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COALIZÃO
BRASIL
C L I M A
F L O R E S T A S E
A G R I C U L T U R A
www.coalizaobr.com.br
ÍNDICE
4 PREFÁCIO
6 INTRODUÇÃO
40 GLOSSÁRIO
PREFÁCIO
Pode parecer estranho, mas nos acostuma- festas simples, boas conversas e colheitas fartas.
mos a viver em um ambiente que, frequente- Continuamos a ligar o campo a momentos
mente, não nos traz bem-estar. Nossa relação de prazer, misturados com grandes ambições
com o local onde vivemos é intensa e ambígua. produtivas e feitos econômicos.
Deixamos o campo em busca de ambições nas Ao longo do tempo, perdemos a noção do
cidades, mas continuamos conectados a ele, quanto interferimos no local em que vivemos,
seja por razões afetivas, familiares, de negócios e percebemos pouco a reação da natureza a
ou pelo consumo dos produtos que vêm de lá. essa interferência. Sabemos muito das tecno-
Cruzamos o campo rapidamente pelas estradas logias produtivas e, cada vez mais, seus efei-
e pelo ar, mas parece que cada vez menos temos tos indiretos, positivos e negativos. Traduzimos
tempo de contemplar a paisagem. esse conhecimento em importantes ganhos na
Com esta proposta, queremos lembrar que o produção de alimentos, energia, fibras e outros
lugar onde vivemos possui uma longa histó- bens. Geramos riqueza. Mas, como sociedade
ria de convivência e conivência. Moldamos o em geral, estamos pouco atentos aos desequilí-
relevo, exploramos florestas, rios, montanhas, brios que causamos.
cultivamos a terra, construímos cidades e estra- Preocupada em lidar com a reação da natureza
das. Dominamos o meio e estabelecemos rela- ao nosso bem-estar, no curto e longo prazos,
ções de poder entre os diversos grupos sociais uma parte dessa mesma sociedade, formada
que ocupam esse ambiente. Desequilibramos por ONGs, academia e empresários, aprofun-
as relações entre os componentes biológi- dou os debates sobre o que é preciso fazer para
cos, físicos e entre nós mesmos. Mas ainda não retomarmos uma relação mais harmônica com
perdemos totalmente as memórias e histórias o espaço que ocupamos. Foi criado um lingua-
de infâncias vividas em rios, campos floresta- jar hermético, quase um dialeto secreto, para
dos, bons e variados mergulhos gastronômicos, tratar de temas como mudanças climáticas,
gases de efeito estufa, desmatamento, restau- os conceitos técnicos que serão explorados
ração de biomas, manejo florestal sustentável, nas próximas páginas.
áreas degradadas, agricultura de baixo impacto, Queremos que as propostas aqui apresenta-
matriz energética renovável, serviços ecossistê- das sejam amplamente entendidas e discutidas
micos, povos tradicionais, distribuição de renda pela sociedade. Nossa visão é que o Brasil pode
e outras terminologias ainda mais esquisitas. ser líder mundial no uso mais harmônico, inclu-
Essa linguagem técnica, contudo, tem um obje- sivo e sustentável da terra. Sabemos o quanto
tivo muito simples: promover o bem-estar de isso é factível e desafiador, e o quanto depende
todos a partir de uma ocupação do campo de um esforço coletivo, para o qual gostaría-
cujas condições permitam: 1) produzir mais e mos da sua participação.
melhor; 2) criar valor e gerar benefícios a partir Boa leitura!
das florestas; 3) acabar com o desmatamento; e
4) viabilizar políticas públicas de Estado e cons- Integrantes da Coalizão Brasil Clima,
truir instrumentos econômicos alinhados e Florestas e Agricultura
integrados. Não podemos perder essa oportu-
nidade, pois estamos todos conectados à natu-
reza e ao campo.
Queremos provocá-los a ler este documento
com esse olhar. Pensar a nossa relação com
o campo sem perder a afetividade, as memó-
rias, as histórias e as ambições, projetando
desejos e anseios para um futuro que já está
batendo à nossa porta. Queremos que possam
traduzir em bem-estar, cada um à sua maneira,
INTRODUÇÃO
Governos, sociedade civil organizada, empresas, paisagem. Integração e cooperação são fatores
cientistas e lideranças sociais têm papel funda- determinantes nessa abordagem.
mental na construção e na implantação dessa Conciliar as políticas públicas voltadas à prote-
visão comum. A implementação do Código ção ao meio ambiente e à produção agropecu-
Florestal e das ações necessárias para atingir as ária é o primeiro passo nesse caminho. Outro
metas assumidas pelo país no Acordo de Paris passo importante é a cooperação entre os dife-
(ver Quadros 1 e 2) demandam uma aborda- rentes atores sociais e produtivos que interferem
gem inovadora de planejamento territorial e de no uso do solo, nos territórios e nas paisagens. A
QUADRO 1: QUADRO 2:
COMPROMISSOS PORQUE O BRASIL
DO ACORDO PODE SER LÍDER EM
DE PARIS USO DO SOLO DA
O compromisso brasileiro é de NOVA ECONOMIA
reduzir as emissões de gases de O país é protagonista na elaboração
efeito estufa em 37% abaixo dos de políticas inovadoras para
níveis de 2005, em 2025, e, depois o uso da terra e as mudanças
disso, reduzir as emissões em 43% climáticas. Essa posição se deve,
abaixo dos níveis de 2005, em principalmente, ao fato de ter:
2030. Especificamente em relação
ao uso do solo, a NDC brasileira
(metas com o Acordo de Paris)
propõe:
1. Restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de 1. A maior área de floresta tropical do planeta e, ao
florestas para usos múltiplos até 2030; mesmo tempo, o maior desmatamento do mundo;
2. Restaurar 15 milhões de hectares de pastagens 2. O maior sistema de terras protegidas terrestres
degradadas e incrementar 5 milhões de hectares do mundo, embora ainda frágil e ameaçado.
de sistemas de integração lavoura-pecuária-
3. As mais altas taxas de produtividade e o maior
florestas (iLPF) até 2030, além de fortalecer o
volume de produção de cultivos agrícola dos
Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono
trópicos.
(Plano ABC).
4. A terceira maior área dedicada a agricultura e
3. Aumentar a participação de bioenergia
pecuária no planeta.
sustentável na matriz energética brasileira para
aproximadamente 18% até 2030. 5. As mais altas taxas de produtividade de
florestas plantadas do mundo.
