Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISBN: 85-86522-93-7.
CDD 230.2
Tradução:
Tania Mara Alves Pereira Mendes
Wlademir Pereira Mendes
fuwisão:
Heloisa Lima
Capa:
Holy Design
Primeira edição:
Janeiro de 2003
i__
Dedicatória
Desde a fUndação da
StonebriarComrmmityChurch
de Frisco, Texas, no outono de 1998,
temos sentido a mão do Senhor
sobrenosso ministério.
Temosdesflutado de um amorprofimdo,
de uma devoção aut~ntica e cheia de signiEcado,
de uma alegria rara e de uma harmonia
com a qual ospastores lTeqüentemente sonham, mas
I' raramente t~m oprazer de testemunhar.
A principal razão para isto tudo ser tão evidente em nossa igreja
é a excelente liderança que compõe nosso Conselho deAnciãos.
Sinto-me extremamente privilegiado por servir
ao lado destes homens admiráveis,
pororarrnos juntos,
crescermosjuntos na Palavra,
e
juntos liderannos nossa igrejapara maior gl6ria de Deus.
STAN BAXTER
DAVID CHAVANNE
DICK CREWS
fIM GUNN
jOHNNYKOONS
BILL SOUSA
Sumário
Intwdução 9
As Trevas 13
.O Amanhecer 245
Apêndice
A Cronologia dos Eventos 355
Os Julgamentos de Jesus 355
O ensaísta e historiador
o otimismo cômodo escocês
e um Thomas Carlyle costumava
tanto superficial de Ralphdizer que
Waldo
Emerson o irritava. Carlyle acreditava que essa atitude era causada pela
vida particularmente tranqüila de Emerson, pois nenhuma sombra
escura jamais caíra sobre o caminho daquele homem. Para Carlyle, seu
contemporâneo da América se parecia com um homem que, estando dis-
tante até da névoa do mar, faz observações loquazes sobre a beleza da
natureza para aqueles que estão lutando pela vida em meio às ondas
imensas que se batem contra eles, ameaçando varrê-Ios para longe.
Quem sabe? Talvez Carlyle tenha feito uma avaliação correta de
Emerson; não podemos dizer com certeza. Mas, se minha experiência
pessoal da realidade é de alguma maneira confiável, sinto-me compe-
lido a acreditar de outra maneira. Por ser simplesmente um homem e,
portanto, fazer parte da raça caída da humanidade, Emerson, apesar
de brilhante e talentoso deve ter tido sua porção de tristezas e sentido
a dor dos ventos contrários em sua face.
A sombra do sofrimento paira sobre todos os caminhos. Mesmo
aquele que deixou o céu quando veio viver entre nós foi inseparavelmente
ligado àquela sombra. Como um dos seus próprios seguidores mais
tarde escreveu: "Ele veio para aqueles que lhe pertenciam ... e os que
eram dele mesmo n,ão o receberam e não lhe deram boas-vindas" (João
1.11, TheAmplmedBible).
AS TREVAS EO AMANHECER
Ninguém sabe qual era a aparência de Cristo, mas isto não foi motivo
para que inúmeros pintores - entre eles alguns dos maiores artistas de
todos os tempos - aplicassem pincel e tinta às telas para conceberem
suas próprias versões cria~ivas de sua aparência. Duas pinturas ines-
quecíveis que admiro têm o mesmo título: ''A Sombra da Cruz". Em-
bora tenham sido originalmente pintadas por diferentes artistas, des-
tacando cenas diferentes, ambas contêm o mesmo tema.
A primeira retrata uma cena dentro da carpintaria de José, em que
Jesus está trabalhando ao seu lado. Nela, Jesus, retratado como 'um
adolescente, interrompe seu trabalho para olhar pela janela da carpin-
taria. Ele está em pé, com os braços abertos e estendidos, e sua ima-
gem projeta uma sombra sinistra sobre a parede atrás dele. Uma som-
bra em forma de cruz.
A segunda pintura retrata Jesus como um rapazinho, correndo com
os braços estendidos para sua mãe, com o sol batendo em suas costas.
Projetada sobre o caminho diante dele, aparece a sombra escura de
uma cruz.
As duas pinturas deixam no observador a impressão indelével de
que a cruz estava ligada a Cristo desde o início ... desde os seus primei-
ros dias. Não podemos saber como era sua aparência, mas para todos
que examinam os registros inspirados, é evidente que Ele estava inti-
mamente familiarizado com o sofrimento.
Certamente a cruz foi uma realidade constante durante toda sua
vida. Embora as Escrituras não nos contem como; sua jovem mente
compreendia que a cruz o aguardava. Suas próprias palavras testificam
isso, mesmo antes de começar seu ministério, Ele sentia um chamado
compelindo-o a ocupar-se das coisas do Pai (Lucas 2.49). Além disso,
enquanto treinava seus discípulos, Ele não hesitou em contar-Ihes so-
bre o sofrimento que o esperava (Marcos 8.31-33; Lucas 9.44, 45).
Embora tais comentários confundissem e até irritassem seus discípu-
los, Jesus deixou claro que cada dia o levava para mais perto da sua
hora de agonia.
O Antigo Testamento também nos dá um impressionante retrato
da sombra da cruz. Mesmo escrevendo cerca de sete séculos antes de
18
o SALVADOR SOFREDOR
Tudo depende de
como você olha para o texto
Ele não riJJhaqualquer beleza ou majestade que nos atraísse, nada havia em sua
aparência para que o desejássemos. Foi desprezado e rejeitado pelos homens, lun
homem de dores e experimentado no soEimento (Isaías 53.1-3).
19
AS TREVAS EO AMANHECER
20
o SALVADOR SOFREDOR
21
AS TREVAS EO AMANHECER
Nenhum ferimento, nenhuma cicatriz?
22
o SALVADOR SOFREDOR
Deus via Jesus como nosso substituto. Deus também via o sofrimento
de seu Filho como parte de sua soberana vontade. O sofrimento do Salva-
dor o agradou. Mesmo assim o Pai não estava indiferente em relação a seu
Filho quando Ele foi para o Calvário. O povo dos dias de Jesus pode tê-l o
considerado insignificante, mas o Pai certamente não! Ele descreve os
sofrimentos de seu Filho em termos vívidos: "enfermidades", "doenças",
"castigado", "atingido", "afligido", "transpassado", "esmagado", "castigo",
"feridas". Deus colocou sobre seu Filho toda nossa iniqüidade e nos for-
nece um quadro claro do que isso significou para Ele, o Deus Pai.
Isaías 53 é o retrato de um indivíduo esmagado, castigado e pisado.
Nunca é demais enfatizar isto. Precisamos olhar novamente para essa cena
a fim de obter uma imagem realista do Salvador através das Escrituras. A
despeito de todo o seu poder e de sua inquestionável majestade, não
devemos imaginá-Ia como uma espécie de super-herói. Ele foi, na verda-
de, o Salvador Sofredor. Esmagado, quebrado e sangrando, Ele cumpriu
sua missão, ordenada por Deus, quando foi levado à cruz por nós.
Recentemente, temos visto um renovado interesse pelo tema da Se-
gunda Guerra Mundial, desde o best-seller de Tom Brokaw, The Greatest
Generation (A Maior de Todas as Gerações), ao premiado filme com Tom
Hanks Saving Priva te Ryan (O Resgate do Soldado Ryan). Mas, aqueles
dentre nós que têm idade suficiente para se recordar daquela guerra não
precisam ser lembrados. Embora eu ainda estivesse na escola primária
durante aqueles anos turbulentos, jamais esquecerei das fotografias
publicadas depois que a guerra terminou e foram abertos os portões da-
quelas câmaras de horror situadas em lugares como Dachau e Auschwitz.
Ou as fotos de tortura de Corregidor. Vítimas de campos de concentra-
ção ... prisioneiros de guerra ... todos reduzidos a frágeis e esquálidos es-
queletos humanos. Sobreviventes esmagados e prostrados pela dor. Ho-
mens e mulheres corajosos saindo cambaleantes para uma nova existência
de liberdade, vendo nascer uma nova esperança.
Estas trágicas imagens nos dão uma amostra de como seria a aparência
do Salvador quandq teve que enfrentar a agonia da cruz.
O povo desprezou-o pela sua aparência e pouca importância. O Pai
23
AS TREVAS EO AMANHECER
24
o SALVADOR SOFREDOR
Para isso voc& fOram chamados, pois também CristosoD:eu no lugar de vocÊ5,
deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos. EIENÃO COMETEU
PECADOALGUM, E NENHUM ENGANO FOI ENCONTRADOEM
SUA BOCA. Quando insultado, não revÍdava; quando sofria, não fàzia ame-
aças,mas ent.rfg.Jva-seàquele que julga com justiça. Ele mesmo levou em seu copo
os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para ospecados e
Vivêssemos para ajustiça; por suas feridas voc& fOram curados (1 Pedro 2.21-24).
Por que Deus esmagou seu Filho e o trouxe para o sommento? Ele fez isso
para solucionar a discrepância entre seu amor por sua glória e seu amor pelos
pecadores ...
Não foi por causa de seu próprio pecado que o Pai feriu o Filho. Foi
porque Ele queria nos mostrar misericórdia. Ele queria perdoar, curar, salvar
e alegrar-se conosco com altos louvores. Mas Ele é justo. Isso significa que seu
coração estava cheio de amor pelo infinito valor de sua glória. Mas nós éramos
pecadores. E isso significa que nossos corações estavam cheios de desprezo
por Deus. Assim, para salvar os pecadores e ao mesmo tempo engrandecer o
valor de sua glória, Deus depositou nossos pecados sobre Jesus e o abando-
nou à vergonha e ao martírio da cruz.4
o que o Pai preparou para você é o mesmo que preparou para seu
Filho. Baseado nas palavras de A.W. Tozer, dificilmente Deus pode
usar alguém grandemente sem que o tenha ferido profundamente. Se
vamos ser moldados à imagem de Cristo, então deveríamos estar pre-
parados para a realidade dessa imagem. Devemos estar preparados para
sofrer e, de fato, mor~er (para si) antes de podermos viver a vida que
26
o SALVADOR SOFREDOR
27
AS TREVAS EO AMANHECER
morto ..."
