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Gestão Educacional

Gestão Financeira

Murilo Carneiro
UNIDADE 1 - CONCEITOS INTRODUTÓRIOS SOBRE GESTÃO
FINANCEIRA ....................................................................................................8
1.1 As organizações e seus recursos ............................................... 10
1.2 Departamento financeiro e administração financeira .............. 11
1.3 Rentabilidade versus liquidez ...................................................... 13
1.4 Funções do departamento financeiro ......................................... 15
1.5 Estrutura organizacional do departamento financeiro ............. 16
1.6 Papel do administrador financeiro .............................................. 20
1.7 Reflexão .......................................................................................... 24
1.8 Leitura recomendada .................................................................... 24
1.9 Referências .................................................................................... 25
UNIDADE 2 - MERCADO FINANCEIRO .........................................................26
2.1 Conceito e características ............................................................ 28
2.2 Subdivisões do mercado financeiro............................................ 29
2.2.1 Mercado monetário .................................................................... 30
2.2.2 Mercado de crédito ..................................................................... 32
2.2.3 Mercado de capitais ................................................................... 32
2.2.4 Mercado cambial ........................................................................ 33
2.3 Sistema financeiro nacional ......................................................... 34
2.4 Subsistema Normativo .................................................................. 35
2.5 Subsistema de Apoio .................................................................... 36
2.6 Subsistema de Intermediação ..................................................... 37
2.6.1 Instituições Financeiras Bancárias .......................................... 37
2.6.2 Instituições Financeiras não Bancárias .................................. 38
2.6.3 Instituições Auxiliares ................................................................ 39
2.6.4 Instituições não Financeiras ..................................................... 39
2.7 Reflexão .......................................................................................... 41
2.8 Leitura recomendada .................................................................... 42
2.9 Referências .................................................................................... 42
UNIDADE 3 - GESTÃO DO CAPITAL DE GIRO E DAS
DISPONIBILIDADES .....................................................................................44
3.1 Relação entre capital de giro e balanço patrimonial ................ 46
3.2 Conceito de capital de giro .......................................................... 48
3.3 Capital de giro líquido (CGL) ....................................................... 49
3.4 Manutenção de saldo de caixa.................................................... 51
3.5 Gestão de contas bancárias ........................................................ 54
3.5.1 Concentração bancária.............................................................. 56
3.5.2 Linhas de crédito ........................................................................ 56
3.5.3 Float .............................................................................................. 57
3.6 Gestão das aplicações financeiras de curto prazo .................. 58
3.7 Reflexão .......................................................................................... 61
3.8 Leitura recomendada .................................................................... 62
3.9 Referências .................................................................................... 62
UNIDADE 4 - FONTES DE FINANCIAMENTO PARA PESSOAS
JURÍDICAS .....................................................................................................63
4.1 Finalidades da captação de recursos financeiros .................... 65
4.2 Tipos de fontes de financiamento ............................................... 65
4.2.1 Fontes de Financiamento Próprio ............................................ 66
4.2.2 Fontes de Financiamento de Terceiros .................................. 66
4.3 Fontes de curto prazo via mercado de crédito ......................... 68
4.4 Fontes de longo prazo via mercado de crédito ........................ 70
4.4.1 FUNDEF / FUNDEB ................................................................... 71
4.5 Recursos financeiros via mercado de capitais ......................... 73
4.6 Valores Mobiliários negociados no mercado de capitais ........ 74
4.7 Reflexão .......................................................................................... 77
4.8 Leitura recomendada .................................................................... 77
4.9 Referências .................................................................................... 78
UNIDADE 5 - GESTÃO DOS VALORES A RECEBER .................................79
5.1 Política de crédito .......................................................................... 81
5.2 Elementos de uma política de crédito ........................................ 82
5.3 Análise de crédito .......................................................................... 85
5.4 Pontuação de crédito (Credit Score) .......................................... 88
5.5 Classificação de créditos (Rating) .............................................. 90
5.6 Política de cobrança...................................................................... 91
5.7 Reflexão .......................................................................................... 95
5.8 Leitura recomendada .................................................................... 96
5.9 Referências .................................................................................... 96
UNIDADE 6 - ORÇAMENTO EMPRESARIAL ................................................98
6.1 Conceito e características ............................................................ 99
6.2 Instrumento de planejamento .................................................... 100
6.3 Instrumento de controle .............................................................. 102
6.4 Princípios para a implantação ................................................... 105
6.5 Vantagens e limitações .............................................................. 106
6.6 Método de elaboração ................................................................ 109
6.7 Reflexão ........................................................................................ 112
6.8 Leitura recomendada .................................................................. 113
6.9 Referências .................................................................................. 113
UNIDADE 7 - ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS .............115
7.1 Conceito ........................................................................................ 116
7.2 Objetivos da análise .................................................................... 117
7.3 Fontes de dados para análise ................................................... 118
7.4 Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do
Exercício ....................................................................................... 119
7.5 Metodologia de análise ............................................................... 123
7.6 Usuários da análise ..................................................................... 127
7.7 Reflexão ........................................................................................ 128
7.8 Leitura recomendada .................................................................. 129
7.9 Referências .................................................................................. 129
UNIDADE 8 - CÁLCULO DO PONTO DE EQUILÍBRIO..............................130
8.1 Conceito e tipos de pontos de equilíbrio .................................. 131
8.2 Fórmulas para se calcular os pontos de equilíbrio ................ 132
8.3 Cálculos dos pontos de equilíbrio contábil e econômico ...... 134
8.3.1 Cálculo do Ponto de Equilíbrio Contábil ............................... 136
8.3.2 Cálculo do Ponto de Equilíbrio Econômico .......................... 136
8.4 Ponto de equilíbrio de organizações com vários produtos ... 137
8.5 Cálculo do ponto de equilíbrio de organizações com vários
produtos ........................................................................................ 139
8.6 Vantagens e limitações à utilização do ponto de equilíbrio .. 141
8.7 Reflexão ........................................................................................ 145
8.8 Leitura recomendada .................................................................. 145
8.9 Referências .................................................................................. 146
Os conceitos básicos
de finanças são muito úteis aos
gestores de Entidades Educacionais.
Mesmo que não pretendam ser especialistas
no assunto, é importante que possuam alguns
conhecimentos nesta importante área da gestão
organizacional. O foco da disciplina Gestão
Financeira é apresentar conceitos e técnicas financeiras
para que possam gerir de forma mais satisfatória as
Entidades Educacionais das quais fazem parte.
A gestão dos recursos financeiros não é necessária apenas
às empresas industriais e comerciais. Todos os segmentos
empresariais, incluindo o setor de ensino, não podem mais deixar de
utilizar instrumentos gerenciais capazes de garantir uma boa
performance econômica e financeira, pois só assim, estará sendo
assegurada a possibilidade de sucesso e, até mesmo, a sobrevivência e a
continuidade da instituição.
A Gestão Financeira procura estabelecer um conjunto de conceitos
que ajudam a organizar o pensamento das pessoas sobre como alocar
recursos ao longo do tempo. Apresenta também um conjunto de
modelos quantitativos para ajudar as pessoas a avaliarem alternativas,
tomarem decisões e implementá-las na gestão dos empreendimentos.
O objetivo principal na aplicação da disciplina Gestão
Financeira no curso de Gestão Educacional é adequar, na medida
do possível, os conceitos básicos de Finanças para o setor de
educação, com a finalidade de criar condições específicas
ao gestor para as tomadas de decisões. Não fique
apreensivo em começar a estudar esta disciplina, pois
os conceitos matemáticos que utilizaremos são
muito fáceis de compreender.
Para abordarmos a Gestão Financeira de forma didática, dividimos
o assunto em oito unidades. A primeira unidade tratará de conceitos
introdutórios sobre a administração financeira, área da ciência da
Administração que estuda os recursos financeiros. Dentre os conceitos
que serão apresentados, podemos destacar as funções e a estrutura
organizacional do departamento financeiro. Além disso, também
trataremos do papel do administrador financeiro e da questão da agência.
A segunda unidade apresentará os conceitos, características e
subdivisões do mercado financeiro. Também abordaremos os papéis
exercidos pelas principais instituições que compõem o sistema financeiro
nacional.
Na terceira unidade, você aprenderá que dinheiro parado no caixa
representa perda de rentabilidade; portanto, as organizações devem
exercer controle sobre este item, levando em conta uma série de fatores.
Além disso, trataremos da importância de se efetuar negociações bem
elaboradas com as instituições financeiras, como forma de aperfeiçoar a
gestão das disponibilidades.
A quarta unidade foi destinada à apresentação das linhas de crédito
disponíveis às Entidades Educacionais, tanto da rede pública quanto da
rede privada. A estruturação e a importância das políticas de crédito e de
cobrança serão apresentadas na unidade cinco, enquanto na unidade seis,
mostraremos e explicaremos a importância de se elaborar um Orçamento
Empresarial.
Na sétima unidade, trataremos de aspectos e conceitos relacionados
à análise das demonstrações financeiras. Na última unidade da apostila,
para finalizarmos o estudo da Gestão Financeira, apresentaremos o
cálculo do ponto de equilíbrio como uma ferramenta que as organizações
podem utilizar para elaborar seu planejamento e controle financeiro.
CONCEITOS
INTRODUTÓRIOS
SOBRE GESTÃO
FINANCEIRA

Na Unidade 1, relembraremos o conceito de


organizações, assim como quais são os recursos
necessários para que possam atingir seus objetivos.
Posteriormente, detalharemos a importância dos recursos
financeiros. Além disso, apresentaremos o conceito de
administração financeira e explicaremos as funções exercidas pelo
departamento financeiro. Na sequência, conheceremos a estrutura
organizacional do departamento financeiro e o papel do administrador
financeiro.

Objetivos da sua aprendizagem

Conhecer a importância de utilizar os recursos financeiros de


forma eficiente para que as organizações sejam eficazes. Saber o que é
administração financeira e conhecer as funções que devem ser
executadas pelo departamento financeiro. Visualizar a estrutura
organizacional do departamento financeiro de uma organização de
grande porte e conhecer o papel do administrador financeiro em
uma organização.
Educação Gestão Educacional – Unidade 1

Você se lembra?

Você se lembra de ter ouvido falar em gestão financeira? Será que


sabe exatamente quais devem ser as funções do departamento financeiro?
Já viu o organograma do departamento financeiro de uma empresa de
grande porte? Conhece os papéis do administrador financeiro? Nesta
unidade, você terá oportunidade de aprender estes e vários outros temas
relacionados ao estudo da Gestão Financeira. Bons estudos!

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

1.1 As organizações e seus recursos

Antes de se começar o estudo da gestão financeira, é importante


que se resgatem dois conceitos básicos: o que é uma organização e o que
são os recursos empresariais.
Organização: é uma combinação de esforços individuais que têm
por finalidade realizar propósitos coletivos.
As empresas, que são um tipo de organização, utilizam diversos
tipos de recursos para atingir seu propósito, que é o lucro. De acordo com
Chiavenato (1994), existem cinco tipos diferentes de recursos
empresariais:
a) Recursos Materiais: são também denominados recursos físicos.
Correspondem aos prédios, edifícios, máquinas, equipamentos,
instalações, matérias-primas etc., enfim, todos os meios materiais ou
físicos de produção;
b) Recursos Financeiros: são os meios financeiros que permitem
financiar as operações de uma organização, como o próprio capital
investido, o fluxo de caixa e os recebíveis (cheques pré-datados e
duplicatas);
c) Recursos Humanos: são os indivíduos que trabalham na
organização, como os diretores, os gerentes, os supervisores e os
funcionários. São os únicos recursos vivos e inteligentes da
organização e, portanto, aqueles que operam e dinamizam os demais
recursos empresariais;
d) Recursos Mercadológicos: são os meios pelos quais a organização
entra em contato com o seu ambiente externo, principalmente com a
parcela do ambiente que constitui o seu mercado. São as vendas, a
promoção, a propaganda, a distribuição dos produtos etc. Quando a

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

organização coloca seus produtos no mercado por meio de


intermediários – como atacadistas ou varejistas – estes também
podem ser catalogados como recursos mercadológicos;
e) Recursos Administrativos: constituem o esquema administrativo da
empresa, como a direção, a gerência e a supervisão. Sua finalidade é
integrar e coordenar todos os demais recursos empresariais.

1.2 Departamento financeiro e administração financeira

Para utilizar e administrar os cinco recursos empresariais da melhor


maneira possível, as organizações agrupam indivíduos com
conhecimentos técnicos específicos em cada área. Este processo é
conhecido por departamentalização e tem como resultado final a
definição de um organograma.

FIGURA 1. ORGANOGRAMA ORGANIZACIONAL

Departamento
Administrativo

Departamento Departamento Departamento Departamento


Financeiro de RH de Produção Comercial

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

Em cada um dos cinco principais departamentos de uma


organização, são exercidas funções específicas, apresentadas na
sequência:
a) Departamento Administrativo: são realizadas funções relacionadas
à integração e sincronização de todos os recursos empresariais, isto é,
com a administração de cúpula de todas as demais funções essenciais
da organização;
b) Departamento Financeiro: são realizadas funções relacionadas à
obtenção, utilização e aplicação dos recursos financeiros da
organização;
c) Departamento de Recursos Humanos: são realizadas funções
relacionadas à gestão dos recursos humanos da organização, isto é,
com as pessoas, desde o diretor executivo até o faxineiro;
d) Departamento de Produção: são realizadas funções relacionadas à
gestão dos recursos materiais, isto é, relacionadas à produção de bens
ou à prestação de serviços oferecidos pela organização;
e) Departamento Comercial: são realizadas funções relacionadas à
gestão dos recursos mercadológicos da organização, isto é,
relacionadas com a venda ou a comercialização dos produtos ou
serviços oferecidos pela organização. São as funções de
relacionamento da organização com seu mercado.
Com o objetivo de se estudar e desenvolver técnicas e
procedimentos para aumentar a eficiência na utilização dos recursos
empresariais, a ciência da Administração possui cinco principais áreas de
estudo.

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

QUADRO 1. ÁREAS DE ESTUDO DA ADMINISTRAÇÃO


Recursos Empresariais Áreas de Estudo da Administração
Administrativos Administração Geral
Financeiros Administração Financeira
Humanos Administração de Recursos Humanos
Materiais Administração da Produção
Mercadológicos Administração de Marketing

De forma simplificada, pode-se definir administração financeira


como a área de estudo da Administração que se preocupa em estudar e
desenvolver técnicas e procedimentos para aumentar a eficiência na
utilização dos recursos financeiros.

1.3 Rentabilidade versus liquidez

O departamento financeiro pode ser definido como a área


responsável pela gestão dos recursos financeiros de uma organização,
proporcionando condições que garantam sua rentabilidade e liquidez.
Garantir a rentabilidade significa fazer com que a organização
proporcione a maximização dos retornos dos investimentos feitos pelos
proprietários, ou seja, fazer com que seja gerado o lucro máximo
possível. Por outro lado, garantir a liquidez significa garantir que a
organização tenha dinheiro em caixa para arcar com suas despesas.
Alguns autores afirmam que a maximização da rentabilidade e da
liquidez ao mesmo tempo não é possível, por isso, um dos maiores
desafios do departamento financeiro é mantê-las em um nível
satisfatório. Para que você possa entender melhor tal desafio, acompanhe
o exemplo simplificado apresentado na sequência.

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

Imagine que o Sr. Tom Theira possuísse R$ 5.000,00 para investir


no segmento de máquinas de calcular, que seriam adquiridas por R$
100,00 e vendidas por R$ 200,00 a unidade. Em tal segmento, os
produtos demoram em torno de 30 dias para “girarem”, ou seja, ficam
mantidos estocados por 30 dias.
Caso o Sr. Tom Theira investisse todo seu dinheiro na compra de
máquinas de calcular, conseguiria adquirir 50 unidades. Durante um mês,
ao vendê-las, apuraria um lucro bruto de R$
5.000,00 (desconsiderando-se as despesas fixas
que terá para manter o negócio). Faturamento = R$ 10.000,00 (50
unidades vendidas por R$ 200,00)
Repare que, ao utilizar todo o dinheiro Despesa Variável = R$ 5.000,00
(50 unidades adquiridas por R$
de que dispunha para obter a rentabilidade 100,00)
Lucro Bruto = R$ 5.000,00
máxima possível, o Sr. Tom Theira ficou (faturamento – despesa variável)

sem dinheiro no caixa, ou seja, sem liquidez.


Ao ficar sem liquidez, não terá dinheiro para
arcar com as despesas fixas do negócio. Por outro
lado, caso deixasse dinheiro em caixa para pagar as despesas fixas, não
poderia investir os R$ 5.000,00 na compra das máquinas de calcular,
fazendo com que sua rentabilidade fosse menor.
Ao analisar este exemplo simplificado, conclui-se
que realmente a maximização da rentabilidade e da liquidez
ao mesmo tempo não é possível; portanto, um dos maiores desafios do
departamento financeiro é mantê-las em um nível satisfatório, sempre
buscando priorizar a rentabilidade, que é o grande propósito com o qual
uma empresa é criada.

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

1.4 Funções do departamento financeiro

De acordo com Assaf Neto (2003), o departamento financeiro de


uma organização possui quatro funções principais;
a) Planejamento Financeiro: procura evidenciar as necessidades de
expansão da organização, assim como identificar eventuais desajustes
futuros. Por meio do planejamento, ainda, é possível ao administrador
financeiro selecionar, com maior margem de segurança, os ativos
mais rentáveis e condizentes com os negócios da organização, de
forma a estabelecer a mais satisfatória rentabilidade sobre os
investimentos;
b) Controle Financeiro: dedica-se a acompanhar e a avaliar todo o
desempenho financeiro da organização. Analisa desvios que venham
a ocorrer entre os resultados previstos e realizados, assim como
propostas de medidas corretivas necessárias, estas são algumas
funções básicas da controladoria financeira;
c) Administração de Ativos: deve perseguir a melhor estrutura, em
termos de risco e retorno, dos investimentos empresariais, e proceder
a um gerenciamento eficiente de seus valores. A administração dos
ativos acompanha também as defasagens que podem ocorrer entre
entradas e saídas de dinheiro do caixa, o que é geralmente associado à
gestão do capital de giro;
d) Administração de Passivos: obtenção de recursos financeiros e o
gerenciamento de sua composição, procurando definir a estrutura
mais adequada em termos de liquidez, redução de custos e risco
financeiro.
Depois de se apresentar as principais funções do departamento
financeiro, também é importante destacar que sua importância dentro das

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

organizações tem aumentado muito nas últimas décadas. Weston e


Brigham (2000) afirmam que antes o gerente de marketing projetava as
vendas, a equipe de engenharia e produção determinava os ativos
necessários para atender a essas demandas e o departamento financeiro
simplesmente levantava o capital para adquirir a fábrica, os
equipamentos e os estoques requeridos. Tais autores comentam que essa
situação não existe mais, já que as decisões são atualmente tomadas de
uma forma bem mais coordenada, e o departamento financeiro, em geral,
tem responsabilidade direta pelo processo de controle.

1.5 Estrutura organizacional do departamento financeiro

O número de áreas e de pessoas que compõem o departamento


financeiro depende do tamanho da organização. Megliorini e Da Silva
(2009) comentam que, em empresas de pequeno porte, a estrutura
organizacional, muitas vezes, não comporta um departamento financeiro,
e o próprio proprietário desempenha a atividade de administrador
financeiro. Tais autores ressaltam que, à medida que a organização
cresce, passa a ser necessária a definição de uma estrutura
organizacional. Para organizações de grande porte, sugere-se a seguinte
estrutura para o departamento financeiro:

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

FIGURA 2. ORGANOGRAMA DO DEPARTAMENTO FINANCEIRO.

Departamento
Financeiro

Controladoria Tesouraria

Contabilidade Geral Relações Bancárias

Orçamento Contas a Pagar

Auditoria Caixa

Contabilidade de Custos Contas a Receber

Na prática, o departamento financeiro de uma organização de


grande porte é composto por duas áreas: controladoria e tesouraria. Na
sequência, são apresentadas, de forma resumida, as funções de tais áreas,
assim como dos órgãos que as compõem.
Controladoria: é a área que assessora a Tesouraria, fornecendo
controles e informações para seu funcionamento.
a) Contabilidade Geral: tem como função registrar os fatos já
ocorridos para orientar as decisões financeiras que são projetadas
para o futuro;

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

b) Orçamento: coordena a montagem dos orçamentos de gastos e


receitas da organização. Por intermédio de relatórios, deve
acompanhar, ao longo do exercício, se eles estão sendo realizados
devidamente;
c) Auditoria: é um órgão de controle e de verificação dos
procedimentos contábeis executados não só pela Contabilidade, mas
por todos os órgãos da organização envolvidos nesses procedimentos;
d) Contabilidade de Custos: analisa todos os gastos, classificando-os
como custos e despesas (fixos e variáveis) e alocando-os pelos
diversos departamentos da organização.
Tesouraria: é a área onde os recursos financeiros ingressam, são
utilizados por meio do pagamento das contas e aplicados em
investimentos internos ou externos.
a) Relações Bancárias: mantêm relacionamento com Bancos e outras
Instituições Financeiras;
b) Contas a Pagar: incumbido do planejamento e execução de todas as
contas a serem pagas, a curto, médio e longos prazos;
c) Caixa: incumbido da operacionalização dos valores a receber e a
pagar;
d) Contas a Receber: incumbido do controle das contas a receber.
Também é responsável pela análise dos clientes que efetuarão
compras a prazo (área de análise de crédito) e pelos recebimentos de
créditos problemáticos (área de cobrança).

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

Contabilidade: é uma ciência que tem como


objeto de estudo o patrimônio das entidades, seus
fenômenos e variações, tanto no aspecto
quantitativo quanto no qualitativo, registrando os
fatos e atos de natureza econômico-financeira que
o afetam e estudando suas consequências na
dinâmica financeira (http://pt.wikipedia.org).
Curiosidade: em organizações de pequeno porte,
normalmente, não existe um departamento
contábil, pois tais funções são terceirizadas para
escritórios de contabilidade.
FONTE: BANCO DE IMAGENS DA EDITORA COC - ID:172169.

O departamento financeiro de uma organização de grande porte é


coordenado pelo Diretor Financeiro. Subordinados a ele estão o
Controller, responsável pela Controladoria, e o Gerente Financeiro
(também conhecido pelo nome de Tesoureiro), responsável pela
Tesouraria.
A principal função do Controller é desenvolver e prover
informações para mensurar o desempenho da organização. Os dados
utilizados por ele provêm da contabilidade; portanto, seguem o princípio
do regime de competência, ou seja, as receitas são contabilizadas
quando ocorrem as vendas, e os gastos, quando ocorrem as compras.
Por outro lado, o Gerente Financeiro enfatiza o princípio do regime
de caixa, ou seja, as receitas são contabilizadas quando o dinheiro entra
efetivamente no caixa e os gastos, quando o dinheiro efetivamente sai.
Ele mantém a liquidez da organização por intermédio da elaboração do
fluxo de caixa (projeção das entradas e saídas efetivas de dinheiro).

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

Diante dessas considerações, Gitman (2001) ressalta que os


Gerentes Financeiros devem olhar além das demonstrações contábeis
para refletir sobre os problemas atuais ou potenciais de uma organização.
Também lembra que os Controllers estão bem conscientes da
importância de se analisar os fluxos de caixa. Contudo, a maior ênfase
dos Controllers é o regime de competência, assim como a maior ênfase
dos Gerentes Financeiros é o regime de caixa.

