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Olmecas: O Elo Perdido das

Civilizações Mesoamericanas
Introdução:

Neste texto buscarei retratar o menos mal possível a uma Civilização


que a História praticamente ignora e cujas fontes são quase que
exclusivamente provenientes da Arqueologia: os Olmecas.
Primeiramente é interessante que se diga que se sabe tão pouco
sobre este povo que nem mesmo seu nome se pode precisar. Isso mesmo,
Olmeca não era o nome pelo qual este povo se reconhecia. Este nome está
perdido para sempre, apagado pelo tempo e soterrado pelos pântanos
mexicanos e pelas instalações do PEMEX, o equivalente da Petrobrás no
México.
Mas, se os Olmecas não tinham realmente este nome, porque são
assim chamados? A explicação é arqueológica. Na época Asteca, distante
cerca de 2000 anos da época retratada neste texto, os indivíduos que
habitavam a região na qual a cultura Olmeca se desenvolveu eram
chamados de Olmecas que, em Nahuatl (a língua dos Astecas), quer dizer:
Habitantes do País da Borracha. Isso porque naquela região existiam
muitos seringueiras, as árvores de onde é extraído o látex utilizado na
fabricação da borracha.
Por esse motivo, quando os arqueólogos descobriram vestígios desse
povo e concluíram se tratar de uma nova Civilização até então
desconhecida, resolveram utilizar o nome Asteca dos habitantes da região
para designar esta Civilização, sendo assim, quando se lê a palavra
Olmeca, deve-se tomar em conta o contexto na qual está escrita. Na grande
maioria das vezes ela se referirá aos Olmecas retratados neste texto, mas
em algumas poucas obras, em especial naquelas voltadas ao mundo
Asteca, ela pode se referir ao povo tributário e contemporâneo daquele
Império. Em todo caso, quaisquer adjetivos relacionados com a palavra
Olmeca estão, certamente, se referindo aos Olmecas tradicionais, os
referidos aqui.
Ao leitor deste texto recomendo ainda duas observações:
1ª) Tenha em mente que nenhum dos dados fornecidos aqui é
definitivo, afinal o estudo desta Civilização ainda engatinha se comparado
com o estudo de outras Civilizações Mesoamericanas como os Maias ou os
Astecas. Dessa forma, peço que me perdoem se futuramente ficar
comprovado que algo, ou mesmo tudo, neste texto estava incorreto, afinal,
dadas as referências até hoje encontradas, ainda existem aqueles que
sequer acreditam que os Olmecas foram uma Civilização. Para esses
indivíduos, este povo nada mais foi do que o início do mundo Maia.
2ª) Quero alertar a todos para o fato de que não sou um especialista
em América Pré-Colombiana. Escrevo este texto com a autoridade de quem
irá concluir seu bacharelado em História daqui a um mês e que, além de ser
interessado no tema, já escreveu três outros textos a seu respeito
(Tawantinsuyu: O Império Inca, Tlachtli: Esporte ou Ritual de Sangue?
e Astecas: Uma República confundida com Teocracia), mas não com a
mesma autoridade que teria um arqueólogo especializado no tema. Por
isso, quero ressaltar que ele é apenas um texto introdutório acerca deste
povo, sendo assim, mesmo que, a exemplo de Vikings: Mais que um
Povo, um Ideal, ele venha a ser um dos maiores textos em português a
esse respeito, isso não significa que será completo.
Finalmente, aos arqueólogos que porventura venham a ler este texto,
quero pedir, desde já, desculpas se não souber me expressar corretamente
nos termos de sua profissão ou, mais ainda, se em algum momento vier a
ofende-los com alguma colocação infeliz. Sinto-me obrigado a ressaltar que
a Arqueologia é, sem dúvidas, a maior contribuinte da História Antiga e,
dentro dessa linha está incluída a História da América Pré-Colombiana, a
qual não seria possível sem a dedicação, os acertos, e até mesmo os erros
dos vários Arqueólogos que, nos últimos 150 anos têm se embrenhado em
lugares por vezes insalubres ao extremo em busca apenas de
conhecimento. Por isso, aos arqueólogos: Obrigado.

1 – A Trajetória do Homem:

Segundo convenciona-se hoje, o Homem surgiu na África há, pelo


menos quinhentos mil anos. É certo que temos dezenas de ancestrais
Hominídeos, mas aquilo que chamamos de homo sapiens só a apareceu
por volta da data acima. Devido a fatores incertos, mas provavelmente à
busca por comida e aos conflitos entre os diversos bandos nômades, o
Homem pôs-se a caminhar, sem, contudo, nunca ter abandonado seu
continente materno.
Migrando, o ser humano conquistou a Europa, a Ásia, a Oceania, a
América do Norte e até a América do Sul, mas foi justamente em seu
caminho entre a América do Norte e a América do Sul que ele se
estabeleceu numa das regiões mais fascinantes do mundo: a Mesoamérica.
Foi apenas por volta de 30, ou 40, mil anos antes de Cristo que os
primeiros homo sapiens chagaram à América. Nesse período, a raça
humana ainda era nômade e estava, em alguns lugares, começando a se
sedentarizar. Processo iniciado em tempos diferentes nos diversos lugares,
mas cuja origem é a mesma, a descoberta da agricultura.
Os milhares de anos que separam a saída do Homem da África de
sua chegada à América foram provocando, segundo uma visão Darwinista,
uma certa diferenciação devida à adaptação da espécie ao clima ao qual
era submetida. Por isso é impossível dizer qual dos segmentos da espécie
humana é mais desenvolvido, uma vez que cada qual é proveniente de uma
diferente adaptação da espécie à natureza num tempo em que o homem
ainda não a havia vencido.
Foi justamente essa adaptação natural que fez dos Homens da
América os chamados “Peles Vermelhas”. Eles tinham feições orientais, ou
seja, olhos oblíquos (herança de sua saída, ainda não tão distante no
tempo, da Ásia) e faces quase ou totalmente imberbes, mas sua pele eram
mais escura devido a uma nova adaptação, ou seja, o sol e as dificuldades
Americanas fizeram com que os mais escuros se tornassem mais
adaptados numa época em que não existiam protetores solares.

1.1 – O Homem na América:

A teoria mais aceita para a chegada do Homem à América é a da


transposição do Estreito de Bering (entre Alaska e Rússia) durante a última
Glaciação, período no qual as águas entre eles estariam congeladas
possibilitando o caminho a pé. Esta teoria é facilmente aceitável, pois não
nos diz que o Homem necessitasse de outra tecnologia que não fossem as
peles dos animais abatidos para faze-los aquecerem-se. No entanto, até
mesmo os pássaros, que são irracionais, sabem que se você está no
hemisfério norte e caminha em direção ao norte, o clima fica cada vez mais
frio, sendo assim, é um tanto ilógico que o Homem, racional como é, tenha
seguido tal rota em busca de terras mais quentes e, dessa forma, mais
propícias à sua vida.
Justamente por essa falta de lógica é que outras teorias se traçam a
respeito da chegada do Homem à América. Apenas uma coisa se tem
certeza, ou seja, de sua proveniência: a Ásia.
Mas, será que não se pode aceitar a hipótese de que numa dada
época tenha ocorrido uma leva migratória marítima através das calmas
águas do Oceano Pacífico. Sim, porque também existe a teoria de que
regiões como as ilhas da Oceania tenham sido as verdadeiras “mães” do
Homem Americano. Isso seria mais lógico, afinal, se estivesse frio no sul, o
homem iria para o norte em busca do calor.
Entretanto, o objetivo deste texto não é discutir a proveniência do
Homem Americano, mas sim levantar alguns pontos de discussão, sendo
assim, vou “aceitar”, para efeito da elaboração do texto, como verdadeira a
tese de que o Homem cruzou o Estreito de Bering em busca da caça de
Mamutes.
Os Mamutes, aliás, ao contrário do que muitos pensam, não eram
dinossauros e nem tão pouco coexistiram com eles. Eram mamíferos como
os elefantes de hoje, só que, ao contrário destes, eram mais adaptados ao
frio. Em épocas remotas eles habitaram todo o hemisfério norte da Terra,
inclusive a América, entretanto, talvez por seu tamanho e conseqüente
abundância de carnes, acabaram extintos pelo Homem em sua busca de
alimentos durante a glaciação. A carne de um Mamute podia alimentar todo
um bando por vários dias. Ainda há ossadas na América que comprovam a
caça do Mamute pelo Homem naquela região.

1.2 – A Mesoamérica:

A Mesoamérica é uma região que não existe em nenhuma das


divisões clássicas da América. Lembremos que segundo a divisão política, a
América é dividida em três partes: do Sul, Central e do Norte. Segundo a
divisão lingüístico-cultural, ela se divide em duas partes: América Latina
(incluindo toda a América do Sul, toda a América Central e ainda o México)
e América Anglo-Saxônica (apenas EUA e Canadá). Sendo assim, onde
está a Mesoamérica?
Este nome, ao contrário do que pode erroneamente indicar não é um
sinônimo de América Central. É uma expressão Antropológica e também
Arqueológica que se refere à região da América onde se desenvolveu uma
cultura de nível tão alto que se equiparou ao nível das grandes Civilizações
da Antiguidade do Velho Mundo. É certo que outras Civilizações Pré-
Colombianas como a Inca não estão situadas na Mesoamérica, mas isso se
deve tanto à sua distância geográfica (o que implicaria na inclusão de áreas
de “baixa” cultura no termo) quanto a uma disputa ideológica dentre da
Arqueologia, afinal, como o México é o detentor dos territórios da maior
parte daquilo que um dia foi a Mesoamérica e como este é vizinho dos EUA,
os Norteamericanos acabam por preterir as Civilizações grandiosas da
América do Sul na maioria de seus estudos Arqueológicos e Antropológicos,
dando maior atenção e, conseqüentemente, importância àqueles que lhes
são vizinhos.
A rigor, a Mesoamérica se estende do Planalto Central Mexicano, ao
norte, até Belize e Honduras, ao sul, passando pela Península do Yucatan,
as outras regiões próximas podem ser incluídas ou excluídas de autor para
autor.

1.2 – A Agricultura ou o Milho, Pai da América:

É certo que a agricultura é considerada o fator determinante para que


uma civilização deixe o nomadismo e entre definitivamente no estágio de
sedentarização. No entanto, ao contrário do que pode se pensar, ela não
enriqueceu, a princípio, a alimentação dos indígenas da América. Pelo
contrário, tornou-a menos rica em uma série de nutrientes necessários à
sobrevivência humana.
Enquanto viviam em comunidades caçadoras e coletoras, os
indígenas comiam uma variedade muito grande frutas e legumes, além de
terem sua dieta complementada com a caça. No entanto, depois da
descoberta da agricultura, tendo que se sedentarizar, as populações tiveram
que organizar sua divisão de trabalho de modo a poderem produzir, sendo
assim, é provável que tenham deixado funções como a caça e a coleta
(dificultadas pela sedentarização) totalmente fora de suas tarefas diárias.
É bem verdade, no entanto, que a segurança e a comodidade
proporcionadas pela certeza do alimento fizeram com que houvesse um
“boom” populacional após o fim do nomadismo. Na América Pré-
Colombiana.
Uma grande mentira que se tem como verdade é a de que em todos
os grupos sociais, mais cedo ou mais tarde, ocorreu a chamada “Revolução
do Neolítico” e que foi justamente ela (a descoberta da agricultura) que fez
com que aquele grupo emergisse do nomadismo em direção à vida
sedentária. Isso é mentira, na medida em que diversas comunidades
litorâneas abandonam o nomadismo para se estabelecerem
permanentemente numa posição estratégica em frente ao mar, de onde,
através da pesca, retirarão se sustento. Para essas comunidades a
sedentarização em nada teve haver com a descoberta da agricultura e,
quando essa descoberta ocorre, não põe fim à atividade da pesca
(extrativista por natureza), mas apenas complementa a alimentação dos
indivíduos da região.
O milho, na América, desempenhou o papel de principal agente da
agricultura inicial. Por muito tempo se pensou que talvez a sua
disseminação estivesse ligada à expansão de alguma civilização em
específico e, sendo assim, a descoberta dos Olmecas só fez aumentar essa
desconfiança. No entanto, hoje se sabe que o milho foi realmente uma fonte
importantíssima de carboidratos e vitaminas para os habitantes da América,
mas que seu cultivo não estava relacionado à difusão, mas, mais
possivelmente, à invenção paralela.
Mesmo o milho não sendo, dessa forma, o pai da América, ele foi
uma cultura importante para o seu desenvolvimento e, em última instância,
ainda intriga a todos nós por uma questão: Terá sido o hibridismo também
uma invenção paralela dos povos Mesoamericanos e Andinos, ou essa
tecnologia terá se difundido entre os povos do continente? E caso tenha se
difundido; quem teria sido seu difusor? Será que os Olmecas, ou algum
povo da América Andina?

2 – Contribuição da Arqueologia:

Ocorre entre a História e a Arqueologia algo semelhante ao que


ocorre entre o Jornalismo e a História. É um erro muito grave que acaba se
tornando irremediável na medida em que é alimentado pelo mercado
consumidor. É um erro cujos culpados são os membros de ambas as
profissões em ambos os casos. Vejamos:
Os Arqueólogos se embrenham numa floresta tropical Mexicana em
busca de vestígios arqueológicos de uma cidade qualquer. Passam anos
pesquisando sem ganhar quase dinheiro algum, sofrem com doenças e
privações as mais variadas. Esforçam-se, aprendem até a ler (ou
interpretar) hieróglifos antigos e, ao final de dez ou doze anos publicam um
trabalho com uma excelente qualidade científica, mas com pouca análise
historiográfica e com uma interpretação, por vezes, muito parcial. Esse
trabalho acaba restrito à comunidade científica da qual fazem parte,
circulando apenas em revistas especializadas e em seminários e
congressos de Arqueologia.
Pois bem, um Historiador pega o trabalho do Arqueólogo e o encara
como um documento. Como tal, ele deve ser visto como uma prova parcial
dos fatos. Através da historiografia e de seus paradigmas próprios, este
Historiador escreverá um livro onde fará uma discussão aprofundada e,
possivelmente onde fará com que mais que dois arqueólogos dialoguem
entre si através de suas próprias palavras utilizadas como citações. O livro
acabará sendo muito extenso, cheio de trechos dispensáveis e com uma
linguagem de extrema erudição, ou seja, ao alcance de pouco, apenas os
Historiadores e os Arqueólogos. Sendo assim, o Historiador terá
transformado algo que era restrito a um grupo em algo restrito a dois.
Observando a demanda do mercado por textos mais compreensíveis,
o Jornalista lerá os livros do Historiador e, com base neles, escreverá o seu
próprio, muito mais conciso, direto e de linguagem acessível a todos.
Nessa situação teremos o seguinte padrão: o Arqueólogo trabalhou
dez anos, em péssimas condições, para produzir um texto que não lhe deu
dinheiro algum e quase nenhum reconhecimento. O Historiador passou um
ou dois anos trancado numa biblioteca e gastando dinheiro para viajar a
congressos, seminários e arquivos regionais para, no fim, produzir um texto
que lhe dará um reconhecimento moderado e um rendimento financeiro
pouco compensador. Já o Jornalista lerá por dois meses (se for
minimamente sério) e, no final disso, escreverá um livro que lhe renderá
fama e fortuna, além levar uma interpretação extremamente fracionada ao
leitor, o que fará com que ele tenha uma visão muito parcial e, se não se
precaver, seja doutrinado a pensar como o Jornalismo que, por ser um
vencedor do sistema, luta para mantê-lo e, sendo assim, faz de tudo para
que ninguém queira muda-lo. Essa é a função da mídia e é isso, em
essência, que diferencia um Historiador de um Jornalista.
A solução para essa situação é simples, mas implica na
transformação do pensamento vigente na Historiografia nacional, ou seja,
de que o texto só é bom se for excludente, restrito aos iniciados. Isso só
serve para duas coisas: fazer da História uma Ciência Esotérica (ou seja,
restrita a um pequeno grupo de iniciados, que está apto a distinguir suas
mensagens secretas) e contribuir para que a lacuna no saber da população
leiga seja preenchida por pessoas menos capacitadas e, o que é pior, que
lutam pela manutenção dos veículos opressores da sociedade. Se a
erudição deixasse de se refletir na linguagem científica e, ao invés disso, se
mostrasse pela linguagem popular; todos sairiam ganhando. Até os
Jornalistas, que poderiam fazer o que realmente sabem, escrever textos
curtinhos em Jornais e Revistas e, na grande maioria das vezes, exaltar o
sistema.
Enquanto essa situação continuar, quando falarmos no
descobrimento do Brasil, o primeiro nome (de autor) que nos virá à cabeça
continuará sendo o de Eduardo Bueno, Jornalista cujos livros que escreveu
no oportuno momento da comemoração dos 500 anos do descobrimento do
Brasil figuraram entre os mais vendidos por cerca de um ano fazendo sua
fortuna financeira e a colaborando para a manutenção de inverdades na
cabeça do Brasileiro médio.

