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Diagrama Transformação–Tempo-Temperatura

Um dos fatores mais importantes que influenciam a posição das linhas de


transformação, ou seja, a própria transformação da austenita, é a velocidade
de esfriamento.
De fato, se aumentar essa velocidade, haverá um afastamento das
condições de equilíbrio e as reações de transformação tendem a modificar-se,
pois, como a alteração do reticulado cristalino do ferro gama e ferro alfa
dependem da movimentação atômica, esta não se completa e, em
consequência, os constituintes normais resultantes da transformação da
austenita – como a perlita – deixam de formar-se ou até mesmo podem surgir
novos constituintes estruturais.
As pesquisas experimentais que levaram a essas conclusões foram
realizadas pela primeira vez por Davenport e Bain. Essas pesquisas
possibilitaram igualmente explicar mais cientificamente os fenômenos que
levam a formação dos constituintes que se originam na tempera dos aços.

Diagrama de transformação isotérmica ou curvas em C ou TTT – O


estudo experimental, que pode ser facilmente reproduzido em laboratório,
consiste no seguinte: corpos de prova de aço de dimensões pequenas, para
que quando resfriados a diferentes velocidades, o resfriamento se dê ao
mesmo tempo através de toda a sua seção, são aquecidos a temperatura
acima da zona crítica, de modo apresentarem a estrutura austenitica. A seguir,
são rapidamente mergulhados em banho líquido (sal ou chumbo fundido), a
temperaturas variáveis abaixo da zona crítica. São mantidos a essas
temperaturas durante os tempos necessários para que a austenita se
transforme nos produtos normais (ferrita mais perlita, somente perlita, ou perlita
mais cementita).
O processo de transformação pode ser acompanhado por diversos meios.
Entre eles, pelo exame da microestrutura, ou seja, uma vez mantido à
temperatura desejada, durante o tempo escolhido, o corpo de prova é esfriado
rapidamente em água ou salmoura.
Se houve transformação da austenita nos seus produtos normais, estes
são detectados no microscópio. Se não houve transformação, a observação

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microscópica evidenciará o fato, detectando eventualmente a presença de um
outro constituinte estrutural que não o normal.
Para tornar a experiência mais simples, escolhem-se corpos de prova de
um aço eutetóide, visto que, para ele, só há um produto normal de
transformação da austenita, a perlita.
Em resumo:
- Uma série de corpos de prova de diminutas dimensões é aquecida na
faixa austenítica;
- Um certo número é mergulhado num banho de chumbo fundido, mantido
por exemplo, a 680°C e ai permanece durante tempos diferentes para cada um,
por exemplo, 10, 100, 200, 500 etc. segundos.
- pelo que foi explicado no início, a austenita permanece estável durante
um certo tempo, ou seja, decorrido esse tempo ela começa a transformar-se e,
decorrido um tempo maior, ela termina de se transformar;
- repete-se a experiência mergulhando-se outros corpos de prova em
banhos de chumbo fundidos mantidos a temperaturas cada vez mais baixas e,
para cada nível de temperatura, observa-se o inicio e o fim da transformação.

Tem-se assim, uma série de tempos que marcam, para os vários níveis de
temperatura, o início e o fim da transformação da austenita.
Adota-se, para maior segurança no exame da estrutura originada pela
transformação da austenita, como início de transformação, o ponto
correspondente a formação de 0,5% de perlita e como fim de transformação o
ponto correspondente à formação de 99,5% de perlita.

Com os dados obtidos, pode-se construir um diagrama “temperatura-


tempo”. Esse diagrama é chamado “transformação isotérmica” ou “ a
temperatura constante”.

O seu aspecto, para o aço eutetóide mencionado, está representado na


figura abaixo.

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Devido ao longo tempo que ocorre, em certos níveis de temperatura para
que a transformação se inicie e se complete, essa variável é lançada, no
gráfico, em escala logarítmica.
Em função de suas formas, as curvas obtidas são também chamadas “em
C”. Outra denominação usada é “curvas TTT” (transformação-tempo-
temperatura).
Nas experiências originais de Davenport e Bain, essas curvas apresentam
a forma de um S; por isso ainda hoje elas são comumente chamadas “em S”.
O seu exame mostra que:
- na faixa superior de temperatura, o inicio de transformação da austenita
(curva I) é muito demorado, assim como o fim. A estrutura resultante é perlita,
de granulação grosseira, chamada “perlita grossa”, com baixa dureza, variável
de 5 a 20 Rockwell C, os valores mais elevados correspondendo aos níveis
mais baixos de temperaturas;

- à medida que a temperatura decresce, a demora para o inicio e fim de


transformação é menor; a granulação da perlita vai se tornando mais fina,
originando-se a estrutura chamada “perlita fina”, com dureza cada vez mais
elevada. Os seus valores podem chegar a 40-45 Rockwell C;

Curvas TTT – transformação da austenita em perlita fina.

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- em torno de550 °C (lembre-se que está sendo considerado um aço
eutetóide), o menor tempo para inicio e fim de transformação. Esse ponto
corresponde ao chamado “joelho” ou “cotovelo” das curvas em “C”.

- a partir dessa temperatura começa novamente a aumentar o tempo para a


transformação da austenita iniciar-se e completar-se; surge nas faixas de
temperaturas correspondentes, um novo constituinte - a “Bainita” ( em
homenagem a Bain).

Curvas TTT – transformação da austenita em bainita.

