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Os neurotransmissores devem ser reconhecidos por receptores específicos, que norteiam suas ações
nas células pós-sinápticas. Também podem ser encontrados receptores pré-sinápticos, com função principal
de regular a secreção do neurotransmissor. São identificadas duas grandes categorias de receptores:
ionotrópicos (neurotransmissores de ação direta) e metabotrópicos (neurotransmissores de ação indireta).
Os receptores metabotrópicos, por sua vez, necessitam da produção de uma segundo mensageiro
para a ativação dos canais iônicos específicos. Dessa forma, a ligação com o neurotransmissor irá ativar a
resposta de uma proteína de membrana, a proteína G. Quando ativada essa proteína, sua subunidade alfa se
libera das subunidades beta e gama, migrando na membrana para ativar (em uma atividade à base de GTP)
a enzima adenilato ciclase, o que culmina com a produção do segundo mensageiro em questão: AMPc. O
efeito de excitação ou inibição induzido por essa forma de recepção indireta dos neurotransmissores gera
um potencial resultante mais lento e de maior duração.
Principais Neurotransmissores
Acetilcolina (ACh)
A acetilcolina (ACh) foi o primeiro neurotransmissor descoberto. Tem um papel importante tanto
no sistema nervoso central, como no sistema nervoso periférico (SNP). É um éster do ácido acético e da
colina, cuja ação é mediada pelos receptores nicotínicos e muscarínicos. É o único neurotransmissor
utilizado no sistema nervoso somático e um dos muitos neurotransmissores do sistema nervoso autônomo
(SNA). É também o neurotransmissor de todos os gânglios autônomos.
No sistema nervoso somático, a contração muscular ocorre devido à liberação desta substância pelas
ramificações do axônio.
Das colinas, é a mais importante e controla atividades de áreas cerebrais relacionadas com a
atenção, aprendizagem e memória. Por exemplo, durante a fase de sono profundo (sono REM), a
acetilcolina é liberada da ponte; em animais de laboratório, ao bloquear a liberação da acetilcolina, cria-se
um déficit na aprendizagem e memória (em alguns casos somente a colina é sugerida facilitar o processo de
aprendizado e memória); a Doença de Alzheimer está associada, em 90% dos casos, com perda de
neurônios colinérgicos no pró-encéfalo basal e hipocampo.
No sistema vascular, age promovendo vasodilatação, diminuição da frequência cardíaca, dedução
de força de contração cardíaca e diminuição de condução nervosa nos nodos sinoatrial e atrioventricular.
A acetilcolina produz também o fechamento do esfíncter pós-capilar, causando enchimento dos
sinusóides venosos e extravasamento de líquidos, aumento do volume da submucosa e vasodilatação. Ativa
as glândulas serosas, com o conseqüente aumento das secreções, provocando a rinorréia.
No SNC, os sistemas acetilcolinérgicos existem no cerebelo, sistema reticular ascendente, tálamo e
córtex cerebral, com atividades excitatórias e inibitórias. Os neurônios que sintetizam e liberam ACh são
chamados neurônios colinérgicos.
Quando um potencial de ação alcança o botão terminal de um neurônio pré-sináptico, um canal de
cálcio controlado pela voltagem é aberto. A entrada de íons cálcio (Ca2+) estimula a exocitose de vesículas
pré-sinápticas que contém ACh, a qual é consequentemente liberada na fenda sináptica.
A colina participará de uma reação de acetilação com Acetil-CoA, por ação da enzima colina
acetiltransferase. As terminações nervosas, onde se processam essas sínteses, são ricas em mitocôndrias
que disponibilizam a Acetil-CoA necessária para a reação.
Como etapa final da síntese, ocorre a captação da acetilcolina pelas vesículas sinápticas, cujo transportador
conta com o gradiente de prótons para dirigir essa coleta.
Para que exerça sua função corretamente, a acetilcolina, bem como os demais neurotransmissores,
deve ser removida ou inativada de acordo com as demandas de tempo para cada resposta sináptica
específica pretendida. Portanto, atua nesse processo a enzima acetilcolinesterase, que catalisa a hidrólise da
acetilcolina, liberando colina no líquido extracelular, que pode ser reaproveitada para os processos se
síntese neuronais.