2.1 – Ciência Séria X Ciência Ideológica:

Ciência é um conceito muito amplo e vago. Segundo o dicionário,


qualquer competência de estudo pode ser considerada uma ciência, por
esse ponto de vista, virtualmente tudo é científico.
Segundo Kuhn, científico é todo o trabalho produzido através da
analise de algo que um dia fora considerado científico em tempos
anteriores. Por essa definição, chegaríamos à conclusão de que a Ciência
não existe, afinal, tudo se pautaria em objetos científicos que se pautariam
em objetos científicos anteriores que se pautariam em objetos científicos
anteriores... Até que se chegasse numa primeira Ciência que teria surgido
sem um objeto científico anterior e, sendo assim, não seria científica e,
tendo servido como base para pesquisas posteriores, estas também
perderiam, em conseqüência suas validades científicas fazendo com que
nada fosse científico e, sendo assim, a Ciência não existisse.
Para muitos, dentre esses alguns Historiadores, a própria História não
é uma Ciência, pois a Ciência só seria científica se fosse exata, sendo
assim, somente coisas como Matemática, Física, Química... Seriam
Ciências, ficando as Ciências Humanas e Biológicas relegadas ao papel de
Filosofias.
Para mim, a História é sim um Ciência, não é pelo fato de não existir
uma Verdade Histórica que ela passa a perder a credibilidade. O Historiador
trabalha com hipóteses, coisas que, em última instância não deixam de ser
especulações, mas, mesmo assim, ele faz sobre essas especulações uma
análise dialética, ou seja, baseada em proposições e contra-proposições,
que torna o que é Histórico impossível de ser construído sem um elevado
grau de abstração. Busco e defendo que a abstração é científica, existe até
uma metodologia de trabalho baseada nela. Chama-se Fenomenologia.
Uma metodologia segundo a qual não existe uma verdade definitiva, todos
os fatos só existem quando acontecem, mas é impossível retrata-los tal
como eles realmente são, pois toda e qualquer tentativa de faze-lo será
apenas mais uma interpretação e, como tal, extremamente parcial, baseada
em juízos de valores e características individuais que, como o nome diz, são
diferentes em cada um. Sendo assim, duas interpretações de um mesmo
fato não serão iguais nem mesmo se forem dadas por duas testemunhas
oculares. Tornar interpretações em padrões é o trabalho da imprensa,
dessa forma, uma “verdade” acaba sendo criada através da destruição dos
demais pontos de vista.
Ninguém pode negar que, em sua época, Platão foi um cientista, no
entanto, ele não se baseava em fatos comprovados ou mesmo em
documentos totalmente dignos de credibilidade. Mesmo assim, até hoje não
ficou comprovado que ele tenha inventado nada, nem mesmo a História de
Atlântida, afinal ele a atribuí a Sólon, o famoso político grego. O que Platão
fazia então? Ele abstraía em cima de acontecimentos que presenciava ou
dos quais tomava conhecimento. Suas abstrações foram tão brilhantes que
ele iniciou uma corrente de pensamento tão forte que até hoje é tida como
válida. Agora vejamos. Se Platão podia faz Ciência através, única e
exclusivamente, da abstração, porque nós também não podemos?
Temos que ter em mente que nossas concepções pessoais estão e
sempre estarão envolvidas em tudo o que escrevermos, dissermos ou
pensarmos, mas não podemos deixar que elas (que são os nossos
paradigmas) nos retirem do eixo que deve ser o fundamental de cada
trabalho sério e, sendo assim, científico: a busca da verdade.
A busca da verdade é ingrata, pois, como eu disse, por mais que a
busquemos, tudo o que encontraremos será nossa própria construção do
que é real. É de ensandecer, mas o real não existe, tudo depende de como
encaramos, só não podemos deixar que nossos índices de parcialidade nos
ceguem a ponto de fazer com que manipulemos o que estamos vendo de
modo a que a visão nos agrade, pois isso não é científico, mesmo sem
deixar de ser ideológico.
Toda essa longa digressão foi feita com o único objetivo de mostrar
ao leitor que nada sabemos de verdade nem mesmo quando presenciamos
o fato, imaginem quando entramos numa tumba trancada por vinte, ou trinta
séculos e, à partir dela, tentamos recriar todo o contexto histórico de uma
Civilização há muito esquecida.
Foi mais ou menos isso que aconteceu com os Olmecas. Até 1862
nunca se tinha cogitado a possibilidade da existência desse povo. Os Maias
eram tidos como a “Cultura Mãe” dos povos Mesoamericanos e quaiquer
objetos que fossem encontrados nas proximidades da Zona Maia eram
rapidamente identificados como pertencentes àquela cultura, cultura esta
que, por ser tão fascinante e heterogênea, gerou milhares lendas, muitas
delas tidas como verdades até mesmo por pessoas mais esclarecidas. Foi
nesse ano que um viajante chamado José María Melgar y Serrano, quando
estava de passagem por San Andrés Tuxtla, no Estado de Veracruz, no
México ficou sabendo da descoberta de uma Cabeça Colossal que havia
sido desenterrada pelo funcionário de uma fazenda de açúcar não muito
longe dali. Ao que parece, o homem estava cortando árvores da floresta a
fim de expandir a área de plantio da fazenda quando encontrou um relevo
estranho no chão. Pediu ordem ao proprietário e desenterrou o objeto.
Deparou-se com uma Cabeça gigante com feições negróides e um peso de
várias toneladas. O viajante, sete anos depois, conseguiu publicar sua
descoberta no boletim da Sociedad Mexicana de Geografía y de Estadística.
A descoberta foi tida como mais uma descoberta arqueológica Maia e
só causou algum espanto devido às feições negróides que estampava. No
mais, o mundo Olmeca ficou esquecido por muito tempo até que
começassem, já no século XX, a pipocar evidências de que aquelas peças
de arte em nada tinham haver que com o mundo Maia, que constituíam de
fato provas da existência de uma outra Civilização que, a julgar pelos
traços, datações em carbono, estilo, falta de vestígios e outros fatores...
Seria mais antiga.
Essa tese, de que os Olmecas eram mais antigos do que os Maias foi
duramente defendida por alguns grupos de Arqueólogos de vanguarda e
duramente criticada por Arqueólogos mais conservadores. Para estes
conservadores, seu estudo dos Maias não era uma ciência, era quase uma
religião e, como tal, não poderia ser questionado. Temiam que se os
Olmecas fossem considerados mais antigos do que os Maias, todo o brilho
de seus estudos fosse ofuscado pelo nascente brilho Olmeca.
Essa batalha colocou, entre os anos 40 e 50 do século XX, frente a
frente a Ciência Séria (que estava em busca da “verdade”) e a Ciência
Ideológica (que estava em busca do enaltecimento dos egos de seus
cientistas). Felizmente, para todos nós, a Ciência Séria saiu vitoriosa e hoje
os Olmecas, ainda que pouco conhecidos, nos podem ser mostrados em
textos como este.

2.2 – O que sabemos, não sabemos, supomos e porquê:

Como afirmei até agora, sabemos muito pouco sobre os Olmecas,


não sabemos seu verdadeiro nome, se foram um Império, se tinham algum
tipo de unidade entre as cidades ou se eram um povo constituído de
diversas cidades-estado, como os Maias. Não sabemos até onde vai
realmente sua área de influência, se foram realmente os primeiros povos
“Civilizados” da Mesoamérica, se praticavam sacrifícios humanos, se
tiveram ou não contato com povos da Europa, da Ásia ou da África, não
sabemos sequer se eles existiram de verdade.
Apesar de não sabermos tantas coisas sobre este povo, nos é
possível escrever um texto grande como este a seu respeito. Como?
Bem, é óbvio que item anterior responde em parte esta questão, ou
seja, através da abstração, mas também é verdade que não podemos
abstrair em cima do nada e é aí que entra o que sabemos sobre os
Olmecas. Sabemos que numa área pantanosa localizada próximo à costa
leste do México, mais precisamente nas regiões banhadas pelos rios
Tonalá, Blasillo, Papaloapan e Chiquito foram encontradas uma série de
esculturas e peças de cinzelagem que remontam a um caráter diferente do
Maia, diferente do Tolteca, diferente do Asteca, do Zapoteca, do Mixteca e
do Teotihuacano. Peças que foram classificadas como Olmecas.
A partir dessas peças nos é passada toda uma série de informações
através de interpretações arqueológicas que nos possibilitam intuir muitos
dos aspectos da Civilização Olmeca. Por exemplo, existem 18 sítios
arqueológicos com traços Olmecas em maior ou menor grau. Destes, três
são muito superiores aos demais e, sendo assim, são considerados os
centros da Civilização.
La Venta, Tres Zapotes e San Lorenzo são considerados os centros
da Civilização Olmeca, foi, aparentemente, deles que se originou a
expansão daquele povo rumo à conquista dos outros sítios.
Além desses três sítios arqueológicos, existem outros quinze
localizados em sua proximidade que podem ter sido Olmecas ou, ao menos,
influenciados por este povo.
Sobre os Olmecas sabemos ainda que suas jades e jadeítas eram
retiradas das montanhas de Taxco, região próxima à costa oeste do país,
ou seja, havia uma distancia muito grande a ser vencida para que aquele
povo pudesse chegar até o ponto de extração do artigo de maior valor em
sua arte. Em pontos desse caminho também é possível encontrar traços
Olmecas. Disso pode-se concluir duas coisas: ou os Olmecas deixaram
rastros de comércio com os povos em seu caminho ou, o que é mais
provável, fizeram deles seus tributários e os contaminaram com sua cultura.
Por fim, sabemos que a única região da Mesoamérica onde não se
encontram vestígios convincentes da cultura Olmeca é a região onde se
desenvolveu a cultura Maia, deve haver, portanto, alguma explicação para
isso. E tal explicação é um dos objetivos deste trabalho. Sabemos, por fim,
que após o século IV a.C. tornam-se cada vez mais raros os vestíigios
Olmecas até chegarem à total extinção dessa população.

2.3 – Urbanização e Modernidade, a destruição dos vestígios:


Inegavelmente a vida moderna nos trouxe muitas facilidades. Carros,
aviões, navios, foguetes, enlatados, computadores... Mas, a que preço?
Poluímos a atmosfera, gradualmente acabamos com nossas florestas,
intoxicamos nossa água e nosso alimento, além de destruirmos a fauna do
planeta.
Dentro desse insaciável impulso destrutivo do capitalismo, qualquer
fonte de renda torna-se mais importante do que a cultura. Foi exatamente o
que aconteceu com um dos principais sítios arqueológicos Olmecas: La
Venta.
Para muitos, La Venta poderia ter sido a capital de um possível
Império Olmeca; não era a cidade mais antiga, mas, sem dúvida, era a mais
bem conservada, além de ser a possível “criadora” de muita parte do estilo
Olmeca. Pois bem, por volta do final da década de 70, com a crise do
petróleo, este recurso se tornou muito caro e escasso no ocidente, o que fez
com que o empenho das empresas prospectoras de petróleo estatais em
encontrar novas fontes do material aumentasse. Foi o que aconteceu e,
dessa forma, a PEMEX descobriu que embaixo do sítio de La Venta existia
petróleo em abundância.
O governo Mexicano não pensou duas vezes, autorizou a remoção de
tudo o que estava no sítio e a instalação de uma central de extração de
petróleo na pequena ilha fluvial. Resultado: foi criado, em Villahermosa, o
Parque La Venta, onde estão os objetos retirados do sítio e as coisas que
não puderam ser retiradas, como (simplesmente) a Pirâmide (talvez a mais
antiga da América e, dessa forma, uma bela fonte de estudo para se chegar
a um porque da construção desse tipo de edifício na América) foram
destruídas.
Será mesmo que a extração de Petróleo por alguns anos (petróleo é
recurso esgotável) vale mais do que o patrimônio (inesgotável) cultural da
humanidade? Do que uma possível compreensão do passado? Ou melhor.
Vamos perguntar de outra forma. Você venderia a casa em que vive para
fazer uma viagem de alguns dias sendo que depois do final da viagem não
teria mais onde morar?
Acho que não preciso comentar.

3 – Quem eram os Olmecas:

Como já mencionei no item 2.2, não sabemos muito sobre os


Olmecas, no entanto, a partir do pouco que sabemos nos é possível
construir toda uma organização social que nos indica, ainda que de uma
forma muito sujeita a erros, quem eram os Olmecas.
Antes de mais nada é interessante notar que aquilo que é conhecido
com Mesoamérica, salvo pela exceção da Península do Yucatan, é, a
grosso modo, a região onde nos é possível encontrar vestígios dessa
civilização. Sendo assim, podemos assegurar quase que com certeza
absoluta que os Olmecas foram, na realidade, os pais da Mesoamérica.
Neste item de meu trabalho, mais do que definir os Olmecas com poucas
palavras, coisa que seria impossível fazer, eu irei enumerar alguns dos
principais traços de sua civilização.
Inicialmente, no que se refere às deformações cranianas, uma prática
muito corriqueira entre os povos da América Pré-Colombiana, os Olmecas
parecem ter sido os pioneiros. Essa prática consiste em um sem-número de
modificações que os indivíduos de determinadas sociedades podiam
provocar voluntariamente em seus filhos ainda bebês. É possível que
houvesse entre os Olmecas uma espécie de hierarquização devida às
deformações, tal qual houve entre os Maias (em Palenque, os governantes
deveriam nascer com alguma deformação física para estarem aptos a
governar, isto era visto como um presente divino; os que não nasciam
assim, mutilavam-se em busca dessa proximidade com os deuses). Isso é
dito devido à análise das feições que se convencionou em chamar
“Olmecóides”, ou seja, as feições como as das grandes cabeças de basalto
(faces redondas com narizes negróides, olhos mongólicos e lábios
superiores protuberantes). Como se sabe, as feições comuns entre os
aborígenes da América não era nem de longe parecida com a feição
“Olmecóide”, sendo assim, é possível que este tipo de rosto fosse o rosto de
governantes com deformações cranianas. É lógico que tal aparência suscita
logo a dúvida: teriam os Olmecas tido contato com negros Africanos? Esta
questão será tratada mais adiante.
Como se pode afirmar que as Cabeças Colossais são cabeças de
governantes? Na verdade, não se pode afirmar. Há várias possibilidades.
Vale sempre lembrar que os Vikings tinham o costume de criar feições
horríveis para colocar nas proas de seus navios a fim de afugentar os maus
espíritos. Outra possibilidade seria a de se tratar (como veremos adiante) de
um retrato de visitantes exóticos. Há ainda a possibilidade de se tratar
meramente de uma imaginação de uma figura divina, mas a hipótese mais
aceita é realmente a de se tratar de governantes, ou, ao menos, membros
de um grupo social dominante.
Sabemos que entre os Astecas havia um costume que proibia os
membros de classes sociais inferiores de utilizrem certos tipos de plumas,
as plumas eram, entre aquele povo, um fator hierarquizante da sociedade.
Um indivíduo que fosse pego utilizando publicamente plumas que lhes eram
proibidas seria sacrificado como exemplo aos demais. Entre os Olmecas é
possível que houvessem costumes semelhantes. Dessa forma, não só as
plumas, mas também as deformações cranianas identificariam os membros
de cada classe, ou casta.
As estátuas que nos restam nos mostram que os Olmecas utilizavam
um tipo de vestimenta muito simples, tratava-se de saias (tanto para os
homens, quanto para as mulheres) e outras partes de roupa que variavam
conforme, provavelmente, o nível social do indivíduo (neste texto, seguirei a
linha de Jacques Soustelle e, sendo assim, considerarei que os mais ricos
(ou nobres, ou simplesmente os dominantes, como queiram) utilizavam as
melhores roupas e eram mais freqüentemente retratados pela arte daquele
povo. Trata-se de uma suposição lógica, mas que nem por isso é
necessariamente verdadeira). Os mais proeminentes utilizavam calçados de
tiras de couro ou palha para protegerem os pés, também estes, quando
homens, podiam utilizar uma infinidade de capas e robes; já as mulheres
mais ricas utilizavam uma espécie de top de pano que lhes cobria os seios,
enquanto as mais pobres andavam, a exemplo de seus pares masculinos,
com os torsos nus. As roupas eram feitas, provavelmente, de algodão que
era uma planta muito abundante na Mesoamérica e que era utilizada como
fonte de fios para o tecido na época da conquista.
Quanto aos adornos, é interessante ressaltar que os de cabeça eram,
muito provavelmente, exclusivos dos mais ricos que os utilizavam para
simular uma altura maior e, com isso, se destacarem entre os demais
cidadãos. Vários tipos de jóias também eram utilizados tanto por homens,
quanto por mulheres, entretanto, como os Olmecas não conheciam o
trabalho com metais, tais jóias eram exclusivamente pedras preciosas e
semi-preciosas. É muito provável que, a exemplo dos Maias e dos Astecas,
também os Olmecas considerassem a jade como a jóia mais bela de seu
conhecimento, afinal há muitas peças de jade em sítios Olmecas. Os
Olmecas foram, com certeza, os pais da arte da cinzelagem na
Mesoamérica.
Dentro do contexto militar, seus guerreiros (só existiam pelotões de
infantaria, visto que não havia animais grandes o bastante para serem
utilizados como montaria) utilizavam armaduras leves, feitas de couro e
madeira, talvez forradas com penas e pele de animais. Em suas cabeças
trajavam capacetes de madeira revestidos de couro (algumas das Cabeças
Colossais trajam capacetes como estes, o que indica que talvez fossem
guerreiros e, em se confirmando a tese de se tratarem de governantes, o
Estado Olmeca seria um Estado Militar). As armas Olmecas eram várias e
rústicas, mas em especial: machadinhas de pedra polida, maças (talvez
com pedras incrustadas para tornar-lhes cortantes) e tochas (que tinham a
dupla função de golpear e atear fogo ao inimigo). Além dessas armas, que
eram as mais usadas, também pode-se constatar a utilização de manoplas
(espécie de luvas de couro duro utilizadas como protetores para as mãos,
mas também, provavelmente, como aumentadores de potência para os
golpes com as mãos, visto que a mão se tornava mais rígida e menos
sensível, podendo golpear mais forte, como um soco-inglês), de fundas
(tiras de couro utilizadas para atirar pedras; estas eram, por sua vez, uma
das principais armas da civilização Maia e também, no Peru, da civilização
Inca), de lanças (que poderiam ser utilizadas no combate corpo-a-corpo ou
para arremesso) e escudos. Há ainda uma boa probabilidade de que os
Olmecas tenham vindo a conhecer o arco e flecha (aliás está é uma das
bases para teorias que sugerem contatos com indivíduos do Velho Mundo).
Além das armas mencionadas havia ainda uma arma cujo uso ainda não foi
bem definido pela Arqueologia, trata-se de um círculo de pedra. A meu ver
ele poderia ser utilizado a um só tempo como escudo e como uma espécie
de maça, mas sua real função é ainda ignorada.
No que se refere ao lazer, que é uma das maiores fontes de
manifestação cultural de uma civilização, certamente os Olmecas
conheciam a música, entretanto, não nos é possível precisar quais os
instrumentos utilizados por eles e nem qual o som que obtinham deles. No
entanto, baseados em comparações com outros povos de nível tecnológico
semelhante e da América Pré-Colombiana, os Arqueólogos supõem que
estivessem entre os instrumentos conhecidos pelos Olmecas um ou mais
tipos de instrumentos de percussão (tambor, pandeiro, tamborim...), e talvez
alguns instrumentos de sopro (flautas, gaitas, flautas de pan...). É possível
que conhecessem alguns instrumentos de corda, mas isso já é menos
provável segundo os estudos realizados.
Como veremos mais adiante, a religião Olmeca era, a exemplo da
Egípcia, Antropozoomórfica, ou seja, havia deuses em formas humana,
animal e híbrida; sendo assim, é muito possível que sua mitologia religiosa
fosse muito rica, comparável a mitologias como a Grega e a Egípcia. Dessa
forma, mesmo se aceitarmos que os Olmecas conhecessem a escrita,
temos que ter em mente que dificilmente esta estaria ao alcance de todos,
sendo assim, a riqueza da mitologia Olmeca deveria ficar restrita aos
sacerdotes que provavelmente deveriam fazer dela uma espécie de
trampolim para obter poder e, assim sendo, nada melhor do que a
realização de simulações das epopéias divinas durante dias de festas.
Essas simulações deveriam ser realizadas pelos sacerdotes e tão somente
por eles, e apesar de serem cerimônias de fé, constituiriam também, uma
forte expressão artística, uma espécie de teatro.
Por fim, como já afirmei no texto Tlachtli: Esporte ou Ritual de
Sangue?, é muito possível que os Olmecas tenham sido os primeiros
idealizadores do famoso jogo de pelota da Mesoamérica. Podemos dizer
isso com certa tranqüilidade devido a uma série de fatores: os Olmecas,
como seu próprio nome nos diz, eram os habitantes do país da borracha,
devido ao imenso número de seringueiras que lá havia; as bolas do Tlachtli
eram feitas de borracha, por isso é possível que ele as tenham inventado.
Seguindo a teoria de que os Olmecas teriam sido os pais da Mesoamérica,
o Talchtli, como sendo um dos elos de intersecção dos povos que nela
habitavam, pode ser considerado uma herança Olmeca e, por fim, uma das
mais famosas esculturas Olmecas, batizada com o nome de “O Lutador” é,
segundo especialistas, na verdade um jogador de Tlachtli, não um lutador,
sendo assim, é provável que o Esporte tenha sido, senão inventado, pelo
menos difundido pelos Olmecas.

