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Exu é um Orixá de múltiplos e contraditórios aspectos, o que torna difícil difini-lo de

maneira coerente. Com caráter irascível, gosta de suscitar dissensões e disputas,


de provocar acidentes e calamidades, públicos e privados. É astucioso, grosseiro,
vaidoso, indecente, a tal ponto que os primeiros missionários, assustados com estas
características, assimilaram-no ao diabo, dele fazendo o símbolo de tudo o que é
maldade, perversidade, abjeção, ódio, em oposição à bondade, à pureza, à elevação
e ao amor de Deus.

Entretanto, ele possui o seu lado bom e seu Exu é tratado com consideração reage
favoravelmente, mostrando-se serviçal e prestativo. Se, pelo contrário, as pessoas
se esquecem de lhe oferecer sacrifícios e oferendas, podem esperar todas as
catástrofes. Exu revela-se, talvez, desta maneira, o mais humanos dos Orixás, nem
completamente meu, nem completamente com.

Ele tem suas qualidades além de seus defeitos, pois é dinâmico e jovial,
constituindo-se, assim, em Orixá protetor, havendo mesmo pessoas que usam,
orgulhosamente, na África, nomes tais como Exubiyi ("concebido por Exú") ou
Exutosin ("Exu merece ser adorado").

Como personagem histórico, Exu teria sido um dos companheiros de Odudúa


quando da sua chegada a Ifé, e chamava-se Exu Obassin. Tornou-se, mais tarde, um
dos assistentes de Orunmilá que preside a adivinhação pelo sistema de Ifá.

Segundo Epegá, Exu tornou-se rei de Ketu sob o nome de Exu Alaketu. É Exu que
supervisiona as atividades do mercado do rei em cada cidade: o de Oyo é chamado
Exu Akessan. No Brasil, dentre as variadas denominações recebidas por Exu,
figuram estes dois últimos nomes.

Ele é o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas.

Serve como intermediário entre o Outro-Mundo e o mundo dos vivos, exercendo


também as funções de mensageiros entre os homens e os deuses. É por este
motivo que nada pode ser feito sem ele, e para Exu, antes que para qualquer outro
Orixá, é que devem ser levadas as primeiras oferendas.

No Brasil, Exu foi sincretizado com o Diabo. Não inspira, porém, grande terror pois
sabe-se que quando tratado convenientemente, ele trabalha para o be, quer dizer,
pode ser enviado para fazer o mal às pessoas más ou àquelas que nos prejudicam
ou, ainda, aquelas que nos causam ressentimentos.

Chamam-no, familiarmente, o Compadre ou o Homem das Encruzilhadas, pois é


nestes lugares que se depositam, de preferência, as oferendas que lhe são
destinadas.

Poucas pessoas lhe são abertamente consagradas em razão deste suposto


sincretismo com o Diabo. A tendência, logo que ele se manifesta, é de acalmá-lo, de
fixá-lo, oferecendo lhe sacrifícios e procedendo a iniciação da pessoa interessada
em proveito de seu irmão Ogun, com o qual Exu divide um caráter violento e
arrebatado. O local consagrado a Exu é geralmente ar livre, ou no interior de uma
pequena choupana isolada ou, ainda, atrás da porta da casa. É simbolizado por um
tridente de ferro, plantado sobre um montículo de terra e, algumas vezes, por
estatueta, igualmente de ferro, representando o Diabo brandindo o tridente.
A segunda-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. As pessoas que procuram
a sua proteção usam colares preto e branco. As oferendas são constituídas por
bodes e galos, pretos de preferência, e por pratos de comidas feitos no azeite de
dendê. Não se deve jamais lhe oferecer um certo tipo de azeite, o Adí, extraído dos
caroços e não da polpa do dendê.

Este Adí tem a fama de ser portador de violência e de cólera. Um excelente meio de
se vingar vantajosamente de um inimigo, consistiria, diz-se, em derramar sobre a
estátua de Exu o Adí, de preferência fervendo, declarando-se, em alta voz, que esta
oferenda é feita à pedido da pessoa a quem se deseja prejudicar. Exu não deixaria
de lhe pregar uma peça.

Existem, na Bahia, vinte e um Exus, segundo uns, e sete, segundo outros. alguns
desses nomes podem passar por apelidos, outros parecem ser letras dos cânticos
ou fórmulas de louvores. Eis aqui alguns: Exu-Elegba ou Exu-Elegbará, assim como
Exu-Bará ou Exu-Ibará ( cujo nome deriva-se, talvez, do precedente) Exu-Alaketu,
Exu-Laalu, Exu-Jelu, Exu-Lonã, Exu-Akessan, Exu-Agbô, Exu-Larôye, Exu-Inan, Exu-
Odara, Exu-Tiriri.

Exu teve numerosas brigas com os outros Orixás, nem sempre saindo vencedor.
Certas lendas nos contam seus sucessos e seus revezes nas relações com Oxalá, ao
qual fez passar alguns maus momentos. Com intenções de se vingar, por não haver
recebido certas oferendas, quando Oxalá foi enviado por Olodumaré, o Deus
Supremo, para criar o mundo, Exu o incitou a beber o vinho de palma em excesso,
daí resultando, como veremos, tristes conseqüências. Foi Exu, ainda, que entornou
malicioasamente o conteúdo da barris de azeite de dendê sobre o Oxalá. Por outro
lado, segundo outras lendas, Oxalá provou a sua superioridade durante um
combate de múltiplas peripécias, numa disputa entre Exu e o Grande Orixá, para
saber qual dos dois seria o mais antigo e, conseqüentemente, o mais respeitável.
No decurso de uma competição, da mesma natureza, entre Exu e Obaluayé, foi este
último que saiu igualmente vencedor.

O lado malfazejo de Exu é o posto em evidência nas histórias seguintes:

Uma delas, bastante conhecida, da qual existem numerosas variantes, conta como
ele semeou discórdia entre dois amigos que estavam trabalhando em campos
vizinhos. Ele colocou um boné vermelho de um lado e branco do outro, e passou ao
longo de um caminho que separava os dois campos. Ao fim de alguns instantes, um
dos amigos fez alusão a um homem de boné vermelho; o outro retrucou que o boné
era branco e o primeiro voltou a insistir, mantendo a sua afirmação; o segundo
permaneceu firme na retificação. Como ambos eram de boa fé, fixaram seus pontos
de vista, sustentando-os com ardor e, logo depois, com cólera. Acabaram lutando
corpo a corpo e mataram-se um ao outro.

Uma outra lenda mostra Exu mais maquiavélico ainda. Ele foi procurar uma rainha
abandonada, já há algum tempo por seu marido e lhe disse: "Traga-me alguns fios
da barba do rei e corte-os com esta faca. Eu lhe farei um amuleto que lhe trará de
volta o seu marido". Em seguida, Exú foi à casa do filho da rainha que era o príncipe
herdeiro. Esse vivia em uma residência situada fora dos limites do palácio do rei. O
costume assim o determinava a fim de prevenir toda tentativa de assassinato de
um soberano por um príncipe impaciente por subir ao trono. "O rei vai partir para a
guerra, disse-lhe ele, e pede seu comparecimento essa noite no palácio,
acompanhados por seus guerreiros". Finalmente, Exú foi ao rei e disse-lhe:"A
Rainha, magoada com a sua frieza, deseja lhe matar-lhe para se vingar. Cuidado
esta noite". E a noite veio. O rei deitou-se, fingiu dormir e viu, logo depois, a rainha
aproximar uma faca de sua garganta. O que ela queria era arrancar um pouco da
barba do rei, mas ele julgou que ela queria assassiná-lo, o rei desarmou-a e ambos
lutaram fazendo grande barulho. O príncipe, que chegava ao palácio com seus
guerreiros, escutou gritos nos aposentos do rei e correu até lá. Vendo o rei com uma
faca nas mãos, pensou que ele queria matar sua mãe. Por seu lado, o rei, ao ver seu
filho penetrar nos seus aposentos , no meio da noite, armado e seguido por seus
guerreiros, acreditou que ele desejava assassinar-lhe. Gritou por socorro, a sua
guarda acudiu e, houve então, uma grande luta, seguida de massacre generalizado.

Uma história mais simples mostra a atividade de Exú na vida cotidiana: "Uma
mulher está no mercado vendendo os seus produtos, Exú põe fogo na sua casa, ela
corre para lá, abandonando seus negócios no local. A mulher chega tarde, a casa
está queimada e, durante esse tempo, um ladrão levou sua mercadorias".Nada
disto teria acontecido - nem os amigos teriam brigado, nem o rei e o príncipe teriam
sido massacrados, nem a mercadoria teria ficado arruinada se tivessem feito a Exú
as oferendas e os sacrifícios usuais.

O arquétipo de Exú era muito comum em nossa sociedade, onde proliferam pessoas
com caráter ambivalente, ao mesmo tempo, boas e más, porém com inclinações
para a maldade, o desatino, a obscenidade, a depravação e a corrupção. Pessoas
que tem a arte de inspirar confiança e dela abusar, mas que apresentam, em
contrapartida, a faculdade de inteligente compreensão dos problemas dos outros e
a de dar poderosos conselhos, com tanto zelo que esperam recompensa. As
cogitações intelectuais enganadoras e as intrigas políticas lhe convém
particularmente e são para elas garantia certa de sucesso na vida.

HISTÓRIA DO MODO COMO EXU SE TORNOU O DECANO DE TODOS OS ORIXÁ.

A história do modo como Exu tomou a primazia das mãos de todos os orixás e
embora que até então eram seus mais velhos quando exu tentava apodera-se do
comando, foi consulta ifá (para saber) como esse pensamento poderia se tornar
realidade e o que poderia ser feito para que esse pensamento se materializasse ele
foi consultar o oráculo dos seguintes Babaláwo: bater-se desesperadamente não faz
a anciedade a quem Olorun cria como senhor é aquele que chamamos de Pai na
terra. Bater-se desesperadamente não faz a anciedade a quem Olorun cria como
senhor é aquele que chamamos de Pai no espaço do orun. Todos eles jogaram ifá
para Exu Odara, no dia em que ele foi procura o senhorio sobre os dezesseis
Irúnmàlè, quando obteve a primazia sobre os dezesseis Irúnmàlè do mundo.
Disseram, Você exu, disseram, você deve ofereçe um sacrífico, disseram, o sacríficio
que você fará disseram, seria afim de que aquilo que você pensa venha a ser
verdade. Exu perguntou o que deveria oferece em sacrífico Eles disseram: três
pernas-de-papagaio-vermelho, ekódide, três galos de cristas “bem maduras”.
Disseram que deveria adicionar quinze centavos e azeite de dendê e fazer uma
oferenda de palmas recém-brotadas, màrìwò. Exu fez a oferenda a todos os
Babaláwo. Depois que fez a oferenda, eles dessidiram lhe dar uma perna de
papagaio vermelho.

Disseram para levá-la sobre ele mesmo todo o tempo. Disseram para não se servir
de sua cabeca para transportar nenhum carrego, disseram não antes de três meses.
Então Exu se preparou: apanhou sua única perna-de-papagaio-vermelho, ekódide, e
a colocou na cabeça. Quando Exu estava para partir, Olódùmarè teve um
pensamento a partir da mensagem transmitida pela oferenda. Olódùmarè teve
então essa idéia: gostaria de conhecer aquele que estivesse dando o melhor de si,
zelando pelo bom andamento do mundo, entre todos os orixás e os ebora que ele
tinha criado. Ele disse então que todos deveriam vir a fim de lhes perguntar até que
ponto estavam adminstrando os assuntos da terra. Quando ele lhes pediu que
viessem, cada um preparou as coisas com as quais adoraria Olódùmarè. Eles as
arrumaram em pequenos carregos. Quando arrumaram todos esses carregos, todos
se reuniram, Orixála e Olófin e Ògúm, Ifa, Òxôssì, Sónikéré, Obagèdè, Obalufòn, Ifa,
Orixaoko, Yemánja. Todos incluindo Oxum e os outros que se estavam preparando
paras ficar prontos para partir em direção ao espaço aberto do Orun. Partiram em
viagem, em fila “um atrás do outro”. Quando Exu se pois a caminho, se perguntou,
se foçasse a carregar qualquer coisa agora, bem, será que a oferenda que estava
de ser feita para que ele, bem será que tudo não ficária tudo inutilizado?

Para isso, se lhe fizessem perguntas, saberia o que dizer: que era uma propriciação
que tinha sido feita para que ele e que não deveria levar carrego naquele momento.

Depois Exu apanhou sua perna-de-papagaio-vermelho, ekódide e a colocou na


cabeça. Ele não colocou nenhum gorro. Todos os orixás, os que tinham colocado um
gorro, os que tinham colocado coroa, os que tinham colocado chapéus, os que
também levavam carrego, os que também levavam seus embrulhos na mão, mas
Exu não levava nada e não colocou o gorro nem carregava algum pacote; assim iam
todos eles. Quando alcançaram os espaço de Olódùmarè foram e colocaram-se em
sua direção; quando estavam assim, foi ele próprio que lhes apareceu. Depois que
Olódùmarè os fitou por um bom espaço de tempo, não lhe fez nenhuma pergunta
sobre a maneira como se tinha conduzido na Terra, porque Olódùmarè e
Olúmonokòn, aquele que conhece os corações. Fitando-os assim, disse, todos
vocfês que estão lá em pé, e disse, a pessoa que carregou ekódide na cabeça,
disse, que deveriam fá-lo aproxima-se. Assim que ele veio ele disse, você veio
revelar isto: você é aquele que reuniu todos os habitantes da Terra e esteve fazendo
trabalho para eles, disse, é pôr isso que você colocou o ekódide, em sua cabeça. Ele
disse, os outros orixás trouxeram carregos atrás de você, disse, você é aquele que
conduziu até aqui. Exu não disse nada. “Assim veja”, disse Exu.

Nesse dia Olódùmarè disse a todos, numa resposta pronunciada num tom sem
réplica: “quando vocês chegarem a seus lugares de morada, para onde retornarão,
tudo o que deve fazer, aquele que foi seu líder, que carregou o emblema Egán em
sua cabeça, é a quem você deve procura e falar. Ele deverá trazer-me todas as
sugestões de vocês, porque hoje vocês mostraram que aquele que os guiou para
que pudessem submeter-me suas sugestões. Antes de as pôr em execução, é ele.
“É pôr isso Ele viu Egán em sua cabeça. E ninguém discutiu. Es como Exu veio a
conduzi-los todos devota a terra nesse particular momento. A canção que eles
cantaram nesse dias, no caminho de volta, dizia:

Èxú não levou carregou de homenagem e submissão,

Exú não levou carregou de homenagem e submissão;

(porque) Egán Vermelho erguia-se destacando-se em sua cabeça;

Exú não podia levar carrego de homenagem e submissão.

Assim, Exú retornou à Terra; quando chegou à Terra, Ele disse então que daria uma
festa comemorativa porque Olódùmarè lhe tinha dado poder e status conhecidos de
todos os Òrixá; aqueles que ignorassem a autoridade de Exú, Exú faria com eles
como a corda dobra o arco e como Àrìnàkò se abate sobre o caracol. E Exú festejou
o alegre acontecimento entre os quatrocentos Irúnmàlè do lado direto e os duzentos
malè do lado esquerdo.

Pôr essa razão, todos os Orixá começaram a imitar seu costume colocando a pena
ekódide como emblema de axé durante seus ritos de celebração anual ou como
emblema de sacrifício cada vez que eram realizados. É pôr isso que a pena ekódide,
se tornou um preceito tradicional para todos eles. Essa pena-de-papagaio-vermelho,
Exú foi o primeiro a levá-la aos vastos espaços do òrun de acordo com que ele havia
escutado dos babaláwo que tinham consultado o oráculo Ifá para ele, sobre a
maneira como apossar-se do senhorio. É pôr isso que essa pena-de-papagaio-
vermelho foi chamada Egán. Cada vez que se quer iniciar alguém no culto de Ifá até
hoje, coloca-se esse Egán na cabeça dessa pessoa, onde for iniciado, e ela não deve
colocar carrego sobre sua cabeça durante sete dias, depois dos quais ela pode
retirar esse Egán. Este é o axé de Exú cujo poder lhe foi dado pôr Olódùmarè,
quando ele se serviu disso para conquistar o senhorio sobre todos os orixá. É pôr
isso que o colocar um ekódide na cabeça leva o nome de Egán.

Nenhuma pessoa deve colocar a pena para brincar; até hoje, se alguém o coloca em
sua cabeça para brincar se permanecer algum tempo, essa pessoa provoca a
cólera de Exú.

Salvo se essa pessoa se serviu disso quando de um oferenda dirigida aos Irúnmàlè
ou ao Orixás, se é para isso que ele o colocou em sua cabeça. Só pôr essa razão é
que ela pode não provocar a cólera de Exú. Essa pena-de-papagaio-vermelho foi
utilizada pôr Exú para tomar a soberania das mãos de todos os Orixá naquele
tempo.

Ele começou então a elogiar os sacerdotes de Ifá.

Eles lhe agradecia sinceramente, - Bater-se desesperadamente não faz a


ancianidade, a quem Olórun cria como um Sênior é aquele que chamamos Pai na
Terra; aquele a quem Olórun cria o sênior é aquele que chamamos Pai do Orun.
Esses foram os sacerdotes que consultaram Ifá para Exú Odàrà quando ele queria
tomar o senhorio das mãos dos dezesseis Irúnmàlè, dos quatrocentos Irúnmàlè da
direta e dos duzentos malè da esquerda. Exú Odara é aquele, quando vocês se
levantam, ao qual é preciso fazer apelo para que ele lhes providencie o alimento.
Exú Odàrà!

É ele, quando vocês se levantam, ao qual é preciso fazer apelo para que ele lhes
providencie a bebida. Exú Odàrà!

É aquele que guiou todos os Irúnmàlè de retorno à Terra. Eis como Exú ganhou a
soberania daquele tempo até agora. Não existe ninguém que coma ou esteja
instalado com realeza, sem que haja recorrido a Exú primeiro.

Então as pessoas disseram: demos a Exú o que lhe é de direito para não causar seu
descontentamento de maneira a que o que desejamos fazer chegue ao bom termo.
Então Exú tornou-se o asiwájú, aquele que vai à frente de todas as pessoas da
Terra, pela Segunda vez. É assim que Òsetùá conta essa história sobre Exú.

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Ogun

Ogun é na África, em país Yorubá, o deus do ferro, dos ferreiros e de todos aqueles
que utilizam este metal: agricultores, caçadores, açougueiros, barbeiros,
marceneiros, carpinteiros, escultores de madeira. Desde o início do século, os
mecânicos, os motoristas de automóveis ou de trens, os reparadores de velocípedes
e de máquinas de costura vieram se juntar ao grupo de seus fiéis.

No Brasil, Ogun é sobretudo conhecido como Deus dos Guerreiros. Perdeu sua
posição de protetor dos agricultores, pois os escravos, nos séculos anteriores não
possuíam interesse pessoal na abundância e na qualidade das colheitas e, sendo
assim, não procuravam sua proteção nesse domínio. Como deus dos caçadores ele
foi substituído por Oxossi cujo culto era muito popular em Ketu, local de origem dos
escravos libertos que criaram os primeiros candomblés da Bahia.
No Brasil, Ogun é uma única divindade, tendo, porém, sete nomes: 1. Ogun Mejê; 2.
Ogun Alagmedé; 3. Ogun Onirê; 4, Ogun Alakorô; 5. Ogunjá; 6. Ogun Ominí, 7. Ogun
Wari.

O nome Ogun Mejê teria a sua origem na frase em Yorubá Ogun Mejê Mejê Lodê Iré
(Ogun está nas sete partes do Iré"), alusão a sete vilarejos, hoje desaparecidos, que
teriam existido em volta de Iré. Este número sete, que lhe é associado, é
representado nos locais que lhe são consagrados por instrumentos de ferro forjado,
em número de sete, quatorze ou vinte e um, alinhados todos sobre uma haste de
ferro: lança, espada, enxadas, torquês, facão, ponta de flecha, enxó, símbolos de
suas atividades guerreiras, agrícolas, de ferreiro, de caçador, de escultor, etc.

A origem deste número sete. ligado a Ogun, e do número nove em relação a Oyá-
Yansã nos é relatada por uma lenda onde Oyá era a companheira de Ogun Alagbedê
(2.º da lista) - Ogun o ferreiro - antes de se tornar mulher de Xangô Ela ajudava
Ogun no seu trabalho, levava docilmente suas ferramentas da casa para a oficina e,
lá, ela manejava o fole para ativar o fogo da forja. Um dia, Ogun ofereceu a Oyá
uma vara de ferro, parecida com uma de sua propriedade, e que tinha o dom de
dividir em sete partes os homens e em nove as mulheres quepor ela fossem
tocados, no decorrer de uma luta. Xangô gostava de vir sentar-se à forja a fimde
apreciar Ogun bater o ferro e, freqüentemente, lançava olhares a Oyá; esta, por seu
lado, furtivamente o olhava. Xangô era muito elegante, muito elegante mesmo,
afirma o contador da história. Sua imponência e seu poder impressionaram Oyá e,
um belo dia, ela fugiu com ele. Ogun lançou-se a sua perseguição, encontrou os
fugitivos e brandiu sua vara mágica. Oyá fez o mesmo e eles se tocaram ao mesmo
tempo. E, assim, Ogun foi dividido em sete partes e Oyá em nove, recebendo ele o
nome de Ogun Mejê (1.º da lista).

Ogun teria sido o filho mais velho de Odudúa, o fundador de Ifé. Era um temível
guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos. Guerreou contra a
cidade de Ará e destruiu. Apossou-se drrra cidade de Iré, matou o rei, aí instalou seu
próprio filho no trono e regressou glorioso, usando ele mesmo o título de Oniré, rei
do Iré, sendo chamado Ogun Oniré (3.º da lista).

Por razões que ignoramos, ogun nunca teve direito de usar uma coroa, Ade, feita co
pequenas contas de vidro e ornada por franjas de missangas, dissimulando o rosto,
emblema de realeza par os Yorubás. Foi autorizado a usar, apenas, um simples
diadema, chamado Akorô, e isto lhe valeu ser saudado como Ogun Alakorô (4.º da
lista). Ogun decidiu, após numerosos anos ausente de Irê, voltar para visitar seu
filho. Infelizmente as pessoas da cidade, celebravam, no dia de sua chegada, uma
cerimônia durante a qual os participantes não podiam falar, sobre pretexto algum.
Ogun tinha fome e sede. Descobriu alguns potes destinados a vinho de palma, mas
ignorava que estivessem vazios. Ninguém o havia saudado ou respondido às suas
perguntas. Ele não reconhecia o local por ter ficado ausente durante muito tempo.

Ogun, cuja paciência é pequena, enfureceu-se com o silêncio geral, para ele
considerado ofensivo. Começou a quebrar, com golpes de sabre, os potes e, logo
depois, sem poder se conter, começou a cortar a cabeça das pessoas mais
próximas, até que seu filho apareceu, oferecendo-lhe as suas comidas prediletas,
tais como cães e caramujos, feijões regados com azeite de dendê e potes de vinho
de palma. Enquanto saciava a sua fome e a sua sede, os habitantes de Iré
cantavam louvores onde não faltava a menção a Ogunjajá, que vem da frase Ogun
je ajá - "Ogun come cachorro"- oque lhe valeu o nome de Ogunjá ( 5.º nome da
lista). Satisfeito e calmo, Ogun lamentou seus atos de violência e declarou que já
vivera bastante. Baixou a ponta de seu sabre em direção ao chão e desapareceu
pela terra a dentro, transformando-se em Orixá.
No Brasil, as pessoas consagradas a Ogun usam colares de conta de vidro azul-
escuro e, algumas vezes, verde. Terça-feira é o dia da semana que lhe é
consagrado. Seu nome é sempre mencionado, por ocasião de sacrifícios dedicados
aos diversos Orixás, no momento em que a cabeça do animal é decepada com uma
faca - da qual ele é o senhor - e o sangue começa a escorrer. É o primeiro, também,
a ser saudado depois de Exú, devidamente cumprimentado, é despachado. No
momento da entrada dos Orixás manifestados e vestidos com suas roupas
simbólicas, é sempre Ogun que desfila na frente, "abrindo o caminho" para os
outros Orixás.

Esta primazia foi, no entanto, contestada por Obaluayé e Nanan Buruku que, como
veremos mais tarde, se insurgiram contra ela e, para provar sua maior antiguidade
de vinda ao mundo, se recusaram a utilizar facas de ferro forjado por Ogun,
este"recém-chegado" !!! Ogun é também representado por franjas de folhas de
dendezeiro, devidamente desfiadas, chamadas Mariwó. Era, segundo se diz, a roupa
por ele usada, em outros tempos, quando a tecelagem ainda não tinha sido
inventada.
Estes Mareiwós, pendurados em cima da porta e das janelas de uma casa, ou na
entrada dos caminhos, representam proteções e barreiras contra as más
influências.

Na África, os locais consagrados a Ogun ficam ao ar livre, na entrada dos palácios


dos reis e nos mercados. São geralmente pedras em forma de bigorna colocadas
sob uma grande árvore, Araba, ( Ceiba Pentandra) e protegidas por uma cerca de
nativos, Peregún (Draceana fragans) ou de Akoko (Newboldia laevis). Nestes locais,
periodicamente, realizam-se sacrifícios de cachorros e de galos.

O culto de Ogun é bastante difundido no conjunto dos territórios onde se fala o


Yorubá e ultrapassa as fronteiras dos países vizinhos, Gegês, no Daomé e no Togo,
onde é chamado de Gun. Em todos estes países, Ogun-Gun é respeitado e temido.
Tomá-lo como testemunha, no decorrer de uma discussão, tocando com a ponta da
língua a lâmina de uma faca, ou um objeto de ferro, é sinal de sinceridade absoluta.
Um juramento feito, evocando-se o nome de Ogun, é mais solene e digno de fé que
se possa imaginar, comparável àquele que faria um cristão sobre a Bíblia ou um
muçulmano sobre o Corão.

A vida amorosa desse Orixá caracteriza-se pela instabilidade. Ogun foi o primeiro
madiro de Oyá-Yansã, aquela que se tornaria, mais tarde, mulher de Xangô. Teve,
também, relações com Oxun antes que ela fosse viver com Oxossi e com Xangô. E,
também, com Obá, a terceira mulher de Xangô. Teve numerosas aventuras galantes
quando partia para as guerras, tornando-se, assim, o pai de diversos outros Orixás,
como Oxossi e Oranmiyan.

Oranmiyan, ao que se diz, fora concebido em condições muito particulares,


dificilmente aceitas por um geneticista, pois teria tido dois pais ao mesmo tempo...
De acordo com a lenda, Ogun, no decorrer de suas expedições guerreiras,
conquistou a cidade de Ogotum, saqueou-a, dela retirando valiosos despojos. Uma
prisioneira de rara beleza, Lakanjé, agradou-o ele não respeitou a sua virtude. Mais
tarde, quando a mesma mulher foi vista por Odudúa ( pai de Ogun) este mostrou-se
igualmente perturbado, desejou possuí-la, tornando a finalmente como uma de suas
mulheres.
Ogun, amedrontado, não revelou a seu pai o que havia se passado entre ele e a
bela prisioneira. Nove mês mais tarde, Oranmiyan vinha ao mundo . Seu corpo,
entretanto, estava dividido verticalmente em duas dores: marrom de um lado, pois
Ogun possuía a cor escura, e amarelo do outro, como Ododúa, que era bastante
claro de pele.
Oranmiyan tornou-se um temido guerreiro, estabeleceu aliança com Elempe, rei do
país Tapa-Nupé, casando-se com sua filha Torossí. Desta união nasceu Xangô, do
qual falaremos mais tarde. Oranmiyan fundou o reino de Oyo, onde colocou sobre o
trono Dada-Ajaka, seu filho mais velho, concebido com outra mulher; instalou seu
terceiro filho, Eweka, como rei de Benin e tornou-se, ele próprio, Oni, rei de Ifé,
depois da morte de Ododúa.

