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Visão 2030-2050

O FUTURO DAS FLORESTAS E


DA AGRICULTURA NO BRASIL

COALIZÃO
BRASIL
C L I M A
F L O R E S T A S E
A G R I C U L T U R A
www.coalizaobr.com.br
ÍNDICE

4 PREFÁCIO

6 INTRODUÇÃO

10 SÍNTESE DA VISÃO 2030-2050: O FUTURO DAS


FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

12 PRODUZIR MAIS E MELHOR, POR MEIO


DA AGROPECUÁRIA E DA SILVICULTURA

18 CRIAR VALOR E GERAR BENEFÍCIOS


A PARTIR DA FLORESTA NATIVA

24 ACABAR COM O DESMATAMENTO

30 VIABILIZAR POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESTADO E CONSTRUIR


INSTRUMENTOS ECONÔMICOS ALINHADOS E INTEGRADOS

36 CONCLUSÃO E PRÓXIMOS PASSOS


40 GLOSSÁRIO
PREFÁCIO

UM CONVITE À RECONEXÃO COM A


TERRA EM QUE VIVEMOS

Pode parecer estranho, mas nos acostuma- festas simples, boas conversas e colheitas fartas.
mos a viver em um ambiente que, frequente- Continuamos a ligar o campo a momentos
mente, não nos traz bem-estar. Nossa relação de prazer, misturados com grandes ambições
com o local onde vivemos é intensa e ambígua. produtivas e feitos econômicos.
Deixamos o campo em busca de ambições nas Ao longo do tempo, perdemos a noção do
cidades, mas continuamos conectados a ele, quanto interferimos no local em que vivemos,
seja por razões afetivas, familiares, de negócios e percebemos pouco a reação da natureza a
ou pelo consumo dos produtos que vêm de lá. essa interferência. Sabemos muito das tecno-
Cruzamos o campo rapidamente pelas estradas logias produtivas e, cada vez mais, seus efei-
e pelo ar, mas parece que cada vez menos temos tos indiretos, positivos e negativos. Traduzimos
tempo de contemplar a paisagem. esse conhecimento em importantes ganhos na
Com esta proposta, queremos lembrar que o produção de alimentos, energia, fibras e outros
lugar onde vivemos possui uma longa histó- bens. Geramos riqueza. Mas, como sociedade
ria de convivência e conivência. Moldamos o em geral, estamos pouco atentos aos desequilí-
relevo, exploramos florestas, rios, montanhas, brios que causamos.
cultivamos a terra, construímos cidades e estra- Preocupada em lidar com a reação da natureza
das. Dominamos o meio e estabelecemos rela- ao nosso bem-estar, no curto e longo prazos,
ções de poder entre os diversos grupos sociais uma parte dessa mesma sociedade, formada
que ocupam esse ambiente. Desequilibramos por ONGs, academia e empresários, aprofun-
as relações entre os componentes biológi- dou os debates sobre o que é preciso fazer para
cos, físicos e entre nós mesmos. Mas ainda não retomarmos uma relação mais harmônica com
perdemos totalmente as memórias e histórias o espaço que ocupamos. Foi criado um lingua-
de infâncias vividas em rios, campos floresta- jar hermético, quase um dialeto secreto, para
dos, bons e variados mergulhos gastronômicos, tratar de temas como mudanças climáticas,
gases de efeito estufa, desmatamento, restau- os conceitos técnicos que serão explorados
ração de biomas, manejo florestal sustentável, nas próximas páginas.
áreas degradadas, agricultura de baixo impacto, Queremos que as propostas aqui apresenta-
matriz energética renovável, serviços ecossistê- das sejam amplamente entendidas e discutidas
micos, povos tradicionais, distribuição de renda pela sociedade. Nossa visão é que o Brasil pode
e outras terminologias ainda mais esquisitas. ser líder mundial no uso mais harmônico, inclu-
Essa linguagem técnica, contudo, tem um obje- sivo e sustentável da terra. Sabemos o quanto
tivo muito simples: promover o bem-estar de isso é factível e desafiador, e o quanto depende
todos a partir de uma ocupação do campo de um esforço coletivo, para o qual gostaría-
cujas condições permitam: 1) produzir mais e mos da sua participação.
melhor; 2) criar valor e gerar benefícios a partir Boa leitura!
das florestas; 3) acabar com o desmatamento; e
4) viabilizar políticas públicas de Estado e cons- Integrantes da Coalizão Brasil Clima,
truir instrumentos econômicos alinhados e Florestas e Agricultura
integrados. Não podemos perder essa oportu-
nidade, pois estamos todos conectados à natu-
reza e ao campo.
Queremos provocá-los a ler este documento
com esse olhar. Pensar a nossa relação com
o campo sem perder a afetividade, as memó-
rias, as histórias e as ambições, projetando
desejos e anseios para um futuro que já está
batendo à nossa porta. Queremos que possam
traduzir em bem-estar, cada um à sua maneira,
INTRODUÇÃO

O Brasil possui um território extenso e diver- As mudanças climáticas em curso representam


sificado, uma agropecuária forte e competi- o maior desafio da humanidade na atualidade. A
tiva, um capital natural extraordinário, com intensificação dos eventos climáticos extremos
elevada biodiversidade e serviços ecossistêmi- tem impacto direto na vida das pessoas. O prolon-
cos únicos, e uma riqueza cultural sem par. São gamento dos períodos de seca e o aumento do
atributos que qualquer país gostaria de ter, e as volume das chuvas e da ocorrência de tempes-
melhores condições para liderar as transforma- tades, além de maiores temperaturas médias
ções de que o mundo precisa. em várias regiões, têm efeitos diretos sobre
São características que colocam o país na dian- a produção de alimentos e matérias-primas.
teira da transição para uma nova economia, Na visão da Coalizão Brasil Clima, Florestas e
com base nos Objetivos do Desenvolvimento Agricultura, é possível não apenas enfrentar e
Sustentável1. Mas, para realizar essa potência, mitigar esses impactos, mas transformar a crise
é importante ampliar o campo de visão, dando climática em oportunidade para mudanças posi-
espaço para um novo olhar sobre as oportunida- tivas. O caminho para isso passa por realizar os
des de geração de bem-estar, riqueza e trabalho. compromissos assumidos pelo país com ações
Isso significa apostar na inovação, na ciência, na que estimulem o desenvolvimento da agrope-
tecnologia e na cooperação, especialmente no cuária de baixo carbono, a economia de base
que se refere a modelos sustentáveis de produ- florestal e a geração de energias renováveis. Ao
ção florestal e agropecuária. Desenhar e imple- mesmo tempo, é preciso também reforçar os
mentar políticas públicas e instrumentos econô- instrumentos legais e de incentivo à proteção de
micos e financeiros que induzam e acelerem as seus ecossistemas naturais.
transformações que queremos. Essas ações dependem de uma nova visão para

1 Agenda de desenvolvimento proposta pela ONU: https://bit.ly/1Po5zlk


o uso da terra no país, compartilhada por todos O Brasil é e continuará sendo um dos maiores
os setores da sociedade. Não cabe mais conside- responsáveis pela produção de alimentos no
rar a produção florestal e agropecuária em disso- mundo até 2050, assim como de biocombustí-
nância com a conservação ambiental ou com os veis e de produtos florestais. Por isso, é enorme
direitos dos povos e comunidades tradicionais. A nossa responsabilidade em relação à manuten-
segurança alimentar e a inclusão social somente ção e à recuperação dos fatores naturais e das
serão possíveis assegurando-se a proteção e a condições sociais, políticas e econômicas das
recuperação da natureza. quais dependem essa produção.
Nos últimos 40 anos, o país se tornou uma potên- Por outro lado, somos o sétimo maior emissor de
cia agrícola. Passou de importador de alimento a gases de efeito estufa do planeta4, com grande
terceiro no ranking dos exportadores de produ- parte dessas emissões decorrentes direta e indi-
tos agrícolas, segundo a Organização das Nações retamente das atividades relacionadas à produ-
Unidas para a Alimentação e a Agricultura ção agropecuária, especialmente desmatamento.
(FAO)2. Esse salto foi possível graças a uma pode- Ampliar a adoção de práticas produtivas que redu-
rosa combinação entre o que foi garantido pela zam emissões (agropecuária de baixo carbono) e
natureza – fertilidade dos solos, disponibilidade a restauração em larga escala de áreas críticas
de água, condições climáticas, polinizadores para a provisão de serviços e produtos (madei-
e biocontroladores de pragas e doenças – e os reiros e não madeireiros) a partir da natureza são
ganhos em produtividade resultantes dos inves- estratégias prioritárias para favorecer segurança
timentos em pesquisa e inovação3. alimentar e resiliência climática.

2 OECD-FAO Agricultural Outlook 2015-2024: https://bit.ly/2C9cnVh


3 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: https://bit.ly/2Okq2jo
4 Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), 2018: http://seeg.eco.br/
INTRODUÇÃO

Governos, sociedade civil organizada, empresas, paisagem. Integração e cooperação são fatores
cientistas e lideranças sociais têm papel funda- determinantes nessa abordagem.
mental na construção e na implantação dessa Conciliar as políticas públicas voltadas à prote-
visão comum. A implementação do Código ção ao meio ambiente e à produção agropecu-
Florestal e das ações necessárias para atingir as ária é o primeiro passo nesse caminho. Outro
metas assumidas pelo país no Acordo de Paris passo importante é a cooperação entre os dife-
(ver Quadros 1 e 2) demandam uma aborda- rentes atores sociais e produtivos que interferem
gem inovadora de planejamento territorial e de no uso do solo, nos territórios e nas paisagens. A

QUADRO 1: QUADRO 2:
COMPROMISSOS PORQUE O BRASIL
DO ACORDO PODE SER LÍDER EM
DE PARIS USO DO SOLO DA
O compromisso brasileiro é de NOVA ECONOMIA
reduzir as emissões de gases de O país é protagonista na elaboração
efeito estufa em 37% abaixo dos de políticas inovadoras para
níveis de 2005, em 2025, e, depois o uso da terra e as mudanças
disso, reduzir as emissões em 43% climáticas. Essa posição se deve,
abaixo dos níveis de 2005, em principalmente, ao fato de ter:
2030. Especificamente em relação
ao uso do solo, a NDC brasileira
(metas com o Acordo de Paris)
propõe:
1. Restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de 1. A maior área de floresta tropical do planeta e, ao
florestas para usos múltiplos até 2030; mesmo tempo, o maior desmatamento do mundo;
2. Restaurar 15 milhões de hectares de pastagens 2. O maior sistema de terras protegidas terrestres
degradadas e incrementar 5 milhões de hectares do mundo, embora ainda frágil e ameaçado.
de sistemas de integração lavoura-pecuária-
3. As mais altas taxas de produtividade e o maior
florestas (iLPF) até 2030, além de fortalecer o
volume de produção de cultivos agrícola dos
Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono
trópicos.
(Plano ABC).
4. A terceira maior área dedicada a agricultura e
3. Aumentar a participação de bioenergia
pecuária no planeta.
sustentável na matriz energética brasileira para
aproximadamente 18% até 2030. 5. As mais altas taxas de produtividade de
florestas plantadas do mundo.
4. Fortalecer o cumprimento do Código Florestal.
6. Capital intelectual, tecnológico e social para
5. Desmatamento ilegal zero até 2030.
combater o desmatamento ilegal, ampliar o
6. Compensar emissões de desmatamento legal. reflorestamento, manejar florestas tropicais e
massificar a agricultura de baixo carbono.
7. Aumentar o uso sustentável de energias
renováveis, como solar, eólica e biomassa (exceto 7. Vastas áreas de pastagem degradadas com
energia hidrelétrica), para ao menos 23% da potencial de se tornarem mais produtivas e
geração de eletricidade do Brasil, até 2030. funcionais.

