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Sermão de santo António aos peixes

✓ Quem pregou? Padre António Vieira


✓ Onde? São Luís do Maranhão (Nordeste do Brasil)
✓ Quando? 13 de junho de 1634 (Século XVII) “três dias antes de embarcar ocultamente
para o reino, a procurar remédio da salvação dos índios.”
✓ Para quem? Ouvintes de São Luís do Maranhão (colonos e as suas famílias)
✓ Em que contexto? No contexto da luta de Vieira pela libertação dos Índios contra a
exploração dos clonos. A reação dos clonos foi tão negativa que ele teve que partir
clandestinamente para Lisboa pouco depois da sua pregação.

Estrutura Externa do sermão

Exórdio- Capítulo I- apresentação do tema que vai ser tratado no sermão, a partir do
conceito predicável (vós sois o sal da terra) e das ideias a defender e que, geralmente,
termina com uma breve oração, invocando a virgem. Esta parte reveste-se de grande
importância dado que é o primeiro passo para captar a atenção e benevolência dos
ouvintes.

Exposição e confirmação- Capítulos II a V- Retoma a explicitação do assunto, com uma


breve explicação da organização do discurso, desenvolvimento e enumeração dos
argumentos, contra-argumentos, seguidos de exemplos e/ou citações. A exposição situa-
se desde o início do capítulo II até ... Santo António abria a sua [boca] contra os que não
se queriam lavar., no capítulo III; e a confirmação começa a partir de Ah moradores do
Maranhão, enquanto eu vos pudera agora dizer neste caso! e termina no final do capítulo
V.

Peroração/ epílogo- capítulo VI - conclusão do raciocínio com destaque para os


argumentos mais importantes. Saliente-se que esta é a parte que a memória dos ouvintes
melhor retém, pelo que deverá conter os aspetos principais desenvolvidos no sermão, de
modo a deixar clara a mensagem veiculada e a levar os ouvintes a pôr em prática os seus
ensinamentos.

Capítulo I (Exórdio ou Introito)

Ideia sumária da matéria que vai ser tratada; baseia-se num conceito predicável ("Vos
estis sal terrae") extraído normalmente da Sagrada Escritura.
✓ Função do Sal: impedir a corrupção;
✓ Figura elogiada ao longo do excerto: Santo António, o protótipo de pregador (usou a
palavra para converter os homens);
✓ Decisão tomada pelo orador/ pregador: Quero hoje, à imitação de Santo António,
volta-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes."

O Padre António Vieira apresenta o conceito predicável, "Vós sois o sal da Terra" e
explica as razões pelas quais a terra está tão corrupta. Ou a culpa está no sal
(pregadores), ou na terra (ouvintes). Se a culpa está no sal, é porque os pregadores não
pregam a verdadeira doutrina, ou porque dizem uma coisa e fazem outra ou porque se
pregam a si e não a Cristo. Se a culpa está na terra, é porque os ouvintes não querem
receber a doutrina, ou antes imitam os pregadores e não o que eles dizem, ou porque
servem os seus apetites e não os de Cristo.

Alegoria: a alegoria estabelece dois planos; o da realidade e o do pensamento. Pode


apresentar-se sob a forma metafórica ou imagem, que associa uma realidade abstracta a
um termo metafórico concreto.

ALEGORIA DO SAL

Termo concreto: "sal" - conservar; impedir a corrupção → Terra

Termo abstrato: "pregadores e sua doutrina" - regenerar, purificar → Colonos

Os pregadores, ao pregarem a mensagem Evangélica têm, na terra, a mesma função


do sal, que consiste em evitar a corrupção. Assim, é criada uma analogia entre a função
regeneradora e purificadora da mensagem Evangélica dos pregadores e a função de
conservação do sal.

A estruturação do raciocínio de forma simétrica ("ou é porque o sal não salga (...) ou
porque a terra se não deixa salgar") facilita a compreensão da mensagem por parte do
auditório. O autor vai acrescentando sucessivas hipóteses em alternativa, imprimindo ao
sermão um ritmo binário que facilita a captação da mensagem por parte de que o ouve.

A interrogação retórica serve para manter o auditório "preso" ao discurso, pois implica
a mudança de tom, enquanto convoca a sua reflexão sobre o tema tratado.
O Padre António Vieira cita Cristo, tratando-se de um argumento de autoridade. O
reconhecido valor das palavras de Cristo confere credibilidade à argumentação de Vieira.