Dessa forma, essa enzima é capaz de modular a intensidade da resposta sináptica, por exemplo,
sabe-se, através de métodos biofísicos, que o tempo necessário para a hidrólise da acetilcolina na junção
neuromuscular é inferior a 1 milissegundo, uma vez que a remoção imediata é necessária para evitar a
difusão lateral e a ativação sequencial dos receptores envolvidos.
Duas classes principais de receptores de ACh foram identificadas com base em sua reatividade ao
alcalóide, muscarina, encontrada no cogumelo e à nicotina. Respectivamente, os receptores muscarínicos
(que apresentam cinco subtipos) e os receptores nicotínicos (que ainda se subdividem em neuronais e
musculares), sendo ambas as classes de receptores abundantes no cérebro humano.
Os receptores nicotínicos musculares são encontrados nas junções neuromusculares. São receptores
ionotrópicos e, portanto, a acetilcolina agirá de forma direta, promovendo a abertura de canais iônicos e
uma resposta rápida que ocasiona a contração muscular.
Os receptores muscarínicos, por sua vez, são do tipo metabotrópicos (ativadores de proteína G e da
produção de um segundo mensageiro), e a ACh pode atuar como neurotransmissor inibitório ou excitatório,
conforme a região de recepção. Os receptores muscarínicos encontrados no Sistema Nervoso Central e em
músculos controlados pela divisão parassimpática do Sistema Nervoso Autônomo promoverão ação
1indireta da acetilcolina, excitatória, que culmina com potenciais de ação para a contração dos músculos
lisos inervados. Aqueles encontrados em regiões determinadas do Sistema Nervoso Central e no coração,
promoverão uma ação indireta da acetilcolina para a inibição da célula pós-sináptica, causando
hiperpolarização e consequente efeito de diminuição da frequência cardíaca.
Noradrenalina ou Noraepinefrina
Serotonina
Esta amina biogênica encontra-se no SNC, notadamente no tronco cerebral, amígdala, mesencéfalo,
núcleos talâmicos e no hipotálamo, possuindo tanto ação excitatória quanto inibitória.
Atualmente a Serotonina está intimamente relacionada aos transtornos do humor ou transtornos
afetivos, à ansiedade e à agressão. Pesquisas têm sugerido também a participação dos mecanismos
serotoninérgicos nos Transtornos de Ansiedade, particularmente nas crises de Ansiedade Generalizada.
Esta participação seria um complemento da atividade noradrenérgica, como sugerem evidências
neuroquímicas e farmacológicas.
Apesar de serem poucos os neurônios no nosso cérebro com capacidade para produzir e liberar
serotonina, existe um grande número de células que detectam esse neurotransmissor. Desse modo, a
serotonina desempenha um importante papel no funcionamento do nosso sistema nervoso e existem
numerosas patologias relacionadas com alterações na atividade desse neurotransmissor.
A serotonina parece ter funções diversas, como o controle da liberação de alguns hormônios e a
regulação do ritmo circadiano, do sono e do apetite, entre outras. Diversos fármacos que controlam a ação
da serotonina como neurotransmissor são atualmente utilizados, ou estão sendo testados, em patologias
como a ansiedade, depressão, obesidade, enxaqueca e esquizofrenia, entre outras. Drogas como o ecstasy e
o LSD "mimetizam" alguns dos efeitos da serotonina em algumas células alvo. No caso do ecstasy, faz com
que as células transportadoras das moléculas de serotonina façam o processo inverso, e as moléculas de
serotonina sejam novamente capturadas pelos receptores de serotonina, repetindo o efeito
desnecessariamente.
A diminuição da liberação de serotonina no sistema nervoso central está associada a desordens de
humor e depressão. Costuma-se tratar os pacientes com medicamentos que bloqueiam a recaptação da
serotonina para o terminal pré-sináptico. Associada à redução nos níveis de serotonina no sistema nervoso
central, a desordem obsessiva compulsiva, é geralmente tratada por meio da inibição da recaptação da
serotonina.O apetite é reduzido por drogas que elevam a serotonina no encéfalo. O comportamento
agressivo e suicida tem sido associado a reduzidos níveis de serotonina no encéfalo. A latência de sono
(tempo que a pessoa levar para dormir) é diminuída com “triptofano”, um aminoácido necessário para a
síntese de serotonina (esse dado sugere que a serotonina pode ter um papel importante na indução do sono).
