Você está na página 1de 3

Polêmica: PL propõe que gestantes do

SUS possam optar por cesárea, mesmo


sem indicação médica
O projeto de lei de Janaina Paschoal (PSL) foi apresentado à ALESP e tem gerado discussão. A
deputada estadual disse que está sendo pressionada a retirar a proposta: "Eu não tiro. Vou lutar por
esse PL até o fim". Grávida poderia tomar a decisão a partir da 39ª semana. Deputada quer votação
em caráter de urgência
Por Sabrina Ongaratto - atualizada em 12/06/2019 15h47

Compartilhar Assine já!

O PL

PL defende que a mulher escolha tipo de parto (Foto: Thinkstock)

435/2019, de autoria da deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP), tem dado o que falar.
Depois de a votação ter sido adiada na semana passada, a proposta deve voltar ao plenário da
Assembleia Legislativa para que seja decidido se deve ou não tramitar em regime de urgência. Isto
é, se deve ou não ficar livre da análise das comissões da saúde e da mulher.

ENTENDA A PROPOSTA

PUBLICIDADE

inRead invented by Teads


De acordo com o texto, o projeto "garante à gestante a possibilidade de optar pelo parto cesariano a
partir da trigésima nona semana de gestação, bem como a analgesia, mesmo quando escolhido o
parto normal". A parlamentar ainda afirma que "não tem nada contra o parto normal, não tem
nada contra o parto natural, mas tem tudo contra o desejo de impor convicções de umas poucas
pessoas às demais. Ousa-se dizer, à maioria”.

Nesta segunda-feira (10), durante o expediente na


ALESP, Janaina defendeu sua proposta. "Recebi
muitos depoimentos de mulheres. Algumas com
indicação de cesariana por pressão alta, por idade e
que foram submetidas ao protocolo do parto normal;
mulheres que por imposição do parto normal,
perderam seus bebês; homens viúvos que perderam
suas mulheres; e uma infinidade de casos de crianças
que ficaram com sequelas — a pior delas, a chamada
paralisia cerebral — em virtude da insistência do parto
normal, muitas vezes, já sabidamente inviável",
defendeu. E reiteirou que seu foco é nas pacientes do
SUS. "Eu não estou fazendo um PL para as mulheres
que têm condições de utilizar as redes privadas, que
têm seu convênio médico. Eu estou falando daquelas
que pegam o ônibus e vão para a maternidade e
gritam por horas. Casos concretos que eu acompanhei
de mulheres que imploram por uma cesariana", disse.

Deputada Janaina Paschoal (Foto: Alesc) A deputada também falou sobre a polêmica que
envolve o projeto e disse, inclusive, que recebeu
pedidos para que a proposta seja retirada. "Muitas pessoas entraram em contato solicitando que eu
retire meu projeto e eu acho muito intrigante esse tipo de solicitação, pois as pessoas que não
concordam podem tentar colaborar — com o intuito de melhorá-lo —, podem votar contra ele,
podem trabalhar e apresentar um projeto que julguem apropriado. O que não me parece
compreensivel é que quem não propõe nada, embora reconheça que como está não pode ficar,
queira convencer uma colega a retirar o seu projeto", declarou. Janaina ainda finaliza o discurso
afirmando: "Eu não tiro o PL, vou lutar por esse PL até o fim. Vou lutar pela aprovação porque ele
vai salvar vidas".

REPERCUSSÃO NA SOCIEDADE

saiba mais Para a educadora, ativista pela maternidade e infância e


autora do blog Mamatraca, Anne Rammi, a intenção da
Dor do parto: como aliviar e como
deputada é que o projeto seja votado sem o devido debate
lidar melhor com ela
nas comissões específicas e sem ampliar o assunto com a
3 motivos para ter parto normal
sociedade civil. "Há mais de uma semana, as mães, os
movimentos das obstetrizes, doulas, enfermeiras obstétricas
e a medicina baseada em evidência vêm acompanhando e cotidianamente conseguindo que essa
votação de urgência não seja executada. Estamos solicitando para a deputada, que está inflexível,
que o projeto tramite pelas vias normais para que a gente tenha tempo para um debate
qualificado", explica.

Segundo ela, como está, o projeto é problemático, pois oferece uma "falsa escolha". "O mesmo
sistema violento e negligente que atende a mulher num parto normal cercado de violência é o sistema
que vai atendê-la em uma possível cesárea. Então, esse projeto fala em apenas deslocar a violência.
E a gente sabe que mal atendimento médico, violência e negligência dentro de um processo
cirúrgico são igualmente graves. O projeto não dialoga com nada disso. Infelizmente, ainda não
conseguimos dar início a um debate com a Janaina, e a ALESP tem pouco conhecimento sobre o
tema", lamenta.

Por outro lado, na opinião do obstetra Ricardo Porto Tedesco, membro da Comissão Nacional de
Assistência ao aborto, parto e puerpério, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (Febrasgo), o projeto é válido no sentido de proporcionar igualdade de oportunidade
para as mulheres da rede pública e privada de saúde. "A mulher tem que ter autonomia para fazer
suas escolhas, mas desde que sejam previamente orientadas, por exemplo, quanto as possibilidade
de alívio da dor no parto normalou riscos de cesárea de repetição", alertou.

"Hoje, na prática, essas mulheres não recebem essa devida atenção. Se no pré-natal você puder
oferecer todas essas informações, certamente ela poderá tomar sua decisão. Portanto, sou a favor,
porém, com a ressalva de oferecer uma clara orientação sobre os dois procedimentos", finalizou.

OS NÚMEROS NO BRASIL

No Brasil, segundo Dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) de 2016,
as cesáreas são realizadas em mais da metade (55,6%) dos partos com nascidos vivos. A nível
mundial, a taxa de cesárea brasileira só perde para a República Dominicana (56%). Lembrando que
a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o número de cesarianas não
ultrapasse 15% dos partos.

Você também pode gostar