4. Fortalecer o cumprimento do Código Florestal.
6. Capital intelectual, tecnológico e social para
5. Desmatamento ilegal zero até 2030.
combater o desmatamento ilegal, ampliar o
6. Compensar emissões de desmatamento legal. reflorestamento, manejar florestas tropicais e
massificar a agricultura de baixo carbono.
7. Aumentar o uso sustentável de energias
renováveis, como solar, eólica e biomassa (exceto 7. Vastas áreas de pastagem degradadas com
energia hidrelétrica), para ao menos 23% da potencial de se tornarem mais produtivas e
geração de eletricidade do Brasil, até 2030. funcionais.
8
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
9
SÍNTESE DA VISÃO
2030-2050:
O FUTURO DAS
FLORESTAS E
DA AGRICULTURA
NO BRASIL
Harmônico
Combinação de
elementos ligados por
"Promover
relação de pertinência,
ausência de conflito,
concórdia
o uso
harmônico,
inclusivo
e sustentável
da terra
Inclusivo
no Brasil" Sustentável
Que não deixa Que satisfaça as
ninguém de fora, que necessidades
abrange e integra presentes e futuras
Viabilizar
políticas
Produzir mais e públicas de
melhor, por meio da estado e construir
agropecuária instrumentos
e silvicultura econômicos
alinhados e
integrados
CONTEXTO
O Brasil é um dos maiores produtores e expor- foi de 45 kg/ha, mas pode ultrapassar 200 kg/ha
tadores do mundo de produtos agropecuá- em pastagens bem manejadas10. A agropecuá-
rios, florestais e biocombustíveis. O país dispõe ria precisa ser intensificada nessas áreas, viabi-
também de oportunidades para garantir o lizando o aumento da produtividade do setor
bem-estar de sua população e alavancar uma sem a demanda por novas áreas de floresta.
economia mais próspera baseada nesses recur- A agricultura familiar tem um papel central
sos, que ajude o país a aumentar sua inserção no setor, sendo responsável pela produção
no mercado mundial e acelerar seu desenvol- de alimentos de boa parte da população, pela
vimento, com geração de emprego e renda. O adoção de sistemas diversificados e por promo-
principal desafio é fazer isso protegendo seus ver a inclusão social. A maior parte (84%) dos
recursos naturais. No século 21, produção agro- estabelecimentos rurais pertence a grupos
pecuária e conservação ambiental devem familiares11, constituindo a base econômica de
andar juntas, lado a lado. 90% dos municípios com até 20
Hoje, a agropecuária é uma das prin- "Com um uso mil habitantes. Em 2006, o setor
cipais fontes de emissão de gases mais sustentável produzia 87% da mandioca, 70%
de efeito estufa (GEE) no Brasil. Em da terra, a do feijão, 46% do milho, 38% do
2016, a emissão de GEE pelo setor agropecuária café, 34% do arroz e 21% do trigo
foi de 499 MtCO2 eq, o que corres- pode se tornar do Brasil12. Uma das principais
ponde a 22% das emissões nacio- parte da solução" legislações do setor agropecuá-
nais . Por outro lado, com um uso
6
rio é o Código Florestal, aprovado
mais sustentável da terra, o setor pode se tornar em 2012 e que já possui avanços em sua imple-
parte importante da solução, contribuindo não mentação, mas ainda enfrenta alguns obstá-
apenas para reduzir as emissões, mas também culos. Na etapa inicial de implementação do
para capturar carbono da atmosfera. Código, quase 100% das propriedades rurais
A área total ocupada pela agropecuária no se inscreveram no Cadastro Ambiental Rural
Brasil está entre 240 e 280 milhões de hecta- (CAR)13, o que torna esse sistema uma das prin-
res, incluindo campos nativos que servem cipais bases de dados sobre propriedades priva-
como pastagens7. Há ainda outros 7,8 milhões das no mundo. No entanto, a data limite para
de hectares ocupados pelas florestas planta- registro de produtores no Sistema Nacional do
das8. No entanto, há 178 milhões de hectares Cadastro Ambiental Rural (SiCAR) tem sofrido
de pastagens9 com grande proporção de áreas diversas prorrogações por meio de projetos de
degradadas ou longe de seu potencial produ- lei propostos pelo Congresso que visam esten-
tivo. A produtividade média de carne em 2015 der o período de benefícios previstos na lei.
6 Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), 2018: http://seeg.eco.br/
7 Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo do Brasil (MapBiomas) http://mapbiomas.org/
8 Indústria Brasileira de Árvores: https://bit.ly/2EcXIeo
9 Assessing the Spatial and Occupation Dynamics of the Brazilian Pasturelands Based on the Automated Classification of
MODIS Images from 2000 to 2016: https://bit.ly/2zwQyNN
10 Impact of the intensification of beef production in Brazil on greenhouse
gas emissions and land use: http://bit.ly/2QIHgEz
11 Censo Agropecuário 2006: https://bit.ly/2xGFVX8
12 Censo Agropecuário 2006: https://bit.ly/2xGFVX8
13 Cadastro Ambiental Rural (CAR): http://bit.ly/2PrjG2l
13
PRODUZIR MAIS E MELHOR, POR MEIO DA AGROPECUÁRIA E DA SILVICULTURA
arroz
trigo
café
agrossilvicultura e aproveitamento econô-
mico da biodiversidade, geram estoques de
carbono e substituem combustíveis fósseis ou BIOENERGIA
produtos deles derivados.
Em 2016, a bioenergia foi responsável por
30,9% da matriz energética brasileira, sendo
17,5% de cana-de-açúcar, 8% de lenha e carvão
30,9%
da matriz energética
vegetal e 5,4% de lixívia (água de lavagem das brasileira de 2016 foi
cinzas da queima de madeira) e outras fontes provida por bioenergia
renováveis14. A enorme variedade e falta
de classificação e estatísticas relativas aos 17,5% cana-de-açúcar
bioprodutos tornam difícil definir sua dimen- 8% lenha e carvão vegetal
100%
são e impacto, salvo para alguns deles, como 5,4% lixívia e fontes
celulose, carvão vegetal, painéis de madeira renováveis
e pisos laminados, responsáveis por uma
área de 7,8 milhões de hectares de árvores POPULAÇÃO RURAL
55%
plantadas para fins produtivos15. A produção
70%
desses bioprodutos responde por 5,6 milhões
de hectares de áreas naturais para preserva-
ção, representando um estoque de 2,5 bilhões redução da proporção
15% da população rural
14 Balanço Energético Nacional 2017: https://bit.ly/2Evta44 brasileira entre
15 Indústria Brasileira de Árvores: https://bit.ly/2EcXIeo 1940 2010 1940 a 2010
14
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
de toneladas de CO2eq16. Além disso, existem entre os setores público e privado, ausência de
inúmeras iniciativas para estruturar cadeias de um programa continuado de assistência técnica,
novos bioprodutos, assim como para desen- e um sistema de concessão de patentes lento e
volver novas cadeias voltadas à bioeconomia. pouco atrativo. Além disso, o país não monitora
O avanço de práticas de baixo carbono, tanto as emissões e remoções de carbono no solo, o
na agricultura familiar como no agronegócio, que traz incertezas sobre dados brasileiros de
depende de fatores como assistência técnica emissões e remoções de gases de efeito estufa.
