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4.1. AÇÃO DE COBRANÇA DO DPVAT

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO


___JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE ___________

(Qualificação Completa) através de seu advogado, ins-


crito regularmente na OAB/PR __________, com escritório profis-
sional na ___________, onde recebe notificações e intimações,
vem, com o devido respeito e acatamento, perante Vossa Exce-
lência, ajuizar:

AÇÃO DE COBRANÇA:

Contra (Qualificação Completa), pelos motivos de fato e


de direito que passa a expor:

I-DOS FATOS

Ocorre, que na data ___________, o pai da Requerente


se envolveu em um acidente de trânsito, conforme boletim de ocor-
rência em anexo, o qual veio a óbito.

A filha da vítima, ora Requerente entrou com o pedido de


DPVAT junto a SINSEG, na qual é reguladora de sinistros contrata-
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da pela CIA de SEGUROS _____________

A solicitação do DPVAT foi feito em __________acom-


panhada dos documentos necessários. Houve autorização para
que a _______________ pagasse a respectiva indenização, en-
tretanto, até a presente data não ocorreu.

A Requerente não consegue entender porque o pagamen-


to do seguro do DPVAT não foi pago ainda, apesar de já ter sido
enviado todos os documentos necessários.

O Pagamento seria feito por qualquer agência do Banco


do Brasil, contudo, quando a Requerente foi em uma das agênci-
as, foi informada que a indenização do DPVAT ainda não havia
sido repassado.

A Requerente enviou todos os documentos necessários


para as Requeridas, os quais foram encaminhados mediante Avi-
so de Recebimento. Que mesmo apesar de ter cumprido as buro-
cracias não conseguiu receber o seguro.

II- DO DIREITO

Do Seguro DPVAT.

A Requerente é beneficiária e tem direito de receber inde-


nização em virtude de seu pai ter perdido a vida em decorrência
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de acidente de trânsito, assim preceitua o artigo 3º da Lei 6.194/
74, “in verbis”:
Art. 3o Os danos pessoais cobertos pelo seguro es-
tabelecido no art. 2o desta Lei compreendem as inde-
nizações por morte, invalidez permanente e despe-
sas de assistência médica e suplementares, nos va-
lores que se seguem, por pessoa vitimada: (Reda-
ção dada pela Lei nº 11.482, de 2007)

A certeza de seu direito está evidenciada nos documen-


tos que ora estão anexados.

Foram cumpridas todas as formalidades exigidas pelas


Requerida, exatamente nos termos dos parágrafos do artigo
supracitado, “in verbis”:
§ 1o A indenização referida neste artigo será paga com
base no valor vigente na época da ocorrência do si-
nistro, em cheque nominal aos beneficiários,
descontável no dia e na praça da sucursal que fizer a
liqüidação, no prazo de 30 (trinta) dias da entrega dos
seguintes documentos: (Redação dada pela Lei nº
11.482, de 2007)
a) certidão de óbito, registro da ocorrência no órgão
policial competente e a prova de qualidade de
beneficários no caso de morte; (Redação dada pela
Lei nº 8.441, de 1992)
b) Prova das despesas efetuadas pela vítima com o
seu atendimento por hospital, ambulatório ou médico
assistente e registro da ocorrência no órgão policial
competente - no caso de danos pessoais.
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§ 2º Os documentos referidos no § 1º serão entre-
gues à Sociedade Seguradora, mediante recibo, que
os especificará.

A Requerente tem o direito de receber o seguro DPVAT


nos termos da legislação vigente.

III- DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer digne-se Vossa Excelência:

a) A citação da Requerida para que no prazo querendo


apresente sua devida resposta sob pena de revelia e confissão;

b) A condenar a Requerida no pagamento do seguro


DPVAT, conforme preceitua a Lei 6.194/74, R$__________(Valor
Corrigido).

c) A condenar as Requeridas no pagamento de indeniza-


ção a título de danos morais no valor de R$______________.

d) Protesta por todos os meios de provas admissíveis em


direito
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Nestes Termos

Pede deferimento

(Local, Data)

____________

ADVOGADO

OAB____
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4.2. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO


____ JUIZADO ESPECIAL CIVIL DA COMARCA DE__________.

(Qualificação Completa), através de seu procurador judi-


cial _________________, advogado, inscrito regularmente na
OAB/PR _________, com escritório profissional na
______________________, onde recebe notificações e
intimações, vem, com o devido respeito e acatamento perante
Vossa Excelência, com fundamento na Lei 8078/90, artigos 927 c/
c o artigo 186 do Código e artigo 5º, X da CF, ajuizar:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM PER-


DAS E DANOS

Em face de, ________________ pessoa jurídica de direi-


to privado, com sede na ____________________, pelos motivos
de fatos e de direito que passa a expor:

I – DOS FATOS.

O requerente relata que na data ____________06, parti-


cipou do leilão promovido pela requerida na cidade de São Paulo,
no qual arrematou um carro, modelo ____________ e descrição
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_________________, pelo valor de R$___________ (doc. Ane-
xo).

Acontece, que até a presente data os documentos do veí-


culo não foram liberados. O carro não pôde ser transportado para
a residência do requerente pelo fato do mesmo estar sem os do-
cumentos para a circulação; por conseqüência, o requerente teve
que deixar o veículo na garagem de sua tia, a qual reside na cida-
de de São Paulo, cidade onde foi realizado o leilão.

O requerente tentou entrar em contato com o requerido para


tentar buscar uma solução para seu problema, porém não obteve
êxito, sendo informado de que o documento do veículo estava sen-
do providenciado, no entanto, até a presente data o documento
não foi providenciado.

Informa o requerente, que efetuou uma pesquisa, e desco-


briu que mais pessoas estão com o mesmo problema com o re-
querido (doc. Anexo).

Por fim, menciona o requerente, que comprou o carro para


vender, e que deixou de realizar negócios em razão dos documen-
tos estarem enrolados.

II-DO DIREITO.

O produto vendido pela requerida se mostrou inadequado


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e impróprio para o uso, vez que, o impossibilita de circular no terri-
tório nacional, ou seja, o certificado de registro de veículo e outros
documentos necessários são de porte obrigatório, conforme le-
gislação vigente.

Desta forma, a falta de documento, impossibilitou a utiliza-


ção do veículo pelo requerente, acarretando prejuízo quanto a sua
qualidade. Além do mais, o requerente está aguardando pela libe-
ração do veículo a mais de 30 dias.

Desta forma, o requerido invoca o inciso II do artigo 18 do


Código de Defesa do Consumidor, senão vejamos:

Art.18 Os fornecedores de produtos de consumo du-


ráveis ou não duráveis respondem solidariamente
pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tor-
nem impróprios ou inadequados ao consumo a
que se destinam ou lhes diminuem o valor, assim
como por aqueles decorrentes da disparidade, com
as indicações constantes do recipiente , da embala-
gem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeita-
das as variações decorrentes de sua natureza, po-
dendo o consumidor exigir a substituição das partes
vencidas.
§1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de
trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamen-
te e à sua escolha:
I- a substituição do produto por outro da mesma
espécie, em perfeitas condições de uso;
II- a restituição imediata da quantia paga, moneta-
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riamente atualizada, sem prejuízo de eventuais per-
das e danos;
III- o abatimento proporcional do preço.

O documento de licenciamento é inerente ao produto, que


está condicionada a utilização do mesmo, pois não adianta nada
o requerente possuir um carro se não tiver os documentos neces-
sários para sua circulação. Assim sendo, não resta outra alternati-
va para o requerente, senão requer a restituição imediata da quan-
tia paga pelo veículo, monetariamente atualizado.

A órbita de proteção do consumidor está voltada para sua


incolumidade econômica, procurando proteger o patrimônio dos
prejuízos causados com a qualidade e quantidade dos produtos
introduzidos no mercado.

É importante destacar ainda, que os mecanismos de re-


paração dos vícios de qualidade ou quantidade da legislação de
proteção do consumidor são mais abrangentes, amplos e
satisfatórios do que aqueles previstos no Código Civil, conforme
veremos adiante.

Os vícios por inadequação não se identificam com a res-


ponsabilidade por danos vista anteriormente e, baseia-se no fato
do fornecedor ter a obrigação de assegurar a boa execução do
contrato, colocando o produto ou serviço no mercado em prefeitas
condições de uso ou fruição.
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O Vício de Qualidade, também chamado de “vício
exógeno”, é aquele que torna o produto impróprio para o consumo.
Desta forma, o requerente requer a restituição imediata da quantia
paga monetariamente atualizada.

III-DAS PERDAS E DANOS.

Dos Danos Morais:

A nossa Constituição, prevê em seu artigo 5º, X, a inde-


nização por danos morais,”são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagens das pessoas, assegurado o direito
a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação”, bem como o Código de Defesa do Consumidor, ao dis-
por sobre os direitos básicos do consumidor, “a efetiva prevenção
e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coleti-
vos e difusos”. Com base nestes preceitos, o Requerente busca a
efetiva reparação do dano sofrido. (grifos nossos).

O Requerente deve ser indenizado pelos danos morais,


pois teve desgastes psicológicos na tentativa de resolver seu pro-
blema, e pelo fato de ter pago por um produto e não tê-lo usado.

Vejamos o entendimento do STJ:

“... O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento firma-


do no sentido de que quanto ao dano moral não há que
se falar em prova, deve-se, sim, comprovar o fato que
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gerou a dor, o sofrimento, sentimentos íntimos que o
ensejam; provado o fato, impõe-se a condenação. Pro-
cesso: 1523211900 – Origem: Curitiba – 2ª Vara Cível –
Número do Acórdão: 13714 – Decisão: Unânime –Òrgão
Julgador: 5ª CAMARA CIVEL- Relator: Roberto de Vicente –
Data de Julgamento: Julg: 15/03/2005.

O requerente se sente humilhado e transtornado por ter


tentado resolver um problema que deu causa o requerido, inclusi-
ve se dispondo de tempo para isso, para no final só ter passado
raiva! Situação esta, Excelência, que não pode perdurar.

Assim, estando presentes os três requisitos para a con-


cessão da indenização por danos morais: o dano, o nexo de cau-
salidade e a culpa ou dolo do agente, fica o agente causador do
dano obrigado a repará-lo.

Verifica-se que o transtorno sofrido pelo requerente se deu


mediante culpa do requerido, pois a negligência em não providen-
ciar os documentos necessários para a circulação do veículo, trou-
xe-lhe prejuízos, visto que, o mesmo não pôde completar seu de-
sejo de ter a posse do veículo arrematado.

Ademais, como o carro estava sem os documentos, o re-


querente pediu para sua tia que reside na cidade onde o carro foi
arrematado, se poderia utilizar, temporariamente, sua garagem. O
requerente não imaginava que a liberação dos documentos do carro
iria demorar tanto. O requerente ficou em uma situação muito cons-
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trangedora, pois o carro estava ocupando a garagem de sua tia, a
qual já estava reclamando pela demora do mesmo em buscar o
carro. Sem embargo, um transtorno que poderia ser evitado se a
reclamada não tivesse agido com displicência.

Se sente muito humilhado pelo requerido ter feito pouco


caso de seu problema, e pelo fato de ter deixado de realizar negó-
cios com o carro em virtude de o mesmo não possuir documento.

Além do mais, aquele que causa prejuízo a outro mediante


ato ilícito deve ser responsabilizado, nos termos do artigo 927 c/c
186 do Código Civil.

Assim, presentes os pressupostos para a indenização por


dano moral, devem-se ter como critério para a sua fixação a situa-
ção econômica e social do requerido e da requerida.

Ainda, em relação ao quantum indenizatório, forma-se o


entendimento jurisprudencial, mormente em sede de dano moral,
no sentido de que a indenização pecuniária não tem apenas cunho
de reparação do prejuízo, mas também caráter punitivo, pedagó-
gico, preventivo e repressor: a indenização não deve apenas re-
parar o dano, repondo o patrimônio abalado, mas também atua
como forma educativa ou pedagógica para o ofensor e a socieda-
de e intimidativa para evitar perdas e danos futuros.

IV-DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.


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Partindo do pressuposto de ser o Consumidor a parte
hipossuficiente nesta relação, e pelo fato de ser mais fácil para a
Requerida fazer prova de suas alegações, devido a tecnologia e
organização que possui, pugna-se, Vossa Excelência, pela aplica-
ção do artigo 6º, VIII do Código de Defesa do Consumidor, o qual
dispõe, “a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando,
a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências”.

V-DO PEDIDO.

Ante o exposto, requer Vossa Excelência:

a) A citação do requerido para que no prazo legal apre-


sente sua devida resposta, sob pena de revelia;

b) A restituição imediata da quantia paga pelo veículo no


valor de R$_____________, devidamente atualizado;

c) A condenação do requerido no valor de R$__________,


a título de danos morais;

d) A inversão do ônus da prova nos termos da Lei


consumerista;

e) Protesta por todos os meios de provas admissíveis em


direito;
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f) Que seja notificado o Procon, para que também seja


apurada a responsabilidade administrativa do requerido.

