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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 1

Sistemas Elétricos de Potência I


Código: 1249 A

Professor: Leonardo Nepomuceno

Objetivo Geral

Analisar os sistemas elétricos de potência em condições da falha, abordando os


diferentes tipos de curtos-circuitos.

Conteúdo

1. DIAGRAMAS DE REATÂNCIA EM SISTEMAS DE POTÊNCIA


1.1. Cálculo de tensão, corrente e potência em sistemas de potência (P. U. e
Real)

2. COMPONENTES SIMÉTRICOS
2.1. Componentes de sequências positivas, negativas e zero
2.2. Existência de componentes de sequência zero (corrente)
2.3. Circuitos equivalentes de sequências de linhas e equipamentos

3. ANÁLISE DE CIRCUITOS DESIQUILIBRADOS


3.1. Curto-circuito fase-terra
3.2. Curto-circuito fase-fase
3.3. Curto-circuito fase-fase-terra
3.4. Aplicações

4. ANÁLISE DE FALHAS ATRAVÉS DA MATRIZ IMPEDÂNCIA DE BARRA


4.1. Formação da matriz Admitância
4.2. Frmação da matriz de Impedância
4.3. Análise de Falhas

5. CÁLCULO DE CURTO-CIRCUITO VIA COMPUTADOR ATRAVÉS DA


MATRIZ IMPEDÂNCIA DE BARRA

6. APLICAÇÃO COMPUTACIONAL DO PROGRAMA EM SISTEMA DE


POTÊNCIA

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 2

Bibliografia Básica

1. GRAINGER,J.J.; STEVENSON, W.D. Power System Analysis. McGraw-


Hill Book Company, 1994.

2. MONTICELLI, A. Fluxo de Carga em Redes de Energia, Edgard Blucher


Ltda, 1983.

3. KINDERMANN, G. Curto Circuito. 2ª ed., Porto Alegre - RS: Sagra-DC


Luzzatto, 1992.

4. STEVENSON, W.D. Elements of Power System Analysis. 4ª ed., Texas,


McGraw Hill, 1982.

5. MONTICELLI A. ; GARCIA A. Introdução a Sistemas Elétricos de


Potência. Editora da Unicamp e Imprensa Oficial, 1999.

Critério de Avaliação

1. Conforme Portaria Didática nº 03/99 - FE.


2. Marcar Provas

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 3

CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS DE POTÊNCIA

1.1 SISTEMAS DE POTÊNCIA – VISÃO GERAL

Um sistema de potência é uma estrutura complexa de equipamentos, geradores,


transformadores, linhas de transmissão e alimentadores de distribuição, conforme mostrado
na Figura 1 a seguir.
geradores

transformadores Interconexão com


outros sistemas

Transmissão
Transmissão Transmissão
(345 kV, 500 kV).

Subtransmissão

(138 kV, 69 kV).

Distribuição

consumidores
Figura 1. – Sistema de Geração- transmissão-distribuição

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1.2 ASPECTOS FÍSICOS DA PRODUÇÃO/CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA

A operação e planejamento dos sistemas de geração, transmissão e distribuição de


sistemas de energia não é uma tarefa simples. Nesta seção vamos tentar acompanhar o que
se passa quando uma carga adicional é ligada a uma rede de energia elétrica, ou seja vamos
buscar entender de onde vem a energia. A resposta não é simples, do tipo: vem do gerador;
mas depende do instante de tempo considerado. Em última instância, a energia é produzida
no gerador, mas isso não ocorre de maneira imediata. São considerados a seguir intervalos
típicos em sistemas de energia.

1.2.1 Transitório Eletromagnético

Os transitórios eletromagnéticos ocorrem na faixa de 10 −3 s. Nesta faixa a energia


suprida à carga adicional vem do próprio circuito próximo à carga. Exemplo: um motor
com potência relativamente elevada pode provocar uma queda de tensão observável em
outros equipamentos. Assim, nesta faixa de tempo a carga toma parte da energia
armazenada (por exemplo em circuitos magnéticos) nos circuitos adjacentes.

1.2.2 Transitório Eletromecânico

Ocorre no intervalo de tempo de 10 −1 s. Após o impacto inicial, ocorridos no transitório


eletromagnético, há uma resposta mecânica do sistema. A energia adicional passa a ser
provida pelos rotores dos geradores. A conseqüência imediata da perda de energia cinética
no rotor é a queda da freqüência sentida em toda a rede elétrica. É desta forma que as
usinas “sentem” a presença de uma nova carga no sistema. É claro que, em sistemas de
grande porte, somente acréscimos consideráveis de carga provocam alterações perceptíveis
na freqüência.

1.2.3 Atuação do Regulador de Velocidade

Ocorre no intervalo de tempo de 1 s. Quando cai a freqüência do sistema, há um


aumento na potência gerada pela unidade geradora. Uma característica típica da relação
potência gerada – freqüência em um sistema turbina-gerador é basicamente linear,
conforme mostrado na Figura 2 a seguir.

Potência gerada

freqüência
Figura 2. Controle de Potência pela Velocidade.

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 5

Isto ilustra o fato de a abertura das válvulas das turbinas poder ser comandada pela
queda na freqüência. No caso de turbinas hidráulicas, isto se reflete em um maior volume
de fluxo de água através da turbina. Nas turbinas a vapor, há uma maior admissão de vapor
na turbina (o que acarreta, com um certo atraso, um aumento na queima de combustível).
Assim, neste intervalo de tempo o problema de suprimento de potência ativa adicional é
resolvido com a criação de um novo problema: a queda na freqüência.

1.2.4 Controle de Carga – Freqüência - Intercâmbio

Ocorre no intervalo de tempo de 101 a 10 2 s. Além do erro em freqüência, os


intercâmbios entre as várias áreas, nas quais o sistema é dividido, também podem ser
afetados pelo acréscimo de carga em uma das áreas. Em geral as correções nos erros
introduzidos na freqüência são feitos de forma coordenada. Por exemplo, um esquema
muito utilizado consiste em uma das empresas (área) se responsabilizar pelo controle de
freqüência da rede como um todo, ajustando alguns dos seus geradores, enquanto as demais
empresas tomam conta de seus intercâmbios líquidos com as empresas adjacentes. Assim,
após certo tempo a freqüência voltará a seu nível desejado e os intercâmbios voltarão aos
valores contratados entre as empresas. Neste esquema cada empresa aloca parte de seus
geradores para exercer as funções de controle de intercâmbio e freqüência (também
chamada de controle secundário). Isto equivale a alterar a posição das curvas características
conforme mostrado na Figura 3, a seguir:

Potência gerada

freqüência

Figura 3. Atuação do Controle Secundário.

1.2.5 Redespacho Econômico-Seguro

Ocorre no intervalo de tempo de 10 4 s (duas a três horas). Em geral a atuação do


controle secundário nem sempre leva o sistema a um ponto de operação ótimo do ponto de
vista econômico ou em relação à segurança da operação. Assim, uma última etapa ainda
pode ocorrer. Trata-se do despacho econômico de carga, levando em consideração as
restrições de segurança do sistema. Em geral o despacho econômico é formulado como um

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 6

problema de otimização no qual algum critério de otimização é minimizado (ou


maximizado) levando-se em consideração restrições operativas importantes para o sistema.
Em sistemas predominantemente hidráulicos como o brasileiro, o objetivo em geral é a
otimização do uso da água, com a conseqüente minimização da complementação térmica
(consumo de combustível). Em sistemas predominantemente térmicos o objetivo é o de
minimizar os custos de geração térmica que, em geral, são dados por funções quadráticas da
potência ativa gerada.

1.2.6 Planejamento da Operação de Sistemas de Potência

Ocorre no intervalo que vai de 1 semana a 1 mês. Além da definição dos níveis de
geração mais econômicos, é necessário definir quais geradores estarão em operação e
quando estarão em operação. O problema de planejamento da operação também está ligado
ao problema de gerenciamento dos recursos de energia e também é formulado como um
problema de otimização. Em sistemas predominantemente hidráulicos o problema está
relacionado à decisão que se deve tomar quanto ao gerenciamento da água. Gastar agora,
esperando um período de cheias futuras, ou guardar, esperando um período de seca. Como
a variável é do tipo estocástica (não é determinística), o problema se torna bastante
complexo. Além disso, a escala de parada/manutenção deve ser considerada, o que torna o
problema ainda mais complexo.

1.2.7 Planejamento da Expansão de Sistemas de Potência

Ocorre no intervalo de 5 a 20 anos. Acréscimos sucessivos dos níveis de carga acabam


levando à necessidade de se adicionarem novas unidades geradoras e novas linhas de
transmissão. Em longo prazo, esta é a única maneira de se atender à demanda crescente. Os
problemas de planejamento da expansão em geral são construídos como problemas de
otimização combinatorial.

1.3 CIRCUITOS MONOFÁSICOS DE CORRENTE ALTERNADA – CONCEITOS


BÁSICOS

Seja uma fonte de tensão alternada monofásica, com tensão instantânea v(t ) ,
alimentando uma impedância constante complexa Z, conforme mostrado na Figura 3 a
seguir:

i (t )
v(t ) carga

Figura 3. Circuito de Corrente Alternada Simples.

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 7

onde:

v(t ) = Vmax cos(ω t + θ ) : tensão instantânea;


i (t ) = I max cos(ω t ) : corrente instantânea;
ω = 2πf : velocidade angular;
f: freqüência elétrica;

As formas de onda da tensão e corrente são dadas na Figura 4 a seguir.

Vmax

θ
i (t )

I max

v (t )

Figura 4. Formas de onda da Tensão e Corrente.

1.3.1 Magnitude de Tensão e Corrente

Definição
A magnitude de corrente (ou valor eficaz de corrente) corresponde ao valor da corrente
contínua que dissipa em uma determinada carga um valor de potência ativa igual à potência
ativa média dissipada por uma corrente alternada.
___
A potência ativa média P dissipada por uma corrente alternada é dada por: P = R i 2 ,
___ ___ _________
onde i 2 é o valor médio do quadrado da corrente, ou seja: i 2 = I max
2
cos(ω t )2 . O valor
médio do cos(ω t )2 é calculado pela seguinte integral:
π
∫ cos(ω t )
_________ 2
dt 1
cos(ω t ) = 0
2
=
π 2

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 8

2
Assim, a potência média dissipada pela corrente alternada seria P = R I max 1 . A
2
corrente eficaz I ef pode ser calculada como a corrente contínua que dissipa o valor
P acima, ou seja:
R.I ef 2 = R I max
2 1 , logo temos:
2

I max
I ef = (1)
2

Ou seja, para calcularmos o valor eficaz de uma corrente instantânea senoidal, basta que
se tome o valor máximo da corrente dividindo-o por 2 . O mesmo se aplica ao cálculo do
valor eficaz da tensão.

1.3.2 Representação Fasorial

Pela identidade de Euler temos a seguinte relação:

e jθ = cos(θ ) + j sen(θ ) (2)

Aplicando a identidade de Euler às expressões da tensão aplicada e corrente


estacionária (4), tem-se:

{
v ( t ) = Re Vm e (
j ω t + φ)
} (3)

iest ( t ) = Re {I me
j (ω t +φ −θ )
} (4)

onde Re{} representa a parte real de um número complexo. Reescrevendo as equações


anteriores em função dos valores eficazes de tensão e corrente tem-se:

{
v(t ) = Re Vef } {
2 e j (ω t + θ ) = Re Vef e jθ 2 e j (ω t ) } (5)
i (t ) = Re{I ef 2 e j (ω t ) }= Re{I e
ef
j0
2 e j (ω t ) } (6)

Das expressões acima definem os fasores de tensão e corrente conforme mostrado a seguir:

V = Vef e jθ = Vef ∠θ (7)


I = I ef e j 0 = I ef ∠0 (8)

Seja o sistema mostrado na figura 3 onde a carga é descrita por um resistor de


resistência R em série com um indutor de indutância L. Supondo que a tensão aplicada seja
v(t ) = Vm cos (ω t + φ ) , teremos, a partir da teoria de circuitos a seguinte equação diferencial:

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 9

di
Vm cos (ω t + φ ) = Ri ( t ) + L (9)
dt

A solução desta equação diferencial fornece o seguinte resultado:

cos (φ − θ ) e ( ) +
Vm Vm
i (t ) = cos (ω t + φ − θ )
− R L t

R2 + X l 2 R2 + X l 2
onde:
(10)
Xl = ω L
⎛ Xl ⎞
θ = tg −1 ⎜ ⎟
⎝ R ⎠

A primeira componente de (3) é do tipo transitória, pois deve decair para valores nulos
para valores de tempo infinito. A segunda componente é chamada de componente
estacionária, e possui algumas características importantes:

1) É uma função do tipo senoidal;


2) Possui a mesma freqüência da tensão aplicada pela fonte v(t ) ;
3) Possui amplitude diferente da tensão aplicada pela fonte v(t ) ;
4) Possui ângulo de fase diferente da tensão aplicada pela fonte v(t ) .

A componente estacionária pode ser rescrita conforme (4).

Vm
iest ( t ) = cos (ω t + φ − θ ) (11)
R + Xl2
2

Se adotarmos a definição de fasores conforme descrito em (7) e (8), e aplicarmos esta


definição a ambos os lados de (11), teremos a relação dada em (12).

Vm
Iest = φ −θ (12)
2 2
R + Xl

A qual pode ser escrita da forma:

Vm φ Vm φ V
Iest = = = (13)
R2 + X l 2 θ Z θ Z

Onde:

Z = R + jX l
⎛ Xl ⎞ (14)
θ = tg −1 ⎜ ⎟
⎝ L ⎠

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 10

Assim, a utilização de fasores permite escrever as grandezas elétricas envolvidas, de


maneira independente do tempo. É importante salientar que isso só é possível quando
estamos considerando o regime permanente senoidal. No período transitório, os fasores
mesmo que definidos, não possuem muita utilidade, pois o problema não pode ser escrito
de forma independente do tempo.

1.3.3 Vantagens da Representação Fasorial

• A representação fasorial facilita a análise de sistemas de corrente alternada (em


regime estacionário) eliminando a variável tempo dos cálculos.
• As relações entre tensão e corrente são as mesmas daquelas apresentadas pelos
circuitos de corrente contínua:

V = Z * I

1.3.4 Potência em Circuitos de Corrente Alternada

Seja o seguinte circuito elétrico simples mostrado na Figura 5 a seguir:

a
+
ian
van
_
n
Figura 5 – Elemento de Circuito conectado entre os pontos an consumindo/fornecendo
potência ativa

Se os valores instantâneos de corrente e tensão forem senoidais, conforme definido a


seguir, teremos a potência instantânea dada pela equação (15).

v an = Vmax cos(ω t )
i an = I max cos(ω t − θ )
p (t ) = v an i an = Vmax I max cos(ω t ) cos(ω t − θ ) (15)

Pela equação (9) repara-se que:

• Se v an e i an estão em fase (circuito puramente resistivo) teremos que p(t) sempre


positivo, conforme mostrado na Figura 6 a seguir:

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 11

van p (t )

ian

Figura 6. Circuito puramente resistivo.


• Se v an e i an estão defasados de 90 o (circuito indutivo ou capacitivo puro) teremos
que o valor médio da potência instantânea p (t ) será nulo.

van
ian
p(t )

Figura 7. Circuito puramente indutivo.

Com relação ao sinal da potência instantânea podemos dizer que:

• p(t ) é positivo quando a potência está sendo absorvida pela carga.


• p(t ) é negativo quando a potência está sendo fornecida pela carga.

Repare que nos circuitos puramente indutivos/capacitivos toda a potência instantânea


absorvida em um meio ciclo é devolvida no meio ciclo subseqüente, fornecendo m valor
médio sempre nulo.

Podemos reescrever a equação 9 da seguinte forma:

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 12

cos θ (1 + cos(2ω t )) + sen θ sen (2ω t )


Vmax I max Vmax I max
p (t ) = v an i an =
2 2

p(t ) = van ian = Vef I ef cos θ (1 + cos ( 2ω t ) ) + Vef I ef sen θ sen ( 2ω t ) (16)



componente associada a uma componente associada a uma


carga resistiva pura carga reativa pura

Mostra-se a seguir que a primeira parcela da equação 16 está associada a uma corrente
que está em fase com a tensão (carga resistiva pura) e que a segunda parcela da equação
está associada a uma corrente defasada 90 o da tensão. A componente associada à carga
resistiva pura é denominada de potência ativa instantânea e a componente associada à carga
reativa é denominada de potência reativa instantânea. A seguir mostraremos esta afirmação.

Seja a carga da Figura 5 anterior separada em duas componentes uma parcela resistiva e
uma parcela puramente indutiva, conforme mostrado na Figura 8 a seguir:
ix
a
+ i
an

van ir

_
n
Figura 8. Decomposição da carga nas parcelas resistiva e indutiva.

O diagrama fasorial da Figura 8 é mostrado na Figura 9, ressaltando o fato de que a


corrente ir está em fase com a tensão v an e a corrente i x está 90 o atrasada da tensão v an .

Ir Van
θ
Ix
Ian
Figura 9. Diagrama Fasorial do Circuito da Figura 8.

Da figura temos as seguintes relações:

Ir = Ian cos θ

Ix = Ian sen θ

• Se i an possui valor máximo I max então pelas relações acima ir possui valor máximo
I max cos θ . Como i r está em fase com a tensão v an , tem-se:

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 13

i r = I max cos θ cos(ω t ) (17)

• Se i an possui valor máximo I max então i x possui valor máximo I max sen θ . Como i x
está atrasada de 90 graus da tensão v an , tem-se:

(
i x = I max sen θ cos ω t − 90 o )
i x = I max sen θ sen (ω t ) (18)

Podemos calcular a potência instantânea dissipada na parcela resistiva da carga da


seguinte forma:

v an i r = Vmax I max cos θ cos 2 (ω t )


Vmax I max
v an i r = cos θ (1 + cos(2ω t ))
2

v an i r = Vef I ef cos θ (1 + cos(2ω t )) (19)

Podemos calcular a potência instantânea na parcela reativa da carga da seguinte forma:

v an i x = Vmax I max sen θ sen(ω t ) cos(ω t )


Vmax I max
v an i r = sen θ sen(2ω t )
2

v an i r = Vef I ef sen θ sen(2ω t ) (20)

A expressão (19) é sempre positiva e possui valor médio dado por:

P = Vef I ef cos θ (21)

A expressão (20) possui valor médio nulo e um valor máximo dado por:

Q = Vef I ef senθ (22)

A expressão 21 define a chamada potência ativa e a expressão (22) define a chamada


potência reativa. Apesar de que as unidades dimensionais são as mesmas é comum que a
potência ativa seja expressa em watt [w] ou mega-watt [MW] e a potência reativa seja
expressa em volt-ampére-reativo [var] ou mega- volt-ampére-reativo [Mvar].

Das expressões 21 e 22 temos ainda:

(Vef Ief cosθ ) + (Vef Ief senθ )


2 2
S = P2 + Q2 = = Vef I ef (23)

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 14

Temos ainda em um circuito série simples que:

P = Vef I ef cos θ ; Q = Vef I ef sen θ


P = ZI ef 2 cos θ ; Q = ZI ef 2 sen θ

Se R = Z cos θ e X = Z sen θ , teremos que:

P = R I ef 2 (24)

Q = X I ef 2 (25)

1.3.5 Potência Complexa

Sejam os fasores de tensão e corrente genéricos dados respectivamente por V = Vef ∠α e


I = I ef ∠β . A potência complexa é definida pela equação 26 a seguir.

S = V I * = Vef I ef ∠α − β (26)

Ou ainda:

(
S = Vef I ef cos(α − β ) + j Vef I ef sen(α − β ) )
Com o ângulo entre a tensão e a corrente dado por θ = α − β , temos:

S = P + jQ (27)

O diagrama de potências é mostrado na Figura 10 a seguir.


eixo imaginário

S Q

θ
eixo real
P
Figura 10. Diagrama de Potências.

1.3.6 Direção dos Fluxos de Potência Ativa e Reativa

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 15

Do exposto acima se pode concluir que a direção dos fluxos de potência ativa e reativa
é dada conforme mostrado na Figura 11 a seguir.

I • Se P > 0, o circuito absorve potência


ativa.
circuito
+ equivalente
• Se P < 0, o circuito fornece potência
AC ativa.
V
ou
• Se Q > 0, o circuito absorve potência
_
elemento reativa (corrente atrasada da tensão).
de circuito
• Se Q < 0, o circuito fornece potência
S=P+jQ reativa (corrente adiantada da
tensão).
Figura 11. Direção dos Fluxos de Potência.
Exercício 1.1

Duas fontes de tensão ideais, designadas como máquinas 1 e 2 estão conectadas, conforme
mostrado na figura. Se E1 = 100∠0 V , E 2 = 100∠30 o V e Z = 0 + j5 Ω , determine (a)
se cada máquina está gerando ou consumindo potência ativa e as quantidades geradas, (b)
se cada máquina está gerando ou consumindo potência reativa e as quantidades geradas, (c)
P e Q absorvidos pela impedância Z.

1.4 TENSÕES E CORRENTES EM CIRCUITOS TRIFÁSICOS BALANCEADOS

Os sistemas elétricos são projetados de forma que, na medida do possível, as cargas


sejam balanceadas entre as fases. Nesta seção serão estudados os circuitos trifásicos
equilibrados.

1.4.1 Carga Conectada em Y

A Figura 12, a seguir, mostra um gerador trifásico alimentando uma carga trifásica
equilibrada conectada em Y. Os terminais da máquina são os pontos a, b e c mostrados na
figura.

As forças eletromotrizes E a' 0 E b ' 0 E c ' 0 têm a mesma magnitude e possuem defasamento
angular de 120 o entre si. Nos terminais do gerador as tensões terminais são dadas por:

Va 0 = E a ' 0 − I an Z d
Vb 0 = E b' 0 − I bn Z d (28)
Vc 0 = E c ' 0 − I cn Z d

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 16

Ian
a

Zd In
a’

+ ZR
E a' 0 _ E b' 0 Ibn
0 _ n
+ b’ b ZR
_ Zd
ZR

+ Ec' 0
c’
Zd
Icn
c

Figura 12. Diagrama de circuito de um gerador conectado em Y conectado a uma carga


equilibrada também conectada em Y.

Como os pontos 0 e n estão no mesmo potencial temos que Va 0 , Vb 0 , Vc 0 são iguais a
Va n , Vb n , Vc n respectivamente. Portanto, as correntes de fase podem ser dadas por:

E a ' 0 Va n
I an = =
Zd + ZR ZR
E
b' 0 V
I bn =
bn
= (29)
Zd + ZR ZR
E
c' 0 V
I cn=
cn
=
Zd + ZR ZR

Como as forças magnetomotrizes são iguais em magnitude e defasadas de 120 o entre si


e como as impedâncias vistas por estas forças magnetomotrizes são idênticas, temos que as
correntes também terão mesma magnitude e estarão também defasadas de 120 o . Neste caso
dizemos que as tensões e correntes são equilibradas. O mesmo ocorre para as tensões
Va n , Vb n , Vc n . Assim teremos os seguintes diagramas fasoriais:

Ec' 0
Ic n
Ib n
E a' 0

Ia n Eb' 0

Figura 13. Diagrama Fasorial das correntes e Forças eletromotrizes.

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 17

Como as correntes são equilibradas temos In = Ia n + Ib n + Ic n = 0 . Assim, mesmo que
houvesse uma impedância entre os nós 0 e n estes pontos teriam o mesmo potencial. Se a
carga não fosse balanceada a soma fasorial das correntes seria diferente de zero,
provocando uma diferença de potencial entre os nós 0 e n, caso estes não estivessem
diretamente ligados. Para a condição desbalanceada é necessário conectar os nós, se for
desejável mantê-los no mesmo potencial.

As tensões de linha da Figura 12 são dadas pelas relações descritas em (30) a seguir:

Vab = Van − Vbn


Vbc = Vbn − Vcn (30)
V = V − V
ca cn an

As relações fasoriais entre as tensões de linha Vab , Vbc , Vca e as tensões de fase
Van , Vbn ,Vcn são mostradas no diagrama da Figura 14 a seguir. Na figura a tensão de linha
da fase a é adotada como referência. Pelo diagrama percebe-se uma relação importante
entre estas grandezas. A magnitude dos fasores de tensão de linha é 3 vezes a magnitude
dos fasores de tensão de fase. Além disso, as tensões de linha estão adiantadas em relação
às tensões de fase de 30 o , independentemente da carga alimentada.

VL
VF = (31)
3

Vca Vcn Vab = 3 Van ∠30o

Van

Vbn

Vbc

Figura 14. Relações entre as Tensões de linha e de Fase

1.4.2 Carga Conectada em ∆

Mostra-se que para uma carga conectada em ∆ que as correntes obedecem a uma regra
muito próxima daquela descrita na seção anterior. Isto é as correntes de linha I a , I b , I c têm
suas magnitudes iguais a 3 vezes as magnitudes das correntes de fase I ab , I bc , I ca

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 18

respectivamente. Além disso, as correntes de linha estão atrasadas de 30 o em relação às


correntes de fase.

Exercício 1.2

Em um circuito trifásico equilibrado a tensão Vab = 173.2∠0 v. Determine todas as


o

tensões e correntes em uma carga conectada em Y tendo Z = 10∠20 o Ω . Assuma a


seqüência de fase abc.

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 19

1.4.3 Circuito Equivalente por Fase

Ao solucionarem-se sistemas trifásicos equilibrados não é necessário trabalhar com o


diagrama inteiro do circuito trifásico. Assume-se uma conexão com o neutro com
impedância nula, e por esta conexão deve fluir a soma das três correntes de fase, a qual é
nula em sistemas trifásicos equilibrados. O circuito é resolvido aplicando-se a lei de
Kirchhoff em um caminho fechado incluindo uma fase e o neutro. O circuito por fase da
figura 12 é mostrado na Figura 15 a seguir.

Ian
a

Zd

a’ ZR
E a' 0+
_

0 n
Figura 15 – Circuito Equivalente por Fase da Figura 12.

Exercício 1.3

A tensão terminal de linha sobre uma carga conectada em Y e formada por três
impedâncias de Z = 20∠30 o Ω é de 4.4 Kv . A impedância de cada uma das linhas
conectando as cargas a uma barra da subestação é de Z L = 1.4∠75 Ω . Encontre as
o

tensões de linha na subestação.

1.5 POTÊNCIA EM CIRCUITOS TRIFÁSICOS EQUILIBRADOS

A potência trifásica total absorvida por uma carga é obtida pela somatória das potências
absorvidas em cada fase. Em um sistema equilibrado isto equivale a multiplicar o valor da
potência dissipada por fase por 3, uma vez que a potência dissipada é a mesma nas 3 fases.
Se a magnitude da tensão fase-neutro for V fn em uma carga conectada em Y teremos:

V fn = Van = Vbn = Vcn ;

se as magnitudes das correntes de fase forem I f na mesma carga em Y teremos:


I f = I an = I bn = I cn .

