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Potências da imagem
SBD-FFLCH-USP
II~IW~I~
editora universitária
Chapecó, 2004
r-h Av. Senador Attílio Fontana, 591-E
Fone/Fax (49) 321-8000
UNOCHP,PECÓ Cx. Postal 747 CEP 89809-000-
UHIVERSIDADfCllMUNIT,(RlARl6JOHAlDECHAPEC6 Chapecó - SC
20900000795
CDD 302.222
ISBN: 85-7535-058-7 Catalogação: YaraMenegatti - CRB 14/488
,
Impresso no Brasil, 2004
Tiragem: 1000
Sumário
PrelaclO
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e Imagem . 7
Referências 143
Prefácio
crítica e imagem
Hay que manifestar ese anteojo hecllO forzosa realidad de una mente:
hay que mostrar un individuo que se introduce en el cristal y que persiste
en su ilusorio país (donde hay figuraciones y colores, pero regidos de
inmovible silencio) y que siente el bochorno de no ser más que un
simulacro que obliteran Ias noches y que Ias vislumbres permiten
(BORGES, 1925).
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Prefácio - crítica e imagem
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Prefácio - crítica e imagem
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Raúl Antelo
dezembro, 2003.
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o
inconsciente
ótico do modernismo
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o inconsciente ótico do modernismo
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Em 1842 eram pela primeira vez mostradas fotos na Exposição Geral; elas
continuarão presentes, recebendo distinções nesses certames, tanto na sua
forma propriamente mecânica, quanto realçadas sob a espécie das foto-
pinturas - processo que, em 1866, Victor Meirelles compreensivelmente
desaprovava por lhe parecer fonte de retrocesso 'da verdadeira arte'. As
diversas variantes da foto-pintura, praticada pelo menos desde 185 O e tantos,
por um Joaquim lnsley Pacheco (ele mesmo artista do pincel) e por um
Augusto Stahl (associado, no Recife, ao pintor Steffen, no Rio de Janeiro a
Wahnschaffe), aderem ainda artistas visuais de certo prestígio, como Louis-
Auguste Moreau, Miguel Caiiizares e Ernst Papf; este último chegou
mesmo a abrir durante algum tempo atelier especializado. O trabalho de
encarnar o 'fantasma' fixado na placa 'que podia ser recoberto a óleo, a
guache e mesmo a pastel' segundo sempre Victor Meirelles, 'se algum
merecimento pode ter é certamente devido ao pintor e não ao fotógrafo'. A
firma Carneiro & Gaspar contava com o grafismo elegante de Courtois; já
Alberto Henschel 'avivava' pessoalmente as suas reproduções; José Ferreira
Guimarães especializara-se, por seu lado, em 'retratos vitrificados, fixados
a fogo como as pinturas de Sevres e Limoges'. Uma referência apenas à
fusão foto-litografia: um gênero que encontra alguns dos mais altos
momentos da nossa iconografia oitocentista nas vistas brasileiras fixadas
pelas objetiva de Victor Frond e litografiadas pelos melhores mestres do
gênero da Paris de N apoleão lIl. Precedem -nas de um decênio o panorama
da capital do que os lápis litográficos de Benoit e Cicéri deram relevo todo
especial (EULALlO, 1992, p. 156).
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o inconsciente ótico do modernismo
A imagem fotográfica
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1. M.P. (pseud. Carlos Drummond de Andrade). Retratos do artista quando menino. "Jornal de
Letras", Rio de Janeiro, novo 1949. É o único texto de Drummond com essa acrografia.
2. Prefaciado por Gómez de ia Serna e Eugenio d'Ors, Antonio Ferro foi biógrafo de Oliveira Salazar.
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o inconsciente ótico do modernismo
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ler. Como assinala Bourdieu, uma foto não é nada sem essa epígrafe
que nos diz o que deve ser lido - legendum - ou seja, algo que, com
frequência, é só uma lenda que nos faz ver qualquer coisa. Mas neste
nomear, fazer ver, criar ou levar a existir, as epígrafes particularizam,
precisamente, uma característica da fotografia, sua distância média entre
o infinito e o sujeito, seu traço irredutível, o ça-a-été que lhe atribuía
RolandBarthes(BARTHES, 1997,p.1l63;ZAPATA, 1997,p.1O-14).
Todas as imagens da matéria em questão sublinham ou dobram
o que a imagem impõe, um irrevogável passado colonial e migratório.
"An italian fruit vendor", "The itinerant Portuguese grinder", "The
Portuguese fresh-eggman", "The Portuguese ambulant seller of
brooms and feather-dusters", todas apontam um mundo de interesses.
Interessere, que está entre dois mundos, que afirma e nega, que atrai,
enfim. São o complemento de outras imagens, as de vendedores de
frutas pintadas por Tarsila do Amaral ou ainda aquelas outras, filmadas
por Humberto Mauro na mesma época, as de profissões rurais
condenadas, cuja distância dramatizam os cantos de trabalho. Nestas
que nos ocupam, no entanto, uma identidade européia, manual e
artesanal, é arquivada com o mesmo gesto com que outra nova, nacional
e industrial, a substitui. Mas esta mudança não é menos problemática,
já que o novo, tão novo, diga-se de passagem, como o Estado que o
promove, o Estado Novo, é um regime autoritário, de repressão interna,
alinhado aos Estados Unidos, sua proteção externa, para uma drástica
industrialização do país.