Dá-se à presente causa o valor de R$__________ (

(Local, Data)

_____________

ADVOGADO

OAB______

4.3. IMPUGNAÇÃO À CONTESTAÇÃO


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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO
______JUIZADO ESPECIAL CIVEL DA COMARCA DE _______.

AUTOS: __________

Autor: _____________

Requerida: __________

______________________, já devidamente qualificado


nos autos em epígrafe, através de seu advogado, que ao final assi-
na, procuração juntada aos autos, vem, com o devido respeito e
acatamento, perante Vossa Excelência, apresentar

IMPUGNAÇÃO A CONTESTAÇÃO

pelos motivos de fatos e de direito que passa a expor:

No que tange a preliminar de ilegitimidade de parte, não


merece guarida vez que o nome do Requerente foi negativado pela
Requerida, fato este que deu causa ao dano ensejador dos danos
morais. Como se pode ver na certidão fornecida pelo órgão de
restrição ao crédito, a inclusão do nome do Requerente foi feita
pela Requerida, logo a Requerida é parte legítima para estar res-
pondendo pelos danos morais. Não existe a possibilidade de a
Requerida ser excluída do pólo passivo da demanda, pois foi ela
que inscreveu o nome do Requerente nos órgãos de restrição, por
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uma compra feita em nome dele. A cláusula que contratual citada
pela mesma como fundamentação, deve ser ignorada, pois a refe-
rida cláusula trata de obrigações entre lojistas e a Requerida, sen-
do o Requerente um terceiro estranho à relação.

Como já mencionado nos fatos, o Autor só ficou sabendo


da restrição do seu nome quando foi efetuar uma compra nas lojas
mil desta cidade, onde ficou sabendo que a Requerida havia feito
vendas de alguns móveis a uma terceira pessoa em nome do mes-
mo na cidade de Curitiba, cidade esta que nem o Autor conhece.

Logo, a Requerida deve ser responsabilizada pelos preju-


ízos suportados pelo Requerente, pois a órbita do direito do con-
sumidor consagra a responsabilidade objetiva, e tal postulado está
exteriorizado no artigo 14 da Lei 8078/90, o qual passaremos trans-
crever para melhor elucidação, senão vejamos:
Art.14 O fornecedor de serviços responde, indepen-
dentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação de serviços, bem como por in-
formações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.

Logo está evidenciada a responsabilidade da Requerida


quanto ao fato acontecido com o Requerente. Como já menciona-
do, o Requerente juntou a prova que concretiza o nexo causal exis-
tente entre a conduta e o resultado, e uma vez provado o fato que
ocasionou a dor, deve o Requerente ser indenizado pelos danos
morais. Não pode a Requerida, agora, se eximir da responsabili-
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dade, alegando ser responsabilidade de outrem.

No que diz respeito a preliminar de incompetência deste


juízo, também não deve ser acolhida, vez que o Requerente não
assinou nenhum documento que pudesse autorizar a Requerida a
utilizar seu nome. O ônus da prova cabe a Requerida, e pedir que
seja feita uma perícia técnica para comprovação da assinatura do
Requerente, é meramente protelatório, pois retardará o andamen-
to processual. Não é necessária uma prova pericial para compro-
var se a assinatura é do Requerente, visto que, existem outros meios
para se analisar, mas que não vem ao caso em questão. O fato é
que a Requerida não deveria ter incluso o nome do Requerente
nos órgãos de restrição ao crédito sem ter algum tipo de vínculo
contratual com ele.

Sendo assim, pelo fato de o Autor não ter firmado nenhum


contrato que pudesse estabelecer qualquer relação contratual, não
se faz necessário prova pericial.

Em razão ao mérito, é mister salientar, que mesmo que


existisse um contrato de financiamento pactuado entre o Reque-
rente e o Requerido, as cláusulas deveriam ser interpretados de
maneira mais favorável ao consumidor. Como consta na contesta-
ção da Requerida, o suposto contrato de financiamento foi forneci-
do ao logista e não ao Requerente, logo não tomou nem ciência do
presente contrato, vez que desconhecia, qualquer relação negocial
desse tipo. Em nenhum momento o Requerente solicitou qualquer
financiamento junto a Requerida. O fato de ter um contrato de fi-
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nanciamento, não altera o dever de a Requerida indenizar, visto
que o Requerente não assinou nenhum contrato.

O fato de ter havido o repasse do dinheiro para loja não


quer dizer que o Requerente contratou os serviços da Requerida,
pois outra pessoa ou até mesmo o logista pode ter utilizado os
dados do Requerente indevidamente para receber o dinheiro do
financiamento.

A Requerida por gozar de idoneidade dentro do ramo co-


mercial que exerce, e pela organização que possui, deveria ter a
prudência de ter confirmado a solicitação do financiamento e con-
ferido todos os documentos. E o repasse do dinheiro que a
Requerida quis mencionar nas fls.______, até mesmo grifou para
chamar a atenção, não muda nada quanto o dever de indenizar o
Requerente, pois se o nome do Requerente foi negativado, foi por
imprudência e negligência Requerida, que conceder um financia-
mento sem procurar confirmar a autenticidade e veracidade dos
documentos.

Ademais, os contratos que regulam as relações de consu-


mo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportu-
nidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os
respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a
compreensão de seu sentido e alcance (art.46 da Lei 8078/90).
Como pode o Requerente estar obrigado por um contrato de finan-
ciamento se o mesmo não teve nem a oportunidade de tomar co-
nhecimento prévio. Isso prova, ainda mais o fato de o mesmo não
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ter firmado nenhum contrato junto a Requerida. Neste caso não há
que se falar em direito adquirido ou ato jurídico perfeito. Um ato
jurídico imperfeito não dever servir de apoio para a concretização
do direito adquirido.

Pelo contrário, o ato da Requerida é tido como prática


abusiva, pois sua intenção foi tirar do consumidor vantagem mani-
festamente excessiva, vejamos o que diz o artigo 39, V da Lei 8078/
90, senão vejamos;
Art.39. É vedado ao fornecedor de produtos ou servi-
ços, dentre outras práticas abusivas:
V- exigir do consumidor vantagem manifestamente ex-
cessiva.

Quanto ao valor da indenização, este deve ser arbitrado


por Vossa Excelência, pois como já citado na inicial, o Superior
Tribunal de Justiça já tem entendimento firmado, no sentido de que
quanto ao dano moral não há que se falar em prova, deve-se, sim,
comprovar o fato que gerou a dor, o sofrimento, sentimentos ínti-
mos que o ensejam; provado o fato, impõe-se a condenação. A
dor está provado o certidão que confirmou o nome do Requerente
estar negativado, gerando com isso prejuízo diversos na sua vida
civil.

A inversão do ônus da prova se faz necessário, em razão


da hipossuficiência do Requerente, e tendo em vista a tecnologia
e boa organização da Requerida, é mais fácil para a mesma fazer
prova das alegações, sendo assim, deve ser concedida a inver-
são do ônus de prova. Impossível o Requerente provar o alegado,
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pois a única prova que possui, é uma certidão de que seu nome
está incluso nos órgãos de restrição ao crédito pela Requerida.

Não ficou provado nos autos o débito que ensejou a inscri-


ção do mesmo nos órgãos de restrição ao crédito, mostra-se que
foi inscrito indevidamente pela Requerida.

O Requerente impugna todos os documentos juntados pela


Requerida, pois não tem pertinência com o fato alegado na inicial.

Ante o exposto, pede-se a Vossa Excelência que se


digne em receber e conhecer a presente impugnação e dos
pedidos pretendidos na inicial, julgando totalmente proceden-
te a pretensão nela deduzida, para o fim de requer a IMPRO-
CEDÊNCIA TOTAL da contestação apresentada pela
Requerida, para o fim de condenar a Requerida a indeniza-
ção pelos danos morais, por ser questão de justiça.

Nestes termos

Em que pede deferimento

(Local, Data)

ADVOGADO

4.4. AÇÃO DE COBRANÇA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO


_____ JUIZADO ESPECIAL CIVEL DA COMARCA DE
___________.
21

________________(Qualificação), representada neste ato


pelo seu sócio gerente _________, portador da cédula de identi-
dade civil n.º __________, e inscrito no CPF/MF __________, re-
sidente e domiciliado na Rua ______________, através de seu
advogado, _________________, inscrito regularmente na OAB/
PR sob o n.º _________, com escritório profissional na
___________________, vem, com o devido respeito e acatamen-
to, perante Vossa Excelência, ajuizar:

AÇÃO DE COBRANÇA:

Contra ________________, portador da cédula de iden-


tidade civil, ______________, e inscrito no CPF/MF
______________, residente e domiciliado à Rua
___________________, pelos motivos de fato e de direito que
passa a expor:

I-DOS FATOS.

Aos dias ____________, foi formalizado contrato de pres-


tação de serviço entre a Requerente e o Requerido, no qual ficou
estabelecido que a Requerente iria executar os serviços de mão-
de-obra, referente a construção de muro divisório e arrimo, com
dimensões 14x19x39 cm, área de 700 m² de muro divisório e
200m² de muro de arrimo, em uma extensão de 250m aproxima-
do, e que o Requerido pagaria R$_____________ a título de re-
muneração dos serviços prestados pela Requerente. O contrato
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foi formalizado perante testemunhas. (doc.anexo).

O muro seria construído de acordo com o projeto feito pelo


arquiteto. Acontece que o Requerido, desatendendo às medidas
técnicas passadas pelo arquiteto responsável, determinou que à
Requerente subisse mais alguns metros do muro, e que se tivesse
algum problema aquele ora Requerido, seria responsabilizado, pois
afinal de contas, ele era o proprietário.

Atendendo a solicitação do Requerido, foram levantados


mais alguns metros do muro, entretanto, o muro não agüentou e
acabou caindo. Em decorrência de o muro ter caído, o Requerido
não efetuou o pagamento restante do preço combinado, isto é,
R$_____________.

Por fim, à Requerente cumpriu com sua parte no contrato,


ou seja, o de construir o muro, portanto, dever receber o restante
do valor convencionado no contrato.

II-DO DIREITO.

No contrato formalizado, o Requerido tinha a obrigação


de remunerar a Requerida pelos serviços prestados, consoante
cláusula ______, senão vejamos.(Colocar a cláusula do contrato
referente)

Do valor contratado, o Requerido ficou devendo


23
R$____________, que se recusa a pagar alegando que a Reque-
rente prestou serviço inadequado.

No entanto, a queda do muro se deu por imprudência e


negligência do proprietário Requerido, que desrespeitou as medi-
das técnicas calculadas pelo arquiteto responsável pela obra, de-
terminando, por sua conta e risco, que a Requerente levantasse
mais alguns metros do muro, o que ocorreu.

A Requerente explicou para o Requerido que o muro iria


cair se fossem levantados alguns metros a mais, e mesmo saben-
do que poderia ocorrer, mesmo assim determinou que se subisse
mais um pouco o muro.

Acontece que o muro caiu, e agora o Requerido se recusa


a pagar a mão-de-obra prestada pela Requerida, que prestou de
acordo com o que o Requerente havia solicitado.

O Código Civil dispõe que os contratantes são obrigados


a guardar a conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de boa fé, senão vejamos:
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar,
assim na conclusão do contrato, como em sua exe-
cução, os princípios de probidade e boa-fé.

Evidenciada está à má-fé por parte do Requerido, pois


24
determinou que o muro fosse levantado, e agora que caiu, quer
alegar descumprimento contratual por parte da Requerente. Esta
pode provar através de testemunhas que o levantamento do muro
foi em decorrência de ordem do Requerido.

Prova indelével do que se intenta asseverar, encontra-se


na oportuna alusão perfectibilizada por André Comte-Sponville, em
seu pequeno tratado das grandes virtudes, que não nos furtamos
de reproduzir:

“como a fidelidade ou a coragem a boa-fé tampouco é uma


virtude suficiente ou completa. Ela não substitui a justiça nem a
generosidade, nem o amor. Mas que seria uma justiça de má-fé?
Não seriam justiça, nem amor, nem generosidade, a não ser que
corrompidos à força da hipocrisia, de cegueira, de mentira. Ne-
nhuma virtude é verdadeira, ou não é verdadeiramente virtuosa sem
essa virtude da verdade. Virtude sem boa-fé é má-fé, não é virtu-
de. (pág. 215)” (grifos nossos).

Deveras, o lanço doutrinário trazido à ribalta, faz nascer


na alma do cultor do Direito que a boa-fé é a pedra de toque da
conduta humana, e tão importante e amplo são os seus domínios,
que não se pode conceber qualquer virtude, descartando sua pre-
ciosa presença.

Em havendo quebra dos deveres contratuais, o novo Có-


digo Civil brasileiro impõe a imediata reparação, tanto material
25
como moral, uma vez presente o necessário prejuízo, não sendo
crível qualquer descrimen no que concerne a prestações diretas
ou indiretas, visto que ambas encontram-se imantadas pelo vetor
axiológico da boa-fé objetiva.

Do vocábulo boa-fé, brota o sentido de fidelidade, ou seja,


confiança, enfim, fé, virtude nobre que nos tempos modernos se
encontra cada vez mais ausente no relacionamento humano, e que
o autor, das presentes linhas, ainda deposita na humanidade, aca-
lentando o sonho de sua transformação.