Teremos, portanto, uma potência total dada por (32).

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 20

( )
P = 3.V fn I f cos θ f (32)

Onde o ângulo θ f é o ângulo pelo qual a corrente I f de fase está atrasada da tensão
V f , ou seja ângulo da impedância por fase. A expressão 32 pode ser rescrita utilizando os
valores de linha, da forma:

P = 3.VL I L cos θ f ( ) (33)

Teremos ainda:
( )
Q = 3.V fn I f sen θ f
(34)
Q= 3.VL I L sen (θ f )

E a potência aparente será:

S = 3.V f I f
(35)
S = 3.VL I L

As mesma expressões acima para as potências são válidas se a carga estiver conectada
em ∆.

1.6 QUANTIDADES PU (POR UNIDADE)

Em sistemas de potência é conveniente expressar as unidades de corrente, tensão,


impedância e potência em valores percentuais ou por unidade em relação a um valor básico
de referência especificado para cada variável.

1.6.1 Definição PU

O valor por unidade ou pu de uma determinada quantidade é definido como o valor


desta quantidade dividido pelo seu correspondente valor básico. Exemplo: se escolhermos
um valor de tensão base de 120KV, as tensões de 108, 120 e 126 KV, terão os seguintes
valore em pu: 0.9, 1.00 e 1.05 pu.

1.6.2 Definição Percentual

O valor percentual é o valor em pu multiplicado por 100. Repare que o produto de duas
quantidades dadas em pu fornece um valor também em pu, mas o mesmo não acontece para
valores em percentual.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 21

Importante:

Se estabelecermos valores básicos para as tensões e correntes, os valores básicos para a


potência e impedância ficam automaticamente fixados pela relação existente entre as
grandezas. Ou seja, fixados dois valores básicos, respectivamente para duas grandezas, os
valores básicos das demais ficam automaticamente fixados.

Em geral a potência dada em MVA e a tensão dada em KVA são utilizadas como
valores básicos. Para sistemas monofásicos ou sistemas trifásicos (neste caso as correntes
se referem a correntes de linha; tensões se referem a tensões fase-neutro; e potências
aparentes se refere à potência aparente por fase), temos as seguintes relações:

KVA1φ
corrente base, ( A) = (36)
tensão base, KV fn
tensão base, V fn
impedância base, (Ω ) = (37)
corrente base, ( A)

(tensão base, KV ) 2
× 1000
impedância base, (Ω ) =
fn
(38)
KVA1φ

(tensão base, KV ) 2

impedância base, (Ω ) =
fn
(39)
MVA 1φ

Os valores base das potências ativas e reativas acompanham os valores base da potência
aparente.

Como sistemas trifásicos equilibrados podem ser resolvidos por fase (linha única com
um neutro como retorno), as bases para as quantidades em um diagrama de impedância são
em geral dadas em valores monofásicos ( KVA1φ e KV fn ), mesmo sendo dados os valores de
placa: a potência aparente trifásica e a tensão de linha.

Exercício 1.4

Seja um gerador trifásico equilibrado com os seguintes valores nominais: uma potência
aparente trifásica de 30.000 KVA e uma tensão de 120KV. O gerador fornece uma potência
ativa de 6000KW por fase e uma tensão de fase de 62.3KV. Adotar como bases a tensão de
fase-neutro e a potência monofásica e calcular os valores em pu da tensão de fase-neutro e
da potência ativa por fase fornecida. Adotar como bases a tensão de linha e a potência
aparente trifásica e calcular os valores em pu da potência ativa trifásica e da tensão de
linha.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 22

Conclusões

• O valor pu de uma tensão fase-neutro utilizando como referência um valor fase-


neutro de tensão é igual ao valor em pu de uma tensão fase-fase utilizando como
referência um valor fase-fase de tensão.

• O valor pu de uma potência monofásica utilizando como referência um valor de


potência aparente monofásica é igual ao valor em pu de uma potência trifásica
utilizando como referência um valor de potência aparente trifásica.

Reescrevendo as equações de 36 a 39 utilizando valores base trifásicos de potência


aparente e valores base de linha para as tensões ter-se-á:

KVA3φ
corrente base, ( A) = (40)
3 × tensão base, KV ff
Da equação 33 teremos:

impedância base, (Ω ) =
(tensão base, KV ff )
2
3 × 1000
(41)
KVA3φ / 3

impedância base, (Ω ) =
(tensão base, KV ff )2 ×1000
(42)
KVA3φ

impedância base, (Ω ) =
(tensão base, KV ff )2
(43)
MVA3φ

Excetos pelos subscritos, as equações 42 e 43 são idênticas às equações 38 e 39.


Podemos utilizar as equações sem os subscritos, mas sempre lembrando que:

• Utilizar tensões de linha em conjunto com a potência aparente trifásica e


• Utilizar tensões de fase em conjunto com a potência aparente monofásica

Exercício 1.5

Encontre a solução para o exercício 1.3 trabalhando em pu em uma base de 4.4 KV, 127 A,
de modo que tanto a tensão quanto a corrente seja de 1 pu.

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 23

1.7 MUDANDO A BASE EM PU

Às vezes a impedância em pu de um componente do sistema é dada em uma base


diferente da base adotada para a parte do sistema na qual se localiza o componente. Como
todas as impedâncias devem ser expressas na mesma base de impedância, é necessário
converter a impedância em pu de uma base para outra. Sabemos que:

impedância , Ω
impedância pu = (44)
impedância base , Ω

Utilizando a expressão 33 ou 37 na expressão 39 teremos:

impedância , Ω × KVA1φ
impedância pu = (45)
(tensão base, KV fn )2 × 1000
A expressão 45 mostra que o valor em pu de uma impedância é inversamente
proporcional ao quadrado da tensão e diretamente proporcional à potência aparente. Logo,
para se mudar o valor de uma impedância de uma base dada para uma base nova,
utilizamos:

2
⎛ tensão base, KVdado ⎞ ⎛ KVAbasenovo ⎞
Zpunovo = Zpudado ⎜ ⎟ ⎜ ⎟ (46)
⎝ tensão base, KVnovo ⎠ ⎝ KVAbasedado ⎠

Exercício 1.6

A reatância X'' de um gerador vale 0.25 pu utilizando como base os dados de placa do
gerador, que são 18KV e 500 MVA. Calcular o valor em pu na nova base 20KV e
100MVA.

1.8 DIAGRAMA UNIFILAR

Como os sistemas equilibrados são resolvidos como circuitos por fase, não é necessário
mostrar mais de uma fase ao desenharmos o diagrama do circuito. Além disso, podemos
simplificar ainda mais o diagrama omitindo o circuito completo através do neutro, e
representando os componentes principais do circuito por símbolos padrão. Tal diagrama
simplificado é denominado diagrama unifilar. As informações que constam em diagrama
unifilar devem variar em função do estudo específico que se esteja realizando.

Adotaremos os seguintes símbolos para representar alguns componentes do sistema:

Gerador

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 24

Transformador de potência de dois enrolamentos

Transformador de potência de três enrolamentos

Fusível

Transformador de corrente

A Amperímetro

V Voltímetro

Disjuntor de potência (óleo ou outro líquido)

Conexão trifásica com três enrolamentos em delta

Conexão trifásica com três enrolamentos em Y


(neutro não aterrado)

Conexão trifásica com três enrolamentos em Y


(neutro aterrado)

ou Transformador de potencial

Um exemplo de diagrama unifilar é mostrado na Figura 16 a seguir:

1 T1 T2 3

2
Carga B

Carga A

Figura 16. Diagrama Unifilar – Exemplo.

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 25

1.9 DIAGRAMA DE IMPEDÂNCIA E DIAGRAMA DE REATÂNCIA

A Figura 17 a seguir combina o circuito equivalente de cada um dos elementos do


sistema (que serão discutidos em capítulos subseqüentes) para o chamado diagrama de
impedâncias por fase do sistema dado na Figura 16. O diagrama não inclui as impedâncias
que limitam as correntes de curto nos geradores, uma vez que nenhuma corrente flui pelo
neutro em condições de carga equilibradas.

+ + +
E 1 E 2 E 3
_ _ _

Carga A transformador T1 linha transformador T2 Carga B

Figura 17. Diagrama de Impedância por Fase da Figura 16.

Algumas simplificações no diagrama acima são feitas a seguir:

• Os valores de resistência são em geral desprezados no cálculo de curto circuito,


mesmo em programas computacionais. A omissão da resistência em geral causa um
erro desprezível, dado que os valores de indutâncias são bem maiores que os valores
de resistência.

• Cargas que não envolvem máquinas rotativas em geral possuem um efeito também
desprezível durante a ocorrência de uma falta.

• Motores de síncronos, entretanto, são sempre incluídos em cálculo de faltas uma vez
que as forças eletromotrizes geradas contribuem com as correntes de curto circuito.
O diagrama deve incluir os motores de indução através de uma força eletromotriz
em série com uma reatância indutiva se o diagrama representar uma situação
imediatamente após a ocorrência de uma falta (período transitório). Os motores de
indução podem ser ignorados alguns ciclos após a ocorrência da falta, já que sua
contribuição cai de forma brusca.

• A admitância shunt dos transformadores também é desprezada, dado que as


correntes shunt são muito pequenas se comparadas às correntes de carga.

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Capítulo I - Introdução aos Sistemas de Potência 26

Considerando tas simplificações, teremos o diagrama de reatâncias mostrado na figura 18 a


seguir. Estas simplificações são utilizadas no cálculo de curto-circuito, mas não no cálculo
de fluxo de carga do sistema.

+ + +
E 1 E 2 E 3
_ _ _

Figura 18 – Diagrama de Reatâncias por Fase da Figura 16.

Os diagramas por fase de impedância e de reatância são também chamados de diagrama


por fase de seqüência positiva, por razões que serão explicadas quando do estudo das
componentes simétricas.

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Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 1
circuito

Capítulo II
Representação dos Componentes de Sistemas de
Potência para Análise de Curto Circuito

2.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo a modelagem em termos de circuito dos componentes de sistemas de


potência será discutida. Será dada ênfase na modelagem destes elementos para os estudos
de curto circuito, que são o foco principal desta disciplina. Serão estudados os modelos dos
transformadores, dos geradores, das linhas de transmissão e das cargas.

2.2 MODELO DE TRANSFORMADORES

Os transformadores têm como função principal fazer a ligação entre níveis de tensão
diferentes, proporcionando uma elevação/diminuição dos níveis de tensão. Os
transformadores possuem uma eficiência muito alta (em torno de 100%) e são bastante
confiáveis.

2.2.1 Transformador Ideal

A Figura 1 mostra um desenho esquemático de um transformador monofásico. Duas ou


mais bobinas são colocadas sobre um núcleo de ferro de forma que sejam enlaçadas pelo
mesmo fluxo magnético.

i1 φ

+ +
v e1 N1
_1 _

+ +
v2 i2 e2 N2
_

Figura 1. Transformador Ideal.

No transformador ideal, temos as seguintes características: i) a permeabilidade


magnética do meio é infinita; ii) todo fluxo está confinado no núcleo de ferro; iii) as perdas
no ferro e as resistências dos enrolamentos são nulas. Pela lei de Faraday temos que as
tensões induzidas nos terminais do transformador são dadas por:

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 2
circuito


v1 = e1 = N 1 (1)
dt

v 2 = e2 = N 2 (2)
dt

onde φ é o valor instantâneo do fluxo da densidade de campo magnético B e N 1 e N 2 são


o número de espiras dos enrolamentos 1 e 2 respectivamente. O fluxo é dado pela regra da
mão direita (os dedos são estendidos na direção da corrente e o polegar dá o sentido do
fluxo). Assumindo-se que o fluxo varia de forma senoidal, tem-se que as tensões dadas em
1 e 2 também serão senoidais, podendo ser expressas, portanto, por fasores.

V1 E1 N 1
= = =a (3)
V2 E 2 N 2

A relação acima nos mostra claramente a possibilidade de se alterar níveis de tensão no


primário e secundário, escolhendo-se valores apropriados de N 1 e N 2 . Os pontos
marcando em alguns dos terminais servem para estipular que as quedas de tensão estão em
fase nos dois terminais marcados com ponto (a queda de tensão é calculada do ponto para o
outro terminal). Para encontrarmos a relação entre as correntes aplicamos a lei de Ampére à
Amperiana mostrada na Figura 1. Teremos:

∫ H ⋅ dl = i (4)

Onde:
H: intensidade de campo magnético;
H . dl: componente tangencial de H sobre a distância infinitesimal dl ao longo do caminho;
i: corrente total enlaçada pela amperiana;

∫ H ⋅ dl = N i
11 − N 2 i2 = 0 (5)

O sinal menos é devido à direção escolhida para a corrente i2 . A integral é nula pois se
fosse diferente de zero, teríamos B = µH igual a infinito já que em um transformador ideal
possui (por definição) um valor de permeabilidade infinita. Assim, teremos:

N 1i1 − N 2 i2 = 0 (6)

Tomando valores fasoriais teríamos:

I1 N 2 1
= = (7)
I2 N 1 a

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 3
circuito

Repare que em um transformador ideal, a corrente que circula no secundário deverá ser
nula se a corrente no primário também for nula. Se conectarmos uma impedância Z 2 nos
terminais do secundário teremos:
V
Z2 = 2 (8)
I2

Substituindo os valores de V2 e I2 teremos:

(N 2 N 1 ) V1
Z2 = (9)
(N1 N 2 ) I1

Assim, a impedância Z 2 ' vista pelo primário é portanto:

2
V1 ⎛ N 1 ⎞
Z2 '= =⎜ ⎟ Z2 = a2Z2 (10)
I1 ⎜⎝ N 2 ⎟⎠

Para referirmos uma impedância do secundário para o primário é necessário


multiplicarmos pelo quadrado da relação de transformação.

2.2.2 Transformadores Monofásicos não Ideais

O transformador ideal é um primeiro passo no sentido de estudarmos um transformador


prático, no qual temos: i) a permeabilidade não é infinita e as indutâncias são, portanto,
finitas; ii) nem todo o fluxo enlaçando um dos enrolamentos enlaça os demais; iii) existe
resistência nos enrolamentos iv) ocorrem perdas no cobre devido às variações na direção do
fluxo. Da teoria de transformadores (ver livro Grainger e Stevenson, páginas 46 a 53)
mostra-se que o circuito elétrico equivalente que representa um transformador prático é
dado pela Figura 2 a seguir:
I2
r1 x1 a 2 r2 a 2 x2 a:1
+ + +
I1 I2
a
V1 Gc Bm aV2 V2

ideal
Figura 2. Circuito Equivalente de um Transformador Monofásico.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 4
circuito

Onde tem-se:
r1 : resistência do enrolamento primário
x1 : reatância de dispersão do enrolamento primário
a 2 r2 : resistência do enrolamento secundário refletida no primário
a 2 x 2 : reatância de dispersão do enrolamento secundário refletida no primário
N
a : relação de transformação dada por 1
N2
Bm : susceptância de magnetização
G c : condutância shunt.

Pela Figura 2 mostra-se que um transformador prático pode ser representado por um
transformador ideal em série com um circuito que representa os efeitos desprezados no
transformador ideal.

Quando uma tensão senoidal é aplicada ao primário do transformador, com o


secundário aberto, uma pequena corrente, denominada de corrente de excitação circula. A
maior componente desta corrente é denominada de corrente de magnetização, que
corresponde à corrente através da susceptância de magnetização. A corrente de
magnetização produz o fluxo no núcleo ferro, e está associada à reatância de magnetização,
que, por sua vez, está relacionada ao fluxo mútuo entre as bobinas do primário e
secundário. Uma componente menor da corrente de excitação circula pela condutância Gc e
é responsável pelas perdas no ferro. As perdas no ferro ocorrem devido a dos fatores: i) as
alterações cíclicas na direção do fluxo requerem energia que é dissipada na forma de calor.
Estas perdas são denominadas de perdas por histerese; ii) a indução de correntes no ferro
2
devido às variações no fluxo as quais produzem perdas por R I . Tais correntes são
chamadas correntes de fuga ou correntes parasitas.

O transformador ideal pode ser omitido no circuito equivalente se todas as quantidades


forem referidas ao mesmo lado do transformador. Com isso, e desprezando a corrente de
excitação do transformador, teremos o seguinte circuito equivalente simplificado, mostrado
na Figura 3.
R1 X1
+ +
I1

V1 aV2

Figura 3. Circuito Equivalente do Transformador.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 5
circuito

Onde:
R1 = r1 + a 2 r2
X 1 = x1 + a 2 x 2

Sabe-se que a relação X 1 R1 aumenta à medida que o nível de tensão aumenta. Assim,
é comum que a parcela correspondente à resistência seja desprezada em cálculo de curto
circuito de sistemas de transmissão. Em sistemas de distribuição, onde a relação X 1 R1 é
bem menor, em geral, a representação das resistências é necessária.

Exercício 2.1

Um transformador monofásico possui 2000 espiras no enrolamento do primário e 500


espiras no enrolamento do secundário. As resistências dos enrolamentos são r1 = 2 Ω e
r2 = 0.125 Ω . As reatâncias de dispersão são x1 = 8 Ω e x 2 = 0.5 Ω . A resistência da carga é
de Z 2 = 12 Ω . Se aplicarmos uma tensão de 1200V no enrolamento primário, encontre V2 .
Despreze as correntes de magnetização. Calcule o valor de regulação de tensão.

Os parâmetros X 1 e R1 são determinados pelo ensaio de curto circuito. Neste ensaio a


impedância é medida em um dos terminais quando o outro terminal é curto-circuitado. Em
geral o terminal de baixa é curto-circuitado e é aplicada uma tensão na alta suficiente para
fluir a corrente nominal neste enrolamento. São determinados os valores de tensão, corrente
e potência. A corrente de excitação é desprezível.

Exercício 2.2

Um transformador monofásico possui os seguintes valores nominais: 15MVA, 11.5/69 KV.


O enrolamento de 11.5 KV (enrolamento 2) é curto-circuitado e é aplicada uma tensão de
5.5KV no enrolamento 1 de forma a fluir a corrente nominal. A potência de entrada medida
é de 105.8 MW. Encontre X 1 e R1 referidos ao enrolamento 1. As resistências e reatâncias
série são desprezadas, pois são muito inferiores a 1 ( Gc + jBm ) .

Os parâmetros Gc e Bm são determinados pelo ensaio a vazio do transformador.


Aplica-se a tensão nominal no enrolamento de baixa com o enrolamento de alta aberto.
Mede-se a potência de entrada e a corrente.

Exercício 2.3

Para o transformador do exemplo anterior o ensaio a vazio com 11.5 KV aplicados ao


enrolamento 2 obteve-se uma potência medida de 66.7KW e uma corrente de 30.4 A.
Encontre os valores de Gc e Bm referidos ao enrolamento 1. Qual a eficiência do
transformador para uma carga de 12 MW com um fator de potência atrasado de 0.8 na
tensão nominal.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 6
circuito

2.2.3 Impedância em PU de Transformadores Monofásicos

Os valores em ohms de X 1 e R1 dependem do lado em que estão referidos estes


valores. Se tais valores estão expressos em pu, a potência aparente base é a potência base
nominal da máquina e a tensão base é a tensão nominal, da alta ou da baixa, dependendo de
onde estão referidos estes valores. A impedância em pu é a mesma independentemente do
lado do transformador.

Exercício 2.4

Um transformador monofásico possui valores nominais dados por 110/440 V, 2.5 KVA. A
reatância de dispersão medida do lado de baixa vale 0.06 Ω. Determine a reatância de
dispersão em pu.

Utilização do PU

Para tirarmos vantagem da utilização do pu em um sistema monofásico é necessário que as


tensões base para os circuitos conectados através do transformador possuam a mesma
relação de transformação dos enrolamentos do transformador. A potência base deve ser a
mesma para todo o circuito.

Exercício 2.5

Três partes designadas por A, B e C de um circuito estão conectadas através de dois


transformadores. Os transformadores possuem os seguintes dados de placa

A-B 10.000 KVA, 13.8/138 KV ; reatância de dispersão de 10%


B-C 10.000 KVA, 138/69 KV ; reatância de dispersão de 8%

Se escolhermos como base para o circuito B os valores 10.000 KVA e 138 KV, encontre o
valor em pu de uma impedância resistiva de 300 Ω conectada ao circuito C referida aos
circuitos A, B e C. Desenhe o diagrama de impedância desprezando as correntes de
magnetização, as resistências dos transformadores e as impedâncias das linhas.

2.2.4 Transformadores Trifásicos

Três transformadores monofásicos idênticos podem ser conectados de modo que os três
enrolamentos que constituirão o primário e secundário sejam ligados em Y ou ∆. Ao invés
de se utilizar três transformadores monofásicos, é bastante comum um transformador
trifásico, onde todas as três fases estejam em um mesmo núcleo de ferro. A teoria é a

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 7
circuito

mesma para um transformador trifásico ou um banco formado por transformadores


monofásicos. Um exemplo de transformador trifásico é mostrado na Figura 4 a seguir.

H1 X2
A b
B a
H2 X1

N n

H3 X3
C c

Figura 4. Transformador trifásico Y-Y.

Convenciona-se utilizar letras H 1 , H 2 , H 3 , para representar os enrolamentos de alta e


X 1 , X 2 , X 3 para os enrolamentos de baixa. Os pontos marcados na figura são feitos de
modo que as tensões dos terminais H 1 , H 2 , H 3 para o neutro N estão em fase
respectivamente com as tensões dos terminais X 1 , X 2 , X 3 para o neutro n.

Em ligações Y-∆ ou ∆-Y há um defasamento entre as tensões produzidas no primário e


secundário. Pelo padrão americano (American Standard) os terminais dos transformadores
são rotulados de modo que as tensões dos pontos H 1 , H 2 , H 3 para o neutro N estejam
adiantadas de 30° respectivamente das tensões dos pontos X 1 , X 2 , X 3 para o neutro n.

2.2.5 Impedância em PU de Transformadores Trifásicos

Mostra-se (ver páginas 62 e 63 do livro Grainger e Stevenson) que a escolha da base


deve ser feita conforme descrito pela regra abaixo:

Escolhendo Valores Base para Transformadores Trifásicos.

O valor em pu das impedâncias em ambos os lados de um transformador é o mesmo desde


que: a mesma potência de base seja escolhida em ambos os lados, e as tensões de base
nos dois lados sejam escolhidas de modo que tenham a mesma relação entre as tensões
nominais de linha nos lados correspondentes do transformador.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 8
circuito

Exercício 2.6

Três transformadores, cada um com valores nominais de 25 MVA e 38.1/3.81 KV são


conectados em Y – ∆ a uma carga resistiva trifásica equilibrada de 0.6 Ω conectada em Y.
Se for escolhida uma base de 75 MVA e 66 KV para o enrolamento de alta, qual deverá ser
a base do enrolamento de baixa? Determine a resistência em pu da carga na base do
enrolamento de baixa. Determine a resistência em ohms refletida para o enrolamento de
alta. E o valor em pu desta resistência na base do enrolamento de alta.

Exercício 2.7

Um transformador trifásico possui valores nominais de 400MVA, 220 Y / 22∆ KV A


impedância equivalente de curto-circuito medida no lado de baixa é de 0.121 Ω. E devido à
baixa resistência este valor pode ser considerado igual à reatância de dispersão. Determine
valor em pu da reatância do transformador e o valor a ser utilizado para representar este
transformador em um sistema cuja base no lado de alta é dada por 100MVA e 230 KV.

2.2.6 Transformadores Trifásicos: Defasamento

Quando um transformador trifásico é conectado em Y – ∆ ou ∆ – Y ocorre um


defasamento angular, o que será mostrado a seguir. Seja a o transformador mostrado na
Figura 5 a seguir.

H1 X1
a
A
Ia
IA Iab Ica

H2 X3
B N c
Ic
IB Ibc

H3 X2
C b
Ib
IC

Figura 5. Diagrama de transformador trifásico Y – ∆.

Os enrolamentos desenhados em paralelo são enlaçados pelo mesmo fluxo. Na figura


enrolamento AN está em fase com o enrolamento ab, pela convenção do ponto assinalado

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 9
circuito

nos dois enrolamentos, ou seja, temos a tensão VAN em fase com a tensão Vab e assim
sucessivamente. Logo, adotando como referência a tensão VAN e uma seqüência de fases
abc, podemos construir o diagrama fasorial para as tensões, conforme mostrado na figura 6
a seguir. V ca

VCN Vcn

VAN Vab
30o

Van Van
Vbn
VBN

Vbc
Figura 6. Diagrama Fasorial do Diagrama da Figura 5.

O diagrama fasorial da Figura 6 nos mostra que as tensões fase-neutro dos


enrolamentos primário e secundário estão defasadas de 30º. A norma americana prevê que
para uma seqüência positiva (abc) as tensões do enrolamento de alta, VAN , VBN , VCN
estejam sempre adiantadas em relação às tensões do enrolamento de baixa, Van , Vbn , Vcn ,
conforme mostrado na figura. Esta norma independe se o enrolamento de alta está
conectado em Y ou ∆. É importante lembrar que se houvéssemos escolhido uma seqüência
de fase negativa (cba), ocorreria o oposto, ou seja as tensões VAN , VBN , VCN estariam
atrasadas das tensões Van , Vbn , Vcn . Repare que como a tensão produzida no enrolamento
AN está em fase com o a tensão produzida no enrolamento ab e temos:

N N
VAN = 1 Vab = 1 3Van × 1 30o (11)
N2 N2
Em pu temos:
N1
3Van × 1 30o
VAN N2 V × 1 30o
VANpu = = = an
Vbase( alta ) N1 
3Vbase(baixa ) Vbase(baixa )
N2

VANpu = Vanpu × 1 30o (12)

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Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 10
circuito

Exercício 2.8

Um gerador trifásico 330 MVA, 23 KV suprindo uma carga de 240 MVA, fator de potência
0.9 atrasado em 230 KV através de um transformador de 330 MVA 23 ∆/230 Y KV com
reatância de dispersão de 11%. Desprezando as correntes de magnetização e escolhendo
como valores base na carga 100MVA e 230 KV, encontre I A , IB , IC fornecida à carga em
pu com V como referência. Especificando a base apropriada para o circuito do gerador,
A
determine Ia , Ib , Ic saindo do gerador e as suas tensões terminais.

2.2.6 O Autotransformador

O autotransformador difere do transformador comum no sentido de que os


enrolamentos do primário e secundário estão eletricamente ligados, além de estarem
magneticamente acoplados. A Figura 7 mostra um diagrama esquemático de um
autotransformador.
I2
+

N2
I2
I1 Iin V2
+
+ +
V1 N1 V2 V1 I1 N1
N2

_ _

(a) transformador ideal (b) autotransformador

Figura 7. Diagrama esquemático de um transformador ideal conectado (a) da forma


usual; (b) como autotransformador.

