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Tempo (s) PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS

Curva de dano

Característica
DESEJÁVEL DA
PROTEÇÃO DE
SOBRECARGA

Característica
de PARTIDA

PROTEÇÃO DE MOTORES

Corrente
p.u. ou A
Corrente Corrente de
de Carga SOBRECARGA

Edição 1 - 2003

Direitos Reservados: Autor: Total de Páginas


Virtus Consultoria e Serviços S/C Ltda. Paulo Koiti Maezono
57
SOBRE O AUTOR

Eng. Paulo Koiti Maezono

Formação

Graduado em engenharia elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 1969. Mestre
em Engenharia em 1978, pela Escola Federal de Engenharia de Itajubá, com os créditos obtidos em 1974
através do Power Technology Course do P.T.I – em Schenectady, USA. Estágio em Sistemas Digitais de
Supervisão, Controle e Proteção em 1997, na Toshiba Co. e EPDC – Electric Power Development Co. de
Tokyo – Japão.

Engenharia Elétrica

Foi empregado da CESP – Companhia Energética de São Paulo no período de 1970 a 1997, com
atividades de operação e manutenção nas áreas de Proteção de Sistemas Elétricos, Supervisão e
Automação de Subestações, Supervisão e Controle de Centros de Operação e Medição de Controle e
Faturamento. Participou de atividades de grupos de trabalho do ex GCOI, na área de proteção, com ênfase
em análise de perturbações e metodologias estatísticas de avaliação de desempenho.

Atualmente é consultor e sócio gerente da Virtus Consultoria e Serviços S/C Ltda. em São Paulo – SP. A
Virtus tem como clientes empresas concessionárias no Brasil e na Colômbia, empresas projetistas na área
de Transmissão de Energia, fabricantes e fornecedores de sistemas de proteção, controle e supervisão,
Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo, CEDIS – Instituto Presbiteriano Mackenzie.

Área Acadêmica

Foi professor na Escola de Engenharia e na Faculdade de Tecnologia da Universidade Presbiteriana


Mackenzie no período de 1972 a 1987. É colaborador na área de educação continuada da mesma
universidade, de 1972 até a presente data.

É colaborador do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da EPUSP – Escola


Politécnica da Universidade de São Paulo, desde 1999 até o presente, com participação no atendimento a
projetos especiais da Aneel, Eletrobrás e Concessionárias de Serviços de Eletricidade.

PROTEÇÃO DE MOTORES Introdução e índice 2 de 57


INDICE

1. INTRODUÇÃO A MOTORES ...............................................................................................................................5


1.1 OBJETIVO ........................................................................................................................................................5
1.2 O MOTOR.........................................................................................................................................................5
1.2.1 Motor de Indução..........................................................................................................................................6
1.2.2 Motor Síncrono ...........................................................................................................................................11
1.2.3 Chaveamento e Controle.............................................................................................................................12
1.3 ANORMALIDADES EM MOTORES............................................................................................................13
1.3.1 Faltas Relacionadas à Carga Mecânica Associada....................................................................................13
1.3.2 Faltas no Suprimento de Energia Elétrica..................................................................................................14
1.3.3 Faltas Internas ao Motor ............................................................................................................................16
1.3.4 Faltas Relacionadas ao Ambiente da Instalação ........................................................................................18
2. FUNÇÕES DE PROTEÇÃO.................................................................................................................................19
2.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................................................19
2.2 SOBRECARGA TÉRMICA (49) ....................................................................................................................19
2.2.1 Exemplo: Proteção de sobrecorrente da série 7SJ602 da Siemens ............................................................20
2.2.2 Exemplo: Proteção de Sobrecorrente da série 7SJ62 e Proteção de Motor / Gerador 7UM61 e 7UM62 da
Siemens.....................................................................................................................................................................23
2.3 DESBALANÇO (FUNÇÃO 46 – SEQUÊNCIA NEGATIVA) ......................................................................25
2.4 POTÊNCIA ATIVA (FUNÇÃO 32) ..................................................................................................................28
2.5 DIFERENCIAL (87M) ....................................................................................................................................28
2.5.1 Requisitos de uma Proteção Diferencial.....................................................................................................28
2.6 SOBRECORRENTE (FUNÇÃO 50/51) E SOBRECORRENTE SUPERVISIONADA POR TENSÃO
(FUNÇÃO 51V) ...........................................................................................................................................................30
2.7 PERDA DE CAMPO (FUNÇÃO 40) ..............................................................................................................32
2.7.1 Proteção Siemens (7UM61 e 7UM62) para Motor e Gerador Síncrono. ...................................................33
2.8 FUNÇÕES 51N / 51G / 67G ............................................................................................................................35
2.8.1 Sistema de Alimentação ..............................................................................................................................35
2.8.2 Curto-Circuito Fase-Terra..........................................................................................................................37
2.8.3 Proteção pela função 51N ou 51G ..............................................................................................................38
2.8.4 Proteção pela função 67G...........................................................................................................................39
2.8.5 Desempenho da Proteção............................................................................................................................39
2.9 FUNÇÃO 59N OU 64G ....................................................................................................................................40
2.10 TERRA-ROTOR (FUNÇÃO 64R) PARA MOTORES SÍNCRONOS............................................................40
2.10.1 Princípios Utilizados ..............................................................................................................................41
2.10.2 Função 64R da Proteção Siemens 7UM6 ...............................................................................................42
2.11 SOBRETENSÃO (FUNÇÃO 59) ....................................................................................................................43
2.12 SUBTENSÃO (FUNÇÃO 27) .........................................................................................................................43
2.13 FREQUÊNCIA (FUNÇÃO 81) .......................................................................................................................43
2.14 SUBCORRENTE (FUNÇÃO 37)....................................................................................................................43
2.15 SUPERVISÃO DE PARTIDA (FUNÇÃO 48 – SEQUÊBNCIA INCOMPLETA).........................................43
2.16 SUPERVISÃO DE ROTOR BLOQUEADO (FUNÇÃO 49LR) .....................................................................44
2.17 INIBIÇÃO DE REPARTIDA (FUNÇÃO 66/49R – PARTIDA FREQUENTE) .............................................44
2.17.1 Finalidade...............................................................................................................................................44
2.17.2 Determinação da Sobre-temperatura no Rotor ......................................................................................44
2.17.3 Limite de Re-partida ...............................................................................................................................45
2.17.4 Tempo de Re-partida ..............................................................................................................................45
2.17.5 Outras .....................................................................................................................................................46

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3. ESQUEMAS DE PROTEÇÃO .............................................................................................................................47
3.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................................................47
3.2 REQUISITOS DE PROTEÇÃO ......................................................................................................................47
3.3 ESQUEMAS BÁSICOS DE PROTEÇÃO DE MOTOR DE INDUÇÃO........................................................48
3.3.1 Sobrecargas ................................................................................................................................................48
3.3.2 Curtos-circuitos...........................................................................................................................................48
3.4 ELEMENTOS DE PROTEÇÃO .....................................................................................................................51
3.4.1 Baixa Tensão...............................................................................................................................................51
3.4.2 Média Tensão ..............................................................................................................................................51
3.5 ESQUEMAS DE PROTEÇÃO POR RELÉS PARA MOTORES DE INDUÇÃO ..........................................52
3.5.1 Motores de Média Tensão de 100 a 500 kW em Sistema Solidamente Aterrado ........................................52
3.5.2 Motores de Média Tensão até 100 a 500 kW em Sistema Aterrado Através de Impedância / Resistência .52
3.5.3 Motores de Média Tensão (entre 500 kW e 2000 kW) ................................................................................54
3.5.4 Grandes Motores de Média Tensão (igual ou superior a 2000 kW) ...........................................................55
3.6 ESQUEMAS DE PROTEÇÃO POR RELÉS PARA MOTORES SÍNCRONOS............................................56
3.6.1 Motores de Média Tensão e Inferiores a 2000 kW......................................................................................56
3.6.2 Motores de Média Tensão entre 2000 e 10.000 kW ....................................................................................56
3.6.3 Motores de Média Tensão superiores a 10.000 kW ....................................................................................56
4. BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................................................57

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1. INTRODUÇÃO A MOTORES

1.1 OBJETIVO

O presente capítulo tem a finalidade de apresentar os conceitos e esquemas básicos de


motores (síncronos e de indução), bem como as anormalidades que podem afetar a operação
desses equipamentos. Este conhecimento servirá de base para compreender o alcance e a
finalidade das funções e esquemas de proteção.

1.2 O MOTOR

Um motor constitui-se na interface entre campos e processos elétricos e mecânicos e são


encontrados em ambientes industriais e comerciais associados às respectivas cargas, das
quais são inseparáveis.

MÁQUINA
FONTE DE
ELÉTRICA CARGA
ENERGIA
(Eletromagnetismo) MECÂNICA
ELÉTRICA
“Motor”

FLUXO DE ENERGIA

Figura 1.01 – Máquina Elétrica Rotativa – Convenção de Motor

Usando a convenção de motor, tem-se:

Tdisp − (Tm + TPR ) = Tdisp − T ' m = J ( dω rm / dt )

Tdisp = Torque Eletromagnético, produzido pelo Motor, em N.m

Tm = Torque absorvido pela carga mecânica, incluindo perdas na carga e o usado para
trabalho mecânico útil, em N.m

TPR = Torque equivalente à perda rotacional, interno ao motor, em N.m

T’m = Tm + TPR = Torque Equivalente da Carga, em N.m

J = Momento de inércia da massa polar de todas as partes rotativas, em kg-m2.

ωrm = velocidade angular das partes rotativas, em rad/s.

Quando Tdisp > T’m o motor acelera e quando Tdisp < T’m, o motor desacelera. O sistema irá,
inerentemente, buscar a condição de equilíbrio onde Tdisp = T’m, o que determina a
velocidade de rotação em condição de carga normal.

Assim, as características Torque x Velocidade para motores e cargas são necessárias para o
projeto de um sistema de controle de velocidade.

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O motor é sujeito a estresses mecânicos devido às suas partes móveis, bem como a falhas
elétricas. Um problema em um simples motor pode causar distúrbio em um processo
produtivo completo.

Portanto, pode-se considerá-lo como um elo receptor de energia elétrica, relativamente frágil,
que deve ser protegido.

Há dois tipos de motores de corrente alternada: o motor de indução e o motor síncrono.

1.2.1 Motor de Indução

Num motor de indução, o enrolamento primário (estator) é conectado à rede elétrica. O


enrolamento nas ranhuras secundárias (rotor) não é conectado a nenhuma fonte elétrica
mas recebe sua corrente elétrica através da indução. A energia é transferida para o rotor
através do campo magnético.

Dependendo do tipo de fonte de energia elétrica, um motor pode ter seu enrolamento
estatórico do tipo trifásico (usualmente), bifásico (às vezes) e monofásico.

O enrolamento rotórico pode ser do tipo polifásico (geralmente trifásico) ou do tipo gaiola.
Num motor com rotor enrolado, os condutores do enrolamento rotórico são isolados e são
montados com anéis, que por sua vez são conectados a dispositivos de controle ou
partida. Num motor do tipo gaiola, os condutores do rotor não são isolados mas são
constituídos de condutores a parte montados nas ranhuras – esses condutores são
solidamente conectados entre si, em forma de anel, em cada extremidade.

O campo girante produzido pelo estator induz força eletromotriz nas barras / enrolamentos
do rotor. Correntes fluem nas barras / enrolamentos. O efeito magnético entre as correntes
do estator e do rotor é um TORQUE. Com o rotor girando a uma velocidade um pouco
menor que a velocidade síncrona (escorregamento), o torque é na direção da rotação e a
máquina é um MOTOR.