III-DO PEDIDO.

Ante o exposto, requer digne-se Vossa Excelência:

A citação do Requerido, para que no prazo legal, apresen-


te sua defesa, sob pena de revelia;

A procedência da presente ação, para condenar o Reque-


rido ao cumprimento do presente contrato de prestação de servi-
ço, com o pagamento de R$______________, devidamente atua-
lizado.

Protesta por todos os meios de provas admissíveis em


direito, inclusive a testemunhal que será arrolada oportunamente;

Que seja condenado o Requerido ao pagamento dos ho-


26
norários advocatícios, nos termos da Lei 9099/95.

Dá-se a presente causa o valor de R$_______________.

Nestes termos

Pede deferimento

(Local, Data)

_____________

ADVOGADO

OAB____

4.5. AÇÃO ORDINÁRIA DE REVISÃO CONTRATUAL

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA


_____VARA CÍVEL DA COMARCA DE____________
27

_______________,(Qualificação) portador da CI. Com o


RG nº. ________________, por seu procurador judicial que ao fi-
nal assina, advogado regularmente inscrito na OAB/PR n.
_________, com escritório profissional à ____________, onde
recebe avisos e intimações, vêm respeitosamente perante Vossa
Excelência, com fulcro nos artigos 6º, VIII, e 51, IV, § 1º, I, da Lei nº
8.078/90, e art. 4º, I, do CPC, ingressar com a presente

AÇÃO ORDINÁRIA DE REVISÃO CONTRATUAL com pedido


de repetição de indébito

em face de ____________, (Qualificação), inscrita no


CNPJ/MF n. ____________, com sede à ___________________,
na cidade e comarca de ________, pelos fatos e fundamentos a
seguir expostos:

O autor adquiriu junto à empresa ré um crédito no valor de


R$__________. Ocorre que, o mesmo foi sendo pago periodica-
mente, até atingir o estado de quitação. Porém, qual não foi a sur-
presa do ora autor, ao se deparar com o totalização do valor pago,
isto é, R$_________. Quer dizer, o autor pagou R$_______ aci-
ma do valor inicialmente contratado, qual seja, R$_________.

Temos como certo que, o ora autor não depositou algu-


28
mas parcelas nas datas estipuladas e por isso acarretou uma sé-
rie de cobrança de juros, mas também sabemos que a cobrança
do juros não pode ser abusiva de tal forma que prive o devedor de
condições mínimas de pagamento e de sua subsistência, além de
gerar uma imensa incerteza no quanto deve pagar.

Nesta esteira, conforme planilha demonstrativa já


colacionada(em anexo) elaborada por uma perícia contábil, com
as devidas correções e juros aplicados, notamos uma discrepân-
cia em relação ao valor cobrado pela empresa-ré. Explico: o autor
recebeu da empresa-ré o valor de R$_______, sendo que todo
mês deveria ser pago R$________, até atingir a quitação final do
débito. Porém, devido a complicações financeiras o autor foi obri-
gado a pagar de forma irregular, isto é, pagava um valor “a menor”
certo mês e compensava “a maior” no outro mês. Desta feita de
acordo com a perícia contábil(em anexo) realizada no dia
__________, Contudo, no dia __________ teria sido quitada a
dívida, incluindo os juros e correções monetárias devidas, e ainda,
teria pago a maior o valor de R$_______. Absurdo!!

Desta forma, para não ver seu nome incluso nos órgãos
de restrição de crédito o autor continuou a pagar os valores cons-
tantes dos boletos que recebia mensalmente, até finalizar a opera-
ção da empresa-ré, obtendo assim sua quitação(conforme com-
provantes em anexo). Ocorre que ao final do pagamento percebeu
que o valor pago avançava bastante naquilo que tinha recebido da
empresa-ré totalizando uma diferença exorbitante que totaliza
R$________. Verdadeiro absurdo!!!Juros exorbitantes!!!
29
Ora, fica claro, que a empresa-ré, valendo-se da sua con-
dição de fornecedor de crédito, passou a efetivamente espoliar o
autor com sua voracidade na cobrança de juros, taxas, multas, den-
tre outros débitos indevidos e desautorizados que lança em con-
tas corrente, com o que sequer podem contra-argumentar, a não
ser sujeitarem-se às imposições desse ente financeiro que sim-
plesmente leva à quebra qualquer pessoa, que infelizmente, ne-
cessitam recorrer às agências bancárias para tentar solver dívidas
e custear sua atividade.

DO CABIMENTO DA AÇÃO REVISIONAL

A Constituição Federal de 1988 preceitua que a lei não


excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito.1

O interesse de agir ou interesse processual previsto em


nosso ordenamento jurídico se resume no trinômio: necessidade,
utilidade e adequação do provimento jurisdicional.

A necessidade, por seu istmo, é a necessidade e utilida-


de do bem da vida que se quer. A possibilidade jurídica do pedido
decorre da não vedação do pedido pela ordem jurídica vigente. A
legitimidade é a pertinência subjetiva da ação, na lição de BUZAID.

Nas palavras do jurista HUMBERTO THEODORO JUNIOR,

1
Art. 5, XXXV.
30
o interesse de agir:

“Surge da necessidade de obter através do processo a


proteção ao interesse substancial. Localiza-se o interesse proces-
sual não apenas na utilidade, mas especificamente na necessida-
de do processo como remédio apto à aplicação do direito objetivo
no caso concreto, pois a tutela jurisdicional não é jamais outorga-
da sem uma necessidade.”2

O Autor adquiriu um empréstimo junto a empresa-ré, sem


oportunidade de definir cláusulas e condições contratuais que
melhor lhe conviesse, ou seja: não houve comutatividade nem
bilateralidade, mas IMPOSIÇÃO.

O referido pacto somente ocorreu devido ao momento


econômico que o país atravessa, sem perspectiva inflacionária, no
entanto, não sabia que as imposições tornar-se-iam excessivamen-
te onerosas, o que pode ser aferido mediante os cálculos acosta-
dos na presente, que demonstram um pagamentos a maior reali-
zados pelo Autor.

Assim o cabimento da ação revisional, cumulada com os


demais pedidos, é inconteste, pois o atual Código de defesa do
Consumidor garante a modificação das cláusulas contratuais que
estabeleçam prestações consideradas desproporcionais e sua
conseqüente revisão (art. 6º, V).

2
Revista Brasileira de Direito Processual, Uberaba, Vol. 13/39.
31

O CDC permite sejam declaradas nulas cláusulas que es-


tabeleçam obrigações iníquas, abusivas e incompatíveis com a boa-
fé e a eqüidade, e que ofendem princípios fundamentais do siste-
ma jurídico atual.3

O interesse processual neste caso foi reconhecido pelo


Superior Tribunal de justiça, como se vê:

“Incidindo a incerteza sobre uma relação jurídica (...), ge-


rando a lide latente ou potencial, manifestado o conflito de interes-
ses, para dirimir a dúvida e evitar a concretude do conflito, a Ação
Declaratória é idônea para sua finalidade, justificada por manifes-
to interesse jurídico (art. 4º, I, e parágrafo único, do CPC).”4

Frise-se que as portas do Poder Judiciário, por ordem


constitucional, estão sempre abertas ao jurisdicionado que teve,
ou tem conflito de interesses instalado com outrem, cuja autorida-
de judicial é a única a dispor do poder de conceder-lhe a outorga
requerida.

Assim, pretendem os Autores ver revisados todos os en-


cargos, taxas, tarifas e juros aplicados durante a movimentação
contratual, desde o início da contratação do empréstimo.

3
CDC, art. 51, IV, § 1º, I.1
4
RSTJ 69/204.
32
DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR(LEI 8.078/90)

A norma do Código de Defesa do Consumidor é perfeita-


mente aplicável à relação jurídico-contratual havida entre o tomador
do empréstimo bancário e a instituição financeira.

Destaque-se que as atividades realizadas pelas institui-


ções financeiras e bancos são mercantis.

O Regulamento 737, em seu artigo 19, §2º, considera


mercância, as operações de câmbio, banco e corretagem.

Já a Lei 6.404/76, em seu art. 2º, § 1º, determina que qual-


quer que seja o objeto, a companhia é mercantil e se rege pelas
leis e usos do comércio.

Desta forma, se todos os bancos são organizados sob a


forma de sociedades anônimas, eles exercem atividade comerci-
al, mesmo os bancos cooperativos como no presente caso.

Assim, não resta dúvida que o correntista se coloca na


exata situação de consumidor, pois conforme estabelece o artigo
3º, § 2º, do CDC:
33
Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de
consumo mediante remuneração, inclusive as de natureza bancá-
ria, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhistas (destaque inexistente no original).

Nas palavras de JOSÉ CRETELLA JÚNIOR:

“Toda a atividade de natureza bancária, fornecida no mer-


cado de consumos é classificada como serviço, suscetível, sim,
de ser objeto de relação de consumo, desde que remunerada.”5

No mesmo sentido, o Prof. ARNOLDO WALD, ensina que:

O campo de aplicação do Código de Defesa do Consu-


midor é amplo, abrangendo as atividades financeiras quer quanto
à prestação de serviços aos seus clientes, como na concessão de
financiamento para aquisição de bens. As atividades bancárias
estão inseridas no disposto no art. 3º, § 2º, do CDC.6

Conclui-se que o produto dos bancos é o dinheiro ou o


crédito disponibilizado ao consumidor (bem juridicamente
consumível), enquadrando-se, o mesmo como fornecedor.

Por ser consumidor final do produto oferecido pelos ban-


cos (prestação de serviços) as pessoas físicas e mesmo as jurídi-
cas se enquadram na definição de consumidores assim definido
pelo § 2º, do artigo 3º, do CDC:

5
Comentários ao Código do Consumidor, Ed. Forense, 1.992, pág. 16.
34

Consumidor nos termos do art. 2º do CDC, “é toda pes-


soa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final”. Sendo certo que o dinheiro é um bem consumível,
é evidente a qualidade de consumidor daquele que adquire em-
préstimo perante instituição financeira.7

Assim, os bens de consumo não são apenas os material-


mente consumíveis, mas os juridicamente consumíveis, como en-
sina NELSON NERY JÚNIOR.8

A Segunda Seção do STJ aprovou recentemente a Súmula


297, que dispõe:

O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às institui-


ções financeiras. (Precedentes: REsp nº 106.888-PR, 2ª
Seção, DJ de 5/8/02; ; REsp nº 298.369-RS, 3ª Turma, DJ
de 25/8/03, e REsp nº 57.974-RS, 4ª Turma, DJ de 29/5/
95).

6
Matéria publicada na Revista AJURIS nº 64/386-387, citada por JONAIR
NOGUEIRA MARTINS, na obra “Contra o abuso dos bancos. Uma ação especi-
al”.
Edição Graf Set Ltda., 1997, p. 18,
7
TRF 5ª R., AC 204.621, PE, 2ª T., Rel. Des. Fed. Petrúcio Ferreira, DJU
12.04.2002, p. 823
8
In Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, Forense, 1991, pp. 302-311.
35
A matéria restava em discussão apenas no âmbito do STF,
através da ADIn nº 2591 proposta pela FEBRABRAN, que fora
julgada recentemente, onde por maioria, os Eminentes Ministros
julgaram improcedente a ação proposta contra o § 2º do art. 3º do
CDC, reconhecendo definitivamente que os bancos sujeitam-se
às regras do CDC.

Para os Ministros do STF o CDC não veio para regular as


relações entre as instituições do Sistema Financeiro Nacional e
os clientes sob o ângulo estritamente financeiro, mas sim para dis-
por sobre as relações de consumo entre bancos e clientes.

Nesse sentido argumentaram que “não há como nem por


onde sustentar, convincentemente, que o CDC teria derrogado de
forma inconstitucional a Lei nº 4.595/64, norma sobre o sistema
financeiro”.

Para o Ministro Marco Aurélio o CDC não representa ris-


co ao Sistema Financeiro Nacional, destacando, inclusive, a cres-
cente lucratividade dos bancos para afastar o pensamento de que
o CDC repercutiu de forma danosa em relação aos bancos.

O Ministro Celso de Mello seguiu o mesmo entendimento


e ressaltou que a proteção ao consumidor qualifica-se como va-
36
lor constitucional. Para o Ministro, as atividades econômicas es-
tão sujeitas à ação de fiscalização e normativa do Poder Público,
pois o Estado é agente regulador da atividade negocial e tem o
dever de evitar práticas abusivas por parte das instituições ban-
cárias.

A Ministra Ellen Gracie, também entendeu que as relações


de consumo nas atividades bancárias devem ser protegidas pelo
CDC.

Assim, comprovado efetivo vínculo de consumo existente


entre os primeiros Autores (consumidores) e o banco Réu (prestador
de serviço de natureza financeira), deve ser declarada a existên-
cia da relação de consumo, devendo ser aplicada a norma expres-
sa no CDC, inclusive no que tange à inversão do ônus da prova.