1.6 Papel do administrador financeiro

Você pôde observar no subitem anterior, que uma organização de


grande porte possui três principais profissionais responsáveis por gerir
seus recursos financeiros: diretor financeiro, gerente financeiro e
controller. Enquanto o gerente financeiro e o controller possuem funções
primordialmente operacionais, o diretor financeiro possui funções mais
estratégicas e está diretamente ligado ao departamento administrativo
(alta administração da organização: presidente e proprietários).
Como já foram apresentadas as principais funções do gerente
financeiro e do controller, resta abordar quais são os papéis do principal
administrador financeiro de uma organização, ou seja, do diretor
financeiro. Tal profissional também é conhecido pela sigla “CFO”, que
são as letras iniciais de tal cargo na língua inglesa: Chief Financial
Officer.
Quando uma empresa é constituída, o principal objetivo de seus
proprietários é que ela gere lucro, ou seja, que haja um retorno sobre o
capital que foi investido. Logicamente, o retorno deve ser maior do que o
retorno que teriam caso mantivessem tal capital investido no mercado

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

financeiro (aplicações bancárias como poupança e fundos de


investimento).
Como o diretor financeiro deve prestar contas diretamente aos
proprietários, seu maior objetivo deve ser o de maximizar o retorno do
investimento feito por eles. De forma simples e
objetiva, seu principal papel é fazer com que a
empresa aumente seu lucro. Na língua inglesa, os
proprietários ou acionistas de
É importante destacar que, na busca por uma determinada organização
são chamados de
seu objetivo principal, o diretor financeiro shareholders.

também deve estar preocupado com os interesses


dos stakeholders, pessoas físicas e jurídicas que
possuem algum tipo de interesse direto (clientes,
fornecedores, instituições financeiras, funcionários e governo) ou indireto
(comunidades próximas e sociedade como um todo) com a organização.
O diretor financeiro deve buscar formas de maximizar o
lucro da organização sem prejudicar os interesses dos
stakeholders. Caso sejam adotadas medidas que os prejudiquem, o lucro
pode até aumentar no curto, mas, com certeza, pode ficar comprometido
no longo prazo.
Para comprovar tal afirmação, basta você imaginar uma situação
em que o diretor financeiro decida aumentar o lucro da organização
reduzindo os benefícios oferecidos aos funcionários (stakeholders
diretos) e não lhes fornecendo condições dignas de segurança. Ao adotar
tal estratégia, as despesas serão reduzidas e, consequentemente, o lucro
será aumentado (no curto prazo).
Por outro lado, tal estratégia fará com que os funcionários
trabalhem desmotivados e diminuam seu comprometimento, gerando um
aumento na rotatividade (troca de funcionários) e, consequentemente, nos

21
Educação Gestão Educacional – Unidade 1

gastos com recrutamento, seleção e treinamento de novos funcionários.


Além disso, abre-se espaço para que os funcionários entrem com ações
trabalhistas na justiça. Todas estas conseqüências, geradas pela busca do
aumento no lucro prejudicando um dos stakeholders, farão com que a
organização tenha uma redução do lucro no médio e longo prazo.
Logicamente, o diretor financeiro deve priorizar o aumento do
lucro da empresa; portanto, Gitman (2001) sugere que sua meta não seja
de maximizar o bem-estar dos stakeholders, mas sim de preservá-lo. Tal
autor também lembra que a questão dos stakeholders não altera a meta de
maximização da riqueza dos proprietários. Tal assunto é muitas vezes
considerado parte da “responsabilidade social” da empresa. Espera-se
que ela forneça benefícios em longo prazo para os proprietários por
intermédio da manutenção de relações positivas com os stakeholders.
Tais relações devem minimizar a rotatividade de stakeholders, conflitos e
litígios. Claramente, a empresa pode atingir melhor sua meta de
maximização da riqueza dos proprietários com a cooperação de – em vez
do conflito com – seus outros stakeholders.
Tanto o exemplo citado de prejudicar os funcionários para reduzir
despesas e aumentar o lucro, quanto outros que podem citados em
relação a outros stakeholders (governo: sonegação de impostos; clientes:
produtos fora das normas do Inmetro etc.), levantam a questão da ética
(padrões de conduta ou julgamento moral). Gitman (2001) afirma que a
comunidade de negócios em geral e a comunidade financeira em
particular estão desenvolvendo e impondo padrões éticos. A meta desses
padrões é motivar as empresas e os participantes do mercado a aderir
tanto ao texto quanto ao espírito das leis e regulamentações que dizem
respeito aos negócios e às práticas profissionais.

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

Responsabilidade Social: o quadro


de funcionários deve ser o primeiro
stakeholder com o qual o gestor
financeiro deve preocupar-se quando
decide atuar com responsabilidade
social. Exemplo: fornecendo
benefícios além daqueles que a lei
exige.
FONTE: BANCO DE IMAGENS DA EDITORA COC - ID: 905460.

Atividades

Para que você possa revisar os conceitos teóricos apresentados,


responda às seguintes questões:
1ª) Em sua opinião, por que os “intermediários” também podem ser
catalogados como recursos mercadológicos?
2ª) Em sua opinião, qual dos departamentos de uma organização deve
ser considerado o mais importante? Por quê?
3ª) Pode-se afirmar que a importância do departamento financeiro tem
aumentado nas últimas décadas? Por quê?
4ª) Qual a diferença entre regime de caixa e regime de competência?
Descreva um “fato financeiro real” para exemplificar tal diferença.
5ª) Elabore um exemplo prático para mostrar que o lucro no curto
prazo pode ser aumentado caso o diretor financeiro deixe de
preservar devidamente o bem-estar do cliente, um dos stakeholders
de uma organização. Quais seriam os impactos desta atitude no
longo prazo? Por quê?

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Educação Gestão Educacional – Unidade 1

1.7 Reflexão

Ao ler a primeira unidade da apostila, você iniciou seu estudo sobre


Gestão Financeira. O foco de tal área de estudo é estudar e desenvolver
técnicas e procedimentos para aumentar a eficiência na utilização dos
recursos financeiros de uma organização.
Em organizações de grande porte, torna-se necessária a
estruturação de um departamento financeiro para gerir de forma mais
eficiente os recursos financeiros. O profissional responsável por tal
departamento é chamado de diretor financeiro. Este profissional, na
busca por atingir seu principal objetivo, que é contribuir para a
maximização dos lucros dos proprietários da organização, enfrenta duas
grandes dificuldades que podem ser resumidas por intermédio de duas
indagações:
1) Como aumentar o lucro sem prejudicar a liquidez?
2) Como aumentar o lucro sem prejudicar o relacionamento com os
stakeholders?
Pode-se dizer que o administrador financeiro que conseguir
contornar essas dificuldades exercerá seu papel com sucesso e contribuirá
para que a organização onde esteja atuando consiga ter um crescimento
sustentável.

1.8 Leitura recomendada

Sugere-se a leitura do artigo discriminado na sequência:

Título do artigo: A ética empresarial como diferencial competitivo


nas organizações

24
Educação Gestão Educacional – Unidade 1

Autor: Juliana Lucas de Sousa


Fonte: www.administradores.com.br

1.9 Referências

ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. São Paulo:


Atlas, 2003.

BREALEY, Richard A., MYERS, Stewart C., MARCUS, Alan J.


Fundamentos da Administração Financeira. 3º ed. Rio de Janeiro:
McGraw-Hill Irwin, 2002.

GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira –


essencial. 2º ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

CHIAVENATO, Idalberto. Iniciação à Administração Geral. 2º ed.


São Paulo: Makron Books, 1994.

MEGLIORINI, Evandir, DA SILVA, Marco Aurélio Vallim Reis.


Administração Financeira: uma abordagem prática. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2009.

WESTON, J. Fred e BRIGHAM, Eugene F. Fundamentos da


Administração Financeira. São Paulo: Makron Books, 2000.

25
MERCADO FINANCEIRO

Na Unidade 2, apresentaremos os
conceitos e características do mercado
financeiro, assim como das suas quatro subdivisões:
mercado monetário, mercado de crédito, mercado de
capitais e mercado cambial. Posteriormente, definiremos o
que é e qual a importância do Sistema Financeiro Nacional.
Na sequência, mostraremos que, didaticamente, o sistema
financeiro nacional pode ser subdividido em três grandes
subsistemas: normativo, apoio e intermediação financeira. No final
da unidade 2, conheceremos as características e algumas curiosidades
das principais instituições que compõem o sistema financeiro nacional.

Objetivos da sua aprendizagem

Aprender o conceito de mercado financeiro e visualizar suas


características e subdivisões. Entender a importância de tal mercado
para a eficiente gestão dos recursos financeiros de uma organização.
Conhecer as principais características e algumas curiosidades sobre
as instituições que compõem o sistema financeiro nacional.
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

Você se lembra?

Você sabe exatamente o que é mercado financeiro? Será que já


ouviu dizer que ele pode ser subdividido em quatro outros mercados?
Conhece a relação entre o mercado financeiro e o sistema financeiro
nacional? Sabe quais são e qual a importância das instituições que
compõem o sistema financeiro nacional? Nesta unidade, você terá
oportunidade de aprender estes e vários outros temas relacionados ao
estudo do mercado financeiro.
Bons estudos!

27
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

2.1 Conceito e características

Ao recorrermos ao dicionário, podemos encontrar diversas


definições para a palavra “mercado”. Entre tais definições, a que melhor
se adéqua ao sentido que utilizaremos em nosso estudo é: “oferta e
procura de bens e/ou serviços e/ou capitais”. Dependendo do que será
ofertado e procurado, podemos classificar os mercados em tipos
diferentes.
No mercado financeiro, compra-se e vende-se “dinheiro” e também
alguns tipos de “papéis” que podem ser facilmente convertidos em
dinheiro neste mesmo mercado. Um dos papéis mais conhecidos são as
ações ofertadas pelas Sociedades Anônimas (S/A) de capital aberto e
compradas por investidores. Por meio da figura 1, você pode observar a
dinâmica de funcionamento do mercado financeiro, que, segundo Rudge
e Cavalcante (1993), é composto por três participantes:
 Tomadores finais: são aqueles que se encontram em posição de
déficit financeiro, isto é, aqueles que pretendem gastar (em
consumo e/ou investimento) mais do que sua renda. Eles precisam
do complemento de poupanças de outros para executar seus planos,
dispondo-se a pagar juros pelo capital que conseguirem;
 Ofertadores finais: são aqueles que se encontram em posição de
superávit financeiro, isto é, aqueles que pretendem gastar (em
consumo e/ou investimento) menos do que sua renda;
 Sistema financeiro: é o conjunto de instituições e instrumentos
financeiros que possibilitam a transferência de recursos (dinheiro)
dos ofertadores finais para os tomadores finais, e criam condições
para que os “papéis” tenham liquidez no mercado financeiro.

28
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

FIGURA 1. PARTICIPANTES DO MERCADO FINANCEIRO

MERCADO FINANCEIRO

Capital

Ofertador Sistema Tomador


Final Financeiro Final

Capital + juros

FONTE: RUDGE E CAVALCANTE (1993, P. 57)

Conforme você estudou no subitem 1.5 desta apostila, “Relações


Bancárias” é um dos órgãos que compõem a Tesouraria de uma empresa
de grande porte. Sua função é manter relacionamento com Bancos e
outras Instituições Financeiras, tanto para obtenção de empréstimos ou
financiamentos externos (quando a empresa apresenta déficit), como para
utilização de contas bancárias, e ainda para aplicação de excedentes
financeiros (quando a empresa apresenta superávit).

2.2 Subdivisões do mercado financeiro

Didaticamente, segundo Assaf Neto (2005), o mercado financeiro


pode ser subdividido em quatro tipos de mercado: monetário, de crédito,
de capitais e cambial. Tal autor afirma que, apesar de servirem de

29
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

referência para o estudo do mercado financeiro, essas subdivisões muitas


vezes se confundem na prática, permitindo que as várias operações
financeiras interajam por meio de um amplo sistema de comunicações.
Na sequência, você poderá conhecer as características de cada uma das
quatro subdivisões do mercado financeiro.

2.2.1 Mercado monetário

Neste mercado, são comprados e vendidos títulos privados e


públicos. Tais títulos são negociados utilizando-se como parâmetro uma
taxa de juros. Os títulos são “papéis” emitidos por instituições públicas
(exemplo: Banco Central) ou instituições privadas (exemplo: Bancos
Comerciais), que neste caso, atuam como tomadores, com o intuito de
captar dinheiro das pessoas físicas ou jurídicas que estão com superávit
de caixa, os ofertadores.
 Títulos públicos: podem ser emitidos pelo Banco Central com o
objetivo de aumentar ou diminuir a liquidez do mercado [Exemplo:
Letra do Banco Central (LBC)], ou pelos Governos Federal,
Estadual ou Municipal, com o objetivo de antecipar receitas
orçamentárias ou financiar déficits fiscais [Exemplo: Letra do
Tesouro Nacional (LTN)];
 Títulos privados: são emitidos por instituições financeiras
bancárias com o objetivo de levantar recursos financeiros para seu
caixa. Exemplos: Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI),
que é negociado somente entre instituições financeiras, e
Certificado de Depósito Bancário (CDB), negociado entre as
instituições financeiras e os ofertadores do mercado financeiro.

30
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

Os títulos estaduais e municipais, segundo Assaf Neto (2005),


apresentam baixa liquidez no mercado, tendo uma circulação mais
restrita, enquanto os títulos federais, ao contrário, possuem uma maior
aceitação e liquidez.
Como a imensa maioria dos títulos públicos e privados são
escriturais, ou seja, não são emitidos fisicamente, é imprescindível que as
negociações que ocorrem no mercado monetário sejam registradas “em
algum lugar”. Somente assim os investidores (ofertadores) terão
confiabilidade em adquirir tais títulos. Diante dessa necessidade, foram
criados dois sistemas de informática para registrar, controlar, custodiar e
liquidar os títulos públicos e privados, conhecidos por Selic e Cetip.
 Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic): foi
desenvolvido pelo Banco Central do Brasil e pela Associação
Nacional das Instituições do Mercado Aberto (Andima) em 1979,
tendo por finalidade registrar, controlar, custodiar e liquidar os
títulos públicos de emissão do Banco Central e do Tesouro
Nacional;
 Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos
Privados (Cetip): foi desenvolvido em 1986 como um sistema
bastante semelhante ao da Selic, porém, abrigando títulos privados.
De acordo com Assaf Neto (2005), algumas vezes, o sistema opera
também com títulos públicos que se encontram em poder do setor
privado da economia.
Para controlar a utilização dos depósitos à vista, o Banco Central
criou contas de depósito compulsório, ou seja, uma parcela do volume
de recursos que os correntistas mantêm em depósito à vista deve ser
depositada em uma conta que as instituições financeiras bancárias
mantêm junto ao Banco Central. O percentual do depósito compulsório

31
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

pode ser alterado como forma de controlar a quantidade de dinheiro que


existe na economia, estimulando ou inibindo, dessa forma, seu
crescimento.

2.2.2 Mercado de crédito

Neste mercado, as instituições financeiras atuam como


“ofertadoras”, pois “vendem”, por intermédio de contratos de
empréstimos e financiamentos, recursos financeiros às pessoas físicas e
jurídicas que se encontram em posição de déficit financeiro, atuando,
neste caso, como “tomadoras”.
Na unidade 4 desta apostila, serão apresentadas algumas operações
que as instituições financeiras disponibilizam para as Entidades
Educacionais suprirem suas necessidades de recursos financeiros para
capital de giro e para investimentos.

2.2.3 Mercado de capitais

Além das pessoas jurídicas conseguirem levantar recursos


financeiros no mercado de crédito junto às instituições financeiras,
também podem obter recursos de investidores via mercado de capitais,
desde que sejam constituídas juridicamente como Sociedades Anônimas
(S/A). O mercado de capitais pode ser definido como o “lugar” onde são
comprados e vendidos títulos chamados de valores mobiliários
(exemplos: debêntures, commercial papers e ações).
Quando os investidores, pessoas físicas ou jurídicas, direcionam
seus recursos financeiros às Sociedades Anônimas que procuram o
mercado de capitais, podem assumir dois tipos de papéis diferentes:

32
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

 Credor: quando compra um título de crédito (debênture ou


commercial paper) emitido por uma Sociedade Anônima de capital
aberto ou de capital fechado. Nesse caso, a S/A passa a ter uma
dívida com o investidor, com prazo de vencimento e incidência de
juros, que é contabilizada no Passivo Circulante (quando o título é
de curto prazo) ou no Exigível a Longo Prazo (quando o título é de
longo prazo);
 Sócio: quando compra uma ação emitida por uma Sociedade
Anônima de capital aberto. Nesse caso, a S/A também passa a ter
uma dívida com o investidor, mas não há prazo de vencimento nem
incidência de juros, pois, na verdade, ele se tornou sócio da
empresa, com direito a receber dividendos caso a S/A obtenha
lucro. Portanto, a “dívida” com o novo sócio é contabilizada no
Patrimônio Líquido.

2.2.4 Mercado cambial

Neste mercado, são negociadas moedas internacionais conversíveis


em moeda nacional [Real (R$)]. O mercado cambial reúne todos os
agentes econômicos que tenham motivos para comprar ou vender moeda
estrangeira. As empresas exportadoras, por exemplo, vendem seu
produto para o exterior e recebem em moeda estrangeira; portanto,
precisam vender a moeda estrangeira que receberam e comprar Reais,
que é a moeda utilizada em nosso país. Por outro lado, as empresas
importadoras compram produtos do exterior; portanto, precisam
comprar moeda estrangeira para efetuar o pagamento à empresa que
efetuou a venda.

33
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

As operações de compra e venda de moeda estrangeira são


realizadas pelo Banco Central por intermédio das corretoras de câmbio,
que elaboram e intermediam todo o processo operacional envolvido na
compra ou venda de moeda estrangeira pelos agentes econômicos
(empresas importadoras ou exportadoras).

2.3 Sistema financeiro nacional O Banco Central atua no mercado


cambial visando principalmente ao
controle das reservas cambiais da
economia e à manutenção do valor
Conforme definido no subitem 2.1, o da moeda nacional em relação às
outras. A atuação do BC dá-se
sistema financeiro é o conjunto de pela compra ou venda de moeda
estrangeira no mercado.
instituições e instrumentos financeiros que
possibilitam a transferência de recursos (dinheiro)
dos ofertadores finais para os tomadores finais, e
criam condições para que os “papéis” tenham liquidez no mercado
financeiro.
É imprescindível que existam tais instituições no mercado
financeiro, pois, do contrário, os ofertadores e os
tomadores não conseguiriam realizar sozinhos suas
transações de compra e venda de dinheiro e de títulos (papéis). Além
disso, também é imprescindível que existam instrumentos financeiros, ou
seja, regras e procedimentos para que tais transações sejam realizadas
com segurança e transparência.
Didaticamente, o sistema financeiro nacional pode ser subdividido
em três grandes subsistemas: normativo, apoio e intermediação
financeira, conforme pode ser observado na figura 2.

34
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

FIGURA 2. ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Sistema Financeiro Nacional

Subsistema Normativo Subsistema de Intermediação

Conselho Monetário Nacional Instituições Financeiras Bancárias

Banco Central do Brasil Inst. Financeiras Não Bancárias


Monetário Nacional

Comissão de Valores Mobiliários Instituições Auxiliares

Subsistema de Apoio Instituições Não Financeiras

Banco Banco Nacional de Caixa


do Desenvolvimento Econômica
Brasil Econômico e Social Federal

FONTE: ADAPTADO DE ASSAF NETO (2005, P. 81)

2.4 Subsistema Normativo

Para que qualquer mercado possa funcionar de forma organizada e


transparente, é imprescindível que exista “alguém” para ditar as “regras
do jogo”. Além disso, também deve existir “alguém” para verificar se tais
regras estão sendo cumpridas. Portanto, o subsistema normativo é

35
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

composto por instituições que ditam as


normas de funcionamento do mercado
Box Conexão
financeiro e as controlam, ou seja, As principais instituições que compõem o
subsistema normativo brasileiro são o
verificam se estão sendo cumpridas. Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco
Central do Brasil (BACEN) e a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM). Para maiores
informações sobre tais instituições, consulte,
2.5 Subsistema de Apoio respectivamente, os seguintes sites:
www.fazenda.gov.br/portugues/orgaos/cmn/cm
n.asp, www.bacen.gov.br e www.cvm.gov.br/.
Para maiores informações sobre as instituições
Enquanto Assaf Neto (2005) que compõem o subsistema de apoio,
consulte, respectivamente, os seguintes sites:
chama de “especiais” as instituições do www.bb.com.br, www.bndes.gov.br e
www.caixa.gov.br.
sistema financeiro que fazem parte deste
grupo: Banco do Brasil (BB), Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica
Federal (CEF), Fortuna (1999) as chama de “autoridades de apoio”.
Acredito que você deva concordar que o nome “autoridades de apoio”
seja melhor, pois um dos principais objetivos dessas instituições é
“apoiar” o Governo Federal a colocar em prática algumas de suas
políticas.
O BB apoia o Governo Federal a colocar em prática sua política
oficial de crédito rural (empréstimos a agricultores), enquanto o BNDES
é responsável pela política de investimentos de longo prazo para
aquisição de máquinas e equipamentos, exportação etc. Além deles,
ainda existe a CEF, que é o principal agente do Sistema Financeiro de
Habitação (SFH), atuando no financiamento da casa própria,
principalmente no segmento de baixa renda.

36
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

2.6 Subsistema de Intermediação

Este subsistema é composto por instituições que atuam em


operações de intermediação financeira, por isso, também é conhecido
como subsistema operativo. Didaticamente, de acordo com características
semelhantes que possuem, as instituições que compõem este subsistema
podem ser classificadas em quatro categorias, apresentadas na sequência.

2.6.1 Instituições Financeiras Bancárias

Possuem como principal característica a possibilidade de abrirem


contas correntes para seus clientes. Ao movimentarem tais contas, os
clientes podem manter um saldo positivo, que é chamado de depósito a
vista. As instituições financeiras bancárias podem emprestar para outros
clientes, descontando-se o percentual do depósito compulsório (vide
subitem 2.2.1), o montante que possuem em depósitos a vista. Nesta
categoria, são classificadas três tipos de instituições:
 Bancos Comerciais: executam operações de crédito
caracteristicamente de curto prazo (exemplo: cheque especial),
atendendo, dessa maneira, às necessidades de recursos para capital
de giro das pessoas físicas e jurídicas. Além disso, prestam diversos
outros tipos de serviços, tais como: pagamento de cheques,
transferência de fundos, cobranças diversas etc;
 Bancos Múltiplos: na verdade, são várias instituições do mesmo
grupo econômico agrupadas em uma única instituição financeira
com personalidade jurídica própria, visando à redução de custos
operacionais;

37
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

 Caixas Econômicas: são instituições públicas cujo principal


objetivo é conceder financiamentos para programas e projetos que
contribuam com o desenvolvimento da sociedade. Além disso,
também prestam os mesmo serviços que um banco comercial.

2.6.2 Instituições Financeiras não Bancárias

Ao contrário das instituições financeiras bancárias, as instituições


classificadas nesta categoria não possuem permissão para abrir contas
correntes para seus clientes, ficando impossibilitadas de utilizarem
recursos provenientes de depósitos a vista.
 Bancos de Investimentos: sua principal função é conceder
empréstimos e financiamentos para pessoas jurídicas, objetivando a
aquisição de capital de giro (estoques) ou capital fixo
(“imobilizado”: móveis, imóveis, veículos etc). Também são
especializadas em preparar empresas para a abertura do capital
junto à Bolsa de Valores (venda de ações);
 Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento: são mais
conhecidas no mercado pelo nome de Financeiras e se dedicam ao
financiamento de bens duráveis às pessoas físicas por intermédio
de uma operação de crédito conhecida por Crédito Direto ao
Consumidor (CDC). Também oferecem uma operação de
empréstimos conhecida pelo nome de Crédito Pessoal;
 Sociedades de Arrendamento Mercantil: são mais conhecidas
como empresas de Leasing e financiam, por intermédio de um
contrato de arrendamento (aluguel), a compra de bens, como
máquinas, equipamentos e veículos.

38
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

2.6.3 Instituições Auxiliares

São instituições que “auxiliam” e viabilizam a existência do


mercado de capitais, ou seja, do mercado onde são negociados os valores
mobiliários (debêntures, commercial papers e ações).
 Bolsa de Valores: por intermédio de um acordo firmado em agosto
de 2000, todas as Bolsas brasileiras foram integradas em uma só: a
Bolsa de Valores de São Paulo. Atualmente, a BOVESPA é o
maior centro de negociação com ações da América Latina. Até
agosto de 2007, era uma associação civil sem fins lucrativos. A
partir de tal data, tornou-se uma Sociedade Anônima. Seu objetivo
básico é o de manter um local em condições adequadas para a
realização de operações de compra e venda de valores mobiliários;
 Corretoras de Valores: são empresas cuja principal atividade é
intermediar a compra e a venda de valores mobiliários para seus
clientes. A negociação é feita por “operadores”, que são
funcionários das corretoras.

