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Teste de Português – 10.ºA/B


Dezembro 2015
TÓPICOS DE CORREÇÃO

Grupo 0
Partindo do teu estudo de Fernão Lopes, preenche, na tua folha de respostas, os espaços com
a informação adequada. (15 pontos)

Fernão Lopes terá nascido no séc. XIV Foi guarda-mor da Torre do Tombo e o primeiro cronista
oficial do reino. A Torre do Tombo, na altura situada no Castelo de S. Jorge mas entretanto
deslocada, continua a ser o arquivo nacional que guarda os documentos originais desde o séc. IX até
à atualidade. Foi o rei D. Duarte que encarregou Fernão Lopes de escrever as crónicas dos reis da
primeira dinastia bem como a de seu pai, o rei D.João I Esta crónica pode dividir-se em três partes,
sendo que a primeira narra a crise dinástica de 1383-1385 numa linguagem muito coloquial Os
protagonistas, personagens individuais, são, entre outros o Mestre de Avis ou D. Leonor Teles
Contudo é no dinamismo da descrição da personagem coletiva a arraia-miúda que Fernão Lopes
coloca toda a sua mestria como escritor. Terá sido o sucessor de Fernão Lopes, Gomes Eanes de
Zurara a terminar a crónica.

Grupo I
A
Lê o texto com atenção e responde às questões apresentadas.

D. João visita o Porto


1 Partio el-rei de Coimbra, como tinha ordenado, pera o Porto, que eram de ii dezoito
légoas, cidade onde nunca fora, nem em logar du a divisar1 pudesse. Esta cidade é situada junto
com o rio que chamam Doiro, na qual se fazem muitas e booas naaos e outros navios, mais que
em outro logar que no reino haja. (…)
5 Os desta cidade, sabendo que el-rei havia de viir a ela, fezeram-se prestes2 de o receber,
estabelecendo per mandamento que nenhum nom usasse de seu ofício e que todos, aquel dia,
cessassem dos acostumados trabalhos. (…)
As gentes da cidade, carecentes de todo nojo3, com novas e melhores vestiduras que cada
uum tinha, ferviam andando per toda a parte, trigando4 de se correger5 tam bem que nom
10 pudessem seer prasmados6. As ruas per u el havia de iir ataa os paços onde havia de pousar eram
estradas de ramos e froles e ervas de boons cheiros, de guisa que do chãao nom aparecia
nenhuma cousa. As portas das casas destas ruas eram todas abertas e enramadas de louro e
doutros frescos ramos; (…) E esto podiam bem fazer naquel tempo, ca era no mês de Maio;(…)
Aas janelas lançavom panos e mantas e outras roupas que afremosentavom muito as ruas, (…)
15 As janelas das casas todas eram ocupadas com fremosas donas e molheres de outra
condiçam, com grande desejo e amor de o veer, assi guarnidas7 de taaes corregimentos que
fealdade e maao parecer nom ousou naquel dia entrar na cidade. Em certos logares havia bandos
de molheres que cantavom muitas cantigas, e cordas armadas para treparem homens que o bem

1
du – de onde; divisar - avistar
2
fezeram-se prestes – aprontaram-se
3
carecentes de todo nojo – sem tristeza
4
trigando – esforçando-se
5
correger – enfeitar, arranjar
6
prasmados - censurados
7
guarnidas – ornamentadas, enfeitadas
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fazer sabiam quando el-rei ali chegasse. (…)


20 Aa porta per u el-rei havia de vir estavom muitos cidadãos honradamente vestidos com
guarnimentos de ouro e de prata, e muito outro pôboo fora, com a siina8 da cidade; uuns com
varas nas maãos para reger9 os jogos, logo que el-rei chegasse; outros pera irem em sua
companha ataa os paaços u havia de pousar. (…)
E, sendo todos assi aguardando, cada uuns em seu logar, apareceo a gente d’el-rei da
25 parte de aalém de Gaia (…) e os batées que andavom salcando pelo rio forom logo ali muito
prestes com grandes apupos10 e tanger de trombetas, mostrando grande ledice11, antre os quaaes
era uum grande e fremoso batel ricamente corregido e toldado em que el-rei havia de passar. E,
(…), começarom todos a vogar ao longo do rio, o d’el-rei deante, muito apendoado12 e outros
todos detrás que era gram prazer de veer. E aa porta de Miragaia, onde o estavom atendendo,
30 saio el-rei em terra per uuma larga e espaçosa prancha, onde o beijar da mão e mantenha-vo
Deos, senhor era tanto que nom podiam haver vez de comprir suuas vontades. E, depois de uum
boom espaaço que se nisto deteverom, falou uum cidadão a que desto era dado cárrego e disse:
- Senhor, tomae esta siina em vossas maãos, e per ela nos poemos em vosso poder, e vos
fazemos preito e menagem13 de vos servir com os corpos e haveres ataa despender as vidas por
35 honra do reino e vosso serviço.
El-rei, em quanto el esto disse, teve as maãos na hasta dela, dizendo que assi era ele
prestes para defender a vida e corpo por honra do reino e defensom deles, e que os havia por
boons e leaaes, e lhes faria muitas mercees quando lhe per eles requeridas fossem.
Entom começaram a reger suas danças e jogos, na quaaes mui ameúde em alta e clara
40 voz bradavom, dizendo: Viva el-rei Dom Joam! Viva!
El-rei iia muito passo14 pela cidade, ca nom podia doutra guisa, porque a gente era tanta
per tôdalas ruas polo veer que parecia que se queriam afogar; e as donas que estavom aas
janelas, falavom altamente que o mantevesse Deos muitoa anos e boons e que muita fosse sua
vida e booa, e outras taaes razoões: e em dizendo esto, lançavom de cima muitas rosas e froles e
45 milho e trigo e outras cousas. A qual festa e recebimento, desta guisa feito, demovia muitas
delas a reger suas fremosas caras com doces e prazives lágrimas. E assi foi el-rei levado, com
este prazer e ledice, aos paaços u havia de pousar; e as gentes se tornarom, festejando cada uuns
pera suas casas. (…)
Crónica de D. João I, Fernão Lopes