E você? E o seu retrato? Você ainda está tentando polir a sua ima-
gem? Ainda está tentando impressionar? Ainda está tentando escapar
da dor e negar as lutas de ser moldado novamente à imagem de Cristo?
A sombra do sofrimento incide sobre todo caminho, inclusive o
seu. Mas a beleza dessas ·sombras escuras e das cores esmaecidas está
no resultado, pois durante o processo nos tornamos mais como Cristo.
28
2 o Cálice do Sacrifício
-IsMcWATTS
2 o Cálice do Sacrifício
Tenho
vida. participado
Elas de um
variam de algumas refeições
extremo a outro,maravilhosas emsensaci-
do sublime ao minha
onal, do mais simples ao mais formal, moderno e elegante. Fui convi-
dado para banquetes em mansões de governadores e já sentei à mesa
do capitão em cruzeiros marítimos. Também já comi em rudes caba-
nas de caçadores e ao redor de fogueiras em acampamentos com mi-
nha família, curtindo um delicioso peixe recém-pescado, e já tentei
livrar-me de refeições do hospital que mais pareciam uma mistura de
gesso molhado e papelão encharcado.
Como já passei por todas essas situações durante mais de seis déca-
das de vida, garanto a você que, se puder escolher, prefiro muito mais
uma reunião pequena e íntima do que um grande e impessoal banque-
te. De fato, quanto mais estudo o Novo Testamento e examino como o
povo daquela época fazia suas refeições, mais considero que me sentiria
muito à vontade no meio deles, especialmente entre Jesus e seus discí-
pulos. Quase sem exceção, suas refeições eram simple~ e em grupos
pequenos. Nada de refeições com cinco ou seis pratos. Nada de ban-
quetes elegantes ou decorações extravagantes. E nada de protocolos
formais e sofisticados. Em nenhum outro lugar isso ficou tão evidente
como quando eles comeram a refeição da Páscoa juntos.
Séculos se passaram desde a noite em que nosso Senhor sentou-se
na sala do andar superior e compartilhou aquela última refeição sim-
AS TREVAS EO AMANHECER
Estava se aproximando a festa dos pães sem rennento, chanlada Páscoa, e os dlefes
dos sacerdotes e os mestres daleí estavam procurando wn meio de matar Jesus, mas
tinham medo do povo ... Finalmente chegou o dia dos pães sem rennento, no qual
devia ser sacrificado o cordeiro pascal. Jesus enviou Pedro eJoão, dizendo: "Vão
preparar a refeição da Páscoa" (Lucas 22.1, 2, 7, 8).
32
o CÁLICE DO SACRIFíCIO
entrará naquela casa e o filho mais velho morrerá. Não haverá exceções,
Moisés. O Destruidor passará pelo Egito e não tocará somente quan-
do vir o sangue" (Veja Êxodo 12.12, 13, 29).
Esse evento deu inici? à mais importante de todas as celebrações
dos judeus: a Páscoa. Deus deixou claro que eles deveriam relembrar
essa noite notável dali por diante; e ao fazerem isso, deveriam explicar
seu significado a seus filhos. Essa refeição se tornou, daquele dia em
diante, a mais importante celebração dos judeus.
33
AS TREVAS EO AMANHECER
o que fizeram
Eles saíram e encontraram cudo como Jesus lhes tinha dito, então prepararam a
Páscoa (Lucas 22.13).
34
o CÁLICE 00 SACRIFiclO
A última refeição
35
o CALlCE DO SACRIFíCIO
Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus
discípulos, dizendo: "1àmem eromamj isto éomeu rorpo".
Em seguida tomou o cálice,deu graças eo ofereceu aos discípulos, dizendo: ''Bebam
dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em fàvor de
muitos, para perdão de pecados. Eu lhes digo que, de agora em diante, lJãO beberei
deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no
Reino de meu Pai" (Mateus 26.26-29).
partido o pão e dado graças, Ele disse: "Tomem e comam; isto é o meu
corpo".
O quê? Do que Ele estava falando? Eles provavelmente se entreolha-
ram, surpresos. O Mestre .nunca havia dito isto antes. De repente, Ele
estava quebrando a tradição, deixando-os completamente confusos.
Há séculos que muitos teólogos também têm ficado confusos com
esta declaração. Alguns ensinam que o pão servido na Eucaristia, a
Mesa do Senhor, realmente se transforma no corpo de Cristo quando
entra na boca do crente. Outros acreditam que quando o sacerdote
fica em pé diante do povo e parte o pão, este se transforma no corpo de
Cristo. Outros afirmam que isso é representativo - um símbolo espiri-
tual do corpo de Cristo. Creio que a melhor resposta é aquela mais
simples e direta: o pão é uma figura do corpo de Cristo, representando
o seu corpo que foi dado por nós na cruz.
Costumo carregar em minha carteira uma pequena foto da minha
família. Ocasionalmente, algumas pessoas viram-se para mim e di-
zem: "Gostaríamos muito de conhecer sua família". Eu então enfio
minha mão no bolso e tiro minha família para exibir a eles. Não lite-
ralmente, é claro; é apenas uma foto da minha família. Mas digo:
"Esta é a minha famílià'.
É isto o que Jesus queria dizer quando disse a eles naquela noite:
"Este é o meu corpo".
Procure imaginar como deve ter sido aquele momento para aqueles
doze discípulos repentinamente desorientados. Hoje, temos séculos
de estudos e publicações à nossa disposição: temos os quatro Evange-
lhos e outros livros da Bíblia. Além disso, fomos acostumados a enxer-
gar a vida inteira de Cristo dentro desta perspectiva. Mas há ocasiões
em que precisamos descansar na simplicidade da fé e, numa silenciosa
meditação viajarmos de volta àquela sala onde Jesus partiu o frágil pão
ázimo, dizendo a seus discípulos para comê-Io, relembrando-os que
aquilo era um símbolo - uma figura tangível - de seu corpo que seria
dado em benefício deles.
Imagine o silênoio repentino. Imagine as perguntas que ferviam
nas mentes dos discípulos: Ele realmente vai morrer? O que acontece-
38
o CÁLICE 00 SACRIFíCIO
Recebendo wn cálice, ele deu graças e disse: "Tomem isto epartilhem uns com os
outros. Pois eu lhes digo que não beberei outra vez do f1:uto da videira até que
venha o Reino de Deus" (Lucas 22.17, 18).
Exemplo de obediência
Como de costume, Jesus foi para o monte das Oliveiras, e os seus discipulos o
seguiram (Lucas 22.39).
40
o CÁLICE 00 SACRIFíCIO
Querido Pai,
Por favor, perdoa-nos pelas muitas vezes em que temos participado da Mesa do
Senhor e fracassado em compreender o significado e o simbolismo do pão e do
cálice. Que poderosa mensagem nos espera toda vez que paramos para relembrar
aquilo que o Senhor fez! Na simplicidade da ceia,lembramos seu amoretemo, sua
infinita compaixão, sua resoluta obediência e sua graça sem /imites ...que o leva-
ram a sofrer em agonia para poder pagar o resgate.
Obrigado, Pai,por Cristo, nossoSalvador. ..Pelo queE/e fez na cruzepelomodelo
de obediência que nos deixou. Aprofimda nossa devoção enquanto focalizamos
nossos corações nele como nunca antes em nossas vidas.
Oramos pe/oseu poderoso nome.
Amém.
41
3 Meia-Noite no Jardim
A humanidade de Cristo
Ao levantarmos o véu daquela noite, vemos apenas uma pequena parte
do quadro maior da paixão de Jesus ("paixão" é o termo comumente
usado quando nos referimos ao sofrimento de Cristo entre a última
ceia e sua morte na cruz). O que tem se sobressaído até o momento?
Como vimos no capítulo anterior, Jesus havia celebrado a refeição da
Páscoa com seus discípulos, sua última ceia juntos. A seguir, Judas, o
traidor, saiu para realizar seu plano perverso. Jesus e seus onze discípu-
los fiéis caminharam pelas ruas de Jerusalém, saindo por um dos portões
da cidade, passaram pelos degraus do lado sul do templo de Herodes,
e desceram pelo Vale do Cedrom, seguindo em direção ao Monte das
Oliveiras, para chegai" ao escuro e silencioso bosque de oliveiras cha-
mado Getsêmani.
46
MEIA-NoITE NO JARDIM
A julgar pelo antigo bosque de oliveiras que pode ser visto hoje no
Monte das Oliveiras, o Getsêmani devia ser um lugar silencioso, en-
cantador e agradavelmente perfumado. Estudiosos do Novo Testamento
acreditam que Jesus e seus discípulos devem ter chegado ali por volta
de meia-noite e uma da madrugada. Jesus pediu aos seus discípulos
para se sentarem e esperarem um pouco enquanto Ele orava. Aparen-
temente, eles deveriam proteger o local para que ninguém interrom-
pesse seu momento de solidão. No entanto, Jesus levou três discípulos
para ficarem com Ele no jardim.
"Levou consigo Pedro, TIago eJoão, e começou a ficar aflito e angustiado. E lhes
disse: 'Y! minha alma está profundamente triste, nwna tristeza mortal. Fiquem
aqui e vigiem" (Marcos 14.33,34).
47
AS TREVAS EO AMANHECER
48
MEIA-NoITE MJ JARDIM
o caminho da submissão
Oito discípulos permaneceram próximos à entrada do jardim enquan-
to os outros três foram mais além, até o centro da escuridão, no interi-
or do silencioso Jardim do Getsêmani com o Mestre. Então Ele disse:
"Fiquem aqui e esperem comigo". E a seguir, "Ele foi um pouco além deles"
e "prostrou-se em terra e começou a orar que se fosse possível, fosse afastada
dele aquela hora".
