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Universidade Federal Fluminense

Instituto de Ciências Humanas e Filosofia - ICHF


Graduação em História

Aluno: Gabriel de Abreu Machado Gaspar

GUARINELLO, N. História Antiga. São Paulo. Editora Contexto, 2013.

Introdução - HISTÓRIA ANTIGA E MEMÓRIA SOCIAL


A História é um tipo de memória social, sendo esta fundamental para a criação da identidade
coletiva. Entretanto, nem toda identidade deriva da memória, mas a memória é a grande legitimadora das
identidades. O processo de memória é um esforço, um trabalho composto por lembranças que se apoia
nos lugares de memória. Há dois tipos de memórias: individuais e sociais, classificadas de acordo com os
tipos de lugares de memória. (p. 7-9)
A memória social é compartilhada por várias pessoas (um grupo, etnia, cidade, bairro, país) sendo
o Estado o maior e mais eficaz criador de memórias. O lugar crucial para essa criação e reprodução social
é a escola. Mas a História ensinada nas escolas sofreu uma grande mudança: passou de doutrinadora e
focada em grandes personagens históricos a uma disciplina resultante de diálogo entre educadores,
movimentos sociais e especialistas que produzem História científica. (p. 10)
A História científica tem caráter importante na produção de memória social no mundo
contemporâneo, sendo a principal fonte de legitimidade deste tipo de memória porque é científica. Ela é
científica pois busca um conhecimento sobre os acontecimentos e ações humanas no tempo e tentando
interpretá-los por meio de vestígios (textos, objetos, estruturas). Sendo assim, não produz a verdade sobre
o passado, mas um conhecimento científico que pode ser debatido nestes termos. Contudo, este a História
científica tem seus limites, pois algumas realidades do passado não deixaram vestígios e muitos desses
vestígios apresentam o ponto de vista de um grupo. (p. 10-11)
Como as outras ciências, a História se transforma e evolui ao longo do tempo. Para isso, a História
vem passando por uma reformulação de seu pressupostos e a nova História Antiga é peça chave dessa
mudança.O impulso para essa inovação vem da globalização do planeta, que exige um estudo das outras
Histórias, aquelas não europeias, fundamentais para compreensão do mundo contemporâneo e de seus
problemas. (p. 12)
A História Antiga se limita a estudar os primórdios, as origens do Ocidente, logo, se dedica a um
trabalho de memória e de produção de identidade. E tem esse nome pois é início da sequência: História
Medieval, Moderna e Contemporânea. Assim como essa divisão é questionada, a da História Antiga
também é, pois a História da Grécia não acabou quando a de Roma começou. Por isso, os historiadores
buscam novas unidades de estudos com o objetivo de romper com essas sequências históricas devido ao
seu caráter anacrônico. Desta forma, História Antiga se distancia cada vez mais com a ideia de "início" da
História, e passa a ser encarada como a História de uma parte específica do planeta, e nem por isso,
menos importante para a compreensão da atualidade. (p. 12-15)

Capítulo I - A HISTÓRIA DA HISTÓRIA ANTIGA


A partir de pensadores, artistas e curiosos que leram os escritos "antigos" (do que o autor chama
de "trabalho morto"), difundiu-se a ideia de que existiu um mundo "antigo", com cultura rica e singular, livre
do domínio da Igreja, portanto, laica. Esse processo, erroneamente chamado de Renascimento, foi uma
reconstrução de memória com o objetivo de construção de uma nova identidade, para romper com a
anterior, medieval. Entretanto, não havia ainda uma História ciência, esta somente se firma entre os
séculos XVII XVIII. (p. 18-19)
O surgimento da História científica ocorreu paralelamente ao nascimento da História Antiga,
entretanto, esta última se caracterizou como uma História de nações, visto que neste período a Europa se
encontrava em processo de centralização e formação dos Estados Nacionais Modernos, o que fez com
que os historiadores da Antiguidade buscassem Estados e nações na Grécia e em Roma, porém nunca
houve um Estado grego e nem romano. (p. 20-21)
Na segunda metade do século XIX, a História Antiga recebeu um novo impulso, devido ao
surgimento da Antropologia, da Sociologia e da Arqueologia e da História Natural. Com a publicação de A
Origem das Espécies de Darwin, a História passou a ser vista por etapas da evolução, o que colocou a
História Antiga como o início da linha progressiva de civilização. (p. 21-23)
O novo modo de pensar a História Antiga foi marcado pelo livro A Cidade Antiga, de Fustel de
Coulanges, que tratava da cidade histórica greco-romana. Além deste autor, Karl Marx e Max Weber
tiveram grande influência na segunda metade do século XX. Marx apresentou em Formas que precedem a
exploração capitalista uma elabora visão da Antiguidade, com uma contraposição entre a forma da cidade
greco-romana e a forma asiática e germânica. Weber também centrou suas interpretações em torno da
cidade antiga em As causas do declínio da cultura antiga e Relações agrárias na antiguidade.(p. 23-26)
Ainda que com uma visão de mundo inevitável para a época, a historiografia reformulou por
completo a visão do mundo antigo como um período diferente do presente e que deveria ser estudado
com seus próprios conceitos, sendo o principal o de cidade-antiga. (p. 27)