2.6.4 Instituições não Financeiras

São instituições que, apesar de não serem consideradas financeiras,


exercem papel importante no mercado financeiro.
 Sociedades de Fomento Comercial – Factorings: são empresas
comerciais (não financeiras) que adquirem recebíveis (duplicatas e
cheques pré-datados) de pessoas jurídicas. A Factoring antecipa o
montante do recebível para seu cliente, descontando um valor que é
calculado por intermédio da cobrança de uma taxa de juros;

39
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

 Companhias Seguradoras: estão consideradas no sistema


financeiro pelo fato de terem a obrigação de aplicar parte de suas
reservas técnicas no mercado de capitais. São instituições que,
mediante o recebimento de um valor cobrado dos segurados,
garantem a cobertura financeira do objeto selecionado para o
seguro;
 Administradores de Cartão de Crédito: prestam serviços de
intermediação entre os consumidores e as empresas do setor
varejista. O consumidor titular do cartão de crédito paga anuidade à
Administradora e a empresa “varejista” paga uma comissão sobre
os valores vendidos por intermédio do cartão de crédito.

Atividades

Para que você possa revisar os conceitos teóricos apresentados,


responda às seguintes questões:
1ª) Atualmente, você se considera um tomador ou um ofertador no
mercado financeiro? Por quê?
2ª) Caso possuísse uma quantia expressiva para investir no mercado
monetário, você preferiria comprar um título público (LTN) ou um
título privado (CDB)? Por quê?
3ª) Para uma Sociedade Anônima (S/A), quais as vantagens e as
desvantagens de se captar dinheiro por intermédio da venda de
ações ou por intermédio da venda de títulos de crédito?
4ª) Caso você fosse a Brasília, seria possível conhecer a sede do
Conselho Monetário Nacional? Por quê?

40
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

5ª) Cite e comente a principal vantagem que as instituições financeiras


bancárias possuem em relação às instituições financeiras não
bancárias?
6ª) Caso uma empresa queira se “transformar” em uma Sociedade
Anônima de capital aberto, visando à obtenção de recursos
financeiros por intermédio da venda de ações, deve procurar qual
instituição do sistema financeiro? Por quê?

2.7 Reflexão

No mercado financeiro, compra-se e vende-se “dinheiro”, e


também alguns tipos de “papéis”. Didaticamente, podemos dividi-lo em
quatro tipos de mercado: monetário, de crédito, de capitais e cambial. No
mercado monetário, são comprados e vendidos títulos privados e
públicos. No mercado de crédito, as pessoas físicas e jurídicas que se
encontram em posição de déficit financeiro podem obter empréstimos e
financiamentos. No mercado de capitais, as organizações constituídas
juridicamente como Sociedades Anônimas (S/A) podem obter recursos
de investidores por intermédio da venda de valores mobiliários. No
mercado cambial, são negociadas moedas internacionais conversíveis em
Real.
O sistema financeiro é o conjunto de instituições e instrumentos
financeiros que possibilitam a transferência de recursos (dinheiro) dos
ofertadores finais para os tomadores finais, e criam condições para que os
“papéis” tenham liquidez no mercado financeiro. Didaticamente, o
sistema financeiro nacional pode ser subdividido em três grandes
subsistemas: normativo, apoio e intermediação financeira.

41
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

O subsistema normativo é composto por instituições que ditam as


normas de funcionamento do mercado financeiro e as controlam, ou seja,
verificam se estão sendo cumpridas. O subsistema de apoio é composto
por instituições que “apoiam” o Governo Federal a colocar em prática
algumas de suas políticas. O subsistema de intermediação é composto por
instituições que atuam em operações de intermediação financeira, por
isso, também é conhecido como subsistema operativo.

2.8 Leitura recomendada

Sugere-se a leitura do artigo discriminado na sequência:

Título do artigo: Avanço verde-amarelo


Autor: Rodolfo C. Bonventti
Fonte: http://revistaensinosuperior.uol.com.br

2.9 Referências

ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. São Paulo:


Atlas, 2003.

ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. São Paulo: Atlas,


2005.

FORTUNA, Eduardo. Mercado financeiro: produtos e serviços. 12º ed.


Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.

42
Educação Gestão Educacional – Unidade 2

GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira –


essencial. 2º ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

RUDGE, Luiz Fernando, CAVALCANTE, Francisco. Mercado de


Capitais. Belo Horizonte: CNBV, 1993.

WESTON, J. Fred e BRIGHAM, Eugene F. Fundamentos da


Administração Financeira. São Paulo: Makron Books, 2000.

43
GESTÃO DO
CAPITAL DE GIRO E
DAS DISPONIBILIDADES

Na Unidade 3, apresentaremos o balanço


patrimonial como uma fonte de dados para se obter o
valor do capital de giro. Posteriormente, mostraremos
como são calculados os valores do capital de giro líquido e
do índice de liquidez corrente. Na sequência, mostraremos os
motivos que levam as organizações a manterem determinado
nível de saldo em caixa, assim como os fatores que afetam sua
gestão. No final da unidade 3, conheceremos a forma pela qual deve
ser feita a gestão de contas bancárias e de aplicações financeiras de
curto prazo.

Objetivos da sua aprendizagem

Visualizar a estrutura do balanço patrimonial e aprender sua


relação com os cálculos do capital de giro líquido e do índice de
liquidez corrente. Conhecer os motivos que levam as organizações a
manterem determinado saldo em seu caixa. Entender a importância
de se gerir com eficácia as contas bancárias e as aplicações
financeiras de curto prazo.
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

Você se lembra?

Você sabe o que é capital de giro líquido? Será que já ouviu dizer
que as organizações precisam manter determinado nível de saldo em seu
caixa? Conhece a importância de se gerir com eficácia as contas
bancárias e as aplicações financeiras de curto prazo? Nesta unidade, você
terá oportunidade de aprender estes e vários outros temas relacionados à
gestão do capital de giro e das disponibilidades.
Bons estudos!

45
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

3.1 Relação entre capital de giro e balanço patrimonial

 Antes de se iniciar o estudo do Capital de Giro Líquido (CGL), é


importante que sejam fornecidas algumas explicações sobre a fonte
de dados utilizada para calculá-lo. Para se calcular o CGL de uma
organização, devem ser extraídos dados de seu Balanço
Patrimonial.
 De acordo com Matarazzo (2003), Balanço Patrimonial é a
demonstração contábil que apresenta todos os bens e direitos da
empresa (chamados de ATIVOS), assim como todas as suas
obrigações (chamadas de PASSIVOS), em uma determinada data.
A diferença entre os bens e direitos e as obrigações com terceiros
(bancos, fornecedores etc.) é chamada de Patrimônio Líquido e
representa o capital investido pelos proprietários, quer por meio de
recursos financeiros trazidos de fora da empresa, quer gerados por
esta em suas operações e retidos internamente.
 De forma simplificada, pode-se dizer que o Balanço Patrimonial
permite que se identifique:
 As fontes de recursos financeiros utilizados pela organização (deve-
se olhar o valor total do PASSIVO, lembrando-se que o valor do
Patrimônio Líquido representa o valor que foi investido pelos
proprietários, e os valores do Passivo Circulante e do Exigível a
Longo Prazo representam o valor que a organização pegou
emprestado de terceiros, como Instituições Bancárias, por
exemplo);
 Os bens e direitos em que esses recursos financeiros se acham
investidos. (Deve-se olhar o valor total do ATIVO, lembrando-se
de que o valor do Ativo Permanente representa o montante de bens

46
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

que a empresa possui, enquanto os valores do Ativo Circulante e do


Realizável a Longo Prazo representam seu total de direitos, como,
por exemplo, o valor das vendas a prazo que têm a receber de seus
clientes).
 Para que você conheça a estrutura de um Balanço Patrimonial,
apresentamos um exemplo fictício simplificado, ou seja, contendo
poucas contas (vide Quadro 1). Em seguida, definimos o que são o
ativo e o passivo circulante, pois tais itens do Balanço Patrimonial
serão utilizados para se calcular o Capital de Giro Líquido de uma
organização (vide subitem 3.3).

QUADRO 1. BALANÇO PATRIMONIAL FICTÍCIO DE UMA ORGANIZAÇÃO EM 31/12/2007


Valores (em $ milhões) 2007 Valores (em $ milhões) 2007
Ativo Circulante 164 Passivo Circulante 127
Disponibilidades 10 Fornecedores 57
Aplicações Financeiras 25 Empréstimos Bancários 26
Contas a Receber 72 Salários e Encargos Sociais 9
Estoques 57 Impostos e Contribuições 35
Realizável a Longo Prazo 44 Exigível de Longo Prazo 75
Contas a Receber 44 Empréstimos Bancários 75
Ativo Permanente 123 Patrimônio Líquido 129
Imobilizado 111 Capital Social 89
Investimentos 12 Lucros Acumulados 40
ATIVO TOTAL 331 PASSIVO TOTAL 331

 Ativo Circulante: representa o somatório de todos os direitos que


a organização possui no curto prazo, ou seja, valores disponíveis

47
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

para utilização imediata ou conversíveis em moeda corrente a


qualquer momento;
 Passivo Circulante: compreende os valores de todas as obrigações
da organização vencíveis no prazo de um ano. Essas obrigações
devem ser tanto as conhecidas (por exemplo, as duplicatas a pagar),
como as calculáveis com precisão (por exemplo, valores de juros e
do 13º salário dos funcionários). Pode-se dizer que são as
obrigações que se tem com “terceiros”, ou seja, com pessoas físicas
ou jurídicas que não sejam os proprietários da organização.

3.2 Conceito de capital de giro

Após você ter conhecido a estrutura de um Balanço Patrimonial,


retomamos o assunto inicial, que é o cálculo do Capital de Giro Líquido
(CGL). Ao se utilizar o termo “líquido”, subentende-se que exista o
Capital de Giro “Bruto”, ou, simplesmente, Capital de Giro.
Podemos definir Capital de Giro como o somatório das
disponibilidades (“dinheiro”) que uma organização possui e todos os
outros direitos que, no curto prazo, podem ser convertidos em
disponibilidades. Diante desta definição, podemos concluir que o Capital
de Giro, na prática, pode ser obtido ao se identificar o valor do Ativo
Circulante, pois ele representa o somatório de todos os direitos que a
organização possui no curto prazo, ou seja, os valores disponíveis para
utilização imediata ou conversíveis em moeda corrente a qualquer
momento. Caso utilizemos os dados apresentados no Quadro 1, podemos
concluir que a organização possui um Capital de Giro de $
164.000.000,00. Lembre-se: Capital de Giro = Ativo Circulante

48
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

O estudo do Capital de Giro é fundamental para a administração


financeira, porque toda organização precisa recuperar os gastos
envolvidos no processo produtivo e obter o lucro desejado, por meio da
venda do produto ou da prestação do serviço.
O nome Capital de Giro é utilizado pelo fato dos recursos ficarem
“girando” dentro da organização, transformando-se em itens diferentes e
sofrendo acréscimos a cada etapa, até transformarem- se
novamente em “dinheiro”, devendo estar
maior do que o valor original.
Nos segmentos comerciais e
industriais, a conta estoques
representa um valor expressivo no
3.3 Capital de giro líquido total do Capital de Giro de uma
organização. No caso das Entidades
Educacionais, contabilizam-se na
(CGL) conta estoques somente os valores
dos estoques de materiais de
escritório e limpeza; portanto, não se
tratam de valores expressivos.
Após termos definido o que é
Capital de Giro, podemos, finalmente,
definir o que é Capital de Giro Líquido.
Tecnicamente, a circulação do capital de giro não fica restrita ao ativo
circulante, pois ela também pode circular pelas contas do passivo
circulante. Por exemplo, a organização pode adquirir matéria-prima e
não pagar o fornecedor à vista, dessa forma, não haverá saída
de dinheiro e passa-se a ter uma dívida com tal
fornecedor, que será contabilizada no passivo circulante.
Consequentemente, o cálculo do Capital de Giro Líquido (CGL), também
conhecido por Capital Circulante Líquido (CCL), é obtido por meio da
seguinte fórmula:

CGL = Ativo Circulante – Passivo Circulante

49
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

Ao calcularmos o CGL de uma organização, também é importante


que se calcule seu Índice de Liquidez Corrente (ILC), pois duas
organizações podem possuir valores idênticos de CGL e realidades
financeiras totalmente diferentes. Para que você entenda melhor tal
afirmação, observe o Quadro 2.

QUADRO 2. VALORES DE CGL DE DUAS ORGANIZAÇÕES


Organizações Ativo Passivo CGL
Circulante Circulante
A $ 1.200.000,00 $ 1.100.000,00 $ 100.000,00
B $ 120.000,00 $ 20.000,00 $ 100.000,00

Ao observar o Quadro 2, você pode constatar que, apesar de


possuírem valores idênticos de CGL, a empresa B possui uma situação
muito mais confortável que a empresa A, ou seja, ela tem “direitos” de
curto prazo ($ 120.000,00) seis vezes maiores que suas “obrigações” de
curto prazo ($ 20.000,00).
Ao estabelecermos tal relação, na realidade, estamos calculando o
Índice de Liquidez Corrente (ILC) da organização. Para se calcular o
ILC, basta dividirmos o valor do Ativo Circulante pelo valor do Passivo
Circulante (vide Quadro 3), ou seja, o ILC é obtido por meio da seguinte
fórmula:

ILC = Ativo Circulante / Passivo Circulante

50
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

QUADRO 3. COMPARAÇÃO ENTRE OS VALORES DO CGL E DO ILC


Organizações CGL ILC
A $ 100.000,00 1,09
B $ 100.000,00 6

Para concluirmos o tema CGL, é importante lembrarmos que, ao


calculá-lo, podemos encontrar três tipos de resultados:

 CGL nulo (0)  AC = PC (índice de liquidez corrente = 1);


 CGL negativo (-)  AC  PC (índice de liquidez corrente  1);
 CGL positivo (+)  AC  PC (índice de liquidez corrente  1).

Caso utilizemos os dados apresentados no Quadro 1 (vide subitem


3.1), podemos concluir que a organização fictícia possui:

 Capital de Giro Líquido de $ 37.000.000,00 ($ 164 MM - $ 127


MM);
 Índice de Liquidez Corrente de 1,29 ($ 164 MM / $ 127 MM).

3.4 Manutenção de saldo de caixa

As disponibilidades de uma organização são o somatório de seu


dinheiro, dos seus depósitos bancários à vista (saldos em contas
correntes) e das suas aplicações financeiras bancárias. Portanto, a gestão
de disponibilidades envolve o controle dos saldos que a empresa possui
em seu próprio caixa (dinheiro) e dos saldos que mantém em instituições
financeiras bancárias (depósitos à vista e aplicações financeiras).

51
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

Quanto maior a manutenção de liquidez (dinheiro em caixa), menor


será o retorno obtido, pois tais recursos poderiam estar investidos na
atividade que a organização exerce, gerando maior lucratividade. Diante
desta afirmação, você pode concluir que o saldo ideal de caixa que uma
organização deveria manter é zero.
Na verdade, a manutenção de um saldo de caixa igual a zero é
praticamente impossível, visto que, segundo Keynes (apud ASSAF
NETO, 2005), existem três motivos que levam as organizações a
manterem determinado saldo em seu caixa:
 Transação: honrar os compromissos previamente assumidos
(exemplos: pagamento do aluguel e da folha de pagamento dos
funcionários). Caso fosse possível projetar um fluxo de caixa onde
houvesse uma sincronia perfeita entre os recebimentos e os
pagamentos, a demanda de caixa pelo motivo transação seria
desnecessária. É importante ressaltar que uma organização que
mantém recursos em caixa para fazer face à necessidade de troco,
também o faz pelo motivo transação;
 Precaução: refere-se a compromissos futuros nem sempre
totalmente previsíveis (exemplos: inadimplência de clientes e
manutenção corretiva). Como o gestor financeiro também deve
buscar reduzir o risco de insolvência da organização que gerencia,
deve manter em caixa uma quantidade de recursos para tais
eventualidades. É importante ressaltar que as organizações mais
arrojadas, quando possuem facilidade ao crédito bancário, não
mantêm recursos em caixa pelo motivo precaução;
 Especulação: perspectiva de uma oportunidade futura para
aumentar a lucratividade (exemplo: aquisição de matérias-primas
ou mercadorias com desconto pelo fato do pagamento ser efetuado
à vista).

52
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

Tendo em vista que dinheiro parado no caixa representa perda de


rentabilidade, Assaf Neto (2005) comenta que as organizações devem
exercer controle sobre este item sem aumentar, em nível indesejado, o
risco. Tal autor também afirma que o saldo mínimo que uma organização
manterá em seu caixa dependerá de uma série de fatores, cujos principais
são relacionados na sequência:
 Falta de sincronização entre pagamentos e recebimentos de caixa
tende a elevar o saldo de caixa necessário. A projeção do fluxo de
caixa pode ser um importante instrumento para reduzir as
diferenças temporais de entrada e saída de recursos financeiros;
 Grande possibilidade de ocorrência de eventos não previstos na
projeção do fluxo de caixa;
 A existência de um mercado financeiro desenvolvido pode reduzir
a exigência de um montante alto no caixa, pois a organização
poderá obter recursos de forma relativamente fácil e a uma taxa de
juros não muito alta;
 Política de crédito da organização, em especial a morosidade dos
pagamentos e a probabilidade de que clientes não efetuem
pagamentos, o que implica em uma maior necessidade de caixa;
 Existência de prazo de pagamento reduzido. A organização deve
aumentar, sempre que for economicamente vantajoso, o prazo de
pagamento de suas despesas;
 Nível de taxa de inflação. Por um lado, em ambientes
inflacionários, a perda decorrente da manutenção de valores no
caixa tende a aumentar. Por outro lado, ambientes inflacionários
tendem a gerar mais oportunidades de investimento, aumentando a
demanda de dinheiro pelo motivo especulativo.

53
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

Inflação: em economia, inflação é a queda do


valor de mercado ou do poder de compra do
dinheiro. Isso é equivalente ao aumento no nível
geral de preços. Existem dois principais tipos de
inflação: demanda (aumento da procura pelos
produtos) e custos (aumento dos gastos dos
insumos dos produtos). (http://pt.wikipedia.org).
Curiosidade: os índices de inflação no Brasil são
medidos de duas maneiras. Uma, pelo INPC,
aplicado a famílias de baixa renda (renda de um a
oito salários mínimos). Outra, pelo IPCA,
aplicado para famílias que recebem um montante
de até quarenta salários mínimos.
(http://pt.wikipedia.org).
FONTE: BANCO DE IMAGENS DA EDITORA COC - ID: 175805 E 816409.

Ao observar os fatores que acabaram de ser relacionados, você


pode concluir que cada organização precisará definir, de acordo com suas
características e peculiaridades, o montante que deverá manter em caixa
para atender a suas necessidades financeiras.

3.5 Gestão de contas bancárias

Atualmente, para a imensa maioria das empresas, o percentual de


“disponibilidades” que circula pelas contas correntes bancárias é muito
maior que o percentual que circula pelo caixa interno, ou seja, a maioria
dos pagamentos e dos recebimentos é feita por intermédio dos bancos e
não por intermédio do caixa interno que a empresa possui. Para que este
conceito fique mais claro, basta imaginar que, quando pagamos alguma

54
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

conta proveniente de algum produto que compramos ou de algum serviço


que nos foi prestado, na maioria das vezes, o pagamento é feito por
intermédio de um boleto bancário; portanto, não precisamos nos deslocar
à empresa para efetuar o pagamento.

Atualmente, os bancos se tornaram a fonte de uma variedade de


serviços de gerenciamento de caixa. Por exemplo, bancos agora vendem
pacotes de processamento de informações sofisticados para clientes
comerciais. Esses pacotes lidam com tudo, de contabilidade e orçamento
básicos até complexos desembolsos multinacionais e controles de caixa
centralizados. Todos são projetados para ajudar administradores
financeiros a maximizar a disponibilidade dia a dia de caixa e facilitar o
investimento em curto prazo. É claro, serviços bancários devem ser
usados apenas quando os benefícios obtidos com eles são maiores que os
custos (GITMAN, 2001, p. 504).

Diante dos comentários de Gitman (2001), podemos afirmar que


uma gestão eficaz do disponível de uma empresa passa por uma
negociação bem elaborada com as instituições financeiras, que oferecem
diversos produtos e serviços aos clientes pessoa jurídica, tais como:
compensação de cheques, linhas de crédito para empréstimos e
financiamentos, cobrança por intermédio de boletos bancários, internet
banking, aplicações financeiras etc.
Para que a negociação com as instituições financeiras seja bem
elaborada, o gestor financeiro deve conhecer alguns detalhes sobre três
temas, apresentados abaixo.

55
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

3.5.1 Concentração bancária

Uma das preocupações do gestor financeiro é definir se a empresa


que gerencia estabelecerá parceria com uma, duas ou mais instituições
financeiras. Uma das vantagens de ser cliente de apenas um banco é o
fato da empresa poder concentrar um volume maior de negócios, como
cobrança, seguros, aplicações financeiras etc. Dessa forma, ao oferecer
uma grande reciprocidade, a empresa passa a ter um poder de barganha
maior com o banco, refletindo em benefícios como isenções de tarifas,
taxas mais baixas para empréstimos e taxas mais altas para aplicações
financeiras.
Por outro lado, ao estabelecer parcerias com mais instituições
financeiras, a empresa passa a ter mais opções de negócios, pois a
concorrência entre os bancos é grande e, normalmente, são lançados
produtos e serviços inovadores. Além disso, ao possuir parceria com
vários bancos, a empresa pode fazer um “leilão de preços” quando
necessita de algum produto ou serviço, podendo conseguir, dessa forma,
condições mais vantajosas.
Cabe ao gestor financeiro, ao conhecer as características e
necessidades da empresa que gerencia, decidir pela concentração ou não
de negócios com uma única instituição financeira.

3.5.2 Linhas de crédito

Na gestão do disponível, é importante que o gestor financeiro


conheça a capacidade de obtenção de crédito da empresa, ou seja, ele
precisa saber a quantidade de dinheiro que poderá obter nas instituições
financeiras com as quais possui parceria (valor das linhas de crédito).

56
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

Em relação a este tema, Hoji (2003) comenta que, ao conhecer


antecipadamente o limite máximo de recursos financeiros que a empresa
poderá tomar emprestado de terceiros, é possível planejar com maior
eficácia a expansão do nível de atividades e resolver eventuais problemas
de oscilações nas disponibilidades de caixa.
Também é importante ressaltar que as atividades da empresa
devem ficar sempre dentro de seu limite de capacidade de obtenção de
caixa. Caso a empresa exceda esse limite, poderá enfrentar sérias
dificuldades financeiras, comprometendo a continuidade de suas
atividades.

3.5.3 Float

Na língua inglesa, o verbo to float significa flutuar. No mercado


financeiro, a palavra float significa o tempo que um recurso financeiro
fica “flutuando” dentro de um banco até que seja transferido para uma
determinada empresa. Gitman (2001) explica que, no sentido mais
amplo, float se refere aos recursos que foram remetidos pelo pagador (a
empresa ou o indivíduo efetuando o pagamento), mas não estão ainda em
uma forma disponível ao beneficiário (a empresa ou indivíduo recebendo
o pagamento).
Para que o conceito de float fique mais claro para você, vamos
imaginar o caso de uma empresa de telefonia que estabelece uma parceria
com um banco para que ele receba as contas de telefone de seus clientes.
A parceria é feita devido ao fato da empresa de telefonia não possuir uma
estrutura operacional que pudesse receber as contas de todos os seus
clientes. Além disso, para o cliente, é mais cômodo e prático efetuar o
pagamento no banco, que possui uma rede de agências.

57
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

Quando a conta de telefone é paga pelo cliente, o dinheiro fica


“flutuando” dentro do banco, e é utilizado por ele. Somente depois de um
determinado período o dinheiro é transferido para a empresa de telefonia.
Quando este período é de apenas um dia, o float é conhecido no meio
bancário como D+1, quanto é de dois dias: D+2, e assim,
sucessivamente.
Quanto maior o float, melhor para o banco e pior para a empresa;
portanto, o gestor financeiro deve tentar negociar floats menores nas
operações de cobrança bancária, para que o banco transfira, o mais rápido
possível, os recursos financeiros a que a empresa tem direito.