O pregador recorre ao exemplo de Santo António fazendo-lhe um panegírico, dado


que este se revelou persistente na vontade de pregar a palavra de Deus e conseguiu
vencer a hostilidade do auditório através de uma estratégia que o Padre António Vieira vai
utilizar, para ser eficaz e que consiste em pregar aos peixes (exemplos linha 35, (...)).

Ao longo do panegírico a Santo António, Padre António Vieira evidencia as inúmeras


qualidades deste Santo. / O orador descreve-o como um homem puro, "a que se não
pegou da Terra", um pregador virtuoso (" o zelo da glória divina que ardia naquele peito"),
profundamente persistente, já que, apesar das hostilidades que enfrentou na sua missão
de evangelização, nunca desistiu. / Em suma, Padre António Vieira demonstra claramente
a sua enorme admiração por Santo António, vendo-o como um modelo a seguir na sua
vida.

Ao longo do terceiro parágrafo (mais concretamente a partir da linha 30), é possível


constatar que o orador, numa tentativa de tornar o seu discurso mais vivo e interventivo,
recorre a diferentes processos que se traduzem em constantes mudanças de ritmo.

A primeira dessas situações de alteração do ritmo do discurso corresponde à


sucessão de frases curtas e interrogativas, visível no seguinte excerto: «Que faria logo?
Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia?». Desta forma, o pregador imprime ao discurso
um ritmo rápido e assegura uma interação constante com o auditório, que contribuem
para que este esteja atento às suas palavras.

Na segunda situação de mudança de ritmo, é utilizada uma simetria lexical e


morfossintática que confere ao discurso um ritmo binário: «Deixa as praças, vai-se às
praias; deixa a terra, vai-se ao mar». A mudança de ritmo concorre, mais uma vez, para
imprimir dinamismo/vivacidade ao discurso, não deixando que público ouvinte desvie a
atenção.

Por fim, o uso das frases exclamativas e das interjeições - «Oh maravilhas do
Altíssimo! Oh poderes do que criou o mar e a terra! - visa atingir o «coração» dos ouvintes,
apelando às suas emoções (" delectare" e "movere").

Invocação: o orador invoca o auxílio do divino para a exposição de ideias.


✓ Pedido de invocação: A Maria, a Senhora do mar ("Domina maris"). Por um lado,
porque assunto é "desusado", ou seja, não está habituado a falar para os peixes, logo
necessita de uma inspiração especial ("espero que me não falte com a costumada
graça"); em segundo lugar, porque o nome Maria significa "Senhora do mar", o que se
adequa ao facto de Vieira se encontrar junto do mar.

Capítulo II (Exposição)

Exposição - referência às obrigações do sal; indicação das virtudes dos peixes; crítica
aos homens.

✓ Preposição: até "E onde há bons, e maus, há que louvar, e que repreender." -
apresentação do assunto do sermão

✓ Início da alegoria: "Suposto isto, pare que procedamos com clareza (...)". A partir deste
capítulo todo o sermão é uma alegoria porque os peixes são m

etáfora dos Homens. As suas virtudes são, por contraste, metáforas dos defeitos
dos Homens e os seus vícios são diretamente metáfora dos defeitos dos homens. O
pregador fala aos peixes, mas o alvo é o Homem.

✓ Divisão: desde "Suposto isto" até "vossos vícios"

✓ Louvores em geral: a partir de "Começando pois pelos vossos louvores (...) " -
Exemplificação: "Ia Jonas pregador do mesmo Deus (...) "

PEIXES →”quietos e devotos” “atentos e suspensos” → LOUVOR

HOMENS →”furiosos e obstinados” → AFRONTA

As duas qualidades de ouvinte: ouvir e não falar. → Auditório ideal, pois estão muito
atentos, a acompanhar o que se está a dizer.

Retoma o conceito predicável - "Vos estis sal terrae"

As duas propriedades do sal - "conservar o são e preservá-lo para que se não corrompa."

As propriedades das pregações de Santo António:

✓ Louvar o bem ("para o conservar").


✓ Repreender o mal ("para preservar dele").
O Sermão aos peixes (e, obviamente, aos homens) será, pois, dividido em dois pontos:

✓ Louvar as qualidades;
✓ Repreender os vícios.

Interrogação retórica: trata-se de uma estratégia retórica ou de uma figura de estilo que
consiste na formulação de uma frase interrogativa, dirigida a um destinatário presente ou
ausente, consiste na formulação de uma frase interrogativa, dirigida a um destinatário
presente ou ausente, sem que se espere obter resposta. No «Sermão de Santo António»,
Vieira recorre a esta figura de estilo para, por um lado, tornar o discurso mais vivo e, por
outro, suscitar a curiosidade do auditório em relação ao assunto que vai expor.

