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Contextualização histórica:
Capítulo I - Exórdio
2. Constata, em S. Luís do Maranhão, uma realidade estranha, porque, apesar de haver muitos
“que têm ofício de sal", "a terra se não deixa salgar".
3. Faz o levantamento das causas que poderão estar na origem dessa realidade: a
responsabilidade será ou do "sal" ou da "terra" (argumentação dialética – desenvolvimento
simétrico marcado pelo paralelismo sintático e pela conjunção coordenativa disjuntiva “ou”).
5. Interroga-se sobre que medidas tomar face "ao sal que não salga" e face "à terra que se não
deixa salgar".
6. Recorre à citação da autoridade (Cristo) para dar credibilidade e indicar o que se deve fazer
"ao sal que não salga": "lançá-lo ao caminho e pisar", votá-lo ao desprezo.
7. Recorre à exemplaridade da vida de Santo António a fim de referir o que se deve fazer "à
terra que se não deixa salgar": o Santo ignorou os homens hereges (Arimino, na Itália) e
começou a pregar aos peixes. (O orador procede ao panegírico (louvor/elogio) do Santo:
destemido, corajoso, voluntarioso, determinado e zeloso da glória divina).
8. Explica ao auditório as particularidades do seu sermão: para louvar o Santo no seu dia,
procederá como ele, uma vez que há inúmeras semelhanças entre o percurso de Santo António
e o do Padre António Vieira (o que constitui uma crítica aos colonos).
A partir desse momento, ainda que permaneça na igreja, tendo por ouvintes os colonos de S.
Luís do Maranhão, vai pregar aos peixes (que estão perto da igreja) e não aos homens; a partir
desse momento, o sermão torna-se alegórico, uma vez que os peixes vão representar os vícios
dos homens.
2. A interrogativa retórica: pergunta que não exige resposta por esta ter sido dada
anteriormente ou estar implícita a resposta na formulação da pergunta. A sua função é,
geralmente, a de reforçar as ideias apresentadas.
3. A enumeração: repetição que tem por função sublinhar e reforçar uma determinada ideia. É
o caso da "doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira" que é pregada por Vieira.
4. A alegoria: os peixes do Sermão são alegóricos, pois ilustram conceitos abstratos. Neste
caso, representam os defeitos e os vícios dos homens, comuns dos mortais.
- Todo o primeiro parágrafo é irónico, pois tudo o que é dito significa o seu contrário. É um
sermão dirigido aos homens em que os peixes são as figuras de destaque. É um jogo irónico de
troca homens/peixes.
- O sermão vai louvar o bem que os peixes fazem (as virtudes) e repreender o mal (os vícios).
Assim, será dividido em duas partes: a primeira, os louvores das virtudes; a segunda, as
repreensões dos vícios.
- As qualidades dos peixes louvados neste capítulo são: foram as primeiras criaturas a ser
criadas por Deus; as criaturas mais numerosas e maiores; são bons ouvintes e obedientes; são
melhores do que os homens; não se domam nem domesticam (vivem livres e puros, longe dos
homens).
- Os homens são acusados de se deixarem levar pelas vaidades; serem piores do que os peixes
(ex. o caso de Santo António e o de Jonas); apesar de inteligentes, atuam irracionalmente como
feras; corrompem quem viver perto deles.
- A partir do Capítulo II, todo o texto é uma alegoria porque Vieira dirige-se aos peixes,
querendo atingir os homens.
- Já que as duas propriedades do sal são: preservar o são e impedir que se corrompa e como os
peixes, como ouvintes, representam duas qualidades: não falam e ouvem, mas não podem ser
convertidos, isso entristece o pregador.
- Os homens recusam ouvir a palavra de Deus, enquanto os peixes acorrem para a ouvirem.
Todos os animais se podem domesticar, sendo que os peixes vivem em liberdade.
1- Peixe de Tobias
2- Rémora
Pequeno peixe que produz energia e faz pequenas descargas elétricas em sua defesa;
Faz tremer o braço do pescador;
Torpedo = Santo António;
As palavras de Santo António fizeram tremer vinte e dois pescadores e causáramos
efeitos positivos desejados: o arrependimento e a mudança de vida;
Os Homens não se deixam abalar pelo efeito da palavra.
Torpedo – Critica os que “pescam” sem tremer, isto é, os que roubam e exploram sem peso
de consciência.
4- Quatro-olhos
- As repreensões aos peixes vão ser feitas com o objetivo de: se não for de corrigir, ao menos,
que seja de perturbar.
- O grande defeito dos peixes é comerem-se uns aos outros. Este defeito agrava-se quando os
grandes comem os pequenos, por isso, para alimentar um grande são precisos muitos
pequenos.
- Desde o início do sermão que o pregador prega aos peixes apontando-lhes os seus vícios e
virtudes. Agora, ao falar-lhes dos vícios, aponta-lhes como o exemplo os vícios dos homens.
Ora, considerando a alegoria do Sermão, em que os peixes são a representação dos homens,
Vieira utiliza-a indiretamente para os poder criticar. É interessante, nesta parte, a forma hábil
como fala diretamente aos homens dos seus vícios (inversão peixes/homens).
