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Alimentacao Biodinamica PDF
Alimentacao Biodinamica PDF
GB110707 urubici
ALIMENTAÇÃO DINÂMICA
Gerhard Schmidt
ALIMENTAÇÃO DINÂMICA
ÍNDICE
PREFÁCIO DO AUTOR.................................................................... 7
CAPÍTULO I:
CAPÍTULO II:
CAPÍTULO III:
CAPÍTULO IV:
CAPÍTULO V:
CAPÍTULO VI:
CAPÍTULO VII:
O CRU E O COZIDO.............................................................................
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CAPÍTULO VIII:
CAPÍTULO IX:
CAPÍTULO X:
CAPÍTULO XI:
CAPÍTULO XII:
CONCLUSÃO E PERSPECTIVA......................................................
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................
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PREFÁCIO DO AUTOR
CAPÍTULO I
AS BASES DA ALIMENTAÇÃO
sente-se por detrás dessa agitação o mesmo mal estar, a mesma inquietação,
a mesma pergunta angustiada: Colocamos suficientemente o homem em
nossas especulações? Podemos realmente estudar a natureza? Ou será que
ambos não fogem para longe, envoltos em brumas?
A chave que abre a porta para esse novo domínio já fora pressentida por
Goethe: “Aquele que não quer colocar na cabeça que espírito e matéria,
alma e corpo, pensamento e percepção, vontade e movimento, foram, são e
serão os duplos ingredientes do universo – cada qual reclamando direitos
iguais ao outro – e que esses pares devem ser considerados, sem dúvida,
como os representantes de Deus, aquele que não pode se elevar até esta
idéia deveria ter, há muito tempo, renunciado ao pensar”. Em outras
palavras, sem a ciência espiritual, a ciência não pode compreender nem a
natureza, nem o homem.
Carl Voit, que passa por fundador da dietética moderna, dizia em 1868:
“Por volta de 1840 a ciência da alimentação havia ultrapassado apenas o
seu estágio inicial. Ninguém poderia dizer porque comemos esta ou aquela
substância, ou porque um organismo nutre-se de carne enquanto que outro
de feno, alimentos, ao que parece, completamente diferentes...”.
Não queremos nem esquecer que devemos a essa evolução uma grande
riqueza de dados indispensáveis ao estudo da alimentação. Sem ela não
teríamos nenhum conhecimento da albumina, das gorduras, carboidratos,
minerais e vitaminas. Nada saberíamos do valor nutritivo do leite, dos
cereais, legumes, condimentos, etc. Não teríamos quase nenhuma noção
das bases do aroma, das regulações do metabolismo, da digestão, das
secreções, etc.
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NASCIMENTO DA DIETÉTICA
A imagem do homem que pode ser criada e verificada por esse caminho
(dado que a ciência assinala a singularidade do cérebro humano,
instrumento da consciência) pode implicar na proeminência do pensamento
e confirmar esta asserção do investigador espiritual: “O corpo humano
inteiro é formado de tal maneira que encontra sua coroação no órgão do
espírito: o cérebro”. Mas “só se pode compreender a estrutura do cérebro
humano quando o consideramos sob o ângulo de sua função, de sua tarefa,
que consiste em ser o substrato corporal do espírito pensante”. Devemos
aqui lançar-nos a pergunta: Como deve se constituir a alimentação dos
homens para permitir o cumprimento dessa tarefa? Como deve ser
alimentado o cérebro do homem? O que é, na realidade, que o nutre?
Foram esses dois pontos de vista que Rudolf Steiner expôs na referida
conferência: por um lado, o ponto de vista do conhecimento. “Nós não
comemos apenas o que vemos materialmente com nossos olhos; comemos
também o espiritual que se esconde por trás dessa matéria” ou, mais
geralmente, “ingerindo-se este ou aquele alimento, entramos em relação
com o substrato espiritual que se encontra por trás do objeto material”.
Neste sentido, o axioma de Feuerbach pode ter certa veracidade. Mas é
necessário colocar imediatamente esta pergunta: O que transforma a
alimentação no homem? O que ocorre quando ele digere, assimila e
excreta? Como as leis de nosso meio se relacionam com as diversas
necessidades e forças de nosso organismo? Para sabê-lo é preciso possuir
um conhecimento do homem que seja correspondente à realidade. É o que
foi feito por Rudolf Steiner de uma maneira decisiva e fundamental.
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CAPÍTULO II
Lembremos que Rudolf Steiner disse em 1925: “Na sua estrutura, e até
nas mais ínfimas partes de sua substância, o homem é um produto de sua
organização do Eu”.
Rudolf Steiner anunciou sem equívoco: “Não comemos para ter em nós
este ou aquele alimento, mas sim para podermos desenvolver em nós as
forças que triunfam sobre o alimento. Comemos para resistir às forças da
Terra, e vivemos sobre ela graças a esse contínuo ato de oposição”.
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CAPÍTULO III
Animal
Homem Vegetal
Mineral
As forças vitais da planta são opostas às leis físicas. Uma planta viva é
repleta de forças que de alguma forma arrebatam sua materialidade para
uma esfera cuja origem não é mais terrena, mas cósmica, pois enfim, a vida
vegetal é impossível sem as forças do sol. Na planta vive a matéria terrestre
“sai da sua comunidade com a terra”. Ela se incorpora com as forças que,
provenientes do extra-terrestre, “irradiam de todos os lados para a terra”, e
“o ser vegetal nasce da colaboração entre as forças terrestres e essas forças
cósmicas”. É por essas forças etéreas formativas das plantas que o homem
se orienta na alimentação vegetal. É importante saber que essas forças
subsistem na planta e que continuam a agir nela, mesmo quando ela está
separada do de seu substrato vital imediato. Surgem aqui diversas questões:
a da alimentação crua, ou ao menos fresca, a do preparo dos alimentos
(cozimento) e a de sua conservação. É necessário acentuar que os animais
em liberdade retiram sua alimentação diretamente da natureza vivente, o
que o homem raramente faz, pois ele sente a necessidade de uma
“preparação”.
resultado desse trabalho é que o alimento perde, mais ou menos, seu estado
sólido, dissolve-se, liquefaz-se. Que significa isto na realidade?
Rudolf Steiner indicou isso com muitos detalhes concretos: “Todo traço
de vida extra-humana deve desaparecer de nossos alimentos”. No caso dos
comedores de carne, ele mostrou como “tudo” deve ser expulso desse
alimento. Caso isso não ocorra a atividade da natureza prossegue no
homem e uma doença se manifesta.
