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Boneca de Oya
Boneca de Oya
Entretanto, ele possui o seu lado bom e seu Exu é tratado com consideração reage
favoravelmente, mostrando-se serviçal e prestativo. Se, pelo contrário, as pessoas
se esquecem de lhe oferecer sacrifícios e oferendas, podem esperar todas as
catástrofes. Exu revela-se, talvez, desta maneira, o mais humanos dos Orixás, nem
completamente meu, nem completamente com.
Ele tem suas qualidades além de seus defeitos, pois é dinâmico e jovial,
constituindo-se, assim, em Orixá protetor, havendo mesmo pessoas que usam,
orgulhosamente, na África, nomes tais como Exubiyi ("concebido por Exú") ou
Exutosin ("Exu merece ser adorado").
Segundo Epegá, Exu tornou-se rei de Ketu sob o nome de Exu Alaketu. É Exu que
supervisiona as atividades do mercado do rei em cada cidade: o de Oyo é chamado
Exu Akessan. No Brasil, dentre as variadas denominações recebidas por Exu,
figuram estes dois últimos nomes.
Ele é o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas.
No Brasil, Exu foi sincretizado com o Diabo. Não inspira, porém, grande terror pois
sabe-se que quando tratado convenientemente, ele trabalha para o be, quer dizer,
pode ser enviado para fazer o mal às pessoas más ou àquelas que nos prejudicam
ou, ainda, aquelas que nos causam ressentimentos.
Este Adí tem a fama de ser portador de violência e de cólera. Um excelente meio de
se vingar vantajosamente de um inimigo, consistiria, diz-se, em derramar sobre a
estátua de Exu o Adí, de preferência fervendo, declarando-se, em alta voz, que esta
oferenda é feita à pedido da pessoa a quem se deseja prejudicar. Exu não deixaria
de lhe pregar uma peça.
Existem, na Bahia, vinte e um Exus, segundo uns, e sete, segundo outros. alguns
desses nomes podem passar por apelidos, outros parecem ser letras dos cânticos
ou fórmulas de louvores. Eis aqui alguns: Exu-Elegba ou Exu-Elegbará, assim como
Exu-Bará ou Exu-Ibará ( cujo nome deriva-se, talvez, do precedente) Exu-Alaketu,
Exu-Laalu, Exu-Jelu, Exu-Lonã, Exu-Akessan, Exu-Agbô, Exu-Larôye, Exu-Inan, Exu-
Odara, Exu-Tiriri.
Exu teve numerosas brigas com os outros Orixás, nem sempre saindo vencedor.
Certas lendas nos contam seus sucessos e seus revezes nas relações com Oxalá, ao
qual fez passar alguns maus momentos. Com intenções de se vingar, por não haver
recebido certas oferendas, quando Oxalá foi enviado por Olodumaré, o Deus
Supremo, para criar o mundo, Exu o incitou a beber o vinho de palma em excesso,
daí resultando, como veremos, tristes conseqüências. Foi Exu, ainda, que entornou
malicioasamente o conteúdo da barris de azeite de dendê sobre o Oxalá. Por outro
lado, segundo outras lendas, Oxalá provou a sua superioridade durante um
combate de múltiplas peripécias, numa disputa entre Exu e o Grande Orixá, para
saber qual dos dois seria o mais antigo e, conseqüentemente, o mais respeitável.
No decurso de uma competição, da mesma natureza, entre Exu e Obaluayé, foi este
último que saiu igualmente vencedor.
Uma delas, bastante conhecida, da qual existem numerosas variantes, conta como
ele semeou discórdia entre dois amigos que estavam trabalhando em campos
vizinhos. Ele colocou um boné vermelho de um lado e branco do outro, e passou ao
longo de um caminho que separava os dois campos. Ao fim de alguns instantes, um
dos amigos fez alusão a um homem de boné vermelho; o outro retrucou que o boné
era branco e o primeiro voltou a insistir, mantendo a sua afirmação; o segundo
permaneceu firme na retificação. Como ambos eram de boa fé, fixaram seus pontos
de vista, sustentando-os com ardor e, logo depois, com cólera. Acabaram lutando
corpo a corpo e mataram-se um ao outro.
Uma outra lenda mostra Exu mais maquiavélico ainda. Ele foi procurar uma rainha
abandonada, já há algum tempo por seu marido e lhe disse: "Traga-me alguns fios
da barba do rei e corte-os com esta faca. Eu lhe farei um amuleto que lhe trará de
volta o seu marido". Em seguida, Exú foi à casa do filho da rainha que era o príncipe
herdeiro. Esse vivia em uma residência situada fora dos limites do palácio do rei. O
costume assim o determinava a fim de prevenir toda tentativa de assassinato de
um soberano por um príncipe impaciente por subir ao trono. "O rei vai partir para a
guerra, disse-lhe ele, e pede seu comparecimento essa noite no palácio,
acompanhados por seus guerreiros". Finalmente, Exú foi ao rei e disse-lhe:"A
Rainha, magoada com a sua frieza, deseja lhe matar-lhe para se vingar. Cuidado
esta noite". E a noite veio. O rei deitou-se, fingiu dormir e viu, logo depois, a rainha
aproximar uma faca de sua garganta. O que ela queria era arrancar um pouco da
barba do rei, mas ele julgou que ela queria assassiná-lo, o rei desarmou-a e ambos
lutaram fazendo grande barulho. O príncipe, que chegava ao palácio com seus
guerreiros, escutou gritos nos aposentos do rei e correu até lá. Vendo o rei com uma
faca nas mãos, pensou que ele queria matar sua mãe. Por seu lado, o rei, ao ver seu
filho penetrar nos seus aposentos , no meio da noite, armado e seguido por seus
guerreiros, acreditou que ele desejava assassinar-lhe. Gritou por socorro, a sua
guarda acudiu e, houve então, uma grande luta, seguida de massacre generalizado.
Uma história mais simples mostra a atividade de Exú na vida cotidiana: "Uma
mulher está no mercado vendendo os seus produtos, Exú põe fogo na sua casa, ela
corre para lá, abandonando seus negócios no local. A mulher chega tarde, a casa
está queimada e, durante esse tempo, um ladrão levou sua mercadorias".Nada
disto teria acontecido - nem os amigos teriam brigado, nem o rei e o príncipe teriam
sido massacrados, nem a mercadoria teria ficado arruinada se tivessem feito a Exú
as oferendas e os sacrifícios usuais.
O arquétipo de Exú era muito comum em nossa sociedade, onde proliferam pessoas
com caráter ambivalente, ao mesmo tempo, boas e más, porém com inclinações
para a maldade, o desatino, a obscenidade, a depravação e a corrupção. Pessoas
que tem a arte de inspirar confiança e dela abusar, mas que apresentam, em
contrapartida, a faculdade de inteligente compreensão dos problemas dos outros e
a de dar poderosos conselhos, com tanto zelo que esperam recompensa. As
cogitações intelectuais enganadoras e as intrigas políticas lhe convém
particularmente e são para elas garantia certa de sucesso na vida.
A história do modo como Exu tomou a primazia das mãos de todos os orixás e
embora que até então eram seus mais velhos quando exu tentava apodera-se do
comando, foi consulta ifá (para saber) como esse pensamento poderia se tornar
realidade e o que poderia ser feito para que esse pensamento se materializasse ele
foi consultar o oráculo dos seguintes Babaláwo: bater-se desesperadamente não faz
a anciedade a quem Olorun cria como senhor é aquele que chamamos de Pai na
terra. Bater-se desesperadamente não faz a anciedade a quem Olorun cria como
senhor é aquele que chamamos de Pai no espaço do orun. Todos eles jogaram ifá
para Exu Odara, no dia em que ele foi procura o senhorio sobre os dezesseis
Irúnmàlè, quando obteve a primazia sobre os dezesseis Irúnmàlè do mundo.
Disseram, Você exu, disseram, você deve ofereçe um sacrífico, disseram, o sacríficio
que você fará disseram, seria afim de que aquilo que você pensa venha a ser
verdade. Exu perguntou o que deveria oferece em sacrífico Eles disseram: três
pernas-de-papagaio-vermelho, ekódide, três galos de cristas “bem maduras”.
Disseram que deveria adicionar quinze centavos e azeite de dendê e fazer uma
oferenda de palmas recém-brotadas, màrìwò. Exu fez a oferenda a todos os
Babaláwo. Depois que fez a oferenda, eles dessidiram lhe dar uma perna de
papagaio vermelho.
Disseram para levá-la sobre ele mesmo todo o tempo. Disseram para não se servir
de sua cabeca para transportar nenhum carrego, disseram não antes de três meses.
Então Exu se preparou: apanhou sua única perna-de-papagaio-vermelho, ekódide, e
a colocou na cabeça. Quando Exu estava para partir, Olódùmarè teve um
pensamento a partir da mensagem transmitida pela oferenda. Olódùmarè teve
então essa idéia: gostaria de conhecer aquele que estivesse dando o melhor de si,
zelando pelo bom andamento do mundo, entre todos os orixás e os ebora que ele
tinha criado. Ele disse então que todos deveriam vir a fim de lhes perguntar até que
ponto estavam adminstrando os assuntos da terra. Quando ele lhes pediu que
viessem, cada um preparou as coisas com as quais adoraria Olódùmarè. Eles as
arrumaram em pequenos carregos. Quando arrumaram todos esses carregos, todos
se reuniram, Orixála e Olófin e Ògúm, Ifa, Òxôssì, Sónikéré, Obagèdè, Obalufòn, Ifa,
Orixaoko, Yemánja. Todos incluindo Oxum e os outros que se estavam preparando
paras ficar prontos para partir em direção ao espaço aberto do Orun. Partiram em
viagem, em fila “um atrás do outro”. Quando Exu se pois a caminho, se perguntou,
se foçasse a carregar qualquer coisa agora, bem, será que a oferenda que estava
de ser feita para que ele, bem será que tudo não ficária tudo inutilizado?
Para isso, se lhe fizessem perguntas, saberia o que dizer: que era uma propriciação
que tinha sido feita para que ele e que não deveria levar carrego naquele momento.
Nesse dia Olódùmarè disse a todos, numa resposta pronunciada num tom sem
réplica: “quando vocês chegarem a seus lugares de morada, para onde retornarão,
tudo o que deve fazer, aquele que foi seu líder, que carregou o emblema Egán em
sua cabeça, é a quem você deve procura e falar. Ele deverá trazer-me todas as
sugestões de vocês, porque hoje vocês mostraram que aquele que os guiou para
que pudessem submeter-me suas sugestões. Antes de as pôr em execução, é ele.
“É pôr isso Ele viu Egán em sua cabeça. E ninguém discutiu. Es como Exu veio a
conduzi-los todos devota a terra nesse particular momento. A canção que eles
cantaram nesse dias, no caminho de volta, dizia:
Assim, Exú retornou à Terra; quando chegou à Terra, Ele disse então que daria uma
festa comemorativa porque Olódùmarè lhe tinha dado poder e status conhecidos de
todos os Òrixá; aqueles que ignorassem a autoridade de Exú, Exú faria com eles
como a corda dobra o arco e como Àrìnàkò se abate sobre o caracol. E Exú festejou
o alegre acontecimento entre os quatrocentos Irúnmàlè do lado direto e os duzentos
malè do lado esquerdo.
Pôr essa razão, todos os Orixá começaram a imitar seu costume colocando a pena
ekódide como emblema de axé durante seus ritos de celebração anual ou como
emblema de sacrifício cada vez que eram realizados. É pôr isso que a pena ekódide,
se tornou um preceito tradicional para todos eles. Essa pena-de-papagaio-vermelho,
Exú foi o primeiro a levá-la aos vastos espaços do òrun de acordo com que ele havia
escutado dos babaláwo que tinham consultado o oráculo Ifá para ele, sobre a
maneira como apossar-se do senhorio. É pôr isso que essa pena-de-papagaio-
vermelho foi chamada Egán. Cada vez que se quer iniciar alguém no culto de Ifá até
hoje, coloca-se esse Egán na cabeça dessa pessoa, onde for iniciado, e ela não deve
colocar carrego sobre sua cabeça durante sete dias, depois dos quais ela pode
retirar esse Egán. Este é o axé de Exú cujo poder lhe foi dado pôr Olódùmarè,
quando ele se serviu disso para conquistar o senhorio sobre todos os orixá. É pôr
isso que o colocar um ekódide na cabeça leva o nome de Egán.
Nenhuma pessoa deve colocar a pena para brincar; até hoje, se alguém o coloca em
sua cabeça para brincar se permanecer algum tempo, essa pessoa provoca a
cólera de Exú.
Salvo se essa pessoa se serviu disso quando de um oferenda dirigida aos Irúnmàlè
ou ao Orixás, se é para isso que ele o colocou em sua cabeça. Só pôr essa razão é
que ela pode não provocar a cólera de Exú. Essa pena-de-papagaio-vermelho foi
utilizada pôr Exú para tomar a soberania das mãos de todos os Orixá naquele
tempo.
É ele, quando vocês se levantam, ao qual é preciso fazer apelo para que ele lhes
providencie a bebida. Exú Odàrà!
É aquele que guiou todos os Irúnmàlè de retorno à Terra. Eis como Exú ganhou a
soberania daquele tempo até agora. Não existe ninguém que coma ou esteja
instalado com realeza, sem que haja recorrido a Exú primeiro.
Então as pessoas disseram: demos a Exú o que lhe é de direito para não causar seu
descontentamento de maneira a que o que desejamos fazer chegue ao bom termo.
Então Exú tornou-se o asiwájú, aquele que vai à frente de todas as pessoas da
Terra, pela Segunda vez. É assim que Òsetùá conta essa história sobre Exú.
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Ogun
Ogun é na África, em país Yorubá, o deus do ferro, dos ferreiros e de todos aqueles
que utilizam este metal: agricultores, caçadores, açougueiros, barbeiros,
marceneiros, carpinteiros, escultores de madeira. Desde o início do século, os
mecânicos, os motoristas de automóveis ou de trens, os reparadores de velocípedes
e de máquinas de costura vieram se juntar ao grupo de seus fiéis.
No Brasil, Ogun é sobretudo conhecido como Deus dos Guerreiros. Perdeu sua
posição de protetor dos agricultores, pois os escravos, nos séculos anteriores não
possuíam interesse pessoal na abundância e na qualidade das colheitas e, sendo
assim, não procuravam sua proteção nesse domínio. Como deus dos caçadores ele
foi substituído por Oxossi cujo culto era muito popular em Ketu, local de origem dos
escravos libertos que criaram os primeiros candomblés da Bahia.
No Brasil, Ogun é uma única divindade, tendo, porém, sete nomes: 1. Ogun Mejê; 2.
Ogun Alagmedé; 3. Ogun Onirê; 4, Ogun Alakorô; 5. Ogunjá; 6. Ogun Ominí, 7. Ogun
Wari.
O nome Ogun Mejê teria a sua origem na frase em Yorubá Ogun Mejê Mejê Lodê Iré
(Ogun está nas sete partes do Iré"), alusão a sete vilarejos, hoje desaparecidos, que
teriam existido em volta de Iré. Este número sete, que lhe é associado, é
representado nos locais que lhe são consagrados por instrumentos de ferro forjado,
em número de sete, quatorze ou vinte e um, alinhados todos sobre uma haste de
ferro: lança, espada, enxadas, torquês, facão, ponta de flecha, enxó, símbolos de
suas atividades guerreiras, agrícolas, de ferreiro, de caçador, de escultor, etc.
