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QUALIDADES DE ÒRÌSA...!?

http://www.altair.togun.nom.br/arquivo/cultura01.htm

Altair T’Ogun

Olá amigos!

Primeiramente, agradeço o prestígio de suas presenças para


conhecerem um pouco do meu trabalho e das minhas idéias.

Alguns leitores antigos, que já me conhecem, estão


acostumados com a minha maneira de ser, polêmica e irreverente. Isto,
porque procuro externar minhas idéias e meus pensamentos, às vezes sutil,
às vezes jocosa e agressivamente. Como todo filho de Ògún, sou
contestador e também, bem teimoso com relação às minhas idéias, mesmo
que contrariando tudo ou a todos. Se, é positivo ou negativo, não sei. Deixo
para que as outras pessoas decidam.

Essas minhas contestações não são gratuitas, mas sim, elas


visam tão somente pensar ou repensar algumas coisas que nos foram
passadas, como produtos acabados e imutáveis. Então, penso sobre
algumas dessas coisas. As minhas conclusões, tiro-as para mim mesmo.
Não querendo fazê-las descer de goela abaixo nas outras pessoas.
Reconheço o direito de todos a terem suas próprias opiniões e discordarem
das minhas; assim como, reivindico o meu direito de também discordar e
ter meus próprios conceitos. E também ainda, de chamar a atenção das
outras pessoas, que como eu, têm dúvidas e questionamentos acerca da
nossa Religião.

Não desejo afrontar ninguém, quero tão somente colocar aqui o meu
pensamento particular a respeito das tão faladas “Qualidades de òrìsà”, que
eu friso com (...!?), para ressaltar minhas dúvidas sobre isso. E, como já
dizia o nosso saudoso Abelardo Chacrinha: “Eu não vim para explicar, eu
vim para confundir...” (no bom sentido, para dar motivos para que outras
pessoas pensem a respeito).

Segundo os conceitos Yorùbá, o Òrìsà é uno, para eles não


existem as tão chamadas “qualidades” que temos aqui no Brasil. Lá, eles
cultuam um òrìsà em cada casa separadamente. Tendo casas, onde somente
se iniciam filhos de Ògún; outras somente de Sòngó, outras ainda, somente
de Òòsààlà, e assim por diante, etc. Esses rituais de iniciação são feitos no
templo do òrìsà, onde fica um assentamento comum a todos, chamado de
Ojubo. Não existem igbá individuais. Para eles, se for assentado mais de
um igbá, a força será divergida e dividida entre esses igbá. Ao passo que,
se todos os rituais forem feitos num único igbá ou ojubo, essas forças
convergirão e se somarão. Aumentado assim o àse para a casa e para
todos.

Ainda, nos festivais em louvor aos òrìsà, quando da


incorporação desse òrìsà, esta se fará num único filho, não importando
quem quer que seja. Então, numa multidão ninguém sabe quem será o
escolhido para incorporar aquele òrìsà. E quando isso acontece, todos os
demais filhos respeitam e aceitam aquele transe como o único; porque
aquele foi o filho escolhido pelo òrìsà para manifestar-se.

Ao virem para o Brasil como escravos os nossos antepassados


trouxeram consigo o culto aos òrìsà. E com o passar dos anos a religião foi
se enraizando aqui. E durante esses séculos que se passaram, desde a
chegada dos negros com sua religião até os dias atuais muitas coisas se
perderam, tais como: rituais diversos e a própria língua Africana Mãe,
diluindo-se quase que totalmente atualmente, onde a grande maioria das
pessoas, da religião, não têm conhecimento da língua ritual. E isso ensejou
uma série de equívocos, tais como “qualidades de òrìsà”.
Alguns òrìsà que eram cultuados antigamente e cujos cultos se
perderam no tempo, em grande parte, pelo famigerado “segredo”, que só
serviu para nos legar uma grande dose de ignorância sobre a nossa própria
religião; perderam seus cultos individuais e passaram a serem cultuados
como espécies de outros òrìsà assemelhados. Como: no caso de Airá, que
não é qualidade de Sàngó; Ògunte, que não é qualidade de Yemonja;
Òpàrà, que não é qualidade de Òsún; Erìnle, que não é qualidade de Òsóòsì;
Sòrókè, que não é qualidade de Ògún; Gbálè e Oníra, que não são
qualidades de Oya; etc. Alguns desses òrìsà tinham cultos semelhantes aos
destes outros, então, o brasileiro os inseriu como iguais e assim ficou. Ou
que ainda é simplesmente um oríkì pelo qual o òrìsà é chamado, e pelo
desconhecimento da língua Yorùbá, acabaram virando mais “qualidades”.

Poderíamos citar inúmeros exemplos, mas, citaremos os mais comuns


dentre nós, como “Qualidades”, hoje falando de Èsù.

Èsù é um òrìsà quiçá, o mais importante no panteão Yorùbá. Tudo e


todos necessitam da intervenção de Èsù, para executarem “n” tarefas. É aí
que entram com as tais qualidades, mas, que não passam apenas de funções
diversas exercidas por Èsù. Temos algumas como:

Èsù Elégbára:

Significa literalmente, Èsù Senhor da força ou do poder, o qual ele


detém incontestavelmente, de quem todos os demais òrìsà necessitam para
executarem seus feitos. Não é qualidade, é um oríkì pelo qual ele é
chamado.