A DIGESTÃO GÁSTRICA
Podemos aqui nos dar conta das sobrecargas que a alimentação atual
impõe ao pâncreas e compreender porque as doenças desse órgão estão em
constante aumento. Além disso, foi fornecida uma maior clareza sobre a
insuficiência congênita, tal como surge na mucoviscidose.
O baço, que tem por tarefa estender suas ações rítmicas sobre todo
nosso organismo, é desta forma extraordinariamente maltratado e até
mesmo, pode-se dizer, submerso. Rudolf Steiner atraiu a atenção dos
médicos para esse ponto. Ele aconselhou recomendar refeições mais leves e
mais freqüentes aos doentes cujo baço não funcione normalmente. Isso
diminui o trabalho do baço e é uma regra importante de higiene alimentar.
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Por outro lado, a questão dos alimentos de origem animal traz a questão
de suas excreções, das quais não trataremos aqui. Finalmente, podemos nos
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Uma sabedoria muito antiga falava de uma “múmia astral” que se podia
descobrir na urina humana e que servia para diagnosticar a saúde ou a
doença. Sabia-se, dessa maneira, prescrever remédios e regimes.
A AÇÃO DO COLESTEROL
Mas ainda não foi dito tudo sobre o colesterol. Sabe-se hoje em dia que
além da formação dos ácidos biliares, ele é a substância de base para certas
sínteses hormonais.
O METABOLISMO DO AÇÚCAR
éter solar; ela edifica assim, em primeiro lugar, sua armadura material que
é carbônica. Foi neste sentido que M. Bircher-Benner falou das “nuanças
cósmicas do sol” em nossos alimentos.
É evidente, após o que foi dito, que o homem é um “ser de calor”. Toda
sua existência corporal e anímico-espiritual depende do calor. É um fator
que se deve ter em conta para apreciar o papel que desempenham o calor e
o frio na nossa nutrição, por exemplo, no preparo de nossos alimentos.
Somente partindo desse princípio pode-se chegar a dados racionais. Sem
ele todas as questões desse gênero ficam em suspenso.
Vê-se que por este meio o calor lança uma ponte entre o sensível e o
supra-sensível. Sua natureza é, ao mesmo tempo, sensível e anímico-
espiritual. No homem esses dois lados da sua natureza são reunidos pela
organização do Eu, que age nos dois domínios e une os dois mundos. No
homem o calor não é somente natural, mas ainda e simultaneamente, moral
e espiritual. Através dele, o homem comunga com a força aquecedora da
espiritualidade cósmica. Graças ao calor o homem acende não apenas sua
consciência de vigília habitual, mas também se aquece com ideais morais
que podem levá-lo até a aumentar fisicamente sua temperatura.
Sob esse ponto de vista podemos compreender o que seja uma dietética
“dinâmica”, ou seja, um impulso da ciência espiritual “para uma higiene
alimentar que convenha a nossa época”.
Enzimas;
Mas a ciência espiritual propôs ainda outros dados sobre o tema das
funções intestinais.
anterior que é tão importante para a vida consciente. Ele mesmo chegou ao
surpreendente resultado de “que a mais alta atividade espiritual, ligada à
perfeição do cérebro, é igualmente ligada a um aperfeiçoamento
correspondente do intestino”. Existe aí, igualmente, uma ação da dinâmica
intestinal sobre as faculdades do cérebro. Quando, por causa de
estagnações no intestino, a digestão das albuminas se torna insuficiente, se
bem que predominem os processos de putrefação, e disso resulta uma
perturbação que se exprime geralmente por “dores de cabeça e incômodo
pelo trabalho intelectual”. O mesmo ocorre para a constipação crônica.
Isto mostra que Rudolf Steiner via a causa das cáries dentárias
primeiramente no organismo interno; esta é uma opinião geralmente
reconhecida atualmente. Nós nos ocuparemos mais tarde com essa questão
que implica no papel do flúor, mesmo na higiene alimentar.
Mas a flora intestinal surge como que domada pela atividade própria do
organismo, por uma alternância extraordinariamente “sábia” de numerosos
fatores (secreção glandular, equilíbrio entre o meio alcalino e o meio ácido,
etc.). Essas ações são, todavia, instáveis, e novamente iniciadas a cada nova
atividade digestiva. Elas podem ser perturbadas de numerosas maneiras,
mas também estimuladas pela qualidade da alimentação. Atualmente, estas
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Rudolf Steiner projetou uma nova luz sobre esses fenômenos, e isto de
duas maneiras.
Por outro lado, foi demonstrado que as medidas feitas são válidas
apenas para substâncias nutritivas absolutamente puras – o que não ocorre
na natureza. Lembremo-nos do que Bunge, no final do século 19 salientou,
de que todos os nossos alimentos naturais são misturas, e não entidades
químicas. Ele deduziu então que um alimento artificial tendo o caráter de
uma entidade química deveria, a priori, provocar perturbações da saúde.
Apesar dessas restrições continuou-se a pensar que a célula é comparável a
uma fábrica de onde saem resíduos sem valor energético, água e gás
carbônico. Estes são recuperados graças à energia solar, “nascida da
energia atômica”. Isolou-se, finalmente, uma combinação química, o
trifosfato de adenosina, (ATP), que seria o substrato material do
“acumulador humano” e do qual quase todos os nossos processos vitais
retiram sua energia. “A energia solar está armazenada no ATP”. Estas
palavras coroam o edifício, certamente importante, da ciência nutricional
moderna.
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Como veremos, quando se trata, por exemplo, de fixar uma norma para
o consumo quotidiano de albumina, intervêm outros critérios de qualidade.
Nesse sentido pode-se realmente falar das plantas, como de “força solar
condensada”, de força etérea condensada. Tanto quanto a luz solar a
irradia, a planta engendra seu corpo etéreo. A planta terá então uma
qualidade particular durante o dia e outra qualidade durante a noite.
Quando colhemos uma planta, ela traz consigo os efeitos das forças
cósmicas, tanto mais intensamente quanto mais fresca ela é, e muito menos
se a colhemos à noite, quando ela é privada da luz solar.
É por esse razão que o corpo animal não é preenchido somente de forças
vitais; ele as perde na medida em que nasce a matéria sensciente. Mas isso
é verdadeiro apenas quando o animal se encontra em estado vigília: quando
dorme, predominam as forças vitais.
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Mas ele tem ainda necessita de uma força mais elevada, que ele
organiza em si, e que se opõe à animalização. Ela transforma então, por sua
vez, a “matéria sensciente”. Esta se torna portadora do “espírito consciente
de si mesmo”, ou seja, da organização do Eu, “até nas mais íntimas partes
de sua substância”. O órgão que se torna a expressão corporal dessa
organização do Eu é o sangue.