8
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

criação de ambientes de diálogo e confiança é a


chave para essa nova realidade. Outro passo é
QUADRO 3: a implantação de incentivos econômicos alinha-
FÓRUNS DE DIÁLOGO dos com as metas assumidas.
DA COALIZÃO Este documento apresenta a visão de futuro da
Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura,
BRASIL: com projeção dos cenários almejados para 2030
A Coalizão Brasil é organizada e 2050, os quais consideramos totalmente factí-
em quatro Fóruns de Diálogo, veis e desejáveis. Para desenhar o futuro do uso
responsáveis por debater os da terra apresentado aqui, a Coalizão Brasil se
organizou em Fóruns de Diálogo [veja mais no
diversos assuntos da agenda de
Quadro 3], responsáveis pela elaboração do
clima, florestas e agricultura com
conteúdo desta publicação, que foi, posterior-
ampla participação dos membros
mente revisado e editado pelas demais instân-
do movimento: cias do movimento e por um grupo redator5.
O resultado final deste trabalho é apresentado
• Agropecuária e Silvicultura nos quatro capítulos a seguir. Os dois primeiros
abordam diretamente as atividades de produ-
• Floresta Nativa
ção, criação de valor e geração de benefícios liga-
• Desmatamento
dos ao uso da terra, conservação, restauração e
• Políticas Públicas e manejo sustentável. O terceiro capítulo aborda
Instrumentos Econômicos
a questão mais fundamental, sem a qual não há
Os Fóruns têm como objetivo garantir um espaço como concretizar tudo o que foi imaginado, que
de diálogo contínuo e o acompanhamento de
é acabar com o desmatamento e a degradação.
temas importantes à atuação dos atores dessa
agenda. Em 2018, o foco do trabalho dos Fóruns O quarto capítulo analisa como viabilizar este
foi a construção desta visão de futuro, que contou Brasil desenvolvido e sustentável, a partir de
com a participação de mais de 130 organizações políticas públicas inovadoras, que representem
e 200 pessoas, representando associações
uma agenda de Estado – não de governos –, e de
empresariais, empresas, organizações da
sociedade civil, academia e indivíduos instrumentos econômicos integrados e ampara-
interessados em contribuir para a promoção de dos por essas políticas. Por fim, a publicação traz
uma nova economia. também um capítulo de conclusão e próximos
passos, além de um glossário de termos técni-
cos para auxiliar a leitura do documento.
Convidamos você para essa jornada, na qual
Notas dos Quadros:
a produção de alimentos e biocombustíveis, a
Quadro 1: Pretendida Contribuição Nacionalmente Deter-
economia de base florestal, a proteção da natu-
minada (INDC) – atual NDC – do Brasil:
https://bit.ly/1Ru0Jm3 reza, a adaptação às mudanças climáticas e o
Quadro 2: bem-estar humano acontecem de maneira sinér-
Item 1 – Global Forest Watch: https://bit.ly/2J4DIIh gica e interdependente.
Item 2 – Global Protected Planet: https://bit.ly/2c9Hy6p
Itens 3 e 4 - Moratória: https://glo.bo/2SaMRnX
Item 5 - O Brasil é o segundo maior produtor de celulose
do mundo, segundo a Indústria Brasileira de 5 Os documentos de cada Fórum de Diálogo podem ser
acessados no link a seguir: http://bit.ly/2BoJOlN
Árvores (Ibá): https://bit.ly/2EcXIeo
A partir desse material, foi feito um trabalho de edição e
revisão, que resultou no conteúdo desta publicação.

9
SÍNTESE DA VISÃO
2030-2050:
O FUTURO DAS
FLORESTAS E
DA AGRICULTURA
NO BRASIL
Harmônico
Combinação de
elementos ligados por

"Promover
relação de pertinência,
ausência de conflito,
concórdia
o uso
harmônico,
inclusivo
e sustentável
da terra
Inclusivo
no Brasil" Sustentável
Que não deixa Que satisfaça as
ninguém de fora, que necessidades
abrange e integra presentes e futuras

Viabilizar
políticas
Produzir mais e públicas de
melhor, por meio da estado e construir
agropecuária instrumentos
e silvicultura econômicos
alinhados e
integrados

Criar valor e gerar


Acabar com o
benefícios a partir da
desmatamento
floresta nativa
PRODUZIR MAIS E
MELHOR, POR MEIO
DA AGROPECUÁRIA
E DA SILVICULTURA
A produção de alimentos e matérias-primas de origem
agrícola e florestal deve se dar por meio de práticas e
modelos que assegurem a baixa emissão de carbono, o bem-
estar humano, a proteção dos serviços ecossistêmicos e o
desenvolvimento territorial sustentável.
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

CONTEXTO
O Brasil é um dos maiores produtores e expor- foi de 45 kg/ha, mas pode ultrapassar 200 kg/ha
tadores do mundo de produtos agropecuá- em pastagens bem manejadas10. A agropecuá-
rios, florestais e biocombustíveis. O país dispõe ria precisa ser intensificada nessas áreas, viabi-
também de oportunidades para garantir o lizando o aumento da produtividade do setor
bem-estar de sua população e alavancar uma sem a demanda por novas áreas de floresta.
economia mais próspera baseada nesses recur- A agricultura familiar tem um papel central
sos, que ajude o país a aumentar sua inserção no setor, sendo responsável pela produção
no mercado mundial e acelerar seu desenvol- de alimentos de boa parte da população, pela
vimento, com geração de emprego e renda. O adoção de sistemas diversificados e por promo-
principal desafio é fazer isso protegendo seus ver a inclusão social. A maior parte (84%) dos
recursos naturais. No século 21, produção agro- estabelecimentos rurais pertence a grupos
pecuária e conservação ambiental devem familiares11, constituindo a base econômica de
andar juntas, lado a lado. 90% dos municípios com até 20
Hoje, a agropecuária é uma das prin- "Com um uso mil habitantes. Em 2006, o setor
cipais fontes de emissão de gases mais sustentável produzia 87% da mandioca, 70%
de efeito estufa (GEE) no Brasil. Em da terra, a do feijão, 46% do milho, 38% do
2016, a emissão de GEE pelo setor agropecuária café, 34% do arroz e 21% do trigo
foi de 499 MtCO2 eq, o que corres- pode se tornar do Brasil12. Uma das principais
ponde a 22% das emissões nacio- parte da solução" legislações do setor agropecuá-
nais . Por outro lado, com um uso
6
rio é o Código Florestal, aprovado
mais sustentável da terra, o setor pode se tornar em 2012 e que já possui avanços em sua imple-
parte importante da solução, contribuindo não mentação, mas ainda enfrenta alguns obstá-
apenas para reduzir as emissões, mas também culos. Na etapa inicial de implementação do
para capturar carbono da atmosfera. Código, quase 100% das propriedades rurais
A área total ocupada pela agropecuária no se inscreveram no Cadastro Ambiental Rural
Brasil está entre 240 e 280 milhões de hecta- (CAR)13, o que torna esse sistema uma das prin-
res, incluindo campos nativos que servem cipais bases de dados sobre propriedades priva-
como pastagens7. Há ainda outros 7,8 milhões das no mundo. No entanto, a data limite para
de hectares ocupados pelas florestas planta- registro de produtores no Sistema Nacional do
das8. No entanto, há 178 milhões de hectares Cadastro Ambiental Rural (SiCAR) tem sofrido
de pastagens9 com grande proporção de áreas diversas prorrogações por meio de projetos de
degradadas ou longe de seu potencial produ- lei propostos pelo Congresso que visam esten-
tivo. A produtividade média de carne em 2015 der o período de benefícios previstos na lei.
6 Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), 2018: http://seeg.eco.br/
7 Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo do Brasil (MapBiomas) http://mapbiomas.org/
8 Indústria Brasileira de Árvores: https://bit.ly/2EcXIeo
9 Assessing the Spatial and Occupation Dynamics of the Brazilian Pasturelands Based on the Automated Classification of
MODIS Images from 2000 to 2016: https://bit.ly/2zwQyNN
10 Impact of the intensification of beef production in Brazil on greenhouse
gas emissions and land use: http://bit.ly/2QIHgEz
11 Censo Agropecuário 2006: https://bit.ly/2xGFVX8
12 Censo Agropecuário 2006: https://bit.ly/2xGFVX8
13 Cadastro Ambiental Rural (CAR): http://bit.ly/2PrjG2l

13
PRODUZIR MAIS E MELHOR, POR MEIO DA AGROPECUÁRIA E DA SILVICULTURA

Além dos sucessivos adiamentos desse prazo, OCUPAÇÃO DA AGROPECUÁRIA


as etapas seguintes – validação dos cadastros
e criação dos planos de regularização – ainda
não avançaram de forma efetiva, o que atrasa o 178 Mha De 240 a
cumprimento da lei. dessa área 280 Mha é
Outros instrumentos previstos pelo Código correspondem a área que a
Florestal, como o Pagamento por Serviços a pastagens agropecuária
Ambientais (PSA) e a Cota de Reserva Ambien- degradadas ocupa no Brasil
ou pouco
tal (CRA), também precisam ser efetivamente
produtivas
implementados, pois representam incenti-
vos à preservação e uma forma de remunerar
proprietários pela conservação da floresta. AGRICULTURA FAMILIAR
A agropecuária e silvicultura proporcionam
87% Produção da agricultura
também biocombustíveis e bioprodutos não familiar no Brasil
alimentícios. Eles podem ser produzidos a 70% em 2006
partir de práticas sustentáveis de agricultura,
silvicultura e florestas nativas, tais como celu-
46%
lose, madeira, produtos florestais não madei- 38%
reiros, fármacos, essências e nanofibras de 34%
mandioca

celulose, entre outros. Esses produtos, além milho 21%


feijão

de serem vetores para o desenvolvimento da

arroz

trigo
café
agrossilvicultura e aproveitamento econô-
mico da biodiversidade, geram estoques de
carbono e substituem combustíveis fósseis ou BIOENERGIA
produtos deles derivados.
Em 2016, a bioenergia foi responsável por
30,9% da matriz energética brasileira, sendo
17,5% de cana-de-açúcar, 8% de lenha e carvão
30,9%
da matriz energética
vegetal e 5,4% de lixívia (água de lavagem das brasileira de 2016 foi
cinzas da queima de madeira) e outras fontes provida por bioenergia
renováveis14. A enorme variedade e falta
de classificação e estatísticas relativas aos 17,5% cana-de-açúcar
bioprodutos tornam difícil definir sua dimen- 8% lenha e carvão vegetal
100%

são e impacto, salvo para alguns deles, como 5,4% lixívia e fontes
celulose, carvão vegetal, painéis de madeira renováveis
e pisos laminados, responsáveis por uma
área de 7,8 milhões de hectares de árvores POPULAÇÃO RURAL

55%
plantadas para fins produtivos15. A produção
70%
desses bioprodutos responde por 5,6 milhões
de hectares de áreas naturais para preserva-
ção, representando um estoque de 2,5 bilhões redução da proporção
15% da população rural
14 Balanço Energético Nacional 2017: https://bit.ly/2Evta44 brasileira entre
15 Indústria Brasileira de Árvores: https://bit.ly/2EcXIeo 1940 2010 1940 a 2010