A origem deste número sete. ligado a Ogun, e do número nove em relação a Oyá-
Yansã nos é relatada por uma lenda onde Oyá era a companheira de Ogun Alagbedê
(2.º da lista) - Ogun o ferreiro - antes de se tornar mulher de Xangô Ela ajudava
Ogun no seu trabalho, levava docilmente suas ferramentas da casa para a oficina e,
lá, ela manejava o fole para ativar o fogo da forja. Um dia, Ogun ofereceu a Oyá
uma vara de ferro, parecida com uma de sua propriedade, e que tinha o dom de
dividir em sete partes os homens e em nove as mulheres quepor ela fossem
tocados, no decorrer de uma luta. Xangô gostava de vir sentar-se à forja a fimde
apreciar Ogun bater o ferro e, freqüentemente, lançava olhares a Oyá; esta, por seu
lado, furtivamente o olhava. Xangô era muito elegante, muito elegante mesmo,
afirma o contador da história. Sua imponência e seu poder impressionaram Oyá e,
um belo dia, ela fugiu com ele. Ogun lançou-se a sua perseguição, encontrou os
fugitivos e brandiu sua vara mágica. Oyá fez o mesmo e eles se tocaram ao mesmo
tempo. E, assim, Ogun foi dividido em sete partes e Oyá em nove, recebendo ele o
nome de Ogun Mejê (1.º da lista).
Ogun teria sido o filho mais velho de Odudúa, o fundador de Ifé. Era um temível
guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos. Guerreou contra a
cidade de Ará e destruiu. Apossou-se drrra cidade de Iré, matou o rei, aí instalou seu
próprio filho no trono e regressou glorioso, usando ele mesmo o título de Oniré, rei
do Iré, sendo chamado Ogun Oniré (3.º da lista).
Por razões que ignoramos, ogun nunca teve direito de usar uma coroa, Ade, feita co
pequenas contas de vidro e ornada por franjas de missangas, dissimulando o rosto,
emblema de realeza par os Yorubás. Foi autorizado a usar, apenas, um simples
diadema, chamado Akorô, e isto lhe valeu ser saudado como Ogun Alakorô (4.º da
lista). Ogun decidiu, após numerosos anos ausente de Irê, voltar para visitar seu
filho. Infelizmente as pessoas da cidade, celebravam, no dia de sua chegada, uma
cerimônia durante a qual os participantes não podiam falar, sobre pretexto algum.
Ogun tinha fome e sede. Descobriu alguns potes destinados a vinho de palma, mas
ignorava que estivessem vazios. Ninguém o havia saudado ou respondido às suas
perguntas. Ele não reconhecia o local por ter ficado ausente durante muito tempo.
Ogun, cuja paciência é pequena, enfureceu-se com o silêncio geral, para ele
considerado ofensivo. Começou a quebrar, com golpes de sabre, os potes e, logo
depois, sem poder se conter, começou a cortar a cabeça das pessoas mais
próximas, até que seu filho apareceu, oferecendo-lhe as suas comidas prediletas,
tais como cães e caramujos, feijões regados com azeite de dendê e potes de vinho
de palma. Enquanto saciava a sua fome e a sua sede, os habitantes de Iré
cantavam louvores onde não faltava a menção a Ogunjajá, que vem da frase Ogun
je ajá - "Ogun come cachorro"- oque lhe valeu o nome de Ogunjá ( 5.º nome da
lista). Satisfeito e calmo, Ogun lamentou seus atos de violência e declarou que já
vivera bastante. Baixou a ponta de seu sabre em direção ao chão e desapareceu
pela terra a dentro, transformando-se em Orixá.
No Brasil, as pessoas consagradas a Ogun usam colares de conta de vidro azul-
escuro e, algumas vezes, verde. Terça-feira é o dia da semana que lhe é
consagrado. Seu nome é sempre mencionado, por ocasião de sacrifícios dedicados
aos diversos Orixás, no momento em que a cabeça do animal é decepada com uma
faca - da qual ele é o senhor - e o sangue começa a escorrer. É o primeiro, também,
a ser saudado depois de Exú, devidamente cumprimentado, é despachado. No
momento da entrada dos Orixás manifestados e vestidos com suas roupas
simbólicas, é sempre Ogun que desfila na frente, "abrindo o caminho" para os
outros Orixás.
Esta primazia foi, no entanto, contestada por Obaluayé e Nanan Buruku que, como
veremos mais tarde, se insurgiram contra ela e, para provar sua maior antiguidade
de vinda ao mundo, se recusaram a utilizar facas de ferro forjado por Ogun,
este"recém-chegado" !!! Ogun é também representado por franjas de folhas de
dendezeiro, devidamente desfiadas, chamadas Mariwó. Era, segundo se diz, a roupa
por ele usada, em outros tempos, quando a tecelagem ainda não tinha sido
inventada.
Estes Mareiwós, pendurados em cima da porta e das janelas de uma casa, ou na
entrada dos caminhos, representam proteções e barreiras contra as más
influências.
A vida amorosa desse Orixá caracteriza-se pela instabilidade. Ogun foi o primeiro
madiro de Oyá-Yansã, aquela que se tornaria, mais tarde, mulher de Xangô. Teve,
também, relações com Oxun antes que ela fosse viver com Oxossi e com Xangô. E,
também, com Obá, a terceira mulher de Xangô. Teve numerosas aventuras galantes
quando partia para as guerras, tornando-se, assim, o pai de diversos outros Orixás,
como Oxossi e Oranmiyan.
Ele mata tanto o proprietário da coisa roubada como aquele que critica esta ação.
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Oxossi, deus dos caçadores, seria irmão mais jovem ou filho de Ogun. Seu culto
encontra-se quase extinto na África, nos países de língua Yorubá, no entanto é
muito difundido no Novo Mundo, tanto no Brasil quanto em Cuba. Isto explica-se,
talvez, pelo fato de Kétu, na África, haver sido completamente destruído e saqueado
pelas tropas do rei Daomé, no século passado, sendo os seus habitantes vendidos
como escravos para o Brasil e para a Cuba,inclusive os iniciados no Culto de Oxossi,
chegou-se a tal ponto que, embora existindo ainda, em Kétu, os locais onde Oxossi
recebia outrora oferendas e sacrifícios, já não existem, atualmente, pessoas que
saibam ou desejam cultuá-lo.
No Brasil, seus numerosos iniciados usam colares de cor verde ou azul claro quinta-
feira é o dia da semana que lhe é consagrado; Oxossi tem como o símbolo, tanto na
África como no Brasil, um arco e flecha de ferro batido; sacrificam-lhe porcos e são-
lhe oferecidos pratos de Axoxo, milho fervido, servido com pedaços da polpa de
coco. Oxossi é sincretizado na Bahia com São Jorge e, no rio de Janeiro, com São
Sebastião. No decorrer das cerimônias públicas do Xiré dos Orixás, ele segura em
uma das mãos o arco e a flecha, seus símbolos, e tem na outra um Erukerê,
espanta-moscas, insígnia de dignidade dos reis da África e que lembra e ter sido ele
so rei de Kétu. Suas danças imitam a caça, a perseguição do animal e o arremesso
da flecha. É sau dado com o grito Oké
"Olofin Odudúa, rei de Ifé, celebrava a festa dos novos inhames, esquecendo-se,
porém, de fazer uma oferenda às feiticeiras. Havia grande multidão no pátio do
Palácio Real.
Quando chegou a vez de Oxótakanxoxo sua mãe foi consultar um Babalaô que lhe
declarou o seguinte: "Seu filho está somente a um passo, seja da morte, seja da
riqueza. Faça uma oferenda e a morte se transforma em riqueza".
Ela foi depositar, então, na estrada, uma galinha que havia sido sacrificada,
cortando-lhe e abrindo-lhe o peito, pois essa foi a boa maneira de se fazer uma
oferenda às feiticeiras. A mãe de Oxátakanxoxô pronunciou três vezes um
encantamento: "Que o peito do pássaro aceite esta oferenda!!!" Era o momento
preciso em que seu filho lançava sua única flecha. O pássaro deixara relaxar,
exatamente agora, o seu poder protetor, o qual teria impedido a oferenda de
chegar ao seu peito e, assim, a flecha de Oxátakanxoxô o atingiu em cheio. Ele caiu
pesadamente ao chão e morreu. Todo mundo se pôs a cantar e a dançar:
Ogun, inquieto pela ausência do irmão, partiu à sua procura, encontrando-o nas
profundezas da floresta. Ele o trouxe de volta, mas Yemanjá , irritada, não quis
receber o filho desobediente. Revoltado com a intransigência materna, Ogun
recusou-se a continuar em casa. É por este motivo que o local consagrado a ogun
encontra-se sempre ao ar livre. Quanto a Oxossi, este preferiu voltar para a floresta,
para perto de Ossanyin, Yemanjá desesperada por ter perdido os três filhos,
transformou-se em um rio.
O contador desta lenda, no Brasil, destaca o fato de que "estes quatro deuses
Yorubás-Exú, Ogun, Oxossi e Ossanyin - são igualmente simbolizados por objetos
em ferro forjado e vivem todos eles ao ar livre".
Uma lenda explica como surgiu o nome de Òsóòsì, derivado de Òsówusì (“o guarda-
noturno é popular’’): “Olófin Odùduà, rei de Ifé, celebrava a festa dos novos
inhames, um ritual indispensável no início da colheita, antes do quê, ninguém podia
comer desses inhames. Chegado o dia, um grande multidão reuniu-se no pátio do
palácio real. Olófin estava sentado em grande estilo, magnificamente vestido,
cercado de suas mulheres e de seus ministros, enquanto os escravos o abanavam e
espantavam as moscas, os tambores batiam e louvores eram entoados para saudá-
lo. As pessoas reunidas conversavam e festejavam alegremente, comendo dos
novos inhames e bebendo vinho de palma. Subitamente um pássaro gigantesco
voou sobre a festa, vindo pousar sobre o teto do prédio central do palácio. Esse
pássaro malvado fora enviado pelas feiticeiras, as Ìyámi Òsòròngà, chamadas
também as Eléye, isto é, as proprietárias dos pássaros, pois elas utilizam-nos para
realizar seus nefastos trabalhos. A confusão e o desespero tomaram conta da
multidão. Decidiram, então, trazer, sucessivamente, Oxotogun, o caçador das vinte
flechadas, de Idô; Oxotogí, o caçador das quarenta flechas, de Moré; Oxotadotá, o
caçador das cinqüenta flechas, de Ilarê, e finalmente Oxotokanxoxô, o caçador de
uma só flecha, de Iremã. Os três primeiros, muito seguros de si e um tanto
fanfarrões, fracassaram em suas tentativas de atingir o pássaro, apesar do tamanho
deste e da habilidade dos atiradores. Chegada a vez de Oxotokanxoxô, filho único,
sua mãe foi rapidamente consultar um babalaô, que lhe declarou: “Seu filho está a
um passo da morte ou da riqueza. Faça uma oferenda e a morte tornar-se-á
riqueza”. Ela foi então colocar na estrada uma galinha, que havia sacrificado,
abrindo-lhe o peito, como devem ser feitas as oferendas às feiticeiras, e dizendo
três vezes: “Que o peito do pássaro receba esta oferenda”. Foi no momento preciso
que seu filho lançava sua única flecha. O pássaro relaxou o encanto que o protegia,
para que a oferenda chegasse ao seu peito, mas foi a flecha de Oxotokanxoxô que o
atingiu profundamente. O pássaro caiu pesadamente, se debateu e morreu. Todo
mundo começou a dançar e a cantar: “Oxó (Òsó) é popular! Oxó é popular!
Oxowussi (Òsówusì)! Oxowussi!! Oxowussi!!!” Com o tempo, Òsówusì transformou-
se em Òsóòsì.
Conta-se no Brasil que Oxóssi era irmão de Ogum e de Exu, todos os três filhos de
Iemanjá. Exu era indisciplinado e insolente com sua mãe e por isso ela o mandou
embora. Os outros dois filhos se conduziam melhor. Ogum trabalhava no campo e
Oxossi caçava na floresta das vizinhanças, de modo que a casa estava sempre
abastecida de produtos agrícolas e de caça. Iemanjá, no entanto, andava inquieta e
resolveu consultar um babalaô. Este lhe aconselhou proibir que Oxóssi saísse à
caça, pois arriscava-se a encontrar Ossaim, aquele que detém o poder das plantas e
que vivia nas profundezas da floresta. Oxóssi ficaria exposto a um feitiço de Ossaim
para obrigá-lo a permanecer em sua companhia. Iemanjá exigiu, então, que Oxóssi
renunciasse a suas atividades de caçador. Este, porém, de personalidade
independente, continuou suas incursões à floresta. Ele partia com outros caçadores,
e como sempre faziam, uma vez chegados junto a uma grande árvore (ìrókò),
separavam-se, prosseguindo isoladamente, e voltavam a encontrar-se no fim do dia
e no mesmo lugar. Certa tarde, Oxóssi não voltou para o reencontro, nem
respondeu aos apelos dos outros caçadores. Ele havia encontrado Ossaim e este
dera-lhe para beber uma porção onde foram maceradas certas folhas, como a
amúnimúyè, cujo nome significa “apossa-se de uma pessoa e de sua inteligência”, o
que provocou em Oxóssi uma amnésia. Ele não sabia mais quem era nem onde
morava. Ficou, então, vivendo na mata com Ossaim, como predissera o babalaô.
Ogum, inquieto com a ausência do irmão, partiu à sua procura, encontrando-o nas
profundezas da floresta. Ele o trouxe de volta, mas Iemanjá não quis mais receber o
filho desobediente. Ogum, revoltado pela intransigência materna, recusou-se a
continuar em casa (é por isso que o lugar consagrado a Ogum está sempre
instalado ao ar livre). Oxóssi voltou para a companhia de Ossaim, e Iemanjá,
desesperada por ter perdido seus filhos, transformou-se num rio, chamado Ògùn
( não confundir com Ògún, o orixá). O narrador desta lenda chamou atenção para o
fato de que “esses quatro deuses Iorubás- Exu, Ogum, Oxóssi e Ossaim – são
igualmente simbolizados por objetos de ferro forjado e vivem todos ao ar livre.
voltar próxima
Ode onija
Sese lehin aso
Ee ko po de
Ojo po iya ma bi
A kere togbonsinon
Ode ko ti ku agbanli
Adicionalmente, é freqüentemente um
caçador que acha chão novo satisfatório para
estabelecer fazendas ou determinações.
Representa de Isto um transição de vida
nômade para subsistência agrícola. E assim
nesta circunstância, Òsóòsì é fundador do e
patriarca de ordem comunidade de e social.
Também unida com nosso bem-estar, Òsóòsì é médico, devido ao tempo dele
gastado na aprendizagem de floresta os segredos de folhas e medicina de Òsányìn,
Àrònì (Aroni em Lukumi) e Aja (Ayao em Lukumi). Maceiro (1954) nos fala em Ketu é
um Olòsányìn, (o padre de Òsányìn) treinou na preparação de medicina herbária e
talismans que são o guardião de Òsóòsì.
Orisha diz que ele não deveria servir qualquer mais para qualquer um.
Já na vida dele.
Os vestidos que eles usariam para o festival anual deles/delas, eles os fariam.
Orisha disse que ele não deveria preocupar, ele faria um vestido.
Quando o dia veio Tudo deles fez " guiné-fowl³ " vestidos;
Eles disseram que ele nunca pudesse ser rico na vida dele.
² que Outro registrou que versão soma, " porque ele também não teve dinheiro "
que também soma aquele Orisha lhe deu bronze e setas de cobre, e que ele caçou
com setas, os símbolos de Oshosi,
' No sexto dia, Aworo Ose (o padre de cabeça de Obàtálá & Òsóòsì) permaneceu
dentro da combinação. Nenhum sacrifício foi feito ou oríkì cantado para Obatala,
mas o àwòrò executaram os ritos para Osoosi. Agarrando o arco e seta de Osoosi na
mão esquerda dele, o padre dançou A Pedra de Osoosi " ao redor " (Okuta
Osoosi) ...As serve uma deidade de caçador, um cachorro foi sacrificado a Osoosi,
como também uma cabra masculina, caracóis e um galo. No ìtàn (story/myth) a
casa de Aworo Ose diz que Osoosi veio de Ile Ife e era um caçador que protegeu
Obatala'
Ìlekè Òsóòsì
Detalhe de um tassle de um mazo " pequeno " decorava igba Òsóòsì (a tigela de
Òsóòsì)
Pulseiras com um desígnio espiral são usadas como parte da regalia dos Caçadores
achada na tradição de Lukumi. Aqui mostrada em marfim e prata. De acordo com
Denis Williams (1974) estas pulseiras, são levados ìfúnpá chamado com outros
charmes e medicina, quando não em uso amarrou ao colete do caçador. O ìfúnpá é
usado no braço superior e " manipulou para produzir engasgamento no inimigo
VOLTAR
O nome das plantas, a sua utilização e os encantamentos que seu poder são os
elementos mais secretos do ritual dos cultos aos deuses Yorubás.
