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Professor do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em
DesenvolvimentoSocioeconômicoda Universidade Federal do Maranhão – Brasil.
Povos tradicionais em colisão com estratégias empresariais no Maranhão e Pará
do bem-estar social desta sociedade. Sem essa mudança qualitativa o “desenvolvimento” deve
ser questionado e alterado.
Nestes últimos anos (1995/2009) o avanço relativo da indústria perde força, fica em
torno dos 20% do PIB regional; a agricultura, depois de forte declínio, estaciona ao redor de
13%, enquanto o setor de serviços se mantém quase inalterado no período (67/68%).Mas
quando se observa a taxa de crescimento setorial em igual período se constata que a dinâmica
foi dada pela indústria em gerale mais recentemente pelo braço extrativo.Por outro lado se
verifica também que os investimentos mais recentes (2000/2009), período excepcional para as
exportações de commodities e, portanto favorável à Amazônia e a seus enclaves exportadores,
não teve efeitos maiores para a economia regional. Aliás, há um nítido processo de
reprimarização de sua economia. De acordo com os dados mais recentes das Contas Nacionais
do IBGE, a indústria manufatureira perde relevância, permanece em torno de 5% da nacional,
enquanto a extrativa dobra,passandode 9,5% (2002) para 18,5% (2010), com destaque para o
Pará, onde o avanço é excepcional, de7% para 23%, mas a indústria de transformação local
regride de 11,5% para 7% em igual período.A agricultura temporária como um todo (com
destaque para soja e alimentos básicos:arroz,feijão e mandioca) também perde
relevância,apesar do avanço crescente do agronegócio,isso mostra que a “decadência”, ou
melhor, o declínio da agricultura familiar,por ser superior à ascensão da produção de
grãos,carvão vegetal e silvicultura, puxou o setor para baixo.
Agricultura Agricultura
13% 13%
Serviços Serviços
68% 65%
Povos tradicionais em colisão com estratégias empresariais no Maranhão e Pará
A economia tradicional diz que a maior inserção de uma economia nos fluxos
financeiros e de comércio (concretizados pela globalização) só traria vantagem por conta do
fluxo de capitais,renda gerada, mudanças tecnológicas,emprego e divisas,ou seja,
desenvolvimento econômico. Os fatos nas áreas periféricas do capital não confirmam essa
hipótese. Os benefícios foram para o andar de cima do capitalismo, formado por grandes
grupos e segmentos específicos (os enclaves e quase enclaves); para as demais camadas
(pequenas e médias empresas e a economia informal) essa lógica neoliberal que iguala
segmentos diferentes os deixa paralisados ou lhes aumenta o grau de vulnerabilidade.
Essa repartição desigual de recursos e benefícios que prevalece entre esses segmentos
distintos, decorrente da estratégia de desenvolvimento atual, poderia explicar a estrutura e a
dinâmica setorial do emprego dentro da economia. De um lado milhões ocupados
precariamente (agricultura e economia informal da indústria e serviços) ou no linguajar
economês com baixa produtividade do trabalho; no outro, um número reduzido de empregos
qualificados alojados em áreas intensivas de capital (commodities) e de alta tecnologia
(informática/eletrônicos).Contrapondo a essa dicotomia estáa parte mais representativa do
emprego formal originário do serviço público(municipal,estadual e federal)a do comércio e
serviços.
A transição demográfica registrada no período acompanhou a queda da participação da
agropecuária na economia. Isso levou a uma queda absoluta da força de trabalho no setor, mas
mesmo assim, a agropecuária continua sendo o mais representativo de todos (ocupa mais de
dois milhões), seguido do comércio e serviços de reparação, construção civil e serviços de
(educação, saúde e serviços sociais).Isso reflete o perfil da economia mostrado anteriormente,
onde sobressaemo binômio grandes empresascapitalistas eunidadesde fundo de quintal pré-
capitalistas.O setor industrial propriamente dito,isto é, o de manufatura que só é importante no
estado do Amazonas, 44% e Pará, 44%, não foram dinâmicos o suficiente para absorver o
excedente gerado pela transição demográfica das últimas décadas e muito menos a indústria
extrativa e de monocultura, apesar do incremento absoluto e relativo que ocorreu nestas
atividades. O que se constata é que as mudanças setoriais ocorridas no período na região não
foram capazes de alterar o padrão antigo de ocupação da força de trabalho, ou seja, pouco
alterou quem efetivamente emprega, as atividades intensivas de mão de obra de baixa
produtividade espraiadas em todos os setores da indústria, agricultura, serviço e comércio.
Povos tradicionais em colisão com estratégias empresariais no Maranhão e Pará
Como práxis deverá surgir aos remanescentes desses territórios políticas compensatórias
sob forma de novos programas e projetos especiais para mitigar os problemas desse processo
coletivo de expropriação fundiária em andamento na Amazônia sob a égide do Estado, a favor
dos grandes projetos de investimento.Embora o processo de expropriação fundiária efetivado
contra pequenos produtores da Amazônia não seja fato recente, sem dúvida, no pós-90, com a
hegemonia das forças de mercado,isto se aprofunda e generaliza-se, não deixando de fora nem
os grupos mais tradicionais, como os ribeirinhos, indígenas, e extrativistas, implicando num
contínuo processo de territorialização e desterritorialização na Amazônia.