3.6 Gestão das aplicações financeiras de curto prazo

Conforme dissemos no item 3.4, existem três motivos que levam as


organizações a manterem determinado saldo em seu caixa: transação,
precaução e especulação. Porém, o que deve ficar efetivamente “parado”
é a quantidade de dinheiro (papel moeda) necessária para arcar com as
despesas que são pagas pelo caixa interno da empresa. É importante
ressaltar que alguns tipos de organizações, como as de transporte coletivo
urbano e os supermercados, devem manter uma quantidade maior de
dinheiro em seu caixa interno, em virtude da necessidade de fornecer
“troco” para os clientes.
Uma vez definida a quantidade de dinheiro que deve ficar
efetivamente parada no caixa interno da empresa, deve-se depositar o
valor excedente em uma conta corrente bancária. O valor que foi
depositado no banco é chamado de depósito à vista e não gera nenhum
tipo de ganho para a empresa. Na verdade, gera uma perda, pois,

58
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

conforme já estudamos, dinheiro parado representa perda de


rentabilidade.
O gestor financeiro de uma organização, para evitar a perda de
rentabilidade gerada pelo saldo “parado” em depósito a vista, deve
investi-lo em algum tipo de aplicação financeira oferecida pelos bancos.
Ao aplicar os recursos que ficariam parados, a empresa
receberá juros; portanto, reduzirá a perda de
rentabilidade que teria caso mantivesse o
As empresas não precisam deixar
dinheiro parado em depósito à vista. o montante do caixa mínimo
efetivamente “parado”. Parte
Os bancos oferecem diversos tipos de desse montante deve ser
investido em aplicações
aplicações financeiras para se adequar às financeiras, visando à redução da
perda de rentabilidade gerada
necessidades dos clientes. Os tipos mais pelo dinheiro parado.

conhecidos e utilizados são os Certificados de


Depósitos Bancários (CDBs) e os Fundos de
Investimento Financeiro (FIFs).
 Certificados de Depósitos Bancários (CDBs): conforme
estudamos no subitem 2.2.1, os CDBs são títulos privados
emitidos por instituições financeiras bancárias com o
objetivo de levantar recursos financeiros para seu
caixa. Normalmente, os CDBs possuem um prazo predeterminado
de vencimento e os clientes são remunerados por intermédio de
taxas prefixadas ou pós-fixadas (exemplos: 22% ao ano ou 8% ao
ano + variação da TR);
 Fundos de Investimento Financeiro (FIFs): são aplicações onde
o banco investe o dinheiro do cliente de diversas maneiras, de
acordo com o regulamento do fundo e as regras de enquadramento
definidas pelo Banco Central. Os fundos mais conhecidos são os de
Renda Fixa, onde o dinheiro do cliente é investido em títulos

59
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

públicos, e os de Renda Variável, onde o dinheiro do cliente é


investido predominantemente em ações de empresas constituídas
como Sociedades Anônimas (S/A).
Antes de o gestor financeiro optar por um investimento, deve
analisar as características de cada tipo de aplicação financeira: risco,
rentabilidade e periodicidade do recebimento dos juros (exemplo: na
poupança a periodicidade é mensal e nos fundos é diária). Além disso,
deve conhecer o fluxo de caixa da empresa, para que possa prever o
tempo que o dinheiro poderá ficar aplicado.
Logicamente, cada empresa possui características diferentes e
optará por aplicações financeiras que atendam às suas necessidades.
Apesar disso, independentemente do setor de atividade da empresa,
sugerimos que seu gestor financeiro aplique parte dos recursos
financeiros destinados a aplicações financeiras em fundos de renda fixa
de curto prazo com resgate automático.
Caso a empresa tenha parte de seus recursos financeiros aplicados
nesse tipo de fundo, não precisará deixar nenhum valor parado em sua
conta corrente, ou seja, o valor de seu depósito à vista será igual a zero.
Quando os cheques que foram emitidos pela empresa forem
compensados, sua conta corrente não ficará negativa, pois o “sistema” do
banco resgatará automaticamente da aplicação o valor necessário para
cobrir o cheque. Dessa forma, ao manter seus recursos financeiros
aplicados, a empresa reduzirá a perda de rentabilidade gerada pelo
dinheiro que ficaria parado em depósito a vista.

60
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

Atividades

1) Utilizando os saldos de algumas contas extraídas do balanço


patrimonial das organizações C e D, classifique-as como ativo circulante
e passivo circulante. Posteriormente, calcule seus CGL’s e ILC’s.

Organização C Organização D
Caixa.............................1.200 Caixa..............................1.950
Contas a receber...........1.650 Contas a receber................410
Estoques.......................2.400 Estoques.........................1.560
Duplicatas a pagar........2.720 Duplicatas a pagar...........1.320
Outras contas a pagar....2.380 Outras contas a pagar......1.250

3.7 Reflexão

O balanço patrimonial é a fonte de dados utilizada para se calcular


o capital de giro líquido de uma organização. Enquanto o capital de giro
é representado pelo somatório das contas que compõem o ativo
circulante, o capital de giro líquido também leva em consideração as
contas do passivo circulante.
O saldo ideal de caixa que uma organização deveria manter é zero.
Porém, isto é praticamente impossível, pois existem três motivos que
levam as organizações a manterem determinado saldo em seu caixa:
transação, precaução e especulação. Como dinheiro parado no caixa
representa perda de rentabilidade, as organizações devem exercer
controle sobre este item, levando em conta uma série de fatores.
O percentual de “disponibilidades” que circula pelas contas
correntes bancárias é muito maior que o percentual que circula pelo caixa
interno. Em virtude disso, uma gestão eficaz do disponível passa por uma

61
Educação Gestão Educacional – Unidade 3

negociação bem elaborada com as instituições financeiras, levando-se em


conta aspectos como concentração bancária, linhas de crédito e float.
Além disso, por intermédio das aplicações financeiras oferecidas pelos
bancos, pode-se evitar a perda de rentabilidade gerada pelo saldo
“parado” em depósito a vista.

3.8 Leitura recomendada

Sugere-se a leitura do artigo discriminado na sequência:

Título do artigo: Estratégias de curto prazo de uma instituição


educacional
Autores: Lousanne Cavalcanti Barros, Érika Burkowski e Alfredo
Alves de Oliveira Melo
Fonte: www.egepe.com.br

3.9 Referências

ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. São Paulo: Atlas,


2005.

GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira –


essencial. 2º ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

HOJI, Masakazu. Administração financeira: uma abordagem prática.


4º ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MATARAZZO, Dante. Análise financeira de balanços: abordagem


básica e gerencial. 6º ed. São Paulo: Atlas, 2003.

62
FONTES DE
FINANCIAMENTO PARA
PESSOAS JURÍDICAS

Na Unidade 4, mostraremos as finalidades


da captação de recursos financeiros para as pessoas
jurídicas, assim como as formas de contabilizá-los. Na
sequência, apresentaremos os produtos de crédito de curto
e de longo prazo que as Entidades Educacionais podem obter
nas instituições que compõem o Sistema Financeiro Nacional.

Objetivos da sua aprendizagem

Conhecer os motivos que levam as pessoas jurídicas a terem


necessidade de buscar recursos financeiros. Visualizar os tipos de
financiamento que podem ser obtidos pelas pessoas jurídicas e aprender
a forma pela qual são contabilizados em seus balanços patrimoniais. Ter
contato com alguns produtos de crédito de curto e de longo prazo
ofertados para as Entidades Educacionais pelas instituições financeiras.
Conhecer as características dos títulos emitidos pelas Sociedades
Anônimas para captarem recursos financeiros de investidores no
mercado de capitais.
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

Você se lembra?

Você conhece os motivos que levam pessoas jurídicas a terem


necessidade de buscar recursos financeiros? Sabe como devem ser
contabilizados no balanço patrimonial os financiamentos obtidos por
pessoas jurídicas? Conhece os principais produtos de crédito de curto e
de longo prazo ofertados para as Entidades Educacionais? Será que já
ouviu falar que as Sociedades Anônimas podem captar recursos
financeiros de investidores no mercado de capitais? Nesta unidade, você
terá oportunidade de aprender estes e vários outros temas relacionados ao
estudo das fontes de financiamento para pessoas jurídicas. Bons estudos!

64
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

4.1 Finalidades da captação de recursos financeiros

No item 1.4 dessa apostila, dissemos que uma das principais


funções do departamento financeiro de uma organização é a
Administração de Passivos, ou seja, a obtenção de recursos financeiros
e o gerenciamento de sua composição, procurando definir a estrutura
mais adequada em termos de liquidez, redução de custos e risco
financeiro.
De acordo com Santos (2003), as pessoas jurídicas (organizações)
buscam obter recursos financeiros para atender a três finalidades básicas:
 Hot Money: destina-se a cobrir eventuais descasamentos de caixa,
ou seja, desequilíbrios entre os prazos de recebimento e pagamento,
ocorridos por poucos dias;
 Capital de giro: recursos para financiar o ciclo operacional das
organizações. Durante o ciclo operacional, organizações com
descasamentos de caixa buscam financiamentos para amortizar
dívidas com os fornecedores, funcionários e entidades
governamentais;
 Investimentos: recursos para financiar imobilizações (instalações,
máquinas, equipamentos e veículos), visando aumentar à
capacidade produtiva das organizações.

4.2 Tipos de fontes de financiamento

Para que as pessoas jurídicas (organizações) possam exercer suas


atividades, devem adquirir bens e direitos (matérias-primas, mercadorias,
máquinas, equipamentos etc), que serão contabilizados em seu ATIVO.
Para adquiri-los, necessitam de recursos financeiros. Quando uma

65
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

organização obtém tais recursos financeiros, deve contabilizá-los em seu


PASSIVO.
Conforme vimos no item 3.1 dessa apostila, as obrigações que uma
organização assume, ou seja, suas fontes de financiamento, estão
representadas no PASSIVO de seu balanço patrimonial e são
classificadas em dois grupos: próprio e de terceiros.

4.2.1 Fontes de Financiamento Próprio

 Autofinanciamento: ocorre quando os lucros obtidos pela


organização não são apropriados pelos sócios e são reinvestidos
nela mesma;
 Investimento dos sócios: ocorre quando os sócios investem mais
recursos na organização da qual são proprietários;
 Abertura do capital: ocorre quando a empresa se torna uma
Sociedade Anônima de capital aberto e vende ações no mercado de
capitais, passando a possuir mais sócios (vide subitem 4.6).

4.2.2 Fontes de Financiamento de Terceiros

 Instituições Financeiras: ocorre quando a organização obtém


empréstimos em instituições financeiras, principalmente em
Bancos Comerciais. Normalmente, as operações para Hot Money e
Capital de Giro são contabilizadas no item PASSIVO
CIRCULANTE do Balanço Patrimonial, enquanto as operações
para financiar Investimentos são contabilizadas no item EXIGÍVEL
EM LONGO PRAZO;
 Fornecedores: ocorre quando a organização compra matérias-
primas ou mercadorias dos fornecedores a prazo e passa a ter uma

66
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

dívida para com eles. Normalmente, tal dívida é contabilizada no


item PASSIVO CIRCULANTE do Balanço Patrimonial;
 Outros: além das organizações obterem recursos financeiros de
terceiros por intermédio de empréstimos bancários e da negociação
de prazos com seus fornecedores, elas também podem obtê-los
indiretamente, segundo Matias (2007), por
intermédio da prorrogação do prazo de
As fontes de recursos financeiros
pagamento de impostos e da folha de próprios são contabilizadas no item
Patrimônio Líquido do Balanço
pagamento dos funcionários. Patrimonial. As dívidas com terceiros
de curto prazo devem ser
contabilizadas no Passivo Circulante,
Caso observemos o Passivo Total enquanto as de longo prazo no
Exigível em Longo Prazo. Para
do Balanço Patrimonial de uma Weston e Brigham (2000), o crédito de
curto prazo é definido como qualquer
organização (vide Quadro 1), poderemos exigibilidade originalmente
programada para pagamento dentro
descobrir qual é a sua Estrutura de Capital, de um ano.

ou seja, quanto ela deve para os próprios sócios


(Patrimônio Líquido) e para terceiros (principalmente para
instituições financeiras e fornecedores).

Quadro 1. Estrutura de Capital de uma Organização

PASSIVO CIRCULANTE
(capital de terceiros de curto prazo)

ATIVO EXIGÍVEL EM LONGO PRAZO


(capital de terceiros de longo prazo)
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
(capital próprio)

67
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

4.3 Fontes de curto prazo via mercado de crédito

Os produtos apresentados na sequência recebem esta classificação


devido ao fato de as pessoas jurídicas programarem o pagamento da
obrigação para o período máximo de um ano.

Conta Garantida
Trata-se de uma conta de crédito com um valor-limite,
normalmente movimentada diretamente pelos cheques emitidos pelo
cliente, desde que não haja saldo disponível na conta corrente da
movimentação. À medida que, nessa última, existam valores disponíveis,
estes são transferidos de volta, para cobrir o saldo devedor da conta
garantida. Pode-se dizer que a conta garantida é o cheque especial para a
pessoa jurídica.
De acordo com Fortuna (1999), para o cliente, o produto garante
uma liquidez imediata para suas emergências. Para o banco, é um
instrumento mercadológico forte, mas que, se mal administrado, pode
representar uma perda significativa, tendo em vista seu impacto sobre a
administração de reservas bancárias, já que é necessário deixar recursos
de suas reservas de livre movimentação em stand by para atender à
eventual demanda e, portanto, sem aplicação.

Hot Money
É um empréstimo de curtíssimo prazo, normalmente por um dia, ou
um pouco mais, no máximo em 10 dias. É comum, de forma a simplificar
os procedimentos operacionais para os clientes tradicionais neste
produto, criar-se um contrato com um valor de limite de crédito,
estabelecendo as regras deste tipo de empréstimos e permitindo a
transferência de recursos ao cliente a partir de um simples telefonema ou

68
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

e-mail, garantidos por uma nota promissória já previamente assinada,


evitando-se assim o fluxo corrido de papéis para cada operação.

Empréstimos para Capital de Giro


São as operações tradicionais de empréstimos vinculadas a um
contrato específico que estabeleça prazo, taxas, valores e garantias
necessárias e que atendam às necessidades de capital de giro das
organizações. O plano de amortização é estabelecido de acordo com os
interesses e necessidades das partes e, normalmente, envolve prazos de
até 180 dias.
Em relação a garantias, Fortuna (1999) afirma que normalmente,
esse tipo de empréstimo é garantido por duplicatas, em geral numa
relação de 120% a 150% do valor principal que foi emprestado. Nesse
caso, as taxas de juros são mais baixas. Quando a garantia envolve aval e
notas promissórias, os juros são mais altos.

Desconto de Recebíveis
Recebível é um “título” que uma organização passa a possuir após
vender seus produtos ou serviços a prazo para um determinado cliente. O
recebível deverá ser pago na data do vencimento nele definido.
O desconto de recebíveis (cheques pré-datados, duplicatas,
comprovantes de venda via cartão de crédito e notas promissórias) é uma
operação de crédito em que a organização os negocia com um Banco
Comercial, este desconta do valor nominal do recebível uma taxa de
juros e credita na conta corrente da organização o valor líquido.
Além deste tipo de operação ser oferecida pelos Bancos
Comerciais, também é oferecida pelas empresas de Factoring.
Normalmente, as Factoring são de pequeno porte e atuam em uma única

69
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

cidade, sem possuírem filiais; portanto, como não possuem “economia de


escala”, cobram taxas de juros mais altas que os Bancos Comerciais.
A Instituição Financeira (Banco ou Factoring) passa a ter a
responsabilidade de receber o título na data do vencimento; portanto,
envia ao sacado um boleto bancário ou fica com o cheque pré-datado e
depois o deposita em sua conta corrente na data programada. Caso o
boleto não seja pago pelo sacado ou o cheque pré-datado não tenha
fundo, o valor será cobrado da organização e o título será devolvido.
Cabe à organização cobrar os recebíveis que não forem pagos por seus
clientes.
De acordo com Matias (2007), trata-se de uma operação de fácil
liberação em função da garantia oferecida (os próprios recebíveis), e que
facilita a análise de crédito. O principal cuidado tomado pelas
Instituições Financeiras quando descontam duplicatas está relacionado à
concentração de sacados, ou seja, tentam coibir uma carteira de
recebíveis que apresente um maior número de títulos emitidos contra um
único sacado, fato que aumenta o risco da operação em função da
capacidade de solvência deste sacado. As Instituições Financeiras têm
por hábito a checagem aleatória da qualidade e veracidade dos recebíveis
apresentados para desconto, bem como de sua análise por intermédio de
centrais de informações de crédito.

4.4 Fontes de longo prazo via


o credor que emite uma
duplicata recebe o nome de
mercado de crédito cedente, enquanto o devedor,
que efetuou a compra do
produto ou serviço com o
pagamento negociado a prazo,
Os empréstimos destinados à recebe o nome de sacado.
implantação de investimentos, cujo pagamento
das parcelas está programado para um período

70
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

superior a um ano, são classificados como fontes de longo prazo.


Dependendo do tipo de investimento que será implantado, as
instituições financeiras poderão oferecer empréstimos com características
diferentes (prazos, taxas de juros, carência, tipo de garantia etc.), que se
enquadrem na necessidade da organização que o está solicitando.
Como exemplo, podemos citar o Banco do Brasil. Segundo o site
Pede Verba (2010), ele opera algumas linhas de financiamento e
investimento atraentes, mas que, por não serem convencionais, são pouco
conhecidas. O Banco do Brasil é agente financeiro do BNDES e opera as
diversas linhas de financiamento e investimento para projetos ligados à
implantação, expansão, relocalização e modernização de atividades
produtivas ou de infraestrutura, capacitação tecnológica, treinamento e
qualificação de pessoal.
Cabe ao gestor financeiro da Entidade Educacional consultar as
instituições financeiras com as quais possui relacionamento, visando
conhecer às linhas de crédito e os tipos de
empréstimos que são oferecidos para a
Box Conexão:
implantação de investimentos. Acesse o site www.pedeverba.com.br para
ter acesso ao arquivo Empréstimos &
Financiamentos, que lista várias
4.4.1 FUNDEF / FUNDEB instituições, públicas e privadas, que
frequentemente atuam como parceiros na
implantação dos mais diversos tipos de
projetos. O arquivo conta com os nomes e
O que é FUNDEF e FUNDEB? com os endereços eletrônicos destes
parceiros, trazendo ainda uma série de
informações e os principais programas de
financiamento de cada um deles.
O FUNDEB é o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação. Esse novo fundo deverá substituir o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério (FUNDEF), instituído pela Emenda Constitucional n.º 14, de

71
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

setembro de 1996, regulamentado pela Lei n.º 9.424, de 24 de dezembro


do mesmo ano e pelo Decreto nº 2.264, de junho de 1997.
O FUNDEF foi implantado no país em 1º de janeiro de 1998,
quando passou a vigorar a nova sistemática de redistribuição dos recursos
destinados ao ensino fundamental. Em 2004, foram atendidos pelo
FUNDEF 32 milhões de alunos. Com a criação do FUNDEB, a previsão
é de que sejam atendidos mais de 47 milhões de estudantes.

Diferença entre FUNDEF e FUNDEB

Enquanto o FUNDEF destina-se exclusivamente ao ensino


fundamental, o FUNDEB financiará toda a Educação Básica: educação
infantil (creches para crianças de 0 a 3 anos e pré-escola para crianças de
4 a 6), o ensino fundamental e o ensino médio da rede pública, em todas
as modalidades de ensino (educação de jovens e adultos, educação
indígena, educação profissional, educação do campo e educação especial
- destinada às pessoas com deficiência).
Na proposta inicial do executivo, o FUNDEB não previa a inclusão
das creches, bem como de outras reivindicações da sociedade civil. Após
longa discussão entre os parlamentares da Comissão Especial - que
analisam a proposta de criação do novo fundo - e os ministérios da
Fazenda, do Planejamento e da Educação, além de muita pressão da
sociedade civil, as creches foram incluídas no parecer final.

Como funcionam?

Da mesma forma que o FUNDEF, no FUNDEB, parte da receita de


impostos estaduais e municipais vai para 27 fundos contábeis estaduais.
Os recursos retornam aos estados e aos municípios, conforme o número

72
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

de matrículas existentes em suas redes de ensino. Devido às profundas


desigualdades econômicas entre estados e regiões do país, a União exerce
um importante papel redistributivo.
Assim, em janeiro de cada ano, ela decreta um valor de
investimento mínimo por aluno, abaixo do qual nenhum estado nem o
Distrito Federal poderão ficar. Os que estiverem abaixo desse valor
recebem uma complementação para que alcancem o valor mínimo
nacional por aluno.
Com o atual FUNDEF, o governo federal investe em média R$ 570
milhões/ano para a complementação do fundo. Já o FUNDEB, que terá
duração de 14 anos (2006 a 2019), será implantado de forma gradativa
nos quatro primeiros anos, e durante esse período, o fundo receberá R$
4,5 bilhões da União. A partir do quinto ano, 10% da arrecadação do
governo federal terá de ser destinada à educação básica.

4.5 Recursos financeiros via mercado de capitais

Além das organizações conseguirem levantar recursos financeiros


junto às instituições financeiras, também podem obter recursos de
investidores via mercado de capitais, desde que sejam constituídas
juridicamente como Sociedades Anônimas (S/A). O mercado de capitais
pode ser definido como o “lugar” onde são comprados e vendidos títulos
chamados de valores mobiliários (debêntures, commercial papers e
ações).
Quando os investidores direcionam seus recursos financeiros às
Sociedades Anônimas que procuram o mercado de capitais, podem
assumir dois tipos de papéis diferentes:
 Credor: quando compra um título de crédito (debênture ou
commercial paper) emitido por uma sociedade anônima de capital

73
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

aberto ou de capital fechado. Nesse caso, a S/A passa a ter um


dívida com o investidor, com prazo de vencimento e incidência de
juros, que é contabilizada no Passivo Circulante (quando o título é
de curto prazo) ou no Exigível a Longo Prazo (quando o título é de
longo prazo);
 Sócio: quando compra uma ação emitida por uma Sociedade
Anônima de capital aberto. Nesse caso, a S/A passa a ter um
“compromisso” com o investidor, mas não há prazo de
vencimento nem incidência de juros, pois, na verdade, ele se tornou
sócio da empresa, com direito a receber dividendos caso a S/A
obtenha lucro. Portanto, o “compromisso” com o novo sócio é
contabilizado no Patrimônio Líquido.

Sociedade Anônima: é uma forma de


constituição de empresas na qual o capital social
não se encontra atribuído a um nome específico,
mas está dividido em ações que podem ser
negociadas livremente, sem necessidade de
Sede da Petrobras S/A (RJ)
escritura pública. (http://pt.wikipedia.org).
FONTE: BANCO DE IMAGENS DA EDITORA COC - ID: 12313.

4.6 Valores Mobiliários negociados no mercado de capitais

No subitem anterior, você pôde observar que as Sociedades


Anônimas podem obter recursos financeiros via mercado de capitais de
duas formas: emitindo títulos de crédito (debênture ou commercial
paper), passando a ter credores, ou emitindo novas ações, passando a ter
novos sócios. Na sequência, apresentaremos as principais características
dos commercial papers, das debêntures e das ações.

74
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

Commercial Papers
São títulos de crédito emitidos por sociedades anônimas não
financeiras, que possuem as seguintes características:
 Vencimento: o prazo mínimo deve ser de 30 dias e o máximo de
180 dias para S/A de capital fechado e 360 dias para S/A de capital
aberto;
 Remuneração e forma de pagamento: na data de emissão, o título é
vendido com deságio, ficando implícita uma taxa de juros,
normalmente pré-fixada (15% ao ano). No vencimento, resgata-se o
valor nominal do título;
 Garantia: sem garantia real, podendo ser garantido por fiança
bancária;
 Negociação: normalmente ocorre na Bolsa e é registrada no
Bovespa Fix (sistema de negociação de
títulos de renda fixa). As S/A também
podem colocar os títulos diretamente A vantagem para a S/A em relação a
um empréstimo bancário é que o
aos investidores. commercial paper é isento do
Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF). Além disso, ao
optar por esse título, ela manterá
Debêntures suas linhas de crédito bancário
sem utilização, o que aumenta suas
São títulos de crédito emitidos por S/A fontes de financiamento.

não financeira de capital aberto. Principais


características:
 Vencimento: nunca deve ser inferior a um ano. Há exemplos de
debêntures com prazo de 10 anos ou mais;
 Remuneração e forma de pagamento: juros pré-fixados (15% ao
ano) ou pós-fixados (8% ao ano + IGPM) pagos
periodicamente (semestre ou ano) e principal no
vencimento final do título;

75
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

 Garantia: normalmente possui garantia “flutuante”, ou seja, o


próprio ativo da empresa, sem definição específica. Também pode
possuir garantia real, ou seja, a S/A, emissora da debênture, oferece
como garantia um bem específico;
 Processo: a emissão e as características das debêntures devem ser
aprovadas pelos sócios em assembleia;
 Negociação: ocorre na Bolsa de Valores e é intermediada por uma
corretora de valores.