Capítulo II - A HISTÓRIA ANTIGA CONTEMPORÂNEA


A História Antiga permanece dividida em três partes: Oriente Próximo, Grécia e Roma, mas durante
o século XX sofreu uma ampla expansão e transformação devido as grandes transformações políticas e
sociais deste período, dentre eles as Grandes Guerras, a Revolução Russa, o fim do Comunismo e a,
recentemente, a globalização.(p. 29-30)
Nesse contexto, Michael Rostovtzev publica, em 1926, História social e econômica do Império
Romano, obra com amplitude de conhecimento ainda não ultrapassada, mas com teorias superadas. A
grande limitação deste autor era explicar o declínio do Império Romano, que ele atribuiu a três fatores:
acumulação de capitais, luta de classes e revolução. Este modelo de mudança histórica é associado à
Revolução Russa, mas o livro é considerado um marco da divisão Modernista. (p. 30-32)
A Revolução Russa possibilitou o surgimento de uma historiografia marxista da antiguidade que
buscava reinterpretar o mundo antigo a partir de três linhas de pensamento: a importância dos meios de
produção, as lutas de classe na cidade antiga e o desenvolvimento econômico na Itália escravista.
Contudo, enfrentaram problemas ao explicar as causas das mudanças históricas, que deveriam ser
semelhantes ao conflito marxista: a luta de classes. O grande problema era encontrar os correspondentes
dessas classes na cidade antiga. A principal crítica à historiografia marxista é o fato de ser
excessivamente teórica e a utilização dos documentos somente para comprovar uma teoria pressuposta.
Com o fim da URSS e queda do muro de Berlim, a historiografia marxista desapareceu*. (p. 32-35)
Em contexto semelhante, o estadunidense Moses Finley publica A Economia Antiga, no qual unifica
as Histórias de Grécia e Roma, formando um mundo antigo, greco-romano com cidades no espaço
geográfico do Mediterrâneo, o espaço ocupado pelo Império Romano em sua máxima extensão. Sua obra
foi considerada um marco na historiografia, utilizando da teoria social de Weber e Marx, iniciou uma
mudança na forma de analisar fontes e debater o passado. Mas alguns termos como capitalismo,
burguesia e classes, utilizados por Moses Finley, deixaram de ser utilizados pelos historiadores da
Antiguidade. (p. 35-37)
Na segunda metade do século XX, se destaca o francês Jean Pierre Vernant, que se apoiava na
Psicologia Social, Antropologia e Sociologia das Religiões. Este historiador considerava a religião grega
como forma de expressão de todas as dimensões da vida grega e uma forma de encarar o mundo que se
expressava na economia, na política, na psicologia e nas relações sociais do homem grego. (p. 37-38)
A partir de 1970, são percebidas mudanças mais profundas na História Antiga. A Europa deixou de
ser vista como centro do mundo, sua racionalidade e ciência foram contestadas. Iniciou-se um combate a
noção de superioridade cultural e crítica a exclusão do Oriente nas narrativas históricas. (p. 38-39)
Mas foi a partir de 1980 que as Ciências Humanas sofreram uma grande reviravolta cultural
(cultural turn) que possibilitou a interpretação dos fatos por uma ótica cultural. Essa mudança atingiu a
História Antiga e a transformou em uma História Cultural, com substituição do conceito de classe pelo de
identidade e uma ruptura antigas categorias da História Antiga. A idéia de uma unidade cultural dos gregos
não também foi questionada, juntamente com a existência de uma História da Grécia unificada. Este
processo ocorreu de forma semelhante com a História de Roma, que foi ampliada e valorizou as
alterações sofridas pela identidade romana. Assim, a História Antiga passa a enfatizar as transformações
culturais e a valorizar as identidades locais. (p. 39-44)
Contudo, com a dissolução das antigas unidades históricas, os historiadores e arqueólogos
precisaram buscar outras maneiras de inserir seus estudos específicos em um contexto amplo. Para
englobar essas pesquisas surgiu o termo de "estudos mediterrâneos", que substituiu a unidade por um
espaço geográfico: o Mediterrâneo. (p.44-46).