As saudações, Oriki, festa a Ogun na África demonstram seu caráter aterrador e


violento:
Ogun que tendo água em casa, se lava com sangue.

Os prazeres de Ogun são os combates e as lutas.

Ogun come cachorro e bebe vinho de palma.

Ogun, o violento guerreiro.

O homem louco com músculos de aço.

o terrível Ebora que se morde a si próprio sem piedade.

Ogun que come vermes sem vomitar.

Ele mata o marido no fogo e a mulher à beira do fogareiro.

Ele mata tanto o ladrão como o proprietário da coisa roubada.

Ele mata tanto o proprietário da coisa roubada como aquele que critica esta ação.

O arquétipo de Ogun é o das pessoas violentas, brigonas e impulsivas, incapazes de


perdoarem as ofensas de que foram vítimas. Das pessoas que perseguem
energicamente seus objetivos e não se desencorajam facilmente. Daquelas que nos
momentos difíceis triunfam onde qualquer outro teria abandonado o combate e
perdido toda esperança. Das que possuem humor mutável, passando furiosos
acessos da raiva ao mais tranqüilo dos comportamentos. Finalmente, é o arquétipo
das pessoas impetuosas e arrogantes, daquelas que se arriscam a melindrar os
outros por uma certa falta de discrição quando lhe prestam serviços, mas que,
devido à sinceridade e franqueza de suas intenções, tornam-se difíceis de serem
odiadas.

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Oxossi, deus dos caçadores, seria irmão mais jovem ou filho de Ogun. Seu culto
encontra-se quase extinto na África, nos países de língua Yorubá, no entanto é
muito difundido no Novo Mundo, tanto no Brasil quanto em Cuba. Isto explica-se,
talvez, pelo fato de Kétu, na África, haver sido completamente destruído e saqueado
pelas tropas do rei Daomé, no século passado, sendo os seus habitantes vendidos
como escravos para o Brasil e para a Cuba,inclusive os iniciados no Culto de Oxossi,
chegou-se a tal ponto que, embora existindo ainda, em Kétu, os locais onde Oxossi
recebia outrora oferendas e sacrifícios, já não existem, atualmente, pessoas que
saibam ou desejam cultuá-lo.

No Brasil, seus numerosos iniciados usam colares de cor verde ou azul claro quinta-
feira é o dia da semana que lhe é consagrado; Oxossi tem como o símbolo, tanto na
África como no Brasil, um arco e flecha de ferro batido; sacrificam-lhe porcos e são-
lhe oferecidos pratos de Axoxo, milho fervido, servido com pedaços da polpa de
coco. Oxossi é sincretizado na Bahia com São Jorge e, no rio de Janeiro, com São
Sebastião. No decorrer das cerimônias públicas do Xiré dos Orixás, ele segura em
uma das mãos o arco e a flecha, seus símbolos, e tem na outra um Erukerê,
espanta-moscas, insígnia de dignidade dos reis da África e que lembra e ter sido ele
so rei de Kétu. Suas danças imitam a caça, a perseguição do animal e o arremesso
da flecha. É sau dado com o grito Oké

A importância de Oxossi devi-se, na África, a diversos fatores:

O primeiro, era descoberta, no decorrer de suas expedições, de local favorável ao


estabelecimento de uma roça ou de um vilarejo. Tornava-se, assim, o primeiro
ocupante do lugar e senhor da terra, Onilé, com autoridade sobre os habitantes que
aí viessem a se instalar posteriormente.

O terceiro, de ordem administrativa e policial pois, outrora, os caçadores, Odés,


eram os únicos a possuir armas nos vilarejos, servindo também como guardas
noturnos, Oxós.

Uma lenda explica a origem do nome de Oxossi:

"Olofin Odudúa, rei de Ifé, celebrava a festa dos novos inhames, esquecendo-se,
porém, de fazer uma oferenda às feiticeiras. Havia grande multidão no pátio do
Palácio Real.

Olofin estava sentado em grande estilo, magnificamente vestido, cercado de suas


mulheres e de seus ministros, enquanto que escravos o abanavam e espantavam
moscas, tambores batiam e louvores eram entoados em sua honra. Os convivas
conversavam alegremente, e felizes festejavam o vento, comendo os inhames
novos e bebendo vinho de palma. Subitamente, um pássaro gigantesco planou
sobre a multidão, indo se empoleirar sobre o teto do prédio central do Palácio do
Rei. Este pássaro malvado era mandado pelas feiticeiras, chamadas Eleyés,
proprietárias de pássaros utilizados na realização de nefastos trabalhos. No Palácio
reinava a confusão e o desespero. Foram procurados, sucessivamente, quatro Oxós,
caçadores guardiães da noite, chamados respectivamente de Oxotôgun, o atirador
de vinte flechas, Oxotoji, o atirador de quarenta flechas, Oxatadotá, o atirador de
cinqüenta flechas e Oxótakanxox, o atirador de uma única flecha. Nenhum dos três
primeiros - todos muitos seguros de si mesmo um pouco fanfarrões - conseguiu
atingir o pássaro, apesar de possuírem, todos eles, grande habilidade. O pássaro, de
proporções gigantescas, era protegido pelo poder das feiticeiras.

Quando chegou a vez de Oxótakanxoxo sua mãe foi consultar um Babalaô que lhe
declarou o seguinte: "Seu filho está somente a um passo, seja da morte, seja da
riqueza. Faça uma oferenda e a morte se transforma em riqueza".

Ela foi depositar, então, na estrada, uma galinha que havia sido sacrificada,
cortando-lhe e abrindo-lhe o peito, pois essa foi a boa maneira de se fazer uma
oferenda às feiticeiras. A mãe de Oxátakanxoxô pronunciou três vezes um
encantamento: "Que o peito do pássaro aceite esta oferenda!!!" Era o momento
preciso em que seu filho lançava sua única flecha. O pássaro deixara relaxar,
exatamente agora, o seu poder protetor, o qual teria impedido a oferenda de
chegar ao seu peito e, assim, a flecha de Oxátakanxoxô o atingiu em cheio. Ele caiu
pesadamente ao chão e morreu. Todo mundo se pôs a cantar e a dançar:

"Oxowusi! Oxo é popular! Oxowusi! Oxo é popular!"

Com o passar do tempo, Oxowusi transformela ou-se em Oxossi.


Conta-se no Brasil, que Oxossi era irmão de Ogun e de Exú, todos três filhos de
Yemanjá. Exú, por ser indisciplinado e insolente com sua mãe, foi por mandado
embora.

Os outros dois filhos se conduziam melhor. Ogun trabalhava no campo e Oxossi


caçava nas florestas vizinhas. A casa encontrava-se, assim, abastecida de produtos
agrícolas e de caça. Yemanjá, no entanto, andava inquieta e resolveu consultar um
Babalaô. Este aconselhou não mais deixar Oxossi ir à caça, pois se arriscava a
encontrar Osanyin, aquele que possuía o conhecimento das virtudes das plantas e
que vivia nas profundezas da floresta. Oxossi ficaria exposto, assim, a um feitiço de
Ossanyin para obrigá-lo a permanecer em sua companhia.

Em vista disto, Yemanjá ordenou ao filho que renunciasse às suas atividades de


caçador. Este, porém, de personalidade independente, continuou as suas incursões
à floresta. Partia em companhia de outros caçadores que tinham o hábito de, ao
chegarem aopé de uma grande árvore, Iroko (Chlorophora excelsa), se separarem,
indo à caça isoladamente, para se encontrarem, no final do dia, no mesmo local.
Certa noite, Oxossi não voltou ao local do encontro, nem respondeu aos apelos dos
outros caçadores. Ele tinha encontrado Ossanyin que o convidou à beber uma
poção onde certas folhas tinham sido maceradas, caindo assim em estado de
amnésia. Não sabia mais quem era nem onde morava. Ficou, pois, vivendo em
companhia de ossanyin, como havia previsto o Babalaô.

Ogun, inquieto pela ausência do irmão, partiu à sua procura, encontrando-o nas
profundezas da floresta. Ele o trouxe de volta, mas Yemanjá , irritada, não quis
receber o filho desobediente. Revoltado com a intransigência materna, Ogun
recusou-se a continuar em casa. É por este motivo que o local consagrado a ogun
encontra-se sempre ao ar livre. Quanto a Oxossi, este preferiu voltar para a floresta,
para perto de Ossanyin, Yemanjá desesperada por ter perdido os três filhos,
transformou-se em um rio.

O contador desta lenda, no Brasil, destaca o fato de que "estes quatro deuses
Yorubás-Exú, Ogun, Oxossi e Ossanyin - são igualmente simbolizados por objetos
em ferro forjado e vivem todos eles ao ar livre".

O arquétipo de Oxossi é aquele das pessoas espertas, rápidas, sempre alertas e em


movimento. São pessoas cheias de iniciativa e sempre na pista de novas
descobertas ou de novas atividades. Têm o senso da responsabilidade e dos
cuidados para com a família, são hospitaleiras, generosas, amigas de ordem, mas
gostam muito de trocar de local de residência e achar novos meios de existência
em detrimento, algumas vezes, de uma vida doméstica harmoniosa e calma.

Uma lenda explica como surgiu o nome de Òsóòsì, derivado de Òsówusì (“o guarda-
noturno é popular’’): “Olófin Odùduà, rei de Ifé, celebrava a festa dos novos
inhames, um ritual indispensável no início da colheita, antes do quê, ninguém podia
comer desses inhames. Chegado o dia, um grande multidão reuniu-se no pátio do
palácio real. Olófin estava sentado em grande estilo, magnificamente vestido,
cercado de suas mulheres e de seus ministros, enquanto os escravos o abanavam e
espantavam as moscas, os tambores batiam e louvores eram entoados para saudá-
lo. As pessoas reunidas conversavam e festejavam alegremente, comendo dos
novos inhames e bebendo vinho de palma. Subitamente um pássaro gigantesco
voou sobre a festa, vindo pousar sobre o teto do prédio central do palácio. Esse
pássaro malvado fora enviado pelas feiticeiras, as Ìyámi Òsòròngà, chamadas
também as Eléye, isto é, as proprietárias dos pássaros, pois elas utilizam-nos para
realizar seus nefastos trabalhos. A confusão e o desespero tomaram conta da
multidão. Decidiram, então, trazer, sucessivamente, Oxotogun, o caçador das vinte
flechadas, de Idô; Oxotogí, o caçador das quarenta flechas, de Moré; Oxotadotá, o
caçador das cinqüenta flechas, de Ilarê, e finalmente Oxotokanxoxô, o caçador de
uma só flecha, de Iremã. Os três primeiros, muito seguros de si e um tanto
fanfarrões, fracassaram em suas tentativas de atingir o pássaro, apesar do tamanho
deste e da habilidade dos atiradores. Chegada a vez de Oxotokanxoxô, filho único,
sua mãe foi rapidamente consultar um babalaô, que lhe declarou: “Seu filho está a
um passo da morte ou da riqueza. Faça uma oferenda e a morte tornar-se-á
riqueza”. Ela foi então colocar na estrada uma galinha, que havia sacrificado,
abrindo-lhe o peito, como devem ser feitas as oferendas às feiticeiras, e dizendo
três vezes: “Que o peito do pássaro receba esta oferenda”. Foi no momento preciso
que seu filho lançava sua única flecha. O pássaro relaxou o encanto que o protegia,
para que a oferenda chegasse ao seu peito, mas foi a flecha de Oxotokanxoxô que o
atingiu profundamente. O pássaro caiu pesadamente, se debateu e morreu. Todo
mundo começou a dançar e a cantar: “Oxó (Òsó) é popular! Oxó é popular!
Oxowussi (Òsówusì)! Oxowussi!! Oxowussi!!!” Com o tempo, Òsówusì transformou-
se em Òsóòsì.

Conta-se no Brasil que Oxóssi era irmão de Ogum e de Exu, todos os três filhos de
Iemanjá. Exu era indisciplinado e insolente com sua mãe e por isso ela o mandou
embora. Os outros dois filhos se conduziam melhor. Ogum trabalhava no campo e
Oxossi caçava na floresta das vizinhanças, de modo que a casa estava sempre
abastecida de produtos agrícolas e de caça. Iemanjá, no entanto, andava inquieta e
resolveu consultar um babalaô. Este lhe aconselhou proibir que Oxóssi saísse à
caça, pois arriscava-se a encontrar Ossaim, aquele que detém o poder das plantas e
que vivia nas profundezas da floresta. Oxóssi ficaria exposto a um feitiço de Ossaim
para obrigá-lo a permanecer em sua companhia. Iemanjá exigiu, então, que Oxóssi
renunciasse a suas atividades de caçador. Este, porém, de personalidade
independente, continuou suas incursões à floresta. Ele partia com outros caçadores,
e como sempre faziam, uma vez chegados junto a uma grande árvore (ìrókò),
separavam-se, prosseguindo isoladamente, e voltavam a encontrar-se no fim do dia
e no mesmo lugar. Certa tarde, Oxóssi não voltou para o reencontro, nem
respondeu aos apelos dos outros caçadores. Ele havia encontrado Ossaim e este
dera-lhe para beber uma porção onde foram maceradas certas folhas, como a
amúnimúyè, cujo nome significa “apossa-se de uma pessoa e de sua inteligência”, o
que provocou em Oxóssi uma amnésia. Ele não sabia mais quem era nem onde
morava. Ficou, então, vivendo na mata com Ossaim, como predissera o babalaô.
Ogum, inquieto com a ausência do irmão, partiu à sua procura, encontrando-o nas
profundezas da floresta. Ele o trouxe de volta, mas Iemanjá não quis mais receber o
filho desobediente. Ogum, revoltado pela intransigência materna, recusou-se a
continuar em casa (é por isso que o lugar consagrado a Ogum está sempre
instalado ao ar livre). Oxóssi voltou para a companhia de Ossaim, e Iemanjá,
desesperada por ter perdido seus filhos, transformou-se num rio, chamado Ògùn
( não confundir com Ògún, o orixá). O narrador desta lenda chamou atenção para o
fato de que “esses quatro deuses Iorubás- Exu, Ogum, Oxóssi e Ossaim – são
igualmente simbolizados por objetos de ferro forjado e vivem todos ao ar livre.

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Ode onija
Sese lehin aso

Ee ko po de

Oju t'ori egbin ko fo

Ojo po iya ma bi

A kere togbonsinon

Ode ko ti ku agbanli

O si'di bata leriebe

Ode nwo mo eru nba mi

Caçador que fightsÒsóòsì nunca é distante atrás do criminalThe um que é prendido


à corda não morra de um truque que Ele não vomita de sufferingHe é o caçador de
smallThe não atira ao doeHe morto senta nos olhares de fieldÒsóòsì a mim e eu
tenho medo.

Altar de Òsóòsì cobriu com amoreira-preta, Imeko, Nigéria,.


Òsóòsì, o òrìsà da caça também é conhecido
como Ochosi e Oshosi em Cuba e Norte a
América e Oxossi ou Ode no Brasil. Ele
parece ter escapado (escondido de?) a
atenção de ethnologists de Yorùbá
principalmente porque o culto dele é tão
exclusivo e concentrado a certas áreas
geográficas. Também, a iconografia dele não
está precisamente repleta com escultura
suntuosa ou bordado de contas achados para
o òrìsà mais viável " como o Sàngó e cultos
de Èsù. O culto de Òsóòsì floresceu em Cuba
e Brasil, mas infelizmente tem mas quase
desapareceu em dia presente a África. A
razão histórica para este ser que Ketu, o
Beninois reino de Yorùbá onde Òsóòsì era
altamente venerado, foi sujeitada a ataques
repetidos por Dahomey de 1789 onwards.
Isto resultou na maioria vasta dos padres de
Òsóòsì que são escravizados e transportou
para o Mundo Novo (Matory 1994, Smith
1988:58, Maceiro 1981.) A predominância de
influência de Ketu na expressão brasileira de
tradição de òrìsà; Candomblé (o Ketu e
nações de Fon em particular) ajudou o culto
Lukumi Oshosì altar de Òsóòsì para florescer até dia presente. Há
muitos padres iniciados a esta deidade no
Brasil, e unquestionably, ele é um das
cabeças " mais populares " achada entre as
nações.

Òsóòsì é muito importante ao Lukumi.


Acerbamente, ao longo do tempo de
escravidão, Cor castanha (Cimarrones)
escapando dos mestres de Colonialista
atraíram a Òsóòsì para assegurar a segurança
deles/delas e invisibilidade em face a
adversidade. Etimologicamente, Òsóòsì foi
fragmentado e foi traduzido por alguns para
significar mão esquerda literalmente "
feiticeiro " Òsó-òsì. Ele é notado ser um
grande mágico, com medicinas potentes
feitas das folhas da floresta. O funcionamento
com a esquerda ou mão esquerda alude aos
poderes das bruxas, magia com negativo ou
conotações malignas. Òsóòsì pela mesma
natureza dele de ser o Caçador, sabe quais
venenos para usar para cair o dele ' prey'. há
várias teorias porém nas origens do
name.Òsóòsì dele é um òrìsà importante por
várias razões. Ele é nosso defensor físico e
provedor de alimento. Ele é nosso método de
sobrevivência. Nossas metas são alcançadas e
palavras fizeram efetivo devido à pontaria de
Òsóòsì e orientação e o papel comunicativo de
Èsù permitindo para nossas palavras alcançar Lukumi Oshosi altar with Ode
as orelhas sem ser entendida mal. Òsóòsì e
Èsù são então o segredo de ofo-àse, nosso ser
de palavras eficaz e tendo o poder de bater a
marca deles/delas e ser efetivo.

Também unida com nosso bem-estar, Òsóòsì


médico de é, devido ao tempo dele gastado na
aprendizagem de floresta os segredos de
folhas e medicina de Òsányìn, Àrònì (em de
Aroni Lukumi) e Aja (em de Ayao Lukumi).
Maceiro (1954) em de fala de nos Ketu um de
é Olòsányìn, (o padre de Òsányìn) treinou na
preparação de medicina herbária e talismans
que são o guardião de Òsóòsì.

Adicionalmente, é freqüentemente um
caçador que acha chão novo satisfatório para
estabelecer fazendas ou determinações.
Representa de Isto um transição de vida
nômade para subsistência agrícola. E assim
nesta circunstância, Òsóòsì é fundador do e
patriarca de ordem comunidade de e social.

Lukumi Oshosì altar

Também unida com nosso bem-estar, Òsóòsì é médico, devido ao tempo dele
gastado na aprendizagem de floresta os segredos de folhas e medicina de Òsányìn,
Àrònì (Aroni em Lukumi) e Aja (Ayao em Lukumi). Maceiro (1954) nos fala em Ketu é
um Olòsányìn, (o padre de Òsányìn) treinou na preparação de medicina herbária e
talismans que são o guardião de Òsóòsì.

Adicionalmente, é freqüentemente um caçador que acha chão novo satisfatório


para estabelecer fazendas ou determinações. Isto representa a transição de vida
nômade para subsistência agrícola. E assim nesta circunstância, Òsóòsì é o
fundador e patriarca de ordem social e comunidade.Irosun...

Orisha diz que onde nós lançamos Quatro Anciões,

Orisha diz que nós deveríamos ir e deveríamos fazer um sacrifício.

Orisha diz que esta pessoa deveria ir e deveria sacrificar a Orishala.

Orisha diz que ele está servindo alguém;

Orisha diz que ele não deveria servir qualquer mais para qualquer um.

" Sim eu sirvo, eu uso uma coroa de cowries;

" Eu sirvo, eu sirvo, eu uso duzentas contas;

" Eu sirvo e sirvo, eu uso um fez "


Elenco para Vestuário elegante quando eles disseram que ele não pudesse ser rico,

Já na vida dele.

Havia Vestuário elegante, ele era um caçador.

Todos os animais que ele matou,

Ele serviu Orisha com eles;

Quando ele matou um animal, ele deu isto a Orisha.

Vestuário elegante nunca manteve qualquer coisa para ele;

Vestuário elegante estava fazendo assim.

As pessoas de vestuário elegante, eles formaram um clube;

Eles disseram que eles fariam gowns¹

Vestuário elegante disse " certo ".

Os vestidos que eles usariam para o festival anual deles/delas, eles os fariam.

E ele foi e contou para Orisha²

Orisha disse que ele não deveria preocupar, ele faria um vestido.

Quando o dia veio Tudo deles fez " guiné-fowl³ " vestidos;

Alguns os fizeram de seda selvagem, alguns não fizeram.

Eles fizeram os vestidos deles/delas;

Vestidos de pano branco, eles os fizeram.

Quando Orisha levou o vestido,

Ele levou um vestido de contas e pôs isto em Finery.4

Quando Vestuário elegante se apareceu antes deles

Eles não puderam resistir ele qualquer mais;

Eles se prostraram antes dele;

Eles se prostraram antes dele.

E Vestuário elegante ficou rico, e Vestuário elegante era rico;

Vestuário elegante ultrapassou todos os outros.

Ele estava dançando, ele estava alegrando;


Ele estava elogiando o diviners,

E o diviners estavam elogiando Orisha.

Ele disse que o diviners dele tinham falado a verdade.

" Sim eu sirvo, eu uso uma coroa de cowries;

" Eu sirvo, eu sirvo, eu uso duzentas contas;

" Eu sirvo e sirvo, eu uso um fez "

Vestuário elegante foi o para o que eles lançaram;

Eles disseram que ele nunca pudesse ser rico na vida dele.

E Vestuário elegante estava tendo dinheiro,

Vestuário elegante estava tendo as crianças.

Suavemente, Vestuário elegante, criança de " Um que sem usos trabalhando um


vestido de contas ".

Isto é como Oshosi veio usar um vestido de beaded até hoje.

Como nós sabemos vestuário elegante?

Ele é o um nós estamos chamando Oshosi

Onde nós vemos Quatro Deidades Anciãs na bandeja.

¹ Yoruba bate customarily fazem fantasias idênticas de forma que os sócios


deles/delas pode ser identificada prontamente quando eles saíres junto. Porém aqui
eles fazem tipos diferentes de vestidos

² que Outro registrou que versão soma, " porque ele também não teve dinheiro "
que também soma aquele Orisha lhe deu bronze e setas de cobre, e que ele caçou
com setas, os símbolos de Oshosi,

³ O nome de um padrão têxtil popular

4 uma terceira versão soma um boné de beaded e calças compridas de beaded


(Bascom, 1980)

Muitas canções de Lukumi e narrativas falam de Òsóòsì e a proximidade de


unrivalled de Obàtálá. Òsóòsì é conhecido como o guardião de Obàtálá. Em um das
lendas do Odu Eji-oko, Obàtálá deu o movimento rápido de mosca de rabo de
cavalo (' irukere') para Òsóòsì embora ele não seja um ' òrìsà de royal', ele é um
sócio do tribunal real e ocupa um cargo exaltado. Ele é considerado quase uma
deidade de funfun devido à natureza dele e posição exaltada. As nações de
Candomblé várias de Brasil consideram Òsóòsì (ou como ele mais geralmente é
conhecido, Ode) de estado real, ele é elogiado freqüentemente como o Alaketu,
segundo Rei de Ketu, o primeiro ser em Èsù. Embora o culto de Òsóòsì possa ser
diminuído totalmente em Yorùbáland hoje, dele se lembra ainda, é venerado e é
venerado. John Pemberton III e Afolayan (1996, página 144) descreva parte de um
festival segurada anualmente para Obàtálá em Ila Orangun que inclui honouring
Òsóòsì:

' No sexto dia, Aworo Ose (o padre de cabeça de Obàtálá & Òsóòsì) permaneceu
dentro da combinação. Nenhum sacrifício foi feito ou oríkì cantado para Obatala,
mas o àwòrò executaram os ritos para Osoosi. Agarrando o arco e seta de Osoosi na
mão esquerda dele, o padre dançou A Pedra de Osoosi " ao redor " (Okuta
Osoosi) ...As serve uma deidade de caçador, um cachorro foi sacrificado a Osoosi,
como também uma cabra masculina, caracóis e um galo. No ìtàn (story/myth) a
casa de Aworo Ose diz que Osoosi veio de Ile Ife e era um caçador que protegeu
Obatala'

Ìlekè Òsóòsì

O colar de Òsóòsì é tradicionalmente dobre encalhado com azul e amber/honey,


normalmente em padrões de sete e quatorze. O colar também tem acentos de coral
vermelho, jato e ouro. Algumas linhas de tradição também somam cowries..

Detalhe de um tassle de um mazo " pequeno " decorava igba Òsóòsì (a tigela de
Òsóòsì)
Pulseiras com um desígnio espiral são usadas como parte da regalia dos Caçadores
achada na tradição de Lukumi. Aqui mostrada em marfim e prata. De acordo com
Denis Williams (1974) estas pulseiras, são levados ìfúnpá chamado com outros
charmes e medicina, quando não em uso amarrou ao colete do caçador. O ìfúnpá é
usado no braço superior e " manipulou para produzir engasgamento no inimigo

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Ossanyin é o deus das plantas medicinais e litúrgicas. A sua importância é


fundamental pois nenhuma cerimônia pode ser feita sem a sua presença, sendo ele
o detentor do Axé - a força, o poder - imprescindível até mesmo aos próprios
deuses.

O nome das plantas, a sua utilização e os encantamentos que seu poder são os
elementos mais secretos do ritual dos cultos aos deuses Yorubás.

O símbolo de Ossanyin é uma haste de ferro tendo ao alto um pássaro de ferro


forjado; esta mesma haste é cercada por seis varetas pontuadas dirigidas em leque
para o alto. O pássaro é a representação do poder de Ossanyin: é o mensageiro que
vai à toda parte, volta e se empoleira sobre a cabeça de Ossanyin para lhe fazer o
seu relato. Este símbolo do pássaro representa o Axé, o poder bem conhecido das
feiticeiras, elas mesmas freqüentemente chamadas Eleyés, proprietárias do
Pássaro-Poder.

Cada divindade tem suas ervas e suas folhas particulares, dotadas de virtudes, de
acordo com a personalidade do deus. Lydia Cabrera publicou uma lenda
interessante, difundida em Cuba, sobre a reparticão das folhas entre as diversas
divindades: "Ossanyin havia recebido de Olodumaré o segredo das ervas. Estas
eram de sua propriedade e ele não as dava a ninguém, até o dia em que Xangô se
queixou à sua mulher, Oyá-Yansã, senhora dos ventos, que somente Ossanyin
conhecia o segredo de cada uma dessas folhas e que os outros deuses estavam no
mundo sem possuir nenhuma planta. Oyá levantou as saias e agitou-as,
impetuosamente.

Um vento violento começou a soprar. Ossayin guardava o segredo das ervas numa
cabaça pendurada num galho de árvore. Quando viu que o vento havia soltado a
cabaça e essa tinha se quebrado ao bater no chão, ele gritou: "Ewé O!! Ewé O!!,
Oh! as folhas! Oh! as folhas!!" mas não pôde impedir que os deuses as pegassem e
as repartissem entre si".