Ações
O valor mobiliário mais conhecido é a ação, que pode ser definida
como o título representativo da menor fração do capital social de uma
empresa. Uma ação não tem prazo de resgate, sendo convertida em
dinheiro a qualquer momento mediante negociação no mercado.
Basicamente, existem dois tipos de ações:
 Ordinárias (ON): conferem ao seu titular o direito de voto na
assembleia de acionistas. Cada ação dá direito a um voto;
 Preferenciais (PN): que oferecem preferência, em relação aos
acionistas ordinários, no recebimento de dividendos ou no
reembolso do capital em caso de liquidação da companhia.

Atividades

1º) Relacione as fontes de financiamento utilizadas pela Entidade


Educacional onde atua e os motivos pelos quais elas são utilizadas.
2º) Tente obter o Balanço Patrimonial da Entidade Educacional onde
atua para que possa conhecer sua Estrutura de Capital, ou seja,
quanto ela deve para os próprios sócios (Patrimônio Líquido) e para
terceiros (Passivo Circulante e Exigível em Longo Prazo).

76
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

4.7 Reflexão

As pessoas jurídicas buscam obter recursos financeiros para atender


a três finalidades básicas: hot money, capital de giro e investimentos. As
fontes de financiamento das pessoas jurídicas são classificadas em dois
grupos: próprio e de terceiros. As fontes de financiamento próprio são o
autofinanciamento, os novos investimentos feitos pelos sócios e a
abertura do capital. As instituições financeiras são a principal fonte de
financiamento de terceiros, oferecendo produtos de curto e de longo
prazo.
Além das pessoas jurídicas conseguirem levantar recursos
financeiros junto às instituições financeiras, também podem obter
recursos de investidores via mercado de capitais, desde que sejam
constituídas juridicamente como Sociedades Anônimas (S/A). Os títulos
negociados no mercado de capitais são chamados de valores mobiliários
(debêntures, commercial papers e ações).

4.8 Leitura recomendada

Sugere-se a leitura do artigo discriminado abaixo:

Título do artigo: Noções gerais sobre o financiamento da


educação no Brasil
Autores: José Marcelino de Rezende Pinto e Thereza Adrião
Fonte: http://portal.uninove.br

77
Educação Gestão Educacional – Unidade 4

4.9 Referências

ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. São Paulo:


Atlas, 2003.

FORTUNA, Eduardo. Mercado financeiro: produtos e serviços. 12º ed.


Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.

GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira –


essencial. 2º ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

MATIAS, Alberto Borges (coordenador). Finanças corporativas de


curto prazo: a gestão do valor do capital de giro. São Paulo: Atlas,
2007.

PEDE VERBA. Empréstimos e Financiamentos. Disponível em:


<www.pedeverba.com.br>. Acesso em fev 2011.

SANTOS, José Odálio dos. Análise de Crédito: empresas e pessoas


físicas. 2º ed. São Paulo: Atlas, 2003.

WESTON, J. Fred e BRIGHAM, Eugene F. Fundamentos da


Administração Financeira. São Paulo: Makron Books, 2000.

78
GESTÃO DOS
VALORES A RECEBER

Na Unidade 5, apresentaremos o
conceito de política de crédito, assim como os
elementos que devem compô-lo. Posteriormente,
veremos como deve ser elaborada uma análise de
crédito e mostraremos a importância de se elaborar também
a pontuação e a classificação de crédito dos clientes de uma
organização (credit score e rating). No final da unidade 5,
conheceremos o conceito de política de cobrança, assim como as
principais técnicas que devem ser utilizadas pelas organizações para
realizar tal atividade.

Objetivos da sua aprendizagem

Conhecer a relação entre os elementos da política de crédito e o


volume de vendas de uma organização. Visualizar as etapas que
compõem um modelo de processo de análise de crédito. Entender a
importância de se elaborar a pontuação e a classificação de crédito dos
clientes de uma organização Aprender as técnicas de cobrança mais
utilizadas para se cobrar clientes em atraso.
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

Você se lembra?

Você conhece as etapas que devem compor um processo de análise


de crédito? Será que já ouviu falar em credit score e rating? Você sabe
que as técnicas de cobrança devem ser utilizadas dentro de uma
sequência lógica? Nesta unidade, você terá oportunidade de aprender
estes e vários outros temas relacionados ao estudo da gestão dos valores a
receber. Bons estudos!

80
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

5.1 Política de crédito

No mundo corporativo atual, a imensa maioria das organizações


possui um percentual maior de vendas a prazo que à vista. Na verdade,
segundo Weston e Brigham (2000), as organizações prefeririam vender à
vista que a prazo. Porém, as pressões competitivas (concorrência) forçam
a maioria delas a oferecer crédito.
Além do problema do aumento no ciclo de caixa (período de tempo
entre o momento do desembolso para se pagar as despesas e o momento
no qual se recebem as receitas), que pode ser contornado com um
aumento nas margens de lucro dos produtos e serviços, as vendas a prazo
sujeitam as organizações a riscos que não existem nas vendas à vista,
associados à possibilidade de não-recebimento. Para contornar este outro
problema, é necessário que a organização defina uma política de crédito.
No estudo da Administração das Organizações, a palavra política,
de acordo com Oliveira (1998), significa: parâmetro ou orientação para a
tomada de decisão, definição dos níveis de delegação, faixas de valores
e/ou quantidades-limites e de abrangência das ações para que os
objetivos sejam atingidos. A palavra crédito, segundo Assaf Neto
(2003), diz respeito à troca de bens presentes por bens
futuros. De um lado, uma organização que
concede crédito troca produtos por uma
promessa de pagamento futuro. Já uma
O “fornecimento de crédito”
organização que obtém crédito recebe ocorre quando é feita a venda
de um produto ou serviço, cujo
produtos e assume o compromisso de efetuar recebimento ocorrerá no futuro.
o pagamento futuro.
Diante das duas definições, pode-se
conceituar política de crédito como o conjunto de
parâmetros, regras e procedimentos utilizados por uma organização para

81
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

fornecer crédito aos seus clientes.

5.2 Elementos de uma política de crédito

A política de crédito de uma organização, segundo Assaf Neto


(2003), deve ser composta por três principais elementos: padrões de
crédito, prazo de crédito e descontos financeiros. Para que tal política
fique mais completa, também é necessário que sejam incluídos três
outros elementos: limite de crédito, taxas de juros e garantias.
 Padrões de crédito: o padrão tem relação com os critérios
mínimos para a liberação de crédito a um cliente. Estes critérios
podem ser rígidos ou não. Quanto mais rígidos, em tese, menores
serão os riscos de inadimplência e insolvência, mas também,
menores os volumes de venda;
 Prazo de crédito: o prazo tem relação ao tempo médio de
recebimento. Em tese, quanto maior o prazo, maior também será a
chance de não-recebimento. Por outro lado, o aumento do prazo de
recebimento tende a gerar um aumento nas vendas.
 Descontos financeiros: o desconto para a venda à vista ou
antecipação de pagamento pode motivar os clientes a escolherem
tal forma de pagamento, fazendo com que a organização adiante
recebimentos, melhorando, dessa forma, seu ciclo de caixa.
 Limite de crédito: refere-se ao valor total de crédito que
determinado cliente poderá ter com a organização. Quanto maior o
limite, mais o cliente poderá comprar, aumentando o faturamento.
Por outro lado, quanto maior o valor devido, maior será a perda
caso o cliente deixe de pagar;
 Taxas de juros: é uma taxa aplicada ao valor à vista para se
encontrar o valor a prazo. Quanto maior a taxa, maior será o preço

82
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

a prazo, diminuindo, por consequência, o volume vendido.


Logicamente, taxas de juros mais baixas farão com que as vendas
aumentem, pois o preço a prazo ficará mais baixo;
 Garantias: é a vinculação de um bem ou de uma responsabilidade
conversível em dinheiro, que assegure a liquidação do crédito.
Existem, basicamente, dois tipos de garantia: a garantia pessoal
(ex: avalista) e a garantia real (ex: o carro financiado fica como
garantia do crédito concedido). Quanto maior for a exigência de
garantias, menor tende a ser o volume vendido.
Caso você analise os elementos que devem compor a política de
crédito de uma organização, poderá observar que influirão diretamente
no volume de vendas e, consequentemente, no volume de produção.
Assim sendo, as organizações que adotam políticas de crédito
conservadoras tendem a ter um volume de vendas menor que as que
adotam políticas mais arrojadas. Em contrapartida, as arrojadas têm
maiores chances de perdas com clientes que deixarão de pagar suas
dívidas. Na sequência, são apresentadas as características das políticas de
crédito conservadoras e arrojadas:
 Política de crédito conservadora: os padrões de crédito são mais
rígidos, os prazos para vendas a prazo são menos extensos, os
descontos financeiros são altos, os limites de crédito são menores,
as taxas de juros mais altas e são exigidas garantias (pessoais ou
reais);
 Política de crédito arrojada: os padrões de crédito são menos
rígidos, os prazos para vendas a prazo são mais extensos, os
descontos financeiros são baixos, os limites de crédito são maiores,
as taxas de juros mais baixas e não são exigidas garantias (pessoais
ou reais).

83
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

Quando se trata do tema política de crédito, outro ponto importante


a ser destacado é o aumento de gastos que uma organização terá ao
passar a vender a prazo. Dentre tais gastos, Assaf Neto (2003) destaca:
 Despesas de crédito: envolvem os gastos com a manutenção de
uma área de crédito, tais como: pessoal (salário, encargos e
benefícios), material de escritório, serviços de informação
contratados (Serasa e SPC) etc;
 Despesas de cobrança: envolvem os gastos com a manutenção de
uma área de cobrança, tais como: pessoal (salário, encargos e
benefícios), material de escritório, ações judiciais etc;
 Insolvência de clientes: perdas referentes a clientes que não
pagaram sua dívida.
Obviamente, uma organização que vende a prazo tem gastos
maiores que uma organização que só vende à vista. Portanto, tais gastos
devem ser repassados ao preço do produto. A forma de se repassar tais
gastos ao preço é a utilização de uma taxa de juros para as vendas a
prazo.
SPC: o Serviço de Proteção ao Crédito é um
serviço prestado no Brasil pela empresa SPC
Brasil, para entidades que queiram saber a
situação de adimplência e inadimplência de
pessoas físicas ou jurídicas em uma relação de
negócios. (http://pt.wikipedia.org).
Serasa: é uma empresa brasileira que presta
serviços de informações para decisões de crédito.
Presta serviços dentro do Brasil e em outros
países, por meio de parcerias com outras
empresas de informações.
(http://pt.wikipedia.org).
FONTE: BANCO DE IMAGENS DA EDITORA COC - ID: 188001.

84
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

No caso das Entidades Educacionais privadas, normalmente, não


são utilizadas taxas de juros para o pagamento das mensalidades. Porém,
para evitar problemas futuros com inadimplência, pode-se oferecer um
desconto para os alunos que paguem o valor integral do curso em uma
única parcela (anual), ou mesmo em duas (semestral).
Deve-se calcular o valor do curso anual colocando-se uma margem
de lucro mais alta, que permita que se dê o desconto caso o aluno faça o
pagamento anual ou semestral. Ao se colocar uma margem de lucro mais
alta nos preços dos cursos, as Entidades Educacionais privadas ficam
com uma margem de segurança financeira, possibilitando que arquem
com possíveis casos de inadimplência.

5.3 Análise de crédito

Após uma organização definir as características dos elementos que


compõem sua política de crédito, deve definir como será seu processo de
análise de crédito. Santos (2003) comenta que o objetivo do processo de
análise de crédito é o de averiguar se o cliente possui idoneidade e
capacidade financeira para amortizar a dívida.
Caso o processo de análise de crédito seja eficaz, a lucratividade da
organização aumentará, pois serão reduzidas as perdas com clientes que
se tornam insolventes (não conseguem quitar sua dívida). Isto ocorre pelo
fato de tais clientes não terem seus créditos aprovados.
Entre as técnicas utilizadas para se realizar uma análise de crédito,
a mais utilizada pelas organizações é chamada de análise subjetiva. De
acordo com Santos (2003), a análise subjetiva, ou caso a caso, é baseada
na experiência adquirida pelos analistas de crédito, no conhecimento
técnico no bom-senso e na disponibilidade de informações (internas e
externas) que possibilitem diagnosticar se o cliente possui idoneidade e

85
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

capacidade de gerar receita para honrar o pagamento do crédito


concedido.
A análise subjetiva consiste na coleta de dados do cliente que está
pleiteando o crédito. Posteriormente, os dados serão avaliados pelo
analista de crédito e a venda a prazo será liberada ou não. Caso o crédito
seja liberado, o analista deve estipular, dentro dos parâmetros da política
definida pela organização, as características do
crédito liberado: limite, taxa de juros, prazo
A profundidade de uma análise de
e garantia. crédito está diretamente relacionada
ao valor que está sendo pleiteado.
Como as pessoas físicas (pessoas) Quanto maior o valor, maior a
profundidade da análise. Você pode
e jurídicas (organizações) possuem verificar tal diferença ao observar os
processos bancários de análise para
características diferentes, os processos concessão de cheque especial e
financiamento habitacional. O
de análise de crédito para analisá-las são processo de análise para o cheque
especial é bem mais simples, pois o
diferentes. Para que você conheça um valor a ser liberado é bem menor.
modelo, apresentaremos as etapas de um
processo de análise de crédito para pessoas físicas:
1ª) Análise de Idoneidade: sugere-se que seja a primeira informação
averiguada. Caso o cliente não apresente informações negativas, ou
tenha regularizado as restrições existentes, as demais
informações deverão ser coletadas. As informações sobre a
idoneidade do cliente podem ser obtidas por
intermédio de organizações de proteção ao crédito,
tais como o Serasa e o SPC;
2ª) Análise Cadastral: refere-se à análise de dados de identificação
dos clientes, tais como: escolaridade, estado civil, idade, número de
dependentes, tipo de moradia (própria ou alugada), tempo no
emprego atual etc;
3ª) Análise Financeira: consiste na identificação da renda do cliente e
posterior análise de compatibilidade com o crédito que está sendo

86
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

pleiteado. Normalmente, o valor da parcela mensal do crédito não


deve ultrapassar 30% da renda total do cliente. A fonte mais usual
para determinação da renda do cliente é o demonstrativo de
pagamento (holerite);
4ª) Análise de Relacionamento: baseia-se em informações sobre o
caráter do cliente e seu relacionamento com o mercado de crédito.
Tais informações podem ser obtidas em instituições financeiras
(referências bancárias), em outras organizações com as quais o
cliente se relaciona (referências comerciais) e com pessoas físicas
(referências pessoais).
5ª) Análise Patrimonial: é importante que os credores obtenham
informações sobre o patrimônio dos clientes, para que possam
vinculá-lo em contratos de crédito, sempre que constatarem
aumento de risco e/ou julgarem necessário. O patrimônio de uma
pessoa física pode ser obtido por intermédio da declaração do
imposto de renda ou de documentos que comprovem a posse de um
bem (documento de um veículo ou escritura de um imóvel);
6ª) Análise do Negócio: quando pessoas físicas têm suas rendas
extraídas de atividade empresarial, liberal ou autônoma, os
analistas de crédito devem coletar informações (cadastrais, de
idoneidade e financeiras) do negócio e de seus gestores. A análise
do negócio é importante para que se verifique se a renda obtida
pela pessoa física tem perspectivas de continuidade ou pode cessar
a qualquer momento. Exemplo: uma pessoa que trabalhe em um
segmento de mercado que esteja em crise pode perder o emprego a
qualquer momento e vir a se tornar inadimplente.

87
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

5.4 Pontuação de crédito (Credit Score)

Pudemos observar no subitem anterior que o primeiro passo no


processo de análise de crédito é a coleta de dados do cliente.
Posteriormente, para cada um dos dados coletados, devemos atribuir uma
nota. Quanto maior a nota atribuída, menor a chance de o cliente vir a se
tornar insolvente (não pagar a dívida).
Ao final deste procedimento, ao se atribuir um “peso” para cada
nota e somá-las, cada cliente terá uma pontuação de crédito (também
conhecida como credit score). O “peso” é atribuído para cada uma das
notas porque alguns dados são considerados mais importantes que outros
(para dados mais importantes é atribuído um peso maior). Segundo
Gitman (2003), a pontuação final de crédito é tirada de uma média
ponderada de notas obtidas em características-chave financeiras e de
crédito.
Cada organização deve definir internamente as notas e os pesos
para cada um dos dados coletados dos clientes, pois, segundo Matias
(2007), os sistemas de credit score são únicos porque são baseados em
experiências individuais dos credores com seus clientes. Para
desenvolver um sistema de notas e pesos, a organização deve escolher
uma amostra aleatória de seus clientes e analisá-la estatisticamente,
visando a identificar os dados que poderão ser utilizados para demonstrar
credibilidade.
Para ilustrar um sistema de credit score, recorre-se ao exemplo
apresentado por Megliorini e Da Silva (2009), o qual contempla as
seguintes variáveis com as respectivas pontuações, pesos e pontuação de
crédito:

88
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

QUADRO 1. MODELO DE CREDIT SCORE


VARIÁVEIS PONTUAÇÃO PESO PONTUAÇÃO
PONDERADA
Tempo de 40 30% 12
atividade
Faturamento 60 20% 12
mensal
Imóvel próprio 100 20% 20
Histórico de 80 30% 24
pagamentos
TOTAL 100% 68
FONTE: MEGLIORINI E DA SILVA (2009)

Conforme diretrizes da organização, para cada variável é atribuída


uma pontuação que varia entre 0 e 100. Os pesos de cada variável são
ponderados pela pontuação a ela atribuída, o que determina a pontuação
final do cliente. O total de pontos é confrontado com os padrões de
crédito da organização, definindo-se, então, o limite de crédito do cliente,
ou negando o crédito a ele. Os padrões de crédito da organização são:
 Até 50 pontos: negado o crédito;
 Entre 51 e 70 pontos: aprovado o crédito até um valor máximo
estipulado pela diretoria da organização;
 Acima de 71 pontos: concedido crédito em condições especiais.
Quando a organização finaliza o processo, cada cliente terá sua
pontuação de crédito (credit score). É importante ressaltar que, em tese,
quanto maior a pontuação obtida, menor será a probabilidade do cliente
se tornar insolvente.

89
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

5.5 Classificação de créditos (Rating)

Depois de definir as pontuações de crédito de cada um de seus


clientes, a organização deve classificá-los, levando em conta o risco de
insolvência que apresentam. Tal procedimento é mais conhecido no
mercado como rating. Utilizando o exemplo de credit score que
apresentamos (vide Quadro 1), a organização poderia elaborar a seguinte
classificação de seus clientes (rating):

QUADRO 2. MODELO DE RATING DE CLIENTES.


PONTUAÇÃO CLASSIFICAÇÃO DO
PONDERADA CLIENTE
91 A 100 A
81 A 90 B
71 A 80 C
61 A 70 D
51 A 70 E
0 A 50 F

A elaboração da classificação dos clientes é muito importante para


as organizações, pois permite que forneçam condições melhores de
crédito àqueles que apresentem menores riscos de insolvência.
Observando o Quadro 2 e conhecendo os padrões de crédito da
organização apresentados no subitem anterior, você pode constatar que
os clientes classificados como “F” teriam o crédito negado, podendo
comprar somente à vista. Por outro lado, para os clientes classificados
como “A” podem ser oferecidas taxas de juros menores, limites de
crédito e prazos de pagamento maiores.

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Educação Gestão Educacional – Unidade 5

Segundo Santos (2003), os ratings são opiniões sobre a capacidade


futura dos devedores de efetuarem, dentro do prazo, o pagamento do
principal e dos juros de suas obrigações. Assim, refletem o conjunto de
observações e percepções de risco das agências especializadas, e não
devem, em hipótese alguma, ser utilizados isoladamente como parâmetro
para justificar decisões em propostas de crédito, investimentos em títulos
de renda variável, transações financeiras estruturadas etc.
Santos (2003) também lembra que, uma vez publicado o rating,
este permanecerá sob constante monitoramento do “classificador”, que
tem a prerrogativa de ir ao mercado para informar aos investidores acerca
de eventuais alterações no risco percebido. Os sistemas de ratings estão
sujeitos a variações qualitativas, influenciadas, entre outros, pelos
seguintes aspectos: competência técnica e experiência dos avaliadores,
metodologia de mensuração de riscos empregada; modelo de coleta,
qualidade e confiabilidade das fontes de informações utilizadas no
desenvolvimento da análise.

5.6 Política de cobrança

Por melhor que seja o processo de análise de crédito de uma


organização, com certeza existirão clientes que não pagarão sua dívida na
data do vencimento. Portanto, além de se definir uma política de crédito,
é imprescindível que também seja definida uma política de cobrança, ou
seja, um conjunto de parâmetros, regras e procedimentos que a
organização utilizará para cobrar os clientes que não quitam sua dívida na
data correta.
De acordo com Matias (2007), existem cinco tipos de
comportamento de pagamento por parte dos clientes:

91
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

 Pagamento antecipado: o cliente prefere honrar antecipadamente


seu débito, quer para evitar perder o dia do pagamento, quer para
tentar obter descontos;
 Pagamento na data do vencimento: esta é a situação mais
comum*;
 Pagamento com atraso: parte dos clientes atrasa o pagamento de
seus compromissos, sendo alguns de forma eventual e outros de
forma contínua;
 Pagamento com renegociação: constituem-se em clientes com
maior dificuldade para pagamento, que acabam por renegociar seus
débitos junto ao credor. Consideram-se, aqui, atrasos entre 31 e 180
dias;
 Não pagamento: constitui-se na perda de crédito. Consideram-se,
aqui, atrasos superiores há 180 dias, que passam a fazer parte de
ações judiciais para recuperação do crédito.

Em decorrência dos cinco tipos de comportamento de pagamento,


os clientes podem ser classificados em três grupos:
a) Adimplentes: são clientes que pagam em dia
ou antecipadamente, ou seja, aqueles
que não apresentam nenhuma *Dados de instituições financeiras
do período de 2000 a 2004 indicam
obrigação “em aberto” com a que, em média, os adimplentes
organização; representam em torno de 85% dos
clientes, os inadimplentes cerca
b) Inadimplentes: são clientes que de 11%, e os insolventes, aqui
entendidos como os que não
pagam com atraso de até 30 dias; pagam há mais de 180 dias, cerca
de 4%. (MATIAS, 2007).
c) Insolventes: são clientes que estão em
fase de renegociação de dívidas vencidas
há mais de 31 dias. A recuperação de créditos é o
grande objetivo do processo de cobrança e pode ser classificada

92
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

como amigável (acordo entre as partes) ou judicial (envolve uma


ação na justiça).
A renegociação de dívidas pode ser classificada como uma técnica
amigável para recuperação de créditos e, segundo Matias (2007), é o
meio mais tranquilo e seguro para que credor e devedor, juntos, façam
uma composição adequada, em que possam ser estabelecidos novos
valores e prazos para pagamento, assim como garantias. É a medida mais
saudável em um contexto de inadimplência, pois ambas as partes
acordam para a legítima liquidação da dívida.
A renegociação, que pode ser feita por intermédio do telefone ou
pessoalmente, é uma técnica muito importante, porém, não é o primeiro
passo a ser dado no processo de cobrança. Gitman (2003) apresenta
diversas outras técnicas de cobrança, lembrando que à medida que uma
conta se torna cada vez mais vencida, o esforço de cobrança deve se
tornar cada vez mais pessoal e mais intenso. Diante dessa afirmação,
você pode concluir que as técnicas de cobrança devem ser utilizadas
dentro de uma sequência lógica. Abaixo, são listadas sugestões de
algumas técnicas de cobrança, apresentadas dentro da ordem na qual
devem ser utilizadas:
1º) Cartas: após um certo número de dias, a organização envia uma
carta educada lembrando ao cliente de sua conta vencida. Se a
conta não é paga dentro de certo período após o envio da carta, uma
segunda carta mais exigente é enviada, podendo conter um aviso de
possível inclusão do nome do cliente em Instituições de Proteção
ao Crédito (ex: Serasa) caso a conta não seja paga até certa data;
2º) Telefonemas: se as cartas não surtirem o efeito desejado, um
telefonema pode ser feito para o cliente, solicitando o pagamento
imediato. Caso o cliente tenha uma desculpa razoável, um acordo
pode ser feito para estender o período do pagamento. Um

93
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

telefonema do advogado do credor pode ser usado se todas as


outras discussões parecerem não ter sucesso;
3º) Visitas pessoais: essa técnica é muito mais comum ao nível de
crédito ao consumidor, mas também pode ser empregada por
fornecedores da indústria. Enviar um vendedor local ou um
cobrador para confrontar o cliente pode ser muito eficiente. O
pagamento pode ser feito no local;
4º) Empresas de cobrança: uma organização pode levar suas contas
não-cobradas para uma empresa de cobrança ou para um advogado.
As taxas para esses serviços são um tanto altas e a organização
pode receber menos que 50 centavos sobre a unidade monetária de
uma conta cobrada dessa forma;
5º) Ação judicial: é o passo mais rigoroso no processo de cobrança. É
uma alternativa para o uso da empresa de cobrança. Não apenas sua
ação legal direta é cara, mas pode forçar o devedor a ir à falência,
por conseguinte, reduzindo a possibilidade de um futuro negócio
sem garantir ao final o recebimento do montante vencido.

