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Padre António foi um grande mestre da oratória e é essa condição que iremos explorar quando
se fala do seu estilo literário. A obra é um Sermão e obedece assim a três principais objetivos:
A estrutura do sermão é extremamente simples e é uma ajuda a quem está a analisar, é então
composta por:
. Exórdio (capítulo I) - Apresentação do tema e do motivo que o leva a fazer este sermão, é
uma forma de cativar o público. Este capítulo tem como objetivo principal cativar a audiência
ao mesmo tempo que introduz qual é a motivação para tal sermão.
Peroração (capitulo VI) - Conclusão do assunto desenvolvido. Esta última parte da obra utiliza
um desfecho forte e motivo para impressionar a audiência.
*Capítulo 1* (Exórdio)
Vieira inicia o sermão comparando os peixes, que não entendem a linguagem humana, aos
homens que ignoram os ensinamentos morais. Ele usa essa metáfora para criticar a sociedade
da época.
Padre António Vieira utiliza um jogo metafórico de forma a cumprir esta dupla tarefa
utilizando o conceito predicável:
Vendo que a "terra" despreza completamente as doutrinas que ele tenta passar, Vieira segue o
seu mentor, Santo António, e decide voltar-se de costas para a terra e direcionar o seu sermão
para o mar, para os peixes. Assim vai utilizar diferentes peixes para criticar e salientar as
atitudes que quer ver alteradas.
Concluindo, António Vieira dirige-se à "terra" com intuito de revelar as falhas do sistema
religioso e como forma de mudar mentalidades, vai utilizar estes tópicos para desenvolver a sua
tese
.
*Capítulo 2* (louvores em geral)
António Vieira relembra a importância dos seus sermões: louvar o bem ("para o conservar") e
repreender o mal ("para preservar dele"). Reaviva ainda que os peixes são de facto excelentes
ouvintes, pois ouvem atentamente e não falam. O orador vai então enumerar as qualidades e
virtudes dos peixes em geral em oposição aos defeitos dos homens:
● Qualidades dos Peixes: São obedientes; São excelentes ouvintes; Respeitam e prestam
culto à palavra de Deus; Estão isolados da humanidade, ou seja, não se deixam
corromper pela sociedade humana; São dos poucos animais que não se deixam
domesticar, mais uma vez distanciam-se dos Humanos.
Neste capítulo, Vieira destaca a corrupção na sociedade, usando a imagem do "peixe grande"
que devora os pequenos. Isso simboliza a exploração social e econômica que ocorre.
● O quatro-olhos: Devido à sua anatomia, o quatro olhos, consegue ter uma visão do céu
e da terra e assim proteger-se de outros peixes, mas também de aves.
○ Analogia: Existe aqui uma relação entre a forma como o peixe olha tanto para
cima e para baixo e entre a consciência que o ser humano tem de ter acerca do
Céu, mas também do Inferno. Os cristãos teriam de olhar para o Céu, mas
sempre com noção que existe o Inferno.
Esta crítica aparece invariavelmente associada aos homens do Maranhão, utilizando -os como
meio de comparação com os peixes: os homens "bonitos, ou os que o querem parecer" não são
diferentes dos peixes pois são levados pela aparência e vaidade das coisas, ficam então
"engasgados e presos, com dívidas de um ano para outro ano, de uma safra para outra safra, e lá
vai uma vida" à semelhança dos peixes.
Santo António surge sempre como exemplo a seguir, pois este "pescou muitos homens", mas
para um percurso de vida mais estável e digno.
● O Roncador: Peixe pequeno que emite um som bastante forte, como se de uma
autopromoção à procura de atenção se tratasse; "quem tem muita espada, tem pouca
lingua".
○ Analogia: Santo António, apesar de ser um mítico símbolo e um exemplo, nunca
se "gabou" nem se vangloriou de forma vaidosa da sua condição e capacidade.
*Capítulo 6* (peroração)
Padre António Vieira compara o modo como os peixes chegam a Deus, comparando-os a
outros animais. Enquanto os outros animais chegam vivos ao sacrifício os peixes geralmente já
chegam mortos.
Ainda existe uma comparação entre os peixes e o orador feito pelo mesmo:
● Embora os peixes sejam irracionais, não ofendem Deus tal como Vieira ofende, e ainda
cumprem a missão que Ele lhes deu, enquanto o orador não cumpriu: "Eu espero que O
hei de ver (...) não cesso de O ofender (...) Vós não haveis de ver a Deus, e podereis
aparecer diante dele muito confiadamente, porque o não ofendestes" .
● Realiza um hino de louvor: "Louvai, peixes a Deus", pois Deus fê-los numerosos, belos e
diversos; porque na água vivem e multiplicam-se e porque ainda escolheram os
pescadores (Apóstolos) para com Ele privarem.
● Como os peixes não são capazes de Glória nem de Graça, Vieira acaba o sermão num
tom irónico dizendo: "Como não fois capazes de Glória, nem de Graça, não acaba o
vosso Sermão em Graça e Glória".
DISCURSO FIGURATIVO
Para conferir vivacidade e para tornar o Sermão cativante e persuasivo, António Vieira, utiliza
vários recursos expressivos, entre tantos salientarei os fundamentais: