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Psicologia em
emergências e desastres
Diretoria
Presidente | Elisa Zaneratto Rosa
Vice-presidente | Adriana Eiko Matsumoto
Secretário | José Agnaldo Gomes
Tesoureiro | Guilherme Luz Fenerich
Conselheiros
Alacir Villa Valle Cruces; Aristeu Bertelli da Silva; Bruno
Simões Gonçalves; Camila Teodoro Godinho; Dario
Henrique Teófilo Schezzi; Gabriela Gramkow; Graça Maria
de Carvalho Camara; Gustavo de Lima Bernardes Sales;
Ilana Mountian; Janaína Leslão Garcia; Joari Aparecido
Soares de Carvalho; Livia Gonsalves Toledo; Luís Fernando
de Oliveira Saraiva; Luiz Eduardo Valiengo Berni; Maria das
Graças Mazarin de Araujo; Maria Ermínia Ciliberti; Marília
Capponi; Mirnamar Pinto da Fonseca Pagliuso; Moacyr
Miniussi Bertolino Neto; Regiane Aparecida Piva; Sandra
Elena Spósito; Sergio Augusto Garcia Junior; Silvio Yasui
Organização do caderno
Itala Moradei
Revisão ortográfica
Paulo Paranhos | Vírgula & Crase
___________________________________________________________________________
C755c Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.
Psicologia em emergências e desastres.
Conselho Regional dePsicologia de São Paulo. - São Paulo: CRP SP.
2016.
106p.; 21x28cm.(Cadernos Temáticos CRP SP)
ISBN: 978-85-60405-41-1
CDD 155.9
__________________________________________________________________________
Ficha catalográfica elaborada por Marcos Antonio de Toledo – CRB-8/8396.
Cadernos Temáticos do CRP SP
Desde 2007, o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo inclui, en-
tre as ações permanentes da gestão, a publicação da série Cadernos Temáti-
cos do CRP SP, visando registrar e divulgar os debates realizados no Conselho
em diversos campos de atuação da Psicologia.
07 Apresentação
20 Debates
28 Luiz Henrique de Sá
38 Debates
50 Christian Coutinho
56 Debates
2º Seminário Estadual de Psicologia em Situações de
Emergências e Desastres: Contribuições para as políticas
públicas na redução de riscos e desastres.
61 Joari Carvalho
86 Debates
106 Encerramento
Apresentação 7
Boa tarde a todas e a todos. Eu sou Cássio, Conse- A discussão da Psicologia nas situações
lheiro do CRP SP, trabalho na Secretaria Municipal de emergências e desastres, ela foi inserida na
da Saúde e também docente na Universidade São agenda do Sistema Conselhos, dos CRPs e do CFP,
Marcos. Repetirei um pouco o que o Conselheiro como um tema para ações unificadas como forma
Joari Carvalho falou sobre os motivos da existên- de cumprir várias deliberações do 7º Congresso
Fomos então atrás de conhecer os poten- As referências de socorro e saúde são neces-
ciais riscos em Guarulhos e distribuímos assuntos sárias, pois com elas já conseguimos identificar o
Se formos para uma ocorrência, quem socor- 2. Capacitação e simulação – criamos esta
remos primeiro? Qual é a casa aonde tem um defi- função. É uma invenção nossa formar agen-
ciente, um idoso, crianças? Quem abordamos primei- tes de Defesa Civil, até por que a figura do
ro? Quem precisa mais da nossa ajuda? Precisamos agente de Defesa Civil formalmente não
saber quais as rotas de entrada e de fuga da área existe no Brasil todo. E a criação é outra luta
nossa, e resolução da Conferência Nacional permanente, é quando estamos tranquilos - esta-
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de Defesa Civil, inclusive, a formalização da mos em observação. O procedimento é este: “NU-
profissão do agente de Defesa Civil, fazer DEC, estamos em atenção”. O que significa aten-
parte do rol das profissões brasileiras. ção? Na prática, para eles: “Opa, preciso avisar os
meus vizinhos que pode ocorrer uma catástrofe e
3. Curso de técnicas verticais - enfrentamos
preciso iniciar a minha preparação para o enfren-
taludes, nos colocamos em risco, pois,
tamento dessa catástrofe”. O que ele faz? Orien-
eventualmente, precisamos fazer resgate
ta pessoas, o que é previamente combinado. E as
também em altura.
pessoas fazem o quê? Elas juntam os seus per-
4. Exercícios simulados de socorro, de evacua- tences mais importantes – de valor financeiro ou
ção de área e de emergências aeronáuticas. não -, álbum de fotografia da família, documentos
pessoais, remédios, etc. Com isso a pessoa se
Uma parte importante da Defesa Civil de prepara, pois, estava em atenção.
Guarulhos é o monitoramento permanente. Ora,
se sei de áreas de risco e se eu não monitorar
permanentemente, tenho que ser responsabiliza-
do por não avisar às populações de um eventual
“A pessoa tem que ir lá para
desastre que possa atingi-las. aquele lugar, aquele ponto
de encontro seguro onde nós
previamente combinamos”
“Aonde temos uma possibilidade
de desmoronamento, de A situação se agravou, a chuva que vinha, o
Instituto de Meteorologia confirmou e falou que
deslizamento de terra muito piorou a situação. Então, mudamos para o alerta
grande? A prefeitura já põe todo laranja, com eles também previamente combina-
mundo em alerta” do. Aquilo que eles tinham arrumado, eles já põem
na malinha e na porta da saída de casa. Colocam
os blocos debaixo da geladeira, levanta a televi-
Temos mapeado na cidade de Guarulhos os são e outros eletrodomésticos. Isso não é mais
pontos críticos, que classificamos como R1-R2- atenção, pois vai acontecer: “Prepare-se por-
R3 e R4, sendo o 1 o risco baixo e o 4 o muito que vai acontecer”. E quando acontece, sempre
alto e no meio tem o médio e o alto. Resumindo: em uma intensidade tão grande, passamos para
classificamos como baixo, médio, alto e muito o alerta vermelho que é a evacuação. A pessoa
alto que, para este, temos uma política de retira- tem que ir lá para aquele lugar, aquele ponto de
da das populações dos lugares. encontro seguro onde nós previamente combina-
mos. Essa é a nossa atuação com os NUDECs.
Todo ano atualizamos essa lista; então sa-
bemos onde são locais, às vezes até uma parte da O NUDEC é implantado dentro da comuni-
rua, para os quais no verão precisamos ficar mais dade, onde temos a felicidade, inclusive, de uma
atentos, por exemplo. Temos também um sistema família ter saído e a comunidade guardou o bar-
de alerta para dentro da prefeitura e parceiros: raquinho para nós, então a Defesa Civil tem um
“Atenção, Secretaria de Obras, deixe as máquinas barraquinho dentro da comunidade. Local aonde
de plantão porque estamos em alerta máximo”. acontecem aulas, orientações, formação e pri-
Quer dizer, ocorrência de chuva forte nos últimos meiros socorros. O nosso corpo de assistência
cinco dias, sem parar. Aonde temos uma possibi- social lá é extremamente comprometido, então
lidade de desmoronamento, de deslizamento de temos relação de banco de leite materno, há uma
terra muito grande, a prefeitura já põe todo mun- série de atividades que podem acontecer dentro
do em alerta. E nós temos um sistema de aler- do NUDEC, mas a sua principal função é a orga-
ta para fora, onde desenvolvemos o trabalho de nização para o enfrentamento do desastre.
NUDEC (Núcleo de Defesa Civil). O NUDEC é for-
mado por pessoas que moram na área de risco. Chegamos à conclusão de que para se
Enviamos uma mensagem via SMS: “Estamos em fazer uma Defesa Civil cidadã o processo é, na
observação”. Observação, aliás, é o nosso estado realidade, interdisciplinar.
do desenvolvimento de uma cidade podem ser
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“Habitação, envolve consideradas ações de prevenção de Defesa
Civil. Quando uma cidade decide investir em
desenvolvimento urbano, meio tratamento de esgoto e saneamento básico, ela
ambiente, assistência social, está efetivamente investindo em prevenção de
obras, trânsito, segurança, saúde, Defesa Civil, porque está investindo em preven-
ção de situações ruins para a sua população,
fundo social de solidariedade e a
Joari Carvalho: Paulo, agradeço pelas suas contri- Faço um lembrete em relação ao material que
buições. O objetivo desta mesa e painel é justamen- está sendo apresentado, uma vez disponibilizado: vai
te entender melhor o que é exatamente a execução ficar na página do Conselho Regional de Psicologia.
de uma Política de Defesa Civil, que acaba sendo, Aproveito para convidá-los também a conferir outros
muitas vezes, algo incógnito, um mistério para, prin- materiais que já estão no site, tanto da área de emer-
cipalmente, quem não está atuando diretamente e, gências e desastres, quanto do nosso Seminário
muitas vezes, os colegas profissionais são afeta- na Luta Antimanicomial sobre calamidades e saúde
dos pelas situações de emergência ou se envolvem mental, assim como os materiais que citei no início,
nelas somente nas situações de socorro. Sua fala que estão sendo reunidos em um espaço temático
foi bastante importante, foram minutos preciosos para esse assunto na página do Conselho Regional
para entendermos melhor que campo é esse em de Psicologia, além da gravação deste evento; poste-
que circulamos e de que falamos exatamente. riormente, ficará no site do Conselho, disponível para
ser assistido a qualquer momento, para ser divulga-
do, para quem quiser baixar e usar como referência.