Na língua original que Marcos escreveu, os verbos prostrar-se e orar
estão no pretérito imperfeito, que descreve uma alfão constante, contí-
nua. Deste modo, essa frase, na verdade, poderia ser lida assim: "Ele
prostrou-se em terra e orou, e então se prostrou em terra e orou, e
então se prostrou em terra e orou". Neste sentido, minha tia Ernestine
e outros artistas ignoraram i~so quando pintaram Jesus ajoelhado si-
lenciosamente à luz do luar, orando com as mãos cruzadas cuidadosa-
mente, de modo sereno. Não foi assim que aconteceu. Se entendi cor-
retamente, Jesus prostrou-se em terra e orou; então Ele se levantou,
andou um pouco mais adiante, prostrou-se novamente ao solo e orou.
Ele fez isso repetidamente, enquanto na angústia de sua alma, conti-
nuava a bradar: "Aba!"
49
AS TREVAS EO AMANHECER
Indo wn pouco mais adiante, prostrou-se eOlava paro que, sepossível fosse afasta-
da dele aquela hOla. E dizia; 'Jiba, Pai, tudo te épossível. Afàsta de mim este cálice;
contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu quens" (Marcos 14.35, 36).
Aba é uma palavra do aramaico, a língua que Jesus falava. Aba era
uma palavra que expressava intimidade, um termo familiar de relacio-
namento íntimo entre filho e pai. A melhor equivalência em nossa
língua é a p.l.lavra "papai". Ao empregar este termo, Marcos manteve o
senso de intimidade, urgência e agonia que o Espírito Santo queria
preservar.
"O h, Papai!" diz Jesus. "Se for possível de alguma maneira, Pai, oh,
meu Pai, deixa esta agonia que estou enfrentando ser afastada. Permita
que as coisas aconteçam de outra forma. Todas as coisas são possíveis
para o Senhor".
Quando alguém perguntar como o Filho de Deus poderia ser ver-
dadeiramente humano, deixe-o olhar para esta cena no Getsêmani,
onde o óleo de sua angústia foi espremido como o óleo das azeitonas.
Ali, na escuridão do jardim, toda a sua humanidade veio à tona. Sou
grato por esta sombria cena ter sido preservada. De outra forma, temo
que olharíamos para o Senhor Jesus como se Ele fosse algum tipo de
robô divino, que seguia mecanicamente o curso da redenção sem ma-
nifestar os mais profundos sentimentos, considerando-o apenas como
mais um compromisso na agenda divina. Mas não foi nada disso que
aconteceu. Jesus não era apenas completamente divino, Ele era tam-
bém, e de todas as maneiras, verdadeiramente humano, sujeito a sen-
timentos idênticos aos nossos, sejam eles de alegria ou tristeza, medo
ou confiança, êxtase de alegria ou completa agonia.
Neste momento, o Filho de Deus, totalmente inocente e sem peca-
do, encarou e aceitou o sofrimento e a morte que o aguardavam. E,
então, Ele se dirigiu ao Pai em termos familiares: "Se for possível, afas-
ta essa hora". Se existir um outro jeito de redimir a humanidade, de
pagar o preço final pelos pecados das pessoas, então que, isto seja evita-
do. A seguir, Ele orou usando as palavras que se tornariam parte de
nossa vida de oração: "Não seja o que eu quero, mas sim o que tu
queres" .
50
MEIA-NoITE 00 JARDIM
Então, voltou aos seus discípulos e os encontrou dormindo. "Simão': disse ele a
Pedro, "vo&está dormindo? Não pôde vigiamem por uma hora? Vigiem eonnJ
para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne éfTaca."
Mais uma vez ele se afàstou e orou, repetindo asmesmas palavras. Quando voltou,
de novo os encontrou dormindo, porque seus olhos estavam pesados. Eles não
sabiam o que dizel:
WJltaIJdopela terceira vez, elelhes disse: "WJcê5 ainda dormem e descansam? Bas-
ta! Chegou a hora! Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos
pecadores. Levantem-se e vamos! Aí vem aquele que me trai!" (Marcos 14.37--42)
Jesus não se prostrou apenas uma vez para uma breve oração no
jardim, para depois enfrentar a crucificação. Ele orou, e então voltou
para os discípulos. A seguir, retomou para orar, e então, mais uma vez
voltou para seus discípulos. Três vezes Ele voltou para orar. Este é o
caminho da submissão: "Não seja o que eu quero, mas sim o que tu
queres" .
Isto deveria ter sido uma incrível experiência para os discípulos.
Mesmo assim eles não o ouviram. Em vez disso, "Ele os encontrou
dormindo" .
O versÍculo diz que Ele "os" encontrou dormindo, mas Ele conver-
sou com Pedro. Vocêsabe por que Ele se dirigiu a Pedro? Porque momen-
51
AS TREVAS EO AMANHECER
tos antes, logo depois da refeição da Páscoa, Pedro, cheio de boas inten-
çõe~, havia dito ao Mestre, "ainda que todos te abandonem, eu não te
abandonarei!" (Marcos 14.29) Por isso Ele se dirigiu a Pedra, o mesmo
que havia dito, "Eu nunca o abandonarei", e perguntou, "Simão, você
está dormindo?"
Observe que Jesus chamou-o de Simão, seu nome de família, em
vez de Pedro (que significa "rocha"), o nome que o Senhor lhe tinha
anteriormente concedido. É quase como se o Senhor estivesse dando
uma indireta, "Estamos de volta onde começamos, Simão. Você ainda
tem um longo caminho a percorrer!" Não posso deixar de imaginar
como Pedro deve ter se sentido naquele momento, o quanto ficou cons-
trangido ao ouvir: "Você está dormindo? Você não pôde vigiar nem
por uma hora?" Então, graciosamente, Jesus o encorajou dizendo:
"Vigiai e orai".
Jesus havia dito anteriormente: "Vigiem". Agora, Ele diz a Pedra,
Tiago e João: "Vigiem e orem". Por quê? "Para que não caiam em tenta-
ção." Que tentação seria essa? Certamente Ele não estava se referindo
apenas à tentação de cair no sono novamente. A meu ver, Jesus estava
se referindo à tentação em que eles cairiam nas próximas horas: a ten-
tação de desertar. Aquele era o momento dos discípulos orarem por
fortalecimento para suas almas; o momento para vigiar e orar, enquan-
to não havia inimigos ao redor, porque quando o inimigo chegasse,
eles seriam tentados a abandonar o Salvador. Jesus disse a eles para
vigiar e orar para que isso não acontecesse ... para que não fossem ten-
tados a abandoná-Io.
Jeremias nos dá uma visão interessante de como devemos fortalecer
nossas almas quando tudo vai bem de forma que quando a situação
ficar ruim saibamos lidar com ela.
52
MEIA-NoITE NO JARDIM
VOltando pela terceira vez, elelhes disse: "VOcêsainda dormem e descansam? Bas-
ta! Chegou a hora! Eis que o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos
pecadores. Levantem-se e vamos! Aí vem aquele queme trai!" (Marcos 14.41,42)
53
AS TREVAS EO AMANHECER
Ele tinha orado ao Pai. Ele havia pedido uma solução alternativa,
se fosse possível. Não foi. Agora Ele vê que o único caminho a seguir
é o caminho da cruz, e Ele está resignado a cumpri-Io. Com um espí-
rito manso e submisso, Ele disse: "Chegou a hora ... aí vem aquele que
."
me traI .
Há uma sensação de tranqüila determinação no registro dos quatro
evangelhos ao descrever esta cena. Jesus saiu do jardim para enfrentar
seu traidor, Judas, e a multidão hostil. Então, sob a luz bruxuleante
das tochas, Ele é levado, como prisioneiro.
Este era o plano de Deus, e Ele estava pronto para aceitá-Io.
Momento de decisão
Talvez você esteja passando pela prova da decisão - um tempo de bus-
ca e luta profunda em sua alma. Deus deixou muito claro que é isto
que Ele quer de você, e que esta é vontade dele para sua vida. Mas isto
significa abrir mão de certos direitos que você goza, de coisas que são
importantes e significativas para você. Permitir que Deus agisse do
jeito dele poderia ser algo desconfortável.
Talvez você seja solteiro e tenha percebido que o plano de Deus,
pelo menos até onde você pode enxergar, é que você deveria permane-
cer solteiro. Lembro-me de uma moça que foi abandonada pelo noivo
de uma hora para outra. Ela veio a mim com lágrimas escorrendo pela
face. "Passei três meses muito difíceis", disse ela, "mas acredito que é
da vontade de Deus, ao menos por um período de tempo, que eu não
me apaixone novamente". Ela não disse isto com amargura ou mórbi-
da resignação, mas demonstrando uma tranqüila submissão ao plano
de Deus.
Talvez você esteja enfrentando uma situação que, um ano atrás,
você jamais sonharia que pudesse acontecer com você... mas agora acon-
teceu. Deus o está "pressionando" enquanto você se encontra em seu
próprio Getsêmani, dizendo: "Quero realizar minha vontade em sua
vida. Quero que você abra mão de seus direitos. Quero que você esteja
54
MEIA-NoITE NO JARDIM
disposto a aceitar minha vontade ... qualquer que seja a situação. Que-
ro que você pare de lutar comigo. Quero me entender com você".
Este é o "seu cálice".
Deus pode estar apontando para alguma coisa do seu passado. Uma
relação ilícita, ou um tratamento injusto para com outra pessoa. Tal-
vez uma atitude buscando prejudicar alguém ou se vingar. Seja o que
for, você está no jardim, encarando uma árdua decisão, lutando com
"o cálice" que Deus lhe apontou.
Na verdade, essa é a hora de você caminhar por onde nosso Salva-
dor caminhou e ajoelhar-se com Ele no Getsêmani. Use esse tempo
para examinar sua vida, dizendo: "Senhor, seja feita a tua vontade, não
a minha".