A colheita das folhas deve ser feita com cuidado extremo, sempre em lugar
selvagem, onde as plantas crescem livremente. Aquelas cultivadas nos jardins
devem ser desprezadas, porque Ossanyin vive na floresta, em companhia de Aroni,
um anãozinho, comparável ao Saci-pererê, com uma única perna e, segundo se diz
no Brasil, fumando permanenemente um cachimbo feito de casca de
caramujo,enfiada numa vara oca e cheia de suas folhas favoritas. Por causa desta
união com Aroni, Ossanyin é saudado com a frase seguinte: "Holá! Proprietário-de-
uma-única-perna-que-come-o-proprietário-de-duas-pernas!", alusão às oferendas de
galos e pombos, que possuem duas patas, a Ossanyin-Aroni, que não tem senão
uma perna.

Os curandeiros, quando vão recolher plantas para seus trabalhos, devem fazê-lo em
estado de pureza, abstendo-se em relações sexuais na noite precedendo e indo à
floresta, durante a madrugada, sem dirigir a palavra a ninguém. Além disso, devem
ter cuidado em deixar uma oferenda em dinheiro, no chão, logo que cheguem ao
local da colheita.

Ossanyin está estreitamente ligado a Orunmila, o senhor das adivinhações. Estas


relações, hoje cordiais e de franca colaboração, atravessaram, no passado, períodos
de rivalidade. As lendas refletem as lutas de precedência e de prestígio entre
adivinhos-babalaôs e curandeiros. Como estas histórias são transmitidas pelos
Babalaôs, não é de estranhar que tenham a glorificar mais Orunmila e os adivinhos
babalaôs do que Ossanyin e os curandeiros.

Segundo uma lenda recolhida por Bernard Maupil, "assim que Orunmila nasceu,
pediu um escravo para lavrar seu campo; compraram-lhe um no mercado. Era
Ossanyin. Na hora de começar seu trabalho, Ossanyin percebeu que ia cortar a erva
que curava a febre. E então gritou: "Impossível cortar esta erva, pois é muito útil'. A
segunda, curava dores de cabeça. Recusou-se, também, a destruí-la. A terceira,
suprimia as cólicas. 'Na verdade, disse ele, não posso arrancar ervas tão
necessárias'. Orunmila, tomando conhecimento da conduta de seu escravo,
demonstrou desejo de ver estas ervas, que ele se recusava a cortar e que tinham
grande valor, pois contribuíam para manter o corpo em boa saúde. Decidiu, então,
que Ossanyin ficaria perto dele para explicar-lhe a virtude das plantas, das folhas e
das ervas, mantendo-o sempre ao seu lado na hora das consultas".
Uma outra história nos dá conta que, se Ossanyin conhece o uso medicinal das
plantas é, entretanto, a Orunmila que cabe o mérito de haver conferido nomes a
estas mesmas plantas. Os poderes de cada planta estão em estreita ligação com o
seu nome, e as palavras de encantamento que são obrigatoriamente pronunciadas,
no momento de seu uso, são indicadas pelos adivinhos aos curandeiros, fato este
que dá aos primeiros uma posição de supremacia sobre os segundos. Isto é dito
pelos Babalaôs, afim de demonstrar que, sem o poder liberador da palavra, as
plantas não poderiam exercer a ação curativa que possuem em estado potencial.
Na África, os curandeiros, chamados Olossanyin, não entram em transe de
possessão. Adquirem a ciência do uso das plantas após uma longa aprendizagem.

No Brasil, as pessoas dedicadas a Ossanyin usam colares verde e branco. Sábado é


o dia que lhe á consagrado e as oferendas que lhe são feitas compõem-se de bodes,
galos e pombos. Seus Iaôs, ao contrário daqueles da África, entram em transe mas,
nem sempre, possuem conhecimentos profundos sobre as virtudes das plantas.
Quando eles dançam, trazem não mão o mesmo símbolo de ferro forjado, cuja
descrição foi feita anteriormente. O ritmo dos cantos e das danças de Ossanyin é
particularmente rápido, saltitante e ofegante. Saúda-se o deus das folhas e das
ervas gritando-se: "Ewe O!" "Oh! as folhas!"

O arquétipo de Ossanyin é o das pessoas de caráter equilibrado, capazes de


controlar seus sentimentos e emoções. Daqueles que não deixam suas simpatias e
antipatias intervir nas suas decisões ou influenciar as suas opiniões sobre as
pessoas e os acontecimentos.
É o arquétipo das pessoas cuja extraordinária reserva de energia criadora e
resistência passiva, ajuda-as a atingir os objetivos que se fixaram. Das pessoas que
não tem uma concepção estreita e um sentido convencional da moral e da justiça.
Enfim, daquelas pessoas cujos julgamentos sobre os homens e as coisas são menos
fundados sobre as noções do bem e do mal do que sobre a da eficiência.

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Como personagem histórico, Xangô teris sido o terceiro Alafin Oyo, Rei ( Senhor do
Palácio) de Oyo. Era filho de Oranmiyan e de Torossí, esta filha de Elempe, rei dos
Tapa, que tinha firmado uma aliança com Oranmiyan. Xangô cresceu no país de sua
mãe indo se instalar, mais tarde, em Kosô, onde os habitantes não o aceitaram por
causa de seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu, finalmente , impor-se
pela força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-se para Oyo, onde
estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kosô. Conservou, assim, seu título de
Oba Kosô que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de seus Orikis (louvores).

Dadá-Ajaká, irmão consangüíneo de Xangô, filho mais velho de Oranmyian, reinava


em Oyo por essa época. Seu caráter era calmo e desprovido da energia necessária
a um verdadeiro chefe. Xangô o destronou e Dadá-Ajaká exilou-se em Igboho,
durante os sete anos de reinado de seu meio-irmão. Teve que se contentar, então,
em usar uma coroa feita de cauris, chamada Adé de Bayani. Depois que Xangô
deixou Oyo, Dadá-Ajaká voltou a reinar. Em contraste com a primeira vez, ele
mostrou-se, agora, valente e guerreiro e, voltando-se contra os parentes da família
materna de Xangô, atacou os Tapa, sem grande sucesso.

Xangô, sob seu aspecto divino, é filho de Oranmyian, tendo Yamassé como mãe e
sendo marido de três divindades: Oyá, Oxun e Oba, que se tornaram rios no país
Yorubá.

Xangô é viril e potente, violento e justiceiro, castiga os mentirosos, os ladrões e os


malfeitores. Por este motivo, a morte pelo raio é considerada infamante. Da mesma
forma, uma casa atingida por um raio é uma casa marcada pela cólera de Xangô. O
proprietário deve pagar pesadas multas ao sacerdotes do Orixá que vêm procurar,
nos escombros, os Edun Ará ( pedras de raio) lançados por Xangô e profundamente
enterradas no local onde o solo foi atingido.

Este Edun Ará (na realidade machados neolíticos ) são colocados sobre um pilão de
madeira esculpido, odô, consagrado a Xangô. Tais pedras são consideradas
emanações de Xangô e contém o seu Axé - o seu poder. O sangue dos animais
sacrificados é derramado, em parte, sobre suas pedras de raio para manter-lhe a
força e a potência. O carneiro, cuja chifrada tem a rapidez do raio, é o animal cujo o
sacrifício mais lhe convêm. Fazem-lhe, também, oferecimentos de Amalá, iguaria
preparada, com farinha de inhame regada com um molho feito com quiabos. É no
entanto, formalmente proibido oferecer-lhe feijões brancos da espécie Sesé. Todas
as pessoas que lhe são consagradas estão sujeita à mesma proibição.

O emblema de Xangô é o duplo machado estilizado, Oxé, que os seus iniciados


trazem na mão, quando em transe.

O chocalho, chamado Xeré, feito de uma cabeça alongada, contendo pequenos


grãos, é sacudido em honra a Xangô. Convenientemente agitada, quando são
anunciados os seus louvores, este instrumento imita o barulho da chuva.

As saudações, Oriki, que seus fiéis lhe dirigem não deixam de ter certa graça e
mostram a sua forte personalidade:

Ele ri quando vai à casa de Oxun.


Ele fica bastante tempo em casa de Oyá.

Ele usa um grande pano vermelho.

Elefante que anda com dignidade.

Meu senhor, que cozinha o inhame com o ar que escapa de suas narinas.

Meu senhor, que mata seis pessoas com uma só pedra de raio.

Se franze o nariz, o mentiroso tem medo e foge.

Xangô é o irmão mais jovem, não somente de Dadá-Ajaká como também de


Obaluayê. Entretanto, não são os vínculos de parentesco, ao que parece, o que
permite explicar a ligação entre o deus do trovão e os das doenças contagiosas mas
, sim, prováveis origens comuns no país Tapa.
Neste lugar, Obaluayê seria mais antigo que Xangô e, por deferência para com o
mais velho, em certas cidades como Saketé e Ifanyin, são sempre feitas oferendas a
Obaluayê, na véspera da celebração das cerimônias para Xangô.

O pai de Xangô, Oranmiyan, tornou-se, como dissemos acima, o primeiro rei de Oyo
e o fundador da dinastia dos Alafin Oyo. O mito da criação do mundo, tal como é
contado em Oyo, atribuiu este ato a Oramiyan e não a Odudúa. Estes dois
personagens são os fundadores das respectivas linhagens reais de Oyo e de Ifé, o
que bem demonstra que o mito da criação do mundo é, de uma parte e de outra, o
reflexo da lenda histórica sobre a origem das dinastias que dominam esses dois
reinos.
A supremacia estabelecida por Oramiyan sobre seus irmãos nos é contada numa
lenda recolhida, em Oyo, no século passado, por Jean Hess:

"No início, a terra não existia. Em cima era o céu, embaixo era a água. E nenhum
ser animava a terra ou animava a água. Ora, o Todo Poderoso Olodumaré criou, no
início, sete príncipes coroados. Fez aparecer em seguida sete sacos onde haviam
búzios, missangas e tecidos, uma galinha e vinte e uma barras de ferro. Fez,
também, com tecido preto, um volumoso pacote do qual não se via o conteúdo.
Criou, enfim, uma longa corrente de ferro com a qual prendeu os tesouros e os sete
príncipes. Depois, deixou que tudo caísse do alto do céu. No limite do vazio não
havia senão água. Olodunmaré lançou uma noz de palma que caiu na água e, no
mesmo momento uma palmeira se levou em direção aos príncipes, oferecendo-lhes
um abrigo no desabrochar de seus galhos. Os príncipes aí se refugiaram e se
instalaram com suas bagagens. A corrente de ferro voltou ao Todo Poderoso.
Eram todos príncipes coroados e, por conseqüência, todos queriam comandar.
Resolveram se separar a fim de seguir os seus destinos. Os sete príncipes decidiram
dividir, entre eles, a soma do tesouro que o Todo Poderoso lhe havia dado. Os seis
mais velhos pegaram os búzios, as contas, os tecidos e tudo que julgaram precioso.
Deixaram ao mais jovem, Oranmyian, o pacote de tecido preto. Ele o abriu e
encontrou uma grande quantidade de substância preta que não conhecia. Sacudiu o
tecido. A substância caiu na água e tornou-se um montículo. A galinha para lá voou
e, logo que pousou, começou a raspar com os pés e com o bico a substância preta
que se estendeu por todos os lados. O montículo foi se alargando e tomando,
progressivamente, o lugar da água. Eis como nasceu a Terra, segundo a vontade do
Todo Poderoso... Eis como Oraniyan tronou-se rei de Oyo e soberano de todo país
Yorubá, quer dizer, de toda a Terra".

O culto de Xangô é muito popular no Novo Mundo, tanto no Brasil como nas
Antilhas. Em Recife, seu nome serve mesmo para designar o conjunto de cultos
africanos praticados no Estado de Pernambuco. Na Bahia, seus fiéis usam colares
vermelho e branco, como na África. Quarta-feira é o dia da semana que lhe é
consagrado. Assim que saudam, gritando: Kawo-Kabiyisilé!, "Venham ver o rei
descer sobre a Terra!" Os tambores Batá não são conhecidos no Brasil, embora
ainda o sejam em Cuba, mas os ritmos batidos para Xangô são os mesmos.

São ritmos vivos e guerreiros, chamados Tonibodé e Alujá, e são acompanhados


pelos ruídos dos Xerés, agitados em uníssono. No decurso de suas danças, Xangô
brande orgulhosamente seu machado duplo e assim que a cadência se acelera ele
faz o gesto de quem vai pegar num saco Labá, pedras de raio e lançá-las sobre a
Terra. O simbolismo de sua dança deixa, a seguir, aparecer seu lado licenciosos e
atrevido.

No decorrer de certas festas, Xangô aparece frente à assistência, trazendo sobre a


cabeça um Agerê, panela cheia de furos, contendo fogo, e começa a engolir mechas
de algodão inflamadas, denominadas Akará, como na África.

Na Bahia, segundo consta, existem doze Xangôs: 1. Dadá; 2. Obá Afonjá; 3.


Obalubé; 4. Ogodo; 5. Obá Kosô; 6. Jakuta; 7. Aganju; 8. Baru; 9. Oranmiyan; 10.
Airá Intilé; 11. Airá igbonán; 12. Airá Adjaosi.

Reina uma certa confusão nesta lista, pois Dadá (1) é irmão de Xangô, Oranmiyan
(9) é seu pai e Aganju (7), um de seus sucessores. Na Bahia acredita-se que Ogodo
(4)é originário do país Tapa e que segura dois Oxés quando dança, sendo o seu
Edun Ará composto de dois fios. O Airá (10 a 12) seriam Xangôs muitos velhos,
sempre vestidos de branco e usando contas azuis, Seji, em lugar de corais
vermelhos, como os outros Xangôs. Ao que parece, teriam vindo da região de Savé.
Xangô foi sincretizado com São Jerônimo, no Brasil, e com Santa Bárbara, em Cuba.
Já assinalamos, anteriormente, o caráter estranhos de semelhantes escolhas.

Na Bahia, quando uma festa é celebrada em honra de Dadá, irmão mais velho de
Xangô, a cerimônia parece conter reminiscências de fatos antigos, sem que os
participantes saibam, muitas vezes as histórias dos Yorubás. O Iaô de Dadá vem
dançar frente a assistência, tendo na cabeça uma coroa, o Adê de Bayani. Logo
depois, Xangô montado sobre um (ou uma) de seus iniciados, toma a coroa,
colocando-a sobre sua própria cabeça. Após ter dançado assim adornado por um
certo tempo, a coroa é restituída a Dadá.

Este elemento do ritual parece ser uma reconstituição do destronamento de Dadá-


Ajaká por Xangô, e sua volta ao poder sete anos mais tarde.

O arquétipo de Xangô é aquele das pessoas voluntariosas e enérgicas, altivas e


conscientes de sua importância, real ou suposta. Das pessoas que podem ser,. ao
mesmo tempo, grandes senhoras, corteses, mas que não toleram a menor
contradição e, nestes casos, são capazes de se deixarem levar por crises de cólera,
violentas e incontroláveis. Das pessoas sensíveis ao charme do sexo oposto e que
se conduzem com tato e encanto no decurso de reuniões sociais, mas que podem
perder o controle e ultrapassar os limites da decência. Enfim, o arquétipo de Xangô
é aquele das pessoas que possuem elevado sentido de sua própria dignidade e de
suas obrigações, o que as leva a se comportarem com um misto de severidade e
benevolência, segundo os humores do momento, mas sabendo guardar,
geralmente, um profundo e constante sentimento de justiça.

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Oxun é a divindade do rio do mesmo nome que corre na Nigéria, nas regiões Ijexá e
Ijebú. Era, segundo dizem, a segunda mulher de Xangô, tendo vivido antes com
Ogun, Orunmila, e Oxossi, seu pai teria sido Oxalá. As mulheres que desejam ter
filhos dirigem-se a Ogun pois ela, com efeito controla a fecundidade, graças aos
laços mantidos com Iyami-Ajé, "Minha Mãe Feiticeira". Sobre esse assunto, uma
lenda conta que "quando todos os Orixás chegaram à terra organizaram reuniões
onde as mulheres não eram admitidas. Oxun ficou aborrecida por ser posta de lado
e não poder participar de todas as deliberações. Para vingar-se, tornou as mulheres
estéreis e impediu que as atividades desenvolvidas pelos deuses chegassem a
resultados favoráveis. Desesperados, os Orixás voltaram a Olodumaré e explicaram-
lhe as coisas iam mal sobre a terra. Olodumaré perguntou se Oxum participava das
reuniões e os Orixás responderam que não. Olodumaré explicou-lhes então que que,
sem a presença de Oxun e do seu poder sobre a fecundidade, nenhum de seus
empreendimentos poderiam dar certo. De volta à terra, os Orixás convidaram Oxun
para participar de seus trabalhos o que ela acabou por aceitar, depois de muito lhe
rogarem . Logo em seguida, as mulheres tornaram-se fecundas e todos os projetos
obtiveram felizes resultados".

Oxun é chamada de Iyalodê, título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais
importante entre todas as mulheres da cidade. Os Axés de Oxun constituem-se de
pedras do fundo do rio do mesmo nome, de jóias de cobre e de um pente de
tartaruga.

O amor de Oxun pelo cobre - metal mais precioso do país Yorubá nos tampos
antigos - é mencionado nas saudações que lhe são dirigidas:

"Mulher elegante que tem jóias de cobre maciço.

É uma cliente dos mercadores de cobre.

Oxun limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos".

Numerosos lugares profundos, Ibus, entre Igedê, onde nasce o rio, e leké, onde eles
deságua na

lagoa, são os locais de residência de Oxun.

Aí, ela é adorada sob nomes diferentes e suas características são distintas umas
das outras. Encontramos:

"Oxun Ijumú, rainha de todas as Oxuns e que, como a que vem a seguir, está em
estreita ligação com as bruxas, Ajés;

Oxun Ayalá ou Oxun Aynlá, a Grande Mãe (a Avó) que foi a mulher de Ogun;

Oxun Oxogbô, cuja fama é grande por ajudar as mulheres a ter crianças;

Oxun Apará, a mais jovem de todas, de gênio belicoso;

Oxun Abotô, muito feminina e elegante;

Oxun Abalú, a mais velha de todas;

Yeyê Ipetú;

Yeyê Ipondá, guerreira;

Yeyê Karé, muito guerreira;


Oxun Popolocum, cujo culto é realizado próximo à lagoa e que, diz-se no Brasil, não
sobe à cabeça das pessoas". Apesar de todos esses nomes e características
diversas é sempre a única e mesma Oxun.

Sobre Oxun Ayalá, também chamada de Oxun Ayanlá, a Avó, diz-se que era uma
mulher poderosa e guerreira que ajudava Odun Alagbedé, seu espojo, na forja, na
mesma maneira que Oyá, como vimos no capítulo precedente. Ogun forjava e,
quando o ferro começava a esfriar, ele o colocava no fogo, atiçado por Oxun que
fazia funcionar os foles em cadência. O barulho que eles faziam "kutu, kutu, kutu",
era tão ritmado que parecia qu oxu tocava um instrumento de música. Um Egungun
que passava pela rua se pôs a dançar, inspirado pelos sons que provinham dos
foles. Os passantes maravilhados testemunharam seu contentamento oferecendo
dinheiro a Egungun. Este, muito honestamente, ofereceu metade da soma recolhida
a Oxun, a Avó, o que lhe valeu ser denominada de:
"Tocadora de música num fole para fazer dançar Egungun.

Proprietária de um fole que sussurra como a chuva, e cuja tosse ressoa como
explode o cobre e como urra o elefante".

Laços muito estreitos existem entre Oxun e os reis de Oxogbô. Neste lugar, a festa
anual das oferendas a Oxun é uma comemoração pela chegada de Larô, fundador
da dinastia, às margens deste rio cujas águas correm permanentemente. Larô,
depois de muitas atribulações, achando o lugar favorável ao estabelecimento de
uma cidade, aí se fixou com sua gente. Alguns dias depois de sua chegada, uma de
suas filhas foi se banhar num rio e se perdeu sob as águas. reapareceu no dia
seguinte, soberbamente vestida, declarando ter sido muito bem acolhida pela
divindade do rio. Larô, para demonstrar sua gratidão, dedicou-lhe oferendas.
Numerosos peixes, mensageiros da divindade, vieram comer em sinal de aceitação,
as comidas que Larô havia jogado nas águas. Um grande peixe que nadava próximo
ao local onde este se encontrava cuspiu-lhe água. Larô recolheu esta água numa
cabaça e bebeu, fazendo assim um pacto de aliança como rio. Estendeu, depois, as
duas mãos para frente e o grande peixe saltou sobre elas. Larô recebeu o título de
Ataojá - contração da frase Yorubá A tewo gba ejá, "Ele estende as mãos e recebe o
peixe" - e declarou: Oxun gbô, "Oxun está em estado de maturidade", suas águas
serão sempre abundantes, esta foi a origem do nome do cidad de Oxogbô.

No dia da festa anual, Ataojá vai solenemente até as margens do rio. Sua cabeça é
coberta por uma coroa monumental feita com pequenas missangas reunidas e é
vestido com pesada roupa de veludo. Anda com calma e gravidade, rodeado por
suas mulheres e seus dignatários. Uma de sua s filhas leva, nesta procissão anual, a
cabaça contendo os objetos sagrados de Oxun. É a Arugbá Oxun, "aquela que leva
a cabaça de Oxun". Ela representa a moça que outrora desaparecera no rio. Sua
pessoa é sagrada, e o próprio rei inclina-se à sua frente. Depois que atinge a idade
da puberdade ela nào pode mais preencher essa função. Mas, pela graça de Oxun, a
descendência de Ataojá é sempre numerosa, não faltando, pois, a possibilidade de
se encontrar uma Arugbá Oxun disponível.
Ataojá senta-se numa clareira e acolhe as pessoas que vem assistir a cerimônia. Os
reis e os chefes das cidades vizinhas estão todos presentes ou enviaram
representantes. as delegações chegam, uma após a outra, acompanhadas por
tocadores de tambores. Trocas de saudações, prosternações e danças sucedem-se
como formas de cortesia recíproca, com animação crescente. Ao final da manhã,
Ataojá, acompanhado pelo seu povo e pelos seus hóspedes, aproxima-se do rio e aí
manda lançar oferendas e comidas, no mesmo lugar onde Larô o fizera outrora. Os
peixes as disputam sob o olhar atento das sacerdotisas de Oxun.

Ataojá dirige-se, a seguir, até as proximidades de um pequeno templo vizinho e


senta-se sobre a pedra onde seu ancestral Larô havia repousado em outros tempos.
A adivinhação é feita para saber se Oxun está satisfeita e s ela tem alguma vontade
de exprimir. Ataojá volta em seguida para a clareira, onde recebe e trata seus
convidados com uma generosidade digna da reputação de Oxun, a rainha de todos
os rios.

No Brasil, os adeptos de Oxun usam colares de contas de vidro de cor amarelo-ouro


e numerosos braceletes de latão. o dia da semana que lhe é consagrado é o sábado
e ela é saudada, como na África, pela expressão Oré Yeyé o!!!. "Chamemos a
benevolência da Mãe !!!".

É recomendável fazer sacrifícios de cabra a Oxun e ofercer-lhe patos de Molokun


(mistura de cebolas, feijão de espécie fradinho, sal e camarões), de Adúm (farinha
de milho misturada com mel de abelha e azeite doce). A sua dança lembra o
comportamento de uma mulher vaidosa e sedutora que vai ao rio para se banhar,
enfeita-se com colares, agita os braços para fazer tilintar os seus braceletes, abana-
se graciosamente e contempla-se com satisfação num espelho. O ritmo que
acompanha as suas danças denomina-se Igexá, nome de uma região da África, por
onde corre o rio Oxun.

Ela é sincretizada, no Brasil, com Nossa Senhora das Candeias (na Bahia) e nossa
Senhora dos Prazeres (em Recife), enquanto que em cuba é assimilada a Nossa
Senhora da Caridade, cuja igreja encontra-se em El Cobre.

O arquétipo de Oxun é o das mulheres graciosas e elegantes, com paixão pelas


jóias, perfumes, vestimentas caras. Das mulheres que são símbolo do charme e da
beleza. Voluptuosas e sensuais, porém mais reservadas que Oyá. Elas evitam
chocar a opinião pública à qual dão grande importância. Sobre sua aparência
graciosa e sedutora escondem uma vontade muito forte e um grande desejo de
ascensão social.

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Erinlé teria tido com Oxun Ipondá um filho chamado Logun Edé, cujo culto realiza-se
muito raramente, em Ilexá, na África, e parece estar em vias de desaparecimento. No
Brasil, na Bahia, ele tem, ao contrário, numerosos adeptos, dentre os quais o digno Pai
de Santo Eduardo Igexa a quem já nos referimos anteriormente. Logun Edé tem a
particularidade de viver, durante seis meses do ano, sobre a terra, alimentando-se de
caça e, nos outros seis meses, embaixo d'água, num rio, comendo peixe. Seria também,
alternadamente, seis meses do sexo masculino e seis do sexo feminino. Este deus,
segundo o que se diz na África, demonstra aversão pelas roupas de cor vermelha ou
marrom. Nenhum de seus fiéis ousariam usar tais cores nas suas vestimentas, mas em
contrapartida, o azul turquesa parece merecer a sua aprovação.