As sinapses serotoninérgicas estão presentes no córtex cerebral e estão envolvidas nos processos de
percepção também.
A serotonina (5-hidroxitriptamina, 5HT) é formada pela hidroxilação e descarboxilação do
triptofano. A mais alta concentração de 5HT (90%) é encontrada nas células enterocromafinas do trato
gastrointestinal. A maioria do restante do 5HT corporal é encontrada nas plaquetas e no SNC. Os efeitos do
5HT são sentidos de maneira mais proeminente no sistema cardiovascular, com efeitos adicionais no
sistema respiratório e nos intestinos. A vasoconstrição é a resposta clássica à administração de 5HT.
Os neurônios que secretam 5HT são denominados serotonérgicos. Em seguida a liberação de 5HT,
uma certa porção é absorvida pelo neurônio pré-sináptico serotonérgico de modo similar aquele da
reutilização da norepinefrina.
A função da serotonina é exercida graças a sua interação com receptores específicos. Vários
receptores de serotonina foram clonados e identificados como 5HT1, 5HT2, 5HT3, 5HT4, 5HT5, 5HT6, e
5HT7. Dentro do grupo 5HT1 existem os subtipos 5HT1A, 5HT1B, 5HT1D, 5HT1E, e 5HT1F. existem três
subtipos 5HT2, o 5HT2A, o 5HT2B, e 5HT2, assim como dois subtipos 5HT5, o 5HT5a e o 5HT5B. A maioria
desses receptores está acoplada a proteínas G que afetam a atividade da adenilate ciclase ou da fosfolipase
Cg. A classe dos receptores 5HT3 são canais iônicos.
Alguns receptores de serotonina são pré-sinápticos e outros pós-sinápticos. Os receptores 5HT2A
são mediadores da agregação plaquetária e da contração dos músculos lisos. Supõe-se que os receptores
5HT2C estão envolvidos no controle alimentar, dado que camundongos desprovidos desse gene tornam-se
obesos pela ingestão de alimentos e são também sujeitos a ataques fatais. Os receptores 5HT 3 estão
presentes no trato intestinal e estão relacionados a vomitação. Também presentes no trato gastrointestinal
estão os receptores 5HT4, onde funcionam na secreção e nos movimentos peristálticos. Os receptores 5HT6
e 5HT7 estão distribuíos por todo o sistema límbico cerebral e os receptores 5HT6 apresentam uma alta
afinidade por drogas antidepressivas.
Dopamina
O sistema neuronal que tem como neurotransmissor a dopamina recebe o nome de sistema
dopaminérgico. O sistema dopaminérgico no SNC predomina no núcleo caudato, na área estriada, no
sistema mesolímbico, na região hipotalâmico-hipofisária e na medula espinhal.
A dopamina é um tipo de neurotransmissor inibitório derivado da tirosina e classificado no
grupo das aminas. Produz sensações de satisfação e prazer, além de manter o controle motor em
muitas áreas encefálicas e dos níveis de estimulação.
A doença de Parkinson acontece devido degeneração de neurônios dopaminérgicos oriundos da
substância negra, que enviam suas projeções para o estriado, o qual está envolvido no controle motor do
movimento. Ela é tratada com L-DOPA, o precursor da dopamina no encéfalo. Já a esquizofrenia é uma
patologia causada pelo excesso de dopamina liberada para o terminal pós-sináptico. Há a hipótese que
existe uma excessiva estimulação dopaminérgica no lobo frontal (causado talvez pela ativação de gens). É
tratada por drogas que bloqueiam a ligação da dopamina no receptor pós-sináptico. Além dessas patologias,
a dopamina também está relacionada ao transtorno do déficit de atenção com hiperatividade e à
psicose.
Com o objetivo de tratar doenças relacionadas a falta desse neurotransmissor poderia se pensar em
injetar dopamina na veia do paciente, porém aumento da pressão arterial e do batimento cardíaco, podendo
levar ao infarto do miocárdio, são conseqüências que atrapalham este método. Além disso, existe o fato
que, provavelmente ainda mais importante, a dopamina não é capaz de ultrapassar a barreira
hematoencefálica, mas para isso pode-se injetar L-DOPA (levodopa) no seu lugar, graças ao fato de ela ser
precursora da dopamina. No caso contrário a este (alta produção) são usados medicamentos capazes de
inibir a produção do neurotransmissor ou que bloqueiam os receptores dele.
