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A reforma da igreja segundo as Escrituras é um processo contínuo: “Ecclesia reformata reformanda est”.

A frase acima significa: “Tendo sido reformada, a igreja ainda continua sendo reformada”. Tal declaração é
decorrente do fato de que as Escrituras constituem um padrão absoluto e perfeito, enquanto a igreja, em
qualquer momento de sua história na terra, ainda é imperfeita e está envolvida em pecado e erro. Esse
processo de reforma deve ser contínuo até o fim dos tempos. Em nenhum momento antes disso, a igreja pode
parar e dizer: “Chegamos. Não temos mais para onde avançar!”. Somente no céu é que a igreja triunfante
poderá fazer tal declaração.

As informações aqui na terra são sempre incompletas

Não poderemos jamais considerar esse processo concluído em nossa época ou em qualquer momento da
história da igreja. A doutrina, a adoração, o culto, a disciplina, as atividades missionárias, as instituições
educacionais, as publicações e a vida prática da igreja devem ser reavaliadas para retornarmos às Escrituras,
quando delas nos afastamos. A reforma sempre foi, por uma questão de necessidade, um processo gradativo.
Os entusiastas procuram realizar tudo de uma só vez, mas nunca são bem-sucedidos. Deus opera por meio de
um processo histórico gradativo e contínuo e devemos nos adequar à forma da operação divina.

A reforma eclesiástica segundo as Escrituras requer autocrítica

Existe uma necessidade de avanços no estudo das Escrituras e de uma autocrítica minuciosa que promova o
retorno quando constatados erros. Nossa posição deve ser avaliada e reavaliada com freqüência à luz da
Bíblia. Trata-se de algo claro em nossa Confissão, de que somente as Escrituras são infalíveis. Então, todo o
resto deve ser testado repetidamente pelas Escrituras

Esse conceito se aplica à sua vida, suas programações, atividades, instituições e publicações. Tudo deve ser
avaliado e reavaliado à luz da Palavra de Deus. Essa autocrítica da parte da igreja é o equivalente corporativo
à introspecção à qual Deus convida todos os cristãos como indivíduos por meio de sua Palavra.

É necessário ser absolutamente fiel às Escrituras

A autocrítica da igreja não é um exercício simples. Exige esforço, inteligência, aprendizado, sacrifício, grande
humildade, abnegação e a mais absoluta honestidade.

Requer, ainda, fidelidade às Escrituras, uma fidelidade disposta a fazer tudo o que for necessário para
retornar à Palavra de Deus – uma lealdade radical.

Essa autocrítica da parte da igreja pode ser desagradável e até mesmo dolorosa. Pode significar que a igreja,
como o Peregrino de Bunyan, tomou a trilha errada e terá de se humilhar e percorrer, a duras custas, o
caminho de volta para a estrada principal. Tal exercício também pode ser devastador para os interesses ou
projetos especiais de certos indivíduos ou grupos da igreja. Pode demonstrar que certas características dos
padrões, da vida ou dos programas da igreja não estão em total harmonia com a Palavra de Deus e devem ser
reconsideradas e conciliadas com a Palavra.

As reformas passadas foram realizadas por meio da autocrítica

Por esses motivos e outros semelhantes, a autocrítica por parte da igreja costuma ser deixada de lado e até
mesmo objetada. Aqueles que a defendem ou procuram realizá-la serão, quase certamente, considerados
extremistas, fanáticos, entusiastas, visionários, agitadores e outras coisas do gênero. No entanto, foi por meio
dessa autocrítica que se deram as reformas do passado. Homens como Lutero, Calvino e Knox se preocuparam
apenas com o julgamento de Deus em sua Palavra. Não foram detidos pelos julgamentos adversos e atitudes
de homens.

A igreja se mostrou mais próxima do ideal e mais influente no mundo nas ocasiões em que ousou olhar para si
mesma no espelho da Palavra de Deus com toda honestidade. Foi nesses momentos que avançou com nova
vida e vigor. Por outro lado, quando hesitou ou recusou olhar para si mesma de modo atento e honesto no
espelho da Palavra de Deus, a igreja se mostrou fraca, estagnada, decadente, ineficaz e sem qualquer
influência.

A autocrítica denominacional constante baseada nas Escrituras é nosso dever. Mas até que ponto é levado a
sério? Quanto zelo, preocupação – e, diria até, tolerância –, existe para tal avaliação nos dias de hoje?

Todas as igrejas apresentam uma tendência constante de considerar normal e correta a situação presente.
Assim, aquilo que, na realidade, não passa de costume, tem praticamente a força e influência de princípio; ao
mesmo tempo, questões de princípio são tratadas como se não passassem de convenções ou costumes
humanos, investidos apenas da autoridade conferida pelo uso ou aprovação popular. A sanção do uso corrente
é considerada suficiente para definir algo como correto, legítimo e até mesmo necessário. Por outro lado, a
ausência de tal uso é tida como suficiente para provar que algo é errado e impróprio. Esse tipo de estagnação,
essa atitude de considerar a situação atual como sendo normal, fecha as portas para todo progresso autêntico
na reforma da igreja. Isso porque o estado atual é sempre pecaminoso, está sempre aquém dos requisitos da
Palavra de Deus e daquilo que Deus exige, de fato, da igreja. Uma vez que a situação atual é pecaminosa, não
pode jamais ser considerada com complacência e, muito menos, ser julgada ideal para a igreja. É pecado
transformá-la em padrão absoluto.

Por melhor que seja a situação presente, ainda assim é pecaminosa e sempre exige arrependimento. Pode,
aliás, retroceder e cair em apostasia. Na melhor das hipóteses, andará em círculos, sempre voltando ao ponto
de partida.

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