Esta luz que nós modernos apreciamos tanto, não era preciosa aos olhos
dos antigos. Pelo contrário, eles apreciavam plenamente a luz proveniente
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das plantas. Sentiam-se atraídos por esta ou aquela planta, pois dela tinham
necessidade, como medicamento ou como simples alimento. Quando
erravam pelas florestas ou pradarias, sentiam-se estimulados, vivificados.
Era um efeito imediato da força etérea luminosa do mundo vegetal. “Mas
atualmente temos necessidade de reconhecer de uma maneira nova o que é
a luz”, e de compreender de que tipo são as forças solares cósmicas que ela
obtém para a alimentação e a cura do homem.
Quando Rudolf Steiner teve ocasião de falar, pela primeira vez, sobre
medicina, perante uma platéia de médicos, ressaltou que o maior obstáculo
a uma compreensão exata da ação das substâncias (principalmente
medicinais) no corpo humano é a pretensa lei da conservação da energia.
Pois, “ela estaria em contradição absoluta com o processo de evolução da
humanidade”. E acrescentou: “O processo da nutrição e da digestão não é,
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Não foi por acaso que Goethe disse: “O ritmo tem algo de enfeitiçador, é
necessário até mesmo crer que o sublime nos pertence”. Esta frase exprime
uma profunda intuição espiritual. Pelo ritmo, a substância desaparece, de
certo modo, nos processos. “O organismo é uma correlação de atividades.
Só o ser reside naquilo que ele faz e não em sua substância. O organismo
não é um conjunto de substâncias, mas de atividades”. Essas palavras de
Rudolf Steiner podem ser colocadas como a base de um tratado de
alimentação dinâmica. Somente quando percebermos todo seu sentido é
que seremos capazes de sobrepujar o materialismo, nesse domínio.
As forças formativas que foram retiradas tão cedo das células nervosas
(desde a primeira infância elas não são mais aptas a se reproduzirem)
podem, estando liberadas do organismo físico (portanto, da matéria
cerebral), orientar-se para um tarefa mais elevada: a atividade anímico-
espiritual.
E provavelmente não é por acaso que ele se exprimiu pela primeira vez
a esse respeito na Inglaterra, ou seja, no Oeste onde a terra é
particularmente acessível às forças “modeladoras”. – Nas conferências que
ele fez, de 19 a 31 de agosto de 1923 em Penmaenmawr, Inglaterra, o local
sagrado de um antigo colégio dos druidas. Este local deu-lhe
manifestamente a possibilidade de revelar de uma maneira toda especial, os
mistérios do homem e do cosmos.
Consideremos que em nosso cérebro nós nos tornamos “um outro”, pelo
menos duas vezes em 24 horas: renovamos inteiramente nossa substância,
mantendo plenamente nossa individualidade. Ainda que não se trate de uma
troca de substâncias terrestres, não é possível nos representarmos realmente
tais eventos, pois nossa consciência de vigília fundamenta-se na
estabilidade de nossa existência corporal. Se a construíssemos sobre uma
ilusão, não seríamos de modo algum conscientes. Nossa existência
metabólica (e nossos membros) parece basear-se sobre uma estabilidade
terrestre do mesmo gênero. Mas a ciência espiritual chega a outros
resultados. Ela diz o contrário: “Os membros do homem e seu sistema
digestivo são constituídos unicamente de substância celeste”. O que quer
dizer isso?
Rudolf Steiner expôs, por exemplo, que o leite materno atual era
outrora fornecido aos seres humanos pela atmosfera. “Durante toda a sua
vida o homem tinha apenas como alimento uma espécie de leite”. Havia,
naquelas primeiras épocas da Lemúria, “um fino mingau lácteo no qual se
vivia. Aspirava-se o leite circundante”. Esse “antigo leite ainda era cósmico
e não é por acaso que a mitologia fala de uma região paradisíaca onde, nos
velhos tempos, “corriam o leite e o mel”.
Vê-se então que o hidrogênio é uma das substâncias que se move entre
a terra e o cosmos e que desempenha um papel importante na “nutrição
cósmica”. É, de certo modo, uma respiração refinada que se faz não
somente através de toda a pele, mas também pelos órgãos dos sentidos:
“Nós absorvemos ferro, continuamente, por nossos ouvidos... Por nossos
olhos aspiramos luz, mas também substâncias” e “pelo nariz tomamos um
enorme número de substâncias sem o perceber”. Antes, numa conferência
destinada aos médicos, em 31de dezembro de 1923, Rudolf Steiner insistiu
sobre esse lado da nutrição. Após ter dito que o metabolismo ordinário
fornece apenas as “pedras da construção” do sistema nervoso, ele
acrescentou que pela atividade neuro-sensorial, em colaboração com a
respiração, “substâncias, no estado de partículas extremamente finas, são
retiradas do ambiente cósmico e em seguida elaboradas por esse sistema
neuro-sensorial e incorporadas em todo o organismo”, onde elas substituem
tudo que desapareceu. Ele ainda acentua aqui a importância da orelha como
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CAPÍTULO IV
DADOS PRELIMINARES
Certo dia, Rudolf Steiner disse que a flor tende a se unir “à alma do raio
solar”. Ora, o raio solar é penetrado dessas forças astrais que nós
interiorizamos. “O espírito, a planta e o Sol agem em harmonia”. Mas essa
atividade não tem tendências vitais, pelo contrário, a gênese dos portadores
de aromas imita então, de certo modo, um processo que, interiorizado, leva
à faculdade da consciência.
Para finalizar, constatemos que esse problema dos aromas toca de perto
o da “nutrição cósmica”, exposta no capítulo III. Efetivamente, o “corpo de
odor” de uma planta, para dar um exemplo, representa uma dissolução dos
sólidos e dos líquidos, uma regressão do processo formativo terrestre, um
impulso na direção do etéreo. Rudolf Steiner disse a respeito da flor de
tília: “Nesse perfume suave que se espalha, encontramos a interação do
etéreo vegetal com a astralidade circundante que preenche o espaço
universal”.
Pelo olfato nós nos unimos ao ar, que é o portador do astral; pelo
paladar fazemos experiências no elemento aquoso. Experimentamo-nos no
domínio das forças etéreas formativas. Essa distinção é de grande
importância para a compreensão desses dois sentidos.