Quiasmo: figura de estilo que consiste na disposição de quatro elementos, agrupados


dois a dois, segundo o esquema da letra "X", isto é, a segunda parte da construção
contém os mesmos elementos, mas pela ordem inversa de sucessão.

Homens: razão sem o uso

Peixes: Uso sem a razão

OS LOUVORES EM GERAL

As qualidades e as virtudes dos peixes:

✓ Ouvem e não falam;


✓ Foram os primeiros seres que Deus criou (" vós fostes os primeiros que Deus criou");
✓ São melhores que os homens (" e nas provisões (...) os primeiros nomeados foram os
peixes")
✓ Existem em maior número (" entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais
e os maiores'");
✓ Revelam obediência ("aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela
honra de vosso Criador e Senhor");
✓ Revelam respeito e devoção ao ouvirem a palavra de Deus, ("aquela ordem, quietação
e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo António. (...) Os
homens perseguindo a António (...) e no mesmo tempo os peixes (...) acudindo a sua
voz, atentos e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio (...) o que não
entendiam.");
✓ O seu "retiro" e afastamento dos homens (meditação que permite a proximidade com
Deus; paz e pureza de espírito, porque se afastam dos vícios mundanos);
✓ Não se deixam domesticar ("só eles entre todos os animais se não domam nem
domesticam")

Capítulo III (Louvores em particular) - Confirmação

1. PEIXE DE TOBIAS: simboliza a bondade, o poder purificador da palavra de Deus - o seu


fel era bom para sarar a cegueira e o coração para lançar fora os demónios. Os homens,
ao contrário de Tobias, não quiseram aproveitar o fel de Santo António para curar a
cegueira (falta de fé), nem o seu coração para se livrarem dos demónios limpeza das
almas), como fez Asmodeu.

2. RÉMORA: simboliza a força e o poder que a palavra do pregador tem para ser guia das
almas - pequeno no corpo, mas grande na força, pelo poder orientador e controlador.
Prende e amarra as naus, impedindo-as de avançar. Os homens não souberam dar valor
ao poder e à força da palavra (língua) de Santo António que domou a fúria das paixões
humanas (Soberba, Vingança, Cobiça, Sensualidade), impedindo as pessoas de caírem
nas mais variadas desgraças (naufrágios).

3. TORPEDO: simboliza o poder que a palavra de Deus tem de fazer tremer os pescadores
que pescam na terra tudo quanto apanham - a sua energia tem a capacidade de fazer
tremer a mão do pescador, impedindo-o de pescar. Os homens, "pescadores em terra",
não temem a Deus porque são ambiciosos e não se deixam converter ao caminho reto.
No entanto, 22 pescadores destes tremeram ouvindo as palavras de Santo António e
converteram-se.

4. QUATRO-OLHOS: simboliza a prudência que os cristãos devem ter, afastando os olhos


da vaidade terrena - dois olhos olham para cima (vigiam os predadores do ar) e os outros
dois para baixo (vigiam os predadores do mar), defendendo-se assim de diversos tipos de
males. Os homens esquecem-se que há Céu (em cima) e Inferno (em baixo).

CONCLUSÃO: 1ª os homens pescam muito e tremem pouco; 2ª "Se eu pregara aos


homens e tivera a língua de Santo António, eu os fizera tremer."; 3ª os peixes são o
sustento dos pobres e dos ricos; ajudam à abstinência nas quaresmas; sustentam as
Cartuxas e os Buçacos (ordens religiosas que recusavam a carne); com eles, Cristo
festejou a Páscoa; ajudam a ir ao Céu; multiplicam-se rapidamente (os que são
consumidos pelos pobres).

Trocadilho: "(...) que o Peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a
sua contra os que não se queriam lavar." (1.31) - 1° Tirar a sujidade; 2° Sentido metafórico/
moral: purificar.

Tom apelativo - MOVERE (convencer): quer levar a uma tomada de consciência por parte
do auditório; quer que eles estejam recetivos à mensagem Evangélica; despertar
emoções.

Comparação a Santo António: " Se alguma rémora houve na terra, foi a língua de Santo
António (...)." - "Língua" simboliza a palavra e o seu poder regenerador.