As fotos, portanto, suspensas em meio à metamorfose, mais do
que o "eis aqui" mítico do novo, exibem a problemática imagem do
"isto foi", ou seja, a distância de uma modernidade esquiva que se impõe
como proto-história de nossa reconstrução contemporânea. Essas
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o inconsciente ótico do modernismo
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[...] não reconhece Nietzsche qualquer idéia moral que pretenda definir o
bem em si ou o mal em si: bem e mal são conceitos relativos, que se
modelam sobre os objetivos da vontade-de-poder do homem superior. Os
fins justificam todos os meios, desde que se tenha em vista desenvolver na
personalidade humana a vontade-de-poder, que traz em si os bens supremos
e essenciais da vida, que gera tudo o que é grande, nobre e duradouro sobre
a terra. A filosofia de Nietzsche conduz, assim, a uma 'transmutação de
todos os valores', com o fito de alcançar o sobrehumano, isto é, a
personalidade que transcende, que se satura dessa potente e grandiosa
vontade-de-viver ou vontade-de-poder, símbolo da dominação do homem
sobre si mesmo e sobre o mundo exterio~ (ANDRADE, 1949).
3. Prefácio de Agrippino Grieco. Com aparente objetividade, Almir de Andrade observa neste
prefácio posterior à guerra que "a doutrina de Nietzsche foi a grande inspiradora do Führerprinzip
do pensamento nacional-socialista alemão e de toda a filosofia política do Nazismo e do Fascismo."
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o inconsciente ótico do modernismo
Fascismo e imagem
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Políticas da amizade e
anamorfose do moderno
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7. Apesar dos elogios de Marinetti, na conferência da Sorbonne, no sentido de ser o primeiro pintor
do futurismo, ou no artigo para "El Diario", em sua visita a Buenos Aires em 1926, seu principal
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defensor, Xul Solar; argumenta que "não pretende Pettoruti impor-nos uma moda dada, convencendo-
nos de qualquer coisa com a pujança de seu talento. Sua arte está dentro de todo o século espiritual
presente. Desta época em que a arte é mais individual e arbitrária do que nunca, não podemos dizer
que seja anárquica. Existe, apesar de tanta confusão, uma tendência bem definida para a simplicidade
dos meios expressivos, a arquitetura clara e sólida, até a pura plástica que conserva e acentua a
significação abstrata de linhas, massas, cor, tudo dentro de uma liberdade de compreensão e composição.
Estas amplas perspectivas novas, este sério esforço de Pettoruti - dissidente por fim - nos ocasionam
um alívio e uma liberação. A valentia desse pintor exemplificará" (PETTORUTI, 1924).
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Políticas da amizade e anamorfose do moderno
trata-se de que a pintura não siga as leis externas, alheias à sua essência,
não prossiga tiranizada pelo 'motivo', mas que, pelo contrário, torne-se
independente e desvincule-se completamente do mundo exterior, para
não seguir senão suas próprias leis, impostas por necessidades de ordem
exclusivamente plástica: a cor e a linha.8
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à natureza tinham compreendido as artes praticamente como IMITAÇÃO. A música não imitava
de modo fàcilmente compreensivel a natureza. D'aí apezar do prazer todo sensual que distilava, da
preferencia em que era tida, de seu lugar preponderante e indispensavel nas funções de magia e
religião, o estar sempre esclarecida, tornada inteligivel pela palavra. [...] Libertada da palavra, em
parte pelo aparecimento da notação medida, em parte pelo desenvolvimento dos instrumentos
solistas, conseguiu enfun tornar-se MÚSICA PURA, ARTE, nada mais." (ANDRADE, 1925).
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Políticas da amizade e anamorfose do moderno
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10. Nas páginas de uma revista fàscista brasileira, Portinari invoca as palavras de Stalin para
ilustrar que um artista como Dostoievski foi mais valioso para a revolução do qu~ o próprio Lenin,
com o que pretende demonstrar a necessidade da arte nos novos imaginários, populares e modernos.
A política de aquisição de obras para os museus apóia-se assim em dois exemplos, digamos,
surpreendentes, Mussolini e a Argentina. Ambos compram arte moderna para suas coleções
públicas. Um movimento de renovação nas Belas Artes. "Hierarquia", n. 5, Rio de Janeiro, mar/
abro 1932, p. 188-9. É nessa linha que Pettoruti escreve sobre os "Fines y organización de los
salones de arte", em "Sur" (set. 1935),
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Políticas da amizade e anamonose do moderno
Rebelo
11. Algumas destas opiniões estão recolhidas em suas memórias, "U n pintor ante el espejo" (Buenos
Aires, Hachette, 1968); outras, em compensação, encontram-se disseminadas na imprensa periódica
brasileira. É o caso da anotação pioneira de um dos colaboradores de "Martín Fierro", seu ilustrador,
o artista plástico Francisco Palomar (Fapa), que, instalado no Rio, divulga a obra de Pettoruti na
mesma revista que, pouco depois, se interessará pela obra de Le Corbusier (cf. PETTORUTI,
1928). Mas, provavelmente a partir da exposição de 45, retoma o interesse brasileiro por Pettoruti
como o demonstram os artigos de Oswaldo Alves (1945).