Cada divindade tem suas ervas e suas folhas particulares, dotadas de virtudes, de
acordo com a personalidade do deus. Lydia Cabrera publicou uma lenda
interessante, difundida em Cuba, sobre a reparticão das folhas entre as diversas
divindades: "Ossanyin havia recebido de Olodumaré o segredo das ervas. Estas
eram de sua propriedade e ele não as dava a ninguém, até o dia em que Xangô se
queixou à sua mulher, Oyá-Yansã, senhora dos ventos, que somente Ossanyin
conhecia o segredo de cada uma dessas folhas e que os outros deuses estavam no
mundo sem possuir nenhuma planta. Oyá levantou as saias e agitou-as,
impetuosamente.
Um vento violento começou a soprar. Ossayin guardava o segredo das ervas numa
cabaça pendurada num galho de árvore. Quando viu que o vento havia soltado a
cabaça e essa tinha se quebrado ao bater no chão, ele gritou: "Ewé O!! Ewé O!!,
Oh! as folhas! Oh! as folhas!!" mas não pôde impedir que os deuses as pegassem e
as repartissem entre si".
A colheita das folhas deve ser feita com cuidado extremo, sempre em lugar
selvagem, onde as plantas crescem livremente. Aquelas cultivadas nos jardins
devem ser desprezadas, porque Ossanyin vive na floresta, em companhia de Aroni,
um anãozinho, comparável ao Saci-pererê, com uma única perna e, segundo se diz
no Brasil, fumando permanenemente um cachimbo feito de casca de
caramujo,enfiada numa vara oca e cheia de suas folhas favoritas. Por causa desta
união com Aroni, Ossanyin é saudado com a frase seguinte: "Holá! Proprietário-de-
uma-única-perna-que-come-o-proprietário-de-duas-pernas!", alusão às oferendas de
galos e pombos, que possuem duas patas, a Ossanyin-Aroni, que não tem senão
uma perna.
Os curandeiros, quando vão recolher plantas para seus trabalhos, devem fazê-lo em
estado de pureza, abstendo-se em relações sexuais na noite precedendo e indo à
floresta, durante a madrugada, sem dirigir a palavra a ninguém. Além disso, devem
ter cuidado em deixar uma oferenda em dinheiro, no chão, logo que cheguem ao
local da colheita.
Segundo uma lenda recolhida por Bernard Maupil, "assim que Orunmila nasceu,
pediu um escravo para lavrar seu campo; compraram-lhe um no mercado. Era
Ossanyin. Na hora de começar seu trabalho, Ossanyin percebeu que ia cortar a erva
que curava a febre. E então gritou: "Impossível cortar esta erva, pois é muito útil'. A
segunda, curava dores de cabeça. Recusou-se, também, a destruí-la. A terceira,
suprimia as cólicas. 'Na verdade, disse ele, não posso arrancar ervas tão
necessárias'. Orunmila, tomando conhecimento da conduta de seu escravo,
demonstrou desejo de ver estas ervas, que ele se recusava a cortar e que tinham
grande valor, pois contribuíam para manter o corpo em boa saúde. Decidiu, então,
que Ossanyin ficaria perto dele para explicar-lhe a virtude das plantas, das folhas e
das ervas, mantendo-o sempre ao seu lado na hora das consultas".
Uma outra história nos dá conta que, se Ossanyin conhece o uso medicinal das
plantas é, entretanto, a Orunmila que cabe o mérito de haver conferido nomes a
estas mesmas plantas. Os poderes de cada planta estão em estreita ligação com o
seu nome, e as palavras de encantamento que são obrigatoriamente pronunciadas,
no momento de seu uso, são indicadas pelos adivinhos aos curandeiros, fato este
que dá aos primeiros uma posição de supremacia sobre os segundos. Isto é dito
pelos Babalaôs, afim de demonstrar que, sem o poder liberador da palavra, as
plantas não poderiam exercer a ação curativa que possuem em estado potencial.
Na África, os curandeiros, chamados Olossanyin, não entram em transe de
possessão. Adquirem a ciência do uso das plantas após uma longa aprendizagem.
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Como personagem histórico, Xangô teris sido o terceiro Alafin Oyo, Rei ( Senhor do
Palácio) de Oyo. Era filho de Oranmiyan e de Torossí, esta filha de Elempe, rei dos
Tapa, que tinha firmado uma aliança com Oranmiyan. Xangô cresceu no país de sua
mãe indo se instalar, mais tarde, em Kosô, onde os habitantes não o aceitaram por
causa de seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu, finalmente , impor-se
pela força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-se para Oyo, onde
estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kosô. Conservou, assim, seu título de
Oba Kosô que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de seus Orikis (louvores).
Xangô, sob seu aspecto divino, é filho de Oranmyian, tendo Yamassé como mãe e
sendo marido de três divindades: Oyá, Oxun e Oba, que se tornaram rios no país
Yorubá.
Este Edun Ará (na realidade machados neolíticos ) são colocados sobre um pilão de
madeira esculpido, odô, consagrado a Xangô. Tais pedras são consideradas
emanações de Xangô e contém o seu Axé - o seu poder. O sangue dos animais
sacrificados é derramado, em parte, sobre suas pedras de raio para manter-lhe a
força e a potência. O carneiro, cuja chifrada tem a rapidez do raio, é o animal cujo o
sacrifício mais lhe convêm. Fazem-lhe, também, oferecimentos de Amalá, iguaria
preparada, com farinha de inhame regada com um molho feito com quiabos. É no
entanto, formalmente proibido oferecer-lhe feijões brancos da espécie Sesé. Todas
as pessoas que lhe são consagradas estão sujeita à mesma proibição.
As saudações, Oriki, que seus fiéis lhe dirigem não deixam de ter certa graça e
mostram a sua forte personalidade:
Meu senhor, que cozinha o inhame com o ar que escapa de suas narinas.
Meu senhor, que mata seis pessoas com uma só pedra de raio.
O pai de Xangô, Oranmiyan, tornou-se, como dissemos acima, o primeiro rei de Oyo
e o fundador da dinastia dos Alafin Oyo. O mito da criação do mundo, tal como é
contado em Oyo, atribuiu este ato a Oramiyan e não a Odudúa. Estes dois
personagens são os fundadores das respectivas linhagens reais de Oyo e de Ifé, o
que bem demonstra que o mito da criação do mundo é, de uma parte e de outra, o
reflexo da lenda histórica sobre a origem das dinastias que dominam esses dois
reinos.
A supremacia estabelecida por Oramiyan sobre seus irmãos nos é contada numa
lenda recolhida, em Oyo, no século passado, por Jean Hess:
"No início, a terra não existia. Em cima era o céu, embaixo era a água. E nenhum
ser animava a terra ou animava a água. Ora, o Todo Poderoso Olodumaré criou, no
início, sete príncipes coroados. Fez aparecer em seguida sete sacos onde haviam
búzios, missangas e tecidos, uma galinha e vinte e uma barras de ferro. Fez,
também, com tecido preto, um volumoso pacote do qual não se via o conteúdo.
Criou, enfim, uma longa corrente de ferro com a qual prendeu os tesouros e os sete
príncipes. Depois, deixou que tudo caísse do alto do céu. No limite do vazio não
havia senão água. Olodunmaré lançou uma noz de palma que caiu na água e, no
mesmo momento uma palmeira se levou em direção aos príncipes, oferecendo-lhes
um abrigo no desabrochar de seus galhos. Os príncipes aí se refugiaram e se
instalaram com suas bagagens. A corrente de ferro voltou ao Todo Poderoso.
Eram todos príncipes coroados e, por conseqüência, todos queriam comandar.
Resolveram se separar a fim de seguir os seus destinos. Os sete príncipes decidiram
dividir, entre eles, a soma do tesouro que o Todo Poderoso lhe havia dado. Os seis
mais velhos pegaram os búzios, as contas, os tecidos e tudo que julgaram precioso.
Deixaram ao mais jovem, Oranmyian, o pacote de tecido preto. Ele o abriu e
encontrou uma grande quantidade de substância preta que não conhecia. Sacudiu o
tecido. A substância caiu na água e tornou-se um montículo. A galinha para lá voou
e, logo que pousou, começou a raspar com os pés e com o bico a substância preta
que se estendeu por todos os lados. O montículo foi se alargando e tomando,
progressivamente, o lugar da água. Eis como nasceu a Terra, segundo a vontade do
Todo Poderoso... Eis como Oraniyan tronou-se rei de Oyo e soberano de todo país
Yorubá, quer dizer, de toda a Terra".
O culto de Xangô é muito popular no Novo Mundo, tanto no Brasil como nas
Antilhas. Em Recife, seu nome serve mesmo para designar o conjunto de cultos
africanos praticados no Estado de Pernambuco. Na Bahia, seus fiéis usam colares
vermelho e branco, como na África. Quarta-feira é o dia da semana que lhe é
consagrado. Assim que saudam, gritando: Kawo-Kabiyisilé!, "Venham ver o rei
descer sobre a Terra!" Os tambores Batá não são conhecidos no Brasil, embora
ainda o sejam em Cuba, mas os ritmos batidos para Xangô são os mesmos.
Reina uma certa confusão nesta lista, pois Dadá (1) é irmão de Xangô, Oranmiyan
(9) é seu pai e Aganju (7), um de seus sucessores. Na Bahia acredita-se que Ogodo
(4)é originário do país Tapa e que segura dois Oxés quando dança, sendo o seu
Edun Ará composto de dois fios. O Airá (10 a 12) seriam Xangôs muitos velhos,
sempre vestidos de branco e usando contas azuis, Seji, em lugar de corais
vermelhos, como os outros Xangôs. Ao que parece, teriam vindo da região de Savé.
Xangô foi sincretizado com São Jerônimo, no Brasil, e com Santa Bárbara, em Cuba.
Já assinalamos, anteriormente, o caráter estranhos de semelhantes escolhas.
Na Bahia, quando uma festa é celebrada em honra de Dadá, irmão mais velho de
Xangô, a cerimônia parece conter reminiscências de fatos antigos, sem que os
participantes saibam, muitas vezes as histórias dos Yorubás. O Iaô de Dadá vem
dançar frente a assistência, tendo na cabeça uma coroa, o Adê de Bayani. Logo
depois, Xangô montado sobre um (ou uma) de seus iniciados, toma a coroa,
colocando-a sobre sua própria cabeça. Após ter dançado assim adornado por um
certo tempo, a coroa é restituída a Dadá.
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Oxun é a divindade do rio do mesmo nome que corre na Nigéria, nas regiões Ijexá e
Ijebú. Era, segundo dizem, a segunda mulher de Xangô, tendo vivido antes com
Ogun, Orunmila, e Oxossi, seu pai teria sido Oxalá. As mulheres que desejam ter
filhos dirigem-se a Ogun pois ela, com efeito controla a fecundidade, graças aos
laços mantidos com Iyami-Ajé, "Minha Mãe Feiticeira". Sobre esse assunto, uma
lenda conta que "quando todos os Orixás chegaram à terra organizaram reuniões
onde as mulheres não eram admitidas. Oxun ficou aborrecida por ser posta de lado
e não poder participar de todas as deliberações. Para vingar-se, tornou as mulheres
estéreis e impediu que as atividades desenvolvidas pelos deuses chegassem a
resultados favoráveis. Desesperados, os Orixás voltaram a Olodumaré e explicaram-
lhe as coisas iam mal sobre a terra. Olodumaré perguntou se Oxum participava das
reuniões e os Orixás responderam que não. Olodumaré explicou-lhes então que que,
sem a presença de Oxun e do seu poder sobre a fecundidade, nenhum de seus
empreendimentos poderiam dar certo. De volta à terra, os Orixás convidaram Oxun
para participar de seus trabalhos o que ela acabou por aceitar, depois de muito lhe
rogarem . Logo em seguida, as mulheres tornaram-se fecundas e todos os projetos
obtiveram felizes resultados".
Oxun é chamada de Iyalodê, título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais
importante entre todas as mulheres da cidade. Os Axés de Oxun constituem-se de
pedras do fundo do rio do mesmo nome, de jóias de cobre e de um pente de
tartaruga.
O amor de Oxun pelo cobre - metal mais precioso do país Yorubá nos tampos
antigos - é mencionado nas saudações que lhe são dirigidas:
Numerosos lugares profundos, Ibus, entre Igedê, onde nasce o rio, e leké, onde eles
deságua na
Aí, ela é adorada sob nomes diferentes e suas características são distintas umas
das outras. Encontramos:
"Oxun Ijumú, rainha de todas as Oxuns e que, como a que vem a seguir, está em
estreita ligação com as bruxas, Ajés;
Oxun Ayalá ou Oxun Aynlá, a Grande Mãe (a Avó) que foi a mulher de Ogun;
Oxun Oxogbô, cuja fama é grande por ajudar as mulheres a ter crianças;
Yeyê Ipetú;
Sobre Oxun Ayalá, também chamada de Oxun Ayanlá, a Avó, diz-se que era uma
mulher poderosa e guerreira que ajudava Odun Alagbedé, seu espojo, na forja, na
mesma maneira que Oyá, como vimos no capítulo precedente. Ogun forjava e,
quando o ferro começava a esfriar, ele o colocava no fogo, atiçado por Oxun que
fazia funcionar os foles em cadência. O barulho que eles faziam "kutu, kutu, kutu",
era tão ritmado que parecia qu oxu tocava um instrumento de música. Um Egungun
que passava pela rua se pôs a dançar, inspirado pelos sons que provinham dos
foles. Os passantes maravilhados testemunharam seu contentamento oferecendo
dinheiro a Egungun. Este, muito honestamente, ofereceu metade da soma recolhida
a Oxun, a Avó, o que lhe valeu ser denominada de:
"Tocadora de música num fole para fazer dançar Egungun.
Proprietária de um fole que sussurra como a chuva, e cuja tosse ressoa como
explode o cobre e como urra o elefante".
Laços muito estreitos existem entre Oxun e os reis de Oxogbô. Neste lugar, a festa
anual das oferendas a Oxun é uma comemoração pela chegada de Larô, fundador
da dinastia, às margens deste rio cujas águas correm permanentemente. Larô,
depois de muitas atribulações, achando o lugar favorável ao estabelecimento de
uma cidade, aí se fixou com sua gente. Alguns dias depois de sua chegada, uma de
suas filhas foi se banhar num rio e se perdeu sob as águas. reapareceu no dia
seguinte, soberbamente vestida, declarando ter sido muito bem acolhida pela
divindade do rio. Larô, para demonstrar sua gratidão, dedicou-lhe oferendas.
Numerosos peixes, mensageiros da divindade, vieram comer em sinal de aceitação,
as comidas que Larô havia jogado nas águas. Um grande peixe que nadava próximo
ao local onde este se encontrava cuspiu-lhe água. Larô recolheu esta água numa
cabaça e bebeu, fazendo assim um pacto de aliança como rio. Estendeu, depois, as
duas mãos para frente e o grande peixe saltou sobre elas. Larô recebeu o título de
Ataojá - contração da frase Yorubá A tewo gba ejá, "Ele estende as mãos e recebe o
peixe" - e declarou: Oxun gbô, "Oxun está em estado de maturidade", suas águas
serão sempre abundantes, esta foi a origem do nome do cidad de Oxogbô.
No dia da festa anual, Ataojá vai solenemente até as margens do rio. Sua cabeça é
coberta por uma coroa monumental feita com pequenas missangas reunidas e é
vestido com pesada roupa de veludo. Anda com calma e gravidade, rodeado por
suas mulheres e seus dignatários. Uma de sua s filhas leva, nesta procissão anual, a
cabaça contendo os objetos sagrados de Oxun. É a Arugbá Oxun, "aquela que leva
a cabaça de Oxun". Ela representa a moça que outrora desaparecera no rio. Sua
pessoa é sagrada, e o próprio rei inclina-se à sua frente. Depois que atinge a idade
da puberdade ela nào pode mais preencher essa função. Mas, pela graça de Oxun, a
descendência de Ataojá é sempre numerosa, não faltando, pois, a possibilidade de
se encontrar uma Arugbá Oxun disponível.