A característica Torque x Velocidade de um motor de indução é mostrada na figura a


seguir.
% Torque

TMAX = TLIMITE = TBREAKDOWN


300

200
Plena
Carga
TPARTIDA

100 ωs

S
(escorregamento)

Figura 1.02 – Curva Típica Torque x Velocidade de um Motor de Indução

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O torque é proporcional ao quadrado da Tensão de alimentação:

Torque

VPLENA

7/10. V

½. V

Figura 1.03 – O Torque é proporcional ao quadrado da Tensão

Partida

Pequenos motores de indução tipo gaiola, de potência até alguns HP, podem ser partidos
conectando-os diretamente à rede elétrica. A corrente é muito grande quando o motor está
na fase de aceleração nas a velocidade aumenta rapidamente e a corrente diminui, não
havendo danos para o motor ou para o sistema de alimentação.

Entretanto, para motores maiores, uma partida direta como a descrita pode danificar o
motor, considerando a grande corrente de partida. Essa grande corrente de partida pode
operar relés e disjuntores, também. A própria tensão de alimentação pode ter queda e ter
flutuação.

Um modo de evitar esses problemas é partir o motor com tensão reduzida – assim sendo,
o motor não seria diretamente alimentada mas, por exemplo, através de um
autotransformador para se ter tensão reduzida na partida. A relação de espiras desse
autotransformador teria influência na redução de tensão no motor e redução de corrente no
lado da alimentação. Assim sendo, pode-se ter partida do motor com corrente mantida em
valores menores e satisfatórios.

Entretanto, verifica-se que o Torque é reduzido quando se reduz a tensão. Por exemplo,
na figura 1.03 verifica-se o valor de torque de ¼ quando se reduz a tensão para metade.

A NATUREZA DA CARGA determina onde um torque com tamanha redução é aceitável.


Assim, é evidente que um motor do tipo gaiola não é aceitável para casos onde se deseja
alto torque de partida.

Motor com Rotor Enrolado

Um motor pode ter no rotor, enrolamento trifásico semelhante ao do estator. Esse


enrolamento é isolado do ferro do rotor. E seus terminais podem ser acessados
externamente, através de escovas estacionárias em anéis.

Há várias possibilidades interessantes no uso desse motor com rotor enrolado. A mais
importante é a possibilidade de uso de RESISTÊNCIA externa para fechar o circuito do
rotor, ao invés de curto circuitar o enrolamento.

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A figura a seguir mostra o efeito dessa resistência no enrolamento rotórico:
Torque

RALTA RMÉDIA RBAIXA


TMAX
T0

T0

T0

Figura 1.04 – A velocidade do Torque Máximo depende da Resistência do rotor

A inserção de resistência não altera substancialmente o valor do Torque Máximo mas tem
efeito na velocidade em que ocorre esse torque.

Assim, ajustando-se devidamente o valor da resistência, pode-se ter um torque de partida


quase próximo ao torque máximo, com velocidade zero. Além de se obter esse alto torque
de partida, a própria corrente de partida é reduzida por essa alta resistência rotórica.

Após a partida do motor e tendo-se atingida a velocidade normal, a resistência adicional é


retirada, efetuando o curto-circuito dos terminais do enrolamento rotórico. Assim, em
regime, o motor girará com o mínimo de resistência no rotor.

Verifica-se também que a velocidade em regime do motor pode ser controlada, inserindo-
se mais ou menos resistência no circuito rotórico. Entretanto esse tipo de controle de
velocidade não é muito eficiente.

Circuito Equivalente do Motor de Indução

A análise do circuito equivalente do motor ajuda a compreender a aplicação da proteção. A


figura a seguir mostra o circuito equivalente:
a)

Rs + jXs Rr + jXr

Rr / S
RFE jXm 1− S 
Entrada   Rr
 S 

b)
Rs jX

Rr Para sequência
S positiva
Entrada jXm
(ZM1, ZM2)
Rr Para sequência
2−S negativa

Figura 1.05 – Circuito Equivalente de um Motor de Indução

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A parte b da figura acima é o circuito equivalente simplificado, para análises práticas.

Onde:

RS = Resistência do Estator.

jXS = Reatância de Dispersão do Enrolamento Estatórico à frequência nominal.

Rr = Resistência do Rotor.

jXr = Reatância de Dispersão do Rotor à frequência nominal.

jXm = Reatância de Magnetização.

jZM = Impedância Shunt de Magnetização.

jX ≈ jXS + jXr ≈ jX”d

RPMSincrono − RPMRotor
S= S= 1,0 para rotor bloqueado
RPMSincrono

S = 0+ rodando.

Valores típicos em p.u. (por unidade), com base na potência nominal do motor à tensão
nominal, são:

RS e Rr = 0,01 pu

jXM = j3,0 pu

jX ≈ jX”d ≈ 0,15 pu

Daí, a típica corrente de rotor bloqueado é:

I partida = 1/ jX”d = 1 / 0,15 = 6,67 pu

Esse é o valor simétrico. O valor assimétrico é maior, como mostrado na figura 1.06.
Considerando que jXm é grande com relação às demais impedâncias, a impedância Shunt
de Magnetização equivalente na entrada do motor se reduz a valor praticamente igual ao
X”d (como usado na prática) para rotor parado:

ZM1 = ZM2 ≈ 0,15

Para o rotor rodando com escorregamento S=0,01, ter-se-ia:

ZM1 = 0,927 /25,87o

ZM2 = 0,144 /84,19o

Ou, em valores práticos, com motor rodando: ZM1 = 0,9 a 1,0 e ZM2 = X”d

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Características Envolvidas na Proteção

As características principais de um motor de indução, envolvidas na Proteção do mesmo


são:

- Curva de Corrente de Partida.

- Curva de Capabilidade Térmica, que deve incluir o limite térmico para o rotor
bloqueado.

- A constante k (Rr1 / Rr2) – relação entre resistências de seqüência positiva e negativa.