1. Atenta no primeiro parágrafo.


1.1 Dá conta da caraterização que o narrador faz acerca da cidade do Porto. (15 pontos)
Cidade situada na margem do rio Douro…famosa pela sua construção naval que é a melhor de
todo o reino…

2. Atenta na descrição que o narrador faz da cidade no terceiro parágrafo.


2.1 Mostra que o intenso visualismo, conforme ao estilo do autor, se pode verificar na descrição,
destacando as sensações e recursos expressivos predominantes. (20 pontos)
Sensações visuais e olfativas… muita cor e pormenor a descrever as ruas, as portas e janelas
muito enfeitadas e perfumadas com as flores de maio…. metáfora estrada de ramos e froles…
várias enumerações, por exemplo: de ramos e froles e ervas…comprovar com citações…

8
siina – bandeira, estandarte
9
reger - dirigir
10
apupos - gritos
11
ledice - alegria
12
apendoado – enfeitado com pendões
13
menagem – juramento de fidelidade
14
passo - devagar
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3. O texto apresenta-nos diferentes grupos de personagens.


3.1 Transcreve duas expressões identificativas de grupos que pertencem à “arraia – miúda”. (10
pontos)
As gentes da cidade – linha 5
bandos de molheres – linha 18
a gente – linha 41

3.2 Explicita de que forma as gentes da cidade evidenciam o seu prazer e ledice naquele dia
festivo. (20 pontos)
Todos festejam… as mulheres cantam e dançam… os homens preparam jogos…todos aclamam o
rei, lançando-lhe flores… ou dirigindo-lhe palavras de apreço… algumas mulheres choram de
emoção…comprovar com citações…

4. Classifica o narrador quanto à Presença e Ciência. Justifica. (15 pontos)


Narrador heterodiegético e omnisciente..

5. Tendo em conta o teu estudo dos acontecimentos narrados nesta crónica, explica as razões
desta tão grande alegria sentida pelo povo por este rei. (15 pontos)
D. João foi um rei escolhido pelo povo… durante a crise dinástica, foi o povo que aclamou o
Mestre de Avis, contrariando a posição de muitos fidalgos que defendiam a posição de D. Leonor
Teles e do rei D. João de Castela….referir o exemplo do apoio popular aquando da morte do
Conde Andeiro ou de toda ajuda do povo durante o cerco a Lisboa…

6. Identifica os processos fonológicos presentes na evolução das seguintes palavras: (10 pontos)
6.1 partio> partiu sinérese
6.2 viir> vir crase
6.3 aquel> aquele paragoge
6.4 froles> flores metátese

B (30 pontos)

Para além de um inquestionável valor literário, a poesia trovadoresca apresenta igualmente um


importante valor documental, na medida em que o quotidiano e a sociedade medievais surgem
claramente refletidos nos versos dos diferentes tipos de cantigas.

Partindo da tua experiência de leitura das cantigas de amor ou das cantigas de escárnio e maldizer,
desenvolve um pequeno texto, de oitenta a cento e vinte palavras, sobre essa sua importância
documental.
Cantigas de amor – o amor cortês… reproduz a relação de vassalagem entre o vassalo e o suserano,
suporte da organização social da Idade Média… a vida de corte …relações distantes e
artificiais…exemplos de textos…
Cantigas de escárnio e maldizer – a sátira caraterística de todos os tempos… a crítica a pessoas
(jograis…) … ao amor cortês…exemplos de textos…
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Grupo II (50 pontos)


Leia a crónica seguinte. Em caso de necessidade, consulte a nota apresentada a seguir ao
texto.