«Oh se houvera uma Rémora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos
perigos haveria na vida, e que menos naufrágios no mundo!» (ll. 41 e 42) - Na frase
transcrita, Padre António Vieira estabelece uma relação de associação (semelhança)
entre as virtudes da Rémora e as das pregações de Santo António. De facto, o orador
louva as virtudes deste "peixezinho" pequeno, mas cuja força e poder lhe permitem
prender e amarrar as naus, impedindo-as de avançar. Posteriormente, ao extrapolar estas
virtudes para o plano dos homens, o orador exprime a necessidade de haver na terra
alguém com a mesma força para guiar os homens para o bem evitando que estes
sucumbam às mais variadas desgraças, chegando à conclusão de que a língua de Santo
António foi "rémora da terra", pois este santo, com a pregação da doutrina, domou a fúria
das paixões humanas (a Soberba, ou seja, a Vaidade, a Vingança, a Cobiça, a
Sensualidade), evitando muitos "naufrágios"

Padre António Vieira ao citar S. Gregório Nazianzeno recorre a um argumento de


autoridade para legitimar/ reforçar o que o pregador afirma sobre Santo António.

Paralelismo anafórico → Pescar simbólico: " No mar, pescam as canas, na terra pescam
as varas (...), pescam as ginetas, pescam as bengalas, pescam os bastões e até os cetros
pescam, e pescam mais que todos, porque pescam Cidades e Reinos inteiros." →
Gradação crescente ou ascendente.

Varas → juízes / ginetas → militares / bengalas → comerciantes / bastões → nobres / cetros → reis
O Torpedo faz tremer o braço do pescador devido a uma descarga elétrica. Na terra, os
juízes, os militares, etc., "pescam" muito, usurpam/ tiram proveito dos outros, mas não
"tremem", ou seja, não manifestam qualquer arrependimento, logo não dão indícios de
pretenderem converter-se.

Comparação a Santo António: " Se eu pregara aos homens e tivera a língua de Santo
António, eu os fizera temer [arrependimento]. [EXEMPLO] Vinte e dois pescadores (...) e se
emendaram." (Il.67 a 72). - Repetição de "tremer"

Discurso maniqueísta (discurso que opõe dois polos; ex.: Céu vs. Inferno; bom vs. mau):
" (...) para cima, considerando que
há Céu, e para baixo, lembrando-
me que há Inferno. (Il. 97 e 98).
Padre António Vieira afirma, com
toda a humildade, ter aprendido
com o Quatro-olhos como orientar
as suas ações sabendo que há
Céu e que há Inferno, logo, com
prudência, deve defender-se dos
diferentes tipos de males e
praticar o bem.

Capítulo IV (Repreensão em geral)

✓ Os peixes comem-se uns aos outros;


✓ Os peixes grandes comem os pequenos;
✓ São ignorantes e cegos, deixando-se enganar facilmente por qualquer isco.

Nos dez primeiros parágrafos, que constituem o ponto alto deste sermão, aponta-se o
terrível defeito que os peixes/ homens têm de se comerem (explorarem) uns aos outros
devido à sua cobiça desmedida, o que prova a sua crueldade, a sua maldade, a sua
injustiça. Também se deixam enganar facilmente, movidos pela vaidade.

✓ Os grandes comem os pequenos (1° parágrafo)


✓ Andam sempre à procura de como se hão-de comer (2° parágrafo)
✓ Comem-se os mortos (comem-no, entre outros, os herdeiros, os testamenteiros, os
credores, a mulher, o coveiro, o padre) (3° parágrafo)
✓ Comem-se os vivos (p.ex., a um réu comem-no o carcereiro, o inquiridor, a
testemunha, o juiz) (4° parágrafo)

No último parágrafo, o orador tenta persuadir o auditório a mudar a sua conduta de


antropologia social (vício de se comerem uns aos outros), mostrando que é uma loucura
os homens deixarem-se ir atrás de dois pedaços de pano, por vaidade, gastando nisso
toda a sua vida. Aponta o exemplo de Santo António, o jovem nobre que deixou "as galas
do mundo", trocando-as pela "sarja e pelo burel e a correia pela corda".

Polissemia: "(...) ainda o pobre defunto o não comeu a terra [sentido literal - pretérito
perfeito do indicativo - ação pontual e perfectiva (concluída)], e já o tem comido toda a
terra [pessoas, sociedade - pretérito perfeito do conjuntivo - aspeto interativo (repetição
da ação)].

Sertão (selva) → "lá" → Tapuias (canibais)

Cidade → "cá" → brancos - antropofagia social

Os Homens não se comem apenas quando estão mortos, mas também quando estão
vivos. → "São piores os homens que os corvos." - os corvos são necrófagos da mesma
forma que os Homens são implacáveis.

