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Estrutura Interna: estrutura tripartida; exórdio (introdução); exposição e confirmação


(desenvolvimento) e a peroração (conclusão).
Estrutura Externa: O “Sermão de Santo António” é constituído por 6 capítulos.

Capítulo 1
Apresentação do tema: Corrupção na terra.

Exórdio Ponto de partida de Sermão: conceito predicável “Vos estis sal terrae”.
Homenagem e elogio a Santo António: exemplo de pregador a seguir.
Invocação a Nossa senhora do Mar: pedido de inspiração.

Louvores aos peixes Em particular e geral

Exposição e confirmação

Repreensões aos peixes Em particular e geral

Capítulo 2 (Virtudes elogiadas em geral) Capítulo 3 (Virtudes elogiadas em particular)


- Obediência, ordem, atenção ao verbo divino. - Peixe de Tobias: poder curativo.
- Afastamento dos homens. - Rémora: Persistência e força.
-Torpedo: Poder persuasivo.

Capítulo 4 (Vícios condenáveis em geral) - Quatro-Olhos: capacidade de discernimento.

-Ictiofagia (os peixes comem-se uns aos


outros sendo que os maiores comem os mais Capítulo 5 (Vícios condenáveis em particular)
pequenos).
-Roncador: soberba e arrogância.
-Cegueira e vaidade que os conduz à
perdição. -Pegador: parasitismo e oportunismo.
- Voador: ambição e vaidade.
-Polvo: traição e hipocrisia.
Capítulo 6
Exposição e confirmação Desfecho forte e persuasivo:
- Julgamento dos homens/peixes.
- Superioridade dos Peixes.
- Apelo ao louvor a Deus.

Capítulo I
Exórdio (introdução) - 5 parágrafos
Início do capítulo - Conceito predicável
Fim do capítulo - Invocação a Maria

Conceito predicável
- Frase de um texto bíblico que serve de tema e que irá ser desenvolvido com a intenção e
objetivo do autor.
Conceito predicável do sermão - “Vos estis sal terrae” – Vós sois o sal da terra
Vos – pregadores Sal – palavra de Deus Terrae – ouvintes
- Tal como o sal impede a corrupção e é fonte de purificação, os Pregadores devem
impedir a corrupção das almas. Contudo, apesar de haver muitos Pregadores, a terra
mantém-se corrupta.

Propriedades
Pregadores: “O sal não salga” porque: Ouvintes: “A terra não se deixa salgar”
- Não pregam a doutrina - Não querem receber a doutrina
- Dizem uma coisa e fazem outra - Querem imitar o que os pregadores
fazem e não o que dizem
- Pregam-se a si/ segundo os seus
interesses - Servem os seus apetites
Elogio a Santo António
- Santo António era um modelo a seguir e um exemplo para todos os pregadores, incluindo para
Vieira, pois além de ser um grande orador e um homem virtuoso, ele persistiu na sua missão, ou
seja, pregou e não abandonou a doutrina apesar de os Homens o ignorarem.

Invocação a Maria
- Padre António Vieira dirige-se a Maria para pedir ajuda e inspiração de forma a transmitir a
mensagem cristã de forma mais justa e eficaz.
Mas porquê a Maria?
Pois o nome Maria, segundo Padre António Vieira, significa “senhora do mar”, então decide pedir-
lhe auxílio pois achou mais adequado por o “Sermão” ter um tema marinho.

Capítulo II
Louvores aos peixes em geral – Exposição
- Retoma do conceito predicável devido á mudança de auditório, pois agora Padre António Vieira
dirige-se aos peixes.
“Irmãos peixes”:
- Com esta expressão estabelece-se um paralelismo entre os Homens e peixes, sendo os peixes o
auditório a quem se dirige e os Homens o verdadeiro auditório a quem dirige as suas críticas. Com
isto estabelece-se a alegoria, sendo os peixes, elementos concretos, louvados e criticados e os
Homens, o verdadeiro alvo a atingir, louvando as virtudes de Santo António e criticando os
Homens.

Qualidades dos peixes


- Ouvem e não falam. - Obedientes.
- Primeiras criaturas a ser criadas por Deus. - Disciplinados, pacíficos e atentos.
- Criaturas mais numerosas e as maiores. - Não se domam nem domesticam.
- Primeiros a ser nomeados.

Objeções
-Por outro lado, estes não se podiam converter.
- Com estes louvores aos peixes criticam-se os Homens.
Referências
- Padre António Vieira faz referências a autores clássicos, exemplos bíblicos e Doutores da igreja
como a Aristóteles, a Noé e ao dilúvio e a Santo Ambrósio.

Dilúvio
- Padre António Vieira diz que os peixes sobreviveram por não serem domados nem domesticados
pelo Homem.
- Recomendou aos peixes mantém-se afastados dos Homens, dizendo que essa era a atitude mais
prudente.

Capítulo III
Louvores aos peixes em particular- Confirmação
- Neste capítulo apresentam-se as virtudes de quatro peixes em particular: o Peixe de Tobias, a
Rémora, o Torpedo e o Quatro-olhos.

Peixe de Tobias
O Peixe de Tobias tem o poder de, com as suas entranhas, curar a cegueira e afastar os demónios.
Sendo de grande dimensão, representa a bondade e o poder purificador, no fundo, detém as
virtudes do sal. É comparado a Santo António.
Santo António, à semelhança do peixe de Tobias, alumiava os ouvintes, curando-lhes a cegueira e
afastando-os do demónio, ou seja, mostrava-lhes o caminho do Bem e da Virtude, afastando-os
do Mal, isto é, impedindo-os de pecar. Comparando o peixe de Tobias com Santo António, o orador
coloca em destaque não só a virtude do peixe, mas sobretudo a humildade e o desprendimento
material do santo e a necessidade de os homens o ouvirem e seguirem a sua doutrina,
emendando-se.