Casa de Papel
1 Chamar Casa de Papel a uma crónica em torno das coisas dos livros é já denunciar um
saudosismo romântico. Fica um tom melancólico no ar, uma poeticidade a mudar para antiga,
talvez um certo lamento. Não sou nada contra o livro digital e a maravilha que as tecnologias
oferecem. Mas sou do tempo do papel e sonhei com os livros de papel. Quando pensei ser
5 escritor, um livro assim abriu-se acima da minha cabeça imaginária como um telhado sob o
qual passei a habitar.
Guardarei sempre essa ideia, ainda que possa vir a ler em ecrãs sofisticados e frios. O
livro de papel, como o coração, é um símbolo. Habituei-me a conferir-lhe determinadas
mágicas que, por mais sofisticação que me assalte, não serão substituídas. O livro, esse de
10 folhas, pulsa. O livro pulsa.
As casas de papel são modos de pensar na tangibilidade do texto, na manualidade de
que ele dependeu para ser lido. São modos de pensar nos autores. Cada autor como um lugar e
um abrigo. Um lugar. Ler um livro é estar num autor. Preciso de pensar nos objetos para
acreditar nos lugares. Oh, nossa deslumbrante desgraça mudadora, não consigo sentir-me
15 bonito dentro de um Kindle, de um iPad ou de um Kobo. Penso em mim melhor numa coisa
entre capas. A ilustração sem pilhas. As letras sem pilhas. Eternas e sem mudanças. De
confiança.
Quantas vezes, estupefacto, abri um livro na mesma página para encontrar a mesma
frase da mesma maneira apresentada? E que prazer saber que a expectativa de que aquele
20 universo se preserve não sairia gorada, porque os livros de papel são estáveis, não pensam em
ser outra coisa senão por dentro das próprias palavras. Precisei muitas vezes de reencontrar
páginas específicas, com o seu grafismo cristalizado, o seu grafismo diamante, a
guardarem‑me o que não podia perder.
Amar um livro é pedir-lhe que seja sempre nosso, assim, como um amor que se
25 conserva para repetir ou reaprender. Como poderemos jurar fidelidade a um texto que se
desliga? É como não ter sentimentos, descansar na morte, não permanecer vivo enquanto
espera por nós. É infiel. Não o podemos sequer perfumar e eu tenho livros que me foram
oferecidos com aroma de buganvílias e canela. Gosto muito. Os leitores, sabemos bem, são
territoriais. Como os cães. Sublinhamos e não suportamos os sublinhados dos outros. Ainda que
30 toscos, mal alinhados, são a marca da nossa passagem por ali.
Valter Hugo Mãe, «Revista 2», Público,18 de novembro de 2012 (adaptado)

Nota iPad, Kindle, Kobo (linha 15) – dispositivos que permitem a leitura em formato digital.

1. Escolha a opção correta.

1.1. A ideia de que o «livro pulsa» (linha 10) opõe-se à ideia expressa em
(A) «casas de papel» (linha 11).
(B) «coisa entre capas» (linhas 15/16).
(C) «ilustração sem pilhas» (linha 16).
(D) «texto que se desliga» (linhas 25/26).

1.2. Relativamente ao livro digital, Valter Hugo Mãe revela uma atitude de
(A) relutância.
(B) intransigência.
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(C) rebelião.
(D) indiferença.

1.3. Na opinião do autor, o prazer da leitura de um livro de papel advém, entre outros aspetos, da sua
(A) imprevisibilidade.
(B) instabilidade.
(C) imutabilidade.
(D) impessoalidade.

1.4. Ao utilizar a interrogação retórica, na linha 26, o autor


(A) solicita uma informação.
(B) reforça uma opinião.
(C) introduz uma ideia nova.
(D) reformula um pedido.

1.5. Os tempos verbais dos verbos sublinhados em “por mais sofisticação que me assalte, não serão
substituídas” (linha 9) são, respetivamente
(A) presente do indicativo e futuro do indicativo.
(B) presente do conjuntivo e futuro do conjuntivo.
(C) presente do indicativo e futuro do conjuntivo.
(D) presente do conjuntivo e futuro do indicativo.

1.6. Os vocábulos «poeticidade» (linha 2) e «Kindle» (linha 15), são respetivamente


(A) palavra derivada por prefixação e empréstimo.
(B) palavra derivada por sufixação e empréstimo.
(C) palavra derivada por parassíntese e empréstimo.
(D) palavra derivada por conversão e empréstimo.

1.7. Na expressão «Oh, nossa deslumbrante desgraça mudadora» (linha 14), o autor recorre à
(A) trocadilho.
(B) metáfora.
(C) perífrase.
(D) ironia.

2. Responda de forma correta aos itens apresentados.


2.1. Classifique a oração «para acreditar nos lugares» (linhas 13 e 14).
2.2. Indique o antecedente do pronome que ocorre em «Não o podemos sequer perfumar»
(linha 27).
2.3. Identifique a função sintática do pronome pessoal sublinhado em «eu tenho livros que me
foram oferecidos» (linha 27).

VERSÃO 1 VERSÃO 2
1.1 D C
1.2 C A
1.3 C D
1.4 C A
1.5 A D
1.6 D C
1.7 C B
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2.1 Oração subordinada adverbial final


2.2 “um texto que se desliga”
2.3 Complemento indireto

A professora
Arminda Gonçalves

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