A figura a seguir mostra essas características:

Motor
Rodando
Sobrecarga Operacional
Curva de Limite Térmico
Tempo
(s)
Aceleração
Curva de Limite Térmico

Tempo Permitido para


Rotor Bloqueado

0,9 V

Curva da
Corrente de
Partida
1,0 V

Assimétrico
Corrente
p.u. ou A
Corrente de Corrente com
Carga Rotor Bloqueado

Figura 1.06 – Características Típicas de um Motor de Indução

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A máxima corrente de partida ocorre à tensão nominal (1,0 V). Para uma tensão menor, a
corrente de partida tem a característica tracejada na figura anterior.

Os limites térmicos são três diferentes curvas. Mas, em muitos casos são apresentados
juntos, como na figura, representando a “curva de dano” do motor, isto é:

1. A parte da curva para maior corrente corresponde ao tempo permitido para a corrente
de rotor bloqueado. É o limite de tempo que o rotor pode permanecer parado após a
energização, sem danos térmicos nas barras rotóricas, anéis rotóricos ou ainda no
estator, dependendo das características de projeto do motor. É a parte da curva que
vai desde a corrente de rotor bloqueado à mínima tensão de partida, até a corrente de
rotor bloqueado à tensão nominal plena.

Em motores muito grandes, esse limite térmico para rotor bloqueado pode ser menor
que o tempo de partida. Assim, esses motores têm que partir (iniciar a rotação)
imediatamente após a energização para evitar danos.

2. A curva de limite térmico no período de aceleração vai desde a corrente de rotor


bloqueado até a corrente de inflexão da curva de torque, que é cerca de 75% da
velocidade do motor.

3. A curva de limite térmico operacional representa a capacidade de sobrecarga do motor


em condições de uso emergencial.

1.2.2 Motor Síncrono

Conceito

Um MOTOR síncrono pode funcionar apenas na velocidade síncrona.

Esse motor tem enrolamentos estatóricos (armadura) semelhante aos do motor de indução
trifásico. O rotor do motor síncrono difere, substancialmente, do rotor do motor de indução.

O rotor tem pólos, usualmente salientes, correspondentes às quantidades de pólos do


enrolamento estatórico. Os pólos são enrolados com várias espiras e uma corrente DC
circula através dos enrolamentos (campo) para a criação de pólos de fluxo magnético
alternado, norte – sul.

A corrente DC (excitação) pode ser aplicada aos enrolamentos de campo através de


escovas e anéis ou através de sistema de excitação sem escovas (excitação AC com
retificador e equipamento de controle montado no elemento girante).

Para a partida de um Motor Síncrono, há necessidade de haver uma quantidade de barras


imersas nas faces de cada pólo, curto-circuitadas nos terminais, para formar uma gaiola
semelhante ao do motor de indução (amortecedor ou enrolamento amortecedor). Além do
mais o enrolamento do campo deve, durante a partida, ser desconectada da fonte de DC e
curto-circuitado, geralmente através de um circuito apropriado de partida e resistor de
descarga de campo. Isto é, parte-se o motor síncrono como se fosse um motor de indução.

PROTEÇÃO DE MOTORES Introdução a Motores 11 de 57


As diferenças de controle e proteção entre motores de indução e síncronos decorrem dos
aspectos construtivos do rotor.

Um sistema de controle é necessário para a partida do Motor Síncrono, para garantir


(automática e precisamente) que se tenha atingida a velocidade apropriada antes da
aplicação da excitação DC.

Sistema de Excitação

O sistema de excitação executa duas funções principais:

1. Produção de tensão DC (e potência) para forçar a corrente a fluir nos enrolamentos do


campo (rotor). Há uma relação direta entre o fluxo de energia reativa do motor com a
quantidade de corrente fluindo no campo.

2. Provisão de meio para regular o fator de potência e amortecer oscilações do sistema


elétrico de potência.

Antes dos anos 60 as máquinas síncronas eram providas de excitatrizes rotativas. Desde
os anos 60 foram adotados, como arranjos mais comuns, retificadores com pontes de
tiristores alimentados por um transformador.

Excitatrizes estáticas modernas apresentam a vantagem de prover uma resposta


extremamente rápida. Essa rápida resposta contribui para manter a estabilidade transitória
do sistema durante e imediatamente após a falta no sistema elétrico. Um outro sistema
utilizado para máquinas pequenas e de alta velocidade é o sistema “sem escovas”
(“brushless”). O gerador AC e os retificadores são rotativos (no rotor).

Desde que a excitação DC é necessária para a operação síncrona de um Motor Síncrono,


a proteção contra perda de excitação e perda de sincronismo precisa ser providenciada. A
capabilidade térmica de um rotor de Motor Síncrono e o tempo permitido para rotor
bloqueado é, geralmente, menor que a de um rotor de motor de indução. Assim, uma
proteção especial precisa ser providenciada.

1.2.3 Chaveamento e Controle

Todos os motores requerem as seguintes funções para serem implementadas nos seus
sistemas de chaveamento e controle: meios de desconexão / chaveamento e dispositivos
de interrupção de falta.

Adicionalmente para motor síncrono, há necessidade de meio de chaveamento do campo.

Os dispositivos de controle têm sido primordialmente especificados e aplicados tendo em


mente circuitos de partida e parada e a proteção de motores.

Não é finalidade deste curso a apresentação de sistema de controle de motores.

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1.3 ANORMALIDADES EM MOTORES

Os motores são afetados por:

- Faltas relacionadas à carga mecânica associada.


- Faltas no suprimento de energia elétrica.
- Faltas internas ao motor.
- Faltas relacionadas ao ambiente de instalação.

1.3.1 Faltas Relacionadas à Carga Mecânica Associada

Sobrecarga

Desde que a potência exigida seja maior que a potência nominal da máquina, haverá
sobrecorrente no motor, com aumento das perdas e elevação da temperatura no
enrolamento estatórico.