Descobri, por experiência própria, que o Senhor nos faz passar por
pelo menos quatro estágios durante o processo de nos levar a uma
completa rendição.
Primeiro. Todos nós precisamos atravessar a escuridão de nosso próprio
Getsêmani. Assim com Jesus "chegou ao lugar", nós também devemos
chegar (Lucas 22.40).
Segundo. Durante o tempo que permanecermos ali, devemos enfrentar
nossa própria angústia. Ninguém pode passar por este processo em
nosso lugar. Como nosso Senhor, oramos, suamos e esperamos sozi-
nhos ... Totalmente sozinhos.
Terceiro. Nos momentos de angústia, devemos abrir mão de nossa pró-
pria vontade. Durante esta prova de decisão, antes de tudo há uma
batalha entre duas vontades: a nossa e a de Deus. Podemos implorar e
barganhar, mas, no final das contas, se queremos sair vitoriosos, deve-
mos entregar a Ele o controle. É nesse ponto - precisamente nesse
momento - que a angústia se esvai, dando lugar à vitória. A luta ter-
mina e surge uma calma determinação.
Quarto. Tendo aceita do a vontade de Deus sobre nossa vida, estamos
prontos para encarar nosso próprio Calvário. Em outras palavras, tomar
nossa própria cruz'e seguir a Cristo só é possível quando atravessamos
nosso próprio Getsêmani.
55
AS TREVAS EO AMANHECER
56
4 Três Horas da Madrugada
Eu neguei a ti:
Eu crucifique a ti. I
- JOHANNHEERMANN
4 Três Horas da Madrugada
P edro é o discípulo
identifica com boa
... e por uma o qual a maioria
razão. Ele é tãodetransparente,
nós prontamente se
tão hu-
mano, tão vulnerável, tão honesto e às vezes tão real que podemos
facilmente nos identificar como um discípulo em suas ações e reações.
Já que toquei neste assunto, você é capaz de pensar em algo mais em-
baraçoso do que ter registrado a mais pura verdade sobre sua vida para
o mundo inteiro ler... por todas as gerações futuras? E ainda mais: esse
registro permitiria que pregadores examinassem suas falhas e pecados,
suas explosões de ira, negações e traições embaraçosas durante séculos
e séculos.
Para examinar isso mais de perto, devemos retornar ao intervalo
entre a última refeição de Jesus com seus discípulos na sala superior e
sua luta interior no Jardim do Getsêmani. Quando Jesus e seus discí-
pulos foram de Jerusalém para o Monte das Oliveiras, Ele fez alguns
comentários impressionantes e assustadores.
"Depois de ressuscitar',
disse Jesus. Mas é evidente que Pedro não
prestou atenção nesta profecia da ressurreição. Tudo que Pedro ouviu
foi: "Vocês todos me abandonarão". A palavra desertar - ou na tradução
da NVI: "vocês todos me abandonarão" - foi tomada da palavra grega
que significa "tropeçar".
"Todos vocês vão se voltar contra mim, deixar-me e abandonar-
me ... todos vocês tropeçarão."
Quase podemos ouvir Pedro, indicando com um gesto amplo de suas
rudes mãos de pescador os outros discípulos, num tom de voz familiar
e de exagerada autoconfiança, dizer: "Todos os outros deste grupo po-
dem abandoná-Io, mas eu certamente nunca irei abandoná-Io!"
''Ah, Pedro, mas você vai", disse Jesus com um suspiro. A seguir,
Ele acrescentou um comentário que deve ter doído: "Asseguro-lhe que
ainda hoje, esta noite, antes que duas vezes cante o galo, três vezes você me
negará".
Jesus faz três declarações penetrantes: Pedro o negará; Pedro o ne-
gará naquela mesma noite; e Pedro o negará três vezes.
Tenho dito freqüentem ente que Pedro sofria da doença da "boca
grande" (isto soa familiar?). Ele tinha a tendência de exagerar e de se
vangloriar por causa da opinião que tinha a respeito de si mesmo. Mas
vamos dar a ele o benefício da dúvida. Talvez ele realmente estava se-
guro do que disse. Ele realmente pensava assim. Ele confiava em sua
própria lealdade e devoção para com o Mestre, e por essa razão não se
importava em tomar à frente e declarar sua lealdade. Pedro era sufici-
entemente devotado a Jesus para morrer com Ele, e afirmou isso.
Depois de terem c?memorado juntos a Páscoa e, de algumas coisas
que Jesus tinha dito a eles, as emoções dos discípulos estavam à flor da
60
T REs HoRAS DA MADRUGADA
É bem possível que o canto do galo não se referisse à voz de uma ave; e
que desde o início não tivesse esse significado. Afinal de contas, a casa do
sumo sacerdote ficava exatamente no centro de Jerusalém, e provavelmente
não existiam aves domésticas no centro da cidade. De fato, havia um regula-
mento na lei judaica que considerava ilegal manter galos e galinhas na Cidade
Santa, porque sujavam os elementos sagrados. Mas o horário das 3 horas da
manhã era chamado de canto do galo pela seguinte razão: nessa hora ocorria a
troca da guarda romana no Castelo de Antonia; e o sinal para indicar essa
troca era um toque de trombeta. A palavra em latim para designar este toque
da trombeta é gallicinium, que significa canto do galo. É bem possível que
assim que Pedro negou pela terceira vez, a trombeta das muralhas do castelo
soou sobre a cidade adormecida ... e então Pedro se lembrou. Por isso ele se foi
e chorou amargamente.2
61
AS TREVAS EO AMANHECER
Portanto, vigiem, porque vocês não sabem quando o dono da casa vol-
tará: se à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo ou ao amanhecer. Se ele
vier de repente, que não os encontre dormindo! O que lhes digo, digo a
todos: Vigiem!
Mas Pedro insistia ainda mais: "Mesmo que sejapreciso que eu mOlTa conti-
go, nunca te negarei". E todos os outros disseram o mesmo (Marcos 14.31).
Então, voltou aos seus disápulos e os encontrou dormindo. "Simão'~ disse ele
a Pedro, "você está dormindo? Não p6de vigiar nem por luna hora?" (Marcos
14.37)
A negação de Pedro
63
AS TREVAS EO AMANHECER
Estando Pedro embaixo, no pátio, uma das criadas do sumo sacerdote passou
por ali. "\kndo Pedro a aquecer-se, olhou bem para ele e disse: "Vare também estava
romJesus, o Nazarend' (Marcos 14.66, 67).
lado de Jesus e dos discípulos pelas ruas de Jerusalém, onde eles ti-
nham se tornado uma visão familiar.
"Você é um dos seguidores do Nazareno", disse a criada. Se isso foi
dito em tom de acusa<;:ãoou se foi apenas uma constata<;:ão,não sabe-
mos. Entretanto, independente do tom, Pedro esqueceu-se das pala-
vras anteriormente ditas a Jesus.
Contudo, ele o negou, dizendo: "Não o conheço, nem sei do que você está
falando". EsaÍu para o alpendre (Marcos 14.68).
Esta era uma ousada e rápida nega<;:ão- nada sutil. A seguir, Pedro
retirou-se para uma distância mais segura, e logo se afastou para mais
longe, a fim de acalmar toda suspeita ... e então, precisou se afastar
ainda mais, porque a criada não desistira.
Quando a criada o vÍu lá, disse novamente aos que estavam por perto: "Esse
aiéum deles". Denovoelenegou(Marcos 14.69,70).
Desta vez, a criada se dirigiu à multidão que estava por perto, di-
zendo: "Escutem, este é um deles". E, mais uma vez Pedro negou
abertamente qualquer associa<;:ãocom Jesus de Nazaré.
Pouco tempo depois, os que estavam sen tados ali perto disseram a Pedro:
"Certamente você é um deles. 1ícJcê é um galileu!" (Marcos 14.70)
Como eles sabiam que Pedro era da Galiléia? Bem, como diz um
dos Evangelhos, "o seu modo de falar o denuncia" (Mateus 26.73). A
maioria dos galileus tinha dificuldade para pronunciar algumas pala-
vras do dialeto falado em Jerusalém naquela época. Os naturais da
Judéia estavam habituados a isto. Além disso, os galileus eram algu-
mas vezes considerados ignorantes e incultos, pois enquanto os roma-
nos, especialmente os oficiais, costumavam falar diversas línguas, os
galileus eram, na melhor das hipóteses, bilíngües. Assim, quando Pedro
gritou, "Eu não! Não o conhe<;:o!Não sei do que vocês estão falando",
os que estavam por ali facilmente o identificaram como galileu.
65
AS TREVAS EO AMANHECER
66
TRÊS HORAS DA MADRUGADA
Pedro respondeu: "Homem, não sei do que você está falando!" Falava
ele ainda, quando o galo cantou. O Senhor voltou-se e olhou diretamente
para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra que o Senhor lhe tinha
dito: '.:4ntes que o galo cante hoje, você me negará três veze;" (Lucas 22.60,
61).
Não sabemos em que lugar Jesus estava, mas onde quer que fosse,
Ele tinha uma visão clara de Pedro fora do pátio. Pois em seguida ao
ruidoso toque do gallicinium, cortando o ar da noite, "o Senhor voltou-
se e olhou diretamente para Pedra". E então Pedro se lembrou do que
Jesus havia dito: "Asseguro-lhe que hoje, esta noite, antes que duas veziS
cante o galo, três vezes você me negarâ'. Que humilhação!
Como teria sido aquele olhar? Seria um olhar de surpresa? Não.
Jesus havia dito a Pedro que ele iria traÍ-Io. Seria um olhar de ira e
rejeição? Nunca. Penso que deve ter sido um olhar de tristeza e enor-
me desapontamento, como que dizendo: "O que você fez, Pedro? Você
se colocou ao lado de meus inimigos e traidores. Pedro, você fez exa-
tamente como eu disse que faria. Oh, meu velho amigo, olhe o que
você fez".