“O objetivo é justamente Faço uma primeira rodada entre os colegas
reunir não só profissionais de do plenário, com três ou no máximo cinco pergun-
Psicologia, mas abrir diálogos. tas e alternância com algumas perguntas que vie-
ram pela internet. Havendo tempo remanescente,
Um dos costumes entre os faremos uma nova rodada.
psicólogos é promover diálogos
entre os diferentes e as pessoas Othon Vieira Neto:
que estão em diferentes locais”
“Atuo em algumas emergências
Faço menção da presença de Fauzi Salim Ka-
e um tema que tem me
tibe, se eu estiver correto, que é diretor de comu-
nicação social da Defesa Civil do Estado de São interessado muito é a
Paulo, da CEDEC, agradecemos a sua presença. preparação emocional dos
Também agradecemos a presença de Sidnei Fur-
profissionais da Defesa Civil”
tado Fernandes, que é coordenador Regional da
Defesa Civil da REDEC de Campinas.
Tenho uma pergunta para o Paulo Victor. Atuo em al-
O objetivo é justamente reunir não só profis- gumas emergências e um tema que tem me interes-
sionais de Psicologia, mas abrir diálogos. Um dos sado muito é a preparação emocional dos profissio-
costumes entre os psicólogos é promover diálo- nais da Defesa Civil. A Defesa Civil, como o Corpo de
gos entre os diferentes e as pessoas que estão Bombeiros, na minha opinião, é composta por heróis,
em diferentes locais. mas heróis humanos que também sofrem, choram,
que também têm seus entes que sofreram o mesmo avaliei a área da segurança pública, onde entrou a
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desastre que aquelas vítimas que vocês estão so- questão da Defesa Civil. Fiquei muito surpresa e im-
correndo. Em Santa Catarina eu atendi um bombeiro pactada também de ver a pouca quantidade de re-
que perdeu a família enquanto ele salvava outras fa- cursos do orçamento público municipal destinado a
mílias. Em Nova Friburgo, neste ano, logo no início, já esta área em um município com uma envergadura de
três bombeiros faleceram e isso trouxe um impacto Cubatão e ainda com uma topografia que também
muito grande para a corporação toda, a ponto de o favorece muito essa questão de desastres e emer-
ajudando muito”
Temos algumas universidades particulares, Então, quando tem, o recurso é na área da recons-
mas é complicado entrar e fazer a incisão sobre trução, é do socorro e da reconstrução. Existe
alguns problemas da cidade. Mesmo assim, te- uma iniciativa do Governo Federal louvável que é
mos algumas parcerias, por exemplo, na Univer- o cartão de Defesa Civil, é uma experiência que
sidade de Guarulhos tem o curso de assistência está acontecendo em 25 cidades brasileiras, mas
social e abrimos um canal de cooperação. Já te- o recurso não vem como preventivo para o pré-
mos um número bastante relevante de estagiá- impacto, ele vem como obra estruturante para o
rios nos ajudando muito. PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que
é estruturante e ele vem para a resposta, para a
Estamos construindo esse mesmo canal na reconstrução. Para o pré-impacto, para a formação
área de engenharia, porque eles oferecem o curso do agente, para essas coisas mais do nosso dia a
de engenharia civil. E toda a previsão meteorológi- dia, o recurso é o que o governador quis colocar na
ca e a climatologia da cidade é estudada por pro- Defesa Civil Estadual ou que o prefeito quis colo-
fessores de universidade. Temos esse vínculo, que car na Defesa Civil Municipal e posso te garantir é
não é institucional, mas um vínculo de esforço pes- muito pequenininho.
soal, e ainda é uma iniciativa muito pequenininha.
A colocação da enfermeira Elenice Batista é Antes de falar sobre essa relação, é impor-
bastante longa, mas também pertinente e vai um tante dizer como é organizada a Defesa Civil do
pouco além da discussão. Ela traz a preocupação Estado. Ela é a Coordenadoria Estadual de De-
com a manipulação de agentes de risco radiativos. fesa Civil ligada à Casa Militar, que é um órgão
Ela manifesta uma grande preocupação principal- ligado ao gabinete do governador do Estado e
mente pelo pouco que se tem falado sobre isso os agentes de Defesa Civil são integrantes da
em termos de prevenção e preparação para essas Polícia Militar do Estado. O secretário chefe da
situações. Além disso, ela aponta a necessidade, Casa Militar, que é o coordenador também esta-
apesar de não parecer muito evidente, a prepara- dual de Defesa Civil, que é o Coronel Gervásio e a
ção para enfrentamento de desastres nucleares Defesa Civil do Estado, como o próprio nome diz,
de grandes montantes como, por exemplo, algum ela coordena ações nas quatro fases já mencio-
acidente que aconteça em São Paulo e Rio de Ja- nadas pelo Paulo Victor - que é na preventiva, de
neiro, já que estão exatamente no meio da usina socorro, assistencial e recuperativa.
de Angra dos Reis. Entendo que a pergunta deva
ser dirigida para o Paulo Victor. Então, como é o relacionamento? Depen-
dendo da situação que o município estiver en-
A Maria nos enviou uma antes de iniciarmos frentando, normalmente vai um membro da
o evento, que é sobre o papel do psicólogo nas si- Defesa Civil do Estado até esse local, que é da
tuações de enchentes e ela atesta que no municí- emergência, para tentar ajudar de alguma forma
pio em que ela está se sente muito só no papel de coordenando os órgãos que possam, eventual-
distribuir a cesta básica. Acho que já apontamos mente, assessorar naquela situação. Tivemos
alguns caminhos, se o Cássio puder contribuir ou uma ocorrência na pedreira de Santos e a De-
o Paulo, fiquem à vontade. fesa Civil do Estado, juntamente com a Coor-
denadoria Regional de Defesa Civil e também a
O Márcio Aluísio que é componente do GT Defesa Civil do município de Santos, estudaram
de Emergências e Desastres, está lá em Assis, então quais eram os meios necessários, órgãos
junto com outros colegas na subsede, faz apenas que poderiam contribuir para que pudéssemos
uma saudação. resolver a ocorrência da melhor forma possível,
por exemplo. Porque às vezes um meio não está
E a Rita de Cássia Maciel, de Sorocaba, disponível no município, mas tem o município vi-
pede alguma explanação sobre os desastres zinho que tem aquele meio ou uma Secretaria
aéreos, que também são situações que acabam de Estado que pode ajudar ou até um órgão civil
evocando. Estamos, oportunamente, com o que tem um determinado aparelho, equipamen-
Paulo Victor que tem o Aeroporto Internacional to, enfim. Dessa forma, a Defesa Civil do Estado,
de Guarulhos sobre seus cuidados. Antes das em conjunto com a Coordenadoria Regional e a
respostas, passo a palavra para você Falzi. Em Coordenadoria Municipal, fazem esse intermédio
seguida, responderemos às perguntas e às con- para que os meios cheguem até aquele local. En-
siderações finais. tão, não sei se respondi, mas é mais ou menos
assim que funciona. Obrigado.
Esse é o mapa do nosso país, aqui nós te- Só para vocês terem uma ideia, sabe-se da
mos o Estado do Rio de Janeiro e aqui a Região existência de comunidades hoje em área de risco
Serrana que foi onde nasceu a rede; esses são que foram formadas a partir de um outro evento
os 16 municípios onde ela se propunha a atuar. climático e as pessoas foram transferidas para
Hoje ela não se chama mais “Redes de Cuidados esse local; até hoje essas pessoas estão desas-
na Região Serrana”, porque temos atuado em sistidas, não têm posse da sua própria terra e já
outros municípios que não são da Região Serra- faz 20 anos. Então, tínhamos uma categoria de de-
na, então, ela hoje é só “Rede de Cuidados RJ”. salojados e que chamamos de desabrigados; hoje
Desses 16 municípios que vocês estão vendo, ti- se tem uma nova categoria que são abandonados
vemos sete atingidos pela catástrofe que foram de emergências e desastres.
A rede de cuidados se propõe a atuar nos existem mais. E, por último, perderam o referencial
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eixos da prevenção, ação e reconstrução. No final geográfico porque nem as casas, nem a praça,
mostrarei um pouco o que é que estamos fazendo nada existe mais. Isso é muito difícil, é preciso uma
em cada eixo. Escolhemos trabalhar com quatro reconstrução total da vida dessas pessoas.
segmentos: os psicólogos, os professores, as lide-
ranças comunitárias e as lideranças religiosas. E, Isso foi em Araras, esse é o lugar que primei-
assim, também não vemos emergência e desastres ro sofreu em Petrópolis em 4 de janeiro antes da
“O pessoal do corpo de
“Perderam referencial social, bombeiros fez uma homenagem
porque o lugar que eu morava os muito bonita aos colegas que
meus vizinhos não existem mais.” haviam falecido.”