e extensão rural (Ater), difusão de tecnolo- O Brasil é deficiente em infraestrutura logís-
gia, pesquisa, logística de distri- tica e de distribuição17. O trans-
buição e acesso e infraestru- "O avanço de porte de carga, predomi-
tura social – o que inclui energia práticas de nantemente rodoviário, foi
elétrica, rede de saneamento, baixo carbono responsável pela emissão de
saúde, ensino, água, eletrici- depende de 102 MtCO2 eq18 em 2016. O inves-
dade, acesso à internet, trans- fatores como timento em logística e infraes-
portes etc. –, além de políticas e assistência técnica trutura vem caindo desde 201119
programas de fomento à produ- e extensão e, para o segmento do agrone-
ção e ao consumo de produtos rural, difusão gócio, o impacto da logística é
de baixo carbono. de tecnologia, equivalente a 20,7% do custo20,
Embora o país esteja à frente pesquisa, logística afetando sua competitividade.
no desenvolvimento de novas e infraestrutura Destacam-se, ainda, a baixa
tecnologias e apresente enorme social" qualidade da infraestrutura
potencial nessa área, ainda social e a baixa geração de
existe uma grande disparidade de acesso a elas renda. Esses fatores estão na raiz da migra-
entre regiões ou dentro de uma mesma região, ção da população rural, que acaba optando
e entre segmentos produtivos. As barreiras por viver nos centros urbanos em busca de
para superar esses desafios incluem: os escas- melhores condições de vida. Segundo dados
sos recursos e políticas voltadas para pesquisa do IBGE, entre 1940 e 2010, a população rural
e desenvolvimento (P&D), pouca integração passou de 70% para 15%21.
15
PRODUZIR MAIS E MELHOR, POR MEIO DA AGROPECUÁRIA E DA SILVICULTURA
VISÃO
2030
O Plano ABC, que trata das ações de A agricultura familiar estará
mitigação e de adaptação às mudanças fortalecida, com linhas de crédito
climáticas relacionadas à agropecuária adequadas, forte apoio dos programas de
em nível nacional, já terá avançado Ater e políticas públicas de incentivo.
significativamente e os planos regionais
estarão em fase de implementação. A área de uso agropecuário terá
seguido um planejamento territorial,
O Plano Safra, uma das principais fontes levando em conta a demanda, a paisagem
de crédito do produtor rural brasileiro, e a conservação ambiental como
terá seu portfólio totalmente vinculado critérios essenciais.
a práticas de baixa emissão de carbono,
assim como funciona hoje o Programa A regularização fundiária estará
para Redução da Emissão de Gases de consolidada, eliminando conflitos
Efeito Estufa na Agricultura (Programa e assegurando segurança jurídica
ABC). Outras fontes de crédito para a produtores rurais, comunidades
atividades que impactam o uso do solo tradicionais, indígenas, quilombolas,
e suas emissões de carbono seguirão extrativistas e investidores.
o mesmo padrão.
O uso de insumos químicos e minerais
O país terá alcançado resultados terá sido reduzido e otimizado, como
importantes no cumprimento do Código consequência da adoção de práticas de
Florestal e na adoção de práticas como conservação do solo e manejo integrado
a recuperação de pastagens degradadas, de pragas.
integração lavoura-pecuária-floresta
(iLPF), sistemas agroflorestais (SAF) Investimentos em pesquisa e
e outras que contribuem para uma desenvolvimento (P&D) estarão
produção rural sustentável. consolidados e tecnologias para
desenvolver bioprodutos – alternativas
O fortalecimento das organizações aos produtos de fontes não renováveis
de assistência técnica e extensão – estarão estabelecidas no mercado
rural (Ater), as ações de capacitação e a doméstico, abrindo caminho para
transferência e difusão de tecnologia participação e liderança do Brasil no
desempenharão papel fundamental como mercado internacional.
vetores para o avanço dessas práticas, por
meio de um Programa Nacional de Ater. As metas da política brasileira para
biocombustíveis terão sido atingidas,
Haverá uma rede de formação de com um aumento de 85% no volume
especialistas em tecnologias de de etanol hidratado e 158% no volume
melhoramento da qualidade do solo e de biodiesel na matriz energética de
redução das emissões de carbono transportes, em relação a 2017. Outros
na agropecuária. biocombustíveis terão sido desenvolvidos
a partir dos avanços em P&D.
A agenda de implementação do
Código Florestal terá avançado As condições de vida e o bem-estar
significativamente, com o Cadastro no campo terão avançado
Ambiental Rural (CAR) de todas as significativamente, com universalização
propriedades validado e dois terços das de eletricidade e saneamento básico,
que apresentavam passivos tendo seus e infraestrutura social ampliada, com
Projetos de Recuperação Ambiental destaque para as redes e tecnologias
e de Áreas Degradadas (PRADA) digitais. A migração para centros urbanos
implementados. O mercado de Cotas de será uma escolha e não uma necessidade.
Reserva Ambiental (CRA) contribuirá de Essa mudança resultará em uma
maneira relevante para a implementação reversão do processo atual, atraindo mais
do Código Florestal, valorizando os brasileiros para o meio rural.
imóveis com excedentes de vegetação.
16
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
VISÃO
2050
Os sistemas produtivos de de vegetação natural.
baixo carbono serão adotados As emissões de gases de efeito
em larga escala. estufa relativas à agropecuária serão
drasticamente reduzidas e as remoções
pelas diversas práticas relacionadas a uso
da terra e florestas aumentadas. Além
Práticas produtivas sustentáveis disso, o setor contribuirá não apenas para
serão a regra desses sistemas, como a mitigação, mas também para a adaptação
intensificação da produção em áreas às mudanças climáticas, capturando
degradadas e a grande adesão a técnicas carbono da atmosfera.
de iLPF e SAF.