12. Contrariando sua tendência por nítidos contornos realistas, o debut de Rebelo entre os
antropófàgos se dá com um poema chamado "Matinal" ("Revista de Antropofagia", ano 1, n. 2,
São Paulo, jun. 1928):
Eu abri a janela
e respirei fundamente a frialdade
da manhã
Junto à indefinição penumbrista da neblina, envolvendo o clima já abstraído de "a cidade" e não
do Rio de Janeiro ou outra qualquer, a energia de praticar uma inauguração e instalar uma
moldura na nova sensibilidade impõe o talho da iluminação, isolada visualmente no meio do
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poema como o hiato fundador "da manhã". Boa parte do debate sobre o materialismo dramático da
modernidade estende-se entre esses dois polos, o decadente (o nevoeiro) e o incipiente (a manhã).
Basta recordar o fragmento inicial de Ecce Romo nietzscheano com sua tensão entre forças ativas
e reativas.
13. Em "Modernism, PostmodernÍsm, and Explanation", Frank Kermode argumenta que "it is
surely in this sense - the revaluation of the illexplicit, the rejectioll by one means or allother, of the
cause-haullted past - that we understand the foulldation of the modern, though we have to add that
here, as elsewhere, programs to abolish the past are usually accompanied by llewly created views
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of it - less continuous ones perhaps, more scattered, more open to synoptic viewing, yet offered as
valid pasts ali the same" (BARKAN; BUSH, 1985, p. 370).
14. A. B. (pseud. Antonio Berni). "Veinte artistas brasileííos". Latitud, Buenos Aires, set. 1945.
Encontrando-se em 1'vlendoza,Rebelo responde a Berni atravéé de uma carta aberta publicada por
"La Palabla" (24 set. 19+5), "Esclarecin~ento sobre um comentário de 'Vinte artistas brasileiros"';
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"A exposição 'Vinte artistas brasileiros' não é particular; veio sob os auspícios do Ministério da
Educação e do Serviço de Cooperação Intelectual do Ministério de Relações Exteriores do Brasil,
obedecendo, portanto, a disposições constantes de tratados culturais entre a Argentina e o Brasil.
Responde ao convite formulado em julho de 194+pela Direção Geral de Bellas Artes da Província
de Buenos Aires, o primeiro convite que se fuzia aos artistas modernos brasileiros para expor na
Argentina, no Museu de Bellas Artes de La Plata, cujo diretor, senhor Emilio Pettoruti, incluiu
entre os atos oficiais do ano de 1945, o início de uma série de exposições de artistas do continente,
com o democrático propósito de 'aproximar por todos os meios os espíritos dos homens representativos
dos povos, e nada melhor do que um intercâmbio de obras de arte para servir-nos em nosso
objetivo'. Não é esta exposição um panorama completo da arte moderna brasileira, mas é um
conjunto, como seu título o indica, de vinte valores destacados. Diversos obstáculos - por desgraça
sempre se apresentam em iniciativas desta natureza - impediram ao organizador trazer outros
valores destacados; por exemplo: Cícero Dias, que se encontrava em algum lugar da França em
guerra; Carlos Scliar, soldado das forças expedicionárias, que lutavam na Itália; e quanto ao senhor
Segall, de futo o visitei em São Paulo, quatro meses antes do último prazo para a saída da exposição
e, oportunamente, poderá ser conhecida a cópia fotostática da carta do pintor, na qual, com sua
habitual atenção, me informa e lamenta que razões técnicas impossibilitem sua participação. No
entanto, esses e outros valiosos artistas não foram esquecidos no livro que, sobre a pintura moderna
do Brasil, será lançado em breve pela 'Editorial Poseidón' desta Capital, com um estudo do
conceituado crítico e professor, Dr. Jorge Romero Brest. Os valores apresentados são vivos e
combativos. Todos se sentem orgulhosos em terem suas obras expostas a seus colegas argentinos,
uruguaios e chilenos, conhecendo a necessidade dessa aproximação urgente, artística, antes de
tudo, pois ninguém ignora que os artistas latino-americanos se desconhecem quase por completo.
E é para este preliminar conhecimento que se pode organizar um efetivo e lógico entendimento,
baseado no justo valor artístico, político e moral de. cada um. Referente às convicções íntimas do
subscrito - sem as quais não lhe haveriam entregue as obras os artistas mais absolutamente
vanguardistas de seu país em todos os sentidos - são por demais conhecidas através da mensagem
conferida pela Associação Brasileira de Escritores para a Sociedade Argentina de Escritores e lido
em reunião especial de amistosa confraternização, mensagem que foi comentada na imprensa
portenha. Finalmente, em relação aos citados Princípios proclamados pelo Congresso de Escritores
Brasileiros, em São Paulo, princípios que a revista 'Latitud' reproduz em forma destacada cinco
meses depois de sua publicação nos jornais brasileiros, cabe dizer que o subscrito foi eleito
delegado do Distrito Federal a esse Congresso. N ele foi, além disso, eleito secretário da importante
Comissão de Direitos do Autor e assinou os Princípios Políticos do Congresso em um dos momentos
mais dificeis da vida pública brasileira, quando exercia, como ainda exerce, um cargo de comissão
no Ministério da Educação, o qual depende diretamente da Presidência da República."