Não foi um olhar de ira, indiferença ou mesmo de surpresa, mas
um olhar cheio de emoções, de dolorosa tristeza e amor ferido - um
amor que não tinha acabado, apesar das repetidas negações de Pedro,
um amor que não o deixaria ir. Pedro viu nos olhos de Jesus uma
amorosa e imerecida graça, e isto comoveu seu coração.
67
AS TREVAS EO AMANHECER
A confissão de Pedro
Como já havia mencionado, vários estudiosos confirmam as evidên-
cias de que Marcos obteve suas informações através de Pedro - espe-
cialmente os detalhes relacionados a este acontecimento tão pessoal.
É por isso que Marcos conhece tão bem a negação de Pedro. Pedro
talvez tenha dito: "Marcos, deixe-me contar para você o que realmente
aconteceu", e, em seguida, confessou-lhe abertamente tudo que ha-
via acontecido. Pedro não encobriu suas próprias falhas - sua nega-
ção do Mestre.
Pedro não hesitou. Ele abriu sua vida como um livro e disse: "Isto é
verdade, Marcos ... estas coisas realmente aconteceram, mas onde o peca-
do abundou, superabundou a graça!" Ele poderia até ter acrescentado:
"Eu venho a você debaixo
•• do sangue de Cristo, derramado na cruz em
meu favor, e que me concedeu completo perdão, constante e infinito. Eu
pequei, mas confessei diante de Deus minha negação covarde e agora,
confesso diante de você, porque você precisa saber de tudo que aconte-
ceu". Certamente Pedro não havia esquecido do aviso de Jesus de que
Satanás queria peneirá-Io como trigo... mas a graça veio em seu aUXl1io.
E assim, chegamos às questões que se aplicam a cada um de nós:
De que modo tenho negado Jesus em minha vida?
- Como tenho traído meu Senhor?
Estou me aquecendo em algum fogo comprometedor?
Estou observando de longe, escondido nas sombras do silêncio?
A prova do nosso testemunho não diz respeito ao modo como agi-
mos diante dos amigos da cruz, mas sim de nossa conduta e atitudes
diante dos inimigos da cruz.
68
T RÉS HORAS DA MADRUGADA
Estivesse Pedro ainda vivo, ele poderia cantar esse grande hino com
vetdadeira convicção e significado! Mas, como ele não está, podemos
nos voltar para a carta que ele escreveu e ter um vislumbre de sua
perspectiva, ao inspirar esperança e encorajamento para aqueles tem-
pos difíceis de duras provações. Ele entendeu. Ele havia estado lá...
Ele havia passado por isso.
Agora que você ouviu a confissão dele, leia estas palavras com mui-
to sentimento:
Nisso vares exultam, ainda que agora, por um pouro de tempo, devam ser
entristecidos por todo tipo deprovação.
kim arontece p~ que fique comprovado que ale quevocês t~m, muito mais
valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, égenuína e
resultará em louvor, glória el101JJ:a,
quando Jesus Cristo for revelado.
Mesmo não o tendo visto, vocês o amam; e apesardenão o verem agora, crêem
nele e exultam rom alegria indizível e gloriosa (1 Pedro 1.6-8).
69
5 Os Seis
____ Ju_lgamentos de Jesus
- PHIUP P. Buss
5 Os Seis
___ ~Ju~lgamentosde Jesus
A maioria
tecedeu dos cristãos nunca
a crucificação estudou
de Jesus. seriamente
Temos o período
a tendência que an-
de passar do
Getsêmani ao Gólgota, omitindo os eventos ocorridos nesse intervalo
de tempo. Fazendo este salto, perdemos muito da história e da teolo-
gia da época, sem falar nas características próprias do período em que
Jesus viveu entre nós; como resultado, perdemos também detalhes
importantes que levaram ao veredicto final sobre Jesus.
Grosso modo, os j!I1gamentos que resultaram na crucificação de
Jesus de Nazaré oferecem um clássico exemplo de uma injusta e ilegal
pressa em julgar. Esses julgamentos corruptos e fraudulentos repre-
sentam o período mais obscuro da história da jurisprudência. O acu-
sado - Jesus - era a única pessoa perfeita e completament~ inocente
que já existiu, mas mesmo assim foi declarado culpado; culpado de
crimes que nunca cometeu. Tragicamente, seus alegados crimes resul-
taram na sua condenação à mais dolorosa forma de pena capital jamais
inventada. Segundo a lei romana do primeiro século, um crime capital
deveria ser punido com a morte pela crucificação.
Mas há um lado luminoso em toda esta escuridão. Olhando para a
morte de Jesus sob uma perspectiva teológica, vemos que ela represen-
ta o cumprimento de sua missão terrena. O propósito principal para
Ele deixar o céu e assumir nossa humanidade era pagar o preço pelo
pecado e redimir-nos da sua penalidade - a morte. Em outras pala-
AS TREVAS EO AMANHECER
vras, Jesus veio para morrer. Morrendo em nosso lugar, como nosso
substituto sacrificial, o Cordeiro de Deus foi capaz de tirar o pecado
do mundo Ooão 1.29). Humanamente, o que parecia naquele mo-
mento uma tragédia cruel, deve ser visto espiritualmente, como um
triunfo.
Desta forma, não seria exagero dizer que os julgamentos a que Jesus
foi submetido, seu sofrimento, morte e subseqüente ressurreição são,
na verdade, o alicerce do cristianismo, formando o fundamento da fé.
Pelo fato de ser isto uma verdade é que me surpreendo ao perceber
quão poucos seguidores de Jesus têm estudado de maneira cuidadosa,
ponderada e profunda os eventos que cercaram a morte de nosso Salva-
dor, particularmente os julgamentos a que foi submetido. Sim, julga-
mentos ... Pois não foi só um, mas seis julgamentos.
74
OS SEIS JULGAMENTOS DE JESUS
Das seis da manhã até às seis da tarde, o dia era dividido em "ho-
ras". Por exemplo, no registro de Mateus sobre a crucificação, ele se
refere a dois tempos diferentes do dia: "E houve trevas sobre toda a terra,
da hora sexta [do meio-dia] até a hora nona [às três horas da tarde]"
(Mateus 27.45 - Edição Revista e Atualizada).
Portanto, se você marcar o tempo de acordo com o dia judaico
(começando às 6 horas da manhã), então a hora sexta seria ao meio-
dia. Mateus relata que ao meio-dia, a escuridão desceu sobre a terra,
lançando sua sombra sinistra sobre todos até à hora nona, ou três da
tarde, o que significa três horas de completa escuridão no meio do dia.
Principais eventos
Agora que entendemos esses dois sistemas de medida de tempo (ju-
daico e gentio), vamos dar uma rápida olhada nos eventos que envol-
veram a morte de Cristo.
Jesus e seus discípulos deixaram o salão superior à noite, depois
de tomarem sua última ceia juntos, e foram para o Jardim do
Getsêmani, onde Jesus.. orou e os discípulos dormiram. Não pode-
mos dizer exatamente que horas eram, mas, provavelmente, passava
da meia-noite quando Jesus começou a orar, passando a terceira vigí-
lia da noite (da meia-noite às três). Quanto Jesus orou, não sabemos;
mas foi tempo suficiente para Ele retomar três vezes e encontrar seus
discípulos dormindo.
Judas e a multidão devem ter chegado àquele local depois da uma
hora da madrugada. Então, teve início a série de julgamentos, sendo
que o primeiro deles aconteceu na residência de Anás, o ex-sumo sa-
cerdote, por volta das 2 horas da manhã. Um segundo julgamento
extra-oficial foi presidido na casa de seu genro, Caifás, às 3 horas da
manhã. Depois veio o terceiro julgamento, uma audiência formal pe-
rante o Sinédrio, composto pelos setenta homens que formavam a Su-
prema Corte dos ju'deus. A narrativa do evangelho declara que este
julgamento aconteceu "ao amanhecer" (Lucas 22.66). Então, pode-
75
AS TREVAS EO AMANHECER
mos supor que este terceiro julgamento tenha ocorrido cerca de 6 ho-
ras da manhã. Foi durante seu quarto julgamento, provavelmente en-
tre 6h30 e 7 horas da manhã, "quando já estava amanhecendo", que
Jesus foi interrogado por Pilatos, o principal oficial romano. Pouco
depois, foi também interrogado numa audiência perante Herodes
Antipas, o tetrarca ou governador da GaJiléia. Este foi seu quinto jul-
gamento. Herodes, então, enviou Jesus novamente a Pilatos para que
fosse julgado pela segunda e última vez por ele; esse foi seu julgamen-
to número seis. Por volta de 8 horas da manhã nosso Salvador já havia
sido submetido a seis julgamentos. Foram apressados esses julgamen-
tos? Você decide.
Por volta das 9 horas, "a hora terceirà', Jesus passou pela Via Dolo-
rosa (ou Caminho de Dores), indo do lugar onde foi torturado até o
Gólgota, no lugar publicamente conhecido como Caveira. Lá, Ele foi
lJregado na cruz. Ao meio-dia, a escuridão cobriu a terra, permanecen-
do assim enquanto Ele estava pendurado na cruz, morrendo pelos pe-
cados da humanidade. Finalmente, às 3 horas da tarde, ou "à hora
nona", o Salvador do mundo expirou, "consumando" nossa salvação.
Para uma visão geral dos julgamentos, consulte o gráfico no Apêndice.
76
OS SEIS JULGAMENTOS DE JESUS
ria um ato ilegal). Agora Jesus era acusado de traição e rotulado como
subversivo por seus acusadores. Se eles conseguissem provar que Je-
sus era culpado de incitar um golpe contra César, então Ele seria con-
denado e morto.
Como já mencionei no início deste capítulo, nunca houve um jul-
gamento mais forjado que o de Jesus Cristo. Foram tr~s julgamentos
religiosos e tr~s julgamentos civis... e todos foram ilegais. Deixe-me
explicar melhor.