Ede Oríkì Logun Edé


Ganagana bi ninu elomi ninu Um orgulhoso fica infeliz que um outro esteja contente
A se okùn soro èsinsin É difícil fazer um corda com as folhas espinhosas da
Tima li ehin yeye re urtiga
Okansoso gudugu Montado de cavalinho sobre as costas de sua mãe
Oda di ohùn Ele é sozinho, ele é muito bonito
O ko ele pé li aiya Até a voz dele é agradável
Ala aiya rere fi owó kan Não se coloca as mãos sobre o seu peito
Ajoji de órun idi agban Ele tem um peito que atrai as mãos das pessoas
Ajongolo Okunrin O estrangeiro vai dormir sobre o coqueiro
Apari o kilo òkò tímotímo Homem esbelto
O ri gbá té sùn li egan O careca presta atenção à pedra atirada certeiramente
O tó bi won ti ji re re Ele acha duzentas esteiras para dormir na floresta
A ri gbamu ojiji Acordá-lo bem é o suficiente
Okansoso Orunmila a wa kan Nós somente o vemos e o abraçamos como se ele fosse
mà dahun uma sombra
O je oruko bi Soponna / Somente em Orunmila nós tocamos, mas ele não
Soro pe on Soponna e nià responde
hun Ele tem um nome como Soponna /
Odulugbese gun ogi órun É difícil alguém mau chamar-se Soponna
Odolugbese arin here here Devedor que faz pouco caso
Olori buruku o fi ori já igi Devedor que anda rebolando displiscentemente
odiolodi Ele é um louco que quebra a cerca com a cabeça
O fi igbegbe lù igi Ijebu Ele bate com seu papo numa árvore Ijebu
O fi igbegbe lú gbegbe meje Ele quebrou sete papos com o seu papo
Orogun olu gbegbe o fun oya A segunda mulher diz ao papo para usar um pente
li o (para desinchar o papo)
Odelesirin ni ki o wá on sila Um louco que diz que o procurem lá fora na
kerepa encruzilhada
Agbopa sùn kakaka Aquele que tem orquite ( inflamação dos testículos) e
Oda bi odundun dorme profundamente
Jojo bi agbo Ele é fresco como a folha de odundun
Elewa ejela Altivo como o carneiro
O gbewo li ogun o da ara nu Pessoa amável anteontem
bi ole Ele carrega um talismã que ele espalha sobre o seu
O gbewo li ogun o kan omo corpo como um preguiçoso
aje niku Ele carrega um talismã e briga com o filho do feiticeiro
A li bilibi ilebe dando socos
O ti igi soro soro o fibu oju Ele veste boas roupas
adiju Com um pedaço de madeira muito pontudo ele fere o
Koro bi eni ló o gba ehin oko olho de um outro
mà se ole Rápido como aquele que passa atrás de um campo sem
O já ile onile bó ti re lehin agir como um ladrão
A li oju tiri tiri Ele destroi a casa de um outro e com o material cobre a
O rí saka aje o dì lebe sua
O je owú baludi Ele tem olhos muito aguçados
O kó koriko lehin Ele acha uma pena de coruja e a prende em sua roupa
O kó araman lehin Ele é ciumento e anda "rebolando" displiscentemente
O se hupa hupa li ode olode Ele recolhe as ervas atrás
lo Ele recolhe as ervas atrás
Òjo pá gbodogi ró woro woro Ele anda "rebolando" desengonçado para ir ao pátio
O pà oruru si ile odikeji interior de um outro
O kó ara si ile ibi ati nyimusi A chuva bate na folha de cobrir telhados e faz ruído
Ole yo li ero Ele mata o malfeitor na casa de um outro
O dara de eyin oju Ele recolhe o corpo na casa e empina o nariz
Okunrin sembeluju O preguiçoso está satisfeito entre os passantes
Ogbe gururu si obè olori Ele é belo até nos olhos
A mò ona oko ko n ló Homem muito belo
A mo ona runsun rdenreden Ele coloca um grande pedaço de carne no molho do
O duro ti olobi kò rà je chefe
Rere gbe adie ti on ti iye Ele conhece o caminho do campo e não vai lá
O bá enia jà o rerin sún Ele conhece o caminho runsun redenreden
O se adibo o rin ngoro yo Ele está ao lado do dono dos obi e não os compra para
Ogola okun kò ka olugege li comer
òrùn O gavião pega o frango com as penas
Olugege jeun si okurú ofun Ele briga com qualquer um e ri estranhamente
O já gebe si orún eni li oni Ele tem o hábito de andar como a um bêbado que
O dahun agan li ohun bebeu
kankan Sessenta contas não podem rodear o pescoço de um
O kun nukuwa ninu rere papudo
Ale rese owuro rese / Ere O papudo come no inchaço de sua garganta
Ele quebra o papo do pescoço daquele que o possui
Ele dá rapidamente crianças às mulheres estéreis
meji be rese
Ele guarda seus talismãs numa pequena cabaça
Koro bi eni lo
A noite coisa sagrada, de manhã coisa sagrada /
Arieri ewo ala
Duas vezes assim coisa sagrada
Ala opa fari
Rápido como alguém que parte
Oko Ahotomi
A proibição do pássaro branco é o pano branco
Oko Fegbejoloro
Ele mexe os braços fantasiosamente
Oko Onikunoro
Marido de Ahotomi
Oko Adapatila
Marido de Fegbejoloro
Soso li owuro o ji gini mu
Marido de Onikunoro
òrún
Marido de Adapatila
Rederede fe o ja kùnle ki
Bem desperto, ele acorda de manhã já com o arco e
agbo
flecha no pescoço
Oko Ameri èru jeje oko
Como um louco ele se debate para colocar os joelhos no
Ameri
chão, como o carneiro
Ekùn o bi awo fini
Marido de Ameri que dá mêdo
Ogbon iyanu li ara eni iya ti
Leopardo de pele bonita
n je
Ele expulsa a infelicidade do corpo de alguém que tem
O wi be se be
infelicidade
Sakoto abi ara fini
Assim ele diz e assim ele faz
Orgulhoso que possui um corpo muito belo

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Obaluayê, o "Rei do Mundo" ou Omolu, o "Filho do Senhor" são os apelidos


geralmente dados a Xapanan, deus da varíola e das doenças contagiosas, cujo
nome é perigoso de ser pronunciado.

É sincretizado com São Lázaro e São Roque, na Bahia, e com São Sebastião, no
Recife. As pessoas que lhe são dedicadas, usam colares de cores preta e vermelha.

Quando o deus se manifesta sobre um de seus iniciados ele é acolhido pelo grito
Atotô ! que, no país Yorubá, é a expressão utilizada pelos interlocutores de um
personagem importante para mostrar-lhe que suas palavras são escutadas com
respeito e atenção. Seus Iaôs dançam inteiramente revestidos de palha da costa. A
cabeça, também, é recoberta por um capuz de palha cujas franjas recobrem seu
rosto. Em conjunto, parecem pequenos montes de palha, em cuja parte inferior
aparecem pernas cobertas por calças de renda e, na altura da cintura, mãos
brandindo um Xaxara, espécie de vassoura feita de nervuras de folhas de palma,
decorada com búzios, contas e pequenas cabaças que se supõe conter remédios.
Dançam curvados para frente, como que atormentados por dores, e imitam o
sofrimento, as coceiras e os tremores de febre. A orquestra toca para Obaluayé um
ritmo particular chamado Opanijé, no decorrer da qual lhe são apresentados pratos
de Aberem, milho cozido enrolado em folhas de bananeira, carne de bode e pipocas
que todos comem junto com ele.

Segunda-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. O chão do adro da igreja de


São Lázaro, na Bahia, é coberto, neste dia, de pipocas que as pessoas passam em
seus próprios corpos para se preservarem de possíveis doenças contagiosas,
associando, assim, numa mesma manifestação, a sua fé na força do deus africano e
do santo católico.

As proibições alimentares das pessoas dedicadas a Obaluayé são: carneiro, peixe de


água doce de pele lisa, bananas prata, frutos de plantas trepadeiras, abóboras,
melões, chuchus, jacas, caranguejos, etc.
Diz-se que o filho de Nanan Baruku é originário, como ela, de Oxumarê, do país
Mahi. Os locais consagrados a estas três divindades, Pejis, são, por este motivo,
reunidos numa mesma cabana, separada das dos outros deuses.

Na África, o culto de Obaluayé, assim como o de Nanan Buruku, do qual trataremos


no próximo capítulo parece fazer parte de sistemas religiosos pré-yorubás.

Segundo certas lendas, Obaluayé estaria instalado na região de Ifé, antes da


chegada do conquistador Odudúa e teria precedido Orunmilá, na colina de Oké
Itaxé. O local de origem de Obaluayé- Xapanan ainda é desconhecido, mas parece
ter sido no país de Tapa-Nupê.

Uma lenda confirma esta última suposição: "Obaluayé era originário de Empé (Tapa)
e havia levado seus guerreiros em expedição aos quatro cantos da Terra. Uma ferida
feita por suas flechas tornava as pessoas cegas, surdas ou mancas. Obaluayé
chegou assim, ao Daomé, batendo e dizimendo seus inimigos, e pôs-se a massacrar
e a destruir tudo o que encontrava à sua frente. Os daomeanos, porém, tendo
consultado um Babalaô aprenderam como acalmar Obaluayé com oferenda de
pipocas. O Orixá, tranqüilizado pelas atenções recebidas, mandou-os construir um
palácio onde ele passaria a morar, não mais voltando ao país Empé. O Daomé
prosperou e tudo se acalmou. Apesas da escolha feita po Obaluayé deste novo local
de residência, continuaram a saudá-lo Kabiyési Olutapá Lempé, "Rei do país Tapa no
país Empé".

Sapata, versão Fon de Daomé de Xapanan, teria sido originário de país Nagô. Isto é
atestado, tanto pelo fato de que, no decorrer da iniciação, os futuros Sapatassí,
pessoas dedicadas a Sapata, são chamadas de Anagonu, gente Anagô ou Nagô;
como, também, pelo fato de que a língua ritual - falada nos conventos de iniciação
a este deus e usada nas preces - é o Yorubá primitivo, ainda cotidianamente falado
pelos Ana-Ifé, habitantes da região de Tchetti e Atakpamé, aos quais faremos
referência no capítulo seguinte.

A antiguidade do culto de Obaluayé e do de Nanan Buruku, freqüentemente


confundidos em certas partes da África, está comprovado por um detalhe do ritual
de sacrifícios de animais. Esta reação é realizada por estes dois Orixás sem o
emprego deuma faca. A tradição exige que as pessoas entoem um cântico e que o
animal passe, desta maneira, de uma vida a outra. Esta ausência de instrumento de
ferro para fazer o sacrifício é explicada como uma recusa das duas divindades,
baseada numa lenda onde Ogun briga com obaluayé e Nanan Buruku: o primeiro
pretendia que ninguém poderia comer sem a sua ajuda, pois era o artesão das
armas que abatiam a caça e do facão que servia para destrinchá-la; os outros dois,
querendo provar-lhe o contrário, abstinham-se do uso do ferro.

Esta disputa entre divindades pode ser interpretada como o choque de religiões
pertencentes à épocas diferentes, sucessivamente instaladas no mesmo local,
dando nascimento a um mito onde a rivalidade dos deuses substitui e simboliza o
conflito entre povos de civilizações diferentes: os seguidores de Obaluayé e Nanan,
fazendo parte de cultos antigos onde o uso do ferro ainda era desconhecido; os
adeptos a Ogun, pertencendo à época do ferro.

O comportamento dos seguidores de Obaluayé e de Nanan Buruku era ditado pela


fidelidade ao ritual antigo em matéria de sacrifícios, ritual estabelecido antes da
vinda do deus ferro.

Eis algumas saudações tradicionais para Obaluayé:

"Meu pai que dança sobre o dinheiro.


Ele mede as suas contas em caldeirões
Caçador negro que cobre seu corpo com tecido de palha da costa.
Não encontrei outros orixás que façam como ele.
Uma roupa de pele adornada por pequenas cabaças.
Meu pai que mata qualquer pessoa e a come.
Ninguém deve sair sozinho ao meio-dia".

A última saudação vem do fato de que Obaluayé é freqüentemente chamado de


Olodê, dono do exterior (fora das casas) e que ele gosta de passear pelas ruas na
hora do sol forte, no meio do dia, sendo perigoso cruzá-lo no seu caminho.

O arquétipo de Obaluayé é o das pessoas com tendência masoquista, que gosta de


exibir seus sofrimentos e as tristezas que os afligem intimamente. Pessoas que são
incapazes de sentir satisfação, quando sua vida corre tranqüila. Podem atingir
situações materiais invejáveis e rejeitar, um belo dia, todas essas vantagens por
causa de certos escrúpulos imaginários. Pessoas que em certos casos, sentem-se
capazes de se consagrar ao bem estar dos outros, fazendo completa abstração de
seus próprios interesses e necessidades vitai

VOLTAR

Oxumarê é a serpente arco-íris. Suas funções são múltiplas. Alguns, poeticamente,


declaram que são meros servidores de Xangô e que seu trabalho consiste em
recolher a água caída sobre a terra, durante a chuva, para levá-la às nuvens... Mas
achamos nesta definição um certo tom "educativo e descritivo dos fenômenos da
natureza para escolas primárias ocidentais".

Oxumarê é o símbolo da mobilidade e da atividade. Ela é a continuidade e a


permanência e, algumas vezes, é representado por uma serpente que se enrosca e
morde a própria cauda. Enrola-se em volta da terra para impedi-la de se
desagregar. Se perdesse as forças, isto seria o fim do mundo... Eis aí uma excelente
razão para não se negligenciar as suas oferendas.

Oxumarê é ao mesmo tempo, macho e fêmea. esta dupla natureza aparece nas
cores vermelha e azul que cercam o arco-íris. Ela representa, também, a riqueza,
uma das virtudes mais apreciadas... mesmo no mundo dos Yorubás.

Certas lendas contam que "ele era outrora um Babalaô adivinho, filho do
proprietário-da-estola-de-cores-brilhantes". Começou a vida com um grande período
de mediocridade e mereceu, por esta razão, o desprezo de seus contemporâneos.
Sua chegada final à glória e à força é simbolizada pelo arco-íris que, quando
aparece, faz as pesoas exclamarem: "Ora, ora, ora, eis Oxumarê!" Isto mostra,
assim, que ele é conhecido universalmente e, como a presença do arco-íris impede
que a chuva caia, ele demonstra, também, a sua força".

O mesmo tem aparece numa outra lenda: "Este mesmo babalaô Oxumarê vivia
duramente explorado por Olofin-Odudúa, o rei de Ifé, seu principal cliente.
Consultava-lhe a sorte, de quatro em quatro dias. O rei, porém, remunerava seus
serviços com extrema parcimônia e Oxumarê vivia num estado de semi-penúria.
Felizmente para ele, foi chamado por Olokun, rainha de um reino vizinho, cujo filho
sofria de um mal estranho: não conseguia se manter em suas próprias pernas, tinha
crises e, nestes momentos, rolava sobre as cinzas incandescentes da lareira.
Oxumarê curou a criança e voltou a Ifé repleto de avançarpresentes, vestido com
riquíssima vestimenta do mais belo azul. Olofin, espantado por este repentino
esplendor e lastimando sua avareza passada, rivalizou em generosidade com
Olokun, dando a Oxumarê, pelo seu lado, presentes de valor e oferecendo-lheuma
roupa de uma bela cor vermelha. Oxumarê ficou rico, respeitável e respeitado, sem
imaginar que tempos melhores ainda o esperavam. Olodumaré, o Deus Supremo,
sofria da vista e mandou chamar Oxumarê; quando se viu curado por seus cuidados
recusou-se a se separar dele. Desde esta época, Oxumarê reside no céu e só, de
tempos em tempos, tem autorização de pisar na terra. Nestas ocasiões, os seres
humanos tornam-se ricos e felizes".

Os Orikis, saudações a Oxumarê, são bastante descritivos:

"Oxumarê que fica no céu


Controla a chuva que cai sobre a terra.
Chega à floresta e respira como o vento.
Pai, venha até nós para que cresçamos e tenhamos longa vida".

No Brasil, as pessoas dedicadas a Oxumarê usam colares de contas de vidro


amarelas e verdes; a terça-feira é o dia da semana que lhe é consagrada. Seus
iniciados usam brajá, longos colares de búzios, enfiados de maneira a parecer
escamas de serpente, e trazem à mão um Ebiri, espécie de vassoura feita com
nervuras das folhas de palmeira, reunidas em feixes, ligadas, e cuja extremidade
superior foi recurvada e dobrada. No decorrer de suas danças, apontam os dedos
indicadores alternativamente, para o céu e para a terra. As pessoas gritam
Aoboboi !!! para o saudar. A Oxumarê são feitas oferendas de patos e comidas onde
se misturam feijão, milho e camarões cozidos no azeite de dendê.
Na Bahia, Oxumarê é sincretizado com São Bartolomeu. Festejam-no numa pequena
cidade dos arredores que leva seu nome. Seus fiéis aí se encontram no dia 24 de
agosto, a fim de se banharem numa cascata coroada por uma neblina úmida, onde
o sol faz brilhar permanentemente o arco-íris de Oxumarê.

As origens deste deus, pouco conhecido na Nigéria, são tidas no Brasil como
estando no país Mahi, ao norte de Abomey.

Oxumarê é o arquétipo das pessoas que desejam ser ricas. Das pessoas pacientes e
perseverantes nos seus empreendimentos, e que não medem sacrifícios para atingir
seus objetivos. Suas tendências à duplicidade podem ser atribuídas à natureza
andrógina de seu deus. Com o sucesso tornam-se facilmente orgulhosas e
pomposas e gostam de demonstrar sua grandeza recente. Não deixam de possuir
generosidade e não se negam a estender a mão, em socorro daqueles que dela
necessitam

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Oyá, mais conhecida no Brasil sob o nome de Yansã, é a divindade dos ventos, das
tempestades e do rio Niger que, em Yorubá, chama-se Odô Oyá, o Rio Oyá. Foi a
primeira mulher de Xangô e tinha um temperamento ardente e impetuoso. Conta
uma lenda que Xangô enviou-a em missão ao país dos Baribas, a fim de trazer-lhe
um preparado que, uma vez ingerido, lhe permitiria lançar fogo e chamas pela boca
e pelo nariz. Oyá, desobedecendo as instruções do esposo, experimentou esse
preparo no caminho de volta a Oyó, tornando-se também capaz de cuspir fogo, o
que provocou grande desgosto em Xangô que desejava guardar, só para si, esta
terrível faculdade.

Oyá foi, no entanto, a única das mulheres de Xangô que, ao final de seu reinado,
seguiu-o na sua fulga ao páis de Tapa. E quando Xangô recolheu-se para debaixo da
terra, em Kosô, ela repetiu o feito em Irá.

Antes de se tornar mulher de Xangô, Oyá tinha vivido com Ogun. Vimos, em
capítulos precedentes, como a aparência do deus do ferro e dos ferreiros e causou-
lhe menos efeito que a elegância, o garbo e o filho do deus do trovão.
Ela fugiu com Xangô e Ogun, enfurecido, resolveu enfrentar o seu rival; mas este foi
à procura de Olodumaré, o deus supremo, para confessar-lhe que havia ofendido
Ogun. Olodumaré interveio junto ao amante traído recomendou-lhe que perdoasse a
afronta. E explicou-lhe: "Você, Ogun, é mais velho do que Xangô!" (seu avô, se
acreditarmos nas lendas referidas mais acima, onde ogun é pai de Oranmiyan e
este, pai de Xangô). "Se, como mais velho, deseja preservar sua dignidade aos
olhos de Xangô, e aos dos outros Orixás, você não deve se aborrecer, não deve
brigar, deve renunciar a Oyá sem recriminações". Mas Ogun não foi sensível a este
apelo, dirigido aos seus sentimentos de indulgência. Não se resignou tão
calmamente assim, lançou-se ã perseguição dos fugitivos e, como vimos
anteriormente, trocou golpes de varas mágicas com a mulher infiel que foi, então,
dividida em nove partes.

Este número nove, ligado a Oyá, está na origem de seu nome Yansã e encontramos
esta referência no ex-Daomé, onde o culto de Oyá é feito em Porto Novo sob o
nome de Avessân, no bairro Akron, Lokorô dos Yorubás, e sob o Abessân, mais ao
norte, em Baningbé. Estes nomes teriam por origem a expressão Aborimesan,
"com-nove-cabeças", alusão, ao que parece, aos nove braços do delta do Niger.

Uma outra indicação sobre esta nome nos é dada pela lenda da criação da roupa de
Egungun por Oyá. Roupas sob as quais, em certa circunstância, os mortos de uma
família voltam à terra a fim se saudar seus descendentes. Oyá é o único Orixá
capaz de enfrentar e de dominar os Egunguns:

"Oyá se lamentava por não ter filhos. Esta triste situação era conseqüência da
ignorância das suas proibições alimentares. Embora a carne de cabra lhe fosse
recomendada, ela comia carne de carneiro. Oyá resolveu consultar um Babalaô, que
lhe resolveu o seu erro, aconselhando-a a fazer oferendas, entre as quais deveriam
figurar tecido vermelho que, mais tarde, haveria de servir para confeccionar as
vestimentas dos Egunsguns. Tendo cumprido esta obrigação, Oyá tornou-se mãe de
nove crianças, que se exprime em Yorubá pela frase: Iya omo mesan, origem de seu
nome Yansã. Assim que a roupa de Egungun, foi criada, formou-se, em torno dessa
"novidade", uma sociedade composta exclusivamente de mulheres, com o objetivo
de enfrentar a prepotência dos homens. Mas elas exageraram e se aproveitam da
confusão provocada pela aparição desses seres estranhos, os Egunguns, para
enganar impunemente os seus maridos. Estes exasperados, conseguiram descobrir
seu segredos, apoderaram-se da Sociedade e reservaram-na aos homens dela
excluindo as mulheres para sempre" Existe uma lenda, conhecida na África e no
Brasil, que explica de que maneira os chifres de búfalo vieram a ser utilizados no
ritual do culto de Oyá-Yansã: "Um caçador foi em expedição à floresta. Colocando-se
à espreita, percebeu um búfalo que vinha em sua direção. Preparava para matá-lo
quando o animal, parando subitamente, retirou a sua pele. Uma linda mulher
apareceu. Era Oyá-Yansã. Ela escondeu a pele num cupinzeiro e dirigiu-se ao
mercado da cidade vizinha. O caçador apossou-se do despojo, escondendo-o no
fundo de um depósito de milho, ao lado de sua casa, indo, em seguida, ao mercado
a fim de fazer a corte à mulher búfalo. Ele chegou a pedi-la em casamento, mas
Oyá recusou inicialmente, aceitou entretanto, quando, de volta à floresta, não mais
achou a sua pele. Oyá recomendou ao caçador que não contasse a ninguém que, na
realidade, ela era um animal. Viveram bem durante alguns anos. ela pôs nove
crianças ao mundo, o que provocou o ciúme das outras esposas do caçador. Estas,
porém, conseguiram descobrir o segredo da origem da nova mulher. Logo que o
marido se ausentou elas começaram a cantar: Máa jé, máa mu, awó re nbe ninu
aká, o que significa: "Você pode beber e comer ( e pode exibir a sua beleza) mas a
sua pele está no depósito ( você não é senão um animal)". Oyá-Yansã compreendeu
a alusão, achou a sua pele, revestiu-a e, tendo retomado a forma de búfalo, matou
as mulheres ciumentas. Os seus chifres ela os deixou, em seguida, com os filhos,
dizendo-lhes: "Em caso de necessidade, bata-os um contra o outro, e eu virei
imediatamente em vosso socorro". É por esta razão que chifres de búfalos são
sempre colocados em locais consagrados a Oyá-Yansã.

Tive a oportunidade de recolher esta história na Bahia. Ela apresenta, entretanto,


algumas variações, em relação àquela que me foi contada posteriormente na África.
Mas Cosme, um velho Pai de Santo, hoje falecido, pronunciava com perfeita
correção a frase Yorubá citada acima.

Os Oriki, saudações dirigidas a Oyá, descrevem-na bastante bem:

"Oyá, mulher corajosa que, ao acordar, empunhou um sabre.

IOyá, mulher de Xangô.

Oyá, cujo marido é vermelho.

Oyá, que morre corajosamente com seu marido.

Oyá, vento da morte.

Oyá, ventania que balança as folhas das árvores que toda a parte.

Oyá, que é à única que pode segurar os chifres de um búfalo".

No Brasil, as pessoas dedicadas a Oyá-Yansã usam colares de contas de vidro cor e


vinho. A quarta-feira é o dia semana que lhe é consagrado, o mesmo dia de Xangô,
seu marido. Seus símbolos são os chifres de búfalo e um alfanje, colocados sobre
seu Oeji. Ela recebe oferendas de cabras e acarajés (akará na África). Ela detesta
abóbora. Carne de carneiro lhe é proibida. Quando se manifesta sobre uma das
iniciadas está adornada com uma coroa cujas franjas de contas escondem o seu
rosto. Ela traz um alfanje, em uma das mãos e um espanta-moscas, feito de cauda
de cavalo, na outra. Suas danças são guerreiras e, se Ogun está presente, ela não
deixa de se empenhar num duelo, lembrança, sem dúvida, de suas antigas
divergências. Ela evoca também, por seus movimentos sinuosos e rápidos, as
tempestades e os ventos enfurecidos. Seus fiéis saudam-na gritando: Epa Heyi Oyá.
No Brasil, Oyá é sincretizada com Santa Bárbara e, em Cuba, com Nossa Senhora
da Candelária.
Certas Yansãs, chamadas de Yansãs de Igbalé, ligadas aos cultos dos mortos, os
Egunguns, logo que começam a dançar, parecem expulsar as almas errantes com
seus braços largamente abertos e estendidos para a frente.

O arquétipo de Oyá-Yansã é o das mulheres audaciosas, poderosas e autoritárias.


Mulheres que podem ser fiéis e de lealdade absoluta em certas circunstâncias mas
que, em outros momentos, quando contrariadas em seus projetos e seus
empreendimentos, são capazes de se deixar levarem à manifestações da mais
extrema cólera.

Mulheres, enfim, cujo temperamento sensual e voluptuoso pode levá-las a


aventuras amorosas extra-conjugais múltiplas e freqüentes , sem reserva nem
decência, o que não as impede de continuar muito ciumentas dos seus maridos por
elas mesmas enganadas.

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Obá, divindade de um rio que leva o mesmo nome, é a terceira mulher de Xangô.
Uma grande rivalidade, porém, não demorou a surgir entre ela e Oxun. Ela era
jovem e elegante, Obá era mais velha e usava roupas fora da moda, fato que nem
chegava a perceber pois pretendia monopolizar o amor de Xangô. Com este
objetivo, sabendo o quanto Xangô era guloso, procurava sempre surpreender os
segredos das receitas de cozinha utilizadoas por Oxun, a fim de preparar as
comidas de Xangô. Oxun, irritada, decidiu pregar-lhe uma peça e, um belo dia,
pediu-lhe que viesse assistir, um pouco mais tarde, a preparação de determinado
prato que - segundo lhe disse Oxun, maliciosamente - realizava maravilhas junto a
Xangô, seu esposo comum. Obá apareceu na hora indicada. Oxun, tendo a cabeça
atada por um pano que lhe escondia as orelhas, cozinhava uma sopa na qual
nadavam dois cogumelos. Oxun mostrou-os à sua rival, dizendo-lhe que tinha
cortado as próprias orelhas, colocando-as para ferver na panela, a fim de preparar o
prato predileto de Xangô. Este, chegando logo em seguida, tomou a sopa com
apetite e deleite e retirou-se, gentil e apressado, em companhia de Oxun. Na
semana seguinte, era a vez de Obá cuidar de Xangô. Ela decidiu pôr em prática a
receita maravilhosa: cortou uma de suas orelhas e fê-la cozinhar numa sopa
destinada a seu marido. Este não demonstrou nenhum prazer em vê-la, assim, com
a orelha decepada e achou repugnante o prato que ela lhe serviu.Oxun apareceu,
neste momento, retirou seu lenço e mostrou que suas orelhas jamais tinham sido
cortadas, e devoradas por Xangô. Começou, entào, a caçoar da pobre Obá que,
furiosa, se precipitou sobre a sua rival. Seguiu-se uma luta corporal entre elas.
Xangô, irritado, fez explodiro seu furor. Oxun e Obá, apavoradas, fugiram e se
transformaram nos rios que levam seus nomes. No local de confluência dos dois
cursos d'água, as ondas tornam-se muito agitadas em lembrança da disputa entre
as duas divindades.

Consta-se ainda sobre Obá uma lenda, por vezes atribuída a Oxun, baseada num
jogo de palavras: "O rei de Owú, partindo em expedição guerreira, deve atravessar
o rio Obá com seu exercito. O rio estava em período de enchente e as águas tão
tumultuadas que não podiam ser atravessadas. O rei fez, então uma promessa
solene, embora mal formulada. Ele declarou: 'Obá, deixe passar meu exercito, eu
lhe imploro; faça baixar o nível de suas águas e, se sair vitorioso da guerra eu lhe
oferecerei uma boa coisa, nkan rerê'. ora, ele tinha por mulher uma filha do Rei de
Ibadan que levava o nome de Nkan, e era esta que o rio Obá pensava receber como
oferenda. As águas baixaram, o rei atravessou o rio e venceu a guerra. Regressou
com um saque considerável. Chegou próximo ao rio Obá, ele o encontrou
novamente em período de cheia. O rei ofereceu-lhe todas as' boas coisas', nkan rerê
- tecidos, búzios, bois, comidas - mas o rio rejeitou todos estes dons. Era Nkan, a
mulher do rei, que ele exigia. Como o rei de Owú era obrigado a passar, teve que
lançar Nkan às águas. Mas ela estava grávida e pariu no fundo do rio. Este rejeitou
o recém-nascido, declarando que somente Nkan lhe tinha sido prometida. Ás águas
baixaram e o Rei voltou triste aos seus domínios, seguido pelo seu exercito.

O Rei de Ibadan tomou conhecimento do ocorrido. Indignado, declara não haver


dado a sua filha em casamento para que lhe servisse de oferenda a um rio. Fez a
guerra a seu genro, venceu-o e expulsou de seu país".

