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6 SALVADOR SÁBADO 7/4/2012 SEG PERSONA / TER POP / QUA VISUAIS / QUI CENA SEX CINE / HOJE LETRAS DOM SHOP EDITORA-COORDENADORA: SIMONE RIBEIRO / DOISMAIS@GRUPOATARDE.COM.BR

SÁB RONALDO JACOBINA CALDO ENGROSSA COM A DISPUTA


SALVADOR
7/4/2012
ENTRE OS SÓCIOS DOS BOTECOS DO FRANÇA E DO ZÉ 5

TUDO TEM SEU E O QUE SERÁ DA O BATISMO A FELICIDADE


DIREITO E SEU ALMA DAQUELE CONTRA BRUXAS NA PONTA UM FEITICEIRO VASSOURA, DE UM
ESQUERDO CADÁVER? E PAGÃOS DO ALFINETE CHAMADO ZUMBI TABU INDISCUTÍVEL

Para que o defunto não assombrasse a No Brasil católico, se o padre não No dia em que é apanhado Em alguns lugares, refere-se a Não empreste se já tiver sido
Má ou boa sorte, o direito e o esquerdo
casa pela lembrança obstinada na pronunciasse todas as palavras em latim, a no chão, traz felicidade. Mas Zumbi como um negrinho usada, sob pena de carregar a
sempre tiveram suas preferências. O lado
memória dos parentes, o certo era beijar criança ficaria meio pagã e veria fantasmas. há quem diga também que que aparece nos caminhos. felicidade para a outra casa.
direito era visto como o da varonilidade. O
a sola dos seus sapatos, que tinham de Para que a sétima filha não fosse bruxa, era faz mal apanhar alfinete na Amigo da Caipora, gosta de Vassoura deitada é desgraça
esquerdo pertencia às mulheres. Se a mulher
ir com o defunto devidamente limpos, preciso batizá-la na primeira sexta-feira do rua. E se alguém receber um, pedir fumo e bate ferozmente financeira. A primeira vassourada
grávida sentisse o movimento fetal à direita,
sem poeira, terra ou areia ano, antes de o sol se pôr deve tocar a ponta em quem em quem não o satisfaz de vassoura nova pertence à
nasceria menino. Menina, se à esquerda
o deu, sob pena de inimizade mulher velha, nunca à gente moça