3.1 – Descrição Física da Zona Metropolitana:

A região conhecida como Zona Metropolitana Olmeca é a região onde


se encontra o maior número de sítios arqueológicos daquela civilização. É
também a região onde, no caso deste povo ter formado um Império em
algum momento de sua existência, estaria localizada uma possível capital
Olmeca. Esta região é muito particular dentro do México, uma vez que é
uma planície pantanosa cercada de planaltos e montanhas. Vários rios
cortam a região e os três principais sítios arqueológicos Olmecas (La Venta,
Tres Zapotes e San Lorenzo) se localizam praticamente dentro desses rios.
A proximidade da região com o Oceano Atlântico também denota uma
possível simbiose daquele povo com o mar. Há estátuas que comprovam
que os Olmecas conheciam criaturas como golfinhos, sendo assim, tendo
em vista que tais criaturas não se encontram muito próximas à costa,
podemos afirmar que os Olmecas possuíam embarcações, mesmo que
rudimentares.
A selva que circundava as cidades Olmecas além de lhes dar
borracha e alimentos, também lhes trazia problemas. Inundações
freqüentes fizeram com que cidades como San Lorenzo fossem totalmente
adaptadas à região onde estavam situadas. Para se ter uma idéia, esta
cidade se situa cerca de cinqüenta metro acima da selva que é
freqüentemente inundada. Porém, a colina onde ela foi edificada é artificial,
foi construída pelas mãos do homem, por um gigantesco esforço
populacional. Esforço esse só comparável ao exigido para a construção das
grandes pirâmides do Egito. Vinte lagoas, três aquedutos e até uma rede de
tubulações subterrâneas atravessam a cidade construída pelas mãos do
homem mais de mil anos antes de Cristo. No topo da colina artificial, onde
estava a cidade propriamente dita, há, além das construções, mais de uma
centena de túmulos de prováveis dignatários. Essa impressionante obra da
engenharia Olmeca se estende por mais de um quilômetro de comprimento.
Além das inundações freqüentes, ataques de animais dos mais
variados (desde mosquitos transmissores de doenças até jaguares e
serpentes) também preocupavam os habitantes da Zona Metropolitana,
mas, se os Olmecas eram tão poderosos como parecem ter sido e como
veremos que de fato foram, por que motivo mantiveram o centro de sua
civilização num lugar tão inóspito? A resposta talvez nunca venhamos a
saber.

3.2 – Cidades ou Centros Cerimoniais?


Quando estudamos História tendemos, naturalmente, a fazer
paralelos do passado com o presente. Esse fenômeno é absolutamente
normal, visto que não podemos conceber algo que não conhecemos, a
mente humana funciona através da comparação com o conhecido para que
se compreenda o desconhecido. Esse é, aliás, o motivo que faz com que as
pessoas, em geral, tenham tanta dificuldade em aceitar novas idéias ou em
abstrair acerca de temas que batem de frente com sua moral pessoal. Bem,
mas voltemos ao eixo da narrativa, quando se trata de História, fazer
comparações com o presente pode nos levar ao mais grave dos erros: o
anacronismo.
O anacronismo é o ato de se atribuir coisas de um tempo a outro, de
se colocar um costume, uma organização, uma arma, um pensamento... Em
um tempo que não é o dela. Em gera o anacronismo se dá em relação a
tempos mais remotos, por exemplo, é comum se acreditar que Roma foi
sempre um Império, que sempre teve um Imperador, afinal, sempre ouvimos
falar de César, do Império Romano, mas isso é uma inverdade, o Império
Romano só pode ser considerado como iniciado em 27 a.C., quando Otávio
é considerado Augusto, ou ainda, em 14 d.C., quando depois de sua morte,
Tibérius assume como o primeiro Imperador Romano, visto que Auguasto é
considerado pela historiografia como Príncipe, mas não como imperador.
Depois dessa explicação, pode-se constatar uma coisa, Júlio César, o
famoso César de Roma, aquele que enfrenta Asterix e Obelix em suas
histórias, nunca foi Imperador, ele era apenas um dos Cônsules da Roma
Republicana, e sendo assim, anterior ao nascimento do Império. Considera-
lo Imperador seria um anacronismo.
Falo de anacronismo porque quando cito as cidades Olmecas, sei que
a primeira tendência dos leitores é imaginar um conglomerado de pessoas
vivendo ao redor de uma construção de poder (um palácio ou coisa
parecida) e com uma organização política bem definida. Pensando dessa
forma, uma cidade com 1200 m de extensão em sei maior eixo não
impressionaria ninguém por seu tamanho. Quantas pessoas poderiam viver
nela? 500? 1000? 2000 no máximo? Exatamente. Quando se fala em
Mesoamérica, deve-se ter em mente que, em geral as cidades não eram
bem cidades (exceto grandes centros como a Tenochtitlán dos Astecas, que
chegou a ter mais de quinhentos mil habitantes), mas centros cerimoniais.
Centros cerimoniais funcionavam mais ou menos como as acrópoles
das Cidades-Estado da Grécia Clássica, ou seja, eram lugares bem
defendidos, onde viviam as elites: sacerdotes, governantes e guerreiros; e
onde estavam localizadas as principais construções: templos, palácios,
grandes mausoléus... Ao redor desses centros cerimoniais (onde, de fato,
habitavam poucas pessoas) se localizavam vários vilarejos. Nesses
vilarejos as casas eram de madeira e, sendo assim, não resistiram ao
tempo, neles também viviam poucas pessoas, mas como eram diversos, a
população subordinada ao centro cerimonial se tornava numerosa. Cada
vilarejo tinha uma forma particular de organização que nos é impossível
precisar, mas é muito provável que cada um constituísse uma espécie de
clã familiar, ou seja, um grupo de pessoas semi-aparentadas que vivem
próximas para cooperação mútua.
Em boa parte dos centros cerimoniais Mesoamericanos, a presença
das populações periféricas só era permitida em duas ocasiões: em
festividades e no caso de solicitações específicas.
Não se pode dizer com certeza absoluta que as cidades Olmecas
eram centros cerimoniais, mas devido à impressionante expansão daquele
povo (o que exige um bom contingente populacional) e ainda às grandes
façanhas arquitetônicas, como a construção de San Lorenzo, pode-se
acreditar que sim, as cidades Olmecas seriam apenas centros cerimoniais,
ainda porque, se assim fosse, as populações periféricas é que estariam
sujeitas às intempéries do clima da região e aos ataques de animais, pois
elas e que viveriam dentro da selva, enquanto as elites viveriam
confortavelmente acomodadas em seus palácios nos centros cerimoniais.

4 – A Expansão, a Cronologia e o possível Império Olmeca:

Este é o item central da maioria dos trabalhos que desenvolvo na


seção Grandes Impérios e Civilizações Antigas e Medievais de
Klepsidra. Isso se deve ao fato de uma de minhas preferências no campo
da História ser a História Política. Acredito que a partir de uma ordenação
cronológica dos fatos (governantes, guerras, disputas internas, fundações e
destruições de cidades...) torna-se não só mais fácil, como também mais
interessante, estudar História. Não creio que o estudo da História se limite a
isso, de maneira nenhuma, apenas tenho em mente que as pessoas em
geral lêem aquilo que lhes agrada, que lhes apraz. É justamente por isso
que os livros mais vendidos são os de literatura ficcional; no entanto, se os
livros de não-ficção se esforçassem em se tornar menos enfadonhos para o
leitor médio, talvez assim e só assim, um indivíduo interessado na cultura
Egípcia, por exemplo, deixasse de ler Christian Jacq e passasse a ler
verdadeiros livros de Egiptologia. Foi-se o tempo em que o bom remédio
tinha que ser amargo.
Pois bem, como referi, esta costuma ser a parte central de meu texto,
entretanto, os dados de que dispomos para a sua elaboração não são
completamente confiáveis, sendo assim, talvez ela acabe por não ser a
parte mais completa deste trabalho, mesmo assim, prometo ao leitor que
me esforçarei para torna-la o menos repetitiva o possível e, também, o mais
informativa o possível. É certo que algumas vezes utilizarei interpretações
próprias sobre partes obscuras da História Olmeca, além disso, o último
sub-item deste item, aquele que falará das possíveis causas do
desaparecimento da civilização Olmeca será quase que exclusivamente
baseado nas interpretações que pude ter sobre as leituras que fiz, visto que
não há ainda nenhuma resposta certa para o que teria causado um declínio
tão definitivo.

4.1 – A Zona Metropolitana e a Cronologia Olmeca:

Como será possível notar mais adiante no texto, boa parte dos baixo-
relevos Olmecas, bem como de suas pinturas rupestres são provenientes
do atual Estado de Guerrero, no México, uma região próxima ao Oceano
Pacífico e, sendo assim, na costa oposta àquela onde se desenvolveu a
chamada Zona Metropolitana Olmeca. Essa constatação faz com que
muitos Arqueólogos tendam a considerar Guerrero como o ponto de origem
da civilização Olmeca, entretanto, esta hipótese é muito pouco confiável,
visto que não há nenhum vestígio de grandes construções Olmecas (como
há na Zona Metropolitana) e nem tão pouco a Arqueologia daquele estado é
desenvolvida o bastante para precisar a antiguidade dos vestígios Olmecas
encontrados, sendo assim este texto, bem como a maior parte dos
pesquisadores, considera que o centro da civilização Olmeca tenha sido
realmente a Zona Metropolitana. Entretanto, a apresentação desta hipótese
só faz engrandecer o trabalho apresentando uma maior gama de
possibilidades ao leitor.

4.1.1 – San Lorenzo (1200 – 900 a.C.):

Não nos é possível precisar os nomes verdadeiros das cidades


Olmecas, por isso o nome que nos chega é o nome das regiões atuais, o
ainda o nome dado pelos Arqueólogos ao sítio por algum motivo.
O sítio arqueológico conhecido como San Lorenzo é na verdade uma
junção de três sítios menores: San Lorenzo, Potrero Nuevo e Tenochtitlán
(esta última, apesar de ter o mesmo nome da cidade que hoje jaze sob as
construções da Cidade do México e que um dia foi a capital do Império
Asteca, é apenas um sítio menos, batizado assim pelos arqueólogos pois, a
exemplo da Tenochtitlán Asteca, também estava localizada numa ilha).
Esses três sítios representam o que há de mais antigo no que se
pode chamar de alta cultura Olmeca. É possível que um dia tenham sido
parte de uma mesma cidade, apesar da grande distância entre eles. Nas
regiões desses sítios é onde há mais vestígios de habitações o que leva
alguns Arqueólogos a supor que talvez estes sítios tenham sido cidade de
fato e não meramente centros cerimoniais. Entretanto esta hipótese é
menos aceita do que a de se tratarem de centros cerimoniais.
San Lorenzo, propriamente dita é a casa de uma das mais
impressionantes obras da engenharia Olmeca: o platô de San Lorenzo,
totalmente construído pelas mãos do homem, num esforço monumental.
É muito provável que este sítio tenha sido o primeiro centro cerimonial
Olmeca, entretanto, sua construção inicial não parece ter sido feita por
membros dessa civilização. Parece ser mais antiga. Segundo estudos, os
Olmecas devem ter chegado à região por volta de 1200 anos antes de
Cristo e lá teriam encontrado um povo que já a habitava de forma precária.
Há sinais de batalha e de incêndios bem antigos, o que pode denotar que
os Olmecas teriam aniquilado os habitantes mais antigos e tomado posse
de seu território.
Depois da conquista do território, os Olmecas começam a
desenvolver sua civilização no local. Ocorre um aumento populacional muito
grande e provavelmente se forma a casta governante composta por
sacerdotes, ao que tudo parece indicar, mas também poderiam ser
guerreiros (ou ainda sacerdotes-guerreiros).
Em torno do primeiro século de ocupação da região é construído o
platô de San Lorenzo e é possível que o sítio com esse nome (excluídos
Potrero Nuevo e Tenochtitlán) tenha se tornado sede de governo dos
Olmecas.
É possível que tenha ocorrido um aumento populacional muito
expressivo devido às boas condições de plantio e de pastoreio (não havia
bovinos, nem eqüinos, mas ainda assim havia animais aos quais se
domesticar, um exemplo eram os cachorrinhos sem pêlos do México, outro,
os perus) e que, sendo assim, os governantes tenham incentivado seus
súditos a realizar uma expansão para outras regiões.

4.1.2 – Tres Zapotes (1500 – 1200 a.C.):

Tres Zapotes, também conhecida como Hueyapan, era uma


localidade habitada há muito tempo por populações nativas (ou que haviam
chegado à região bem antes do Olmecas), possivelmente havia um centro
cerimonial razoável e até alguns guerreiros a serviço de uma possível elite
naquela região, porém, nada muito elaborado. Alguns chegam a afirmar que
os habitantes originais de Tres Zapotes eram verdadeiro semi-nômades só
estacionados naquele sítio.
Possivelmente esses povos que habitavam Tres Zapotes estivessem
criando problemas para o nascente poderio de San Lorenzo, por esse
motivo, a casta governante teria enviado tropas àquela região e
exterminado com essas populações (talvez tenha havido escravizações ou
até assimilações de sobreviventes), o fato é que em meados do século XII
a.C., Tres Zapotes passa a ser ocupado pelos Olmecas. Era, possivelmente
o início da expansão daquele povo.
4.1.3 – Tres Zapotes (1200 – 600 a.C.):

Depois que a cidade foi ocupada pelas tropas Olmecas iniciou-se a


construção de melhorias e de monumentos. Com efeito Tres Zapotes
tornou-se um verdadeiro centro cerimonial Olmeca, sendo ali encontrada a
primeira das Cabeças Colossais. Também em Tres Zapotes foi encontrada
uma outra Cabeça Colossal tão instigante quanto as demais, mas por outro
motivo: suas feições não eram negróides, mas sim mongolóides, o que
pode sugerir algum contato com países do Extremo Oriente.
Entre 1200 e 600 a.C., Tres Zapotes foi um centro cerimonial de
razoável importância dentro do contexto da Zona Metropolitana Olmeca, no
entanto, não há nenhum indício que nos leve a crer que esta cidade tenha
sido a casa de qualquer tipo de sistema de governo Imperial.

4.1.4 – La Venta (1100 – 1000 a.C.):

A exemplo de Tres Zapotes e também de Potrero Nuevo e de


Tenochtitlán (essas duas últimas, por se localizarem nas proximidades de
San Lorenzo, devem ter sido as primeiras a serem ocupadas), La Venta
deve ter sido ocupada por Olmecas oriundos de San Lorenzo. Também a
exemplo de Tres Zapotes, La Venta era ocupada anteriormente por
populações não Olmecas, entretanto, diferentemente daqueles centros, em
La Venta parece ter havido algo incomum.
Depois da guerra de conquista que, assim como as demais, parece
ter sido rápida e vitoriosa para o lado Olmeca, ao invés de se iniciar a
edificação de mais um centro cerimonial comum como o de Tres Zapotes,
ocorreu sim a construção de um dos maiores monumentos do mundo
Olmeca: a Pirâmide de La Venta.
A Pirâmide de La Venta parece ter sido a primeira Pirâmide da
Mesoamérica, dessa forma, os Olmecas teriam criado um novo estilo
arquitetônico, no entanto, segundo os poucos Arqueólogos que tiveram a
felicidade de visitá-la antes de sua destruição pelas instalações da PEMEX,
ela não tinha o mesmo objetivo das Pirâmides de Maias e Astecas; ou seja,
ela não havia sido construída para servir de pedestal a um templo. Ao
contrário, ela havia sido construída para servir, ao que parece, como um
monumento por si só. Ao que parece, ele lembraria um vulcão, fato que
comprovaria que os Olmecas seriam um povo oriundo de regiões
montanhosas (ou ainda que, há exemplo de povos como os Incas, eles
cultuassem montanhas como deuses).
No entanto, ainda há que se solucionar uma questão: por que os
Olmecas escolheram La Venta para construir uma verdadeira cidade de
luzes, como o fizeram? Teria o lugar algum significado religioso prévio ou
teriam os Olmecas se encantado com a localização do sito (La Venta ficava
numa ilha fluvial)? Ainda há a possibilidade de a guerra de conquista ter
sido muito trabalhosa de ser vencida, o que justificaria a construção de um
monumento em homenagem à sua vitória. O fato é que da expansão inicial
dos Olmecas, La Venta parece ter sido a última parada. Talvez realmente a
guerra de conquista de La Venta tenha sido muito trabalhosa e, por isso, os
Olmecas tenham decidido reter temporariamente os seus impulsos
expansionistas. Além disso, há que se pensar que o contingente
populacional acumulado por San Lorenzo em pouco mais de um século não
permitiria uma expansão desenfreada que perdurasse por muito tempo.

4.1.5 – La Venta (1000 – 800 a.C.):

Depois do estabelecimento de um centro cerimonial Olmeca em La


Venta, os dois séculos que se seguiram viram a cidade receber um número
muito grande oferendas votivas. Há um número de enterramentos
cerimoniais (em geral machadinhas de pedra gravadas) e, certamente há
uma presença cerimonial muito forte na região, o que faz com que a teoria
de que a região talvez tivesse algum significado religioso importante para os
Olmecas seja reforçada.
A civilização Olmeca aqui se desenvolve de uma forma peculiar, mas
que é a tida como a mais verdadeiramente Olmeca de todas. Praticamente
não existem cerâmicas nesse período, o que denota que não devia haver
população fixa, apenas talvez um reduzido número de sacerdotes e de
guerreiros (ou sacerdotes-guerreiros) que administrasse a cidade. Não
parece ter havido vilarejos periféricos a La Venta nesse período, no entanto,
a construção de monumentos e palácios ia de vento em popa.
La Venta parece ter estado, neste período, para os Olmecas assim
como Teotihuacán esteve para os Astecas, ou seja, seria sua capital
espiritual.