No Brasil, assim que Obá aparece num candomblé, montada sobre uma de suas
iniciadas, ata-se um turbante sobre sua cabeça a fim de esconder uma de suas
orelhas, como recordação da lenda já referida. Se Oxun se manifesta, no mesmo
momento, a tradição exige que as duas divindades encarnadas procurem lutar
novamente e é preciso, então, intervir energicamente para separá-las. A dança de
Obá é guerreira: ela brande um sabre com uma das mãos e leva um escudo na
outra.
São-lhe feitas oferendas de cabras, patos e galinhas de Angola. Ela é sincretizada
com Santa Catarina mas, como existem muitas santas com este nome, não se sabe,
co certo, se se trata de Santa Catarina de Alexandria, ou de Bolonha, ou de Gênova,
ou de Siena.
O arquétipo de Obá é aqueles das mulheres valorosas e incompreendidas. Suas
tendências um pouco viris fazem-nas freqüentemente voltar-se para o feminismo
ativo. As atitudes militantes e agressivas são conseqüências de experiências
infelizes ou amargas por elas vividas. Os seus insucessos são freqüentemente
resultado de um ciúme um pouco mórbido. Entretanto encontram geralmente
compensações para as frustrações sofridas, em êxitos materiais, onde a sua avidez
de ganho e o cuidado de nada perder de seus bens, tornam-se garantias de
sucesso.

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Lenda de Ewá

Um dos mitos diz que Ewá estava se banhando no rio enquanto suas mucamas
lavava suas roupas, quando subitamente um jovem vestido de branco vinha
correndo pelas margens do rio apavorado, pedido socorro à Ewá.

Ewá muito desconfiada, perguntou lhe o que estava acontecendo, ele lhe respondeu
que estava sendo perseguido por Iku (a morte).

Ewá vendo que o rapaz estava sendo sincero em seu pedido ordenou a suas
mucamas que o esconde-se em baixo de suas roupas que estava a lavar, logo após
em sua perseguição vinha Iku perguntando à Ewá se a mesma havia visto um jovem
passar por ali.

Ewá respondeu lhe então:

- você não vê que estou a me banhar, respeite o banho da esposa do rei


Omolu, e
respeite as fronteiras do meu reinado;
- Iku respondeu à Ewá:
- Iku não tem fronteiras, Iku se quiser mata reis e rainhas e destroí reinados. E
Iku
perguntou novamente onde estava o jovem e Ewá percebendo que Iku
estava desconfiado ela lhe respondeu:
- ele desceu o rio, Iku então continuou á sua perseguição descendo o rio
abaixo.
Em seguida o rapaz saiu debaixo dos panos agradecendo á Ewá, ela então
lhe perguntou o seu nome e ele respondeu eu me chamo Ifá o deus da
adivinhação.
Ifá disse á Ewá de hoje em diante você será a mãe da adivinhação.
- Então Ewá iria lhe fazer uma pergunta e Ifá lhe respondeu:
- Ewá não diga nada, pois eu sei o que você quer, você deseja Ter a
fertilidade,
- ela respondeu:
- sim, e ele disse não se preocupe Ewá você será fértil, então Ifá partiu.
Com ao passar do tempo Ewá conseguirá dar a luz á seu filho e de Omolu.
O arquétipo de Ewá são o das mulheres belas, tranqüilas e adaptáveis,
mulheres cheias de iniciativa, sensíveis e poéticas. Enfim os filhos de Ewá
adoram ler, mas em relação ao amor só se entregam em absoluto quando
estão loucamente apaixonados.
- Ewá representa o horizonte.

VOLTAR
"Yemanjá, cujo o nome deriva de Yeye oman ejá, "Mãe cujos filhos são peixes", é o
Orixá dos Egbás, uma nação yorubá estabelecida outrora na região de Ibadan, onde
existe ainda o rio Yemanjá. As guerras entre nações yorubáslevaram os Egbás a
emigrar, em direção oeste, para Abeokutá, no inicio do século XIX. Evidentemente,
não lhes foi possível carregar o rio, mas, em contrapartida, transportaram consigo
objetos os sagrados, suportes do Axé da divindade, e o rio Ogun, que atravessa a
região, tornou-se a partir de então, a nova morada de Yemanjá.

Este rio Ogun, entretanto, não deve ser confundido com Ogun, o deus do ferro e dos
ferreiros, contrariamente à opinião de numerosos autores que escrevem sobre o
assunto no século passado. Estes mesmo autores publicaram, a partir de 1884,
copiando-se uns aos outros, uma série de lendas escabrosas e extravagantes que
fizeram a delícia dos " meios eruditos", mas que eram completamente
desconhecidos nos meios tradicionais.

O templo principal de Yemanjá fica em Ibará, bairro da cidade de Abeokutá. Os fiéis


desta divindade vão procurar, todos os anos, a água sagrada para levar os Axés,
suportes de seu poder, não no rio Ogun, mas na fonte de um de seus afluentes,
chamado Lakaxá. Esta água, recolhida em jarras, é trazida em procissão para seu
templo.

Yemanjá seria a filha de Olokun, deus ( em Bénin e em Lagos) ou deusa ( em Ifé) do


mar. Em certa lenda, ela aparece casada pela primeira vez com Orunmila, senhor
das adivinhações, depois com Olofin-Ododúa, Rei de Ifé, com o qual teve dez filhos
cujas atividades bastante diversificadas e cujos nome enigmáticos parecem
corresponder a outros tantos Orixás. Dois dentre eles são facilmente identificados:
"O arco-iris-que-desloca-com-a-chuva-e-guarda-o-fogo-nos-seus-punhos" e "O
trovão-que-se-desloca-com-a-chuva-e-revela-seus-segredos". Estas denominações
representam, respectivamente, Oxumarê e Xangô.

Yemanjá, cansada de sua permanência em Ifé, foge mais tarde em ~direção ao


oeste. Olokun que havia dado, autrora, por medida de precaução, uma garrafa
contendo um preparado, pois "não-se-sabe-jamais-o-que-pode-acontecer-amanhã";
recomendara-lhe que a quebrasse no chão em caso de perigo. E assim, Yemanjá foi
se instalar na "Noite-da-Terra", à este, em Abeokutá, "ilusão à migração dos Egbás".
Olofin-Ododúa, rei de Ifé, lançou seu exercito em procura de Yemanjá. Esta,
cercada, em vez de se deixar prender e ser conduzida de volta a Ifé, quebrou a
garrafa, segundo as instruções recebidas. Um rio criou-se na mesma hora, levando-
a para Okun, o mar, lugar de residência de Olokun.

As imagens que representam Yemanjá dão-lhe o aspecto de uma matrona, com


seios volumosos, símbolo de maternidade fecunda e nutritiva. Esta particularidade
de possuir seios um pouco mais que majestosos - e somente um deles, segundo
outra lenda - foi a origem de desentendimentos com seu marido, embora ela já o
houvesse, honestamente, prevenido antes do casamento, dizendo-lhe que não
toleraria a mínima alusão desagradável ou irônica a esse respeito. Tudo ia muito
bem e o casal viva feliz. Uma noite, porém, quando o marido havia se embriagado
com vinho de palma, não mais podendo controlar as suas palavras, fez comentário
sobre seu seio volumoso. Tomada de cólera, Yemanjá bateu com o pé no chão e
transformou-se num rio a fim de voltar para Olokun, como na lenda precedente.

As saudações a Yemanjá são bastante interessantes:

"Rainha das águas que vem da casa de Olokun.


Ela usa, no mercado, um vestido de contas.

Ela espera, orgulhosamente sentada, diante do rei.

Rainha que vive nas profundezas das águas.

Nossa Mãe de seios chorosos".

Yemanjá recebe sacrifícios de carneiro e oferendas de comidas à base de milho


branco, azeite, sal e cebolas.

Ela se apresenta sob diversos nomes, ligados, como no caso de Oxun, aos diversos
lugares profundos, Ibús, do rio Ogun.

No Brasil, como em Cuba, dá-se sete nomes a Yemanjá e se conta:


que de Olokun, o mar, nasceram;

Yemowô, que na África é mulher de Oxalá;

Yamassê, mãe de Xangô;

Yewá ( Euá), rio que na África corre paralelo ao rio Ogun e que freqüentemente é
confundido com ele;

Olossá, a lagoa na qual deságua o rio Ogun;

Yemanjá Yogunté, casada com Ogun Alagbedé. "É - diz Lydia Cabrera, falando de
Yemanjá em Cuba - uma amazônia terrível, que traz pendurada na cintura o facão e
os outros instrumentos de ferro de Ogun. Ela é severa, rancorosa e violenta.
Detesta pato e adora carneiro";
Yemanjá Assaba, ela manca e está sempre fiando algodão. Lydia Cabrera
acrescenta: "Ela tem um olhar insustentável, É muito orgulhosa, e somente escuta
dando as costas ou ficando ligeiramente de perfil. É perigosa e voluntariosa. Usa
uma corrente de prata amarrada no tornozelo. Foi mulher de Orumilá e este aceitou
seus conselhos com respeito";

Yemanjá Assessú, muito voluntariosa e respeitável. Lydia Cabrera especifica que


"ela vive em água agitada. É muito séria. Gosta de comer pato. Muito lenta a
escutar os pedidos de deus fiéis. Esquece o que lhe pedem e se põe a contar
minuciosamente as penas do prato que lhe deram como oferenda. Se acontece se
enganar nos seus cálculos, ela recomeça e esta operação se prolonga
indefinidamente".

Na Bahia, os adeptos de Yemanjá usam colares de contas de vidro transparentes e


vestem-se, de preferência, de azul-claro. seu Axé é constituído por pedras marinhas
e conchas, guardadas numa sopeira de porcelana azul. Seus Iaôs durante o Xirê dos
orixás, trazem um leque de metal branco nas mãos levadas alternadamente sobre a
testa a nuca, cujo simbolismo não me foi possível perceber. Gisèle Cossard pensa
que Yemanjá, por este gesto, procura chamar a atenção para a beleza de seu
penteado de rainha.

Saúda-se Yemanjá gritando-se Odoyá. Sábado é o dia da semana que lhe é


consagrado, juntamente com outras divindades femininas, as Ayabas, as rainhas.
Na Bahia, Yemanjá é sincretizada com Nossa Senhora da Imaculada Conceição,
festejada no dia 8 de dezembro. Ela é mais ligada às águas salgadas do mar que às
águas doces dos rios, que é domínio de Oxun. Curiosamente, porém, as pessoas
fazem abstração, na Bahia, do sincretismo que liga o Oxun a Nossa Senhora das
Candeias, festejada no dia 2 de fevereiro, pois é nessa data que se organiza um
solene presente para Yemanjá, o que mostra que o sincretismo entre os deuses
africanos e os santos da igreja católica não é de uma rigidez absoluta.

Esta festa do dia 2 de fevereiro é uma das mais populares do ano, atraindo à praia
do Rio Vermelho uma multidão imensa de fiéis e de admiradores da Mãe das Águas,
freqüentemente rpresentada sob a forma latinizada de uma sereia, com longos
cabelos soltos ao vento. Chamam-na, também, Dona Janaína, a Princesa ou a
Rainha do Mar.

Neste dia (2 de fevereiro), bem cedo pela manhã, longas filas de pessoas se
formam diante da pequena casa construída rapidamente, na véspera, a fim d
obrigar as grandes cestas destinadas a receber os donativos e as oferendas par
Yemanjá.

Durante todo este dia, forma-se um lento desfile de pessoas de todas as origens e
de todos os meios sociais, trazendo ramos de flores frescas ou artificiais, pratos de
comida feitos com carinho, frascos de perfumes, sabonetes embrulhados em papel
transparente, bonecas, cortes de tecidos e outros presentes agradáveis a uma
mulher bonita e vaidosa. Cartas e súplicas não faltam, nem presentes em dinheiro,
assim como colares e pulseiras. Em algumas horas as cestas já estão cheias e
substituídas por outras. Ao final da tarde, os ramos de flores são colocados em cima
das cestas, transformando-as, assim, numas 30 braçadas de flores, imensas. O
entusiasmo da multidão chega ao seu máximo.
Não se escutam senão gritos alegres, saudações a Yemanjá, votos de prosperidade
futura. Uma parte da assistência embarca a bordo de veleiros, barcos e lanchas a
motor. A flotilha se dirige para o alto mar, onde as cestas são depositadas sobre as
ondas. Segundo a tradição, para que as oferendas sejam aceitas, elas devem
mergulhar até o fundo, sinal de aprovação de Yemanjá. se elas forem rejeitadas e,
conseqüentemente, devolvidas à praia, é sinal de recusa para grande tristeza e
decepção dos Admiradores de Yemanjá.

Tomo emprestada a descrição do arquétipo de Yemanjá de Lydia Cabrera, ela


mesma filha de Yemanjá, certamente a mais competente de todas aquelas que me
foi dado o prazer de conhecer: "As filhas de Yemanjá são voluntariosas, fortes,
rigorosas, protetoras, altivas e, algumas vezes, impetuosas e arrogantes; põem à
prova as amizades que lhe são devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e,
se a perdoam, não a esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais
e sérias. Sem possuírem a vaidade de Oxun, gostam do luxo, das fazendas azuis e
vistosas, das jóias caras. Têm tendência à vida suntuosa mesmo se as
possibilidades do cotidiano não lhes permitem um tal fausto"

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Nanan Buruku é conhecida no Brasil como a mãe de Obaluayé-Xapanan. É


sincretizada com Santana. Os colares de contas de vidro usados por aqueles que lhe
são consagrados são das cores branca, vermelha e azul. Segundo uns, o seu dia é a
segunda-feira, juntamente com seu filho Obaluayé; segundo outros, é o sábado, ao
lado das divindades das águas. Seus adeptos dançam com a dignidade que convém
a uma senhora idosa e respeitável. Seus movimentos lembram um andar lento e
penoso, apoiado num bastão imaginário que os dançarinos, curvados para a frente,
parecem puxar para si. Em certos momentos, viram-se para o centro da roda e
colocam seus punhos fechados, um sobre o outro, num gesto que vimos em Tchetti,
na África, e do qual falaremos a seguir. Quando Nanan Buruku se manifesta numa
de suas iniciadas é saudada pelos gritos de Salúba! Fazem-lhe sacrifícios de cabras
e galinhas de angola, sem utilizar facas, e oferecem-lhe pratos preparados com
camarões, sem azeite, mas bem temperados.

É considerada a mais antiga das divindades das águas - não das ondas turbulentas
do mar, como Yemanjá, ou das águas calmas dos rios, domínio de Oxun - mas das
águas paradas dos lagos lamacentas dos pântanos. Estas lembram as águas
primordiais que Odudúa ou Oranmiyan ( segundo a tradição de Ifé ou de Oyó)
encontrou no mundo quando criou a terra.
Este muito simbolizaria a existência de uma primeira civilização,representada por
Nanan Buruku, civilização que existia antes da chegada de Odudúa e de Ogun que
trouxeram com ele o conhecimento do ferro e de suas utilizações. Nanan Buruku
teria, aqui, o mesmo papel que Yeyemowo, a mulher de Oxalá - rei dos Igbos
estabelecido perto de Ifé, antes da chegada de Odudúa - aproximando-se, assim, da
lenda conhecida no Brasil, da existência de um casal Oxalá - Nanan Buruku.

Nanan Buruku é uma divindade muito antiga na África. A área de influência de seu
culto é bastante vasta e aparece se estender à leste, para além do Niger, palos
menos até o país Tapa-Nupé; a oeste, ultrapassando o Volta, tinge a região dos
Guangs e da nação Gomba.

Se o culto de Nanan Brukung tem tendência a se confundir com o de Xapanan-


Obaluayê-Omulu, na direção do leste, ele se apresenta bem diferenciado, no oeste,
onde seu nome se pronuncia Nanan Burukung.

O local da demarcação entre as duas espécies de Nanan parece Zumé, Tchetti e


Atakpamé, dão, de maneira unânime Siadi ou Schiari ( na região de Adelé, no Gana
atual, próximo à fronteira de Togo) como meta de peregrinação ao lugar de origem
de Nanan Buruku ou Brukung, Em Savé, há também indicações de ligação entre
Nanan Brukung e o país Bariba.

Tive a ocasião de assistir em Tchetti, no Daomé, próximo de Atakpamé, no Togo,


( ponto de partida para a peregrinação ao Adelé ), a uma série de danças dedicadas
a Nanan Brukung. As dançarinas, de de idade avançada, evoluíam aos sons de
tambores, Apinti, e de sinos de percussão. Todas elas traziam na mão um cajado
salpicado de vermelho, como os usado pelos peregrinos. A dança consistia num
lento desfile das iniciadas de Brukung e parecia rememorar a peregrinação por elas
realizadas. Iam apoiadas em seus bastões, andando um pouco de lado, com passo
lentos e circunspectos. Sua atitude imitava a fadiga de uma longa viagem. Paravam
de vez em quando, inclinavam-se para frente e estreitavam o seu bastão, entre
suas mão fechadas, uma sobre a outra, num gesto que lembrava o dos iniciados de
Nanan Buruku, no Brasil.
As saudações feitas a essa divindade resumem bem as suas diversas
características:

"Proprietária de um cajado.

Salpicada de vermelho, sua roupa parece coberta de sangue.

Orixá que obriga os Fon a falar Nagô.

Minha mãe foi inicialmente ao país Baribe.

Água para que mata de repente.


Ela mata uma cabra sem utilizar a faca"

Nanan Buruhu é o arquétipo das pessoas que agem com calma, benevolência e
gentileza. Das pessoas lentas no cumprimento de seus trabalhos, e que julgam ter a
eternidade à sua frente para acabar seus afazeres. Elas gostam de crianças e
educam-nas, talvez, com excesso de mansidão pois têm tendências a se comportar
com a indulgência de avós. Agem com tal segurança, e tão majestosamente, que
desviam os enganadores, inspirando-lhes um saudável terror, o que os impede de
envolvê-las em seus projetos maldosos. Suas reações bem equilibradas e a
pertinência de suas decisões as mantêm sempre no caminho da sabedoria e da
justiça.

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Oxalá ou Obatala, o Orixá, o Rei da Roupa Branca ou, ainda, o Grande Orixá é o
mais importante dos deuses Yorubá. Foi o rimeiro a ser criado por Olodumaré, o
Deus Supremo, que lhe conferiu o poder de sugerir, Axé, e de realizar, Axé, razão
pela qual é saudado com o título de Alabalaxé.
Oxalá tinha um caráter bastante obstinado e independente, o que lhe causaria
inúmeros problemas. Foi o encarregado, por Olodumaré, de criar o mundo e o Deus
Supremo entregou-lhe, antes da partida, o saco da criação. O poder que Oxalá
havia recebido não o dispensava de respeitar certas regras e de se submeter a
diversas obrigações. Em razão do seu caráter altivo, ele recusou-se a fazer alguns
sacrifícios e oferendas a Exu, antes de iniciar sua viagem para ir criar o mundo.
Oxalá se pôs a caminho apoiado numa grande bengala de estanho, seu Opa Oxorô
ou Paxorô, o bastão para fazer as cerimônias.

No momento de ultrapassar a porta para sair do além, encontrou Exu que, entre as
suas múltiplas obrigações, tinha a de fiscalizar as comunicações entre os dois
mundos, o que seria criado e o outro. Exu, descontente com a recusa do grande
Orixá em fazr\er as oferenda pedidas, vingou-se fazendo-lhesentir uma sede
intensa. Oxalá, para matar sua sede, não teve outro recurso se não o de furar o seu
Paxarô a casca do tronco de um dendezeiro. Um l[iquido refrecante dele escorreu:
era o vinho de palma. Oxalá bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou bêbado, não
sabia mais onde estava e caiu adormecido. Veio, então, Odudúa, criado por
Olodumaré depois de Oxalá, e grande rival deste,. Vendo o grande Orixá
adormecido, roubou-lhe o saco \da criação, dirigiu-se a presença de Olodumaré para
mostrar-lhe seu achado e lhe contar em que estado se encontrava Oxalá.
Olodumaré exclamou: "Se ele está neste estado, vá você, Odudúa! vá criar o
mundo!" Odudúa saiu, assim, do Outro-Mundo e se encontrou diante de uma
extensão ilimitada de água. Deixou cair a substância marrom contida no saco da
criação. Era terra. Formou-se, antão, um montículo que ultrapassou a superfície das
águas. Onde ciscava, cobria as águas e a terra ia-se alargando cada vez mais. Isto
em Yorubá se diz ile nfé, expressãoque deu origem ao nome da cidade de Ilê/Ifé.
Odudúa aí se estabeleceu, seguido pelos outros Orixás e tornou-se o rei da Terra.

Quando Oxalá acordou não mais encontrou, ao seu lado, o saco da criação.
Despeitado, voltou a Olodumaré. Este, como castigo pela sua embriaguez, proibiu a
o grande Orixá, de beber vinho de palma e, mesmo, de usar azeite de dendê.
Confiou-lhe, entretanto, como consolo, a tarefa de modelar no barro o corpo dos
seres humanos aos quais ele, Olodumaré, insuflaria a vida.
Por esta razão, Oxalá é também chamado de Olomanrere, o "proprietário da boa
agila". Pôs-se a modelar corpo dos homens mas não levava muito a sério a
proibição de beber vinho de palma, e nos dias em que se excedia, os homens saíam
de suas mãos contrafeitos, deformados, capengas, corcundas. Alguns, retirados do
forno antes da hora, saíam mal cozidos e suas cores tornavam-se tristemente
pálidos, eram os albinos. Todas \as pessoas que entram nestas tristes categorias
são-lhe consagrados e tornam-se adoradores de Oxalá. Oxalá - Obatalá é casado
com Yemowo. Suas estátuas são colocadas lado a lado - cobertas com traços e
pontos feitos com giz - no Ilessin, local de adoração deste casal, no templo Idetá-ilé,
no quarteirão Itapa, em Ifé.

Yemowo foi, segundo dizem, a única mulher de Oxalá. Um caso excepcional de


monogamia entre os Orixás e Eboras, muito inclinados, já o vimos anteriormente, a
ter aventuras amorosas múltiplas e a renovar facilmente seus votos matrimoniais.

Oxalá é considerado, tanto no Brasil como na África, como sendo o maior dos
Orixás. Seus adeptos usam colares de contas brancas e vestem-se, igualmente, de
branco. Sexta-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. É sincretizado com o
Senhor do Bonfim, sem outra razão aparente se não a de ter um enorme prestígio,
na Bahia, e inspirar, fervorosa devoção aos habitantes de todas as categorias
sociais. Diz-se, na Bahia, que existem dezesseis Oxalás, sendo, porém, dois os mais
evocados: Oxalufan e Oxagiyan.

O primeiro, Oxalufan, ue foi o rei de Ifan, é um Oxalá muito velho, curvado pelos
anos, que anda com dificuldade e hesitação, como se estivesse atacado pelo
reumatismo.
Ele apoia seus passos cabaleantes sobre um Paxorô, grande bastão de metal
branco, encimado pela imagem de um pássaro e ornado por discos de metal e
pequenos sinos. Em contraste, Oxagiyan, que foi rei de Ejigbo, é um guerreiro
jovem e valente. Ele gostava, exageradamente, de inhame triturado no pilão, prato
denominado Yan, em Yorubá, o que lhe valeu o apelido de "o Orixá que come
inhame pilado", expressão equivalente, em Yorubá, a Orixá je iyan, que daria
origem ao nome Oxagiyan. Quando as iaôs deste orixá dançam, elas brandem um
pilão e um escudo numa das mãos e, na outra, uma espada. Saúdam-se estes dois
Oxalás gritando-se Epa Babá, "Viva o Pai"ou, então, Exé eee!, "Boa Atividade".

Existe uma lenda, contada na Bahia, e ainda difundida na África sendo que, em
Cuba, uma versão muito próxima foi recolhida por Lydia Cabrera - segundo a qual
"Oxalufan rei de Ifan tinha decidido fazer uma visita a Xangô, rei de Oyo, seu
vizinho e amigo. Antes de partir, Oxalufan consultou um Babalaô para saber se sua
viagem se realizaria em boas condições . O Babalaô respondeu que ele seria vítima
de um desastre, não devendo, portanto, realizar a viagem. Oxalufan, porém, tinha
um caráter obstinado e persistiu em seu projeto. O Babalaô lhe confirmou que a
viagem seria muito penosa, que teria de sofrer numerosos revezes e que, se não
quisesse perder a vida, não devia nunca recusar os serviços que, por acaso, lhe
fossem pedidos, nem reclamar das conseqüências que disso resultasse. Deveria,
também, levar três roupas brancas para trocar.

Oxalufan se pôs a caminho e, como fosse velho, ia lentamente apoiado em seu


cajado de estanho.

Encontrou, logo depois, Exu Elopo Pupa, "

Exu-dono-do-azeite-de-dendê", sentado à beira da estrada com um barril de azeite


de dendê ao seu lado. Após uma troca de saudações, Exu pediu a Oxalufan que o
ajudasse a colocar o barril sobre a sua cabeça. Oxalufan concordou e, durante a
operação, Exu derramou de propósito, maliciosamente, o conteúdo do barril sobre
Oxalufan, pondo-se a zombar dele. Este não reclamou, seguindo as recomendações
do Babalaô. Lavou-se no rio próximo, pôs uma roupa nova e deixou a velha como
presente. Continuou a andar, com esforço, e foi vítima, ainda, por duas vezes, de
tristes aventuras com Exu-Eledu, "Exu-proprietário-do-carvão-de-madeira" e Exu
Aladi, "Exu-proprietário-do-óleo-de-amêndoa-de-palma".
Oxalufan, sem perder a paciência, lavou e trocou de roupa após cada uma das
experiências. Chegou, finalmente, à fronteira do reino de Oyo, e lá encontrou um
cavalo que havia fugido, pertencente à Xangô. No momento em que Oxalufan quis
amansar o animal, dando-lhe espigas de milho, e tendo a intenção de levá-lo ao seu
Senhor, os servidores de Xangô, que estavam à procura do animal, chegaram
correndo. Pensando que o homem idoso fosse um ladrão, caíram sobre ele com
golpes de cacete, e jogaram-no na prisão. Sete anos de infelicidade se abateram no
reino de Xangô. A seca comprometia a colheita, as epidemias acabavam com os
rebanhos, as mulheres ficavam estéreis.

Xangô, tendo consultado um Babalaô soube que toda esta desgraça provinha da
injusta prisão de um velho homem. Após seguidas buscas e diversas perguntas,
Oxalufan foi levado à sua presença e ele reconheceu seu amigo Oxalá. Xangô,
desesperado pelo que havia acontecido, pediu-lhe perdão e deu ordem aos seus
súditos para que fossem todos vestidos de branco e guardando silêncio em sinal de
respeito, buscar água três vezes seguidas a fim de lavar Oxalufan. Este, voltou em
seguida à Ifan, passando por Ejigbo para visitar seu filho Oxagiyan, que feliz por
rever seu pai, organizou grandes festas com distribuição de comidas a todos os
habitantes do lugar".

Esta lenda é comemorada todos os anos, na Bahia, em certos terreiros,


particularmente naqueles de origem Ketu, provenientes dos candomblés da
Barroquinha. O ciclo dessas festas se estende por várias semanas.

Numa sexta-feira, dia da semana que no Brasil é consagrado a Oxalá, os Axés do


deus são retirados do seu Peji e levados em procissão até uma pequena cabana,
feita de palmas trançadas e simbolizando a viagem de Oxalufan, sua ida a prisão e
seu cativeiro.

