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Os objetivos da eloquência

Os objetivos da eloquência

«[…] estava no espírito da Contrarreforma a captação e catequização das


multidões não tanto pela razão […], mas antes pela sensibilidade, pelo prazer,
pelo puro gozo intelectual, e também pelo terror e piedade que moveriam […]
os espectadores.»
Margarida Vieira Mendes, in Padre António Vieira, Sermão de Santo António (aos peixes) e Sermão da
Sexagésima
Os objetivos da eloquência

Oratória
É a arte de falar em público.

Eloquência
É uma faculdade individual de falar bem para persuadir.

Sermão
É uma forma de oratória e de discursar em público.

É apresentado como um discurso sobre temas bíblicos, religiosos ou morais.


Os objetivos da eloquência

A eloquência

- Do latim, eloquentia define-se como a arte de bem falar.

A Oratória foi colocada ao serviço da pregação no século XVII.

O Pregador deveria captar a atenção do auditório.

Esta captação era feita no púlpito, através do gesto, da postura, do tom de voz, das palavras
– o sermão, exemplo perfeito da estética Barroca.

O sermão pregava a palavra de Deus (a doutrina cristã) e tentava corrigir os erros dos
ouvintes.

Para isso, o sermão tinha três objetivos de eloquência, resumidos numa trilogia latina.
Os objetivos da eloquência

DOCERE (ensinar)
Ensinar através de argumentos lógicos.

DELECTARE (deleitar)
Agradar e captar a atenção do auditório.

MOVERE (comover)
Persuadir o auditório, conduzindo-o à adoção de novos comportamentos.
Os objetivos da eloquência

Vieira e outros oradores cultivavam a arte de bem falar, exibindo com engenho e
habilidade o seu discurso argumentativo.

Reconhecidos pelos ouvintes, os pregadores usavam a palavra para alertar e consciencializar


os seus auditórios para determinadas questões religiosas e morais, mas também políticas e
sociais.

Com o Sermão de Santo António, o orador pretende não só ensinar aos ouvintes o caminho do
bem postulado por Cristo, mas também cativá-los, através da utilização expressiva de vários
recursos, e influenciá-los, de modo a mudarem o rumo das suas ações.

«O fruto que tenho colhido desta doutrina, e se a terra tem tomado o sal, ou se tem tomado
dele, vós o sabeis, e eu por vós o sinto.» (Capítulo I)
Os objetivos da eloquência

DOCERE (ensinar)
O Pregador pretende perturbar o auditório, ensinando-o a olhar os seus próprios defeitos e
mostrando-lhe caminhos de bem (função didática).

Para este efeito, recorre a:

Frases declarativas:
«O mar está tão perto, que bem me ouvirão.» (Capítulo I)
«Como não sois capazes de Glória, nem de Graça, não acaba o vosso
Sermão em Graça, e Glória.» (Capítulo VI)

Citações bíblicas:
«Porque me perseguis tão desumanamente, vós, que me estais comendo vivo e fartando-vos
da minha carne? [Jó 19, 22]» (Capítulo IV)

«Sic non postuisti una hora vigilare mecum? [Marcos 14, 37]» (Capítulo V)
Os objetivos da eloquência

Delectare (deleitar)
O Pregador pretende agradar ao auditório, cativando-o através do deslumbramento causado pelas palavras,
criteriosamente escolhidas e dispostas no discurso, e pelos raciocínios expostos no sermão (função estética).

Para o efeito, utiliza certos recursos, como:

Construções anafóricas, que denunciam a simetria característica do discurso barroco e que são
facilitadoras da memorização:
«Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não
salga, […] ou porque a terra se não deixa salgar […].» (Capítulo I)
Os objetivos da eloquência

Delectare (deleitar)
Para o efeito, utiliza certos recursos, como:

Frases exclamativas, geralmente sentenciosas:


«Ainda mal!» (Capítulo I)
«[…] e esse fel, que tanto vos amarga, quão proveitoso, e quão necessário vos é!» (Capítulo III)

Interrogações retóricas, que conferem vivacidade ao discurso:


«Não é tudo isto verdade?» (Capítulo I)
«[…] que se há de fazer a este sal, e que se há de fazer a esta terra?» (Capítulo I)

Antíteses, que denunciam contrastes, oposições:


« Uma é louvar o bem, outra é repreender o mal.» (capítulo II)
Os objetivos da eloquência

Movere (persuadir)
O Pregador pretende incitar o auditório a mudar o seu comportamento (função moralizadora), utilizando
determinados recursos, como:

Frases exclamativas:
«Ah moradores do Maranhão, quanto eu vos pudera agora dizer neste caso! […] Mas ah sim, que me não
lembrava!» (Capítulo III)

Frases imperativas:
«Tomai exemplo nos homens […].» (Capítulo V)
Os objetivos da eloquência

Movere (persuadir)
O Pregador pretende incitar o auditório a mudar o seu comportamento (função moralizadora), utilizando
determinados recursos, como:

Apóstrofes:
«Descendo ao particular, direi agora, peixes, o que tenho contra alguns de vós.» (Capítulo V)

Interrogações retóricas:
«Pode haver maior ignorância e mais rematada cegueira que esta?» (Capítulo
IV)
Os objetivos da eloquência

Consolide
Os objetivos da eloquência

1. Identifique a única opção falsa.

A O discurso oratório remete para o século XVII, nomeadamente para o discurso religioso
produzido pelos pregadores.

B A oratória tem como único objetivo persuadir o público, através da comoção.

C Existem três objetivos da eloquência.

Solução
Os objetivos da eloquência

2. Associe os elementos da coluna A (objetivos da eloquência) aos elementos da coluna B (definição).

Coluna A Coluna B

A Docere 1 sensibilizar

B Delectare 2 instruir

C Movere 3 encantar

A–2 B–3 C–1 Solução


Os objetivos da eloquência

3. Complete as frases com os objetivos da eloquência.

delectare
A A eloquência é usada com a intenção de deleitar (_________________), ensinar (____________) e
docere
mover ou influenciar (________________). movere

B Captam-se (_______________) docere


delectare e educam-se (_______________) as multidões pela sensibilidade, pelo prazer,
mas também pelo terror e piedade.

movere obtinha-se ainda pelo deslumbramento do ouvinte, o que obrigava o


C A persuasão (_______________)
Pregador a um trabalho intenso sobre a própria linguagem.

Solução

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