O Brasil será referência global da
A Ater e a difusão e transferência indústria de bioprodutos, elaborados a
de tecnologia da agricultura de partir de insumos da biodiversidade e da
baixo carbono chegarão a todos os química verde.
produtores rurais, por meio de redes
de instituições públicas e privadas, O país estará na vanguarda tecnológica
com apoio da Agência Nacional de e do conhecimento em agropecuária e
Assistência Técnica e Extensão Rural silvicultura nos trópicos, com apoio dos
(Anater) e da Empresa Brasileira de investimentos públicos e privados em
Pesquisa Agropecuária (Embrapa). P&D direcionados à inovação.
17
CRIAR VALOR E
GERAR BENEFÍCIOS
A PARTIR DA
FLORESTA NATIVA
Os ativos naturais devem ser valorizados e reconhecidos como
essenciais para o desenvolvimento do país, tanto por seus
produtos quanto pelos serviços ecossistêmicos que oferecem.
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
CONTEXTO
O Brasil tem um enorme patrimônio ambien- fornecimento de alimentos, como o açaí, ou
tal e o passado recente do país demonstra que pela manutenção de atividades como a caça e
unir agropecuária e conservação ambiental é a pesca24, que dependem da saúde da floresta25.
possível. Entre 2004 e 2012, o país conseguiu O Brasil é um dos maiores produtores de
reduzir drasticamente suas taxas de desmata- madeira tropical e outros produtos não madei-
mento22, ao mesmo tempo que aumentou sua reiros do mundo. A produção de madeira legal
produção agrícola23. é originada de florestas plantadas e também
As florestas e outros ecossistemas têm um de nativas. A silvicultura com plantações
papel fundamental nessa união, uma vez que intensivas, como de eucalipto, ocupa menos
garantem a proteção dos recursos hídricos e de 1% do território nacional26, mas é respon-
desempenham o papel de regador gigante da sável por mais de 90% de toda madeira utili-
agricultura brasileira. Além disso, o agronegó- zada para fins produtivos, percentual que vem
cio depende também de outros crescendo ao longo dos últimos
fatores climáticos além da chuva, "As florestas anos27. Já a produção a partir do
como temperatura e umidade. garantem a manejo da floresta tropical, que
Portanto, o uso comercial e proteção dos se concentra na Amazônia, caiu
sustentável das florestas é neces- recursos hídricos pela metade entre 1998 e 200928,
sário tanto para impedir o avanço e desempenham devido a mudanças no mercado.
do desmatamento e da degra- o papel de Vale ressaltar que a maior parte da
dação quanto para aumentar regador gigante madeira tropical serrada ofertada
a produtividade e a funcionali- da agricultura no varejo tem origem ilegal, pois o
dade das áreas agrícolas. Para brasileira." mercado comprador não valoriza
isso, é preciso fortalecer a valori- sistemas de controle de cadeia
zação dos ecossistemas naturais com foco em de custódia, mas prioriza preços mais baixos e
manejo florestal e uso sustentável dos recursos pouquíssimas espécies29.
naturais, conservação, restauração ecológica e Garantir a rastreabilidade da cadeia produtiva
silvicultura de espécies nativas. da madeira é fundamental, mas esse trabalho
Além da relação de interdependência com o precisa ser reconhecido e considerado pelo
agronegócio, as florestas e ecossistemas natu- mercado consumidor. O comprador precisa
rais também são responsáveis pela subsistên- ter consciência da sua própria importância e
cia de um grande número de pessoas, espe- responsabilidade, uma vez que ele representa
cialmente nas áreas rurais mais distantes dos o último elo dessa cadeia e é o principal indutor
centros econômicos e industriais, seja pelo de legalização da produção de madeira no país.
22 Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes): https://bit.ly/2ObD6DF
23 Crescimento e Produtividade da
Agricultura Brasileira de 1975 a 2016 (Ipea): https://bit.ly/2IkhoLy
24 Desmatamento afeta produção pesqueira na Amazônia: https://bit.ly/2kuKWuC
25 Amazon timber-food balance saves forest smallholder livelihoods from risk: https://bit.ly/2Pt0g98
26 Indústria Brasileira de Árvores: https://bit.ly/2zJ3QXn
27 Indústria Brasileira de Árvores: https://bit.ly/2zJ3QXn
28 Fatos Florestais da Amazônia 2010: https://bit.ly/2AnZnd0
29 Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex): http://bit.ly/2hXCiYa e Mapeamento da ilegalidade na
exploração madeireira em Mato Grosso entre agosto de 2013 e julho de 2016: https://bit.ly/2C5xFUk
19
CRIAR VALOR E GERAR BENEFÍCIOS A PARTIR DA FLORESTA NATIVA
12MILHÕES
Além disso, é preciso que o mercado esteja Recuperar
aberto também a outros tipos de madeira, já
que, atualmente, existe uma enorme pressão
sobre pouquíssimas espécies, que apresentam
oferta legal reduzida. Essa demanda concen-
de hectares requer
um investimento
R$ 31 BI
trada incentiva o desmatamento ilegal, a inva- entre R$ 52 BI
são de áreas públicas e todo tipo de ilegalidade. de desmatamento ilegal na Amazônia são as
O mercado precisa compreender que, para primeiras a sofrer com rebaixamento do status
cada tipo de uso, há uma infinidade de madei- de proteção, redução de área ou até mesmo
ras diferentes de espécies ainda pouco conhe- extinção, em vez de receberem mais fiscaliza-
cidas, sejam elas nativas ou plantadas, que ção34. No entanto, investir em conservação e na
podem atender à demanda de cada usuário. melhoria e ampliação das UC é uma forma de
Desde 2006, as florestas públicas – nacionais se obter retornos econômicos e sociais acima
e estaduais – podem ser concedidas a empre- dos valores alocados35.