Na sexta-feira seguinte, ou seja, sete dias após, representando os sete anos de


incarceração, tem lugar a cerimônia da "Água de Oxalá", águas para lavar Oxalá.
Todos os que participam da cerimônia chegam de véspera, à noite. O maior silêncio
é observado a partir da quinta-feira, ao findar do dia, estendendo-se até a manhã
do dia seguinte. Os participantes vão, antes da aurora, pegar a "Água de Oxalá",
todos vestidos de branco e com a cabeça coberta com um pano igualmente branco.
Formam um longo cortejo que vai em silêncio, procedidas por uma das mais antigas
mulheres dedicadas a Oxalá, que agita sem parar um pequeno sino de metal
branco, chamado Adjá. Fazem três viagens até a fonte sagrada. Nas duas primeiras.
a água é derramada sobre os Axés de Oxalá. Esta parte do ritual é realizada como
lembrança das pessoas do reino de Oyó que foram, em silêncio de vestidas de
branco, buscar água para Oxalufan se lavar. Na terceira vez, que corresponde ao
nascer do dia, os vasos cheios d'água são arrumados em volta do Axé de Oxalá. A
proibição de falar é sustada, cânticos acompanhados pelo ritmos dos tambores são
entoados, e transes de possessão de produzem entre as filhas de Oxalá como
testemunhos da satisfação do deus.
No domingo seguinte, tem lugar uma cerimônia, pouco importante mas,
exatamente uma semana depois, realiza-se uma procissão que leva os Axés de
Oxalá ao seu Peji, simbolizando a volta de Oxalufan ao seu reino.

O terceiro domingo, finalizando o ciclo das cerimônias, é chamado de "Pilão de


Oxagiyan" e evoca as preferências gastronômicas desse personagem. Distribuições
de comidas são realizadas em seu nome, a fim de festejar a volta do pai. Neste dia,
uma procissão leva ao barracão pratos contendo inhame pilado e milho cozido, sem
sal e sem azeite de dendê, mas com limo da Costa. Pequenas vara de Atorí,
chamadas Ixans, são entregues aos Oxalás manifestados, às pessoas ligadas ao
terreiro e aos visitantes importantes. Uma roda se forma, onde as dançarinas se
passam curvados diante dos Orixás que lhes dão, na passagem, um ligeiro golpe de
vara; por seu lado, os que foram assim tocados, dão e recebem, golpes de vara de
assistência.

Uma versão sincretizada da água de Oxalá é a lavagem do chão da basílica do


Senhor do Bonfim que acontece, todos os anos, na Bahia, na quinta-feira
precedente ao domingo do Bonfim. Alguns piedosos católicos tinham o hábito de
lavar, zelosamente o chão da igreja. Um ato de devoção que não é particular a este
templo. No Bonfim, porém, tomou um caráter diferente. Os descendentes de
Africano, movidos por um sentimento de devoção, tanto ao Cristo como ao deus
africano, fizeram uma aproximação entre as duas lavagens: a dos Axés de Oxalá e
aquela do solo da igreja que leva o nome católico do mesmo Orixá. Os devotos
aparecem em grande número a fim de participar da lavagem, na quinta-feira do
Bonfim.

Esta festa é, atualmente, uma das mais populares da Bahia. Neste dia, as baianas,
vestidas de branco, cor de Oxalá, vêm em cortejo à Igreja do Bonfim. Trazem à
cabeça potes contendo água para lavar o chão da Igreja e flores para enfeitar o
altar. São acompanhadas por uma multidão, onde sempre figuram as autoridades
civis do Estado da Bahia e da Cidade de Salvador.

O arquétipo da personagem dos devotos de Oxalá é aquele das pessoas calmas e


dignas de confiança; das pessoas respeitáveis e reservadas, dotadas de força de
vontade inquebrantável que nada pode influenciar. Em nenhuma circunstância
modificam seus planos e seus projetos, mesmo a despeito das opiniões contrárias,
racionais, que os alertam para possíveis conseqüências desagradáveis dos seus
atos. Tais pessoas no entanto, sabem aceitar, sem reclamar, os resultados amargos
daí decorrentes.

O imenso respeito que o Grande Orixá inspira às pessoas do candomblé revela-se


plenamente quando chega ao momento da dança de Oxalufan. Com esta dança,
fecha-se geralmente a noite, e os outros Orixás presentes vêm cercá-lo esustentá-
lo, levantando a bainha de sua de sua roupa para evitar que ele a pise e venha a
tropeçar. Oxalufan, e aqueles que os escoltam, seguem o ritmo da orquestra que
interrompem a cadência em intervalos regulares, levando-os a dançar alguns
passos hesitantes, entrecortados de paradas, no decorrer do quais o conjunto de
Orixás abaixa o corpo, deixa cair os braços e a cabeça, por um breve momento,
como se estivessem cansados e sem forças. Não é raro ver pessoas que, vindas
como espectadoras, deixam-se tomar pelo ritmo, dançam e agitam-se em seus
lugares, acompanhando o desfalecer do corpo e a retomada dos movimentos,
conjuntamente com os Orixás, num afã de comunhão com o Grande Orixá, aquele
que foi, em tempos remotos, o Rei dos Igbos, longe, bem longe, em Iluayé, a Terra
da África.

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Ìyá Mi Osorongà

As Senhoras dos Pássaros da Noite

Quando se pronuncia o nome de Yiá Mi Oxorongá, quem estiver sentado deve-se


levantar, quem estiver de pé fará uma reverência, pois se trata de temível Orixá, a
quem se deve apreço e acatamento.
( Jorge Amado )

Origem e história
Iyá Mi Osorongá ( Ìyá Mi Osorongà ) é a síntese do poder feminino, claramente
manifesto na possibilidade de gerar filhos e, numa noção mais ampla, de povoar o
mundo. Quando os Yorubás dizem "nossas mães queridas" para se referirem às Iyá
Mi, tentam, na verdade, apaziguar os poderes terríveis dessa entidade.

Donas de um axé tão poderoso quanto o de qualquer orixá, as Iyá Mi tiveram seu
culto difundido por sociedades secretas de mulheres e são as grandes
homenageadas do famoso festival Gèlèdè, na Nigéria, realizado entre os meses de
março e maio, que antecedem o início das chuvas do país, remetendo
imediatamente para um culto relacionado à fertilidade.

Poder procriador, tornaram-se conhecidas como as senhoras dos pássaros e sua


fama de grandes feiticeiras as associou à escuridão da noite; por isso também são
chamadas de Eleyé e as corujas são seus maiores símbolos.

A sua relação mais evidente é com o poder genital feminino, que é o aspecto que
mais aproxima a mulher da natureza, ou seja, dos acontecimentos que fogem à
explicação e ao controle humano. Toda mulher é poderosa porque guarda um pouco
da essência das Iyá Mi; a capacidade de gerar filhos, expressa nos órgãos genitais
femininos, sempre assustou os homens e as cantigas entoadas durante o festival
Gèlèdè fazem alusão a esse terrível poder - que não pertence apenas às Iyá Mi, mas
a qualquer mulher.

Mãe destruidora, hoje te glorifico:

O velho pássaro não se aqueceu no fogo.

O velho pássaro doente não se aqueceu ao sol.

Algo secreto foi escondido na casa da Mãe ...

Honras à minha Mãe!

Mãe cuja vagina atemoriza a todos.

Mãe cujos pêlos púbicos se enroscam em nós.

Mãe que arma uma cilada, arma uma cilada.

Mãe que tem potes de comida em casa.

As mães são compreendidas como a origem da humanidade e seu grande poder


reside na decisão que tomar sobre a vida de seus filhos. É a mãe que decide se o
filho deve ou não nascer e, quando ele nascer, ainda decide se ele deve viver. A
mulher, especialmente nas sociedades antigas, tinha inúmeros recursos para
interromper uma gravidez. E, até os primeiros anos de vida, uma criança depende
totalmente de sua mãe; se faltarem seus cuidados a criança não vinga. Em síntese,
todo ser humano deve a vida a uma mulher. Se todas as mulheres juntas decidisses
não mais engravidar, a humanidade estaria fadada a desaparecer. Esse é o poder
de Iyá Mi: mostrar que todas as mulheres juntas decidem sobre o destino dos
homens.

Mãe todo-poderosa, mãe do pássaro da noite.

Grande mãe com quem não ousamos coabitar


Grande mãe cujo corpo não ousamos olhar

Mãe de belezas secretas

Mãe que esvazia a taça

Que fala grosso como homem,

Grande, muito grande, no topo da árvore Iroko,

Mãe que sobe alto e olha para a terra

Mãe que mata o marido mas dele tem pena.

Iyá Mi é a sacralização da figura materna, por isso seu culto é envolvido por tantos
tabus. Seu grande poder se deve ao fato de guardar o segredo da criação. Tudo que
é redondo remete ao ventre e, por conseqüência, as Iyá Mi. O poder das grandes
mães é expresso entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder de
Iyá Mi é manifesto em toda mulher, que, não por acaso, em quase todas as culturas,
é considerada tabu.

As denominações de Iyá Mi expressam suas características terríveis e mais


perigosas e por essa razão seus nomes nunca devem ser pronunciados; mas
quando se disser um de seus nomes, todos devem fazer reverencias especiais para
aplacar a ira das Grandes Mães e, principalmente, para afugentar a morte.

As feiticeiras mais temidas entre os Iorubás e nos candomblés do Brasil são as Àjé
e, para referir-se à elas sem correr nenhum risco, diga apenas Eleyé, Dona do
Pássaro. O aspecto mais aterrador das Iyá Mi e o seu principal nome , com o qual
tornou-se conhecida nos terreiros, é Oxorongá, uma bruxa terrível que se
transforma no pássaro de mesmo nome e rompe a escuridão da noite com seu grito
assustador.

As Yiá Mi são as senhoras da vida, mas o corolário fundamental da vida é a morte.


Quando devidamente cultuadas, manifestam-se apenas em seu aspecto benfazejo,
são o grande ventre que povoa o mundo. Não podem, porém, ser esquecidas; nesse
caso lançam todo tipo de maldição e tornam-se senhoras da morte.

O lado bom de Iyá Mi é expresso em divindades de grande fundamento, como


Apaoká, a dona da jaqueira, a verdadeira mãe de Oxóssi Dizem que o deus caçador
encontrou mel aos pés da jaqueira e em torno dessa árvore formou-se a cidade de
Kêtu.

Os assentamentos de Iyá Mi ficam junto a grandes árvores como a jaqueira e


geralmente são enterrados, mostrando a sua relação com os ancestrais, sendo
também uma nítida representação do ventre. As Iyá Mi, juntamente com Exú e os
ancestrais, são evocadas nos ritos de Ipadé, um complexo ritual que , entre outras
coisas, ratifica a grande realidade do poder feminino na hierarquia do Candomblé,
denotando que as grandes mães é que detém os segredos do culto, pois um dia,
quando deixarem a vida, integrarão o corpo das Iyá Mi, que são, na verdade, as
mulheres ancestrais.
As ruas, os caminhos, as encruzilhadas pertencem a Esu. Nesses lugares se invoca
a sua presença, fazem-se sacrifícios, arreiam-se oferendas e se lhe fazem pedidos
para o bem e para o mal, sobretudo nas horas mais perigosas que são ao meio dia e
à meia-noite, principalmente essa hora, porque a noite é governada pelo
perigosíssimo odu Oyeku Meji. À meia-noite ninguém deve estar na rua,
principalmente em encruzilhada, mas se isso acontecer deve-se entrar em algum
lugar e esperar passar os primeiros minutos. Também o vento (afefe) de que Oya ou
Iansan é a dona, pode ser bom ou mau, através dele se enviam as coisas boas e
ruins, sobretudo o vento ruim, que provoca a doença que o povo chama de "ar do
vento". Ofurufu, o firmamento, o ar também desempenha o seu papél importante,
sobretudo á noite, quando todo seu espaço pertence a Eleiye, que são as Ajé,
transformadas em pássaros do mal, como Agbibgó, Elùlú, Atioro, Osoronga, dentre
outros, nos quais se transforma a Ajé-mãe, mais conhecida por Iyami Osoronga.
Trazidas ao mundo pelo odu Osa Meji, as Ajé, juntamente com o odu Oyeku Meji,
formam o grande perigo da noite. Eleiye voa espalmada de um lado para o outro da
cidade, emitindo um eco que rasga o silêncio da noite e enche de pavor os que a
ouvem ou vêem. Todas as precauções são tomadas. Se não se sabe como aplacar
sua fúria ou conduzí-la dentro do que se quer, a única coisa a se fazer é afugentá-la
ou esconjurá-la, ao ouvir o seu eco, dizendo Oya obe l’ori (que a faca de Iansan
corte seu pescoço), ou então Fo, fo, fo (voe, voe, voe). Em caso contrário, tem-se
que agradá-la, porque sua fúria é fatal. Se é num momento em que se está voando,
totalmente espalmada, ou após o seu eco aterrorizador, dizemos respeitosamente A
fo fagun wo’lu ( [saúdo] a que voa espalmada dentro da cidade), ou se após gritar
resolver pousar em qualquer ponto alto ou numa de suas árvores prediletas,
dizemos, para agradá-la Atioro bale sege sege ([saúdo] Atioro que pousa
elegantemente) e assim uma série de procedimentos diante de um dos donos do
firmamento à noite. Mesmo agradando-a não se pode descuidar, porque ela é fatal,
mesmo em se lhe felicitando temos que nos precaver. Se nos referimos a ela ou
falamos em seu nome durante o dia, até antes do sol se pôr, fazemos um X no
chão, com o dedo indicador, atitude tomada diante de tudo que representa perigo.
Se durante à noite corremos a mão espalmada, à altura da cabeça, de um lado para
o outro, afim de evitar que ela pouse, o que significará a morte. Enfim, há uma
infinidade de maneiras de proceder em tais circunstâncias.

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São duas divindades gêmeas, sendo costumeiramente sincretizadas aos santos


gêmeos católicos Cosme e Damião. Ao contrário dos erês entidades infantil ligadas
a todos os orixás e seres humanos são divindades infantis orixás crianças . Por
serem gêmeos, são associados ao principio da dualidade; por serem crianças, são
ligados a tudo que se inicia e brota: a nascente de um rio, o nascimento dos seres
humanos, o germinar das plantas, etc.

Seus filhos de santo são pessoas com temperamento infantil, jovialmente


inconseqüente; nunca deixam de ter dentro de si a criança que já foram. Costumam
ser brincalhonas, sorridentes, irrequietas – tudo, enfim, que se possa associar ao
comportamento típico infantil. Muito dependentes nos relacionamentos amorosos e
emocionais em geral, podem então revelar-se teimosamente obstinadas e
possessivas. Ao mesmo tempo, sua leveza perante a vida se revela no seu eterno
rosto de criança e no seu modo ágil de se movimentar, sua dificuldade em
permanecer muito tempo sentado, extravasando energia. Podem apresentar
bruscas variações de temperamento, e certa tendência a simplificar as coisas,
especialmente em termos emocionais, reduzindo, às vezes, o comportamento
complexo das pessoas que estão em torno de si a princípios simplistas como “gosta
de mim – não gosta de mim”. Isso pode fazer com que se magoem e se
decepcionem com certa facilidade.
Ao mesmo tempo, suas tristezas e sofrimentos tendem a desaparecer com
facilidade, sem deixar grandes marcas. Como as crianças em geral, gostam de estar
no meio de muita gente, das atividades esportivas, sociais e das festas. A grande
cerimônia dedicada a estes orixás acontece a 27 de setembro, dia de São Cosme e
Damião, quando comidas como caruru, vatapá, bolinhos, doces, balas (associadas
às crianças, portanto) são oferecidas tanto aos orixás como aos freqüentadores dos
terreiros. O sacrifício destinado a Ibeji é de frangos e frangas de leite, pequenos. As
comidas são as servidas na festa, descritas acima. Os Ibeji não possuem otá, e em
seus altares podem ser encontrados freqüentemente brinquedos. Suas cores
principais são o vermelho e o verde, mas todas as cores acabam fazendo parte das
roupas de seus filhos de santo e de alguns colares usados por eles.

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EGUNS
Ancestralidade e Continuidade !!!

Os negros iorubanos originários da Nigéria trouxeram para o Brasil o culto dos seus
ancestrais chamados Eguns ou Egunguns. Em Itaparica (BA), duas sociedades
perpetuam essa tradição religiosa.
Os cultos de origem africana chegaram ao Brasil juntamente com os escravos. Os
iorubanos - um dos grupos étnicos da Nigéria, resultado de vários agrupamentos
tribais, tais como Keto, Oyó, Itexá, Ifan e Ifé, de forte tradição, principalmente
religiosa - nos enriqueceram com o culto de divindades denominadas
genericamente de orixás.(1 - Por motivos gráficos e para facilitar a leitura, os
termos em língua yorubá foram aportuguesados. Ex.: orisá = orixá.)

Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas divindades, mas
também seus ancestrais, principalmente os masculinos. A morte não é o ponto final
da vida para o iorubano, pois ele acredita na reencarnação (àtúnwa), ou seja, a
pessoa renasce no mesmo seio familiar ao qual pertencia; ela revive em um dos
seus descendentes. A reencarnação acontece para ambos os sexos; é o fato terrível
e angustiante para eles não reencarnar.

Os mortos do sexo feminino recebem o nome de ìyámí Agbá (minha mãe anciã),
mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada
de forma coletiva e representada por ìyámí Òsóróngá, chamada também de Iá Nlá,
a grande mãe. Esta imensa massa energética que representa o poder de
ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas "Sociedades Geledê", compostas
exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso
poder. O medo da ira de ìyámí nas comunidades é tão grande que, nos festivais
anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de
mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira
e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino.

Além da Sociedade Geledê, existe também na Nigéria a Sociedade Oro. Este é o


nome dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não individualizados.
Oro é uma divindade tal qual ìyámí Òsóróngá, sendo considerado o representante
geral dos antepassados masculinos e cultuado somente por homens. Tanto ìyámí
quanto Oro são manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e representam a
coletividade, mas o poder de ìyámí é maior e, portanto, mais controlado, inclusive,
pela Sociedade Oro.

Outra forma, e mais importante de culto aos ancestrais masculinos é elaborada


pelas "Sociedades Egungum". Estas têm como finalidade celebrar ritos a homens
que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades quando vivos,
para que eles continuem presentes entre seus descendentes de forma privilegiada,
mantendo na morte a sua individualidade. Esse mortos surgem de forma visível
mas camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida pós-morte, denominada
egun ou Egungum. Somente os mortos do sexo masculino fazem aparições, pois só
os homens possuem ou mantém a individualidade; às mulheres é negado este
privilégio, assim como o de participar diretamente do culto.

Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em
locais e templos com sacerdotes diferentes dos dos orixás. Embora todos os
sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só
religião: a iorubana.

No Brasil existem duas dessas sociedades de Egungum, cujo tronco comum


remonta ao tempo da escravatura: Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia, e
uma mais recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambas em Itaparica, Bahia.

O egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos.
Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos Ojé
(sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixã, que,
quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais,
faz com que a "morte se torne vida", e o Egungum ancestral individualizado está de
novo "vivo".

A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás, em
que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos,
fiéis e iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando impacto visual
e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana
totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte
superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê
nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural
inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente - característica de egun,
chamada de séègí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco marrom,
chamado ijimerê na Nigéria.

As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral;
outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de
egun) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os mariwo não
podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, egun está
entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as
roupas ali estão e isto é egun.

A roupa do egun - chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia -, ou o Egungum


propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum
humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixã para controlar a "morte", ali
representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se, pois, como é
dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por egun se
tornará um "assombrado", e o perigo a rondará. Ela então deverá passar por vários
ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou, talvez, a própria morte.
Ora, o egun é a materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato, ainda
que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais qualificados
sacerdotes - como os ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais
Eguns - desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos pelo ixã.

Os egun-Agbá (ancião), também chamados de Babá-egun (pai), são Eguns que já


tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais
completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os
vivos. Os Apaaraká são Eguns mudos e suas roupas são as mais simples: não têm
tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás.
Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar o status de
Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e causam terror ao povo.
O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação quadrada
ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade
superior do Babá, e da qual caem várias tiras de panos coloridas, formando uma
espécie de franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas que acabam em
luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos; e o banté, que é uma tira de
pano especial presa no kafô e individualmente decorada e que identifica o Babá.
O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder, energia
transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e abençoando
os fiéis. Ele sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que
simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque
na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os Agbá-egun portam o mesmo
tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá
mascaras esculpidas em madeira chamadas erê egungum; outros, entre os alabá e
o kafô, usam peles de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes,
o ixã. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos
litúrgicos.

Existem várias qualificações de egun, como Babá e Apaaraká, conforme sus ritos, e
entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem.
As classificações, em verdade, são extensas.

Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo após
os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da
cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através de
uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo.

Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários


amuxã (iniciados que portam o ixã) funcionam como guardas espalhados pelo
terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os perigosos Apaaraká
que escapem aos olhos atentos dos ojés saiam do espaço delimitado e invadam as
redondezas não protegidas.

Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do
grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé
(bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde
somente os ojé podem entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá entram.
Balé é o local onde estão os idiegungum, os assentamentos - estes são elementos
litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o egun ali cultuado - , e o
ojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado por vários ixã, os
quais, de pé, delimitam o local.
Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o
egun a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento da
divindade Oyá na qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única divindade
feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e pelos próprios
Eguns.

No balé os ojê atokun vão invocar o egun escolhido diretamente no assentamento,


e é neste local que o awo (segredo) - o poder e o axé de egun - nasce através do
conjunto ojê-ixã/idi-ojubô. A roupa é preenchida e egun se torna visível aos olhos
humanos.

O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde
estão os tambores e seus alabê e várias cadeiras especiais previamente preparadas
e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por
alguns momentos na companhia dos outros, sentados ou andando, mas sempre
unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do
culto: unir os vivos com os mortos.
Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto
é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas mulheres que
são exceção, como se fosse a própria Oyá; elas são geralmente iniciadas no culto
dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo hierárquico) no culto de
egun - estas posições de grande relevância causam inveja à comunidade feminina
de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios,
confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão, respondendo a todos os
cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar
para os Babá. Antes de iniciar os rituais para egun, elas fazem uma roda para
dançar e cantar em louvor aos orixás; após esta saudação elas permanecem
sentadas junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre
os atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos
os Babá, seu jeito e suas manias, e sabem como agradá-los.

Este espaço sagrado é o mundo do egun nos momentos de encontro com seus
descendentes. Assistência está separada deste mundo pelos ixã que os amuxã
colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e ritual
dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do ixã que se evita o contato
com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o invoca e o
controla. às vezes, os mariwo são obrigados a segurar o egun com o ixã no seu
peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos vivos,
sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e rispidamente,
pois é o ojê que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande respeito.

O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam as mulheres e crianças


e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus
cânticos preferidos, porque cada egun em vida pertencia a um determinado orixá.
Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio orixá e esta característica é
mantida pelo egun. Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando
morto e vindo com egun, ele terá em suas vestes as características de Xangô,
puxando pelas cores vermelha e branca. Portará um oxê (machado de lâmina
dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o
ritmo preferido de Xangô, e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas
e excitantemente marcadas pelo oiê femininos, que também responderão aos
cânticos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes.

Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a todos e
ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um possível
iorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. Babá-egun começará
perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos oiê femininos;
depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegaram
pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário,
fazendo o papél de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para
aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral disciplina comum às suas
comunidades, funcionando como verdadeiro mediador dos costumes e das
tradições religiosas e laicas.
Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-egun parte, a
festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá partiu, mas
continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.

Esta é uma breve descrição de Egungum, de uma festa e de sua sociedade, não
detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este
importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida
através das ancestralidades cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como um
reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da Nigéria.

EGUNS
Os textos litúrgicos aqui apresentados fazem parte do jogo de Ifá, no qual seu
senhor e oráculo, a divindade Orumilá, nos ensina mitos e tradições que foram
mantidos através do próprio jogo. Esses conhecimentos, transmitidos a todos
oralmente, hoje se tornaram verdadeiras escrituras sagradas (atualmente, vários
pesquisadores já registraram em livros as lendas colhidas oralmente entre os
iniciados).

Através deles entendemos o porquê de certos ritos e preceitos usados e


conservados no dia-a-dia dos cultos. Vários textos explicam o mesmo fato ou se
complementam, e à vezes de forma diferente e aparentemente contraditória; mas
isto é reflexo de se terem originado em diferentes regiões. De uma forma ou de
outra, porém, chegam aos mesmos fundamentais conceitos religiosos.
quatro em quatro dias (uma semana iorubana), Iku (a morte) vinha à cidade de Ilê
Ifé munida de um cajado (opá iku) e matava indiscriminadamente as pessoas. Nem
mesmo os orixás podiam com Iku.
Um cidadão chamado Ameiyegun prometeu salvar as pessoas. Para tal,
confeccionou uma roupa feita com várias tiras de pano, em diversas cores, que
escondia todas as partes do seu corpo, inclusive a própria cabeça, e fez sacrifícios
apropriados. No dia em que a Morte apareceu, ele e seus familiares vestiram as tais
roupas e se esconderam no mercado.

Quando a Morte chegou, eles apareceram pulando, correndo e gritando com vozes
inumanas, e ela, apavorada, fugiu deixando cair seu cajado. Desde então a Morte
deixou de atacar os habitantes de Ifé.

Os babalaôs (adivinhos e sacerdotes de Orumilá) disseram a Ameiyegun que ele e


seus familiares deveriam adorar e cultuar os mortos por todas as gerações,
lembrando como eles venceram a Morte.
DOS OIÊ MASCULINOS (relacionados aos culto a Egungun)na cidade de Oyó um
fazendeiro chamado Alapini, que tinha três filhos chamados Ojéwuni, Ojésamni e
Ojérinlo. Um dia Alapini foi viajar e deixou recomendações aos filhos para que
colhessem os inhames e os armazenassem, mas que não comessem um tipo
especial de inhame chamado 'ihobia', pois ele deixava as pessoas com uma terrível
sede. Seus filhos ignoraram o aviso e o comeram em demasia. Depois, beberam
muita água e, um a um, acabaram todos morrendo.

Quando Alapini retornou, encontrou a desgraça em sua casa. Desesperado, correu


ao babalaô que jogou Ifá para ele. O sacerdote disse que ele se acalmasse, e que
após o 17º dia fosse ao ribeirão do bosque e executasse o ritual que foi prescrito no
jogo. Ele deveria escolher um galho da árvore sagrada atori e fazer um bastão
(assim é feito o ixã). Na margem do ribeirão, deveria bater com o bastão na terra e
chamar pelos nomes dos seus filhos, que na terceira vez eles apareceriam. Mas ele
também não poderia esquecer de antes fazer certos sacrifícios e oferendas.

Assim ele o fez; seus filhos apareceram. Mas eles tinham rostos e corpos estranhos;
era então preciso cobri-los para que as pessoas pudessem vê-los sem se
assustarem. Pediu que seus filhos ficassem na floresta e voltou à cidade. Contou o
fato ao povo, e as pessoas fizeram roupas para ele vestir seus filhos.

Desse dia em diante ele poderia ver e mostrar seus filhos a outras pessoas; as belas
roupas que eles ganharam escondiam perfeitamente sua condição de mortos.
Alapini e seus filhos fizeram um pacto: em um buraco feito na terra pelo seu pai
(ojubô), no mesmo local do primeiro encontro (igbo igbalé), ali seriam feitas as
oferendas e os sacrifícios e guardadas as roupas, para que eles as vestissem
quando o pai os chamasse através do ritual do bastão.