Um julgamento jamais devia acontecer à noite como ocorreu com
os dois primeiros. O acusado tinha o direito de ter um advogado ao
seu lado, apesar disso, a Jesus nunca foi permitido ter um advogado de
defesa. O acusado não poderia ser declarado culpado se as testemu-
nhas não gozassem de boa reputação, mesmo assim, os acusadores de
Cristo eram reconhecidamente testemunhas falsas.
Num verdadeiro arremedo de justiça, Jesus foi declarado culpado,
mas nunca ficou provada a sua culpa. Como voc~deve se lembrar, Pilatos,
o mesmo homem que finalmente disse: "Levem-no e façam com Ele o
que voc~s quiserem", havia dito anteriormente: "Não acho nenhuma
culpa nele". De todos ",aspessoas diante de quem Jesus esteve, o único
que concedeu a Ele um mínimo de justiça foi Pilatos, que afirmou até
o fim: "Não encontro motivo para acusar esse homem".
Os judeus seguiam a Lei Mosaica, interpretada por eles no Talmude,
uma espécie de código legal daquela época, enquanto os romanos se
guiavam pelo código de direito romano. Estes documentos estabeleci-
am os limites legais, não permitindo nenhuma área "dúbià'. Por exem-
plo, de acordo com a lei, uma corte judaica não poderia ouvir teste-
munho relacionado a um crime capital durante a noite. O procedi-
mento estabelecido pelo código ordenava: "Os membros da corte não
podem ouvir o testemunho contra um acusado de modo cuidadoso e
perspicaz durante as horas da noite".
Os homens que julgaram Jesus sabiam disso? Claro que sim. Estes
homens formavam' o Sinédrio, eram mestres da Lei. Mesmo assim,
eles, deliberadamente, desobedeceram à Lei.
77
AS TREVAS EO AMANHECER
78
OS SEIS JULGAMENTOS DE JESUS
79
AS TREVAS EO AMANHECER
Quando Jesus disse isso, ll111dos guardas que estavaperto bateu-lhe no rosto.
"Isto éjeito de responderao Sll1110sacerdote?"pergzmtou ele.
Respondeu Jesus: "Se eu disse algo de mal, denuncie o mal. Mas se falei a
verdade, por que me bateu?"Ooão 18.19-23)
80
OS SEIS JULGAME~TOS DE JESUS
81
AS TREVAS EO AMANHECER
N.l: Na versão da Bíblia e~ inglês usada pelo autor (New American Standard Bible), a
resposta de Jesus à pergunta de Caifás é "Yes, I am" (Sim, eu sou).
82
OS SEIS JULGAMENTOS DE JESUS
84
OS SEIS JULGAMENTOS DE JESUS
aparece tão vacilante. Isto explica também por que ele não expulsou os
judeus do palácio quando eles vieram pedir a morte de Jesus. Franca-
mente, o homem estava assustado. Este romano rude e cheio de ódio
pelos judeus não dava a mínima importância para a opinião pública,
exceto quando essa opinião pudesse prejudicá-Io.
Os acontecimentos posteriores parecem confirmar tudo isso. Pilatos
acabou sendo banido por Calígula para a Gália, uma distante região a
noroeste da Itália, além dos Alpes. Lá, ele sofreu uma espécie de colap-
so emocional e mental, e por fim cometeu suicídio.
Este era o homem que decidiria o destino do Filho de Deus.
Mas Jesus não respondeu nada, e Pila tos ficou impressionado (Mar-
cos 15.2-5).
"Vares querem que eu lhes solteo reidos judeus?': perguntou Pilatos, sabendo
que rorapor inveja que os chefes dos sacerdotesUJehaviam entregado Jesus Mas os
chefes dos sacerdotes incitaram a multidão a pedir que Pilatos, ao contrário,
soltasse Barrabás.
"Então, que fàrei com aquele a quem vares chamam rei dos judeus?", pergun-
tou-lhes Pilatas.
85
AS TREVAS EO AMANHECER
"Por quê? Que crime ele cometeu?" perguntou Pilatos (Marcos 15.9-14).
Obviamente Pilatos não levou a sério esta acusação. Por ser uma
pessoa astuta, ele logo percebeu que aquela era uma acusação inventa-
da pelo sumo sacerdote. No máximo, Pilatos via Jesus de Nazaré como
um sujeito estranho que se apresentava como sendo o Messias.
Embora não conheça a origem de seus comentários, recordo-me
claramente que um de meus professores no seminário afirmou que
muitas pessoas reivindicaram ser o Messias. De acordo com suas pes-
quisas, vários homens que viveram nos dias de Jesus falsamente se de-
clararam o Messias de Israel. Se isso for verdade, Pilatos estaria ainda
mais cético. Mas falsos profetas e falsos Messias não eram assuntos
para serem discutidos pelo governo ou pelas cortes de Roma.
"A responsabilidade é de vocês", disse Pila tos aos judeus com um
aceno de mão. "Quanto a mim, não encontro base para acusá-Ia".
Mas os líderes judeus não desistiram:
Mas eles insistiam: "Ele está subvertendo o povo em toda aJ udéia com seus
ensinamentos. Começou na Galiléia e chegou até aqui" (Lucas 23.5).
86
OS SEIS JULGAMENTOS DE JESUS
87
AS TREVAS EO AMANHECER
para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da
verdade me ouvem".
88
OS SEIS JULGAMENTOS DE JESUS
Mas eles insistiam: "Ele está subvertendo o povo em toda a Judéia com
os seus ensinamentos. Começou na Galiléia e chegou até aqui".
Ouvindo isso, Pila tos perguntou se Jesus era galileu. Quando ficou sa-
bendo que ele era da jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes, que tam-
bém estava em Jerusalém naqueles dias (Lucas 23.5-7).
Quando Herodes viuJeslIS, ficou muito alegre, porque havia muito tempo
queria vê-Io. Pelo que ouvira fàJar dele, esperava vê-Io realizar algum milagre.
Interrogou-o com muitas perguntas, mas JeslISnão lhe deu resposta. Os chefes dos
sacerdotes e os mestres da lei estavam ali, acusando-o com veemência. Então
Herodes e os seus soldados ridicularizaram-no e zombaram dele. Vestindo-o com
89 -.
AS TREVAS EO AMANHECER
90
OS SEIS JULGAMENTOS DE JESUS
safado dessa... No entanto, estava errado. E agora, o que ele iria fazer?
Bem, suas idéias ainda não haviam se esgotado, então, ele tentou uma
outra estratégia.
Masoschefesdossacerdoteseoslideresreligiososro~venceramamultidãoaque
pedisse Barrabás e mandasse executarJesus.
Então perguntou ogovemador: "Qpal dosdoisv~querem que eu lhes solte?"
Responderam eles: "Barrabás!"
Pergrmtou Pilatos: "Que farei então com Jesus, chamado Cristo?"
Todosresponderam: "Cruci1ica-o!"
"Porqu§? Que crime elecometeu?': pergrmtou Pilatos.
Mas eles gritavam ainda mais: "Crucifica-o!"
Quando Pilatos percebeu que náo estava obtendo nenhum resultado, mas, ao
contrário, estava se iniciando um tumulto, mandou trazer água, lavou as mãos
diante damultidão e disse: "&tou inocente do sangue destehomem; aresponsabi-
lidade é de Voo3-".••
Todoo povo respondeu: "Que osangue dele caiasobrenósesobrenossosGlhos!"
Então Pilatos soltou-lhes Barrabás, mandou açoitar Jesus e o entregou para
sercruciEcado (Mateus 27.15-26).
Não se esqueça que até este momento nada havia sido provado
contra Jesus. Ele não foi considerado culpado de nada. Cada julga-
mento foi recheado de atitudes evidentemente ilegais. Nenhuma tes-
temunha confiável falou contra Ele. Não havia sequer um fragmento
de evidência comprometedora. Apesar disso, estranham ente, Ele ain-
da estava sendo julgado. _"u.
91
AS TREVAS EO AMANHECER
Mais uma vez Pilatos pensou ter. encontrado a solução para seu
dilema - uma outra saída. Ele permitiria a eles escolher entre o galileu
inocente e o mais notório criminoso daquela época, Barrabás. Barrabás
era não apenas um rebelde como também um assassino, condenado à
morte por crucificação.
Estou convencido de que a cruz do meio, naquele dia, estava desti-
nada a Barrabás, sobre quem discutiremos mais adiante, no próximo
capítulo. Pilatos "sabia que o haviam entregado por inveja" (v.18). Certa-
mente eles não levariam esta farsa adiante, e acabariam preferindo libertar
Jesus a um homem que havia cometido crimes tão hediondos, um ho-
mem tão perigoso. Raciocínio brilhante, mas novamente Pilatos estava
errado. "Os chefes dos sacerdotes e os lideres religiosos convenceram a multi-
dão a que pedisse Barrabás e mandasse executar Jesus" (v.20).
Então Mateus introduz outro personagem neste drama: a esposa
de Pilatos.
Estando Pilatos sentado no tribunal, sua mulher lhe enviou esta mensagem:
"Não se envolva com este inocente, porque hoje, em sonho, som muito por GUISa
92
\
OS SEIS JULGAMENTOS DE JESUS
Talvez Pilatos tenha contado a ela sobre seu encontro anterior com
Jesus, deixando-a impressionada, ou então alguma coisa no sonho
alertou-a do que estava acontecendo. Agora, além de todas as outras
preocupações, Pilatos tem este aviso sinistro para perturbá-Io ainda
maIS.
"Mas os chefes dos sacerdotes e os líderes religiosos convenceram a multidão
a que pedisse Barrabás e mandasse executar Jesus" (v.20). Observe quem fez
isto! Os religiosos. Os líderes religiosos! Por quê? Porque Barrabás não
representava uma ameaça para estes falsos religiosos. Ele não discutia com
os legalistas, não ficava pregando nas ruas. Ele apenas incitava as multi-
dões e, ocasionalmente, matava pessoas.