Temos muitas parcerias com outros órgãos, Nova Friburgo, por exemplo, está passando
com outros órgãos públicos, com outras ONG, en- por uma situação muito complicada que é de re-
fim, muita coisa sendo feita. O que pudemos per- vitalização do seu comércio, mesmo de pessoas
ceber em dois seminários que realizamos é que no que não foram atingidas diretamente. As conse-
primeiro, basicamente, tínhamos uma ação de sen- quências são muito amplas.
sibilização para o tema, e já no segundo tivemos
uma participação na Região Serrana de 13 dos 16 Essa é uma foto de Nova Friburgo, que, dife-
municípios. Parece que a nossa sensibilização está rentemente do município de Petrópolis, foi atingida
surtindo efeito porque no segundo cresceu a parti- no seu centro, no cotidiano urbano das pessoas; o
cipação desses municípios. Vale do Cuiabá, em Petrópolis, já é um bairro afas-
tado do centro da cidade, isso dá aí uns 40 quilô-
Isso é uma foto do que aconteceu no Vale do metros do centro da cidade. Friburgo foi atingida
Cuiabá, em Petrópolis; isso era uma vila, existiam no seu miolo. Lá também fizemos algumas ações.
aí acho que 11 casas e todas hoje não existem Alguém aqui na mesa se referiu à morte dos bom-
mais. Podemos parar para pensar em uma coisa: beiros e o abraço na praça de Friburgo. O pessoal
em emergências e desastres as pessoas perdem do Corpo de Bombeiros fez uma homenagem mui-
o seu referencial interno. Nessa catástrofe, além to bonita aos colegas que haviam falecido.
do referencial interno, perderam referencial fami-
liar, muita gente perdeu a família ou membros da Isso é Areal. Aí também uma série de coi-
sua família. Perderam referencial social, porque sas, problemas de infraestrutura. O prefeito da
no lugar em que eu morava os meus vizinhos não cidade arranjou um carro com som e avisou a
população de que a água estava chegando, en- temporário que, para nós na Rede, na verdade, é
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tão os moradores de Areal não perderam vidas, uma comunidade temporária aonde as pessoas
apenas bens materiais. vão, obrigatoriamente, ter de conviver e alguns
cuidados seriam muito bem-vindos. Vimos lá
Esse é o município de São José do Vale do muita falta de cuidado, questões éticas, moral e
Rio Preto, que também ficou bastante afetado. religiosa. Acho que merece um capítulo à parte
Fico pensando um pouco na pergunta do colega, e quando falamos de abrigos.
digo que a Rede de Cuidados tem tido uma preocu-
pação muito grande não só em atender as vítimas Aqui, a foto de Sumidouro. Só estivemos
do que tem acontecido, mas uma preocupação no centro da cidade, a área mais afetada foi a
nossa em quem é que cuida dessas pessoas que rural e, no total, o município perdeu 52 pontes.
estão lá trabalhando. O seu grande problema hoje é como Sumidouro
pode escoar a sua produção, considerando que
é essencialmente agrícola.
Eu sei que, por exemplo, em Brasília já tem Faço algumas considerações. O funciona-
duas psicólogas trabalhando no Corpo de Bom- mento da nossa rede exige uma maior estrutura
beiros fazendo um trabalho muito interessante. E logística, que buscamos construir. O desconhe-
talvez fosse bom, assim, que os Conselhos, e tal- cimento do tema e a falta de uma tradição em
vez até o Conselho Federal de Psicologia, pudesse relação às ações de prevenção demonstram o
pensar em um protocolo de ação para os psicólo- quanto se necessita ser feito e a dimensão do
gos, porque o que temos visto é alguns municípios que pode ser evitado. Percebe-se mesmo com
colocarem psicólogos para atuarem, no meu en- as pessoas que trabalham diretamente nessas
tender não da forma como deveria, mas, enfim, es- situações que a prevenção nunca foi o forte no
tavam lá trabalhando, só que essa gente trabalhou nosso país. O colega brincou aqui, “bonito por
cinco, seis, sete, oito, dez dias sem parar, não é? natureza”, mas tem catástrofe sim.
Isso começa a chegar num limite, porque é um tra-
balho exaustivo, de solicitação constante; então Em alguns casos o choque maior foi, por
há que se pensar em determinados limites dentro exemplo, perceber que em muitas situações pre-
dessa atuação, as pessoas têm que aprender a se valecem questões políticas de interesse pesso-
cuidar para poder trabalhar nisso. al, em detrimento daquelas técnicas e de âmbito
humanitário e de bem-estar social. Resumindo:
Essa foto é de Bom Jardim. Observem como nesse ponto de vista, no Brasil, tem os sete mu-
ficou o carro da Secretaria de Saúde. Estivemos lá nicípios da Região Serrana hoje com processos
também, onde se constatou pessoas desapareci- do Ministério Público para tentar levantar como
das, entre outros acontecimentos. é que foi aplicada a verba, onde foi aplicada a
verba etc., e eu vi na televisão o contrário, a ou-
tra face dessa moeda. O Japão conseguiu juntar
“...é uma comunidade temporária 60 milhões de ienes que foram encontrados na
casa das pessoas que sofreram com o desastre
aonde as pessoas vão, e os valores estão voltando para as vítimas do
obrigatoriamente, ter de conviver desastre. Então vocês comecem a pensar como
e alguns cuidados seriam muito é que aqui no Brasil devemos tomar cuidado no
sentido de como é que se pode ter um controle
bem-vindos.” e uma transparência maior nessas situações de
emergência e desastre.
Esse é um registro de um abrigo em Te-
resópolis, uma fábrica que emprestou um dos Acho que existe uma desvinculação entre
galpões. Esse é um dos exemplos de abrigo a gestão e a atenção básica nos municípios,
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“...a implantação dos núcleos da “...os psicólogos tinham que ir lá
rede nos municípios; a criação na comunidade dele porque as
de infraestrutura; consolidação crianças estavam sofrendo muito.”
de projetos intersetoriais, por
Temos trabalhado nos últimos 15 dias em Tere-
exemplo, junto com o Ministério
Gustavo Sales
Faremos duas falas, por favor, anotem as per-
guntas e depois também pela internet. Adotare-
mos o mesmo procedimento da primeira mesa.
Eda com a palavra.
34 Eda Terezinha de Oliveira Tassara
Professora da Universidade de São Paulo e coordenadora do Grupo
de Pesquisa em Psicologia Socioambiental no Instituto de Estudos
Avançados da USP e na Comissão de Especialistas sobre Ética e
Mudanças Climáticas da UNESCO para América Latina e Caribe.
Proponho à Eda e ao Luiz Henrique que façamos Eu vi uma atuação assim que me surpre-
toda a rodada de perguntas, pode ser? Então, endeu bastante em um determinado município. A
agora o Roni. agilidade com que esses psicólogos conseguiram
organizar uma situação que era caótica, que as
Roni: pessoas que até então estavam na coordenação
e tentando minimizar os efeitos ainda não tinham
conseguido colocar a coisa ordenadamente.
“...existem outros grupos de
Fiquei bastante impressionado, tanto que
Psicologia também de outros os levei para Petrópolis para fazer uma rodada
países que estão tentando lidar com o pessoal que estava trabalhando comigo.
com essa área de desastres...” Então o pessoal que estava trabalhando comigo
teve acesso a essas propostas dos “Médicos sem
Fronteiras” e que incorporamos alguns princípios
Minha pergunta é para o senhor Luiz. Sobre justa- deles dentro da nossa própria rede. Eu diria que
mente essa falta de conhecimento, se essa é uma já temos algum conhecimento e que está sendo
área nova como o grupo que está sendo criado construído paulatinamente. Até o ponto de eu pe-
aqui, agora, ou se existem outros grupos de Psico- dir para vocês responderem ao questionário, aju-
logia também de outros países que estão tentando da a produzir esse conhecimento, mas acho que
lidar com essa área de desastres, de emergência e esse conhecimento não pode ser só do pensar
se poderiam pegar o conhecimento tipo “Médicos racional sobre o que acontece. Esse conhecimen-
sem Fronteiras”, que têm grupo de psicólogos que to deve, principalmente, ser construído junto com
atuam em áreas críticas; se esses psicólogos que quem passa pela emergência e desastre porque a
atuam no “Médicos sem Fronteiras” geraram al- experiência pessoal é fundamental para que você
gum conhecimento, e até os psicólogos que traba- pense o que acontece com as pessoas.
Márcio: essa semana de lá, e ele é da “Visão Mundial”, tam-
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bém representando talvez um pouquinho as ONG
internacionais), mas que era uma situação de de-
sastre crônico e que continua a cronicidade, talvez
“Eu não estou muito familiarizado tenha piorado um pouco mais.
com a temática aqui, tenho tentado
fazer isso, esse movimento com A Somália é uma emergência crônica que
o Conselho Regional e com o agora voltou à mídia por alguma razão, mas que
Conselho Federal, fico muito há muitos anos (eu já trabalhei lá e aquela situ-
ação em emergência é desastrosa), sempre foi e
agradecido”
aquilo que está acontecendo agora é um pouco
a mais. Então, como vocês leem esse fenômeno,
Boa tarde. Eu sou o Márcio, psicólogo da Cruz esse desejo, esse movimento?
Vermelha Internacional. Tenho trabalhado os últi-
mos quatro, cinco anos, principalmente na África, Eu trabalhei para uma organização que se
não só com a Cruz Vermelha, mas com outras or- chama “Centro Para Vítimas de Tortura”, uma or-
ganizações humanitárias internacionais. Eu não ganização americana, no Zimbabwe. Questionei
estou muito familiarizado com a temática aqui, o diretor dessa organização sobre o porquê de a
tenho tentado fazer isso, esse movimento com o organização trabalhar também em resposta de
Conselho Regional e com o Conselho Federal, fico emergência; ele falava: “Na nossa organização, por
muito agradecido. É muito importante ouvir o que opção política, não fazemos parte dessa indústria
vocês partilharam nessa mesa. da emergência”. Então, como no Brasil, não sei,
ainda não vi esse movimento, mas tem aí alguma
E assim, a minha curiosidade, que a Eda Te- coisa que está provocando, mexe, é um tema que
rezinha começou a responder, e gostaria de pedir atrai muita atenção, tanto é que quando me per-
para vocês dois darem uma palavra sobre isso, é guntam por ali ou aqui sobre essa temática eu falo
esse movimento que eu tenho percebido crescen- que a atenção maior do psicólogo e sua contribui-
te aqui no Brasil, sobre esse interesse pela temáti- ção maior poderia, de repente, ser na prevenção,
ca da emergência. Então, é como se existisse algo pensar esse fenômeno muito antes do que quan-
de, ao mesmo tempo, espetáculo que acontece no tos holofotes vão para situação de crise; nossa in-
momento da crise, mas que desaparece depois de tervenção tem que ser muito anterior a essa, enfim,
algum tempo. Tanto é que o Conselho vai lançar aí vai para um debate em outra direção. Mas essa
agora no encontro em novembro um relatório que é a minha pergunta para vocês dois. Obrigado.
desdobra e fala bastante sobre isso.