Èsù L’ònòn:

Èsù no caminho, local onde ele mora, na orítà (encruzilhada).

Èsù Ònòn ou Olóònòn

Èsù do caminho, Senhor dos caminhos, o Senhor das estradas, função


em que ele abre ou fecha os caminhos; a quem pedimos licença para
transitar tudo o que desejamos, inclusive a nós mesmos. Ele é o Oníbodè
(O Porteiro), Oníbodè-òrun (O Porteiro do Céu); ou Olútójú (O guardião, o
Vigia), que revista a todos que transitam por aquela porta onde ele está de
guarda.

Èsù Elébo:

O Senhor das oferendas, função em que ele é o dono das oferendas


recebidas ou que as transporta aos demais òrìsà, com os nossos pedidos de
bênçãos e beneces.

Èsù Òdára:
A função exercida quando ele nos traz tudo de bom, bem como as
respostas dos òrìsà aos nossos rogos, sempre é mensageiro de coisas e
notícias boas.

Èsù Òjíse:

O Mensageiro, função em que ele faz a comunicação entre o ayé e o


òrun, entre os seres humanos e os ara-òrun. Também levando os nossos
pedidos e retornando com as respostas dos òrìsà. É também chamado de
Òjíse Ebo (O Mensageiro das Oferendas).

Èsù Elérù:

O Senhor do carrego, quando ele despacha tudo aquilo que não


queremos, para que vá para longe de nós, os males diversos como: morte,
ruína, doenças, perdas, negatividades, etc.

Estas e muitas outras denominações de Èsù são apenas para


especificar qual a função que ele exerce naquele momento, ou em
definitivo.

Admite-se até que existe o Èsù Bára (Èsu do Corpo), o Èsù


individual que mora dentro de cada pessoa. Neste caso, no fundo é o
mesmo Èsù, que de acordo com a lenda do nascimento de Èsù, parido por
Yèmòwò esposa de Òòsààlà, e que logo ao nascer come todos os seres
vivos do ayé, e quando tudo se acaba, ele ainda continua com fome e tanto
faz, que termina por comer sua própria mãe, que se deixa devorar apenas
para alimentar o filho.

Òòsààlà, seu pai neste ìtàn, ao vê-lo comer a própria mãe, enfurecido
puxa de sua espada e persegue-o para matá-lo. Ao alcançá-lo, Òòsààlà
desfere um golpe e parte Èsù ao meio. Ao invés de morrer, ele se
transforma de dois. Então, Òòsààlà desfere outro golpe cortando os dois;
que se transformam em quatro, e assim sucessivamente, até serem tantos
que ocuparam quase todo o espaço do ayé. Então, para que aquilo
terminasse, Èsù fez acordo em que prometeu a Òòsààlà, que restituiria
tudo o que fora comido. Tudo aquilo que ele recebera como oferenda, seria
restituído em forma de retribuição a estas oferendas por ele recebidas.

Nesse ìtàn ele comeu todas as criaturas vivas, todas as frutas, todas as
sementes, todos os vegetais e bebeu toda a água, otí, emu; daí lhe ser
atribuido o termo: " boca que tudo come", e é por isso também, que ele
recebe qualquer coisa como oferenda.

E, como Èsù se dividira tanto, tanto; ficou também com a


incumbência de cada uma de suas “cópias” ficar como protetora do corpo
de cada ser humano que fosse moldado por Òòsààlà.

Portanto, o nosso Bára é ao mesmo tempo o nosso Èsù individual,


porque vive dentro de nós. Mas, ele também é apenas uma parte do todo de
Èsù que foi dividido; sendo assim, o primogênito que se dividiu “n” vezes,
mas que, cada subdivisão é apenas uma pequena parte de um todo, que é o
próprio Èsù.
OGUN

Olá, àwon òré mi!

Eis -me aqui novamente para continuarmos o nosso assunto anterior,


sobre “Qualidades de Òrìsà...!?”.

Hoje falaremos das "Qualidades de Ògún" e, se houve tempo,


dos demais Òrìsà em geral. Sempre em conversas, quando digo que sou
filho de Ògún, perguntam-me, de “qual qualidade é o meu Ògún”. Então
eu digo que sou Omo Ògún e que não tem qualidade alguma. Muitas
pessoas não entendem ou não aceitam isso. Pois, instituiu-se dezenas de
“qualidades” para cada Òrìsà. Muitos vangloriam -se de serem
conhecedores dessas “qualidades”, que no fundo, não passam de oríkì de
louvação a cada Òrìsà ou especifica a região onde ele é cultuado..

Ògún é o Òrìsà conhecido quase que exclusivamente como o


Òrìsà das lutas, guerras, brigas, confusões, nervoso, teimoso e de fácil
irritabilidade. Mas, muitos se esquecem de dizer de suas qualidades
amenas (aí no sentido da capacitação como o patrono das artes que exigem
destreza manual); o guia nos caminhos; lavrador, caçador, etc.

Ògúnjà ou Ògún jà:


É quando Ele exerce a sua atividade de guerreiro, militar e
querelante. É quando Ele realmente está para briga.