- Sabendo que o grande defeito dos homens é comerem-se uns aos outros e tendo em conta
que os colonos pensariam imediatamente nos rituais antropófagos dos índios, o orador afirma
que está a referir-se aos brancos, pois ‘’muito mais se comem os brancos’’ – antropofagia
social.
“comem-se uns aos outros [(...) é que vos comedes uns aos outros”;
“os peixes grandes comem os mais pequenos (não só vos comeis uns aos outros, senão
que os grandes comem os pequenos”;
“se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas
como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um
só grande”.
Enquanto Santo António, tendo tanto saber e poder, nunca se orgulhou disso, antes se calou.
(“É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?”);
- Os Pegadores sendo pequenos pegam-se aos maiores (como as lapas e as sanguessugas). Têm
como defeito o parasitismo e o oportunismo, ou seja, é uma alegoria da adulação e do
parasitismo, vícios da alta nobreza e da classe política, pois gostam de receber favores e da
adulação daqueles que deles dependem. Estes peixes nadam presos a um «tubarão», membro
mais importante na escala social que eles vão explorando como podem.
Os argumentos utilizados pelo Padre António Vieira são: os Pegadores vivem na dependência
dos grandes e morrem com eles; os grandes morrem porque comeram, os pequenos morrem
sem terem comido.
(“Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande propriedade, porque sendo
pequenos não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhe pegam aos costados, que
jamais os desferram”)
- Os Voadores são peixes e aves, em simultâneo. Simbolizando: os presunçosos, ambiciosos e
vaidosos. É, de facto, a alegoria dos eternos insatisfeitos com a vida e mega ambiciosos que
não se contentando em nadar no mar, querem também voar como os pássaros. Os
fundamentos utilizados por Vieira são que estes foram criados peixes e não aves, são pescados
como peixes e caçados como aves e morrem queimados.
[“Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos metei a ser aves? (...)
Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes”];
- O Polvo é, por excelência, traidor e enganador., pois sob a sua capa/aparência de santo e
manso e um ar inofensivo, ataca sempre através de emboscada, dado que é maldoso,
traiçoeiro e hipócrita. Efetivamente, o polvo tem uma aparência enganosa, aparenta ser
monge, estrela, brandura e mansidão; mas é o maior traidor do mar, em virtude de fazer- se de
amigo dos outros e, no fim, representando os traidores e os hipócritas “abraça-os”
- Percebemos o alcance da crítica ao polvo: como ele, também os monges enganam os fiéis,
passando por homens piedosos quando não passam de homens imorais e interesseiros que
utilizam a palavra de Deus para melhor conseguirem os seus verdadeiros intentos.
[“E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o
maior traidor do mar”].
- Desta forma, o orador critica todos estes peixes. Aos roncadores, que lhe provocam riso e ira,
aconselha-os a medirem-se e verem como são ridículos e sem fundamento a sua arrogância.
Aconselha-os a calarem-se e a imitarem Santo António. Aos pegadores, aconselha-os a não se
colarem aos grandes, pois quando um grande morre arrasta consigo os pegadores. Aconselha
ainda cada homem a seguir o seu caminho, dizendo que os oportunistas, que vivem colados
aos poderosos, acabam por ser arrastados quando estes caem. Aos voadores, aconselha-os a
imitarem Santo António e a não quererem ser mais do que são.
- Na sua verdadeira essência, o polvo é um traidor, o maior traidor do mar, porque se esconde,
mudando de cor, para com a malícia e mentira, atacar.
- Para além das razões já invocadas contra o polvo, Vieira refere o contraste entre a “sujidade”
moral do polvo e a transparência do elemento natural em que habita – o mar:
- A terra está infestada de traidores e não apenas o mar onde vivem os peixes acusados,
sobretudo o polvo, pior entre os piores. Mas também é verdade que há habitantes da terra que
se destacam pela pureza de coração e amor à verdade, como é o caso de Santo António a
quem Vieira imita e cita frequentemente no seu sermão. Que se há de então fazer, já que Santo
António é inimitável? Para Vieira, basta que os portugueses do seu tempo se mantenham fiéis
aos valores morais e éticos que outrora existiam em Portugal e que agora parecem estar
arredados das intenções dos colonos do Maranhão.
Capítulo VI do Sermão de Santo António, de Vieira
Peroração
Como esta é a parte que a memória dos ouvintes melhor retém deverá conter os aspetos
principais desenvolvidos no sermão, de modo a deixar clara a mensagem veiculada e levar os
ouvintes a pôr em prática os seus ensinamentos.
Assim sendo, o orador retoma os pregadores de que falava no conceito predicável, servindo-se
dele próprio como exemplo alegando que não estava a cumprir a sua função. Alega também
que ele (homens) e os peixes, nunca vão chegar ao sacrifício final, uma vez que os peixes já vão
mortos e os homens vão mortos de espírito.
De facto, o Padre António Vieira declara que a irracionalidade, a inconsciência e o instinto dos
peixes, são melhores do que a racionalidade, o livre arbítrio, a consciência, o entendimento e a
vontade do homem.
Conclui fazendo um apelo aos ouvintes e louvando a Deus (pede aos peixes que louvem a
Deus, criador da vida e a quem tudo se deve), tornando esta última parte do sermão um pouco
mais familiar, a fim de estabelecer de novo a proximidade entre os ouvintes e o orador.