Othon:
“Mas que era uma situação de “... que talvez exija um outro
desastre crônico e que continua tipo de intervenção psicológica
a cronicidade, talvez piorou um que é diferente daquela
pouco mais”. clínica tradicional do setting
terapêutico...”
Semanalmente recebo interesses, cartas de
estudantes do Brasil inteiro pedindo informações Eu queria em primeiro lugar chamar a atenção,
de como entrar nessa área, cursos pipocando ali chamar a atenção não, lembrar assim de um outro
sobre a Psicologia da Emergência e do desastre. sentido da palavra emergência, que eu gostaria
que a professora Eda discutisse. Que é aquilo que
Lá fora os colegas da área costumam cha- exige uma ação imediata. E que nessa situação,
mar isso como uma indústria da emergência, que a sua exposição foi brilhante, mas temos aí um
existe um financiamento muito grande, um espe- objeto diferente, pensando clinicamente em um
táculo muito grande. O que aconteceu no Haiti foi indivíduo que passou por uma dor muito intensa,
uma emergência (meu colega acabou de voltar inesperada para ele (esperamos que aconteça
com o vizinho e na nossa casa nunca) e que tal- a olhar o mundo de uma maneira específica, com
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vez exija um outro tipo de intervenção psicológi- instrumentos de uma forma. Os instrumentos que
ca que é diferente daquela clínica tradicional do ele tem são os que se originaram na Psicologia,
setting terapêutico, seja lá qual for a abordagem, se formaram na Psicologia, mas ele está em um
que atendemos no meio da rua, no abrigo, e que é outro setting totalmente novo. E ele tem que de-
uma intervenção que deve possuir uma proposta cidir o que vai fazer. Mas vou fazer como homem?
diferenciada também, porque são pessoas que, Eu vou fazer como psicólogo ou como ativista? Eu
Boa tarde a todos. A proposta dessa terceira Comunitárias e Cidadania da Defesa Civil do
mesa é o relato de experiências de Psicologia Município de Vinhedo, vinculada à Secretaria de
nas situações de emergência e desastres. Para Transportes e Segurança. Christian apresentará
isso vamos contar com a colaboração da pro- o relato de sua vivência e como ele entende a
fessora Elaine Gomes, que é psicóloga, pesqui- formação da Psicologia e a contribuição da ex-
sadora do Laboratório de Estudos sobre a Mor- periência do psicólogo na área de Defesa Civil.
te do IPUSP e é parceira com a Defesa Civil de
Campinas, onde desenvolve um trabalho com os Ricardo Dias Erguelles, é médico veterinário
servidores. Ela abordará sobre o cuidado com e atua na Supervisão de Vigilância em Saúde na
os cuidadores, o trabalho que desenvolve com a SUVIS na Prefeitura do Município de São Paulo e é
equipe de Defesa Civil de Campinas. especialista em Saúde Pública. Ele traz o relato da
experiência de toda equipe de saúde na ocorrência
Também vai participar dessa mesa Chris- de inundação do Jardim Romano, no Pantanal, na
tian Coutinho. Ele é graduado em Psicologia e região de São Miguel Paulista. Relata a sua expe-
Comunicação Social com habilitação em Jorna- riência junto com a equipe multidisciplinar da saú-
lismo; é 2º Tenente da Reserva do Exército Bra- de naquela região. Agradeço a presença de todos
sileiro e também atua como Chefe de Relações desde já. Passo a palavra à professora Elaine.
46 Elaine Gomes dos Reis Alves
Psicóloga, pesquisadora do Laboratório
de Estudos sobre a Morte do IPUSP
E aí nós partimos do curso para esses pro- “A mídia exerce uma influência muito
fissionais através das áreas prioritárias que eles grande sobre as pessoas. Se a
trazem de redução de risco dos desastres, que é comunidade cobra quando a mídia
a prioridade deles: conhecer o risco e adotar as divulga, a tendência é que ela seja
medidas; desenvolver maior compreensão e cons- aumentada, inclusive, vai além da
cientização; fortalecer a preparação em desastres
comunidade”
para resposta eficaz em todos os níveis. Quando
o Sidney nos procurou, ele disse o seguinte: “Em
2005, houve uma convenção em que os países fo- Novamente. Então quem faz a cobrança?
ram convidados a reduzir e a minimizar o risco de A comunidade, as autoridades e a mídia. A mídia
desastres e proporcionar e promover a resiliência exerce uma influência muito grande sobre as pes-
da comunidade e da população”. E o que ele trou- soas. Se a comunidade cobra quando a mídia está
xe como preocupação? A resiliência da população cobrando, a tendência é que ela seja aumenta-
exigia o mesmo desses profissionais. E aí ele trazia da, inclusive, vai além da comunidade. O que eles
a preocupação de cuidar e preparar esses profis- colocam de importante para que cada um possa
sionais para isso. E ele promove, busca palestras e entender: qual é o papel do colete laranja naque-
simulados para aperfeiçoar a capacidade. le momento? Então, ele lida com a vulnerabilidade
das pessoas. Eles pensam em estratégias gerais.
E recebem e discutem estratégias gerais e eles
colocam que precisam de uma diferente, voltada
“A Defesa Civil não tem essa especificamente para a Defesa Civil, justamente
simpatia, porque não deixa os porque ela trabalha antes, durante e depois. Ou
moradores entrarem em suas seja, a crise é constante. Essa é a colocação do
primeiro curso que fizemos com eles.
casas”
Eu fiz questão de deixar colocado ali, no sli-
O nosso primeiro trabalho com eles foi de, entre os escombros, a imagem de um corpo,
anterior a um simulado em que eles teriam 15 porque essa não é uma imagem simples, não é?
mortos, onde viram a diferença de falar um pou- Não é uma imagem simples para a mídia e nem
co sobre a morte e do quanto eles lidam com o para eles que estão habituados.
48
“...a preocupação da Defesa Civil “Eles trabalham em
vai muito além do que podemos acampamentos e estão rodeados
imaginar, trabalha exatamente não por crianças, pessoas famintas
só com a tragédia de um modo
pedindo comida e água, pois
geral, mas com a tragédia particular”
sabem que têm, mas que não
Toda vez que fazemos esse curso ou pa- podem dar”.
lestra, a pergunta é: “Como nós fazemos com os
familiares? Posso permitir que o familiar entre Em 2009 me foi solicitada uma palestra de
na cena da tragédia? Posso permitir que o fa- morte e luto para a Tropa de Paz do Haiti e que
miliar assista ou veja o corpo? Como informo ao também fica sob os cuidados da Defesa Civil cui-
familiar o estado em que aquele corpo está?”. dar dessas pessoas - que foi uma experiência
Então, a preocupação da Defesa Civil vai muito fascinante porque o preparo parece que está pre-
além do que podemos imaginar, trabalha exata- sente -, mas eles não estão preparados para as
mente não só com a tragédia de um modo geral, perdas que podem ter, nem mesmo para as perdas
mas com a tragédia particular. que assistirão. Eles trabalham em acampamentos
e estão rodeados por crianças, pessoas famintas
pedindo comida e água, pois sabem que têm, mas
“...temos riscos com violência que não podem dar. No terremoto, eles acham que
porque o estresse faz com que o não vão morrer, porque como é Tropa de Paz, saem
com a certeza de que vão voltar seis meses de-
indivíduo perca a paciência, que o pois. E existem todos os tipos de riscos, incluindo
seu limite fique cada vez menor, infecções. Mas com o terremoto, alguns deles re-
então se começa a brigar em almente morreram e aí precisaram olhar para este
não-retorno, esta não-volta para casa.
qualquer lugar...”
Em 2010, participei desse Curso de Gestão
da Assistência Humanitária, pensando na perda e
No caso do acidente da TAM, as pessoas luto em abrigos de vítimas de tragédias, porque o
queriam saber se os envolvidos tinham sofrido. abrigo também é uma situação muito peculiar, de
Então, a Defesa Civil é abordada para saber se muito desgaste e estresse. Não é só o momen-
houve sofrimento anterior à morte. Por que cuidar to de fazer a triagem, quem não precisa ir para o
então? Porque estas histórias, estas cobranças abrigo, mas quando estão no abrigo, como cuidar?
reverberam nesse profissional. Obviamente, te- Então várias famílias que vão morar juntas, de re-
remos “burnout”, que é o estresse do profissio- pente com um único banheiro para várias pesso-
nal de cuidado e teremos consequências graves as, e cada um com aquilo que conseguiu resga-
com relação a isso. Não precisa dizer que existem tar da vida. Todo mundo perdendo, todo mundo
afastamentos com síndrome do pânico, depres- lidando com seus próprios lutos e, obviamente,
são; temos riscos com violência porque o estres- que teremos outros problemas, como furtos e bri-
se faz com que o indivíduo perca a paciência, que gas (pois alguns pensam que dentro da perda e
o seu limite fique cada vez menor, então se co- da dor é preciso que haja algum benefício ou ga-
meça a brigar em qualquer lugar; aumenta o nú- nho). É preciso então trabalhar não só a situação
mero de separações familiares, dificulta muito a de abrigos, como foi colocado, pois a Psicologia
relação familiar. Ou seja, se você não cuidar des- na situação de abrigos é uma e a Psicologia com o
se profissional, não teremos esse profissional em pessoal que trabalha nos abrigos é outra, porque
outras emergências. A cada emergência é preci- eles ficam completamente envolvidos por essa si-
so que haja um cuidado com ele. tuação total de lamento.