Ògún Sórókè:

Tida como uma das “qualidades” mais conhecidas, violentas e


preferidas de Ògún, mas, que na verdade significa: Sé orí òkè; que
contraído dá Sórókè. Dizem, que é um Ògún bravo e sanguinolento como
resultado de sua “mistura” com Èsù

Uma das lendas de Ògún, conta que Ele estava no alto da montanha,
para onde ia quando saía à caça, pois, Ele é também um
Òrìsà Ode (Caçador). Essa lenda inicia-se por contar que:
“Ojó ntí Ògún sórókè bo...” (No dia em que Ògún estava no alto da
montanha e desceu...). Esse era o dia que Ele havia marcado para seu
retorno à cidade. Mas, diz essa mesma lenda, que Ògún é um Òrìsà que não
suporta que o ignorem. Ele é Òrìsà Pàtàkì (importante), e não tolera que
não lhe dêem a devida importância e atenção. Nessa cidade morava, na
mesma época, um desafeto de Ògún, que era conhecido como um grande
feiticeiro (Osó), que se chamava Àparò Degbeaha. E sabedor desse fraco
de Ògún, Àparò organizou uma cerimônia ritual na cidade, em que as
pessoas teriam que ficar sem falar, comer e beber por um dia inteiro. E
esse dia coincidiria com o dia da chegada de Ògún, somente para irritá-lo.

Quando Ògún chegou na cidade, ninguém falava com Ele,


ninguém o saudou como Òrìsà importante, aquilo já o deixou enfurecido.
Mas, como Ele estava com fome, dirigiu-se a uma cantina para que lhe
servissem comida e emu (vinho de palma). Chegando lá, ninguém o
saudou, nem lhe dirigiu a palavra. Ele pediu que lhe dessem comida e
bebida, mas, ninguém lhe respondeu alguma coisa ou serviu-o, porque
naquele dia era dia de abstinência total. Quando Ele insistiu e mais uma vez
foi ignorado, pegou o facão e golpeou os barris de vinho, derramando tudo
no chão; quando vieram para impedir que Ele fizesse aquilo, Ele cortou as
pessoas ao meio. E dizem, que quando Ògún fica nervoso, ele perde
completamente o juízo. E assim foi. Ele matou homens, mulheres, crianças
e depois foi para casa.

No dia seguinte foram à sua casa para lhe pedirem que Ele não
continuasse zangado com o povo da cidade, e lhe explicaram o que tinha
acontecido e do festival organizado por Àparò. Quando tomou
conhecimento de tudo, Ògún ficou enfurecido, mas, desta vez, contra
Àparò. Pois, ao saber que matara tantas pessoas inocentes por causa dele
Àparò, Ògún sentiu grande arrependimento, mas, o mal já estava feito.

Ele saiu à procura de Àparò, este quando avistou Ògún vindo


em sua direção, fugiu. Mas, Ògún perseguiu-o. Àparò estava desesperado,
pois, sabia que Ògún não teria compaixão dele. Então, fugiu, mas, Ògún o
perseguiu, e quando estava quase sendo alcançado por Ògún, Àparò
transformou-se num pássaro e voou para o alto do igi opé (a palmeira de
Òrúnmìlà). Como era uma palmeira sagrada, ele achava que Ògún não a
tocaria. Mas, estava enganado, Ògún começou a golpear a palmeira,
acabando por derrubá-la. Num último esforço de esperança, Àparò,
escondeu-se por entre as folhas da palmeira, pois, achava que Ògún não
cometeria o sacrilégio de destruir toda a palmeira de Òrúnmìlà. Estava
enganado novamente. Ògún desfolhou a palmeira e agarrou Àparò, que
pediu clemência, mas Ògún sem responder nada, cortou-lhe a cabeça que
rolou diante de si, que sentiu-se vingado. Como Àparò era um feiticeiro
poderoso, não morreu imediatamente. Ele olhou para Ògún e lançou uma
praga, dizendo: “Você Ògún, insensato que é, na hora da minha morte eu
lhe coloco meu último feitiço, o de que você haverá sempre de fazer coisas
na hora da raiva e se arrepender tardiamente, como foi hoje. Essa maldição
cairá sobre você Ògún e todos os seu filhos, que haverão de fazer coisas na
hora da raiva e se arrependerem depois, quando já não houver mais
conserto”. E tendo dito isto, morreu.

A história conta que foi a partir daí que Ògún sempre que ia
matar um desafeto, amarrava suas mãos, pés e prendia sua boca, para que
ele não lhe rogasse praga, como Àparò. Daí também, os sacerdotes que
executavam sacrifícios, passaram a imobilizar suas vítimas porque também
temiam a praga de Àparò Degbeaha. É o que fazemos até hoje quando
vamos sacrificar qualquer animal no ritual, prendemos suas bocas ou bicos,
patas e asas, para que não se debatam. Esse debater é interpretado como
uma praga na hora da morte, e não se quer dar chance a nenhuma das
vítimas dos sacrifício de amaldiçoarem seus executores.

Como dizia na maldição de Àparò, Ògún não sentia paz por


causa de ter matado tanta gente inocente. Então, reuniu as pessoas da
cidade e disse-lhes que iria embora e que só voltaria se precisassem da sua
ajuda. Mas também deveriam reverenciá-lo e saudá-lo assim:
“Pàtàkì Òrìsà”. Então, enfiou sua espada no chão e sumiu por dentro da
terra.