Empresas de cobrança: caso a empresa não


queira estruturar um departamento de cobrança,
pode terceirizar tal serviço para empresas
especializadas nesta atividade, concentrando-se,
dessa forma, somente em sua atividade principal,
que é produzir e vender seu produto ou serviço.
FONTE: BANCO DE IMAGENS DA EDITORA COC - ID: 188004.

Cada organização deve definir sua política de cobrança de acordo


com as características de seu negócio e de seus clientes. Portanto, os
prazos para se colocar em prática as técnicas de cobrança podem variar.
Weston e Brigham (2000) sugerem, por exemplo, que uma carta

94
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

amigável pode ser enviada aos clientes quando uma conta venceu há dez
dias; uma carta mais severa, seguida de um telefonema, pode ser enviada
se o pagamento não é recebido dentro de 30 dias; e a conta pode ser
entregue a uma empresa de cobrança após 90 dias.

Atividades

Para que você possa revisar os conceitos teóricos apresentados,


responda às seguintes questões:
1°) Quais são os dois problemas gerados quando uma organização
vende a prazo para seus clientes? Cite e comente o que pode ser
feito para amenizar tais problemas.
2°) O que é credit score e rating? É possível utilizarmos tais
“instrumentos” em Entidades Educacionais? Por quê?
3°) As organizações podem ter problemas de insatisfação com seus
clientes caso não utilizem as técnicas de cobrança dentro de uma
seqUência lógica? Por quê?

5.7 Reflexão

Política de crédito é o conjunto de parâmetros, regras e


procedimentos utilizados por uma organização para fornecer crédito aos
seus clientes, devendo ser composta pelos seguintes elementos: padrões
de crédito, prazo de crédito, descontos financeiros, limite de crédito,
taxas de juros e garantias.
Análise de crédito é o processo de averiguação da idoneidade e da
capacidade financeira dos clientes de uma organização, visando verificar
se possuem condições para amortizar a dívida que estão querendo
contrair. Utilizando os dados obtidos por intermédio da análise de

95
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

crédito, a organização deve definir as pontuações de crédito (credit


score) de cada um de seus clientes. Posteriormente, deve classificá-los
(rating), levando em conta o risco de insolvência que apresentam. A
elaboração da classificação dos clientes (rating) é muito importante para
as organizações, pois permite que forneçam condições melhores de
crédito àqueles que apresentem menores riscos de insolvência.
Política de cobrança é o conjunto de parâmetros, regras e
procedimentos utilizados por uma organização para cobrar os clientes
que não quitam sua dívida na data correta. As técnicas de cobrança
devem ser utilizadas seguindo uma ordem lógica, ou seja, à medida que
uma conta se torna cada vez mais vencida, a organização deve passar a
utilizar técnicas cada vez mais pessoais e mais intensas. Cada
organização deve definir sua política de cobrança de acordo com as
características de seu negócio e de seus clientes. Portanto, os prazos para
se colocar em prática as técnicas de cobrança podem variar.

5.8 Leitura recomendada

Sugere-se a leitura do artigo discriminado na sequência:

Título do artigo: Medidas abusivas do profissional de cobrança


Autor: Denis Siqueira
Fonte: www.creditoecobranca.com

5.9 Referências

ASSAF NETO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. São Paulo:


Atlas, 2003.

96
Educação Gestão Educacional – Unidade 5

GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira –


essencial. 2º ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

MATIAS, Alberto Borges (coordenador). Finanças corporativas de


curto prazo: a gestão do valor do capital de giro. São Paulo: Atlas,
2007.

MEGLIORINI, Evandir, DA SILVA, Marco Aurélio Vallim Reis.


Administração Financeira: uma abordagem prática. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2009.

OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Planejamento Estratégico:


conceitos, metodologia e práticas. 12º ed. São Paulo: Atlas, 1998.

SANTOS, José Odálio dos. Análise de Crédito: empresas e pessoas


físicas. 2º ed. São Paulo: Atlas, 2003.

WESTON, J. Fred e BRIGHAM, Eugene F. Fundamentos da


Administração Financeira. São Paulo: Makron Books, 2000.

97
ORÇAMENTO
EMPRESARIAL

Na Unidade 6, você aprenderá o


conceito e as principais características do
orçamento empresarial, assim como sua utilização
como um instrumento de planejamento e controle. Além
disso, conhecerá os princípios, as vantagens e as limitações
da utilização do orçamento nas organizações. Ao final da
Unidade 6, teremos contato com um método de elaboração do
orçamento empresarial.

Objetivos da sua aprendizagem

Conhecer o conceito e as características do orçamento elaborado


por uma organização, assim como os motivos pelos quais o orçamento
empresarial é considerado um instrumento de planejamento e controle.
Ter contato com as orientações, atividades e abordagens administrativas
desejáveis para a devida utilização do orçamento empresarial, assim
como suas vantagens e limitações. Ao final da Unidade, irá aprender
um método para implantação de um programa de orçamento.

Você se lembra?

Você se lembra de ter ouvido falar em orçamento? Será


que sabe o que o orçamento realmente significa para as
organizações? Nesta unidade, você terá oportunidade de
conhecer este antigo e importante instrumento de
gestão empresarial. Vamos então conhecê-lo!
Bons estudos!
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

6.1 Conceito e características

Segundo o dicionário “Aurélio”, a palavra orçamento tem dois


significados: 1. Ato ou efeito de orçar; avaliação; 2. cálculo da receita e
dos gastos. No dia a dia, a grande maioria das pessoas conhece e utiliza a
palavra orçamento com o sentido de cotação de preços. Por exemplo, a
esposa e o marido estão fazendo um orçamento para compra de um novo
aparelho de DVD, ou seja, estão cotando preços para adquirir um novo
eletroeletrônico.
Para a ciência da Administração, a palavra orçamento é mais
utilizada para designar o cálculo das receitas e gastos de uma
organização, ou seja, com seu segundo significado. Portanto, quando
ouvimos que uma organização está fazendo seu orçamento, significa que
ela está projetando suas receitas e gastos para o futuro e não
simplesmente fazendo uma cotação de preços.
De acordo com Lunkes (2009), o orçamento empresarial pode ser
definido como um plano dos processos operacionais para um
determinado período. Tal autor afirma que o orçamento é uma forma
representativa dos objetivos econômico-financeiros a serem atingidos por
uma organização, expresso por meio da formalização das
projeções de suas receitas e gastos.

Para se fazer as projeções, deve-se Orçamento empresarial é a


projeção de receitas e gastos
definir uma unidade de tempo. que uma organização elabora
para um determinado período
de tempo.
Quando o orçamento é elaborado por
uma organização, normalmente, a unidade de
tempo utilizada é o ano, subdividido em meses. Por
exemplo, quando um ano está terminando, faz-se a projeção de receitas e

99
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

gastos para todos os meses do ano que irá iniciar.


As origens da utilização do orçamento são antigas e estão no setor
público. Dentre as leis da constituição inglesa, escrita em 1689, encontra-
se uma que estabelecia que o poder executivo (rei e primeiro-ministro) só
poderia cobrar certos impostos ou gastar recursos mediante a autorização
do poder legislativo (Parlamento).
Lunkes (2009) afirma que o primeiro-ministro levava ao
parlamento os planos de gastos envoltos em uma grande bolsa de couro,
cerimônia que passou a ser chamada de opening the budget, ou abertura
da bolsa. Naquela época, na língua inglesa, a palavra budget significava
somente “bolsa grande”. A partir de 1800, a palavra budget foi
incorporada ao dicionário inglês com o significado de orçamento.
De acordo com Zdanowicz (1983), apud Lunkes (2009), em
organizações privadas, o primeiro registro de utilização do orçamento foi
em 1919, pela empresa Du Pont, nos Estados Unidos. No Brasil, apesar
do orçamento passar a ser foco de estudos a partir de 1940, somente
atingiu seu apogeu a partir de 1970, quando empresas passaram a adotá-
lo com mais frequência em suas atividades.
Atualmente, a grande maioria das empresas de grande porte utiliza
o orçamento como instrumento de planejamento e controle de suas
atividades. Infelizmente, por outro lado, as empresas de micro e pequeno
porte, principalmente por falta de conhecimento, não o utilizam.

6.2 Instrumento de planejamento

Na apresentação de sua obra, Sanvicente e Santos (1983) defendem


a ideia de que o orçamento é um instrumento de planejamento das
atividades de uma organização. Antes de concordarmos com tal
afirmação, é bom definir o que significa a palavra “instrumento”.

100
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

Recorrendo novamente ao dicionário “Aurélio”, a palavra instrumento


significa: o recurso empregado para se alcançar um objetivo.
Diante dessa definição, lembrando que o principal objetivo das
organizações é o lucro, podemos concordar com os autores e considerar o
orçamento como um instrumento de planejamento empresarial, pois, ao
se projetarem as receitas e os gastos, podemos obter também uma
projeção de lucro. Dessa forma, por intermédio do orçamento, é feito um
planejamento econômico-financeiro para se atingir o lucro desejado no
ano seguinte.
É importante ressaltarmos que mesmo as
organizações juridicamente registradas como
sem fins lucrativos, como a maioria das Lembre-se que por intermédio do
orçamento empresarial, defini-se:
Entidades Educacionais, devem objetivar o Projeção das receitas – projeção
lucro, pois, do contrário, seus gastos serão dos gastos = projeção do lucro
Lucro = objetivo das organizações
maiores que suas receitas, fazendo com que
nunca atinjam a autossuficiência financeira.
Caso obtenham lucro, ele deverá ser direcionado
à implantação de projetos de investimento na própria
atividade que exercem.
Como o orçamento é projetado para o período de um ano, trata-se
de um instrumento de planejamento de curto prazo. Devido ao
aumento da concorrência, que se acentuou nas últimas
décadas, ocasionado, entre outros motivos, pelo processo de
globalização, as organizações não devem fazer somente um planejamento
de curto prazo. Torna-se necessário também fazer um planejamento de
longo prazo, mais conhecido como planejamento estratégico.
Lunkes (2009) comenta que o planejamento estratégico é definido
para um período longo de tempo, normalmente de cinco ou mais anos, e
deve abranger três principais pontos: 1º) decidir para onde a organização

101
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

vai; 2º) avaliar o ambiente dentro do qual ela operará; e 3º) desenvolver
estratégias para alcançar os objetivos definidos.
Diante dessas considerações, Sanvicente e Santos (1983) lembram
que deve ser o planejamento de longo prazo (estratégico) que deve
fornecer as premissas (orientações básicas) para se dar início ao
planejamento de curto prazo (orçamento).

6.3 Instrumento de controle

Além de Sanvicente e Santos (1983) defenderem a ideia de que o


orçamento é um instrumento de planejamento das atividades de uma
organização, também o ressaltam como um instrumento de controle.
Para que o orçamento seja utilizado como um instrumento de controle,
basta que, por meio de relatórios gerenciais (vide Tabela 1), as projeções
sejam comparadas com os resultados efetivamente obtidos.
Ao analisar os relatórios gerenciais, Frezatti (2007) destaca que os
gestores devem identificar se as metas foram alcançadas, quais foram as
variações encontradas, analisar, entender as causas da variação e decidir
ações que ajustem as metas no futuro ou que permitam manter aquelas
que foram decididas.

102
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

TABELA 1: COMPARAÇÃO ENTRE O ORÇADO E O REALIZADO DO TOTAL DA RECEITA


Orçado Realizado Variação
Norte Sul Total Norte Sul Total Norte Sul Total
Preço 20,00 25,00 22,73 17,00 27,45 22,27 - 3,00 2,45 -0,46
($)
Quant. 50 60 110 56 57 113 6 -3 3
(unid.)
Total 1.000 1.500 2.500 952 1.565 2.517 - 65,00 17,00
Receita($) 48,00
FONTE: FREZATTI (2007, P. 92).

As afirmações de Frezatti (2009) podem ser constatadas na prática


com a análide atenta da Tabela 1. Entre as análises que poderiam ser
feitas, posso destacar duas principais a você:

1º) o preço orçado para o produto no Sul está “subestimado” ($ 25,00),


pois, por um preço $ 2,45 acima ($ 27,45), chegou-se muito
próximo da meta orçada (faltaram apenas 3 unidades). A situação
no Sul está mais confortável, pois a meta de receita foi superada em
$ 65,00;
2º) o preço para o produto no Norte está “superestimado” ($ 20,00),
pois a meta só foi superada (foram vendidas 6 unidades a mais)
cobrando-se um preço $ 3,00 abaixo do orçado ($ 17,00). A
situação no Norte requer atenção, pois a meta de receita ficou $
48,00 aquém do orçado.
Retomando a idéia de que o orçamento é um instrumento de
controle das atividades de uma organização, Padoveze e Taranto (2009)
comentam que ele também pode ser utilizado como um sistema de
autorização de gastos, ou seja, existindo verbas aprovadas no orçamento,
os gestores de cada departamento não precisam pedir autorização à alta

103
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

administração para utilizá-las. Este tipo de procedimento é muito


importante para agilizar o processo decisório dos departamentos e liberar
a alta administração para tomar decisões estratégicas, ao invés de ficar
envolvida com questões operacionais.

QUADRO 1: ANÁLISE DE RELATÓRIOS GERENCIAIS


Importante: normalmente, ao analisar relatórios de controle,
a alta administração das organizações somente se preocupa
em identificar as metas que não foram atingidas, com o
objetivo de definir novas estratégias para contornar o
problema, penalizando os indivíduos ou departamentos que
não atingiram tais metas.
Dica: além disso, a alta administração também deve analisar
as metas que foram superadas, para identificar e disseminar,
por toda a organização, as estratégias de sucesso formuladas
por um determinado indivíduo ou departamento,
valorizando-os.

Para finalizar o tema que está sendo tratado neste item, é


importante destacar que alguns gerentes condenam a utilização do
orçamento como instrumento de controle, pois alegam que ele “engessa”
o funcionamento das organizações. Esta crítica é feita utilizando-se o
seguinte argumento: os gerentes só podem gastar os valores orçados para
cada conta e, caso surjam eventualidades emergenciais, os gastos não
poderão ser alterados.
O argumento apresentado pode ser facilmente derrubado, caso a
alta administração dê autonomia para os gerentes remanejarem os valores
orçados para seus departamentos. O orçamento é remanejado quando o
gerente retira verba de uma determinada conta e repassa para outra, desde
que o gasto total de seu departamento não “estoure” o valor orçado.

104
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

6.4 Princípios para a implantação


Em um determinado mês, por
exemplo, caso o gerente verifique
que os gastos com manutenção
Como já se pôde observar, o corretiva irão ultrapassar o valor
orçado, deverá reduzir os gastos
orçamento é um importante instrumento com outras contas (energia
elétrica, treinamento etc),
para as organizações elaborarem seu remanejando o valor
economizado para a conta
planejamento de curto prazo e, “manutenção corretiva”.
posteriormente, verificar se ele está sendo
atingido (controle). Porém, as vantagens que uma
organização pode obter, ao implantar um programa orçamentário, só
serão efetivamente obtidas caso sejam seguidos alguns princípios.
Segundo Welsch (1996), estes princípios representam
orientações, atividades e abordagens administrativas desejáveis e
necessárias em uma organização, para a aplicação
apropriada, por intermédio de um programa orçamentário, do conceito de
planejamento e controle de resultados. Entre os princípios apresentados
por tal autor, pode-se destacar:

 Envolvimento da Alta Administração: os funcionários


só levarão o orçamento a sério e se comprometerão com o processo
caso a alta administração demonstre sua importância e os cobrem
constantemente;
 Sistema de Custeio bem definido: o sistema contábil
deve ser organizado de acordo com a estrutura de responsabilidades
da organização, para que se saibam os gastos reais de cada um dos
departamentos;
 Comunicação Integral: o processo de comunicação na
organização deve ser ágil e eficiente (em relação aos equipamentos

105
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

de informática) e participativo e sem barreiras (em relação às


pessoas: chefes x subordinados);
 Expectativas Realistas: na definição das metas de receitas e de
gastos, deve ser evitado tanto o conservadorismo exagerado (metas
fáceis geram acomodação) quanto o otimismo irracional (metas
extremamente difíceis geram stress acentuado);
 Destacar Diferenças Significativas: na comparação entre “orçado
x realizado” devem ser analisadas apenas as diferenças
significativas; do contrário, os chefes perderão muito tempo
analisando distorções insignificantes. Portanto, sugere-se que sejam
estipuladas “faixas de tolerância”;
 Participação nos lucros: o comprometimento e o envolvimento
dos funcionários serão muito mais significativos caso a organização
desenvolva um programa de distribuição de resultados associados
ao cumprimento das metas, tanto individuais quanto
departamentais, ou seja, deve-se reconhecer o esforço individual
dos funcionários e também do departamento do qual fazem parte.

6.5 Vantagens e limitações

Caso os princípios destacados sejam seguidos, a utilização do


orçamento pode trazer inúmeros benefícios e vantagens para uma
organização. Entre os mais significativos, Sanvicente e Santos (1983)
destacam os seguintes:

 Integração dos funcionários e dos departamentos: por meio de


uma integração de diversos orçamentos parciais em um único
orçamento global, o processo orçamentário força todos os membros
da administração a fazerem planos de acordo com os planos de

106
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

outras unidades da organização, aumentando o seu grau de


participação na fixação de objetivos;
 Quantificação dos objetivos: o processo orçamentário obriga os
administradores a quantificarem e datarem as atividades pelas quais
serão responsáveis, em lugar de se limitarem a compromissos com
metas ou alvos vagos ou imprecisos;
 Delegação de poderes: o processo orçamentário reduz o
envolvimento dos administradores de alto escalão com as
operações diárias, por intermédio da delegação de poderes e de
autoridade que se refletem nos orçamentos das diferentes unidades
ou departamentos da organização;
 Avaliação detalhada do desempenho: o processo orçamentário
permite identificar pontos de eficiência ou ineficiência no
desempenho das unidades ou departamentos, permitindo
acompanhar em que termos está havendo progresso no sentido da
consecução dos objetivos gerais e parciais da organização;
 Racionalização dos recursos: a preparação de um orçamento para
toda a organização tende a melhorar a utilização dos recursos a ela
disponíveis, bem como ajustá-los às atividades consideradas
prioritárias, para que sejam alcançados os seus objetivos.

Apesar dos benefícios e vantagens que podem ser gerados, Welsch


(1996) ressalta que durante o processo de preparação e utilização do
orçamento empresarial, algumas limitações devem ser levadas em conta:

 O plano de resultados baseia-se em estimativas: a força ou


fraqueza de um processo orçamentário depende em grande parte da
precisão com que as estimativas básicas são feitas. As estimativas
devem apoiar-se em todos os fatos conhecidos e em julgamentos

107
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

pessoais adequados. O processo de estimação das receitas e dos


gastos pode não ser uma ciência exata; entretanto, existem
numerosas técnicas estatísticas, matemáticas e outras que podem
ser aplicadas eficazmente aos problemas encontrados, chegando-se
a resultados satisfatórios se elas forem combinadas com raciocínios
e julgamentos adequados. Caso se acredite que essas estimativas
possam ser feitas em bases realistas, um esforço sério geralmente
deverá produzir resultados satisfatórios. Como o plano de lucros
baseia-se inteiramente em estimativas e julgamentos, é essencial
haver flexibilidade na interpretação e utilização dos resultados;
 Adaptação às circunstâncias existentes: um processo
orçamentário em termos amplos não pode ser aplicado e
aperfeiçoado em pouco tempo. As técnicas de planejamento e
controle de resultados devem ser continuamente adaptadas, não só
para cada organização, mas também em função de novas
circunstâncias surgidas dentro da mesma organização. Diversas
técnicas devem ser experimentadas, aperfeiçoadas ou abandonadas
e substituídas por outras. Em outras palavras, um programa de
planejamento e controle de resultados deve ser dinâmico em todos
os sentidos. Normalmente, levará mais de um ano para se chegar a
um programa razoável, e a administração não deverá ter
expectativas muito elevadas durante esse período. É necessário
haver uma educação orçamentária contínua, principalmente durante
esse período de formação;
 A execução do orçamento não é automática: uma vez concluído,
um plano só poderá se tornar eficaz quando todos os executivos
responsáveis o apoiarem e exercerem esforços continuados e
agressivos no sentido de sua execução. Os chefes de departamento
devem sentir-se responsáveis pela consecução ou superação dos

108
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

objetivos departamentais estabelecidos no plano de resultados.


Uma conscientização constante em relação ao orçamento é
necessária em toda a organização. Todos os níveis hierárquicos
devem entender muito bem o programa, estar convencidos de sua
relevância para as suas respectivas funções e participar de maneira
significativa em sua execução.

6.6 Método de elaboração

Após confrontar e analisar as limitações e as vantagens de um


programa de orçamento, esperamos que esteja convencido de que se trata
de um excelente instrumento para planejar e controlar as atividades de
uma organização. Suponha agora que você fosse o presidente de uma
grande organização e, após ter assistido a uma palestra sobre orçamento,
tivesse decidido implantá-lo em sua empresa. Apesar de estar convencido
de sua importância, sua grande dúvida seria: por onde devo começar?
Logicamente, todo instrumento deve ser utilizado da maneira
correta, do contrário, não trará os benefícios pretendidos. Portanto, o
objetivo desse item da apostila é apresentar uma sugestão de método para
implantação de um programa de orçamento. O primeiro passo para sanar
sua dúvida seria definir qual o departamento da empresa ficará
responsável pela implantação e controle do orçamento.
Como o Departamento Financeiro lida com os recursos financeiros,
será, logicamente, o responsável pela implantação e controle do
orçamento. É importante lembrar que em organizações de grande porte, o
Departamento Financeiro é subdividido em duas áreas: Controladoria e
Tesouraria (vide subitem 1.5 da apostila).
O departamento financeiro de uma organização de grande porte é
gerido pelo Diretor Financeiro. Subordinados a ele estão o Controller,

109
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

responsável pela Controladoria, e o Gerente Financeiro, responsável pela


Tesouraria. A Controladoria é a área que assessora a Tesouraria e a Alta
Administração, fornecendo controles e informações para a gestão da
organização. A Tesouraria é a área onde os recursos financeiros
ingressam, são utilizados por intermédio do pagamento das contas e
aplicados em investimentos internos ou externos.
Diante das funções definidas para a Controladoria, constata-se que
cabe a ela a implantação e o controle do orçamento. Em organizações de
grande porte, a controladoria é dividida em quatro outras áreas, sendo
uma delas chamada de Orçamento, a qual será responsável pela
condução de todo o processo orçamentário.

