanto prega
= Manter o bom humor
= Vencer o olhar da assembleia
= Deixar-se avaliar
= Pregar sob unção
= Entregar o medo a Jesus.
4. UTILIZAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS COM
SABEDORIA
- Aparelhagem de som (o som deve ser claro, inteligível e,
principalmente, agradável ao ouvinte)
- Microfone (como utilizá-lo).
- Documentos escritos (documentos da Igreja)
= Bíblia, documentos da Igreja
= Livros espirituais; apostilas; roteiros

III – CONCLUSÃO

1. RESUMO
a) Recapitulação (retomar Itens)
b) Avaliação (indagar, responder perguntas, sanar
dúvidas, complementar, etc).
c) Fecho (fixação-síntese)
2. CONVITE À AÇÃO
3. ORAÇÃO FINAL
Amém. Deus os abençoe. Muito obrigado.

79
Dercides Pires da Silva

80
Formação de Pregadores

REFERÊNCIAS

Bíblia Sagrada. 116. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1998.

DESCARTES, René. Discurso do método. Rio de Janeiro:


Escala, 2005.

FURINI, Isabel. A arte de falar em público. São Paulo: IBRASA,


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FURINI, Isabel Florinda. Praticas de oratória. São Paulo:


IBRASA, 2000.

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Bolsa Nacional do Livro, 1989.

HOUAISS, Antônio. Dicionário eletrônico Houaiss da língua


portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

MACNUTT, Francis. O poder de curar. São Paulo-SP: Loyola,


1982.

MENDES, Eunice; COSTACURTA JUNQUEIRA, L.A.


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