A dopamina, uma catecolamina precursora de noradrenalina e adrenalina, é um neurotransmissor
produzido no sistema nervoso central (substancia negra e área tegumentar ventral - VTA) e na medula
das glândulas adrenais, sendo também liberada pelo hipotálamo como uma neurohormônio, que tem
importante função no cérebro, assim como está relacionado ao comportamento e à cognição, à
sensação de motivação e “recompensa”, ao sono, ao humor, à atenção, ao aprendizado, à inibição da
produção de prolactina, ao controle do vômito, à dor.
Atua como neurotransmissor na ativação dos receptores de dopamina (D1, D2, D3, D4 e D5) sendo
que sua inativação é feita por recaptacão neuronal (Reabsorção do neurotransmissor por proteínas de
membrana) e consequente quebra enzimática (catecol-O-metil transferase e monoamina oxidase).
Neurônios dopaminérgicos, do sistema neurotransmissor, originários da substância negra e VTA,
projetam seus axônios para partes do cérebro por 4 grandes sistemas: mesocortical, mesolímbico,
nigrostriatal e tuberoinfundibular.
Depois de sintetizada, a dopamina é armazenada dentro de vesículas nas sinápticas. Quando chega
um impulso elétrico na sinapse, essas vesículas dirigem-se para a periferia do neurônio e liberam seu
conteúdo na fenda sináptica. A dopamina aí libertada atravessa essa fenda e se liga aos seus receptores
específicos na membrana do próximo neurônio. O neurônio que secreta a dopamina é chamado de neurônio
pré-sináptico, porque a recebe antes da sinapse e o que recebe a dopamina é chamado de neurônio pós-
sináptico.
Uma série de reações ocorre quando a dopamina ocupa seus receptores (receptores dopaminérgicos)
no neurônio pós-sináptico: alguns íons entram e saem desse neurônio e algumas enzimas são libertadas ou
inibidas.
Após cumprir sua função (estimular o neurônio seguinte) a Dopamina é recapturada pelo neurônio
Pré-Sináptico (o mesmo que a secretou) através de proteínas chamadas de transportadores de Dopamina,
localizadas neste mesmo neurônio.
Glutamato
GABA
A ansiedade talvez seja a principal patologia associada a disfunções tanto de mecanismos inibitórios
mediados por GABA quanto de mecanismos excitatórios mediados pelo L-glu. São duas as razões que
levam o GABA a figurar como neurotransmissor candidato a estar envolvido nessa condição: 1) é um
neurotransmissor que se encontra em apreciáveis concentrações no sistema límbico, 2) os
benzodiazepínicos - compostos preferenciais no tratamento da ansiedade - atuam em receptores específicos
localizados em complexos macromoleculares que têm nos receptores GABA o seu principal efetor. A
deficiência de mecanismos mediados por GABA pode estar subjacente a certas manifestações da
ansiedade.
Alterações em mecanismos mediados por GABA podem também contribuir para o aparecimento da
esquizofrenia. Uma das razões disso está em que o GABA é um dos principais neurotransmissores
envolvidos nos chamados filtros sensório-motores (sensorimotor gating), que funcionam em circuitos
tálamo-córtico-palidais selecionando as informações que chegam ao nosso cérebro e para as quais é
necessário acionar os programas de ação apropriados para elaborar e gerar as respostas adequadas a elas.
Sabe-se que neurônios excitatórios mediados pelo L-glu provenientes do córtex se projetam em
neurônios GABAérgicos no estriado. Disfunção nesses mecanismos podem causar uma hiperatividade dos
neurônios GABAérgicos, que resultaria na sua degeneração ou destruição, reduzindo o freio estriado-
talâmico sobre o córtex motor. Distúrbios nesses mecanismos podem estar na origem da Coréia de
Huntington. O funcionamento normal do SNC requer um balanço entre a excitação e a inibição. Esta
homeostase que mantém ou restaura o balanço entre a excitação e inibição, se justifica, pois a excitação
excessiva pode causar disfunções e morte neuronial. Assim, a homeostase entre as vias excitatória e
inibitória em um mesmo neurônio é relevante, não apenas para a manutenção da neurotransmissão em
condições normais, mas também para a sobrevivência do neurônio. Entretanto, o balanço entre a excitação
e inibição, pode variar de neurônio para neurônio.