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Sermão de Santo António (Canto II)

Laura Sousa nº8, Lauren Camily nº9, Leonor Pacheco nº11 e Oriana Martins nº16

O que é um Sermão?

Género literário que compreende o discurso oratório de carácter religioso composto para ser
proferido ao povo e que pode tratar de questões morais, sociais ou políticas. Trata-se de um
texto argumentativo em que o pregador se dirige ao auditório com intenção persuásiva, pois
pretende convencer os ouvintes da validade das suas ideias e assim exortá-los a ação. O
sermão cristão partia de um conceito predicável, uma citação bíblica que anuncia o tema que
será desenvolvido ao longo do texto.

(nota: Texto argumentativo- tem como objetivo convencer alguém das nossas ideias. Devem
ser claras e ter riqueza lexical, podendo tratar qualquer tema ou assunto.)

Aspetos gerais do Sermão Santo António:

-Pregado em S. Luís do Maranhão, a 13 de junho de 1654, três dias antes de ter


embarcado ocultamente para Lisboa com o fim de solicitar ‘’o remédio da salvação aos
índios…’’
- O sermão é alegórico porque o autor ilustra determinados conceitos abstratos como
vícios dos homens, recorrendo aos peixes.

Os objetivos da Eloquência
A eloquência é a arte de bem falar. Vieira e os oradores do seu tempo investiam
bastante nesta arte, exibindo a habilidade e o engenho com que usavam as
palavras e as ideias para construir os seus argumentos. Recorriam fortemente
à retórica, que é a arte do discurso e os recursos expressivos que estavam
ao seu serviço. Podemos identificar os três grandes objetivos do sermão religioso
através de três termos latinos: docere, delectare, movere.
Docere (ensinar): Ensinar a doutrina cristã e dar a conhecer o texto bíblico. O objetivo
era conseguir com que os cristãos seguissem os ensinamentos de Cristo e os
praticassem no quotidiano.
Delectare (agradar): O orador procurava agradar aos ouvintes ou mesmo deslumbrá-
los com as suas palavras e o seu raciocínio.
Movere (influenciar): Persuadir os ouvintes (fiéis) e influenciar o seu comportamento.

Alegoria
O Padre António Vieira recorre à alegoria, um recurso expressivo em que um conjunto
de imagens concretas (termos, ações, personagens) serve ao autor para transmitir uma
realidade abstrata.
Sermão de Santo António (Canto II)

Estrutura

Estrutura interna:

• Exórdio- discurso retórico na qual apresenta o tema a desenvolver.


• Exposição/confirmação- apresentam-se os argumentos e exemplos que os sustentam.
• Peroração- parte final do discurso retórico.

Estrutura externa:

• Capítulo I ao capítulo VI

Capítulo 2

Neste capítulo, Vieira começa por explicar aos peixes o conceito predicável, “Vos estis sal
terrae”, apresentando qual a função do sal: conservar o bom e preservá-lo para que não se
corrompa; louvar o bem para o conservar, repreender o mal para o preservar dele. Além de
explicar o conceito predicável, Vieira dirige-se aos peixes, explicita também quais são os
objetivos do sermão, sendo estes objetivos os de louvar as suas virtudes e repreender os seus
vícios. Para mostrar que o sermão é uma alegoria, o pregador refere-se frequentemente aos
homens. Utiliza articuladores do discurso (assim, pois…), interrogações retóricas, anáforas,
gradações crescentes, antíteses, etc. Demonstra as afirmações que faz tirando partido do
contraste entre o bem e o mal, referindo palavras de S. Basílio, de Cristo, de Moisés, de
Aristóteles e de Santo Ambrósio, todas referidas aos louvores dos peixes.