sas e comunidades para atividades de manejo Embora o Brasil tenha, cada vez mais, ampliado
florestal, produtos não madeireiros, como sua área protegida36, as ameaças e vulnerabili-
extrativismo, e serviços de turismo – oportuni- dades no sistema de proteção fizeram do país o
dade que precisa ser melhor desenvolvida30. maior desmatador do mundo, em termos abso-
Uma possibilidade de se utilizar as flores- lutos, entre os anos 2000 e 201537. Entre 2004 e
tas nativas de forma responsável pode estar 2012, o país reduziu em 80% a taxa de desmata-
nas unidades de conservação (UC). Hoje, o mento na Amazônia Legal38, combinando políti-
Sistema Nacional de Unidades de Conservação cas públicas como a criação de áreas protegidas
da Natureza (SNUC) abrange 2.201 UC, o que (unidades de conservação e terras indígenas),
representa 18% do território brasileiro e 26% da restrição do crédito rural para proprietários
área marinha do país31. Apesar da importância que não cumprem a lei e aceleração na aplica-
das UC e do seu papel na redução do desma- ção de penas mais duras.
tamento32, em 2013, uma auditoria do Tribunal Retrocessos na legislação ambiental têm amea-
de Contas da União (TCU) e dos tribunais de çado as metas brasileiras assumidas no Acordo
contas dos estados (TCE) da Amazônia Legal de Paris e também a meta global de segurar
revelou que 96% dessas áreas eram subapro- o aumento da temperatura média em até 2°C.
veitadas para pesquisa, turismo e outras ativi- Caso o Brasil não consiga controlar o desma-
dades e não possuíam os meios adequados tamento, outros países – e, no Brasil, demais
para sua implementação33. setores, como o industrial – precisarão desem-
Em 2018, um estudo mostrou que as UC alvo bolsar até US$ 5,2 trilhões para garantir o
20
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
cumprimento da meta climática global39. com retorno ajustado ao risco, pode ser tão
O desmatamento excessivo e o mau uso de atrativo quanto a agropecuária e a silvicultura44
parte das terras desmatadas geraram um com pinus e eucalipto.
enorme passivo em áreas degradadas, que Há ainda grandes oportunidades na restau-
devem ser restauradas para conservação ração da vegetação nativa, como a recente
de água e solo, regulação do clima, produ- promulgação de decreto de conversão de
ção agropecuária e manutenção dos servi- multas do Ibama45 e a criação e implementação
ços ecossistêmicos. Estima-se que hoje o da Política e do Plano Nacional de Recuperação
Brasil tenha cerca de 50 milhões de hecta- da Vegetação Nativa (Proveg/Planaveg)46.
res de pastagens com aptidão agrícola muito Embora haja muitos desafios para que essas
baixa, mas que poderiam ser utilizadas oportunidades sejam concretizadas, o Brasil
para cumprir papel de conser- conta com coletivos e institui-
vação, por meio de incenti- "O Brasil conta ções que têm propostas e conhe-
vos que viabilizem a restaura- com coletivos e cimento para fazer a agenda de
ção da vegetação nativa . Além
40
instituições que restauração e reflorestamento
disso, dos quase 20% da Amazô- têm propostas avançar e ganhar escala. Maior
nia que já foram desmatados, e conhecimento apoio técnico e financeiro aos
mais de 20 milhões de hecta- para fazer a produtores rurais pode ajudar
res são áreas em processo de agenda de nessa empreitada.
regeneração natural . 41
restauração e Em relação aos incentivos aos
Em suas metas com a Convenção reflorestamento produtores, até 2014, o Brasil já
do Clima (NDC brasileira ), o país avançar e ganhar contava com mais de 2 mil proje-
42
21
CRIAR VALOR E GERAR BENEFÍCIOS A PARTIR DA FLORESTA NATIVA
VISÃO
2030
As concessões florestais na Amazônia Todas as florestas públicas que hoje se
e as florestas plantadas com espécies encontram sem uso determinado terão
nativas serão responsáveis por suprir destinação definida pelo Estado, como
parte significativa da demanda por a criação de unidades de conservação,
madeira serrada. incentivo a projetos de manejo florestal
sustentável e à demarcação de terras
Programas de pagamento por indígenas. A destinação dessas
serviços ambientais estarão terras poderá representar uma nova
implementados em diversos estados e oportunidade de desenvolvimento para
municípios brasileiros. comunidades tradicionais e rurais.
22
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
VISÃO
2050
O Brasil contará com uma economia A área brasileira de florestas
florestal baseada em espécies conservadas, restauradas, plantadas
nativas. As concessões de florestas e de manejo terá sido ampliada
públicas estarão implementadas em para além do mínimo estabelecido pela
todas as áreas passíveis dessa atividade legislação.
e as florestas plantadas com nativas
chegarão a pelo menos 5 milhões de A extensão de áreas restauradas e
hectares com finalidade econômica, reflorestadas chegará a 20 milhões de
cultivadas e manejadas com tecnologia hectares, indo além dos compromissos
e precisão. assumidos pelo Brasil no Bonn Challenge
e na NDC.
Programas de pagamento por serviços
ambientais estarão presentes em todo o A oferta e a demanda de produtos
território nacional e serão referência para florestais, como madeira, fibras,
a realização de investimentos. alimentos, sementes e outros,
representarão um mercado em
A conservação e o uso sustentável crescimento.
dos ecossistemas naturais recuperados
serão reconhecidos como pilares Novos produtos florestais e tecnologias
econômicos do país. mais eficientes para o uso dos recursos
naturais já terão sido criados a partir dos
investimentos públicos e privados em
O Brasil será o maior destino de turismo Pesquisa e Desenvolvimento.
de natureza do mundo.
23
ACABAR COM O
DESMATAMENTO
O desmatamento deverá ser eliminado das cadeias
produtivas e será parte apenas do passado do país.
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
48 O termo desmatamento, aqui, se aplica a todos os biomas brasileiros e é conceituado com “supressão de vegetação
nativa”.