A grande desvantagem do autotransformador é a perda do isolamento elétrico, mas o


aumento no valor nominal de potência é importante.

Exercício 2.9

Um transformador monofásico com valores nominais 80/120 KV, 90 MVA é conectado


como um autotransformador. Uma tensão terminal V1 = 80 KV é aplicada ao enrolamento
de baixa tensão. Considere o transformador ideal e a carga de modo que as correntes
nominais I1 e I2 fluam nos enrolamentos. Determine V2 e a potência aparente nominal
do transformador.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 11
circuito

2.2.7 O Transformador de Três Enrolamentos

Os enrolamentos primários e secundários de um transformador de dois enrolamentos


possuem a mesma potência aparente nominal. Em um transformador de três enrolamentos,
cada enrolamento pode possuir um valor nominal de potência aparente diferente. A
impedância de cada enrolamento pode ser dada em pu com base nos valores nominais de
cada enrolamento.
Um diagrama esquemático de um transformador de três enrolamentos é mostrado na
Figura 8 a seguir.

ZP
p
Zt
s
s Zs

t t

(a) (b)

Figura 8. Diagrama esquemático (a) e circuito equivalente (b) de um transformador de três


enrolamentos.

Três impedâncias podem ser medidas pelo teste de curto circuito padrão, quais sejam:

• Z ps : impedância medida no primário com o secundário curto-circuitado e o


terciário aberto.
• Z pt : impedância medida no primário com o terciário curto-circuitado e o
secundário aberto.
• Z st : impedância medida no secundário com o terciário curto-circuitado e o primário
aberto.

Se todas as impedâncias acima, medidas em ohms, forem referidas a um mesmo lado do


transformador (por exemplo, o primário), teremos a seguinte relação:

Z ps = Z p + Z s
Z pt = Z p + Z t
Z st = Z s + Z t

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Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 12
circuito

onde Z p , Z s , Z t são as impedâncias do primário, secundário e terciário referidas ao mesmo


lado (no nosso, exemplo o primário).

Reescrevendo as relações acima teremos:

Zp =
(Z ps + Z pt − Z st )
2

Zs =
(Z ps + Z st − Z pt ) (13)
2
(Z pt + Z st − Z ps )
Zt =
2

A conversão das impedâncias acima para pu requer a mesma base de potência


aparente para os três enrolamentos e requer tensões base específicas para cada
circuito (dada pela relação entre as tensões de linha dos três enrolamentos do circuito).

Exercício 2.10

Os valores nominais das três fases de um transformador de três enrolamentos são dados a
seguir:

Primário: Y 66KV, 15 MVA


Secundário: Y 13.2 KV, 10 MVA
Terciário: ∆ 2.3KV, 5 MVA

Desprezando as resistências, as impedâncias de dispersão são:


Z ps = 7% na base 15MVA, 66 KV.
Z pt = 9% na base 15MVA, 66 KV.
Z st = 8% na base 10MVA, 13.2 KV.

Encontre as impedâncias em pu do circuito equivalente por fase para uma base de 15 MVA,
66 KV no circuito primário.

2.3 MODELO DE GERADORES SÍNCRONOS

O gerador síncrono é responsável por grande parte da geração de energia elétrica


utilizada hoje no mundo. O gerador é acionado por uma turbina cuja energia em geral é
proveniente da energia potencial (em usinas hidráulicas) ou da queima de combustíveis
(usinas térmicas).

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 13
circuito

Os enrolamentos de uma máquina síncrona polifásica constituem um grupo de circuitos


elétricos magneticamente acoplados, alguns dos quais giram (localizados no rotor) em
relação a outros (localizados no estator).

2.3.1 Descrição das Máquinas Síncronas

Os enrolamentos localizados no rotor são denominados enrolamentos de campo. Estes


enrolamentos são supridos com corrente contínua, fornecida por uma excitação. Os
enrolamentos localizados no estator são denominados enrolamentos de armadura. A
força magnetomotriz produzida pelo enrolamento de campo se combina com a força
magnetomotriz produzida pelas correntes do enrolamento de armadura. O fluxo resultante
no entreferro gera tensões nas bobinas de armadura e fornece torque eletromagnético entre
o estator e rotor.

A Figura 9 mostra um gerador síncrono bastante elementar. O enrolamento de campo dá


origem a dois pólos magnéticos. O eixo do campo destes pólos é denominado eixo direto
ou eixo d. A 90° atrasado localiza-se o eixo em quadratura ou eixo q. O gerador da figura é
chamado gerador de pólos lisos ou não salientes, pois possui um rotor cilíndrico, sem
saliências. Em uma máquina real, os enrolamentos estão distribuídos por ranhuras em
torno da circunferência do rotor. Também é mostrado um corte do estator na Figura 9. Os
lados opostos de uma bobina estão nas ranhuras a e a’. Bobinas semelhantes estão nas
ranhuras b e b’ e ainda c e c’. As bobinas correspondentes às fases a, b e c estão defasadas
de 120°.

eixo d θd
estator

eixo q
c’ b

N
a a’ força
S magnetomotriz
do enrolamento
de campo
b’ c

enrolamento
de campo
rotor

Figura 9. Gerador síncrono de pólos lisos.

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Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 14
circuito

A Figura 10 mostra uma máquina de pólos salientes com quatro pólos. Os lados opostos de
uma mesma bobina estão defasados de 90°. Portanto existem duas bobinas para cada fase.
Os lados a, b e c de bobinas adjacentes estão defasados de 60°. As duas bobinas de uma
fase podem ser conectadas em série ou paralelo.

eixo d

a’
b
c eixo q

N c’
b’
S

a a
S
N
b’
c’ estator
c
rotor
b a’

enrolamento de campo

Figura 10. Gerador síncrono de pólos salientes.

As máquinas de pólos salientes possuem um enrolamento adicional denominado de


enrolamento de amortecimento (não está mostrado na figura 10), que é constituído de
barras de cobre curto-circuitadas, de forma similar a um enrolamento em gaiola de esquilo
de um motor de indução. Este enrolamento tem por objetivo reduzir as oscilações
mecânicas no eixo do gerador no entorno da velocidade síncrona. A velocidade síncrona é
determinada pelo número de pólos da máquina e a freqüência do sistema ao qual a máquina
está conectada. Em uma máquina de dois pólos um ciclo de tensão é gerado para cada
rotação completa do rotor de dois pólos. Em uma máquina de quatro pólos dois ciclos de
tensão são gerados por revolução. Como o número de ciclos por revolução iguala o número
de pares de pólos, a freqüência da tensão gerada é dada pela equação 14 a seguir.

P N P
f = = fm (14)
2 60 2

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Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 15
circuito

f = freqüência elétrica em Hz
P = numero de pólos
N = velocidade do rotor em revoluções por minuto
f m = N 60 = freqüência mecânica em revoluções por segundo (rps).

Graus elétricos são utilizados para exprimir tensão e corrente e graus mecânicos são
utilizados para expressar a posição do rotor. Em uma máquina de dois pólos os graus
elétricos e mecânicos coincidem. Em qualquer outra máquina o número de graus elétricos é
igual a P 2 vezes o número de graus mecânicos.

2.3.2 Geradores Trifásicos

Os enrolamentos de armadura de uma máquina síncrona estão distribuídos no entorno do


estator. Mostra-se (ver apêndice A.1 do livro Grainger) que estes enrolamentos distribuídos
podem ser substituídos por um único enrolamento concentrado ao longo de seu eixo, com
auto-indutância e indutâncias mútuas específicas.
ia
eixo fase a
+
va
eixo d R, Laa
_ eixo q

θd

δ
Lab = Lba
Lac = Lca
if
o
+
f
_
v ff '
R, Lbb f´ R, Lcc
_
eixo fase b vb eixo fase c
+ vc +
ib
ic
Lbc = Lcb

Figura 11. Gerador trifásico idealizado mostrando enrolamentos de armadura e campo.

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Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 16
circuito

A Figura 11 mostra três bobinas concentradas estacionárias representando os


enrolamentos de armadura das fases a, b e c e uma bobina concentrada f representando o
enrolamento de campo. As três bobinas concentradas são idênticas e são conectadas no
ponto o. Mostra-se para a máquina de pólos lisos que (ver apêndice A.1 do livro Grainger)
que:

• cada bobina concentrada possui auto-indutância Ls igual às auto-indutâncias das


bobinas distribuídas da armadura.

Ls = Laa = Lbb = Lcc (15)

• as indutâncias mútuas entre cada par de bobinas concentradas adjacentes são valores
negativos dados por − M s , sendo que:

− M s = Lab = Lbc = Lca (16)

• as indutâncias mútuas entre a bobina f e cada bobina da armadura variam de acordo


com a posição do rotor e de acordo com a indutância máxima M f .

Laf = M f cos θ d
(
Lbf = M f cos θ d − 120 o ) (17)
Lcf = M f cos(θ d − 240 )
o

O enrolamento de campo possui uma indutância mútua L ff constante.

A partir das considerações acima, pode-se escrever os fluxos de enlace de cada bobina,
conforme a seguir:

Na Armadura

λ a = Laa ia + Lab ib + Lac ic + Laf i f = Ls ia − M s (ib + ic ) + Laf i f


λb = Lba ia + Lbb ib + Lbc ic + Lbf i f = Ls ib − M s (ia + ic ) + Lbf i f (18)
λc = Lca ia + Lcb ib + Lcc ic + Lcf i f = Ls ic − M s (ia + ib ) + Lcf i f

No Campo

λ f = Laf ia + Lbf ib + Lcf ic + L ff i f (19)

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Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 17
circuito

Se as correntes de armadura são balanceadas teremos: ia + ib + ic = 0 Fazendo


ia = −(ib + ic ) , ib = −(ia + ic ) e ic = −(ia + ib ) na equação (18) teremos:

λa = (Ls + M s )ia + Laf i f


λb = (Ls + M s )ib + Lbf i f (20)
λc = (Ls + M s )ic + Lcf i f

Em condições de regime permanente assume-se que a corrente de campo i f possui um


valor constante I f e que o campo gira a uma velocidade angular constante ω , de modo
que para a máquina de dois pólos temos:

dθ d
ω= e θd = ω t +θd0 (21)
dt

onde θ d 0 é uma posição inicial do rotor. Substituindo as equações (17) e (21) em (20),
temos:

λ a = (Ls + M s )ia + M f I f cos(ω t + θ d 0 )


(
λb = (Ls + M s )ib + M f I f cos ω t + θ d 0 − 120 o ) (22)
λc = (Ls + M s )ic + M f I f cos(ω t + θ d0 − 240 )
o

A expressão acima nos mostra que o fluxo enlaçando a bobina a possui duas
componentes: uma devido à própria corrente da fase a da armadura e outra devido ao
campo. Se a bobina possui uma certa resistência R, podemos escrever:

dλ a di
v a = − R ia − = − R ia − (Ls + M s ) a + ω M f I f sen (ω t + θ d 0 ) (23)
dt dt

O último termo é denominado de força eletromotriz interna, que chamaremos ea ' .

ea ' = 2 Ei sen (ω t + θ d 0 ) (24)

A magnitude desta força eletromotriz é proporcional à corrente de campo, e dada por:

ω MfIf
Ei = (25)
2

Veja que a força eletromotriz acima aparece mesmo quando não há corrente na fase a
da armadura. Por isso ea ' também é chamada de tensão a vazio, tensão de circuito aberto,
tensão interna da máquina ou ainda força eletromotriz gerada.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 18
circuito

O ângulo θ d 0 indica a posição do enrolamento de campo em relação à fase a, tomada


como referência na Figura 11. Podemos definir o ângulo δ = θ d 0 − 90 o , como o ângulo do
eixo de quadratura. Reescrevendo a equação da força eletromotriz gerada teremos:

(
ea ' = 2 Ei sen ω t + δ + 90 o ) (26)

Assim a tensão terminal da fase a é dada por:

dia
v a = − R i a − ( Ls + M s ) + 2 Ei cos(ω t + δ ) (27)
dt 

e
a'

Esta equação corresponde ao circuito mostrado na Figura 12 a seguir.

ia

+ a
R

Ls + M s
va
a’
+
ea' 0 = 2 Ei cos (ω t + δ )
_
_
0
_ _
eb' 0 +
Ls + M s + eb' 0 +
c’ Ls + M s
b’
R
R ib
vc
b

ic _
c

Figura 12. Circuito equivalente da armadura do gerador trifásico idealizado

Como as forças eletromotrizes produzidas possuem o mesmo módulo e estão defasadas


de 120º, temos um sistema equilibrado que, ao alimentar uma carga equilibrada, irá
produzir correntes equilibradas conforme mostrado na equação 28.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 19
circuito

ia = 2 I a cos (ω t + δ − θ a )

(
ib = 2 I b cos ω t + δ − θ a − 120o ) (28)

ic = 2 I c cos (ω t + δ −θa − 240 )


o

onde θ a é o ângulo de defasamento angular entre a corrente e a força eletromotriz


gerada ea ' .

As expressões dadas em (17) podem ser substituídas em (19) de modo que teremos:

( ( )
λ f = L ff I f + M f ia cosθ d + ib cos θ d − 120 o + ic cos θ d − 240 o ( )) (29)

O primeiro termo entre parênteses pode ser expandido da forma:

ia cos θ d = 2 I a cos (ω t + δ − θ a ) cos ω t + δ + 90o ( ) (30)

Aplicando relações trigonométricas teremos:

Ia
ia cosθ d = {− sen (θ a ) − sen (2(ω t + δ ) − θ a )} (31)
2

Analogamente para as demais fases teremos

(
ib cos θ d − 120 o = ) Ib
{− sen(θ a ) − sen (2(ω t + δ ) − θ a − 120 o )}
2
(32)
(
ic cos θ d − 240 o = ) Ic
{− sen(θ a ) − sen (2(ω t + δ ) − θ a − 240 o )}
2

Os termos envolvendo 2ω t são componentes equilibradas e a sua soma é portanto nula.


Somando os demais termos teremos:

( )
ia cos θ d + ib cos θ d − 120 o + ic cos θ d − 240 o = − ( ) 3 Ia
sen (θ a ) (33)
2

Retornando o valor (33) na expressão (29) teremos:

3M f I a 3
λ f = L ff I f − sen (θ a ) = L ff I f + M f id (34)
2 2

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Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 20
circuito

onde:
id = − 3 I a sen (θ a ) (35)

Repare-se que a corrente id é contínua. A equação (34) também nos mostra que o fluxo
combinado das bobinas a, b e c enlaçando o campo é independente do tempo. Pode-se
interpretar este fluxo como sendo produzido por uma bobina fictícia cujo eixo é coincidente
com o eixo direto. As duas bobinas giram juntas em sincronismo e possuem uma indutância
mútua dada por 3 2 M f . Esta interpretação é mostrada na Figura 13 a seguir:

eixo fase a

eixo d eixo q

id
θd

indutância mútua 3 2 M f

if

+
f
_
v ff '
eixo fase c
eixo fase b f´

Figura 13. Representação da armadura através de um enrolamento de eixo direito com


impedância mútua de 3 2 M f .

Se o enrolamento de campo possuir uma resistência R f , teremos a seguinte equação


para os terminais do enrolamento de campo:

dλ f
v ff ' = R f i f + (36)
dt

Como λ f não varia com o tempo temos:

v ff ' = R f I f (37)

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 21
circuito

logo, a corrente de campo pode ser suprida por uma fonte de corrente contínua.
A equação (35) nos mostra que a corrente id só depende da magnitude da corrente de
armadura e do ângulo de defasamento desta corrente em relação à força eletromotriz
interna gerada.

2.3.3 Reatância Síncrona e Circuito Equivalente

Podemos escrever o circuito equivalente por fase da Figura 12 tomando-se a força


eletromotriz ea ' como referência, conforme mostrado na Figura 14 a seguir.

ia = 2 I a cos (ω t − θ )
a

Ls + M s
v a = 2 Va cos(ω t )
a’
+
ea ' 0 = 2 Ei cos(ω t + δ )
_
_
0

Figura 14. Circuito equivalente por fase da máquina síncrona mostrada na Figura 12

Repare que o ângulo da corrente foi alterado uma vez que, na prática é difícil
estabelecermos o defasamento angular com respeito a força eletromotriz ea ' interna da
máquina. Fasorialmente teríamos:

Va = Va ∠0 ; E a ' = E a ' ∠δ ; Ia = Ia ∠θ (38)

Teremos o circuito elétrico mostrado a seguir na Figura 15.


Ia = Ia ∠θ
jω ( L s + M s ) R
+

+
E i = E i ∠δ v a = Va = Va ∠0

_
0
Figura 15 Circuito equivalente da máquina síncrona em termos fasoriais

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 22
circuito

Assim, a tensão nos terminais na máquina será dada pela equação:

Va = E − RI − jω Ls Ia − jω M s Ia (39)


Ni Na 


tensãogerada resistência da armadura auto−reatância reatância mutua


a vazio da armadura da armadura

O termo X d = ω (Ls + M s ) é denominado de reatância síncrona. E a impedância síncrona


deve incluir também a resistência. Assim, finalmente temos o circuito equivalente mostrado
na Figura 16 a seguir.
Ia = Ia ∠θ
jX d R
+

+
E i = E i ∠δ v a = Va = Va ∠0

_
0

Figura 16 Circuito equivalente para o gerador síncrono

Exercício 2.11

Um gerador síncrono de 60 Hz descrito com resistência de armadura desprezível possui as


seguintes indutâncias:

Laa = Ls = 2.7656mH ; M f = 31.6950mH ;


Lab = M s = 1.3828mH ; L ff = 433.6569mH
Os dados nominais da máquina são 635MVA, fator de potência de 0.9 indutivo, 3600 rpm,
24KV. Quando opera sob condições nominais a tensão fase-neutro terminal e a corrente da
fase a valem:

v a = 19596 cos(ω t ) V ; ia = 21603 cos(ω t − 25.8419) A

Sabendo-se que este gerador está suprindo sua carga nominal sob condições de regime
permanente, e escolhendo a base da armadura igual aos valores nominais da máquina
determine o valor da reatância síncrona e as expressões fasoriais para Va , Ia , e E i em pu.
Se a corrente de campo que produz a tensão terminal nominal sob condições de circuito
aberto vale 1640 A, determine a corrente sob as condições de operação especificadas.

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Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 23
circuito

2.3.4 Correntes de Curto-circuito nos Terminais de Uma Máquina Síncrona

Quando uma tensão alternada é subitamente aplicada a um circuito R-L as correntes que
fluem no circuito geralmente possuem duas componentes: uma componente DC que decai
de acordo com a constante de tempo L/R e uma componente senoidal de amplitude
constante. Um fenômeno similar, porém mais complexo, ocorre quando uma corrente de
curto aparece nos terminais de um gerador. As componentes DC desta corrente de curto
causam uma certa assimetria no gráfico corrente-tempo.

Uma boa forma de avaliarmos uma corrente de curto trifásico nos terminais de um
gerador consiste em oscilografar a corrente de uma das fases de um gerador (em vazio).
Como as tensões nas fases estão defasadas de 120 graus elétricos, o curto ocorre em níveis
de tensão diferentes em cada fase. Por esta razão a componente DC é também diferente
para cada fase. Se filtrarmos a componente DC teremos um gráfico de corrente no tempo
conforme mostrado na Figura 17 a seguir.

Figura 17. Corrente de curto trifásico nos terminais de um gerador síncrono em vazio com a
componente DC filtrada.

A amplitude da corrente varia de acordo com a expressão:

1 ⎛ 1 1 ⎞⎟ −t / T 'd ⎛ ⎞ −t / T ''d
I (t ) = E i + E i ⎜⎜ ' − e +  ⎜ 1 − 1
E ⎟e (40)
Xd ⎟ i ⎜ X '' X ' ⎟
⎝ Xd Xd ⎠ ⎝ d d ⎠

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Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 24
circuito

A equação nos mostra que a amplitude da corrente possui três componentes, sendo que
as duas últimas decaem com constantes de tempo diferentes, definindo respectivamente os
períodos transitórios e subtransitórios.

Desprezando-se a resistência da armadura, a distância 0-a no gráfico corresponde ao


valor máximo da corrente de curto-circuito em regime permanente. Na Figura 17, o valor
eficaz associado a este valor máximo é dado conforme a expressão (41) a seguir.

E
I = 0 − a = i (41)
2 Xd

Se os efeitos subtransitórios fossem desprezados, a curva de corrente interceptaria o


eixo no ponto b, mostrado na Figura 17. O valor eficaz desta corrente é denominado de
corrente transitória, sendo definido por:

0−b E i
I' = = (42)
2 X 'd

O valor eficaz da corrente determinada pela distância 0-c na Figura 17 é denominado de


corrente subtransitória, definida por:

0−c E i
I' ' = = (43)
2 X ' 'd

Pode-se utilizar as equações (43) e (42) para calcular o valor das correntes transitórias e
subtransitórias quando o oscilograma é feito em uma das fases, lembrando que é necessário
filtrarmos a componente DC do gráfico corrente-tempo.

Se o gerador está descarregado no momento da falta, a máquina é representada por


uma tensão fase-neutro (força eletromotriz gerada) em série com a reatância apropriada.
Para o cálculo das correntes transitórias e subtransitórias utilizamos uma tensão fase-neutro
em série com as reatâncias transitórias e subtransitórias respectivamente. Assim teremos os
circuitos equivalentes específicos para cada período da falta, conforme mostrado na Figura
18 a seguir.
jX ''d jX 'd jX d

+ + +
E i E i E i
_ _ _

(a) (b) (c)


Figura 18. Circuitos equivalentes de um gerador síncrono com tensão interna E i e: (a)
reatância subtransitória (b) reatância transitória (c) reatância síncrona
Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)
Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 25
circuito

Assim, a máquina síncrona possui reatâncias diferentes quando é submetida a um curto-


circuito trifásico em seus terminais. Imediatamente após a ocorrência do curto a armadura
da máquina possui uma reatância efetiva X ' ' d , que em geral é determinada pela resistência
oferecida pelo enrolamento de amortecimento. O período no qual X ' ' d possui valor efetivo
é chamado de período subtransitório e dura tipicamente de 3 a 4 ciclos da freqüência do
sistema. Assim que os efeitos das correntes dos enrolamentos de amortecimento se tornam
desprezíveis, tem-se o período transitório, em que a armadura possui reatância efetiva X ' d ,
que desaparece assim que o efeito da resistência do enrolamento de campo passa a ser
desprezível. Em geral este período é da ordem de 1 segundo. Finalmente, a corrente de
curto de regime permanente se instala no circuito através da reatância síncrona X d .
A ordem de grandeza das reatâncias é conforme a equação 44 a seguir.

X ' 'd < X 'd < X d (44)

Os valores das reatâncias são fornecidos pelos fabricantes das máquinas expressas em
pu na base dos dados de placa do gerador.

Exercício 2.12

Dois geradores são conectados em paralelo no lado de baixa de um transformador trifásico


∆ – Y. O gerador 1 possui valores nominais 50.000KVA, 13.8 KV e o gerador 2 possui
valores nominais 25.000KVA e 13.8KV. Cada gerador possui reatância subtransitória de
25% na sua própria base. Os valores nominais do transformador são 75.000KVA e 13.8 ∆
/69 Y KV com uma reatância de 10% Antes da ocorrência da falta a tensão na alta do
transformador é de 66KV. O transformador está descarregado e não há nenhuma corrente
circulante entre o gerador e o transformador. Encontre a corrente subtransitória em cada
gerador quando um curto trifásico ocorre no lado de alta do transformador.

2.4 MODELOS DE LINHAS DE TRANSMISSÃO

As linhas de transmissão transportam a energia dos pontos de geração aos pontos de


consumo. Dependendo da distância entre os pontos de geração e consumo as linhas são
classificadas em curtas, médias e longas.

2.4.1 Linhas Curtas

Uma linha curta é caracterizada, de acordo com seu nível de tensão e de seu
comprimento. A Tabela 1 mostra os valores máximos de comprimentos das linhas curtas,
dependendo do nível de tensão adotado.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 26
circuito

Tabela 1. Caracterização de uma linha de transmissão curta.


Tensão de linha (VL) Comprimento máximo (Km)
VL< 150 KV 80 Km
150 KV ≤ VL < 400 KV 40 Km
VL ≥ 400 KV 20 Km

O modelo por fase que representa uma linha de transmissão curta é mostrado na Figura
19 a seguir, onde a resistência representa as perdas na linha. O efeito das capacitâncias
shunt das linhas curtas é desprezível.

jX LT R LT

Figura 19. Modelo por fase da linha de transmissão curta.

2.4.2 Linhas Médias

As linhas médias de transmissão são classificadas segundo a Tabela 2 mostrada a


seguir.

Tabela 2. Caracterização de uma linha de transmissão média.


Tensão de linha (VL) Comprimento máximo (L)
VL< 150 KV 80 Km ≤ L < 200 Km
150 KV ≤ VL < 400 KV 40 Km ≤ L < 200 Km
VL ≥ 400 KV 20 Km ≤ L < 100 Km

O modelo utilizado para a representação desta linha é o modelo π, onde o efeito


capacitivo da linha é representado pela admitância concentrada shunt Y da linha. O modelo
por fase da linha média é mostrado na Figura 20 a seguir.

jX LT R LT

Y 2 Y 2

Figura 20. Modelo π por fase da linha de transmissão média

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 27
circuito

2.4.3 Linhas Longas

As linhas longas têm comprimentos superiores aos valores máximos apresentados na


Tabela 2. A sua representação é mais complexa. Pode-se, entretanto, utilizar o modelo π,
com valores corrigidos para a impedância série e para admitância shunt, conforme a
expressão (45) a seguir.

Z * senh(γ l )
Z corrigido =
γl
(45)
Y tangh (γ l 2)
Ycorrigido =
γl 2
onde:

l: comprimento da linha;
γ: constante de propagação da linha dada por: γ = yz ;
y: admitância shunt por unidade de comprimento;
z: impedância série por unidade de comprimento;

Do ponto de vista de curto-circuito, os elementos shunt são desprezíveis, sendo


adotado, portanto, o modelo de linha curta conforme mostrado na Figura 19. Mesmo a
resistência série da linha é em geral desprezada em níveis mais elevados de tensão.

2.5 MODELAGEM DAS CARGAS

As cargas elétricas podem ser desprezadas ou levadas em consideração durante estudos


de curto-circuito, dependendo do tipo, tamanho e da importância no sistema. Para
estudarmos a influência da carga em estudos de curto-circuito, seja o sistema destacado no
diagrama unifilar e no correspondente diagrama de impedâncias mostrados na Figura 21 a
seguir.
T1
LT
1
Carga
resistiva
jX d jX T jX LT IR

+
R
+ VR
E i
_
_

Figura 21. Diagrama unifilar e respectivo diagrama de impedâncias.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo II Representação dos Componentes de Sistemas de Potência para Análise de Curto- 28
circuito

Em regime permanente a corrente de carga IR é dada pela expressão 46 a seguir.