Capítulo III - O MEDITERRÂNEO: PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO


O espaço do Mediterrâneo sofreu um grande processo de integração durante os séculos X a. C. e
V d. C., contudo determinar este espaço não é uma tarefa fácil. O Mediterrâneo é descrito por Peregrine
Horden e Nicholas Purcell sob a ótica da ecologia história, buscando entender como o mar influenciou as
relações entre os povos. Assim, o objeto do estudo do Mediterrâneo não é o mar, mas as terras
influenciadas por ele, onde vivem os diferentes povos e facilitam sua integração, visto que a comunicação
por mar é mais rápida que a por terra. Segundo esses autores, existe uma "conectividade" no mar, ou seja,
as comunidades do Mediterrâneo viviam em uma rede de conexões, através de trocas comerciais e
culturais. (p. 47-52)
Alguns historiadores não concordam com essa ideia e defendem que "a economia antiga
permaneceu circunscrita e local" (GUARINELLO, 2013, p. 53). Mas ideia de um mundo antigo isolado é
refutada pela documentação, visto que as regiões estabeleceram vínculos cada vez mais fortes que se
acumularam o longo dos séculos., ao contrário do proposto por F. Braudel, que via a longa duração como
um período com poucas ou nenhuma mudanças, logo, é importante a aplicação do conceito de
"mediterranização" desenvolvido por Ian Morris, que é um processo histórico que conectou e integrou os
povos que viviam às margens do Mar Mediterrâneo, ou seja, é o crescente processo de articulação de
fronteiras internas da comunidade com as externas, que gera a produção, a longo prazo, de sistemas e
sociais mais complexas e sofisticadas. Mas é necessário entende-lo como cumulativo e multicausal, pois
deveu-se tanto a circunstâncias históricas quanto à estruturas; e que confere uma ampliação de fronteiras
e uma unidade mais extensa. (p. 52-57)

Capítulo IV - NAVEGAÇÕES
Com o fim dos palácios micênicos e desaparecimento do sistema de escrita, há uma ruptura na
documentação acerca do Mar Mediterrâneo como também uma diminuição de vestígios materiais do
período entre os séculos XII e VIII a. C. Contudo, é possível perceber, a partir do século X a. C., o
aprimoramento e crescimento da produção de ferro que mudará a vida no Mediterrâneo nos séculos
seguintes. Essa novidade não só influenciou o Mediterrâneo Ocidental, como também o Oriental. Na costa
da Síria e da Palestina viu-se, além o desenvolvimento de artesanato de objetos de ferro, o uso da escrita
alfabética e dos barcos de grande tonelagem. "Ambas têm relação direta com a retomada das
comunicações por mar" (GUARINELLO, 2013, p. 62). Assim, a partir do século IX a. C., o Mediterrâneo
tornou-se cheio de comerciantes, navegadores e piratas, ou seja, a retomada os contatos neste mar,
acompanhada do estabelecimento de pontos de comércio (em grego, emporia) ou até de colônias (em
grego, apoikia). (p. 59-62)
A abertura do Mediterrâneo gerou um intercâmbio entre comunidades e suas elites, que fez circular
ideias, homens, crenças, e técnicas, além do consumo de produtos como vinho e azeite pelas elites locais.
A produção de azeite e de vinho se expandiu em direção a todas as costas do mar, acompanhada de
técnicas artesanais e artísticas. (p. 65-67)
O processo de colonização (apoikia), a partir do século VIII a. C., tinha como objetivo não somente
o comércio, mas também o estabelecimento de assentamentos estáveis e produção agrícola. As colônias
sempre foram fundadas no litoral, mantendo constante contato com o mar. Quanto as causas da
colonização grega, historiadores e arqueólogos se dividem entre: aumento populacional, conflitos sociais
entre ricos e camponeses e conflitos políticos entre aristocratas. (p. 67-70)
Durante o período das navegações ocorriam trocas culturais amplas entre comunidades distintas e
distantes, mas aproximadas pelo mar. Além do estabelecimento de rotas e contatos preferenciais, tanto
marítimos, quanto terrestres. Acompanhado do fortalecimento das identidades regionais que originarão
identidades amplas, chamadas de étnicas: os etruscos, os latinos, os gregos, os iberos, os celtas, os
judeus e muitos outros. (p.71-73)

Capítulo V - CIDADES-ESTADOS
A partir do século XIII a. C. observamos o surgimento das cidades-estados ou pólis. Essa forma de
organização política e social será predominante na região do Mediterrâneo nos séculos seguintes.
Segundo o autor, "A pólis surgiu no contexto de um mundo já conectado" (GUARINELLO, 2013, p. 78)* e
representou um fechamento das fronteiras externas a seu território e reelaboração das fronteiras internas
entre seus habitantes. Além disso, iniciou-se a construção de grandes templos destinados aos deuses
específicos de cada cidade. A construção desses templos era coletiva e isso demonstra que essas
comunidades desenvolveram uma organização do trabalho coletivo. Assim, a religião surgiu como um
vínculo comunitário e que garantia à comunidade sua integridade, seu território e sua identidade territorial,
fechada e citadina. (p. 77-81)
Uma das grandes novidades que marcou a construção dessas cidades-estados foi a criação de
espaços públicos como a ágora e o fórum, que eram independentes de qualquer instituição dominante.
Contudo este processo não se deu de forma idêntica e simultânea em todos os lugares ao redor do
Mediterrâneo, cidades-estados como Atenas, Roma, Siracusa, Sicília, Cartago e Esparta observaram
exceções. Ainda assim é possível estabelecer semelhanças entre as pólis: a maioria tinha pequenas
dimensões (entre 1.000 e 2.000 habitantes), a existência de um espaço público, articulação de algumas
instituições (conselhos, assembleias e tribunais) e a extensão do direito à propriedade privada para todos
os habitantes. As poleis foram o elemento mais dinâmico dentre as formas de organização social que
surgiram no Mediterrâneo, pois representaram uma reestruturação das relações entre os habitantes,
originando o conceito de cidadania e a separação entre cidadãos e não-cidadãos. (p. 81-89)
A cunhagem e uso da moeda se difundiu lentamente pelo Mediterrâneo a partir da criação das
poleis e representava "a garantia de um poder estatal do peso do metal amoedado" (GUARINELLO, 2013,
p. 90). Muitas cidades-estados passaram a cunhar moedas como forma de reafirmar sua identidade pois
indicava o poder de uma comunidade em estabelecer padrões e medir o peso e a pureza do metal
amoedado. Além desse, há outro processo ligado à criação das poleis: a escravidão. A liberdade dos
cidadãos estimulou a introdução de escravos estrangeiros e devido a conexão do Mediterrâneo
desenvolveu-se um tráfico de escravos, que se tornaram essenciais para a produção primária nesta
região. A polis influenciou a construção de identidades coletivas e o surgimento da identidade política e
social. Assim, ser grego, latino ou etrusco era uma nova fronteira: a dimensão cultural. Os gregos
desenvolveram a cultura letrada e, assim, o livro. A partir dele, surgiram a literatura e a escola, que não
era aberta a todos, pois apenas os ricos podiam pagar pela educação.(p. 89-93)
O surgimento da pólis representou "uma reconfiguração de imenso significado nos processos de
integração do Mediterrâneo" (GUARINELLO, 2013, p. 94) e representou a configuração de "O Mundo das
Pólis" com certa homogeneidade, mas que não era totalmente semelhante. O estabelecimento dos
contatos e conexões entre as regiões criou um cenário que será palco de disputas por controle e conflitos
pelo poder. (p. 94-95)

Capítulo VI - HEGEMONIAS
Durante período denominado "Hegemonias" (séculos V a. C. a II a. C.) surgiram grandes centros
de poder no e sobre o mediterrâneo com intensificação das interações ao longo do Mediterrâneo. O
conflito desses grandes centros de poder, como Corinto, Atenas e Esparta, reconfigurou as fronteiras e
aumentou a complexidade social da região (p. 97-99)
Da Mesopotâmia, ergueu-se o Império Persa que, em processo de expansão, criaram uma cultura
rica, se apropriando de elementos dos povos conquistados. No fim do século VI a. C. cidades gregas da
costa da Anatólia já estavam sob domínio persa, que limitavam a expansão das poleis. Os persas também
formaram uma marinha poderosa e assumiram posição de domínio sobre as costas do Mediterrâneo
Oriental e do Golfo Pérsico (p. 99-102)
Os séculos a partir do V a. C. foram de guerra contínua ao redor de todo o Mediterrâneo, pois os
centros maiores exerciam pressão e poder sobre os menores, pois o poder acarretava "o prestígio, a
estabilidade política interna, o controle de vastas áreas" (GUARINELLO, 2013, p. 103). O domínio persa
sobre o Mediterrâneo terminou após conflitos com Esparta e Atenas. Atenas foi a que mais se beneficiou
com a derrota persa e passou a ocupar uma posição proeminente na região. Esta pólis garantia a todos os
cidadãos participação política nas atividades do governo, mas não admitia mulheres, estrangeiros e
escravos nas decisões. Atenas era uma cidade rica, exportadora de cerâmica de luxo e cujo principal
produto agrícola era o azeite. Assim, a cidade se tornou um ponto importante nas conexões do
mediterrâneo e seu poder favoreceu a cunhagem de moedas, imposição de padrões monetários, aumento
da escravidão e a transformação em centro cultural da Grécia. Contudo, a Guerra do Peloponeso foi uma
luta pelo poder e competição entre cidades (Atenas, Esparta, Corinto) que abalou o Mediterrâneo durante
a metade do século V a. C. mas que, de um modo gerou, acelerou a integração na região, pois promovia
alianças e a busca por maiores recursos, eficiência produtiva e tecnologia. A derrota de Atenas (404 a. C.)
não representou o fim da polis e nem das guerras. (p. 102-108)
Dentre as cidades hegemônicas no Mediterrâneo Ocidental destacam-se Cartago e Siracusa, que
se tornaram "polos de conexões comerciais, políticas e culturais e disputaram a dominação sobre o mar e
suas terras." (GUARINELLO, 2013, p. 111). Mas, a luta por hegemonia centrou-se na disputa entre duas
cidades: Cartago e Roma. A região da Itália era habitada por povos distintos (etruscos, umbros, latinos,
campanos, saminitas, entre outros) e se tornou um lugar de trocas culturais e tecnológicas, de comércio e
de exploração de mão de obra. Roma, entre os séculos VI e V a. C., era marcada pela urbanização,
exploração da população camponesa pelas elites e grande abertura a influências externas. Essa pólis
norteou um processo de colonização interna na península, criando dezenas de cidades com base no direto
romano e o latim tornou-se a língua oficial dos itálicos. Essa unidade da Itália manteve-se por séculos,
resistindo a duas guerras contra Cartago e garantindo a estabilidade política das cidades. (p. 110-118)
No Oriente, o Reino da Macedônia conseguira a hegemonia sobre a Grégia e se organizou de
modo distinto das poleis: a unificação em um reino, que organizou os recursos humanos e metais
preciosos abundantes. Além disso, essa era uma terra de cavalos formava uma excelente cavalaria, como
também de guerreiros. Essa hegemonia conquistada pelo Rei Felipe e continuada por Alexandre, O
Grande, não durou após a morte deste último e gerou a fragmentação do Império em reinos. Esse reinos
se estendiam sobre áreas distintas e possuíam um rei, que cobrava impostos e organizava os territórios
por tribos, aldeias, etnias e cidades, mas que não possuíam um centro de poder territorial, com exceção
do Egito, que manteve o poder numa pólis específica: Alexandria. Durante este período de reinos, ocorreu
uma "helenização" do Oriente, uma expansão da cultura grega, mas com a manutenção das línguas locais.
Esse período foi marcado por transformações significativas nas artes e na estrutura internas das poleis,
com uma aumento da posição dominante e proeminente da aristocracia. (p. 119-126)

Capítulo VII - O IMPERIALISMO ROMANO


A Itália unificada era "um mundo de cidades, lideradas por uma delas, Roma, frente a um mundo de
reinos" (GUARINELLO, 2013, p. 128) e exerceu uma força significativa dentro do Mediterrâneo, pois
possuía o mais poderoso exército e dispunha de grandes recursos humanos. Roma, iniciou seu
Imperialismo com a conquista de Sicília (fim do século III a. C.), ao fim da guerra com os cartagineses e
esta se tornou a primeira província romana. Durante cerca de 200 anos de guerras, os romanos
derrotaram os reinos helenísticos no Mediterrâneo Oriental, conquistaram o sul da Gália, mas foi na
Península Ibérica que ela enfrentou dificuldades, devido a grande fragmentação política desta região. Essa
expansão não se tratava apenas de conquista territorial, mas sim de controle sobre as redes de
comunicação e conexão na região, transformando a Itália no "maior centro concentrador das riquezas
produzidas em torno do Mediterrâneo" (GUARINELLO, 2013, p. 129). (p. 127-130)
Com essa expansão, a Itália conheceu um aumento significativo na produção e comércio
artesanais, além do surgimento de uma agricultura especializada em bens valiosos, como o vinho. Além
disso, os italianos passaram a importar grandes quantidades de mão de obra escrava, e esta chegou a
constituir, no século I a. C., cerca de 30% da população. A riqueza monetária favoreceu o desenvolvimento
de bancos, que admitiam depósitos, transferências, empréstimos a juros e troca de moedas. Contudo,
essa expansão ocasionou "rachaduras no próprio centro imperial: nos conflitos entre ricos e pobres, entre
devedores e credores, entre romanos e itálicos e entre generais rivais e seus respectivos exérictos"
(GUARINELLO, 2013, p. 129). Esses conflitos originaram uma Guerra Civil, que só findou com a
instauração do Império Romano. Essa Guerra Civil se alastrou por quase todo o Mediterrâneo: da
península ibérica e o norte da África à Grécia e o Mediterrâneo oriental. O fim dessa guerra, trouxe a paz
para todo a extensão do Império. (p. 130-137)

Capítulo VIII - O IMPÉRIO


O Império Romano impôs seu poder sobre as redes de integração criadas nos séculos anteriores e
criou novas fronteiras, conexões entre populações e construiu uma unidade ligada à figura do Imperador.
O poder do Monarca era hereditário e este era o mais importante dos senadores. Os primeiros cem anos
do Império foram marcados por mudanças e adaptações, dentre elas: a perda do poder legislativo da
plebe de Roma e a organização de um exército, com soldados pagos e com direito a aposentadoria. As
cidades constituíam "a principal base política de sustentação do Império" (GUARINELLO, 2013, p. 142)
pois a partir delas era exercido o poder e, principalmente, a cobrança de impostos. Roma continuava a ser
o centro de poder, mas agora de um poder imperial. A fundação do Império exigiu a criação de uma
identidade romana e a produção de uma cultura letrada latina teve papel fundamental neste processo, pois
narrava a história da cidade, de seus feitos e de seus exemplos. Contudo, no Oriente Grego as elites
continuaram a usar o grego como forma de afirmar sua identidade helênica; desta maneira, coexistiram
duas áreas linguísticas: grego no oriente e latim no ocidente. Outrossim, a unificação do Império não
conheceu uma unificação social e nem inclusão, a sociedade continuava hierarquizada. (p. 139-145)
Não é possível afirmar que o Império estabeleceu uma economia unificada, mas tampouco se
tratou de economias isoladas. O Estado Romano foi fundamental no processo de unificação pois
reorganizou administração do território imperial, visto que dividiu seu território em províncias e se
desenvolveu em torno de grandes metrópoles: Atenas, Éfeso, Antioquia, Cartago e Alexandria. Além disso,
todas as províncias pagavam impostos e este era um "vínculo que integrava todo o Império"
(GUARINELLO., 2013, p. 151). A partir do século II d. C. o Império sofreu uma ampliação política com o
Senado constituído pelos membros mais importantes das elites provinciais e este século é considerado o
auge do acordo entre Império, elites urbanas e populações das cidades. Contudo, não é possível
determinar o grau de integração do Império, visto que este nunca foi homogêneo e era possível ser
romano de várias maneiras, em aspectos como habitações, vestuários e religião. O século III d. C. "foi
marcado pela pressão constante nas fronteiras, sobretudo na oriental, e pela instabilidade política no
centro do império" (GUARINELLO., 2013, p. 159), conheceu uma sucessão de imperadores frágeis, sofreu
divisões em reinados e uma perda de poder do Senado e da cidade de Roma. A crise política do século III
não significou uma crise econômica, pois algumas regiões, como o norte da África e a Síria, que
floresceram com a venda de cerâmicas e azeite. (p. 149-160)