E conta ainda, que Òrúnmìlà, não permitiu que essa praga


caísse por sobre todos os filhos de Ògún, que também eram inocentes, e
ensinou-os um oríkì que diz: “Má jékí orí mi rí ìjà Ògún...” (Não
permita que minha cabeça veja a briga de Ògún). Pois dizem que a cabeça
que vê a briga de Ògún, torna-se maluca, a pessoa enlouquece totalmente.

A história foi um pouco longa, mas ela tem relação com a


fama do mau comportamento de “Ògún Sórókè”, que não é qualidade, mas
algo que se diz sobre Ògún.

Ògún Aláàgbède:

Ògún é ferreiro, uma de suas profissões com forjador de metais.

Ògún gbénòn-gbénòn:

Ògún é carpinteiro, patrono dos artesãos que trabalham com


entalhes e nas confecções de móveis e utensílios de madeira.

Ògún Elémònòn:
Ògún, Senhor que conhece o caminho, é padroeiro dos
motoristas.

Ògún ìkolà:

Ògún que usa marcas no rosto. Marcas faciais que indicam a


origem tribal, status e descendência. (kolà ojú).

Ògún OníÌré:

Ògún, Senhor da cidade de Ìré. Título que recebeu como uma


espécie de “padroeiro” da cidade de Ìré.

Ògún AláArá:

Ògún, Senhor da cidade de Ará. Título também recebido como


“padroeiro” da cidade de Ará.

Ògún Méje:

Ògún sete, esse número é menção às sete sementes que Ògún


plantou nos sete caminhos por onde passou. “Kàtà-kàtà ó gbìn méje, ó gbìn
méje ònòn gbogbo”.

Ògún Dàgòlóònòn kò yá:


É tida como a mais “nova qualidade de Ògún” dentre os
experts, mas, na realidade apenas se está pedindo licença ao Senhor dos
caminhos e que esses caminhos nos sejam suaves de percorrer.

Se para falar de tristeza meu tempo não dá, meu tempo não
dá...(Zeca Pagodinho); o meu também não, se for para falar de “qualidades
de òrìsà”. Como me estendi um pouco falando sobre Ògún, continuaremos
na próxima semana, sobre mais alguns òrìsà.

Ó di òsè tó nbo! Àse àti ki Ògún ìwúre wa!

OUTROS ORIXAS

Parece que existe, para cada òrìsà que conhecemos, uma


“qualidade” que é logo citada por alguém, mas, como costumo dizer aos
meus amigos, para mim só existem qualidades é de sabonete, sabão em pó,
margarina; mesmo assim, se formos investigar a fundo veremos que em sua
maioria pertencem à mesma indústria, mudando tão somente o nome
fantasia, não passando de maquiagem os seus nomes. Tomo primeiramente
como exemplo Òsóòsì, onde temos algumas “qualidades” como:
Ode Inlè: É outro òrìsà ode cujo culto original se perdeu no tempo e

como no caso de alguns outros òrìsà, acabou “virando qualidade a mais, de


Òsóòsì”.

Ode Ofà: Não é qualidade, significa, “o arco e a flecha do caçador,

sendo de Òsóòsì o seu principal apetrecho”.

Ode táfà-táfà: O caçador arqueiro, aquele que exímio atirador de


flechas, é predicado que se diz de Òsóòsì.

Ode Dáná-dáná: Literalmente, o caçador acendeu o fogo; quando


termina a sua caçada ele acende o fogo para cozinhá-la e preparar sua
refeição.

Ode Erìnlè: É também um outro òrìsà ode, que, a exemplo de Inlè,


cujo culto também caiu no obscurantismo, acabando por tornar-se
“qualidade de Òsóòsì”.

Ode Akúeran: (Ode ó kú eran); O caçador, aquele que mata animal


(a caça), é o que faz todo caçador.
Ode tó kú eran: O caçador é quem mata a caça, diz-se da atuação do
caçador.

Ode Otókansósó: Não é qualidade, é um oríkì que significa o


caçador que só tem uma flecha. Ele não precisa de mais nenhuma flecha
porque jamais erra o alvo. Título que Òsóòsì recebeu ao matar o pássaro de
Ìyámi Eléye. Não fazendo parte do rol dos caçadores que possuíam várias
flechas, Òsóòsì era aquele que só tinha uma flecha. Os demais erraram o
alvo tantas vezes quantas flechas possuíam, mas, Òsóòsì com apenas uma
flecha, foi o único que acertou o pássaro de Ìyámi, ferindo-o com um tiro
certeiro no peito. Por essa razão é que ele não recebe mel, pois o mel é um
dos elementos fabricado pelas abelhas, que são tidas como animais
pertencentes à Òsún, mas, também às Ìyámi Eléye. Então, é èèwò
(proibição) para Òsóòsì. Por essa razão também, é que se dá para Òsóòsì o
peito inteiro das aves, como reminiscência desse ìtàn.

Para Òsányìn, temos Aroni, que é òrìsà igbó, tinha culto


assemelhado ao de Òsányìn, e que fisicamente tem uma perna só, e que
aqui no Brasil é sincretisado com o Saci Pererê, do folclore brasileiro. Por
isso, muitos dizem que Òsányìn só tem uma perna. Mas, quem tem somente
uma perna é Aroni, que é òrìsà da família de Òsányìn.