4.1.6 – San Lorenzo (900 – 600 a.C.):

Depois de sua fase expansionista inicial, San Lorenzo (mais uma vez
excluídas Potrero Nuevo e Tenochtitlán) estagnou-se. Num dado momento
parece que todos os esforços financeiros que inicialmente estiveram
voltados para a expansão e conquista de outras regiões haviam se
transformado em esforços religiosos e culturais, sendo que, à partir do ano
1000 a.C, as oferendas e o embelezamento de La Venta pareciam ser as
únicas coisas a importar para a casta governante Olmeca.
Todo o século X a.C. foi marcado por uma certa desmilitarização
Olmeca, o que pode ter ocasionado uma das duas seguintes coisas:
1ª) Frente aos pesados tributos que seus governantes lhes impunham
e frente a um nítido desinteresse destes em relação a sua cidade, em
detrimento de seu recente interesse em sua bela capital espiritual (La
Venta); a isso somadas a facilidade da desmilitarização constante e a
revolta devido aos privilégios da casta governante em relação às demais
pessoas. Os Olmecas de San Lorenzo teriam se revoltado e, insurgidos,
derrotado a casta governante de modo a quebrar todo o sistema que se
havia estabelecido até então. O centro cerimonial teria sido queimado e
abandonado e os poucos sobreviventes da casta governante teriam ido se
refugiar em La Venta (ou ainda, seriam justamente os que estivessem em
La Venta durante a insurreição). Depois da deposição dos governantes, os
clãs teriam passado a viver por conta própria em seus respectivos vilarejos
e San Lorenzo teria deixado de ser um centro cerimonial Olmeca, ficando
abandonado.
2ª) As guerras de expansão e conquista realizadas nos séculos XI e
XII a.C. teriam expulsado vários povos de suas terras. Muitos dos membros
dessas populações foram exterminados nas batalhas, outros foram
escravizados ou assimilados pelos Olmecas e continuaram vivendo onde
viviam, mas sob a tutela Olmeca. No entanto, muito deveriam ter fugido e se
refugiado em comunidades fora dos pântanos da Zona Metropolitana. Esses
indivíduos teriam criado toda uma cultura de ódio àqueles que lhes
expulsaram das terras onde a água é abundante e a colheita é fértil e,
depois de cerca de 150 anos, ao verem o enfraquecimento de seus
inimigos, resolveram se vingar. Realizaram um ataque maciço à capital
daquele povo visando acabar com suas estrutura de poder. O ataque pode
ter-lhes custado a vida de milhares de pessoas (sempre é difícil realizar um
cerco, ainda mais quando não se tem tecnologia de cerco) e, sendo assim,
não lhes foi possível conquistar o centro cerimonial derrotado (além disso,
os Olmecas sobreviventes podem ter ateado fogo em San Lorenzo para
evitar que suas coisas caíssem nas mão dos inimigos). Esses povos teriam
se enfraquecido definitivamente com esse (ou esses) ataque e, sendo
assim, nos anos seguintes teriam sido exterminados (ou conquistados)
pelos Olmecas em seu renovado ímpeto expansionista.
Qualquer uma das duas versões pode ser verdadeira, mas o fato é
que por volta do ano 900 a.C. San Lorenzo foi totalmente abandonada
depois de sérios sinais de batalha. A cidade ficou abandonada por cerca de
trezentos anos e, nesse período foi, repetidas vezes, depredada. As
estátuas de San Lorenzo (inclusive as Cabeças Colossais) têm marcas de
buracos feitos com um nítido intuito vandalizador, não com o intuito de
saque para a construção de outras coisas. Estátuas decapitadas e
desmembradas, construções postas abaixo, afrescos e baixos-relevos
riscados... Marcas da revolta de alguém contra a casta dominante Olmeca
de San Lorenzo. Ícones brilhantes da arte Olmeca foram totalmente
perdidos com esse vandalismo, dentre eles o mais impressionante era
realmente uma estátua de braços e cabeça articuláveis, uma maravilha da
arte e da engenharia Olmecas.
Depois da destruição do centro cerimonial de San Lorenzo, as
populações dos vilarejos periféricos permaneceram habitando onde
estavam, o que leva a crer que a primeira hipótese para a destruição do
sítio é a mais provável, visto que os habitantes, revoltados, iriam
freqüentemente demonstrar mais um pouco de sua ira contra os antigos
símbolos do poder que lhes oprimia. Além disso, caso tivesse havido um
ataque externo maciço, as populações certamente ficariam receosas acerca
de outro ataque e, sendo assim, se retirariam, buscando o abrigo de outro
centro cerimonial Olmeca.

4.1.7 – La Venta (800 – 450 a.C.):

Depois da destruição de San Lorenzo, La Venta começou a se tornar


o principal centro cerimonial da cultura Olmeca. Começa a haver um
aumento das populações periféricas, mas, principalmente, uma
movimentação maior de vida no próprio centro cerimonial.
É possível que depois da destruição das antigas elites governantes, a
nova elite (agora radicada em La Venta) tenha se composto de uma forma
diferente. É provável, segundo as indicam as próprias tradições
Mesoamericanas, que os Olmecas tenham passado a ter um (talvez dois)
governante apenas, sendo assistidos por uma espécie de Conselho de
Notáveis. O governo de um único indivíduo é muito mais eficiente em
tempos de conflitos, afinal, as ordens são dadas e executadas de uma
forma direta (além disso, o costume Mesoamericano era que os povos fosse
governados dessa forma, por um Tlatoani (algumas vezes, como no caso
Asteca, assistido por um segundo governante) aconselhado por uma
espécie de Senado; os povos Mesoamericanos desenvolveram um governo
que (apesar de diferente em muitos pontos) se assemelhava em muitos
pontos à República Romana).
Depois do susto que a destruição de San Lorenzo lhes causou, os
novos governantes se tornaram muito mais militaristas do que os anteriores
um dia haviam sido. Inicialmente os Olmecas passaram a se recompor
militar, política e financeiramente do desastre do final do século X a.C., mas
por volta do início do século VI a.C. estavam prontos para reiniciar sua
expansão e entrar na era de ouro da cultura Olmeca.
A partir de La Venta os Olmeca se expandiram muito (como veremos
mais adiante) e, além de reunificarem a Zona Metropolitana, chegaram a
conquistar (ou mais provavelmente colonizar) regiões muito distantes.
As pedras de La Venta agora eram buscadas nas montanhas e Los
Tuxtlas, há mais de 100 km de distância da cidade, o que indica um imenso
poderio Olmeca nesse período. Foi também nesse período que podem ter
ocorrido os principais contatos com povos estrangeiros (caso tenha havido
algum, como veremos mais adiante) e também foi nesse período que se
desenvolveram até o apogeu as artes, a religião e a cultura Olmecas. É
possível que nesse período tenham sido descobertas a escrita e o
calendário.

4.1.8 – San Lorenzo (600 – 400 a.C.):

Depois da destruição de San Lorenzo, por volta de 900 a.C., qualquer


vestígio de uma unidade Olmeca desfez-se no ar. Tenochtitlán e Potrero
Nuevo, bem como Tres Zapotes ficaram ao léu, cada qual tendo se tornado
uma espécie de cidade independente. O período que vai da destruição de
San Lorenzo até o ano de 600 a.C. foi uma espécie de “Idade das Trevas”
Olmeca.
Porém, por volta de 600 a.C., La Venta já era poderosa militarmente e
tinha um contingente populacional grande o suficiente para poder iniciar sua
expansão. Os povos dos vilarejos que outrora estavam na periferia de San
Lorenzo foram submetidos; e o próprio centro cerimonial reocupado. San
Lorenzo estava em ruína depois de trezentos anos de pilhagens,
vandalismo e ação da natureza. Por isso, teve que ser reconstruída.
Reconstruir uma obra faraônica como a antiga capital (lembrem-se
que ela era edificada sobre um platô artificial) foi algo que custou muito aos
Olmecas, mas também foi algo que os governantes de La Venta só devem
ter se proposto a fazer por conhecerem muito bem a História de seu povo e,
sendo assim, tentarem resgatar sua glória passada.
A reconstrução de San Lorenzo deixou a cidade novamente habitável,
mas com seu centro cerimonial sendo nada mais do que uma réplica em
tamanho reduzido do que o fora no passado. O período, da História de San
Lorenzo, que se seguiu desde a reconstrução da cidade por La Venta até o
seu novo abandono, por volta do século IV a.C., é conhecido como período
Palangana.
La Venta conquistou também os centro cerimoniais de Potrero Nuevo
e de Tenochtitlán. Neste último há vários indícios de que tenham construído
um campo para a prática do Jogo de Pelota, mas tarde chamado de Tlachtli,
sendo assim, sua expansão não teria sido apenas militar, mas também
cultural e não há indícios que comprovem que tenha havido grande
resistência dessas cidades em se renderem à autoridade de La Venta. É
possível que tenham se rendido diplomaticamente para evitar uma guerra e
ainda receber melhorias, como, por exemplo, o campo de Tlachtli, em
Tenochtitlán.
San Lorenzo (Potrero Nuevo e Tenochtitlán incluídas) ficou sob o
domínio de La Venta até o final do século IV a.C., quando finalmente a
civilização Olmeca chegou a seu fim (como veremos mais adiante).
Depois de ter sido novamente abandonada, por volta de 300 a.C.,
San Lorenzo e suas cidades vizinhas só voltaram a ser reocupadas por
volta do ano 900 d.C., quando o civilização Olmeca já estava extinta há
mais de 1000 anos.

4.1.9 – Tres Zapotes (600 – 100 a.C.):

A exemplo de San Lorenzo, Potrero Nuevo e Techtitlán, Tres Zapotes


também foi reunida ao núcleo Olmeca depois de ser conquistada por La
Venta.
A cidade nunca teve grande importância no contexto político-
econômico e militar Olmeca, sua importância, no entanto reside em dois
fatos principais: a Cabeça Colossal com feições mongolóides e o fato de ter
sido a única cidade Olmeca a continuar existindo mesmo depois do fatídico
século IV a.C., que levou consigo a civilização Olmeca.
É possível que a explicação para o declínio da civilização Olmeca
resida nas ruínas de Tres Zapotes. Isso porque, à partir do século III a.C. a
cidade passa a se transformar cada vez mais numa cidade Maia, chegando
a ter, por um certo período de tempo, elementos sincréticos das duas
culturas. Pode-se ver nitidamente em Tres Zapotes elementos típicos de
cidades Maias como Kaminaljuyú e Izapa, além de ícones Maias mais
tradicionais como a cabeça troféu. É muito provável que Tres Zapotes
tenha, numa certa época de sua existência, passado a cultuar os Deuses
Maias e a praticar sacrifícios humanos.
Depois de 100 a.C. já não é mais possível encontrar traços da cultura
Olmeca em Tres Zapotes, o centro havia completado sua transição rumo à
cultura Maia. Sua História, como centro cerimonial, ainda perduraria por
muitos e muitos anos, até o declínio da cultura Maia, por volta do século
d.C..

4.1.10 – La Venta (450 – 350 a.C.):

Em meados do século V a.C. a cultura Olmeca (baseada em La


Venta) começa a entrar em declínio. Inicialmente as rotas de comércio vão
tendo seus fluxos diminuídos; depois é perdido gradualmente todo o contato
com as colônias, depois a própria autoridade de La Venta sobre os centros
da Zona Metropolitana começa a se enfraquecer até que, por fim, por volta
de 350 a.C., a cidade é completamente abandonada não restando sequer
um habitante seja do povo seja das elites.
Muitos anos depois do abandono de La Venta (que ao que parece foi
pacífico e não em decorrência de uma guerra, como aconteceu em San
Lorenzo) a cidade teve o mesmo destino que a antiga capital havia tido no
período em que esteve deserta, ou seja, foi ataca, vandalizada, saqueada
(sendo que até mesmo as oferendas e, talvez os cadáveres, foram
desenterrados) e queimada. O motivo de tais agressões permanece um
mistério, mas, como veremos mais adiante, nos é possível especular sobre
os motivos que levaram ao fim dessa que talvez tenha sido a primeira
civilização a alcançar o estágio de alta cultura em toda a América Pré-
Colombiana.

4.2 – A Expansão Territorial:

No período que vai de 600 a 450 a.C., como já foi referido, a cultura
Olmeca, radicada em La Venta, estava em franca expansão. A nova elite já
estava totalmente reconstituída da destruição de San Lorenzo, em 900 a.C.
e a gora estava pronta para reunificar o povo Olmeca. Depois de feito isso,
os Olmecas não pararam, seu poderio só fazia crescer e, sendo assim;
agora com o advento do apoio populacional de Tres Zapotes, Potrero Nuevo
e Tenochtitlán; partiram rumo à conquista de novas terras. Essas conquistas
levaram a civilização Olmeca a se estender por uma área muito vasta, áreas
esta que, como já afirmei anteriormente, viria a se transformar (a grosso
modo) no que hoje conhecemos como Mesoamérica.

4.2.1 – Os Vales de Oaxaca:

A primeira região fora da chamada Zona Metropolitana com a qual os


Olmecas mantiveram contato foi a região dos Vales de Oaxaca. Uma região
de vales cercados de montanhas onde tremores de terra são uma
constante.
Ao que parece, os primeiros contatos dos Olmecas com esta região
que se situa exatamente ao sul-sudeste da Zona Metropolitana se deram
por volta do ano 1100 a.C. e, portanto, ainda no período de preponderância
de San Lorenzo, durante a primeira fase da expansão Olmeca e
conseqüente formação da Zona Metropolitana.
Como se sabe, esta região foi o berço de duas importantes culturas
Mesoamericanas: Zapotecas e Mixtecas. Os primeiros são nitidamente mais
antigos do que os últimos tendo surgido como civilização por volta do século
V a.C., sendo assim, ainda na época Olmeca.
Os indícios arqueológicos apontam para contatos pacíficos e
comerciais entre os Zapotecas primitivos (anteriores, por exemplo, à
edificação de Monte Alben, o maior centro daquela cultura) e os Olmecas
centralizados em San Lorenzo. Isso pode denotar uma série de coisas.
Primeiramente é interessante notar que contatos comerciais
geralmente se davam através de acordos Estatais, ou seja, entre os
governantes das diferentes regiões, sendo assim, depois da destruição de
San Lorenzo, a nova elite de La Venta teria se apressado em continuar os
contatos comerciais que já mantinha quando estava em San Lorenzo para
não perder muito de seus rendimentos financeiros. Isso teria sido facilitado
por dois fatores: inicialmente, La Venta era muito mais próxima dos Vales
de Oaxaca do que San Lorenzo ou qualquer outro centro cerimonial da
Zona Metropolitana. Em segundo lugar, quem quer que tenha destruído a
antiga capital Olmeca, não estava interessado em (ou não tinha meios para)
expurgar completamente essa civilização, sendo assim os contatos
comerciais Olmecas não devem ter sido abalados.
É possível que os Zapotecas primitivos fossem muito mais atrasados
do que os Olmecas, mas que lhes servissem como bons peões em alguma
causa (talvez fossem uma espécie de zona tampão ou coisa de gênero), por
esse motivo e ainda talvez por um escasseamento de recursos depois da
formação da Zona Metropolitana (ou ainda por uma mudança súbita nos
interesses da civilização Olmeca, fazendo tornar-se religiosa no lugar de
expansionista, como já foi referido), os Olmecas não se empenharam em
conquistar a região dos Vales de Oaxaca, limitaram-se a contatos
amistosos.
As duas regiões, entre 1100 e 900 a.C., mantiveram uma relação de
simbiose, sendo que os Olmecas se favoreciam dos produtos dos povos de
Oaxaca (como a magnetita e a hematita) e estes, por sua vez, recebiam (à
conta gotas) avanços culturais e tecnológicos daqueles com quem
mantinham relações.
Depois de 900 a.C., com a destruição de San Lorenzo, parecem
estreitar-se mais os laços entre os Olmecas e os Zapotecas primitivos. É
justamente entre 900 e 600 a.C. que Mitla, outra grande cidade Pré-
Colombiana da região é fundada, possivelmente com o patrocínio Olmeca.
Além disso, os primeiros trabalhos de construção de Monte Alban também
se iniciam nesse período (é verdade que a cidade só ficaria completamente
pronta por volta de 400 a.C.), possivelmente com a ajuda dos Olmecas.
Provavelmente os Olmecas de La Venta estivessem interessados em
criar uma espécie de Estado Vassalo que lhes ajuda-se no caso de uma
nova crise como a que havia ocorrido em San Lorenzo. Mixtecas e
Zapotecas passam a guardar uma dívida cultural imensa com os Olmecas.
Seu estilo arquitetônico, sua escultura e até, possivelmente sua forma de
governo haviam sido inspirados nos correspondentes Olmecas. É certo, no
entanto, que estas civilizações não foram um prolongamento da civilização
Olmeca, apenas têm para com ela uma forte dívida cultural (é possível que
nem sequer tivessem chegado ao estágio evolutivo ao qual chegaram sem
os impulsos Olmecas, mas isso não lhes tira o mérito próprio), nada mais.
Por volta de 640 a.C., um centro cerimonial dos Vales de Oaxaca
chamado Monte Negro foi completamente destruído por um incêndio. Os
Arqueólogos acreditam que este incêndio se deveu a uma batalha perdida
e, talvez isso seja um indício de que a região realmente fosse uma zona
tampão para os Olmecas, visto que dentre todas as cidades da região,
Monte Negro era, talvez, a que mais sofresse a influência Olmeca,
representando realmente uma espécie de posto avançado daquela
civilização.
Pode-se dizer que os Vales de Oaxaca e, conseqüentemente, as
civilizações Mixteca e Zapoteca, tenham sido Estados agregados ao poderio
Olmeca e mais, tenham sido as responsáveis pelo engrossamento do poder
de La Venta e, dessa forma, tenham possibilitado a expansão daquela
cidade.

4.2.2 – O Planalto Central Mexicano:

Esta região é hoje a mais importante do México, pois é lá que se situa


a Cidade do México, sua capital. Desde o período Asteca e até antes, no
período Tolteca (quando Tula era a capital) tem sido assim, mas nem
sempre foi dessa maneira. No período Olmeca a região do Planalto Central
Mexicano era extremamente atrasada, com tribos nômades convivendo com
tribos semi-nômades e recém assentadas. O único atrativo dessa região
para uma cultura tão mais avançada como a Olmeca foi realmente a
diversidade de produtos, visto que, devido à altitude elevada da região, o
clima se torna radicalmente diferente daquele encontrado na Zona
Metropolitana e, sendo assim, a região produz gêneros bem diferentes
daqueles que eram comuns aos Olmecas.
Os primeiros contatos com esta região também se deram na época de
preponderância de San Lorenzo (1200 – 900 a.C.), mas neste período é
possível que os Olmecas apenas tivessem mapeado a região (isto é modo
de dizer, não há indícios de que os Olmecas conhecessem a tecnologia da
confecção de mapas, mas mapear não significa apenas fazer mapas, mas
também, conhecer) e estabelecido contatos amistosos. Talvez um pseudo-
comércio baseado em escambo. Nada mais do que isto.
É muito provável que entre 900 e 600 a.C. todos os contatos entre os
Olmecas e essa região tivessem se extinguido, de modo que só fossem ser
restabelecidos depois do início da expansão de La Venta, no século VI a.C..
Por volta do século VI a.C. em diante é possível constatar um
aumento muito grande de artefatos Olmecas encontrados na região. Esses
artefatos variam desde espelhos de hematita até estatuetas do Deus
Jaguar, mas nesta região há uma espantosa incidência de um tipo de
estatuetas Olmecas que são, no mínimo, curiosas. As chamadas estatuetas
Baby-Face.
Estas estatuetas representam bebês (há controvérsias se
representam realmente bebês, a mim parecem mais homens adultos)
totalmente desnudos, mas sem nenhuma marca de definição sexual. O mais
intrigante é que os rostos de tais imagens são muito semelhantes às feições
características dos povos orientais (se assemelham a homens Chineses).
É possível que os Olmecas tenham iniciado uma forte rota de
comércio com esta região, de modo que os produtos das zonas mais frias
do México pudessem chegar à Zona Metropolitana. Para manter organizada
uma região que não dispunha de estruturas de governo nem de civilização
avançada os Olmecas de La Venta devem, possivelmente, ter instalado na
região uma espécie de sede de armas, ou seja, um posto militar onde tropas
permanecessem aquarteladas sob as ordens de algum dignatário de La
Venta para obrigar os nativos a produzir e entregar aquilo que os Olmecas
quisessem. Se tal prática tiver realmente ocorrido, então este pode ter sido,
juntamente com a inevitável expansão da religião Olmeca, o ponto de base
para o surgimento dos Estados posteriores do Planalto Central Mexicano,
dos quais o primeiro foi Teotihuacán, por volta de meados do século II a.C..
Não a toa que o Planalto Central Mexicano se tornou (no futuro,
perdurando até hoje) a região mais importante do México, afinal, ela têm
água, solos férteis e o mais importante: defesas naturais contra invasores e
boa localização geográfica (fica praticamente no centro do país). Sendo
assim, muitos pesquisadores acreditam que o domínio dessa região (um
importante ponto estratégico) pelos Olmecas possibilitou os grandes passos
seguintes que sua expansão daria.