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15. Algumas das peças foram cedidas por colecionadores brasileiros, entre eles o escritor Francisco
Inácio Peixoto, do grupo de Cataguases, o crítico Queiroz Lima, editor da revista "Espírito Novo"
do Rio, a atriz Tania Carrero e o próprio Candido Portinari.
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descer do céu uma luz que ilumine o outro lado das suas vidas?"
Quem responde à pergunta do narrado r não é nenhum leitor
brasileiro mas o pintor Antonio Berni, que multiplica as vidas
possíveis de Leniza Máier, em seu quadro de 1945, "Orquestra
típica". À direita da cena, meio marginal, quase caindo do cenário,
em traje amarelo, que se recorta sobressaindo em meio à estudada
correção da orquestra de tango, a cantora, a estrela que sobe. Mas
esta possível anamorfose, que reúne na ficção as criaturas que se
opõem na vida pública, abisma-se, insaciável, na fronteira
aparentemente intransponível da história. Ela mesma cede, perante
os poderes da ficção, e materializa uma nova estrela ascendente,
que faz da mensagem espiritual a razão de sua vida:
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hirtos, trabalhar por uma vida melhor para a classe humilde. Quem
poderia reunir qualidades de compaixão, generosidade, dedicação
infatigável, amor pelo desvalido e serenidade espiritual para preencher
este vazio? Só havia uma pessoa, uma só (DIEZ GOMES, 1945).
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16. A filosofia de Nietzsche não tem maior cotização no mercado dos valores da filosofia acadêmica
e doutoral pela mesma razão que o pathos musical da vida, inspirado por Dionísio, perdeu sentido
e poder em nossas almas e em nossas construções ciclópicas de um saber de alvenaria (MARTÍNEZ
ESTRADA, 1950, p. 192-4).
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Montevidéu
17. Desse esforço interpretativo supranacional derivam as "Diferencias y semejanzas entre 10s
países de América Latina" (Caracas: Ayacucho, 1990) e, ainda, a '~nálisis funcional de Ia
cultura" (México: Diógenes, 1971).
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Emílio Pettoruti - Livro em hranco
(1946-1947)
José Alv
(Museu Na'clOnalesdePedrosa - E h-oçoL a Plata)
e as Artes
BIs
Carlos Leão - Mulheres (Museu de Belas Artes - La Plata)
Di Cavalcanti - Carnaval
Alberto da Veiga Guignard - Uma família na praça
(Museu de Belas Artes - Montevidéu)
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18. Alguns anos mais tarde, o crítico argentino Julio E. Payró discursaria na Universidade de
Montevidéu sobre o pintor p1atino (cf HEI Pais", Montevidéu, 10 out. 1948). Agradeço a PabIo
Rocca a gentil transcrição do esboço biográfico de Torres García.
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19. "Se inaugurá Ia exposicián 'Veinte artistas brasileiíos' en el subte". El Día, Montevidéu, 6
out.194S.
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20. "Realizou-se na Argentina pela primeira vez uma exposição de pintura moderna brasileira".
"O J orna!". Rio de Janeiro, 16jan.1946. A entrevista foi concedida a Brito Broca, crítico refinado,
autor de 'Y\.vida literária no Brasil - 1900".
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Leituras
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21. Pretendia, de futo, o autor de Oscarina suscitar uma movimentação cultural brasileira e, para
isso, projetou uma série de antologias prefuciadas por escritores argentinos. Em carta a Drummond
de Andrade, que este parcialmente revela em sua crônica "Rebelo's news" ("Leitura", Rio de
Janeiro, outubro 1945), confessa a lista. "Na editora Nova, uma antologia de contos; na Schapire,
uma de poemas. Os contistas serão apresentados por Luís Baudizzone e os poetas por Petit de
Murat, todos em tradução de Raul N avarro, conhecido fan das letras brasileiras. Não me critiquem
a seleção, adverte-nos Rebelo, o importante é que os livros saiam, onde até agora, no gênero, nada
saiu". A contrapartida oficial serão as "Conferências no Prata" (1946) de José Lins do Rego,
evento simultâneo de apoio à exposição de Rebelo.
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Políticas da amizade e anamorfose do moderno
[...] o mundo simplíssimo que só criou com linhas me fez sentir com
absoluta imediatez sua profunda mensagem expressiva. Ainda que
dissimule uma estrutura racional, e ainda que pareça primitivo ou infantil,
o desenho tem grande riqueza de imaginação expressiva; Guignard brinca
nele com traços de diferentes intensidades, recorre a supemcies cheias,
valoriza os brancos - sobretudo esse dilatado céu que ocupa a maior
parte da folha -, renuncia quase por completo às sombras, e vai escrevendo
com uma caligrafia singular, como se houvesse querido registrar as
menores emoções que as coisas lhe produziam, uma frase terna, de
deliciosa doçura. Nos óleos agrega-se a este elemento emotivo da linha
a força espontânea e brilhante da cor, contrastado com maior pujança
que nas paisagens de Tarsila e com uma pastosidade que permite dar
qualidade de objeto-volume às figuras distribuídas segundo um sentido
rítmico que é produto de uma maravilhosa alucinação ante as coisas.