Ataojá senta-se numa clareira e acolhe as pessoas que vem assistir a cerimônia. Os
reis e os chefes das cidades vizinhas estão todos presentes ou enviaram
representantes. as delegações chegam, uma após a outra, acompanhadas por
tocadores de tambores. Trocas de saudações, prosternações e danças sucedem-se
como formas de cortesia recíproca, com animação crescente. Ao final da manhã,
Ataojá, acompanhado pelo seu povo e pelos seus hóspedes, aproxima-se do rio e aí
manda lançar oferendas e comidas, no mesmo lugar onde Larô o fizera outrora. Os
peixes as disputam sob o olhar atento das sacerdotisas de Oxun.
Ela é sincretizada, no Brasil, com Nossa Senhora das Candeias (na Bahia) e nossa
Senhora dos Prazeres (em Recife), enquanto que em cuba é assimilada a Nossa
Senhora da Caridade, cuja igreja encontra-se em El Cobre.
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Erinlé teria tido com Oxun Ipondá um filho chamado Logun Edé, cujo culto realiza-se
muito raramente, em Ilexá, na África, e parece estar em vias de desaparecimento. No
Brasil, na Bahia, ele tem, ao contrário, numerosos adeptos, dentre os quais o digno Pai
de Santo Eduardo Igexa a quem já nos referimos anteriormente. Logun Edé tem a
particularidade de viver, durante seis meses do ano, sobre a terra, alimentando-se de
caça e, nos outros seis meses, embaixo d'água, num rio, comendo peixe. Seria também,
alternadamente, seis meses do sexo masculino e seis do sexo feminino. Este deus,
segundo o que se diz na África, demonstra aversão pelas roupas de cor vermelha ou
marrom. Nenhum de seus fiéis ousariam usar tais cores nas suas vestimentas, mas em
contrapartida, o azul turquesa parece merecer a sua aprovação.
VOLTAR
É sincretizado com São Lázaro e São Roque, na Bahia, e com São Sebastião, no
Recife. As pessoas que lhe são dedicadas, usam colares de cores preta e vermelha.
Quando o deus se manifesta sobre um de seus iniciados ele é acolhido pelo grito
Atotô ! que, no país Yorubá, é a expressão utilizada pelos interlocutores de um
personagem importante para mostrar-lhe que suas palavras são escutadas com
respeito e atenção. Seus Iaôs dançam inteiramente revestidos de palha da costa. A
cabeça, também, é recoberta por um capuz de palha cujas franjas recobrem seu
rosto. Em conjunto, parecem pequenos montes de palha, em cuja parte inferior
aparecem pernas cobertas por calças de renda e, na altura da cintura, mãos
brandindo um Xaxara, espécie de vassoura feita de nervuras de folhas de palma,
decorada com búzios, contas e pequenas cabaças que se supõe conter remédios.
Dançam curvados para frente, como que atormentados por dores, e imitam o
sofrimento, as coceiras e os tremores de febre. A orquestra toca para Obaluayé um
ritmo particular chamado Opanijé, no decorrer da qual lhe são apresentados pratos
de Aberem, milho cozido enrolado em folhas de bananeira, carne de bode e pipocas
que todos comem junto com ele.
Uma lenda confirma esta última suposição: "Obaluayé era originário de Empé (Tapa)
e havia levado seus guerreiros em expedição aos quatro cantos da Terra. Uma ferida
feita por suas flechas tornava as pessoas cegas, surdas ou mancas. Obaluayé
chegou assim, ao Daomé, batendo e dizimendo seus inimigos, e pôs-se a massacrar
e a destruir tudo o que encontrava à sua frente. Os daomeanos, porém, tendo
consultado um Babalaô aprenderam como acalmar Obaluayé com oferenda de
pipocas. O Orixá, tranqüilizado pelas atenções recebidas, mandou-os construir um
palácio onde ele passaria a morar, não mais voltando ao país Empé. O Daomé
prosperou e tudo se acalmou. Apesas da escolha feita po Obaluayé deste novo local
de residência, continuaram a saudá-lo Kabiyési Olutapá Lempé, "Rei do país Tapa no
país Empé".
Sapata, versão Fon de Daomé de Xapanan, teria sido originário de país Nagô. Isto é
atestado, tanto pelo fato de que, no decorrer da iniciação, os futuros Sapatassí,
pessoas dedicadas a Sapata, são chamadas de Anagonu, gente Anagô ou Nagô;
como, também, pelo fato de que a língua ritual - falada nos conventos de iniciação
a este deus e usada nas preces - é o Yorubá primitivo, ainda cotidianamente falado
pelos Ana-Ifé, habitantes da região de Tchetti e Atakpamé, aos quais faremos
referência no capítulo seguinte.
Esta disputa entre divindades pode ser interpretada como o choque de religiões
pertencentes à épocas diferentes, sucessivamente instaladas no mesmo local,
dando nascimento a um mito onde a rivalidade dos deuses substitui e simboliza o
conflito entre povos de civilizações diferentes: os seguidores de Obaluayé e Nanan,
fazendo parte de cultos antigos onde o uso do ferro ainda era desconhecido; os
adeptos a Ogun, pertencendo à época do ferro.
VOLTAR
Oxumarê é ao mesmo tempo, macho e fêmea. esta dupla natureza aparece nas
cores vermelha e azul que cercam o arco-íris. Ela representa, também, a riqueza,
uma das virtudes mais apreciadas... mesmo no mundo dos Yorubás.
Certas lendas contam que "ele era outrora um Babalaô adivinho, filho do
proprietário-da-estola-de-cores-brilhantes". Começou a vida com um grande período
de mediocridade e mereceu, por esta razão, o desprezo de seus contemporâneos.
Sua chegada final à glória e à força é simbolizada pelo arco-íris que, quando
aparece, faz as pesoas exclamarem: "Ora, ora, ora, eis Oxumarê!" Isto mostra,
assim, que ele é conhecido universalmente e, como a presença do arco-íris impede
que a chuva caia, ele demonstra, também, a sua força".
O mesmo tem aparece numa outra lenda: "Este mesmo babalaô Oxumarê vivia
duramente explorado por Olofin-Odudúa, o rei de Ifé, seu principal cliente.
Consultava-lhe a sorte, de quatro em quatro dias. O rei, porém, remunerava seus
serviços com extrema parcimônia e Oxumarê vivia num estado de semi-penúria.
Felizmente para ele, foi chamado por Olokun, rainha de um reino vizinho, cujo filho
sofria de um mal estranho: não conseguia se manter em suas próprias pernas, tinha
crises e, nestes momentos, rolava sobre as cinzas incandescentes da lareira.
Oxumarê curou a criança e voltou a Ifé repleto de avançarpresentes, vestido com
riquíssima vestimenta do mais belo azul. Olofin, espantado por este repentino
esplendor e lastimando sua avareza passada, rivalizou em generosidade com
Olokun, dando a Oxumarê, pelo seu lado, presentes de valor e oferecendo-lheuma
roupa de uma bela cor vermelha. Oxumarê ficou rico, respeitável e respeitado, sem
imaginar que tempos melhores ainda o esperavam. Olodumaré, o Deus Supremo,
sofria da vista e mandou chamar Oxumarê; quando se viu curado por seus cuidados
recusou-se a se separar dele. Desde esta época, Oxumarê reside no céu e só, de
tempos em tempos, tem autorização de pisar na terra. Nestas ocasiões, os seres
humanos tornam-se ricos e felizes".
As origens deste deus, pouco conhecido na Nigéria, são tidas no Brasil como
estando no país Mahi, ao norte de Abomey.
Oxumarê é o arquétipo das pessoas que desejam ser ricas. Das pessoas pacientes e
perseverantes nos seus empreendimentos, e que não medem sacrifícios para atingir
seus objetivos. Suas tendências à duplicidade podem ser atribuídas à natureza
andrógina de seu deus. Com o sucesso tornam-se facilmente orgulhosas e
pomposas e gostam de demonstrar sua grandeza recente. Não deixam de possuir
generosidade e não se negam a estender a mão, em socorro daqueles que dela
necessitam
VOLTAR
Oyá, mais conhecida no Brasil sob o nome de Yansã, é a divindade dos ventos, das
tempestades e do rio Niger que, em Yorubá, chama-se Odô Oyá, o Rio Oyá. Foi a
primeira mulher de Xangô e tinha um temperamento ardente e impetuoso. Conta
uma lenda que Xangô enviou-a em missão ao país dos Baribas, a fim de trazer-lhe
um preparado que, uma vez ingerido, lhe permitiria lançar fogo e chamas pela boca
e pelo nariz. Oyá, desobedecendo as instruções do esposo, experimentou esse
preparo no caminho de volta a Oyó, tornando-se também capaz de cuspir fogo, o
que provocou grande desgosto em Xangô que desejava guardar, só para si, esta
terrível faculdade.
Oyá foi, no entanto, a única das mulheres de Xangô que, ao final de seu reinado,
seguiu-o na sua fulga ao páis de Tapa. E quando Xangô recolheu-se para debaixo da
terra, em Kosô, ela repetiu o feito em Irá.
Antes de se tornar mulher de Xangô, Oyá tinha vivido com Ogun. Vimos, em
capítulos precedentes, como a aparência do deus do ferro e dos ferreiros e causou-
lhe menos efeito que a elegância, o garbo e o filho do deus do trovão.
Ela fugiu com Xangô e Ogun, enfurecido, resolveu enfrentar o seu rival; mas este foi
à procura de Olodumaré, o deus supremo, para confessar-lhe que havia ofendido
Ogun. Olodumaré interveio junto ao amante traído recomendou-lhe que perdoasse a
afronta. E explicou-lhe: "Você, Ogun, é mais velho do que Xangô!" (seu avô, se
acreditarmos nas lendas referidas mais acima, onde ogun é pai de Oranmiyan e
este, pai de Xangô). "Se, como mais velho, deseja preservar sua dignidade aos
olhos de Xangô, e aos dos outros Orixás, você não deve se aborrecer, não deve
brigar, deve renunciar a Oyá sem recriminações". Mas Ogun não foi sensível a este
apelo, dirigido aos seus sentimentos de indulgência. Não se resignou tão
calmamente assim, lançou-se ã perseguição dos fugitivos e, como vimos
anteriormente, trocou golpes de varas mágicas com a mulher infiel que foi, então,
dividida em nove partes.
Este número nove, ligado a Oyá, está na origem de seu nome Yansã e encontramos
esta referência no ex-Daomé, onde o culto de Oyá é feito em Porto Novo sob o
nome de Avessân, no bairro Akron, Lokorô dos Yorubás, e sob o Abessân, mais ao
norte, em Baningbé. Estes nomes teriam por origem a expressão Aborimesan,
"com-nove-cabeças", alusão, ao que parece, aos nove braços do delta do Niger.
Uma outra indicação sobre esta nome nos é dada pela lenda da criação da roupa de
Egungun por Oyá. Roupas sob as quais, em certa circunstância, os mortos de uma
família voltam à terra a fim se saudar seus descendentes. Oyá é o único Orixá
capaz de enfrentar e de dominar os Egunguns:
"Oyá se lamentava por não ter filhos. Esta triste situação era conseqüência da
ignorância das suas proibições alimentares. Embora a carne de cabra lhe fosse
recomendada, ela comia carne de carneiro. Oyá resolveu consultar um Babalaô, que
lhe resolveu o seu erro, aconselhando-a a fazer oferendas, entre as quais deveriam
figurar tecido vermelho que, mais tarde, haveria de servir para confeccionar as
vestimentas dos Egunsguns. Tendo cumprido esta obrigação, Oyá tornou-se mãe de
nove crianças, que se exprime em Yorubá pela frase: Iya omo mesan, origem de seu
nome Yansã. Assim que a roupa de Egungun, foi criada, formou-se, em torno dessa
"novidade", uma sociedade composta exclusivamente de mulheres, com o objetivo
de enfrentar a prepotência dos homens. Mas elas exageraram e se aproveitam da
confusão provocada pela aparição desses seres estranhos, os Egunguns, para
enganar impunemente os seus maridos. Estes exasperados, conseguiram descobrir
seu segredos, apoderaram-se da Sociedade e reservaram-na aos homens dela
excluindo as mulheres para sempre" Existe uma lenda, conhecida na África e no
Brasil, que explica de que maneira os chifres de búfalo vieram a ser utilizados no
ritual do culto de Oyá-Yansã: "Um caçador foi em expedição à floresta. Colocando-se
à espreita, percebeu um búfalo que vinha em sua direção. Preparava para matá-lo
quando o animal, parando subitamente, retirou a sua pele. Uma linda mulher
apareceu. Era Oyá-Yansã. Ela escondeu a pele num cupinzeiro e dirigiu-se ao
mercado da cidade vizinha. O caçador apossou-se do despojo, escondendo-o no
fundo de um depósito de milho, ao lado de sua casa, indo, em seguida, ao mercado
a fim de fazer a corte à mulher búfalo. Ele chegou a pedi-la em casamento, mas
Oyá recusou inicialmente, aceitou entretanto, quando, de volta à floresta, não mais
achou a sua pele. Oyá recomendou ao caçador que não contasse a ninguém que, na
realidade, ela era um animal. Viveram bem durante alguns anos. ela pôs nove
crianças ao mundo, o que provocou o ciúme das outras esposas do caçador. Estas,
porém, conseguiram descobrir o segredo da origem da nova mulher. Logo que o
marido se ausentou elas começaram a cantar: Máa jé, máa mu, awó re nbe ninu
aká, o que significa: "Você pode beber e comer ( e pode exibir a sua beleza) mas a
sua pele está no depósito ( você não é senão um animal)". Oyá-Yansã compreendeu
a alusão, achou a sua pele, revestiu-a e, tendo retomado a forma de búfalo, matou
as mulheres ciumentas. Os seus chifres ela os deixou, em seguida, com os filhos,
dizendo-lhes: "Em caso de necessidade, bata-os um contra o outro, e eu virei
imediatamente em vosso socorro". É por esta razão que chifres de búfalos são
sempre colocados em locais consagrados a Oyá-Yansã.
Oyá, ventania que balança as folhas das árvores que toda a parte.
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Obá, divindade de um rio que leva o mesmo nome, é a terceira mulher de Xangô.
Uma grande rivalidade, porém, não demorou a surgir entre ela e Oxun. Ela era
jovem e elegante, Obá era mais velha e usava roupas fora da moda, fato que nem
chegava a perceber pois pretendia monopolizar o amor de Xangô. Com este
objetivo, sabendo o quanto Xangô era guloso, procurava sempre surpreender os
segredos das receitas de cozinha utilizadoas por Oxun, a fim de preparar as
comidas de Xangô. Oxun, irritada, decidiu pregar-lhe uma peça e, um belo dia,
pediu-lhe que viesse assistir, um pouco mais tarde, a preparação de determinado
prato que - segundo lhe disse Oxun, maliciosamente - realizava maravilhas junto a
Xangô, seu esposo comum. Obá apareceu na hora indicada. Oxun, tendo a cabeça
atada por um pano que lhe escondia as orelhas, cozinhava uma sopa na qual
nadavam dois cogumelos. Oxun mostrou-os à sua rival, dizendo-lhe que tinha
cortado as próprias orelhas, colocando-as para ferver na panela, a fim de preparar o
prato predileto de Xangô. Este, chegando logo em seguida, tomou a sopa com
apetite e deleite e retirou-se, gentil e apressado, em companhia de Oxun. Na
semana seguinte, era a vez de Obá cuidar de Xangô. Ela decidiu pôr em prática a
receita maravilhosa: cortou uma de suas orelhas e fê-la cozinhar numa sopa
destinada a seu marido. Este não demonstrou nenhum prazer em vê-la, assim, com
a orelha decepada e achou repugnante o prato que ela lhe serviu.Oxun apareceu,
neste momento, retirou seu lenço e mostrou que suas orelhas jamais tinham sido
cortadas, e devoradas por Xangô. Começou, entào, a caçoar da pobre Obá que,
furiosa, se precipitou sobre a sua rival. Seguiu-se uma luta corporal entre elas.