Seguindo o pacto e as instruções do babalaô, de que sempre que os filhos


morressem fosse realizado o ritual após o 17º dia, pais e filhos para sempre se
encontraram. E, para os filhos que ainda não tiverem roupas, é só pedir às pessoas
que elas as farão com imenso prazer.
Esta lenda é rica em detalhes, nos explica vários ritos e títulos utilizados no culto.

OYÁ E EGUN

Oyá não podia ter filhos, e foi consultar o babalaô. Este lhe disse, então, que, se
fizesse sacrifícios, ela os teria. Um dos motivos de não os ter ainda era porque ela
não respeitava o seu tabu alimentar (evó) que proibia comer carne de carneiro. O
sacrifício seria de 18.000 mil búzios (o pagamento), muitos panos coloridos e carne
de carneiro. Com a carne ele preparou um remédio para que ela o comesse; e
nunca mais ela deveria comer desta carne. Quanto aos panos, deveria ser
entregues como oferenda.

Ela assim fez e, tempos depois, deu à luz nove filhos (número místico de Oyá). Daí
em diante ela também passou a ser conhecida pelo nome de 'Iyá omo mésan', que
quer dizer 'a mãe de nove filhos' e que se aglutina 'Iyansan'.

Há outra lenda para explicar o mito de Iansã: Em certa época, as mulheres eram
relegadas a um segundo plano em suas relações com os homens. Então elas
resolveram punir seus maridos, mas sem nenhum critério ou limite, abusando desta
decisão, humilhando-os em demasia.
Oyá era a líder das mulheres, e elas se reuniram na floresta. Oyá havia domado e
treinado um macaco marrom chamado ijimerê (na Nigéria). Utilizara para isso um
galho de atori (ixã) e o vestia com uma roupa feita de várias tiras de pano coloridas,
de modo que ninguém via o macaco sob os panos.
Seguindo um ritual, conforme Oyá brandia o ixã no solo o macaco pulava de uma
árvore e aparecia de forma alucinante, movimentando-se como fora treinado a
fazer. Deste modo, durante à noite, quando os homens por lá passavam, as
mulheres (que estavam escondidas) faziam o macaco aparecer e eles fugiam
totalmente apavorados.

Cansados de tanta humilhação, os homens foram ter com um babalaô para tentar
descobrir o que estava acontecendo. Através do jogo de Ifá, e para punir as
mulheres, o babalaô lhes conta a verdade. Ele os ensina como vencer as mulheres
através de sacrifícios e astúcia.
Ogum foi o encarregado da missão. Ele chegou ao local das aparições antes das
mulheres. Vestiu-se com vários panos, ficando totalmente encoberto, e se
escondeu. Quando as mulheres chegaram, ele apareceu subitamente, correndo,
berrando e brandindo sua espada pelos ares. Todas fugiram apavoradas, inclusive
Oyá.

Desde então os homens dominaram as mulheres e as expulsaram para sempre do


culto de egun; hoje, eles são os únicos a invocá-lo e cultuá-lo. Mas, mesmo assim,
eles rendem homenagem a Oyá, na qualidade de Igbalé, como criadora do culto de
egun.

Convém notar que, no culto, egun nasce no bosque da floresta (igbo igbalé). No
Brasil, no ilê awo, ele nasce no quarto de balé, onde são colocadas oferendas de
comidas e realizadas cerimônias aos Eguns.

Oyá é também cultuada como mãe e rainha de egun, como Oyá Igbalé. E, como nos
explica a lenda, Oyá, a floresta e o macaco estão intimamente ligados ao culto,
inclusive em relação à voz do macaco como modo de o egun falar.
TORNA-SE ÌYÁMÍ

Nos primórdios da criação, Olodumarê, o Ser Supremo que vive no orun, mandou vir
ao ayê (universo conhecido) três divindades: Ogum (senhor do ferro), Obarixá
(senhor da criação dos homens) (2 - Um dos orixás funfun, isto é, orixás que têm
como principal preceito o uso do branco nos ritos e nas oferendas; em algumas
regiões Obarixá é adotado como um cognome de Oxalá) e Odu, a única mulher
entre eles. Todos eles tinham poderes, menos ela, que se queixou então a
Olodumarê. Este lhe outorgou o poder do pássaro contido numa cabaça (igbá
eleiye) e ela se tornou então, através do poder emanado de Olodumarê, Iyá Won,
nossa mãe para eternidade (também chamada de Iami Oxorongá, minha mãe
Oxorongá). Mas Olodumarê a preveniu de que deveria usar este grande poder com
cautela, sob pena de ele mesmo repreendê-la.

Mas ela abusou do poder do pássaro. Preocupado e humilhado, Obarixá foi até
Orumilá fazer o jogo de Ifá, e ele o ensinou como conquistar, apaziguar e vencer
Odu, através de sacrifícios, oferendas e astúcia.

Obarixá e Odu foram viver juntos. Ele então lhe revelou seus segredos e, após
algum tempo, ela lhe contou os seus, inclusive que adorava egun. Mostrou-lhe a
roupa de egun, o qual não tinha corpo, rosto nem tampouco falava. Juntos eles
adoraram egun.

Aproveitando um dia quando Odu saiu de casa, ele modificou e vestiu a roupa de
egun. Com um bastão na mão, Obarixá foi à cidade (o fato de egun carregar um
bastão revela toda a sua ira) e falou com todas as pessoas. Quando Odu viu egun
andando e falando, percebeu que foi Obarixá quem tornou isto possível. Ela
reverenciou e prestou homenagem a egun e a Obarixá, conformando-se com a
supremacia dos homens e aceitando para si a derrota. Ela mandou então seu
poderoso pássaro pousar em egun, e lhe outorgou o poder: tudo o que egun disser
acontecerá. Odu retirou-se para sempre do culto de Egugun.

O conjunto homem-mulher dá vida a egun (ancestralidade), mas restringe seu culto


aos homens, os quais, todavia, prestam homenagem às mulheres, castigadas por
Olodumarê através dos abusos de Odu. Também por esta razão é que as mulheres
mortas são cultuadas coletivamente, e somente os homens têm direito à
individualidade, através do culto de egun.

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Iroko/Oko/Oraniam

Orixas muitas vezes esquecidos em nossa religião

ORIXÀ IRÓKÒ

Êle reside na gameleira branca. É assentado no seu pé, após prepero ritual da raiz,
e o tronco é enfeitado com um ÒJÁ FUNFUN ( OJÁ BRANCO )branco. A relação com
esta árvore é comum a várias divindades e exprime sua relação com seus
antepassados. Como ÈSÚ , ÌRÓKÒ carrega para longe os fluídos maléficos. Quando
manifesta-se os fiéis jogam sôbre êle os fluídos que querem se livrar e êle corre
para fora do barracão para atirar no mato todo o mau. As vezes bebe tanto que cai
no chão. Cobre-se então com um ALÀ branco e , pouco depois, já recuperado êle
ergue-se e volta a dançar. Dança de joelhos no chão e o BRAVUN, ritmo GEGE, como
OSÙMÀRÈ. Veste cores fortes, vermelho, azul e verde, às vezes cinza ou marrom e
branco e leva uma lança na mão. Suas contas são verde musgo e riscadas de
marrom. As vezes veste-se de palha como OMOLÚ. Sua incorporação é pouco vista ,
seus filhos giram tontos, cambaleando pelo barracão antes de caírem fulminados,
logo levantam-se e pôem-se a dançar.

Seu assentamento é feito numa gamela oval, pega-se um pedaço do tronco da


gameleira branca e faz-se uma pequena estátua de um negro africano com um IDÈ
branco no nariz, na cabeça um colar de búzios e moedas. Na gamela pôe-se uma
corrente em volta , 6moedas e no meio da gamela uma seta e a estátua.

QUALIDADES

- GIROKOSSI

- LOKOSSI

SUAS FOLHAS

- Milame, colonia, saião, iriri, mãe boa, barba de velho, esrva prata, crista de galo,
nóz moscada, abilzeiro, jaqueira e cajueiro. Quando se faz o Òrìsá, pôe-se uma folha
de saco-saco embaixo do pé do IYAÓ uma folha de saco-saco e na boca uma folha
de assa-peixe.

SEUS BICHOS :

- Um cabrito de chifre virado;

- Quatro frangos de esporão grande;

- Um galo d'angola;

- Um pombo branco.

Após matar os bichos, tira-se a língua de todos êles e as esporas do galo.

ORISÀ OKÓ

Divindade da agricultura , ligado a colheita dos inhames novos e a fertilidade da


terra . Òrìsá NAGO , pouco conhecido no Brasil . Na época em que os escravos aqui
chegaram , não deram muita importância a este Òrìsá , considerando como Òrìsá da
agricultura , em seu lugar , ÒGÚN , e dos grãos a OBALÚWÀIYÉ .

Quando manifesta-se leva um cajado de madeira que revela sua relação com as
árvores , traz uma flauta de osso que lembra sua relação com a sexualidade e a
fertilidade , é confundido com ÒÒSÀÀLÀ , pois veste-se de branco. Seu ÒPÁSÓRÒ,
no Brasil, é confeccionado em madeira . Sendo um Òrìsá raro , tem poucas
qualidades conhecidas . É um Òrìsá rico .

QUALIDADES

- ETEKÒ
Caminha com OSOGUIAN , é inquieto . Vive nas matas e come todo tipo de comida
branca.

- LEJUGBÉ

É muito confundido com ÒÒSÀÀLÀ por ser muito vagaroso e indeciso . Muito
chegado a AYRÀ . Come com YEMONJA e OSÀLÚFÓN . Come , também , todo tipo de
comidas branca .

ORANIAN

Oni, rei de Ifé, no dia da festa Olójó

(Do livro "Orixás - Pierre Fatumbi Verger - Editora Corrupio")

"Orànmíyàn (Oranian) foi o filho mais novo de Odùduà e tornou-se o mais poderoso
de todos eles; aquele cuja fama era a maior em toda a nação iorubá. Tornou-se
famoso como caçador desde a juventude e, em seguida, pelas grandes, numerosas
e proveitosas conquistas que realizou ." Foi o fundador do reino de Oyó. Uma de
suas mulheres, Torosí (Torosi), filha de Elémpe, o rei da nação Tapá (ou Nupê), foi a
mãe de Xangô, que, mais tarde, subiu ao trono de Oyó...

Oranian foi concebido em condições muito singulares, que sem dúvida, espantariam
os geneticistas modernos. Uma lenda relata como Ogum, durante uma de suas
expedições guerreiras, conquistou a cidade de Ogotún, saqueou-a e trouxe um
espólio importante. Uma prisioneira de rara beleza chamada Lakanjê agradou-lhe
tanto que ele não respeitou sua virtude. Mais tarde, quando Odùduà, pai de Ogum,
a viu, ficou perturbado, desejou-a por sua vez e fez dela uma de suas mulheres.
Ogum, amedrontado, não ousou revelar a seu pai o que se passara entre ele e a
bela prisioneira. Nove meses mais tarde, Oranian nascia. O seu corpo era
verticalmente dividido em duas cores. Era preto de um lado, pois Ogum tinha a pele
escura, e pardo do outro, como Odùduà, que tinha a pele muito clara.

Essa característica de Oranian é representada todos os anos em Ifé, por ocasião da


festa de Olojó, quando o corpo dos servidores do Oòni é pintado de preto e branco.
Eles acompanham Óòni de seu palácio até Òkè Mògún, a colina onde se ergue um
monolito consagrado a Ogum. Essa grande pedra é cercada de màrìwò òpè, franjas
de palmeiras desfiadas, e, nesse dia, os sacrifícios de cão e galo são aí pendurados.
Óòni chega vestido suntuosamente, tendo na cabeça a coroa de Odùduà. É uma das
raras ocasiões, talvez mesmo a única do ano, em que ele a usa publicamente, fora
do palácio. Chegando diante da pedra de Ogum, ele cruza por um instante sua
espada com Osògún, chefe do culto de Ogum em Ifé, em sinal de aliança, apesar do
desprazer experimentado por Odùduà quando descobriu que não era o único pai de
Oranian.
Opa Oranian, o grande monolito existente em Ifé

Orixas funfuns

OBÀTÁLÁ

É o mais velho dos Òrìsás , o grande rei branco , raíz de todos os outros ÒÒSÀÀLÀ .
Êle não é feito , faz-se AYRÀ ou ÒSUN OPARÀ . É o pai de OSÀLÚFÓN , que por sua
vêz é o pai de OSOGUIAN , tão grande e poderoso é OBÀTÁLÁ que não se
manifesta , sua palavra transforma-se , imediatamente, em realidade .

Representa a massa de ar , as águas frias e imóveis do começo do mundo , controla


a formação de novos seres , é o senhor dos vivos e dos mortos , preside o
nascimento , a iniciação e a morte . É o reponsável pelos defeitos físicos , êle é
corcunda porque recusou-se a fazer uma oferenda de sal numa cabaça e ÈSÙ
castigou-o pregando a cabaça nas costas , razão pela qual não come sal , comer sal
para êle constitui-se num ato de alto canibalismo . Êle deu a palavra ao homem e
durante suas festas não se fala , durante três semanas tudo é silêncio , pois a
palavra é dêle .

ODUDUWA

ODUDUWA, também considerado entidade FUNFUN, recebeu de OLORUN o


elemento terra, com o qual ela criou o AIYÉ. sua cor é preta (azul escuro),por ser
representante do AIYÉ. OXALÁ e ODUDUWA são cultuados no mesmo dia (sexta-
feira) e em alguns terreiros, os dois conceitos são confundidos.

0 tipo psicológico do filho de ODUDUWA, do ponto de vista físico, à semelhante ao


tipo OXALÁ. São magros, franzinos, nervosos e secos como a terra. Mas ao contrário
do tipo OXALÁ, os filhos de ODUDUWA são violentos e agresssivos, fechados,
inseguros e angustiados, tornando-se às vezes susceptíveis, impacientes,
intolerantes e desconfiados. Invejosos, vingativos, perseguem aqueles cuja
felicidade ou exito é para eles uma afronta. Sabem manipular os outros e toda sua
força está em uma Inteligência curiosa, de senso critico e de ironia ferina. É
dominador, autoritário e no trabalho é exigente, perfeccionista e minucioso.

ÒRÚNMÌLÀ IFÀ

O oráculo africano , Deus dos destinos que aparece no Candomblé como qualidade
de ÒÒSÀÀLÀ . Teria sido encarregado de estabelecer a ordem no mundo , de
separar os elementos e instituir a paz entre os homens . É o dono das nozes que
revelam a vontade dos deuses , o senhor da adivinhação , que exprime a palavra do
criador . As mulheres não podem ser sacerdotizas de IFÀ . Não se manifesta . Dono
dos búzios , IFÀ é um Òrìsá muito bom e importante , acredita-se que o Deus todo
poderoso mandou IFÀ que morava no céu para a terra , para que êle a consertasse ,
deu-lhe sabedoria , conhecimento e muita inteligência que lhe permitiu o poder
maior entre os outros Òrìsàs .

"Qualidades de Santos (Orixás)."

Na mira do caçador: Existe sem duvida no Brasil uma questão muito polemica sobre
as multiplicidades dos orisas chamada por todos de qualidade de santo. Essa
questão será esclarecida nessa coluna exaustivamente para que todos possam ter
acesso. Primeiro na África fica mais fácil o entendimento porque não há qualidade
de santo; ou seja, em cada região cultua-se um determinado orisa que é
considerado ancestral dessa região e, alguns orisas por sua importância acaba
sendo conhecido em vários lugares como é o caso de Sàngó, Orumila, etc. é de se
saber que Esu é cultuado em todo território africano. Vejam bem: Osun da cidade de
Osogbo é Osun Osogbo, da região de Iponda é a Osun de Iponda, Ogún da região de
ire é Ogún de Ire (Onire: chefe de ire), do estado de Ondo é Ogún de Ondo,etc. Na
época do tráfico de escravos veio para o Brasil diversas etnias Ijesas, Oyos, Ibos,
Ketus,etc e cada qual trouxe seus costumes juntos com seus orisas digamos
particulares, e após a mistura dessas tribos e troca de informações entre eles cada
sacerdote ou quem entendia de um determinado orisa trocaram fundamentos e a
partir daí surge as qualidades, e essa quantidade de orisa presente aqui no Brasil,
sendo que o orisa é o mesmo com origens diferenciadas. É claro que por ter origens
diferenciadas seus cultos possuem particularidades religiosas e até mesmo culturais
por exemplo Oyá Petu tem seus fundamentos assim como Oyá Tope terá o seu, isso
nada mais é, que uma passagem do mesmo orisa por diversos lugares e cada povo
passou a cultuá-lo de acordo com seus próprios costumes. Um exemplo mais nítido
é que aqui fazemos muitos pratos para Osun com feijão fradinho, entretanto num
determinado país não há esse feijão portanto foi substituído por um grão
semelhante e assim puderam continuar com o culto a Osun sem a preocupação de
importar o feijão fradinho. Outro exemplo de orisa transformado em qualidade no
Brasil é Osun kare, Kare é uma louvação à Osun quando se diz: Kare o Osun! A
palavra kare também é uma espécie de bairro na África, logo Osun cultuada em
kare é Osun kare, e por vai surgindo desordenadamente essa quantidade de orisa
aqui no Brasil. Imagine um rio que atravessa todo território Nigeriano e, em suas
margens diversas etnias que num determinado local algumas pessoas diria que ali é
a morada de Osun Ijimu (cidade de Ijumu na região dos Ijesa), mais para frente em
Iponda diria aqui é a morada de Osun Iponda, mais para frente, em Ede esse rio
terá o culto de Ologun Ede, o chefe de guerra de Ede segundo sua mitologia, e
serão diversos orisas cultuados num mesmo rio por diversas etnias com pequenas
particularidades. Isso acontece com todos orisas e suas mitologias fazem alusão a
essas passagens e constantes peregrinação de seus sacerdotes quer por viajens
comercias ou por guerras intertribais sempre espalharam seus orisas em outras
regiões. Outro fato interessante é títulos que algumas divindades possuem e foram
transformadas em qualidades, por exemplo Ossosi akeran, akeran é um titulo de um
determinado caçador (ancestral) com isso vamos na próxima edição analisar esses
fatos e informar todas qualidades de orisa da nação keto que o sacerdote pode ou
não mexer de acordo com o conhecimento de cada um, pois o nosso dever é
informar sem a pretensão de nunca ser o dono da verdade Na próxima edição
vamos diferenciar, títulos de nomes de cidades, nomes tirados de cânticos que as
pessoas insistem em dizer que é qualidade de orisa.

"Qualidades de Santos (Orixás). Segunda Parte"

Na edição passada estava abordando o tema sobre a multiplicidade dos orisa.


Vamos separar a qualidade como é chamada no Brasil (em Cuba chama-se
caminhos), dos títulos e de nomes tirados de cantigas como insistem pseudo
sacerdotes. Já sabemos que os orisa são venerados com outros nomes em regiões
diferentes como: Iroko (Yoruba), Loko (Gege), Sango (Oyo), Oranfe (Ife), isso torna o
culto diferente. Temos também o segundo nome designando seu lugar de origem
como Ogun Onire (Ire), Osun Kare (Kare),etc, também temos os orisa com outros
nomes referentes as suas realizações como Ogun Mejeje refere-se as lutas contra as
7 cidades antes dele invadir Ire, Iya Ori a versão de Iyemanja como dona das
cabeças, etc. Há portanto uma caracterização variada das principais divindades, ou
seja, uma mesma divindade com vários nomes e, é isso que multiplica os orisas
aqui no Brasil.

Vamos começar com Esu o primogênito orisa criado por Olorun de matéria do
planeta segundo sua mitologia, ele possui a função de executor, observador,
mensageiro, líder, etc. Alem dos nomes citados aqui que são epítetos e nomes de
cidades onde há seu culto, ele será batizado com outros nomes no momento de seu
assentamento, ritual especifico e odu do dia. Não será escrito na grafia Yoruba para
melhor entendimento do leitor.
Oba Iangui : o primeiro, foi dividido em varias partes segundo seus mito.

Agba: o ancestral, epíteto referente a sua antiguidade.

Alaketu: cultuado na cidade de ketu onde foi o primeiro senhor de ketu.

Ikoto: faz referencia ao elemento ikoto que é usado nos assentos esse objeto lembra
o movimento que esu faz quando se move do jeito de um furacão.

Odara: fase benéfica quando ele não está transitando caoticamente.

Oduso: quando faz a função de guardião do jogo de búzios.

Igbaketa: o terceiro elemento, faz alusão ao domínios do orita e ao sistema


divinatório.

Akesan: quando exerce domínios sobre os comércios.

Jelu: nessa fase ele regula o crescimento dos seres diferenciados. Culto em Ijelu.

Ina: quando e invocado na cerimônia do ipade regulamentando o ritual.

Onan: referencia aos bons caminhos, a maioria dos terreiros o tem, seu fundamento
reza que não pode ser comprado nem ganhado e sim achado por acaso.

Ojise: com essa invocação ele fará sua função de mensageiro.

Eleru: transportador dos carregos rituais onde possui total domínio.

Elebo: possui as mesmas atribuições com caracterizações diferentes.

Ajonan: tinha seu culto forte na antiga região Ijesa.

Maleke: o mesmo citado acima.

Lodo: senhor dos rios, função delicada dado a conflitos de elementos.

Loko: como ele é assexuado nessa fase tende ao masculino simbolizando virilidade
e procriação.

Oguiri Oko: ligado aos caçadores e ao culto de Orumila-Ifa.

Enugbarijo: nessa forma esu passa a falar em nome de todos os orisas.

Agbo: o guardião do sistema divinatório de Orumila.

Eledu: estabelece seu poder sobre as cinzas, carvão e tudo que foi petrificado.

Olobe: domina a faca e objetos de corte é comum assenta-lo para pessoas que
possuem posto de Asogun.

Woro: vem da cidade do mesmo nome.


Marabo: aspecto de esu onde cumpre o papel de protetor Ma=verdadeiramente,
Ra=envolver, bo=guardião. Também chamado de Barabo= esu da proteção, não
confundi-lo com seu marabo da religião Umbandista.

Soroke: apenas um apelido, pois a palavra significa em português aquele que fala
mais alto, portanto qualquer orisa pode ser soroke.

"Qualidades de Santos (Orixás). Terceira Parte.":

Dando continuidade as multiplicidades dos òrìsà, vamos prosseguir com o òrìsà


Ogún, Òsòósí e Ode lembrando que nem todos caçadores tomaram o titulo de
Òsòósí e, na África, Òsòósí em certas regiões é feminino tomando o aspecto
masculino no antigo reino de Ketu. Ode que dizer caçador, porém, nem todos Ode's
são Òsòósí; Ijibu Ode, Ikija, Agbeokuta, são alguns lugares onde houve seu culto,
pois seu culto, expandiu-se mesmo aqui no Brasil onde ele é lembrado como rei de
Ketu, Ogún em outro aspecto foi chefe dos caçadores (Olode) entregando essa
função mais tarde para seu irmão caçula Òsòósí para partir em buscas de suas
inúmeras batalhas. Já em certas mitologias o caçador passa a ser sua esposa Òsòósí
L`Obirin Ogun, ou seja, Òsòósí é a esposa de Ogún, segundo o verso desse mito.
Isso afirma o chamado enredo de santo aqui no Brasil quando se diz que para
assentar Òsòósí temos que assentar Ogún e vice versa. Era costume africano
quando os caçadores tinham que partir em busca de suas presas, louvarem Ogún
para que tudo desse certo, de òrìsà secundário na África Òsòósí, passou a uma
condição importantíssima no Brasil sendo òrìsà patrono da nação Keto, senhor
absoluto da cerimônia fúnebre do asesé, alguns cânticos fazem alusão a essa
condição: Ode lo bi wa, ou seja, o caçador nos trouxe ao mundo. Eis alguns nomes
de Ogún/Òsòósí/Ode conhecidos, sobretudo no Brasil e seus aspectos,
características, origem e particularidades:

Ogún Olode: epíteto do òrìsà destacando sua condição de chefe dos caçadores.

Ogún Je Ajá ou Ogúnjá como ficou conhecido: um de seus nomes em razão de sua
preferência em receber cães como oferendas, um de seus mitos o liga a Osagìyán e
Ìyémojá quanto a sua origem e como ele ajudou Osalá em seu reino fazendo ambos
um trato.

Ogún Meje: aspecto do òrìsà lembrando sua realização em conquistar a sétima


aldeia que se chamava Ire (Meje Ire) deixando em seu lugar seu filho Adahunsi.

Ogun Waris: nessa condição o òrìsà se apresenta muitas vezes com forças
destrutivas e violentas. Segundo os antigos a louvação patakori não lhe cabe, ao
invés de agradá-lo ele se aborrece. Um de seus mitos narram que ele ficou
momentaneamente cego.

Ogún Onire: Quando passou a reinar em Ire, Oni = senhor, Ire = aldeia.

Ogún Masa: Um dos nomes bastante comum do òrìsà, segundo os antigos é um


aspecto benéfico do òrìsà quando assim ele se apresenta.

Ogun Soroke: apenas um apelido que Ogún ganhou devido a sua condição
extrovertida, soro = falar, ke= mais alto. Nossa historia registra o porque o chamam
assim.

Ogún Alagbede: nesse aspecto o òrìsà assume o papel de pai do caçador e esposo
de Ìyémojá Ogunte (uma outra versão de Ìyémojá) segundo um de seus inúmeros
mitos.
Há vários nomes de Ogún fazendo alusão a cidade onde houve seu culto como
Ogún Ondo da cidade de Ondo, Ekiti onde também há seu culto, etc. O òrìsà possui
vários nomes na África como no Brasil e com isso ganha suas particularidades e
costumes.

"Qualidades de Santos (Orixás). Quarta Parte."

Esse texto é a continuação das multiplicidades dos orisas que vem sendo analisado
em publicações anteriores. É um assunto que não pretende esgotar os vários pontos
de vista, porém, segundo os "antigos' e, mais de 25 anos de pesquisas em quase
todos estados do país, chegamos a essa conclusão. O CCOO sugere o
acompanhamento das matérias anteriores, para que os leitores acompanhem desde
o início. Seguindo a ordem vamos citar o orisa Ode/Osossi. Há uma síntese sobre
esse orisa na edição anterior, eis então suas várias formas de se apresentar:

Osossi akeran = um titulo do orisa;

Ossosi Nikati = um de seus nomes;

Osossi Golomi = um de seus nomes;

Ossosi fomin = um de seus nomes;

Ossosi Ibo = um de seus mitos o liga a Ossain;

Ossosi Onipapo = um dos antigos, tem culto a mais de um século no país;

Ossosi Orisambo = possui seu assentamento diferente dos demais;

Ossosi Echeui/Echeue = seu mito o liga a Ossayn e as vezes a Osalá segundo os


"antigos";

Osossi Arole = uns de seus epítetos;

Ossosi Obaunlu = segundo registro há um assentamento deste orisa aqui no Brasil


desde 1616 no ase de D. Olga de alaketu, é considerado o patrono de ketu;

Ossosi Beno = um dos mais antigos, detalhe tem assento aqui em São Paulo, cidade
considerada emergente para tradições do candomblé Keto, com poucas casas
antigas.

Ossosi DanaDana = aquele que ateou fogo ou roubou, um epíteto dos mais
perigosos dado ao caçador.