É importante ressaltar que a Controladoria é responsável por


conduzir o processo; não fazê-lo sozinho. Na verdade, cada um dos
departamentos deverá fazer seus orçamentos de gastos, lembrando que o
departamento comercial, além de orçar seus gastos, deverá elaborar a
projeção de receitas, ou seja, o orçamento de vendas.
Sugere-se que o processo de elaboração de um orçamento
empresarial deva começar dois ou três meses antes do
início de um novo exercício contábil. Sua
condução e operacionalização, realizada pela
área de Orçamento, deve seguir as seguintes
Em grandes organizações, existe
etapas: uma área chamada Orçamento,
ligada à Controladoria, que fica
responsável pela condução do
processo orçamentário
1) A área de Orçamento solicita ao
departamento comercial a projeção anual
de vendas (quantidades e preços de cada um
dos produtos ou serviços);

110
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

2) A projeção de vendas é repassada aos outros departamentos, para


que eles a utilizem como base para projetar seus gastos anuais.
Exemplo: o departamento de compras só poderá projetar os gastos
com aquisição de uniformes após saber quantos alunos a Entidade
Educacional terá durante o ano, ou seja, tendo em mãos a projeção
de vendas de cursos;
3) Utilizando-se as projeções de receitas e de gastos, o departamento
de orçamento elabora a projeção da Demonstração do Resultado do
Exercício (DRE) para o ano seguinte;
OBS: A DRE é um demonstrativo contábil que será apresentado e
explicado na próxima unidade da apostila.
4) A DRE projetada é levada à Alta Administração para aprovação.
Mudanças podem ser sugeridas e negociadas com os
departamentos;
5) Após este processo de “lapidação”, a projeção da DRE é aprovada
pela Alta Administração e os orçamentos são distribuídos aos
departamentos, ou seja, o departamento comercial passa a saber
quanto deverá vender durante o ano que irá se iniciar, assim como
os outros departamentos saberão quanto poderão gastar;
6) A execução dos orçamentos pelos departamentos é acompanhada
pela área de Orçamento durante todo o exercício contábil.

Atividades

Para que você possa revisar os conceitos teóricos apresentados,


responda às seguintes questões:

1°) No estudo da administração, as palavras orçamento e cotação de


preços têm o mesmo significado? Comente.

111
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

2°) O orçamento empresarial pode ser considerado um instrumento de


planejamento e controle das atividades de uma organização?
Comente.
3°) As organizações devem adotar alguns princípios antes de iniciar a
elaboração de seu processo orçamentário? Por quê?
4°) Caso fosse diretor executivo de uma organização, você implantaria
um processo orçamentário para gerenciá-la? Comente sua resposta
abordando as vantagens e limitações que tal instrumento financeiro
apresenta.

6.7 Reflexão

Orçamento empresarial é a projeção de receitas e gastos que uma


organização elabora para um determinado período de tempo. Atualmente,
a grande maioria das organizações de grande porte utiliza o orçamento
como um instrumento de planejamento e controle de suas atividades. As
vantagens que uma organização pode obter, ao implantar um programa
orçamentário, só serão efetivamente obtidas caso sejam seguidos alguns
princípios. Tal instrumento possui limitações; portanto, deve-se ficar
muito atento a elas. Em grandes organizações, existe uma área chamada
Orçamento, ligada à Controladoria, que fica responsável pela condução
do processo orçamentário, que é composto por seis etapas.
Ao terminar de ler esta unidade da apostila, esperamos que você
tenha compreendido a importância do orçamento empresarial para as
organizações. Além disso, segundo Carneiro e Matias (2010), também é
importante que os conceitos do orçamento empresarial sejam aplicados
em sua própria vida, pois as pessoas físicas também devem elaborar seu
próprio orçamento, ou seja, projetar suas receitas e gastos para o futuro.

112
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

6.8 Leitura recomendada

Sugere-se a leitura do artigo discriminado na sequência:

Título do artigo: Estudo do processo orçamentário do centro de


formação profissional Nilza de Oliveira Pipino de Sinop - MT
Autores: Cleidiane Heck e Valdiva Rossato de Souza
Fonte: www.contabilidadeamazonia.com.br

6.9 Referências

CARNEIRO, Murilo, MATIAS, Alberto Borges. Orçamento


Empresarial: teoria, prática e novas técnicas. São Paulo: Atlas, 2010.

FREZATTI, Fábio. Orçamento Empresarial: planejamento e controle


gerencial. 4º ed. São Paulo: Atlas, 2007.

GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira –


essencial. 2º ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

LUNKES, João Rogério. Manual de Orçamento. 2º ed. São Paulo:


Atlas, 2009.

PADOVEZE, Clóvis L., TARANTO, Fernando C. Orçamento


Empresarial: novos conceitos e técnicas. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2009.

113
Educação Gestão Educacional – Unidade 6

SANVICENTE, Antônio Zoratto; SANTOS, Celso da Costa. Orçamento


na Administração de Empresas: planejamento e controle. 2º ed. São
Paulo: Atlas, 1983.

WELSCH, Glenn Albert. Orçamento Empresarial. 4º ed. São Paulo:


Atlas, 1996.

114
ANÁLISE DAS
DEMONSTRAÇÕES
CONTÁBEIS

Nessa unidade, apresentaremos os


objetivos que envolvem a análise das demonstrações
contábeis, assim como as fontes de dados utilizadas
para elaborá-la. Além disso, mostraremos a metodologia
que deve ser utilizada para se preparar tal análise e quais são
seus principais usuários.

Objetivos da sua aprendizagem

Conhecer os objetivos e as fontes de dados da análise das


demonstrações contábeis. Saber que deve ser utilizada uma metodologia
para se elaborar tal análise e que existem diversos usuários interessados
em elaborá-la.

Você se lembra?

Você já ouviu falar em análise das demonstrações contábeis?


Será que sabe exatamente quem pode ter interesse em elaborar tal
tipo de análise? Nesta unidade, você terá oportunidade de
aprender estes e vários outros temas relacionados ao estudo da
análise das demonstrações contábeis. Bons estudos!
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

7.1 Conceito

De forma resumida, podemos conceituar análise das


demonstrações contábeis como uma técnica que nos auxilia a avaliar a
situação econômico-financeira das organizações, pois fornece diversos
tipos de informações financeiras aos tomadores de decisão.
Esta técnica consiste na análise das demonstrações contábeis,
essencialmente do Balanço Patrimonial (BP) e da Demonstração do
Resultado do Exercício (DRE). Como as demonstrações contábeis são
relatórios que possuem uma grande quantidade de informações diferentes
e detalhadas, a técnica conhecida por análise das demonstrações
contábeis acaba por simplificar esse processo, utilizando, para isso,
indicadores financeiros, os quais relacionam duas ou mais contas, a fim
de facilitar a análise.
Análise das Demonstrações Contábeis e Análise Financeira são a
mesma coisa. Na verdade, são duas formas de se nomear o mesmo tipo
de técnica. Por outro lado, não devemos chamar tal técnica de Análise de
Balanços, visto que é desenvolvida por meio da utilização de outras
demonstrações contábeis além do Balanço Patrimonial.
A análise das demonstrações contábeis,
elaborada de forma mais sistematizada e
Box Conexão
organizada, originou-se e Serasa Experian, ou simplesmente SERASA, é
uma das maiores empresas do mundo em
desenvolveu-se dentro do sistema análises e informações para decisões de
crédito e apoio a negócios, atua com completa
bancário, que, segundo Matarazzo cobertura nacional e internacional, por meio de
acordos com as principais empresas de
(2010), até hoje é seu principal informações de todos os continentes. No Brasil,
está presente em todas as capitais e principais
usuário. Cronologicamente, cidades, totalizando 140 pontos estratégicos. A
SERASA conta com um quadro de pessoal com
podemos determinar sua origem ao mais de 2.000 profissionais e a retaguarda de
final do século XX, quando alguns um amplo centro de telemática. Para obterem
maiores informações, acessem a homepage:
banqueiros americanos passaram a http://www.serasaexperian.com.br.

116
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

solicitar dados financeiros às empresas que estavam pleiteando


empréstimos.

7.2 Objetivos da análise

A análise das demonstrações contábeis, segundo Assaf Neto


(2010), visa a relatar, com base nas informações fornecidas pelas
empresas, a posição econômico-financeira atual, as causas determinantes
da evolução apresentada e as tendências futuras.
Matarazzo (2010) comenta que, por meio da análise, podemos
extrair informações das demonstrações contábeis para a tomada de
decisões. Tais demonstrações fornecem uma série de dados sobre a
empresa. A análise das demonstrações contábeis visa a transformar esses
dados em informações. O processo de análise será mais eficiente à
medida que as informações produzidas possuírem mais qualidade, ou
seja, apresentarem confiabilidade, veracidade, exatidão etc.
No processo de elaboração de uma análise das demonstrações
contábeis, é muito importante que façamos a distinção entre dados e
informações. Em relação a este tema, Matarazzo (2010) apresenta as
seguintes definições:
 Dados: são números ou descrição de objetos ou eventos que,
isoladamente, não provocam nenhuma reação no leitor;
 Informações: representam, para quem as recebe, uma
comunicação que pode produzir reação ou decisão, frequentemente
acompanhada de um efeito-surpresa.
O primeiro passo para se elaborar a análise das demonstrações
contábeis é produzir informação por meio do processamento de dados
(vide Figura 1). Posteriormente, os analistas avaliarão as informações

117
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

obtidas, visando a conhecer aspectos da situação econômico-financeira


da organização que está sendo analisada.

FIGURA 1. SEQUÊNCIA DO PROCESSO DE ANÁLISE

Fatos ou Processo Técnicas de Informações


Demonstrações
eventos financeiras
contábeis =
econômicos Contábil Análise das para a
dados
-financeiros Demonstrações tomada de
decisão
FONTE: MATARAZZO (2010, PÁG. 04)

O grau de excelência de uma análise das demonstrações contábeis,


segundo Matarazzo (2010), é dado exatamente pela qualidade e extensão
das informações financeiras que forem geradas pelo processamento dos
dados contábeis. Este comentário também é apresentado por Iudícibus
(2009), ao afirmar que a análise das demonstrações contábeis é a arte de
se saber extrair informações financeiras úteis dos dados contábeis,
ressaltando que tais informações poderão variar de acordo com o objetivo
econômico que o analista tiver em mente.

7.3 Fontes de dados para análise

Os relatórios contábeis elaborados periodicamente pelas


organizações são as principais fontes de dados para o processo de análise
financeira. De acordo com Assaf Neto (2010), tais relatórios podem ser
classificados em obrigatórios e não obrigatórios.
Os relatórios não obrigatórios são aqueles que não fazem parte da
estrutura básica das demonstrações contábeis elaboradas com fins de
divulgação, sendo estes geralmente destinados para usos gerenciais

118
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

internos. Assaf Neto (2010) cita dois exemplos de relatórios não


obrigatórios: projeções de vendas e desempenho por produto.
Os relatórios obrigatórios são aqueles definidos pela legislação
societária, sendo mais conhecidos como “demonstrações contábeis” ou
“demonstrações financeiras”. Assaf Neto (2010) lembra que as
demonstrações de cada exercício devem ser publicadas com a indicação
dos valores correspondentes das demonstrações do exercício anterior.
Os relatórios obrigatórios mais conhecidos e mais utilizados para se
elaborar a análise das demonstrações contábeis são o Balanço
Patrimonial (BP) e a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE).

7.4 Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do


Exercício

O Balanço Patrimonial (BP) indica a situação financeira de uma


organização em um determinado momento no tempo. Para isso, deve ser
expresso em moeda corrente, em nosso caso, o Real, e possui uma série
de contas divididas em três principais grupos:
 Ativo Total: de maneira simplificada, correspondem aos bens e
direitos que a empresa possui;
 Passivo Exigível: basicamente são os deveres e obrigações a serem
pagos pela organização com terceiros;
 Patrimônio Líquido: representa o patrimônio da própria
organização, ou seja, quanto sobra de recursos depois que as
dívidas são pagas. O Patrimônio Líquido pode ter sua origem em
duas fontes de recursos: o investimento realizado pelos
sócios/acionistas e os lucros obtidos com a atividade da empresa.
Os dados fornecidos por esse relatório contábil são totalmente
estáticos e, com grande probabilidade, sua estrutura estará relativamente

119
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

diferente algum tempo após o seu encerramento. Entretanto, devido às


relevantes informações de tendências que podem ser obtidas de seus
diversos grupos de contas, o Balanço Patrimonial servirá como elemento
inicial fundamental para o conhecimento da situação econômico-
financeira de uma organização.
A estrutura do Balanço Patrimonial apresentada na Figura dois foi
elaborada com base na legislação em vigor no momento em que essa
apostila foi escrita (Lei nº 11.638/07 e complementos). Segundo Assaf
Neto (2010), todas as companhias obrigadas a seguir a Lei das S/A
(basicamente as sociedades anônimas e empresas limitadas) devem
seguir a Lei nº 11.638/07 e complementos, cuja vigência se iniciou a
partir do exercício de 2008.
A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), segundo
Matarazzo (2010) procura fornecer, de maneira esquematizada, os
resultados (lucro ou prejuízo) auferidos por uma organização em um
determinado período de tempo (exercício social). Por meio da Figura
três, podemos observar um exemplo real dos itens e valores que
compõem a DRE de uma organização.
O resultado (lucro ou prejuízo) é
decorrente de receitas, custos e despesas Enquanto o Balanço Patrimonial pode
ser considerado uma “foto”, pois
incorridos pela organização no período mostra o valor dos bens, direito e
obrigações que uma organização
e apropriados de acordo com o regime possui em um determinado momento,
de competência, ou seja, a Demonstração do Resultado do
Exercício pode ser considerada um
independentemente de que tenham “filme”, pois mostra o resultado que
uma organização obteve em um
sido esses valores pagos ou recebidos. determinado intervalo de tempo.

RESULTADO = RECEITAS – (CUSTOS + DESPESAS)

120
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

Ao contrário do Balanço Patrimonial, que mostra a situação da


organização em determinada data, Marion (2010) destaca que a DRE
evidencia como foi formado o resultado em um determinado período,
normalmente o ano. Portanto, a cada exercício social, existe a
necessidade de apuração do resultado, de maneira a atender ao objetivo
das organizações, que é gerar valor aos seus investidores.

FIGURA 2. ESTRUTURA DO BALANÇO PATRIMONIAL


ATIVO TOTAL PASSIVO TOTAL
ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE
Disponível Fornecedores
Caixa e bancos Empréstimos e financiamentos
Títulos de negociação imediata Impostos, taxas e contribuições
Aplicações Financeiras Salários a pagar
CDB’s Dividendos a pagar
Debêntures Provisões
Realizável em curto prazo Outros passivos de curto prazo
Valores a receber PASSIVO NÃO CIRCULANTE
(-) provisão para crédito de liquidação Empréstimos e financiamentos
duvidosa
(-) títulos descontados Outros passivos em longo prazo
Outros valores a receber de curto prazo PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Estoques Capital social realizado
Matérias-primas e embalagens Reserva de capital
Produtos em elaboração Reserva de lucros
Produtos acabados/mercadorias Ajustes de avaliação patrimonial
Materiais de consumo e almoxarifado Prejuízos acumulados
Despesas antecipadas (-) Ações em tesouraria
Despesas apropriáveis

121
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

ATIVO NÃO CIRCULANTE


Realizável em longo prazo
Créditos diversos
Investimentos
Participações acionárias
Outros investimentos
Imobilizado
Prédios e terrenos
Máquinas e equipamentos
Veículos, mobiliário etc
Intangível
Marcas e patentes
Fundo de comércio
FONTE: ASSAF NETO (2010, PÁGS 49 E 50)

FIGURA 3. ESTRUTURA DA DRE DA SADIA S.A.


DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO Em milhares Em milhares
(DRE) R$ R$
Exercícios findos em 31 de dezembro 2007 2006
Receita Líquida de Vendas e/ou Serviços 8.038.692 6.704.894
Custo de Bens e/ou Serviços Vendidos (6.284.379) (5.160.351)
Resultado Bruto 1.754.313 1.544.543
Despesas/Receitas Operacionais (1.025.154) (1.122.152)
Com Vendas (1.330.507) (1.172.189)
Gerais e Administrativas (101.284) (71.417)
Financeiras 3.614 (93.218)
Outras Receitas Operacionais 3.575 57.443
Outras Despesas Operacionais (74.217) (46.772)
Resultado da Equivalência Patrimonial 473.665 204.001

122
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

Resultado Operacional 729.159 422.391


Resultado Não Operacional (9.677) (4.527)
Receitas 0 0
Despesas (9.677) (4.527)
Resultado Antes Tributação/Participações 719.482 417.864
Provisão para IR e Contribuição Social (8.682) (8.006)
IR Diferido (22.823) (29.925)
Participações/Contribuições Estatutárias 0 0
Reversão dos Juros sobre Capital Próprio 0 0
Lucro/Prejuízo do Período 687.977 379.933
FONTE: COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (2009)

7.5 Metodologia de análise

Após conhecermos o conceito e o histórico da técnica conhecida


por análise das demonstrações contábeis, assim como seus objetivos e
fontes de dados, precisamos agora entender como ela deve ser elaborada,
ou seja, necessitamos aprender um método para que ela possa ser
realizada.
De acordo com Ribeiro (2009), o processo de análise começa
quando termina o processo contábil; portanto, o trabalho do analista
começa quando termina o trabalho do contador, pois, conforme já
dissemos, os demonstrativos contábeis são a fonte de dados para a
elaboração da análise.
Não existe, tanto entre os autores que escrevem sobre o tema,
quanto entre os profissionais que atuam na área, a indicação de um
método único e ideal para se elaborar uma análise das demonstrações
contábeis. Porém, é importante que você conheça um exemplo de

123
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

método. Diante dessa necessidade, apresentaremos o método sugerido


por Assaf Neto (2010), que é composto por sete etapas:
I. A Empresa e o Mercado
O analista deve conhecer com maior nível de detalhe a organização
e o seu mercado de atuação para avaliar melhor suas decisões financeiras
(investimento e financiamento). Ao estudar o setor de atividade em que
uma organização está inserida, é necessário avaliar o potencial atual e
futuro do mercado consumidor, o tamanho e o nível da concorrência, os
fornecedores, a política de preços adotada para o setor, a dependência
tecnológica etc.

II. Relatórios Financeiros


Todas as demonstrações contábeis elaboradas pela organização
servirão de base de informações para a análise econômico-financeira e
são englobadas neste item. É fundamental aqui se avaliarem os
procedimentos contábeis padronizados para o setor, o plano de contas
etc.

III. Análise Horizontal e Vertical


O objetivo básico da aplicação dessas técnicas é a avaliação das
demonstrações contábeis, pela evolução de seus valores com o passar do
tempo, no caso da análise horizontal, e pela participação relativa de cada
valor em relação ao total, no caso da análise vertical.

IV. Análise da Liquidez


Esse estudo objetiva conhecer a capacidade de pagamento da
organização e também revela o equilíbrio financeiro e sua necessidade de
investimento em capital de giro.

124
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

V. Análise do Endividamento
O objetivo dessa análise é avaliar a proporção de recursos próprios
e de terceiros mantidos pela organização, a dependência apresentada por
dívidas de curto prazo, a natureza de suas obrigações financeiras e seu
risco financeiro.

VI. Análise de Rentabilidade e Lucratividade


Apresenta uma avaliação do desempenho econômico da
organização, avaliando o retorno sobre investimentos realizados e a
lucratividade atingida pelas vendas.

VII. Conclusões
Cada parte do esquema proposto de análise proporciona conclusões
específicas, no entanto, essa parte final deve ser conclusiva,
demonstrando de forma sucinta a real situação econômico-financeira da
organização, bem como suas perspectivas de desempenho.

As etapas do método apresentado por Ribeiro (2009) são muito


semelhantes às etapas do método de Assaf Neto (2010). Porém, convém
apresentar suas duas últimas etapas: comparação com padrões e
relatórios, que em nosso entendimento, complementam o método que
descrevemos como exemplo.

Comparação com padrões


Após a finalização da análise das demonstrações contábeis de uma
determinada organização, é possível, por meio dos indicadores
calculados (liquidez, endividamento, rentabilidade e lucratividade),
elaborarmos um parecer sobre sua situação econômico-financeira. Porém,

125
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

para que o parecer tenha uma fundamentação mais precisa e realista, é


necessário que os indicadores obtidos sejam comparados com os
indicadores de outras organizações, que possuam o mesmo porte e atuem
no mesmo segmento de atividade.
Portanto, para que saibamos se a situação econômico-financeira de
uma organização é realmente ótima, regular ou ruim, precisamos
comparar os indicadores encontrados com os indicadores-padrão, que são
os indicadores alcançados com maior frequência por organizações que
exercem o mesmo ramo de atividade e atuam em uma mesma região.

Relatórios de análise
O relatório de análise é o meio utilizado para se formalizarem as
conclusões obtidas. Na prática, o relatório de análise é um documento,
elaborado pelo analista das demonstrações contábeis, que contém as
conclusões resultantes do desenvolvimento do processo de análise. De
acordo com Ribeiro (2009), para que se possa elaborar um relatório de
análise eficaz, alguns pontos precisam ser considerados:
 O relatório de análise deve ser elaborado em linguagem inteligível
para leigos, ainda que alguns usuários possuam conhecimentos de
Contabilidade;
 Os relatórios de análise
poderão conter muitas ou Antes de afirmarmos que uma organização
que obteve um indicador de margem líquida
poucas informações, de 14% ao ano está realmente em uma
situação confortável, devemos compará-lo
conforme a necessidade com o indicador-padrão do segmento de
atividade onde atua. Caso o indicador-
do usuário. padrão seja de 10% ao ano, significa que a
organização está efetivamente em um
situação confortável, pois possui um
indicador acima da média. A situação não
seria tão confortável quanto aparenta caso
o indicador-padrão fosse de 20% ao ano,
pois a organização possuiria um indicador
abaixo da média.

126
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

7.6 Usuários da análise

Depois de abordarmos diversos conceitos sobre o tema, é


importante conhecermos quem são aqueles que têm interesse em elaborar
uma análise das demonstrações contábeis, ou seja, quem são os usuários
de tal técnica de análise:
 Gestores: devem buscar medir o desempenho organizacional frente
a suas metas e as demonstrações financeiras apresentam um reflexo
claro sobre esta medida de eficiência;
 Investidores: são os sócios ou acionistas atuais ou potenciais de
uma determinada empresa, os quais desejam saber se sua situação é
sólida para continuarem investindo (sócios atuais) ou para
começarem a investir (sócios potenciais);
 Credores: são aqueles que emprestam recursos para a empresa,
seja por meio de vendas a prazo, neste caso atuando como
fornecedores, ou mesmo em empréstimos e financiamentos de
bancos e financeiras;
 Governo: seja na esfera municipal, estadual ou federal, o governo
tem interesse em saber a situação das empresas, tanto no sentido de
controle de tributos, quanto na mensuração do desenvolvimento
econômico proporcionado.
É importante ressaltar que uma gama diferenciada de usuários da
informação pode dar enfoques diferentes ao analisar uma mesma
empresa. Também é importante lembrar que, além dos citados, podem
existir outros usuários desta informação, como funcionários, sindicatos,
clientes, concorrentes e a própria sociedade, pois todos possuem
interesses no desempenho da empresa.

127
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

Atividades

Para que você possa revisar os conceitos teóricos apresentados,


responda às seguintes questões:
1ª) Análise das Demonstrações Contábeis, Análise Financeira e
Análise de Balanços são a mesma coisa? Comente sua resposta.
2ª) As conclusões sobre a situação econômico-financeira de uma
determinada organização, obtidas por meio da análise das
demonstrações contábeis, podem ser consideradas subjetivas? Por
quê?

7.7 Reflexão

A análise das demonstrações contábeis, também denominada por


alguns autores como análise das demonstrações financeiras, ou,
simplesmente, análise financeira, é uma técnica que nos auxilia a avaliar
a situação econômico-financeira das organizações, pois fornece diversos
tipos de informações financeiras aos tomadores de decisão.
Apesar da existência de cálculos formalizados e técnicas
desenvolvidas para o processo de análise, as conclusões sobre a situação
econômico-financeira da organização analisada são subjetivas, ou seja,
podem variar de analista para analista.
Existem diversos usuários da análise das demonstrações contábeis,
ou seja, diversos interessados em conhecer o desempenho econômico-
financeiro de uma determinada organização, tais como: seus próprios
gestores, investidores atuais e potenciais, credores (bancos e
fornecedores), governos (municipal, estadual e federal), funcionários,
sindicatos, clientes, concorrentes e até mesmo a própria sociedade.

128
Educação Gestão Educacional – Unidade 7

7.8 Leitura recomendada

Sugere-se a leitura do artigo discriminado na sequência:

Título do artigo: Pesquisa de indicadores de desempenho


econômico-financeiro em Instituições de Ensino Superior Privadas
Autor: Celso da Rosa Filho
Fonte: www.crcpr.org.br

7.9 Referências

ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e análise de balanços: um


enfoque econômico-financeiro. 9º ed. São Paulo: Atlas, 2010.