Capítulo IX - ANTIGUIDADE TARDIA


Os séculos IV e V d. C. são denominados "Antiguidade Tardia" e é o período da grande
transformação do Estado Imperial Romano iniciada pelo Imperador Diocleciano em 284 d. C.. Esta reforma
dividiu o Império em quatro áreas distintas fazendo com que o poder imperial se concentrasse nas mãos
dos militares e da burocracia, a tentativa de unificar a economia com a publicação do Edito Sobre os
Preços, que estabelecia o preço máximo de produtos, além da perseguição aos cristãos e maniqueus, que
foi anulada pelo seu sucessor. Constantino reunificou o Império, fundou uma nova capital: Constantinopla
e apoiou e autorizou o culto cristão. Também no século IV d. C. foi constituída uma burocracia sólida e
independente dos proprietários de terra. Além disso, o ouro foi instituído como metal referência, mantendo
seu poder de compra e riqueza. Ao longo destes séculos, o Império conheceu uma "cristianização" da
cultura e as igrejas passou a assumir papéis cívicos e se tornaram centros de reunião nas comunidades,
mas é importante ressaltar que esta não constituía uma unidade. Assim, neste período, o Império
conheceu uma administração uniforme, mas com tensões entre a administração central e as elites locais,
que se acentuaram no século IV d. C. (p. 161-167)
A implantação de um único credo por todo o Império gerou diversos conflitos e perseguição aos
cristãos, mas desta vez empreendidas por eles mesmos. Católicos perseguiam donatistas, arianos e
monofisitas e até mesmo os Patriarcas de Alexandria, Antioquia e Constantinopla lutavam pela primazia.
Em 378 d. C., o imperador Valente foi derrotado pelos visigodos e a partir desta data, o Império convivou
com uma população estrangeira, como vândalos, suevos e alanos. A migração dos povos e imigração de
vândalos, que tomaram Cartago (norte da África) resultou numa alteração nos contatos e conexões do
Império, pois eles passaram a "reconstruir-se como jogos de interesses entre regiões distintas"
(GUARINELLO, 2013, p. 170) e Roma perdeu, aos poucos, sua posição de metrópole.
Assim, podemos perceber nessa "Antiguidade Tardia" a introdução de novos povos e rompimentos
da fronteira da "barbárie", a permanência do Mediterrâneo e de suas cidades como espaço de trocas mas
com o surgimento de novas redes e de novos caminhos de integração nessa região. Contudo, não é
possível determinar um fim da História Antiga e nem mesmo considerar a "História Medieval", aprendida
na escola, como uma continuação da "História Antiga", visto que esta última é um recorte e focado na
civilização ocidental.

Conclusão
Já não é possível caracterizar a História Antiga como o início da História Universal visto que as
realizações de outras partes do planeta também confluem para uma História Comum. O processo de
globalização é vital para enxergarmos esta História, visto que ele diminui distâncias e facilita a integração
entre os povos. Contudo, esta globalização não surgiu de repente e é um produto dos processos de
integração anteriores, dos milênios passados. Assim, o mediterrâneo é capaz de nos propor questões
importantes e que nos são contemporâneas

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