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Sistema de Tirolesa no Resgate Vertical

Por: Anderson Lima

Por: Anderson Lima


Tirolesa no Resgate Vertical
Você deve estar se perguntando ué, tirolesa não é uma atividade de turismo e
aventura, um sistema de cabo de aço onde as pessoas usam um cinto conectado
ao sistema, adrenalina total? SIMMMM... Temos este tipo de tirolesa, e temos o
sistema de tirolesa usado em operações de resgate vertical.

Vamos lá...
Um sistema de tirolesa para resgate pode ser utilizado tanto no meio urbano
ou industrial, montar uma tirolesa não é um bicho de sete cabeças, mas exige um
bom conhecimento técnico da equipe, vou tentar explicar de forma simples e
objetiva.
Consiste em um sistema suspenso entre dois pontos, podendo ser com cordas
ou cabos de aço, sistema utilizado para transportar equipamentos ou pessoas
entre os dois pontos podendo ser horizontal, quando os dois pontos se encontram
na mesma altura ou inclinada quando um ponto está elevado em relação ao outro.
Temos a tirolesa simples e a tirolesa para operações de resgate. Como assim?
Vamos ver a diferença entre uma tirolesa simples e uma para resgate.

Tirolesa simples: Não deve ser usada em situação de resgate, não é indicada para
carga de duas pessoas, usada somente para transposição de pessoas ou
equipamentos, geralmente esse tipo de tirolesa é montada somente uma corda.

Ilustração: internet editada por Anderson lima

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Tirolesa no Resgate Vertical

Tirolesa de resgate - (carga de duas pessoas)

Segue o mesmo padrão da tirolesa simples, a diferença é que na tirolesa


simples se usa uma corda e na de resgate usamos duas cordas, uma principal e
uma de backup, e também outra corda sendo a corda de transposição, ou tração e
retenção, podendo ser montada em linha paralela ou em serie, uma corda acima
da outra. Lembrando que devemos usar sempre cordas semi-estáticas, cordas
dinâmicas pelo seu coeficiente de elasticidade oferece risco, prejudicando a
operação.

Ilustração: internet editada por Anderson lima

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Tirolesa no Resgate Vertical
Existe uma tirolesa com uma complexidade diferenciada das demais conhecida
como Kootenay.

Recebe este nome onde foi criada Parque Nacional de Kootenay nas
montanhas do Canadá. Esta tirolesa permite que o socorrista vítima ou ambos,
sejam movimentados na horizontal e também na vertical. A desvantagem deste
sistema é o elevado número de equipamentos e operadores. Temos algumas
variações na montagem desse sistema de tirolesa

Ilustração: internet editada por Anderson lima

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Tirolesa no Resgate Vertical

Ilustração: internet editada por Anderson lima

Ilustração: arquivo pessoal

Clique no link abaixo e veja a técnica de montagem e operação desse sistema

https://youtu.be/2i7F63WAonY

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Tirolesa no Resgate Vertical
PONTOS DE ANCORAGENS

Ao escolher os pontos de ancoragem, devemos escolher os pontos mais


resistentes, estando no meio urbano temos as ancoragens naturais como tronco
de árvores e os estruturais como vigas, colunas, postes etc....

Pelo menos uma das cabeceiras da tirolesa deve ser montada com um sistema
debreável, ou seja, com um descensor ou até mesmo com um nó UIAA (nó
dinâmico) caso necessite debrear o sistema. Em relação à resistência do ponto de
ancoragem, ideal que o mesmo tenha uma capacidade acima de 15 kn, que seja
um ponto resistente de preferência um ponto bomba, óbvio que dentro de muitas
variáveis que temos em uma operação de resgate, para ter certeza da resistência
desse ponto teria que ser um ponto certificado por um engenheiro ou ter em mãos
um dinamômetro, mas sabemos que nem sempre é assim, mas com o
conhecimento técnico da equipe com certeza será escolhido um ponto e tipo de
ancoragem ideal para o sistema mediante a situação.

Ilustração: internet

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Tirolesa no Resgate Vertical
ANCORAGENS UTILIZADAS EM SISTEMA DE TIROLESA PARA RESGATE

Se seguirmos um padrão muito utilizado pelos europeus, estou falando dos


espeleorresgatistas, eles preconizam a utilização de um tipo de ancoragem
conhecida como repartidor de carga ou triangulação.

Ilustração: internet

Use somente cordas novas para este tipo de ancoragem

Em operações de resgate, nossos equipamentos deverão suportar a carga de


pelo menos duas a três pessoas, sendo a vítima, resgatista e se necessário um
controlador ou contrapesista. Como os pontos de ancoragem utilizados nas
cavernas são pontos naturais com o uso de chapeletas não considerados um ponto
bomba, preconiza-se este tipo de ancoragem que é muito resistente, distribuindo a
carga nos 3 pontos, sendo os vetores as voltas das cordas no sistema.

Uma ancoragem muito resistente e utilizada em grandes angulações em


movimentação de macas, mas você pode montar este sistema com outro tipo de
ancoragem, por exemplo, com nó voltas sem tensão ou utilizando dispositivos de
ancoragens desde que esteja em um ponto bomba, tudo isso vai depender de uma
série de variáveis mediante a situação.

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Tirolesa no Resgate Vertical

Nó sem tensão

Da mesma forma que as ancoragens sofrem com o acréscimo de forças, a


tirolesa também sofre devido à angulação. Essa situação começa a partir de um
ângulo de 120 graus, nesse ângulo a carga ainda é distribuída por igual em cada
ponto de ancoragem, mais acima disso os pontos são sobrecarregados.

Ao montar um sistema de tirolesa, não podemos tracionar demais as cordas,


isso quer dizer que temos que deixar as cordas folgadas com laseira?

De forma alguma! Dessa forma tendo algum obstáculo a vítima poderia se chocar,
até mesmo no solo.

Tesar demais o sistema pode sobrecarregar os pontos de ancoragem, já a


tirolesa inclinada não sofre muito essa sobre carga em relação à angulação do
sistema.

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Tirolesa no Resgate Vertical
Quando vamos tracionar as cordas de uma tirolesa seguindo o padrão
americano, usamos a regra dos 18 para cordas de 12.5mm e a regra dos 12 para
cordas de 11 mm. Qual o fundamento, o objetivo de utilizar esta regra?

Primeiro precisamos saber que esta regra é a relação entre o sistema que está
sendo usado para tesar em relação ao diâmetro da corda, e o objetivo é manter
uma margem de segurança segura dos equipamentos em relação às cargas de
trabalho segura.

Exemplo:
Uma tirolesa com corda de 12.5mm sendo tracionada com um sistema 3.1, no
máximo terei que ter 6 pessoas tensionado o sistema. Porque seis?
Calma, você vai entender o princípio dessa regra.

Usando um sistema 3.1, faremos uma continha simples.

3x1=3 /3x2=6 /3x3=9 /3X4=12 /3X5=15 /3X6=18

O resultado final deu 6, sendo a quantia de pessoas tracionando meu sistema.


= 6 PESSOAS.

Se estivesse usando uma corda de 11 mm seria a regra dos 12, com um


sistema 3.1 teria que ter no máximo 4 pessoas tracionando o sistema.
Como sabemos em operações de resgate nossos equipamentos são
submetidos a cargas maiores do que aquela utilizada normalmente em operações
de trabalho procurou sempre estar dentro dos padrões de segurança respeitando
sempre a carga máxima recomendada de trabalho.
Precisamos entender respeitar e limitar a tensão de uma tirolesa, sendo
extremamente necessário para estrar dentro do Fator de segurança do Sistema
Estático, quanto mais alto o ângulo na parte superior da tirolesa, maior vai ser a
multiplicação de força em um dos pontos de ancoragem.

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Tirolesa no Resgate Vertical
Devemos respeitar a carga de segurança de trabalho dos nossos
equipamentos, vou explicar sobre carga de ruptura e a carga de trabalho.

Carga de ruptura: Carga máxima do equipamento, carga onde o equipamento se


rompe, por isso não podemos trabalhar nos limites próximos a esta carga,
devemos seguir a famosa regra dos 10.1 para equipamentos têxteis e 5.1 para
metálicos. A NFPA 1983 estabelece um fator mais restrito para os equipamentos
têxteis, a regra dos 15.1 assegurando uma carga de 136 kg para cordas projetadas
para uma pessoa, e 272 kg para cordas projetadas para duas pessoas.
Por esse motivo, os bombeiros fora do Brasil que seguem o padrão NFPA em
resgate utilizam somente uma corda de 12.5mm com carga de ruptura de 4.000
quilos, novamente digo que duas cordas dará uma segurança maior, mas
dependendo da situação uma segunda corda pode atrapalhar.

Então como saber a carga de trabalho segura do meu equipamento?

Exemplo:
Um mosquetão com capacidade de 35kn (3.569 quilos) divide a carga de
ruptura pelo fator de segurança, como se trata de metálico então faria a seguinte
conta: 3.569 dividido por 5 = 713.8 arredondando para uma carga de 700 quilos,
sendo minha carga de trabalho recomendada.

Uma corda de 25kn (2.549 quilos) aplicamos o fator de segurança 10.1, 2.549
dividido por 10 = 254.9 quilos, arredondando para 250 quilos sendo minha carga
de trabalho segura.

Carga de tração: carga utilizada para esticar a tirolesa, respeitando o grau de


angulação máxima seguro, esse cálculo varia dependendo da altura e distância da
tirolesa. Seguimos uma regra conhecida como a regra dos 10%.