Aquilo que queremos sentir pelo paladar deve ser dissolvido. Nossa
impressão de sabor depende do grau de solubilidade dos alimentos no
líquido salivar. Essa solubilidade é de alguma forma preparada já
anteriormente: ocorre, por exemplo, numa planta onde processos químicos
culminam na produção de um líquido. Este pode ser secretado diretamente
para o exterior, ou permanecer contido nos tecidos. Este último caso é o de
muitas folhas e caules que empregamos como condimentos: sálvia, salsa,
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cebola, melissa, etc., mas também da maior parte dos frutos e de muitas
sementes. Ora, quando uma planta engendra substâncias “com sabor”, é
porque suas forças etéreas típicas estão como que veladas por aromas de
caráter astral. Isso é importante para compreendermos a qualidade dos
alimentos. A tília, por exemplo, lança a maior parte de suas forças em
perfumes, ou seja, na esfera astral. Já a melissa o faz em sabores, ou seja,
no etéreo. Dessa maneira, os processos que as plantas desencadeiam no
homem são extremamente diferentes uns dos outros.
Nossa nutrição, cada vez mais pobre de forças etéreas que engendram o
sabor e o aroma cósmicos, está arriscada a se tornar ela mesma a artesã
dessa degradação humana. No regime cárneo, regado a álcool, de nossa
civilização, causa e efeito dão-se as mãos. A humanidade torna-se cada vez
mais “grosseira”. É assim que o estudo da dietética nos conduz a afrontar
os problemas mais graves e mais universais.
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CAPÍTULO V
concorre para levar o alimento ao estado de caos: ele já não pertence mais à
natureza, mas também ainda não ao homem.
Em seguida ele sai do intestino e para aos vasos linfáticos, aos líquidos
tissulares. Aí ele é novamente tomado pelas forças formativas do corpo
etéreo individual, é transformado, ou novamente criado em substância
propriamente humana. O estado de caos provém, em parte, do fato de que o
alimento perdeu o ritmo de seu estado original, e deve se integrar às forças
de nossa organização rítmica.
Máximo da secreção
Máximo da concentração
Ainda que Henzel tenha dado uma exposição geral dos ritmos de 24
horas e tenha mostrado “o profundo enraizamento dessa periodicidade nos
organismos vivos”, Sollberger, que renovou essa questão viu-se obrigado a
concluir: “Devemos confessar que nos é desconhecido o mecanismo de
sincronização que está na base dos ritmos biológicos. Não podemos nem
mesmo localizar o relógio”. É evidente que a pesquisa somente pode
progredir se ela tem em conta a essência mesma dos fenômenos rítmicos.
Veremos que a ciência espiritual é capaz disso. Rudolf Steiner definiu o
ritmo como “metade-espiritual” e disse que no ritmo “o físico se transforma
em processo, em acontecimento” e “desaparece em si, no fenômeno
rítmico”. Isto já é dizer que o ritmo é um mediador sobre o mundo material
e o mundo espiritual e que ele assegura a transição de um ao outro. Isso se
torna claro quando se examina o papel do ritmo no processo metabólico. O
ritmo é então um tornar-se que utiliza uma coisa física (o alimento, por
exemplo) para lhe imprimir um processo formador espiritual, no qual se
organiza a matéria. A organização que ela atinge não é mais física; pelo
contrário, as leis físicas aí são abolidas. O tornar-se rítmico atua sobretudo
na região etérea, das forças formativas, ainda que seu impulso inicial
provenha de fontes mais altas, puramente espirituais. Tudo leva a supor que
o campo de ação do ritmo está situado no domínio do etéreo-vital: seu
desenvolvimento periódico, suas repetições, dinâmicas e não estáticas,
ainda que a intervalos iguais; Goethe já o havia compreendido, quando
descobriu que o princípio formador da planta é a alternância rítmica:
concentração, dilatação. Interpretou também as observações de Humboldt
como desencadeando um ritmo terrestre de inspiração e expiração, uma
alternância atmosférica, da qual somos obrigados a deduzir que nosso
globo é um ser vivo e não um simples mineral inanimado.
Isso quer dizer que nesses tempos antigos o homem era um ser
cósmico, que recebia esse ritmo a partir de suas interações com o Sol
imprimindo-o em toda a criação terrestre.
contrar para sua vigília e seu sono um ritmo que se sincronize bem com as
leis do mundo, mas que convenha é sua personalidade. Encontrar para cada
indivíduo um ritmo regular, mas pessoal!
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CAPÍTULO VI
pareça a princípio nossa percepção térmica, nós não temos menos de uma
“experiência térmica global”. “É o calor em nós que percebe diretamente o
calor exterior”. Nosso sentido de calor se estende por todo o nosso corpo. O
ser de calor é um organismo independente, um “quarto organismo” em nós,
disse Rudolf Steiner; é de uma natureza mais elevada que o organismo
sólido, o líquido ou o gasoso, mas penetra todos os três.
O SER DE CALOR
A maneira pela qual este ser de calor se mantém em seu meio esclarece-
nos sobre os problemas do calor e do frio na alimentação. A “regulação
térmica” mostra com eloqüência como o ser de calor intervém até nas
partes sólidas, minerais, de nosso corpo.
que, por exemplo, os corpos graxos, que são portadores de calor, podem
chegar sem inconveniente até o intestino delgado.
Tudo isso dá uma nova luz à teoria das calorias. Tinha-se postulado, no
século 19, que toda substância, todo gênero alimentício, eram portadores de
calor e que se podia medir em calorias seu potencial térmico. Mas esta
força térmica não se integra passivamente no organismo, ela deve ser
captada ativamente, ou seja, confrontar-se com o ser de calor. Essas
calorias que absorvemos nos são, a principio estranhas, como declarou
nitidamente A. Gigon em seus “Pensamentos sobre a nutrição”: “A força
térmica dos alimentos deve ser transformada em calor corporal próprio,
antes de poder ser utilizado em qualquer trabalho”.
Rudolf Steiner fez uma importante descoberta sobre esta questão: tudo
o que nos alimentos é mineral, deve ser provisoriamente transformado em
calor. E é precisamente aquilo que no homem é sólido, pesado, morto,
cristalizável que deve sofrer essa transformação: ao menos por alguns
instantes deve tornar-se leve, imaterial, energia pura, antes de se
recondensar e de formar a matéria corporal humana. Percebemo-nos aí, em
particular, de uma afinidade entre o ser de calor e o mineral.
De fato, o diabetes é uma doença que se expande cada vez mais. Essa
maneira de ver permite explicar outras doenças, como o reumatismo, a
gota, a artrite e até mesmo o câncer.