DOS J U R O S / LIMITAÇÃO EM 12% - POSSIBILIDADE


CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - APLICAÇÃO DO ART.
51, IV E XV.

O banco Réu cobra na conta-corrente dos primeiros Auto-


res juros variáveis entre 5% chegando até 10% ao mês, ou seja,
taxa anual de até 120% e tais juros, lançados mês a mês, acresci-
dos de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que passam
a integrar o saldo devedor ocorrendo o anatocismo, ou seja, juros
sobre juros.
37
Já em relação aos contratos de empréstimos e capital de
giro, embora os primeiros Autores não dispunham de todos aque-
les que foram celebrados ao longo dos últimos anos (por isto é que
requer a intimação do Réu, ao final, para que os acoste), estes
foram refeitos a juros que variam entre 5% a 6% a.m., bastando
para isto ver os percentuais lançados nas planilha discriminada de
cálculo acostadas á presente.

Ressalte-se que a impossibilidade de pagamento também


se devia aos débitos lançados indevidamente em conta-corrente,
gerando saldo insuficiente, quando na verdade o Autor poderia
quitar os primeiros débitos a juros subsidiados, não fossem os lan-
çamentos indevidos em suas contas-corrente que geraram débi-
tos em verdadeira “bola de neve”, conforme prova a perícia contábil
prévia elaborada e acostada à presente.

Apesar de ter sido suprimido por emenda constitucional o


dispositivo da CF/88 que limitava a taxa de juros reais em 12%
a.a., é sabido que independentemente da mencionada limitação,
a jurisprudência vem recepcionando entendimento de ser abusiva
a incidência de juros superiores a 12% ao ano.

Tal conclusão deflui da realidade econômica que o país


atravessa, sobretudo pelo crescimento vertiginoso da economia,
em razão da política de redução dos lucros a patamares reais.

A margem de lucro exorbitante que os bancos recebem —


38
só para Vossa Excelência ter uma idéia, recentemente, o Banco
Itaú S.A. apresentou sua margem de lucro: superou 3 bilhões de
reais somente de lucro líquido —, acaba por inviabilizar qualquer
atividade comercial.

Ao julgar a Apelação Cível nº 00.002959-9, da Comarca


de Joinville, o Des. Catarinense TRINDADE SANTOS, aprofundou
de vez o tema, ao decidir, em tom de desabafo:

Nessa conjuntura, não é possível admitir-se que as institui-


ções financeiras continuem a taxar os juros dos empréstimos que
fazem em índices irrazoáveis e totalmente inaceitáveis nos atuais
padrões da nossa economia, juros esses impossíveis de serem
atendidos pelos mutuários, cujas atividades econômicas mantém-
se reduzidas, com os salários e ganhos estabilizados, havendo
nítido empobrecimento de uma das partes com benefícios verda-
deiramente escorchantes para a outra.

A relativa estabilidade trazida pelo Plano Real está a de-


monstrar que nos contratos de adesão, unilateralmente impostos
os encargos excessivos, estes atingem a base do contrato, afe-
tando sua própria bilateralidade, sendo imprevisíveis os seus efei-
tos.

E, convenhamos: juros remuneratórios, à taxa mensal de


5,50%, como os impostos pela entidade bancária promovente da
ação monitória aqui ventilada, é convenção iníqua, abusiva, colo-
39
cando o consumidor ou seja, o cliente bancário, em desvantagem
exagerada, sendo, de outro lado, incompatível com os princípios
da boa-fé e da eqüidade que devem nortear todas as relações de
consumo.

Referentemente à limitação dos juros, em sendo assim,


deve-se tomar como foco centralizador, antes de tudo, o conteúdo
essencial dos contratos, conteúdo esse que deve ter por base nu-
clear o equilíbrio, a eqüidade e a comutatividade. Isso impõe ao
julgador repelir a abusividade e a excessiva onerosidade impos-
tas por uma das partes à outra, cabendo-lhe atentar para os princí-
pios inseridos, a respeito, no Código Civil e, mormente, no Código
de Defesa do Consumidor, identificando a cobrança de juros
extorsivos, estabelecendo-os, então, em limites razoavelmente
aceitáveis.

Há que se considerar, aqui, que as instituições financeiras


é que, via de regra, nas relações de crédito estabelecidas com os
usuários, definem unilateralmente as taxas de juros, taxas essas
inservíveis como justos indicadores de patamares aceitáveis, eis
que guardam eles relação apenas com os seus próprios interes-
ses, tornando preponderante a sua superioridade negocial, com o
fito de obterem uma alta lucratividade, em sendo o lucro o seu inte-
resse primordial.

Examinada a questão sob a óptica do art. 4º da Lei de


Introdução ao Código Civil, é de concluir-se que, num regime de
moeda estável e numa economia de tendência deflacionária, nem
40
a analogia, nem os costumes, nem os princípios gerais de direito
admitem a cobrança de juros anuais excedentes à taxa de 12%.

Pela analogia, há que se observar que, nos países indus-


trializados e de economia estabilizada, esses juros raramente ex-
cedem à taxa de 6% ao ano.

Tendo o nosso País vivido, por longos tempos, numa espi-


ral inflacionária verdadeiramente desenfreada, dela emergindo para
um regime monetário de relativa estabilização, mandam os costu-
mes que os juros acompanhem a taxa inflacionária desse regime.

Enquanto isso, aos princípios gerais de direito repugna a


iniqüidade, a violência econômica imposta pelos financeiramente
mais fortes aos menos privilegiados, a usura e os ganhos desme-
didos.

Pactuar-se com a cobrança de juros sem limite, mormente


em contratos de adesão, equivale a coonestar uma prática abusiva
totalmente divorciada da atual conjuntura econômica e dos precei-
tos do Código de Proteção do Consumidor, o que faz nula a cláu-
sula contratual chanceladora da cobrança de juros ilimitados e
vexatórios, como se constata na hipótese aqui sob apreciação.

A linha de compreensão que aqui se perfilha, funda-se,


acima de tudo, numa interpretação consumerista das cláusulas
41
inseridas no contrato que deu azo à ação monitória deduzida.

Isso por reconhecer-se a absoluta e premente necessida-


de da adoção de uma política judiciária que, em observância à
ordem jurídica estabelecida (art. 5º, III da CF/88), a ser utilizada
como um freio à verdadeira barbárie financeira que domina de for-
ma impune a política dos juros no país.

(...) As taxas de juros propostas pelo art. 1.062 do Código


Civil e pelo Decreto n. 22.626/33 se constituem em parâmetros
justos e aceitáveis para que se defina um limite para a cobrança
de juros, propiciando, ao mesmo tempo, uma razoável remunera-
ção às instituições financeiras e a asseguração, aos consumido-
res, de uma onerosidade adequada à sua posição contratual.

Sendo assim, nessa espécie contratual, nula é a cláusula


que preveja a fixação e a cobrança de juros superiores a 12% ao
ano, vez que a estipulação do preço do dinheiro encontra limite no
princípio da eqüidade retributiva dos negócios jurídicos de consu-
mo, com a abusividade negocial e a onerosidade excessiva de-
corrente da violação da taxa máxima caracterizando conduta de
lesa-cidadania, posto promover o enriquecimento ilícito do credor
e o simultâneo empobrecimento sem causa do devedor.”

Ora, a cobrança de juros acima do limite de 12%, ainda


que sob o manto da EC nº 40/03, foge do princípio da liberdade de
contratar, pois estabelece prestação desproporcional, iníqua,
42
abusiva e incompatível com a boa-fé, ofendendo por isso princípi-
os fundamentais do sistema jurídico atual, sobretudo o disposto no
art. 51, inciso IV e XV, do CDC, que dispõem:
São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e
serviços que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas,
abusivas, que coloquem o consumidor em desvanta-
gem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-
fé ou a eqüidade;
(...)
XV - estejam em desacordo com o sistema de prote-
ção ao consumidor;

Não há que prevalecer o disposto na EC nº 40/03, uma


vez que as normas insculpidas no CDC são de ordem pública e
prevalecem sobre as demais que contra ele se conflitam.

O princípio de Ordem Pública, insculpido no art. 4º da CF/


88, vincula tanto a Ordem Pública, quanto a Jurídico-Econômica,
como brilhantemente leciona JOSÉ GERALDO BRITO FILOMENO9
sobre o assunto:

(...) destaque-se que as normas ora instituídas são de or-


dem pública e interesse social, o que equivale dizer que são
inderrogáveis por vontade dos interessados em determinada rela-
43
ção de consumo, (...).

Desta forma deve ser reconhecida a nulidade da cobran-


ça de juros superiores a 12% ao ano, em atenção aos artigos su-
pra mencionados, sobretudo porque a jurisprudência dos nossos
tribunais, com precedentes recentes do TJRS, pacificou o entendi-
mento de que:

Os juros remuneratórios devem respeitar o limite de 12%


ao ano, ao contrário dos 9,90% ao mês pactuados, por aplicação
do art. 51, IV do CDC, e art. 192, § 3º, da Constituição Federal,
vigente na época da pactuação, em consonância com os ditames
do Decreto nº 22.626/3310

Os juros remuneratórios encontram-se limitados em 12%


a.a., pelos artigos arts. 39, V, e 51, IV, e § 1º, do CDC, e pelo art. 1º
do Decreto-Lei nº 22.626/3311

No mesmo sentido, colhe-se o seguinte entendimento:

Os contratos bancários encontram-se inseridos na exegese


da relação de consumo, seja pelo contido no art. 3º, § 2º, seja
pelas disposições do art. 29, ambos do CODECON.
Irresignação desprovida. Juros remuneratórios. Abusividade
e lesividade. Aplicação do CDC. Fixação do percentual em
9
Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do
Anteprojeto, 4ª Edição, Forense Universitária, pág. 23.
10
TJRS, APC 70005777008, 2ª C.Cív.Esp., Rel. Des. Antônio Vinícius
Amaro da Silveira, J. 02.12.03.
44
12% ao ano. A abusividade da cobrança de juros permite o
controle judicial do contrato, sob a égide do microssistema
do Código de Defesa do Consumidor. Limitação por analo-
gia ao critério legal.12

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em recente


decisão de lavra do Desembargador CLAUDIR FIDELIS
FACCENDA, assim se pronunciou sobre o tema:

JUROS REMUNERATÓRIOS.

Quanto aos juros remuneratórios, já era sabido que mes-


mo depois do pronunciamento do egrégio Supremo Tribunal Fe-
deral, expresso na antiga ADIn nº 4-7/DF, podiam ser pactuados
pelas partes interessadas, podendo ultrapassar os 12% ao ano, já
que a regulamentação da norma constitucional (art. 192, § 3º, da
CF) nunca foi feita. Competentes, por isso, dentro das regras
infraconstitucionais, o Banco Central e o Conselho Monetário Na-
cional para dizer das taxas.

Hoje, não há falar-se da regulamentação do § 3º, do artigo


192, da CF, diante da Emenda Constitucional nº 40, de 29 de maio
de 2003 que, além de alterar o referido artigo, revogou todos os
seus incisos e parágrafos, inclusive o terceiro que justamente ca-

11
TJRS, APC 70002078335, 9ª C.Cív., Rel. Des. Nereu José Giacomolli, J.
10.12.03.
12
TJRS, APC 70007506108, 12ª C.Cív., Relª Desª Naele Ochoa Piazzeta, J.
04.12.03
45
recia de regulamentação já que dispunha sobre o limite máximo
das taxas de juros.

Todavia, apesar da não limitação constitucional dos juros,


os contratos bancários não escapam do controle judicial via Códi-
go de Defesa do Consumidor. Este diploma, em vários dispositi-
vos, protege o consumidor hipossuficiente diante do sistema ban-
cário que, em razão do monopólio, impõe sua vontade no momen-
to de contratar. Os contratos, quase sempre de adesão, restam
firmados sem qualquer possibilidade de discussão por uma das
partes. Por isso, pontualmente, caso a caso, o judiciário está auto-
rizado a declarar a nulidade das cláusulas leoninas, abusivas, que
tragam onerosidade excessiva ao consumidor, nos termos do art.
51, inc. IV, do CDC

Não podemos olvidar que o Código de Defesa do Consu-


midor, ao prever a possibilidade de revisão das cláusulas que tra-
gam uma desvantagem excessiva para o consumidor, busca im-
plantar uma relação de eqüidade entre as partes.

Quando a taxa de juros for abusiva, mostra-se necessária


a intervenção do poder judiciário para que seja estabelecida uma
relação de equilíbrio entre o banco e seu cliente, onde não seja
imposta uma prestação por demais onerosa a este, ao passo que
isso não signifique uma perda excessiva àquele.

Assim, tenho que os juros remuneratórios devem ser limi-


46
tados com base na taxa SELIC, a qual é utilizada para remunerar
os títulos públicos e pagamento de impostos devidos à Fazenda
Nacional, de acordo com o disposto nos artigos 5º, §3º e 43, pará-
grafo único da Lei 9.430/96.

A taxa SELIC se constitui em um índice oficial que reflete


as condições momentâneas do mercado, de vez que a mesma se
decompõe em taxa de juros e taxa de inflação no período conside-
rado.