E i
IR = (46)
j ( X d + X T + X LT ) + R

A resistência R pode representar, por exemplo, a carga total de uma cidade, portanto seu
valor é muito superior a j ( X d + X T + X LT ) . Neste caso a corrente na carga fica
praticamente dada conforme (47).

E
IR = i (47)
R

Em regime de curto-circuito trifásico na barra de carga teremos que a corrente de curto


é dada pela equação (48).

E i
Icc = (48)
j ( X d + X T + X LT )

Veja pela Figura 22 que com o curto-circuito a tensão na barra cai a zero e a carga deixa
de ser sentida pelo circuito. Assim, temos que a corrente de curto Icc é muito superior à
corrente de regime permanente I , ou seja: I >> I .
R cc R

jX d jX T jX LT

R
+ Icc
E i
_

Figura 22. Curto-circuito trifásico na barra de carga.

É importante lembrar que cargas tais como os motores de indução têm uma
contribuição efetiva na composição das correntes de curto, já que podem operar como
geradores em instantes subseqüentes ao curto (período subtransitório). Portanto, os motores
de indução devem ser inseridos nos estudos de cálculo de corrente de curto-circuito.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 1

CAPÍTULO III

COMPONENTES SIMÉTRICAS E REDES DE SEQÜÊNCIA

3.1 INTRODUÇÃO

Uma das ferramentas mais poderosas para a análise de circuitos polifásicos


desequilibrados foi proposta por C. L. Fortescue. De acordo com esta teoria mostra-se que
um sistema desequilibrado de n fasores pode ser resolvido em n sistemas de fasores
equilibrados, chamados componentes simétricas dos fasores desequilibrados originais.

Quando faltas desequilibradas ocorrem em um sistema trifásico, aparecem no sistema


correntes e tensões desequilibradas. Se as tensões e correntes estão relacionadas por
impedâncias constantes, diz-se que o sistema é linear. Neste caso o princípio da
superposição é aplicável. A resposta de tensão de um sistema linear a correntes
desequilibradas pode ser determinada considerando-se as respostas individuais de tensão de
cada elemento do sistema às componentes simétricas destas correntes. Os elementos do
sistema são: máquinas, transformadores, linhas de transmissão e cargas.

Será descrito neste capítulo o método de componentes simétricas e as respostas de cada


elemento do sistema. Circuitos equivalentes, chamados de circuitos de seqüência, serão
desenvolvidos de modo a refletir as respostas individuais dos elementos a cada corrente de
seqüência. Em sistemas trifásicos existem três circuitos de seqüência para cada elemento do
circuito. Organizando os circuitos equivalentes em redes, de acordo com suas
interconexões, tem-se o conceito de redes de seqüência. A solução das redes de seqüência
para condições de falta nos fornece as componentes simétricas de correntes e tensões, que
combinadas fornecem a solução do sistema trifásico desbalanceado original.

3.2 SÍNTESE DE FASORES ASSIMÉTRICOS A PARTIR DE COMPONENTES


SIMÉTRICAS

De acordo com o teorema de Fortescue, três fasores desequilibrados de um sistema


trifásico podem ser resolvidos em três sistemas de fasores equilibrados. As componentes
equilibradas são:

1. Componentes de Seqüência Positiva: consistem de três fasores de igual magnitude


defasados de 120º e com a mesma seqüência de fase dos fasores originais

2. Componentes de Seqüência Negativa: consistem de três fasores de igual


magnitude defasados de 120º e com a seqüência de fase contrária a dos fasores
originais

3. Componentes de Seqüência Zero: consistem de três fasores de igual magnitude,


todos em fase.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 2

Assim, de acordo com o Teorema de Fortescue, três fasores de tensão


Va , Vb ,Vc desequilibrados podem ser expressos por suas componentes de seqüência positiva

( Va(1) , Vb(1) , Vc(1) ), negativa ( Va( 2) , Vb( 2) , Vc( 2) ) e zero ( Va( 0) ,Vb( 0) , Vc( 0) ), da forma:

Va = Va( 0) + Va(1) + Va( 2)


Vb = Vb( 0) + Vb(1) + Vb( 2) (1)
V = V ( 0) + V (1) + V ( 2)
c c c c

A Figura 1 mostra o conjunto de fasores equilibrados que correspondem às


componentes simétricas das tensões equilibradas Va , Vb , Vc .

Vc(1) Vc(2)
Va(0)

Vb(0)
Va(1) Va(2) Vb(2) Vc(0)

Vb(1)
seqüência positiva (abc) seqüência negativa (cba) seqüência zero
Figura 1. Componentes simétricas das tensões desequilibradas Va , Vb ,Vc .

A Figura 2 a seguir mostra como a composição fasorial das componentes simétricas


gera as tensões desequilibradas Va ,Vb ,Vc .

Vc( 0)

Vc( 2) 
V c

Vc(1)
Va(1)

Vb(1) Va( 2)

Va( 0) V a

Vb( 2)

V
Vb( 0) b

Figura 2. Soma fasorial das componentes simétricas gerando as


tensões desequilibradas Va , Vb , Vc .

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 3

3.3 COMPONENTES SIMÉTRICAS DE FASORES ASSIMÉTRICOS

Na seção anterior mostrou-se como as componentes simétricas de três fasores


desequilibrados podem ser compostas de modo a reproduzir os três fasores. Nesta seção
mostra-se como calcular as componentes simétricas a partir dos fasores desequilibrados.
Para isso é conveniente conceituar o operador a.

3.3.1 Operador a

O operador a causa uma rotação de 120º no sentido anti-horário em um outro fasor.


Assim, este operador é definido como um fasor unitário com ângulo de 120º.

a = 1∠120 o (2)

Se o operador a for aplicado a um fasor duas vezes teremos uma rotação de 240º.
Assim, temos:
a 2 = 1∠240 o (3)

Algumas relações envolvendo o operador a estão mostradas na Figura 3 a seguir:

a − a2

a −1 a − a2 1− a2

− 1,−a 3 1, a 3

1− a
a2 −1
a2 −a

a2 − a

Figura 3. Relações fasoriais envolvendo o operador a.

Utilizando o operador a podemos escrever:

Vb( 0) = Va( 0) Vc( 0) = Va( 0)


V (1) = a 2V (1)
b a V (1) = aV (1)
c a (4)
Vb( 2) = aVa( 2) Vc( 2) =a Va( 2)
2

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 4

Substituindo as equações (4) em (1) teremos:

Va = Va( 0) + Va(1) + Va( 2)


Vb = Va( 0) + a 2Va(1) + aVa( 2) (5)
V = V ( 0) + aV (1) + a 2V ( 2)
c a a a

Ou na forma matricial teremos:

⎡Va ⎤ ⎡1 1 1 ⎤ ⎡Va( 0) ⎤ ⎡Va( 0) ⎤


⎢ ⎥ ⎢ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢Vb ⎥ = ⎢1 a
2
a ⎥⎥ * ⎢Va(1) ⎥ = A * ⎢Va(1) ⎥ (6)
⎢Vc ⎥ ⎢⎣1 a
⎣ ⎦ a 2 ⎥⎦ ⎢⎣Va( 2) ⎥⎦ ⎢Va( 2) ⎥
⎣ ⎦

Quando a matriz A é aplicada às componentes de seqüência da fase a reproduzem as


tensões desequilibradas Va ,Vb ,Vc . Verifica-se facilmente que a inversa da matriz A é dada
por:

⎡1 1 1⎤
1⎢
A −1
= ⎢1 a a 2 ⎥⎥ (7)
3
⎢⎣1 a 2 a ⎥⎦

Pré-multiplicando a equação (6) por A −1 , temos:

⎡Va( 0) ⎤ ⎡1 1 1 ⎤ ⎡Va ⎤
⎢  (1) ⎥ 1 ⎢ ⎢ ⎥
⎢Va ⎥ = 3 ⎢1 a a 2 ⎥⎥ * ⎢Vb ⎥ (8)
⎢Va( 2) ⎥ ⎢⎣1 a 2 a ⎥⎦ ⎢⎣Vc ⎥⎦
⎣ ⎦

A equação (8) acima permite determinar as componentes de seqüência da fase a a partir


das tensões desequilibradas Va ,Vb ,Vc . As componentes de seqüência das demais fases são
diretamente determinadas por defasamentos de 120º. Reescrevendo a equação (8) temos:

Va( 0) = 1
(Va + Vb + Vc )
3
V (1)
a = 1
(V a + aV b + a 2Vc ) (9)
3

Va( 2) = 1
(Va + a 2Vb + aV )
3 c

A decomposição de fasores desequilibrados em componentes simétricas equilibradas é


válida para quaisquer fasores, ou seja, tensões de linha e de fase, correntes de linha e de
fase. As equações (6) e (8) são válidas, por exemplo, para as tensões de linha, bastando
substituir Va , Vb , Vc por Vab , Vbc , Vca nas equações.

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 5

Repare que a equação (9) mostra que existe componente de seqüência 0 sempre que a
soma dos fasores desequilibrados for nula. Como sabemos que a soma das tensões de linha
em um sistema trifásico é sempre nula, nunca haverá componentes de seqüência zero
nas tensões de linha, por mais desequilibradas que sejam estas tensões.

Reescrevendo as equações (6) e (8) para as correntes temos:

Ia = Ia( 0) + Ia(1) + Ia( 2 )


Ib = I ( 0)
a + a 2 Ia(1) + aI ( 2 )
a (10)
Ic = Ia( 0) + aIb(1) + a 2 Ia( 2 )

Ia( 0 )
1 
= (I + Ib + Ic )
3 a
I (1)
1 
a = (I + aI + a 2 Ic ) (11)
3 a b
I ( 2 ) =
1 
(I + a 2 Ib + aI )
a 3 a c

Exercício 3.1

Um condutor de um circuito trifásico está aberto. As correntes que fluem para a carga
conectada em ∆ são de 10 A. Tendo a corrente na linha a como referência e assumindo-se
que a linha c está aberta encontre as componentes simétricas das correntes de linha.

3.4 ELEMENTOS DE CIRCUITO CONECTADOS EM ∆ E Y.

Seja a Figura 4 a seguir, mostrando elementos de circuito simétricos conectados em ∆ e


Y. Serão deduzidas a seguir relações entre as componentes simétricas de correntes e tensões
para estes circuitos.
Ia Ia
a _ a _
+ +

Vab Iab Vab


ZY Van
Ica
Vca Z∆ Z∆ Vca n
_ Ib _ Ib
Z∆ ZY
b ZY
b
+ +
Vbc Ibc Vbc
Ic Ic
+ _ + _
c c
Figura 4. Elementos de circuito conectados em ∆ e Y.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 6

No circuito em ∆ temos as seguintes equações:

Ia = Iab − Ica


Ib = Ibc − Iab (12)
I = I − I
c ca bc

Como a corrente se seqüência zero é dada por Ia( 0) = (Ia + Ib + Ic ) / 3 = 0 , nota-se que
as correntes de linha fluindo para um circuito em ∆ não apresentam correntes de
seqüência zero. Da equação (12) tem-se:

Ia = Iab − Ica = Ia( 0) + Ia(1) + Ia( 2 )


(13)
Ia = Iab − Ica = Ia(1) + Ia( 2)

ou ainda:
Ia(1) + Ia( 2 ) = I ab− I ca

(
Ia(1) + Ia( 2 ) = Iab
( 0)
+ Iab
(1)
+ Iab
( 2)
) (
− Ica
( 0)
+ Ica
(1)
+ Ica
( 2)
) (14)

Ia(1) + Ia( 2 ) = Iab


( 0)

− Ica
( 0)

+ Iab
(1)
(
− Ica
(1)
) (
+ Iab
( 2)
− Ica
(2)
)
0

lembrando que: Ica


(1)
= aIab
(1)
e que Ica
( 2)
= a 2 Iab
( 2)
, teremos:

Ia(1) + Ia(1) = (1 − a )Iab


(1)
(
+ 1 − a 2 Iab
( 2)
) (15)

Para a fase b a expressão é análoga

Ib(1) + Ib( 2 ) = (1 − a )Ibc


(1)
(
+ 1 − a 2 Ibc
( 2)
) (16)

Substituindo na equação acima os valores de Ib(1) , Ib( 2) , Ibc


(1)  ( 2 )
, I bc em termos de
I , I , I , I e resolvendo as equações (16) e (15) temos as seguintes relações:
a
(1)
a
( 2 )
ab
(1) (
ab
2 )

Ia(1) = 3∠ − 30 o × Iab
(1)
(17)
Ia( 2) = 3∠ + 30 o × Iab
( 2)

A expressão acima nos mostra que as correntes de linha de seqüência positiva que
fluem para o ∆ têm sua amplitude multiplicada por 3 e seu ângulo atrasado de 30° em
relação às correntes de fase de seqüência positiva. O mesmo ocorre para a seqüência

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 7

negativa, mas neste caso, o ângulo da corrente de linha está adiantado da corrente de
fase.

De forma semelhante pode-se deduzir que para as tensões em um circuito conectado em


Y temos:

Vab(1) = 3∠ + 30 o × Van(1)
(18)
Vab( 2) = 3∠ − 30 o × Van( 2)

Importante

Se as tensões de fase nas expressões (18) estiverem em pu referente à base da tensão de


fase e as tensões de linha estiverem em pu referente à base das tensões de linha, deve-se
omitir o valor 3 . Se ambas as tensões estão na mesma base, entretanto, deve-se utilizar
o valor 3 nas expressões.

A mesma observação vale para as correntes na expressão (17).

Exercício 3.2

Três resistores idênticos com valores nominais de 2300V e 500 KVA, conectados em Y
formam um banco de carga. Se as tensões no banco são dadas por:

Vab = 1840 V Vbc = 2760 V Vca = 2300 V ;

Encontre as tensões fase-neutro e correntes de linha em pu na carga. Assuma que o neutro


da carga não está conectado ao neutro do sistema e utilize uma base de 2300 V, 500KVA.

3.5 POTÊNCIA EM TERMOS DE COMPONENTES SIMÉTRICAS

A potência complexa fluindo para um circuito trifásico é dada por:

S3φ = P + jQ = Va Ia* + Vb Ib* + Vc Ic* (19)

As tensões Va ,Vb ,Vc são valores fase-terra. Se não houver uma conexão do neutro
para a terra tem-se que Va ,Vb ,Vc são equivalentes às tensões fase-neutro Van , Vbn , Vcn .
Entretanto se esta conexão existir V ,V ,V e V , V , V poderão ser diferentes.
a b c an bn cn

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 8

Importante

É importante destacar que a expressão (19) é válida somente se as tensões Va ,Vb ,Vc são
dadas em [V] as correntes I , I , I são dadas em [A] e a potência aparente S é dada em
a b c 3φ
[VA]. Destaca-se ainda que se as tensões, as correntes e a potência aparente forem dadas
em pu (utilizando as bases adequadas), a expressão seria dada conforme abaixo:

Vapu Iapu* + Vbpu Ibpu* + Vcpu Icpu*


φ =
S3pu
3

Matricialmente (19) pode ser rescrita conforme (20).

* T *
⎡ Ia ⎤ ⎡Va ⎤ ⎡ Ia ⎤
[
S 3φ = Va Vb ] ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
Vc * ⎢ Ib ⎥ = ⎢Vb ⎥
⎢ ⎥
* ⎢ Ib ⎥ (20)
⎢ Ib ⎥ ⎢Vc ⎥ ⎢ Ib ⎥
⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦

Introduzindo as componentes simétricas das componentes tem-se:

S 3φ = [AV012 ]T * [AI 012 ]* (21)


onde:
⎡Va( 0) ⎤ ⎡ Ia( 0) ⎤
⎢ ⎥ ⎢ ⎥
V012 = ⎢Va(1) ⎥ I 012 = ⎢ Ia(1) ⎥ (22)
⎢V ( 2 ) ⎥ ⎢ I ( 2 ) ⎥
⎣ a ⎦ ⎣ a ⎦

Reescrevendo a equação (22) tem-se:

S 3φ = V012
T
A T [AI 012 ]* = V012
T
A T A *I *012 (23)

Mostra-se que A T A * = 3 * I (matriz identidade) ; Assim, tem-se:

S3φ = 3* V012
T *
I 012 = 3Va(0) Ia*(0) + 3Va(1) Ia*(1) + 3Va(2) Ia*(2) (24)

A expressão acima nos mostra como calcular a potência complexa trifásica absorvida
por uma carga trifásica submetida a tensões desequilibradas, a partir das componentes
simétricas das tensões fase-terra e correntes de linha.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 9

Importante:

Quando a potência aparente S 3φ é expressa em pu na base da potência trifásica o


multiplicador 3 na expressão (24) deve desaparecer.

Exercício 3.3

Utilizando as componentes simétricas calcule a potência absorvida na carga do exercício


anterior e confira a resposta.

3.6 CIRCUITOS DE SEQÜÊNCIA DE IMPEDÂNCIAS EM Y E ∆

Se for introduzida uma impedância Z n entre o neutro e a terra de uma impedância


conectada em Y então haverá um caminho de retorno para a corrente, conforme mostrado
na Figura 5.

In = Ia + Ib + Ic (25)

Ia
a _
+ +
ZY Van
Vab
In = 3* Ia(0) _
Vca n
_ Ib +
b ZY ZY
Zn Vn
+
Vbc _
Ic
+ _
c
Figura 5. Impedância conectada em Y com aterramento do neutro através de Z n .

Reescrevendo a equação (25) acima temos:

( ) ( ) (
In = Ia + Ib + Ic = Ia( 0) + Ia(1) + Ia( 2 ) + Ib( 0) + Ib(1) + Ib( 2 ) + Ic( 0) + Ic(1) + Ic( 2 ) ) (26)
ou ainda:
( ) ( ) ( )
In = Ia( 0) + Ib( 0) + Ic( 0) + Ia(1) + Ib(1) + Ic(1) + Ia( 2 ) + Ib( 2 ) + Ic( 2 )



0 0 (27)
In = 3Ia( 0)

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 10

Conforme mostra a Figura 5 a tensão de neutro-terra Vn é diferente de zero em


situações de desequilíbrio In ≠ 0 . Nestes casos as tensões fase-neutro Van , Vbn , Vcn são
diferente das tensões fase-terra V , V , V . Veja ainda pela figura que temos:
a b c

⎡Va ⎤ ⎡Van ⎤ ⎡Vn ⎤ ⎡ Ia ⎤ ⎡1⎤


⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢⎥
⎢Vb ⎥ = ⎢Vbn ⎥ + ⎢Vn ⎥ = Z Y ⎢ I b ⎥ + 3I a Z n ⎢1⎥
( 0)
(28)
⎢Vc ⎥ ⎢Vcn ⎥ ⎢Vn ⎥ ⎢ Ic ⎥ ⎢⎣1⎥⎦
⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦

Podemos escrever a expressão acima em termos das componentes simétricas:

⎡Va( 0) ⎤ ⎡ Ia( 0) ⎤ ⎡1⎤


⎢  (1) ⎥ ⎢  (1) ⎥
A ⎢Va ⎥ = Z Y A ⎢ I a ⎥ + 3I a Z n ⎢1⎥
( 0)
(29)
⎢⎥
⎢V ( 2 ) ⎥ ⎢ I ( 2 ) ⎥
⎣ a ⎦ ⎣ a ⎦ ⎣⎢1⎦⎥

Pré-multiplicando a expressão acima por A −1 tem-se:

⎡Va( 0) ⎤ ⎡ Ia( 0) ⎤ ⎡1⎤


⎢  (1) ⎥ ⎢  (1) ⎥ −1 ⎢ ⎥
⎢Va ⎥ = Z Y ⎢ I a ⎥ + 3I a Z n A ⎢1⎥
( 0)
(30)
⎢V ( 2 ) ⎥ ⎢ I ( 2 ) ⎥ ⎢⎣1⎥⎦
⎣ a ⎦ ⎣ a ⎦

Fazendo a multiplicação ao final da expressão tem-se:

⎡Va( 0) ⎤ ⎡ Ia( 0) ⎤ ⎡1 ⎤
⎢  (1) ⎥ ⎢  (1) ⎥ ⎢ ⎥
⎢Va ⎥ = Z Y ⎢ I a ⎥ + 3I a Z n ⎢0⎥
( 0)
(31)
⎢V ( 2 ) ⎥ ⎢ I ( 2 ) ⎥ ⎢⎣0⎥⎦
⎣ a ⎦ ⎣ a ⎦

Reescrevendo as equações acima tem-se:

Va( 0) = (Z Y + 3Z n )Ia( 0) = Z 0 Ia( 0)


V (1)
a = Z I (1)
Y a = Z I (1)
1 a (32)
Va( 2 ) = Z Y Ia( 2) = Z 2 Ia( 2 )

Em termos de circuitos elétricos a expressão acima pode ser interpretada conforme


mostrado na Figura 6 a seguir.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 11

Ia(0) Ia(1) ZY Ia(2) ZY


ZY n n n
a a a
+ + +
Va(0) Z0 3Z n Va(1) Z1 Va(2) Z2
_ _ _
referência referência referência

Figura 6. Circuitos de seqüência zero, positiva e negativa do circuito dado na Figura 5.

Os circuitos mostrados acima relacionam as tensões e correntes de mesma seqüência e


definem as impedâncias de seqüência zero, positiva e negativa. Em caso de
desequilíbrio, é necessária a composição dos três circuitos para representar o circuito
mostrado na Figura 5.

Repare-se que as tensões Va(1) e Van(1) são idênticas. O mesmo ocorre para Va( 2) e Van( 2) . Já
o mesmo não ocorre para as tensões V ( 0) e V (0) devido à queda na impedância 3Z n . Repare
a an

ainda que a corrente 3Ia( 0) produz a mesma queda em Z n que a corrente Ia( 0) na impedância
3Z n .
Se o neutro é aterrado através de uma impedância nula, faz-se Z n = 0 e teremos que os
pontos neutro e terra novamente passarão a ter o mesmo potencial. Se não há nenhuma
conexão para a terra pode-se adotar Z n = ∞ , o que caracteriza um circuito aberto entre a
terra e o neutro. Neste caso tem-se o circuito de seqüência zero mostrado na Figura 7 a
seguir. Os demais circuitos de seqüência permanecem os mesmos.

Ia(0) ZY
ZY
a n
+
n
Va(0) Z0
ZY ZY _
referência

Figura 7. Circuito de seqüência zero para um circuito em Y não aterrado.

Obviamente uma impedância conectada em ∆ não é capaz de fornecer um caminho de


retorno para a corrente. Seja o circuito conectado em ∆ da Figura 4. Para este circuito tem-
se:

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 12

⎡Vab ⎤ ⎡ Iab ⎤
⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢Vbc ⎥ = Z ∆ ⎢ I bc ⎥
⎢Vca ⎥ ⎢ Ica ⎥
⎣ ⎦ ⎣ ⎦

Utilizando-se as componentes simétricas:

⎡Vab(0) ⎤ ⎡ Iab
(0)

⎢ (1) ⎥ ⎢ (1) ⎥
A ⎢Vab ⎥ = Z ∆ A ⎢ Iab ⎥
⎢  (2) ⎥ ⎢ (2) ⎥
⎢⎣Vab ⎥⎦ ⎢⎣ I ab ⎥⎦

Pré-multipicando a expressão acima por A −1 :

⎡Vab(0) ⎤ ⎡ Iab
(0)

⎢ (1) ⎥ ⎢ (1) ⎥
⎢Vab ⎥ = Z ∆ ⎢ Iab ⎥
⎢  (2) ⎥ ⎢ (2) ⎥
⎢⎣Vab ⎥⎦ ⎢⎣ I ab ⎥⎦

Das expressões (17) e (18) temos:


⎡ ⎤
⎢ I (0) ⎥
⎡ Vab(0) ⎤ ⎢ ab ⎥
⎢ o  (1)
⎥ ⎢ 1 o (1) ⎥
⎢ 3 30 Van ⎥ = Z ∆ ⎢ 30 I a ⎥
⎢ o  (2) ⎥ ⎢ 3 ⎥
⎣⎢ 3 −30 Van ⎦⎥
⎢ 1 o (2) ⎥
⎢ 3 −30 I a ⎥
⎣ ⎦

Analisando as seqüências positiva e negativa, temos:

Z
Van(1) = Va(1) = ∆ Ia(1)
3
(33)
Z
Van(2) = Va(2) = ∆ Ia(2)
3

As equações (33) correspondem aos circuitos equivalentes a seguir:


Ia(1) Ia(2) Z∆ 3
Z∆ 3 n n
a a
+ +
Va(2) Z2
Va(1) Z1
_ _
referência referência

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 13

Figura 9. Circuitos de seqüência 1 e 2 de um circuito conectado em ∆.

Analisando a seqüência zero observamos

Vab(0) = Z ∆ Iab
(0)
(34)

E como sabemos que as tensões de linha de seqüência zero são sempre nulas, temos:

Vab(0) = Iab
( 0)
=0 (35)

O circuito de seqüência zero para um circuito conectado em ∆ é mostrado na Figura 8 a


seguir.
Ia(0) Z∆
a
Z∆ Z∆ +
Va(0)
_
Z∆ referência

Figura 9. Circuito de seqüência zero de um circuito conectado em ∆.

Exercício 3.4

Três impedâncias iguais de j 21 Ω são conectadas em ∆ formando um banco. Determine as


impedâncias e circuitos de seqüência do banco. Repita a solução para o caso em que exista
uma impedância mútua de j 6 Ω entre cada par de ramos adjacentes no ∆.

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 13

3.7 CIRCUITOS DE SEQÜÊNCIA DE UMA LINHA DE TRANSMISSÃO


SIMÉTRICA

Seja a Figura (9) que mostra uma seção de uma linha de transmissão com um condutor
neutro.
Ia Z aa a’
a
+ +
Ib Z aa b’
b Z ab
+ + V
Van Ic Z aa c’
a 'n '

Vbn c
+ + Vb 'n '
Vcn Z an Vc 'n '
I Z nn
n n’
n

Figura 9. Fluxo de correntes desequilibradas em uma linha trifásica simétrica.

A linha é considerada simétrica, sendo que as auto-impedâncias ( Z aa ) e as impedâncias


mútuas entre as linhas ( Z ab ) são idênticas e o neutro possui auto-impedância ( Z nn ) e
indutâncias mútuas idênticas ( Z an ) com todas as fases.

Quando as correntes de linha Ia , Ib , Ic são desequilibradas existe corrente pelo neutro
do sistema. Devido ao acoplamento mútuo, as correntes Ia , Ib , Ic induzem tensões nas
demais fases e também no neutro. A corrente I também induz tensões nas fases.
n

Assim a tensão induzida na fase a é dada por (36).

