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Resumo – Sermão de Santo António aos Peixes: 1º Teste de Português

Capítulo I Introdução Exórdio


Desenvolvimento:
Capítulos II,
 Louvores: em geral e em particular; Exposição e confirmação
III, IV e V
 Repreensões: em geral e em particular.
Capítulo VI Conclusão Peroração

Capítulo I – Introdução e exórdio

Apresentação do conceito predicável: <<Vos estis sal terrae>> (Vós sois o sal da terra) – expressão
retirada da Bíblia, encerrando uma verdade que vai servir de mote ao sermão.

 Vós – pregadores;
 Terra – ouvintes;

Analogia entre o sal e os pregadores: o sal tem como propriedades conservar e evitar a corrupção, assim
como os pregadores, cuja função é louvar o bem e impedir o mal.

Conclusão de que a terra está corrupta: “… qual pode ser a causa desta corrupção?” – interrogação
retórica, que introduz uma apresentação de possíveis motivos.

Apresentação de várias possibilidades que estão na origem do problema levantado pelo pregador: a
conjunção coordenativa disjuntiva “ou” está ao serviço de várias possibilidades, estando associada
estruturalmente ao paralelismo anafórico.

Porque o sal não salga (pregadores):

 Os pregadores não pregam a verdadeira doutrina;


 Os pregadores dizem uma coisa e fazem outra: pregadores transmitem a palavra de deus, mas os seus
comportamentos refletem o contrário;
 Os pregadores pregam-se a si mesmos e não a cristo, não sendo imparciais/neutros.

Porque a terra não se deixa salgar (ouvintes):

 Os ouvintes não querem receber a verdadeira doutrina: como não reconhecem a doutrina, não a querem
ouvir – não respeitam a palavra de Deus;
 Os ouvintes querem imitar o que os pregadores fazem e não o que eles dizem: os homens seguem os
comportamentos do pregador, porque se ele pode fazer, eles também podem;
 Os ouvintes querem servir aos seus apetites em vez de servir a Deus.

<<Suposto pois que ou o sal não salgue, ou a terra se não deixe salgar; que se há de fazer a este sal, e
que se há de fazer a esta terra?>>

 Pregadores: assim como o sal que não salga é lançado fora como inútil, para que seja pisado por todos,
deve-se apreciar e valorizar os bons pregadores e castigar os maus – solução apresentada por Cristo:
apresentação de citações evangélicas servem para dar mais força e credibilidade ao discurso proferido,
uma vez que o mesmo é comprovado com as próprias palavras de Cristo, neste caso. Ideia de que, se
Cristo disse, quem somos nós para julgar;
 Ouvintes: apresentada por Santo António: o Santo, resiliente, querendo continuar a dar a sua doutrina, e
não se rendendo aos Hereges (aos quais ele tentava converter, mas eram demasiados e quase o mataram),
decidiu mudar o púlpito e o auditório para os peixes – estes querem ouvir o sermão e estão interessados
(mesmo sendo seres irracionais – Santo quer se dirigir aos homens) e os homens não o querem ouvir,
mesmo sendo seres racionais.

“Santos Doutores” – pregadores fracos: presente o recurso expressivo de ironia (doutores até têm uma
posição mais alta, mas não pregam verdadeiramente)

Final do capítulo:
 Reforço da ideia de que os homens se recusam em ouvir a verdadeira doutrina, tornando-se uma tarefa
mais resiliente para os pregadores;
 Características da verdadeira doutrina: “muito clara”; “muito sólida”; “muito verdadeira”; “necessária” e
“importante” – uso do advérbio de intensidade “muito”, com o objetivo de reforçar as características
elencadas;
 Vieira pretende imitar Santo António: “os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles” – recurso
expressivo da ironia, que pretende provocar e criticar os homens.
 Vieira pede ajuda à virgem maria para ajudá-lo no sermão.

Capítulo II – Louvores dos peixes em geral

“Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes?” – Interrogação retórica que introduz o capítulo.

Virtudes dos peixes:

 Ouvem e não falam: estão atentos e têm capacidade de ouvir, mas não podem ser convertidos a homens
(reforço da ideia alegórica – Vieira fala realmente aos homens);
 Obedientes;
 Organizados (ordenados);
 Quietos/sossegados;
 Atentos (e por isso, interessados);
 Sabem valorizar o pregador.

Exatamente pelo facto dos peixes não poderem ser convertidos, Vieira não fala do Céu e do Inferno –
apenas os homens podem ser encaminhados para estas duas realidades.