Ademais, a taxa é mensalmente divulgada pelo Banco


Central, sendo que a mesma garante ao banco remuneração igual
a dos títulos públicos. Assim, considerando que o governo é o agen-
te que apresenta menor risco, por conseqüência, a referida taxa
traduz um risco mínimo, o que faz com que nenhuma das partes
tenha prejuízo, mantendo-se o equilíbrio contratual.

Esse Eg. Tribunal de Justiça já decidiu nesse sentido:

JUROS REMUNERATÓRIOS. A incidência do CDC autori-


za a redução da taxa de juros, quando constatada
abusividade. Aplica-se, no caso, índice equivalente à taxa
Selic, em substituição àquela praticada pelo banco. (Apela-
ção Cível nº 70005282082, Décima Oitava Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: André Luiz Planella
Villarinho, julgado em 04/09/2003).

AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉ-


DITO PESSOAL. JUROS REMUNERATÓRIOS CALCULA-
47
DOS A TAXA DE 10,22% AO MES. TAXA INCOMPATÍVEL
COM A ATUAL REALIDADE SOCIÓ-ECONÔMICA DO PAÍS.
ABUSIVIDADE CARACTERIZADA. APLICAÇÃO DA TAXA
SELIC NO CASO CONCRETO.[...](Apelação Cível nº
70003264553, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Redator para acórdão: Cláudio Augusto
Rosa Lopes Nunes, julgado em 24/10/2002). 13

No mesmo sentido:

Os juros estão limitados pelo art. 192 da Constituição Fe-


deral, pela Lei de Usura, c/c o art. 1.062 do Código Civil.

O Código de Defesa do Consumidor veio para cumprir


um preceito constitucional, sendo que a sua relação jurídica se
aplica a todos os contratos que geram relação de consumo e, em
especial, os bancários.

Ainda, acrescente-se que a taxa de juros deve ser limita-


da, em atenção à nova realidade sócio-econômica do país, advinda
da implementação do Plano Real, devendo o Tribunal interferir nos
contratos, para que sejam observados os limites da justiça e da
eqüidade.14

13
TJRS, Apelação Cível nº 70010388247, 16ª Câmara Cível, Comarca de Porto
Alegre.
48
Os juros estão limitados em 12% ao ano pelo art. 192, §
3º, da CF e pela Lei de Usura, além do que, cuidando-se de hipó-
tese de pactuação abusiva de juros considerada a conjuntura eco-
nômica atual do país, provocando onerosidade excessiva em de-
trimento do consumidor, deve ser nulificada a respectiva cláusula,
com aplicação do disposto no art. 51, IV e parágrafo 1º, inciso III,
do CDC, considerada a nova ordem pública instalada com o Pla-
no Real.15

Desta forma, deve ser declarada a nulidade da cobrança


de juros acima de 12% a.a., por aplicação do art. 51, IV e XV, do
CDC, devendo ser revisada a contratação na conta-corrente e tam-
bém nos contratos de empréstimo, de limite de crédito, e desconto
de títulos, fixando-se os juros em 1% ao mês.

DOS J U R O S / LIMITAÇÃO EM 12% - POSSIBILIDADE


DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA ANALOGIA

Os contratos firmados entre as partes têm como base jurí-


dica a eqüidade e o equilíbrio dos contratantes, mesmo tendo a
onerosidade ínsita a sua natureza.

Nesse ínterim, cabe ao Estado-Juiz resguardar aqueles

14
TAPR, Ap. Cível 0169466-4, Desembargador Manassés de Albuquerque, 8ª
Câmara Cível, j: 07/05/01.
15
TAPR, Ap. Cível nº 0265502-1, Rel. Desembargador Hélio Henrique Lopes
Fernandes Lima, j. 31.8.04, DJ 6712.
49
caracteres, exercendo a função social da judicatura.

Assim nos termos do art. 4º da Lei de Introdução ao Códi-


go Civil a base legal para a limitação dos juros acima apontada, in
verbis:

“Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo


com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.”

Têm-se que nenhuma das fontes do Direito admite que as


instituições financeiras façam incidir nos contratos entabulados com
seus clientes taxas de juros superiores a 12% ao ano.

O próprio art. 192, § 3º, da CF/88, alterado pela EC 40/03


é omisso neste sentido, dizendo apenas que depende de lei com-
plementar neste sentido.

A respeito do tema, a lição do mestre Pontes de Miranda:

Se a permissão de juros há de ser a regra, nem por isso


há de o Estado permitir os juros extorsivos que levam à exploração
do trabalho humano para a ganância dos usurários(...)16

O colendo Superior Tribunal de Justiça tem o seguinte en-


tendimento:

A revisão da taxa de juros é uma possibilidade que decor-


re do direito de o contratante submeter ao juiz toda a questão que
envolva a alegação de abusividade de cláusula contratual.17
50

Nesse sentido, as regras do CDC vieram, corroborando o


acima exposto, acoimar de nulidade as cláusulas abusivas
inseridas em contratos de adesão, como nos presentes autos, que
causam excessiva onerosidade, a teor de seu artigo 51, inciso IV:
São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e
serviços que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas,
abusivas, que coloquem o consumidor em desvanta-
gem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-
fé ou a eqüidade;

Não há que se questionar o caráter de adesão do contrato


em tela, pois as cláusulas foram prévia e unilateralmente
estabelecidas pela instituição financeira Ré, não deixando aos
consumidores, Autores, qualquer possibilidade de negociar os ter-
mos da contratação.

No caso em tela, não há que se furtar à desvantagem do


Autor frente à instituição financeira, pois o crédito contratado foi
por demais remunerado desde que a conta foi aberta, devendo

16
Tratado de Direito Privado. São Paulo : Revista dos Tribunais. 3ª ed. 2ª
reimpressão. Tomo XXIV. p. 18
17
REsp n. 164.345/RS, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. em 12.05.98.
51
ser devolvido todo valor pago a maior, qual seja, R$________, sob
pena de privilegiarmos o enriquecimento indevido.

Esta é a linha de entendimento do Egrégio tribunal de Jus-


tiça de Santa Catarina:

Sendo assim, nessa espécie contratual, nula é a cláusula que


preveja a fixação a cobrança de juros superiores a 12% ao
ano, vez que a estipulação do preço do dinheiro encontra li-
mite no princípio da eqüidade retributiva dos negócios jurídi-
cos de consumo, com a abusividade negocial e a onerosidade
excessiva decorrente da violação da taxa máxima caracteri-
zando conduta de lesa-cidadania, posto promover o enrique-
cimento ilícito do credor e o simultâneo empobrecimento sem
causa do devedor.18

No mesmo sentido tem decidido o colendo Tribunal do


Estado do Rio Grande do Sul:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL DE RELAÇÃO


CONTRATUAL - LIMITAÇÃO DOS JUROS
REMUNERATORIOS E MORATORIOS - CAPITALIZAÇÃO
DOS JUROS - APLICABILIDADE DO CDC.

Os contratos bancários estão sujeitos ao Código de Defe-


sa do Consumidor, sendo passível de revisão cláusulas
abusivas. Nos contratos bilaterais sinalagmáticos os juros
remuneratórios abusivos devem ser limitados a 12% ao ano,
em face da relativa reciprocidade que deve haver entre as

18
TJSC, Ap. Cível 2000.002959-9, de Joinville, Des. Trindade Santos.
52
obrigações dos contratantes. Juros moratórios.

Quantum que não pode ultrapassar o limite de 12% ao ano.


A capitalização mensal dos juros só é permitida nas notas
de crédito comercial, rural ou industrial, e desde que ex-
pressamente pactuadas.19

Destaque-se que a percentagem adotada para limitar os


juros remuneratórios, não foi estabelecida aleatoriamente, mas sim,
consubstanciada em dispositivos legais que indicam ser a mesma
adequada para remunerar o capital objeto de contrato de mútuo.

Veja que o Código Civil de 1916, em seu art. 1.062, já


indicava a aplicação dos juros remuneratórios no máximo de 12%
ao ano.

Além disso, o novo Código Civil, no artigo 591 c/c art. 406,
que remete implicitamente ao art. 161, §1º do CTN, indicam aque-
le mesmo índice.

Cabe destacar neste ponto, a lição de Tereza Ancona


Lopes, quando comenta o art. 591 do CC:

19
TJRS, Ap. Cível n. 70005864616, de Porto Alegre, Rel.: Des. Victor Luiz
Barcellos Lima, julgado em 23/03/2004.
53
A grande questão nesse ponto é definir-se se os bancos es-
tão ou não sujeitos ao limite fixado pelo artigo em questão
quanto à cobrança de juros. Ou seja, impõe-se analisar se a
cobrança de juros no mútuo bancário está limitada à taxa fi-
xada no art. 591.

A partir da análise do referido artigo é possível inferir que


os bancos estão sujeitos à taxa nele fixada, uma vez que ele, ex-
pressamente refere-se ao mútuo destinado a fins econômicos (...),
sendo que, certamente, as atividades desenvolvidas pelos bancos
destinam-se a fins econômicos.

Em sendo assim, os juros cobrados pelos bancos, sejam


eles remuneratórios ou moratórios, não poderão exceder, sob pena
de redução, à taxa a que se refere o art. 406, permitida, todavia, a
capitalização anual.20

Diante disso, conclui-se que juros compensatórios de 12%


ao ano são suficientes para remunerar o valor concedido através
de um mútuo bancário.

Desta forma, deve ser revista a contratação, desde o seu


início, tendo em vista a abusividade do encargo exigido pelo cre-
dor, que supera em muito os 12% ao ano, pois se traduz em obri-
gação abusiva frente as normas estabelecidas no Código de De-

20
in Comentários ao Código Civil, coordenação de Antônio Junqueira de Azeve-
do, v. 7, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 179.
54
fesa do Consumidor.

DOS J U R O S - TAXA EXCEDENTE A 12% -NECESSI-


DADE DE AUTORIZAÇÃO DO CONSELHO MONETÁRIO NACI-
ONAL

Verifica-se nos extratos de conta corrente dos primeiros


Autores, bem como nos contratos acostados à presente que o ban-
co requerido cobrou durante a movimentação financeira, de capi-
tal de giro e empréstimos, juros pré-fixados acima de 12%.21

O Egrégio Superior Tribunal de Justiça tem decidido que


o banco que pretende cobrar juros acima do previsto no Decreto nº
22.626/33 e também da EC 40/03, deve provar que está autoriza-
do pelo CMN, pois somente assim tem aplicação a Lei nº 4.595/
64, artigo 4º, inciso IX, que permite às instituições financeiras a
prática de juros acima do previsto na lei.

Ocorre que o banco não possui autorização para cobrar


juros excedentes ao limite de 12%, ou não provou que está autori-
zado para tanto.

Sobre esse assunto já decidiu o TARGS na ap. Cível nº


194.064226:

“O banco não comprovou e nos autos não existe prova obje-


tiva e material de que o mesmo estava autorizado a praticar

21
Média de 7% ao mês, ou 126% a.a.
55
a taxa de juros incidente, na sua formação complexiva, de
juros e correção monetária”.

“Então, afastado, no caso, o aspecto da limitação constituci-


onal a inconformidade do apelante não merece acolhimento,
devendo prevalecer a taxa de juros no percentual de 12% a.a.,
com base no art. 1º da lei de usura e com suporte nos prece-
dentes do STF antes apontados, porquanto o exeqüente ape-
lante, não comprovou nos autos que estava autorizado pelo
Banco Central do Brasil a praticar taxas de juros incidentes.”

Essa tese foi sufragada pelo STJ, como se infere do julga-


do de lavra do Min. RUY ROSADO DE AGUIAR, quando do julga-
mento do Resp. 207604/SP, publicado no DJU de 16.08.1999, p.
75:

JUROS. LIMITE. SÚMULA 596/STF. CAPITALIZAÇÃO. Re-


curso conhecido para permitir a cobrança de juros de 12%
a.a., sem capitalização em face da peculiaridade do caso.

Extrai-se do voto do relator:

O v. acórdão recorrido aceitou a tese de que o banco cre-


dor pode cobrar a taxa que estipular, de acordo com o que consi-
derar seja a taxa do mercado.

Penso que essa liberalidade não está de acordo com a


lei, que submete as instituições financeiras ao que for determina-
do pelo conselho monetário nacional. De acordo com os prece-
dentes desta turma, para cobrar juros acima da taxa legalmente
prevista, seja no Código Civil, seja na Lei de Usura (dec. n. 22.626/
56
33), a instituição financeira deve demonstrar estar a isso autoriza-
da pelo conselho monetário. Na espécie, pelo que se pode ver do
extrato de fl. 21, juntado pelo credor, no mês de novembro de 1995,
há lançamentos de juros de 2% ao dia sobre o saldo devedor, ca-
pitalizados diariamente. é difícil de acreditar que naquela época,
com inflação reduzida, o CMN tenha autorizado o banco a cobrar
esses juros, e de modo capitalizado.

No mesmo sentido:

A taxa de juros está limitada, pelo Código Civil (art. 1.062)


e pela Lei de Usura (Dec. 22.626/33, art. 1º) sendo de 6% ao ano
para os juros legais, e de 12% ao ano para os juros convencionais.