Temos ainda Ààjà, entidade também de culto assemelhado ao de


Òsányìn, um imálè igbó, benéfico e com formas femininas, de baixa
estatura como um duende. Diz-se que ela leva as pessoas para o interior das
florestas, para ensiná-las a usar a magia e a medicina das ervas. É
considerada a divindade dos apanhadores de ervas (erveiros).

Para Lògún Ode, já não ouço falar tanto de qualidades, a não ser,
dizerem que Lògún pertence a esta ou àquela “nação”, que ele é “métà-
métà”, isto é, dizem, seis meses macho, seis meses fêmea. Particularmente
não concordo com essas coisas, primeiro: porque métà é o algarismo três,
então está errado afirmá-lo como dois. Segundo: Porque Lògún, segundo a
mitologia Yorùbá, é um òrìsà Ode, filho de Òsún sua mãe e de Òsóòsì,
seu pai. E segundo o pouco que sei, não existe essa androgenia entre os
òris à como algumas pessoas alegam por aí. Lògún é
òrìsà ako (òrìsà masculino). Por ser filho de Òsún, a Senhora das águas
frias e profundas, ele é herdeiro do reino de Òsún, isto é, o reino das águas
do rio. Por isso, ele é considerado um òrìsà odò (òrìsà do rio). E sendo
também filho de Òsóòsì, o Senhor das matas, das florestas, ele é
considerado herdeiro também do reino de seu pai, o das matas, como
òrìsà igbó (òrìsà das florestas).

Diz sua lenda, que ele passa metade do tempo com sua mãe no reino
das águas, onde ele tem o nome de Olóodò (Senhor do Rio), e metade do
tempo com seu pai, aprendendo a arte da caça no reino das florestas, onde
ele tem o nome de Oní igbó (Senhor das Matas - florestas). Então, ele é
chamado de Oníigbó-Olóodò (Senhor das florestas e Senhor dos rios). Diz-
se também que o barro das profundezas do rio (amòn) pertence a Lògún,
que também atende pelo nome de Alámòn ibú odò (Senhor do barro das
profundezas do rio). É òrìsà que está relacionado com o luxo, a riqueza, a
beleza, aquele que entende tanto a mente feminina quanto a mente
masculina. Isto, por causa de sua convivência com a mãe no reino das
águas, e da sua convivência com o Pai, no reino das matas. Não
significando por isso que ele seja andrógeno ou hermafrodita (macho e
fêmea), uma desculpa muito utilizada por alguns para justificarem suas
personalidades, sem quererem assumir suas responsabilidades, jogando-a
assim sobre o òrìsà.

Obalúwàiyé - Omolú: Embora digam que são qualidades, o correto é


que é o mesmo òrìsà atendendo por nomes diferentes. Obalúwàiyé - Rei e
Senhor da Terra - Omolú - Filho do Senhor. É mais conhecido como o
òrìsà das pestes, doenças e sofrimentos corporais. Mas, ele
também é o òrìsà que protege das doenças, das pestes, das epidemias,
endemias, doenças de pele e outras, da saúde em geral. É conhecido
como o médico dos pobres, e Senhor que tem boa memória (Oní iyè).

Sapánnán: Outro nome de Obalúwàiyé (sé - a - pa - inón - Aquele


que pode nos matar com o fogo), referindo-se ao sofrimento causado pela
ardência da varíola, que dizem queimar como fogo e também, aquele que
pode esculpir na carne das pessoas, isto com relação às cicatrizes que ficam
da varíola.

Sakpata e Ajunsu: São Vodun Jeje, correspondentes à entidade


Obalúwàiyé, que são cultuados como “qualidades de Obalúwàiyé”.
Jagun: Título de Obalúwàiyé (soldado, guerreiro), não é qualidade,
como dizem, e que seria uma espécie de Omolú que tem “fundamento”
como Òòsààlà e se veste de branco. Obalúwàiyé-Omolú é considerado um
guerreiro, por isso é chamado de jagun.

Òsùmàrè: Outro òrìsà que suscita polêmica, porque dizem que é


também ser métà-métà, o erro também começa por aí, pois, como já dito
acima, métà é o algarismo três e não dois, como se entende. Então acho
que só mesmo levando na brincadeira essa história de métà (três): deve ser
a turma do terceiro sexo que quer incluir o òrìsà como mais um
“coleguinha”. Não censuro e nada tenho a haver com a vida particular de
cada um, mas, as pessoas precisam saber separar a sua vida íntima da vida
religiosa. Não, querendo achar desculpas para seus atos e suas
preferências culpando os òrìsà.