Xangô, irritado, fez explodiro seu furor. Oxun e Obá, apavoradas, fugiram e se
transformaram nos rios que levam seus nomes. No local de confluência dos dois
cursos d'água, as ondas tornam-se muito agitadas em lembrança da disputa entre
as duas divindades.
Consta-se ainda sobre Obá uma lenda, por vezes atribuída a Oxun, baseada num
jogo de palavras: "O rei de Owú, partindo em expedição guerreira, deve atravessar
o rio Obá com seu exercito. O rio estava em período de enchente e as águas tão
tumultuadas que não podiam ser atravessadas. O rei fez, então uma promessa
solene, embora mal formulada. Ele declarou: 'Obá, deixe passar meu exercito, eu
lhe imploro; faça baixar o nível de suas águas e, se sair vitorioso da guerra eu lhe
oferecerei uma boa coisa, nkan rerê'. ora, ele tinha por mulher uma filha do Rei de
Ibadan que levava o nome de Nkan, e era esta que o rio Obá pensava receber como
oferenda. As águas baixaram, o rei atravessou o rio e venceu a guerra. Regressou
com um saque considerável. Chegou próximo ao rio Obá, ele o encontrou
novamente em período de cheia. O rei ofereceu-lhe todas as' boas coisas', nkan rerê
- tecidos, búzios, bois, comidas - mas o rio rejeitou todos estes dons. Era Nkan, a
mulher do rei, que ele exigia. Como o rei de Owú era obrigado a passar, teve que
lançar Nkan às águas. Mas ela estava grávida e pariu no fundo do rio. Este rejeitou
o recém-nascido, declarando que somente Nkan lhe tinha sido prometida. Ás águas
baixaram e o Rei voltou triste aos seus domínios, seguido pelo seu exercito.
No Brasil, assim que Obá aparece num candomblé, montada sobre uma de suas
iniciadas, ata-se um turbante sobre sua cabeça a fim de esconder uma de suas
orelhas, como recordação da lenda já referida. Se Oxun se manifesta, no mesmo
momento, a tradição exige que as duas divindades encarnadas procurem lutar
novamente e é preciso, então, intervir energicamente para separá-las. A dança de
Obá é guerreira: ela brande um sabre com uma das mãos e leva um escudo na
outra.
São-lhe feitas oferendas de cabras, patos e galinhas de Angola. Ela é sincretizada
com Santa Catarina mas, como existem muitas santas com este nome, não se sabe,
co certo, se se trata de Santa Catarina de Alexandria, ou de Bolonha, ou de Gênova,
ou de Siena.
O arquétipo de Obá é aqueles das mulheres valorosas e incompreendidas. Suas
tendências um pouco viris fazem-nas freqüentemente voltar-se para o feminismo
ativo. As atitudes militantes e agressivas são conseqüências de experiências
infelizes ou amargas por elas vividas. Os seus insucessos são freqüentemente
resultado de um ciúme um pouco mórbido. Entretanto encontram geralmente
compensações para as frustrações sofridas, em êxitos materiais, onde a sua avidez
de ganho e o cuidado de nada perder de seus bens, tornam-se garantias de
sucesso.
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Lenda de Ewá
Um dos mitos diz que Ewá estava se banhando no rio enquanto suas mucamas
lavava suas roupas, quando subitamente um jovem vestido de branco vinha
correndo pelas margens do rio apavorado, pedido socorro à Ewá.
Ewá muito desconfiada, perguntou lhe o que estava acontecendo, ele lhe respondeu
que estava sendo perseguido por Iku (a morte).
Ewá vendo que o rapaz estava sendo sincero em seu pedido ordenou a suas
mucamas que o esconde-se em baixo de suas roupas que estava a lavar, logo após
em sua perseguição vinha Iku perguntando à Ewá se a mesma havia visto um jovem
passar por ali.
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"Yemanjá, cujo o nome deriva de Yeye oman ejá, "Mãe cujos filhos são peixes", é o
Orixá dos Egbás, uma nação yorubá estabelecida outrora na região de Ibadan, onde
existe ainda o rio Yemanjá. As guerras entre nações yorubáslevaram os Egbás a
emigrar, em direção oeste, para Abeokutá, no inicio do século XIX. Evidentemente,
não lhes foi possível carregar o rio, mas, em contrapartida, transportaram consigo
objetos os sagrados, suportes do Axé da divindade, e o rio Ogun, que atravessa a
região, tornou-se a partir de então, a nova morada de Yemanjá.
Este rio Ogun, entretanto, não deve ser confundido com Ogun, o deus do ferro e dos
ferreiros, contrariamente à opinião de numerosos autores que escrevem sobre o
assunto no século passado. Estes mesmo autores publicaram, a partir de 1884,
copiando-se uns aos outros, uma série de lendas escabrosas e extravagantes que
fizeram a delícia dos " meios eruditos", mas que eram completamente
desconhecidos nos meios tradicionais.
Ela se apresenta sob diversos nomes, ligados, como no caso de Oxun, aos diversos
lugares profundos, Ibús, do rio Ogun.
Yewá ( Euá), rio que na África corre paralelo ao rio Ogun e que freqüentemente é
confundido com ele;
Yemanjá Yogunté, casada com Ogun Alagbedé. "É - diz Lydia Cabrera, falando de
Yemanjá em Cuba - uma amazônia terrível, que traz pendurada na cintura o facão e
os outros instrumentos de ferro de Ogun. Ela é severa, rancorosa e violenta.
Detesta pato e adora carneiro";
Yemanjá Assaba, ela manca e está sempre fiando algodão. Lydia Cabrera
acrescenta: "Ela tem um olhar insustentável, É muito orgulhosa, e somente escuta
dando as costas ou ficando ligeiramente de perfil. É perigosa e voluntariosa. Usa
uma corrente de prata amarrada no tornozelo. Foi mulher de Orumilá e este aceitou
seus conselhos com respeito";
Esta festa do dia 2 de fevereiro é uma das mais populares do ano, atraindo à praia
do Rio Vermelho uma multidão imensa de fiéis e de admiradores da Mãe das Águas,
freqüentemente rpresentada sob a forma latinizada de uma sereia, com longos
cabelos soltos ao vento. Chamam-na, também, Dona Janaína, a Princesa ou a
Rainha do Mar.
Neste dia (2 de fevereiro), bem cedo pela manhã, longas filas de pessoas se
formam diante da pequena casa construída rapidamente, na véspera, a fim d
obrigar as grandes cestas destinadas a receber os donativos e as oferendas par
Yemanjá.
Durante todo este dia, forma-se um lento desfile de pessoas de todas as origens e
de todos os meios sociais, trazendo ramos de flores frescas ou artificiais, pratos de
comida feitos com carinho, frascos de perfumes, sabonetes embrulhados em papel
transparente, bonecas, cortes de tecidos e outros presentes agradáveis a uma
mulher bonita e vaidosa. Cartas e súplicas não faltam, nem presentes em dinheiro,
assim como colares e pulseiras. Em algumas horas as cestas já estão cheias e
substituídas por outras. Ao final da tarde, os ramos de flores são colocados em cima
das cestas, transformando-as, assim, numas 30 braçadas de flores, imensas. O
entusiasmo da multidão chega ao seu máximo.
Não se escutam senão gritos alegres, saudações a Yemanjá, votos de prosperidade
futura. Uma parte da assistência embarca a bordo de veleiros, barcos e lanchas a
motor. A flotilha se dirige para o alto mar, onde as cestas são depositadas sobre as
ondas. Segundo a tradição, para que as oferendas sejam aceitas, elas devem
mergulhar até o fundo, sinal de aprovação de Yemanjá. se elas forem rejeitadas e,
conseqüentemente, devolvidas à praia, é sinal de recusa para grande tristeza e
decepção dos Admiradores de Yemanjá.
VOLTAR
É considerada a mais antiga das divindades das águas - não das ondas turbulentas
do mar, como Yemanjá, ou das águas calmas dos rios, domínio de Oxun - mas das
águas paradas dos lagos lamacentas dos pântanos. Estas lembram as águas
primordiais que Odudúa ou Oranmiyan ( segundo a tradição de Ifé ou de Oyó)
encontrou no mundo quando criou a terra.
Este muito simbolizaria a existência de uma primeira civilização,representada por
Nanan Buruku, civilização que existia antes da chegada de Odudúa e de Ogun que
trouxeram com ele o conhecimento do ferro e de suas utilizações. Nanan Buruku
teria, aqui, o mesmo papel que Yeyemowo, a mulher de Oxalá - rei dos Igbos
estabelecido perto de Ifé, antes da chegada de Odudúa - aproximando-se, assim, da
lenda conhecida no Brasil, da existência de um casal Oxalá - Nanan Buruku.
Nanan Buruku é uma divindade muito antiga na África. A área de influência de seu
culto é bastante vasta e aparece se estender à leste, para além do Niger, palos
menos até o país Tapa-Nupé; a oeste, ultrapassando o Volta, tinge a região dos
Guangs e da nação Gomba.
"Proprietária de um cajado.
Nanan Buruhu é o arquétipo das pessoas que agem com calma, benevolência e
gentileza. Das pessoas lentas no cumprimento de seus trabalhos, e que julgam ter a
eternidade à sua frente para acabar seus afazeres. Elas gostam de crianças e
educam-nas, talvez, com excesso de mansidão pois têm tendências a se comportar
com a indulgência de avós. Agem com tal segurança, e tão majestosamente, que
desviam os enganadores, inspirando-lhes um saudável terror, o que os impede de
envolvê-las em seus projetos maldosos. Suas reações bem equilibradas e a
pertinência de suas decisões as mantêm sempre no caminho da sabedoria e da
justiça.
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Oxalá ou Obatala, o Orixá, o Rei da Roupa Branca ou, ainda, o Grande Orixá é o
mais importante dos deuses Yorubá. Foi o rimeiro a ser criado por Olodumaré, o
Deus Supremo, que lhe conferiu o poder de sugerir, Axé, e de realizar, Axé, razão
pela qual é saudado com o título de Alabalaxé.
Oxalá tinha um caráter bastante obstinado e independente, o que lhe causaria
inúmeros problemas. Foi o encarregado, por Olodumaré, de criar o mundo e o Deus
Supremo entregou-lhe, antes da partida, o saco da criação. O poder que Oxalá
havia recebido não o dispensava de respeitar certas regras e de se submeter a
diversas obrigações. Em razão do seu caráter altivo, ele recusou-se a fazer alguns
sacrifícios e oferendas a Exu, antes de iniciar sua viagem para ir criar o mundo.
Oxalá se pôs a caminho apoiado numa grande bengala de estanho, seu Opa Oxorô
ou Paxorô, o bastão para fazer as cerimônias.
No momento de ultrapassar a porta para sair do além, encontrou Exu que, entre as
suas múltiplas obrigações, tinha a de fiscalizar as comunicações entre os dois
mundos, o que seria criado e o outro. Exu, descontente com a recusa do grande
Orixá em fazr\er as oferenda pedidas, vingou-se fazendo-lhesentir uma sede
intensa. Oxalá, para matar sua sede, não teve outro recurso se não o de furar o seu
Paxarô a casca do tronco de um dendezeiro. Um l[iquido refrecante dele escorreu:
era o vinho de palma. Oxalá bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou bêbado, não
sabia mais onde estava e caiu adormecido. Veio, então, Odudúa, criado por
Olodumaré depois de Oxalá, e grande rival deste,. Vendo o grande Orixá
adormecido, roubou-lhe o saco \da criação, dirigiu-se a presença de Olodumaré para
mostrar-lhe seu achado e lhe contar em que estado se encontrava Oxalá.
Olodumaré exclamou: "Se ele está neste estado, vá você, Odudúa! vá criar o
mundo!" Odudúa saiu, assim, do Outro-Mundo e se encontrou diante de uma
extensão ilimitada de água. Deixou cair a substância marrom contida no saco da
criação. Era terra. Formou-se, antão, um montículo que ultrapassou a superfície das
águas. Onde ciscava, cobria as águas e a terra ia-se alargando cada vez mais. Isto
em Yorubá se diz ile nfé, expressãoque deu origem ao nome da cidade de Ilê/Ifé.
Odudúa aí se estabeleceu, seguido pelos outros Orixás e tornou-se o rei da Terra.
Quando Oxalá acordou não mais encontrou, ao seu lado, o saco da criação.
Despeitado, voltou a Olodumaré. Este, como castigo pela sua embriaguez, proibiu a
o grande Orixá, de beber vinho de palma e, mesmo, de usar azeite de dendê.
Confiou-lhe, entretanto, como consolo, a tarefa de modelar no barro o corpo dos
seres humanos aos quais ele, Olodumaré, insuflaria a vida.
Por esta razão, Oxalá é também chamado de Olomanrere, o "proprietário da boa
agila". Pôs-se a modelar corpo dos homens mas não levava muito a sério a
proibição de beber vinho de palma, e nos dias em que se excedia, os homens saíam
de suas mãos contrafeitos, deformados, capengas, corcundas. Alguns, retirados do
forno antes da hora, saíam mal cozidos e suas cores tornavam-se tristemente
pálidos, eram os albinos. Todas \as pessoas que entram nestas tristes categorias
são-lhe consagrados e tornam-se adoradores de Oxalá. Oxalá - Obatalá é casado
com Yemowo. Suas estátuas são colocadas lado a lado - cobertas com traços e
pontos feitos com giz - no Ilessin, local de adoração deste casal, no templo Idetá-ilé,
no quarteirão Itapa, em Ifé.
Oxalá é considerado, tanto no Brasil como na África, como sendo o maior dos
Orixás. Seus adeptos usam colares de contas brancas e vestem-se, igualmente, de
branco. Sexta-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. É sincretizado com o
Senhor do Bonfim, sem outra razão aparente se não a de ter um enorme prestígio,
na Bahia, e inspirar, fervorosa devoção aos habitantes de todas as categorias
sociais. Diz-se, na Bahia, que existem dezesseis Oxalás, sendo, porém, dois os mais
evocados: Oxalufan e Oxagiyan.
O primeiro, Oxalufan, ue foi o rei de Ifan, é um Oxalá muito velho, curvado pelos
anos, que anda com dificuldade e hesitação, como se estivesse atacado pelo
reumatismo.
Ele apoia seus passos cabaleantes sobre um Paxorô, grande bastão de metal
branco, encimado pela imagem de um pássaro e ornado por discos de metal e
pequenos sinos. Em contraste, Oxagiyan, que foi rei de Ejigbo, é um guerreiro
jovem e valente. Ele gostava, exageradamente, de inhame triturado no pilão, prato
denominado Yan, em Yorubá, o que lhe valeu o apelido de "o Orixá que come
inhame pilado", expressão equivalente, em Yorubá, a Orixá je iyan, que daria
origem ao nome Oxagiyan. Quando as iaôs deste orixá dançam, elas brandem um
pilão e um escudo numa das mãos e, na outra, uma espada. Saúdam-se estes dois
Oxalás gritando-se Epa Babá, "Viva o Pai"ou, então, Exé eee!, "Boa Atividade".
Existe uma lenda, contada na Bahia, e ainda difundida na África sendo que, em
Cuba, uma versão muito próxima foi recolhida por Lydia Cabrera - segundo a qual
"Oxalufan rei de Ifan tinha decidido fazer uma visita a Xangô, rei de Oyo, seu
vizinho e amigo. Antes de partir, Oxalufan consultou um Babalaô para saber se sua
viagem se realizaria em boas condições . O Babalaô respondeu que ele seria vítima
de um desastre, não devendo, portanto, realizar a viagem. Oxalufan, porém, tinha
um caráter obstinado e persistiu em seu projeto. O Babalaô lhe confirmou que a
viagem seria muito penosa, que teria de sofrer numerosos revezes e que, se não
quisesse perder a vida, não devia nunca recusar os serviços que, por acaso, lhe
fossem pedidos, nem reclamar das conseqüências que disso resultasse. Deveria,
também, levar três roupas brancas para trocar.