IUDÍCIBUS, Sergio de. Análise de balanços. 10ª ed. São Paulo: Atlas,
2009.

MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis:


contabilidade empresarial. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MATARAZZO, Dante Carmine. Análise financeira de balanços:


abordagem gerencial. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.

RIBEIRO, Osni Moura. Estrutura e análise de balanços fácil. 8ª ed.


São Paulo: Saraiva, 2009.

129
CÁLCULO DO
PONTO DE EQUILÍBRIO

Na Unidade 8, apresentaremos o
conceito de ponto de equilíbrio, assim como as
formas pelas quais pode ser classificado. Na
sequência, mostraremos o método de cálculo dos
pontos de equilíbrio contábil e econômico e
aprenderemos a calcular o ponto de equilíbrio de
organizações que atuam com um portfolio de produtos. No
final da Unidade 8, conheceremos as vantagens e limitações à
utilização do ponto de equilíbrio.

Objetivos da sua aprendizagem

Compreender que o ponto de equilíbrio pode ser utilizado como


uma ferramenta para identificar o montante de receitas necessário para
uma organização atingir a autossuficiência financeira. Aprender a
calcular os pontos de equilíbrio contábil e econômico de organizações
que atuam com um único produto, e também de organizações que
possuam um portfolio de produtos ou serviços. Visualizar que, apesar
das limitações, as organizações podem utilizar o cálculo do ponto de
equilíbrio como uma ferramenta de planejamento e controle.

Você se lembra?

Você sabe o que é ponto de equilíbrio? Em caso positivo,


sabe como calculá-lo? Será que já ouviu falar que ele pode
ser utilizado pelas organizações como uma ferramenta de
planejamento e controle? Nesta unidade, você terá
oportunidade de aprender estes e vários outros
temas relacionados ao cálculo do ponto de
equilíbrio. Bons estudos!
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

8.1 Conceito e tipos de pontos de equilíbrio

Para que as organizações possam sobreviver e se desenvolver, é


imprescindível que sejam lucrativas, ou seja, que suas receitas sejam
superiores aos seus gastos. Quando uma organização consegue ter
receitas superiores aos seus gastos, podemos dizer que atingiu a
autossuficiência financeira.
A autossuficiência financeira é um desafio que deve ser
quantificado para poder ser atingido, ou seja, é importante que a
organização saiba qual é o montante de receitas necessário para que se
arque com os gastos envolvidos no negócio. A ciência da Administração
Financeira oferece uma ferramenta para que encontremos tal montante: o
cálculo do ponto de equilíbrio. Este cálculo também é conhecido por
outras denominações, tais como: cálculo do ponto de ruptura, break-even
point e análise-custo-volume-lucro.
Segundo Gitman (2001), o cálculo do ponto de equilíbrio deve ser
utilizado pelas organizações para determinar o nível de operações
necessário para cobrir todos os seus gastos e para avaliar a lucratividade
associada aos vários níveis de atividade. Podemos, de acordo com Assaf
e Martins (1986), calcular três tipos de ponto de equilíbrio para uma
organização: o contábil, o econômico e o financeiro.
No cálculo do ponto de equilíbrio contábil, as receitas totais se
igualam aos gastos totais. Neste caso, o resultado se anula, pois se obtém
um lucro contábil igual a zero. Acima deste ponto, existe lucro; abaixo,
prejuízo.
No cálculo do ponto de equilíbrio econômico é introduzida, além
dos gastos, uma outra variável: o lucro. Na verdade, qualquer
organização persegue um lucro mínimo representado pelo custo de
oportunidade do investimento feito pelos sócios, ou seja, um lucro

131
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

mínimo que compense o investimento realizado. Ao ponto que produz


lucro desse valor mínimo se dá o nome de ponto de equilíbrio
econômico.
No cálculo do ponto de equilíbrio financeiro, são excluídos os
gastos não desembolsáveis, como as depreciações. Na verdade, as
depreciações são gastos incluídos na contabilidade de uma organização,
mas que não representam desembolsos efetivos de caixa.
Depreciação: gasto decorrente do desgaste
ou da obsolescência dos ativos imobilizados
da empresa (máquinas, veículos, móveis e
imóveis). A perda de valor é apropriada pela
contabilidade periodicamente até que esse
ativo tenha valor reduzido a zero.
(http://pt.wikipedia.org).
FONTE: BANCO DE IMAGENS DA EDITORA COC - ID: 65621.

8.2 Fórmulas para se calcular os pontos de equilíbrio

 De acordo com a definição do ponto de equilíbrio contábil, as


receitas totais se igualam aos gastos totais. Portanto, podemos
utilizar a seguinte fórmula para calculá-lo:

FL = GT

Onde: FL = Faturamento Líquido e GT = Gastos Totais.

132
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

Para encontrarmos as receitas totais de uma organização, as quais,


em nosso estudo, estamos chamando de faturamento líquido, basta que
multipliquemos o preço unitário de venda do seu produto ou serviço pela
quantidade total vendida. Portanto, para se calcular o valor do
faturamento líquido, podemos utilizar a seguinte fórmula:

FL = p . q

Onde: p = preço unitário líquido de venda* e q = quantidade total


vendida.
Em relação às saídas, adotaremos o termo “gastos” para nos
referirmos a todo e qualquer tipo de desembolso que ocorra no caixa da
organização. Os gastos totais (GT) de uma organização são compostos
pelos gastos fixos (GF) e pelos gastos variáveis (GV). Assaf e Martins
(1986) definem gastos fixos como aqueles que, dentro de um mês (ou
outra unidade de tempo), assumem determinado valor
independentemente de, nesse mesmo mês, a organização ter um nível
maior ou menor de atividade, citando como exemplos: aluguéis, encargos
financeiros, salários e encargos dos funcionários
administrativos etc. Os gastos variáveis são
aqueles que têm o seu valor total
*para efeito de simplificação, não
determinado exatamente como estamos considerando os
impostos que podem incidir sobre
decorrência direta do nível de atividade a venda de um produto ou serviço,
tais como: ICMS, IPI, COFINS, PIS
da organização, podendo-se citar como e ISS, ou seja, estamos
considerando o preço líquido de
exemplos: comissão dos vendedores, venda.

matéria-prima etc. Portanto, podemos


utilizar a seguinte fórmula para calcular os
gastos totais:

133
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

GT = GF + GVu . q

Onde: GF = Gastos Fixos, GVu = Gasto Variável unitário e q =


quantidade total vendida.

Ao aplicarmos as definições de Faturamento Líquido e Gastos


Totais à fórmula original apresentada para se calcular o ponto de
equilíbrio contábil, podemos obter a seguinte fórmula:

Fórmula “original”: Fórmula “modificada”:


FL = GT p .q = GF + GVu . q

De acordo com a definição que apresentamos no subitem anterior,


para encontrarmos o ponto de equilíbrio econômico, é preciso que
calculemos o valor de faturamento líquido necessário para, além de
cobrir os gastos totais, garantir um montante de lucro. Portanto, é
necessário que acrescentemos, na fórmula que é utilizada para se calcular
o ponto de equilíbrio contábil, a variável “Retorno Operacional (RO)”.

Ponto de Equilíbrio Contábil Ponto de Equilíbrio Econômico


p .q = GF + GVu . q p .q = GF + GVu . q + RO

8.3 Cálculos dos pontos de equilíbrio contábil e


econômico

Para que os conceitos abordados sobre os pontos de equilíbrio


contábil e econômico fiquem mais claros para você, elaboramos um

134
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

exemplo fictício envolvendo um empreendedor que pretende montar um


negócio para vender “sonhos”. Caso nunca tenho ouvido falar, sonho é
um tipo de doce comumente vendido em padarias.
Antes de abrir efetivamente o ponto de venda de sonhos, o
empreendedor deseja saber quantas unidades precisará vender
mensalmente para que não tenha nem lucro e nem prejuízo, ou seja,
deseja calcular o ponto de equilíbrio contábil. Posteriormente, também
deseja saber quantas unidades precisará vender para, além de cobrir todos
os gastos, obter um lucro mensal de $ 1.000,00. Ao efetuar tal cálculo,
obterá o valor do ponto de equilíbrio econômico.
O primeiro passo a ser dado por tal empreendedor é fazer um
levantamento dos gastos fixos e variáveis que terá. Posteriormente, deve
definir o preço que irá cobrar pelo produto. Após concluir os
levantamentos, o empreendedor encontrou os seguintes dados:
Gastos fixos: são aqueles que não variarão de acordo com a
quantidade de sonhos que irá vender, tais como: aluguel do ponto = $
250,00, energia elétrica = $ 80,00 e salário do ajudante = R$ 400,00.
Total de gastos fixos mensais = R$ 730,00;
Gasto variável unitário: são aqueles que variarão de acordo com a
quantidade de sonhos que irá vender. Neste caso, serão os gastos com os
ingredientes necessários para fazer uma unidade de sonho, tais como:
farinha de trigo, fermento, leite, açúcar, ovos e manteiga. Total de gastos
para se fazer uma unidade de sonho = R$ 0,85;
Preço de venda: após a elaboração de uma pesquisa de mercado,
o empreendedor constatou que os clientes potenciais estariam dispostos a
pagar R$ 2,50 pelo sonho.
Tendo tais dados em mãos, o empreendedor pode calcular quantas
unidades precisará vender mensalmente para que não tenha nem lucro e

135
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

nem prejuízo (ponto de equilíbrio contábil) e, posteriormente, para que


tenha um lucro mensal de $ 1.000,00 (ponto de equilíbrio econômico).

8.3.1 Cálculo do Ponto de Equilíbrio Contábil

FL = GT
p . q = GF + GVu . q
2,5 . q = 730 + 0,85 . q
2,5q – 0,85q = 730
1,65q = 730
q = 730 / 1,65
q = 442,42 q = 443 unidades

OBS: caso o empreendedor venda 443 sonhos por mês, não terá
nem lucro nem prejuízo, ou seja, atingirá seu ponto de equilíbrio
contábil.

O ponto de equilíbrio contábil do empreendimento também pode


ser expresso por meio de unidades monetárias, ou seja, o
empreendimento precisa ter um Faturamento Líquido de $ 1.107,50 por
mês para cobrir seus Gastos Totais.
FL = p . q
FL = 2,50 . 443 FL = $ 1.107,50

8.3.2 Cálculo do Ponto de Equilíbrio Econômico

FL = GT + RO
p . q = GF + GVu . q + RO
2,5 . q = 730 + 0,85 . q + 1000

136
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

2,5q – 0,85q = 1000 + 730


1,65q = 1.730
q = 1.730 / 1,65
q = 1.048,48 q = 1.049 unidades

OBS: caso o empreendedor venda 1.049 sonhos por mês,


conseguirá cobrir seus gastos totais e obter um lucro de $ 1.000,00, ou
seja, atingirá seu ponto de equilíbrio econômico.
O ponto de equilíbrio econômico do empreendimento também pode
ser expresso por meio de unidades monetárias, ou seja, o
empreendimento precisa ter um Faturamento Líquido de $ 2.662,50 por
mês para cobrir seus Gastos Totais.
FL = p . q
FL = 2,50 . 1049 FL = $ 2.662,50

8.4 Ponto de equilíbrio de organizações com vários


produtos

Os cálculos dos pontos de equilíbrio contábil e econômico,


apresentados no subitem anterior, só podem ser utilizados em
organizações que atuam com apenas um produto. Na prática, a grande
maioria das organizações, como é o caso das Entidades Educacionais,
possui um portfolio de produtos ou serviços, ou seja, vende vários tipos
de produtos diferentes. Neste caso, para se expressar o ponto de
equilíbrio, deve-se utilizar o valor do faturamento mensal e não o número
de unidades a serem vendidas.
Para que se faça este cálculo, é necessário que se saiba o valor dos
gastos fixos mensais, os preços de venda unitários e os gastos variáveis
unitários de todos os itens que compõem o portfolio de produtos ou

137
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

serviços da organização. Além disso, deve ser elaborada uma previsão de


vendas de cada um dos itens.
Para calcularmos o ponto de equilíbrio de organizações que
possuem um portfolio de produtos ou serviços, devemos utilizar a
seguinte fórmula:

Ponto de Equilíbrio = Gastos Fixos IMCM

Onde: IMCM = Índice de Margem de Contribuição Médio.

Para calcularmos o Índice de Margem de Contribuição Médio


(IMCM), devemos utilizar a seguinte fórmula:

IMCM = Rentabilidade Bruta


Faturamento Total

Para calcularmos a rentabilidade bruta, devemos calcular as


margens de contribuição e os índices de margem de contribuição de cada
produto. Para obtermos tais dados, devemos utilizar as seguintes
fórmulas:

MC = p – GVu IMC = MC / p

Onde: MC = Margem de Contribuição e IMC = Índice de Margem


de Contribuição.

OBS: a margem de contribuição expressa o ganho em unidades


monetárias ($) que a organização obtém ao vender uma unidade de um
determinado produto ou serviço. Exemplo: caso um produto seja

138
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

comprado por $ 15,00 e revendido por $ 22,00, a margem de contribuição


será de $ 7,00, pois MC = p – GVu ($ 22,00 – $ 15,00 = $ 7,00).

8.5 Cálculo do ponto de equilíbrio de organizações com


vários produtos

Para que os conceitos abordados no subitem anterior fiquem mais


claros para você, imagine que o empreendedor de “sonhos” decida
vender outros tipos de doces em seu ponto de venda. Ele produzirá e
venderá cinco tipos de doces e seu gasto fixo mensal passará a ser de $
950,00.
Conforme já explicamos, para que o cálculo possa ser feito, além
de se levantar os valores dos preços de venda e dos gastos variáveis
unitários, é necessário que seja elaborada uma projeção de vendas de
cada um dos itens que compõem o portfolio de produtos ou serviços da
organização (vide quadro 1).

QUADRO 1. DADOS LEVANTADOS E PROJETADOS PELO EMPREENDEDOR


Produtos Preço de Venda Gasto Variável Faturamento/mês
Unitário ($) Unitário ($) (previsão em $)
Sonho 2,50 0,85 580,00
Bomba 2,00 0,59 480,00
Pudim 2,00 0,48 360,00
Quindim 2,50 1,13 520,00
Brigadeiro 2,00 0,39 760,00

O primeiro passo para calcularmos o ponto de equilíbrio consiste


na determinação das margens de contribuição e dos índices de margem

139
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

de contribuição de cada um dos itens que compõem o portfolio de


produtos do empreendimento de doces (vide quadro 2).

QUADRO 2. MARGENS DE CONTRIBUIÇÃO E ÍNDICES DE MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO


DOS PRODUTOS

Produtos Sonho Bomba Pudim Quindim Brigadeiro


MC ($) 1,65 1,41 1,52 1,37 1,61
IMC 0,660 0,705 0,760 0,548 0,805
Na sequência, você pode observar o cálculo da MC e do IMC do
produto “sonho”:

MC = p – GVu IMC = MC / p
MC = 2,50 – 0,85 IMC = 1,65 / 2,50
MC = $ 1,65 IMC = 0,660

O próximo passo consiste na determinação da rentabilidade bruta,


que é obtida somando-se as rentabilidades projetadas para cada um dos
itens que compõem o portfolio de produtos do empreendimento de doces
(vide quadro 3). A rentabilidade bruta de cada produto é obtida ao
multiplicarmos a previsão de faturamento pelo respectivo índice de
margem de contribuição (IMC).

QUADRO 3. FATURAMENTO TOTAL E RENTABILIDADE BRUTA PROJETADOS PARA O


EMPREENDIMENTO

Faturamento/mês Rentabilidade Bruta


s IMC
(previsão em $) (previsão em $)

580,00 0,660 382,80


480,00 0,705 338,40
360,00 0,760 273,60

140
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

520,00
Q 0,548 284,96
760,00 0,805 611,80
2.700,00 # 1.891,56

Para que possamos finalizar o cálculo, precisamos encontrar o


IMCM, por meio da utilização dos valores do faturamento total e da
rentabilidade bruta. Ao dividirmos o valor dos gastos fixos pelo IMCM,
obtemos o valor do ponto de equilíbrio do empreendimento. Acompanhe
tais cálculos:

IMCM = Rentabilidade Bruta Ponto de Equilíbrio = Gastos Fixos


Faturamento Total IMCM
IMCM = 1.891,56 Ponto de Equilíbrio = 950,00
2.700,00 0,70
IMCM = 0,70 Ponto de Equilíbrio = $ 1.357,14

8.6 Vantagens e limitações à utilização do ponto de


equilíbrio

A grande vantagem do cálculo do ponto de


equilíbrio é sua utilização como uma
ferramenta de planejamento e controle Caso venha a se concretizar o
IMCM que o empreendedor de
financeiro. Segundo Weston e Brigham doces projetou, o
empreendimento precisará faturar
(2000), o planejamento financeiro envolve a $ 1.357,14 em um mês para atingir
seu ponto de equilíbrio. Caso
realização de projeções de vendas, renda e fature mais, passará a ter lucro,
caso fature menos, terá prejuízo.
ativos baseados em estratégias alternativas de
produção e de marketing seguidas pela decisão
de como atender às necessidades financeiras
previstas. Eles também sugerem que, neste processo, os gerentes também

141
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

deveriam avaliar os planos e identificar as mudanças nas operações que


pudessem melhorar os resultados. Quanto ao controle financeiro, estes
mesmos autores citam que ele se situa na fase de implementação dos
planos, caracterizando-se como um processo de ajustamento em feedback
para: (1) assegurar que os planos sejam seguidos; e (2) modificar os
planos existentes em resposta a mudanças no ambiente operacional.
Após o desenvolvimento do modelo de cálculo do ponto de
equilíbrio, a organização passa a ter a informação de quanto precisa
faturar para cobrir seus gastos, ou seja, passa a ter subsídios para elaborar
seu planejamento financeiro. Dessa forma, ela pode estabelecer metas e
desenvolver estratégias para aumentar seu faturamento ou reduzir seus
gastos, para que consiga atingir sua autossuficiência financeira. Além
disso, o modelo pode ser utilizado para se fazerem simulações e avaliar
os impactos de algumas estratégias, antes que sejam efetivamente
implantadas.
Quanto às vantagens do cálculo do ponto de equilíbrio, Welsch
(1996) afirma que, em situações onde ele pode ser feito com precisão
razoável, pode constituir um instrumento de administração altamente
valioso, pois, por intermédio dele, testa-se o efeito aproximado de vários
tipos de decisões administrativas sobre os gastos e as receitas.
Falando-se ainda sobre as vantagens do cálculo do ponto de
equilíbrio, Briggs (2000) ressalta que decisões importantes, como
alterações de preços e esforços extras para vender mais são mais fáceis
quando se sabe o nível de atividade que faz a empresa ganhar dinheiro de
fato.
Apesar das vantagens apresentadas, devemos ter consciência que a
aplicação do cálculo do ponto de equilíbrio, na prática, apresenta
algumas limitações. Assaf e Martins (1986) apresentam três principais
limitações:

142
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

1ª) Gastos fixos e variáveis: a diferenciação entre o que é fixo e o


que é variável é uma tarefa muitas vezes complexa, e a quantificação
mais ainda. Ocorre também que certos gastos têm comportamentos não
uniformes durante o ano. Além disso, comumente, há itens que
sabidamente têm parcela fixa e parcela variável, e a separação de um e
outro nem sempre é fácil, como no caso da energia elétrica;
2ª) Curto versus longo prazo: a unidade de tempo adotada para se
mensurar os gastos (semanal, mensal, semestral, anual, entre outras) tem
influência muito grande na classificação do que é fixo ou do que é
variável. Assim, o uso de uma classificação para períodos curtos pode ser
confundido com o uso de outra que é utilizada para períodos maiores. Por
exemplo, os salários e encargos do pessoal direto da produção, numa
indústria, se tomados com relação a uma unidade de tempo pequena, o
mês, tendem a ser chamados de fixos. Mas, caso se tome como unidade
de tempo o ano, verifica-se que ele é variável, já que o seu total, dentro
desse ano, passa a ter um nível muito alto de dependência das
sazonalidades na produção;
3ª) Existência de vários produtos: neste caso, o cálculo é apenas
possível, tecnicamente e com validade prática e teórica, em duas
situações: quando todos os produtos têm a mesma margem de
contribuição (preço unitário menos gasto variável unitário) em reais (R$);
ou quando todos têm o mesmo percentual de margem de contribuição
sobre o preço de venda. Comumente se incorre no erro de ratear os gastos
fixos pelos vários produtos ou pelas várias linhas, mas isso é
extremamente temerário, pois cada critério de rateio é mais arbitrário do
que outro.
OBS: nesta apostila, para se encontrar o ponto de equilíbrio de
organizações que possuem vários produtos, utilizou-se a técnica de se
calcular o Índice de Margem de Contribuição Médio (IMCM).

143
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

Além dessas limitações, Weston e Brigham


Apesar das limitações
(2000) destacam outra importante: o cálculo do apresentadas, defendemos a
utilização do ponto de
ponto de equilíbrio baseia-se na suposição de que equilíbrio como uma
ferramenta de planejamento e
o preço por unidade é constante, controle para as
organizações.
independentemente do volume de vendas e de
produção. Eles afirmam que isto não é realista, pois,
se a demanda for baixa, normalmente, a organização
reduz o preço de venda de seus produtos em um esforço para aumentar as
vendas. Inversamente, se a demanda for alta, ela tende a aumentar os
preços, buscando ampliar as margens de lucro.

Atividades

1º) Calcule os pontos de equilíbrio contábil e econômico do


“empreendimento de sonhos” utilizando os seguintes dados:
Gastos fixos mensais do empreendimento: $ 1.200,00;
Gastos para se produzir uma unidade de sonho: $ 1,15;
Preço unitário de venda do sonho: $ 3,00
Lucro mensal almejado pelo empreendedor: $ 1.500,00.

2º) Caso o empreendedor decida trabalhar com um portfolio de


cinco produtos, os gastos fixos mensais passarão a ser de $ 1.800,00.
Utilizando os dados do quadro 4, calcule o ponto de equilíbrio mensal do
empreendimento de doces.

144
Educação Gestão Educacional – Unidade 8

QUADRO 4. NOVOS DADOS LEVANTADOS E PROJETADOS PELO EMPREENDEDOR


Produtos Preço de Venda Gasto Variável Faturamento/mês
Unitário ($) Unitário ($) (previsão em $)
Sonho 3,00 1,15 780,00
Bomba 2,50 0,84 450,00
Pudim 2,70 0,96 864,00
Quindim 3,20 1,24 672,00
Brigadeiro 2,60 0,89 832,00

8.7 Reflexão

O cálculo do ponto de equilíbrio pode ser utilizado como uma


ferramenta para as organizações quantificarem o montante de receitas
necessário para cobrir seus gastos, identificando o ponto onde atingirão
sua autossuficiência financeira. Podemos calcular três tipos de pontos de
equilíbrio: o contábil, o econômico e o financeiro.
As organizações que possuem um portfolio de produtos ou serviços
devem expressar seu ponto de equilíbrio por meio do valor do
faturamento mensal, e não por meio do número de unidades a serem
vendidas. Apesar das limitações que existem para se calcular o ponto de
equilíbrio, as organizações podem utilizá-lo como uma ferramenta de
planejamento e controle financeiro.

8.8 Leitura recomendada

Sugere-se a leitura do artigo discriminado na sequência:

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Educação Gestão Educacional – Unidade 8

Título do artigo: Métodos de custeio utilizados nas Instituições de


Ensino Superior de Blumenau e suas finalidades
Autores: Gilson Gilberto Bonelli e Maria José Carvalho de Souza
Domingues
Fonte: www.inpeau.ufsc.br

8.9 Referências

ASSAF NETO, Alexandre, MARTINS, Eliseu. Administração


financeira: as finanças das empresas sob condições inflacionárias.
São Paulo: Atlas, 1986.

BRIGGS, Roy. How to find your break-even point. Upholstery


Design & Manufacturing (UDM). January, 2000.

GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira –


essencial. 2ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

WELSCH, Glenn Albert. Orçamento Empresarial. 4ª ed. São


Paulo: Atlas, 1996.

WESTON, J. Fred e BRIGHAM, Eugene F. Fundamentos da


Administração Financeira. São Paulo: Makron Books, 2000.

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Você também pode gostar