O documento discute a desigualdade na perspectiva de Keynes. A desigualdade é um fenômeno estrutural do capitalismo que se manifesta em múltiplas dimensões, como renda e acesso a bens públicos. A teoria de Keynes oferece elementos para enfrentar a desigualdade por meio de investimentos e políticas que elevem o emprego e a renda.
O documento discute a desigualdade na perspectiva de Keynes. A desigualdade é um fenômeno estrutural do capitalismo que se manifesta em múltiplas dimensões, como renda e acesso a bens públicos. A teoria de Keynes oferece elementos para enfrentar a desigualdade por meio de investimentos e políticas que elevem o emprego e a renda.
O documento discute a desigualdade na perspectiva de Keynes. A desigualdade é um fenômeno estrutural do capitalismo que se manifesta em múltiplas dimensões, como renda e acesso a bens públicos. A teoria de Keynes oferece elementos para enfrentar a desigualdade por meio de investimentos e políticas que elevem o emprego e a renda.
O modo de produção capitalista tem garantido, ao longo do tempo, a oferta de
uma quantidade incomensurável de novos produtos e serviços que influenciam a demanda da sociedade e introduzem novos e dinâmicos padrões de qualidade de vida. No entanto, parece estar evidente que o progresso econômico e a evolução das forças produtivas, ao criarem esses bens, não desenvolveram mecanismos automáticos capazes de garantir uma distribuição mais igualitária dos frutos gerados pelo próprio sistema. O Estado que juridicamente formaliza as relações sociais e corrobora com o avanço da desigualdade deve, portanto, concentrar esforços para que os níveis de desigualdade sejam substancialmente menores, garantindo melhores condições de vida à sociedade. A desigualdade, entendida como um fenômeno complexo, estrutural e dinâmico que se materializa na diferenciação entre pessoas, famílias e grupos sociais, tem como principal característica se manifestar em distintas dimensões. Sua complexidade advém justamente da forma multidimensional que esse fenômeno assume. É estrutural por ser intrínseco ao capitalismo e dinâmico por se transformar ao longo da evolução da sociedade e das relações no interior desse modo de produção.
A partir dessa premissa, o enfrentamento da desigualdade tem suporte na teoria
desenvolvida por John Maynard Keynes – considerado o maior economista do século XX - em que se evidencia o papel desempenhado pela variável do investimento, um dos mecanismos capazes de reduzir a desigualdade “multidimensional”, especialmente quando sua composição fortalece e amplia, estrategicamente, a oferta de bens e serviços que se mostram capazes de alterar a condição desigual de uma sociedade, reduzindo e/ou amenizando a insuficiência/privação no acesso à saúde, educação, transporte, habitação, saneamento, água, luz, lazer, cultura, entre outros.
A teoria de Keynes traz os principais elementos de suporte para uma estratégia
capaz de atuar nas duas dimensões básicas da desigualdade: a econômica, que está associada à renda corrente, ao mercado de trabalho e ao patrimônio físico e financeiro; e a social, referente ao acesso a diversos bens e serviços de uso coletivo, cuja demanda não necessariamente é atendida pela via monetária no âmbito do mercado.
A dimensão econômica da desigualdade pode ser equacionada, parcialmente,
pela elevação dos níveis de emprego e renda no âmbito do mercado de trabalho, impulsionados pela elevação do nível da atividade econômica. O Estado, ao promover políticas públicas de transferências monetárias diretas ou de valorização do piso salarial de uma sociedade como, por exemplo, as medidas adotadas pelo Brasil a partir dos 2000, pode alterar a desigualdade nessa dimensão. Nesse sentido, uma tributação progressiva mostrar-se-ia relevante, tanto para a redução da desigualdade de renda corrente, quanto para impactar positivamente a atividade econômica, elevando a demanda efetiva, à medida que a propensão marginal a consumir dos mais pobres é relativamente maior. Todos esses aspectos têm respaldo na teoria de Keynes e permitem que se possa, por meio dessa, compreender os diversos elementos capazes de atuar estrategicamente no enfrentamento da desigualdade econômica. A dimensão econômica é relevante não apenas como parte do fenômeno da desigualdade, mas, também, por afetar e ser afetada pela dinâmica econômica. Como bem apontou Keynes, a elevação da renda dos indivíduos afeta diretamente, no curto prazo, a atividade econômica e eleva o nível da demanda efetiva. Porém, não é apenas a ampliação do nível agregado da renda que pode provocar esse efeito. A redução da desigualdade de renda, isto é, a ampliação relativamente maior da renda das camadas mais pobres, onde se observam maiores propensões a consumir, também pode proporcionar um aumento do consumo e, por consequência, da demanda efetiva no curto prazo. Isso quer dizer que a redução da desigualdade econômica não é só relevante per se. Pelo contrário, essa pode ser capaz de dinamizar a economia. Esse dinamismo se materializa na elevação do consumo, que aumenta as expectativas de realização da produção, fazendo com que as empresas elevem o volume de emprego e, por consequência, a renda das famílias. Essa renda maior expande o consumo novamente, fechando um ciclo virtuoso para a economia. No entanto, o consumo é apenas uma parte do conjunto dos elementos que afetam a demanda efetiva.