As instituições que integram o Sistema Financeiro Nacio-


nal podem cobrar juros acima desses limites, fixados pelo Conse-
lho Monetário Nacional (art. 4º, inciso IX, da Lei 4.595/64; Súmula
596/STF).

Para praticar juros acima dos limites legais, o credor deve


demonstrar nos autos a existência de autorização da autoridade
financeira (CMN), bastando para isso a indicação da resolução
que a contenha.

Ainda:

De acordo com os precedentes desta Turma, para cobrar


57
juros acima da taxa legalmente prevista, seja no Código Civil, seja
na Lei de Usura (Dec. n. 22.626/33), a instituição financeira deve
demonstrar estar a isto autorizada pelo Conselho Monetário Naci-
onal.

(...) esse requisito (a autorização do Conselho Monetário


Nacional) exsurge como elemento constitutivo do direito da insti-
tuição bancária de cobrar os juros às taxas pactuadas, sendo cer-
to que, por isso, caberia ao exeqüente provar a existência do mes-
mo, exatamente por aplicação do artigo 333, inciso I do Código de
Processo Civil.

O E. Tribunal de Alçada do Paraná, em recente decisão,


também já se pronunciou sobre o assunto:

Juros remuneratórios. A ausência de autorização do con-


selho monetário nacional (CMN) para a cobrança destes juros con-
duz ao limite de cobrança de 12% ao ano.

Portanto, a cobrança de juros acima do limite legal que se


entende possível depois da edição da Lei 4.595/64, da qual é fruto
da Súmula 596/STF, ainda em vigor, está condicionada à existên-
cia da autorização do Conselho Monetário Nacional, pois é como
base no art. 4º, inciso IX, daquele diploma que o CMN pode limitar
a incidência das taxas de juros aplicadas no mercado.

Assim, deve a contratação ser revisada desde o início,


expungindo-se da conta-corrente, desde o início da movimenta-
ção, os encargos aplicados pelo banco, devendo seguir a regra
58
do disposto no Decreto 22.626/33, limitando-se os juros em 1%
ao mês.

DA IMPOSSIBILIADADE DE CAPITALIZAÇÃO DE JU-


ROS / ANATOCISMO

Verifica-se que o banco Réu, durante a movimentação


contratual, capitalizou os juros sob o manto de outras entidades do
Sistema Financeiro, em sentido totalmente contrário às normas de
peso constitucional.

Tal prática configura o chamado anatocismo, vedado pela


ordem jurídica.

A capitalização dos juros foi banida, ficando vedada sua


prática desde a promulgação da Lei de Usura (Decreto nº 22.626/
33), que modificou o disposto no antigo art. 1.262, do CC, culmi-
nando com a edição da Súmula 121, do STF.

A Lei nº 4.595/64, ainda que conferindo ao CMN o poder


de fixar os limites das taxas de juros e outros encargos, liberou as
instituições financeiras integrantes do sistema financeiro nacional
apenas das disposições relativas a taxas, e não no que concerne
à capitalização, que continua vedada.
59
Há que se ressaltar ainda, que a Súmula nº 596, do Pretório
Excelso, nem restaurou o art. 1.262, do Código Civil, nem revogou
a Súmula nº 121, do mesmo Tribunal. É mero esclarecimento da
aplicação das diversas correntes interpretadoras de um dado mo-
mento fático-jurídico da economia. Não se contrapõem nem se
anulam. São instrumentos do Direito, que devem ser utilizados de
forma inteligente e consoante.

O Egrégio SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, no julga-


mento do Recurso Especial nº 59.416-2, da 4ª turma, relatado pelo
eminente Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO pacificou o entendimen-
to de que:

EXECUÇÃO - Instituição bancária credora. Capitalização


de juros. Inadmissibilidade (art. 4º, do Dec. 22.626/33 e enunciado
nº 121, da Súmula/STF).

A Lei 4.959/64 não afastou a vedação contida no artigo 4º,


da Lei de Usura, mostrando-se defeso o anatocismo mesmo nas
operações contratadas por entidades financeiras. Apenas nos ca-
sos em que lei específica a autoriza, a capitalização é admissível
(enunciado nº 93, da Súmula/STF).

Assim, a estipulação que dá ao banco o direito de capita-


lizar os juros é prova inconteste do caráter abusivo do contrato,
devendo sofrer podas por parte do Poder Judicial.
60
Especificamente sobre a capitalização de juros realizada
por instituição financeira, veja-se o entendimento do Superior Tri-
bunal de Justiça:

É vedada a capitalização mensal dos juros em contratos


bancários, pois, na hipótese, não existe legislação específica que
autorize o anatocismo, como ocorre com as cédulas de crédito
rural, comercial e industrial, sendo permitida tão-somente a capi-
talização anual.

Desta forma, deve a contratação ser revisada desde o iní-


cio, expungindo-se da conta-corrente a capitalização de juros co-
brada durante a movimentação contratual, eis que restrita apenas
aos casos previstos em lei, o que não ocorre no caso em tela.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA DA APLICAÇÃO


DO ARTIGO 6º, VIII, DA LEI 8.078/90

Conforme expresso no art. 6º, inciso VIII, do CDC é autori-


zado ao juiz proceder à inversão do ônus da prova, deslocando-o
do destinatário final de bens e serviços para o respectivo fornece-
dor, quando na direção do processo verificar a “verossimilhança”
da alegação ou a “hipossuficiência” do consumidor.

O referido benefício confere ao consumidor lesado a van-


tagem de não precisar provar o fato alegado, cabendo ao prestador
dos serviços o ônus de ilidir a presunção que milita em favor do
consumidor.
61

Essa inversão do ônus da prova nada mais é que um ins-


trumento eficaz para garantir a tutela jurisdicional efetiva ao consu-
midor, prevenindo-o dos abusos praticados pela parte forte na re-
lação judicial, garantindo a igualdade de condições entre o
hipossuficiente da relação (Autores) e o prestador de serviços (no
caso o Réu: ente financeiro que atua sob o pseudo argumento de
ser Banco de Crédito Cooperativo).

Nas palavras do jurista NELSON NERY JÚNIOR:

(...) como o CDC reconhece o consumidor como a parte


mais fraca na relação de consumo, para que se tenha isonomia é
necessário que sejam adotados certos mecanismos, como a in-
versão do ônus da prova, que trata desigualmente os desiguais,
desigualdade reconhecida e fundamentadora da própria lei. “A li-
teratura tem apontado como escopo maior do processo civil o
atingimento da igualdade efetiva, de fato, e não apenas e tão-so-
mente a igualdade jurídica.” Isonomia substancial é a palavra de
ordem, igualdade real para que se atinja o justo, inibindo litigantes
não eventuais, de perpetuarem suas práticas abusivas.

Como afirmado, há prova nos autos dando conta de que o


banco Réu capitalizou indevidamente os juros durante a movimen-
tação contratual.

Assim, estão presentes os requisitos para a inversão do


ônus da prova: há verossimilhança da alegação (os contratos de
62
empréstimo, os encargos abusivos e os constantes pagamentos
realizados diretamente na conta-corrente que impedem os Auto-
res de discutir o débito) e há hipossuficiência por parte dos Auto-
res face ao Réu.

Portanto cabe ao Réu elidir essa presunção que milita em


favor dos Autores (...)

Na jurisprudência esse assunto foi tratado com extrema


particularidade pelo Tribunal de Justiça de São Paulo:

PROVA - ÔNUS - INVERSÃO – CABIMENTO.

Inaplicabilidade do art. 333, I, do CPC, em face da prevalência


do artigo 6º, VIII, do CDC, por ser norma específica.92

Outro não foi o entendimento do TAPR:

A inversão do ônus da prova de que trata o Código de


Defesa do Consumidor dispensa este de provar deter-
minado fato, transferindo tal encargo ao prestador de
serviço ou fornecedor.

Assim, como o CDC inverteu ipso iure o ônus da prova,


deve ser deferida a inversão do ônus da prova, com fundamento
no art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, cabendo ao
banco ilidir a veracidade dos fatos alegados pelos Autores no que
diz respeito à aplicação ilegal da capitalização dos juros e demais
encargos estranhos aos contratos de crédito rotativo em conta-
corrente que resultaram em dívidas englobadas em Cédulas de
63
Crédito rural e Bancário.

DO CABIMENTO DA REPETIÇÃO DE INDÉBITO

Segundo o parágrafo único do artigo 42 do Código de


Defesa do Consumidor: “O consumidor cobrado em quantia
indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao do-
bro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e
juros legais, salvo hipótese de engano justificável”. Desta forma, a
cobrança indevida, cobrada a maior, no valor de R$________,
conforme calculo em anexo, deve ser restituída em dobro, isto é,
deve ser devolvido a quantia de R$__________.

Nesta esteira, vale ressaltar o entendimento jurisprudencial


sobre o tema posto a baila.Vejamos:

“REPETIÇÃO DO INDÉBITO. Prova do erro. Contrato ban-


cário.

É dispensável a prova do erro no pagamento de contrato


bancário para autorizar a repetição do indébito, pois há de
se presumir que o pagamento decorreu de exigência do
credor. Não é razoável considerar que tal pagamento a mais
tenha sido feito conscientemente pelo devedor, a título de
liberalidade concedida ao banco.

Recurso conhecido e provido para julgar procedente a ação


de repetição”. (DJ de 30.06.2003, p. 259).

Conclui-se então que, a empresa-ré deve devolver o valor


64
pago indevidamente, restituindo em dobro o autor para que seja
feito a devida justiça.

DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Diante de todo o exposto, lastreados nos fundamentos de


fato e de direito contidos nesta peça inaugural, pede-se a Vossa
Excelência digne-se:

Seja a pretensão do Autor julgada inteiramente PROCE-


DENTE para determinar a revisão da contratação existente entre
os primeiros Autores e o Réu, condenando-o ao pagamento dos
valores definitivamente apurados através de perícia contábil, cujo
valor por ora, com a dobra pleiteada e conforme fundamentação
trazida, é de R$ ____________, e, sucessivamente ou cumulati-
vamente:

2.1 declarar a nulidade das cláusulas contratuais que


fizeram incidir juros acima de 12% ao ano na conta-corrente e nos
contratos de empréstimo bem como de CÉDULAS DE CRÉDITO
RURAL e BANCÁRIA firmadas, por força do disposto no art. 51, IV
e XV, do CDC e Decreto 22.626/33; art. 4º do CC, e ante a ausên-
cia de autorização do CNM;

2.2 por conseguinte, declarar a ilegalidade da cláusu-


la que permite ao banco lançar diretamente na conta-corrente dos
65
primeiros Autores valores referentes às parcelas vencidas e não
pagas;

2.3 declarar a nulidade das cláusulas que estabele-


ceram a cobrança da capitalização dos juros, mandando escoimar
da contratação os valores pagos e cobrados a este título, o que se
fará na fase de liquidação de sentença;

2.4 declarar a ilegalidade da cobrança de outros en-


cargos cobrados pelos banco (tarifa de excesso de limite, tarifa de
cobrança, liberação garantida, tarifa custódia de cheque, tarifa PG
fornecimento etc., pois se tratam de cobranças abusivas, sem au-
torização do correntista, ilegais na visão do Eg. Tribunal de Justiça
do Paraná;

2.5 por fim, declarar a ilegalidade de outros encargos


(taxas) que o banco tenha aplicado sobre o saldo devedor, como
por exemplo, TR, TBF, comissão de permanência c/c correção
monetária, etc, substituindo-as pelo INPC, uma vez que as cláusu-
las do contrato devem ser interpretadas de maneira mais favorável
ao contratante;

2.6 se na apuração de valores em eventual perícia


houver saldo a pagar, declarar a responsabilidade dos primeiros
Autores pelo pagamento da diferença apurada;
66
2.7 se na apuração do valor houver saldo a receber
diferente do apresentado na inicial, declarar a responsabilidade
do Réu em pagar aos primeiros Autores a restituição da diferença
apurada, cujos encargos deverão obedecer a mesma taxa prati-
cada pelo banco durante o período de inadimplência, justamente
para impedir o enriquecimento sem causa d instituição financeira;

2.8 pago o saldo devedor eventualmente apresenta-


do ou restituído o crédito acaso existente, declarar o exato cumpri-
mento dos contratos;

2.9 declarar a nulidade da CÉDULA DE CRÉDITO


BANCÁRIO n. __________, vencida aos __________, no valor
de R$_________, face à sua iliquidez, incerteza e inexigibilidade,
nos termos da fundamentação trazida à presente;

3. ordenar a citação do banco Réu, na pessoa de seu re-


presentante legal, no endereço preambularmente declinado, me-
diante mandado para, querendo, no prazo legal, contestar a pre-
sente, sob pena de revelia;

4. reconhecer a aplicação do Código de Defesa do Con-


sumidor invertendo o ônus da prova, na forma do artigo 6º, VIII, do
CDC, por ser a Autora parte hipossuficiente na relação
consumerista;
67
5. ordenar ao banco para que exiba uma via de todos os
contratos firmados pelos autores, sendo eles:

5.1 cópia dos contratos, aditivos e dos extratos oficiais da


conta-corrente nº ___________, desde o início da operação da
conta até a última movimentação, com os lançamentos, amortiza-
ções, encargos aplicados e todos os índices utilizados;

5.2 cópia de todas as operações de empréstimos, de


CÉDULAS DE CR[EDITO RURAL; CÉDULAS DE CR[EDITO
PIGNORATÍCIO; CÉDULA DE CR[EDITO BANCÁRIO, e os lança-
mentos relativos às amortizações nas referidas contas-corrente,
para verificação dos lançamentos e amortizações realizadas, sob
as penas do art. 359 do CPC;

6. considerando a prevenção deste r. Juízo para apreciar


qualquer outra demanda conexa, dar ciência ao Distribuidor da
Comarca para remeter a este Juízo toda e qualquer ação objetada
entre as partes;

7. deferir aos Autores a produção de todos os meios de


provas admitidos em direito, protestando especialmente pela to-
mada do depoimento pessoal do representante legal do Requeri-
do, sob pena de confesso, ouvida de testemunhas, cujo rol será
68
apresentado na devida oportunidade processual, juntada posteri-
or de documentos, em especial a realização de prova pericial, con-
sistente em exame contábil, econômico e financeiro da contratação;
das amortizações realizadas, dos encargos cobrados, desde o
início da contratação, nomeando-se perito de confiança desse D.
Juízo;

8. com a procedência da demanda, pede a condenação


do banco Réu na assunção dos encargos sucumbenciais de direi-
to, especialmente honorários advocatícios a serem arbitrados por
V. Exa..