Xangô, tendo consultado um Babalaô soube que toda esta desgraça provinha da
injusta prisão de um velho homem. Após seguidas buscas e diversas perguntas,
Oxalufan foi levado à sua presença e ele reconheceu seu amigo Oxalá. Xangô,
desesperado pelo que havia acontecido, pediu-lhe perdão e deu ordem aos seus
súditos para que fossem todos vestidos de branco e guardando silêncio em sinal de
respeito, buscar água três vezes seguidas a fim de lavar Oxalufan. Este, voltou em
seguida à Ifan, passando por Ejigbo para visitar seu filho Oxagiyan, que feliz por
rever seu pai, organizou grandes festas com distribuição de comidas a todos os
habitantes do lugar".
Esta festa é, atualmente, uma das mais populares da Bahia. Neste dia, as baianas,
vestidas de branco, cor de Oxalá, vêm em cortejo à Igreja do Bonfim. Trazem à
cabeça potes contendo água para lavar o chão da Igreja e flores para enfeitar o
altar. São acompanhadas por uma multidão, onde sempre figuram as autoridades
civis do Estado da Bahia e da Cidade de Salvador.
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Ìyá Mi Osorongà
Origem e história
Iyá Mi Osorongá ( Ìyá Mi Osorongà ) é a síntese do poder feminino, claramente
manifesto na possibilidade de gerar filhos e, numa noção mais ampla, de povoar o
mundo. Quando os Yorubás dizem "nossas mães queridas" para se referirem às Iyá
Mi, tentam, na verdade, apaziguar os poderes terríveis dessa entidade.
Donas de um axé tão poderoso quanto o de qualquer orixá, as Iyá Mi tiveram seu
culto difundido por sociedades secretas de mulheres e são as grandes
homenageadas do famoso festival Gèlèdè, na Nigéria, realizado entre os meses de
março e maio, que antecedem o início das chuvas do país, remetendo
imediatamente para um culto relacionado à fertilidade.
A sua relação mais evidente é com o poder genital feminino, que é o aspecto que
mais aproxima a mulher da natureza, ou seja, dos acontecimentos que fogem à
explicação e ao controle humano. Toda mulher é poderosa porque guarda um pouco
da essência das Iyá Mi; a capacidade de gerar filhos, expressa nos órgãos genitais
femininos, sempre assustou os homens e as cantigas entoadas durante o festival
Gèlèdè fazem alusão a esse terrível poder - que não pertence apenas às Iyá Mi, mas
a qualquer mulher.
Iyá Mi é a sacralização da figura materna, por isso seu culto é envolvido por tantos
tabus. Seu grande poder se deve ao fato de guardar o segredo da criação. Tudo que
é redondo remete ao ventre e, por conseqüência, as Iyá Mi. O poder das grandes
mães é expresso entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder de
Iyá Mi é manifesto em toda mulher, que, não por acaso, em quase todas as culturas,
é considerada tabu.
As feiticeiras mais temidas entre os Iorubás e nos candomblés do Brasil são as Àjé
e, para referir-se à elas sem correr nenhum risco, diga apenas Eleyé, Dona do
Pássaro. O aspecto mais aterrador das Iyá Mi e o seu principal nome , com o qual
tornou-se conhecida nos terreiros, é Oxorongá, uma bruxa terrível que se
transforma no pássaro de mesmo nome e rompe a escuridão da noite com seu grito
assustador.
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EGUNS
Ancestralidade e Continuidade !!!
Os negros iorubanos originários da Nigéria trouxeram para o Brasil o culto dos seus
ancestrais chamados Eguns ou Egunguns. Em Itaparica (BA), duas sociedades
perpetuam essa tradição religiosa.
Os cultos de origem africana chegaram ao Brasil juntamente com os escravos. Os
iorubanos - um dos grupos étnicos da Nigéria, resultado de vários agrupamentos
tribais, tais como Keto, Oyó, Itexá, Ifan e Ifé, de forte tradição, principalmente
religiosa - nos enriqueceram com o culto de divindades denominadas
genericamente de orixás.(1 - Por motivos gráficos e para facilitar a leitura, os
termos em língua yorubá foram aportuguesados. Ex.: orisá = orixá.)
Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas divindades, mas
também seus ancestrais, principalmente os masculinos. A morte não é o ponto final
da vida para o iorubano, pois ele acredita na reencarnação (àtúnwa), ou seja, a
pessoa renasce no mesmo seio familiar ao qual pertencia; ela revive em um dos
seus descendentes. A reencarnação acontece para ambos os sexos; é o fato terrível
e angustiante para eles não reencarnar.
Os mortos do sexo feminino recebem o nome de ìyámí Agbá (minha mãe anciã),
mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada
de forma coletiva e representada por ìyámí Òsóróngá, chamada também de Iá Nlá,
a grande mãe. Esta imensa massa energética que representa o poder de
ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas "Sociedades Geledê", compostas
exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso
poder. O medo da ira de ìyámí nas comunidades é tão grande que, nos festivais
anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de
mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira
e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino.
Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em
locais e templos com sacerdotes diferentes dos dos orixás. Embora todos os
sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só
religião: a iorubana.
O egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos.
Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos Ojé
(sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixã, que,
quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais,
faz com que a "morte se torne vida", e o Egungum ancestral individualizado está de
novo "vivo".
A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás, em
que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos,
fiéis e iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando impacto visual
e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana
totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte
superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê
nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural
inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente - característica de egun,
chamada de séègí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco marrom,
chamado ijimerê na Nigéria.
As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral;
outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de
egun) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os mariwo não
podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, egun está
entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as
roupas ali estão e isto é egun.
Existem várias qualificações de egun, como Babá e Apaaraká, conforme sus ritos, e
entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem.
As classificações, em verdade, são extensas.
Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo após
os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da
cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através de
uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo.
Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do
grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé
(bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde
somente os ojé podem entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá entram.
Balé é o local onde estão os idiegungum, os assentamentos - estes são elementos
litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o egun ali cultuado - , e o
ojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado por vários ixã, os
quais, de pé, delimitam o local.
Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o
egun a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento da
divindade Oyá na qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única divindade
feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e pelos próprios
Eguns.
O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde
estão os tambores e seus alabê e várias cadeiras especiais previamente preparadas
e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por
alguns momentos na companhia dos outros, sentados ou andando, mas sempre
unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do
culto: unir os vivos com os mortos.
Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto
é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas mulheres que
são exceção, como se fosse a própria Oyá; elas são geralmente iniciadas no culto
dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo hierárquico) no culto de
egun - estas posições de grande relevância causam inveja à comunidade feminina
de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios,
confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão, respondendo a todos os
cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar
para os Babá. Antes de iniciar os rituais para egun, elas fazem uma roda para
dançar e cantar em louvor aos orixás; após esta saudação elas permanecem
sentadas junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre
os atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos
os Babá, seu jeito e suas manias, e sabem como agradá-los.
Este espaço sagrado é o mundo do egun nos momentos de encontro com seus
descendentes. Assistência está separada deste mundo pelos ixã que os amuxã
colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e ritual
dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do ixã que se evita o contato
com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o invoca e o
controla. às vezes, os mariwo são obrigados a segurar o egun com o ixã no seu
peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos vivos,
sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e rispidamente,
pois é o ojê que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande respeito.
Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a todos e
ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um possível
iorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. Babá-egun começará
perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos oiê femininos;
depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegaram
pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário,
fazendo o papél de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para
aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral disciplina comum às suas
comunidades, funcionando como verdadeiro mediador dos costumes e das
tradições religiosas e laicas.
Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-egun parte, a
festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá partiu, mas
continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.
Esta é uma breve descrição de Egungum, de uma festa e de sua sociedade, não
detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este
importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida
através das ancestralidades cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como um
reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da Nigéria.
EGUNS
Os textos litúrgicos aqui apresentados fazem parte do jogo de Ifá, no qual seu
senhor e oráculo, a divindade Orumilá, nos ensina mitos e tradições que foram
mantidos através do próprio jogo. Esses conhecimentos, transmitidos a todos
oralmente, hoje se tornaram verdadeiras escrituras sagradas (atualmente, vários
pesquisadores já registraram em livros as lendas colhidas oralmente entre os
iniciados).
Quando a Morte chegou, eles apareceram pulando, correndo e gritando com vozes
inumanas, e ela, apavorada, fugiu deixando cair seu cajado. Desde então a Morte
deixou de atacar os habitantes de Ifé.
Assim ele o fez; seus filhos apareceram. Mas eles tinham rostos e corpos estranhos;
era então preciso cobri-los para que as pessoas pudessem vê-los sem se
assustarem. Pediu que seus filhos ficassem na floresta e voltou à cidade. Contou o
fato ao povo, e as pessoas fizeram roupas para ele vestir seus filhos.
Desse dia em diante ele poderia ver e mostrar seus filhos a outras pessoas; as belas
roupas que eles ganharam escondiam perfeitamente sua condição de mortos.
Alapini e seus filhos fizeram um pacto: em um buraco feito na terra pelo seu pai
(ojubô), no mesmo local do primeiro encontro (igbo igbalé), ali seriam feitas as
oferendas e os sacrifícios e guardadas as roupas, para que eles as vestissem
quando o pai os chamasse através do ritual do bastão.
OYÁ E EGUN
Oyá não podia ter filhos, e foi consultar o babalaô. Este lhe disse, então, que, se
fizesse sacrifícios, ela os teria. Um dos motivos de não os ter ainda era porque ela
não respeitava o seu tabu alimentar (evó) que proibia comer carne de carneiro. O
sacrifício seria de 18.000 mil búzios (o pagamento), muitos panos coloridos e carne
de carneiro. Com a carne ele preparou um remédio para que ela o comesse; e
nunca mais ela deveria comer desta carne. Quanto aos panos, deveria ser
entregues como oferenda.
Ela assim fez e, tempos depois, deu à luz nove filhos (número místico de Oyá). Daí
em diante ela também passou a ser conhecida pelo nome de 'Iyá omo mésan', que
quer dizer 'a mãe de nove filhos' e que se aglutina 'Iyansan'.
Há outra lenda para explicar o mito de Iansã: Em certa época, as mulheres eram
relegadas a um segundo plano em suas relações com os homens. Então elas
resolveram punir seus maridos, mas sem nenhum critério ou limite, abusando desta
decisão, humilhando-os em demasia.
Oyá era a líder das mulheres, e elas se reuniram na floresta. Oyá havia domado e
treinado um macaco marrom chamado ijimerê (na Nigéria). Utilizara para isso um
galho de atori (ixã) e o vestia com uma roupa feita de várias tiras de pano coloridas,
de modo que ninguém via o macaco sob os panos.
Seguindo um ritual, conforme Oyá brandia o ixã no solo o macaco pulava de uma
árvore e aparecia de forma alucinante, movimentando-se como fora treinado a
fazer. Deste modo, durante à noite, quando os homens por lá passavam, as
mulheres (que estavam escondidas) faziam o macaco aparecer e eles fugiam
totalmente apavorados.
Cansados de tanta humilhação, os homens foram ter com um babalaô para tentar
descobrir o que estava acontecendo. Através do jogo de Ifá, e para punir as
mulheres, o babalaô lhes conta a verdade. Ele os ensina como vencer as mulheres
através de sacrifícios e astúcia.
Ogum foi o encarregado da missão. Ele chegou ao local das aparições antes das
mulheres. Vestiu-se com vários panos, ficando totalmente encoberto, e se
escondeu. Quando as mulheres chegaram, ele apareceu subitamente, correndo,
berrando e brandindo sua espada pelos ares. Todas fugiram apavoradas, inclusive
Oyá.
Convém notar que, no culto, egun nasce no bosque da floresta (igbo igbalé). No
Brasil, no ilê awo, ele nasce no quarto de balé, onde são colocadas oferendas de
comidas e realizadas cerimônias aos Eguns.
Oyá é também cultuada como mãe e rainha de egun, como Oyá Igbalé. E, como nos
explica a lenda, Oyá, a floresta e o macaco estão intimamente ligados ao culto,
inclusive em relação à voz do macaco como modo de o egun falar.
TORNA-SE ÌYÁMÍ
Nos primórdios da criação, Olodumarê, o Ser Supremo que vive no orun, mandou vir
ao ayê (universo conhecido) três divindades: Ogum (senhor do ferro), Obarixá
(senhor da criação dos homens) (2 - Um dos orixás funfun, isto é, orixás que têm
como principal preceito o uso do branco nos ritos e nas oferendas; em algumas
regiões Obarixá é adotado como um cognome de Oxalá) e Odu, a única mulher
entre eles. Todos eles tinham poderes, menos ela, que se queixou então a
Olodumarê. Este lhe outorgou o poder do pássaro contido numa cabaça (igbá
eleiye) e ela se tornou então, através do poder emanado de Olodumarê, Iyá Won,
nossa mãe para eternidade (também chamada de Iami Oxorongá, minha mãe
Oxorongá). Mas Olodumarê a preveniu de que deveria usar este grande poder com
cautela, sob pena de ele mesmo repreendê-la.
Mas ela abusou do poder do pássaro. Preocupado e humilhado, Obarixá foi até
Orumilá fazer o jogo de Ifá, e ele o ensinou como conquistar, apaziguar e vencer
Odu, através de sacrifícios, oferendas e astúcia.
Obarixá e Odu foram viver juntos. Ele então lhe revelou seus segredos e, após
algum tempo, ela lhe contou os seus, inclusive que adorava egun. Mostrou-lhe a
roupa de egun, o qual não tinha corpo, rosto nem tampouco falava. Juntos eles
adoraram egun.
Aproveitando um dia quando Odu saiu de casa, ele modificou e vestiu a roupa de
egun. Com um bastão na mão, Obarixá foi à cidade (o fato de egun carregar um
bastão revela toda a sua ira) e falou com todas as pessoas. Quando Odu viu egun
andando e falando, percebeu que foi Obarixá quem tornou isto possível. Ela
reverenciou e prestou homenagem a egun e a Obarixá, conformando-se com a
supremacia dos homens e aceitando para si a derrota. Ela mandou então seu
poderoso pássaro pousar em egun, e lhe outorgou o poder: tudo o que egun disser
acontecerá. Odu retirou-se para sempre do culto de Egugun.
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Iroko/Oko/Oraniam
ORIXÀ IRÓKÒ
Êle reside na gameleira branca. É assentado no seu pé, após prepero ritual da raiz,
e o tronco é enfeitado com um ÒJÁ FUNFUN ( OJÁ BRANCO )branco. A relação com
esta árvore é comum a várias divindades e exprime sua relação com seus
antepassados. Como ÈSÚ , ÌRÓKÒ carrega para longe os fluídos maléficos. Quando
manifesta-se os fiéis jogam sôbre êle os fluídos que querem se livrar e êle corre
para fora do barracão para atirar no mato todo o mau. As vezes bebe tanto que cai
no chão. Cobre-se então com um ALÀ branco e , pouco depois, já recuperado êle
ergue-se e volta a dançar. Dança de joelhos no chão e o BRAVUN, ritmo GEGE, como
OSÙMÀRÈ. Veste cores fortes, vermelho, azul e verde, às vezes cinza ou marrom e
branco e leva uma lança na mão. Suas contas são verde musgo e riscadas de
marrom. As vezes veste-se de palha como OMOLÚ. Sua incorporação é pouco vista ,
seus filhos giram tontos, cambaleando pelo barracão antes de caírem fulminados,
logo levantam-se e pôem-se a dançar.
QUALIDADES
- GIROKOSSI
- LOKOSSI
SUAS FOLHAS
- Milame, colonia, saião, iriri, mãe boa, barba de velho, esrva prata, crista de galo,
nóz moscada, abilzeiro, jaqueira e cajueiro. Quando se faz o Òrìsá, pôe-se uma folha
de saco-saco embaixo do pé do IYAÓ uma folha de saco-saco e na boca uma folha
de assa-peixe.