Qualquer corrente excessiva dependerá do tempo para que resulte em elevação de


temperatura. Toda sobrecarga está, então, associada à temperatura do estator. O motor de
indução tem uma capacidade relativamente grande de armazenamento de calor, sendo
que pequenas sobrecargas por intervalos de tempo pequenos não resultam em elevações
danosas de temperatura.

Carga Excessiva

Um motor de indução sai do passo (“stall”) quando o torque da carga excede o torque
limite (colapso, “breakdown”) e a velocidade pode cair para zero, fazendo com que a
corrente no motor fique em torno do valor de corrente com rotor bloqueado.

Num motor síncrono com excesso de carga, provoca perda de sincronismo.

Parada Súbita

Quando por algum motivo há parada súbita do motor (travamento mecânico da carga), o
motor demandará corrente de partida plena com rotor bloqueado e o sobre-aquecimento
ocorrerá rapidamente, potencializado também pela falta de ventilação. O limite térmico da
isolação do enrolamento estatórico é atingido dentro de segundos.

Partida Excessivamente Longa

A condição de partida do motor é associada a correntes elevadas e sustentadas, que são


admissíveis apenas quando de curta duração. Se por qualquer motivo a partida se tornar
excessivamente longa, o sobre-aquecimento pode tornar-se excessivo.

Partidas Excessivamente Freqüentes

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Também para excessiva quantidade de partidas num intervalo de tempo, o sobre-
aquecimento pode tornar-se excessivo.

Reversão de Potência (motor síncrono)

Devido à inércia da carga mecânica alimentada por um motor síncrono, pode haver
reversão de potência quando há queda de tensão, com o motor mandando energia para a
rede.

1.3.2 Faltas no Suprimento de Energia Elétrica

Queda de Tensão

A queda de tensão reduz o torque e a velocidade do motor. Por conseqüência, haverá


aumento de corrente e de perdas. Um sobre-aquecimento anormal pode, então, ocorrer.

Tensão Desbalanceada

Para um Motor de Indução

Uma tensão trifásica desbalanceada (caracterizada pela componente de seqüência


negativa) causa indução de corrente de frequência dupla no rotor, com sobre-aquecimento.

A tensão desbalanceada pode ser originada do próprio sistema supridor, de problema em


chave ou equipamento de manobra, de problema na instalação elétrica ou da queima de
elo fusível em uma fase.

Para um Motor Síncrono

Uma alimentação desbalanceada, que é caracterizada pela existência de corrente de


seqüência negativa (I2), provoca correntes induzidas de frequência dupla no rotor. Além do
aumento da perda no enrolamento estatórico, o maior efeito ocorre no rotor (aquecimento).

Os seguintes limites para desbalanço contínuo são, em geral, considerados – vide


referência [5]:

Tipo de Máquina Condição I2 Permitida (% da corrente


nominal)
Com enrolamentos 10 %
amortecedores conectados
Pólos Salientes
Com enrolamentos 5%
amortecedores não conectados
Resfriamento Indireto 10 %
Rotor Cilíndrico Resfriamento direto (até 960 8%
MVA)

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Verifica-se então que uma carga continuamente desbalanceada superior a uma ordem de
5 a 10% da corrente nominal do motor causa aquecimento danoso no rotor.

Faltas no Sistema Elétrico Supridor

Um motor síncrono pode perder o sincronismo quando, no sistema elétrico supridor


ocorrer falta que provoque perda de estabilidade do motor. Esta perda de estabilidade
dependerá do tempo para extinção da falta, da localização e do tipo da falta, bem como da
configuração do sistema elétrico supridor.

O motor passará a rodar com uma velocidade assíncrona abaixo da síncrona, como um
motor de indução.

Haverá aquecimentos tanto no rotor como no estator. Há também efeitos mecânicos, com
altos torques transitórios no eixo.

A melhor maneira de se detectar e visualizar o fenômeno da perda de sincronismo é a


análise da variação aparente da impedância vista nos terminais de um motor síncrono, ou
nos terminais de alta tensão do transformador elevador desse motor. Essa variação na
impedância pode ser detectada por relés de proteção.

Perda de Sincronismo

A potência elétrica ativa absorvida pelo Motor Síncrono em condição de operação em


regime é dada por:
3EV 3V 2  1 1 
Pel = senδ + − sen 2δ
Xd 2  X q X d 

Onde V = Tensão Fase - Neutro nos terminais do motor.


E= FEM interna do motor.
δ = Ângulo do rotor
Xq = Reatância síncrona de eixo em quadratura.
Xd = Reatância síncrona de eixo direto

P
Potência

Pel max

3
Pmec 2
1

Ângulo de
Torque da
Carga
δ δ

δ max
45o 90o 180o

Figura 1.07 – Limite de Estabilidade de um Motor Síncrono

PROTEÇÃO DE MOTORES Introdução a Motores 15 de 57


Em condição de regime, onde E e V são constantes, qualquer variação na potência
mecânica Pmec é compensada pela respectiva variação no ângulo do rotor (δ), para se re-
estabelecer o equilíbrio Pel = Pmec.

A potência elétrica atinge seu máximo valor com δ entre 45 e 90 graus. Qualquer
solicitação de Pmec que exija ângulo igual ou superior a δmax fará com que a máquina
perca a estabilidade, saindo fora de sincronismo.

Pode também haver fenômeno transitório que traz variação transitória no E ou V, e faz com
que δ varie e oscile. A fórmula anterior pode ainda ser aplicada, substituindo os valores de
reatância síncrona pelos valores de reatância transitória.

De qualquer modo, uma perda de sincronismo leva a:

- Aquecimento do estator, com corrente chegando a valor próximo a corrente de rotor


bloqueado.
- Aquecimento do rotor, em particular os enrolamentos amortecedores.

Há também vibração mecânica e severas sobretensões no circuito do campo.