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Essa regra esta ligada diretamente na tração do sistema (versus) a flecha no
sistema. Flecha é o rebaixamento da tirolesa mediante a carga no meio dela, então
seguindo esta regra se temos uma tirolesa de 50 metros de extensão, nossa flecha
teria uma limitação de 5 metros, se a tirolesa tem 100 metros a flecha seria de 10
metros, claro que com uma carga de duas pessoas o limite dobra.

A montagem de uma tirolesa pode ser de feita várias formas como já


mencionado, podemos usar uma ancoragem em triangulação ou uma ancoragem
simples em um ponto bomba, o importante é sempre respeitar os princípios e
aplicar a melhor técnica, e não esquecer que em uma das cabeceiras deve-se
montar um sistema debreável e deixar uma sobra de corda suficiente caso
necessite baixar a maca pelo meio da tirolesa.

No tracionamento da tirolesa, devemos dar preferência para bloqueadores


com came não dentada ou o famoso prussik. Os bloqueadores de came dentada
podem romper a capa da corda devido às forças que são aplicadas no
tracionamento. Temos algumas variáveis, por exemplo: diâmetro da corda, tipo de
ascensor utilizado e quantidade de resgatistas tracionando, mesmo com tudo isso
geralmente a capa da corda se rompe quando aplicada uma força igual ou superior
a 5 kn (500 quilogramas força).

ROPE GRAB BLOQUEADOR NÃO DENTADO PRUSSIK

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Vou passar para vocês, algumas informações de testes de tracionamento de
cordas em sistema de tirolesa com alguns equipamentos, e vocês poderão ver as
diferenças das cargas geradas no sistema.

OBS: Estas informações são de testes realizados em um curso que fiz na área de
resgate vertical.

Primeiro teste foi da seguinte forma:

Em ambas as cabeceiras do sistema foram usadas ancoragens em


triangulação, uma cabeceira do sistema com nó UIAA bloqueado com nó de mula,
e na outra cabeceira foi montado um sistema 3.1 reduzido, com um nó UIAA no
mosquetão conectado no mosquetão na ancoragem em triangulação, uma polia
simples e um rope grab no sistema zeta para tracionar.

Rop grab mosquetão hms triangulação

Polia
Resultados:

A carga de tração chegou a 144 quilos tracionada por dois resgatistas, e a carga
de repouso ficou em torno de 57 quilos, o UIAA tem uma pequena perca quando
vamos fazer a chave de bloqueio por mais que você segure bem as cordas acaba
cedendo.

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Segundo teste:
Tracionamento da corda usando o descensor auto block da marca Task.

Resultados:

A carga de tração chegou a 230 quilos, e a carga de repouso ficou em torno de


157quilos. Viram a diferença das cargas tanto de tração e de repouso?

Perceberam que quando é usado um equipamento como um descensor no


lugar do nó UIAA temos um maior ganho na força de tração e também na carga de
repouso, com o uso de um descensor auto blocante as cordas cedem menos.

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Terceiro teste: Tracionamento da corda usando o descensor D4

Resultados:
Neste teste só foi verificado a carga de repouso, ficando em torno de 180
quilos tracionada por dois resgatistas.

Mediante a estes testes, vimos à importância de saber utilizar os


equipamentos de forma correta para cada situação como no caso de usar um nó
UIAA para tracionar uma tirolesa em uma situação em que você necessite que o
sistema fique bem tesado, já sabe que poderá ter problemas do sistema ceder, e
das cargas que são geradas quando utilizamos um descensor como o auto block ou
D4.
O D4 oferece um maior desempenho em relação ao ganho na tração, sendo
um equipamento mais seguro e mais resistente para este tipo de sistema, visto
que ele é um equipamento bem mais robusto.

Por: Anderson Lima


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Tirolesa no Resgate Vertical
PROCUREM OUTRAS FONTES DE ESTUDO E APLIQUEM A MELHOR TÉCNICA
MEDIANTE A SUA REALIDADE, EXISTEM OUTRAS FORMAS DE MONTAR ESSES
SISTEMAS.

RESPEITE OS PRINCÍPIOS E APLIQUE A MELHOR PREFERÊNCIA.

Referências:

JOPLIN FIRE DEPARTAMENT- SPECIAL OPERATIONS

CMC RESCUE

ROPE RESCUE

RESGATE VERTICAL VOL 2

MANUAL DO ESPELEORRESGATISTA

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Tirolesa no Resgate Vertical
Autor do E-book: Anderson Lima

Profissional da área de resgate e salvamento, atua como instrutor de APH e


técnicas de salvamento e resgate em altura, Resgatista N3C , membro da área
técnica da UBRAC ,proprietário da Alpha Vertical.

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