(
Van = Z aa Ia + Z ab Ib + Z ab Ic + Z an In + Va 'n ' − Z nn In + Z an Ic + Z an Ib + Z an Ia ) (36)

Re-arranjando a expressão, temos:

Van − Va 'n ' = (Z aa − Z an )Ia + (Z ab − Z an )(Ib + Ic ) + (Z an − Z nn )In (37)

Para as demais fases tem-se:

Vbn − Vb 'n ' = (Z aa − Z an )Ib + (Z ab − Z an )(Ia + Ic ) + (Z an − Z nn )In


Vcn − Vc 'n ' = (Z aa − Z an )Ic + (Z ab − Z an )(Ia + Ib ) + (Z an − Z nn )In
(38)

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 14

(
Quando as correntes retornam pelo neutro tem-se: In = − Ia + Ib + Ic ; que substituído )
nas equações (37)e (38) resulta em:

Van − Va 'n ' = (Z aa + Z nn − 2 Z an )Ia + (Z ab + Z nn − 2 Z an )Ib + (Z ab + Z nn − 2Z an )Ic


Vbn − Vb 'n ' = (Z ab + Z nn − 2Z an )Ia + (Z aa + Z nn − 2Z an )Ib + (Z ab + Z nn − 2Z an )Ic (39)
V − V = (Z + Z − 2Z )I + (Z + Z − 2Z )I + (Z + Z − 2Z )I
cn c 'n ' ab nn an a ab nn an b aa nn an c

As equações acima nos mostram que a presença do neutro altera o valor das auto-
indutâncias e das indutâncias mútuas, conforme os valores efetivos dados em (40) a seguir.


Z s = Z aa + Z nn − 2 Z an
(40)

Z m = Z ab + Z nn − 2 Z an

Utilizando estas definições podemos reescrever matricialmente as equações (39)


conforme (41).

⎡Vaa ' ⎤ ⎡Van − Va 'n ' ⎤ ⎡ Z s Zm Z m ⎤ ⎡ Ia ⎤


⎢ ⎥ ⎢  ⎥ ⎢ ⎢ ⎥
⎢Vbb ' ⎥ = ⎢Vbn − Vb 'n ' ⎥ = ⎢ Z m Zs Z m ⎥⎥ * ⎢ Ib ⎥ (41)
⎢Vcc ' ⎥ ⎢Vcn − Vc 'n ' ⎥ ⎢⎣ Z m Zm Z s ⎥⎦ ⎢⎣ Ic ⎥⎦
⎣ ⎦ ⎣ ⎦

Onde as tensões Vaa ' , Vbb ' , Vcc ' , são as quedas ao longo dos condutores. Como a
equação (41) não depende explicitamente do condutor neutro Z s e Z m podem ser vistos
como parâmetros dos condutores de fase isolados (sem auto-indutância ou indutância
mútua associadas ao neutro).

Reescrevendo a equação (41) em termos das componentes simétricas das tensões e


correntes da forma:

⎡Vaa( 0') ⎤ ⎡ Z s Zm Zm ⎤ ⎡ Ia( 0) ⎤


⎢ ⎥ ⎢ ⎥
A * ⎢Vaa(1)' ⎥ = ⎢⎢ Z m Zs Z m ⎥⎥ * A * ⎢ Ia(1) ⎥ (42)
⎢Vaa( 2') ⎥ ⎢ Z m Z s ⎥⎦ ⎢ Ia( 2) ⎥
⎣ ⎦ ⎣ Zm ⎣ ⎦

Separando a matriz em duas submatrizes tem-se:

⎡Vaa( 0') ⎤ ⎧⎡ Z s − Z m . . ⎤ ⎡Z m Zm Z m ⎤⎫ ⎡ Ia(0) ⎤


⎢ ⎥ ⎪ ⎪ ⎢ ⎥
A * ⎢Vaa(1)' ⎥ = ⎨⎢⎢ . Zs − Zm . ⎥ + ⎢Z
⎥ ⎢ m Zm Z m ⎥⎥ ⎬ * A * ⎢ Ia(1) ⎥ (43)
⎢V ( 2) ⎥ ⎪⎢ Z s − Z m ⎥⎦ ⎢⎣ Z m Z m ⎥⎦ ⎪⎭ ⎢ Ia( 2) ⎥
⎣ aa ' ⎦ ⎩⎣ . . Zm ⎣ ⎦

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 15

Pré-multiplicando a equação acima por A −1 tem-se:

⎡Vaa( 0') ⎤ ⎧ ⎡1 0 0 ⎤ ⎡1 1 1⎤ ⎫ ⎡ Ia( 0) ⎤


⎢  (1) ⎥ −1 ⎪ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎪ ⎢  (1) ⎥
⎢Vaa ' ⎥ = A ⎨Z s − Z m ⎢0 1 0⎥ + Z m ⎢1 1 1⎥ ⎬ * A * ⎢ I a ⎥ (44)
⎢V ( 2) ⎥ ⎪ ⎢⎣0 0 1⎥⎦ ⎢⎣1 1 1⎥⎦ ⎪⎭ ⎢ Ia( 2) ⎥
⎣ aa ' ⎦ ⎩ ⎣ ⎦

A multiplicação das matrizes resulta:

⎡Vaa( 0') ⎤ ⎡ Z s + 2 Z m . ⎤ ⎡ Ia ⎤


. ( 0)
⎢  (1) ⎥ ⎢ ⎥ * ⎢ I (1) ⎥
⎢Vaa ' ⎥ = ⎢ . Zs − Zm . ⎥ ⎢ a ⎥ (45)
⎢V ( 2) ⎥ ⎢ Z s − Z m ⎥⎦ ⎢⎣ Ia( 2) ⎥⎦
⎣ aa ' ⎦ ⎣ . .

A expressão acima nos possibilita definir as impedâncias de seqüência zero, positiva e


negativa das linhas, conforme expressão (46) a seguir:

Z0 = Z s + 2Z m = Z aa + 2Z ab + 3Z nn − 6Z an
Z1 = Zs − Zm = Z aa − Z ab (46)
Z2 = Zs − Zm = Z aa − Z ab

Finalmente, temos a expressão (47):

Vaa(0)' = Van(0) − Va(0) (0)


' n ' = Z0 I a

V (1) = V (1) − V (1) = Z I(1)


aa ' an a 'n' 1 a (47)
Vaa(2)' = Van(2) − Va(2) (2)
' n ' = Z2 Ia

Os circuitos de seqüência zero, positiva e negativa são mostrados na Figura 10.

Ia(0) Z0 Ia(1) Z1 Ia(2) Z2


a a’ a a’ a a’
+ + + + + +

Van(0) Va(0)
'n' Van(1) Va(1)'n ' Van(2) Va(2)
'n'

n n’ n n’ n n’

Figura 10. Circuitos de seqüência zero, positiva e negativa de uma linha de transmissão
simétrica.

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 16

Repare que a impedância do neutro não altera as impedâncias de seqüência positiva Z1


e negativa Z 2 da linha, mas apenas a impedância de seqüência zero Z 0 . Repare ainda que
os circuitos podem ser descritos sem nenhum acoplamento mútuo entre si.

Exercício 3.5

Na figura 9 as tensões terminais à esquerda e direita da linha são respectivamente:

Van = 182.0 + j 70.0KV Va 'n ' = 154.0 + j 28.0KV


Vbn = 72.24 − j 32.62KV Vb 'n ' = 44.24 − j 74.62KV
Vcn = −170.24 + j88.62KV Vc 'n ' = −198.24 + j 46.62KV

As impedâncias são:

Z aa = j 60Ω; Z ab = j 20Ω; Z nn = j80Ω; Z an = 30Ω.

Determine as correntes de linha utilizando componentes simétricas.

3.8 CIRCUITOS DE SEQÜÊNCIA DE MÁQUINAS SÍNCRONAS

Seja um gerador síncrono com neutro aterrado através de uma reatância, conforme
mostrado na Figura 11 a seguir.

Ia
a

+
E an
_ In
Zn
_ n
_
+
E cn
+
E bn
Ib
c b

Ic

Figura 11. Diagrama de circuito de um gerador aterrado através de uma reatância.

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 17

Se ocorrer uma falta envolvendo a terra nos terminais do gerador, correntes trifásicas
I , I , I desequilibradas irão fluir no circuito, e conseqüentemente aparecendo a corrente
a b c
I através do neutro. Na dedução das expressões de tensão induzida nas fases a, b e c de
n
um gerador síncrono no capítulo 2 assumiram-se correntes equilibradas ( ia + ib + ic = 0 ).
Assim, obtivemos a expressão:
di
v a = − R ia − (Ls + M s ) a + ean (48)
dt

Ou fasorialmente:

Van = − RIa − jω (Ls + M s )Ia + E an (49)

Se for considerada a situação mais geral onde ia + ib + ic ≠ 0 tem-se a expressão:

dia
+ M s (ib + ic ) + ean
d
v a = − R i a − Ls (50)
dt dt

Ou fasorialmente;

Van = − RIa − jωLs Ia + jωM s (Ib + Ic ) + E an (51)

Para as demais fases ter-se-ia:

Vbn = − RIb − jωLs Ib + jωM s (Ia + Ic ) + E bn


Vcn = − RIc − jωLs Ic + jωM s (Ia + Ib ) + E cn
(52)

Re-arranjando as equações (51) e (52) na forma matricial, tem-se

⎡Van ⎤ ⎡ Ia ⎤ ⎡1 1 1⎤ ⎡ Ia ⎤ ⎡ E an ⎤


⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢  ⎥ ⎢  ⎥
⎢Vbn ⎥ = −[R + jω (Ls + M s )]⎢ I b ⎥ + jωM s ⎢1 1 1⎥ ⎢ I b ⎥ + ⎢ Ebn ⎥ (53)
⎢Vcn ⎥ ⎢ Ic ⎥ ⎢⎣1 1 1⎥⎦ ⎢⎣ Ic ⎥⎦ ⎢⎣ E cn ⎥⎦
⎣ ⎦ ⎣ ⎦

Representando as tensões e correntes em termos de suas componentes simétricas da fase


a e a seguir pré-multiplicando o sistema de equações por A −1 , tem-se a expressão dada em
(54) a seguir. Repare que na equação as tensões internas geradas são equilibradas.

⎡Van( 0) ⎤ ⎡ Ia( 0) ⎤ ⎡1 1 1⎤ ⎡ Ia ⎤


(0)
⎡ E an ⎤
⎢  (1) ⎥ ⎢ (1) ⎥ −1 ⎢ ⎢
⎥  (1) ⎥ −1 ⎢ 2  ⎥
⎢Van ⎥ = −[R + jω (Ls + M s )]⎢ I a ⎥ + jωM s A ⎢1 1 1⎥ A ⎢ I a ⎥ + A ⎢a Ean ⎥ (54)
⎢Van( 2) ⎥ ⎢ Ia( 2) ⎥ ⎢⎣1 1 1⎥⎦ ⎢ Ia( 2) ⎥ ⎢ aE an ⎥
⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦
Fazendo as multiplicações matriciais chega-se à expressão (55).

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 18

⎡Van( 0) ⎤ ⎡ Ia( 0) ⎤ ⎡3 . .⎤ ⎡ Ia ⎤ ⎡ 0 ⎤


( 0)
⎢  (1) ⎥ ⎢  (1) ⎥ ⎢ ⎥ ⎢  (1) ⎥ ⎢  ⎥
⎢Van ⎥ = −[R + jω (Ls + M s )]⎢ I a ⎥ + jωM s ⎢ . . .⎥ ⎢ I a ⎥ + ⎢ E an ⎥ (55)
⎢Van( 2) ⎥ ⎢ Ia( 2) ⎥ ⎢⎣ . . .⎥⎦ ⎢ Ia( 2) ⎥ ⎢⎣ 0 ⎥⎦
⎣ ⎦ ⎣ ⎦ ⎣ ⎦

Reescrevendo a equação acima resulta:

Van( 0) = − RIa( 0) − jω (Ls − 2M s )Ia( 0)


V (1) = − RI (1) − jω (L + M )I (1) + E
an a s s a an (56)
Van( 2) = − RIa( 2) − jω (Ls + M s )Ia( 2)

Finalmente, temos a expressão (57) que permite escrever os circuitos de seqüência zero,
positiva e negativa mostrados na Figura 12.

Van(0) = − Ia(0) ⎡⎣ R + jω ( Ls − 2 M s ) ⎤⎦ = − Ia(0) Z g 0


Van(1) = E an − Ia(1) ⎡⎣ R + jω ( Ls + M s ) ⎤⎦ = E an − Ia(1) Z1 (57)
Van(2) = − Ia(2) ⎡⎣ R + jω ( Ls + M s ) ⎤⎦ = − Ia(2) Z 2

a Ia(1)

Z1
Ia(1)
+
E an +
n _ Z1
E cn _
+ Z Va(1)
Z1
+ E bn 1 Ib(1) +
E an
c b
_ _
 (1)
Ic
referência
(a) Caminhos de seqüência positiva (b) Rede de seqüência positiva

a Ia( 2)

Z2
Ia(2)
+
n Z2
Z2 Va(2)
Z2 Ib( 2)
c b
_
Ic( 2)
referência
(c) Caminhos de seqüência negativa (d) Rede de seqüência negativa
Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)
Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 19

a Ia( 0)

Z g0
Zn 3Ia(0) Ia(0)
+
n Zg0
Z g0 Z g0 n Va(0)
Ib( 0)
c b 3Z n _
I c( 0)
referência
(e) Caminhos de seqüência zero (f) Rede de seqüência zero

Figura 12. Caminhos de cada corrente de sequência e correspondente rede de seqüência.

Na Figura 12 a referência para os circuitos de seqüência positiva e negativa é o neutro


do gerador, já que havendo ou não uma impedância do ponto neutro para terra, as correntes
de seqüência positiva e negativa não devem circular pelo neutro, conforme mostrado nas
figuras 12 (a) e (c). Assim, não há diferenças entre as tensões Va(1) e Van(1) ou entre Va( 2) e
V ( 2) .
an

Já a corrente 3Ia(0) relacionada à seqüência zero flui do neutro para terra. Neste caso a
tensão V (0) é diferente de V (0) , sendo que:
a an

Va( 0) = Van( 0) − 3Z n Ia( 0)

Va( 0) = − Z g 0 Ia(0) − 3Z n Ia(0)

(
Va( 0) = − Z g 0 + 3Z n Ia( 0) )
Va( 0) = − Z 0 Ia( 0) (58)

A interpretação da equação (58) acima é feita na rede de seqüência zero da Figura 12(f).

Resumindo, temos as seguintes equações para as tensões e correntes de seqüência:

Va( 0) = − Ia( 0) Z 0
V (1)
a = E an − I (1) Z
a 1 (59)
Va( 2) = − Ia( 2) Z 2
onde:

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 20

Z 0 = Z g 0 + 3Z n
Z1 = Z 2 = [R + jω (Ls + M s )] (60)
Z g 0 = [R + jω (Ls − 2 M s )]

Exercício 3.6

Um gerador de pólos salientes sem enrolamento de amortecimento possui valores nominais


20 MVA, 13.8 KV e reatância subtransitória de eixo direto de 0.25 pu. As reatâncias de
seqüência negativa e zero são respectivamente 0.35 e 0.10 pu. O neutro do gerador é
solidamente aterrado. Com o gerador operando descarregado à tensão nominal, com
E an = 1.0∠0 pu, ocorre uma falta fase-terra nos terminais da máquina, que então possui
tensões pra terra dadas em pu por:

Va = 0 Vb = 1.013∠ − 102.25 Vc = 1.013∠ + 102.25

Determine as correntes subtransitórias no gerador e as tensões de linha para as condições


subtransitórias devidas à falta.

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 21

3.9 CIRCUITOS DE SEQÜÊNCIA DE TRANSFORMADORES

Os circuitos de seqüência de transformadores dependem da maneira como os


transformadores trifásicos estão conectados. Serão analisados a seguir 5 casos envolvendo
conexões diferentes para o primário/secundário. Na determinação dos circuitos de
seqüência de transformadores, as correntes de magnetização são desprezadas.

3.9.1 Caso 1 - Banco Conectado em Y-Y com Ambos os Neutros Aterrados

A Figura 13 a seguir mostra o diagrama esquemático de um transformador trifásico Y-


Y com ambos os neutros aterrados através de uma impedância Z N no enrolamento de alta e
Z n no enrolamento de baixa.

I A = I A( 0) + I A(1) + I A( 2) Ib = Ib( 0) + Ib(1) + Ib( 2)


N1 : N 2
A b
IB = IB( 0) + IB(1) + IB( 2)
B a
Ia = Ia( 0) + Ia(1) + Ia( 2)

n
N 3I A( 0) 3Ia( 0)

ZN Zn
IC = IC( 0) + IC(1) + IC( 2) Ic = Ic( 0) + Ic(1) + Ic( 2)
C c
Figura 13. Transformador Y-Y com ambos os neutros aterrados

Inicialmente, o transformador será tratado como ideal, sendo acrescentadas as


reatâncias de dispersão a seguir. Tomando duas bobinas paralelas acopladas
magneticamente temos:

VA = VAN + VN (61)

Substituindo as componentes simétricas, tem-se:

(
VA( 0) + VA(1) + VA( 2) = VAN
( 0)
+ VAN
(1)
+ VAN
( 2)
)
+ 3Z N I A( 0) (62)

Igualando os termos de mesma seqüência tem-se que as tensões fase-terra são iguais às
tensões fase-neutro para as seqüências positiva e negativa. Para a seqüência zero há uma
queda na impedância Z N . Para o lado da baixa tem-se, de forma análoga:

( )
Va( 0) + Va(1) + Va( 2) = Van( 0) + Van(1) + Van( 2) − 3Z n I a( 0) (63)

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 22

O sinal de menos na equação (63) está relacionado à direção da corrente escolhida. Para
um transformador ideal as tensões e correntes têm uma relação dada pelo número de espiras
do primário e secundário: N1 N 2 .

⎛N N N ( 2) ⎞ N
Va( 0) + Va(1) + Va( 2) = ⎜⎜ 2 VAN
( 0)
+ 2 VAN
(1)
+ 2 VAN ⎟⎟ − 3Z n 1 I A( 0) (64)
⎝ N1 N1 N1 ⎠ N2

Multiplicando a expressão (64) por N1 N 2 tem-se:

(
N1  ( 0)  (1)  ( 2)
Va + Va + Va = VAN ) (
( 0)
+ VAN
(1)
+ VAN
( 2)
)⎛N ⎞
− 3Z n ⎜⎜ 1 ⎟⎟ I A( 0) (65)
N2 ⎝ N2 ⎠

Substituindo VAN
( 0)
+ VAN
(1)
+ VAN
( 2)
da equação 62 tem-se:

(
N1  ( 0)  (1)  ( 2)
) ( ) ⎛N ⎞
Va + Va + Va = VA( 0) + VA(1) + VA( 2) − 3Z N I A( 0) − 3Z n ⎜⎜ 1 ⎟⎟ I A( 0) (66)
N2 ⎝ N2 ⎠

Igualando os termos de mesma seqüência, tem-se:

N1  (1)  (1) N1  ( 2)  ( 2)
Va = V A Va = V A
N2 N2
(67)
N1  ( 0)  ( 0) ⎡ ⎛ N1 ⎞ ⎤ ( 0)
2
⎢ ⎜
Va = V A − 3Z N + 3Z n ⎜ ⎟ ⎥⎥ I A

N2 ⎢⎣ ⎝ 2⎠ ⎦
N

As equações para as seqüências positiva e negativa são as mesmas já estudadas para um


circuito por fase. Isto é, as tensões fase-neutro entre o primário e secundário obedecem à
relação de transformação, e o circuito por fase já estudado se aplica aos circuitos de
seqüência positiva e negativa. Para a seqüência zero, entretanto, aparecem as impedância
Z N e a impedância 3Z n ( N1 N 2 ) ( Z n refletida na alta). Se acrescentarmos o efeito das
2

reatâncias de dispersão, descritas pela impedância Z , pode-se construir o circuito


equivalente por fase conforme mostrado na Figura 14.

A impedância de seqüência zero é, portanto, dada pela seguinte expressão:

2
⎛N ⎞
Z 0 = Z + 3Z N + 3Z n ⎜⎜ 1 ⎟⎟ (68)
⎝ N2 ⎠

Em pu, tem-se, caso sejam escolhidas adequadamente as bases para a alta e baixa do
transformador, desaparece a relação N1 N 2 . Logo, tem-se:

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 23

Z 0 = Z + 3Z N + 3Z n (69)

Nota-se que as impedâncias conectadas à terra são novamente multiplicadas pelo fator
três, para compor a impedância de seqüência zero.
2
⎛N ⎞
3⎜ 1 ⎟ Zn Ia( 0)
I A( 0) Z 3Z N ⎝ N2 ⎠ N1 : N 2
+ + +

VA( 0' ) VA( 0) Va( 0)

ideal

Figura 14. Circuito de seqüência zero para o transformador conectado em Y – Y da


Figura 13.

Assim, tem-se o circuito de seqüência zero mostrado na Figura 15.

I A( 0) Z0
A
+ +

VA( 0) Va( 0)

referência
Figura 15. Circuito de seqüência zero para o transformador conectado em Y – Y da
Figura 13 (dado em pu).

3.9.2 Caso 2 - Banco Conectado em Y-Y com Apenas um Neutro Aterrado

Se um dos neutros não for aterrado, a corrente de seqüência zero não poderá fluir em
nenhum dos enrolamentos. Isto pode ser verificado se o valor de Z N ou de Z n for
substituído por infinito na equação (69). Neste caso tem-se o circuito de seqüência zero
mostrado na figura 16 a seguir.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 24

I A( 0) Z
A 0

+ +

VA( 0) Va( 0)

referência

Figura 16. Circuito de seqüência zero para o transformador conectado em Y – Y com


apenas um dos neutros aterrados.

3.9.3 Caso 3 - Banco Conectado em ∆-∆

Seja o transformador conectado em ∆-∆ conforme mostrado na Figura 17 a seguir.

I A = I A( 0) + I A(1) + I A( 2) Ia = Ia( 0) + Ia(1) + Ia( 2)


N1 : N 2
A a

IB = IB( 0) + IB(1) + IB( 2) Ib = Ib( 0) + Ib(1) + Ib( 2)


B b

IC = IC( 0) + IC(1) + IC( 2) Ic = Ic( 0) + Ic(1) + Ic( 2)


C c

Figura 17. Diagrama de um transformador trifásico conectado em ∆-∆.

(0)
A soma fasorial das tensões de linha é sempre nula, o que implica que: V AB = Vab( 0) = 0 .
Da Figura tem-se ainda que:

N1
V AB = V
N 2 ab
(70)
(1)
V AB ( 2)
+ V AB
N
(
= 1 Vab(1) + Vab( 2)
N2
)
Reescrevendo (70) em termos das tensões fase-neutro, tem-se:

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 25

(1)
3V AN ( 2)
∠30 o + 3V AN ∠ − 30 o =
N1
N2
( 3Van(1) ∠30 o + 3Van( 2) ∠ − 30 o ) (71)

Comparando os termos de mesma seqüência, tem-se:

(1) N1 (1) ( 2) N1 ( 2 )
V AN = Van ; V AN = Van (72)
N2 N2

A expressão acima mostra que os circuitos equivalentes por fase de seqüência positiva e
negativa de um transformador conectado em ∆-∆, são idênticos ao circuito equivalente por
fase do transformador usual discutido no capítulo 2.

Como o ∆ não fornece retorno, tem-se ainda que I A( 0) = Ia( 0) = 0 . Assim para a
seqüência zero, obtém-se o circuito equivalente da Figura 18 a seguir.

I A( 0) Z0
A
+ +

VA( 0) Va( 0)

referência

Figura 18. Circuito de seqüência zero para o transformador conectado em ∆-∆

3.9.4 Caso 4 - Banco Conectado em Y-∆ com Y Aterrado

Um transformador conectado em Y-∆ é mostrado na Figura 19 a seguir. Se o neutro for


aterrado as correntes de seqüência zero terão um caminho para circular, já que correntes de
seqüência zero induzidas podem circular no ∆. Apesar de circularem internamente ao ∆ as
correntes de seqüência zero não aparecem nas correntes de linha no lado da baixa do
transformador, já que em uma ligação em ∆ temos Ia( 0) = 0 . Para o circuito da Figura (19)
pode-se escrever :

N1 ( 0) N1 (1) N1 ( 2)
V A( 0) + V A(1) + V A(1) = Vab + Vab + Vab + 3Z N I A( 0) (73)
N2 N2 N2

Igualando os termos de seqüência correspondentes, tem-se:

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 26

N1 ( 0)
V A( 0) − 3Z N I A(0) = V =0
N 2 ab
N1 (1) N1
V A(1) = Vab = 3∠30 o × Va(1) (74)
N2 N2
N1 ( 2) N1
V A( 2) = Vab = 3∠ − 30 o × Va( 2)
N2 N2

I A = I A( 0) + I A(1) + I A( 2) Ia = Ia( 0) + Ia(1) + Ia( 2)


N1 : N 2
A a

IB = IB( 0) + IB(1) + IB( 2) Ic = Ic( 0) + Ic(1) + Ic( 2)


B c
3I A( 0)
Ib = Ib( 0) + Ib(1) + Ib( 2)
ZN
IC = IC( 0) + IC(1) + IC( 2) b
C

Figura 19. Diagrama de um transformador trifásico conectado em Y-∆ com o Y


aterrado.

As equações (74) permitem escrever o circuito de seqüência zero conforme mostrado na


Figura 20.

I A(0) Z Ia(0) = 0
A
+ +

VA( 0) Z 0 3Z N Va( 0)

referência

Figura 20. Circuito de seqüência zero para o transformador conectado em Y-∆ com Y
aterrado.

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Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 27

N1
É importante salientar que os termos 3 nas equações (74) desaparecem sempre
N2
que as tensões estão dadas em pu nas bases convenientes. Neste caso tem-se as expressões
conhecidas para os transformadores Y-∆ desenvolvidas no capítulo anterior.

VA(1) = 1∠30o × Va(1) ; IA(1) = 1∠30o × I a(1)


(75)
V (2) = 1∠ − 30o × V (2) ;
A a I(2) = 1∠ − 30o × I (2)
A a

Assim, os circuitos de seqüência negativa e positiva são iguais ao circuito equivalente


por fase para transformador Y-∆ discutido no capítulo anterior, com a observação de que
para a seqüência negativa existem atrasos de 30 graus da alta para a baixa.

3.9.5 Caso 5 - Banco Conectado em Y-∆ com Y Isolado

Este é um caso especial do caso 4 anterior no qual fazemos Z N = ∞ . Assim, a corrente


de seqüência zero não pode mais fluir na alta do transformador. Temos, portanto, o circuito
equivalente por fase para a seqüência zero conforme mostrado na Figura 21.

I A( 0) Z
A
+ +

VA( 0) Va( 0)

referência

Figura 21. Circuito de seqüência zero para o transformador conectado em Y-∆ com o
neutro do Y isolado.