Dá-se à presente causa o valor de R$________.

Nestes termos,

Pede deferimento.

(Local, Data)

______________

ADVOGADO

OAB___
69

4.6. AÇÃO DE DANOS MORAIS – LEILÃO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREIO DO


_____JUIZADO ESPECIAL CIVIL DA COMARCA DE ________.

Autor: ________________

Requerida: _____________
70

_______________,(Qualificação), inscrito no CPF/MF sob


n.º ______________, residente e domiciliado na Rua
________________________, através de seu advogado, que ao
final assina, regularmente inscrito na OAB/PR _________, com
escritório profissional na ___________________________, vem,
com o devido respeito e acatamento, com fundamento nos artigo
5º, X da Constituição Federal e artigo 927 c/c 186 do Código Civil
e Lei 8078/90, perante Vossa Excelência, mediante os fatos e fun-
damentos adiante aduzidos, ajuizar:

AÇÃO POR DANOS MORAIS:

Contra _______________(Qualificação e endereço), pe-


los fatos e fundamentos jurídicos que passa a expor:

I-DOS FATOS:

O Autor viveu alguns meses de transtorno por arrematar


um veículo em um leilão promovido pelo _________.

O Autor arrematou um veículo o qual foi pago corretamen-


te, o pagamento foi feito mediante depósito em conta corrente,
cumprindo acertadamente com sua obrigação.

A empresa ________________ entregou o carro ao Au-


71
tor e ficou de repassar os documentos do veículo, pois os mesmos
não estavam prontos.

O Autor ficou meses aguardando a liberação dos docu-


mentos do veículo. Como o veículo foi arrematado na cidade de
São Paulo, e pelo fato do veículo não poder circular e pelo fato de
o mesmo residir na cidade de __________, o Autor teve que deixá-
lo na casa de sua tia na cidade de __________.

A partir daí começaram os transtornos do Autor. Ele rece-


beu a notícia de que sua tia não poderia mais guardar o veiculo em
sua garagem, pois estava se mudando para outra cidade.

Desesperado, o Autor entrou em contato com o


_______________,(empresa que realizou o leilão) para explicar
que precisava da liberação dos documentos do veículo o mais rá-
pido possível, pois o carro estava na rua e a qualquer momento
poderia ser furtado, danificado ou apreendido pela polícia, visto
que estava abandonado na rua e sem documentos. No entanto,
recebeu a mesma resposta, de que os documentos ainda não es-
tavam liberados.

Preocupado com a situação, e também pelo fato de não


estar conseguindo mais dormir, resolveu ajuizar uma ação contra o
______________, (empresa que realizou o leilão) objetivando a
restituição da quantia paga no veículo, conforme determina o arti-
go 18 da Lei 8078/90, visto que, já fazia mais de trinta dias que os
72
documentos não haviam sido liberados.

A r.sentença proferida pela magistrada do 3º juizado des-


ta comarca, entendeu que o ______________, (empresa que rea-
lizou o leilão) era parte ilegítima para estar figurando no pólo pas-
sivo da demanda, pois, segundo a magistrada, quem deveria figu-
rar no pólo passivo, para fins de responsabilidade, era o banco
_______________, ora requerida, vez que, o ______________,
(empresa que realizou o leilão) apenas prestou um serviço, isto é,
fez o leilão do carro apreendido pelo banco _____________. As-
sim, quem tinha o dever de liberar o documento era a Requerida.
Brilhante decisão!

Nesse ínterim, o Autor estava se desgastando com via-


gens para São Paulo, para poder saber se o carro ainda estava na
rua, se ainda não havia sido furtado ou danificado, pois como já
mencionado antes, o mesmo estava na rua. O Requerente afirma
que perdeu algumas noites de sono.

Acontece que o Autor recebeu o comunicado de que os


documentos do veículo já estão liberados, e que poderia buscá-
los.

O Autor desde o começo sempre quis que fosse resolvido


seu problema, tanto é que vai pegar os documentos e vai ficar com
o veículo.

No entanto, a sua angústia, os transtornos, sentimentos de


73
raivas, as noites de sonos perdidas, a angústia de ver seu proble-
ma resolvido, não podem simplesmente ficar esquecidos no tem-
po, pois a má prestação de serviço da Requerida trouxe-lhe um
sofrimento demasiado.

A Requerida não pode sair impune, pois ocasionou danos


morais ao Autor, e merece ser punida, para que não venha mais a
trazer sofrimento para os consumidores, intimidando-a a não mais
cometer esse tipo de prática abusiva.

Ocorre que ao efetuar a compra de um tênis para sua es-


posa, foi informado pela loja que não poderia estar comprando,
pois seu nome estava “sujo”, ou seja, constava uma pendência jun-
to à empresa ___________. Apesar de ter explicado que nunca
teve cartão da ____________, não conseguiu levar o tênis para a
esposa. Passou por uma situação constrangedora devido à
negativação do seu nome junto aos órgãos ao crédito.

Diante da situação, o Requerente resolveu procurar o


Procon, e depois da longa espera para ser atendido, o atendente
do órgão entrou em contato com a Requerida, porém não obteve
êxito, pois a Requerida continuou insistindo que o Requerente ha-
via utilizado o cartão de crédito.

O Requerente enviou um pedido de esclarecimento junto


ao setor de investigação, mediante Aviso de Recebimento, docu-
mento anexo aos autos, no entanto, a Requerida não lhe deu ne-
74
nhuma resposta, e seu nome ainda continua nos órgãos de restri-
ção ao crédito.

Agora, o Requerente encontra-se em uma situação deli-


cada, pois está com seu nome negativado por uma compra que
não realizou, precisa do seu nome limpo para estar parcelando
suas compras, vez que não pode estar comprando à vista os bens
que tem vontade, em razão de sua hipossuficiência econômica.

Relata que sentiu um sentimento de desgosto e humilha-


ção ao chegar em casa sem o tênis que fora comprar para a espo-
sa. Ao receber a notícia que seu cadastro não havia sido aprovado
e que não poderia estar fazendo a compra no crediário, ficou com
muita “vergonha” perante as pessoas que ali estavam comprando.

II-DO DIREITO.

Da Violação ao Código de Defesa do Consumidor

O Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 39, V,


proíbe expressamente que os fornecedores exigem dos consumi-
dores vantagem manifestamente excessiva, taxando tal conduta
como prática abusiva.
Art.39. É vedado ao fornecedor de produtos ou servi-
ços, dentre outras práticas abusivas:
[...]
75
V- exigir do consumidor vantagem manifestamente ex-
cessiva

Não há dúvida, que no presente caso, a inclusão do nome


do Autor nos órgãos de restrição ao crédito como forma de rece-
ber a suposta dívida é considerado como cobrança indevida, visto
que, o Requerente nunca contratou os serviços da Requerida. Está
claro que a intenção da Requerida é cansar o Autor, para que ele
acabasse pagando o suposto valor.

Esta prática é um dos fundamentos que pode servir de


fundamentação para condenar a Requerida a uma indenização
ainda maior, para que sirva de punição, intimidando-a a não mais
cometer esse tipo de prática abusiva.

Mostra-se que os serviços prestados pela Requerida são


inadequados, pois o serviço de SAC oferecido pela Requerida não
atingiu o fim realmente esperado. A Requerida não tem organiza-
ção no fornecimento dos serviços prestados. Houve violação ao §,
2º do artigo 20 da Lei 8078/90, senão vejamos:
§ 2º São impróprios os serviços que se mostrem ina-
dequados para os fins que razoavelmente deles se
esperam, bem como aqueles que não atendam as
normas regulamentares de prestabilidade.

Trata-se de responsabilidade objetiva, devendo a


Requerida ser responsabilizada pelos danos ocasionados ao Au-
tor, vez que agiu negligentemente, e em razão disso deve arcar
76
com prejuízos originados da inscrição do nome do Autor. Se a
Requerida tivesse consultado seu banco de dados, viria que se
trata de uma cobrança indevida.

Os consumidores não devem ser prejudicados pela má


prestação de serviços prestados pelos fornecedores.

Desta forma, restou comprovado a má prestação de ser-


viço por parte da Requerida, pois como dito anteriormente, o Autor
não nunca teve cartão de crédito da Requerida, razão pela qual
não efetuou as compras descritas nas faturas anexadas aos au-
tos.

Dos Danos Morais.

Com efeito, a redação do inciso X do artigo 5º da Consti-


tuição Federal é clara, e não dá margem a interpretação diversa:
“são invioláveis a intimidade, a vida priva, a honra e a imagem das
pessoas, assegurando o direito a indenização material ou moral
decorrente de sua violação”.

Consoante observa YUSSEF SAID CAHALI, o substrato


do dano moral é a honra. Di-lo o próprio art. 5º, X, da Constituição.
E o direito à honra, é traduzido por uma série de expressões com-
preendidas como princípio da dignidade: o bom nome, a família, o
prestígio, a reputação, a estima, o decoro, a consideração, o res-
peito1
77

Por outro lado, o crédito, na conjuntura atual, representa


um bem imaterial que integra o patrimônio econômico e moral das
pessoas (...)2. Isto porque todos que necessitam de financiamento,
fazer compra a prazo, emitir cheques, têm seu cadastro consulta-
do.

É de conhecimento público, outrossim, que todos que te-


nham restrições creditícias, ainda que tenham o pseudo devedor
os melhores motivos para discutir em juízo a validade da obriga-
ção são impedidos de exercerem normalmente suas atividades
financeiras, o que não foi diferente com o Autor, que teve, como já
explicado enormes transtornos, decepções e vexames.

Trata-se, evidentemente, de uma lesão que atinge valores


físicos e espirituais, a honra, ideologias, a paz íntima, a vida nos
seus múltiplos aspectos, a personalidade da pessoa, enfim, aque-
la que afeta de forma profunda os bens patrimoniais, mas que cau-
sa fissura no âmago do ser, pertubando-lhe a paz de que todos
nós necessitamos para nos conduzir de forma equilibrada nos tor-
tuosos caminhos da existência, como bem observa CLAYTON
REIS.3

E todos esses transtornos e pertubações são atribuídos


exclusivamente à conduta culposa ou dolosa da Requerida que,
em detrimento do Autor, efetuou lançamentos indevidos e tolheu-

1
CAHALI, Yussef Said. Dano Moral, 2º ed., São Paulo, Revista dos Tribunais,
1998, p. 396.
2
CAHALI, Yussef Said, obra citada, p. 358
78
lhe o crédito e macuou-lhe a honra com a ilegal negativação junto
ao sistema SCPC.

Teve o Autor, sem mencionar a humilhação a que foi sub-


metido, seu bom nome, reputação e imagem abaladas, tornando-
se vítima de dano moral.

O dano moral in casu é patente. JOÃO ROBERTO


PARIZATTO, em relação ao protesto indevido, isto é sem causa,
circunstância tão danosa quanto a inscrição indevida nos bancos
de restrição de crédito, observa que ocorrerá um dano à pessoa
física ou jurídica, afetando seu bom nome, sua reputação, sua mo-
ral, posto que com o protesto há comunicação ao SERASA, fican-
do o protestado impedido de realizar transações de natureza co-
mercial e bancária. Realizado o protesto, tal ato traz conseqüênci-
as negativas ao crédito e à idoneidade da pessoa que fica impe-
dida de contrair empréstimos bancários, financiamentos
habitacionais etc4 .