Há controvérsias sobre a origem de Òsùmàrè, que dizem ser de


origem Jeje, e outros, dizem ser de origem Yorùbá. Existe na mitologia
Yorùbá a história sobre Òsùmàrè. O seu correspondente Jeje seria ou é
Besén. Com a mescla das duas “nações” é que é que incorporaram e
mixaram mutuamente suas mitologias, causando um pouco de confusão.
Mas, segundo a lenda Yorùbá, Òsùmàrè era um dos ministros de Sàngó, e
que era responsável pelo suprimento de água potável no ayé. E acreditava-
se que ele (pois, segundo a mitologia Yorùbá, Òsùmàrè é masculino,
também sem androgenia) transformava-se numa grande serpente que
baixava sua boca até o mar sugando a água necessária para a vida no ayé, e
que era devolvida em forma de chuva. Por acreditar-se ser o arco-íris essa
serpente de Òsùmàrè, é que ele foi identificado com a imagem da serpente.
Penso eu, que essa história de macho e fêmea para Òsùmàrè, surgiu do
folclore popular, onde dizem que em se passando sob o arco-íris, os
meninos virariam meninas e as meninas virariam meninos. Mas, todos
sabem que isso é uma brincadeira, mas, o caso é que muita gente levou a
sério e acreditou nisso, e outros ainda, gostariam tanto que isso fosse
verdade, aí complicando e embaralhando o assunto. Na mitologia Yorùbá,
não existe o “macho e a fêmea”, nem é necessário fazer oferendas com
casais de animais. O mais antigos tinham ciência da forma masculina de
Òsùmàrè, tanto que o sincretisaram com São Bartolomeu. Eles não o
sincretisaram com uma santa da igreja católica, mas, sim com um santo,
isto na época em que os negros eram obrigados a somente cultuar santos da
igreja católica, então, São Bartolomeu foi escolhido como “capa” ou “testa
de ferro” de Òsùmàrè.

Sàngó: O Deus dos raios e dos trovões é um outro òrìsà prolífero em


“qualidades”, algumas das mais conhecidas são:

Àfònjà: Tido como uma das mais famosas “qualidades” de Sàngó,


segundo a história de Òyó, no início do século dezenove Òyó era
governadab pelo rei Aolè, ele possuía aliados que tinham o título de
Àfònjà, que eram como uma espécie de generais que lhe davam apoio,
logístico, mantendo o seu poder e prestígio para governar Òyó e suas
cidades anexas que constituíam o reino de Òyó. Mas, um desses generais, o
Àfònjà conhecido como o Kaka-m-fò de Ìlorin, rebelou-se contra ele e
declarou-se independente do Oba. Aolè, o Oba de Oyó, por ter perdido
esse apoio que era crucial para sua manutenção no poder, envenenou-se, e
o ààfin (o palácio real) foi pilhado pelos rebeldes, fato que marcou a
dissolução do reino Yorùbá de Òyó. Atualmente aqui no Brasil, na
instituição dos Oba de Sàngó, Oba kaka-m-fò é o título de um dos seus
Olóyè, ou seja, de um dos Oba de Sàngó.

Sàngó Aláààfin: Também muito conhecido é apenas literalmente

(Sàngó, o Dono ou Senhor do Palácio, ou seja, o Rei).

Sàngó Ògòdò: Muito falado também, é apenas o que se diz sobre


Sàngó, pois, ògòdò é o verbo bocejar. Então, quando está trovejando, o
que se diz é que Sàngó está bocejando.

Sàngó Aládó: É o que se diz sobre Sàngó, que ele é o Senhor do

Pilão e que ele costuma despedaçar o pilão com relâmpagos, se fica


enfurecido. Por ser Senhor do Pilão, é que colocamos o seu igbá sobre um,
e ao mesmo tempo, relembra a sua aliança com Òòsààlà.

Sàngó Airá: Conhecidíssimo, mas que não é qualidade de Sàngó,

Airá é um outro òrìsà, que foi também um dos ministros de Sàngó. Como
era cultuado de maneira semelhante à de Sàngó, aqui acabou virando
qualidade deste. Segundo a lenda da visita do Óòní de Ifè ao Oba de
Òyó, quando do regresso de Òòsààlà para o seu reino, quem o carregou
desde o reino de Òyó até Ifè foi Airá, que tentou tirar partido da situação
intrigando Òòsààlà contra Sàngó. Pois, Airá tentou convencer Òòsààlà que
Sàngó fora o único culpado dele Òòsààlà, ter passado os sete anos
sofrendo maus tratos na prisão, porque fora preso pelos Òotá, os oficiais da
guarda real de Òyó. E, seu comandante supremo era Sàngó, então ele tinha
toda culpa. Mas, Òòsààlà não cedeu a seu veneno e perdoou Sàngó, que
sabedor do acontecido cortou relações com Airá porque este o atraiçoara.
Então, é considerado ofensa para Sàngó, chamá-lo de Airá ou chamar
Airá de Sangó.

Sàngó Káwò: Káwòó kábìèsí! É parte da saudação de Sàngó.

Oyá é também conhecidíssima com suas “qualidades”, são tantas as


que lhe são atribuídas, que até dizem coisas engraçadas sobre isso, como
certa vez uma pessoa me disse ser de “Oiá de balé” e que ela dançava na
pontinha dos pés mesmo, como uma bailarina... Fiquei calado...!

Oyá é a deusa dos raios e das tempestades, é a Senhora dos ventos.