49 Dados científicos relacionados ao uso da terra revelam onde o Brasil precisa focar para combater o desmatamento e
aumentar sua produtividade: https://bit.ly/2jHH09C
50 Esses itens são detalhados nos capítulos sobre Instrumentos Econômicos e Políticas Públicas, respectivamente.
51 Achieving zero deforestation in the Brazilian Amazon: What is missing?: https://bit.ly/2Rg4uCk
52 Serviço Florestal Brasileiro: https://bit.ly/2IOE6M1
53 Entre 2000 e 2015, o desmatamento no Cerrado foi maior do que o da Amazônia: https://bit.ly/2y4NWVr
54 Entre 2000 e 2015, o desmatamento no Cerrado foi maior do que o da Amazônia: https://bit.ly/2y4NWVr
55 Emissões do Brasil sobem 9% em 2016: https://bit.ly/2y7zsXt
56 Achieving zero deforestation in the Brazilian Amazon: What is missing?: https://bit.ly/2Rg4uCk
57 Agricultural expansion dominates climate changes in southeastern Amazonia:
the overlooked non-GHG forcing: https://bit.ly/2QhB0mg
25
ACABAR COM O DESMATAMENTO
58 Tropical forests are a net carbon source based on aboveground measurements of gain and loss: https://bit.ly/2mlyVse
59 Climate challenges and opportunities in the Brazilian Cerrado: https://bit.ly/2P1At7T
60 The Forests of the Amazon and Cerrado Moderate Regional Climate and Are the Key to the Future: https://bit.ly/2PjmygM
61 Climatic characteristics of the 2010-2016 drought in the semiarid Northeast Brazil region https://bit.ly/2PIPYC2
62 No man’s land in the Brazilian Amazon: Could undesignated public forests slow Amazon deforestation? Land Use Policy:
https://bit.ly/2Rfv6DJ
63 No man’s land in the Brazilian Amazon: Could undesignated public forests slow Amazon deforestation? Land Use Policy:
https://bit.ly/2Rfv6DJ
64 Role of Brazilian Amazon protected areas in climate change mitigation: https://bit.ly/2y4R7MR
65 O desmatamento na Amazônia e a importância das áreas protegidas: https://bit.ly/2Iu67sm
66 Mapbiomas: https://bit.ly/2ydWJV9; PRODES: https://bit.ly/2Iu4f2P; TerraClass: https://bit.ly/2a1U737
26
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
67 Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), 2018: https://bit.ly/28JSVSk
68 Fundo Amazônia. Relatório de Atividades 2011: https://bit.ly/2ReQdpw
69 Considerando resultados atingidos e reportados no Info Hub Brasil: https://bit.ly/2DCjYgs
27
ACABAR COM O DESMATAMENTO
VISÃO
2030
O desmatamento ilegal será parte Os mecanismos de pagamento
do passado. A ilegalidade deixará de por serviços ambientais (PSA) e
representar um risco aos biomas e ao compensação de emissões evitadas
povo brasileiro e o país trabalhará para (REDD+) estarão consolidados e
eliminar o desmatamento operantes em larga escala – em todos
de forma geral. os biomas e em nível nacional e
subnacional.
As cadeias produtivas estarão
livres de desmatamento ilegal, em Atividades agrícolas e florestais que
todos os biomas, e baseadas no uso de busquem eliminar o desmatamento de
uma gama diversificada de espécies sua produção serão beneficiadas por
madeireiras e na rastreabilidade políticas de crédito e isenção fiscal
de origem. de incentivo à conservação.
28
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
VISÃO
2050
O desmatamento será, finalmente, O ordenamento territorial e a
eliminado de todos os biomas brasileiros. regularização fundiária para todo o
território nacional estarão completos,
garantindo segurança jurídica a todos.
As atividades agropecuárias,
Toda a expansão da agropecuária florestais e industriais sustentáveis
e da silvicultura acontecerá em áreas e com baixa emissão de carbono, como
já desmatadas. sistemas agroflorestais (SAF), integração
lavoura-pecuária-floresta (iLPF) e a
recuperação da vegetação nativa, estarão
implantadas em 100% das propriedades.
A degradação dos ambientes e
ecossistemas resultante da atividade
agropecuária terá sido contida.
29
VIABILIZAR
POLÍTICAS
PÚBLICAS
DE ESTADO E
CONSTRUIR
INSTRUMENTOS
ECONÔMICOS
ALINHADOS E
INTEGRADOS
O conjunto de leis e políticas públicas deverá estar fortalecido
e será integralmente cumprido, garantindo segurança jurídica
a todos, transparência e governança territorial inclusiva e
participativa. O crédito e os instrumentos econômicos estarão
integrados e alinhados às políticas públicas.
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
31
VIABILIZAR POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESTADO E CONSTRUIR INSTRUMENTOS ECONÔMICOS ALINHADOS E INTEGRADOS
215MIL
tos, regulamentações factíveis que não impli-
quem em insegurança jurídica aos produtores
novos empregos
e uma estruturação da oferta capaz de lidar
R$ 6,5
com problemas logísticos, de forma a reduzir bilhões de
o custo dessas cadeias e o aumento da escala arrecadação com
impostos
da oferta para a produção familiar. Importante
3,22
também destacar a possibilidade de incentivo
fiscal ao plantio de florestas para uso madei- GtCO2 removidos
da atmosfera
reiro e não madeireiro, especificamente para
nativas, em um modelo mais regrado. de transporte de passageiros que substituam
A economia brasileira irá, cada vez mais, o uso do transporte individual.
envolver o uso de novas tecnologias, tais É preciso também implementar efetivamente
como a que permitiu a criação do bitcoin e e consolidar o mecanismo de precificação de
do blockchain, que proporcionem transparên- carbono previsto pela Política Nacional de
cia, rastreabilidade e credibilidade aos ativos a Biocombustíveis (RenovaBio), por meio de
serem comercializados. emissão e compra dos títulos de descarboni-
Segundo o Balanço Energético Nacional zação, também conhecidos como CBio. Trata-
(2017), o setor de transportes é responsá- -se de uma iniciativa central ao sucesso do
vel por cerca de 60% do consumo de deriva- programa, que propõe o reconhecimento do
dos de petróleo no país72. Por isso, eliminar potencial de descarbonização dos biocombus-
os subsídios para combustíveis fósseis, como tíveis a partir de um sistema com precifica-
petróleo e carvão, adotar a precificação de ção via mercado e com estímulos à busca por
carbono e instrumentos que levem a outras maior eficiência energética e ambiental pelo
fontes, como biocombustíveis ou eletricidade, produtor de biocombustíveis.
são fundamentais. A redução do consumo de As políticas públicas necessárias ao funciona-
derivados de petróleo requer também investi- mento desses mecanismos poderão contar
mentos em modais alternativos ao transporte com um Estado que vá além de seu papel
de carga rodoviário, bem como em sistemas atual, capaz de regulamentar os limites entre
71 Quanto o Brasil precisa investir para recuperar 12 milhões de hectares de florestas? https://bit.ly/2Mlg4c4
72 Balanço Energético Nacional, 2017: https://bit.ly/2Evta44
32
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
33
VIABILIZAR POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESTADO E CONSTRUIR INSTRUMENTOS ECONÔMICOS ALINHADOS E INTEGRADOS
VISÃO
2030
O mercado financeiro e os Haverá um Cadastro Único de
instrumentos econômicos voltados Imóveis Rurais no Brasil, integrando os
a práticas sustentáveis em todos os cadastros do Incra, da Receita Federal
setores estarão estruturados, assim e dos ministérios do Meio Ambiente
como o monitoramento e a avaliação e da Agricultura, possibilitando
desses mecanismos. transparência, rastreabilidade e
segurança jurídica a todos.