UM CONSELHO: NÃO

Folclore está
FALE DIANTE DE UM
ESPELHO

ENTREVISTA Daliana Cascudo

VIVO
AFASTADORA DE
MALES, ELA, A URINA

“A GENTE SE Dizia-se que o feiticeiro que bebesse


urina ficaria desarmado por muito
MODIFICA, MAS tempo. Beber urina de vaca pela

O FOLCLORE
manhã, em jejum, combate a
malária. Lavar os pés com urina de

Quando o espelho quebra


PERMANECE” gado cura frieiras e certas feridas

sem motivo, é anúncio da


morte do dono da casa. Na
primeira semana de luto,
deve ser imediatamente
coberto. Não se deve
REGINA DE SÁ
colocar menino de peito Editora LIVRO Conheça algumas curiosidades do
diante dele, sob pena de
lhe retardar a fala Segundo Daliana Cascudo, ne- Dicionário do Folclore Brasileiro,
ta do historiador e folclorista publicação do escritor Luís da Câmara
Luís da Câmara Cascudo, co-
ordenadora do Instituto Câ- Cascudo que chega em sua 12ª edição
mara Cascudo (www.cascu- HORROR SAGRADO
do.org.br), a obra é um ver- OU APENAS TABU?
A MÁ SORTE VEM
COM UM SIMPLES dadeiro atestado da identida- O menino que brinca com fogo mija
PALITO DE FÓSFORO de cultural de um povo. na cama, ou, se o pequeno mijar no
Arquivo pessoal fogo, seca as urinas. Como tabu de
conduta, cuspir no fogo faz mal,
Este ano, a Global Editora porque seca o cuspo
REGINA DE SÁ
Para a senhora, o que as pes- No livro, há um escrito da fol- sim pela revisora, alteran- Editora acaba de publicar a 12ª edição
soas entendem como folclo- clorista Laura Della Monica do o texto original. Apesar do Dicionário, conforme a úl-
re, hoje em dia, é considerado que diz, a respeito de uma fala de saber que a Global Edi- O folclore brasileiro sempre tima edição revista pelo autor,
ultrapassado, acabado? de Câmara Cascudo: "Um di- tora não agiu de má-fé nes- esteve na boca do povo, mas em 1979. Nesta publicação,
O folclore não acaba nunca, cionário é labor interminável ta situação, a família Cas- uma luz acendeu um dia para além de a família de Cascudo
é imortal. Meu avô costu- e, fixando elementos da cul- cudo preferiu acatar as su- o pesquisador do tema, o et- ter supervisionado todo o tra-
mava dizer que até mesmo tura popular, a tentação é pa- gestões advindas destas crí- nógrafo, historiador, advoga- balho de atualização da obra,
Três fumantes não devem as surpestições foram parar ra torná-lo enciclopédia". ticas e solicitar à editora o do e professor Luís da Câmara vale ressaltar que foi alterada
acender o cigarro no na Lua. Quando os astro- Houve muitas críticas a res- retorno ao texto original Cascudo: era preciso colocar apenas a ortografia, conforme
mesmo fósforo, pois um nautas pisaram em solo lu- peito da inclusão de alguns cascudiano, de forma a di- em ordem os usos, costumes, determina o Vocabulário Or-
deles poderá morrer
nar, dizia, foi com o pé di- novos verbetes no trabalho rimir dúvidas sobre a ori- gestos, modismos, lendas, su- tográfico da Língua Portugue-
dentro de um ano. Nunca CRENDICES,
jogue um palito inteiro
reito. A gente se modifica, de Cascudo, o que levou a gem do que consta na obra. perstições, comidas, santos e sa (Volp). "Assim me conta-
SUPERSTIÇÕES E
fora: quebre-o primeiro. mas as crenças não. manter o Dicionário tal e qual A Global, em consonância tudo mais que envolvesse o ram, assim vos contei!", es- UMA PITADA DE SAL
Fósforo aceso e inútil na o autor deixou em vida. Por com a família Cascudo, imaginário e o culto popular creveu Cascudo, na nota da
Em que sentido? que tal decisão? prontamente acatou nossa (veja alguns dos verbetes da segunda edição, em 1959. Sal à porta de uma rival a obrigará a
mão atrai morte
Por exemplo, as pessoas A 11ª edição, revista e atua- sugestão e foi escolhida a obra en destaque) – isto lá E nada, desde então e nas deixar o namorado. Derramar sal na
mesa é agouro, assim como salgar o
carregam uma figa em for- lizada, suscitaram diversas última edição revista pelo pelos idos de 1939. edições seguintes, contou com
chão é condená-lo à improdutividade.
ma de um adereço chique, críticas por parte dos estu- autor, a de 1979, com a Mas aí entrou uma outra qualquer verbete sobre o fol- comer sal junto com uma pessoa fará
um olho grego. É uma “pro- diosos de Cascudo e da cul- base para a nova edição. parte da história: Cascudo iria clore que não tenha passado com que você a conheça de verdade
PISOU NO RABO DE teção”, mas, em alguns ca- tura popular. O motivo das contar com a ajuda de amigos, pelo crivo de Cascudo.
UM GATO? ESTE ANO sos, disfarçada de adereço. críticas foi o fato da inclusão Quantos verbetes o Dicioná- estudiosos e colaboradores de Para o antropólogo Alberto
VOCÊ NÃO CASA... No fundo, a gente precisa de novos verbetes no Di- rio registra? Norte a Sul do Brasil para dar Albergaria, não se deve deixar
acreditar em alguma coisa cionário, que não tinham O dicionário contém o es- forma a um bem-elaborado cair no esquecimento também
e pensar em se proteger. sido escritos pelo autor e pantoso número de 2.940 trabalho de referência sobre o estudiosos como a historiado-
verbetes, escritos e compi- folclore brasileiro, e o resul- ra baiana Hildegardes Vianna,
Sobre a nova edição do Di- lados por Câmara Cascudo, tado foi o lançamento, em cujo trabalho trouxe impor-
cionário, que curiosidades a em uma época onde toda 1954, da primeira edição do tante contribuição para a pre-
senhora tem conhecimento comunicação remota era Dicionário do Folclore Brasilei- servação da cultura folclorista
sobre a última edição, revista, O trabalho foi realizada por correspon- ro. “Não era possível fixar o da Bahia.“Ela era uma fonte
inclusive, por seu avô?
Esta nova edição do Dicio-
feito em uma dência, sem as facilidades
que a internet proporciona
Brasil inteiro no plano folcló-
rico, mas, nos limites do co-
viva que se preocupava em
pesquisar sobre os costumes, RIO DORMINDO,

Tem sete vidas, demora a


nário, que é a 12ª, foi to- época onde toda hoje em dia. nhecimento provinciano, re- crenças, tradições e folclore da
UMA ENTIDADE VIVA

talmente baseada na últi- gistrar o essencial, o caracte- Bahia”, opina o professor. Nas lendas dos sonos dos rios, há uma
morrer, resistente. Por isso,
quem mata um gato tem ma publicação revista pelo comunicação Quais regiões do País contêm rístico”, escreveu o autor, na sobre o São Francisco que diz: remeiro
quando acorda de noite, se sente sede,
sete anos de atraso também, meu avô, que é a de 1979,
da Melhoramentos. Nela,
remota era maior número de registros do
autor?
nota da primeira edição.
“Hoje, nenhum homem es-
não bebe água sem antes atirar um
e de infelicidades. E, ao
contrário do que dizem por ele ressalta muito bem sua realizada por É impossível citar uma re- creveria uma obra desta so- DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO /
pedacinho de pau dentro do rio, para
ver se o rio está correndo. Se estiver
preocupação com a citação gião do País. Isto deve-se ao zinho, mas a partir de uma
aí, gato preto traz felicidade
das fontes bibliográficas e correspondência, fato de um mesmo verbete, instituição que tenha uma
LUÍS DA CÂMARA CASCUDO dormindo, não pode ser acordado