SEUS BICHOS :
- Um galo d'angola;
- Um pombo branco.
ORISÀ OKÓ
Quando manifesta-se leva um cajado de madeira que revela sua relação com as
árvores , traz uma flauta de osso que lembra sua relação com a sexualidade e a
fertilidade , é confundido com ÒÒSÀÀLÀ , pois veste-se de branco. Seu ÒPÁSÓRÒ,
no Brasil, é confeccionado em madeira . Sendo um Òrìsá raro , tem poucas
qualidades conhecidas . É um Òrìsá rico .
QUALIDADES
- ETEKÒ
Caminha com OSOGUIAN , é inquieto . Vive nas matas e come todo tipo de comida
branca.
- LEJUGBÉ
É muito confundido com ÒÒSÀÀLÀ por ser muito vagaroso e indeciso . Muito
chegado a AYRÀ . Come com YEMONJA e OSÀLÚFÓN . Come , também , todo tipo de
comidas branca .
ORANIAN
"Orànmíyàn (Oranian) foi o filho mais novo de Odùduà e tornou-se o mais poderoso
de todos eles; aquele cuja fama era a maior em toda a nação iorubá. Tornou-se
famoso como caçador desde a juventude e, em seguida, pelas grandes, numerosas
e proveitosas conquistas que realizou ." Foi o fundador do reino de Oyó. Uma de
suas mulheres, Torosí (Torosi), filha de Elémpe, o rei da nação Tapá (ou Nupê), foi a
mãe de Xangô, que, mais tarde, subiu ao trono de Oyó...
Oranian foi concebido em condições muito singulares, que sem dúvida, espantariam
os geneticistas modernos. Uma lenda relata como Ogum, durante uma de suas
expedições guerreiras, conquistou a cidade de Ogotún, saqueou-a e trouxe um
espólio importante. Uma prisioneira de rara beleza chamada Lakanjê agradou-lhe
tanto que ele não respeitou sua virtude. Mais tarde, quando Odùduà, pai de Ogum,
a viu, ficou perturbado, desejou-a por sua vez e fez dela uma de suas mulheres.
Ogum, amedrontado, não ousou revelar a seu pai o que se passara entre ele e a
bela prisioneira. Nove meses mais tarde, Oranian nascia. O seu corpo era
verticalmente dividido em duas cores. Era preto de um lado, pois Ogum tinha a pele
escura, e pardo do outro, como Odùduà, que tinha a pele muito clara.
Orixas funfuns
OBÀTÁLÁ
É o mais velho dos Òrìsás , o grande rei branco , raíz de todos os outros ÒÒSÀÀLÀ .
Êle não é feito , faz-se AYRÀ ou ÒSUN OPARÀ . É o pai de OSÀLÚFÓN , que por sua
vêz é o pai de OSOGUIAN , tão grande e poderoso é OBÀTÁLÁ que não se
manifesta , sua palavra transforma-se , imediatamente, em realidade .
ODUDUWA
ÒRÚNMÌLÀ IFÀ
O oráculo africano , Deus dos destinos que aparece no Candomblé como qualidade
de ÒÒSÀÀLÀ . Teria sido encarregado de estabelecer a ordem no mundo , de
separar os elementos e instituir a paz entre os homens . É o dono das nozes que
revelam a vontade dos deuses , o senhor da adivinhação , que exprime a palavra do
criador . As mulheres não podem ser sacerdotizas de IFÀ . Não se manifesta . Dono
dos búzios , IFÀ é um Òrìsá muito bom e importante , acredita-se que o Deus todo
poderoso mandou IFÀ que morava no céu para a terra , para que êle a consertasse ,
deu-lhe sabedoria , conhecimento e muita inteligência que lhe permitiu o poder
maior entre os outros Òrìsàs .
Na mira do caçador: Existe sem duvida no Brasil uma questão muito polemica sobre
as multiplicidades dos orisas chamada por todos de qualidade de santo. Essa
questão será esclarecida nessa coluna exaustivamente para que todos possam ter
acesso. Primeiro na África fica mais fácil o entendimento porque não há qualidade
de santo; ou seja, em cada região cultua-se um determinado orisa que é
considerado ancestral dessa região e, alguns orisas por sua importância acaba
sendo conhecido em vários lugares como é o caso de Sàngó, Orumila, etc. é de se
saber que Esu é cultuado em todo território africano. Vejam bem: Osun da cidade de
Osogbo é Osun Osogbo, da região de Iponda é a Osun de Iponda, Ogún da região de
ire é Ogún de Ire (Onire: chefe de ire), do estado de Ondo é Ogún de Ondo,etc. Na
época do tráfico de escravos veio para o Brasil diversas etnias Ijesas, Oyos, Ibos,
Ketus,etc e cada qual trouxe seus costumes juntos com seus orisas digamos
particulares, e após a mistura dessas tribos e troca de informações entre eles cada
sacerdote ou quem entendia de um determinado orisa trocaram fundamentos e a
partir daí surge as qualidades, e essa quantidade de orisa presente aqui no Brasil,
sendo que o orisa é o mesmo com origens diferenciadas. É claro que por ter origens
diferenciadas seus cultos possuem particularidades religiosas e até mesmo culturais
por exemplo Oyá Petu tem seus fundamentos assim como Oyá Tope terá o seu, isso
nada mais é, que uma passagem do mesmo orisa por diversos lugares e cada povo
passou a cultuá-lo de acordo com seus próprios costumes. Um exemplo mais nítido
é que aqui fazemos muitos pratos para Osun com feijão fradinho, entretanto num
determinado país não há esse feijão portanto foi substituído por um grão
semelhante e assim puderam continuar com o culto a Osun sem a preocupação de
importar o feijão fradinho. Outro exemplo de orisa transformado em qualidade no
Brasil é Osun kare, Kare é uma louvação à Osun quando se diz: Kare o Osun! A
palavra kare também é uma espécie de bairro na África, logo Osun cultuada em
kare é Osun kare, e por vai surgindo desordenadamente essa quantidade de orisa
aqui no Brasil. Imagine um rio que atravessa todo território Nigeriano e, em suas
margens diversas etnias que num determinado local algumas pessoas diria que ali é
a morada de Osun Ijimu (cidade de Ijumu na região dos Ijesa), mais para frente em
Iponda diria aqui é a morada de Osun Iponda, mais para frente, em Ede esse rio
terá o culto de Ologun Ede, o chefe de guerra de Ede segundo sua mitologia, e
serão diversos orisas cultuados num mesmo rio por diversas etnias com pequenas
particularidades. Isso acontece com todos orisas e suas mitologias fazem alusão a
essas passagens e constantes peregrinação de seus sacerdotes quer por viajens
comercias ou por guerras intertribais sempre espalharam seus orisas em outras
regiões. Outro fato interessante é títulos que algumas divindades possuem e foram
transformadas em qualidades, por exemplo Ossosi akeran, akeran é um titulo de um
determinado caçador (ancestral) com isso vamos na próxima edição analisar esses
fatos e informar todas qualidades de orisa da nação keto que o sacerdote pode ou
não mexer de acordo com o conhecimento de cada um, pois o nosso dever é
informar sem a pretensão de nunca ser o dono da verdade Na próxima edição
vamos diferenciar, títulos de nomes de cidades, nomes tirados de cânticos que as
pessoas insistem em dizer que é qualidade de orisa.
Vamos começar com Esu o primogênito orisa criado por Olorun de matéria do
planeta segundo sua mitologia, ele possui a função de executor, observador,
mensageiro, líder, etc. Alem dos nomes citados aqui que são epítetos e nomes de
cidades onde há seu culto, ele será batizado com outros nomes no momento de seu
assentamento, ritual especifico e odu do dia. Não será escrito na grafia Yoruba para
melhor entendimento do leitor.
Oba Iangui : o primeiro, foi dividido em varias partes segundo seus mito.
Ikoto: faz referencia ao elemento ikoto que é usado nos assentos esse objeto lembra
o movimento que esu faz quando se move do jeito de um furacão.
Jelu: nessa fase ele regula o crescimento dos seres diferenciados. Culto em Ijelu.
Onan: referencia aos bons caminhos, a maioria dos terreiros o tem, seu fundamento
reza que não pode ser comprado nem ganhado e sim achado por acaso.
Loko: como ele é assexuado nessa fase tende ao masculino simbolizando virilidade
e procriação.
Eledu: estabelece seu poder sobre as cinzas, carvão e tudo que foi petrificado.
Olobe: domina a faca e objetos de corte é comum assenta-lo para pessoas que
possuem posto de Asogun.
Soroke: apenas um apelido, pois a palavra significa em português aquele que fala
mais alto, portanto qualquer orisa pode ser soroke.
Ogún Olode: epíteto do òrìsà destacando sua condição de chefe dos caçadores.
Ogún Je Ajá ou Ogúnjá como ficou conhecido: um de seus nomes em razão de sua
preferência em receber cães como oferendas, um de seus mitos o liga a Osagìyán e
Ìyémojá quanto a sua origem e como ele ajudou Osalá em seu reino fazendo ambos
um trato.
Ogun Waris: nessa condição o òrìsà se apresenta muitas vezes com forças
destrutivas e violentas. Segundo os antigos a louvação patakori não lhe cabe, ao
invés de agradá-lo ele se aborrece. Um de seus mitos narram que ele ficou
momentaneamente cego.
Ogún Onire: Quando passou a reinar em Ire, Oni = senhor, Ire = aldeia.
Ogun Soroke: apenas um apelido que Ogún ganhou devido a sua condição
extrovertida, soro = falar, ke= mais alto. Nossa historia registra o porque o chamam
assim.
Ogún Alagbede: nesse aspecto o òrìsà assume o papel de pai do caçador e esposo
de Ìyémojá Ogunte (uma outra versão de Ìyémojá) segundo um de seus inúmeros
mitos.
Há vários nomes de Ogún fazendo alusão a cidade onde houve seu culto como
Ogún Ondo da cidade de Ondo, Ekiti onde também há seu culto, etc. O òrìsà possui
vários nomes na África como no Brasil e com isso ganha suas particularidades e
costumes.
Esse texto é a continuação das multiplicidades dos orisas que vem sendo analisado
em publicações anteriores. É um assunto que não pretende esgotar os vários pontos
de vista, porém, segundo os "antigos' e, mais de 25 anos de pesquisas em quase
todos estados do país, chegamos a essa conclusão. O CCOO sugere o
acompanhamento das matérias anteriores, para que os leitores acompanhem desde
o início. Seguindo a ordem vamos citar o orisa Ode/Osossi. Há uma síntese sobre
esse orisa na edição anterior, eis então suas várias formas de se apresentar:
Ossosi Beno = um dos mais antigos, detalhe tem assento aqui em São Paulo, cidade
considerada emergente para tradições do candomblé Keto, com poucas casas
antigas.
Ossosi DanaDana = aquele que ateou fogo ou roubou, um epíteto dos mais
perigosos dado ao caçador.
Ode Wale = epíteto do caçador, não se tem notícia de seu culto no Brasil;
Ode Otin = outro caçador confundido com Ossosi, sua lenda o identifica ora como
uma caçadora ora como um caçador, contudo sua ligação com Ossosi é fato, Otin se
apresenta sempre junto com ele a ponto de confundi-los;
Ode Karo = um do caçadores que também mora as margens de um rio é irmão de
iguidinile.
Ode Ologunede = o chefe de guerra de Ede, titulo ganhado quando seu pai o
entregou aos cuidados de Ogún;
Olo = senhor, gun = guerra, Ede = um lugar na áfrica.É filho de um outro caçador
chamado Erinle tendo como mãe Osún Iponda. O posto de asogun, a priori, surge
desse mito que o liga a Ogún companheiro de seu pai.
Possui outros nomes como Omo Alade, ou seja, o príncipe coroado. Não há
qualidades de Logun como acreditam alguns tais como locibain, aro aro, etc., são
apenas nomes tirados de cânticos, aliás aro quer dizer tanta coisa menos nome de
orisa. O nome Ibain é de um outro caçador homenageado nos cânticos de Ologun,
esse caçador inclusive é o verdadeiro proprietário dos chifres tão importantes no
culto. Oba L`Oge é um outro nome para esse orisa. É da região de Ijesa;
Ode Erinle = outro caçador confundido com Osossi no Brasil. Seu assento é
completamente diferente dos demais, pois Erinle ou Inle é um orisa do rio do
mesmo nome, o rio Erinle que corta a região de Ilobu na Nigéria. Encontra-se seus
mitos no odu Okaran-Ogbe e Odi-Obara. Sua esposa é Abatan pois é considerado
médico e ela enfermeira, seu culto antecede o de Ossayn, o pássaro os
representam. Ibojuto é a sua própria reencarnação representado pelo bastão que
vai em seu assentamento e tem a mesma importância do Ofa de Ossosi.Tem uma
filha chamada Aguta que às vezes se apresenta como irmã ou como filha sendo sua
mãe Ainan. Ode Otin se apresenta como sua filha, às vezes e ai é representado por
uma enguia. Ainda temos Boiko como seu guardião, Asão seu amigo e Jobis seu
ajudante. No Brasil o ligam a Osún e a Iyemanja pois segundo sua lenda é pela boca
dela que ele fala, Erinle é um orisa andrógino e considerado o mais belo dos
caçadores;
Ode Ibualama = uma outra versão para Erinle quando ele se apresenta mais ao
fundo do rio, há um templo com esse nome na África fazendo alusão ao seu
fundador. Aliás há vários templos mas todos são de um orisa só: Erinle nessa
situação o caçador traça um outro caminho e pactua seus mitos com Omolu,
Osumare, Nana,etc. A montagem de seu Igba (cuia) também difere de um simples
alguidar com um ofa para cima como é comum as pessoas não esclarecidas assim
fazer.
Ossayn = Também chamado Baba Ewe, Asiba, que são epítetos do orisa. Possui seu
próprio sistema divinatório; o orisa exerce suas funções interligadas a Esu composto
ao mesmo tempo em que ele. Kosi ewe, kosi orisa: Sem folhas, sem orisa.
Osún Ijimun = aspecto idosa e dada as feitiçarias, ligação com Iami Eleye.
Osún Iberin = aspecto maduro da orisa, nessa forma não desce nas cabeças.
Osún Ikole = seu mito a liga a Iemanjá e Ode Erinle, transformou-se numa ave.
Osún Kare = Um de seus títulos, Kare tem seu próprio nome que poucos conhecem.
Iyemonja Iyá Ori = nessa forma ela assume todas as cabeças mortais.
Oyá Ate Oju = orisa Igbale aspecto dificil de Oyá quando caminha com Nana.
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Maria Padilha é uma das principais entidades da umbanda e do candomblé traz consigo o dom do
encantamento
de amor é muito procurada pelas pessoas que sofre de paixões não Correspondidas sejam eles gays
lésbicas
hetero xexual travesti etc
E suas oferendas são compostas geralmente de cigarros champanhe rosas vermelhas perfumes anéis
e
gargatilhas batom pentes espelho farofa feita com azeite de dendê suas obrigações são geralmente
arriadas
nas encruzilhadas de T aceita como sacrifício galinha vermelha cabra e pata preta
Mulheres que trabalham com esta entidade são geralmente belas bonitas atraentes e sensuais
são dominadoras
e de personalidade muito forte sabem amar como ninguém mas com a mesma facilidade
sabem odiar seus
parceiros amorosos
Maria Padilha é protetora das prostituta gosta do luxo e do sexo adora a lua mas odeia o sol
suas roupas são
geralmente vermelhas e pretas igualmente seus colares e sua coroa suas cantigas são muito
alegres e cheias
de magia e segredos E mulher de sete exu rainha dos cabarés e das encruzilhadas suas
cantigas geralmente
falam de homens como vamos descrever abaixo
Cantigas número 1
Este homem é meu e ninguém toma quem
quiser homem bom vai buscar na zona bis
cantiga nº 2
Sou eu sou eu sou eu Maria Padilha sou eu
corro no mundo e ninguém não me pega cada fumaça do meu cigarro é um tombo e uma
queda
cantiga nº 3
Quando ela vem no clarâo do sol
quando ela vai no clarao da lua
dando risada qua qua qua Maria Padilha ainda é dona da rua ( BIZ )
cantiga nº 4
Maria Padilha tem cinco dedos em cada mão cinco dedos em cada pe
gosta de homem e de mulher ai ai gosta de homem e de mulher ( BIZ )
Zé Pilintra
Sua primeira aparição foi no Catimbó,antiga religião onde se fazia muito feitiço,uma
religião muita pesada,com muitas cargas negativas,essa religião se usava muito
vodum,aqueles bonecos que simbolizavam pessoas,onde se colocava alfinetes nela
como se tivesse maltratando-a .Os guias que se manifestavam nessa religião eram
chamados de mestres,Mestre Zé Pilintra ,por exemplo.