Os mecanismos de pagamento por
serviços ambientais (PSA) estarão Todos os estados terão o Zoneamento
consolidados e operantes em larga Agroecológico (ZAE) e o Zoneamento
escala. Ecológico-Econômico (ZEE)
implementados.
O acesso pelo Brasil a instrumentos
de precificação de carbono e Será estabelecido um plano nacional
mecanismos de mercado, em nível com diretrizes claras e objetivas
nacional e no âmbito do Acordo de para o crescimento da produção
Paris, estará consolidado. agropecuária, orientando sobre as
potencialidades e vocações produtivas
Toda a concessão de financiamento de cada local, a partir dos zoneamentos
público e privado para o agronegócio e dessas áreas.
a agricultura familiar será condicionada
a critérios de desempenho social e O RenovaBio estará implementado e a
ambiental. agenda de bioenergia será reforçada por
outros marcos regulatórios e programas
A economia de baixo carbono se que estimulem investimentos.
desenvolverá sem comprometer a
manutenção do equilíbrio fiscal, A gestão dos recursos hídricos
reduzindo o risco de investimentos e estará atrelada a programas de
favorecendo uma integração entre os pagamento por serviços ambientais e
capitais natural, social e humano. incentivos à preservação, garantindo a
disponibilidade e distribuição racional
Externalidades sociais e ambientais de água para todos os usos.
estarão contempladas no sistema
econômico do país. O licenciamento ambiental será
plenamente reconhecido por todos
os segmentos da sociedade como um
O Brasil terá cumprido todas as metas instrumento transparente e eficiente,
assumidas no Acordo de Paris, que garante segurança jurídica a
considerando, inclusive, o aumento de todos e a proteção do patrimônio
ambição previsto para 2020, com forte socioambiental.
impacto na redução das emissões.
A logística brasileira de distribuição
A regularização fundiária estará e acesso estará entre as 20 mais
estabelecida, por meio de um processo eficientes do mundo em termos de
com a participação de todas as partes tempo, custo, emissão e distribuição,
envolvidas, eliminando conflitos e com a infraestrutura de escoamento e
assegurando segurança jurídica a armazenamento bem estabelecida.
todos – produtores rurais, comunidades
tradicionais (indígenas, quilombolas e Os sistemas de informações
extrativistas) e investidores. georreferenciadas estarão
publicamente disponíveis, permitindo
o cruzamento de dados espaciais
para gerar análises, antecipar riscos e
ampliar o respaldo científico de políticas
públicas e privadas baseadas
nessas informações.
34
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
VISÃO
2050
O Brasil será um dos principais destinos Uma dieta saudável e de baixo
mundiais de investimentos na carbono será incentivada por meio
economia de baixo carbono e em de políticas públicas e o consumidor
biodiversidade. brasileiro terá acesso à informação para
tomar a melhor decisão sobre
A pesquisa, o financiamento, as políticas seu alimento.
públicas e o mercado estimularão um
sistema de produção e consumo A bioeconomia será foco estratégico
competitivo, sustentável e inclusivo, das políticas públicas, com base em
que resultará em aumento de qualidade marcos regulatórios, programas de
de vida e proteção da natureza. fomento e instrumentos de mercado que
impulsionem a produção de produtos
Mecanismos que geram impactos renováveis e biodegradáveis.
positivos serão cada vez mais utilizados,
como títulos verdes, compensação de O Brasil garantirá a completa proteção
emissões evitadas (REDD+), mecanismos dos recursos hídricos, fruto de uma
de mercado de carbono e pagamentos proteção florestal já consolidada. O
por serviços ambientais (PSA). consumo de água pela agropecuária será
o mais eficiente do mundo.
O Brasil será líder pelo exemplo do
processo global de redução de emissões A legislação ambiental será utilizada
de carbono e será reconhecido como não somente como um instrumento
uma das principais nações a contribuir de comando e controle da ocupação
para os esforços de mitigação e territorial, mas também para trazer
adaptação às mudanças climáticas. rastreabilidade, transparência e
vantagens comparativas para o país no
Além de atuar como regulador, o comércio internacional.
Estado terá papel de agente
incentivador da competitividade e O país terá um Plano Nacional
será um cooperador, trabalhando em Logístico capaz de estimular
sinergia com setor produtivo e sociedade continuamente sua competitividade e
civil, gerando incentivos e diretrizes reduzir a dependência do transporte
para o desenvolvimento sustentável e rodoviário e combustíveis fósseis.
competitivo do país.
35
CONCLUSÃO E
PRÓXIMOS
PASSOS
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
A visão de futuro para o país proposta pela Coali- tes sobre desenvolvimento do país e, para isso,
zão Brasil traz muitos desafios, mas é realizá- é preciso ter clareza sobre onde se quer chegar.
vel, pois está baseada em ativos reais e, em boa Esta visão de futuro da Coalizão Brasil buscou
parte, em mecanismos e ações já testados e em lançar luz a esse lugar: onde sonhamos estar
andamento. O que garantirá sua efetivação é a em 2050, pelos olhos dos representantes do
capacidade de mobilização dos diversos seto- agronegócio, das entidades de defesa do meio
res da sociedade – produtores rurais, setor finan- ambiente e da academia. Essa visão comum
ceiro, academia, organizações da sociedade civil representa uma estrada de oportunidades na
e governo – para tornar práticas dominantes o qual todos estarão contemplados.
que hoje são experiências-piloto, e de agir para Produzir mais e melhor, criar valor a partir das
efetivar o que ainda são projetos e necessida- florestas, acabar com o desmatamento, viabi-
des, aproveitando as oportunidades que estão lizar políticas públicas de Estado e construir
dadas para o país. instrumentos econômicos alinha-
O futuro desejado para o Brasil "O uso da terra dos e integrados: esses são os
depende da sua capacidade de precisa estar pilares do futuro almejado pela
planejar a ocupação de seu terri- no centro dos Coalizão Brasil, e para o qual o
tório de 8,5 milhões de km . 2
debates sobre movimento começa a estruturar
Esse planejamento é essencial, desenvolvimento um plano de ação.