Sobrefrequência

Trata-se aqui da sobrefrequência contínua e não momentânea. Ela estressa


mecanicamente a maquina mas não eletricamente. A sobrefrequência moderada, mesmo
contínua, não traz grandes problemas para o motor em si.

Sub-frequência

Durante operação do motor com sub-frequência, o seu circuito magnético (e do


transformador associado) pode saturar dependendo do nível de sub-frequência (V/Hz).
Caso haja a saturação, as perdas adicionais no ferro levam ao aquecimento do circuito
magnético. Mas isso ocorre para freqüências bem baixas e quando associada a subtensão.

1.3.3 Faltas Internas ao Motor

Pode ocorrer falha de isolação entre condutor e laminação, entre condutores de fases
diferentes e entre espiras de uma mesma fase. Pode também ocorrer rompimento de
juntas soldadas.

Curto-circuito a Terra

Essas faltas ocorrem, normalmente, nas ranhuras da armadura. O dano nesse ponto é
diretamente relacionado ao nível de corrente estabelecido pelo sistema de aterramento do
sistema onde está conectado o motor.

Baixas Correntes

Se a corrente for, por exemplo, inferior a 15 A e o motor for desligado com tempo inferior a
alguns segundos, o dano pode ser muito pequeno e o serviço de reparo se limitará à troca
do trecho do enrolamento sem mexer com a laminação.

PROTEÇÃO DE MOTORES Introdução a Motores 16 de 57


Dependendo da localização da falta e do tipo de aterramento, pode não haver corrente
suficiente de terra para relés de sobrecorrente. Neste caso outros meios de proteção
devem ser providenciados.

Altas Correntes

Se o motor está conectado a um sistema com baixa impedância de aterramento e ocorrer


curto-circuito com corrente superior a 200 A de terra, por exemplo, o dano pode ser severo
e haverá necessidade de refazer parte da laminação. Mesmo com relé de proteção rápido,
o dano pode ser grande devido à alta constante de tempo do circuito do campo e o tempo
relativamente alto necessário para eliminar o fluxo do campo.

No caso de alta corrente de curto circuito à terra, pode ser instalado disjuntor de neutro
que seria atuado pela proteção de terra, para reduzir o tempo de eliminação da falta e,
conseqüentemente, o dano na laminação.

Curto-Circuito entre fases

Esse tipo de falta é muito raro de ocorrer uma vez que, numa ranhura, a isolação entre
enrolamentos de duas fases é pelo menos o dobro da isolação de uma fase para a
laminação. Na ocorrência de uma falta entre fases, há maior probabilidade de ocorrência
nos terminais do enrolamento, fora das ranhuras. A corrente é severa mas há pouca
chance de afetar significativamente a laminação.

Curto-circuito a Terra no Rotor

Uma falha de isolação no enrolamento estatórico pode causar curto-circuito entre o


condutor e a laminação (terra). Esse tipo de falta, entretanto, não representa perigo
imediato (baixa corrente de falta).

Entretanto, se houver uma segunda falha de isolação, pode ocorrer curto-circuito pleno
com severo desbalanço mecânico e elevada corrente.

Assim sendo, é essencial que se tenha um sistema de alarme / sinalização de “Terra


Rotor” para providências cabíveis logo que possível (operacionalmente).

Curto-circuito Entre Espiras do Rotor

Curto circuito entre espiras no rotor é muito raro de ocorrer. Mas quando ocorre causa
vibração e a parte “bypassada” do enrolamento rotórico tem sua temperatura elevada. A
alta temperatura danifica a isolação, motivando também falta a terra.

Perda de Campo (motor síncrono)

Uma perda total do campo pode ocorrer quando:

- Há abertura acidental do disjuntor do campo.


- Um curto-circuito ou fase-aberta no circuito do rotor.

PROTEÇÃO DE MOTORES Introdução a Motores 17 de 57


- Perda da fonte AC para o circuito de excitação (DC) ou a falha grave em regulador
pode também causar perda total do campo.

Assim, pode-se até haver um intertravamento entre o disjuntor de campo e o disjuntor da


máquina (ou do grupo gerador).

A perda de campo pode levar, na maioria dos casos, à perda de sincronismo em menos
de 1 s, com a máquina operando como gerador de indução com velocidade inferior à
velocidade síncrona.

1.3.4 Faltas Relacionadas ao Ambiente da Instalação

Ventilação Insuficiente ou Inadequada

Sobre-aquecimento pode ocorrer caso, por algum motivo, a ventilação no motor for
insuficiente ou inadequada.

Temperatura Ambiente Elevada

O motor instalado em ambiente, situação ou região com temperatura excessiva (além da


temperatura ambiente para o qual foi especificado) pode ter sobre-aquecimento.

Altitude Elevada

Um motor instalado em altitude demasiadamente elevada, além da altitude para a qual foi
especificada, pode ter problema de sobre-aquecimento. A causa é a baixa pressão
atmosférica, com conseqüente ventilação ineficiente.

PROTEÇÃO DE MOTORES Introdução a Motores 18 de 57


2. FUNÇÕES DE PROTEÇÃO

2.1 INTRODUÇÃO

Este capítulo tem a finalidade de apresentar as funções de proteção aplicáveis para motores.
Tem caráter geral, não cobrindo todas as funções que podem ser encontradas no mercado,
mas sim aquelas principais e comumente utilizadas.

2.2 SOBRECARGA TÉRMICA (49)

Uma proteção de sobrecarga, seja de equipamento, máquina rotativa, de cabos ou linhas tem
a ver, sempre, com a temperatura que pode chegar o componente protegido em função de
carga excessiva.

Qualquer equipamento ou instalação não se aquece instantaneamente em função de carga


excessiva. Para um determinado degrau de corrente, para mais, a temperatura desse
componente variará exponencialmente em função da sua constante de tempo de
aquecimento.