Apóstrofe: repetição de “irmãos peixes”, “irmãos” e “peixes” - irmãos peixes: segundo a religião católica,
somos todos irmãos – Linguagem católica, com tratamento de união.

Propriedades do sal:

 “Conservar o são” – impedir a corrupção de passar para o que é saudável;


 “Repreender o mal para preservar dele” – preservar o saudável, para que não se corrompa.

Propriedades dos pregadores:

 “Louvar o bem” (para o conservar);


 “Repreender o mal” (para se preservar dele”.

As exposições das propriedades remetem para a divisão do sermão em 2 partes: primeiro, louvar as
virtudes dos peixes; segundo, repreendê-los dos seus vícios, daí a retoma do conceito predicável no
início do capítulo.

Deus, quando criou o mundo, as primeiras criaturas criadas foram os peixes, sendo mais diversificados
(“mais”) e em maior número e tamanho (“maiores”) – “Entre todos os animais do mundo, os peixes são
os mais e os peixes os maiores.”

São feitas acusações dirigidas aos homens: vaidosos, influenciáveis e hipócritas – “… e grandeza vos
pudera dizer, ó peixes; mas isto é lá para os homens, que se deixam levar destas vaidades, e é também
para os lugares em que tem lugar a adulação (dar graxa), e não para o púlpito.”

É feita uma comparação entre os homens, providos de razão, mas desinteressados em ouvir a verdadeira
doutrina. Já os peixes, seres irracionais, mostram-se “como se tivessem entendimento”, sedentos por
ouvir.

Terra – “homens tão furiosos e obstinados” ≠ Mar – “peixes tão quietos e devotos”.

Peixes para homens; homens para feras: “Poderia cuidar que os peixes irracionais se tinham convertido
em homens, e os homens não em peixes, mas em feras.” – inversão de papéis: apesar de não serem
munidos de razão, os peixes parecem ser mais racionais do que os homens, que supostamente dela (da
razão) foram dotados.

Peixes não se deixam domar ou domesticar – referência a Aristóteles: segundo o filósofo, todos os
animais podem ser domados e amansados. Até os mais selvagens, como os leões, tigres ou aves de
rapina podem ser domados, à exceção dos peixes, que desconfiam e fogem do Homem, mostrando
brutalidade e falta de docilidade.

“Peixes, quanto mais longe dos homens, tanto melhor: trato e familiaridade com eles, Deus vos livre.” -
reforço da ideia: quanto mais longe dos homens, melhor: homens cativam os animais, retirando-lhes a
liberdade.

Animais e o nefasto:

 Rouxinol: canta, mas na gaiola;


 Papagaio: fala, mas na cadeia;
 Açor: vai à caça, mas em correntes;
 Bugio: faz palhaçadas, mas no cepo;
 Cão: tem ossos para roer, mas está preso pela trela;
 Boi: chamam-lhe formoso, mas com o jugo sobre a cerviz;
 Cavalo: tem freios dourados, mas é agredido constantemente (vara e espora);
 Tigres e leões: são alimentados, mas presos e encerrados em grades de ferro.

Mas – a repetição desta conjunção adversativa, numa estrutura paralelística, procura reforçar a
contrapartida negativa para todos estes animais, por se terem deixado domesticar pelos homens.

Vieira aconselha os peixes:

 A fugirem do Homem, de modo a, contrariamente aos outros animais que perderam a sua liberdade, a
não se deixarem domesticar, para assim não perderem a sua.
 A deixarem-se estar na água porque, ao menos, serão peixes na água – estarão vivos, no seu ambiente,
sem obrigações e com toda a liberdade.

Capítulo III – Louvores dos peixes em particular

Peixe de Tobias:

 Contextualização do encontro entre Tobias e o peixe: Tobias caminhava com o Anjo São Rafael, e,
enquanto lavava os pés, que estavam com pó, um peixe com a boca aberta aparece, como se quisesse
tragar Tobias. Este grita assustado, mas o Anjo aconselha Tobias que arrastasse o peixe para Terra e que
lhe retirasse as entranhas, pois dariam jeito.
 O fel é bom para curar a cegueira e o coração, bom para lançar fora os demónios;
 Tobias procurou provar a veracidade das qualidades do fel e do coração no pai e na própria casa,
concluindo que era verdade o que o Anjo lhe dissera;
 Associação/analogia entre o peixe e Santo António, uma vez que ambos têm poderes curativos: Santo
António curava, através da palavra divina, os ouvintes, os hereges da sua cegueira, iluminando-os e
afastando-os do mau caminho;
 Vieira mostra-se indignado, pois perseguem-no, embora só queira reenviar os “corrompidos” para o bom
caminho – “Pois a quem vos quer tirar as cegueiras, a quem vos quer livrar dos Demónios, perseguis vós?”;
 O que saía da boca de Santo António não eram ataques aos homens (contrariamente ao peixe de Tobias),
mas sim uma forma de “endoutrinar” os que teriam sido ou encontrados possuídos pelos demónios – “…
que o Peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a boca sua contra os que não se
queriam lavar.”;
 “Abri, abri” e “vede, vede”: formas verbais com valor exortativo, incentivando o auditório amostra-se
recetivo e aceitar a “verdadeira doutrina”, mudando os seus comportamentos.
 “Mas, ah sim, que não me lembrava! Eu não vos prego a vós, prego aos peixes.” - Ironia

Rémora:
 Tão pequeno no corpo, e tão grande na força e no poder;
 Apesar de pequeno, é um peixe que evidencia características físicas que lhe permitem “colar-se” às
“naus, mudando-lhes o rumo” (força hiperbolizada, contrastando com o reduzido tamanho do peixe,
de forma a tornar mais extraordinária a sua façanha.);
 “… e que menos naufrágios no Mundo!” – naufrágios remete para a perdição;
 Língua de Santo António (doutrina): apesar de pequena, também ela tem muito poder e consegue
mudar mentalidades;
 Vieira compara a Rémora à língua de Santo António, pois ambos têm a força de mudar o rumo das
coisas, evitando naufrágios (perdições);
 Analogia: Rémora consegue encaminhar o rumo da nau – Santo António consegue encaminhar
pessoas para a razão;
 Nau Soberba: remete para um dos vícios do Homem, a soberba (ser arrogante, pouco humilde) –
“com as velas inchadas do vento”. A expressão mostra que o Homem se boicota a si mesmo;
 Nau Cobiça: remete para outro dos vícios do Homem, a cobiça (ser ganancioso) – ao sobrecarregar a
nau, impede a defesa ou a fuga da mesma;
 Vieira alega que, se não fosse a “língua” de Santo António, maior seria a perdição humana.

Torpedo:

 Possui uma descarga elétrica, que faz tremer o braço do pescador, libertando-se;
 Crítica aos homens a partir do pescador: aproveita-se do seu poder para satisfazer a sua ganância;
 “Pois é possível que pescando os homens coisas de tanto peso lhes não trema a mão e o braço?”:
Interrogação retórica, que é uma crítica feita por Vieira – os homens querem tanto poder e querem ser
mais gananciosos, mas um dia, perderão tudo, devido à ganância;
 Tal como o Torpedo, também Santo António fazia tremer os homens, levando-os ao arrependimento e à
conversão.

Quatro-olhos:

 Antes dos louvores do peixe em causa, é instaurada a ideia de que chegou ao final os louvores aos peixes;
 O peixe Quatro-olhos “pregou”, de certa forma, Santo António – ensinamento por parte do peixe;
 Descrição do peixe: “…quatro olhos, em tudo cabais e perfeitos.”;
 António Vieira manifesta a sua admiração pelo peixe ter efetivamente quatro olhos. Esta é intensificada,
devido à localização onde ele e o peixe se encontram. – “Mais me admirei ainda considerando nesta
maravilha a circunstância do lugar.”;
 “Tantos instrumentos de vista a um bichinho do mar nas praias daquelas mesmas terras vastíssimas, onde
permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gente, há tantos séculos?”:
interrogação retórica que salienta o espanto provocado pelo contraste entre os peixes e as pessoas que
vivem no mesmo lugar – o peixe possui muitos “instrumentos de vista”, enquanto mero “bichinho do
mar”, tendo uma visão apurada; as pessoas partilham “terras vastíssimas”, vivendo na “cegueira” à
séculos, mostrando a incapacidade de visão/perceção e a falta de lucidez nas mesmas;
 O peixe possui dois olhos na parte superior, que olham diretamente para cima, de forma a se vigiar das
aves. Possui também dois olhos inferiores, que olham diretamente para baixo, de forma a se vigiar dos
peixes;
 É ensinado a Vieira de que a verdadeira consciência dos homens consiste em olhar continuamente para
cima e para baixo, distinguindo o Bem do Mal, e agindo com a noção de que há Céu e Inferno;
 “Oh que bem informara estes quatro olhos uma Alma racional, e que bem empregada fora neles, melhor
que em muitos homens!”: exclamação que intensifica a crítica à inconsciência dos homens;
 Crítica social: através do peixe, Vieira critica os homens que, ao contrário do peixe, são incapazes de
orientar a sua existência pelos princípios do Bem e de os diferenciar claramente do Mal. Critica, em
particular, os Cristãos, cuja inconsciência os impede de olhar diretamente para cima e agir, considerando
que existe Céu; e olhar diretamente para baixo, recordando-os de que existe Inferno.