14
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

de toneladas de CO2eq16. Além disso, existem entre os setores público e privado, ausência de
inúmeras iniciativas para estruturar cadeias de um programa continuado de assistência técnica,
novos bioprodutos, assim como para desen- e um sistema de concessão de patentes lento e
volver novas cadeias voltadas à bioeconomia. pouco atrativo. Além disso, o país não monitora
O avanço de práticas de baixo carbono, tanto as emissões e remoções de carbono no solo, o
na agricultura familiar como no agronegócio, que traz incertezas sobre dados brasileiros de
depende de fatores como assistência técnica emissões e remoções de gases de efeito estufa.
e extensão rural (Ater), difusão de tecnolo- O Brasil é deficiente em infraestrutura logís-
gia, pesquisa, logística de distri- tica e de distribuição17. O trans-
buição e acesso e infraestru- "O avanço de porte de carga, predomi-
tura social – o que inclui energia práticas de nantemente rodoviário, foi
elétrica, rede de saneamento, baixo carbono responsável pela emissão de
saúde, ensino, água, eletrici- depende de 102 MtCO2 eq18 em 2016. O inves-
dade, acesso à internet, trans- fatores como timento em logística e infraes-
portes etc. –, além de políticas e assistência técnica trutura vem caindo desde 201119
programas de fomento à produ- e extensão e, para o segmento do agrone-
ção e ao consumo de produtos rural, difusão gócio, o impacto da logística é
de baixo carbono. de tecnologia, equivalente a 20,7% do custo20,
Embora o país esteja à frente pesquisa, logística afetando sua competitividade.
no desenvolvimento de novas e infraestrutura Destacam-se, ainda, a baixa
tecnologias e apresente enorme social" qualidade da infraestrutura
potencial nessa área, ainda social e a baixa geração de
existe uma grande disparidade de acesso a elas renda. Esses fatores estão na raiz da migra-
entre regiões ou dentro de uma mesma região, ção da população rural, que acaba optando
e entre segmentos produtivos. As barreiras por viver nos centros urbanos em busca de
para superar esses desafios incluem: os escas- melhores condições de vida. Segundo dados
sos recursos e políticas voltadas para pesquisa do IBGE, entre 1940 e 2010, a população rural
e desenvolvimento (P&D), pouca integração passou de 70% para 15%21.

16 Indústria Brasileira de Árvores: https://bit.ly/2EcXIeo


17 O Brasil é o 55° colocado no ranking de Índice de Performance Logística de 2016 do Banco Mundial: https://bit.ly/292kXb0
18 Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), 2018. https://bit.ly/2N8aPwo
19 Investimento em infraestrutura mais forte deve ficar para 2019: https://bit.ly/2BWFhIN
20 Logística custa R$ 15,5 bi a mais em dois anos com infraestrutura precária e restrição urbana: https://bit.ly/2HwSDhx
21 Censo Demográfico 2010 (UBGE): https://bit.ly/2KceHft

15
PRODUZIR MAIS E MELHOR, POR MEIO DA AGROPECUÁRIA E DA SILVICULTURA

VISÃO
2030
O Plano ABC, que trata das ações de A agricultura familiar estará
mitigação e de adaptação às mudanças fortalecida, com linhas de crédito
climáticas relacionadas à agropecuária adequadas, forte apoio dos programas de
em nível nacional, já terá avançado Ater e políticas públicas de incentivo.
significativamente e os planos regionais
estarão em fase de implementação. A área de uso agropecuário terá
seguido um planejamento territorial,
O Plano Safra, uma das principais fontes levando em conta a demanda, a paisagem
de crédito do produtor rural brasileiro, e a conservação ambiental como
terá seu portfólio totalmente vinculado critérios essenciais.
a práticas de baixa emissão de carbono,
assim como funciona hoje o Programa A regularização fundiária estará
para Redução da Emissão de Gases de consolidada, eliminando conflitos
Efeito Estufa na Agricultura (Programa e assegurando segurança jurídica
ABC). Outras fontes de crédito para a produtores rurais, comunidades
atividades que impactam o uso do solo tradicionais, indígenas, quilombolas,
e suas emissões de carbono seguirão extrativistas e investidores.
o mesmo padrão.
O uso de insumos químicos e minerais
O país terá alcançado resultados terá sido reduzido e otimizado, como
importantes no cumprimento do Código consequência da adoção de práticas de
Florestal e na adoção de práticas como conservação do solo e manejo integrado
a recuperação de pastagens degradadas, de pragas.
integração lavoura-pecuária-floresta
(iLPF), sistemas agroflorestais (SAF) Investimentos em pesquisa e
e outras que contribuem para uma desenvolvimento (P&D) estarão
produção rural sustentável. consolidados e tecnologias para
desenvolver bioprodutos – alternativas
O fortalecimento das organizações aos produtos de fontes não renováveis
de assistência técnica e extensão – estarão estabelecidas no mercado
rural (Ater), as ações de capacitação e a doméstico, abrindo caminho para
transferência e difusão de tecnologia participação e liderança do Brasil no
desempenharão papel fundamental como mercado internacional.
vetores para o avanço dessas práticas, por
meio de um Programa Nacional de Ater. As metas da política brasileira para
biocombustíveis terão sido atingidas,
Haverá uma rede de formação de com um aumento de 85% no volume
especialistas em tecnologias de de etanol hidratado e 158% no volume
melhoramento da qualidade do solo e de biodiesel na matriz energética de
redução das emissões de carbono transportes, em relação a 2017. Outros
na agropecuária. biocombustíveis terão sido desenvolvidos
a partir dos avanços em P&D.
A agenda de implementação do
Código Florestal terá avançado As condições de vida e o bem-estar
significativamente, com o Cadastro no campo terão avançado
Ambiental Rural (CAR) de todas as significativamente, com universalização
propriedades validado e dois terços das de eletricidade e saneamento básico,
que apresentavam passivos tendo seus e infraestrutura social ampliada, com
Projetos de Recuperação Ambiental destaque para as redes e tecnologias
e de Áreas Degradadas (PRADA) digitais. A migração para centros urbanos
implementados. O mercado de Cotas de será uma escolha e não uma necessidade.
Reserva Ambiental (CRA) contribuirá de Essa mudança resultará em uma
maneira relevante para a implementação reversão do processo atual, atraindo mais
do Código Florestal, valorizando os brasileiros para o meio rural.
imóveis com excedentes de vegetação.

16
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

VISÃO
2050
Os sistemas produtivos de de vegetação natural.
baixo carbono serão adotados As emissões de gases de efeito
em larga escala. estufa relativas à agropecuária serão
drasticamente reduzidas e as remoções
pelas diversas práticas relacionadas a uso
da terra e florestas aumentadas. Além
Práticas produtivas sustentáveis disso, o setor contribuirá não apenas para
serão a regra desses sistemas, como a mitigação, mas também para a adaptação
intensificação da produção em áreas às mudanças climáticas, capturando
degradadas e a grande adesão a técnicas carbono da atmosfera.
de iLPF e SAF.
O Brasil será referência global da
A Ater e a difusão e transferência indústria de bioprodutos, elaborados a
de tecnologia da agricultura de partir de insumos da biodiversidade e da
baixo carbono chegarão a todos os química verde.
produtores rurais, por meio de redes
de instituições públicas e privadas, O país estará na vanguarda tecnológica
com apoio da Agência Nacional de e do conhecimento em agropecuária e
Assistência Técnica e Extensão Rural silvicultura nos trópicos, com apoio dos
(Anater) e da Empresa Brasileira de investimentos públicos e privados em
Pesquisa Agropecuária (Embrapa). P&D direcionados à inovação.

Os setores de agropecuária e de O mercado internacional reconhecerá


silvicultura terão papel relevante na e valorizará os produtos brasileiros por
restauração e na manutenção dos seus atributos de sustentabilidade.
ecossistemas naturais, contribuindo com
o estabelecimento de
corredores ecológicos. A matriz energética será
essencialmente renovável, com elevado
O Código Florestal estará percentual de bioenergia, tanto na matriz
implementado em todo o território elétrica quanto na de transportes.
nacional, com passivos ambientais
equacionados e a produção rural O trabalhador do campo dominará
plenamente regularizada. as tecnologias disponíveis para a
agricultura de baixo carbono e poderá
A agricultura familiar estará conquistar melhores condições de
totalmente integrada ao sistema trabalho e novas oportunidades de
produtivo e em total aderência às geração de renda.
tecnologias de baixo carbono. Essa
integração garantirá inclusão social e
preservação da cultura, diversidade e
identidade das comunidades.

Todas as áreas degradadas, incluindo


pastagens, deixarão de ser improdutivas
e contribuirão para a intensificação
sustentável da agropecuária sem a
necessidade de abertura de novas áreas

17
CRIAR VALOR E
GERAR BENEFÍCIOS
A PARTIR DA
FLORESTA NATIVA
Os ativos naturais devem ser valorizados e reconhecidos como
essenciais para o desenvolvimento do país, tanto por seus
produtos quanto pelos serviços ecossistêmicos que oferecem.
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

CONTEXTO
O Brasil tem um enorme patrimônio ambien- fornecimento de alimentos, como o açaí, ou
tal e o passado recente do país demonstra que pela manutenção de atividades como a caça e
unir agropecuária e conservação ambiental é a pesca24, que dependem da saúde da floresta25.
possível. Entre 2004 e 2012, o país conseguiu O Brasil é um dos maiores produtores de
reduzir drasticamente suas taxas de desmata- madeira tropical e outros produtos não madei-
mento22, ao mesmo tempo que aumentou sua reiros do mundo. A produção de madeira legal
produção agrícola23. é originada de florestas plantadas e também
As florestas e outros ecossistemas têm um de nativas. A silvicultura com plantações
papel fundamental nessa união, uma vez que intensivas, como de eucalipto, ocupa menos
garantem a proteção dos recursos hídricos e de 1% do território nacional26, mas é respon-
desempenham o papel de regador gigante da sável por mais de 90% de toda madeira utili-
agricultura brasileira. Além disso, o agronegó- zada para fins produtivos, percentual que vem
cio depende também de outros crescendo ao longo dos últimos
fatores climáticos além da chuva, "As florestas anos27. Já a produção a partir do
como temperatura e umidade. garantem a manejo da floresta tropical, que
Portanto, o uso comercial e proteção dos se concentra na Amazônia, caiu
sustentável das florestas é neces- recursos hídricos pela metade entre 1998 e 200928,
sário tanto para impedir o avanço e desempenham devido a mudanças no mercado.
do desmatamento e da degra- o papel de Vale ressaltar que a maior parte da
dação quanto para aumentar regador gigante madeira tropical serrada ofertada
a produtividade e a funcionali- da agricultura no varejo tem origem ilegal, pois o
dade das áreas agrícolas. Para brasileira." mercado comprador não valoriza
isso, é preciso fortalecer a valori- sistemas de controle de cadeia
zação dos ecossistemas naturais com foco em de custódia, mas prioriza preços mais baixos e
manejo florestal e uso sustentável dos recursos pouquíssimas espécies29.
naturais, conservação, restauração ecológica e Garantir a rastreabilidade da cadeia produtiva
silvicultura de espécies nativas. da madeira é fundamental, mas esse trabalho
Além da relação de interdependência com o precisa ser reconhecido e considerado pelo
agronegócio, as florestas e ecossistemas natu- mercado consumidor. O comprador precisa
rais também são responsáveis pela subsistên- ter consciência da sua própria importância e
cia de um grande número de pessoas, espe- responsabilidade, uma vez que ele representa
cialmente nas áreas rurais mais distantes dos o último elo dessa cadeia e é o principal indutor
centros econômicos e industriais, seja pelo de legalização da produção de madeira no país.
22 Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes): https://bit.ly/2ObD6DF
23 Crescimento e Produtividade da
Agricultura Brasileira de 1975 a 2016 (Ipea): https://bit.ly/2IkhoLy
24 Desmatamento afeta produção pesqueira na Amazônia: https://bit.ly/2kuKWuC
25 Amazon timber-food balance saves forest smallholder livelihoods from risk: https://bit.ly/2Pt0g98
26 Indústria Brasileira de Árvores: https://bit.ly/2zJ3QXn
27 Indústria Brasileira de Árvores: https://bit.ly/2zJ3QXn
28 Fatos Florestais da Amazônia 2010: https://bit.ly/2AnZnd0
29 Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex): http://bit.ly/2hXCiYa e Mapeamento da ilegalidade na
exploração madeireira em Mato Grosso entre agosto de 2013 e julho de 2016: https://bit.ly/2C5xFUk