Ela controla todo tipo de ventos desde o mais suave ao mais bravio como o
do ciclone ou do furacão. Ela também é detentora do título de Olúàféèfé
(Senhora dos ventos - aquela que comanda os ventos) e também, divide
com Sàngó o título de Aláàrá (a Senhora dos raios e trovões, o título de
Sàngó). Das esposas de Sàngó, foi a mais amada e apesar dela ter se
apropriado do poder do raio e do trovão que estavam sob sua guarda.
Lenda diz que Sàngó era detentor do poder do raio e do trovão, e quando
ele falava saia fogo de sua boca, esse fogo representava o raio e o barulho
de sua voz era ensurdecedora quando ele vomitava fogo. Esse era um poder
muito bem guardado e que Sàngo queria somente para sí. Então pediu a
Oyá para guardá-lo. Era uma espécie de magia de era bebida e conferia
aquele poder. Então, Oyá ficou louca de curiosidade e resolveu
experimentar somente um pouquinho. Ela provou, mas, não sentiu nada.
Colocou a magia no lugar e foi reunir-se aos demais para o jantar. Mas,
durante o jantar quando Oyá abriu a boca para falar, saiu-lhe fogo da boca
com um barulho ensurdecedor. Sàngo vendo isso ficou irado porque sentiu-
se traído por Oyá, que agora também tinha um dos poderes de que ele mais
se ufanava de possuir. Então começaram a brigar, e o efeito da briga foi
terrível com os dois vomitando fogo e trovões. Mas, como os poderes
agora se igualavam, os dois resolveram entrar num acordo para pacificar a
convivência. Aí, resolveram dividir os títulos de Aláàrá (Senhor do raio e
do trovão) e Olúàféèfé (Senhor dos ventos). Então, os dois passaram a
controlar esse poder mesmo porque Sàngó tinha um grande amor por Oyá e
ela por ele. Quando Sàngó caiu em desgraça no reio de Òyó e teve que
fugir para não ser assassinado por seus ministros, todos o abandonaram, até
mesmo suas duas outras esposas, Òsún e Obà. Somente Oyá acompanhou-
o no exílio demonstrando sua fidelidade irrestrita.

Oyá Gbálè: É um nome de Oyá muito conhecido, senão, o mais


conhecido dentre todos. Gbálè é o verbo varrer. Então, como ela é senhora
dos ventos, diz-se que ela “gbá+ilè” (varre a terra). A Contração de gbá+ilè
é gbálè. Então, quando se diz que Oyá gbálè, o que quer se dizer, é que
Oyá está varrendo. Não é qualidade de Oyá e sim o seu ato de ventar e
varrer a terra.
Oyá Oníra = Oyá Oní Ira: É um dos títulos de Oyá (Oní - Senhora
- Ira, segundo a lenda de Oyá, sua cidade natal, onde é muito venerada, por
isso lhe conferiram esse título. É mais ou menos como aqui no nosso caso
com Nossa Senhora Aparecida, que tem o título de padroeira do Brasil,
Então Oyá, é a padroeira de Ira.

Oyá Tópé: É o que se diz quando agradecemos a Oyá. (Oyá, tí + a


quem, opé - agradecemos).

Oyá Padà: Padà é o verbo voltar, então se quer dizer que Oyá voltou

ou voltará.

Oyá Onílè: Título de Oyá (Senhora da terra). Em alusão à ligação


de Oyá com os Egúngún e com os imolè (espíritos) da terra. Oyá e a
Senhora suprema dos Espíritos dos mortos, por isso Senhora da terra.

Òsún: É òrìsà odò (dos rios), é a Senhora das águas da vida Olóòmi
ayè, mãe das águas frias e profundas (Ìyá Ominíbú); foi também uma das
esposas de Sàngó, juntamente com Obà e Oyá. Ela é mãe cuidadosa
(Yéyé kare); Òrìsà da maternidade, aquela que propicia a gestação de
filhos. É òrìsà que tem grande poder de feitiço, por ser a Olórí Ìyámi
Eléye, isto é, aquela que tem o poder e é a líder das Ìyámi Àjé, sendo
Ìyámi Òsòròngà, aquela que mais ligação tem com Òsún. É sabido que
quando Òsún fica zangada ela pode usar os poderes de Ìyámi Àjé, para
causar problemas a alguém que a tenha ofendido.

Na lenda que fala dos primórdios do ayé, quando os òrìsà


vieram se assentar aqui na terra, conta que vieram também os dezesseis
Odù àgbà (os dezesseis odù principais). Eles vieram para ensinar aos
aráayé (os habitantes da terra) como cuidar dela, e quando estes tivessem
condições de cuidar da terra sozinhos, eles, os Odù àgbà, voltariam para o
òrun (céu).

Eles convidaram Òsún para auxiliá-los na tarefa e ela aceitou.


Mas, quando eles iam deliberar sobre alguma coisa importante, nunca
chamavam Òsún. Quando eles iam participar de algo de alta
responsabilidade, também não chamavam Òsún. Òsún era somente para
lavar suas roupas, fazer suas comidas, cuidar da casa e não participava de
nada com eles. Até que um dia ela se fartou disso. E foi aí que ela lançou
mão dos poderes de Ìyámi Àjé, de quem ela é a Chefe. Então, quando
eles deliberavam sobre a doença de uma pessoa e diziam que esta pessoa
não sobreviveria, Òsún colocava seu àse, e fazia com que acontecesse o
contrário: aquela pessoa sobrevivia. Quando eles diziam que alguém
sobreviveria, Ela fazia com que aquela pessoa não sobrevivesse, ela morria.
Se eles diziam que alguém teria muitos filhos, Ela fazia com que aquela
pessoa não tivesse nenhum filho. Se eles diziam que alguém jamais teria
filhos, Ela fazia com que aquela pessoa tivesse muitos filhos.
Então, as coisas começaram todas a dar errado no ayé, por
mais que eles fizessem para que houvesse prosperidade e fartura no ayé, só
havia decadência, fome, seca, e Eles não conseguiam mais acertar suas
previsões e não tinham a idéia do que causava aquilo. Então, eles
intrigados foram à Òrúnmìlà, para que ele os orientasse sobre o que estava
acontecendo. E Òrúnmìlà lhes disse que o motivo daquilo tudo, era a
décima sétima pessoa do grupo quem estava causando isso colocando o àse
das Ìyámi Àjé, por não ser chamada a participar das decisões, e que essa
décima sétima pessoa era Òsún. E que eles deveria chamá-la para participar
de tudo aquilo que fosse deliberado, para que as coisas voltassem ao
normal.

