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A mosca e o homem rico

Conta-se que, na China antiga, um homem


muito rico emprestava dinheiro a todas as pessoas
pobres da aldeia. A bondade, porém, transformava-
se na cobrança de juros muito altos.
Na aldeia, vivia um homem que, como já tinha
muitas dívidas, recebeu a visita do credor, para ver
se ele tinha alguns bens valiosos que pudessem
cobrir o empréstimo. Ao chegar, só encontrou o filho
mais novo do aldeão, que estava junto ao celeiro.
- Os teus pais estão em casa?
- Não. O meu pai foi cortar árvores vivas e
plantar árvores mortas e a minha mãe foi vender o
vento e comprar a lua! – respondeu o rapaz.
O rico, que se achava muito esperto, não
percebeu nada, e ficou furioso. Ameaçou o jovem,
mas ele mantinha sempre a mesma resposta. Por
fim, já cansado e muito curioso, o homem propôs:
- Olha, se me explicares o que isso quer dizer,
eu esqueço a dívida que os teus pais têm comigo.
Isto é tão verdade como o céu e a terra serem as
minhas testemunhas!
- O céu e a terra não falam. Temos de arranjar
um ser vivo para ser testemunha – disse o rapaz.
O homem rico apontou para uma mosca que
estava no aro da porta, e retorquiu:
- Esta mosca será a nossa testemunha!
Com as coisas resolvidas, o jovem explicou de
imediato:
- O meu pai foi cortar bambus, para fazer uma
cerca, e a minha mãe foi vender leques, para
comprar óleo para os nossos candeeiros! Agora não
pode faltar à sua promessa!
- És um rapaz muito esperto! – e o homem rico
saiu, soltando estrondosas gargalhadas.
Dias depois, regressou, e exigiu de novo o seu
dinheiro.
O jovem, ouvindo a conversa, disse:
- Pai, não precisas de pagar. Ele fez uma
promessa, e agora tem de a cumprir!
- Eu nunca fiz tal promessa! É mentira! Tu és
mentiroso! – disse o homem, zangado.
Como nada se resolvia, o caso chegou ao
conhecimento do proprietário das terras. O ricaço
negava conhecer o rapaz, quanto mais ter-lhe feito
uma promessa. Já o jovem jurava que ele a tinha
feito. Por fim, o proprietário disse:
- É a palavra de um contra a do outro! Não
posso julgar, se não há nenhuma testemunha!
- Havia uma testemunha. Uma mosca ouviu
tudo! – indicou o rapaz.
- Uma mosca? Estás a gozar comigo? –
questionou o proprietário, num tom irritado.
- Não, senhor, não estou! Estava lá uma mosca,
grande e gorda, que pousou no nariz deste senhor!
- És um mentiroso! – berrou o homem rico. – A
mosca não estava no meu nariz, mas sim no aro da
porta!
Nesse momento, o proprietário das terras ficou
pasmado, a olhar para aquele homem. A afirmação
dele acabou por denunciá-lo. Estava confirmada a
promessa.
- No nariz ou no aro da porta, que diferença faz?
O senhor fez a promessa, e assim a dívida está
paga! – gracejou o jovem, contente com a situação.
A dívida foi esquecida e o homem rico
compreendeu que “a mentira tem perna curta”!
“Nosso Amiguinho”
Rosa-Dos-Ventos, maio, 2020, Ano 52, Nº 569,
Santa Casa da Misericórdia do Porto, CPAC,
Edições Braille.

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