A figura a seguir mostra o conceito de constante de tempo para o aquecimento de um corpo


homogêneo, para uma variação exponencial:

Temperatura

θ2

Variação
63% da
total
variação total

θ1

tempo

τ = Constante de Tempo
Figura 2.01– Característica de Aquecimento de Corpo Homogêneo

Uma proteção de sobrecarga (proteção térmica – Código 49) deve, portanto, emular as
condições de aquecimento do componente protegido em função da corrente através desse
componente.

No passado, procurou-se construir relés térmicos com tecnologia eletromecânica que, através
de dissipadores térmicos (alumínio), tentavam simular a constante de tempo do equipamento
protegido. Mas esses dispositivos nunca conseguiram prover uma boa proteção para
sobrecarga. Eram viáveis apenas para alguns tipos de motores. A figura a seguir mostra o
esquema de um relé térmico com tecnologia eletromecânica:

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 19 de 57


I carga

Equipamento

i i

Relé Térmico)

+ Vcc

i Trip por Trip por


corrente elemento térmico

Figura 2.02 – Esquema de Relé Térmico com Tecnologia Eletromecânica

Para motor se utilizava esse tipo de relé.

Modernas Proteções Digitais

A tecnologia digital tornou possível, através de algoritmos específicos, a emulação de


constantes de tempo de aquecimento e demais parâmetros associados ao aquecimento de
transformadores, máquinas girantes, cabos e linhas.

Assim, modernos relés possuem a função 49 de “Sobrecarga Térmica” para ser devidamente
aplicada na detecção de aquecimentos provocados por sobrecargas, o que passa a ser uma
opção de utilização não existente num passado recente. Baseiam-se na modelagem de uma
réplica térmica com base na corrente de carga. O calor gerado, por exemplo, em cabo ou
transformador é função do tipo I2.R.t, isto é, proporcional à corrente ao quadrado. O quadrado
da corrente é integrado no tempo, para modelagem.

Assim, os diversos fabricantes nos seus diversos relés de proteção digitais apresentam
possibilidade de modelagem térmica do equipamento ou instalação a proteger contra
temperaturas elevadas causadas por sobrecarga.

A grande dificuldade no uso dessa função está na determinação da constante de tempo e


demais parâmetros (relacionados a normas) do componente protegido.

2.2.1 Exemplo: Proteção de sobrecorrente da série 7SJ602 da Siemens

A função 49 provê trip ou alarme baseado no cálculo do modelo térmico a partir da


medição da corrente de fase. Há duas opções:

- Condição “Com Memória”: quando todas as correntes de carga são avaliadas, mesmo
sem a presença de sobrecarga.

- Condição “Sem Memória”: quando apenas as correntes de carga superiores a um valor


ajustável (“threshold”) de sobrecarga são avaliadas

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 20 de 57


Condição Sem Memória

Atuação para I ≥ IL (IL = corrente de carga máxima)

35
Tempo de atuação: t = 2
.TL Onde I é a corrente de sobrecarga e TL o
 I 
  − 1
 IL 
multiplicador para constante de tempo (ajustável). Nota-se que o tempo depende de uma
relação que envolve constante de tempo de aquecimento e também a corrente ao
quadrado.

Faixa de Pick-up IL/IN = 0,4 a 4,0

Multiplicador de Tempo = 1 a 120 s.

Figura 2.03 – Característica de Tempo da Função de Sobrecarga Térmica

Conhecendo a característica térmica do motor que está sendo protegido ( “Curva de Limite
Térmico” ou “Curva de Dano”), pode-se ajustar a proteção, escolhendo-se a melhor curva
através do valor do Multiplicador de Tempo.

Condição com Memória

A função de sobrecarga térmica usa o conceito de “réplica térmica”, de acordo com a


Norma IEC 60255-8. O cálculo da elevação da temperatura em função da elevação da
corrente é baseado num modelo de “corpo simples” (com uma única constante de tempo
de aquecimento), com a seguinte equação diferencial:

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 21 de 57


dθ 1 1
+ .θ = .(I )
2

dt τ th τ th
Θ = Temperatura de operação expresso em % da temperatura de operação para a corrente
máxima de fase permitida k.IN.

τth = Constante de tempo térmica (AJUSTÁVEL).


I = Corrente de Operação, expresso em % da corrente máxima de fase permitida k.IN.

k = Fator k a qual estabelece a máxima corrente continuamente permitida para o objeto


protegido (AJUSTÁVEL).

IN = Corrente Nominal de fase (CONSIDERA-SE IN DO RELÉ, com demais valores


calculados proporcionalmente).

Imax = k.IN = Corrente Máxima continuamente permitida para o objeto protegido.

A característica de atuação da função é:


2 2
 I   I pre 
  − 
 k .I n   k .I n  minutos. Válido para I / (k.IN) ≤ 8
t = τ th . ln 2
 I 
  − 1
 k .I n 

Ipre = corrente de pré sobrecarga. I = corrente atual.

Há a opção (parametrizável) de não considerar a corrente prévia, com a seguinte


característica:
2
 I 
 
 k .I n  minutos. Válido para I / (k.IN) ≤ 8
t = τ th . ln 2
 I 
  − 1
 k .I n 

Pode ser ajustada uma temperatura de alarme (Θalarm AJUSTÁVEL EM % COM RELAÇÃO
A Θend) menor do que o limite de temperatura de desligamento (caso seja essa a filosofia
do usuário). No caso da filosofia estabelecer “somente alarme”, esse alarme será emitido
quando da temperatura final ajustada.

A temperatura é calculada para cada fase. Isso garante um valor eficaz verdadeiro,
incluindo o efeito das harmônicas.

A proteção também inclui um alarme de corrente excessiva Ialarm (AJUSTÁVEL) que pode
ser considerado como um pré alarme para uma sobrecarga térmica em potencial.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 22 de 57


Figura 2.04 – Característica de Tempo da função 49. Com Memória. Com e sem pré-carga.

Conhecendo a característica térmica do motor que está sendo protegido ( “Curva de Limite
Térmico” ou “Curva de Dano”), pode-se ajustar a proteção, escolhendo-se a melhor curva,
com ou sem memória que de adapte ao motor.