de pesquisa em que se ba- sem as facilidades na maior parte das vezes, equipe multidiscplinar”, res-
Global / 776 páginas /
seou para construir esta conter informações sobre salta o professor Severino Vi-
obra monumental. Segun- da internet manifestações folclóricas e cente, presidente da Comissão R$ 98 /
do suas próprias palavras, suas variantes em diversos Rio-grandense-do-norte de globaleditora.com.br
E NO BALANÇO DAS "não permiti a imaginação estados e regiões do País. A Folclore e um estudioso de Câ-
HORAS...
suprir o documento". A im- preocupação maior do au- mara Cascudo.
portância disto é vital, prin- tor foi contemplar o Brasil,
cipalmente por se tratar de na sua totalidade, e realizar Resgate
uma ciência muito nova na A Global, em o que ele mesmo nos diz: Sobre o fato de muitos con-
época de lançamento da
obra (1954, 1ª edição), que
consonância com "Assim, de mão ao peito,
informo que encontrei no
siderarem o folclore algo ul-
trapassado, o professor Vicen- MAU-OLHADO OU
não era estudada com a se- a família Cascudo, povo do Brasil o material te dispara: "O que falta é co-
QUEBRANTO

riedade e o respeito que deste dicionário e todas as nhecimento. O folclore não


merecia.Sua maior preocu- prontamente coisas aqui registradas par- tem idade, presente e futuro e
Dizem que os meninos de poucos
meses e nos adultos de temperamento

Meio-dia e meia-noite são


pação foi citar as obras e as
informações dos maiores
acatou nossa ticipam indissoluvelmente
da existência normal do ho-
se configura como uma ciência
que atualiza o saber, o pensar,
sanguíneo e colérico é de maior perigo,
porque nestes estão mais patentes os
horas misteriosas para o
povo. São nessas horas que estudiosos brasileiros da sugestão e foi mem brasileiro". Feliz é o o sentir e o viver de um povo poros. A figa era aconselhada contra o
quebranto e ainda o é
cultura popular, tais como povo que tem uma obra co- no seu contexto social dife-
os anjos cantam hosanas a
Deus. Mas, se uma praga Leonardo Mota, Artur Ra- escolhida a última mo o Dicionário do Folclore renciado. Mas aquilo que é
for rogada nessa hora, mos, Afonso Arinos, Afrâ- edição revista Brasileiro, um verdadeiro moderno passa, e o folclore
tudo se sucederá nio Peixoto, Alceu May- atestado de sua identidade avança no tempo e no espa-
nard, dentre outros. pelo autor cultural. ço“, considera.

COMO SE DAVA A
INICIAÇÃO NO COMEÇO NO TEMPO EM O MAR, UMA UM COSTUME OVO, O MAIS OS TABUS DA
EM NOITE DE SÃO
DO SÉCULO 20 QUE O LENÇO ENTIDADE CHEIA ANTIGO SOBRE EXPRESSIVO SÍMBOLO GRAVIDEZ E DO
JOÃO, EXPERIMENTE...
TINHA HISTÓRIA DE MISTÉRIOS O NOME DA FERTILIDADE PARTO
Até a primeira década do século 20, os ...colocar duas agulhas em bacia Não dê lenço de presente, pois chama Em embarcação que se possa tocar a Segundo a tradição católica, Superstições sobre o ovo estão A mulher grávida não deveria colocar
rapazes tinham de pedir permissão dágua. Se elas se juntarem, lágrimas. E a pessoa presenteada deve dar água com a mão, não se deve cantar deve-se respeitar um morto, ligadas ao espírito da fecundidade. objeto sobre o seio, porque o filho o
aos pais para fazer a primeira barba. casamento à vista. Encha a boca outro presente de imediato. Uma depois de o sol desaparecer. Quem nunca pronunciar seu nome de Para bater ovos, é preciso ter mão trará impresso na carne. Chave faria a
Na primeira menstruação, a moça não de água e fique atrás da porta da recém-casada deveria morder o lenço numa estiver no mar nadando, não deve dizer batismo, para não interromper boa, felicidade. Marcar ovo com criança ter lábio leporino. Grávida não
poderia atravessar lugar de água rua: o primeiro nome que ouvir extremidade antes de usá-lo para não esfriar "Jesus, Maria e José", pois o mar se seu repouso, mas apenas dizer: uma cruz ele não gora, e tira dele deve olhar para escamas de peixes,
corrente, nem provar fruta ácida será o seu futuro noivo ou noiva as relações com quem a presenteara irrita porque não foi batizado e é pagão o defunto, o finado, o falecido galinha e não galo porque não será feliz no resguardo

FONTE: Dicionário do Folclore Brasileiro com textos de Regina de Sá Arte Lorena Morais Editoria de Arte A TARDE

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