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DIREITO CONSTITUCIONAL I – AULA 7

OS DIREITOS FUNDAMENTAIS (CONTINUAÇÃO)

Liberdade de profissão/ofício/trabalho (artigo 5º, XIII): expressão da


dignidade da pessoa humana, é a possibilidade de exercer qualquer
atividade profissional, desde de que atendidas as condições que a LEI
FORMAL estabelecer (não serve decreto, não serve regulamentação de
conselho profissional).

A primeira condição, certamente, é a licitude da atividade em torno da qual


se exerce a atividade profissional: a atividade deve estar dentro do campo
do permitido ou do indiferente à lei, como vimos na aula sobre direito
geral à liberdade.

Em seguida, a lei poderá fixar requisitos para o exercício da profissão


(diploma, experiência), desde que acessíveis à generalidade da população.
As restrições não podem ser tão exageradas a ponto de inviabilizarem o
acesso à profissão. No Brasil, não cremos que o acesso a uma profissão
possa ser proibido em razão do juízo estatal sobre o número de
profissionais já existentes.

Constitucionalidade do Exame de Ordem.

Ausência de necessidade de diploma para jornalista (decisão do STF no


Recurso Extraordinário 511.961, em 2009) e músico (decisão do STF no
Recurso Extraordinário 414.426) por serem atividades que decorrem da
liberdade de expressão e liberdade artística.

Liberdade de locomoção (artigo 5º, XV): da própria pessoa e de seus


bens, dentro do território nacional, em tempo de paz.

É o direito de ir e vir, de escolher onde morar, dentro do Brasil. Não


existe um direito constitucional amplo à emigração ou imigração.

A lei poderá criar restrições, como o cumprimento de pena. Ou a


obrigatoriedade dos magistrados de residirem na cidade onde são juízes.
Outras restrições mais excepcionais, somente mediante a decretação de
Estado de Sítio, que afasta a ideia de “em tempo de paz”.

Liberdade de associação e formação de cooperativas (artigo 5º, XVII a


XXI): a associação é uma reunião estável (não momentânea, nem
ocasional) de pessoas (o número mínimo é de duas pessoas), que, por sua
livre vontade, juntam-se para seguir uma direção comum sobre um tema
(qualquer um, desde que lícito), estabelecendo entre si laços jurídico-
contratuais.

Não pode ter caráter paramilitar (que façam uso da força para seus
objetivos). As cooperativas (associações para prestação de serviço aos
cooperados – artigo 4º da Lei 5.764/71) podem ser regulamentadas por lei,
as associações nem isso, podendo ser criadas, mantidas, administradas,
extintas, independentemente de qualquer atuação estatal.

As associações somente podem ser dissolvidas por decisão judicial


transitada em julgado, em processo no qual se tenha discutido seu caráter
ilícito (apurado não apenas em seus textos, mas em seus atos também – ou
principalmente). A suspensão das atividades pode se dar por decisão
provisória, ante fortes evidências de atividades ilícitas.

Para além disso, no bloco de constitucionalidade admite-se a intervenção


estatal em associações apenas para concessão de direito de defesa
anteriormente à exclusão de um associado, decisão do STF no Recurso
Extraordinário 201.819 em outubro de 2005.1

Questões como democracia interna e tratamento discriminatório entre os


associados (sem repercussão para além da própria associação) são temas
fronteiriços, que ainda estão em debate.

http://www.stf.jus.br/portal/geral/verPdfPaginado.asp?id=388784&tipo=AC&descricao=Inteiro%20Teor
%20RE%20/%20201819, acesso em 28/08/2018
As associações podem representar seus associados, na Justiça ou fora dela,
se expressamente autorizadas para tanto (deve haver votação específica e
expressa, segundo o STF – Recurso Extraordinário 573.232, em 2014)2

As pessoas também têm o direito de não se associar, ou de deixar as


associações no momento em que desejarem, não podendo ninguém ser
compelido, por qualquer meio, a permanecer associado.

Direito de Propriedade (artigo 5º, XXII a XXXI): A propriedade ou


domínio é o vínculo jurídico que se estabelece entre as pessoas (físicas e
jurídicas) e as coisas: esta relação tem um sujeito ativo (o dono), um objeto
(a coisa), sendo todas as demais pessoas sujeitos passivos (obrigados a
respeitar a relação). Como todos os outros direitos, não é absoluto.

A própria Constituição informa que pode haver a desapropriação (tomada


da propriedade pelo Estado, mediante indenização), se ele não estiver
cumprindo sua função social. Isso significa que a atividade exercida na (ou
pela) propriedade não interessa apenas ao dono, mas à toda sociedade
brasileira.

A desapropriação poderá ocorrer ainda que a propriedade atenda sua


função social, caso haja necessidade ou utilidade pública, ou interesse
social, sempre mediante prévia indenização.

Em situações extremas (Estado de Sítio), pode haver também a requisição


de bens (empréstimo obrigatório).

A Constituição faz menção também a uma especial proteção à pequena


propriedade rural, impedindo mesmo que ela seja tomada por credores
para pagamento de dívidas decorrentes de sua atividade.

Por fim, pode haver também o confisco (tomada da propriedade pelo


Estado, sem indenização) se a propriedade rural ou urbana era utilizada
para cultura ilegal de plantas psicotrópicas ou se fazia uso de trabalho
escravo – artigo 243 da Constituição.

http://www.stf.jus.br/portal/geral/verPdfPaginado.asp?id=630085&tipo=AC&descricao=Inteiro%20Teor
%20RE%20/%20573232, acesso em 28/08/2018
É aspecto do direito de propriedade o direito de herança: a possibilidade
de transmitir aos sucessores os bens que alguém acumulou em vida. Por
força da Constituição, a lei deverá regular a sucessão de bens de
estrangeiros no país de modo a favorecer o cônjuge e os filhos brasileiros.
Mas se houver lei estrangeira mais benéfica, prevalecerá aquela.

A propriedade protegida não é apenas a propriedade material, mas também


a propriedade intelectual: propriedade industrial – invenções, patentes
(20 anos)3; e o direito de autor: obras de arte, literatura, voz, imagem (até
70 anos após a morte do autor)4.

Defesa do Consumidor (artigo 5º, XXII): reconhecimento da importância


do elo mais fraco na relação de consumo (relações de compra e venda de
bens e serviços comerciais). Desdobrada na Constituição em regras mais
específicas, nas questões tributárias (artigo 150, §5º) e na atribuição desta
responsabilidade ao Ministério Público (artigo 129, III), em típico direito
difuso.

3
Lei 9279

4
Lei 9610

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