Capítulo V- confirmação (Continuação) / repreensão em particular


Em contraponto aos defeitos dos peixes criticados, Padre António Vieira sublinha as
virtudes de Santo António.

Aforismo (espécie de provérbio que termina um ensinamento): "O muito roncar antes de
ocasião, e sinal de dormir nela." (1. 20)

Conselho: "Medi-vos, e logo vereis o quão pouco fundamento tendes de blasonar [gabar),
nem roncar." (1. 22)

Discurso exortativo (apelativo) e Conselho: "Chegai-vos embora aos grandes; mas não
de tal maneira pegados, que vos mateis por eles, nem morrais com eles." (Il. 91 e 92)

"A Natureza deu-te a água, tu não quiseste senão o ar, e eu já te vejo posto ao fogo." (1.
122)

Conselho: "Peixes, contente-se cada um com o seu elemento." (1. 123)

Aforismo (com rima e repetição): "Quem quer mais do que o que lhe convém, perde o que
quer e o que tem." (II. 126 e 127)

Paralelismo Anafórico: "Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco;
se está no lodo, faz-se pardo; e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente
costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra." (Il. 174 a 176)

Episódio do Polvo

Divisão em partes:

✓ Introdução: a aparência do polvo "O polvo [...] mansidão"' (ll. 166-169).


✓ Desenvolvimento: a realidade "E debaixo [...] pedra" (I. 169-176).
✓ Conclusão: a consequência "E daqui [..] fá-lo prisioneiro" (II. 176-178).
✓ Comparação: "Fizera [...] traidor" (lI. 178-184).

Caraterização do polvo:

✓ "aparência tão modesta" - aparenta simplicidade e inocência


✓ "hipocrisia tão santa" - apresenta um ar santo, mas encobre uma cruel realidade; tem
a máscara (em grego, hipócrita significava a representação do ator), o fingimento de
inofensivo. Esta expressão contém um paradoxo (oximoro) porque a hipocrisia
(fingimento) nunca é santa (da tensão entre duas características).

O mimetismo é usado para enganar: o polvo faz-se da cor do local ou dos objetos onde se
instala para atacar os inocentes à traição.

No camaleão, o mimetismo é um artifício de defesa contra os agressores, no polvo é um


artifício para atacar os peixes desacautelados (desprevenidos).

Lenda de Proteu (deidade marinha da mitologia grega) - Proteu metamorfoseava-se para


se defender de quem o perseguia; o polvo, ao contrário, usa essa qualidade para atacar.

A traição é o elemento comum entre Judas e o polvo: Judas apenas abraçou Cristo, outros
o prenderam; o polvo abraça e prende. Judas abraçou Cristo à luz das lanternas; o polvo
escurece-se, roubando a luz para que os outros peixes não vejam as suas cores. A traição
de Judas é de grau inferior à do polvo.

Aparência vs. Realidade → "parece" vs. "é" (II. 167 a 171)

"Mas ponde os olhos em António, vosso Pregador, e vereis nele o mais puro exemplar da
candura [honestidade], da sinceridade e da verdade, onde nunca houve dolo [engano],
fingimento ou engano. E sabei que para haver tudo isto em cada um de nós bastava
antigamente ser Português, não era necessário ser Santo". (Il.198 a 201) - As pessoas
antigamente eram mais humildes, integras, agora são o oposto.
Capítulo VI (Peroração - epílogo)

«Com esta advertência vos despido» - assim começa o último capítulo do Sermão de
Santo António que constitui a peroração, ou seja, a conclusão final.

Tópicos:

✓ A condição dos peixes é superior à dos outros animais


✓ A condição dos peixes é superior à do pregador Vieira
✓ Apelo aos ouvintes
✓ Hino de louvor final

Síntese

Três objetivos programáticos da eloquência:

✓ Docere: instruir o auditório, provando a veracidade das afirmações (o pregador


transmite informação, faz citações, fornece conceitos, apresenta argumentos);
✓ Delectare: agradar ao auditório através de uma argumentação "brilhante" (o pregador,
através do seu estilo muito próprio, torna os seus textos agradáveis e cativantes,
recorrendo a várias figuras de estilo, de forma a envolver emotivamente o auditório);
✓ Movere: convencer o auditório, levando-o a transformar a sua conduta em favor da
causa defendida (o pregador tenta cativar a atenção do auditório, seduzi-lo, fazê-lo
pensar e levá-lo a mudar comportamentos; para isso, recorre muitas vezes a um
discurso apelativo (exortativo), a exemplos, usa interrogações retóricas).

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