Os Louvores naturais dos peixes (virtudes dos peixes)

• Foram os primeiros a serem nomeados;


• Entre todos os animais, são os peixes que existem em maior quantidade;
• Os peixes são os maiores animais do mundo;
• Foram os primeiros a serem criados por Deus;
• Ouvem, mas não falam;
• São um bom auditório, melhor auditório que os homens;
• Possuem as virtudes de: obediência, ordem e atenção;
• Não se deixam domesticar;

Críticas aos homens

• Pouco ouvem e falam muito;


• Vaidade, orgulho e a arrogância;
• A insolência e a presunção (“os homens perseguindo a António, querendo-o lançar da
terra e ainda do mundo”);
• A violência e obstinação;
• Crueldade irracional (perseguiram Santo António porque os criticava)
Sermão de Santo António (Canto II)

Entretanto, como o defeito relacionado aos peixes é que eles não se convertem e não são
religiosos, por isso, não falará “em Céu nem Inferno”, o que tornará menos triste o sermão,
comparativamente aos que costuma pregar aos homens, facto que constitui nova ironia, pois
os peixes são uma alegoria dos homens . Os peixes não foram castigados por Deus no dilúvio,
sendo exemplo para os homens que pouco ouvem e falam muito.

Argumento de Aristóteles

Os animais domésticos: “ Dos animais domésticos o cão é tão doméstico, o cavalo tão sujeito,
o boi tão serviçal[…]e até os leões e os tigres como arte, e benefícios se amansam dos animais
do ar afora aquelas aves, que se criam, e vivem connosco, o papagaio nos falam, o rouxinol nos
canta […]e até as aves grandes de rapina encolhendo as unhas reconhecem a mão de quem
recebe o sustento”, (Linha 30-34).

Os peixes: “Os peixes ao contrário lá se vivem nos seus mares, e rios, lá se mergulham nos seus
pegos, lá se escondem nas suas grutas e nenhum tão grande, que se fie no homem, nem tão
pequeno, que não fuja dele.”, (Linha 34-36).

Evidencia-se que os animais que convivem com os homens foram castigados pois estão
domesticados e sem liberdade. Embora os homens ofereçam alimento e proteção aos animais
domésticos estes, perdem a liberdade pois estão sobre o domínio do homem. Contudo, apesar
de estarem sobre o domínio do homem, também foram castigados por Deus no Dilúvio.

Argumentos do Santo Ambrósio

“Diz Santo Ambrósio: porque os outros animais como mais domésticos, ou mais vizinhos,
tinham mais comunicação com os homens; os peixes viviam longe e retirados deles.”, (Linha
56-57)

Foram os únicos animais que não precisaram de ser salvos durante o diluvio.

Estes não são facilmente domesticados algo que é positivo pois estão afastados do Homem
considerado corrupto e perigoso. “… e não há nenhum tão grande que se fie do homem, nem
tão pequeno que não fuja dele … da companhia dos homens lhe viera todo o mal” Sendo
importante reter que quanto mais perto de Deus mais longe dos Homens devemos estar.

Gramática, recursos expressivos e a sua importância

As interrogações retóricas

A interrogação retórica tem sobretudo o objetivo de promover uma reflexão.

A primeira interrogação retórica, promove reflexão sobre o conteúdo de pregação aos peixes
(notar a utilização do “enfim” com valor de raciocínio e conclusão de um assunto).

“Enfim, que havemos hoje de pregar aos peixes?” (ll. 1)

Além disso, identifica o destinatário aparente do sermão.

Apóstrofes

Vieira utiliza a apóstrofe “irmãos peixes” para criar uma relação de proximidade com o
auditório, facilitando a persuasão.
Sermão de Santo António (Canto II)

“Começando, pois, pelos vossos louvores, irmãos peixes, bem…”

Gradação

De forma gradativa, são apresentados os animais que se domam ou se domesticam, em


contraste com os peixes.

“o cão é tão doméstico”, “o cavalo tão sujeito”, “o boi tão serviçal”, “o bugio tão amigo e
lisonjeiro”, “até os leões e tigres (…) se amansam”

Concluindo, este capítulo refere as virtudes dos peixes, que por contraste são os vícios dos
homens, e louva os peixes pois estes serem os únicos animais que não foram castigados por
Deus no dilúvio.

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