Por sua vez, o iniciado dos Mistérios gregos sentia: “No ar quente, tu
te sentes em ti... na água fria, tu te sentes estranho...”. “Na realidade tu
podes sentir o ar quente apenas em ti e a água fria apenas fora de ti....”
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Falaremos mais tarde, em detalhe, sobre outros métodos que são mais
químicos que térmicos.
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CAPÍTULO VII
O SIGNIFICADO DA SOPA
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Sabe-se que Rudolf Steiner, para seu próprio uso, apreciava muito a
sopa de legumes frescos. Ele aconselhava o uso de legumes de todos os
tipos e de “peneirar” tanto quanto possível o caldo.
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CAPÍTULO VIII
Essas relações são válidas tanto para a planta medicinal como para a
planta alimentícia. Rudolf Steiner definiu-as com precisão em seu Primeiro
Curso médico de 1920, baseando-se sobre a “tripartição” do organismo
humano. Nesse sentido a planta é o inverso do homem. Ela desenvolve suas
raízes na terra; e suas flores, assim como suas sementes, no ápice. O ser
humano, pelo contrário, dirige seus órgãos genitais para baixo e pela sua
cabeça, de certo modo, “enraíza-se” no céu. Sob esse ponto de vista o
homem é então uma planta invertida. A formação das folhas constitui um
sistema mediano. Eis então a correspondência:
Tudo que na planta é raiz tem uma ligação com o pólo superior do
homem, com o sistema neuro-sensorial.
Tudo que é flor e fruto aparenta-se com o pólo inferior ao homem, com
o sistema de trocas (metabolismo) e dos membros.
dizer: “Uma determinada planta tem sabor apenas para o órgão bem
determinado, sendo insípida para os outros órgãos; apenas um órgão deixa-
se excitar pelas forças dessa planta, e acrescenta: “É importante
compreender que ao comermos devemos nos manter em uma relação viva
com os diversos alimentos”. Temos aí as relações entre microcosmos e o
macrocosmos. Desse conselho pode resultar uma “sadia higiene alimentar”.
Desenvolveremos aqui apenas dados gerais sobre esse assunto e
retornaremos mais detalhadamente no segundo volume.
AS PLANTAS MEDICINAIS
Rudolf Steiner disse que podemos esperar de uma planta medicinal que
ela se mostre capaz de intervir na consciência do homem. A consciência foi
modificada pela doença, seja num único órgão, seja em todo o corpo, e
deve ser então normalizada, reconduzida à “consciência do homem são”.
Uma planta alimentar, pelo contrário, deve intervir não na consciência, mas
unicamente nos estados vitais; no máximo pode se refletir na consciência.
Rudolf Steiner forneceu uma definição muito importante da diferença entre
o que seja medicamento e o que seja alimento. Quando nos alimentamos
devemos cuidar para que o alimento aja em nós como um “meio de viver” e
não como um meio de modificar nossa consciência. A qualidade dos
gêneros alimentícios depende da medida com que eles podem responder a
essa exigência.
OS PRODUTOS DE REGIME
que tenha dado a todos a mesma coisa. Estar juntos para comer e beber é de
um grande significado social.” Tais palavras mostram os graves problemas
com a alimentação em comum (cantinas, etc.) dos quais trataremos mais
adiante.
O SAL DE COZINHA
Talvez o sal seja a única substância que nós absorvemos sob uma forma
puramente mineral, mas nós o consumimos apenas em pequenas
quantidades, como um condimento.
A ESSÊNCIA DO MINERAL
Sabe-se há longo tempo que muitas plantas que crescem nas montanhas
possuem poderes terapêuticos diferentes dos da mesma espécie que cresce
nas planícies. Seu porte é diferente, são mais robustas, têm um perfume
mais forte, etc. Há milênios que essas diferenças são utilizadas. Tais
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plantas são de uma qualidade especial, seja como remédios populares, seja
como condimentos, ou mesmo como alimentos.
Rudolf Steiner foi interrogado sobre esta questão e a sua resposta não
foi desprovida de interesse. Falou sobre o morango: o dos bosques é
pequeno, mas muito perfumado, contrariamente ao dos jardins, que é maior
e tem geralmente pouco gosto. Isso é devido, segundo ele, à maior riqueza
dos bosques e montanhas, em minerais: “A planta toma em sua seiva
partículas muito finas desses minerais, tornando-se terapêutica”. Por outro
lado, as plantas da montanha e da floresta desenvolvem em suas raízes o
poder de atrair traços extremamente sutis de matéria. Por isso que a
amoreira selvagem é capaz de atrais muito mais ferro que as outras plantas,
o que dá aos morangos selvagens seu delicioso perfume. Assim o morango
se torna um produto de regime muito eficaz para enriquecer o sangue. Ao
mesmo tempo, esse morango dos bosques contém um alto teor em vitamina
C (60 miligramas), enquanto que a groselha tem apenas 35 miligramas, e a
framboesa 25 miligramas. Por outro lado, o cynorrhodon (baga de roseira
brava ou roseira selvagem) é muito privilegiado sob esse aspecto: ela
contém de 300 a 380 miligramas de vitamina C por 100 gramas de polpa.
Seu teor em minerais é igualmente muito elevado (0,7% no morango dos
bosques; 4,6% na roseira brava). Rudolf Steiner comparou a roseira brava,
que desenvolve muita atividade para a formação do fruto, com a roseira,
que consagra à floração as substâncias encontradas no solo cultivado.
Por outro lado, são as forças espirituais no decurso do ano que regem as
substâncias nutritivas ou medicinais. Durante o verão, as forças nutritivas e
formativas se encontram em seu apogeu na natureza. Essas forças
correspondem ás forças solares no homem, ao seu metabolismo. Da
natureza provém, como já vimos, essas forças que se transformam
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CAPÍTULO IX
uma revelação. Ele pode deduzir que a alimentação que se deixa em estado
natural, crua, é a que mais se aproxima da energia solar (a forma superior
de energia), e que, por essa razão, tem o maior valor nutritivo. O alimento
cozido já perderia uma parte desse valor. Quanto ao alimento de
procedência animal, notadamente a carne, ela já teria sofrido uma
desvalorização maior, dado que o animal já gastou, para sua própria vida,
as energias recebidas. E ao cozinharmos a carne ocorre uma nova perda de
energia. Já o leite, que o animal não forma para si mesmo, mas para sua
prole, coloca-se numa categoria mais elevada, mais próxima da
alimentação de origem vegetal, sob a condição de ser consumido cru. No
outro extremo dessa corrente encontram-se os cogumelos, que como
saprófitos, entram, segundo esta teoria na mais baixa categoria dos valores
nutritivos.