Eles voltaram para o ayé e foram pedir a Òsún que se juntasse


a eles para que houvesse harmonia e prosperidade no ayé. Mas, ela era
muito caprichosa e se recusava a juntar-se a eles, porque não fôra chamada
antes e somente agora que estavam precisando dela é que a chamavam.
Eles pediram, imploraram, ajoelharam-se aos seus pés, mas, ela manteve-
se irredutível. Eles ficaram desesperados com a atitude de Òsún e já não
sabiam mais o que fazer para dissuadi-la. E como Òsún estava grávida,
resolveu então que ela não participaria com eles, mas, que quando o seu
filho nascesse, este se juntaria a eles tomando o lugar de Òsún.

Então, eles ficaram ansiosos pelo nascimento do filho de Òsún, que


seria o décimo sétimo elemento dos Odù àgbà. E todos os dias, eles
vinham pela manhã antes do raiar do sol, colocar suas mãos sobre o ventre
de Òsún, para passarem àse ao seu filho. Conta esse ìtòn que Ela deu a
luz à Èsù e que ele recebeu o nome de Òsétura (aquele que recebeu àse
ainda no ventre da mãe) que tem àse de acalmar o corpo.

Então, Èsù passou a integrar o grupo todas as vezes em eles se


reuniam. Aí o número dos Odù àgbà passou a ser o dezessete, ou seja,
dezesseis mais um; esse um é o significante de Èsù. E, é sabido que
quando os bàbáláwo vão jogar, sempre colocam um kawri, que é preparado
num ritual de Ifá, para Èsù, significando a presença dele como do décimo
sétimo elemento. Esse kawri não pode ser visto ou tocado por outra pessoa
além o Olúwo, e fica escondido no local do atendimento das pessoas, longe
dos seus olhos. Então, Èsù ao tomar o lugar de Òsún junto aos dezesseis
Odù àgbà, tornou-se o décimo sétimo elemento do jogo divinatório, de
qualquer espécie ou instrumento.

Òsun é considerada um òrìsà de grande poder de feitiço, pois, ela é


detentora do poder dos òrìsà, das Ìyámi Eléye e do poder de Èsù, tornado-
se por isso perigosa.

Òsún Ominíbú: Longe de ser uma “qualidade”, é um oríkì que diz


que ela é a própria água profunda (omi = água + ní +estar + ibú =
profundezas).

Òsún Ìyá Ominíbú: Òsún, mãe das águas profundas.


Òsún Olóòmi Ayè: Diz que ela é a Senhora das águas da vida. É a
padroeira de todo o tipo de água potável e fria, do líquido amniótico, que é
a água da gestação da vida.

Òsún Léwà: Òssún é linda, é bonita.

Òsún kare: Aquela que pode nos fazer felizes ou cuidar de nós:
Oríkì.

Òsún, Rora Yéyé: Òsún, Mãe cuidadosa. Saudação popular de Òsún.

Òsún Òpàra ou Àpàrà: É Opàrà, como já dito, cujo culto


assemelhava-se ao de Òsún, mas, que se perdeu no tempo e terminou
virando qualidade por aqui. Sabe-se pouco sobre Òpàrà além de
semelhanças com Òsún, ela, ao invés de um abèbè (leque), ela usa uma àdá
(espada). E recebe em oferenda, ao invés de cabras, de òdá (bodes
castrados).

Òsún Yèyépondá ou Yepondá: Òsún, Mãe que é o vale para onde


convergem as águas da criação. Oríkì.
Òsún Ààbòtó: Aquela que nos dá bastante cobertura, que nos cobre
em todas as nossas necessidades. É um oríkì de Òsún.

Òsún Ìjimu ou Ìjumu: Muito conhecida como “qualidade”, mas,


segundo a lenda de Òsún, Ìjimu é sua cidade natal. Então a cidade de Ìjimu
é sagrada para Òsún. Também, pode ser Òsún ijemun = Ì = aquela; je =
comer + òmun = leite do seio = amamentar.

Òsún Òsògbó: Òsògbó é uma cidade onde o culto de Òsún é muito


forte, onde Òsún reina soberana (ó joba-jobà). Acredita-se que em se
pedindo a Òsún qualquer coisa em nome de Ìjimu ou Òsògbó, ela atenderá.

São inúmeros os oríkì em que lhe são atribuídas “qualidades”, como


ainda, por exemplo Òsún Ìjèsà. Ìjèsà, é o habitante da cidade de Ilésà,
cidade também Yorùbá, onde o culto a Òsún é fortíssimo. Por ter ritmo e
cadência diferentes, diz-se aqui que é “outra nação” de Òsún. É apenas uma
outra cidade que cultua Òsún de maneira ligeiramente diferente com as
diferenças regionais.

Daria para dizer um sem número de “qualidades”, mas, para Òsún,


ficaremos por aqui.

Àse para todos e até o próximo texto.

T’Ògún

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