4.2Evoluçãoe geografia do desmatamento
O desmatamento naAmazônia, pelo que já se viu, acompanha a expansão de três
atividades, a pecuária, a produção soja e a carvoariausando-se as matas nativas.O mapa do
agronegócio é também do desmatamento.Nas últimas décadas, especialmente no século atual
em função da demanda externa favorável às exportações de commodities vinculadas às
monoculturas, à pecuária e à produção de carvão vegetal se expandiu vigorosamente. No
início dessa década se verificou um verdadeiro boom em todas elas.A soja,na Amazônia,
cresceu em área 222%, o rebanho bovino 157%,as pastagens plantadas 56% e o carvão
vegetal (floresta nativa) em 21%. Na fase seguinte há uma retração geral, a soja declina para
131% em área, a pastagem plantada a 66% e o rebanho bovino a 64% e o desmatamento27%,
no acumulado. Como essas atividades se expandem extensivamente, incorporando mais e
mais áreas o resultado são milhões de hectares incorporados ao processo produtivo na
Amazônia. Assim a dupla soja/boi responde por uma parcela significativa do desmatamento
detectado neste período analisado. Em 20 anos o incremento foi de 163.427 km2, isto dá uma
média ao ano de 1.600.000 hectares. Conforme pode ser visto no gráfico do INPE, em 1990, a
taxa era de 1.373.000 ha,atinge o ápice da série em 1995 com 2.905.900 ha;em 2000 decresce
para 1.822.600 ha e voltaa subir em 2004; depois vai declinado paulatinamente até chegar ao
menor índice da série em 2011, em torno de 650 mil hectares.
A área desmatada (acumulada) num espaço de 20 anos cresceu 79% (saiu de 415.200
km para 743.264 km2) um incremento de quase 33 milhões de hectares.No período pré-Real
até o final do segundo governo FHCo incremento foi de 41% contra 27% do período
seguinte.A diferença é que na era Lula a tendência é de queda enquanto no outro foi de
ascensão.
Povos tradicionais em colisão com estratégias empresariais no Maranhão e Pará
Significa que, de uma forma geral, ao longo deste período se tem vários picos revezados
por inflexões, que estão associados a um conjunto de fatores de caráter estrutural e
macroeconômico, e ainda, outros de fundo conjuntural e microeconômico. Portanto, com
determinações que nem sempre estão ligadas a uma ou outra atividade econômica específica ou
particular, mas um somatório de variáveis. Quando se fala de determinante de desmatamento é
preciso reconhecer que numa gigantesca área como a da Amazônia (mais decinco milhões de
quilômetros quadrados) é extremante difícil e complexo identificar o que determina essa
dimensão e o ritmo frenético de desmatamento que se constata ao longo das últimas décadas.
O desmatamento de hoje é uma resultante de um somatório de forças de origem interna
eexterna que agemhá muito tempo na região e que se somam a outras novas.A cada momento
poderia se nomear variável que lideram o processo. As migrações espontâneas nos anos 1950 e
60,que se intensificam com a rodovia Belém-Brasília foi um fator fundamental, na
incorporação de milhões de hectares ao processo produtivo e, portanto, um fator também de
desmatamento. Atores desta fase inicial foram posseiros, madeireiros e pecuaristas.Após essa
etapa uma política regional ativa, baseada primeiro nos incentivos fiscais a grandes
empreendimentos capitalistas, exercida pela Sudam nos anos 1970 e 80, se encarrega de
Povos tradicionais em colisão com estratégias empresariais no Maranhão e Pará
5Àguisa de conclusão
O perfil e o desempenho da economia regional (Amazônia) nas últimas
décadasdireciona para algumas reflexões. Apesar do crescimento econômico da região ser
maior do que o do país isso não assegurou mudanças qualitativas significativas traduzidas em
termos de um desenvolvimento econômico includentepara a maioria da população. A razão
estaria na estratégia de crescimento escolhida, já analisada anteriormente e na manipulação da
principal variável responsável por essa performance – o investimento – efetivado pelos dois
atores responsáveis:o Estado e os oligopólios e, também, o vínculo forte à demanda externa.O
investimento, que é a variável determinante da economia, é quem dá o caráter da instabilidade
do crescimento, pois depende de um conjunto complexo de elementos, sendo a eficiência
marginal do capital (expectativa de retorno) o principal deles(KEYNES, 1987).O
investimento pode ser público e privado.Sobre o primeiro o governo poderia interferir
diretamente e sobre o segundo (também sobre a demanda externa) via uma política econômica
que induz a iniciativa privada a fazê-lo.A questão é como atuar sobre essa variável numa
situação onde a presença do Estado na economia é demonizada,como era durante o período
neoliberal. Ele não o fará.É o mercado quem fará isso e como tal fará asua maneira,isto é, em
atividades e regiões específicas, não necessariamente aquelas que precisam de
investimentos.A presença do investimento público torna-se secundária, só com a
Povos tradicionais em colisão com estratégias empresariais no Maranhão e Pará
Referências