A obra de Bircher Benner foi realmente espantosa para sua época. Era
sem dúvida o primeiro sistema coerente que se desligava dos entraves da
teoria das calorias e que tentava introduzir na ciência nutricional um
conceito racional de qualidade. Decênios mais tarde, o físico nuclear,
Erwin Schroedinger, prêmio Nobel, podia perguntar: “Que é então essa
preciosa qualquer coisa que está contida nos alimentos e que preservamos
da morte?” Sua resposta ia no mesmo sentido que a de Bircher Benner: “A
organização do vivo mantêm-se retirando ordem do mundo ao derredor”.
Ou seja, a ordem é o critério do organismo vivo, mas a ordem, a
organização, só podem provir da própria ordem, e não da “desordem”. Esta
é o sinônimo de morte. Foi assim que Bircher-Benner pode ser justificado
pelas teses de Schroedinger. Após ter sido excluído da ordem dos médicos
de Zurique, em 1900, sob a acusação de idéias não científicas, formulou
sua doutrina em 1903 em seu livro: “Fundamentos da Terapia Alimentar”,
publicada em uma segunda edição, ampliada, em 1905.
Rudolf Steiner mostra claramente que, com a ajuda da luz solar, a planta
constrói seu “corpo de vida”, seu “corpo de forças formativas”, esta parte
constitutiva de todo ser vivo que deve sua origem às forças que se irradiam
da periferia. “Ao entrar nos reinos vivos a matéria deve se subtrair às forças
que emanam dela e se subordinar às forças que irradiam para ela”. Mas a
fisiologia revela, já que o homem e o animal trazem em si um processo
oposto ao da planta, o vegetal aspira o gás carbônico e constrói seu corpo
graças às forças solares. O homem e o animal expelem esse gás carbônico e
aspiram o oxigênio liberado pelas plantas, ou seja, os seres providos de
alma fazem o contrário da planta.
155
ANIMAL
HOMEM VEGETAL
MINERAL
Por sua vez, Rudolf Steiner declarou que um intestino muito curto para
digerir as plantas nada prova, e que o homem é capaz de transformá-lo pela
educação e pela auto-educação, mesmo que sejam necessárias muitas
gerações.
No último ano de sua vida, Rudolf Steiner disse que, sem o regime
vegetariano, ele mesmo não poderia jamais sobrepujar as fadigas e os
esforços a que se tinham imposto durante os últimos 24 anos. Pode-se
deduzir desta confidência pessoal que ele se tinha decidido por esse modo
de alimentação em 1900, ou seja, no início de seu apostolado de
investigação espiritual. Dizia também: “Quando se pode passar sem carne,
sente-se mais forte do que antes”. Entretanto ele ressalta bem: “Quando se
pode” - o que levanta um outro problema.
O ASPECTO PEDAGÓGICO
América e Austrália 1 1
Países sub-
desenvolvidos
Extremo – Oriente 1 9½
África 1 10
Entretanto, para nossa surpresa, ele nos disse igualmente que a maioria
das pessoas “são incapazes de realizar o vegetarianismo total”, porque sua
hereditariedade e outras causas não lhes permitem desenvolver forças
suficientes para poderem levar adiante tal exigência fisiológica. Assim
devemos deduzir que, mesmo atualmente, apenas uma parte relativamente
mínima da humanidade será capaz de praticar o verdadeiro vegetarianismo.
É preciso ressaltar que a maior parte das populações do Extremo-Oriente,
possui ainda sem dúvida, a hereditariedade necessária, ainda que suas
condições de vida se transformem rapidamente. As estatísticas são
instrutivas. Por exemplo, a ração quotidiana média do Hindu é somente de
2 gramas de carne; a do Suíço é de 194 gramas. Outra estatística mostra
que em 1960/61 o consume médio de carne nos EUA foi de 85 kg por
166
mais adiante esse tema. Agora nós encontramos aqui uma transição para o
capítulo X que vai tratar da relação entre a alimentação e a vida espiritual.
-x–
CAPÍTULO X
Existem outras substâncias que agem desta maneira como a sílica, por
exemplo. “Ela constitui o substrato físico da organização do Eu, ela
desenvolve, dessa maneira, uma atividade capaz de formar os órgãos da
vida consciente”. Nesse sentido pode-se falar de um organismo de ácido
silícico que atravessa o homem e sobre o qual “repousa a sensibilidade dos
órgãos, indispensável a uma vida sadia, e sua correta relação com a alma e
o espírito...” Esses são os processos que despertamos diretamente no
organismo pelos alimentos que contenham a sílica, entre outros cereais e
numerosas raízes comestíveis.
Rudolf Steiner falou igualmente desta forma, sobre o ácido úrico. Nós o
consideramos, geralmente, como produto de eliminação, renal ou como
depósito patológico nos gostosos. Mas ele existe também em finíssima
diluição no cérebro. Recentemente, nos Estados Unidos da América, quis-
se testar a inteligência humana medindo-se o precipitado de ácido úrico
fornecido pelo cérebro. Eis então um elo reconhecível entre uma substância
176
Todos esses sais têm um caráter comum: eles rejeitaram para fora de si
toda vitalidade, rejeitaram sua água, seu ar e sua luz, enfim, seus
imponderáveis. É por isso que os alquimistas descreviam o sal como um ser
isento de egoísmo. Ele renuncia de alguma forma à vida própria. Dessa
maneira, ele pode se abrir a uma espiritualidade externa, a forças cósmicas,
tornando-se o portador da vida do universo.
Eis então uma primeira constatação: por seu caráter de raiz e seus
intensos processos salinos, a cenoura preenche uma função nutritiva em
relação ao sistema neuro-sensorial do homem. Seus processos de
salificação estimulam os que o homem deve realizar ele mesmo. Um
regime de cenouras estimulará então a função neuro-sensorial e sustentará
o repelir de nossas próprias forças vitais, o que nos permite participar da
vida universal por meio de imagens, pensamentos e sensações. Como
sabemos, a organização de nosso olho tem precisamente esse caráter.
E “se vocês sentirem alguma vez que têm a cabeça vazia e que não
podem pensar bem, seria bom acrescentarem, cenouras ao seu regime,
durante certo tempo”. “Mas isto é eficaz acima de tudo nas crianças”
acrescenta Rudolf Steiner, dando a subentender que o cérebro infantil é
ainda maleável. Tal indicação é de valor pedagógico imenso, tanto para os
professores quanto para os alunos.