19
CRIAR VALOR E GERAR BENEFÍCIOS A PARTIR DA FLORESTA NATIVA

12MILHÕES
Além disso, é preciso que o mercado esteja Recuperar
aberto também a outros tipos de madeira, já
que, atualmente, existe uma enorme pressão
sobre pouquíssimas espécies, que apresentam
oferta legal reduzida. Essa demanda concen-
de hectares requer
um investimento
R$ 31 BI
trada incentiva o desmatamento ilegal, a inva- entre R$ 52 BI
são de áreas públicas e todo tipo de ilegalidade. de desmatamento ilegal na Amazônia são as
O mercado precisa compreender que, para primeiras a sofrer com rebaixamento do status
cada tipo de uso, há uma infinidade de madei- de proteção, redução de área ou até mesmo
ras diferentes de espécies ainda pouco conhe- extinção, em vez de receberem mais fiscaliza-
cidas, sejam elas nativas ou plantadas, que ção34. No entanto, investir em conservação e na
podem atender à demanda de cada usuário. melhoria e ampliação das UC é uma forma de
Desde 2006, as florestas públicas – nacionais se obter retornos econômicos e sociais acima
e estaduais – podem ser concedidas a empre- dos valores alocados35.
sas e comunidades para atividades de manejo Embora o Brasil tenha, cada vez mais, ampliado
florestal, produtos não madeireiros, como sua área protegida36, as ameaças e vulnerabili-
extrativismo, e serviços de turismo – oportuni- dades no sistema de proteção fizeram do país o
dade que precisa ser melhor desenvolvida30. maior desmatador do mundo, em termos abso-
Uma possibilidade de se utilizar as flores- lutos, entre os anos 2000 e 201537. Entre 2004 e
tas nativas de forma responsável pode estar 2012, o país reduziu em 80% a taxa de desmata-
nas unidades de conservação (UC). Hoje, o mento na Amazônia Legal38, combinando políti-
Sistema Nacional de Unidades de Conservação cas públicas como a criação de áreas protegidas
da Natureza (SNUC) abrange 2.201 UC, o que (unidades de conservação e terras indígenas),
representa 18% do território brasileiro e 26% da restrição do crédito rural para proprietários
área marinha do país31. Apesar da importância que não cumprem a lei e aceleração na aplica-
das UC e do seu papel na redução do desma- ção de penas mais duras.
tamento32, em 2013, uma auditoria do Tribunal Retrocessos na legislação ambiental têm amea-
de Contas da União (TCU) e dos tribunais de çado as metas brasileiras assumidas no Acordo
contas dos estados (TCE) da Amazônia Legal de Paris e também a meta global de segurar
revelou que 96% dessas áreas eram subapro- o aumento da temperatura média em até 2°C.
veitadas para pesquisa, turismo e outras ativi- Caso o Brasil não consiga controlar o desma-
dades e não possuíam os meios adequados tamento, outros países – e, no Brasil, demais
para sua implementação33. setores, como o industrial – precisarão desem-
Em 2018, um estudo mostrou que as UC alvo bolsar até US$ 5,2 trilhões para garantir o

30 Lei de Gestão de Florestas Públicas (Lei 11.284/2006): https://bit.ly/2ItGVCi


31 ICMBIO: https://bit.ly/2OZHWEr
32 Estudo reforça: áreas protegidas protegem de verdade: https://bit.ly/2NdpoPp
33 Auditoria coordenada em unidades de conservação da Amazônia (TCU): https://bit.ly/2DJwGen
34 Áreas de conservação desmatadas na Amazônia estão perdendo proteção do governo, aponta estudo nos EUA: https://bbc.in/2OpwlS6
35 Quanto Vale o Verde: a Importância Econômica das Unidades de Conservação Brasileiras: https://bit.ly/2MMfPe2
36 Mais 8,9 milhões de hectares de áreas protegidas: https://bit.ly/2Qjhy8T
37 Banco Mundial: https://bit.ly/2xz04xD
38 Desmatamento zero na Amazônia: como e por que chegar lá: https://bit.ly/2kTbYfy

20
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

cumprimento da meta climática global39. com retorno ajustado ao risco, pode ser tão
O desmatamento excessivo e o mau uso de atrativo quanto a agropecuária e a silvicultura44
parte das terras desmatadas geraram um com pinus e eucalipto.
enorme passivo em áreas degradadas, que Há ainda grandes oportunidades na restau-
devem ser restauradas para conservação ração da vegetação nativa, como a recente
de água e solo, regulação do clima, produ- promulgação de decreto de conversão de
ção agropecuária e manutenção dos servi- multas do Ibama45 e a criação e implementação
ços ecossistêmicos. Estima-se que hoje o da Política e do Plano Nacional de Recuperação
Brasil tenha cerca de 50 milhões de hecta- da Vegetação Nativa (Proveg/Planaveg)46.
res de pastagens com aptidão agrícola muito Embora haja muitos desafios para que essas
baixa, mas que poderiam ser utilizadas oportunidades sejam concretizadas, o Brasil
para cumprir papel de conser- conta com coletivos e institui-
vação, por meio de incenti- "O Brasil conta ções que têm propostas e conhe-
vos que viabilizem a restaura- com coletivos e cimento para fazer a agenda de
ção da vegetação nativa . Além
40
instituições que restauração e reflorestamento
disso, dos quase 20% da Amazô- têm propostas avançar e ganhar escala. Maior
nia que já foram desmatados, e conhecimento apoio técnico e financeiro aos
mais de 20 milhões de hecta- para fazer a produtores rurais pode ajudar
res são áreas em processo de agenda de nessa empreitada.
regeneração natural . 41
restaura­ção e Em relação aos incentivos aos
Em suas metas com a Convenção reflorestamento produtores, até 2014, o Brasil já
do Clima (NDC brasileira ), o país avançar e ganhar contava com mais de 2 mil proje-
42

se comprometeu a recuperar 12 escala." tos de pagamentos por serviços


milhões de hectares de florestas ambientais (PSA) e com mais de
até 2030. Um estudo do Instituto 400 municípios pagando por tais
Escolhas mostra que esse empreendimento serviços. Por outro lado, isso corresponde a
43

requer um investimento entre R$ 31 bilhões e menos de 10% dos municípios brasileiros47.


R$ 52 bilhões, conforme o cenário escolhido. É importante lembrar que todas essas ações
Por outro lado, o mesmo estudo indica que são importantes também para aumentar a resi-
recuperar essa área propiciaria a criação de liência da agropecuária por meio da provisão
138 mil a 215 mil empregos e a arrecadação de de serviços ambientais, como polinização e
R$ 3,9 a R$ 6,5 bilhões em impostos. aumento da disponibilidade de água, e por isso
O reflorestamento com espécies nativas e SAF, devem fazer parte da estratégia brasileira de
adaptação às mudanças climáticas.

39 The threat of political bargaining to climate mitigation in Brazil: https://go.nature.com/2KYigJz


40 Agricultura, Conservação Ambiental e a Reforma do Código Florestal: https://bit.ly/2NX5kWQ
41 Desmatamento Zero: Como e por que chegar lá: https://bit.ly/2kTbYfy
42 NDC brasileira: https://bit.ly/1Ru0Jm3
43 Quanto o Brasil precisa investir para recuperar 12 milhões de hectares de florestas: https://bit.ly/2Mlg4c4
44 Projeto VERENA (Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas): https://bit.ly/2Qn5iEd
45 Decreto 9.179/2017: https://bit.ly/2iLhQKg
46 Decreto 8.972/2017: https://bit.ly/2NeHG2I
47 Incentivos Econômicos para Serviços Ecossistêmicos no Brasil: https://bit.ly/2DWwpoD

21
CRIAR VALOR E GERAR BENEFÍCIOS A PARTIR DA FLORESTA NATIVA

VISÃO
2030
As concessões florestais na Amazônia Todas as florestas públicas que hoje se
e as florestas plantadas com espécies encontram sem uso determinado terão
nativas serão responsáveis por suprir destinação definida pelo Estado, como
parte significativa da demanda por a criação de unidades de conservação,
madeira serrada. incentivo a projetos de manejo florestal
sustentável e à demarcação de terras
Programas de pagamento por indígenas. A destinação dessas
serviços ambientais estarão terras poderá representar uma nova
implementados em diversos estados e oportunidade de desenvolvimento para
municípios brasileiros. comunidades tradicionais e rurais.

A silvicultura com espécies nativas Pelo menos 20% de cada ecossistema


será uma atividade economicamente terrestre, costeiro e marinho em
relevante no país, sobretudo devido todos os biomas serão protegidos
aos avanços resultantes de pesquisa e como unidades de conservação de
desenvolvimento, à implementação do proteção integral.
Código Florestal, à assistência técnica e
extensão rural, à integração de políticas
de clima, agricultura e meio ambiente e O Plano Nacional de Recuperação da
aos incentivos financeiros disponíveis. Vegetação Nativa (Planaveg) estará
implementado.
Sistemas agroflorestais produzirão
alimentos, fibras e biocombustíveis em
larga escala. Os recursos provenientes de
financiamentos público e privado
e de doações e investimentos
O país terá restaurado ou nacionais e internacionais para a
reflorestado ao menos 12 milhões conservação serão ampliados, a partir
de hectares de áreas degradadas, de novos mecanismos econômicos
conforme compromisso assumido na e políticas corporativas que visam
NDC brasileira, e se tornará referência promover mitigação e adaptação às
mundial na promoção da restauração mudanças climáticas.
em larga escala.
A Pesquisa e Desenvolvimento
A exploração ilegal das florestas para o uso, conservação e restauração
será residual. Como consequência, as dos recursos naturais serão parte dos
florestas estarão menos susceptíveis ao investimentos de empresas e do poder
fogo e à degradação, o que contribuirá público, consolidando a base para uma
para reduzir a vulnerabilidade às secas forte bioeconomia.
e o risco de doenças respiratórias
associadas às queimadas. A valorização das florestas e da
conservação ambiental para o
O Brasil terá desenvolvido uma bem-estar da população e para o
estratégia de prevenção ao fogo e às desenvolvimento sustentável do país
queimadas, garantindo mais proteção será reconhecida pelos diferentes
às florestas. setores.

Informações sobre a origem e o


rastreamento dos produtos florestais
serão conhecidas pelo mercado, que
valorizará cada vez mais a transparência
dessas cadeias e estará aberto a novas
espécies de madeira.

