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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO


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EXM. SR. DR. JUIZ PRESIDENTE DA MM. JUNTA DE


CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA

Reclamação Trabalhista
Proc. n 222/94
Recte: ESTADO DO PARÁ - SECRETARIA
EXECUTIVA DA FAZENDA
Recdos: CARLOS JOSÉ MARIA

ESTADO DO PARÁ - SECRETARIA


EXECUTIVA DA FAZENDA, pessoa jurídica de direito público interno,
neste ato representado por sua Procuradoria Geral, através do Procurador
que esta subscreve, cujos poderes comprova através do anexo Termo de
Posse, vem, perante V. Exª., nos autos da Reclamatória Trabalhista
referenciada em epígrafe, inconformado, data venia, com o teor da decisão
dessa MM. Junta, que negou seguimento ao Agravo de Petição interposto
por uma suposta intempestividade, apresentar o presente AGRAVO DE
INSTRUMENTO, com fulcro na norma consubstanciada no art. 897 da CLT,
“b” c/c art. 1º do Dec. 779/69, solicitando seja o mesmo recebido e
encaminhado ao Colendo Tribunal Regional do Trabalho da 8 a Região.
Requer ainda o agravante o prosseguimento e
julgamento do Agravo nos autos principais, com fundamento na alínea “c”, do
Parágrafo único, do item II, da Instrução Normativa n 16 do Colendo TST,
publicada no DJU do dia 03/setembro/1999.
Requer, finalmente, em caso de não exercício do
Juízo de Retratação, seja sobrestado o feito até julgamento deste apelo,
invocando a V. Exª. a aplicação da faculdade atribuída a esse insigne Juízo.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Belém, 27 de outubro de 1999.

SÉRGIO OLIVA REIS


Procurador do Estado

COLENDO TRIBUNAL DO TRABALHO DA 8 a REGIÃO


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AGRAVO DE INSTRUMENTO
RECORRENTE: ESTADO DO PARÁ – SECRETARIA EXECUTIVA DA
FAZENDA
RECORRIDOS: CARLOS JOSÉ MARIA
PROCEDÊNCIA: JUNTA DE CONCILIAÇÃO E JULGAMENTO DE
CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA

Colenda Corte,

O respeitável despacho agravado, proferido pela


Presidência da Junta de Conciliação e Julgamento de Conceição do Araguaia,
data venia, merece ser reformado, vez que proferido ao arrepio do direito
pátrio.

A decisão atacada, que negou seguimento ao


Agravo de Petição, não resiste a uma análise mais acurada.

Conforme consta da certidão de fls. 225 dos


autos, o “Agravo de Petição de fls. 216/222, interposto intempestivamente
pela Reclamada, cujo prazo expirou-se em 25.08.99 (4 a feira), apesar de ser
ente público”.

A seguir, às mesmas fls. 225, proferiu sua decisão


no seguinte teor, litteris:

“Deixo de receber o agravo de


petição, porque intempestivo.
Notificar.”

Conforme restará demonstrado, não merece


prosperar o entendimento a quo, pelos motivos adiante expostos:

1. DO PRAZO EM DOBRO PARA RECORRER


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Como cediço, os entes públicos possuem prazo em


dobro para recorrer.

Sobre o assunto, assim dispõe o art. 188 do CPC,


de aplicação subsidiária ao processo do trabalho:

“Art. 188. O Ministério Público, a União,


os Estados, o Distrito Federal, os
Municípios, bem como as autarquias,
gozarão do prazo:
I - em dobro para recorrer e ajuizar ação
rescisória; e
II - em quádruplo para contestar.”

Por seu turno, dispondo especificamente sobre a


aplicação de normas processuais trabalhistas à União, aos Estados,
Municípios, autarquias e fundações de direito público, determina o Decreto-
Lei n 779, de 21/agosto/1969 que:

“Art. 1o. Nos processos perante a Justiça


do Trabalho constituem privilégio da União,
dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios e das autarquias ou fundações
de direito público federais, estaduais ou
municipais que não explorem atividade
econômica:
(...)
III - o prazo em dobro para recurso;”

Sobre o assunto, sucintamente, desta forma


leciona Amauri Mascaro do Nascimento, litteris:

“As entidades de direito público têm prazo


em dobro para recorrer (Dec.-Lei n. 779,
de 21-8-1969).”
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(In “Curso de Direito Processual do


Trabalho”, Editora Saraiva, 18 a edição, 1998,
p. 352)

2. DA NATUREZA JURÍDICA DO AGRAVO DE PETIÇÃO

Sobre a questão, seja sob o ponto de vista


doutrinário, seja sob o ponto de vista legal, resta insofismável a natureza
jurídica de recurso do Agravo de Petição.

A CLT assim dispõe sobre a figura do Agravo de


Petição:

“Art. 897. Cabe agravo, no prazo de 8


(oito) dias):
a) de petição, das decisões do juiz ou
Presidente, nas execuções;
(...)”

Sobre a matéria, assim leciona o Prof. Valentin


Carrion, in verbis:

“O agravo de petição é o recurso


específico contra qualquer decisão do juiz
na execução, após o julgamento de
embargos do executado (art. 884).”
(destaque aposto)
(In “Comentários à Consolidação das Leis do
Trabalho”, Editora Saraiva, 22 a edição,
1997, p. 740/1)

Novamente citando Amauri Mascaro do


Nascimento, em sua obra já anteriormente citada:

“Cabe agravo de petição das decisões do


juiz ou presidente nas execuções (CLT,
art. 897, a). O texto é amplo, exigindo
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interpretação. O agravo de petição é, em


primeiro lugar recurso do processo de
execução. Não é cabível no processo de
conhecimento.” (grifo não existente no
original)
(In op. cit., p. 545/6)

Conforme se infere, resta inequívoca a natureza


jurídica de recurso do Agravo de Petição.