Ode Wawa = epíteto do caçador;não se tem notícia do seu culto no Brasil;

Ode Wale = epíteto do caçador, não se tem notícia de seu culto no Brasil;

Ode Oregbeule = é um Irunmale, portanto acima do orisa foi um dos companheiros


de Odudua em sua chegada na terra segundo sua mitologia;

Ode Otin = outro caçador confundido com Ossosi, sua lenda o identifica ora como
uma caçadora ora como um caçador, contudo sua ligação com Ossosi é fato, Otin se
apresenta sempre junto com ele a ponto de confundi-los;
Ode Karo = um do caçadores que também mora as margens de um rio é irmão de
iguidinile.

Ode Ologunede = o chefe de guerra de Ede, titulo ganhado quando seu pai o
entregou aos cuidados de Ogún;

Olo = senhor, gun = guerra, Ede = um lugar na áfrica.É filho de um outro caçador
chamado Erinle tendo como mãe Osún Iponda. O posto de asogun, a priori, surge
desse mito que o liga a Ogún companheiro de seu pai.

Possui outros nomes como Omo Alade, ou seja, o príncipe coroado. Não há
qualidades de Logun como acreditam alguns tais como locibain, aro aro, etc., são
apenas nomes tirados de cânticos, aliás aro quer dizer tanta coisa menos nome de
orisa. O nome Ibain é de um outro caçador homenageado nos cânticos de Ologun,
esse caçador inclusive é o verdadeiro proprietário dos chifres tão importantes no
culto. Oba L`Oge é um outro nome para esse orisa. É da região de Ijesa;

Ode Erinle = outro caçador confundido com Osossi no Brasil. Seu assento é
completamente diferente dos demais, pois Erinle ou Inle é um orisa do rio do
mesmo nome, o rio Erinle que corta a região de Ilobu na Nigéria. Encontra-se seus
mitos no odu Okaran-Ogbe e Odi-Obara. Sua esposa é Abatan pois é considerado
médico e ela enfermeira, seu culto antecede o de Ossayn, o pássaro os
representam. Ibojuto é a sua própria reencarnação representado pelo bastão que
vai em seu assentamento e tem a mesma importância do Ofa de Ossosi.Tem uma
filha chamada Aguta que às vezes se apresenta como irmã ou como filha sendo sua
mãe Ainan. Ode Otin se apresenta como sua filha, às vezes e ai é representado por
uma enguia. Ainda temos Boiko como seu guardião, Asão seu amigo e Jobis seu
ajudante. No Brasil o ligam a Osún e a Iyemanja pois segundo sua lenda é pela boca
dela que ele fala, Erinle é um orisa andrógino e considerado o mais belo dos
caçadores;

Ode Ibualama = uma outra versão para Erinle quando ele se apresenta mais ao
fundo do rio, há um templo com esse nome na África fazendo alusão ao seu
fundador. Aliás há vários templos mas todos são de um orisa só: Erinle nessa
situação o caçador traça um outro caminho e pactua seus mitos com Omolu,
Osumare, Nana,etc. A montagem de seu Igba (cuia) também difere de um simples
alguidar com um ofa para cima como é comum as pessoas não esclarecidas assim
fazer.

Qualidades de Santos (Orixás). Quinta Parte."

Dando continuidade as multiplicidades dos orisas vou declinar sobre os orisas


Ossayn, Omolu, Oluaye, Osumare, Nanan e Iroko.

Ossayn = Também chamado Baba Ewe, Asiba, que são epítetos do orisa. Possui seu
próprio sistema divinatório; o orisa exerce suas funções interligadas a Esu composto
ao mesmo tempo em que ele. Kosi ewe, kosi orisa: Sem folhas, sem orisa.

Osumare = Chamado Araka seu epíteto. É o orisa do arco-íris e da transformação,


não deve ser confundido com o vodun Becem que se apresenta como Dangbe,
Bafun, Danwedo todos da família Danbira e cultuados em outra nação.

Omolu / Obaluaye = É como se apresenta o orisa sapata transmutando-se para


formas conhecidas tais como: Agoro, Telu, Azaoni, Jagun, Possun, Arawe, Ajunsun,
Afoman, etc, cada qual com suas particularidades.
Nanan = apresenta-se nas formas conhecidas como: Iyabahin, Salare, Buruku,
Asainan, sem culto no Brasil. É sempre bom lembrar que muitos nomes são de
lugares onde se cultua o orisa. Por exemplo: Ajunsun é o Rei de Savalu, assim como
Dangbe é o Rei do Gege, portanto são nomes que dão origem as suas formas.

"Qualidades de Santos (Orixás). Sexta Parte."

"Qualidades de Santos (Orixás). Sexta Parte."

Na edição passada não foi citado o orisa Iroko, citarei agora:

Iroko = orisa da gameleira (no Brasil), controla a hemorragia humana. Dando


seqüência vamos declinar sobre as Yabas que são os orisá feminino.

Oba = orisa guerreira é única em seu aspecto.

Ewá = orisa guerreira única em seu aspecto.

Osún Opara = a orisa se apresenta jovem e guerreira.

Osún Iponda = jovem e guerreira, da cidade de Iponda.

Osún Ajagura = jovem e guerreira, nação nagô - Oyo, Pernambuco.

Osún Aboto = aspecto maduro da orisa.

Osún Ijimun = aspecto idosa e dada as feitiçarias, ligação com Iami Eleye.

Osún Iberin = aspecto maduro da orisa, nessa forma não desce nas cabeças.

Osún Ipetu = aspecto maduro da orisa.

Osún Ikole = seu mito a liga a Iemanjá e Ode Erinle, transformou-se numa ave.

Osún Popolokun = Conta os antigos que não vem mais, será?.

Osún Osogbo = ela deu oringem ao nome da cidade de Osogbo.

Osún Ioke = Se apresenta como caçadora.

Osún Kare = Um de seus títulos, Kare tem seu próprio nome que poucos conhecem.

Iyeyeo Ominibu = epíteto da Osún.

Iyemonja Ogunte = orisa se apresenta jovem e guerreira.

Iyemonja Yasessu = assume a maternidade de Sàngó é ranzinza e respeitável.

Iyemonja Saba = uma das formas da mãe.

Iyemonja Maleleo = não se obteve noticias desse aspecto no Brasil.

Iyemonja konla = seu mito conta que ela afoga os pescadores.


Iyemonja Ataramaba = Nessa forma ela está no colo de sua mãe olokun.

Iyemonja Ogunde = aspecto da orisa cultuado no Nagô em Pernambuco.

Iyemonja Iyá Ori = nessa forma ela assume todas as cabeças mortais.

Iyamasse = forma de quando ela é definitivamente mãe de Sàngó.

Iyemonja Araseyn = fuxico com Ossayn.

Oyá Lesseyen = uma das Igbales que mora no próprio Lesseyen.

Oyá Egunita = orisa Igbale.

Oyá Foman = orisa Igbale.

Oyá Ate Oju = orisa Igbale aspecto dificil de Oyá quando caminha com Nana.

Oyá Tope = uma de suas formas.

Oyá Mesan = um de seus epítetos.

Oyá Onira = rainha da cidade de Ira.

Oyá Logunere = uma de suas formas.

Oyá Agangbele = esse caminho mostra a dificuldade quando a geração de filhos.

Oyá petu = nesse aspecto ela convive com Sàngó.

Oyá Arira = uma de suas formas.

Oyá Ogaraju = uma das mais antigas no Brasil.

Oyá doluo = eró ossayn; culto Nagô.

Oyá Kodun = eró com Osaguian.

Oyá Bamila = eró Olufon.

Oyá Kedimolu = eró Osumare = Omolu.

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Maria Padilha é uma das principais entidades da umbanda e do candomblé traz consigo o dom do
encantamento
de amor é muito procurada pelas pessoas que sofre de paixões não Correspondidas sejam eles gays
lésbicas
hetero xexual travesti etc

E suas oferendas são compostas geralmente de cigarros champanhe rosas vermelhas perfumes anéis
e
gargatilhas batom pentes espelho farofa feita com azeite de dendê suas obrigações são geralmente
arriadas
nas encruzilhadas de T aceita como sacrifício galinha vermelha cabra e pata preta

Mulheres que trabalham com esta entidade são geralmente belas bonitas atraentes e sensuais
são dominadoras
e de personalidade muito forte sabem amar como ninguém mas com a mesma facilidade
sabem odiar seus
parceiros amorosos

Maria Padilha é protetora das prostituta gosta do luxo e do sexo adora a lua mas odeia o sol
suas roupas são
geralmente vermelhas e pretas igualmente seus colares e sua coroa suas cantigas são muito
alegres e cheias
de magia e segredos E mulher de sete exu rainha dos cabarés e das encruzilhadas suas
cantigas geralmente
falam de homens como vamos descrever abaixo

Cantigas número 1
Este homem é meu e ninguém toma quem
quiser homem bom vai buscar na zona bis
cantiga nº 2
Sou eu sou eu sou eu Maria Padilha sou eu
corro no mundo e ninguém não me pega cada fumaça do meu cigarro é um tombo e uma
queda
cantiga nº 3
Quando ela vem no clarâo do sol
quando ela vai no clarao da lua
dando risada qua qua qua Maria Padilha ainda é dona da rua ( BIZ )
cantiga nº 4
Maria Padilha tem cinco dedos em cada mão cinco dedos em cada pe
gosta de homem e de mulher ai ai gosta de homem e de mulher ( BIZ )

Zé Pilintra

Um mistério na umbanda,esse guia que é muito conhecido na Umbanda,Candomblé


e outras.

Sua primeira aparição foi no Catimbó,antiga religião onde se fazia muito feitiço,uma
religião muita pesada,com muitas cargas negativas,essa religião se usava muito
vodum,aqueles bonecos que simbolizavam pessoas,onde se colocava alfinetes nela
como se tivesse maltratando-a .Os guias que se manifestavam nessa religião eram
chamados de mestres,Mestre Zé Pilintra ,por exemplo.

Na Umbanda ele se manifesta tanto na direita(guias como preto velho,baianos,etc..)


e esquerda(exus).

Na direita ele vem na linha de baianos e pretos velhos ,fuma cigarro de palha,bebe
batida de coco,pinga coquinhos ou simplesmente cachaça,sempre com sua
tradicional vestimenta.Calça Branca,sapato branco(ou branco e vermelho),seu terno
branco,sua gravata vermelha, seu chapéu branco com uma fita vermelha ou chapéu
de palha e finalmente sua bengala.

Gosta muito de ser agradado com presentes,festas,ter sua roupa completa,é muito
vaidoso,os Zé Pilintra ,tem duas características marcante:
Uma é de ser muito brincalhão ,gosta muito de dançar,principalmente
chachado,gosta muito da presença de mulheres,gosta de elogia-las ,etc...

Outra é ficar mais sério ,parado num canto assim como sua imagem,gosta de
observar o movimento ao seu redor mas sem perder suas características.

Agora quando ele vira para o lado esquerdo, a situação muda um pouco ,em alguns
terreiros ele pede uma outra roupa,um terno preto,calças e sapatos também pretos
,gravata vermelha e uma cartola,fuma charutos ,bebe marafo,conhaque e uísque
,até muda um pouco sua voz.Em alguns terreiros ele usa até uma capa preta.

E outra característica dele é continuar com a mesma roupa da direita,com um


sapato de cor diferente,fuma cigarros ou cigarilhas,bebe batidas e pinga de
coquinho,e sempre muito brincalhão,extrovertido.

Trabalha muito com bonecos,agulhas,cocos,pemba,ervas,frutas,grangos,velas .etc.

Seu ponto de força é na porta do cemitério,pois ele trabalha muito com as


almas,assim como é de característica na linha dos pretos velhos e exus.Sua
imagem fica sempre na porta de entrada no terreiro,pois ele é quem toma conta
das portas ,das entradas ,etc...

É muito conhecido por sua irreverência,suas guias pode ser de vários tipos,desde
coquinhos com olho de cabra até vermelho e preto, vermelho e branco ou preto e
branco.

Pontos:

1)Com seu chapéu de palha

E seu lenço no pescoço

Zé Pilintra veio a terra

E me deu boa noite moço

2)O Zé quando for na lagoa

Toma cuidado com o balanço da canoa

O Zé faça tudo o que quiser

Mas não machuque o coração dessa mulher

3)O Zé ,Zé Pilintra enganador

Enganou a jovem com palavras de amor

Não foi eu,foi ela,

Foi ela quem me enganou

Eu passava ela dizia Zé Pilintra meu Amor

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ÁGUAS DE OXALÁ

Na quinta-feira à noite, antes de se iniciarem os preceitos das águas de Oxalá, das


dezenove até às vinte e quatro horas, todos os filhos e filhas da casa são obrigados
a fazer um bori (obrigação que se faz coma fruta chamada obi e água) para
poderem carregar as águas. Depois desse bori, vão se agasalhar, até que são
despertados pela Iyalorixá para iniciarem o preceito das águas. Os filhos do Axé,
trajados de alvo, saem em silêncio do terreiro, em procissão, carregando potes e
moringues, tendo à frente a Iyalorixá tocando o seu adjá.

No tempo de Mãe Senhora, dirigiam-se para uma fonte chamada Riacho, que fica ao
lado da Lagoa da Vovó, nessa roça de São Gonçalo do Retiro. Hoje, essa obrigação é
feita dentro do próprio terreiro. Meia hora depois, com suas vasilhas cheias d'água,
aproximam-se de um lugar apropriado, todo cercado de palha, com uma oca
indígena, chamado Balué, onde se colocou o assento do velho Oxalá. Alí, todos
apresentam aquelas águas à Iyalorixá, que as derrama por cima do assento de
Oxalá. São feitas três viagens à fonte ou aonde está a água, e, na terceira, a água
não é mais derramada, ficando todas as vasilhas cheias depositadas no Balué,
sendo colocada uma cortina branca na porta e uma esteira no chão.

Cada pessoa que chega ajoelha-se sobre aquela esteira em sinal de reverência.
Algumas pessoas, os que têm orixá masculino, dão Dodobalé, deitam-se de fio ao
comprido, tocando a cabeça no chão. As demais dão o Iká otun iká osi, virando-se
de um lado e do outro, tocando o chão com a cabeça - são as que têm o orixá
feminino. Depois dessa cortesia, a Iyalorixá, juntamente com todos os seus filhos e
associados, começa a cantar uma saudação para Oxalá .

(Oriki):

Babá êpa ô

Babá êpa ô

Ará mi fo adiê

Êpa ô Ará mi ko a xekê Axekê koma do dun ô

Êpa Babá

Depois de cantada essa saudação, todas as pessoas pertencentes à Oxalá são por
ele manifestadas e vão até o Balué, que é, como já se viu, onde está o assento do
orixá. Fazem ali determinadas reverências e cumprimentam a todos, agradecendo o
sacrifício daquele dia e rogando a Oduduá para abençoar a todos. Por que Osala usa
Okodide (transcrição do livro Porque Oxalá usa Ekodidé - Deoscóredes M dos
Santos-DIDI - Edição Cavaleiro da Lua - Fundação Cultural do Estado da Bahia - foi
mantida a ortografia original do manuscrito)
Muito tempo depois que Oduduwa chegou em Ilê Ifé e começaram a adorar o culto
das Águas de Oxalá, aconteceu que, logo no primeiro ano, quando estava perto das
festas Oxalá escolheu uma senhora das mais velhas do terreiro, chamada Omon
Oxum, para tomar conta de todo, ou melhor, de tôda sua roupa, adornos e
apetrechos, depositando com tôda benevolência nas mãos dela aquele direito
especial para tomar conta de tudo que lhe pertencesse, da corôa ao sapato.

Omon Oxum por nunca ter tido nenhum filho, criava uma menina. Dessa data em
diante ela e a menina ficaram sendo odiadas por algumas pessoas que faziam parte
nesse terreiro e que por inveja de Omon Oxum começaram a tramar novidades,
procurando um meio qualquer para fazer Oxalá se zangar com ela e tomar o "achê"
entregue por Oxalá. Fizeram coisas que Deus duvida contra Omon Oxum porém
nada surtia efeito. Cada vez mais Oxalá ia aumentando a amizade e dedicação para
Omon Oxum. Ela era muito devotada ao cumprimento das suas obrigações e não
dava margem alguma para ser por êle repreendida. Como dizem que a água dá na
pedra até que fura, aconteceu que, na vespera do dia da festa, as invejosas, já
desiludidas por poderem fazer o que desejavam, de passagem pela casa de Omon
Oxum se depararam com a corôa de Oxalá que ela tinha areiado e colocado no sol
para secar. Quando elas viram a corôa de Oxalá muito bonita e mais reluzente do
que nunca, combinaram roubar a corôa e ir jogar no fundo do mar. E assim fizeram.
Quando Omon Oxum foi apanhar a corôa para guardar, não encontrou. Ficou doida.
Procura daquí procura dalí, remexeram com tudo procurando em todos os cantos da
casa e nada da corôa aparecer. As invejosas vendo a aflição que estava passando
Omon Oxum e sua filhinha, satisfeitas pelo mal que tinham causado, riam as
gaiofadas dizendo: agora sim quero ver como ela vai se atá com Oxalá amanhã
quando êle procurar a corôa e não encontrar.

A essa altura Omon Oxum comretamente azurantada só pensava em se matar e ja


estava resolvida a fazer isso para não passar vergonha perante Oxalá. Foi quando a
meninazinha, sua filha de criação disse: - Mamãe, porque a senhora não vai na feira
amanhã de manhã bem cedinho e não compra o peixe mais bonito que tiver lá?

A corôa de Oxalá deve estar na barriga desse peixe. E assim a menina insistiu,
insistiu tanto, até que Omon Oxum se decidiu a aceitar o que a menina aconselhou,
dizendo:- Fique tanquila minha filha, porque de madrugadasinha eu vou acordar
para ir à feira ver se encontro com esse peixe que voce imagina ter a corôa do
nosso Rei Oxalá na barriga. A menina foi dormir tranquila. Omon Oxum coitada, não
pôde dormir tôda a noite preocupada que já amanhecesse o dia para ela ir a feira
ver se conseguia encontrar o dito peixe que a menina julgava ter a corôa na
barriga. Quando o dia mal tinha clareado, Omon Oxum pulou da cama, se preparou
e lá se foi. Quando ela chegou na feira foi diretamente no mercado de peixe e não
encontrou nenhuma escama. Ainda éra muito cedo. Omon Oxum deu uma volta
pela feira e já bastante impaciente voltou ao mercado onde encontrou um senhor
vendendo um peixe, cujo peixe, era o único que se encontrava no mercado. Omon
Oxum comprou o peixe e foi voando para casa a fim de destrincha-lo. Queria ver se
sua filha tinha aconselhado bem, para ela poder obter a paz e tranquilidade
espiritual, encontrando a corôa de Oxalá. Assim que ela chegou em casa foi logo
para a cosinha para abrir a barriga do peixe. Porém não conseguiu. Quando ela
estava aí se acabando de chorar e labutando para abrir a barriga do peixe, a
menina acordou e foi logo perguntando: - Mamãe já comprou o peixe? A senhora
deixa que eu abra a barriga dele? - Omon Oxum bastante chorosa respondeu:-
Minha filha a barriga dele está muito dura. Eu não posso abrir quanto mais você. A
menina se levantou, chegou na cosinha, apanhou um cacumbú e puxou rasgando a
barriga do peixe, ésta se abriu em bandas deixando aparecer a corôa de Oxalá
ainda mais bonita do que era antes. Omon Oxum se abraçou com a menina e de
tanto contentamento não sabia o que fazer com ela. Carregava, beijava, dansava, e
por fim Omon Oxum olhando para a menina e em seguida voltando as vistas para o
céu, disse: - Olorun, Deus que lhe abençoe. Sua maesinha está sendo perseguida,
porém com a fé que tem no seu Eledá, anjo da guarda, não ha de ser vencida.
Limparam muito bem limpa, a corôa, e guardaram, muito bem guardada,
juntamente com o resto das coisas pertencentes a Oxalá. Em seguida Omon Oxum
cosinhou o peixe, fez um grande almôço e convidou a todos da casa para almoçar
com ela dizendo que estava festejando o dia da festa do Pai Oxalá. Ao meio dia
Omon Oxum juntamente com seu, quero dizer, sua filhinha serviram o almôço
acompanhado de Aluá ou Aruá, a bebida predileta de Oxalá a qual os Erê dão o
nome de mijo do pai. Depois do almôço todos foram descansar para na hora
determinada dar começo a festa das Águas de Oxalá. As invejosas quando viram
todo aquele movimento, Omon Oxum muito alegre como se nada tivesse
acontecido a ponto de dar até um banquete em homenagem a Festa de Oxalá,
ficaram malucas. Uma delas perguntou:- Será que ela encontrou a corôa? - Outra
respondeu:- Eu bem disse que queimasse. - E a outra mais danada ainda dizia:- Eu
disse a vicês que o melhor era cavar um buraco bem fundo e enterrar. - A primeira
procurando acalmar os animos, disse para a outra:- Vamos esperar até a hora que
éla apresentar as roupas de Oxalá com todos os armamentos. Se a corôa estiver no
meio o geito que temos é fazer um grande ebó e colocar na cadeira onde éla vai se
sentar ao lado de Oxalá. - O ebó, sacrificio, póde ser empregado para o bem ou
para o mal.

Quando estava perto da hora de começar a festa, Omon Oxum apresentou a Oxalá
tôda a roupa com todos os armamentos deixando as invejosas mais danadas e com
mais desejo de vingança, a ponto de procurarem fazer o ebó por elas idealisado e
colocar na cadeira onde Omon Oxum era obrigada a sentar-se por ordem de Oxalá.
Começou a festa com a maior alegria possivel. Oxalá chegou acompanhado por
Omon Oxum e se sentou no trono. Omon Oxum sem saber do que estava sendo
feito contra ela, também se sentou na sua cadeira ao lado de Oxalá. Quando
começaram as cerimônias e que Oxalá precisou de colocar a sua corôa, virou-se
para Omon Oxum e pediu para éla ir apanhar a corôa. Omon Oxum quiz levantar e
não pôde. Fez força para um lado, para o outro, e nada de poder levantar-se, até
quando éla decidiu levantar-se de qualquer maneira. Devido a grande dor que
sentiu, olhou para a cadeira e viu que estava tôda suja de sangue. Alucinada de
dor, e horrorisada por saber que Oxalá de fórma nenhuma podia ter nada de
vermelho perto dêle porque era ewó, proibição, saiu esbaforida pela porta afora,
indo se esbarrar na casa de Exú. Quando Exú abriu a porta que viu Omon Oxum
tôda suja de vermelho, disse:- Você vindo dêsse geito da casa de meu pai? Infringiu
o regulamento e eu não posso lhe abrigar,- e fechou a porta. Daí ela foi para a casa
de Ogun, Oxossi, de todos Orixás e sempre diziam a mesma coisa que disse Exú. Só
restava a casa de Oxum. Quando Omon Oxum chegou a casa de Oxum, esta já
tinha sabido do que estava acontecendo e estava a sua espera. Omon Oxum se
jogando nos pés dela disse:- Minha mãe me valha, estou perdida. Oxalá não vai me
querer mais em sua casa. Oxum disse para ela que não se preocupasse, que um dia
Oxalá ía buscar ela de volta. Depois Oxum, usando de sua magia, fez com que, do
lugar onde sangrava em Omon Oxum saisse Ekodide, pena vermelha de papagaio
da costa, até quando sare a ferida. Oxum, depois de colocar todo aquêle Ekodidé
numa grande igbá, cuia, reuniu todo seu pessoal e tôdas as noites faziam um xirê,
festa, cantando assim:

BI O TA LADÊ

BI O TA LADÊ IRÚ MALÉ

IYA OMIN TA LADÊ OTO RU ÉFAN KOBÁJA

OBIRIN IYA OMIN TA LADÊ

E assim Oxum ricamente vestida, sentada no seu trono, com Omon Oxum ao seu
lado, a cuia de Ekodidés e a vasilha para colocarem dinheiro em frente a elas,
recebia as visitas de todos os Orixás que iam até lá para ver e saber porque Oxum
estava fazendo aquela festa tôdas as noites. Todos que lá chegavam e se
enteiravam do acontecimento, si era homem dava dodóbálé, se estirava de peito no
chão para Oxum, depois apanhava um Ekodidé e colocava uma certa quantia na
vasilha que estava ao lado para ser colocado o dinheiro, e se era mulher dava iká,
quer dizer, se deitava no chão de um lado e do outro para Oxum e em seguida
apanhava um Ekodidé e colocava também o dinheiro na referida vasilha.

Tudo aquilo que estava acontecendo no palácio de Oxum, ficou sendo muito
propalado e as invejosas faziam todo possivel para que Oxalá não soubesse. Um
dia, elas, sem observarem que Oxalá estava por perto, começaram a comentar o
caso, onde uma delas disse:- Com ela não tem quem possa, depois de tudo o que
nós fizemos, depois de ter acontecido o que aconteceu aqui no palácio de Oxalá e
de ter sido enjeitada por todos Orixás, vocês não estão vendo que Oxum abrigou
ela? Curou, conseguindo que do lugar que sangrava saisse Ekodidé, fazendo uma
grande fortuna e aumentando a sua riqueza.

Agora só nos resta é fazer com que o velho não saiba do que está acontecendo no
palácio de Oxum, se não é bem capaz de querer ir até lá. Nisso o velho Oxalá
pigarreou dando a entender que tinha ouvido tôda a conversação. Ordenou a elas
que procurassem saber a hora que começava o xirê no palácio de Oxum e que elas
iam servir de companhia para êle poder ir apreciar o xirê e tomar conhecimento do
que estava acontecendo. Quando elas ouviram Oxalá falar desta maneira bem
pertinho delas a terra lhe faltaram nos pés e o remorso montou nos seus cangótes
fazendo com que elas fugissem para nunca mais voltar ao palácio de Oxalá. A noite,
depois do jantar, Oxalá cansado de esperar pelas tres invejosas e não vendo
nenhuma delas aparecer, disse:- Fugiram com medo de que eu castigasse pela
grande injustiça que cometeram, não sabendo de que o castigo será dado pelas
mesmas. Assim Oxalá se dirigiu para o palácio de Oxum afim de assistir o xirê e
saber qual a causa do mesmo.
Quando Oxalá chegou no palácio de Oxum mandou anunciar a sua chegada. Oxum
mais bonita do que nunca, coberta de ouro e muitas jóias dos pés a cabeça,
sentada no seu rico trono, mandou que Oxalá entrasse, e continuou o xirê
cantando:

BI O TA LADÊ, BI O TA LADÊ, IRÚ MALÊ, IYA OMIN TA LADÊ.

Quando Oxalá entrou ficou abismado de ver tanta riquesa e quando reparou bem
para Oxum, que viu a seu lado Omon Oxum, a pessoa que cuidava dele e de tôdas
suas coisas, a quem ele julgava ter perdido devido o que tinha acontecido, não se
conteve, se jogou também no chão dando dodóbálé para Oxum, apanhando um
Ekodidé e colocando bastante dinheiro na vasilha. Oxum quando viu o velho dar
dodóbálé para ela, se levantou cantando:

DÓDÓ FIN DODÓBÁLÉ KÓ BINRIN IYA OMIN TA LADÊ

e foi ajudar a Oxalá se levantar do chão. Depois que Oxalá se levantou Oxum pegou
Omon Oxum pela mão e entregou à Oxalá dizendo:- Aqui está a vossa zeladora, sã
e salva de todo mal que desejaram e fizeram para ela para que ela ficasse odiada
por vós.

Oxalá agradecendo a Oxum disse:- Oxum, em agradecimento a tudo o que fizestes


de bem e para amenisar os sofrimentos de Omon Oxum eu, Oxalá, prometo levar
ela de volta para o meu palácio e de hoje em diante nunca hei de me separar desta
pena vermelha que é o Ekodidé e que será o unico sinal desta côr que carregarei
sôbre o meu corpo.
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