Mas a cor não se modela em seus quadros nem é expressão íntima de sua
rica percepção visual: ainda nos óleos é o traço estremecido e
aproximativo, o que guia, equilibrando a emoção circunstancial ante as
coisas e o mais rigoroso sentido da construção arquitetônica.
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Dobras e redobres
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Políticas da amizade e anamorrose do moderno
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22. Inspiro-me, aqui, no brilhante libelo de Gilberto Vasconcelos, "O principe da moeda;' (Rio de
Janeiro: Espaço e Tempo, 1997), que interpreta o governo FHC como mostra do capitalismo
videofinanceiro que sepulta, decididamente, o grande fantasma, Getúlio Vargas.
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Suplemento de imagens:
de Whitman a Jorge Amado,
passan do por "Macunalma,
/"
e até mesmo GarcÍa Márquez
23. Carybé - "Carta a Telê Porto Ancona López", datada de Salvador, 22 março de 1977 (inédita).
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Carybé - Brasil
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Suplemento de imagens
Carybé - Brasil
24. Idem.
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Carybé - Luna Muerta I Carybé - Luna Muerta 111
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Carybé - Tfíált WhÍtman I Carybé - Tfíált WhÍtman 111
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Caryhé - DescohrÍmento
Carybé - Ninguém
escreve ao coronel
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Amado: tradição e extradição
25. "Ficou a 'Cobra Norato' de Raul Bopp, 'Macunaíma' de 1\1ário de Andrade, dois romances de
Oswald de Andrade, livros de versos de Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Felipe de Oliveira,
contos de Antônio de Alcântara Machado, uns estudos de Ronald de Carvalho e outros de Renato
Almeida. De repente parou tudo, não havia mais nada que destruir". (AMADO, 1934. p.48-51).
26. No mesmo texto, separa Oswald de Andrade do próprio modernismo, argumentando que
"después de terminado eI movimiento modernista fue cuando Oswald de Andrade se reveló con
°
toda su fuerza de novelista. Ése es eI novelista dei modernismo" (AMADO, 1936, p. 22). artigo
original teria saído no "Diário de notícias" do Rio de Janeiro.
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Amado: tradição e extradição
27. Pouco depois, o mesmo jornal "Dom Casmurro" começaria a republicação em fàscículos do
romance de Manuel A. de Almeida. Mesmo assim, a observação antecede tanto o clássico ensaio
de Mário de Andrade '-obre Manuel A. de Almeida quanto a biografia que dele traça o próprio
Marques Rebelo.
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28. E acrescenta: "Foi em 1700. Lima já tinha o ar de hoje, tirando as novas avenidas. Já existiam
os balcões, os belos palácios, as igrejas maravilhosas. Só não existia o palácio de La Perricholi pois
a mestiça ainda não havia nascido. N o ano de 39 do século XVIII, nasceu ela do casal José Villegas,
mestiço, e dona Teresa Hurtado de Mendoza Villegas. Micaela cresceu linda e mestiça nas ruas
de Lima, de mistura com frades inquisidores e mestiços de índios espanhóis. Cresceu e foi atriz.
Mas, por este tempo chegou ao Peru um novo vice-rei enviado por Espanha. Don Manuel de
Amat y Junient se chamava ele. E com esse nome francês o nobre espanhol, sexagenário, veio se
bater nas terras cheiás de ouro do Peru. Porém melhor que o ouro ele encontrou La Perricholi e por
ela se apaixonou e pela sua paixão fez as maiores loucuras. Construiu inclusive o palácio que hoje
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Amado: tradição e extradição
leva o nome da sua amante. Foi o mais lindo romance de uma mulher fàtal na América do Sul
espanhola" Cf Amado (2001) - "Ronda das Américas. 6. Peru". Dom Casmurro, Rio de Janeiro,
9 jun. 1938. Em 16 de dezembro de 1939, o mesmo jornal transcreve um ensaio do historiador
peruano Jorge Basadre a respeito da "Vida intelectual do Peru no tempo dos Vice-Reis".
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29. "Aleijadinho fue un producto natural, si no lógico, de su región. En toda su obra parece existir
una intención simbólica, que, aun cuando probablemente fue conocida de alguno de sus
contemporáneos, no há sido observada por Ia mayoría de sus críticos o sus intérpretes. Creo yo que
Ia visión física del escultor estaba deformada por su deseo de transmitir por media de una forma de
arte entonces popular-Ia escultura religiosa-un mensaje político. Si mi interpretación de su
obra es correcta, Aleijadinho fue un precursor: como un Greco mulato por sus atrevidas contorsiones
de Ia forma humana, se anticipó en dos siglas a Ia obra de Rivera y orozco, de Portinari y Cícero
Dias, artistas modernos latinoamericanos en cuyo arte hay a menudo una intención política simbólica
aI mismo tiempo que una tendencia a Ia exageración, a Ia deformación, a Ia caricatura". O trecho
aparece, expandido, em "Interpretação do Brasil". '~spectos da Formação Social Brasileira como
Processo de Amalgamento de Raças e Culturas". Introd. O. Montenegro. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1947, p. 279-314. A rigor, o livro teve uma primeira edição mexicana pelo Fundo de
Cultura Econômica em 194-5.