4.2.3 – O Oceano Pacífico:

Esta região é a mais difícil de se estudar e de se enquadrar dentro do


panorama Olmeca. Nela há muitos vestígios dessa civilização, mais
vestígios do que seria de se esperar de uma colônia tão distantes da Zona
Metropolitana, principalmente porque os Olmecas não possuíam estradas,
apenas, talvez algumas picadas na mata, o que dificultava muito a
comunicação entre essas duas regiões.
No entanto, o que mais pode vir a nos intrigar é justamente o sítio de
Chalcatzingo, onde os vestígios Olmecas são muito abundantes e,
sobretudo, mais antigos do que deveriam ser. Digo isso porque segundo a
cronologia que se pode acompanhar e que está sendo desenvolvida neste
texto, não deveriam haver vestígios Olmecas nessa região que datassem de
antes de 600 a.C., uma vez que antes disso La Venta ainda não tinha
iniciado sua expansão para além dos limites da Zona Metropolitana. No
entanto, a Arqueologia do Estado de Guerrero aponta que os vestígios
Olmecas de Chalcatzingo remontam há 900 ou 800 a.C..
Dessa afirmação podemos extrair que, talvez, os que pensam que os
Olmecas sejam oriundos da costa do Oceano Pacífico estejam corretos.
Entretanto, apesar dos diversos indícios que podem nos levar a crer nesta
possibilidade, temos que nos ater a uma informação muito importante: a
Arqueologia de Guerrero é muito pouco confiável, sendo imprecisa e parcial.
Depois de tomarmos a informação acima em conta, é bom que
saibamos que a cultura Olmeca da região próxima ao Pacífico é muito
peculiar. Há sítios, como Gualupita, onde a cultura Olmeca acabou sendo
fundida à cultura local (mais atrasada), mas com a preponderância desta
sobre a invasora. Há também uma grande incidência de pinturas rupestres,
coisa que não ocorre na Zona Metropolitana, nem em nenhuma outra área
de presença Olmeca confirmada.
Além das pinturas rupestres, também podemos constatas a existência
de templos subterrâneos, localizados em cavernas ou grutas profundas,
marcados por baixos-relevos e desenhos, além de um provável culto a uma
Deusa da Chuva, um Deus do Milho e, talvez, a uma Serpente Emplumada.
Se a Arqueologia de Guerrero estiver mesmo enganada à respeito
das datas atribuídas a Chalcatzingo, então o mais provável é que a região
tivesse sido colonizada de uma maneira semelhante àquela empregada no
Planalto Central, ou seja, com um posto (ou postos) militar controlado por
um dignatário e com tropas aquarteladas no intuito de, através da força,
obrigar os povos ainda não adeptos de formas de governos muito
elaboradas a trabalhar segundo a vontade Olmeca.
Só nos resta saber uma coisa. O que motivou os Olmecas a querer
colonizar a costa do Pacífico? Sim, porque o que os motivou a colonizar o
Planalto Central teriam sido os produtos exóticos que aquela região poderia
proporcionar, mas a costa do Oceano Pacífico não produzia nada tão
estranho aos costumes Olmecas que justificasse sua colonização. Para isso
a explicação é das mais simples. Um exame mais acurado nos objetos de
jade Olmeca nos mostra que boa parte das jades e jadeítas utilizadas pela
cinzelagem daquele povo são oriundas de minas localizadas nas
proximidades do rio Balsas, perto do Pacífico. O controle de minas de jade
justificaria um contingente grande (para impedir roubos), mas compacto
(apenas ao redor das minas e acompanhando as caravanas que levavam a
jade até a Zona Metropolitana), sendo assim, é possível que a vida
daqueles povoados coloniais se restringisse às cercanias das minas que,
em geral são subterrâneas, o que explicaria a presença única de templos,
afrescos e baixos-relevos em cavernas e grutas.

4.2.4 – A América Central:

Provavelmente a influência Olmeca na América Central e Sul do


México não foi tão forte quanto aquela exercida nos Vales de Oaxaca, no
Planalto Central ou na costa do Pacífico. Há poucos indícios de centros
cerimoniais dessa cultura, se bem que existam muitas peças de arte
Olmeca menor.
Devemos, no entanto, levar em consideração que peças pequenas
(estatuetas, medalhões, lanças...) não indicam uma presença real de uma
civilização numa dada região, apenas a difusão de sua cultura até aquele
ponto. Indicativos verdadeiros da presença de um povo num local são
palácios, estátuas grandes, baixos-relevos detalhados, ou seja, bens
imóveis cuja edificação só se justificaria se membros daquele povo tivessem
a real intenção de habitar aquela região por um período de tempo razoável.
O atual Estado de Chiapas (uma região onde a presença Maia foi
muito forte, visto que constituía parte da Área Central daquela cultura,
porção que foi a segunda a ser ocupada pela expansão Maia, segundo os
estudo realizados) é uma região muito rica em vestígios Olmecas. Ele não
fica muito distante ao sul dos Vales de Oaxaca e, sendo assim, é possível
que sua penetração pelos Olmecas tenha atiçado a fúria dos Maias e
originado guerras, talvez até o ataque a Monte Negro (como já foi referido),
talvez fosse contra os Maias da Área Central que os Olmecas desejassem
se proteger utilizando para isso o seu possível Estado tampão de Oaxaca.
Xoc, uma região muito distante da Zona Metropolitana, parece ter sido
uma tentativa Olmeca de estabelecimento dentro do país Maia. Isso porque
lá as esculturas são muito bem trabalhadas e a arte em geral lembra muito
a de La Venta. Talvez fosse uma tentativa de impressionar pela grandioside.
Em Pijiapán, há baixos-relevos Olmecas que estão com os rostos
raspados num evidente esforço de tornar inidentificáveis as feições que
estavam entalhadas. É possível que a cidade tenha sido conquistada e os
Olmecas tenham sido expulsos, dessa maneira, o povo que os conquistou
quis se livrar da imagem dos inimigos.
O Xoconochco, a região que os Astecas mantinham sob seu controle
dentro das Terras Altas Maias (a primeira parcela do país Maia a ter sido
ocupada, possível berço dessa civilização e que foi densamente povoado
entre 1500 a.C. e 400 d.C., para depois praticamente ser esvaziada, na
época Asteca), parece ter sido uma importante zona de passagem de
caravanas Olmecas. Há muitos indícios de um freqüente trânsito de
mercadores daquele povo nessa região, no entanto, não há indícios de que
os Olmecas tenham se fixado ali. É interessante notar que antes do período
Maia Clássico (que só se inicia por volta de 200 d.C.), as Terras Altas eram
o principal centro da civilização Maia. Por isso, é muito provável que as
caravanas de mercadores Olmecas tivessem que pagar tributos para
poderem passar por aquela região e, os vestígios daqueles tributos são hoje
encontrados em Xoconochco.
O mais meridional vestígio comprovadamente Olmeca encontra em El
Salvador, no sítio de Las Victorias e trata-se de um baixo-relevo, o que
indica (como já foi referido) uma presença mais duradoura e até uma
possível ocupação.
É possível que minas de jade na Costa Rica tenham atraído
mercadores Olmecas, no entanto a presença duradoura não é comprovada,
o que é mais provável é que, na impossibilidade de estabelecer uma colônia
para forçar os nativos a extrair jade para eles, os Olmecas tenham se
contentado em comercializar o minério com os nativos que já o extraíam por
si próprios. Uma guerra tão longe de cãs e no seio do território Maia não
seria muito sábia.
Por fim, nas proximidades de Tonalá (que apesar de ser homônima
do rio onde se situava La Venta, não é próxima a ele), na cidade Tzutzuculi,
a presença Olmeca parece ter sido forte entre os anos de 545 e 340 a.C..
Entretanto, o centro cerimonial não parece ter sido Olmeca, mas sim,
dominado por eles, visto que há vestígios de uma população muito vasta
para ser Olmeca, afinal, a região se situava muito distante da Zona
Metropolitana.

4.2.5 – Chavin de Huantar: Olmecas na América do Sul?

Assim como os Olmecas estão para a Mesoamérica, a civilização de


Chavin de Huantar está para as civilizações da América Andina. Também
não se sabe seu verdadeiro nome, sua forma de governo, se formou ou não
um Império ou mesmo quais tecnologias conhecia. Sobre Chavin de
Huantar sabe-se apenas duas coisas (quer dizer, não apenas, mas são
estas as duas coisas de maior relevância para este texto): que este sítio
arqueológico foi, por muito tempo, uma espécie de Teotihuacán Andina, ou
seja, um centro de peregrinações mesmo depois de abandonado e que fora
o centro de uma religião que tinha como Deus um certo Deus Jaguar.
Calcula-se que o estilo Chavin date aproximadamente do ano 1200
a.C., mas o centro cerimonial é muito mais recente, tendo sua construção
iniciada não antes de 800 a.C.. Certamente Chavin de Huantar não foi o
centro gerador da cultura que difundiu, mas o marco do início de seu
apogeu.
Para alguns, a mera semelhança de credo entre Chavin e os Olmecas
(o Deus Jaguar) já é o bastante para afirmar que a cidade Sulamericana
teria sido fundada ou, ao menos conquistada, por aquele brilhante povo
Mexicano. As teorias que falam sobre contatos entre a América Andina e a
Mesoamérica são muito fortes, em especial no período imediatamente
anterior à conquista, quando uma estava dominada pelo Império Inca e a
outra pelo Asteca, ambos Estados fortes, expansionistas, centralizados e
organizados o suficiente para empreenderem expedições (mesmo que
meramente diplomáticas) a terras tão longínquas. No entanto, se formos
acreditar na teoria que diz que a América foi povoada à partir do Estreito de
Bering, então, temos que pensar que os homens da América Central e do
Norte (incluindo os da Mesoamérica) teriam um dia vindo para o Sul e se
tornado os homens da América do Sul, sendo assim, não haveria o porque
de se estranhar os contatos entre a Mesoamérica e a América Andina, visto
que esta só teria se formado devido a migrações de populações daquela.
Entretanto, como afirmei no início de meu texto, existem teorias (que
cada dia são menos vistas como absurdas) de que o homem poderia ter
chegado à América em levas marítimas oriundas do Extremo Oriente, levas
essas motivadas pela vontade desesperada de fugir da Era Glacial. É claro
que à História dos vencedores (e o que são os países da América do Norte
hoje perante o mundo senão os vencedores?) é muito mais interessante
que suas raízes se mostrem originais e que, de uma certa maneira, o
restante do mundo (ou, no caso, do continente) seja considerado como o
seu “quintal” por comprovações (parciais, eu diria) arqueológicas. Dessa
forma, não é de se estranhar que a historiografia oficial (a dos vencedores)
esteja demorando tanto em aceitar como possível a teoria da chegada via
mar, afinal (como já referi anteriormente), quem fugiria do frio do norte indo
mais para o norte ainda?
Se levarmos em consideração as teorias de que o homem possa ter
chegado à América pelo mar, fica mais fácil de se explicar várias coisa,
dentre elas, o porque do nível de “civilização” ter sido alcançado na
Mesoamérica e na América Andina na mesma época, coisa que não seria
muito lógica, se a segunda tivesse sido povoada posteriormente e,
conseqüentemente, tivesse sido submetida a todo um processo pré-
civilizatório tardio em relação à primeira.
Ainda levando em conta a teoria de que o homem teria chegado à
América pelo Oceano Pacífico, nós poderíamos pensar que talvez o culto ao
Deus Jaguar tivesse surgido em Chavin, por volta de 1200 a.C. e que, de lá,
tivesse se difundido (como realmente se difundiu por toda a América
Andina) até a Mesoamérica, sendo assim, talvez os Olmecas tivessem sido
convertidos pela religião de Chavin de Huantar.
Seguindo, agora, a linha ortodoxa da História, podemos dizer que
ultimamente está havendo uma tentativa relativamente grande se modificar
as descobertas e de se adulterar datas a fim de fazer com que se acredite
que a elite Olmeca, após o abandono inexplicável de La Venta, talvez tenha
vindo se hospedar num centro cerimonial distante, na América Andina, que
tivesse sido fundado (ou conquistado) por ela no limiar de sua expansão
territorial: Chavin de Huantar. A julgar por essa adulteração Histórica, pode-
se, no futuro, chegar a conclusões ainda mais geniais (comparáveis àquelas
que dizem que um dia houve o Império da Atlântida e que dele surgiram
tanto o Egito, quanto os povos da América, porque ambos faziam
Pirâmides. Mesmo sendo ambos distantes mais de 1000 anos no tempo e
mesmo as Pirâmides de uns não tendo nada haver com as dos outros) de
que os Olmecas de Chavin teriam resistido à uma terceira aniquilação e,
formado o Império Wari, que depois de aniquilado, teria (através de suas
elites (adivinhem... Olmecas) sobreviventes) dado origem ao poderio Inca.
Seria, no mínimo interessante, digno de um romance histórico, mas não de
uma teoria séria a ser aceita como “verdadeira”.
4.3 – O Império Olmeca:

Neste sub-item irei tentar abstrair; baseado nos vestígios


arqueológicos, mas, sobretudo, em comparações com outras sociedades
Mesoamericanas; sobre a forma como estava organizado o possível Império
Olmeca.
Como já me referi, os Olmecas primeiro se estabeleceram em San
Lorenzo e, de lá, povoaram a Zona Metropolitana criando vários centros
cerimoniais, dentre os quais, os mais notáveis foram Potrero Nuevo,
Tenochtitlán, Tres Zapotes e La Venta. Inicialmente, o Estado Olmeca
deveria ser uma espécie de Oligarquia Aristocrática, onde apenas um
pequeno grupo de pessoas controlava o Estado. Digo isso porque em geral,
nas sociedades primitivas não há um rei ou governante centralizado, mas
sim uma espécie de conselho, em geral dos mais velhos, ou dos líderes de
clãs, onde todos debatem e chegam a uma decisão quase democrática
(lembrem-se que a Democracia não conta, necessariamente, com a
participação de todos, decisões democráticas são, a rigor, decisões
tomadas, dentro de um grupo, levando-se em consideração a opinião da
maioria em detrimento da opinião da minoria) sobre as questões. Essa
forma de governo era aceita como uma tradição pela população e, ao longo
dos tempos, esses governantes podem ter se tornado uma espécie de casta
(existem três tipos de divisões sociais: castas (são divisões que não
permitem mobilidade social alguma, ou seja, o indivíduo tem seu destino
determinado de acordo com o seu nascimento), estamentos (onde existe
uma mobilidade social quase inatingível, mas possível, dessa forma, o
indivíduo pode se ver como um igual a um membro de um estamento
diferente do dele, entretanto, dificilmente poderá mudar sua posição social)
e classes (que são, ao menos na teoria, as formas mais justas de divisão
social, visto que numa sociedade dividida dessa forma, as pessoas são
completamente livre para ascenderem ou descenderem socialmente de
acordo com seu próprio esforço, entretanto, este modelo não funciona na
realidade, pois as sociedades de hoje, apesar de serem consideradas de
classes, assemelham-se muito mais a estamentos na prática de seu dia-a-
dia) que controlava a política e, talvez a religião. Outra constante nas
civilizações antigas era uma profunda vinculação da religião ao Estado,
sendo assim, na maioria das vezes os governantes também tinham poderes
devido aos desejos divinos e, às vezes, acabavam por serem considerados
verdadeiros semi-deuses.
Depois da destruição de San Lorenzo, a sede de governo se
transferiu para La Venta e é a partir daí que a civilização Olmeca começa a
se tornar aquilo que iria ficar para a História como a primeira alta civilização
da Mesoamérica.
Possivelmente a destruição de San Lorenzo se havia dado por causa
de uma insurreição popular motivada pela insatisfação com o Conselho
Governante. É possível que como sacerdotes, os governantes tenham se
esquecido de seus deveres para com o povo e só se lembrado de seus
deveres para com os Deuses e, sendo assim, o povo se rebelara e destruira
a cidade, provavelmente matando vários (senão todos) dos membros do
Conselho Governante.
Os possíveis sobreviventes (deve-se levar em conta a possibilidade,
ainda que remota, pensando-se que a cidade foi destruída, de um dos
membros do Conselho Governante ter articulado a destruição dos outros
para se tornar o único governante) do massacre migraram para La Venta e
lá, resolveram mudar a forma de organização de sua política. Se é que
apenas um sobreviveu, esta mudança foi simples, caso contrário, é possível
que os sobreviventes tenham se reunido e escolhido entre eles um líder,
aquele que estaria encarregado de governar tendo que, para isso, apenas
ouvir os conselhos dos demais membros. É possível que o Conselho se
reservasse o direito de veto às decisões do Imperador (vou chamar ao
governante por este título apenas para ilustrar mais facilmente para o leitor),
mas também é possível que, na medida em que o Império cresceu, o
Imperador tivesse se tornado uma figura muito superior ao Conselho (agora
que apenas um detinha o controle do governo, a possibilidade de que ele
fosse considerado uma espécie de semi-divindade passava a ser muito
grande). Com efeito, em La Venta, os Olmecas se impregnaram do clima
religioso da cidade e se transformaram numa Teocracia.
Como Teocracia, os desígnios divinos deveriam agora ser mais
importantes do que já eram anteriormente, sendo assim, é possível que a
expansão que se iniciou no século VI a.C. tivesse sido motivada (ao menos
na teoria) por razões religiosas. Talvez a difusão da crença no Deus Jaguar
(que será referido mais adiante). A crença no Bebê Jaguar (que será
referida mais adiante) poderia estar ligada à figura do Imperador, ou ainda a
uma tentativa de se encontrar o verdadeiro Imperador, sendo que aquele
que estaria no governo não seria o soberano de direito, mas tão somente
um guardião do trono para aquele que um dia viria (uma idéia que não era
muito incomum dentro do contexto Mesoamericano, até mesmo Montezuma
II tinha essa visão em relação a Carlos V e, em seu nome, a Cortez).
A expansão Olmeca para fora dos limites da Zona Metropolitana se
deu numa velocidade vertiginosamente alta, só mesmo justificável por uma
missão divina. É óbvio que interesses financeiros estavam em jogo e, talvez
os habitantes de Oaxaca pudessem ser um bom mercado consumidor dos
produtos adquiridos nas regiões mais distantes.
A expansão só pode ter sido realizada na forma de guerras e estas
guerras podem ter gerado uma nova divisão (talvez casta) na sociedade
Olmeca: os escravos.
Além de escravos, a expansão de La Venta deve ter criado um novo
mundo para os Olmecas. Como enquadrar os habitantes das demais
cidades da Zona Metropolitana? Em pé de igualdade com aqueles de La
Venta? E os habitantes das populações dominadas? Seriam todos
escravos?
O mais provável é que os Olmecas se tenham dividido da seguinte
forma: uma igualdade teórica entre os habitantes das cidades da Zona
Metropolitana (digo teórica, porque, o mais comum nos Impérios
Mesoamericanos era a formação de Ligas e Alianças, nestas, algumas
cidades governavam juntas o Império, como iguais na teoria, mas, na
prática, uma das cidades sempre estava em situação de preponderância e
acabava controlando até mesmo aqueles que deveriam ser seus iguais);
uma situação de neutralidade (mas não de igualdade) em relação às
populações dos Vales de Oaxaca; uma situação muito semelhante à pratica
da Suserania e Vassalagem Medievais em relação às populações
dominadas das colônias e a transformação em escravos (com possíveis
sacrifícios humanos) daqueles que houvessem lutado conta os exércitos
Olmecas.
Quanto à situação política das colônias, é possível que os antigos
chefes dos povos dominados continuassem a governar seus povos, no
entanto, as guarnições Olmecas garantiriam que os desejos dos
dominadores seriam cumpridos. Essa política em relação a povos
dominados era também comum em toda a América Pré-Colombiana (até
mesmo na América Andina), visto que poupava os dominantes de ter que se
preocupar com a administração das regiões dominadas, tendo somente que
mostrar-lhes freqüentemente a força de seus exércitos. O problema de tal
política se verificou, no entanto, na época da conquista, quando os
conquistadores se aproveitaram da insatisfação dos povos dominados para
uni-los contra seus opressores e assim obter reforços vitais em suas fileiras.
É possível (como veremos) que a escrita tenha sido desenvolvida
durante a expansão, isso porque é muito difícil administrar um Império sem
a presença de registros escritos. Caso isso seja verdade, é possível que
existisse algum tipo de escola responsável pela educação (instrução nas
letras) dos filhos das elites para que no futuro eles viessem a poder
controlar o povo utilizando-se de suas fraquezas, no caso, o fato de não
saber ler nem escrever.