Exercício 3.7

O banco resistivo conectado em Y do exercício 3.2 é alimentado a partir do lado de baixa Y


de transformador Y-∆. As tensões na carga são as mesmas do exercício 3.2. Encontre as
tensões e correntes em pu no lado da alta do transformador.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 28

Ligação Diagrama de Conexões Circuito Equiv. de Seq. 0

P Z0 Q
P Q
P Q

referência

P Z0 Q

P Q P Q

referência

P Z0 Q

P Q
P Q

referência

P Z0 Q
P Q
Q
P

referência

P Z0 Q
P Q
P Q

referência

Figura 22. Resumo dos circuitos de seqüência zero para transformadores trifásicos para os 5
casos de conexão primário-secundário estudados. Nas figuras temos Z 0 = Z + 3Z N + 3Z n .

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 29

3.10 REDES DE SEQÜÊNCIA

Nas seções anteriores deste capítulo foram desenvolvidos circuitos por fase de
seqüências positiva, negativa e zero para cada um dos elementos de sistemas de potência:
impedâncias de carga, linhas de transmissão, geradores síncronos e transformadores. Todas
as partes da rede, exceto pelas máquinas girantes, são estáticas e sem fontes. Assume-se
que cada elemento individual seja linear e trifásico, sendo conectado em Y ou ∆.

Do exposto nas seções anteriores, destacam-se as seguintes observações:

• Em cada parte da rede a queda de tensão causada por corrente de uma


determinada seqüência depende somente da impedância daquela parte da rede à
corrente desta mesma seqüência.

• As impedâncias às correntes de seqüência positiva Z1 e negativa Z 2 são iguais


em qualquer circuito estático e podem ser consideradas aproximadamente iguais
em máquinas síncronas sob condições subtransitórias.

• Em qualquer parte da rede, em geral tem-se que Z 0 é diferente de Z1 e Z 2 .

• O neutro é a referência para tensões em circuitos de seqüência positiva e


negativa; e as tensões para o neutro destas seqüências são as mesmas das
tensões para a terra, caso haja conexões do neutro para a terra com impedâncias
nulas ou finitas.

• Nenhuma corrente de seqüência positiva ou negativa flui do neutro para a terra.

• As impedâncias Z n nas conexões neutro-terra não são incluídas nos circuitos


de seqüência positiva e negativa e são representadas com o valor 3Z n entre o
ponto de neutro e a terra somente nos circuitos de impedância zero.

Os circuitos individuais de seqüência de cada componente nos permitem criar os


circuitos de seqüência de todo o sistema, chamados de redes de seqüência. As redes de
seqüência são construídas através da junção dos circuitos de seqüências individuais
correspondentes. Como as correntes de seqüência circulam por circuitos de seqüência
independentes, temos redes de seqüência independentes para as seqüências negativa
positiva e zero.

A rede de seqüência positiva é equivalente ao circuito por fase de um sistema


equilibrado. Verificou-se que transformadores Y–∆ ou ∆-Y provocam um atraso/avanço
nos ângulos de fase de tensões e correntes de linha entre o primário e secundário do
transformador. Na rede de seqüência positiva em geral não se modelam esses defasamentos,

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo III Componentes Simétricas e Redes de Seqüência 30

já que os sistemas de potência são projetados para que tais defasamentos somem zero em
uma malha fechada. Em cálculos mais detalhados, entretanto, deve-se considerá-los.

A rede de seqüência negativa é muito similar à rede de seqüência positiva. Como as


impedâncias de seqüência positiva e negativa Z1 e Z 2 são as mesmas em sistemas estáticos
simétricos, basta alterar, se necessário, as impedâncias que representam as máquinas
rotativas e omitir as suas forças eletromotrizes. A questão do defasamento discutida para a
rede de seqüência positiva também é válida para a rede de seqüência negativa.

O neutro é a referência para as redes de seqüência positiva e negativa já que, nestas


seqüências, todos os neutros estão no mesmo potencial. As impedâncias entre neutro e terra
não interferem nas redes de seqüência positiva e negativa.

Exercício 3.8

Desenhe as redes de seqüência positiva e negativa para o sistema a seguir. Um gerador de


300 MVA, 20KV, com reatância subtransitória de 20%, alimenta vários motores síncronos
através de uma linha de transmissão de 64 km contendo transformadores em ambos os
lados. Os motores possuem valores nominais 13.2KV e são representados apenas por 2
motores equivalentes ( M 1 e M 2 ). O neutro do motor M 1 é aterrado através de uma
reatância. O neutro do motor M 2 está isolado. Os valores nominais dos motores são 200
MVA e 100 MVA para os motores M 1 e M 2 respectivamente. Para ambos os motores
temos X d'' = 20% . O transformador trifásico T1 possui valores nominais 350MVA 230 Y/
20 ∆ KV, com reatância de dispersão de 10%. O transformador T2 conectado em Y- ∆ é
composto por três transformadores monofásicos, cada um com valores nominais de 127
/13.2 KV e 100 MVA. Com reatância de dispersão de 10%. Ambos os Y dos
transformadores estão solidamente aterrados. A reatância da linha é de 0.5 Ω/km. Assuma
que a reatância de seqüência negativa de cada máquina é igual à reatância subtransitória.
Omita as resistências e defasamentos relacionados aos transformadores. Adote uma base de
300 MVA e 20KV no circuito do gerador.

A rede de seqüência zero pode ser entendida como um circuito monofásico, já que as
correntes de seqüência zero são as mesmas (em magnitude e fase) em todos os pontos da
rede. Logo as correntes de seqüência zero irão fluir apenas se houver um caminho de
retorno. A referência para a seqüência zero é o potencial de terra.

Exercício 3.9

Desenhe a rede de seqüência zero para o exercício 3.8. Assuma reatâncias de seqüência
zero para o gerador e motores de 0.05 pu. Assuma um reator limitador de corrente de 0.4 Ω
nos neutros do gerador e dos motores. A reatância de seqüência zero da linha de
transmissão é de 1.5 Ω/km. Adote a mesma base do exercício 3.8.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 1

Capítulo IV
Faltas Simétricas

4.1 INTRODUÇÃO

Uma falta é definida como qualquer falha que interfira com o fluxo normal de correntes
no circuito. A maioria das faltas nos sistemas de transmissão é causada por raios, resultando
em disrupção dos isoladores. A alta tensão entre o condutor e a torre causa ionização
fornecendo um caminho para a terra para as cargas induzidas pela descarga atmosférica.
Assim que o caminho ionizado é estabelecido, a baixa impedância para terra permite o
fluxo de corrente do condutor para a terra e através da terra até o neutro aterrado de um
transformador ou gerador, completando o circuito.

A abertura dos disjuntores para isolar a porção afetada pela falta interrompe o fluxo de
corrente e o caminho de ionização. Após 20 ciclos os disjuntores podem geralmente ser
fechados sem que o arco seja restabelecido. A experiência com a operação de sistemas de
energia mostra que na maioria dos casos o re-fechamento dos disjuntores é bem sucedido.
Nos casos em que o re-fechamento dos disjuntores não é bem sucedido temos as chamadas
faltas permanentes. Entre as causas de faltas permanentes pode-se citar: i) quedas de
linhas à terra, ii) damos permanentes a torres iii) falha de pára-raios, etc.

A experiência mostra que de 70 a 80% das faltas são do tipo fase-terra. Apenas 5% das
faltas envolvem todas as três fases. Estas faltas são denominadas de faltas simétricas
trifásicas. Outros tipos de faltas envolvem faltas fase-fase e faltas dupla-fase-terra, ambas
causam desequilíbrio de fases e por isso são denominadas faltas assimétricas.

As correntes que fluem imediatamente após a ocorrência de uma falta diferem daquelas
que fluem após alguns ciclos no instante em que os disjuntores fazem a abertura do circuito.
Estas correntes também diferem da corrente de falta de regime permanente, que aparece
caso o disjuntor não abra convenientemente o circuito. Na análise de falta estamos
interessados nestas correntes, de modo que se possa calcular os valores para os quais os
disjuntores e relés devem ser ajustados.

4.2 TRANSITÓRIOS EM MÁQUINAS SÍNCRONAS

Já vimos que o transitório de corrente quando da ocorrência de uma falta nos terminais
de uma máquina síncrona é semelhante ao que ocorre quando uma tensão senoidal é
aplicada a um circuito RL (no qual aparece uma componente senoidal em uma componente
de decaimento com constante L/R). Na máquina síncrona, entretanto, podemos considerar
três instantes diferentes após a falta: o subtransitório, o transitório e o regime
permanente. Foram definidas as reatâncias subtransitórias X d' ' , transitórias X d' e de regime
permanente X d , sendo que X d'' < X d' < X d ; e as respectivas correntes de curto
I '' > I ' > I .

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 2

Se um gerador está descarregado no momento da falta, vimos que a máquina pode ser
representada por um circuito equivalente por fase no qual aparece a força eletromotriz (a
vazio) em série com a reatância apropriada. A seguir examinaremos a situação mais geral
na qual o gerador não está descarregado no momento da falta.

4.3 TENSÕES INTERNAS DE MÁQUINAS SÍNCRONAS CARREGADAS SOB


CONDIÇÕES DE FALTA

Seja um gerador carregado no momento da ocorrência de uma falta. A Figura 1 a seguir


ilustra o circuito equivalente de um gerador que alimenta uma carga trifásica equilibrada. O
circuito mostra também uma impedância externa entre o gerador e o ponto P de ocorrência
da falta.

Z ext
P
+
IL
+
jX dg

+ Vt V f ZL
E g
_
_ _

Figura 1. Circuito equivalente por fase de um gerador suprindo uma carga trifásica
equilibrada.

A corrente circulando antes da falta é IL , a tensão no ponto de falta é V f . E a tensão


terminal do gerador é Vt . Se uma falta trifásica ocorre em P, um curto-circuito de P para o
neutro não irá representar a corrente subtransitória dado que, nesta situação, a reatância e a
tensão interna da máquina deveriam ser respectivamente X dg ''
e E g'' . O circuito da Figura 2
a seguir nos dá o resultado desejado para tal situação.

Z ext P
+
IL
+
''
jX dg
S
+ Vt V f ZL
E g''
_
_ _

Figura 2. Circuito equivalente por fase de um gerador suprindo uma carga trifásica
equilibrada para cálculo da corrente I '' .

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 3

No circuito mostrado na Figura 2, uma tensão interna E g'' em série com uma reatância
''
X dg supre a corrente de regime permanente IL quando a chave S está aberta e fornece a
corrente de curto-circuito quando a chave S é fechada. Se determinarmos E g'' a corrente
''
através de X dg será I '' . Com a chave S aberta temos:

E g'' = Vt + jX dg
'' 
( )
I L = V f + Z ext + jX dg
'' 
IL (1)

sendo que E g'' é denominada de tensão interna subtransitória. Analogamente


podemos definir a tensão interna transitória E g' da forma:

E g' = Vt + jX dg
' 
(
I L = V f + Z ext + jX dg
'
)
IL (2)

Assim, E g'' e E g' são iguais a E g somente quando o gerador está operando a vazio, ou
seja, IL = 0 , ou ainda E = E ' = E '' = V . É importante ressaltar que E g'' em série com
g g g t
''
X dg representa o gerador somente nos instantes imediatamente antes e após a
ocorrência da falta. Por outro lado, E g em série com a reatância síncrona X dg representa
o circuito equivalente da máquina sob quaisquer condições de carga ( IL qualquer). A
corrente de carga não altera E g , mas altera E g'' e E g' .

Motores síncronos possuem reatâncias do mesmo tipo que geradores síncronos. Durante
alguns ciclos após a ocorrência de uma falta os motores síncronos atuam de modo a
alimentar as correntes de curto. De modo análogo, as tensões internas subtransitória E m'' e
transitória E m' de um motor são dadas por:

E m'' = Vt − jX dm
'' 
IL
(3)
E m = Vt − jX dm IL
' '

onde Vt é a tensão terminal do motor , X dm


'' '
e X dm são respectivamente as reatância
subtransitória e transitória do motor.

As correntes de falta de sistemas contendo geradores e motores, sob condições de carga,


podem ser calculadas de dois modos: (1) pelo cálculo das tensões internas subtransitórias
(ou transitórias) das máquinas ou (2) pelo teorema de Thévenin.

Suponha que um gerador síncrono é conectado a um motor síncrono através de uma


linha de transmissão com impedância externa Z ext . O motor está solicitando uma corrente
IL do gerador quando uma falta simétrica ocorre nos terminais do motor. A Figura 3
mostra os circuitos equivalentes imediatamente antes e depois da falta.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 4

Z ext IL Z ext


P P
+ + +
'' '' '' Ig'' Im'' ''
jX dg jX dm jX dg jX dm

+ Vt V f + + Vt I 'f' +


E g'' E m'' E g'' E m''
_ _ _ _
_ _ _

(a) antes da falta (b) depois da falta

Figura 3. Circuitos equivalentes antes e após uma falta nos terminais de um motor síncrono
conectado a um gerador síncrono através de linha de impedância Z ext .

Podemos calcular as tensões internas subtransitórias pelas expressões:

E g'' = Vt + jX dg
'' 
(
I L = V f + Z ext + jX dg
'' 
IL ) (4)
E m'' = V f − jX dm
'' 
IL (5)

Quando a falta ocorre as correntes Ig'' e Im'' podem ser dadas pelas expressões:

E g'' V f
Ig'' = = + IL (6)
Z ext + jX dg
''
Z ext + jX dg
''

 '' V
I '' = Em = f − I (7)
m '' '' L
jX dm jX dm

Somando estas duas correntes teremos:

V f V f
I 'f' = Ig'' + Im'' = + (8)
Z ext + jX dg
''
jX ''

 dm

Igf
'' Imf
''

onde as correntes Igf'' e Imf


''
são, respectivamente, as contribuições do gerador e motor
para a corrente de falta.

Podemos resolver o problema anterior utilizando o teorema de Thévenin. Observando-


se a equação (8) nota-se que para que a corrente de falta seja calculada são necessários: a
tensão pré-falta no ponto de falta e os parâmetros da rede. Portanto, a corrente I 'f' e as

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 5

correntes adicionais produzidas através da rede pela falta podem ser encontradas
simplesmente aplicando-se a tensão V f no ponto de falta conforme mostrado na Figura 4 a
seguir.

Z ext
P

'' Igf'' Imf


''
''
jX dg jX dm
_
V f
+
I 'f'

Figura 4. Circuito ilustrando os fluxos de correntes adicionais devidos à falta trifásica


em P aplicando V f para simular a falta.

Re-arranjando o circuito da Figura 4 de modo a interpretarmos o equivalente Thévenin


teremos:
''
jX dg Z ext

Igf'' P
''
jX dm
+
Imf
''
V f S
_
I 'f'

Figura 5. Re-arranjando o circuito equivalente da Figura 4.

A impedância de Thévenin pode ser extraída da figura 5 da forma:

Z th =
''
jX dm (
Z ext + jX dg
''
)
Z ext + j ( ''
X dg + ''
X dm ) (9)

A impedância é medida a partir do ponto de falta, curto-circuitando todos os geradores.


Pode-se calcular a corrente de falta da seguinte forma:

I f =
V f
=
[
V f Z ext + j X dg
''
+ X dm
''
( )]
Z th ''
jX dm (
Z ext + jX dg
''
) (10)

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 6

Repara-se que a expressão (10) acima é idêntica à expressão (8). Assim, as faltas
simétricas trifásicas podem ser calculadas pelas tensões internas ou utilizando-se o teorema
de Thévenin.

Exercício 1

Um gerador síncrono e um motor possuem valores nominais 30000 KVA, 13.2 KV e


reatância subtransitória de 20%. A linha interligando o gerador e o motor possui reatância
de 10% na base da placa das máquinas. O motor está solicitando 20000 KW a um fator de
potência de 0.8 capacitivo e a uma tensão terminal de 12.8 KV quando ocorre uma falta nos
terminais do motor. Encontre as correntes subtransitórias no gerador, no motor e na falta
utilizando as tensões internas da máquina.

Exercício 2

Resolva o exercício anterior utilizando o teorema de Thévenin.

Nos exercícios anteriores a discussão do cálculo de correntes de curto-circuito foi


restrita a casos simples, que não envolvem uma rede de dimensões reais. Para estudarmos
uma metodologia aplicável a redes gerais utilizamos os conceitos de matrizes admitância e
de impedância discutidos a seguir.

4.4 MATRIZ ADMITÂNCIA E EQUAÇÕES NODAIS

Em uma rede genérica de sistemas de energia define-se nó ou nodo como uma junção
entre dois elementos de circuito. A formulação das equações de balanço de correntes que
entram e saem de um nó (equações nodais) é a base de vários programas de análise de
redes.

Seja o circuito mostrado na Figura 6 a seguir. No circuito todos os elementos da rede


estão representados através de admitâncias. Aplicando as equações de Kirchhoff para o nó
1 teremos.

(V1 − V3 )yc + (V1 − V2 )yd + (V1 − V4 )y f =0 (11)

Para o nó 3 teremos:

(V3 )ya + (V3 − V2 )yb + (V3 − V1 )yc = I3 (12)

Re-arranjando as equações teremos:

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 7

( )
V1 y c + y d + y f − V2 ( y d ) − V3 ( y c ) − V4 y f = 0 ( ) (13)
− V ( y ) − V ( y ) + V ( y + y + y ) = I
1 c 2 b 3 a b c 3 (14)

Equações similares podem ser escritas para os nós 2 e 4 , resultando em:

( )
V1 yc + yd + y f − V2 ( yd ) − V3 ( yc ) − V4 y f = 0 ( )
−V1 ( yd ) + V2 ( yb + yd + ye ) − V3 ( yb ) − V4 ( ye ) = 0
(15)
−V1 ( yc ) − V2 ( yb ) + V3 ( ya + yb + yc ) = I3
( ) (
−V1 y f − V2 ( ye ) + V4 y f + ye + y g = I4 )
2
yb ye

yd
yc yf

3 4

yg
I3 ya I4

Figura 6. Rede exemplo de um sistema de energia.

Reescrevendo 15 matricialmente temos:

⎡ yc + yd + y f − yd − yc − yf ⎤ ⎡V1 ⎤ ⎡ 0 ⎤
⎢ − yd yb + y d + y e − yb − ye ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢ ⎥ * ⎢V2 ⎥ = ⎢ 0 ⎥ (16)
⎢ − yc − yb y a + yb + y c 0 ⎥ ⎢V3 ⎥ ⎢ I3 ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎣⎢ − yf − ye 0 y e + y f + y g ⎦⎥ ⎣⎢V4 ⎦⎥ ⎣ I4 ⎦

Ou de forma mais compacta:

Ybus * V = I (17)

A matriz Ybus , ou simplesmente Y é denominada de matriz admitância da rede dada


na Figura 6. Esta matriz contem informações sobre a topologia de todo o sistema de

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 8

energia. Os termos da diagonal da matriz são chamados de auto-admitâncias e os termos


fora da diagonal são denominados de admitâncias de transferência. A construção da
matriz Ybus é feita através das seguintes regras simples:

• O termo da diagonal k é dado pela soma das admitâncias diretamente conectadas à


barra k (com sinal positivo)
• O termo k-j fora da diagonal é dado pela admitância que interliga as barras k-j com
sinal negativo.

Assim, a matriz admitância de um sistema de energia contendo, por exemplo, 1000


barras, terá uma dimensão de Ybus (1000 × 1000 ) . É importante destacar, entretanto, que a
grande maioria destes elementos deve ser nula, já que em média uma barra se conecta com
poucas outras barras. Assim, a matriz Ybus é em geral muito esparsa. Para sistemas de
grande porte esta matriz pode ter uma esparsidade em torno de 99%.

Invertendo-se a matriz Ybus tem-se a matriz impedância de barra, Z bus . Ou seja:

−1
Zbus = Ybus (18)

Da álgebra linear sabe-se que a inversão de uma matriz esparsa produz uma matriz
densa (cheia). Assim, a matriz Z bus em geral deve ser cheia. Para sistemas de grande porte
a inversão computacional da matriz admitância para a obtenção da matriz Z bus é
impraticável. Existem técnicas de manipulação dos fatores da matriz Ybus de modo que
apenas uma coluna da matriz Z bus seja obtida. A matriz Ybus é muito importante para o
cálculo de fluxo de carga e a matriz Z bus é utilizada para análise de curto-circuito e para
análise contingências. Nestes estudos em geral não se necessita de toda a matriz, mas
apenas de alguns elementos específicos de determinadas colunas. Assim, as técnicas
computacionais de fatoração da matriz Ybus são eficazes para a obtenção destes elementos
específicos da matriz Z bus .

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 9

Exercício 3

Seja um sistema de energia composto por 3 barras. As impedâncias das linhas são dadas na
base do sistema, conforme a seguir:

Linha 1 – 3 : j0.2 pu
Linha 1 – 2 : j0.4 pu
Linha 2 – 3 : j0.5 pu

Suponha que um banco de capacitor com admitância de j3 pu esteja conectado à barra 1.


Obtenha a matriz admitância de barra Ybus e a matriz impedância Z bus através da inversão
de Ybus . Utilize a técnica de fatoração LU da matriz Ybus para obter a coluna 1 da matriz
Z bus .

4.5 INTERPRETAÇÕES DE CIRCUITO ENVOLVENDO A MATRIZ Zbus

A matriz impedância é muito importante para o cálculo de correntes de falta, razão pela
qual será estudada em mais detalhe nesta seção. É fundamental que se compreenda o
significado físico das várias impedâncias que aparecem na matriz Z bus , o que será feito a
seguir, comparando elementos das matrizes admitância e impedância. Já vimos que:

I = Ybus * V (19)

Seja um sistema de potência qualquer com 4 barras (nós). Na barra 2 temos:

I2 = Y21V1 + Y22V2 + Y23V3 (20)

Se V1 e V3 são anulados, curto-circuitando as barras 1 e 3 para o nó de referência, e é


aplicada a tensão V2 à barra 2, de modo que a corrente I2 entre na barra 2, a auto-
admitância da barra 2 será:

I2
Y22 = (21)
V2 V1 = V3 = 0

Portanto a auto-admitância em uma barra pode ser medida curto-circuitando todas as


demais barras do sistema e dividindo a corrente injetada na barra pela tensão na barra.

Seja agora a equação de corrente na barra 1

I1 = Y11V1 + Y12V2 + Y13V3 (22)

Da equação temos:

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 10

I1
Y12 = (23)
V2 V1 = V3 = 0

Portanto a admitância de transferência Y12 pode ser obtida curto-circuitando todas


demais barras do sistema exceto a barra 2 e aplicando uma tensão V à barra 2. Então Y é 2 12
dada pela divisão entre a corrente I1 injetada na barra 1 (ou o negativo da corrente saindo
da barra 1) e a tensão V2 aplicada à barra 2.

Análises análogas serão feitas a seguir para os elementos da matriz impedância Z bus .
Multiplicando-se a equação (19) pelo inverso da matriz admitância, tem-se:

V = Z bus * I (24)

Suponha novamente um sistema de potência genérico com três barras. Expandindo as


equações (19) em termos matriciais tem-se:

⎡V1 ⎤ ⎡ Z11 Z12 Z13 ⎤ ⎡ I1 ⎤


⎢ ⎥ ⎢ ⎢ ⎥
⎢V2 ⎥ = ⎢ Z 21 Z 22 Z 23 ⎥⎥ * ⎢ I2 ⎥ (25)
⎢V3 ⎥ ⎢⎣ Z 31 Z 32 Z 33 ⎥⎦ ⎢⎣ I3 ⎥⎦
⎣ ⎦

Tem-se que a auto-impedância na barra 2 é dada por:

V2
Z 22 = (26)
I2 I1 = I3 = 0

Assim, a auto-impedância de uma determinada barra pode ser calculada abrindo-se os


circuitos de fonte de corrente em todas as demais barras e injetando-se uma fonte de
corrente I2 na barra 2. Pode-se ainda calcular a impedância de transferência da forma:

V1
Z12 = (27)
I2 I1 = I3 = 0

Basta portanto injetar a corrente I2 na barra 2, abrir todas as demais fontes de corrente
e fazer a divisão conforme (27).

A primeira equação de (25) nos mostra que se injetarmos uma corrente I1 na barra 1
com as fontes de corrente nas barras 2 e 3 abertas a única impedância através da qual a

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Capítulo IV - Faltas Simétricas 11

corrente 1 flui é Z11 . Sob as mesmas condições mostra-se que a corrente I1 causa quedas
de tensão nas barras 2 e 3 dadas respectivamente por: V2 = I1 Z 21 e V3 = I1 Z 31 .

4.6 TEOREMA DE THÉVENIN E A MATRIZ Zbus

Sejam as tensões V 0 nas barras, correspondentes a valores iniciais de injeção de


corrente I 0 , dadas por V 0 = Z bus I 0 . As tensões V 0 são medidas em relação à barra de
referência. Suponha que estas injeções de corrente iniciais sejam alteradas para valores
I 0 + ∆I . Tem-se que as novas tensões serão:

( )
V = Z bus I 0 + ∆I = Z bus I 0 + Z bus ∆I



(28)
V0 ∆V
A figura 7 a seguir mostra um sistema de potência no qual é destacada a barra k e a
referência do sistema. Inicialmente consideramos que o circuito está desenergizado de
modo que I 0 e V 0 são nulos. A seguir uma corrente incremental ∆Ik é injetada na barra k.
As alterações resultantes nas tensões são dadas pela expressão dada em (29).

n
3 matriz Z bus da
rede original
2 ∆Vn

k
1

∆Ik
0

Figura 7. Rede original com a barra k e a referência destacadas.

⎡ ∆V1 ⎤ ⎡ Z11 Z12 " Z1k " Z1n ⎤ ⎡ 0 ⎤


⎢ ⎥ ⎢
⎢ ∆V2 ⎥ ⎢ Z 21 Z 22 " Z 2 k " Z 2 n ⎥⎥ ⎢⎢ 0 ⎥⎥
⎢ # ⎥ ⎢ # # % # % # ⎥ ⎢ # ⎥
⎢  ⎥=⎢ ⎥*⎢ ⎥ (29)
⎢ ∆Vk ⎥ ⎢ Z k1 Z k 2 " Z kk " Z kn ⎥ ⎢ ∆Ik ⎥
⎢ # ⎥ ⎢ # # % # % # ⎥ ⎢ # ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥

⎣⎢ ∆Vn ⎦⎥ ⎣⎢ Z n1 Z n 2 " Z nk " Z nn ⎦⎥ ⎣⎢ 0 ⎦⎥

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Capítulo IV - Faltas Simétricas 12

As únicas componentes não nulas da expressão (29) são dadas por:

⎡ ∆V1 ⎤ ⎡ Z1k ⎤
⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢ ∆V2 ⎥ ⎢ Z 2 k ⎥
⎢ # ⎥ ⎢ # ⎥
⎢  ⎥=⎢ ⎥ * ∆Ik (30)

⎢ k ⎥ ⎢ kk ⎥
V Z
⎢ # ⎥ ⎢ # ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢⎣ ∆Vn ⎥⎦ ⎢⎣ Z nk ⎥⎦

que corresponde à coluna k da matriz impedância multiplicada por ∆Ik . Acrescentando


as alterações nas tensões na equação (28) tem-se, na barra k que:

Vk = Vk0 + Z kk ∆Ik (31)

A equação (31) corresponde ao circuito equivalente mostrado na Figura 8 a seguir.

matriz Z bus da
rede original
Z th = Z kk k

+ +
Vk0 _ ∆Ik
Vk
0

Figura 8. Circuito Equivalente de Thévenin no nó k.