30. Essa talvez seja a fonte da tese amalgamadora cultural (Aleijadinho/ Gregório) desenvolvida
por Gilberto Freyre logo em seguida.
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Amado: tradição e extradição
31. "Esa lengua es el gran defecto de algunos libras muy importantes, entre ellos el Macunaíma de
Mário de Andrade, realizado sobre el material más popular posible, como son Ias leyendas
amazónicas, pero escrito en un idioma que el pueblo no entiende. Verboso, poco literario y
antipopnlar. Una creación artificial que ayudó mucho a que Ias modernistas fuesen siempre
enteramente desconocidos del público brasileno". (AMADO, 1942, p. 59-64).
32. Em "L 'antidogmatique", sua colaboração para o número monográfico de "Europe" (a. 35, n.
133-134 jan. e fev. 1957), dedicado a Berlold Brecht, Amado parece temperar os arroubos
personalistas da era Stalin. Não tive, infelizmente, acesso à revista "Para Todos", em cujo número
8 (primeira qninzena de setembro de 1956), Amado publicou "O antidogmático".
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Amado: tradição e extradição
33. ''A solidão é triste". "Dom Casmurro", n. 116, Rio de Janeiro, 2 set. 1939, p. 2. Quando da
morte de Freud, no final desse mesmo ano, Amado publica um artigo que, nas entrelinhas, refere-
se à polêmica entre fundadores e seguidores do modernismo. A notícia da tradução brasileira de
"Ciência da natureza humana", de Adler, serve-lhe para opor este a Freud e alimentar, assim, a
polêmica que "vinha se refletir no Brasil, atingindo uma violência inquisitorial pois o admirador do
psicanalista desejava que o livro do psicólogo ficasse desconhecido, não fosse divulgado nem lido"
(AMADO, 1939). As farpas se cruzam, ainda, nos artigos que Mário escreve sobre "Traduções"
para o "Diário de notícias" do Rio de Janeiro (13 ago 1939,7 jul1940), porque é sabido que
Mário considerava a tradução de "Dona Barbara", feita por Jorge Amado, um primor de descuidos
formais. Amado defende-se em "Um romancista sul-americano" ("Dom Casmurro", n° 131, Rio
de Janeiro, 30 dez 1939), argumentando que procurara "deixar intacta a força do estilo de
Gallegos e principalmente deixar intacta a força de vida que precorre todo este grande romance".
34. Sobre o tópico, consultar Almeida (1976) e Antelo (1984). É bom relembrar que o anti-
portinarismo vem se confundir com o anti-zeolimpismo. Quando Jorge Amado ainda era publicado
pela José Olimpio, admitia colaborar "na mais honesta casa editora do Brasil: a José Olimpio
Editora, essa que, sem dúvida, revolucionou os métodos editoriais no Brasil, criando para o escritor
uma outra situação de prestígio que não gozava antes do aparecimento desta editora no mercado
dos livros" ("Dom Casmurro", 14 abro 1938). Porém, após a polêmica do portinarismo, Joel
Silveira identifica o inimigo no zeolimpismo: "O zeolimpismo é uma doença meio desesperada: é
a doença que se apodera daquele que olha em redor e vê que o panorama vai se modificando aos
poucos, que há outra gente aparecendo com mensagem nova e mais honesta - e o jeito é tremer e
nzer força contra" (SILVElRA, 1940). Relembremos que em 1937 Amado está de mudança para
a Martins de São Paulo, ao passo que a José Olimpio lança a segunda edição de "Macunaíma".
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35. No mesmo artigo Oswald acusa Mário de ter ganho uma sinecura, o Departamento de
Cultura, que vitaminizava suas energias e as de "alguns burocratas ilustres, notadamente, o sr.
Sérgio Milliet".
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36. Resposta a "O inquérito da Revista do Brasil" acerca das tendências atuais da literatura
brasileira.
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Revista LeÍtura
fre:1de. Im.u!
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·lll .
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Em outros tempos, nas conversas dos morros, por vezes uma palavra
surgia, quase desconhecida, e ainda assim já com várias e diferentes
significações: comunismo. Podia significar esperança, no dizer de certos
fugitivos da polícia que cruzaram as ladeiras do morro em busca de
rumo; podia significar assassinos e ladrões se quem a pronunciava era
um dos homens ricos da cidade, desses que exploram os morros, seus
casebres e habitantes. Mas chegou o dia em que essa palavra foi legal,
deixou de ser pronunciada a medo, e as faixas do Partido Comunista se
levantaram em toda a cidade. E subiram pelos morros, e os habitantes
das ladeiras e das casas miseráveis viram que ela significava em verdade
esperança e luta.