Rémora
A Rémora é um pequeno peixe que, quando se agarra ao leme do navio, tem força suficiente para
impedir que ele navegue à sua vontade, tornando-se, então, ela mesma o guia do navio (o leme).
De facto, este peixe tem a capacidade de evitar os naufrágios das naus, razão pela qual é
evocada, pois vai permitir ao orador estabelecer um paralelo com o plano dos homens – também
eles devem evitar o caminho do mal.
O orador faz a analogia com Santo António, por causa da sua língua e da força do seu discurso.
Deste modo, esta simboliza o poder da palavra do Pregador, que é guia das almas. Padre António
Vieira adverte que os homens se deixam dominar pelos ímpetos, pelas suas paixões, sendo, por isso,
necessário que alguém os chame à razão.
Torpedo
O Torpedo é um peixe que produz descargas elétricas que fazem tremer o braço do pescador. Desta
forma, o orador alerta os homens para a necessidade de temerem a Deus e de não enveredarem
pelos caminhos do mal.
Quatro-olhos
O Quatro-olhos é um peixe que anda à superfície das águas e tem dois olhos que veem para cima,
protegendo-os das aves, e outros dois que veem para baixo e o protegem dos peixes maiores.

É referido este peixe, para se reforçar a necessidade de se saber distinguir o Bem do Mal (isto é,
na doutrina cristã, ter em mente os destinos Céu e Inferno), pois os homens só sabem «olhar»
para os seus apetites, que os conduzirão inevitavelmente à condenação eterna. Simboliza, assim, o
dever dos cristãos de afastarem os olhos da vaidade terrena, olhando, sim, para o Céu, sem
esquecer a existência do Inferno.

Capítulo IV
Repreensões aos peixes em geral- Exposição

- Os peixes comem-se uns aos outros.

- Os peixes maiores comem os mais pequenos.

- Os peixes comem os da mesma espécie.

A circunstância de os peixes se comerem uns aos outros representa, por analogia, o facto de os
homens maltratarem e explorarem os seus semelhantes de diferentes maneiras. São, sobretudo,
«os grandes», com mais poder (financeiro, institucional, social…), que oprimem, exploram ou
enganam os mais humildes («pequenos»).

O orador questiona indiretamente os colonos do Maranhão sobre o modo como se deixam


«pescar», ou seja, como são enganados.

Ao contrário de outros homens, Santo António não se deixou enganar nem se envaideceu, apesar
de ser uma figura admirável. Desdenhou as futilidades do mundo e abraçou a vida religiosa.
Assim, censuram-se os homens pela sua ignorância, visto que a sua ambição por honrarias e
títulos os leva a arriscar e a perder, por vezes, a vida.
Capítulo V
Repreensões aos peixes em particular

Roncadores
Os Roncadores, apesar de serem pequenos, roncam muito. Querem parecer maiores e mais
importantes do que aquilo que são. Quando comparados aos homens que exibem a mesma atitude,
o orador afirma que estes, quando têm de agir, se acobardam. O orador, com estes peixes, critica a
arrogância e a soberba dos homens.

Santo António tinha poder e saber, mas não se vangloriava disso, revelando, assim, humildade.

Pegadores
O orador, com estes peixes, critica o oportunismo e o parasitismo dos homens. Aconselha os
Pegadores a não se colarem aos grandes, pois, quando um morre, arrasta consigo os outros. Assim
também deve cada homem proceder: procurar o seu caminho, ou imitar Santo António, que se
«pegou» a Cristo.
Os Voadores
Os Voadores são os peixes que querem ir além da sua condição natural. Efetivamente, são
acusados de não se contentarem com o facto de serem peixes e quererem ser aves, por terem
barbatanas maiores do que as dos restantes peixes. Desta forma, o orador, servindo-se mais uma
vez da alegoria, critica a presunção e a ambição humanas.

O orador aconselha os Voadores a imitarem Santo António e não quererem ser mais do que aquilo
que são.

O Polvo
O Polvo, assemelha-se a um monge, a uma estrela, ostenta brandura e mansidão, o que sugere
santidade e bondade. No entanto, são essas características que lhe permitem dissimular-se e
apanhar as suas presas desprevenidas, o que contraria o seu aspeto físico. Desta forma, o Polvo
representa a dissimulação, a falsidade e a traição dos homens.

Na sua verdadeira essência, o Polvo é o maior traidor do mar, porque se esconde, mudando de cor,
para atacar, mas também é o maior traidor da terra, quando comparado com Judas. O orador,
com estes peixes, critica a traição e a hipocrisia.
Peroração
Neste capítulo o orador recapitula os factos e os argumentos expostos e tenta obter a
simpatia do auditório, através dos afetos e das emoções.

No julgamento final dos peixes/homens refere se a superioridade dos peixes o objetivo do


capítulo é convencer o auditório, levando-o à mudança de atitudes e comportamentos.

Vieira pretende, com esta lamentação, que os homens aceitem os seus conselhos e modifiquem
os seus comportamentos, abandonando os seus vícios.

Vieira confessa sentir inveja dos peixes porque eles não ofendem a Deus, ao contrário de si, que
O ofende através de palavras, lembranças e vontades. Vieira assume que é um pecador.

Aos peixes é explicada a razão pela qual foram excluídos do sacrifício, segundo o Levítico: não
poderem chegar vivos ao altar. Só os vivos (sem pecado mortal) podem na hora da morte,
contemplar Deus e conquistar a vida eterna. Os mortos (pecadores) estão condenados à
perdição (ao Inferno).

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