Na direita ele vem na linha de baianos e pretos velhos ,fuma cigarro de palha,bebe
batida de coco,pinga coquinhos ou simplesmente cachaça,sempre com sua
tradicional vestimenta.Calça Branca,sapato branco(ou branco e vermelho),seu terno
branco,sua gravata vermelha, seu chapéu branco com uma fita vermelha ou chapéu
de palha e finalmente sua bengala.
Gosta muito de ser agradado com presentes,festas,ter sua roupa completa,é muito
vaidoso,os Zé Pilintra ,tem duas características marcante:
Uma é de ser muito brincalhão ,gosta muito de dançar,principalmente
chachado,gosta muito da presença de mulheres,gosta de elogia-las ,etc...
Outra é ficar mais sério ,parado num canto assim como sua imagem,gosta de
observar o movimento ao seu redor mas sem perder suas características.
Agora quando ele vira para o lado esquerdo, a situação muda um pouco ,em alguns
terreiros ele pede uma outra roupa,um terno preto,calças e sapatos também pretos
,gravata vermelha e uma cartola,fuma charutos ,bebe marafo,conhaque e uísque
,até muda um pouco sua voz.Em alguns terreiros ele usa até uma capa preta.
É muito conhecido por sua irreverência,suas guias pode ser de vários tipos,desde
coquinhos com olho de cabra até vermelho e preto, vermelho e branco ou preto e
branco.
Pontos:
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ÁGUAS DE OXALÁ
No tempo de Mãe Senhora, dirigiam-se para uma fonte chamada Riacho, que fica ao
lado da Lagoa da Vovó, nessa roça de São Gonçalo do Retiro. Hoje, essa obrigação é
feita dentro do próprio terreiro. Meia hora depois, com suas vasilhas cheias d'água,
aproximam-se de um lugar apropriado, todo cercado de palha, com uma oca
indígena, chamado Balué, onde se colocou o assento do velho Oxalá. Alí, todos
apresentam aquelas águas à Iyalorixá, que as derrama por cima do assento de
Oxalá. São feitas três viagens à fonte ou aonde está a água, e, na terceira, a água
não é mais derramada, ficando todas as vasilhas cheias depositadas no Balué,
sendo colocada uma cortina branca na porta e uma esteira no chão.
Cada pessoa que chega ajoelha-se sobre aquela esteira em sinal de reverência.
Algumas pessoas, os que têm orixá masculino, dão Dodobalé, deitam-se de fio ao
comprido, tocando a cabeça no chão. As demais dão o Iká otun iká osi, virando-se
de um lado e do outro, tocando o chão com a cabeça - são as que têm o orixá
feminino. Depois dessa cortesia, a Iyalorixá, juntamente com todos os seus filhos e
associados, começa a cantar uma saudação para Oxalá .
(Oriki):
Babá êpa ô
Babá êpa ô
Ará mi fo adiê
Êpa Babá
Depois de cantada essa saudação, todas as pessoas pertencentes à Oxalá são por
ele manifestadas e vão até o Balué, que é, como já se viu, onde está o assento do
orixá. Fazem ali determinadas reverências e cumprimentam a todos, agradecendo o
sacrifício daquele dia e rogando a Oduduá para abençoar a todos. Por que Osala usa
Okodide (transcrição do livro Porque Oxalá usa Ekodidé - Deoscóredes M dos
Santos-DIDI - Edição Cavaleiro da Lua - Fundação Cultural do Estado da Bahia - foi
mantida a ortografia original do manuscrito)
Muito tempo depois que Oduduwa chegou em Ilê Ifé e começaram a adorar o culto
das Águas de Oxalá, aconteceu que, logo no primeiro ano, quando estava perto das
festas Oxalá escolheu uma senhora das mais velhas do terreiro, chamada Omon
Oxum, para tomar conta de todo, ou melhor, de tôda sua roupa, adornos e
apetrechos, depositando com tôda benevolência nas mãos dela aquele direito
especial para tomar conta de tudo que lhe pertencesse, da corôa ao sapato.
Omon Oxum por nunca ter tido nenhum filho, criava uma menina. Dessa data em
diante ela e a menina ficaram sendo odiadas por algumas pessoas que faziam parte
nesse terreiro e que por inveja de Omon Oxum começaram a tramar novidades,
procurando um meio qualquer para fazer Oxalá se zangar com ela e tomar o "achê"
entregue por Oxalá. Fizeram coisas que Deus duvida contra Omon Oxum porém
nada surtia efeito. Cada vez mais Oxalá ia aumentando a amizade e dedicação para
Omon Oxum. Ela era muito devotada ao cumprimento das suas obrigações e não
dava margem alguma para ser por êle repreendida. Como dizem que a água dá na
pedra até que fura, aconteceu que, na vespera do dia da festa, as invejosas, já
desiludidas por poderem fazer o que desejavam, de passagem pela casa de Omon
Oxum se depararam com a corôa de Oxalá que ela tinha areiado e colocado no sol
para secar. Quando elas viram a corôa de Oxalá muito bonita e mais reluzente do
que nunca, combinaram roubar a corôa e ir jogar no fundo do mar. E assim fizeram.
Quando Omon Oxum foi apanhar a corôa para guardar, não encontrou. Ficou doida.
Procura daquí procura dalí, remexeram com tudo procurando em todos os cantos da
casa e nada da corôa aparecer. As invejosas vendo a aflição que estava passando
Omon Oxum e sua filhinha, satisfeitas pelo mal que tinham causado, riam as
gaiofadas dizendo: agora sim quero ver como ela vai se atá com Oxalá amanhã
quando êle procurar a corôa e não encontrar.
A corôa de Oxalá deve estar na barriga desse peixe. E assim a menina insistiu,
insistiu tanto, até que Omon Oxum se decidiu a aceitar o que a menina aconselhou,
dizendo:- Fique tanquila minha filha, porque de madrugadasinha eu vou acordar
para ir à feira ver se encontro com esse peixe que voce imagina ter a corôa do
nosso Rei Oxalá na barriga. A menina foi dormir tranquila. Omon Oxum coitada, não
pôde dormir tôda a noite preocupada que já amanhecesse o dia para ela ir a feira
ver se conseguia encontrar o dito peixe que a menina julgava ter a corôa na
barriga. Quando o dia mal tinha clareado, Omon Oxum pulou da cama, se preparou
e lá se foi. Quando ela chegou na feira foi diretamente no mercado de peixe e não
encontrou nenhuma escama. Ainda éra muito cedo. Omon Oxum deu uma volta
pela feira e já bastante impaciente voltou ao mercado onde encontrou um senhor
vendendo um peixe, cujo peixe, era o único que se encontrava no mercado. Omon
Oxum comprou o peixe e foi voando para casa a fim de destrincha-lo. Queria ver se
sua filha tinha aconselhado bem, para ela poder obter a paz e tranquilidade
espiritual, encontrando a corôa de Oxalá. Assim que ela chegou em casa foi logo
para a cosinha para abrir a barriga do peixe. Porém não conseguiu. Quando ela
estava aí se acabando de chorar e labutando para abrir a barriga do peixe, a
menina acordou e foi logo perguntando: - Mamãe já comprou o peixe? A senhora
deixa que eu abra a barriga dele? - Omon Oxum bastante chorosa respondeu:-
Minha filha a barriga dele está muito dura. Eu não posso abrir quanto mais você. A
menina se levantou, chegou na cosinha, apanhou um cacumbú e puxou rasgando a
barriga do peixe, ésta se abriu em bandas deixando aparecer a corôa de Oxalá
ainda mais bonita do que era antes. Omon Oxum se abraçou com a menina e de
tanto contentamento não sabia o que fazer com ela. Carregava, beijava, dansava, e
por fim Omon Oxum olhando para a menina e em seguida voltando as vistas para o
céu, disse: - Olorun, Deus que lhe abençoe. Sua maesinha está sendo perseguida,
porém com a fé que tem no seu Eledá, anjo da guarda, não ha de ser vencida.
Limparam muito bem limpa, a corôa, e guardaram, muito bem guardada,
juntamente com o resto das coisas pertencentes a Oxalá. Em seguida Omon Oxum
cosinhou o peixe, fez um grande almôço e convidou a todos da casa para almoçar
com ela dizendo que estava festejando o dia da festa do Pai Oxalá. Ao meio dia
Omon Oxum juntamente com seu, quero dizer, sua filhinha serviram o almôço
acompanhado de Aluá ou Aruá, a bebida predileta de Oxalá a qual os Erê dão o
nome de mijo do pai. Depois do almôço todos foram descansar para na hora
determinada dar começo a festa das Águas de Oxalá. As invejosas quando viram
todo aquele movimento, Omon Oxum muito alegre como se nada tivesse
acontecido a ponto de dar até um banquete em homenagem a Festa de Oxalá,
ficaram malucas. Uma delas perguntou:- Será que ela encontrou a corôa? - Outra
respondeu:- Eu bem disse que queimasse. - E a outra mais danada ainda dizia:- Eu
disse a vicês que o melhor era cavar um buraco bem fundo e enterrar. - A primeira
procurando acalmar os animos, disse para a outra:- Vamos esperar até a hora que
éla apresentar as roupas de Oxalá com todos os armamentos. Se a corôa estiver no
meio o geito que temos é fazer um grande ebó e colocar na cadeira onde éla vai se
sentar ao lado de Oxalá. - O ebó, sacrificio, póde ser empregado para o bem ou
para o mal.
Quando estava perto da hora de começar a festa, Omon Oxum apresentou a Oxalá
tôda a roupa com todos os armamentos deixando as invejosas mais danadas e com
mais desejo de vingança, a ponto de procurarem fazer o ebó por elas idealisado e
colocar na cadeira onde Omon Oxum era obrigada a sentar-se por ordem de Oxalá.
Começou a festa com a maior alegria possivel. Oxalá chegou acompanhado por
Omon Oxum e se sentou no trono. Omon Oxum sem saber do que estava sendo
feito contra ela, também se sentou na sua cadeira ao lado de Oxalá. Quando
começaram as cerimônias e que Oxalá precisou de colocar a sua corôa, virou-se
para Omon Oxum e pediu para éla ir apanhar a corôa. Omon Oxum quiz levantar e
não pôde. Fez força para um lado, para o outro, e nada de poder levantar-se, até
quando éla decidiu levantar-se de qualquer maneira. Devido a grande dor que
sentiu, olhou para a cadeira e viu que estava tôda suja de sangue. Alucinada de
dor, e horrorisada por saber que Oxalá de fórma nenhuma podia ter nada de
vermelho perto dêle porque era ewó, proibição, saiu esbaforida pela porta afora,
indo se esbarrar na casa de Exú. Quando Exú abriu a porta que viu Omon Oxum
tôda suja de vermelho, disse:- Você vindo dêsse geito da casa de meu pai? Infringiu
o regulamento e eu não posso lhe abrigar,- e fechou a porta. Daí ela foi para a casa
de Ogun, Oxossi, de todos Orixás e sempre diziam a mesma coisa que disse Exú. Só
restava a casa de Oxum. Quando Omon Oxum chegou a casa de Oxum, esta já
tinha sabido do que estava acontecendo e estava a sua espera. Omon Oxum se
jogando nos pés dela disse:- Minha mãe me valha, estou perdida. Oxalá não vai me
querer mais em sua casa. Oxum disse para ela que não se preocupasse, que um dia
Oxalá ía buscar ela de volta. Depois Oxum, usando de sua magia, fez com que, do
lugar onde sangrava em Omon Oxum saisse Ekodide, pena vermelha de papagaio
da costa, até quando sare a ferida. Oxum, depois de colocar todo aquêle Ekodidé
numa grande igbá, cuia, reuniu todo seu pessoal e tôdas as noites faziam um xirê,
festa, cantando assim:
BI O TA LADÊ
E assim Oxum ricamente vestida, sentada no seu trono, com Omon Oxum ao seu
lado, a cuia de Ekodidés e a vasilha para colocarem dinheiro em frente a elas,
recebia as visitas de todos os Orixás que iam até lá para ver e saber porque Oxum
estava fazendo aquela festa tôdas as noites. Todos que lá chegavam e se
enteiravam do acontecimento, si era homem dava dodóbálé, se estirava de peito no
chão para Oxum, depois apanhava um Ekodidé e colocava uma certa quantia na
vasilha que estava ao lado para ser colocado o dinheiro, e se era mulher dava iká,
quer dizer, se deitava no chão de um lado e do outro para Oxum e em seguida
apanhava um Ekodidé e colocava também o dinheiro na referida vasilha.
Tudo aquilo que estava acontecendo no palácio de Oxum, ficou sendo muito
propalado e as invejosas faziam todo possivel para que Oxalá não soubesse. Um
dia, elas, sem observarem que Oxalá estava por perto, começaram a comentar o
caso, onde uma delas disse:- Com ela não tem quem possa, depois de tudo o que
nós fizemos, depois de ter acontecido o que aconteceu aqui no palácio de Oxalá e
de ter sido enjeitada por todos Orixás, vocês não estão vendo que Oxum abrigou
ela? Curou, conseguindo que do lugar que sangrava saisse Ekodidé, fazendo uma
grande fortuna e aumentando a sua riqueza.
Agora só nos resta é fazer com que o velho não saiba do que está acontecendo no
palácio de Oxum, se não é bem capaz de querer ir até lá. Nisso o velho Oxalá
pigarreou dando a entender que tinha ouvido tôda a conversação. Ordenou a elas
que procurassem saber a hora que começava o xirê no palácio de Oxum e que elas
iam servir de companhia para êle poder ir apreciar o xirê e tomar conhecimento do
que estava acontecendo. Quando elas ouviram Oxalá falar desta maneira bem
pertinho delas a terra lhe faltaram nos pés e o remorso montou nos seus cangótes
fazendo com que elas fugissem para nunca mais voltar ao palácio de Oxalá. A noite,
depois do jantar, Oxalá cansado de esperar pelas tres invejosas e não vendo
nenhuma delas aparecer, disse:- Fugiram com medo de que eu castigasse pela
grande injustiça que cometeram, não sabendo de que o castigo será dado pelas
mesmas. Assim Oxalá se dirigiu para o palácio de Oxum afim de assistir o xirê e
saber qual a causa do mesmo.
Quando Oxalá chegou no palácio de Oxum mandou anunciar a sua chegada. Oxum
mais bonita do que nunca, coberta de ouro e muitas jóias dos pés a cabeça,
sentada no seu rico trono, mandou que Oxalá entrasse, e continuou o xirê
cantando:
Quando Oxalá entrou ficou abismado de ver tanta riquesa e quando reparou bem
para Oxum, que viu a seu lado Omon Oxum, a pessoa que cuidava dele e de tôdas
suas coisas, a quem ele julgava ter perdido devido o que tinha acontecido, não se
conteve, se jogou também no chão dando dodóbálé para Oxum, apanhando um
Ekodidé e colocando bastante dinheiro na vasilha. Oxum quando viu o velho dar
dodóbálé para ela, se levantou cantando:
e foi ajudar a Oxalá se levantar do chão. Depois que Oxalá se levantou Oxum pegou
Omon Oxum pela mão e entregou à Oxalá dizendo:- Aqui está a vossa zeladora, sã
e salva de todo mal que desejaram e fizeram para ela para que ela ficasse odiada
por vós.