22
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

VISÃO
2050
O Brasil contará com uma economia A área brasileira de florestas
florestal baseada em espécies conservadas, restauradas, plantadas
nativas. As concessões de florestas e de manejo terá sido ampliada
públicas estarão implementadas em para além do mínimo estabelecido pela
todas as áreas passíveis dessa atividade legislação.
e as florestas plantadas com nativas
chegarão a pelo menos 5 milhões de A extensão de áreas restauradas e
hectares com finalidade econômica, reflorestadas chegará a 20 milhões de
cultivadas e manejadas com tecnologia hectares, indo além dos compromissos
e precisão. assumidos pelo Brasil no Bonn Challenge
e na NDC.
Programas de pagamento por serviços
ambientais estarão presentes em todo o A oferta e a demanda de produtos
território nacional e serão referência para florestais, como madeira, fibras,
a realização de investimentos. alimentos, sementes e outros,
representarão um mercado em
A conservação e o uso sustentável crescimento.
dos ecossistemas naturais recuperados
serão reconhecidos como pilares Novos produtos florestais e tecnologias
econômicos do país. mais eficientes para o uso dos recursos
naturais já terão sido criados a partir dos
investimentos públicos e privados em
O Brasil será o maior destino de turismo Pesquisa e Desenvolvimento.
de natureza do mundo.

23
ACABAR COM O
DESMATAMENTO
O desmatamento deverá ser eliminado das cadeias
produtivas e será parte apenas do passado do país.
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

No geral, o desmatamento contribui com 51% das


CONTEXTO
emissões nacionais de GEE55.
A maior parte do desmatamento48 no Brasil ainda A destruição da vegetação nativa ainda ocorre,
é resultado de atividades ilegais49. Por isso, o país principalmente, em razão da grilagem de terras
não pode se restringir a prazos futuros para o fim públicas e da falta de regularização fundiá-
do desmatamento ilegal, como estabelecido na ria, da expansão da pecuária extensiva, além
meta climática brasileira (“desmatamento ilegal das obras de infraestrutura56. Causas indiretas,
zero até 2030”): deve adotar uma postura de “tole- no entanto, estão relacionadas à insuficiência
rância zero” desde já em relação ao problema. Para do atual sistema de combate à ilegalidade, aos
tanto, é necessário pôr em prática políticas e estra- sinais políticos desfavoráveis à proteção florestal
tégias que permitam combater a ilegalidade. Por e à ausência de mecanismos robustos de valori-
outro lado, é necessário também criar incentivos zação da conservação ambiental.
para estimular produtores a manter Manter as florestas preservadas
preservadas as áreas de flores- "A maior parte do significa garantir uma maior dispo-
tas em suas propriedades privadas desmatamento nibilidade de água para todos os
que, segundo a legislação, pode- no Brasil ainda usos, que incluem desde a manu-
riam ser derrubadas. Tais incentivos é resultado de tenção de um regime de chuvas
envolvem, por exemplo, compensar atividades ilegais" adequado à produção agrícola
proprietários de terras que renun- local ou regional57, até a geração de
ciem, de forma voluntária, ao seu direito legal de eletricidade e o abastecimento de água. Por isso,
desmatar. Nesse sentido, mecanismos econômicos pode-se afirmar que as florestas têm valor intrín-
de compensação precisam ser criados, aprimora- seco, muitas vezes intangível, mas que precisa ser
dos e implementados via políticas públicas abran- definitivamente reconhecido como contribuição
gentes, nacionais e subnacionais50. fundamental para a sustentabilidade do planeta.
Apesar da significativa redução do desmatamento O efeito combinado da mudança climática global
na última década, em especial na Amazônia51, a com o desmatamento leva a drásticas mudanças
supressão de vegetação nativa no país segue com do clima regional e local, provocando alta morta-
taxas elevadas em todos os biomas52, em espe- lidade de árvores e aumentando as chances da
cial no Cerrado, que perdeu, entre 2000 e 2015, ocorrência de incêndios florestais. Na Amazô-
236 mil km2 53. A conversão de vegetação nativa nia, a emissão de gases de efeito estufa via
nesse bioma já supera o que ocorre na Amazônia54. degradação já é maior do que aquela originada

48 O termo desmatamento, aqui, se aplica a todos os biomas brasileiros e é conceituado com “supressão de vegetação
nativa”.
49 Dados científicos relacionados ao uso da terra revelam onde o Brasil precisa focar para combater o desmatamento e
aumentar sua produtividade: https://bit.ly/2jHH09C
50 Esses itens são detalhados nos capítulos sobre Instrumentos Econômicos e Políticas Públicas, respectivamente.
51 Achieving zero deforestation in the Brazilian Amazon: What is missing?: https://bit.ly/2Rg4uCk
52 Serviço Florestal Brasileiro: https://bit.ly/2IOE6M1
53 Entre 2000 e 2015, o desmatamento no Cerrado foi maior do que o da Amazônia: https://bit.ly/2y4NWVr
54 Entre 2000 e 2015, o desmatamento no Cerrado foi maior do que o da Amazônia: https://bit.ly/2y4NWVr
55 Emissões do Brasil sobem 9% em 2016: https://bit.ly/2y7zsXt
56 Achieving zero deforestation in the Brazilian Amazon: What is missing?: https://bit.ly/2Rg4uCk
57 Agricultural expansion dominates climate changes in southeastern Amazonia:
the overlooked non-GHG forcing: https://bit.ly/2QhB0mg

25
ACABAR COM O DESMATAMENTO

pelo desmatamento58. de 2004 a 2009


Além disso, a continuidade do desmatamento
combinada com os efeitos da mudança climática
global poderá tornar várias e vastas regiões do 24MILHÕES
70%
país inapropriadas para a produção agropecuária, de hectares de áreas
de silvicultura59, de hidroenergia60 e para o abaste- protegidas foram
cimento de água das indústrias e cidades. Também criadas, o que reduziu
poderá aumentar o ritmo de desertificação em a perda florestal em
regiões do semiárido61 e reduzir a disponibili-
dade de água nos meios rural e urbano. Portanto, conhecimento reconhecidos internacionalmente
pode-se afirmar que o desmatamento ameaça o na área de sensoriamento remoto, seja por parte
bem-estar atual e o futuro da população brasileira. do governo ou de outros atores da sociedade. Os
Parte do combate à ilegalidade é a criação de uma dados relativos ao monitoramento são disponibi-
política de destinação de áreas públicas com vege- lizados à sociedade, de forma transparente, nacio-
tação nativa. Só na Amazônia, existem quase 65 nal e internacionalmente.
milhões de hectares de florestas públicas62 ainda Isso significa que o desmatamento ilegal pode
sem destinação para uso específico. Essa imensa ser rastreado. No entanto, ainda é preciso avan-
área se encontra, atualmente, a mercê de grileiros. çar para que o monitoramento alcance ainda mais
Mais de 30% do desmatamento de 2017 na região resultados. As autorizações de supressão de vege-
ocorreu nessas áreas63. Porém, de acordo com a lei tação nativa emitidas pelos estados e pelo governo
de gestão de florestas públicas, essas áreas devem federal, por exemplo, precisam ser padronizadas e
permanecer públicas e preservadas, sejam elas abrigadas em um único sistema que seja capaz de
estaduais ou federais. A destinação dessas áreas fornecer aos produtores e consumidores as infor-
para conservação, manejo florestal sustentável ou mações necessárias para a verificação de legali-
para povos indígenas e outros povos tradicionais dade dos produtos que compram, permitindo que
poderá derrubar drasticamente as taxas de desma- exerçam maior influência no sistema.
tamento na Amazônia e coibir a grilagem, como já Por outro lado, a ausência de políticas e meca-
foi confirmado no período de 2004 a 2009, quando nismos apropriados que remunerem a conserva-
24 milhões de hectares de áreas protegidas foram ção florestal e a exploração sustentável de recur-
criadas na região64, ajudando reduzir a perda de sos naturais impossibilitou o reconhecimento
cobertura florestal em mais de 70%65. dos esforços empreendidos por diversos atores
Apesar desse cenário, o Brasil avançou nas tecno- para redução do desmatamento na Amazônia
logias de combate ao desmatamento e monitora- nos últimos anos.
mento de seus biomas66. O país tem tecnologia e O desmatamento pode ser de origem ilegal, mas

58 Tropical forests are a net carbon source based on aboveground measurements of gain and loss: https://bit.ly/2mlyVse
59 Climate challenges and opportunities in the Brazilian Cerrado: https://bit.ly/2P1At7T
60 The Forests of the Amazon and Cerrado Moderate Regional Climate and Are the Key to the Future: https://bit.ly/2PjmygM
61 Climatic characteristics of the 2010-2016 drought in the semiarid Northeast Brazil region https://bit.ly/2PIPYC2
62 No man’s land in the Brazilian Amazon: Could undesignated public forests slow Amazon deforestation? Land Use Policy:
https://bit.ly/2Rfv6DJ
63 No man’s land in the Brazilian Amazon: Could undesignated public forests slow Amazon deforestation? Land Use Policy:
https://bit.ly/2Rfv6DJ
64 Role of Brazilian Amazon protected areas in climate change mitigation: https://bit.ly/2y4R7MR
65 O desmatamento na Amazônia e a importância das áreas protegidas: https://bit.ly/2Iu67sm
66 Mapbiomas: https://bit.ly/2ydWJV9; PRODES: https://bit.ly/2Iu4f2P; TerraClass: https://bit.ly/2a1U737

26
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

também de origem legal, ou seja, referente ao manejo sustentável, da conservação e do aumento


excedente de vegetação nativa em propriedades dos estoques de carbono florestal – conhecido
particulares em relação aos percentuais mínimos como REDD+ – e dos pagamentos por serviços
exigidos pelo Código Florestal. Esse excedente, ambientais (PSA). As fontes de recursos para esses
segundo a legislação, pode ser derrubado, desde mecanismos devem vir de diversas opções finan-
que obtidas as autorizações pelo governo. Mas ceiras (doações, instrumentos da Convenção do
a manutenção desses excedentes também deve Clima, mercado etc.).
ser parte de uma política de combate ao desma- Além disso, apesar de sinais recentes de reto-
tamento, que precisa criar incentivos econômi- mada da destruição florestal, o Brasil ainda se
cos para os proprietários rurais que conservarem encontra em uma posição privilegiada: é o país
tais florestas em pé. que detém a maior área com florestas tropicais do
Entre 2005 e 2016, como consequência da redu- planeta, sejam elas em áreas públicas sob prote-
ção do desmatamento amazônico, o país deixou ção do Estado, sejam aquelas remanescentes em
de emitir seis bilhões de toneladas imóveis rurais. Entretanto, políti-
de gás carbônico (6 GtCO2) para a "Entre 2005 cas e instrumentos vigentes preci-
atmosfera, quando comparadas às e 2016, como sam ser aprimorados e fortalecidos
emissões médias de 1996 a 2005. consequência para trazer governança ao desma-
Isso é equivalente a quase três da redução do tamento e reduzi-lo a níveis residu-
anos de emissão de GEE do Brasil desmatamento ais, bem como para que o Brasil e
(com base em 2016) . 67
amazônico, o país seus produtores tenham o reconhe-
Essa foi considerada a maior redu- deixou de emitir cimento nacional e internacional do
ção de emissões já realizada por seis bilhões de seu papel de destaque para a econo-
um único país no mundo. O desma- toneladas de gás mia de baixo carbono e a regulação
tamento evitado certamente repre- carbônico para a do clima global.
senta um ativo importante e deve- atmosfera" Um planeta habitável no futuro
ria ser considerado como uma deverá ser resultado do balanço
alavanca para novos investimentos no país. O adequado entre os diferentes usos da terra. As
valor desse ativo pode ser estimado tomando-se o paisagens serão sustentáveis maximizando-se a
valor de referência de US$ 5/tCO2 assumidos pelo integridade funcional dos ecossistemas nativos
Fundo Amazônia68. Nesse caso, as emissões redu- (ciclos de carbono, nutrientes, diversidade bioló-
zidas pelo país teriam, a título de comparação, um gica e água) e minimizando-se os efeitos negati-
valor de cerca de US$ 30 bilhões, considerando- vos de atividades demandantes de desmatamento
-se apenas as reduções de emissões do desmata- ou geradoras de degradação ambiental. Assim,
mento na Amazônia entre 2006 e 201569. cabe ao país e à sociedade brasileira encontrar os
Nesse sentido, precisamos prosperar rapida- meios de valorizar os ativos que representam o
mente nos esforços para fortalecer mecanismos maior bem ambiental dos brasileiros. Num mundo
que recompensem financeiramente países em em aquecimento, a manutenção e a valorização
desenvolvimento por seus resultados na redução das florestas representará uma maior chance de
de emissões provenientes do desmatamento e prosperidade socioambiental e econômica para as
da degradação florestal, considerando o papel do próximas gerações.