"Crucifica-o!", gritava a multidão.
"Por quê? Que mal Ele fez?", perguntou Pilatos. "Que crime co-
meteu?"
Você sabe por que eles não responderam? Porque não tinham res-
posta. Jesus não tinha feito nenhum mal. Não havia cometido ne-
nhum crime. Mas eles continuavam a gritar freneticamente: "Crucifi-
ca-o! Crucifica-o".
Pilatos estava se sentindo pressionado ao máximo. Ele sabia que
tinha um tumulto nas mãos e que "não estava obtendo nenhum resulta-
do". Assim, ele lavou as mãos, livrando-se do problema. Ele cedeu à
pressão; "pulou forà' da situação. Em vez de permanecer firme e fazer
o que era certo, ele cedeu.
93
AS TREVAS EO AMANHECER
Um chamado divino
Podemos afirmar com segurança que nunca houve uma série de julga-
mentos mais injusta, ilegal ou vergonhosa na história da jurisprudên-
cia que os seis julgamentos que levaram o Senhor Jesus Cristo à morte
por crucificação. No entanto, há um paradoxo nisso tudo: naqueles
atos de injustiça, a justiça de Deus foi satisfeita. Assim como os ho-
mens derramaram sua ira sobre Cristo durante seus julgamentos e em
sua morte, a ira de Deus contra o pecado foi completamente lançada
sobre Cristo na cruz. Toda a ira divina foi derramada sobre Cristo no
momento em que ele• levou nossos pecados em seu corpo naquela cruz
cruel. Como resultado, a única coisa que separa a humanidade perdi-
da de Deus é sua aviltante incredulidade.
O sofrimento e a morte de Cristo são agora parte da história; da
história de Cristo. Mas a nossa história continua, pois Ele sofreu e
morreu por você e por mim. Sua morte pagou o preço exigido pelo
pecado. Assim, poderemos ser aceitos na família de Deus se nós sim-
plesmente aceitarmos sua oferta de crer no Senhor Jesus Cristo para
sermos salvos.
94
OS SEIS JULGAMENTOS DE JESUS
Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unig~nito, para
que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus
enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que
este fosse salvo por meio dele. Quem nele cr~não é condenado, mas quem
não cr~já está condenado, por não crer no nome do Filho Unig~nito de
Deus (João 3.16-18).
Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor
quando ainda éramos pecadores (Romanos 5.8).
Jesus; o qual se entregou asi mesmo como resgatepor todos. Esse foi o testemwmo
dado em seu próprio tempo (1 Timóteo 2.5, 6).
95
6 o Homem que
___ E_s_c_apouda Cruz
Embora nunca
sempenha um apareça comopapel
importante personagem principal,
nos bastidores. Barrabás
Ele jamais de-
pode-
ria imaginar que um dia seu nome seria citado pelas Escrituras! Mas,
no sexto julgamento, que discutimos no capítulo anterior, lá está ele,
no texto sagrado das Sagradas Escrituras: Barrabás ...
Tendo sido julgado e condenado à morte, sua cela, muito provavel-
mente localizava-se na fortaleza de Antonia, na cidade de Jerusalém.
De lá, é bem provável que Barrabás pudesse ouvir a multidão gritando
pelo sangue de Jesus. Ele não conseguia decifrar cada palavra ou som,
mas podia ouvir a multidão gritando freneticamente para pressionar
Pilatos.
"Barrabás! Barrabás. Dá-nos Barrabás!", eles bradavam.
Barrabás ouviu seu nome, mas o que ele ouviu a seguir deixou-o
arrepiado até os ossos: "Crucifica-o!" Ele sabia que em breve estaria a
caminho da cruz.
Em sua mente, não havia nada pior que a morte por crucificação.
Aquele seria o fim da linha, e um fim torturante. Não queria nem
pensar nos pregos atravessando sua carne. Se tivesse sorte, morreria
logo. Todos que eram pendurados em uma cruz ansiavam por uma
morte rápida.
Mas para Barrabás, sua vida não terminou numa cruz. O carcereiro
que abriu sua cela não o conduziu ao local da execução. Em vez disso,
ele o libertou!
AS TREVAS EO AMANHECER
Você não fica curioso para saber o que aconteceu a Barrabás depois
que foi libertado? Depois de ter descoberto que um homem inocente
havia morrido em seu lugar? Você não gostaria de saber o que ele fez
no resto de sua vida?
Será que ele continuou em seus maus caminhos, conseguindo de
alguma forma escapar da punição? Será que ele foi preso mais tarde
por outro crime ou, talvez, tenha sido morto em algum tumulto? Ou
será que ele acabou se tornando um seguidor daquele que tinha morrido
em seu lugar? Será que ele estava, como diz a tradição popular, entre a
multidão aos pés da cruz, assistindo a morte de Jesus?
Se algum homem neste planeta soube literalmente o que significa
Jesus ter tomado a sua cruz e morrido em seu lugar, esse homem foi
Barrabás. E, por mais estranho que pareça, se existe uma pessoa com a
qual cada um de nós pode se identificar, essa pessoa é Barrabás.
Se pedissem a nós para descrever Barrabás, poderíamos fazê-Io em
uma frase: ele foi o homem liberto no lugar de Jesus. Mas, há muito
mais nessa história do que simplesmente isso.
Para examinar essa história, precisamos entender um pouco sobre a
cultura e a tradição nos dias de Jesus. Segundo os relatos de Mateus e
Marcos, durante a Páscoa, o governador normalmente soltava um pri-
sioneiro escolhido pelo povo. Embora ninguém saiba ao certo como se
iniciou esse costume, sabemos que ele estava claramente em vigor na
época dos julgamentos de Jesus.
100
o HOMEM QUE ESCAPOU DA CRUZ
101
AS TREVAS EO AMANHECER
Seu nome
Pilatos perguntou à multidão que ali se havia reW1Ído: "Qual destes vores
querem que lhes solte: Barrabás alI Jesus, chamado Cristo?" Porque sabia que o
haviam entregado por inveja.
Masoscheksdossacerdotes eoslíderesreligiososron~nreIam amultidãoa que
pedisse Barrabás e mandasse executarJesus.
Então perguntolI o governador: "Qual dos dois vocês querem que eu lhes
solte?':
103 \.
AS TREVAS EO AMANHECER
Parecepoucoprovávelquealgumescribacristãopudesse,acidentalmen-
te, ter incluídoo nome deJesusnesteponto exato,mas é fácilperceberpor
queoscopistascristãosteriamintencionalmentesuprimidoo nomeJesusna
designaçãodo assassinoBarrabás.3
Seu cnme
Marcos projeta mais luz sobre esta situação. (Geralmente nos auxi-
lia bastante comparar os relatos dos evangelhos entre si. Diferentes
narradores nos ajudam a obter um quadro completo. Nós nos benefi-
ciamos da harmonia dos Evangelhos).
O registro do Evangelho de Marcos declara: "Barrabás foi preso com
os rebeldes", o que confirma que os dois homens que foram crucificados
com Jesus faziam parte do grupo de Barrabás.
Barrabás foi preso e condenado por insurreição e assassinato. Insur-
reição é o mesmo que rebelião contra as autoridades governantes.
Barrabás não era um ladrão de galinhas ou um batedor de carteiras,
escreve William Barclay em sua série de estudos, "Daily Study Bible
Series" (Estudos Bíblicos Diários). "Ele era um bandoleiro ou um re-
volucionário político." Provavelmente, sua rude audácia atraía a mul-
tidão. Lembre-se que rebeliões eram freqüentes na Palestina; aquela
era uma terra de ânimos exaltados. Havia um grupo de judeus, em
particular, chamados de Sicários (que significa "portadores de adagà'),
composto por zelotes fanáticos e violentos, que se dispunham a matar
e assassinar por qualquer motivo e qualquer meio possível. Eles carre-
gavam adagas debaixo de suas capas e as usavam sempre que tinham
oportunidade. É bastante provável que Barrabás fosse uma pessoa des-
se tipo.5
Barrabás, o criminoso que Pilatos ofereceu aos judeus em seu plano
de indulto, era um rebelde perigoso, um homem violento e assassino.
Se fôssemos descrevê-Io em termos atuais, diríamos que ele era um
"
"terroristà' .
o local
Todos os quatro escritores dos Evangelhos - Mateus, Marcos, Lucas e
João - declaram ou deixam implícito, que Barrabás estava preso ou
confinado pelas autoridades de Roma.
105
AS TREVAS EO AMANHECER
A uma só voz eles gritaram: 'íkaba com ele! Solta-nos Barrabás!" (Lucas
23.18)
o pavimento
106
o HOMEM QUE ESCAPOU DA CRUZ
Ao ouvÍr isso, Pila tos trouxe Jesus para [ora e sentou-se na cadeira de
juiz, num lugar conhecido como PavÍmento de Pedra (que em aramaico é
Gábata) Ooão 19.12, 13).
A uma s6 voz eles gritaram: '~caba com ele! Solta-nos Barrabás!" (Lucas
23.18)
Um substituto pessoal
Barrabás, mais do qúe qualquer outra pessoa nesse sombrio drama do
Calvário, sabia que alguém iria substitui-Io naquela cruz do meio. A.T.
108'
o HOMEM QUE ESCAPOU DA CRUZ
1àdos n6s, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada wn n6s se voltou para o seu
pr6prio caminho; é o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos n6s (Isaias
53.6).
109
AS TREVAS EO AMANHECER
Você consegue escutar uma voz lhe dizendo: "Deus amou você
tanto que deu seu único Filho, e se você acreditar nele, você nunca
morrerá, mas terá a vida eterna".
Jesus fez muito mais do que pagar a pena no lugar de Barrabás.
Através de sua morte sacrificial, Ele pagou de uma vez por todas, pelos
pecados de toda a humanidade. Por Ele ter levado a cruz que nós
merecíamos, podemos gozar de uma paz eterna e ter um lar no céu
que não merecíamos .