CAFÉ E CHÁ
principal é a cafeína, que existe tanto nos grãos de café quanto nas folhas
de chá. A ação desta substância foi bem estudada na farmacologia e ela é
usada em diversos remédios para males de cabeça. Isto mostra já que a
cafeína age em direção do sistema nervoso central, do cérebro. Moeller
escreve: “A cafeína estimula as funções do córtex cerebral, ou mais
exatamente, estimula no córtex os processos que determinam uma ação sem
atrito entre certos processos anímico-espirituais”. Sabe-se, pela observação
e pela experiência, que “a cafeína facilita os impulsos de um nervo para
outro, o que explica que ela favorece a associação de idéias”. Entretanto,
ele acrescenta: “O efeito da cafeína difere muito segundo as pessoas”. Na
literatura os efeitos do café foram elogiados por diversas vezes, e em 1567,
o poeta, árabe Abd el-Kader os invocava:
E o chá? Ele tem a mesma ação do café, mas com uma diferença de que
ele modifica, esfuma as “estruturas” do corpo físico. Resulta então uma
excitação bastante fantasmagórica, um modo de pensar instável e
“borboleteante”, que nem sempre se adapta ás condições concretas.
“Enquanto que o café nos torna mais “sólidos”, o consumo do chá favorece
o charlatanismo, a negligência, a preguiça”. O que há de comum entre as
duas bebidas é uma liberação, um afrouxamento das ligações físicas,
sobretudo no cérebro.
Essa ação do chá foi descrita muitas vezes. Na China antiga, por
exemplo, premiava-se todos os anos o melhor poema escrito em louvor do
chá, pois os poetas eram particularmente sensíveis a seus efeitos. Um
pequeno poema de Heine evoca isto:
Esta estrofe foi escrita num salão de chá berlinense, onde se encontrava
o mundo literário. Igualmente, no salão de Rachel Varnhagen, uma das
bem-amadas de Goethe, reuniam-se na hora do chá pintores, atores e
diplomatas. Eckermann relata: “Essa noite fui à casa de Goethe para um
grande chá. Esta sociedade agradou-me; tudo era tão livre e tão espontâneo;
levantava-se, sentava-se novamente, brincava-se, ria-se...” Isso talvez
explica a sensação que Rudolf Steiner fez num de seus Cursos Médicos:
187
É por isso que Rudolf Steiner, consciente desses perigos, deu o seguinte
conselho: “Assim, o vegetariano deve ao mesmo tempo submeter-se a uma
disciplina espiritual, senão seria melhor se manter carnívoro”. É preciso
188
-x–
189
CAPÍTULO XI
A ciência da nutrição, que foi criada no século 19, não propunha nada
mais do que analisar quimicamente as substâncias alimentares e de tentar
compreender os fenômenos digestivos segundo as leis físico-químicas. Max
Rubner, na introdução de sua obra principal: “As leis do gasto de energia
nutrição” (1902) o exprime claramente: “Os fenômenos físicos que
acompanham as combinações químicas são, como já demonstrei, de uma
natureza tão importante para as questões biológicas, que se deve dar-lhes o
valor que aos fenômenos substanciais (químicos)”. Estava-se persuadido,
no fim do século 19, de que “unicamente a consideração energética pode
nos esclarecer sobre todo o conjunto das relações mútuas entre as
substâncias”. Acreditava-se então poder compreender o metabolismo dos
seres viventes graças às leis do mundo inorgânico. Não se percebia, porém,
o fato de que os objetos da investigação – o animal e o homem – são
dotados de alma e de espírito. O terreno, entretanto, já havia sido preparado
pelas concepções de Moleschott e de Feuerbach. Defendia-se contra
“dualismo da filosofia” e na doutrina “monista”, tinha-se postulado: “Os
materialistas professam a identidade da energia e da matéria, do espírito e
do corpo, de Deus e do mundo”. Essas palavras são de Moleschott, em sua
obra “O circuito da Vida” (1887), e refletem a total insuficiência do
conhecimento naquela época. De uma alma nem sequer se cogitava, e o
espírito era considerado apenas como uma forma de aparição da matéria. A
investigação do sistema nervoso central parecia confirmá-lo: “Todos os
animais assemelham-se, amputando-lhes seu cérebro, amputamos-lhes
também seu espírito e sua sensibilidade” (ibidem). Vê-se que um
190
É assim que Lorenz, por exemplo, limita esse método desde o início,
quando declara: “A tentativa para se aproximar de uma compreensão dos
fenômenos da alma pelo caminho da análise causal exige um a priori que é
de uma evidência axiomática para o biólogo, ainda que tenha sido repelida
por certos metafísicos: é que todo fato “puramente psíquico” é ao mesmo
tempo “um fato neurofisiológico”. Aqui o psiquismo está reduzido à sua
expressão por “fatos neurofisiológicos”, ao passo que, na realidade ele é
capaz de se exprimir através do homem inteiro, sendo o sistema nervoso
apenas um instrumento corporal para esse fim. Ademais, a natureza desse
psiquismo permanece obscura, bem como a distinção entre os fenômenos
da vida e os da alma. “Todo fato psíquico está subordinado aos fenômenos
da vida” (ibidem). Assim são necessárias séries reservas sobre a afirmação
de que “o pensamento causal do homem... é o mais regulador e o mais
finalista de todos os fenômenos orgânicos sobre este planeta”. O mesmo
quando Lorenz declara: “A liberdade de velocidade e estrutura que
apresentam esses desempenhos é apenas uma ilusão resultante da estrutura
e da coloração de elementos (nervosos) complexos ao infinito. Esses
desempenhos são então também perturbados por certas lesões, não importa
qual sua função mecânica”. Aqui, o etologista, por mais moderno que
queira parecer, coloca-se na escola de Moleschott, Feuerbach e Buechner.
Essa etologia, a despeito de tudo o que ela nos fez ganhar no domínio dos
fatos particulares, limita-se a si mesma ao declarar: “Ignoramos como e por
quê centros foram criados no Gyrus suprammarginalis (do cérebro) para a
prática, o conhecimento e a linguagem; como e por quê o cérebro humano
adquiriu seu grande volume e sua extrema diferenciação, sobre os quais se
edifica o pensamento conceitual e toda a evolução do homem... não o
compreendemos, tal como não podemos encontrar no decorrer da
evolução" (ibidem). Qualquer que seja, nós saudamos de bom agrado o fato
de que ele aqui novamente falou da alma e do espírito. Adolf Portmann,
192
O que Rudolf Steiner assinalava já por essas palavras, ele não cessou de
aprofundá-lo e ampliá-lo a partir de 1911. Em última análise, aquilo para o
que tendemos na presente obra não é nada mais do que aprender como se
pode estender ao domínio da alimentação nossa consciência bem desperta
do Eu. Após 1911 essa necessidade tornou-se cada vez mais urgente e vital
para toda nossa civilização. Em 1924, quando Rudolf Steiner retornou a
Dornach, após o Curso Agrícola que ele tinha dado em Koberwitz, ele
declarou que no domínio antroposófico pode-se agir em duas direções: do
lado das mais elevadas realidades espirituais e do lado da vida prática... “e
que a tarefa essencial seria doravante fazer intervir o espiritual nos
trabalhos práticos imediatos”. Desde então tem sido essa, cada vez mais, a
ordem do dia. Em suma, em Koberwitz, Rudolf Steiner colocou não apenas
os fundamentos de um novo método de agricultura, mas ainda os de uma
nova dietética.