67 Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), 2018: https://bit.ly/28JSVSk
68 Fundo Amazônia. Relatório de Atividades 2011: https://bit.ly/2ReQdpw
69 Considerando resultados atingidos e reportados no Info Hub Brasil: https://bit.ly/2DCjYgs

27
ACABAR COM O DESMATAMENTO

VISÃO
2030
O desmatamento ilegal será parte Os mecanismos de pagamento
do passado. A ilegalidade deixará de por serviços ambientais (PSA) e
representar um risco aos biomas e ao compensação de emissões evitadas
povo brasileiro e o país trabalhará para (REDD+) estarão consolidados e
eliminar o desmatamento operantes em larga escala – em todos
de forma geral. os biomas e em nível nacional e
subnacional.
As cadeias produtivas estarão
livres de desmatamento ilegal, em Atividades agrícolas e florestais que
todos os biomas, e baseadas no uso de busquem eliminar o desmatamento de
uma gama diversificada de espécies sua produção serão beneficiadas por
madeireiras e na rastreabilidade políticas de crédito e isenção fiscal
de origem. de incentivo à conservação.

Haverá transparência total e ativa Haverá uma maior integração entre os


de dados que auxiliam no controle do Zoneamentos Ecológico-Econômicos
desmatamento, como as autorizações (ZEE) estaduais, tornando possível
de supressão vegetal emitidas pelos identificar e classificar os diferentes
órgãos competentes e os sistemas usos da terra em função da sua aptidão
de rastreabilidade da origem da agrícola e do potencial produtivo, bem
madeira. Informação de alta qualidade como apontar as áreas fundamentais
também permitirá avaliar o estado para a conservação.
da recuperação de ecossistemas e a
transformação de áreas degradadas em As ações de fiscalização serão
áreas produtivas ou protegidas. mais eficientes, com o total apoio do
governo aos órgãos responsáveis
Todas as florestas públicas já terão e o uso intensivo de tecnologias de
destinação definida, contribuindo para a sensoriamento remoto. A sociedade
manutenção da floresta em pé. estará preparada, sensibilizada e
equipada com mídias nos locais para
denúncia em tempo real de situações
O sistema tributário e os de descumprimento legal, colaborando
instrumentos de mercado com a imediata ação das autoridades.
privilegiarão atividades sustentáveis
que não demandem desmatamento
nem impliquem em degradação.

28
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

VISÃO
2050
O desmatamento será, finalmente, O ordenamento territorial e a
eliminado de todos os biomas brasileiros. regularização fundiária para todo o
território nacional estarão completos,
garantindo segurança jurídica a todos.

As atividades agropecuárias,
Toda a expansão da agropecuária florestais e industriais sustentáveis
e da silvicultura acontecerá em áreas e com baixa emissão de carbono, como
já desmatadas. sistemas agroflorestais (SAF), integração
lavoura-pecuária-floresta (iLPF) e a
recuperação da vegetação nativa, estarão
implantadas em 100% das propriedades.
A degradação dos ambientes e
ecossistemas resultante da atividade
agropecuária terá sido contida.

29
VIABILIZAR
POLÍTICAS
PÚBLICAS
DE ESTADO E
CONSTRUIR
INSTRUMENTOS
ECONÔMICOS
ALINHADOS E
INTEGRADOS
O conjunto de leis e políticas públicas deverá estar fortalecido
e será integralmente cumprido, garantindo segurança jurídica
a todos, transparência e governança territorial inclusiva e
participativa. O crédito e os instrumentos econômicos estarão
integrados e alinhados às políticas públicas.
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

A concessão de crédito deve também consi-


CONTEXTO
derar o grau de impacto de uma atividade
O uso sustentável da terra no Brasil precisa ou empreendimento, sendo o impacto posi-
ser compreendido em uma agenda de Estado, tivo beneficiado com condições mais favo-
ou seja, perene e de longo prazo. Para viabi- ráveis de crédito do que as atividades com
lizar a visão aqui projetada, será necessário impactos negativos, tais como as que possam
implementar diversas políticas públicas e criar resultar em desmatamento ou exploração de
instrumentos econômicos atuando de forma combustíveis fósseis.
integrada e alinhada às políticas, para além das No cenário atual, existe uma série de mecanis-
áreas de clima, florestas e agricultura. mos aptos a alavancar uma economia de baixo
O objetivo desse processo é propiciar mais carbono: Plano Safra, REDD+, Pagamento por
desenvolvimento e bem-estar para as pessoas, Resultado, PSA, ICMS Ecológico, o projeto de
ao fornecer meios que possibilitem a extinção lei federal que visa à criação da Política Nacio-
do desmatamento e da degradação, promo- nal dos Serviços Ambientais, a regulamentação
vendo, ao mesmo tempo, aumento e melhoria do Artigo 41 do Código Florestal, que prevê um
da produção agrícola. O conceito de susten- programa de incentivos e o estabelecimento de
tabilidade deve estar atrelado a um Mercado de Serviços Ambien-
uma lógica de negócio e econo- "O conceito de tais, o Mecanismo de Desenvolvi-
mia, além dos benefícios socio- sustentabilidade mento Limpo e a transição para o
ambientais, sendo necessário deve estar Artigo 6 do Acordo de Paris.
buscar os canais indutores para atrelado a uma No entanto, os mecanismos hoje
que isso ocorra. lógica de negócio existentes ainda não proporcio-
Entre os instrumentos financeiros a e economia" nam eficiência, transparência e a
serem considerados para se chegar necessária segurança jurídica para
a uma economia de baixo carbono e sustentável atrair os grandes, médios ou pequenos investi-
nas áreas de agropecuária e silvicultura, estão dores, seja pela ausência de regulamentação –
o crédito bancário; a emissão de títulos verdes o que acarreta na imprevisibilidade de oferta e
(green bonds) por meio de empresas âncoras demanda – ou pela criação de entraves buro-
de capital aberto; os investimentos em ações ou cráticos que acabam por gerar perda de efici-
quotas (equity) que levem em conta impactos ência e celeridade dos processos. Além disso,
socioambientais; os investimentos de impacto novos instrumentos também são necessários.
(impact investing) voltados a gerar impactos Segundo o Serviço Florestal Brasileiro (2018),
ambientais ou sociais positivos; o seguro agrícola o setor florestal nacional é responsável por
que leve em conta os impactos ambientais na 3,5% do Produto Interno Bruto e por 7,3% das
definição da cobertura e do valor dos prêmios; e exportações totais do país, gerando cerca de 7
os mecanismos de mercado de carbono no Brasil milhões de empregos70. Ao ampliar essa avalia-
e no exterior. Instrumentos econômicos relevan- ção para o setor de restauração e refloresta-
tes serão necessários para promover, ainda, o mento, há o potencial de consolidação de uma
monitoramento da cadeia de fornecedores e de indústria de produção e recuperação florestal
pesquisa e desenvolvimento (P&D) para superar moderna no país, com a criação de até 215 mil
os gargalos tecnológicos e de escala para uma empregos e a arrecadação de R$ 6,5 bilhões
economia de baixo carbono. em impostos, com investimentos anuais de

70 Sistema Nacional de Informações Florestais: https://bit.ly/2NfDCPV

31
VIABILIZAR POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESTADO E CONSTRUIR INSTRUMENTOS ECONÔMICOS ALINHADOS E INTEGRADOS

até R$ 3,7 bilhões/ano até 2030, e a remoção


de até 3,22 GtCO2e71. Se integrar a todos esses
números a agregação de valor decorrente da
valoração dos serviços ambientais gerados
pela floresta, esse setor possivelmente será
apontado como o principal indutor do desen-
volvimento de baixo carbono almejado pela
7 MILHÕES
de empregos são gerados pelo setor
sociedade global atualmente. florestal nacional, que é responsável por
Porém, só será possível viabilizar o plantio de 3,5% do PIB e 7,3% das exportações
florestas nativas em larga escala se houver a
previsão de exploração sustentável de madeira O potencial de consolidação da
e produtos não madeireiros. Para isso, preci- indústria de produção e recuperação
samos assegurar demanda para os produ- florestal até 2030 é de:

215MIL
tos, regulamentações factíveis que não impli-
quem em insegurança jurídica aos produtores
novos empregos
e uma estruturação da oferta capaz de lidar

R$ 6,5
com problemas logísticos, de forma a reduzir bilhões de
o custo dessas cadeias e o aumento da escala arrecadação com
impostos
da oferta para a produção familiar. Importante

3,22
também destacar a possibilidade de incentivo
fiscal ao plantio de florestas para uso madei- GtCO2 removidos
da atmosfera
reiro e não madeireiro, especificamente para
nativas, em um modelo mais regrado. de transporte de passageiros que substituam
A economia brasileira irá, cada vez mais, o uso do transporte individual.
envolver o uso de novas tecnologias, tais É preciso também implementar efetivamente
como a que permitiu a criação do bitcoin e e consolidar o mecanismo de precificação de
do blockchain, que proporcionem transparên- carbono previsto pela Política Nacional de
cia, rastreabilidade e credibilidade aos ativos a Biocombustíveis (RenovaBio), por meio de
serem comercializados. emissão e compra dos títulos de descarboni-
Segundo o Balanço Energético Nacional zação, também conhecidos como CBio. Trata-
(2017), o setor de transportes é responsá- -se de uma iniciativa central ao sucesso do
vel por cerca de 60% do consumo de deriva- programa, que propõe o reconhecimento do
dos de petróleo no país72. Por isso, eliminar potencial de descarbonização dos biocombus-
os subsídios para combustíveis fósseis, como tíveis a partir de um sistema com precifica-
petróleo e carvão, adotar a precificação de ção via mercado e com estímulos à busca por
carbono e instrumentos que levem a outras maior eficiência energética e ambiental pelo
fontes, como biocombustíveis ou eletricidade, produtor de biocombustíveis.
são fundamentais. A redução do consumo de As políticas públicas necessárias ao funciona-
derivados de petróleo requer também investi- mento desses mecanismos poderão contar
mentos em modais alternativos ao transporte com um Estado que vá além de seu papel
de carga rodoviário, bem como em sistemas atual, capaz de regulamentar os limites entre

71 Quanto o Brasil precisa investir para recuperar 12 milhões de hectares de florestas? https://bit.ly/2Mlg4c4
72 Balanço Energético Nacional, 2017: https://bit.ly/2Evta44