por exemplo, para romper com do país" Para isso, o movimento já iniciou
padrões de ocupação como a da o debate junto a seus membros
Amazônia, que tem sido impulsionada por gran- sobre alguns macroindicadores [veja uma prévia
des obras de infraestrutura com altos custos no Quadro 4, pág 38], que serão detalhados em
socioambientais. metas e ações. Todos esses elementos serão
O país precisa, ainda, garantir o cumprimento de divulgados de forma transparente para acom-
seus compromissos internacionais, como os do panhamento da sociedade e apresentados ao
Acordo de Paris [veja mais no Quadro 1, pág 8]. governo brasileiro como uma proposta do movi-
O Brasil é o sétimo maior emissor de gases de mento para o futuro do uso da terra no país.
efeito estufa do mundo73 e precisa mostrar que A Coalizão Brasil está dedicada a buscar formas
é capaz de promover seu desenvolvimento sem concretas de viabilizar o sonho que desenhou
comprometer a segurança climática e alimen- para 2030 e 2050. Todos os atores interessados
tar do planeta. É o compromisso do Brasil com a em tornar esse sonho uma realidade estão convi-
humanidade neste século 21. dados a se juntar aos mais de 180 membros do
O uso da terra precisa estar no centro dos deba nosso movimento!
37
CONCLUSÃO E PRÓXIMOS PASSOS
Legenda:
QUADRO 4: Agropecuária e Silvicultura
MACROINDICADORES Floresta Nativa
Desmatamento
INICIAIS DO PLANO Políticas Públicas
Instrumentos Econômicos
DE AÇÃO:
Agricultura familiar
Pesquisa , assistência técnica e extensão
- Indicadores socioeconômicos 77
74 A partir de Inventários nacionais / Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa - SEEG/
Plataforma de Monitoramento do ABC da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa.
75 Laboratório de Processamento e de Imagens e Geoprocessamento-LAPIG.
76 MapBiomas, Atlas Agropecuário.
77 Faturamento por produtor da agricultura familiar, renda per capita.
78 Discriminada com referência à matriz elétrica e à matriz de transporte.
38
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
79 Recursos públicos: Fundo Amazônia, REDD+, transferências fiscais “verdes”, incentivos/desincentivos tributários, reori-
entação de gastos tributários, taxação de atividades altamente demandantes de desmatamento, programas de crédito sub-
sidiado para atividades sustentáveis etc. Recursos privados: mercado brasileiro de carbono e mercado de Cota de Reserva
Ambiental (CRA), bem como fundos privados.
80 Em especial: terras indígenas e comunidades tradicionais; unidades de conservação de proteção integral e de uso sus-
tentável (incluindo as florestas nacionais de produção).
Pelo menos 20% de cada ecossistema terrestre, costeiro e marinho em todos biomas protegidos com unidades de con-
servação de proteção integral até 2030.
81 12 milhões de hectares de áreas degradadas restaurados e reflorestados até 2030 e 20 milhões de hectares até 2050.
39
GLOSSÁRIO
A
Acordo de Paris: Acordo celebrado na 21ª que visa estabilizar as concentrações de gases
Conferência das Partes (COP-21) da de efeito estufa na atmosfera resultantes das
Convenção do Clima, em 2015, do ações humanas, do qual o Brasil é signatário.
qual o Brasil é signatário.
Conversão de vegetação nativa:
B Desmatamento.
Bioeconomia: Reúne todos os setores da
economia que utilizam recursos biológicos Cota de Reserva Ambiental (CRA): O
(seres vivos), com enfoque em sustentabili- Código Florestal exige que todas as proprieda-
dade e tecnologia. des rurais, em território nacional, mantenham
uma porcentagem da área com cobertura de
Bioprodutos: Produtos não alimentícios deri- vegetação nativa, chamada reserva legal. Cota
vados da agricultura, silvicultura e florestas de Reserva Ambiental são títulos que repre-
nativas, tais como celulose, madeira, produ- sentam uma área de cobertura vegetal natural
tos florestais não madeireiros e madeireiros, em uma propriedade, e que podem ser usados
fármacos, essências e novos produtos que para compensar a falta de reserva
possam substituir aqueles à base de legal em uma outra.
combustíveis fósseis.
D
C Desmatamento legal: Realizado em área de
Cadastro Ambiental Rural (CAR): Regis- vegetação nativa em terras privadas não inclu-
tro eletrônico, criado pelo Código Florestal ídas nas regras de proteção do
de 2012, obrigatório para todos os imóveis Código Florestal.
rurais, formando base de dados estratégica
para controle, monitoramento e combate ao Destinação de áreas públicas: A ocupação
desmatamento das florestas e demais formas de vastas regiões do país – principalmente na
de vegetação nativa do Brasil, bem como para Amazônia – aconteceu a partir de ocupação
planejamento ambiental e econômico dos de terras públicas, provocando um caos fundi-
imóveis rurais. ário que propicia o desmatamento. Um estudo
de 2008 do Instituto do Homem e do Meio
Código Florestal: Lei no 12.651, de 2012, esta- Ambiente da Amazônia (Imazon) mostrou que
belece normas para proteção da vegetação 32% das terras na região não tinham proprie-
nativa em áreas de preservação permanente, dade definida. A destinação dessas áreas pelo
reserva legal, uso restrito, exploração florestal governo (federal ou estadual) é condição
e assuntos relacionados. fundamental para a governança na região.
40
O FUTURO DAS FLORESTAS E DA AGRICULTURA NO BRASIL
41
GLOSSÁRIO
R
REDD+: Incentivo desenvolvido no âmbito da
Convenção do Clima para recompensar finan-
ceiramente países em desenvolvimento por
seus resultados de redução de emissões de
gases de efeito estufa provenientes do desma-
tamento e da degradação florestal, conside-
rando o papel da conservação e aumento
de estoques de carbono florestal e manejo
sustentável de florestas.
S
Serviços ecossistêmicos: Benefícios que as
pessoas obtêm da natureza direta ou indire-
tamente, através dos ecossistemas, a fim de
sustentar a vida no planeta.
42
Edição geral:
Fernanda Macedo e Maura
Campanili
Revisão:
Livia Almendary
Arte e Design:
The Infographic Company e
Maná e.d.i.