4.4 – O Outono de um Povo:

A esta altura já temos esquematizado em nossas cabeças como pode


ter sido o Império Olmeca, se é que ele existiu, mas como entender como e
por que ele desapareceu?
Devido à falta de fontes escritas, dificuldades de traduções do pouco
que há e escassos vestígios arqueológicos, muitas teorias podem ser
criadas para explicar o desaparecimento de civilizações que, num dado
momento, entraram em colapso e desapareceram sem um motivo aparente.
É bem verdade que o que este texto está se propondo a fazer é justamente
criar uma dessas teorias, entretanto, o que diferencia uma teoria válida de
uma teoria não válida é o grau de base Histórica e Arqueológica que a
abstração do teórico tem. Há livros de ficção e de esoterismo que dão
explicações as mais absurdas para as passagens nebulosas da História da
Terra. Os autores desses livros costumam se intitular “guardiões da
sabedoria perdida”, ou ainda “desvendadores de teorias da conspiração”.
Em geral (para não dizer que todos são assim), esses livros não servem
para nada além de enganar e, talvez distrair por algumas horas os seus
leitores. O problema está no fato de que muitas pessoas vão ler estes livros
da mesma forma que lêem a Bíblia (e que, em geral, costumam ler
quaisquer coisas que encontram pela frente), ou seja, sem senso crítico.
Dessa forma, tornam-se presas fáceis de mentirosos e espertalhões que
utilizam de retórica para enganar os menos preparados. Fazem de suas
crenças uma espécie de ciência e, sendo assim, ganham dupla legitimidade
para o que dizem.
Como venho salientando ao longo de todo o texto, nada do que está
sendo dito aqui é a verdade, não sabemos quase nada sobre os Olmecas, o
que este autor está tentado fazer neste texto é dar uma interpretação
(baseada em pesquisas arqueológicas sérias, mas nem por isso exatas)
para o que pode ter sido a civilização Olmeca, sendo assim, a possibilidade
que venho oferecer a vocês de como pode ter ocorrido o eclipse Olmeca é,
como acabei de referir, apenas uma possibilidade.
Toda ordem estabelecida um dia, por mais que esse dia tarde, chega
ao fim. A História está aí para comprovar isso. Todos os Impérios que o
mundo já viram tiveram suas ascensões, seus apogeus (mais ou menos
longos dependendo do poder dos inimigos do Império e da época em que
ele existiu) e suas quedas (em geral rápida, mas, às vezes, lenta e gradual).
No caso dos Olmecas não foi diferente. Eles surgiram das cinzas e
para elas retornaram, como diz o velho ditado bíblico. Da forma como
desenvolvi a abstração de como pode ter sido a civilização Olmeca, parece
claro que num determinado momento, por volta dos séculos VII ou VI a.C.,
eles acabaram por entrar em conflito com a civilização Maia. É certo que
esta civilização ainda não tinha poder suficiente para confrontar o poderoso
Império Olmeca e, sendo assim, inicialmente pareceu ser mais uma povo a
ser engolido por sua expansão.
Inicialmente os Olmecas devem ter tentado penetrar no atual Estado
de Chiapas, construindo centros cerimoniais e influenciando as populações,
por volta do século VII a.C.. A resposta Maia pode ter sido o ataque e a
destruição (pelo fogo) da cidade de Monte Negro, nos Vales de Oaxaca
(vizinhos de Chiapas). Isso deve ter feito os Olmecas mudarem sua
estratégia e atrasarem sua penetração na Área Central Maia. Queriam
antes guarnecer suas defesas e conquistar o Planalto Central, um
importante ponto estratégico para a conquista de todo o México.
Uma vez completadas as conquistas do Planalto Central e da costa
do Pacífico, os Olmecas devem ter tentado penetrar no país Maia através
de suas partes mais fortes: as Terras Altas (onde estão Izapa e
Kaminaljuyú). É possível que acreditassem que se aquela região tombasse,
o restante iria junto.
Devem ter havido algumas batalhas iniciais, por volta de 530 a.C.,
mas tais batalhas devem ter se decidido em favor dos Maias que, apesar de
inferires tecnologicamente, estavam em imensa maioria por estarem se
defendendo, além de terem em seu favor o fato de conhecerem o território
em que estavam lutando (lembrem-se que os EUA, em pleno século XX,
com aviões, radares e tudo o mais, não foi capaz de vencer um grupo de
guerrilheiros da selva porque estes conheciam o território em que lutavam.
Me refiro à Guerra do Vietna).
Depois dessa derrota inicial da qual os registros podem ter ser
perdido, pois uma batalha na selva, sem armas capazes de danifica-la,
realizada há tantos milhares de anos e com tão poucas pessoas envolvidas
(sejamos realistas, se mil homens tivessem participado de uma batalha
como esta, já teria sido muito) não deixaria realmente vestígios capazes de
serem detectados. Os Olmecas podem ter resolvido mudar de tática.
Passaram a pagar tributos para poderem passar com suas caravanas pelo
Xoconochco, no intuito ou de, através da penetração cultural gradual, criar
nos Maias um sentimento que lhes impelisse a se render aos Olmecas na
esperança de obter os mesmos benefícios; ou ainda, de, criando cidades
dentro e além do país Maia, cerca-los para uma futura invasão maciça
(devemos nos lembrar que há vestígios de ocupação Olmeca em Las
Victorias, uma cidade muito próxima de Izapa), além disso, com a rota de
passagem por dentro das Terras Altas, o conhecimento do terreno (que
havia feito a diferença na primeira derrota) estaria garantido.
Os Maias devem, a certa altura, ter percebido o plano dos Olmecas e
iniciado as hostilidades (ou talvez as hostilidade tenham sido iniciadas pelos
próprios Olmecas que acreditando já estarem preparados para enfrentar os
Maias, começaram a se recusar a pagar os Tributos exigidos para a
realização da travessia do Xoconochco).
Essa guerra teria sido ferrenha, mas, novamente como os Maias
estivessem na defensiva, estes teriam levado a melhor desde o princípio (a
que se lembrar que mesmo os Espanhóis, no século XVI, tiveram muito
trabalho em conquistar as cidades Maias, isso porque nelas até mesmo as
mulheres, os velhos e as crianças se defendiam arremessando pedras dos
telhados de suas casas).
Acostumados a guerras, os Olmecas teriam acreditado que seria
apenas questão de tempo até que vencessem mais essa, no entanto, só
fizeram perder batalhas atrás de batalhas e, junto com elas, as vidas de
seus melhores guerreiros, depois daqueles não tão boné, depois daqueles
já velhos demais para lutar e, por fim, a daqueles jovens demais. Com
efeito, os centros cerimoniais e os vilarejos ao seu redor começaram a ficar
menos povoados por volta de 450 a.C.. As guarnições das colônias devem
ter tido que ser movidas logo depois dos primeiros revezes e, sendo assim,
as populações outrora dominadas, passaram a viver por conta própria, o
que também contribuiu com a derrota Olmeca no sentido em que acabava
com o abastecimento de produtos que oriundos das colônias.
Perto do ano 400 a.C., o governo de La Venta deve ter se dado conta
de que não poderia vencer a guerra, mas que também não poderia para-la,
caso contrário, os Maias acabariam com sua civilização. Também por essa
época, Tres Zapotes deve ter se rendido aos Maias, ou por livre e
espontânea vontade, ou por ter sido conquistada em um assalto, mas a
hipótese que parece mais provável é a de uma mistura das duas coisas, ou
seja, deve ter havido um ataque Maia e uma derrota da cidade, em seguida,
os administradores do centro cerimonial devem ter se reunido e resolvido se
unir aos Maias contra o governo de La Venta.
Com medo de sofrer o mesmo destino e, possivelmente, ainda mais
enfraquecida pela guerra (uma vez que a cidade era menor, pois tinha sido
reconstruída assim por La Venta em 600 a.C.), San Lorenzo deve ter sido
abandonado por seus habitantes. Outros centros cerimoniais devem ter
seguido o seu exemplo, o que desobrigou os Maias de empreender uma
onerosa campanha de conquista do território Olmeca.
Isolada La Venta deve ter tentado se prender em seus aliados
Zapotecas e Mixtecas, mas, não obtendo o mesmo resultado que obtivera
quinhentos anos antes, começou a encolher. A fome deve ter caído sobre a
cidade que deveria contar agora com uma mísera população masculina
(quase dizimada pelas guerras). Com a fome devem ter vindo doenças e, é
claro, uma diminuição brutal no padrão de vida de todos.
As guerras devem ter chegado ao seu fim por volta 375 a.C., fim esse
propiciado pelo final das investidas Olmecas e pelo abandono gradual das
cidades da Zona Metropolitana, o que fez os Maias desistirem da conquista.
Com medo de invasões e irada com os privilégios da elite (que
contrastavam com sua fome) a população de La Venta começou a se
sublevar (ou a abandonar a cidade, deixando a elite sem ter quem
trabalhasse para sustenta-la) e passou a ser duramente repreendida pelo
que restava m das tropas Olmecas.
Em cinqüenta anos, a situação não melhorou; não tinha como, o
desgaste havia sido muito grande; e agora os governantes já não mais
podiam contar com um efetivo de tropas grande o suficiente para protege-
las de um levante popular. Temendo que o que ocorrera em San Lorenzo há
mais de quinhentos anos se repetisse, as elites resolveram abandonar a
cidade. Fugiram rumo a algum lugar (que alguns podem dizer se tratar de
Teotihuacán (se bem que o centro cerimonial desta cidade só fosse ser
construído por volta de 150 a.C.), outros podem dizer se tratar de Monte
Alban (onde, como aliados, os governantes Olmecas podem ter sido
acolhidos e, através de casamentos, desaparecido, fundidos na elite
Zapoteca), ou até Chavin de Huantar (se bem que esta saída me pareça
extremamente cinematográfica para ter sido real)) cuja relevância não é
muito grande. Foi o fim de La Venta, por volta de 325 a.C. e, com ela, o fim
do mundo Olmeca, cuja cultura ainda resistiria em Tres Zapotes por mais
um ou dois séculos, mas depois, seria totalmente engolida pela cultura Maia
de Izapa e Kaminaljuyú.
As populações restantes em La Venta, vendo-se livres de seus
opressores (pois um Estado falido tende a oprimir ainda mais a seu povo na
esperança de manter o status de sua aristocracia), teriam permanecido
vivendo na região sem uma autoridade central, ou ainda, sido engolida pela
influência de algum centro cerimonial, talvez Zapoteca.
Passados alguns séculos, os Maias poderiam ter encontrado La
Venta desabitada e, tendo em seus registros as memórias da violenta
guerra (que também deve ter vitimado muitos Olmecas), devem ter
depredado as ruínas daquilo que um dia foi a capital do Império Olmeca.

5 – Religião, Mitos e Vida Cotidiana:

Hoje, com a Nova História tendo adquirido preponderância sobre a


forma de se fazer História anterior a Marc Bloc e Lucien Fabvre, somos
levados a acreditar que os principais legados de um povo, ou seja, o que
deve ser estudado quando se fala dele, é a sua cultura. No entanto, para
essa corrente, cultura é um misto de religião, artes em geral e literatura em
específico. É verdade que estes três itens sejam de suma importância para
o estudo de um povo do passado, no entanto, guerras e conspirações
governamentais, bem como a economia, não podem ser esquecidas. Não
se pode querer qualificar ou mesmo observar uma obra de arte sem que
antes se entenda o contexto político-econômico no qual ela se encaixa. Não
estou aqui criticando as contribuições da Escola dos Annales, apenas
ressaltando algumas de suas lacunas.
Neste item estudaremos justamente aquilo que os aficionados pela
História das Mentalidades acredita ser a única coisa de importante na
História, o legado “cultural” dos Olmecas.

5.1 – A Religião:

É natural que se tente encontrar um paralelo entre os deuses da


Mesoamérica de modo a se chegar a uma origem para essa mitologia.
Dessa forma, chegar-se-ia a um elo de união entre os panteões Asteca,
Maia, Tolteca, Zapoteca... Através do estudo de um panteão original, talvez
o Olmeca.
Deve-se tomar cuidado com reducionismos históricos, as sociedades
são muito mais complexas e mutáveis do que nós gostaríamos (em termos
de estudo e compreensão) que fossem. Seria simples se encontrássemos,
como procuram alguns Arqueólogos, uma Deusa Mãe que tivesse dado
origem a todos os panteões mediterrâneos da Antiguidade. Da mesma
forma seria muito cômodo se encontrássemos um panteão original ou
mesmo um ponto de partida da civilização Pré-Colombiana tendo como
base uma civilização original, no caso, os Olmecas. Explicar a História
assim seria quase como terminar um bom filme de suspense colocando a
culpa no mordomo, ou seja, no indivíduo (no caso na situação) mais óbvio.
Estudar uma religião antiga envolve também, além de todos os
problemas do reducionismo, vários preconceitos intrínsecos. É fácil ara um
Cristão, que se considera monoteísta (apesar de não o ser realmente, como
já desenvolvi anteriormente em meu texto A Religião e a Abstração), olhar
para uma religião baseada em fenômenos da natureza e na fusão de
homens com animais e pensar: “Só um monte de histórias interessantes”.
Esse é o pensamento que a maioria das pessoas têm sobre a Mitologia
Grega, por exemplo. Mesmo os Gregos tendo sido os pais da civilização
ocidental. É muito difícil para o cidadão médio (Cristão, de Classe Média,
com seus ideais arraigados em seu ser e tendo tido uma educação
castradora na infância na adolescência, que cresceu ouvindo sermões
religiosos e sendo obrigado a ir à missa ou ao culto religioso no domingo de
manhã, mesmo preferindo ficar na cama até mais tarde, tudo em nome de
uma fé que lhe foi imputada pelos pais numa idade anterior àquela onde
este indivíduo estaria apto a fazer sua própria escolha) olhar para um
panteão antigo, como o Grego, por exemplo, e pensar: “Por muito tempo
(em muitos casos, períodos maiores do que a idade atual do Cristianismo)
milhões de pessoas cultuaram esses Deuses. Por que motivo todas elas
estariam erradas e eu correto?”. Não quero com essa digressão dizer que o
Cristianismo está errado ou que qualquer religião antiga estivesse correta,
quero apenas fazer com que o leitor consiga olhar para o panteão Olmeca
(neste caso, mas poderia ser qualquer panteão) tendo em mente o que ele
realmente foi: uma fé aceita por muito tempo por muitas pessoas, pessoas
até, possivelmente mais devotas do que qualquer um que venha a ler este
texto, sendo que possivelmente eram capazes até de se mutilarem e de se
sacrificarem (literalmente falando) para aplacar a fúria de seus deuses, ou
ainda apenas para agrada-los, coisa que hoje apenas os Muçulmanos mais
radicais são capazes de fazer.
Pense nisso enquanto lê sobre o panteão a seguir e, mesmo que isso
não o tenha tocado, continue a manter essa idéia na cabeça para não
cometer novamente o erro de pensar que Histórias complexas como as da
mitologia Grega sejam apenas historinhas e que Histórias confusas como as
da Bíblia sejam “a verdade e o caminho para a salvação”.

5.1.1 – O Panteão:

Como já foi referido diversas vezes neste texto, os Olmecas


desapareceram há milhares de anos e, sendo assim, poucos foram os
vestígios que deixaram para que possamos proceder a uma correta e,
sobretudo, completa compreensão de sua civilização, mesmo assim, nos é
possível especular e, em cima de tais especulações, cujas fontes nos são
fornecidas pela Arqueologia, chegar a uma possível organização para sua
sociedade. Foi através desse método que, depois de realizar as leituras
prévias, consegui encontrar vestígios que apontam para nove divindades.
Talvez elas tenham sido realmente divindades Olmecas, talvez não, mas
que as chances de terem sido são realmente grande, isso são.

5.1.2 – Deus Jaguar:

Este é o único Deus Olmeca sobre o qual todos concordam. A


civilização Olmeca parece ter sido baseada na crença em um ou vários
Deuses Jaguar. Algumas vezes esta divindade é representada como um
Homem-Jaguar, também chamado de Were-Jaguar (em inglês, a palavra
Were colocada antes do nome de um animal indica o hibridismo daquele
animal com o homem, dessa forma, o Were-Wolf é o nosso Lobisomem,
mas em português não temos palavras adequadas para referir híbridos
lendários, por isso utilizarei o termo inglês), em outras é apenas um Jaguar
ou, tão somente seu rosto.
Acredita-se que as deformações cranianas, se é que elas existiram;
visto que não há um único exemplar de corpo Olmeca, uma vez que o clima
da Zona Metropolitana é extremamente quente e úmido, o que faz com que
os cadáveres se decomponham muito rapidamente; teriam sido inspiradas
na face do Jaguar. Sendo assim, os dentes incisivos superiores seriam
arrancados e o lábio superior mutilado de forma a parecer um lábio de
Jaguar.
Estátuas e estatuetas de Jaguar eram muito comuns e havia até
mosaicos imitando a face daqueles animais em certos lugares da Zona
Metropolitana, como em La Venta.
O Deus Jaguar seria, segundo as incidências de sua imagem, a
principal divindade do panteão Olmeca e seu culto poderia estar relacionado
com a Guerra (devido ao fato de o Jaguar ser um animal naturalmente
agressivo e, por conseqüência, temido), com a Terra (pois segundo
algumas crenças Mesoamericanas, os Jaguares seriam os verdadeiros
donos do mundo e, algum dia o iriam retomar dos homens), com as
Florestas (por motivos óbvios, uma vez que este é o habitat dos Jaguares)
e, com menor probabilidade, com o Milho (já que, como vimos e veremos, o
milho se disseminou juntamente com a imagem do Jaguar pela América) e
com as Chuvas (visto que as florestas onde os Jaguares habitam são
úmidas).
O culto ao Jaguar era tão forte no mundo Olmeca que possivelmente
teria dado origem a uma espécie de culto messiânico.