197
Isso não significa de maneira alguma que Rudolf Steiner tenha ignorado
a importância da ascese na história da espiritualidade. Numa conferência
em 1905 sobre a alimentação, lê-se que “durante um período de trabalho
199
ASPECTOS CONTEMPORÂNEOS
A FOME E A SEDE
encarna num corpo terrestre, cria assim diariamente pela fome uma
experiência renovada sem cessar de sua encarnação, para se experimentar
em suas capacidades de dominar a terra, de espiritualizar a matéria.
se libertam e se desligam dele cada vez que se dorme. Esse corpo etéreo
penetra, sobretudo a organização metabólica e o sistema rítmico.
O órgão, graças ao qual a sede se satisfaz deve então ser procurado onde
se encontra um centro importante do metabolismo dos líquidos: no fígado.
“É nos sistema hepático que devemos procurar as causas profundas dos
processos líquidos do organismo”. “A sede também está ligada ao sistema
hepático”. Também aqui devemos nos lembrar de como a função hepática
está ligada à vida da alma humana. Nesse sentido, a sede, ainda que a
princípio subconsciente, é um impulso para maior força vital, para um
equilíbrio entre o organismo líquido (principalmente a água dos tecidos) e
os órgãos, para a dissolução e para um quimismo ativo, todas propriedades
particulares do fígado. É por isso que as sensações de sede são sintomas de
uma doença hepática. Além disso, a sede pode tornar-se um estado
207
Resulta do que precede que toda fome e toda sede são inícios de
doenças, que são curadas ao serem satisfeitas. Sente-se assim, após cada
refeição, um contentamento interno, devido ao fato de que o organismo
digestivo pode se ativar como deve. Ele está ocupado na dissolução dos
alimentos e o homem experimenta então, em sua alma, certo bem estar, um
prazer íntimo. Nesse sentido, a fome e a sede são atividades anímico-
espirituais, pois todo processo nutricional reflete-se finalmente em nosso
“corpo astral”.
A “BENÇÃO”
Lembremos que toda nossa alimentação deve ser tomada por nossa
organização interna. Assim o fazendo, nós a privamos de todas as
propriedades naturais que fazem dela um corpo estranho para nós. Esse
corpo estranho é atacado pela totalidade do ser humano: físico, vital,
anímico e espiritual. Este deve desenvolver forças suficientes para destruir
as substâncias e forças do mundo exterior, dissolvê-las e conduzi-las, ao
menos por alguns instantes, ao estado de calor que o caracteriza como
portador de um Eu. “O que nós percebemos no homem, é o seu Eu, sob
uma forma exterior, física”.
CAPÍTULO XII
ASPECTOS HISTÓRICOS
Isso foi quase esquecido em nossos dias, mas a cada tomada de alimento
o homem entra em comunhão anímico-espiritual com certas forças da terra
e do cosmos, que o unem por uma aliança a princípio invisível, que tendem
a liberá-lo ou acorrentá-lo, a elevá-lo ou rebaixá-lo, conforme o que ele
consome e como ele o consome. O leite o prepara para ser “uma criatura
terrestre”, mas ele não o prende realmente à Terra. O leite lhe dá a força de
assumir sua missão terrestre, ele harmoniza seu ser com o universo. Já os
outros alimentos têm a propriedade de “exercer influências diferentes sobre
os sistemas de órgãos particulares”. Tais considerações levaram outrora os
iniciados a prescrever certa alimentação a seus discípulos, e a estabelecer
normas alimentares para as populações vizinhas de seus centros. Aí se
fundaram, bem conscientemente, comunidades nas quais se abstinha, por
exemplo, de carne ou de bebidas embriagantes; mas houve também as
comunidades de comedores de arroz no Oriente, de comedores de milho na
América pré-colombiana, de bebedores de chá ou café, etc. A arte da
panificação e da cultura de cereais remonta à época Atlântica. “Sim,
outrora, antes do Dilúvio, havia cereais com espigas macias, espessas, de 7
tipos, cujo perfume evocava os planetas”. Assim fala Noé num drama de
Albert Steffen. Demeter iniciou Triptolemo nos mistérios de Elêusis da
cevada. Heródoto escreveu: “Os povos comedores de cereais são
espiritualmente muito mais adiantados do que os povos que vivem da
guerra, da caça e da pecuária. E Rudolf Steiner acrescenta que as
populações guerreiras são mais inclinadas a comer carne do que as
populações pacíficas. Entretanto, em sua origem, o consumo de carne
estava sempre ligado a um ato sacramental, um sacrifício. É somente mais
tarde que se começa a abater os animais tendo em vista um simples prazer.
Assim, na Grécia, nas guerras dos medos, só se comia carne de boi nas
refeições oficiais e rituais, ligadas a um sacrifício.
quanto mais rica e variada for a flora da qual são retirados... mas nós não
notamos mais a diferença de seus efeitos... Basta ir a países onde a
alimentação é muito estreitamente ligada aos ritmos do ano, para se ver que
tal modo de alimentação determina amplamente a vida das almas... As
coisas desse gênero tinham uma outra importância para as gerações
passadas, ainda ligadas à natureza...”
A esse respeito pode ser instrutivo também saber o que Rudolf Steiner
disse sobre regimes (Primeiro curso médico, 1920): Esta questão não tem
apenas importância médica. Todo regime torna o homem associal... Quanto
mais queremos ou devemos consumir algo de especial, mais nos tornamos
associais. “O significado da Ceia não é que o Cristo tenha dado alguma
coisa a cada discípulo, mas sim que deu a todos a mesma coisa. A
possibilidade que temos de nos encontrarmos juntos como seres humanos
no ato de comer ou beber tem uma grande importância social”. É por isso
que Rudolf Steiner aconselhou, quando um regime é necessário, orientá-lo
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APÊNDICE