Então esse foi o primeiro curso, totalmente Ainda em 2010, durante um curso para ges-
voltado para essas questões. As palestras que tores da Defesa Civil, onde participaram 12 muni-
eu faço com eles são todas voltadas para per- cípios, tendo como convidados o Corpo de Bom-
das, morte e luto. beiros, pessoas do Instituto Médico Legal (IML),
serviço funerário, entre outros. Nós falamos de que toda situação do outro nos remete à nossa
49
enchentes e alguém perguntou sobre os aciden- própria situação. Muitas vezes você pode perder o
tes aéreos, que são poucos, mas o grande proble- equilíbrio em uma ação de tragédia.
ma que se coloca são os acidentes viários. Isso
é uma demanda muito grande, existem muitos E em 2011 fui convidada para participar do
acidentes rodoviários com muitas perdas e isso curso de formação de agentes da Defesa Civil de
a mídia não coloca, o que é bom, não é? Porque Campinas, que tem a profissão dos agentes. Fo-
Cecília Araújo: Agradeço a participação do Ricar- aquelas que geralmente dentro da própria casa
do. E embora ele não tenha formação em Psicolo- mal conseguiam cuidar de si mesmos, como é feito
gia, não podemos perder de vista que o psicólogo, o atendimento para essa população?
à medida que se propõe a trabalhar na situação
de emergência de desastre, tem que ter esse olhar
para poder, nesses comitês intersetoriais e inter- “E o mesmo às vezes ocorre no
disciplinares, ter esse olhar específico que o Chris- abrigo, por mais que seja um abrigo
tian colocou, que a Elaine colocou. Eu, enquanto provisório, às vezes ela ali tem
psicólogo, posso contribuir nestes comitês com o
muito mais coisas do que ela tinha
saber que é específico da nossa formação.
dentro da própria moradia”
Nós temos alguns minutos ainda, então vou
abrir no mesmo procedimento que seguiram as
outras mesas, as perguntas de quatro inscritos Mulher: Uma das experiências que temos é que às
no máximo. Vou pedir que os palestrantes tomem vezes quando uma pessoa carente financeiramen-
nota, que serão respondidas todas ao final des- te fica internada, geralmente para ter alta é muito
sa primeira rodada. E, em seguida vamos abrir, se difícil, porque às vezes ela não vai ter a atenção,
houver perguntas para os telespectadores da Web. higiene e alimentação que ela tem no hospital. E
Já temos um inscrito. Seu nome? Vilma. Pedimos a o mesmo às vezes ocorre no abrigo, por mais que
todos que vocês se identifiquem e aguardem o mi- seja um abrigo provisório, às vezes ela ali tem mui-
crofone chegar para que possam ser ouvidos. to mais coisas do que ela tinha dentro da própria
moradia. Então, como vocês veem até a questão
Vilma: Boa tarde. Christian, diretamente para você, da resistência, porque é difícil ir para o abrigo, mas
mas Elaine também não vai escapar da pergunta. muitas vezes é difícil sair desse abrigo. Então,
Como fica o profissional quando vocês determi- como vocês, sendo líderes, trabalham isso?
nam que aquela casa não tem condições de se fi-
car mais, como fica aquele profissional com aque-
la máquina monstruosa para derrubar, destruir
aquela casa para que eles não retornem à casa?
“Eu estou mais interessado em saber
Psicologicamente perguntando, como eles ficam? quais foram os desafios enfrentados,
Porque é uma perda para a família, é uma perda que tipo de lição gerou, que tipo de
para ele, porque ele está destruindo algo que era
uma residência, era um lar. Como ele fica? Esta é
mudanças ocasionou”
minha pergunta. Muito obrigada.
Homem: Surgiu uma dúvida agora que eu estou Ranieri: Boa noite. Meu nome é Ranieri, eu traba-
estudando muito gerontologia, cuidado com o ido- lho na ONG Visão Mundial e já liderei alguns pro-
so. Como ficam nos abrigos as pessoas idosas, cessos de emergência no Estado de São Paulo,
Santa Catarina e Pernambuco e queria fazer uma você. Pelo menos eu estou dizendo da minha par-
57
pergunta para o Ricardo. Primeiro eu queria para- te, com os outros profissionais eu procuro também
benizar esse tipo de descrição do que aconteceu fazer com que entendam que fizeram o melhor
da atividade feita, mas é o mesmo conteúdo que para o direito à vida daquela família. Foi respon-
você ouviria dos vizinhos em Santa Catarina ou dido? Tem a questão do abrigo para idosos. Para
em Barreiros, em Pernambuco, sobre o que a Pre- quem seria a pergunta?
feitura, em parceria com a Defesa Civil, articulou
Psicologia em Situações de
Emergências e Desastres
Bom dia a todos, bom dia a todas. Meu nome é Vou compor a mesa de abertura. Para quem
Joari Carvalho, faço parte do núcleo sobre emer- não estava presente quando iniciamos vou só re-
gências e desastres do Conselho Regional de petir, meu nome é Joari Carvalho, sou profissional
Psicologia de São Paulo. Nós vamos iniciar nosso de Psicologia, atuante na Política de Assistên-
2º Seminário sobre Psicologia em Emergências e cia Social em Suzano, componho o núcleo sobre
Colocamos na cena do debate questões que Este Seminário Estadual de Psicologia, que
atravessam o nosso cotidiano e que têm suas estabelece interlocução com outras áreas do co-
implicações sobre a vida, como vocês viram no nhecimento e outros protagonistas poderá, e as-
que foi exposto aqui no vídeo apresentado. Hoje sim desejamos, fornecer subsídios para ações na
há a necessidade de se pensar uma nova orga- redução de riscos e desastres e ações que subsi-
nização das sociedades que possibilite o surgi- diem Políticas Públicas. Parabenizo mais uma vez a
mento de mecanismos de autoproteção social e organização do evento, desejo a todos e todas um
melhor aproveitamento dos recursos públicos na bom dia de trabalho.
64 Simone Ferreira da Silva Domingues
Doutorado e mestrado em Educação (Psicologia da Educação) pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. Professora titular; coordenadora do curso de Psicologia e
membro do Programa de mestrado em Políticas Sociais da Universidade Cruzeiro do Sul.
Experiência na área de Psicologia do Desenvolvimento e Avaliação Psicológica.
Obrigada. Bom dia a todos. Agradeço a presença Eu vejo assim, na formação do psicólogo, nós
de todos aqui, para nós da universidade é uma procurando estágios e lugares onde o aluno possa
grande alegria estar recebendo vocês, todas as atuar. E justamente isso, como fazer em uma área
pessoas que estão interessadas em discutir um tão nova, como atuar? Como ser psicólogo em uma
tema tão importante. Agradeço ao Conselho por situação de prevenção e não só na situação onde
ter escolhido esta casa e, principalmente, agrade- está ocorrendo o evento, mas na prevenção dele.
ço também a vinda de vocês aqui em nome da pró- Nós temos a unidade em São Miguel, participamos
reitora e da reitoria. bastante desses problemas das pessoas que vi-
veram e vivem lá no Pantanal. O importante para
Eu fiquei muito surpresa e muito agradecida que esses alunos possam atuar, fazer estágios
quando fui procurada pelo Sérgio com a proposta de nesses espaços é saber como chegar nessa popu-
sediarmos este evento, primeiro por que eu acredito lação, de que forma o psicólogo pode atuar, para
que a universidade seja um espaço muito importan- que ele seja efetivo na sua participação. E eu vejo
te para discussões como esta. Muitas vezes temos a Psicologia com essa cara tão linda, no sentido de
discussões na área da Psicologia, principalmente que realmente ela tem muito para fazer.
discussões em áreas tão novas como essa, que mui-
tas vezes não chegam aos bancos da universidade, Então quando olhamos esse vídeo, fala des-
ficam distantes da universidade justamente onde sas pessoas, vemos uma Psicologia realmente
tem que ter o agente, aquele que vai fazer o psicólo- ativa, psicólogos que podem, de fato, se formarem
go, vai fazer o futuro agente, precisa se formar para para atuar em um campo tão importante e tão ne-
isso, precisa ser capacitado e perguntamos como ele cessário. Para nós aqui, não só como coordena-
vai se capacitar, temos oportunidade de trazer para dora, mas principalmente como psicóloga, eu fico
dentro da universidade as discussões a respeito do muito feliz por estar recebendo vocês, pessoal do
que uma área está construindo. Conselho, e recebendo a todos os profissionais
que vieram debater esse tema e dar oportunida-
Eu fico muito feliz porque nós tivemos a opor- de não só para mim que vou ter a oportunidade
tunidade de discutir esse tema em uma disciplina de participar também, ouvir e aprender com vocês,
que se chama “práticas profissionais”. É óbvio que, mas os alunos que vieram, os profissionais de Psi-
quando discutimos isso, não discutimos com tanta cologia também que se inscreveram e estão aqui.
propriedade, da forma como vocês que vieram ao Obrigada mais uma vez, sejam bem acolhidos aqui
evento e as pessoas que aqui estão nos trarão in- nesta casa. Obrigada.
formações importantes da forma de atuação.