A conduta da Requerida não poderia, e não podem ser


albergada, eis que contrária ao Direito e ao entendimento dos Tri-
bunais:

TJMG – Número do processo: 2.0000.00.517955-1/000 (1)


– Relator: EDUARDO MARINÉ DA CUNHA – Data do
acórdão: 04/08/2005 – Data da publicação: 16/06/2005 –

3 REIS, Clayton. Avaliação do Dano Moral, Rio de Janeiro, Forense, 1998, p.


205
79
Ementa: INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL – JULGAMEN-
TO EXTRA PETITA – NÃO CONFIGURAÇÃO – NULIDADE
DA SENTENÇA – RESPONSABILIDADE CIVIL – REQUISI-
TOS – DANO – ATO ILÍCITO – CULPA – CONFIGURAÇAO
– MANUTENÇÃO INDEVIDA DE NOME NO SCPC – FIXA-
ÇÃO DE VALOR RAZOÁVEL.

No ordenamento jurídico pátrio há controvérsia doutrinária


e jurisprudencial na fixação do quantum indenizatório para ressar-
cimento dos danos morais decorrentes da responsabilidade civil,
posto não haver dispositivos legais específicos, sendo inviável o
critério para reparação dos danos materiais, diante da inexistência
de prejuízos que possam ser objetivamente calculados com base
no valor pecuniário do bem atingido.

No entanto, fundamental é que o Juiz de forma clara defina


se a indenização é fixada como ressarcimento ou punição. Se a
função da reparação civil foi entendida como ressarcimento ou
compensação, deverá estabelecer critérios objetivos, ainda que
de forma aproximada, para fixar o quantum indenizatório, o que
consiste em avaliar de forma não emocional, isenta e criteriosa as
circunstâncias do fato, o grau da culpa, a duração do sofrimento,
as partes psicológicas atingidas, as condições do ofensor e do
ofendido e a dimensão da ofensa.

Na avaliação das circunstâncias do fato, deve o Juiz efetu-


ar criteriosamente uma profunda análise de todos os elementos

4
PARIZATTO, João Roberto. Dano Moral, Edipa, 1998, p. 10 e segs.
80
probatórios constantes dos autos, evidentemente valorizando as
provas representadas pelos laudos periciais e por outros docu-
mentos, sopesando de acordo com seu livre convencimento as
demais provas, inclusive as testemunhais, para que possa proce-
der a uma avaliação das reais circunstâncias em que ocorreu fato
que representam o caso concreto posto à baila.

Em se tratando de danos morais, como é cediço, o dinhei-


ro não é capaz de desempenhar a função de equivalência como
ocorre nos danos materiais. Todavia, a reparação pecuniária cons-
titui um meio de atenuar, em parte, as conseqüências do mal expe-
rimentado, ao mesmo tempo em que serve a punir o agressor a
prevenir novas agressões.

Os critérios de fixação da indenização, urge frisar, devem


ser suficientes a conferir vigência ao artigo 948 do Cóigo Civil, e
neste ponto, é incisivo o escólo de YUSSEF SAID CAHALI:

(...) prevalecem os princípios gerais concernentes à res-


ponsabilidade do dano moral, resolvendo-se o seu arbitramento
no prudente e criterioso arbítrio do magistrado, e que levará em
consideração: as circunstâncias do caso concreto; o valor do título
protestado e as suas repercussões pessoais e sociais; a malícia,
o dolo ou o grau de culpa do apresentante do título; a concorrência
do devedor para que o protesto se verificasse; as condições pes-
soais e econômica das partes, levando-se em conta, não para ex-
cluir a responsabilidade, os antecedentes pessoais de
honorabilidade e confiabilidade do ofendido; finalidade da san-
ção reparatória, em seu caráter admonitório, para que a prática
do ato abusivo não se repita; as providências adotadas posterior-
81
mente pelo ofensor, visando atenuar as repercussões negativas
do protesto realizado, ainda que estas não se mostrem capazes
de fazer desaparecer a ofensa; a finalidade própria da vítima, mas
apenas proporcionar-lhe uma indenização compensatória da le-
são sofrida; as agruras sofridas pelo autor ao longo do penoso
processo )cancelamento do protesto) de limpar dos registros pú-
blicos e privados e pecha de “mau pagador”; o bom senso, para
que a indenização não seja extremamente irrisória ou simbólica,
mas que também não seja extremamente gravosa, de modo a
inviabilizar a sua execução ou representar, a um tempo, verdadei-
ro enriquecimento sem causa.”

É inegável que a indenização terá que apresentar prepon-


derantemente o caráter admonitório, especialmente no caso em
debate, posto que a conduta da Requerida foi sobremaneira mali-
ciosa, não hesitando em impor as restrições creditícias e se ne-
gando a retirá-las.

A respeito do tema, obtempera CLAYTON REIS:

Nessa ótica, o quantum a estimatori assume uma pos-


tura de penalização para o ofensor, em face da verda-
deira “agressão legalizada” que se perpetra sobre o seu
patrimônio. No geral, as pessoas irresponsáveis e in-
conseqüentes são materialistas, e sentem profundamen-
te quando parte do seu patrimônio é objeto de
substração para a compensação de danos por eles
perpetrados a ofensa aos bens extrapatrimoniais, ain-
da que o valor seja simbólico, ou então, mensurado
dentro de critério que nem sempre são os mais acerta-
dos. Todavia, a penalização nesse aspecto deve ser de
82
tal magnitude para que assuma uma postura de absolu-
ta condenação do ofensor, e não constitua apenas uma
penalização simbólica, porque neste caso ocorreria a
perda do sentido almejado pelo “mens legislatori”5

Entretanto, vale colacionar o entendimento de alguns Tri-


bunais pátrios que, em vista do tema, decidiram em valores que
possuíam efetivamente esse caráter punitivo.

RESPONSABILIDADE CIVIL DE BANCO – APONTE DO


NOME COMO DEVEDOR INADIMPLENTE – SERVIÇO DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO (SCPC) – DANO MORAL – ART.
5º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 – VALOR DA
INDENIZAÇÃO – Ação Indenizatória. Art. 5º, da Carta Mag-
na de 1988. Transgride a Constituição, de modo intolerável,
ainda porque a pessoa jurídica não obedeceu a convoca-
ção judicial para contestar a petitio, a entidade financeira-ré
em apontar o nome de sua correntista, dign e zelosa Pro-
motora Pública, no Serviço de Proteção ao Credito, que
preexiste somente para devedores relapsos de suas obri-
gações. Inobjetavelemente, a autora merece proteção à
honra, ao seu nome e respeito, não podendo ser ofendida
ou lesada na sua dignidade ou condição social, sem que tal
afronta não tenha um instrumento para proibir abusos des-
se Jaez. A Justiça está recheada de atitudes insólitas e,

5
A esse respeito, REIS, Clayton. Avaliação do Dano Moral, Rio de Janeiro,
Forense, 1998, p. 122, assevera, acerca da indenização por dano moral, que
“ O que se pretende é reprimir a ofensa, educar o ofensor, compensar o ofendi-
do,
criando assim um clima de satisfação para a vítima”
83
infelizmente, repetidas vezes. Demonstração insofismável
e clara de prejuízo moral sofrido pela autora, com reper-
cussão negativa à sua pessoa, situação a que a Câmara,
sensível ao problema e por entender mais consentâneo,
agasalhou o 1º apelo, em parte, para elevar a indenização a
300 (trezentos) salários mínimos, mantida no mais o v.
decisum de 1º grau. (IRP).6

O valor da condenação deve ser alto para impedir que a


Requerida cometa novamente o mesmo erro, e pelo fato também
de já ter havido um acordo judicial referente ao mesmo problema.

Vejamos o entendimento do STJ:

“... O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento firma-


do no sentido de que quanto ao dano moral não há que se
falar em prova, deve-se, sim, comprovar o fato que gerou a
dor, o sofrimento, sentimentos íntimos que o ensejam; pro-
vado o fato, impõe-se a condenação. Processo: 1523211900
– Origem: Curitiba – 2ª Vara Cível – Número do Acórdão:
13714 – Decisão: Unânime –Òrgão Julgador: 5ª CAMARA
CIVEL- Relator: Roberto de Vicente – Data de Julgamento:
Julg: 15/03/2005.

Ademais, o artigo 927 do Código Civil dispõe que aquele

6
TJRJ – AC 9725/98 – Reg. 190399) – 3ª C. Civ – Ref. Dês. Hudson Bastos
Lourenço – J 09.02.1999
84
que mediante ato ilícito causar prejuízo a outrem fica obrigado a
reparar. Assim, estando presentes os três requisitos para a con-
cessão da indenização por danos morais: o dano, o nexo de cau-
salidade e a culpa ou dolo do agente, fica o agente causador do
dano obrigado a repará-lo.

Desta feita, presentes os pressupostos para a indeniza-


ção por dano moral, devem-se ter como critério para a sua fixação
a situação econômica e social do Autor e da Requerida.

Ainda, em relação ao quantum indenizatório, forma-se o


entendimento jurisprudencial, mormente em sede de dano moral,
no sentido de que a indenização pecuniária não tem apenas cunho
de reparação do prejuízo, mas também caráter punitivo, pedagó-
gico, preventivo e repressor: a indenização não deve apenas re-
parar o dano, repondo o patrimônio abalado, mas também atua
como forma educativa ou pedagógica para o ofensor e a socieda-
de e intimidativa para evitar perdas e danos futuros.

III-DA INVERSAO DO ÔNUS DE PROVA.

Partindo do pressuposto de ser o Consumidor a parte


hipossuficiente nesta relação, e pelo fato de ser mais fácil para a
Requerida fazer prova de suas alegações, devido a tecnologia e
organização que possui, pugna-se, Vossa Excelência, pela aplica-
ção do artigo 6º, VIII do Código de Defesa do Consumidor, o qual
dispõe, “a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando,
a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
85
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências”.

IV-DA TUTELA ANTECIPADA.

Perfeitamente admissível à concessão da tutela antecipa-


da para que o Autor possa ver seu nome retirado do cadastro de
maus pagadores, em razão da má prestação de serviço da
Requerida.

Destarte, bem estribado o juízo no que tange à veracidade


dos fatos, que vêm representados por documentos, bem estribado
na doutrina e na jurisprudência, de onde exsurge o fumus boni juris,
sem qualquer sombra de dúvida, somente lhe resta apreciar os
demais requisitos para a concessão da tutela antecipatória.

Quanto ao fundado receio de danos irreparáveis, ou de


difícil reparação é de se salientar que os mesmos já vêm ocorren-
do, pois ainda sofre com seu nome negativado junto ao SCPC/
SERASA, não podendo efetuar compras em estabelecimentos
comerciais, e nem solicitar empréstimos, tudo em virtude da práti-
ca abusiva da Requerida que presta serviços sem uma organiza-
ção adequada.

Assim, pretende o mesmo que esse juízo, tudo bem apre-


ciado, lhe conceda, ab initio litis et inaudita altera pars, a tutela
antecipatória, pois revestida do fumus boni júris, no sentido de
determinar a retirada imediata de seu nome dos órgãos de restri-
ção ao crédito.
86

Como o fumus boni juris já está caracterizado e provado,


necessários se faz a atuação de Vossa Excelência para que con-
ceda os efeitos da tutela, determinando a Requerida retirar o nome
do Autor dos órgãos de restrição ao crédito SCPC/SERASA.

Indubitavelmente, os fundamentos expostos até aqui com-


provam a existência não da verossimilhança, mas de direito líqui-
do e certo do Autor de ver declarada a nulidade dos atos pratica-
dos à sua revelia pela Requerida e que importaram na sua inscri-
ção junto ao SCPC ou outro órgão onde existe lançamentos do
nome do Autor.

Fazer com que o autor espere todo o tramitar do feito, até


o trânsito em julgado da sentença, para só a partir daí ter obter as
providências que busca por intermédio da presente ação, cujo
deferimento necessita para satisfação de seus mais comezinhos
interesses pessoais e sociais, significaria aniquilar como interes-
se público.

Antes, pois, que o Autor, por obra e graça da ação nefasta


da Requerida, sofra novos e irreparáveis prejuízos econômicos,
morais e processuais, sem exercer antes o sagrado direito de de-
fesa e do contraditório, impõe-se a atuação firme e segura do Po-
der Judiciário.

V-DO PEDIDO.

Ante o exposto, pede-se a Vossa Excelência que se digne


87
em receber e conhecer a presente ação, julgando totalmente pro-
cedente a pretensão nela deduzida, para o fim de requer a con-
cessão da presente tutela “inaudita atera parte” e retirado o nome
do Autor dos Órgãos de Restrição ao Crédito, e para tanto requer:

a) A citação da Requerida para apresentar sua defesa sob


pena de revelia e confissão;

b) Seja declarado o cancelamento do débito existente en-


tre Autor e Requerida, ou seja, a inexistência de relação jurídica,
evitando assim a geração de outros débitos que porventura pos-
sam ser gerados;

c) A condenação da Requerida ao pagamento de


R$___________, a título de danos morais;

d) A inversão do ônus de prova nos termos da Lei 8078/


90;

e) Protesta por todos os meios de provas admissíveis em


direito.

Dá a presente causa o valor de R$_____________.

Nestes termos

Pede deferimento

(Local, Data)

_____________________

Advogado

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