Da figura 8 e da equação 31 nota-se que o elemento da diagonal k-k da matriz


admitância Z bus corresponde à impedância de Thévenin na barra k. Ou seja:

Z th = Z bus , kk = Z kk (32)

De modo bastante similar podemos determinar a impedância de Thévenin entre duas


barras k-j quaisquer do sistema. Conforme mostrado na Figura 9 a rede genérica é
energizada por fontes de corrente ∆I j na barra j e ∆Ik na barra k .

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Capítulo IV - Faltas Simétricas 13

∆I j
j

∆V3 3 matriz Z bus da


rede original ∆V j
∆V2 2

∆Ik
k
∆V1 1

0 ∆Vk

Figura 9. Rede genérica com fontes de corrente nas barras k e j.

As alterações ocorridas nas tensões das demais barras com a inserção das injeções de
correntes são dadas pela equação a seguir.

⎡ ∆V1 ⎤ ⎡ Z11 Z12 " Z1 j Z1k " Z1n ⎤ ⎡ 0 ⎤


⎢  ⎥ ⎢Z Z 22 " Z 2 j " Z 2 n ⎥⎥ ⎢ 0 ⎥
⎢ ∆V2 ⎥ ⎢ 21 Z 2k
⎢ ⎥
⎢ # ⎥ ⎢ # # % # # % # ⎥ ⎢ # ⎥
⎢  ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢ ∆V j ⎥ = ⎢ Z j1 Z j 2 " Z jj Z jk " Z jn ⎥ * ⎢ ∆I j ⎥ (33)
⎢ ∆V ⎥ ⎢ Z k1 Zk 2 " Z kj Z kk " Z kn ⎥ ⎢ ∆Ik ⎥
⎢ k⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢ # ⎥ ⎢ # # % # # % # ⎥ ⎢ # ⎥
⎢ ∆V ⎥ ⎢ Z Z n 2 " Z nj " Z nn ⎥⎥⎦ ⎢⎣ 0 ⎥⎦
⎢⎣ n ⎥⎦ ⎢⎣ n1 Z nk

A multiplicação acima resulta:

⎡ ∆V1 ⎤ ⎡ Z1 j ∆I j + Z1k ∆Ik ⎤


⎢ ⎥ ⎢   ⎥
⎢ ∆V2 ⎥ ⎢ Z 2 j ∆I j + Z 2 k ∆I k ⎥
⎢ # ⎥ ⎢ # ⎥
⎢  ⎥ ⎢   ⎥
⎢ ∆V j ⎥ = ⎢ Z jj ∆I j + Z jk ∆I k ⎥ (34)
⎢ ∆V ⎥ ⎢ Z kj ∆I j + Z kk ∆Ik ⎥
⎢ k⎥ ⎢ ⎥
⎢ # ⎥ ⎢ # ⎥
⎢ ∆V ⎥ ⎢ Z ∆I + Z ∆I ⎥
⎢⎣ n ⎥⎦ ⎣⎢ nj j nk ⎥
k ⎦

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Capítulo IV - Faltas Simétricas 14

Assim, para calcularmos as alterações nas demais barras da rede basta multiplicarmos a
coluna j da matriz impedância Z bus pelo acréscimo de corrente ∆I j e somarmos com o
resultado do produto da coluna k da matriz impedância Z pelo acréscimo ∆I .
bus k

Somando-se os acréscimos de tensões às tensões originais nas barras k e j tem-se:

V j = V j0 + Z jj ∆I j + Z jk ∆Ik
(35)
Vk = Vk0 + Z kj ∆I j + Z kk ∆Ik

Somando e subtraindo o termo Z jk ∆I j na primeira expressão e o termo Z kj ∆Ik na


segunda expressão tem-se:

( ) (
V j = V j0 + Z jj − Z jk ∆I j + Z jk ∆Ik + ∆I j )
(36)
( ) (
Vk = Vk0 + Z kj ∆Ik + ∆I j + Z kk − Z kj ∆Ik )
Lembrando-se que a matriz Z bus é simétrica ( Z jk = Z kj ) as equações dadas em (36)
têm a representação de circuito mostrada na Figura 10 a seguir.

matriz Z bus da
∆Ik
k
rede original

Z kk − Z kj ∆Vk
+
_
Vk0

_
V j0
+
Z jj − Z jk j
∆I j
Z jk = Z kj
∆V j

0
referência

Figura 10. Circuito equivalente de Thévenin do sistema entre as barras k e j.

Da Figura 10 verifica-se que a tensão de circuito aberto da barra k para a barra j é de


Vk0 -V j0 e a impedância encontrada pela corrente de curto-circuito Icc da barra k para a
barra j é dada por:

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Capítulo IV - Faltas Simétricas 15

Z th , jk = Z kk + Z jj − 2 Z jk (37)

Este resultado pode ser confirmado substituindo-se Icc = ∆I j = − ∆Ik e ajustando a
diferença V − V entre as equações resultantes igual a zero.
j k

A partir da barra j para o nó de referência pode-se rastrear a impedância de Thévenin


( )
Z jj = Z jj − Z jk + Z jk e a tensão de circuito aberto V j0 . A partir da barra k pode-se rastrear

kk ( kk kj )
a impedância de Thévenin Z = Z − Z + Z e a tensão de circuito aberto V 0 .
kj k

Se uma impedância Z b é conectada entre as barras k e j a corrente resultante é dada


por:

Vk0 − V j0 Vk − V j
Ib = = (38)
Z th, jk + Z b Zb

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Capítulo IV - Faltas Simétricas 16

4.6 ELIMINAÇÃO NODAL EM MATRIZES IMPEDÂNCIA E ADMITÂNCIA


(REDUÇÃO DE KRON)

Seja o seguinte conjunto de equações nodais escritas para um sistema genérico de 4


barras:

Y11V1 + Y12V2 + Y13V3 + Y14V4 = I1


Y V
21 1 + Y V 22 2 + Y V 23 3 + Y V 24 4 = I2
(39)
Y31V1 + Y32V2 + Y33V3 + Y34V4 = I 3
Y41V1 + Y42V2 + Y43V3 + Y44V4 = I4

Podemos eliminar a variável V1 do problema (39), pelo método da eliminação de Gauss.
Primeiro, divide-se a primeira equação por Y11 obtendo:

Y Y Y 1 
V1 + 12 V2 + 13 V3 + 14 V4 = I1 (40)
Y11 Y11 Y11 Y11

Multiplicando-se a equação acima respectivamente por Y21 , Y31 e Y41 e subtraindo-se


das equações 2, 3 e 4 de (39), tem-se:

Y Y Y 1 
V1 + 12 V2 + 13 V3 + 14 V4 = I1 (41)
Y11 Y11 Y11 Y11

⎛ Y21Y12 ⎞  ⎛ Y21Y13 ⎞  ⎛ Y21Y14 ⎞  Y 21 


⎜ Y22 − ⎟ V2 + ⎜ Y23 − ⎟ V3 + ⎜ Y24 − ⎟ V4 = I2 − I1 (42)
⎝ Y11 ⎠ ⎝ Y11 ⎠ ⎝ Y11 ⎠ Y11
⎛ Y31Y12 ⎞  ⎛ Y31Y13 ⎞  ⎛ Y31Y14 ⎞   Y 31 
⎜ Y32 − ⎟ V2 + ⎜ Y33 − ⎟ V3 + ⎜ Y34 − ⎟ V4 = I 3 − I1 (43)
⎝ Y11 ⎠ ⎝ Y11 ⎠ ⎝ Y11 ⎠ Y11
⎛ Y41Y12 ⎞  ⎛ Y41Y13 ⎞  ⎛ Y41Y14 ⎞   Y 41 
⎜ Y42 − ⎟ V2 + ⎜ Y43 − ⎟ V3 + ⎜ Y44 − ⎟ V4 = I 4 − I1 (44)
⎝ Y11 ⎠ ⎝ Y11 ⎠ ⎝ Y11 ⎠ Y11

O sistema de dado por (42) - (44) acima não depende mais de V1 . Os elementos novos
Yij(1) da matriz admitância quando a tensão da barra 1 é eliminada são dados pela regra:

Y j1Y1k
Y jk(1) = Y jk − (45)
Y11
Se a tensão correspondente a uma barra p qualquer for eliminada, tem-se que os
elementos j e k (com j≠p e k≠p) novos da matriz serão, portanto, dados pela regra:

Y jp Y pk
Y jk(1) = Y jk − (46)
Y pp

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Capítulo IV - Faltas Simétricas 17

Repare que se a corrente injetada na barra 1 fosse I1 = 0 não haveria nenhuma
informação da barra 1 nas equações (42)-(43). Sistemas nos quais são eliminadas as
equações associadas às tensões nas barras com injeções nulas são denominados Kron-
reduzidos. O mesmo tipo de redução é aplicável às equações nodais V = Z bus I envolvendo
a matriz Z bus . Neste caso o sistema é denominado Kron-reduzido quando são eliminadas as
equações de correntes associadas às barras com tensões nulas.

Exercício 4

Seja o sistema de equações (47) dado a seguir. Faça a eliminação de Kron correspondente
ao nó 2 nestas equações.

⎡ − j16.75 j11.75 j 2.50 j 2.50 ⎤ ⎡V1 ⎤ ⎡ 0 ⎤


⎢ j11.75 − j19.25 j 2.50 ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
j5.00 0
⎢ ⎥ * ⎢V2 ⎥ = ⎢ ⎥ (47)
⎢ j 2.50 j 2.50 − j 5.80 0.00 ⎥ ⎢V3 ⎥ ⎢ 1.00∠ − 90 o ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎣ j 2.50 j5.00 0.00 − j8.30⎦ ⎣V4 ⎦ ⎣0.68∠ − 135o ⎦

4.7 MODIFICAÇÕES NA MATRIZ Zbus

Nesta seção serão estudadas formas de alterar a matriz de impedâncias como resultado
de uma alteração na rede do sistema sem que seja necessário reconstruir a matriz desde o
início.

Caso 1 - Adicionando uma impedância Z b de uma nova barra p para a referência

A introdução de uma nova impedância Z b a partir de uma barra p para a referência é


mostrada na Figura 11 a seguir.

k
Ik rede original com
a barra k e a
referência
destacadas

0 referência

Zb
p
I p

Figura 11. Introdução de uma nova impedância Z b a partir de uma barra p para a
referência

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 18

A alteração mostrada na Figura 11 acima não altera as tensões de barra originais. A


tensão Vp na barra p é dada por Vp = I pZ b . Logo a matriz Z barra será alterada conforme
mostrado na equação (48) a seguir.

⎡V1 ⎤ ⎡ 0 ⎤ ⎡ I1 ⎤
⎢ ⎥ ⎢ ⎢ ⎥
⎢V2 ⎥ 0 ⎥ ⎢ I2 ⎥
⎢ Z orig ⎥
⎢#⎥ = ⎢ 0 ⎥*⎢ # ⎥ (48)
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢Vn ⎥ ⎢ # ⎥ ⎢ In ⎥
⎢V ⎥ p ⎢⎣0 0 " 0 Z b ⎥⎦ ⎢ I p ⎥
⎣ p⎦ ⎣ ⎦

Zbus ( nova )

Caso 2 - Adicionando Z b de uma nova barra p para uma barra k já existente

Este caso é mostrado na Figura 12 a seguir.

rede original com k p


Ik + I p Zb I p
a barra k e a
referência
destacadas
Ik

0 referência

Figura 12. Introdução de uma nova impedância Z b a partir de uma barra p para a um
barra k já existente

As alterações mostradas na Figura 12 irão alterar a corrente que entra no circuito


original através da barra k, passando de Ik para Ik + I p . A corrente I p adicional irá
aumentar a tensão original V 0 da barra k pela queda I Z (conforme já mostrado na
k p kk
equação 31). Então, tem-se:

Vk = Vk0 + I p Z kk (49)


A tensão na barra p será a tensão Vk aumentada da queda I pZ b . Ou seja:

Vp = Vk0 + I p Z kk + I p Z b (50)

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Capítulo IV - Faltas Simétricas 19

Substituindo o valor de Vk0 teremos:

Vp = I1Z k1 + I2 Z k 2 + " + In Z kn + Ip ( Zb + Z kk ) (51)




Vk0

Pela expressão acima se percebe que a matriz Z bus (nova ) será alterada com a inclusão de
uma nova linha e coluna conforme mostrado na equação (52) a seguir:

⎡ V1 ⎤ ⎡ Z1k ⎤ ⎡ I1 ⎤


⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ I ⎥
⎢V2 ⎥ ⎢ Z orig
Z 2k
⎥ ⎢ 2⎥
⎢# ⎥ = ⎢ # ⎥*⎢ # ⎥ (52)
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢Vn ⎥ ⎢ Z nk ⎥ ⎢ In ⎥
⎢V ⎥ p ⎢⎣ Z1k Z 2k " Z nk Z b + Z kk ⎥⎦ ⎢⎣ I p ⎥⎦
⎣ p⎦

Zbus ( nova )

A linha adicional acrescentada representa a equação (51) e a coluna descreve os


aumentos de tensão que ocorrem nas demais barras, de acordo com a equação (30). Note
que os n primeiros elementos da linha adicional são os mesmos da linha k de Z orig e que os
n primeiros elementos da coluna adicional são os mesmos da coluna k de Z orig .

Caso 3 - Adicionando Zb de uma existente k para a barra de referência

Para esta alteração adiciona-se uma nova barra p, conectada à barra k através de uma
impedância Z b , conforme descrito no caso 2. A seguir, curto-circuita-se a barra p fazendo-
se Vp = 0 a faz-se a redução de Kron da barra p, o que é possível já que Vp = 0 .

Caso 4 - Adicionando Zb entre duas barras j e k existentes

Esta situação é mostrada na Figura 13 a seguir. Esta situação corresponde a alterações


de fontes de corrente nas barras k e j. Ou seja, a fonte de corrente Ib é acrescentada à barra
j e a corrente − Ib é acrescentada à barra k. Já vimos que se alterarmos as injeções de
corrente em duas barra, as tensões sofrem acréscimos dados pela equação (34). Somando-se
a injeção Ib na barra j e − Ib na barra k, tem-se que as demais barras da rede serão
alteradas conforme a equação (53) a seguir.

(
∆Vh = Z hj − Z hk Ib ) (53)

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 20

Ou seja, o vetor de alterações de tensões na rede ∆V é dado pela subtração entre as


colunas j e k da matriz Z orig multiplicada pela corrente Ib .

rede original com k


Ik − Ib Ik
as barras k e j e a
referência
destacadas Ib Zb
j
I j + Ib I j

0 referência
Figura 13. Introdução de uma impedância Z b entre as barras k e j já existentes.

Utilizando a expressão (53) tem-se:



(
V1 = Z11I1 + " + Z1 j I j + Z1k Ik + " + Z1n In + Z1 j − Z1k Ib

) (54)
V10 ∆V1

e analogamente para as barra j e k tem-se:



(
Vj = Z j1I1 + " + Z jj I j + Z jk I k + " + Z jn In + Z jj − Z jk Ib

) (55)

Vj0 ∆Vj



(
Vk = Z k1I1 + " + Z kj I j + Z kk I k + " + Z kn In + Z kj − Z kk Ib

) (56)

Vk0 ∆Vk

É necessária mais uma equação já que é Ib desconhecido. Da equação (38) tem-se que:

(
0 = V j0 − Vk0 + Z th , jk + Z b Ib) (57)

Das equações (55) e (56) notamos que V j0 e Vk0 igualam respectivamente o produto das
linhas j e k da matriz original Z orig pelo vetor de correntes I. Substituindo-se V j0 e Vk0 na
expressão (57) tem-se a expressão (58) a seguir.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 21

⎡ I1 ⎤
⎢ ⎥
⎢#⎥
⎢ I ⎥

(
0 = [(linha j − linha k ) de Z orig ] * ⎢ j ⎥ + Z th , jk )
+ Z b Ib (58)
⎢I k ⎥
⎢#⎥
⎢ ⎥
⎢⎣ In ⎥⎦
Examinando-se as equações (54) a (56) e a equação (58) acima, pode-se escrever a
equação matricial a seguir:

⎡V1 ⎤ ⎡ ⎤ ⎡ I1 ⎤
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢#⎥ ⎢ ⎥ ⎢#⎥
⎢V j ⎥ ⎢ col. j – col. k ⎥ ⎢ I ⎥
⎢ ⎥ ⎢ Z orig de Z orig ⎥ ⎢  ⎥
j

⎢Vk ⎥ = ⎢ ⎥ * ⎢Ik ⎥ (59)


⎢#⎥ ⎢ ⎥ ⎢#⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢Vn ⎥ ⎢ ⎥ ⎢In ⎥
⎢0⎥ ⎢ linha j – linha k de Z ⎥ ⎢ I ⎥
⎣ ⎦ ⎣ orig
Z bb ⎦ ⎣ b⎦

Zbus ( nova )
onde : Zbb = Zth jk + Zb = Z jj + Zkk − 2Z jk + Zb

Eliminando-se a coluna n+1 da equação (59) acima pela redução de Kron tem-se a
alteração matriz Z orig pretendida. As modificações na matriz Z bus são sintetizadas na
Figura 14 a seguir.

Exercício 5
As equações do exercício 4 descritas em termos da matriz impedância são dadas por:

⎡V1 ⎤ ⎡ j 0.73128 j 0.69140 j 0.61323 j 0.63677 ⎤ ⎡ 0 ⎤


⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ 0 ⎥
⎢V2 ⎥ = ⎢ j 0.69140 j 0.71966 j 0.60822 j 0.64178 ⎥ * ⎢ ⎥
⎢V3 ⎥ ⎢ j 0.61323 j 0.60822 j 0.69890 j 0.55110 ⎥ ⎢ 1 90o ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎣⎢V4 ⎦⎥ 
⎣ j 0.63677 j 0.64178 j 0.55110 j 0.69890 ⎦ ⎢⎣0.68 135o ⎥⎦

Zbus
Modifique a matriz Z bus acima de modo a refletir a conexão de um capacitor cuja
reatância é de 5 pu conectado da barra 4 para a referência. Encontre a nova tensão na barra
4.

Exercício 6
Determine Z bus por alterações sucessivas no sistema dado no exercício 3.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 22

Caso Acrescentando ramo Zb Zbus (nova)


p p

0.
Z orig Z orig ..
1 0
Zb p ...
0 0 Zb
0

k p
k p

Z orig
2 Zb Z orig col. k
k

0 p
lin. k Z kk + Z b

k p

Z orig • Repete o caso 2


Zb
3
• Remove a linha p e a
0 coluna p por redução
de Kron

k q q
Zb
Z orig Z orig col j - col. k
4
j q lin. j - lin. k Z th, jk + Z b
0

onde: Z th , jk = Z jj + Z kk − 2 Z jk

• Remove a linha q e a coluna


q por redução de Kron

Figura 14. Alterações na matriz admitância

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Capítulo IV - Faltas Simétricas 23

4.8 CÁLCULO DE FALTAS UTILIZANDO A MATRIZ Zbus

O cálculo de faltas estudado até aqui se restringiu a circuitos simples. Nesta seção é
derivado um método geral para análise de faltas em sistemas de energia, com base na
matriz Z bus . Inicialmente, seja uma rede de energia representada pelo diagrama de
reatâncias, conforme mostrado na Figura 15 a seguir.

2
+

j 0.25 j 0.20

j 0.125
j 0.25

3 4
1
V f
j 0.10 j 0.10

j 0.20 j 0.20
+ +
E a'' E b'' _
_ _

Figura 15. Diagrama de reatâncias de um sistema de potência genérico com 4 barras.

Nesta rede adotamos para as máquinas síncronas as reatâncias subtransitórias e as


tensões internas subtransitórias. Suponha que se esteja interessado em estudar uma falta
na barra 2. Suponha ainda que a tensão da barra 2 imediatamente antes da falta seja V f .
Uma falta trifásica nesta barra é simulada pela rede mostrada na Figura 16. Nesta rede é
inserida uma fonte de tensão − V f de modo que a tensão da barra 2 seja nula, simulando
um curto-circuito, com uma corrente de curto I '' .f

Antes de sair da barra 2 em direção ao curto, a corrente I 'f' se distribui pela rede do
sistema de energia causando alterações nas tensões do sistema. Se as forças eletromotrizes
internas E a'' , E b'' e V f forem curto-circuitadas, então a única fonte de tensão será − V f .
Nesta situação, tem-se que os acréscimos nas tensões nas barras da rede podem ser
calculados pela expressão (60) a seguir.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 24

I''f
j 0.25 j 0.20

j 0.125
j 0.25
V f +
_
3 4
1

j 0.10 j 0.10 _
V f
+
j 0.20 j 0.20
+ +
E a'' E a'' _
_

Figura 16. Diagrama de reatâncias do sistema da Figura 15 com uma falta trifásica na
barra 2 simulada inserindo uma fonte de tensão − V f .

⎡ ∆V1 ⎤ ⎡ ∆V1 ⎤ ⎡ Z11 Z12 Z13 Z14 ⎤ ⎡ 0 ⎤


⎢ ⎥ ⎢  ⎥ ⎢ ⎢ ⎥
⎢ ∆V2 ⎥ = ⎢ −V f ⎥ = ⎢ Z 21 Z 22 Z 23 Z 24 ⎥⎥ ⎢ − I'f' ⎥
* (60)
⎢ ∆V3 ⎥ ⎢ ∆V3 ⎥ ⎢ Z 31 Z 32 Z 33 Z 34 ⎥ ⎢ 0 ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎣⎢ ∆V4 ⎦⎥ ⎣⎢ ∆V4 ⎥⎦ ⎣⎢ Z 41 Z 42 Z 43 Z 44 ⎦⎥ ⎣⎢ 0 ⎦⎥

A expressão (60) resulta em (61) a seguir.

⎡ ∆V1 ⎤ ⎡ ∆V1 ⎤ ⎡ − Z12 I''f ⎤


⎢ ⎥ ⎢  ⎥ ⎢ ⎥
''
⎢ 2 ⎥ = ⎢ f ⎥ = − I'' * coluna 2 de Z = ⎢ − Z 22 I f
∆V −V ⎥
⎢ ∆V3 ⎥ ⎢ ∆V3 ⎥ f bus ⎢ '' ⎥ (61)
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ − Z 32 I f ⎥
⎣⎢ ∆V4 ⎦⎥ ⎣⎢ ∆V4 ⎦⎥ ⎢ − Z I'' ⎥
⎣⎢ 42 f ⎦⎥

A segunda linha desta equação nos mostra que a corrente de falta é dada por (62).

V f
I 'f' = (62)
Z 22

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 25

Ou seja, basta conhecermos a tensão no ponto de falta V f e a diagonal da matriz de


impedância Z bus para se determinar o valor da corrente de falta trifásica no ponto de falta.
Substituindo a corrente de falta em (61) tem-se a expressão (63).

⎡ ∆V1 ⎤ ⎡ Z12  ⎤
⎢ ⎥ ⎢− Vf ⎥
⎢ ⎥ ⎢ Z 22

⎢∆V2 ⎥ ⎢ − V f ⎥
⎢ ⎥=⎢ Z 32  ⎥ (63)
⎢ ⎥ ⎢− Vf ⎥
⎢ ∆V3 ⎥ ⎢ Z 22 ⎥
⎢ ⎥ ⎢ Z 42  ⎥
⎢ ⎥ ⎢− Vf ⎥

⎣⎢∆V4 ⎦⎥ ⎣ Z 22 ⎦

Quando re-inserirmos as tensões E a'' , E b'' e V f na rede as correntes e tensões serão as


mesmas de antes da falta. Pelo princípio da superposição as tensões pré-faltas se somam as
tensões dadas em (63) para configurar as tensões totais após a ocorrência da falta. As
tensões pré-falta são calculadas, de modo geral, considerando que a rede esteja
descarregada. Na ausência de carregamento as correntes circulando pelo sistema são nulas e
as tensões em todas as barras são dadas por V f . Assim, temos a equação (64) a seguir para
as tensões finais após a ocorrência da falta.

⎡V1 ⎤ ⎡V f ⎤ ⎡ ∆V1 ⎤ ⎡V − Z12 V ⎤


⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ f Z 22 f ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢V2 ⎥ ⎢V f ⎥ ⎢∆V2 ⎥ ⎢ 0

⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢ ⎥=⎢ ⎥+⎢ ⎥=⎢ ⎥ (64)
⎢V3 ⎥ ⎢V f ⎥ ⎢ ∆V3 ⎥ ⎢V − Z 32 V ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ f Z 22 f ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ Z 42  ⎥
 
⎣⎢V4 ⎦⎥ ⎢⎣V f ⎥⎦ ⎣⎢∆V4 ⎦⎥ ⎢V f − Z V f ⎥
⎣ 22 ⎦

De modo mais geral, temos que se uma falta trifásica equilibrada ocorre nos terminais
de uma barra k genérica qualquer, temos a corrente de falta dada por (65).

V f
I 'f' = (65)
Z kk

Desprezando-se as correntes de carga pré-falta temos que as tensões nas demais barras j
são dadas por (66).

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo IV - Faltas Simétricas 26

Z jk
V j = V f − Z jk I f'' = V f − V f (66)
Z kk

Se a tensão pré-falta não é igual a V f , basta substituirmos V f na expressão acima pela


tensão pré-falta na barra j (esta tensão pode ser dada por uma ferramenta de fluxo de carga,
por exemplo). Pode-se calcular ainda as correntes de falta entre duas barras quaisquer do
sistema de energia pela expressão (67) a seguir.

Vi − V j ⎛ Zik − Z jk ⎞ V f ⎛ Z ik − Z jk ⎞
Iij'' = = − I''f ⎜ ⎟=− ⎜ ⎟ (67)
Zb ⎝ Zb ⎠ Z b ⎝ Z kk ⎠

As equações (65) – (67) acima mostram que apenas a coluna k da matriz admitância é
necessária para avaliarmos um curto-circuito trifásico na barra k do sistema.

Exercício 7

Uma falta trifásica equilibrada ocorre na barra 2 da rede da Figura 15. Utilizando tensões
pré-falta de 1 pu na barra 2, determine:

a) O valor da corrente subtransitória após a ocorrência da falta.


b) As tensões nas barras 1, 3 e 4 do sistema durante a falta.
c) A corrente fluindo da barra 3 para a barra 1.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo V - Faltas Assimétricas 1

Capítulo V
Faltas Assimétricas
A maioria das faltas que ocorrem em sistemas de energia são assimétricas. Faltas
assimétricas envolvem faltas fase-terra, fase-fase ou fase-fase-terra. O caminho percorrido
pela corrente de falta pode ou não conter uma impedância.