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3 7. Poder-se-ia pensar que esse suplemento é de caráter paródico se atentamos para o fàto de Rui
Santos ter sido fotógrafo de filmes como "Moleque Tião" (1943), com Grande Otelo, "O craque"
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(1954) de José Carlos Burle, "O saci" (1953) de Rodolfo Nanni, "A sogra" (1954), de Armando
Couto ou "Uma vida para dois" (1953), de Armando Miranda. Rui Santos (1916-1989) foi
auxiliar de Mário Peixoto em "Limite" e documentarista do Departamento de Imprensa e Propaganda,
durante o Estado Novo ("Debret e o Rio de hoje", "Terra Seca", "Dança", "As missões"). Fez
curtas baseados em músicas de Dorival Caymmi, "A jangada e Itapuã". Como militante, Rui
Santos participou, ativamente, dos Congressos de Cinema de 1952 a 1955 junto com o Núcleo de
Alex Vianny, e da Comissão Provisória de Defesa do Cinema Brasileiro. Filmou "O comício de
Prestes no estádio de São Januário" e "Marcha para a democracia", um curta que abordava a
viagem de Prestes por São Paulo, Minas e o Rio Grande do Sul. Junto a Oscar Niemeyer fundou
a Liberdade Filmes, que realizou "O comício de Prestes no Pacaembu" e "Vinte quatro anos de
lutas", uma história do PCB com roteiro de Astrojildo Pereira. Fotografou '\'\. mulher de longe",
filme de Lúcio Cardoso. Fez ainda documentários curtos, nos anos 50, como '\'\. casa de Mário de
Andrade" e dois longas nos 60, "Onde a terra começa", um melodrama baseado em Gorki, e '\'\.
doce mulher amada". Seu último filme foi uma adaptação do romance de Lúcio Cardoso "O
desconhecido" (RAMOS, 2000, p. 495-6).
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Amado: tradição e extradição
38. Observe-se a diferença com a enumeração anterior, "eleito pelos cortiços, pelas favelas, pelas
fábricas, pelas casas-pequenas dos subúrbios, por todos os que desejam e necessitam um Brasil
melhor e mais justo", meramente acumulativa, com caráter suasório mais convencional.
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39. Transcrevo, a seguir, a crônica em sua íntegra: "Ao lado das praias maravilhosas, encanto de
turistas ricos, ao lado dos arranha-céus mais altos e luxuosos, de apartamentos de mil e uma noites,
ao lado das avenidas de asfalto com as lojas suntuosas, levantam-se os morros da cidade do Rio de
Janeiro, o pitoresco dramático da miséria, a alegre música dos sambas brotando da fome e da
doença. Os homens ávidos de sensação, chegados de outras plagas nos cruzeiros caros de"turismo,
após os casinos, as noitadas elegantes, as manhãs de sol em Copacabana, os passeios nos recantos
de verdura e beleza, gostam de subir; por desfastio, as ladeiras dos morros para juntar mais uma
sensação de pitoresco às recordações do Rio de Janeiro. Não reparam na miséria e na dor, na
dureza das vidas que desfilam nas ladeiras do morro: para eles só existe o estranho daquelas
moradias, os ritmos da música ainda bárbara, lembrando a África ancestral, as caras pedindo
fotografias. São os exploradores do pitoresco do morro. Os turistas de coração cansado, os literatos
de fácillitentura, buscadores de sensações que flutuam na superfície das coisas, dos sentimentos,
das existências. O morro não é antes de tudo o exótico e o curioso. O morro é o drama, é primeiro
a tristeza e a resistência. Tristeza nascida da subalimentação, das moradias infames, do abandono
e das doenças. Resistência contra tudo isso, de um povo que não se deixa matar, que transforma sua
desgraça em música e que marcha para a frente apesar de tudo. Em outros tempos, nas conversas
dos morros, por vezes uma palavra surgia, quase desconhecida, e ainda assim já com várias e
diferentes significações: comunismo. Podia significar esperança, no dizer de certos fugitivos da
polícia que cruzaram as ladeiras do morro em busca de rumo; podia significar assassinos e ladrões
se quem a pronunciava era um dos homens ricos da cidade, desses que exploram os morros, seus
casebres e habitantes. Mas chegou o dia em que essa palavra foi legal, deixou de ser pronunciada
a medo, e as faixas do Partido Comunista se levantaram em toda a cidade. E subiram pelos morros,
e os habitantes das ladeiras e das casas miseráveis viram que ela significava em verdade esperança
e luta. O morro se preparou para receber Luiz Carlos Prestes, o senador eleito pelos cortiços, pelas
favelas, pelas fábricas, pelas casas-pequenas dos subúrbios, por todos os que desejam e necessitam
um Brasil melhor e mais justo. Ensaiaram os melhores sambas, roncaram as cuícas, mas o senador,
esse estranho senador, queria ver também, e principalmente, o cotidiano daquelas vidas, as suas
dificuldades e seus problemas. O povo do morro logo compreendeu que Prestes não subia aquelas
ladeiras em busca de novas sensações para um coração frio e envelhecido. Ia, sim, conhecer os
problemas, ter um contato mais íntimo com essas experiências pobres, ia levar sua palavra de fé no
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futuro e suas consignas de luta e de unidade. Depois que ele desceu as ladeiras, após aquela
intimidade que logo se estabeleceu entre ele e a gente do morro, um novo habitante, ficou entre os
moradores e foi e a confiança. Muitos políticos em vésperas de eleição subiram as ladeiras do
morro, pedindo votos, fizeram promessas. O morro seria depois da sua eleição melhor que
Copacabana, um paraíso na terra. O senador do povo não fàz promessas. Quem pode resolver os
seus problemas é o próprio povo, unido e organizado. Os sambas ganham conteúdo e as células e
os comitês e os militantes e os simpatizantes multiplicam-se nos casebres e nas ladeiras. O morro
adquiriu consciência."