Agnaldo: Passamos a palavra agora para
Elaine. Por favor, para a sua saudação
“E eu vejo a Psicologia com essa
cara tão linda, no sentido de que
realmente ela tem muito para fazer”
Elaine Cristina da Cruz 65
Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social -
Coordenadoria de Atendimento Permanente e Emergência – CAPE.
Agnaldo
Obrigado mais uma vez à Elaine e à Simone essa Mais uma vez destaco a importância deste
breve introdução, já nos entusiasma para aquilo 2º Seminário, porque vai alargando também a nos-
que virá hoje como uma promessa efetivada para sa compreensão sobre o que se pretende discutir
o dia todo. hoje. Só respondemos ao mundo, as demandas a
partir das respostas que nós podemos dar, respos-
tas que se nós observarmos a desconstrução da
própria palavra, está embutido ali também o con-
“Só respondemos ao mundo, as ceito de responsabilidade, separa a partícula res,
demandas a partir das respostas res-ponsabilidade, é a habilidade para responder
algo, responsabilidade, habilidade para responder
que nós podemos dar...”
algo. Mais uma vez recupero Agnes Heller, “sentir é
estar implicado em algo” e nós não só somos con-
É muito importante, destaco mais uma vez vocados, somos intimados também a dar respos-
essa possibilidade também que temos de ampliar tas e, por isso, a importância deste encontro.
o nosso repertório sobre determinado tema, de
criar intimidade com ele, e a Psicologia gosta dis- Seguindo um pouco o rito e o procedimen-
so, de criar intimidade onde ela deve atuar, com as to, nós vamos desfazer a mesa, o Joari deve per-
pessoas que sofrem, padecem dessas adversida- manecer aqui porque ele vai coordenar a mesa a
des, algumas esperadas e outras não. Quais são seguir. Agradeço a todos e todas, Simone, Elaine e
as respostas, os repertórios que temos. um bom dia de trabalho.
Vou aproveitar essa transição para falar sobre Está feito o convite. Estou sentindo falta
uma atividade muito importante da atual ges- de vídeos sobre nossa atuação nas situações de
tão do Conselho Regional de Psicologia que é a emergências e desastres, seria muito bom, muito
nossa campanha “Psicologia todo dia em todo importante falarmos o que temos feito nessa área.
lugar”. É um pouquinho por esse motivo que Então, colegas, não só colegas que atuam com a
Convido também nossa convidada que vai Convidaremos também para debater es-
tratar da gestão de riscos e desastres na área de sas contribuições que serão apresentadas,
saúde, Gabriela Marques Di Giulio, que é professo- Janaína Furtado, que possui graduação em
ra, doutora do Departamento de Saúde Ambiental Psicologia pela Universidade Federal de Santa
da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Catarina e é mestre em Psicologia Social pela
São Paulo (USP); doutora em Ambiente e Socieda- mesma Universidade; coordenadora de projetos
de pela Universidade Estadual de Campinas; mes- em redução de riscos e desastres do CEPED, da
tre em Política Científica e Tecnológica pelo Insti- Universidade Federal de Santa Catarina, desde
tuto de Geociências da Unicamp; especializada em 2008. Muito grato também a você, Janaína, que
Jornalismo Científico pela Unicamp e graduada em terá essa tarefa de costurar o nosso debate a
Comunicação Social pela UNESP; ela tem as suas partir da Psicologia.
áreas de interesse em relação ao ambiente e so-
Mariana Siena
Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos, mestre e doutora pelo programa
de pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos; foi pesquisadora por dez anos no
Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres, NEPED, vinculado ao Departamento de Sociologia
da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), integrante do grupo de pesquisa Sociedade e Recursos
Hídricos; professora de Sociologia e Filosofia do Instituto Atlântico de Ensino; tem experiência na área de
Sociologia, com ênfase na Sociologia dos desastres, atuando, principalmente, nos seguintes temas: atenção
social, abrigos temporários e cidadania.
Primeiro eu preciso falar para o Sérgio que ele não de 2007-2011, em Santa Catarina em 2008... Nos-
precisa passar a apresentação. Por 20 minutos eu so grupo foi muito atuante, sempre esteve muito
acho melhor eu não pegar essa apresentação. Até presente, primeiro a convite da própria Secretaria
porque esse vídeo que foi passado no início, esses Nacional de Defesa Civil, antes dela se tornar Se-
15 minutos me fizeram mudar muitas coisas do cretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil nós
que eu iria dizer, gostei muito do vídeo, uma inicia- estávamos lá presentes; depois pelo próprio Con-
tiva muito bacana de vocês. selho Federal de Psicologia, fomos a convite do
gabinete da presidência da República no primeiro
governo Dilma e no último governo Lula, a fazer
monitoramentos daquilo que, do ponto de vista
“O que sempre nos preocupou das Ciências Humanas, principalmente das Ciên-
foi a definição de desastre que cias Sociais, olhando a Sociologia, como estava o
passava por esses órgãos públicos e atendimento a essas pessoas, como era a intera-
ção da instituição Defesa Civil com os afetados.
definiam a sua atuação, essa relação
entre teoria e prática, o que era o
desastre para a Defesa Civil, e para
os órgãos das pequenas cidades, “É a partir desta definição que
quando eu falo, principalmente, nós da Sociologia vamos analisar
da Assistência Social, o que era o o desastre”.
desastre e como definir a atuação”
O que sempre nos preocupou foi a definição
Eu gostaria de agradecer o convite do Conse- de desastre que passava por esses órgãos públi-
lho Regional, é a segunda vez que participo de um cos e definiam a sua atuação, essa relação entre
evento junto a vocês e acho a iniciativa sempre mui- teoria e prática, o que era o desastre para a Defe-
to importante, de debater os desastres. Desejo um sa Civil e para os órgãos das pequenas cidades,
bom dia de muito aprendizado para todos nós hoje. quando eu falo, principalmente, da Assistência So-
cial, o que era o desastre e como definir a atua-
Tenho um histórico na área de análise e pesqui- ção. Isso nos preocupava muito e aí fizemos vários
sa de situação de desastre desde o início da minha estudos nesse sentido. Hoje o que eu quero trazer
graduação, das bolsas de treinamentos na universi- para vocês nessa mesa redonda é a definição da
dade, da iniciação científica, minha monografia, de- Sociologia, o que ela considera que é o desastre.
pois minha dissertação e a minha tese toda na área.
No vídeo vimos uma pessoa do Corpo de
Sempre o que me chamou atenção, desde os Bombeiros falando o que é, mas nós na Sociologia
primeiros campos que eu realizei na cidade de São estamos criando esse campo novo aqui no Bra-
Carlos e depois no Rio de Janeiro, nas tragédias sil, um campo já com certo histórico internacional,
mas no Brasil muito novo, e eu posso dizer que o estar preocupados também. Quando eu penso na
73
núcleo do qual eu fiz parte foi pioneiro nisso, ele atuação dos órgãos de Defesa Civil (vou falar de
vai dizer que o desastre é um fenômeno social, é Defesa Civil, que é o primeiro responsável, quando
desastre porque acontece com pessoas. O acon- é a ele que têm que estar submetidos os Conse-
tecimento físico vai afetar um espaço, um território lhos, se eu falar da Psicologia, se eu falar da Assis-
composto por pessoas. É a partir dessa definição tência Social), se você pegar Política de Proteção
que nós da Sociologia vamos analisar o desastre. em Defesa Civil, ele está lá como grande respon-
Eu teria que falar aqui mais um bom tempo de “E vemos um grande jogo político
políticas públicas, de políticas de especulação imo-
biliária e no problema político mesmo institucional
nesse momento de conseguir
de um governo que passa para o outro, empurra dar o seu jeito e acabar tendo
essa responsabilidade, os conjuntos habitacionais desvios de verba”.
que não são construídos, as pessoas que são de
áreas de risco que não são contempladas. Tudo
isso vai nos mostrando como é muito complicado Nós temos muito cuidado em usar termos
entender e atuar no serviço de desastre na hora que como ajuda humanitária, assistência humanitária,
ele acontece. Falamos “na hora do desastre”, mas quando nós estamos falando de desastre no nos-
até tomamos cuidado dentro da Sociologia, porque so próprio país, porque a ajuda, a assistência, é um
esse desastre já existe, é na hora do impacto, na termo criado em nível internacional para quando um
hora que essa crise aguda se manifesta, porque país vai ajudar, vai assistir cidadãos de outro país,
ele já está ali, no dia de sol e antes, por exemplo, aqui nós estamos falando dos nossos cidadãos
do incêndio, da enchente, do deslizamento. Nesse que têm direitos e têm deveres na nossa socieda-
momento quando nós da equipe de São Carlos tra- de. Temos que tomar muito cuidado também com
balhamos nos mais diversos desastres país a fora, esse termo que foi uma atualização do discurso da
podemos ver a atuação e o atendimento a essa po- Defesa Civil, que veio no ano de 2010 e, na verdade,
pulação sempre muito baseados só no primeiro mo- quis se mostrar mais voltada para o humanitário,
mento para remediar aquilo que é a necessidade. a sociedade, para os afetados, e na verdade virou
apenas um discurso de uma máscara, uma grande
máscara para a prática continuar a mesma, porque
“Nós temos muito cuidado em usar a prática não tem mudado, isso é o que temos ob-
termos como ajuda humanitária, servado. Vai ano, vem ano, acontecem os novos de-
sastres em novas localidades, nas mesmas locali-
assistência humanitária quando nós dades, como foi dito aqui, essas excepcionalidades
estamos falando de desastre no que se repetem. Ela tem uma regularidade, então
nosso próprio país, porque a ajuda, não é nada excepcional, tem um padrão.
