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O valor simbólico do sal aparece, assim, ligado ao poder regenerador e purificador da palavra de Deus.

O verdadeiro sal é aquele que evita a corrupção e


aquele que não salga é inútil e deve ser desprezado, lançado fora para ser pisado por todos. O sal, neste sermão, são os pregadores que não cumprem
(muitos deles) a sua verdadeira função: salgar a terra.

“Vós sois o sal da terra” é o conceito predicável, isto é, a pequena frase retirada do Envangelho de S. Mateus, que servirá de tema/tese ao Sermão e, a partir
da qual, Vieira irá desenvolver a sua argumentação (início do exórdio):os pregadores são o sal, os homens a terra.

Conceito Predicável - " Vos estis sal terrae " ( Vós sois o sal da terra ) : processo retórico da oratória barroca que consiste na interpretação fantástica de uma
passagem da Sagrada Escritura, com base em associações de ideias próximas ou dissemelhantes.

" sois o sal da terra " -> pregadores: sal / homens: terra ( metafóricamente; veja-se que tal como o sal impede que os alimentos se estraguem, os pregadores
impedem a corrupção ). É indicada a corrupção tão presente nos homens ( " a terra se vê tão corrupta " ) e a presença também dos pregadores ( " tantos
nela que têm ofício de sal " ), então, com uma interrogação retórica, fica a estranheza para como será possível, qual " a causa desta corrupção ". Só há uma
de duas possibilidades : " Ou é porque o sal não salga " ( = " os pregadores não pregam a
verdadeira doutrina " ), ou seja, os pregadores não " salgam " porque não pregam a
verdadeira doutrina, ou então dizem uma coisa e fazem outra, ou porque se pregam a si e não
a Cristo; ou " porque a terra se não deixa salgar " ( = " e os ouvintes, sendo verdadeira a
doutrina que lhes dão, a não querem receber " ), ou seja, a terra não se deixa " salgar " porque
os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, não a querem receber, ou os ouvintes
querem antes imitar o que os pregadores fazem ao invés de o que dizem, ou os ouvintes, em
vez de servirem a Cristo, servem a seus apetites.

" Ainda mal " - constata que é verdade mas infelizmente.

O orador recorre, para atingir os seus objetivos, à construção anafórica e paralelística ( " ou é
porque / ou é porque " ); aos conectores disjuntivo e causal ( " ou...ou ", " porque " ); à
antítese quanto ao desdobramento das hipóteses : os pregadores não pregam / os ouvintes
não " ouvem " .
capítulo II - contempla os louvores aos peixes de carácter geral, que são os seguintes:

ouvem e não falam;

foram os primeiros seres que Deus criou (vós fostes os primeiros que Deus criou);

são melhores que os homens (e nas provisões (...) os primeiros nomeados foram os peixes);

existem em maior número (entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores);

revelam obediência (aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor);

revelam respeito e devoção (aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo António. (...) Os homens
perseguindo a António (...) e no mesmo tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio (...) o que
não entendiam.);

não se deixam domesticar (só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam)

Estas qualidades são, por antítese, os defeitos dos homens.


Capítulo III – contempla igualmente os louvores aos peixes, mas agora de carácter particular e apenas dos seguintes peixes:

do peixe de tobias: cura a cegueira [(...) sendo o pai do Tobias cego, aplicando-lhe o filho aos olhos um pequeno do fel, cobrou inteiramente a vista] e seu
coração expulsa os demónios [(...) tendo um demónio chamado Asmodeu morto sete maridos a Sara, casou com ela o mesmo Tobias; e queimando na casa
parte do coração, fugiu dali o demónio e nunca mais tornou];

da rémora: é pequena no corpo mas grande na força e no poder [“(...) se se pega ao leme de uma nau da índia (...) a prende e amarra mais que as mesmas
âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante.”; “Oh se houvera uma rémora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos perigos haveria
na vida, e que menos naufrágios no mundo!”; “(...) a virtude da rémora, a qual, pegada ao leme da nau, é freio da nau e leme do leme”];

do torpedo: faz descargas eléctricas para se defender e, consequentemente, faz passar o bom e a virgindade do Espírito Santo (Está o pescador com a cana
na mão, o anzol no fundo e a bóia sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais
admirável efeito? De maneira que, num momento, passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol, à linha, da linha à cana e da cana ao braço do
pescador);

do quatro-olhos: vê para cima e para baixo – dois olhos voltados para cima para vigiarem as aves e dois olhos voltados para baixo para vigiarem os peixes –
e representa a capacidade de distinguir o bem do mal (céu/inferno) ["Esta é a pregação que me fez aquele peixezinho, ensinando-me que, se tenho fé e uso
da razão, só devo olhar diretamente para cima, e só diretamente para baixo: para cima, considerando que há Céu, e para baixo, lembrando-me que há
Inferno"].

Todos estes louvores que Padre António Vieira faz aos peixes são antíteses aos defeitos dos homens, assim simbolizando os seus vícios.
- Capítulo IV - Repreensão dos peixes em geral (confirmação)- As repreensões aos peixes vão ser feitas como objetivo se não for de corrigir, ao menos que
seja, de perturbar.

- O grande defeito dos peixes é comerem-se uns aos outros. Este defeito agrava-se quando os grandes comem os pequenos, por isso, para alimentar um
grande são precisos muitos pequenos.

- Desde o início do sermão que o pregador prega aos peixes apontando-lhes os seus vícios e virtudes. Agora, ao falar-lhes dos vícios, aponta lhes como o
exemplo os vícios dos homens. Ora, considerando a alegoria do sermão os peixes são a representação dos homens que Vieira utiliza indiretamente para os
poder criticar - é interessante, nesta parte, a forma hábil como fala diretamente aos homens dos seus vícios (inversão peixes/homens).

- Sabendo que o grande defeito dos homens é comerem-se uns aos outros e tendo em conta que os colonos pensariam imediatamente nos rituais
antropófagos dos índios, o orador afirma que está a referir-se aos brancos, pois "muito mais se comem os brancos".

- Os defeitos apontados são a ignorância e a cegueira originadas pela riqueza.

- Os moradores do Maranhão são atraídos pelos comerciantes que vendem tecidos vindos de Portugal. Aliciados pela vaidade, endividam-se sendo todo o
trabalho de uma vida levado
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