32
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

público e privado e assegurar a transparência de REDD+, o Plano Nacional de Adaptação às


no processo de tomada de decisão. O avanço Mudanças Climáticas, a Política Nacional de
das tecnologias digitais, o crescente acesso à Pagamento por Serviços Ambientais (PSA),
internet e a capacidade de monitoramento dos entre outras. No âmbito do planejamento terri-
agentes da sociedade e de geração de dados torial, existe ainda a oportunidade de imple-
(big data) apoiarão, cada vez mais, a atuação mentar mecanismos como o Zoneamento
do Estado nessa área. Ecológico-Econômico (ZEE), importante ferra-
O acesso a essas informações poderá também menta para as políticas públicas de conserva-
permitir um processo de planejamento de uso ção e uso sustentável dos recursos naturais.
e ocupação territorial mais eficiente. Trans- Além disso, a lei do Licenciamento Ambien-
parência, rastreabilidade e seletividade serão tal, que dispõe sobre o impacto das atividades
fatores que, cada vez mais, influenciarão o humanas no meio ambiente, está sendo revi-
mercado e o consumidor. sada e terá parte de suas regras redefinidas.
Com base na informação disponível, o consu- No entanto, o principal gargalo para o planeja-
midor pode indicar a empre- mento territorial no Brasil ainda
sas, produtores e investidores o "o principal é a falta de regularização fundi-
valor de uma economia de baixo gargalo para o ária, que é também um dos prin-
carbono, e também contribuir planejamento cipais responsáveis pelo desma-
individualmente para reduzir territorial no Brasil tamento ilegal, por grande parte
as emissões globais. Uma dieta ainda é a falta de dos conflitos em torno da posse
saudável e de baixo carbono, por regularização da terra e dos desafios de imple-
exemplo, pode ser incentivada fundiária, que mentação das políticas públicas
por meio de políticas públicas é também um voltadas para a agropecuária. É
que viabilizem o acesso à infor- dos principais fundamental implementar meca-
mação sobre os produtos. responsáveis pelo nismos de mediação de conflitos
Entre as políticas públicas mais desmatamento fundiários, com a identificação
relevantes para o uso da terra, ilegal" dos dados técnicos relevantes e a
estão a Política Nacional de participação equilibrada de todos
Meio Ambiente, a Política Nacional de Mudan- os atores dos setores público e privado afeta-
ças Climáticas, o Código Florestal, o Acordo de dos ou responsáveis pela questão.
Paris [veja mais no Quadro 1, pág. 8], o Tratado O Brasil também deve explorar oportunidades
de Nagoya, o RenovaBio e os Objetivos de relacionadas à bioeconomia, para o que serão
Desenvolvimento Sustentável (ODS). A imple- necessárias políticas e incentivos econômicos
mentação dessas políticas é um elemento- para pesquisa e desenvolvimento. Com marcos
-chave para promover a harmonia entre produ- regulatórios que permitam ao setor produ-
ção e conservação, assim como os programas tivo avançar rumo a uma atividade mais reno-
de monitoramento, como o Projeto de Moni- vável, o país tem tudo para ser uma grande
toramento da Floresta Amazônica Brasileira potência na bioeconomia.
por Satélite (Prodes), que contribuem para as O contexto atual aponta a necessidade de busca
ações de fiscalização do governo. por uma economia justa e equitativa, apoiada
Várias outras políticas públicas estão sendo por políticas públicas e instrumentos econômi-
construídas e precisam ser acompanhadas cos que sirvam como indutores de transforma-
pela sociedade, como a Estratégia Nacional ção, rumo a uma nova economia.

33
VIABILIZAR POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESTADO E CONSTRUIR INSTRUMENTOS ECONÔMICOS ALINHADOS E INTEGRADOS

VISÃO
2030
O mercado financeiro e os Haverá um Cadastro Único de
instrumentos econômicos voltados Imóveis Rurais no Brasil, integrando os
a práticas sustentáveis em todos os cadastros do Incra, da Receita Federal
setores estarão estruturados, assim e dos ministérios do Meio Ambiente
como o monitoramento e a avaliação e da Agricultura, possibilitando
desses mecanismos. transparência, rastreabilidade e
segurança jurídica a todos.
Os mecanismos de pagamento por
serviços ambientais (PSA) estarão Todos os estados terão o Zoneamento
consolidados e operantes em larga Agroecológico (ZAE) e o Zoneamento
escala. Ecológico-Econômico (ZEE)
implementados.
O acesso pelo Brasil a instrumentos
de precificação de carbono e Será estabelecido um plano nacional
mecanismos de mercado, em nível com diretrizes claras e objetivas
nacional e no âmbito do Acordo de para o crescimento da produção
Paris, estará consolidado. agropecuária, orientando sobre as
potencialidades e vocações produtivas
Toda a concessão de financiamento de cada local, a partir dos zoneamentos
público e privado para o agronegócio e dessas áreas.
a agricultura familiar será condicionada
a critérios de desempenho social e O RenovaBio estará implementado e a
ambiental. agenda de bioenergia será reforçada por
outros marcos regulatórios e programas
A economia de baixo carbono se que estimulem investimentos.
desenvolverá sem comprometer a
manutenção do equilíbrio fiscal, A gestão dos recursos hídricos
reduzindo o risco de investimentos e estará atrelada a programas de
favorecendo uma integração entre os pagamento por serviços ambientais e
capitais natural, social e humano. incentivos à preservação, garantindo a
disponibilidade e distribuição racional
Externalidades sociais e ambientais de água para todos os usos.
estarão contempladas no sistema
econômico do país. O licenciamento ambiental será
plenamente reconhecido por todos
os segmentos da sociedade como um
O Brasil terá cumprido todas as metas instrumento transparente e eficiente,
assumidas no Acordo de Paris, que garante segurança jurídica a
considerando, inclusive, o aumento de todos e a proteção do patrimônio
ambição previsto para 2020, com forte socioambiental.
impacto na redução das emissões.
A logística brasileira de distribuição
A regularização fundiária estará e acesso estará entre as 20 mais
estabelecida, por meio de um processo eficientes do mundo em termos de
com a participação de todas as partes tempo, custo, emissão e distribuição,
envolvidas, eliminando conflitos e com a infraestrutura de escoamento e
assegurando segurança jurídica a armazenamento bem estabelecida.
todos – produtores rurais, comunidades
tradicionais (indígenas, quilombolas e Os sistemas de informações
extrativistas) e investidores. georreferenciadas estarão
publicamente disponíveis, permitindo
o cruzamento de dados espaciais
para gerar análises, antecipar riscos e
ampliar o respaldo científico de políticas
públicas e privadas baseadas
nessas informações.

34
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

VISÃO
2050
O Brasil será um dos principais destinos Uma dieta saudável e de baixo
mundiais de investimentos na carbono será incentivada por meio
economia de baixo carbono e em de políticas públicas e o consumidor
biodiversidade. brasileiro terá acesso à informação para
tomar a melhor decisão sobre
A pesquisa, o financiamento, as políticas seu alimento.
públicas e o mercado estimularão um
sistema de produção e consumo A bioeconomia será foco estratégico
competitivo, sustentável e inclusivo, das políticas públicas, com base em
que resultará em aumento de qualidade marcos regulatórios, programas de
de vida e proteção da natureza. fomento e instrumentos de mercado que
impulsionem a produção de produtos
Mecanismos que geram impactos renováveis e biodegradáveis.
positivos serão cada vez mais utilizados,
como títulos verdes, compensação de O Brasil garantirá a completa proteção
emissões evitadas (REDD+), mecanismos dos recursos hídricos, fruto de uma
de mercado de carbono e pagamentos proteção florestal já consolidada. O
por serviços ambientais (PSA). consumo de água pela agropecuária será
o mais eficiente do mundo.
O Brasil será líder pelo exemplo do
processo global de redução de emissões A legislação ambiental será utilizada
de carbono e será reconhecido como não somente como um instrumento
uma das principais nações a contribuir de comando e controle da ocupação
para os esforços de mitigação e territorial, mas também para trazer
adaptação às mudanças climáticas. rastreabilidade, transparência e
vantagens comparativas para o país no
Além de atuar como regulador, o comércio internacional.
Estado terá papel de agente
incentivador da competitividade e O país terá um Plano Nacional
será um cooperador, trabalhando em Logístico capaz de estimular
sinergia com setor produtivo e sociedade continuamente sua competitividade e
civil, gerando incentivos e diretrizes reduzir a dependência do transporte
para o desenvolvimento sustentável e rodoviário e combustíveis fósseis.
competitivo do país.

35
CONCLUSÃO E
PRÓXIMOS
PASSOS
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

A visão de futuro para o país proposta pela Coali- tes sobre desenvolvimento do país e, para isso,
zão Brasil traz muitos desafios, mas é realizá- é preciso ter clareza sobre onde se quer chegar.
vel, pois está baseada em ativos reais e, em boa Esta visão de futuro da Coalizão Brasil buscou
parte, em mecanismos e ações já testados e em lançar luz a esse lugar: onde sonhamos estar
andamento. O que garantirá sua efetivação é a em 2050, pelos olhos dos representantes do
capacidade de mobilização dos diversos seto- agronegócio, das entidades de defesa do meio
res da sociedade – produtores rurais, setor finan- ambiente e da academia. Essa visão comum
ceiro, academia, organizações da sociedade civil representa uma estrada de oportunidades na
e governo – para tornar práticas dominantes o qual todos estarão contemplados.
que hoje são experiências-piloto, e de agir para Produzir mais e melhor, criar valor a partir das
efetivar o que ainda são projetos e necessida- florestas, acabar com o desmatamento, viabi-
des, aproveitando as oportunidades que estão lizar políticas públicas de Estado e construir
dadas para o país. instrumentos econômicos alinha-
O futuro desejado para o Brasil "O uso da terra dos e integrados: esses são os
depende da sua capacidade de precisa estar pilares do futuro almejado pela
planejar a ocupação de seu terri- no centro dos Coalizão Brasil, e para o qual o
tório de 8,5 milhões de km . 2
debates sobre movimento começa a estruturar
Esse planejamento é essencial, desenvolvimento um plano de ação.
por exemplo, para romper com do país" Para isso, o movimento já iniciou
padrões de ocupação como a da o debate junto a seus membros
Amazônia, que tem sido impulsionada por gran- sobre alguns macroindicadores [veja uma prévia
des obras de infraestrutura com altos custos no Quadro 4, pág 38], que serão detalhados em
socioambientais. metas e ações. Todos esses elementos serão
O país precisa, ainda, garantir o cumprimento de divulgados de forma transparente para acom-
seus compromissos internacionais, como os do panhamento da sociedade e apresentados ao
Acordo de Paris [veja mais no Quadro 1, pág 8]. governo brasileiro como uma proposta do movi-
O Brasil é o sétimo maior emissor de gases de mento para o futuro do uso da terra no país.
efeito estufa do mundo73 e precisa mostrar que A Coalizão Brasil está dedicada a buscar formas
é capaz de promover seu desenvolvimento sem concretas de viabilizar o sonho que desenhou
comprometer a segurança climática e alimen- para 2030 e 2050. Todos os atores interessados
tar do planeta. É o compromisso do Brasil com a em tornar esse sonho uma realidade estão convi-
humanidade neste século 21. dados a se juntar aos mais de 180 membros do
O uso da terra precisa estar no centro dos deba nosso movimento!