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que se desprende do olhar de Prestes comunica uma luz suave ao seu rosto,
desde as olheiras sombrias e caudalosas até aos lábios apertados num rictus
de dor ... Naquela noite Prestes pronunciou um breve discurso para um
auditório que se comprimia a dois metros de distância, e me pareceu tão
severo na expressão do pensamento como em seu alinho pessoal
(GUILLÉN, 1951, p. 6).
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Deleitação morosa:
imagem, identidade e testemunho
Leopoldo Lugones
Arte e vida
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Deleitação morosa
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40. "lI faut done largement tenir eompte dans une telle prévision de l'intervention probable dans
Ia culture commune des éléments de couleur. Dans Ia mesure ou de tels éléments participeront à
I' érnancipation révolutionnaire, Ia réalisation du socialisme leur apportera Ia possibilité d'echanges
de tous ordres avec les éléments de race blanche, mais dans des conditions radicalemént différentes
de celles qui sont faites aetuellement aux negres civilisés d'Amérlque. Or les colleetivités de
couleur, une fois liberées de toute superstition comme de toute oppression, représentent par
rapport à l'hétérologie, non seulement Ia possibilité mais Ia nécessité d'une organisation adéquate
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Deleitação morosa
Toutes les formations qui ont 1'extase et Ia frénesie pour but (mise à mort spectaculaire d'animaux,
supplices partiels, danses orgiaques, ete.) n' auriaent aucune raison de disparaitre le jour ou une
conception hétérologique de Ia vie humaine serait substituée à Ia conception primitive; elles
peuvent seulement se transformer en se généralisant sous 1'impulsion violente d'une doctrine
morale d'origine blanche, enseignée à des hommes de couIeur par tous ceux des Blancs qui ont
pris conscience de 1'abominable inhibition qui paralyse Ies collectivités de leur race. C'est seulement
à partir de ia collusion d'une théorie scientifique européenne et de ia pratique negre que peuvent
se développer les lnstitutions qui serviront définitivement d'issue, sans autre limite que celle des
forces humaines, aux impulsions qui exigent aujourd'hui Ia Révolution par le feu et par Ie sang des
formations sociales du monde entier." (BATAILLE, 1971, p. 54-6).
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Deleitação morosa
A idéia do 'jogo' é macabra; o desafio dos mil pontos que um, e somente
um, há de conseguir completar para ganhar - o quê? um "paner"/a
sobrevivência - me fez pensar, a certa altura do fume, se a intenção do
comediante não terá sido a de nos despertar para a brutalidade da vida
nas condições atuais. Entretanto, envolvidos no ambiente ficcional de
A vida é bela, nada nos resta senão torcer - pelo quê! Para que essa
criança seja salva, quando todas as outras foram exterminadas! Somos
poupados de sofrer pelas outras crianças; quase não as vemos - são
figuras distantes. Ninguém mais nos interessa, aliás. Sabiamente, os
outros prisioneiros são fotografados como parte do cenário, massa,
sempre em planos gerais, de modo que só a família do protagonista
tenha rosto, história, subjetividade. Os outros, os não-eus, não são
ninguém. Seu sofrimento não conta para o espectador. Mas essa criança
- uma criança amada por um pai com o qual o público se identifica -,
uma criança que poderia ser o filho de vocês!, se essa se salvar, estará
tudo bem. Torcemos para que Josué vença seu jogo imaginário,
apostando na sobrevivência do último valor inquestionável no quadro
do individualismo contemporâneo: a unidade familiar, a pequena célula
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41. Em um debate sobre "EI arte y su ética" ("Clarín", Buenos Aires, 28 feb. 1999), Juan Carlos
Volnovich defende leitura semelhante.
42. Em "Itália esconde história pouco conhecida da tragédia" (O Estado de São Paulo, 27 fev.
1999) o professor Andrea Lombardi desconstrói a estereotipia bipolar alemão cruel - italiano
cordial, mas lembra, ainda assim, de um episódio recuperado recentemente por Enrico Deaglio
("La Banalità del Bene. Storia di Giorgio Perlasca"), em tudo semelhante ao de Schindler, a
história do filo-fi-anquista Perlasca, que em 1944 fingiu ser cônsul espanhol em Budapeste para
poder salvar reféns judeus.
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Identidade e memória
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Paradoxos do testemunho
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43. Não é somente Menem que se mescla com ojet-set ou Fernando Renrique Cardoso quem tira
proveito da candidatura de "Central do Brasil" como estratégia unionista e unanipüsta em torno de
uma política, a de sua moeda, que perdeu toda "centralidade" nacional. Na mesma cerimônia da
indústria cinematográfica, introduz-se a guerra através de dois políticos soldados (Colin Powell e
John Glenn) que ressaltam, precisamente, a ausência de fronteiras, não mais entre o local e o
universal, porém entre o evento e sua imagem. Mais que no repúdio sessentista a Elia Kazan, há
aí o sintoma inequívoco de uma localização deslocante, a mesma que, dias depois, estoura na
guerra formal.
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Referências
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Referências
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Referências
SBOCI/ FFLCH
RUSP 21,77 265006
PREÇO:/TOMBO
USP
DISTR. CURITIBA 1 N.F.N° 177656
AQUISiÇÃO: DATA: 28/11/05
SEÇÃO DE: L
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