Capítulo IV – Repreensões aos peixes


Peixes – comem-se uns aos outros:

 Os grandes comem os mais pequenos – “São o pão quotidiano dos grandes.”;


 Aquele que é o maior vai comer muitos pequenos.

Paralelismo:

 Os homens têm más e perversas cobiças; os peixes comem-se uns aos outros: analogia – prática comum
entre os peixes e os homens (comerem-se uns aos outros) – Santo Agostinho é aqui o argumento de
autoridade.

Vieira está incrédulo pelo facto de, se são todos irmãos e da mesma pátria, como podem os homens ser
tão gananciosos e corruptos, roubando-se uns aos outros, ao invés de serem solidários.

“Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não; não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os
matos, e para o Sertão? Para cá, para cá; para a Cidade é que haveis de olhar. (…) Vedes vós aquele bulir,
vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças, e cruzar as ruas; vedes aquele subir, e
descer as calçadas, vedes aquele entrar, e sair sem quietação, nem sossego?”

 “Olhai”, “Vedes”, “vedes”: formas verbais que apelam à observação e atenção, como forma de captar e
focar a atenção dos peixes para a mensagem que Vieira procura passar;
 “lá” – para a Terra;
 “cá” – para a Cidade;
 Enumeração que procura salientar o desassossego do ser humano visível nas expressões “bulir”, “subir” e
“descer”, “entrar” e “sair”;
 Estrutura paralelística: repetição do “vedes” no início da frase, que proporciona ritmo em termos de
leitura.

Dicotomias:

 Mar (peixes) ≠ Terra (homens);


 “cá” (“Cidade” – homens brancos) ≠ “lá” (“Sertão/ ”matos” – “tapuias”).

Os dois exemplos do defunto e do homem que está a ser perseguido e acusado de um crime reenviam
para a ganância e a crueldade humana. A repetição sistemática do verbo “comer” (de forma metafórica),
associadas à enumeração de ações procuram destacar estes comportamentos adotados (crueldade e
ganância), tornando-os mais expressivos e até visuais.

É transmitida a ideia de que, embora os Tapuias também se comem uns aos outros (neste caso, no
sentido literal), apenas se comem após a morte (como forma de “respeito”). Já os homens comem os
outros antes de sequer estes morrerem, ou caso após a morte, não esperam que o homem comido seja
comido pela terra:

 “…enfim, ainda ao pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.” – defunto não tem
tempo para “descansar em paz”, pois antes da terra (literal) o comer, a terra (homens) já o comeram, pelas
suas heranças e restantes recursos que este deixou;
 “… e o que anda em juízo ainda não está executado nem sentenciado, e já está comido.” – o homem, que
ainda não sofreu a sentença, está a ser comido pelos homens, pois será possível que este terá de pagar
algo ou fazer algo.

“O mar é muito largo, muito fértil, muito abundante, e só com o que bota às praias pode sustentar
grande parte dos que vivem dentro dele.” – embora tenham muitos recursos para aproveitar e explorar,
os homens preferem comer-se uns aos outros.

“Comerem-se uns animais aos outros é voracidade, e sevícia, e não estatuto da Natureza.” – reforço da
ideia de que os homens estão cheios de sede de ganância e são cruéis.

A segunda repreensão passa pela cegueira e ignorância dos homens, pois deixam-se enganar, sendo
mais fáceis de enganar do que os peixes. Este vício é exemplificado com um exemplo:
 Da mesma maneira que um peixe é apanhado pela cana de pesca, pelo simples fato de ter mordido a isca,
sendo apenas um simples pano, os homens cometem o mesmo erro de morder a isca.
 Mestre de Navio de Portugal vem com quatro panos e quatro sedas (restos das lojas). Todos mordem a
isca, e por isso, são enganados por tecido, pois ficam deslumbrados com os tecidos apresentados e porque
estes (roupa), supostamente, dá poder, estatuto e honra, deixando-se ludibriar e enganar.

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