..
110
7 o Caminho da Cruz
S ir Winston
ou interessesChurchill
na vida. não era umque
Aqueles homem apático, sem
o conheceram bemobjetivos
e todos
aqueles que admiram suas obras sabem que ele era compelido por uma
profunda convicção da providência divina. Ele adquiriu durante sua
vida um revelador senso de destino pessoal, até mesmo heróico. Certa-
mente não sou o primeiro a sugerir que liderar sua nação contra as
forças do nazismo, abraçando a causa da liberdade a despeito da esma-
gadora oposição, tornou-se sua grandiosa obsessão.
Quando o rei George VI o convidou, em 10 de Maio de 1940, a
liderar sua amada Inglaterra contra o inimigo que ameaçava a Europa,
Churchill aceitou confiantemente o desafio. Mais tarde ele relatou:
"Senti como se estivesse marchando para o meu destino e que toda
minha vida anterior não passara de uma preparação para esta hora e
para esta experiência'?
Jesus de Nazaré também teve uma grandiosa obse~são: a cruz. Por
mais doloroso e angustiante que fosse, Ele se achava inteiramente to-
mado por um persuasivo senso da providência divina e cada dia de sua
vida levava-o inexoravelmente para mais perto do cumprimento de sua
missão.
Jesus não foi uma pobre vítima do destino; Ele não foi um mártir
patético. Vários livros têm sido escritos exatamente com essa intenção,
ou seja, provar que Jesus desenvolveu um plano que terminou fracas-
AS TREVAS EO AMANHECER
sando, e que quando esse plano falhou, quando o jogo virou contra
Ele, pendurado numa cruz, ferido, mas, felizmente, lúcido, Ele insti-
tuiu uma nova religião. Assim, quero deixar bem claro o seguinte: a
morte de Jesus foi uma parte necessária - de fato, a parte mais impor-
tante - do plano predeterminado por Deus. Sua morte na cruz não foi
algo que Deus não havia planejado, mas, ao contrário, foi o cumpri-
mento do plano predeterminado do Pai para seu Filho.
Pedro confirmou isto em seu sermão no dia de Pentecostes:
Mas foi assim que Deus cumpriu o que tinha predito por todos os profetas,
dizendo que o seu Cristo haveria de sofi:er(Atos 3.18).
Cães me rodearam!
Um bando dehomensmausmecercou!
PerlUraramminhàsmãosemeus pés.
POSSQcontarwdososmeusossos, mas elesme encaram com desp=.
11
o CAMINHO DA CRUZ
Dividiram as minhas roupas entre si, e lançaram sortes pelas minhas vestes
(Salmo 22.16-18).
o salmista diz que as, mãos e os pés dele seriam perfurados. Seus
ossos seriam contados. Suas roupas seriam divididas e lançariam sortes
sobre suas vestes. Ele seria objeto de desdém e zombaria. De maneira
impressionante, a Bíblia deu todos esses detalhes cerca de novecentos
e cinqüenta anos antes do fato.
Setecentos anos antes da vinda de Cristo, Isaías escreveu que Ele
seria objeto de aflição, sofrimento e dor. Corno vimos nos capítulos
anteriores, o profeta o comparou a urna ovelha conduzi da ao mata-
douro. Ele seria crucificado com ladrões (Isaías 53).
Planejada por Deus para que você e eu pudéssemos ter nossos peca-
dos perdoados, a morte de Jesus abriu o caminho para o céu - um
caminho preparado e pavimentado com seu sangue.
A partir de agora, iremos andar, através de nossa imaginação, por
onde Jesus andou em sua jornada final para a cruz. O caminho não é
agradável, mas é real. Precisamos visitar novamente a cena do calvário,
se desejamos obter urna compreensão realista do que Ele sofreu em
nosso favor.
Ao ouvir isso, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se na cadeira de juiz,
nwn lugar conhecido como Pavimento de Pedra (que em aramaico é Gábata).
Era o Dia da Preparação na semana da Páscoa, por volta do meio-dia.
''Eis o rei de \IOCiS': disse Pilatos aosjudeus.
Mas eles gritaram: "Mata" Mata! Crucifica-o!"
'Vevo crucificar o rei de vares?': perguntou Pilatos.
"Não temos rei,senão C'ésw-': responderam oscheres dos sacerdotes.
Finalmente Pilatos o entregou a elespara ser crucificado aoão 19.13-16).
115
AS TREVAS EO AMANHECER
116
o CAMINHO DA CRUZ
118
o CAMINHO DA CRUZ
Para isso vocês fOram chamados, pois também Cristo so/ieu no lugar de v~
deixando-lhes exemplo, para que sigam os seuspassos.
''Ele não cometeu pecado algum, e nenhum engano foi encontrado em sua
boca. "
Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas
enrregava-se àquele que julga com justiça (1 Pedro 2.21, 23).
119
AS TREVAS EO AMANHECER
extenso trauma físico que havia sofrido, Ele provavelmente deve ter en-
trado em choque, começando a tremer e a ter calafrios após todas aquelas
bofetadas. Sua face ficou tão marcada e inchada que seus traços individu-
ais dificilmente seriam reconhecidos. Antes de iniciar sua caminhada ao
Gólgota, Ele foi levado novamente a Pilatos e à multidão sedenta de
sangue. "Eis o homem!" Pilatos gritou para a multidão enquanto segurava
a cabeça de Jesus pelo cabelo. "Crucifica-o!", eles gritaram em resposta.
Observe que antes dos soldados levarem Jesus para o lugar da exe-
cução, eles o vestiram novamente - eles "vestiram-lhe suas pr6prias rou-
pas". Naqueles dias, um judeu costumava usar cinco peças de roupa:
sandálias, um turbante, uma túnica inteira, uma capa e um cinturão
ou aquilo que chamaríamos de um cinto largo.
Depois que o criminoso era executado, suas roupas seriam dividi-
das entre os soldados; mas trataremos disso mais tarde.
A caminho do Gólgota
A crucificação era um acontecimento comum para aqueles que viviam
sob o domínio de Roma. Talvez seja por isso que os escritores dos
evangelhos nos dão poucos detalhes sobre a caminhada final de Jesus
para o lugar da execução.
Tanto no evangelho de Mateus como em Marcos está registrado
simplesmente que os soldados "o levaram para crucificá-Io" (Mateus 27.31;
Marcos 15.20). Lucas nos diz que "eles o levaram" (Lucas 23.26). E João
escreveu: "Levando a sua pr6pria cruz, ele saiu para o lugar chamado Cavei-
ra (que em aramaico é chamado G6Igota)" (João 19.17).
Entretanto Mateus, Marcos e Lucas nos dão um detalhe interessante.
o CAMINHO DA CRUZ
Cerro homem de Cirene, chamado Simão, pai deAlexandre ede Ru/à, passa-
vaporali, chegando do campo. Eles o forçaram a carregara cruz (Marcos 15.21).
Este deve ter sido um dia terrível para Simão de Cirene. A Palestina era
um pais ocupado e qualquer homem poderia ser recrutado para o serviço
romano, para qualquer tarefa. O sinal de recrutamento era uma batida no
ombro com a ponta de uma lancraromana. Simão era de Cirene, naÁfrica.
Sem dúvida, ele tinha vindo daquela terra distante para a Páscoa. Sem
dúvida, ele deve ter economizado, com muito esforço, durante muitos anos
para poder ir. Sem dúvida, ele estava realizando o sonho de toda a sua vida:
comer uma Páscoa em Jerusalém. E então, de repente, aconteceu aquilo ....
122
o CAMINHO DA CRUZ
123
AS TREVAS EO AMANHECER
Então Jesus disse aos seus discipulos: "Se alguém quiser acompanhar-me, ne-
gue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me (Mateus 16.24).
124
o CAMINHO DA CRUZ
125
8 o .Mais Escuro dos Dias
- BERNARD OF ClAIRVAUX,
1091-1153 D.e.
8 o Mais Escuro dos Dias
FuiTexas
criado e moro
onde, atualmente
até recentemente, com minha família
os condenados no Estado
à morte do
eram exe-
cutados na cadeira elétrica. Alguns Estados usam câmara de gás, ou
injeção letal (usada agora no Texas)j e em alguns lugares a execução ainda
é feita pelo pelotão de fuzilamento ou enforcamento. Nenhum desses
métodos de execução é agradável ou atraente, nem pretendem ser. Execu-
ção é a punição máxima para o crime máximo: impedir alguém de conti-
nuar a viver através do ato deliberado de tirar a vida de outra pessoa.
Não existe um jeito de tornar uma execução agradável; ainda que não
exista dúvida de que algumas são muito piores do que outras. A crucifica-
ção está no topo da pequena lista das mortes mais dolorosas e torturantes
que já foram inventadas.
A crucificação difere de dois modos das principais formas de execu-
ção de hoje.
Em primeiro lugar, as execuções, hoje, são realizadas geralmente
em um local privado, ou seja, a morte em si não é vista pelo público
em geral. Na hora da execução, é permitida a presença de poucas pes-
soas para testemunhar o fato; manifestantes podem ajuntar-se do lado
de fora da prisão e a manifestação pode ser transmitida pela televisão,
no caso da execução ser um fato not6rio, mas não é permitida a trans-
missão de imagens da execução. Porém, a crucificação era uma espécie
de espetáculo público, organizado de modo a se tornar inesquecível para
AS TREVAS EO AMANHECER
uma forma de execução praticamente ideal, por ser tão vagarosa quanto
dolorosa ... Além disso, o condenado, ao mesmo tempo, era colocado
bem à vista de todo o povo.
Um segundo elemento a considerar era a nudez. Esta situação causava
vergonha ao malfeitor e, ao mesmo tempo, tornava-o indefeso diante de
milhares de insetos no ar ...
131
AS TREVAS EO AMANHECER
133
AS TREVAS EO AMANHECER