Os investimentos, por sua vez, além de assumirem um papel central na
determinação da demanda efetiva e de possuírem a capacidade de dinamizar a atividade econômica no longo prazo, também se mostram capazes de reduzir a desigualdade em sua dimensão social. Na medida em que a desigualdade social se manifesta no acesso diferenciado a uma gama de bens e serviços públicos de uso coletivo, a dinâmica dos investimentos passa a representar uma possibilidade real de alteração da condição desigual de uma sociedade, se a expansão da oferta desses bens e serviços for capaz de reduzir as diferenças entre os grupos sociais em termos de privação/insuficiência quanto ao acesso.
No âmbito de uma estratégia de enfrentamento dos problemas associados à
desigualdade, a criação dessa sinergia entre elevação do nível de investimento (infraestrutura social) e redução da desigualdade social não pode ser pensada a partir das decisões dos agentes privados no âmbito do mercado. Desse modo, construir uma sociedade menos desigual exige uma atuação efetiva do poder público nas esferas econômica e social.
É possível afirmar que a velocidade de transformação do capitalismo foi tão
elevada que, de fato, o crescimento do capital mostrou-se capaz de gerar, em abundância, recursos e bens de consumo em grandes quantidades e variedades. Ao mesmo tempo em que este sistema promoveu a ampliação da riqueza e dos bens, também trouxe consigo problemas distributivos. Criou novas necessidades e novas formas de desigualdade (por exemplo, bens de consumo de alta tecnologia e acesso à informação), que passaram a confrontar-se com anseios pretéritos da sociedade (moradia, transporte, saúde, educação e renda). A estratégia de buscar na Teoria de Keynes os elementos para uma reflexão sobre a possibilidade de redução da desigualdade a partir da ampliação da oferta de bens e serviços (investimentos em infraestrutura social) combinada às elevações do emprego e da renda, dela correntes, está baseada nos seguintes pontos: ele identificou que a organização econômica da sociedade está dividida entre empresários (possuidores de capital físico e monetário) e trabalhadores (possuidores de força de trabalho); estabeleceu relações importantes para o entendimento do funcionamento da economia, destacando seu caráter monetário (influência da taxa de juros e da moeda) e as funções das instituições financeiras para a administração, da moeda e do crédito; identificou a importância do gasto (público e privado) em consumo e em investimento para a dinâmica econômica; demonstrou que a existência de uma parcela da sociedade que possui a capacidade de elevar seu gasto para além de sua renda cria as condições para a geração de emprego e renda; desmistificou a necessidade de poupança prévia para a expansão dos investimentos, teorizando que o gasto é que produz renda e que apenas uma parcela dessa é gasta; apresentou o princípio da demanda efetiva como um mecanismo de decisões baseado em expectativas (de curto e longo prazos); demonstrou que o investimento é a variável central da dinâmica econômica e, portanto, da possibilidade de elevação do emprego, da renda, do consumo e, em última instância, da criação das condições materiais para aumentar o padrão de vida na sociedade; e por último ele elucidou que o papel do Estado tem potencial para estabilizar, a partir de seus gastos e da imposição de regulações, um sistema econômico intrinsecamente instável e concentrador, e que suas ações poderiam controlar e estabilizar o investimento agregado, regular os impactos da moeda sobre a economia (finanças e taxa de juros do dinheiro), impedir flutuações no emprego e na renda e, por fim, ampliar a oferta de bens e serviços públicos. A redução das variáveis da desigualdade, portanto, depende do enfrentamento concomitante dos problemas associados à sua dimensão econômica (mercado de trabalho e renda/patrimônio) e à sua dimensão social. Esses últimos dependem da dinâmica dos investimentos ligados diretamente à expansão da oferta de bens e serviços de caráter público que diferenciam, em termos de acesso, pessoas, famílias e grupos sociais. Em outras palavras, dependem da expansão da infraestrutura social e do acesso da população que se encontra na base da estrutura social. As teorias apresentadas também se mostraram relevantes para a concepção de que esses investimentos dependem da orientação, do direcionamento e, em grande medida, da ação direta do poder público. É nesse sentido que se acredita que a teoria de Keynes seja bastante rica e atual, o que permite uma reflexão complexa sobre a relação entre a expansão do capital (investimentos), a sociedade moderna e suas demandas e necessidades. Seus ensinamentos lançam luz sobre as bases para se pensar os caminhos para o enfrentamento dos problemas oriundos da desigualdade, um fenômeno imanente ao sistema capitalista de produção. De forma bastante sintética, essas bases estão no entendimento dos papéis do consumo e do investimento para a dinâmica econômica, bem como na percepção sobre a possibilidade de intermediação pelo Estado da relação entre economia e sociedade, o que abre a possibilidade para uma atuação estratégica no sentido de reduzir ou amenizar o quadro estrutural de desigualdade multidimensional da sociedade capitalista moderna.