3. DA VIOLAÇÃO AO ART. 5, II E LV DA CARTA POLÍTICA DE


1988

Aplicando os ensinamentos supra mencionados ao


presente caso, percebe-se facilmente o equívoco perpetrado pela decisão
agravada.

Com efeito, entendeu a MM. Juízo a quo que o


apelo restava intempestivo, ao argumento de que o prazo se havia expirado
“em 25.08.99 (4a feira), apesar de ser ente público” (Certidão de fls. 225),
em que pese o Estado do Pará haver sido notificado da sentença que julgou
os Embargos à Execução em 17/agosto/1999, conforme AR de fls. dos
autos.

Concessa venia, além de violar os arts. 188, do CPC,


e 1 , II, do Decreto-Lei n 779/69, a decisão agravada apresenta violação
o

expressa aos incisos II e LV, do art. 5 o, da Constituição da República.

Assim dispõe o texto constitucional:

“Art. 5o. Todos são iguais perante a lei,


sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à
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liberdade, à igualdade, à segurança e à


propriedade, nos termos seguintes:
(...)
II - ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;
(...)
LV - aos litigantes, em processo judicial
ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e a ampla
defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;”

Em outras palavras, consagra o Texto


Constitucional acima descrito os princípios da legalidade e da
recorribilidade das decisões.

Sobre o assunto, é válido mencionar que até a


promulgação da Constituição Federal de 1988, o princípio da recorribilidade
das decisões estava adstrito a uma regra constante das leis processuais,
que permitiam o reexame da questão por pelo menos uma instância
hierarquicamente superior.

A Lex Legum vigente alterou todo este panorama,


introduzindo em seu texto, de forma expressa, o princípio da
recorribilidade das decisões, como estatui seu art. 5º, LV, citado alhures.

Como facilmente se percebe, a recorribilidade das


decisões não se trata mais de uma regra geral, possuindo, hodiernamente,
status de preceito constitucional expresso, que torna defesa a
impossibilidade recursal.

É de se ressaltar que a norma constitucional, em


hipótese alguma, retirou as regras processuais que devem ser observadas
para a interposição dos recursos.
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Cai-se, com a escorreita aplicação do preceito, no


princípio da instrumentalidade do processo, que prega a idéia de ser o
processo um mecanismo utilizado pelo Estado para distribuir justiça.

Outrossim, o princípio da recorribilidade das


decisões é justamente a garantia da parte vencida contra decisões
defeituosas, injustas ou proferidas contra os postulados legais. Mais que
isso, é uma garantia contra as falhas do Poder Judiciário, que, formado por
seres humanos, possui esta característica — a falibilidade —, seja quando
da interpretação ou da aplicação da lei.

Na presente demanda, verifica-se facilmente que


o despacho atacado vilipendiou literalmente preceitos ordinários a respeito
da faculdade de que goza a Fazenda Pública de interpor recurso com prazo
em dobro, ferindo de morte, por conseqüência, o art. 5 o, LV, da Lex Legum.

Demais disso, mister ressaltar que, em se


tratando de Fazenda Pública, a observância de tal preceito se torna ainda
mais premente, principalmente quando se leva em consideração os
interesses por esta tutelados.

De outra banda, urge igualmente salientar a


expressa violação ao inciso II, do art. 5, do Texto Constitucional, também
mencionado alhures.

Como se verifica, infringiu ainda o despacho ora


recorrido o princípio da estrita legalidade, que deve ser entendido na
acepção de que o administrador, ou qualquer autoridade pública, jamais pode
obrigar o particular a fazer ou deixar de fazer qualquer coisa, salvo na
hipótese de expressa determinação legal.

No caso dos autos, a conduta do Agravante restou


sempre pautada nesse princípio, que, em se tratando de Administração
Pública, tem acepção ainda mais rigorosa, como cediço.
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Nunca é demais ressaltar que o Agravo de Petição


foi interposto tempestivamente, valendo-se, in casu, a Fazenda Pública, de
faculdade prevista em lei.

Em conclusão:
a) O Estado do Pará foi notificado da sentença de
embargos à execução em 17/agosto/1999;
b) O Estado do Pará ingressou com Agravo de Petição
em 31/agosto/1999, dentro, portanto, do prazo em dobro conferido à
Fazenda Pública pelos arts. 188 do CPC e 1 o, II, do Decreto-Lei n
779/69; e, por via de conseqüencia,
c) merece reproche a decisão de fls. 225 dos autos,
uma vez proferida ao arrepio do ordenamento jurídico pátrio.

4. DA CONCLUSÃO

Ante o exposto, requer o agravante seja recebido


o presente Agravo de Instrumento, e ao final, seja-lhe dado provimento,
com o fito de reformar a r. decisão hostilizada, que inadmitiu o Agravo de
Petição apresentado, determinando a admissão deste e seu regular
processamento, por ser medida de direito.

Nestes termos

Pede deferimento.

Belém, 27 de outubro de 1999.

SÉRGIO OLIVA REIS


Procurador do Estado

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