5.1.3 – Bebê-Jaguar:

O Bebê-Jaguar é uma figura que, diferentemente das demais


divindades identificadas, só é encontrada na Zona Metropolitana. Trata-se
de um bebê humano com feições de Jaguar. Ele é sempre representado
como sendo carregado por um dignatário homem, o que nos leva a crer que
seu culto talvez fosse secreto e restrito a poucas pessoas da elite da Zona
Metropolitana, além de nos possibilitar a dedução de que a sociedade
Olmeca teria sido patriarcal.
Foi encontrado um afresco (identificado como Olmeca) numa gruta
subterrânea muito distante da Zona Metropolitana (perto do Oceano
Pacífico), no qual um homem aparece com o pênis ereto e aproximando-se
de uma fêmea Jaguar numa clara intenção de coito. Dessa imagem; que por
estar escondida tão bem numa gruta tão profunda, pode-se crer que fizesse
parte de um culto secreto dos enviados Olmecas à região onde
administrariam as possíveis colônias; é possível extrair que talvez os
Olmecas tivessem o costume de realizar intercursos sexuais com Jaguares,
na esperança de que uma delas engravidasse e desse à luz ao tão
esperado Bebê-Jaguar.
Este bebê seria uma espécie de evolução da raça Olmeca, fazendo-a
se tornar semi-divina, superior aos demais povos do México. Se isso for
realmente verdadeiro, então pode-se ver na mitologia Olmeca uma espécie
de messianismo envolvendo o Deus Jaguar e um possível “escolhido”, seu
filho. Além disso, é possível que se pense, à partir da figura do coito entre o
homem e a Jaguar, que o Deus Jaguar fosse, na verdade, uma Deusa
Jaguar e que, em sendo a principal divindade Omeca, este povo seria então
devotado a uma divindade feminina como sua divindade principal.

5.1.4 – Xipe-Totec:

É questionável que este Deus tivesse feito parte do panteão Olmeca,


mas alguns Arqueólogos dizem ser possível identificar traços da crença nele
nos artefatos Olmecas.
Xipe-Totec era um Deus cultuado pelos Astecas, mas a crença nele
não foi introduzida por este povo chegado do norte, era muito mais anterior,
datando certamente de um período anterior a 200 d.C.. Ele era o Deus da
Primavera, da Renovação da Vegetação, da Fertilidade e dos Doentes. Era
representado por três crânios se abrindo, dando uma idéia de continuidade,
de infinito.
Realmente, o único indício realmente forte de que este Deus tenha
sido cultuado na época Olmeca é o fato de a crença nele datar de tanto
tempo.

5.1.5 – Huehueteotl:

Este era outro Deus muito semelhante a Xipe-Totec, seu culto ainda
existia no período Asteca, mas diferentemente do anterior, este já estava
quase esquecido, sendo adorado apenas por uns poucos sacerdotes. Era o
Deus antigo do Fogo. Aquele que (segundo a mitologia Asteca) fora
superado quando Huitzilopochtli, se tornara o Sol.
Seu culto tam,bem data de muito antes da chegada dos Astecas ao
México, mas a principal “evidência” que alguns Arqueólogos vêem para o
seu culto no período Olmeca é o fato de que algumas estátuas teria
sobrancelhas em forma de labaredas, o que indicaria um culto ao Deus do
Fogo. Entretanto, uma interpretação menos passional de tais estátuas diria
que, ao invés de labaredas aquelas sobrancelhas estariam em forma de
plumas, ou ainda de sobrancelhas de Jaguar.

5.1.6 – Deus do Milho:

Como o milho fosse o principal alimento dos indígenas da


Mesoamérica à época dos Olmecas, seria natural que alguma divindade
fosse a ele relacionada. No entanto, o Jaguar, como já mencionamos, não é
a figura mais indicada na arte Olmeca como representação de crença
relacionada ao Milho.
Ao contrário, em uma gruta (esta próxima da superfície), também
próxima ao Oceano Pacífico, foi encontrada a estátua de uma Deusa (da
qual falarei mais adiante) e ao seu redor, representações de Milho e de um
homem carregando espigas de Milho.
Há algumas outras representações desse indivíduo em diferentes
regiões do México, todas essas representações consideradas Olmecas.
Sendo assim, esse seria um Deus Olmeca, mas, possivelmente um Deus
menor, tributário da Deusa da Chuva.

5.1.7 – Deusa da Chuva:


Próximo a Cuernavaca há uma gruta (citada acima) onde foi
encontrada a estátua (esculpida na rocha) de uma mulher com uma barra
no colo. A gruta é esculpida de modo a se parecer com a cabeça de uma
serpente (todo o conjunto (gruta, relevos e estátua) mede 2,75m X 3,25m),
o que leva a crer que talvez a crença nessa Deusa tenha inspirado os cultos
em Tlaloc e Chac, na medida em que tanto o Asteca, quanto o Maia da
Água eram Deuses com cabeças de serpente.
Na gruta há uma representação que indica chuva, aliás, essa
representação foi utilizada milhares de anos mais tarde pelos Astecas para
o desenvolvimento de seus glifo para indicar chuva.
A idéia maior dos Arqueólogos é de que esta estátua, bem como esta
Deusa, se tratem de um sincretismo religioso entre um possível Deus
Olmeca e um Deus regional.
Essa Deusa também é tida como uma Deusa da Fertilidade, visto que
a barra que carrega no colo é interpretada como uma alusão a Bebê-
Jaguar, talvez propositalmente não esculpido para que os nativos da região
não soubessem do que se tratava, sendo assim, ela seria a responsável
pela fertilidade das mulheres e, sendo assim, a Deusa da Fertilidade, além,
é claro, da Chuva, o que é inquestionável, dados os diversos fatos que
comprovam esta tese.

5.1.8 – Deus da Morte:

Há a possibilidade, ainda que remota de que Xipe-Totec fosse o Deus


da Morte dos Olmecas, uma vez que, como Deus da Renovação, ele bem
poderia ser também o Deus da Morte, mas há que se lembrar que não é
certo nem mesmo que este Deus tenha feito parte do panteão Olmeca,
sendo assim, é complicado dizer que seja Deus não de uma, mas de duas
coisas.
Há, no entanto, representações Olmecas de crânios com o maxilar
descarnado, ou seja, com os ossos à mostra. Isso pode indicar várias
coisas, desde um culto a um Deus da Morte, como Xipe-Totec, até uma
pura e simples retratação de uma punição ou de um sacrifício voluntário, no
entanto, alguns tendem a acreditar que também possa se tratar de algo
ainda mais espetacular: uma representação do conceito da morte por si só,
sem que estivesse ligado a um Deus.

5.1.9 – Deus-Pássaro:

Não há nenhuma comprovação de que se trate de um Deus, o único


fato que embasa a teoria de que poderia haver um Deus-Pássaro são
quatro estátuas de homens-pássaros (Were-Hawk), o que nos remete à
cultura Asteca, onde os sacerdotes costumavam se vestir da mesma forma
que os Deuses que cultuavam. Sendo assim, essas representações seriam
de sacerdotes vestidos de águias por cultuarem um Deus Águia.
Há aqueles que acreditem que se trate de outro caso de sincretismo
religioso entre os cultos Olmecas e os da região dominada, no caso, uma
região próxima à Guatemala. Para essas pessoas, o Were-Jaguar teria,
nessa região, devido à distância da Zona Metropolitana e a um maior
diálogo com a região, sido substituído pelo Were-Hawk.

5.1.10 – Quetzalcoatl:

Em toda a área por onde se expandiu a cultura Olmeca foram


encontradas pinturas rupestres representando uma serpente. Em algumas
poucas dessas representações é possível (em se forçando um pouco a
barra) se encontrar asas na cabeça ou nos costas do réptil. Para os mais
crédulos isso já seria um indício comprobatório de que o culto à Serpente
Emplumada, mais tarde conhecido como Quetzalcoatl (talvez o mais famoso
Deus Mesoamericano, cuja fama se deve, em muito, ao fato de Montezuma
II ter acreditado que Cortez e seus homens fossem seus enviados), se
iniciara no período Olmeca.
Acredito que tal interpretação é demasiadamente apressada. Não
excluo a possibilidade de os Olmecas terem, de fato, criado o culto em
Quetzalcoatl, mas deve-se ter em mente que, na maioria das retratações
não há nenhum vestígio de plumas, além disso, a mera presença de uma
Serpente Emplumada, por mais tentadora que seja a uma comparação com
Quetzalcoatl, não indica a presença do Deus da Sabedoria, da Cultura e do
Vento, mas apenas, uma Serpente Emplumada.
Talvez, no campo religioso, a presença ou não de Quetzalcoatl na
mitologia Olmeca seja, juntamente com a possibilidade da existência de um
Messias (Bebê-Jaguar) a coisa mais intrigante a se pesquisar.

5.2 – Sacrifícios Humanos?

Não há nenhuma prova cabal de que os Olmecas tenham praticado


realmente o sacrifício humano. Alguns argumentam que os possíveis altares
encontrados em La Venta e que hoje se encontram na cidade de
Villahermosa, no Parque La Venta, tivessem sido tábua de sacrifício. Tal
afirmação se baseia no fato de que estes altares têm uma concavidade em
suas faces superiores. Algo que talvez pudesse ter servido para armazenar
o sangue dos sacrificados. No entanto, não há sequer a comprovação de
que tais peças tenham de fato sido altares. Poderiam bem ser peças de
decoração ou, como afirmam outros, tronos para líderes.
Outra grande fonte de embasamento para a afirmação de que os
Olmecas praticavam o sacrifício humano se encontra num baixo-relevo
encontrado numa caverna próxima ao Oceano Pacífico. Neste baixo-relevo
aparecem quatro homens, sendo dois mascarados (aparecendo no centro)
com máscaras que lembram uma face mista entre um Jaguar e uma ave
qualquer. Os outros dois homens são barbudos e o primeiro está,
aparentemente, colhendo algum vegetal (talvez milho) e o outro está (na
outra extremidade da obra) deitado de barriga para cima e totalmente nu,
exceto por um enfeite na cabeça. Este personagem também é barbudo (a
representação de figuras barbudas não é totalmente incomum na arte
Olmeca e a seu respeito discorrerei mais adiante) e tanto pode estar com a
cabeça apoiada na parte de trás de um ídolo, quanto pode estar com uma
máscara semelhante à dos mascarados no centro, só que virada para trás.
Dessa forma, sua cabeça estaria apoiada num pequeno travesseiro de
pedras. O fato é que os dois mascarados portam uma espécie de maça nas
mãos e avançam em direção ao homem nu com a clara intenção de golpeá-
lo.
Precipitadamente esta imagem foi analisada como sendo um
sacrifício religioso. É verdade que se pensarmos que o homem deitado não
está com uma máscara virada para trás, mas sim, encostado na parte
posterior de um ídolo, essa idéia fica mais evidente, mas como a realidade
depende do foco de visão do observador, podemos também pensar que
talvez aquele indivíduo barbudo fosse um membro de uma casta inferior (ou
mesmo um estrangeiro, como veremos mais adiante) que tivesse sido pego
utilizando os adornos dos membros de uma casta superior e, por isso,
condenado à morte. Dessa forma, ele estaria sim, sendo sacrificado, mas
este sacrifício não teria nada de religioso, seria meramente uma punição
legal, tal qual as penas de morte aplicadas hoje em dia que, apesar de
constituírem sacrifícios, não indicam que as crenças dos países que as
aplicam incluam sacrifícios humanos como forma de adoração divina.
Como venho afirmando ao longo deste texto, não há como
afirmarmos nada sobre os Olmecas, mas apenas supormos, sendo assim,
acredito que qualquer interpretação dessa imagem deve ser levada em
consideração. Digo isso porque, apesar de Jacques Soustelle dizer
categoricamente que esta imagem se trata de um sacrifício sobre um ídolo,
a mim não me pareceu que o montículo no qual o indivíduo nu está
recostado fosse um ídolo, mas sim, um montículo de pedra e que a suposta
cabeça do ídolo fosse uma máscara virada ao contrário na intenção de
mostrar que o indivíduo avia sido literalmente desmascarado.

5.3 – O Fim do Mundo:

Em nenhum dos livros que consultei para escrever este trabalho


encontrei qualquer menção sobre uma crença Olmeca no Fim do Mundo.
No entanto, isto me intrigou, afinal, quase tudo que se pensa saber sobre os
Olmecas é baseado em duas coisas: deduções feitas em cima de
descobertas arqueológicas e comparações com o que se sabe sobre Maias,
Astecas, Zapotecas, Toltecas...
Pois bem, se é assim que as coisas funcionam, então devemos nos
lembrar que os Mesoamericanos tinham uma forte e inexplicável crença na
possibilidade da extinção da raça humana, uma espécie de Fim do Mundo.
Para os povos da época da conquista, havia uma ligação mística desse
acontecimento com um misterioso ciclo de 52 anos. Para eles, o mundo
poderia acabar num dia que ocorria a cada 52 anos, quando os dois
calendários (o de 260 e o de 365 dias) se juntassem. Nesse dia eram feitas
cerimônias e vigílias e, caso o mundo não acabasse, eram realizadas festas
em agradecimento à graça divina.
Esse ciclo de 52 anos era, como vimos, ligado diretamente ao
calendário (aliás, o calendário Mesoamericano parece ter sido o mesmo
para todos os povos da época da conquista, mas sua utilização já era muito
antiga quando da chegada dos Espanhóis à América). A invenção deste,
por sua vez, é atribuída por um número cada vez maior de Arqueólogos, à
civilização Olmeca, sendo assim, não seria nenhum absurdo pensar que
talvez a noção de temor do Fim do Mundo também tivesse sido concebida
pelo imaginário Olmeca.
Somente a alegação acima já seria suficiente para suscitar a dúvida
de que talvez os Olmecas tivessem sido os primeiros a conceber o Fim do
Mundo, no entanto, há mais uma alegação possível para reforçar essa
hipótese. Na época da conquista, os Astecas acreditavam que o Sol que
nascia todos os dias, Huitzilopochtli, era, na verdade, o quinto Sol a existir
desde o início dos tempos. Eles acreditavam que o Fim do Mundo já havia
ocorrido quatro vezes no passado e, em cada uma delas, a humanidade
teria sido destruída por uma causa diferente: Na última vez Chalchiuhtlicue
(Deusa da Água) teria destruído o mundo com um dilúvio do qual os dois
únicos sobreviventes (um homem e uma mulher) não teriam escapado por
terem desobedecido a uma ordem de Tezcatlipoca (o Deus do Sol Noturno
e da Magia, em suma, do Mal), acabaram transformados em cães. Na
penúltima vez, a humanidade teria sido destruída por Tlaloc (o Deus da
Chuva), que teria feito chover bolas de fogo sobre a Terra destruindo a
humanidade (é curioso notar que alguns anos antes do início da Era Cristã
ocorreram várias erupções vulcânicas no Planalto Mexicano e que talvez
essa história fosse uma memória daquele período de catástrofes). O
Segundo Sol teria sido destruído pelo bondoso Quetzalcoatl (o mesmo que
restituiria a vida à humanidade depois da extinção do Quarto Sol), ele teria
feito com que toda a humanidade se transformasse em macacos depois de
uma tempestade mágica. Agora atentem para a destruição do Primeiro Sol,
nele a humanidade teria sido inteiramente destruída pela ira dos Jaguares.
Estes animais teriam, por algum motivo inexplicável, saído das florestas e
atacado as pessoas matando-as todas.
Atentemos para as seguintes situações: os Olmecas possivelmente
cultuavam o Jaguar como sendo seu principal Deus, sendo assim temiam-
no e deviam temer a todos os Jaguares em geral também, certo? Pois bem,
há um baixo-relevo encontrado em Chalcatzingo, nas proximidades do
Oceano Pacífico, que mostra nitidamente Jaguares saindo da floresta e
atacando pessoas. A interpretação dada a este relevo pela maioria dos
Arqueólogos está ligada à Zoofilia e à possível ideologia de nascimento do
Bebê-Jaguar (já mencionada), entretanto, na cena pode-se ver com nitidez
que os indivíduos atacados são homens e que os Jaguares não parecem ter
outra intenção senão a de devorarem suas presas. Pode ser apenas uma
representação casual do medo da morte que as populações dos vilarejos
periféricos em relação aos centros cerimoniais tinham no que se referia aos
Jaguares, mas que a semelhança com a crença Asteca da extinção do
Primeiro Sol é muito grande, isso é.