A bainita é completamente diferente de perlita: trata-se de uma estrutura


cujo aspecto varia desde um agregado de ferrita em forma de pena e um
carboneto muito fino ( em torno de 450°C), até um constituinte em forma de
agulhas (em torno de 200°C), com coloração escura. A dureza desse
constituinte é elevada, variando de 50 a 60 Rockwell C;

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- finalmente, nos níveis mais baixos de temperatura, na faixa aproximada de
200°C a 100°C, ocorre uma nova transformação, a qual independente do
tempo, como as linhas Mi e Mf estão indicando. Surge mais um novo
constituinte – a “matensita” – cuja formação brusca começa na linha Mi e
termina na linha Mf.

Curvas TTT – transformação da austenita em martensita.

Esse constituinte apresenta-se na forma de agulhas (figura abaixo), com


coloração clara. Frequentemente, a martensita é chamada “acircula”. Sua
dureza é muito elevada: 65 a 67 RC.

Uma das teorias para explicar essa dureza elevada é ligada à velocidade
de resfriamento. Realmente, a transformação do reticulado cúbico de face
centrada (gama) característico da austenita, para reticulado cúbico centrado
(alfa) não é evitada, qualquer que seja a velocidade de resfriamento. Sendo

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essa muito rápida, não se dá, portanto, tempo para que o carbono que está em
solução sólida na austenita seja expulso. Forma-se, por assim dizer, uma
solução sólida supersaturada de carbono ou Fe3C no ferro alfa, cujo o
reticulado fica distorcido, aumentando grandemente a dureza da estrutura
resultante. Admite-se hoje que a estrutura cristalina da martensita seja
tetragonal compacta e não cúbica. Essa estrutura está sujeita a elevadas
microtensões e apresenta-se supersaturada de carbono. Essa estrutura é
considerada a mais dura e mais frágil dos aços.

Fatores que influem na posição das linhas em C


A posição das linhas em C do diagrama de transformação isotérmico é
influenciado por diversos fatores.
Esses fatores são os seguintes:
- Composição química;
- Tamanho de grão;
- Homogeneidade da austenita.

- Composição Química: Quanto menor o teor de carbono (abaixo do


eutetóide) mais difícil de se obter estrutura martensítica, por que as curvas TTT
são deslocadas para a esquerda, como podemos observar abaixo no diagrama
de transformação Isotérmico de um aço Hipoeutetóide .

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Quanto maior o teor e o número dos elementos de liga, mais numerosas e
complexas são as reações, retardando as transformações. Então os elementos
de liga tendem a deslocar as curvas TTT para a direita, ou seja, retardar a
transformação da austenita. Facilitam a formação da Martensita. A única
exceção conhecida é o Cobalto.

- Tamanho de grão:
Admitindo-se dois grãos de austenita de tamanhos diferentes e admitindo-
se ainda que a transformação da austenita comece nos contornos dos grãos e
ao mesmo tempo, é claro que no grão menor a transformação se complete num
tempo mais curto. O tamanho de grão, portanto, tende a deslocar as curvas
TTT para a direita. Então o tamanho de grão grande retarda a transformação
da austenita e favorece a formação da martensita.

- Homogeneidade da austenita:
A austenita, quanto menos homogênea, ou seja, quanto maior a
quantidade de carbonetos residuais ou de áreas localizadas ricas em carbono
confere a tendência de acelerar o inicio e o fim das reações de transformação,
isto é, deslocar as curvas TTT para a esquerda. Isso se deve aos carbonetos
residuais ou regiões ricas em C atuarem como núcleos para a formação da
perlita.
Então, uma maior homogeneidade da austenita favorece a formação da
martensita

Exemplos de utilização das Curvas TTT para realização de tratamento


térmico nos aços.

- Recozimento Pleno
O recozimento tem por fim baixar a dureza do material, melhorar a
usinabilidade, melhorar as características de deformação plástica a frio. Esse
tratamento térmico é caracterizado por um esfriamento lento através da zona
crítica, a partir da zona de austenitização (geralmente A3 para aços
hipoeutetóides e entre A1 e Acm para os aços hipereutetóides).

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O esfriamento lento é obtido, desligando-se o forno e deixando o aço
esfriar dentro do forno. O resfriamento para o recozimento pleno é
representado esquematicamente na figura abaixo.

As microestruturas resultantes de um recozimento pleno são: perlita e


ferrita para aços hipoeutetóides, cementita e perlita para aços hipereutetóides e
perlita para aços eutetóides.

- Têmpera
A tempera tem como finalidade a obtenção de durezas, limites de
resistências e limites de escoamento mais elevados que os obtidos pelo
recozimento ou pela normalização.
A têmpera consiste num resfriamento rápido do aço aquecido acima a
uma temperatura de cerca de 50°C acima de A3 para aços hipoeutetóides e
50°C acima de A1 para aços eutetóides e hipereutetóides.
Para provocar o resfriamento rápido a fim de gerar martensita, as peças
são resfriadas em água, óleo, banhos de sal fundidos ou em outros meios
adequados.

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Na têmpera o constituinte final desejado é a martensita que, sob o ponto
de vista de propriedades mecânicas gera o aumento do limite de resistência a
tração do aço e também da sua dureza. Resultam também da têmpera,
redução da ductilidade, da tenacidade e o aparecimento de apreciáveis tensões
internas. Tais inconvenientes são atenuados ou eliminados pelo revenimento.

- Austêmpera
Tratamento térmico composto de aquecimento até a temperaturade
Austenitização, permanência nessa temperatura até completa homogenização,
resfriamento rápido até uma temperatura dentro da faixa de formação da
bainita, permanência nessa temperatura até completa transformação da
austenita em bainita e resfriamento qualquer até temperatura ambiente.
As temperaturas para austêmpera dependem do tipo de aço e variam
geralmente entre 260°C e 400°C.

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O objetivo principal da austêmpera é obter maior ductilidade e tenacidade
a determinada dureza elevada, reduzir a probabilidade de trincas e distorção da
peça tratada.

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