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Estudo de Caso

Falhas dos Navios Classe Liberty


O seguinte estudo de caso ilustra um papel para o qual os cientistas e engenheiros de materiais são
chamados para assumir na área de desempenho dos materiais: analisar falhas mecânicas, determinar suas
causas, e então propor medidas apropriadas para evitar futuros incidentes.
A falha de muitos dos navios da classe Liberty durante a segunda Guerra Mundial é um exemplo bem
conhecido e dramático da fratura frágil de um aço que era considerado dúctil. Alguns dos primeiros navios
experimentaram danos estruturais quando se desenvolveram trincas em seus cascos. Três deles se
dividiram ao meio de forma catastrófica quando as trincas se formaram, cresceram até um tamanho crítico,
e então se propagaram rápida e completamente até preencher o perímetro transversal do casco do navio.
Investigações subsequentes concluíram que um ou mais dos seguintes fatores que contribuíram para cada
falha:

• Quando algumas ligas metálicas normalmente dúcteis são resfriadas até temperaturas
relativamente baixas, elas ficam suscetíveis a uma fratura frágil, ou seja, elas experimentam uma
transição de dúctil para frágil com o resfriamento através de uma faixa de temperatura crítica. Os
navios da classe Liberty foram construídos com um aço que experimentava uma transição de dúctil
para frágil. Alguns deles foram posicionados no gelado Atlântico Norte, onde o metal originalmente
dúctil experimentava fratura frágil quando as temperaturas caíam abaixo da temperatura de
transição.
• Os cantos das escotilhas eram cantos vivos; esses cantos atuaram como pontos de concentração
de tensões em que podia haver a formação de trincas.
• Os barcos alemães da classe U estavam afundando navios cargueiros mais rapidamente do que
eles podiam ser repostos usando as técnicas de construção existentes. Consequentemente,
tornou-se necessário revolucionar os métodos de construção para fabricação de navios cargueiros
mais rapidamente e em maior número. Isso foi feito com a utilização de lâminas de aço pré-
fabricadas que eram montadas usando-se soldas, em vez do método convencional e demorado
no uso de rebites. Infelizmente, as trincas em estruturas soldadas podem se propagar sem
impedimentos ao longo de grandes distâncias, o que pode levar a uma falha catastróficas.
Contudo, quando as estruturas são rebitadas, uma trinca deixa de se propagar quando ela atinge
a aresta da chapa de aço. Defeitos nas soldas e descontinuidades foram introduzidos por
operadores inexperientes.
Algumas medidas remediadoras que foram tomadas para corrigir esses problemas incluíram o seguinte:

• Redução da temperatura, da transição dúctil para frágil do aço até um nível aceitável, mediante
uma melhoria na qualidade do aço (por exemplo, pela redução dos teores de impurezas de enxofre
e fósforo.
• Arredondamento dos cantos das escotilhas, mediante a solda de uma tira de reforço curvada em
cada canto.
• Instalação de dispositivos de supressão de trincas, tais como tiras rebitadas e cordões de solda
resistentes, para interromper a propagação de trincas.
• Melhoria na prática de soldagem e estabelecimento de códigos de soldagem.
Apesar das falhas, o programa de embarcações da classe Liberty foi considerado um sucesso por várias
razões; a principal delas foi que os navios que sobreviveram à falha foram capazes de suprir as Forças
Aliadas no teatro de operações e, muito provavelmente encurtaram a guerra. Além disso, foram
desenvolvidos aços estruturais, com resistência amplamente aprimorada às fraturas frágeis catastróficas.
As análises detalhadas dessas falhas possibilitaram maior compreensão da formação e dos crescimento
de trincas, e isso contribuiu para o surgimento da Mecânica da Fratura como área do conhecimento.

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