Lê o conto chinês que se segue com atenção e responde às questões com
frases completas. Um problema de interpretação
1 Um homem rico de nome Ting possuía avultados bens, mas era
avarento e pouco dado a inovações. Por isso não possuía um poço nas suas terras. Como a casa era grande e abundantes as tarefas domésticas, 5 todos os dias um criado tinha de partir para muitas léguas de distância de molde a poder trazer, em quatro baldes suspensos numa vara rija que apoiava sobre os ombros, a água necessária para o serviço da casa. Em regra, a água chegava demasiado tarde para alguns desses serviços e, por outro lado, o homem evidenciava um estado de cansaço 10 que acabaria por lhe roubar a vida. Foi então que Ting decidiu, apesar da contrariedade que a decisão lhe causou, mandar construir um poço nas suas terras. Quando, ao fim de algumas semanas, se deu conta das vantagens da medida que tomara, desabafou com uns amigos: 15 — Foi a melhor decisão que eu podia ter tomado. Agora tenho água sempre que preciso e, mandando abrir o poço perto de casa, acabei por ganhar um homem. Prontamente, os amigos do rico Ting trataram de espalhar a notícia. Quando já era contada na terceira ou quarta versão, propagou- 20 se a ideia de que, ao mandar abrir o poço, ele encontrara um homem vivo lá dentro. A versão foi-se enriquecendo de terra em terra, de boca em boca, multiplicando-se perguntas do género: “Mas quem é o homem 25 encontrado no poço? Qual é a sua identidade? Como conseguiu sobreviver tanto tempo metida na terra?” Assim enriquecida com a imaginação de cada um que a contava com palavras suas, a história chegou aos ouvidos do imperador que mandou chamar Ting à sua presença para saber tudo sobre a 30 misteriosa descoberta. Amedrontado na presença do imperador, Ting que, mesmo não se considerando culpado de um ato reprovável, sentia sobre os ombros o peso de uma estranha responsabilidade, explicou com a voz trémula: — Senhor, o que realmente aconteceu foi o seguinte: mandei 35 abrir um poço nas minhas terras e, ao fazê-lo, poupei o esforço de um criado que todos os dias palmilhava muitas léguas para ir buscar a água de que a minha casa precisa. Por isso comentei com os meus amigos que, assim, acabara por ganhar um homem. Foi só isso que eu disse. O imperador sorriu, mandou-o de volta às suas terras e comentou para um dos seus conselheiros: — Quantas vezes sou forçado a tomar decisões a partir de histórias que se transformaram à medida que foram passando de boca em boca. Não há nada como ouvir quem, de facto, as viveu. José J. Letria, Contos da China
I 1. Explica, por palavras tuas, a primeira frase do texto.
2. Que tipo de caracterização de personagem está presente em
“Um homem rico de nome Ting possuía avultados bens, mas era avarento e pouco dado a inovações.” (ll. 1-2) .
3. Quais eram os inconvenientes do facto de Ting não ter um
poço nas suas terras?
3.1. Das opções abaixo, seleciona a alínea correta:
3.1.1. A palavra “terras”, na linha 2, significa a. localidade, região, território; b. país, pátria; c. parte do solo que é possível cultivar.
3.1.2. A palavra “terra”, na linha 18, significa
a. localidade, região, território; b. poeira, pó; c. país, pátria. 4. Que consequência negativa sucedeu devido à distância do poço que servia as terras de Ting?
5. Apesar de contrariado, que decisão acaba por tomar Ting?
6. O provérbio “Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto.”