73 Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG): https://bit.ly/2EgtZB9

37
CONCLUSÃO E PRÓXIMOS PASSOS

Legenda:
QUADRO 4: Agropecuária e Silvicultura
MACROINDICADORES Floresta Nativa
Desmatamento
INICIAIS DO PLANO Políticas Públicas
Instrumentos Econômicos
DE AÇÃO:

Agricultura de baixo carbono (ABC) Cadeia produtiva de baixa


emissão de carbono
- Níveis de emissão e remoção de GEE da
agropecuária e silvicultura74 - Valorização e facilitação das cadeias
- Área de pastagens degradadas75 produtivas da madeira, em especial aquelas
- Uso e cobertura do solo76 viabilizadas por meio das
- Política agrícola que inclua ABC concessões florestais
- Crédito agrícola operante sob critérios - Engajamento do mercado consumidor de
socioambientais e de baixo carbono matéria-prima na busca por cadeias
- Aumento da produtividade agrícola e produtivas livres de desmatamento em
pecuária de baixo carbono em todos os biomas
áreas já desmatadas - Participação da bioenergia na matriz
- Acesso a mecanismos de valorização energética brasileira78
do carbono no âmbito - Métricas de volume e receita de uma relação
da agricultura e silvicultura de bioprodutos já monitorados

Agricultura familiar
Pesquisa , assistência técnica e extensão
- Indicadores socioeconômicos 77

- Percentual de crédito agrícola ABC destinado - Investimentos públicos e privados


à agricultura familiar com P&D em agropecuária
e silvicultura sustentável
- Parcela de produtores rurais atendidos
por iniciativas de assistência técnica e
transferência de tecnologia
- Parcela da produção brasileira coberta por
mecanismos de Monitoramento, Relato e
Verificação (MRV)

74 A partir de Inventários nacionais / Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa - SEEG/
Plataforma de Monitoramento do ABC da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa.
75 Laboratório de Processamento e de Imagens e Geoprocessamento-LAPIG.
76 MapBiomas, Atlas Agropecuário.
77 Faturamento por produtor da agricultura familiar, renda per capita.
78 Discriminada com referência à matriz elétrica e à matriz de transporte.

38
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

Infraestrutura logística de - Área de vegetação nativa


distribuição e acesso sob proteção oficial80
- Restauração e silvicultura com
- Plano de investimento contínuo em espécies nativas ou exóticas81
infraestrutura de baixa emissão de carbono - 5 milhões de hectares de florestas plantadas
para escoamento e armazenagem com nativas com finalidade econômica,
da produção cultivadas e manejadas com
- Participação de fontes de baixa emissão de tecnologia e precisão
carbono na logística
- Planejamento da paisagem Uso sustentável dos recursos naturais
na produção agropecuária
- Pelo menos 70% da demanda de madeira
Geração de emprego, renda e atendida por 40 milhões de hectares de
infraestrutura social concessões florestais na Amazônia e pelos 5
- Renda per capita no campo milhões de hectares de florestas plantadas
- Nível de escolaridade com espécies nativas
- Nível de emprego
- Indicador de qualidade de vida rural Valorização dos ecossistemas naturais
- IDH da zona rural igual ou melhor
que da zona urbana - Pelo menos 50% dos estados e 25%
dos municípios brasileiros com
Conservação, restauração, programas de pagamento por serviços
reflorestamento e manejo florestal ambientais implementados
- Aumento de produtores e comunidades
- Taxas de desmatamento tradicionais recebendo pagamento pela
em todos os biomas conservação, uso sustentável e restauração
- Políticas implementadas para captação dos ecossistemas naturais
e canalização de recursos para a conservação
das florestas e ampliação de áreas
de proteção da vegetação nativa
em todos os biomas79

79 Recursos públicos: Fundo Amazônia, REDD+, transferências fiscais “verdes”, incentivos/desincentivos tributários, reori-
entação de gastos tributários, taxação de atividades altamente demandantes de desmatamento, programas de crédito sub-
sidiado para atividades sustentáveis etc. Recursos privados: mercado brasileiro de carbono e mercado de Cota de Reserva
Ambiental (CRA), bem como fundos privados.
80 Em especial: terras indígenas e comunidades tradicionais; unidades de conservação de proteção integral e de uso sus-
tentável (incluindo as florestas nacionais de produção).
Pelo menos 20% de cada ecossistema terrestre, costeiro e marinho em todos biomas protegidos com unidades de con-
servação de proteção integral até 2030.
81 12 milhões de hectares de áreas degradadas restaurados e reflorestados até 2030 e 20 milhões de hectares até 2050.

39
GLOSSÁRIO
A
Acordo de Paris: Acordo celebrado na 21ª que visa estabilizar as concentrações de gases
Conferência das Partes (COP-21) da de efeito estufa na atmosfera resultantes das
Convenção do Clima, em 2015, do ações humanas, do qual o Brasil é signatário.
qual o Brasil é signatário.
Conversão de vegetação nativa:
B Desmatamento.
Bioeconomia: Reúne todos os setores da
economia que utilizam recursos biológicos Cota de Reserva Ambiental (CRA): O
(seres vivos), com enfoque em sustentabili- Código Florestal exige que todas as proprieda-
dade e tecnologia. des rurais, em território nacional, mantenham
uma porcentagem da área com cobertura de
Bioprodutos: Produtos não alimentícios deri- vegetação nativa, chamada reserva legal. Cota
vados da agricultura, silvicultura e florestas de Reserva Ambiental são títulos que repre-
nativas, tais como celulose, madeira, produ- sentam uma área de cobertura vegetal natural
tos florestais não madeireiros e madeireiros, em uma propriedade, e que podem ser usados
fármacos, essências e novos produtos que para compensar a falta de reserva
possam substituir aqueles à base de legal em uma outra.
combustíveis fósseis.
D
C Desmatamento legal: Realizado em área de
Cadastro Ambiental Rural (CAR): Regis- vegetação nativa em terras privadas não inclu-
tro eletrônico, criado pelo Código Florestal ídas nas regras de proteção do
de 2012, obrigatório para todos os imóveis Código Florestal.
rurais, formando base de dados estratégica
para controle, monitoramento e combate ao Destinação de áreas públicas: A ocupação
desmatamento das florestas e demais formas de vastas regiões do país – principalmente na
de vegetação nativa do Brasil, bem como para Amazônia – aconteceu a partir de ocupação
planejamento ambiental e econômico dos de terras públicas, provocando um caos fundi-
imóveis rurais. ário que propicia o desmatamento. Um estudo
de 2008 do Instituto do Homem e do Meio
Código Florestal: Lei no 12.651, de 2012, esta- Ambiente da Amazônia (Imazon) mostrou que
belece normas para proteção da vegetação 32% das terras na região não tinham proprie-
nativa em áreas de preservação permanente, dade definida. A destinação dessas áreas pelo
reserva legal, uso restrito, exploração florestal governo (federal ou estadual) é condição
e assuntos relacionados.  fundamental para a governança na região.

Convenção do Clima: Convenção-Quadro E


das Nações Unidas sobre Mudança do Clima Economia de baixo carbono: Aquela que
(UNFCCC), tratado ambiental internacional melhora seus processos produtivos a fim de

40
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL

reduzir o impacto energético e diminuir a


emissão dos gases do efeito estufa (GEE) no
I Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
meio ambiente. (iLPF): Sistema que agrega, na mesma
propriedade, diferentes sistemas produtivos,
Economia regenerativa: Sistema econô- como os de grãos, fibras, carne, leite e agroe-
mico que valora o Sol e a Terra, considerados nergia. Dessa forma, permite a diversificação
“bem de capital original”. Enquanto na teoria das atividades econômicas na propriedade e
econômica padrão pode-se regenerar os bens minimiza os riscos de prejuízos causados por
ou consumi-los até seu ponto de escassez, na eventos climáticos ou por queda dos preços
economia regenerativa, ao levar em conta o no mercado.
valor econômico dos capitais originais, a Terra
e o Sol, pode-se restringir o acesso a esses Infraestrutura social: Refere-se a equi-
bens de capital original de maneira que sua pamentos públicos capazes de atender às
escassez seja evitada. demandas da sociedade nas áreas de educa-
ção, saúde e saneamento básico.
Remoção de gases de efeito estufa: Ativi-
dades que reduzem a presença de gases de M
efeito estufa na atmosfera, como o plantio de Meta climática global: Esforço mundial
árvores, que armazenam carbono durante o para que a temperatura média da Terra não
seu crescimento. aumente mais do que 2º C. Atualmente,
o principal instrumento nesse sentido é o
F Acordo de Paris.
Floresta nativa: De acordo com a Lei nº
11.428, de 22 de dezembro de 2006, no Brasil N
define-se como florestas naturais ou nativas NDC brasileira: Contribuição Nacional Deter-
as formações vegetais predominantemente minada (NDC, na sigla em inglês) refere-se às
lenhosas, ou seja, arbóreas e arbustiva-arbó- metas de redução de GEE que os países assu-
rea, bem como as fases sucessoras dessas miram com o Acordo de Paris, do qual o
formações vegetais, desde que constituídas Brasil é signatário.
por espécies de ocorrência natural. No Brasil,
os exemplos são: Floresta Amazônica, Floresta P
Atlântica, Mata dos Cocais e Pagamento por Serviços Ambientais
Mata de Araucárias. (PSA): Transferência de recursos (monetários
ou outros) a quem ajuda a manter ou a produ-
G zir os serviços ambientais, como a conserva-
Gases de efeito estufa (GEE): São gases que ção de água.
absorvem uma parte dos raios do sol e os
redistribuem em forma de radiação na atmos- Plano ABC: Plano de Agricultura de Baixo
fera, aquecendo o planeta em um fenômeno Carbono (Plano ABC) é o Plano Setorial de
chamado efeito estufa. Os principais GEE Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáti-
são: CO2, CH4, N2O, O3, halocarbonos e vapor cas para a Consolidação de uma Economia de
d’água. Atualmente, a grande emissão desses Baixa Emissão de Carbono na Agricultura do
gases por atividades humanas está provo- governo brasileiro.
cando o aquecimento global.

41
GLOSSÁRIO

R
REDD+: Incentivo desenvolvido no âmbito da
Convenção do Clima para recompensar finan-
ceiramente países em desenvolvimento por
seus resultados de redução de emissões de
gases de efeito estufa provenientes do desma-
tamento e da degradação florestal, conside-
rando o papel da conservação e aumento
de estoques de carbono florestal e manejo
sustentável de florestas.

Remoção de carbono no solo: Os solos


naturalmente armazenam carbono, mas os
solos agrícolas estão com um grande déficit
devido ao seu uso intensivo. Existem muitas
maneiras de aumentar o carbono nos solos.
O plantio de culturas de cobertura quando os
campos estão vazios pode estender a fotos-
síntese ao longo do ano, sequestrando cerca
de meia tonelada de CO2 por acre por ano.
O uso de adubo pode melhorar os rendi-
mentos, enquanto se armazena o conteúdo
de carbono do adubo no solo. Os cientistas
também estão trabalhando para criar culturas
com raízes mais profundas, tornando-as mais
resistentes à seca, enquanto depositam mais
carbono no solo.

S
Serviços ecossistêmicos: Benefícios que as
pessoas obtêm da natureza direta ou indire-
tamente, através dos ecossistemas, a fim de
sustentar a vida no planeta.

Sistemas Agroflorestais (SAF): Consórcios


de culturas agrícolas com espécies arbóreas
que podem ser utilizados para restaurar flores-
tas e recuperar áreas degradadas. 

Sistema ABC: Sistemas produtivos que


promovem adicionalidade na redução
das emissões.

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Edição geral:
Fernanda Macedo e Maura
Campanili

Revisão:
Livia Almendary

Arte e Design:
The Infographic Company e
Maná e.d.i.

O conteúdo desta publicação teve


a contribuição de mais de 200
pessoas, de 130 organizações,
que participaram dos Fóruns de
Diálogo da Coalizão Brasil em
2018 (saiba mais no Quadro 3,
na página 9).
COALIZÃO
BRASIL
C L I M A
F L O R E S T A S E
A G R I C U L T U R A
www.coalizaobr.com.br

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