5.4 – Tecnologias:

Uma das coisas que mais nos pasma quando estudamos civilizações
passadas é imaginar o grau de organização que possuíam, mesmo sem
terem sistemas de comunicação que lhes permitissem organizar Impérios
como os que são possíveis hoje em dia. As Pirâmides do Egito são, para
muitos, um mistério devido ao grande brilhantismo com o que foram
executadas. As Linhas de Nazca não ficam atrás, tão pouco as grandes
construções da América Pré-Colombiana, desde as Pirâmides Mexicanas,
até fortalezas nas montanhas, como Macchu Picchu.
Os Olmecas também impressionam por muitos de seus avanços. Não
nos restou muito de sua civilização, é verdade. É verdade também que do
pouco que nos restou, a PEMEX tratou de destruir muito. Mesmo assim
sabemos que edificaram ao menos uma Pirâmide (em La Venta) e que
tornaram possível a existência de uma maravilha arquitetônica como o platô
sobre o qual foi edificado o centro cerimonial de San Lorenzo.
No entanto, os Olmecas foram mais brilhantes por coisas menores.
Como já mencionei, talvez tenham sido os pioneiros na descoberta da
agricultura do milho. Além disso, provavelmente são os criadores doa arte
da cinzelagem Mexicana, arte essa que se tornou a maior de todas as
características dos povos da Mesoamérica. Mas houve mais: como já firmei,
devido a esculturas nos é possível saber que conheciam aniamis marinho
como o golfinho, para isso, certamente necessitavam de embarcações
capazes de realizar ao menos a navegação de cabotagem (aquela que
contorna acosta sem se afastar muito, em geral utilizada para a pescarai e
transporte de indivíduos até ilhas próximas do continente). Suas
construções e, talvez suas próprias ideologias influenciaram os Zapotecas
que vieram a habitar nos vales de Oaxaca, mais precisamente em Monte
Alban (é interessante notar que a cidade, ou centro cerimonial, de Monte
Alban se localiza no topo de uma montanha, mas é totalmente plana, isso
porque o topo da montanha foi aplainado (literalmente cortado fora) pelos
Zapotecas que, provavelmente, herdaram as tecnologias utilizadas pelos
Olmecas para realizar a construção do platô artificial de San Lorenzo).
Além de tecnologias arquitetônicas, é interessante notar tecnologias
mais abstratas, idéias, como, por exemplo, o calendário. É possível que o
calendário tido como Maia seja na verdade Olmeca. Há pelo menos dois
sítios Olmecas onde existem registros de datas do calendário Maia,
entretanto, uma coisa intriga os Arqueólogos: as datas indicam períodos de
tempo muito mais recentes do que a Arqueologia comprova que a idade do
sítio era. Segundo alguns isso pode indicar que as datas tenham sido
gravadas posteriormente à extinção da civilização Olmeca. No entanto, para
outros, isso pode significar que o marco zero do calendário Olmeca fosse
diferente e, mais antigo que o do calendário Maia (que remontava a agosto
de 3114 a.C., suposta data ou da criação do homem, ou ainda do
surgimento dos Maias). Dessa forma, os Maias teriam herdado o calendário
Olmeca e modificado-o de acordo com suas próprias tradições.
Supor a existência de um calendário implica em muitas coisas, desde
uma melhor preparação para os eventos da natureza (como a mudança das
estações), até coisas mais abstratas, como uma forma de escrita e algum
tipo de Astronomia, além de, no caso dos povos Mesoamericanos, possíveis
formas de predizer o futuro, visto que, entre os Maias, por exemplo, o
calendário servia para marcar dias nefastos e dias bons.
Para a elaboração de um calendário é imperativo que se disponha de
meios para observar os astros e que se tenha uma perfeita noção da
passagem das estações, isso porque, sem esses conceitos, não se pode
delimitar a passagem do tempo em ciclos que se repetem, formando um
calendário. A escrita é, por sua vez, indispensável à elaboração de um
calendário porque sem ela não seria possível registrar as tabelas que
decorrem da análise da passagem do tempo e, sendo assim, em
pouquíssimo tempo esse conhecimento seria totalmente deturpado até ser
perdido por completo. Mais um item que pode vir a contribuir para a
situação das origens do calendário Maia na civilização Olmeca se refere ao
fato (arqueologicamente comprovado) de que o calendário de 260 dias, que
funcionava junto com o de 365, havia sido copiado da civilização Zapoteca
que, como vimos, nasceu sob a influência Olmeca (os registros mais antigos
indicam que os Zapotecas teriam começado a contar o tempo com seu
calendário por volta do ano 600 a.C., justamente na mesma época em que
se iniciou a expansão Olmeca de La Venta. No mínimo curioso, não é?)
A existência de uma escrita Olmeca é uma especulação também não
comprovada, no entanto, há um indício que me parece muito forte no
sentido de comprovar que ela existia, além de outros indícios de menor
impacto. Boa parte das esculturas Olmecas tem algum tipo de desenho
initelegível gravado em alguma parte. Até mesmo algumas das famosas
Cabeças Colossais possuem espécies de hieróglifos em seus capacetes (ou
turbantes). Talvez isso indicasse alguma forma de identificação das figuras
e, sendo assim, de escrita, visto que o objetivo da escrita é tornar possível a
outros compreender o que alguém que não está presente quis dizer (ou
disse) em algum determinado momento, por exemplo, no caso de tais
peças, a escrita serviria para que fosse possível identificar o que ou quem
está retratado na peça.
Indícios menores da utilização da escrita por esta civilização podem
ser obtidos através de uma simples abstração: alguns dos símbolos
encontrados em baixos-relevos Olmecas eram, na época da conquista,
parte dos símbolos hieroglíficos dos Astecas. Isso pode significar várias
coisas, desde uma mera coincidência, até o fato de os Astecas terem
encontrado tais símbolos e, por acharem-nos bonitos (ou de alguma forma
significativos), terem-nos incluído em seu alfabeto. Porém, há também a
inegável possibilidade de que tais símbolos já tivessem um significado
cognitivo (de escrita) definido na época Olmeca e que estes significados,
bem como os símbolos, tenham resistido ao tempo e perdurado até a época
Asteca.

5.4.1 – Espelhos Côncavos:

Os Olmecas conheciam os espelhos côncavos confeccionados em


hematita, mas daí a isto ter tanta relevância a ponto de receber um sub-item
dedicado a esse fato, já é demais, certo?
Errado! Espelhos côncavos, por si sós já são criações complicadas,
na medida em que sua confecção é mais difícil do que a dos espelhos
planos. Justamente pelo fato de eles necessitarem de uma curvatura correta
para que seu foco esteja perfeitamente alinhado com seu vértice.
No entanto, o que me fez dedicar este sub-item aos espelhos
côncavos Olmecas não foi nem sequer isso, mas sim a utilização estranha
que os Olmecas perecem ter feito deste tipo de espelho.
Ao que parece tratava-se de uma exclusividade de poucos,
possivelmente os sacerdotes, fazer uso de tais artefatos. Eles eram
carregados (segundo nos mostram gravuras) junto à cintura e parecem ter
sido utilizados pra refletir de maneira concentrada os raios solares com
algum fim. É possível que este fim fosse a criação do fogo (qualquer criança
já deve ter feito ao menos uma vez na vida a experiência de incendiar
gravetos secos com uma lupa num dia de sol). Talvez através de tais
espelhos os sacerdotes Olmecas simulassem poderes mágicos criando fogo
à partir do nada.
Porém, também é possível, se bem que menos provável, que esses
espelhos fossem utilizados como arma por alguns guerreiros (neste texto
sempre me refiro aos combatentes como guerreiro e não como soldados por
que o termo soldado tem, embutido em si, o significado de que o indivíduo é
pago para lutar por um governo e não se pode precisar se havia algum tipo
de monetarização da economia Olmeca) de patente mais alta. A finalidade
dessa arma seria cegar o inimigo ao refletir os raios de sol em seus rostos.
Pode parecer estranho, mas é possível.
Os espelhos poderiam ser, ainda, algum tipo de instrumento religioso
sem função definida, como um amuleto, mas não deixavam de ser
espelhos.

5.4.2 – O Comércio:

Na época da chegada dos Espanhóis à América (é sempre bom


ressaltar que isso ocorreu quase 2000 anos após o desaparecimento da
civilização Olmeca), os Astecas controlavam um gigantesco Império
altamente monetarizado e com rotas de comércio bem definidas, existia até
mesmo um estamento na sociedade Asteca dedicado única e
exclusivamente ao comércio e, dessa forma, livre do serviço militar.
Por essa época, a moeda Mesoamericana eram as sementes de
cacau, sendo assim, o cultivo do cacau era restrito a poucos e estava
sujeito à concessão do Estado Asteca. Não se tem notícia de quando se
iniciou o uso das sementes de cacau como moeda de troca, mas é possível
que isso tenha ocorrido ainda na época Olmeca.
É uma inverdade a afirmação que diz que “se o dinheiro não existisse
alguém iria inventa-lo”. A comprovação disso está no Tawantinsuyu, o
Império Inca, onde um soberano controlava uma área extremamente
populosa e povoada, com uma imensa variedade climática e, tudo isso, sem
a existência do dinheiro. Tudo na base do escambo. No entanto, apesar de
a História do Império Inca depor contra essa afirmação; todas as outras
grandes civilizações do mundo utilizaram alguma forma de moeda para
controlar suas finanças e seu poderio, mesmo que isso não tenha ocorrido
num grau generalizado (ou seja, mesmo que nem todos tivessem acesso ao
dinheiro), como na Europa Feudal.
Seguindo essa lógica e também supondo que os Olmecas tenham de
fato organizado um Império, com colônias e tudo o mais, é pouco provável
que tivessem desconhecido a monetarização, sendo assim, talvez tenham
sido os seus introdutores no panorama da Mesoamérica. Quiçá tenham até
sido os primeiros a utilizar as sementes de cacau como moeda.

6 – Imigrantes e Emigrantes, as Prováveis Relações Olmecas:


Este será, com certeza, o item mais conturbado de meu trabalho,
justamente por isso, será o último. Nele falarei sobre as possíveis, e talvez
prováveis, relações dos Olmecas com outros povos de dentro e de fora das
Américas.
Sei que muitos Arqueólogos abominam a idéia de que talvez nem
tudo o que fosse conhecido pelos índios da América seja realmente criação
deles, mas, deixando bairrismos de lado, acredito que a ciência deva buscar
a imparcialidade (apesar de ser impossível alcança-la, como já referi),
sendo assim, assumo por minha conta e risco as possíveis críticas que
venha a receber por mexer neste verdadeiro “vespeiro” que são as
possíveis evidências de contatos entre o Velho Mundo e a América
anteriores à conquista, no século XVI.
Antes de começar, no entanto, gostaria de acrescentar que hoje, tanto
a Arqueologia, quanto a História aceitam como verdadeiro o fato de que
Vikings realmente estiveram na América, fundando Vinland e tendo contatos
com indígenas da América do Norte, indígenas este que, depois de alguns
anos, destruíram o povoado Viking e quase varreram da História a sua
existência.
Se não fosse o trabalho de Arqueólogos e Historiadores dispostos a
combater as crenças de que a América só teria passado a ter contatos com
a Europa depois de 1492, talvez até hoje nó chamássemos de malucos
àqueles que dissessem que Leif Eriksson foi o descobridor da América.

6.1 – Biótipos Indígenas e a Arte Olmeca:

Bem, comecemos pelo mais óbvio para depois passarmos ao mais


obtuso. As Cabeças Colossais encontradas ao longo da área de influência
Olmeca, em especial na chamada Zona Metropolitana, têm semelhanças
demais com povos negro da África Sub-Saariana para que tais
semelhanças sejam ignoradas. Está bem, alguns vão dizer, existe ao menos
uma Cabeça Colossal com feições Mongóis, mas mesmo assim não deixa
de ser uma discrepância em relação às fisionomias dos índios da América.
Há mais, as estatuetas conhecidas como Baby-Face, encontradas
sobretudo na região do Planalto Central Mexicano (e catalogadas como
Olmecas) não se parecem com outra coisa senão com feições típicas de
Chineses.
Temos ainda que lembrar de três figuras em especial que chamam
muito a atenção: o “Tio Sam”, a imagem do provável sacrifício humano de
Chalcatzingo e a imagem conhecida como “O Embaixador”. Essas três
imagens, todas em baixo-relevo, têm uma característica em comum:
apresentam indivíduos altos, magros e barbudos.
Acredito que não há nenhuma evidência de índios com tais
descrições físicas, mas para quem ainda duvida de uma possível
representação de povos não Americanos, lanço a seguinte pergunta: Como
é que vocês fariam para negar que tais figuras são realmente de não
indígenas se elas fossem coloridas e mostrassem indivíduos de pele
branca?
Sei que perguntar “e se” em História é um erro, a História não pode
ser mudada, já aconteceu, no entanto, ser categórico numa afirmação é tão
digno de críticas quanto perguntar “e se”. Ou talvez mais...
Vamos levantar alguns pontos que podem ajudar (não sanar) a
abstrair sobre tais questões. Inicialmente é bom que se saiba que na atual
região composta por Líbano, Síria e Israel, na Antiguidade existiu um povo
chamado Fenício. Este povo se tornou extremamente particular em relação
a seus pares por diversos motivos, mas, em especial, por sua habilidade em
relação à navegação. Através da navegação os Fenícios se tornaram
grandes comerciantes e colonizadores, fundando colônias ao longo do Mar
Mediterrâneo. A mais famosa colônia Fenícia foi Cartago (atual Tunis), a
cidade que, nos século III e II a.C. esteve em guerra com Roma.
Pois bem, por volta do ano 650 a.C., o Faraó Nekao II, da XXVI
Dinastia, pagou um navegador Fenício para realizar a circunavegação a
África. Mesmo com todos os desafios (só para se ter uma idéia, o Cabo das
Tormentas (hoje conhecido como Cabo da Boa Esperança) só foi cruzado
novamente em 1498, por Vasco da Gama e tal feito foi tão memorável em
sua época que deu origem à maior epopéia da língua portuguesa: Os
Lusíadas) ele foi bem sucedido e pode levar ao Faraó o mapa da costa do
continente. Agora vejam, se os Fenícios eram tão bons navegadores que
foram capazes de realizar o feito de Vasco da Gama mais de 2000 anos
antes dele, por que motivo não poderiam ter chegado à América (mesmo
que não intencionalmente).
O professor Aurélio Medeiros de Abreu tem para isso uma teoria
fascinante. Seria possível que uma embarcação, por exemplo, Cartaginesa
(de descendentes dos Fenícios) tivesse se afastado demais da costa
Africana devido a uma tempestade. Essa embarcação teria sido pega por
uma corrente marítima (talvez a mesma que os Portugueses utilizavam na
época da colonização do Brasil para fazer suas rotas até o Nordeste)
qualquer e, ao avistar terra, saído dela para ir tentar obter suprimentos e
água para realizar a viagem de volta. Teriam parado no golfo do México e
chegariam a aportar nas proximidades do litoral Mexicano. Uma vez que a
região era governada pelos Olmecas, os estranhos recém-chegados teriam
sido capturados e levados até as elites em La Venta (ou talvez em San
Lorenzo, caso tivessem chegado antes de sua destruição). Os Olmecas
teriam conversado (na medida do possível), trocado presentes (seria uma
bela maneira de se explicar a introdução do arco e flecha na América, visto
que se trata de uma arma um tanto complexa para que se tenha imaginado
em tantos lugares no mundo. É mais fácil pensar em difusão do que em
invenção paralela) e se despedido dos estranhos visitantes.
Essa visita, mesmo que tivesse sido a única, com certeza entraria
para o imaginário Olmeca como uma espécie de contato divino e poderia
até mesmo ter dado origem ao mito de Tlilan Tlapalan (o país Vermelho e
Preto, que ficaria além do Oceano Atlântico e onde seria a morada de
alguns Deuses, dentre eles, Quetzalcoatl que teria ido para lá há muitos
anos). Os viajantes, por sua vez, jamais teriam conseguido retornar a sua
terra natal para contar sua descoberta, visto que seu navio teria naufragado,
mas talvez alguns tivessem escolhido ficar vivendo em meio a um povo tão
diferente e que, sobretudo os tratava tão bem. Talvez estes que tivessem
ficado, tivessem tentado se aproveitar de suas posições para abusar ou até
zombar dos nativos e, sendo assim, teriam acabado mortos, o que
justificaria o baixo-relevo de Chalcatzingo.
Essa viagem também poderia não ter sido a única, e, sendo assim,
podem ter havido mais contatos com povos do Velho Mundo. Mas e quanto
aos Negros? Como explicar a presença de Negros no estatuário Olmeca?
Simples, caso tal viagem tenham de fato ocorrido, basta pensar que
Egípcios e também Cartagineses utilizavam em suas embarcações alguns
remadores cativos de tribos negras. Estes indivíduos certamente teriam
causado um impacto muito maior nos Olmecas do que os brancos que lhe
comandavam, e, talvez tenham sido convidados a permanecer na América
onde seriam tratados como Deuses vivos (talvez até governantes de direito,
mas não de fato) e, na medida em que foram morrendo, seus rostos foram
sendo imortalizados nas Cabeças Colossais.
Quanto às feições Sino-Mongólicas, basta fazer uma transposição da
História da embarcação Fenícia para uma de uma embarcação Chinesa.
Para quem achar que a possibilidade de tais encontros é nula,
recomendo que também (apenas por uma medida de coerência) repudie
com a mesma veemência a teoria de que a América possa ter sido povoada
através de levas migratórias marítimas, afinal, isso teria ocorrido até 10 mil
anos antes dessas viagens hipotéticas, senão mais.
Para quem gosta de explicações mais simples ou meramente anseia
em concordar com a maioria dos Arqueólogos, tenho também as
explicações de praxe. A mente humana é capaz de criar as formas mais
estranhas, sendo assim, as Cabeças Colossais seriam o produto de uma
deformação craniana realizada com o intuito de fazer com que um indivíduo
ficasse parecido com um Jaguar, ou seja, com os lábios superiores
proeminentes. Além disso, esses indivíduos que tiveram suas cabeças
retratadas seriam de uma casta governante possivelmente marcada pela
obesidade.
Quanto às figuras com feições mongolóides, a explicação é a
seguinte: as deformações cranianas, de alguma forma, teriam feito com que
os Olmecas desenvolvessem a Síndrome de Down (o curioso é que essa é
uma enfermidade congênita que não se pode adquirir depois do
nascimento, em suma, não é transmissível). Essas pessoas com a doença
seriam tidas como “tocadas pelo divino” e, sendo assim, receberiam cargos
de proeminência e seriam dignas de terem seus rostos eternizados em
esculturas.
Finalmente, os indivíduos barbudos (detalhe é que as barbas são
barbas semíticas, não em estilo oriental, como se poderia imaginar que um
índio, mesmo sendo imberbe, talvez tivesse) não seriam nada além de uma
tribo com aquelas características físicas. Tal tribo, por motivos inexplicáveis,
teria desaparecido sem deixar vestígios, mesmo tendo tido contatos com os
Olmecas num passado tão remoto.
Se quiser, abstraia, se não quiser, concorde comigo ou com a opinião
da maioria (que sempre acaba tendo força, mesmo que não esteja correta),
mas lembre-se que aceitar uma coisa sem pensar à respeito é muito
complicado, amanhã você poderá estar aceitando que a civilização Olmeca
desapareceu misteriosamente porque, na verdade, seus soberanos
evoluíram tanto espiritualmente que encontraram a entrada para a Quarta
Dimensão e, sendo assim, agora, nesse exato momento, o Olmecas ainda
vivem, apenas não podem ser vistos por nó que não somos capazes de
perceber seu plano de existência (como diria um livro (campeão de vendas
há alguns anos, aliás), acerca dos Maias que também desapareceram (se
bem que não totalmente) de uma forma misteriosa).

7 – Bibliografia:

à ABREU, Aurélio M. G. de. Civilizações que o Mundo Esqueceu.

à FAVRE, Henry. A Civilização Inca.

à FERNÁNDEZ, Adela. Dioses Prehispánicos de México.

à GENDROP, Paul. A Civilização Maia.

à GIORDANI, Mário Curtis. História da América Pré-Colombiana.

à Grandes Impérios e Civilizações: A América Antiga – Civilizações


Précolombianas. vols. I e II.

à JAMES, Peter e THORPE, Nick. O Livro de Ouro dos Mistérios da


Antigüidade.
à JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito Antigo.

à OLIVEROS, Arturo. Guia de Monte Alban.

à SODI, Demetrio. Las Grandes Culturas de Mesoamérica.

à SOUSTELLE, Jacques. A Civilização Asteca.

à ----------------. Los Olmecas.

à TORRES, Yolotl González. Diccionario de Mitología y Religión de


Mesoamérica.

à VOGEL, Susana. Teotihuacan: Historia, Arte y Monumentos.

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