a assistência, é um termo criado em
nível internacional para quando um E nós vemos municípios que não se planejam,
país vai ajudar...” não pensam nisso até porque é um grande merca-
do com os desastres. Eu não sei se vocês sabem,
mas quando decretamos situação de emergência,
Essas pessoas ficam em abrigos que eram e depois estado de calamidade pública, não precisa
para ser provisórios e se tornam permanentes. Fo- de licitações para contratar determinados serviços.
mos a abrigos temporários que já duravam mais de Por quê? É um estado de excepcionalidade, você
dois anos, de 10, mais de 15 anos, sem solução e precisa de rapidez, você precisa de provimentos. E
passou por governos, vários governos municipais, vemos um grande jogo político nesse momento de
uma solução duradoura a essa população não veio conseguir dar o seu jeito e acabar tendo desvios
e a área onde elas moravam foi “congelada” até de verba. Vimos vários do tipo de colchões que a
que outra atitude fosse tomada naquela região. própria Defesa Civil fala, a dimensão, a densidade
Vemos sempre o reino das necessidades se bali- como tem que ser a compra de colchão quando é
zando no atendimento aos desastres e não o reino de uma grande tragédia, e municípios pequenos,
de direitos; não vemos as pessoas sendo capaci- municípios aí do Brasil onde a prefeitura faz uma
tadas a se sentirem cidadãs de direito e reivindi- nota que comprou o colchão certo, mas não com-
carem aquilo que elas acreditam ou que ainda por prou, você vai lá ver o colchão e não é um colchão,
não terem sido devidamente orientadas. é um colchonete. Vemos todos esses problemas
que acabam todos eles sendo explicados de uma meses ainda acabam provendo essa família com
75
única forma e muito simples. Porque construímos cesta básica, já que está na casa de um parente,
até hoje políticas públicas, e é um pouco duro o que de um amigo, mas isso passa muito rápido e de re-
eu vou dizer, mas para essa camada da população, pente já não recebe mais. Preparam-se infraestru-
para esses afetados, parece que é como que “para turas públicas como escolas, e se não for período
pobre qualquer coisa basta”. É isso que temos visto letivo, vai servir de abrigamento para as pessoas.
quando vamos aos municípios, vai lá de perto as- Então ali também o Estado tem que prover alimen-
Eles sofrem com o desastre e o que vemos Vimos muito esse embate de alguns profis-
logo depois? Há algumas possibilidades, se ele ti- sionais falarem assim, “ah, mas para eles, eles não
ver casa de parentes e amigos, vai para casa de- tinham nada, então se agora eles estão comen-
les e é desalojado, e os municípios nos primeiros do...”, isso eu escutei no Rio de Janeiro, “se ago-
ra eles estão comendo, bacalhau é um luxo, eles
76
não tinham nada, agora eles já estão tendo até “...é preciso sim suprir as carências e
demais”. Esse ranço classista que ainda perpassa a atenção social é muito importante
muito o atendimento, precisamos tirar e só vamos
conseguir fazer isso quando enxergarmos essas
nessa fase, em um primeiro
pessoas como sujeitos de direitos e que muitos momento, mas o problema reside
direitos lhes foram negados, desde o nascimento. em não conseguir ultrapassá-los,
comprometendo a busca de direitos
E precisamos repensar e fazer um novo pacto de cidadania dos que vivem sob
de sociedade para entender que essa desigualda- as nuvens cinzentas da cotidiana
de, ela acaba interferindo e muito na nossa forma
de atuar e na forma de responder aos desastres.
proteção social desigual”
Não adianta só focar nas necessidades; sim, é im-
portante no primeiro momento focar na necessi- institucionais de reconhecer os grupos abrigados
dade, mas enquanto não passarmos essa barreira, como sujeitos a determinar suas necessidades de
não romper essa barreira, nós vamos ver essas reabilitação acaba por gerar mais conflitos, ten-
mesmas famílias sofrerem com desastre, e toda sões que acentuam as dimensões das perdas e
vez que ela sofrer novamente, vai estar sempre um das identidades associadas a elas. Isso é funda-
patamar abaixo anterior que ela estava, porque vai mental, porque enquanto há essa dificuldade de
ter sempre menos, porque vai estar sempre mais entender esse sujeito, cada vez mais vai piorando
afetada e vai ter sempre menos bens materiais. a situação desses afetados.
Isso sem falar na parte psicológica e emo- O abrigo, ele tem se mostrado no Brasil como
cional, que tudo abala, porque quantas vezes eu já um prolongamento do desastre, as pessoas saem
não ouvi, você está fazendo uma entrevista, a pes- daquela situação, daquela área de risco, mas o de-
soa fala, “está se aproximando o tempo”, já está sastre não acaba, ele é um prolongamento daquilo
se aproximando e a pessoa já começa a pensar que eles estão vivenciando lá na sua casa, só que
todas as atitudes que ela precisa tomar. agora com uma nova roupagem, é um ente público
impondo um discurso, impondo uma ordem.
Para encerrar, eu peço licença a vocês para
ler algumas conclusões dos nossos trabalhos. E, por fim, é preciso sim suprir as carências e
a atenção social é muito importante nessa fase, em
O desastre, ele se constitui não apenas como um primeiro momento, mas o problema reside em não
acontecimento físico, ele é a vivência de uma crise; conseguir ultrapassá-los, comprometendo a busca de
portanto, nos mostra o limite de uma determina- direitos de cidadania dos que vivem sob as nuvens
da rotina e a necessidade de construção de uma cinzentas da cotidiana proteção social desigual. É isso
nova dinâmica social. A incapacidade dos agentes que vivemos no nosso país hoje. Muito obrigada.
Joari Carvalho
Mariana, muito grato. Com certeza eu já ouvi sua
palestra, podemos ir longe, então nós vamos reto-
mar aqui mais tarde no debate também. Passo a
palavra para a Gabriela Marques Di Giulio, que vai
compartilhar conosco um debate sobre a gestão de
riscos de desastres na área da saúde.
Gestão de Riscos e Desastres na área da Saúde 77
Muito obrigada, Joari. Eu quero agradecer o con- pre estiveram presentes na história do homem e
vite feito pelo Conselho Regional, particularmente relacionados com a forma como nós ocupamos e
pelo Sérgio, Cláudia e Sandra, para participar des- usamos o solo e nos apropriamos dos recursos na-
te Seminário, desta mesa, refletindo sobre alguns turais, desde os primeiros agrupamentos até as ci-
aspectos relacionados à gestão de riscos e de- dades mais modernas. Desde a primeira Revolução
Joari Carvalho
Obrigado, Gabriela. Essa é uma tarefa ingra- colocou, cada vez mais sobre as nossas vidas.
ta de lembrar o tempo, mas é só para organi- Vou passar a palavra para Maria dos Anjos Pi-
zar porque, na verdade, esses assuntos estão res, que vai compartilhar um pouquinho conos-
na vida o dia todo, todos os dias, damos uma co sobre o protagonismo das pessoas afetadas
pausa para se concentrar neles, mas essas são na gestão dos riscos e na preparação para o
questões que estão impactando, como você enfrentamento dos desastres.
O protagonismo dos afetados na gestão dos riscos e 83
a preparação para o enfrentamento dos Desastres
Joari Carvalho
Ainda bem que a senhora Maria dos Anjos Pires aten- Internacional de Redução de Desastres deste
deu o nosso chamado. É isso que precisamos ouvir ano, que teve como tema: “O Conhecimento
mais. Acho que a Psicologia tem se estruturado como para a Vida”. E esse conhecimento de que está
ciência, como profissão, como um conhecimento cien- se falando é o conhecimento popular, o conhe-
tífico ou como uma prática muito em torno da escuta, cimento que cada um tem sobre o que já expe-
de uma escuta atenta, cuidadosa. E precisamos es- rimentou e essa possibilidade de compartilhar
cutar o que está sendo dito e não necessariamente que não são necessariamente nos bancos es-
o que está se querendo ouvir. E o que a senhora está colares, mas, com certeza, é na rua, nas rodas
falando aqui, aliás, deve ter sido um aprendizado para de conversa entre as gerações para entender-
muitos que devem ter nascido na capital, na grande mos melhor esse mundo em que estamos.
cidade e nunca devem ter ouvido falar ou visto uma
nascente. O que a senhora compartilhou é justamen- E é por esse motivo que estamos fazendo tam-
te o mais importante atualmente para a estratégia bém este Seminário nesta semana porque faz par-
internacional de redução de desastres, que são os te da Semana Nacional de Redução de Desastres.
conhecimentos populares, o conhecimento da comu- Nesse sentido, para não atrapalhar, não interferir
nidade, conhecimentos vivenciados, conhecimentos na participação da Janaína, eu vou passar a pa-
ancestrais que contribuíram para enfrentar muitas lavra para ela, que está com a tarefa de costurar
dessas situações de desastres na história. E hoje pa- esse debate a partir da Psicologia, já que a aposta
rece que está ficando fora de moda o conhecimento foi essa mesmo, precisamos ouvir outros conhe-
das pessoas, muitas vezes em função de algo que é cimentos, ouvir as pessoas diretamente afetadas
muito importante, a tecnologia, mas ela sozinha não pelos desastres ou sob risco iminente e, prova-
representa a redução de desastres. velmente, muitas e muitas pessoas por aí estão
em situações como essas relatadas pela senhora
Então, senhora Maria, parabéns, porque a se- Maria. Passo a palavra para Janaína, agradecendo
nhora está fazendo jus ao que foi o tema do Dia antecipadamente.