A ferramenta de componentes simétricas é utilizada para as análises de faltas


assimétricas, já que estas envolvem correntes e tensões desequilibradas.

5.1 FALTAS ASSIMÉTRICAS EM SISTEMAS DE POTÊNCIA

A Figura 1 a seguir nos permite visualizar as correntes de falta nas três fases do sistema.
A corrente fluindo de cada linha para a falta é indicada por flechas saindo de “cabos”
hipotéticos das fases a, b e c.

a
I fa

b
I fb

c
I fc

Figura 1. Introdução de “cabos” hipotéticos para a representação de faltas.

As ligações entre estes cabos hipotéticos representam os vários tipos de faltas. Por
exemplo, uma ligação direta entre os cabos b e c produz uma falta fase-fase através de uma
impedância nula. Neste caso a corrente no cabo a seria zero e I fb = − I fc .

As tensões fase-terra em qualquer barra j do sistema durante a falta são dadas por
V ja , V jb , V jc . A tensão na fase a no ponto de falta antes da ocorrência da falta é designada

V , a qual é uma tensão de seqüência positiva (como no capítulo 4 da apostila).
f

Seja um sistema de potência genérico submetido a uma falta. Supondo que as máquinas
são representadas por suas tensões internas subtransitórias e por suas reatâncias
subtransitórias, é possível desenharmos as redes de seqüência positiva, negativa e zero
deste sistema (conforme estudado no capítulo 3 da apostila). No capítulo 4 verificou-se que
a matriz impedância de seqüência positiva é utilizada para a determinação de correntes e
tensões resultantes de faltas simétricas. Este método pode ser estendido para faltas

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo V - Faltas Assimétricas 2

assimétricas se percebermos que as redes de seqüência negativa e zero também podem ser
representadas por matrizes de impedâncias.

(1)
Assim, teremos a matriz impedância de seqüência positiva Z bus , formada a partir da
rede de seqüência positiva, dada por (1).

⎡ Z11(1) (1)
Z12 " Z1(1)
k " Z1(1)
N

⎢ (1) (1)

⎢ Z 21 Z 22 " Z 2(1)k " Z1(1)
N ⎥
⎢ # # % # # # ⎥
(1)
Zbus = ⎢ (1) ⎥ (1)
⎢ Z k1 Z k(1)2 (1)
" Z kk " (1) ⎥
Z kN
⎢ ⎥
⎢ # # % # % # ⎥
⎢ (1) (1) ⎥
⎣⎢ Z N 1 Z N(1)2 " Z Nk
(1)
" Z NN ⎦⎥

( 2)
A matriz impedância de seqüência negativa Z bus , formada a partir da rede de seqüência
negativa, dada por (2).

⎡ Z11(2)
Z12(2)
" Z1(2)
k " Z1(2)
N

⎢ (2) (2)

⎢ Z 21 Z 22 " Z 2(2)
k " Z1(2)
N ⎥
⎢ # # % # # # ⎥
(2)
Zbus = ⎢ (2) ⎥ (2)
⎢ Z k1 (2) (2)
Z k 2 " Z kk " Z kN (2) ⎥
⎢ ⎥
⎢ # # % # % # ⎥
⎢ (2) (2) ⎥
⎢⎣ Z N 1 Z N(2)2 " Z Nk
(2)
" Z NN ⎥⎦

( 0)
A matriz impedância de seqüência zero Z bus , formada a partir da rede de seqüência
zero, dada por (3).

⎡ Z11(0)
Z12(0)
" Z1(0)
k " Z1(0)
N

⎢ (0) (0)

⎢ Z 21 Z 22 " Z 2(0)
k " Z1(0)
N ⎥
⎢ # # % # # # ⎥
(0)
Zbus = ⎢ (0) ⎥ (3)
⎢ Z k1 Z k(0)
2 " Z (0)
" Z (0) ⎥
⎢ kk kN

⎢ # # % # % # ⎥
⎢ (0) (0) ⎥
⎣⎢ Z N 1 Z N(0)2 " Z Nk
(0)
" Z NN ⎦⎥

Pode-se aplicar o método descrito no capítulo 4, uma vez que cada uma das redes de
seqüência é equilibrada. O circuito equivalente de Thévenin visto a partir da barra k, para
cada rede é dado na Figura 2 a seguir. Como no capítulo 4, a fonte de tensão na rede de
seqüência positiva (tensão equivalente de Thévenin) é V f , tensão pré-falta no ponto P da

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo V - Faltas Assimétricas 3

falta, que neste caso é a barra k. Não existem correntes de seqüência zero ou negativa
fluindo antes da falta. Assim, não aparecem nestes circuitos equivalentes as forças
eletromotrizes internas no circuito equivalente Thévenin da Figura 2.

I(1)
fa I(2) I(0)
P k
fa P fa P
k k
+ + +
(1) (2) (0)
Z kk Z kk Z kk
+ Vka(1) Vka(2) Vka(0)
V f
_ _ _ _

Figura 2. Circuitos equivalentes Thévenin vistos a partir da barra k para as redes de


seqüência positiva, negativa e zero.

Como a corrente I fa flui a partir do sistema para a falta as suas componentes simétricas
I (1) , I ( 2) , I ( 0) fluem do ponto P para fora do sistema. Portanto as correntes − I (1) ,
fa fa fa fa

− I (fa2) ,− I (fa0) representam as correntes injetadas na barra k devido à falta. Estas correntes ao
circularem pelas redes de seqüência causam alterações de tensão que podem ser calculadas
a partir das matrizes impedâncias de seqüência. Para a seqüência positiva temos que as
alterações de tensão serão:

⎤ ⎡ 0 ⎤ ⎡ − Z1k I fa ⎤
(1) (1)
⎡ ∆V1(1) ⎤ ⎡ Z11(1) (1)
Z12 " Z1(1) " Z1(1)
a
⎢ (1) ⎥ ⎢ (1)
k N
⎥ ⎢ ⎢ ⎥
⎥ ⎢ − Z (1) I (1) ⎥
⎢ ∆V2 a ⎥ ⎢ Z 21 0
(1)
Z 22 " Z 2(1)k " Z1(1)
N ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ 2 k fa ⎥
⎢ ⎥ ⎢ # # % # # # ⎥ ⎢ # ⎥ ⎢ #
⎢ ⎥=⎢ ⎥*⎢ ⎥

(1) = ⎢ ⎥ (4)
⎢ ∆Vka(1) ⎥ ⎢ Z k(1)1 Z k(1)2 " (1)
Z kk " (1) ⎥
Z kN ⎢ − I fa ⎥ ⎢ − Z kk (1) (1)
I fa ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢
⎢ ⎥ ⎢ # # % # % # ⎥ ⎢ # ⎥ # ⎥
⎢  (1) ⎥ ⎢ (1) ⎥ ⎢ ⎥
⎢⎣ ∆VNa ⎥⎦ ⎢⎣ Z N 1 Z N(1)2 " Z N(1)k " Z N(1)N ⎥⎦ ⎢⎣ 0 ⎥⎦ ⎢ − Z Nk
(1) (1)
I ⎥
⎣ fa ⎦

Como no capítulo 4, apenas a coluna k entra no cálculo das alterações nas tensões no
sistema. Na prática costuma-se considerar que o sistema está descarregado antes da falta,
ou seja, as tensões antes da falta em todas as barras são V f . Assim, as tensões finais na fase
a de seqüência positiva após a falta são dadas por (5).

As equações (5) também são análogas àquelas apresentadas no capítulo 4. A única


diferença é a utilização dos índices relacionados às componentes de seqüência positiva da
fase a. A equação (5) pode ainda ser expressa para as seqüências negativa e zero, sendo que
nestes casos, as tensões pré-faltas são nulas, já que não há tensões de seqüências negativas
e zero antes da falta. Assim, as tensões pós-falta para as seqüências negativa e zero são
dadas por (6).

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo V - Faltas Assimétricas 4

⎡V1(1) ⎡ − Z1(1) (1) ⎤


⎤ ⎡V ⎤ ⎡ ∆V1a ⎤ ⎢V f
(1)
k I fa
a
⎢ (1) ⎥ ⎢ f ⎥
⎥ ⎢  (1) ⎥ ⎢V − Z 2(1)k I (1) ⎥
⎢V2 a ⎥ ⎢V f ⎥ ⎢ ∆V2 a ⎥ ⎢ f fa
⎢ # ⎥ ⎢# ⎥
⎥ ⎢ # ⎥ ⎢ # ⎥
⎢ ⎥=⎢ ⎥ + ⎢ (1) ⎥ = ⎢ (5)
⎢Vka(1) ⎥ ⎢V f (1) (1) ⎥
⎥ ⎢ ∆Vka ⎥ ⎢V f − Z kk I fa ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ # ⎥ ⎢
⎢ # ⎥ ⎢# ⎥
⎥ ⎢ ⎥

#

⎢  (1) ⎥ ⎢V f ⎥⎦ ⎢ ∆V ⎥⎥ ⎢V
⎢ (1)
⎢⎣VNa ⎥⎦ ⎣ ⎣ Na ⎦ ⎣ f I fa ⎥⎦
(1) (1)
− Z Nk

⎤ ⎡ − Z1k I fa ⎤ ⎡V1(0) ⎤ ⎡ − Z1k I fa ⎤


(2) (2) (0) (0)
⎡V1(2)
⎢ (2) ⎥ ⎢ (2) (2) ⎥ ⎢ (0) ⎥ ⎢ (0) (0) ⎥
a a

⎢V2 a ⎥ ⎢ − Z 2 k I fa ⎥ ⎢V2 a ⎥ ⎢ − Z 2 k I fa ⎥
⎢ # ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢ ⎥=⎢
# ⎥ ⎢ # ⎥ ⎢ # ⎥
⎢ ⎥ ; =⎢ (6)
⎢Vka ⎥ − Z kk (0) (0) ⎥
(2)
⎢ I fa ⎥ ⎢Vka ⎥ ⎢ − Z kk
(2) (2) (0)
I fa ⎥
⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢ # ⎥ ⎢ # ⎥ ⎢ # ⎥ ⎢ # ⎥
⎢  (2) ⎥ ⎢ ⎥ ⎢ (0) ⎥ ⎢ ⎥
⎢⎣VNa ⎥⎦ ⎢ − Z Nk
(2) (2)
I ⎥ ⎢⎣VNa ⎥⎦ ⎢ − Z Nk
(0 ) (0)
I ⎥
⎣ fa ⎦ ⎣ fa ⎦

Para uma barra j genérica tem-se (7).

Vja(0) = − Z (0) (0)


jk I fa

Vja(1) = V f − Z (1jk) I (1fa) (7)


Vja(2) = − Z (2) ( 2)
jk I fa

Para a barra k onde ocorreu o curto-circuito, tem-se (8).

Vka(0) = − Z kk
(0) (0)
I fa
Vka(1) = V f − Z kk
(1) (1)
I fa (8)
Vka(2) = − Z kk
(2) ( 2)
I fa

As expressões (8) acima permitem calcular as correntes de seqüência na falta e são


também as expressões dos circuitos equivalentes de Thévenin dados na Figura 2.

As faltas que serão estudadas nas seções a seguir podem envolver uma impedância Z f
entre linhas ou de uma ou duas linhas pra terra. Quando Z f = 0 temos um curto franco pra
terra. Apesar de estes curtos-circuitos apresentarem as maiores correntes para a terra, as
faltas com Z f = 0 são raras. A maioria das faltas está relacionada com disrupções em
isoladores, quando a impedância entre a linha e a terra depende da resistência do arco, da

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo V - Faltas Assimétricas 5

torre em si, e do aterramento da torre. As resistências de aterramento das torres compõem a


maior parte da resistência enfrentada pela corrente de curto, e dependem das condições do
solo. A título de comparação, a resistência de solos secos pode ser da ordem de 10 a 100
vezes a resistência de solos argilosos. Um sistema equilibrado permanece equilibrado após
a ocorrência de um curto trifásico com a mesma impedância para terra entre as fases,
conforme mostrado na Figura 3a. Neste caso fluem apenas correntes de seqüência positiva
no circuito, devido ao equilíbrio. Assim, a corrente de curto circuito na barra k pode ser
calculada pela equação (9).

V f
I (fa1) = (1)
(9)
Z kk +Zf

Para os demais casos mostrados na Figura 3 é necessário deduzir equações formais


para as componentes simétricas de correntes, o que será feito nas seções a seguir.

a a
I fa Zf I fa
Zf
b b
I fb Zf I fb

c c
I fc Zf I fc

a) Falta trifásica b) Falta fase-terra

a a
I fa I fa

b b
I fb I fb
Zf
Zf
c c
I fc I fc

c) Falta fase-fase d) Falta fase-fase-terra

Figura 3. Diagrama de representação de vários tipos de faltas em sistemas de energia.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo V - Faltas Assimétricas 6

Exercício 1

Duas máquinas síncronas estão conectadas através de transformadores a uma linha de


transmissão. Os valores nominais das máquinas e transformadores estão mostrados a seguir.

Máquinas 1 e 2 : 100 MVA, 20 KV X d'' = X 1 = X 2 = 20% X 0 = 4%; X n = 5% ;


Transformadores1 e 2: 100 MVA, 20∆/345 Y KV; X = 8% ;

Em uma base de 100MVA, 345 KV na linha de transmissão as reatâncias da linha são


X 1 = X 2 = 15% e X 0 = 50% . Desenhe cada uma das redes de seqüência e encontre as
( 0)
matrizes de impedância de barra de seqüência zero Z bus .

5.2 FALTAS FASE -TERRA

A falta fase-terra é o tipo mais comum de falta. Em geral tais tipos de falta são causadas
por descargas atmosféricas ou pelo contato entre condutores com estruturas aterradas. A
representação diagramática de uma falta fase-terra é mostrada na Figura 4, sendo que a falta
ocorre na fase a.

k
a
I fa
Zf
k
b
I fb
k
c
I fc

Figura 4. Representação de uma falta fase-terra ocorrendo na fase a.

As condições no ponto k de falta são dadas pelas equações (10) a seguir.

I fb = 0; I fc = 0; Vka = Z f I fa (10)

As componentes simétricas I (fa0) , I (fa1) , I (fa2) das correntes I fa , I fb , I fc são dadas por (11)

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Capítulo V - Faltas Assimétricas 7

⎡ I (fa0) ⎤ ⎡1 1 1 ⎤ ⎡ I fa ⎤
⎢  (1) ⎥ 1 ⎢ ⎢ ⎥
⎢ I fa ⎥ = ⎢1 a a 2 ⎥⎥ * ⎢ 0 ⎥ (11)
⎢ I ( 2) ⎥ 3 ⎢1 a 2 a ⎥⎦ ⎢⎣ 0 ⎥⎦
⎣ fa ⎦ ⎣
Fazendo-se as multiplicações em (11) tem-se:

I fa
I (fa0) = I (fa
1)
= I (fa2) = (12)
3

Somando-se as equações descritas em (8) e lembrando-se de (12), tem-se:

( 0)
Vka (1)
+ Vka ( 2)
+ Vka ( 0)
= V f − Z kk ( (1)
+ Z kk ( 2 ) ( 0)
+ Z kk I fa ) (13)

De (12) tem-se ainda que I fa = 3I (fa0) . Das componentes simétricas tem-se que
( 0)
Vka = Vka (1)
+ Vka ( 2)
+ Vka e de (10) tem-se que Vka = 3Z f I (fa0) . Logo, voltando-se a (13),
tem-se:

( 0)
Vka = Vka (1)
+ Vka ( 2)
+ Vka = V f − Z kk (
( 0) (1)
+ Z kk ( 2) ( 0 )
+ Z kk )
I fa = 3Z f I (fa0) (14)

De (14) temos finalmente que:

V f
I (fa0) = I (fa
1)
= I (fa2) =
(Z (0) (1) ( 2)
kk + Z kk + Z kk + 3Z f ) (15)

A equação acima define as correntes simétricas quando da ocorrência de um curto


circuito fase-terra na fase a, através de uma impedância Z f . A equação (15) tem a
representação de circuito conforme mostrado na Figura 5 a seguir.

Exercício 2

Duas máquinas síncronas são conectadas através de transformadores trifásicos a uma linha
de transmissão. Os valores nominais e reatâncias das máquinas são:

Máquinas 1 e 2: 100 MVA, 20 KV, X d' ' = X 1 = X 2 = 20% , X 0 = 4% e X n = 5% ;


Transformadores 1 e 2: 100 MVA, 20Y/345Y KV; X = 8% .

Ambos os transformadores são solidamente aterrados em ambos os lados. Na base de 100


MVA e 345 KV na linha de transmissão, as reatâncias da linha são de X 1 = X 2 = 15% e

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo V - Faltas Assimétricas 8

X 0 = 50% . O sistema está operando a uma tensão nominal sem correntes pré-faltas quando
ocorre uma falta fase-terra na fase a na barra 3, com Z f = 0 . Utilizando a matriz
impedância para cada uma das redes de seqüência determine a corrente subtransitória pra
terra no ponto de falta, as tensões terminais fase-terra nos terminais da máquina 2 e a
corrente na fase c da máquina 2.

I(1)
fa k
+
(1)
Z kk
+ Vka(1)
V f
_ _
I(0 ) (1) (2)
fa = I fa = I fa
I(2)
fa k

(2)
+
Z kk
Vka(2)
_ 3Z f

I(0)
fa k

(0)
+
Z kk
Vka(0)
_

Figura 5. Conexão entre as redes de seqüência equivalentes de modo a simular uma falta
fase-terra na fase a na barra k do sistema.

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo V - Faltas Assimétricas 9

5.3 FALTAS FASE-FASE

Pode-se representar uma falta fase-fase com uma impedância Z f entre as fases b e c
conforme mostrado na Figura 6. De onde se tem as seguintes relações:

I fa = 0; I fb = − I fc ; Vkb − Vkc = Z f I fb (16)

a
I fa

b
I fb
Zf
c
I fc

Figura 6. Conexão entre “cabos” hipotéticos de modo a representar uma falta entre as
fases b e c na barra k.

Como I fa = 0 e I fb = − I fc tem-se que as componentes simétricas das correntes são:

⎡ I(0)
fa
⎤ ⎡1 1 1⎤ ⎡ 0 ⎤
⎢ ⎥ 1⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎢ I(1)
fa
⎥ = ⎢1 a a 2 ⎥ * ⎢ I fb ⎥ (17)
⎢ ⎥ 3⎢
⎢⎣ I(2)
fa ⎥ ⎣1 a
2
a ⎥⎦ ⎢⎣ − I fb ⎥⎦

Fazendo-se as multiplicações tem-se que:

I (fa0) = 0
(18)
I (fa
1)
= − I (fa2)

As tensões de seqüência zero devem ser nulas, já que não há fontes de seqüência zero e
que as correntes de seqüência zero são também nulas (18). Portanto, as faltas fase-fase não
envolvem as redes de seqüência zero, as quais permanecem as mesmas antes e após a falta.

A fim de satisfazer a equação I (fa


1)
= − I (fa2) os circuitos de seqüência negativa e positiva
serão conectados em paralelo conforme mostrado na Figura 7. Para mostrar que esta

Notas de Aula – Sistemas Elétricos de Potência I ®LN(ceno)


Capítulo V - Faltas Assimétricas 10

conexão também satisfaz a equação de tensão dada em (16), expande-se cada lado da
equação (16) em separado, conforme se segue.

I (fa
1)
Zf I(2)
fa
k k

(1)
+ +
Z kk
+ Vka(1) Vka(2) (2)
Z kk
V f
_
_ _

referência
Figura 7. Conexão dos circuitos equivalentes Thévenin para a falta fase-fase da Figura 6.

Do lado esquerdo da equação (16) tem-se:

Vkb − Vkc = Vkb


(1)
(( 2)
+ Vkb − Vkc(1)
)(( 2)
+ Vkc )
( )( )
(19)
Vkb − Vkc = Vkb
(1) (1)
− Vkc ( 2)
+ Vkb ( 2)
− Vkc

Utilizando as componentes simétricas:

Vkb − Vkc = (a 2 − a )Vka


(1) ( 2)
+ a − a 2 Vka ( ) (20)

Re-arranjando os termos:

Vkb − Vkc = (a 2 − a ) Vka


(1)
(
( 2)
− Vka ) (21)

Do lado direito da equação (16) tem-se:

(
I fb Z f = I (fb
1)  ( 2)
)
+ I fb Z f = a 2 I (fa
1)
(
+ aI (fa2) Z f ) (22)

Fazendo I (fa
1)
= − I (fa2) , conforme mostrado na Figura (7), tem-se:

(
I fb Z f = a 2 − a I (fa)
1)
Zf (23)

Igualando (23) e (21), tem-se:

(1)
(a 2 − a ) Vka ( ( 2)
− Vka ) (
= a 2 − a I (fa
1)
Zf ) (24)

Ou finalmente:
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Capítulo V - Faltas Assimétricas 11

(1)
Vka ( 2)
− Vka = I (fa
1)
Zf (25)

A equação acima é exatamente o valor da queda de tensão sobre a impedância Z f na


Figura (7). Portanto todas as condições de falta da equação (16) são satisfeitas pelo circuito
mostrado na Figura (7). As equações para as correntes de seqüência positiva e negativa são
dadas a partir da Figura (7) e correspondem a (26).

V f
I (fa = − I (fa2) =
(Z )
1)
(26)
(1) ( 2)
kk + Z kk + Z f

Exercício 3

O mesmo sistema dado no exercício 1 está operando em tensão nominal sem correntes pré-
faltas, quando uma falta franca ( Z f =0) ocorre entre duas fases na barra 3. Utilizando-se as
matrizes de impedância das redes de seqüência para condições subtransitórias, determine as
correntes na falta, as tensões fase-fase no barramento de falta e as tensões fase-fase nos
terminais da máquina 2.

5.4 FALTAS FASE-FASE-TERRA

Pode-se representar uma falta fase-fase-terra através de uma impedância Z f entre as


fases b e c conforme mostrado na Figura 8. De onde se tem as seguintes relações:

I fa = 0; ( )
Vkb = Vkc = I fb + I fc Z f (27)

a
I fa

b
I fb
Zf
I fb + I fc
c
I fc

Figura 8. Conexão entre “cabos” hipotéticos de modo a representar uma falta entre as
fases b e c e a terra que ocorre em uma barra k.

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Capítulo V - Faltas Assimétricas 12

(
Como I fa = 0 , a corrente de seqüência zero é dada por I (fa0) = I fb + I fc 3 as tensões )
dadas em (27) ficam da forma:

Vkb = Vkc = 3Z f I (fa0) (28)

Utilizando a relação (28) nas componentes simétricas das tensões tem-se:

⎡V (0) ⎤ 1 ⎤ ⎡Vka ⎤


⎢ ka ⎥ 1 ⎡1 1 ⎢ ⎥
⎢Vka(1) ⎥
= ⎢⎢1 a a 2 ⎥⎥ * ⎢Vkb ⎥ (29)
⎢ ( 2) ⎥ 3
⎢⎣Vka ⎥⎦ ⎢⎣1 a 2 a ⎥⎦ ⎢⎣Vkb ⎥⎦

A segunda e terceira linhas de (29) mostram que:

Vka
(1)
= Vka
( 2)
(30)

A primeira linha de (29) e a equação (28) mostram que:

3Vka
( 0)
= Vka + 2Vkb = Vka (
(0)
+ Vka
(1)
+ Vka
( 2)
) (
+ 2 3Z f I (fa0) ) (31)

Tomando-se os termos de seqüência zero em um lado de (31), fazendo Vka


(1)
= Vka
( 2)
e
resolvendo para V (1) , tem-se:
ka

Vka
(1)
= Vka
(0)
− 3Z f I (fa0) (32)

De (30) e (32) e novamente lembrando que I fa = 0 , chega-se ao resultado:

Vka
(1)
= Vka
( 2)
= Vka
(0)
− 3Z f I (fa0)
(33)
I (fa0) + I (fa
1)
+ I (fa2) = 0

As equações acima caracterizam uma falta fase-fase-terra e podem ser representadas


através do circuito dado na Figura 9, na qual as redes de seqüência estão conectadas em
paralelo. O diagrama de conexões da rede nos mostra que a corrente de seqüência positiva
I é determinada pela aplicação de uma tensão V através da impedância total Z (1) em
(1)
fa f kk
( 2) ( 0)
série com o paralelo de Z kk e Z kk + 3Z f . Assim teremos a expressão dada em (34).

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Capítulo V - Faltas Assimétricas 13

V f
I (fa
1)
( ) ⎤⎥
= (34)
⎡ ( 2) ( 0)
(1) ⎢ Z kk Z kk + 3Z f
Z kk +
⎢ Z (2) + Z (0) + 3Z ⎥
⎣ kk kk f ⎦

I(1) I(2)
fa
I(0)
fa
fa k
k k

+ + (0)
+
(1) (2) Z kk
Z kk Z kk
Vka(1) Vka(2) Vka(0)
+
V f
_ _
_ _

3Z f

Figura 9. Conexão dos equivalentes Thévenin das redes de seqüência para uma falta
fase-fase-terra nas fases b e c na barra k do sistema.

As demais correntes de seqüência são dadas pelo divisor de corrente, conforme


equações (35) e (36).

⎡ ( 0)
Z kk + 3Z f ⎤
I ( 2) = − I (1) ⎢ ⎥ (35)
fa fa ⎢ ( 2) ( 0) ⎥
⎣ Z kk + Z kk + 3Z f ⎦

⎡ ( 2)
Z kk ⎤
I (0) = − I (1) ⎢ ⎥ (36)
fa fa ⎢ ( 2) ( 0) ⎥
⎣ Z kk + Z kk + 3Z f ⎦

Para um curto franco para a terra, teremos Z f = 0 nas equações acima. Para Z f = ∞ as
correntes de seqüência zero se tornam um circuito aberto e neste caso as equações se
igualam àquelas desenvolvidas na seção passada.
Novamente, se observa que as correntes de seqüência I (1) , I ( 2) , I (0) quando calculadas
fa fa fa
podem ser tratadas como se fossem injeções de correntes negativas entrando nas redes de
seqüência na barra de falta k e as alterações nas tensões nas demais barras podem ser
calculadas através das matrizes admitância de barra.

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Capítulo V - Faltas Assimétricas 14

Exercício 4

Encontre as correntes subtransitórias e as tensões fase-fase no ponto de falta sob condições


subtransitórias quando uma falta fase-fase-terra com Z f = 0 ocorre nos terminais da
máquina 2 no sistema do Exercício 1. Assuma que o sistema está descarregado e opera em
condições nominais no instante em que a falta ocorre. Utilize a matriz impedância de barra
e despreze as resistências.

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