86 Debates
Janaina Furtado
Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de
Santa Catarina (2004) e mestrado em Psicologia Social pela
mesma Universidade (2007). É coordenadora de projetos em
redução de riscos de desastre pelo CEPED – UFSC, desde 2008.
Bom dia. Espero que vocês estejam bem. Que- to de alteração climática, mas talvez mais do que
ro agradecer o convite para estar nesse lugar isso, de densidade populacional mesmo, de estar-
e propor um debate, participando de uma mesa mos concentrados em menos espaços, e nesse
tão interdisciplinar, com diferentes olhares sobre espaço social, geográfico, político somos protegi-
esse tema, sobre o fenômeno dos desastres, dos e desprotegidos de formas muito diferentes.
que já é uma proposta para o CRP abordar isso a
partir de diferentes perspectivas e a partir tam- Então eu acho que todas as falas perpassa-
bém de diferentes experiências que ficaram tão ram por isso e me lembrou uma situação que acon-
evidentes na fala da Maria. teceu nesta semana: eu estava escutando “A Voz
do Brasil” e houve muitas chuvas no Rio Grande do
Sul neste final de feriado, inundações no Sul do país,
e um deputado comentava, em um discurso em “A
“E o Steinberg, já na década de 60 Voz do Brasil”, lamentando sobre os infortúnios que
com o livro ‘Atos de Deus, História afetaram o Rio Grande do Sul nesta semana, neste
Não Natural dos Desastres’, falava feriado e que fizeram o céu despencar sobre a ter-
ra e provocar o desastre. Foi muito no sentido do
como essa forma de compreender os
que a Mariana, a Gabriela e da própria experiência
desastres como fenômeno natural, da Maria, de que não se trata de fazer uma crítica
ela não emerge inicialmente do saber a essa solidariedade que demonstrou o deputado,
acadêmico ou do técnico, mas da própria mas de como esse discurso do desastre como um
fala de políticos que utilizavam essa fenômeno natural legitima. E o Steinberg, já na dé-
forma discursiva e de compreender os cada de 60, com o livro “Atos de Deus, História Não
Natural dos Desastres”, falava como essa forma de
desastres como naturais...”
compreender os desastres como fenômeno natural,
ela não emerge inicialmente do saber acadêmico ou
Apesar das diferentes formações e discipli- do técnico, mas da própria fala de políticos que utili-
nas - a Gabriela fez uma fala mais no sentido da ci- zavam essa forma discursiva e de compreender os
ência ambiental, a Mariana uma discussão dentro desastres como naturais para que eles pudessem,
da Sociologia dos desastres -, o que me pareceu como a Mariana falou, usar o recurso da forma como
muito comum é propor o desastre, propor conce- melhor lhes conviesse, de que pudesse favorecê-los,
ber o desastre como um fenômeno social, como inclusive, em relação a votos. E também de não ter
um fato social, como a Mariana colocou, seja re- que responder a essas perguntas de como esses fe-
fletindo sobre como essa sociedade está se cons- nômenos se constituem, de como eles são produzi-
tituindo e como as relações desiguais produzem dos e que são escolhas e decisões políticas e ações
formas desiguais de enfrentar o risco, de superar o locais cotidianas e que nos fazer pensar naquilo que
desastre, seja em uma perspectiva da ciência am- a Mariana, a Gabriela e a Maria já colocaram, de que
biental, que reflete sobre o modo de vida, o modo o desastre, ele não acontece quando acontece no
como ocupamos as áreas urbanas, esse momen- momento do impacto, mas ele está se construindo.
Bem, eu gostaria, para propor o debate, pro- fazer, que voz, para quem vamos dar voz como psi-
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por as minhas próprias reflexões sobre esse tema cólogo na nossa atuação? Estou com a boca seca
e aí abrir para o debate. Eu gostaria de pensar e pensando se a crise hídrica de São Paulo chegou
mais aqui no âmbito da Psicologia trazendo essas nesse nível. Pensar sobre isso, sobre que em um
falas para o nosso campo de atuação e a fala do espaço na cidade onde predominam determinados
coordenador do CRP foi bem dentro do que eu es- regimes de visualidade, determinadas vozes, aí a
tava pensando, considerando o desastre como um nossa função, de dar voz ou de promover a voz e
Joari Carvalho: Obrigado, Janaína, novamente Joari Carvalho: Muito, muito, muito grato a você
agradecendo pela sua participação. Passo a pa- senhora Maria, pela participação e vamos conti-
lavra para a senhora Maria. nuar essas conversas. Então muito obrigado e vou
passar a palavra para a Gabriela.
Maria dos Anjos: respondendo à pergunta daquela
senhora na questão da educação das favelas, como Gabriela: Agradeço as perguntas, foram várias,
ela colocou. Eu acho que deve haver um acompanha- vou tentar compilar um pouco as que tem mais a
mento sim de educação para essas pessoas, mas ver também com a minha área de atuação. Aquelas
esse acompanhamento tem que acontecer em um que ficaram mais no âmbito da atuação do psicó-
logo acho que a Janaína já deu conta do recado.
Joari Carvalho: Essa é a última etapa da 2ª edição troca. Cada um dos colegas vai fazer um resumo
do Seminário sobre Psicologia em Emergências e do que foi discutido. Se alguém que participou da
Desastres e vai ser coordenada por outra pessoa oficina e quiser fazer algum adendo, alguma coisa
que eu vou aqui chamar, a Ana Cecília, que é uma vocês me avisem, depois eu vou tentar fazer um
das componentes do Núcleo sobre Emergências e fechamento para podermos encerrar. O Reginaldo
Desastres, colega que teve um contato com o Gru- vai falar primeiro.
po de Trabalho na gestão passada e nesta gestão
desde o princípio contribuindo, ajudando a pensar Reginaldo Branco da Silva: Boa tarde. Inicialmen-
essas ações, vou passar essa coordenação a ela. te eu ia acompanhar a oficina sobre o SUAS e o
atendimento socioassistencial nas situações de
Também convidar aqui ao palco Dafne, Elai- emergências e desastres, mas por uma questão
ne, Reginaldo e Sandra para um relato mais infor- de contingente, pela quantidade de pessoas nes-
mal, socializar entre todos um pouco o que foi cada sas oficinas, acabamos juntando com outra sobre
uma das oficinas, já que, provavelmente, quem foi a logística humanitária.
para uma pode estar curioso ou curiosa para saber
o que rolou na outra. Para compor aqui à frente,
mas depois, se vocês quiserem também se mani- “... temos desastres sim, não
festar complementando, fiquem à vontade; a ideia
somos um país abençoado, temos
é cada um falar um pouquinho. Um pequeno resu-
mo para fecharmos essa atividade, encerrar, até se
muitos problemas, talvez não
alguém tiver alguma questão além das que foram aqueles desastres de Hollywood,
incluídas nas oficinas, é um último momento para terremotos, tsunamis, mas as
registrarmos isso, darmos continuidade aos deba- nossas enchentes do dia a dia”
tes sobre essa temática pelo Conselho Regional,
levando para a sociedade, para a categoria, tam-
bém às pessoas que estão nessas situações ou Juntamos os dois grupos e as duas pales-
venham a passar pelas situações de calamidade. trantes, a Tábata Bertazzo, que é da USP e a
Muito obrigado. Passo a palavra à Ana Cecília. professora Maria de Jesus Dutra, que é da UFS-
Car, foram fazendo a sua fala e entrecruzando
Ana Cecília Moraes Weintraub: Boa tarde. Meu os dois temas, como é a atuação do SUAS nes-
papel aqui vai ser relativamente simples, eu vou só sas situações e como é que a logística humani-
tentar coordenar um pouco o tempo e também as tária dá conta nesses casos.
perguntas de vocês. A nossa ideia, quando pensa-
mos esse momento final, era realmente poder ou- A professora Maria de Jesus começou apre-
vir o que foi discutido e pensado nas oficinas, já sentando alguns dados sobre desastres no Brasil
que não dava para todo mundo participar de todas, para provar que temos desastres sim, não somos
porque fizemos a opção para elas acontecerem ao um país abençoado, temos muitos problemas; tal-
mesmo tempo, para realmente poder fazer essa vez não aqueles desastres de Hollywood, terremo-
tos, tsunamis, mas sim as nossas enchentes do E, por outro lado, a Tábata foi se colocando
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dia a dia. E a importância de olharmos para dois em relação à logística humanitária, como é essa
públicos específicos, os afetados, as pessoas logística, e que apesar de ter protocolos seriíssi-
afetadas direta ou indiretamente pelo desastre e mos de como deve ser feita, na prática não é feita.
as pessoas que trabalham no resgate. Também o A logística se compromete muito quando ela tem
estafe direto, que são os bombeiros, policiais, os que atuar, e sabemos que ela atua mais na res-
profissionais da rede de assistência, e o estafe in- posta, quando ocorre o desastre e é chamada para
Ana Cecília: Obrigada. Quero agradecer a vocês para um debate mais cotidiano e mais transver-
que estão aqui representando o debate todo sal que também tangencie muito as outras áreas
que foi feito. Agradecer especialmente a vocês da política pública, da vida em sociedade, enfim,
que participaram e também com muito carinho o as outras práticas. Quem sabe com um evento
pessoal que veio aqui falar, estou vendo aqui o como esse, vocês todos que participaram, vão
Márcio, a Janaína, mas as outras pessoas tam- poder também seguir levando essa discussão
bém todas que vieram falar neste evento. para os outros campos da vida de vocês.