2.2.2 Exemplo: Proteção de Sobrecorrente da série 7SJ62 e Proteção de Motor / Gerador


7UM61 e 7UM62 da Siemens

Também essas proteções têm função de sobrecarga térmica usando o conceito de “réplica
térmica”, de acordo com a Norma IEC 60255-8.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 23 de 57


O cálculo da elevação da temperatura em função da elevação da corrente é baseado num
modelo de “corpo simples” (com uma única constante de tempo de aquecimento), com a
seguinte equação diferencial (“Com Memória”):

dθ 1 1
+ .θ = .(I )
2
para o relé 7SJ62
dt τ th τ th

dθ 1 1 1
+ .θ = .(I ) + .θ K
2
para o relé 7UM61 e 7UM62
dt τ th τ th τ th
Θ = Temperatura de operação expresso em % da temperatura de operação para a corrente
máxima de fase permitida k.IN.

ΘΚ = Temperatura ambiente (ou do meio de resfriamento) expressa como a diferença para


a temperatura de referência de 40º C.

τth = Constante de tempo térmica (AJUSTÁVEL).


I = Corrente de Operação, expresso em % da corrente máxima de fase permitida k.IN.

k = Fator k a qual estabelece a máxima corrente continuamente permitida para o objeto


protegido (AJUSTÁVEL).

IN = Corrente Nominal de fase (CONSIDERA-SE IN DO RELÉ, com demais valores


calculados proporcionalmente).

Imax = k.IN = Corrente Máxima continuamente permitida para o objeto protegido.

A característica de atuação da função é:

2 2
 I   I pre 
  − 
 k .I n   k .I n  minutos. Válido para
t = τ th . ln 2
I / (k.IN) ≤ 8
 I 
  − 1
 k .I n 

Ipre = corrente de pré sobrecarga. I = corrente atual.

A característica de atuação da função, sem considerar a corrente prévia é:

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 24 de 57


2
 I 
 
 k .I n 
t = τ th . ln 2
minutos. Válido para I / (k.IN) ≤ 8
 I 
  − 1
 k .I n 

Os relés 7UM61 e 7UM62 levam em consideração a temperatura do meio de resfriamento /


ventilação ou a temperatura ambiente, através de sensor externo.

Esses relés apresentam sofisticação maior, como por exemplo:

- A constante de tempo de aquecimento é diferente para uma máquina rotativa parada


(rotor bloqueado) e girando (ventilação pela rotação). Assim, há ajuste de corrente,
acima da qual a constante de tempo é outra.

- A fórmula de sobrecarga é aplicável a uma determinada faixa de correntes. Para


valores de corrente de curto-circuito (ajustável), a função pode ser desativada.

2.3 DESBALANÇO (FUNÇÃO 46 – SEQUÊNCIA NEGATIVA)

A função de seqüência negativa detecta desbalanços de corrente, com ou sem terra.


Correntes de seqüência negativa produzem campo girante no sentido reverso e induzem
correntes de frequência dupla no rotor. Pode haver aquecimento severo no rotor e nos
enrolamentos amortecedores.

Curtos-circuitos bifásicos e monofásicos possuem componentes de seqüência negativa. Esta


função serve também para detectar curtos-circuitos não trifásicos que podem ter valor de
corrente inferior à corrente de carga normal da máquina.

Característica Térmica da Máquina

Os fabricantes de máquinas indicam o limite permissível de carga desbalanceada através de:

K
t PERM =
I
( 2 )2
IN

tPERM = Tempo máximo permissível de aplicação da corrente de seqüência negativa I2.

K = fator de assimetria da máquina (constante da máquina)

I2 / IN = Desbalanço de carga (relação entre I2 e IN).

O fator de assimetria depende da máquina e representa o tempo em segundos durante a qual


a máquina pode ser carregada com 100% de carga desbalanceada (I2 = IN), Este fator está,
tipicamente, na faixa 5 a 30 s.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 25 de 57


O aquecimento do objeto protegido (rotor) é calculado no relé tão logo as condições de
desbalanço são excedidas (ajuste I2>). A área corrente x tempo é constantemente calculada
para assegurar uma correta avaliação da carga que pode estar variando.

É dado trip desde que se atinja o limite, isto é, a área ((I2/IN)2.t) atinja o limite K.

Esfriamento

O tempo de esfriamento é considerado, ajustando-se no relé o valor correspondente. Esse


tempo começa a ser contado desde o instante em que o valor cai abaixo do ajuste I2>.

Estágio de Tempo Definido

Para corrente de seqüência negativa superior a um valor alto, ajustável (I2>>). A partir desse
valor, a curva é cancelada e a função de tempo definido é ativada (geralmente com tempo =
0s). É para detecção de corrente de curto circuito bifásico. A figura a seguir mostra esse valor
de tempo definido, sobreposto à curva de tempo inverso.

T ALARME

T I2 >>

I2 ADM I2 >>

Figura 2.05 – Zona de Trip da Proteção de Carga Desbalanceada

Diretrizes para Ajuste (relé Siemens)

A corrente máxima permitida de seqüência negativa da máquina precisa ser conhecida.


Assim:

• Para máquinas síncronas de pólos não salientes, a corrente máxima permitida de


seqüência negativa está na faixa 6 a 8% da nominal da máquina.
• Para máquinas síncronas de pólos salientes, essa corrente é pelo menos 12% da
nominal.
• Para as demais máquinas, consultar características fornecidas pelo fabricante.

É importante se assegurar que o valor fornecido pelo fabricante corresponde a valores


primários da máquina. Para ajustar o relé de proteção (que está no lado secundário),
considerar:

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 26 de 57


I 2 MAXPRIM I N _ MÁQUINA
I 2 >= ( . )
I N _ MÁQUINA I N _ TC _ PRIMÁRIO

Isto é, o valor deve ser calculado em função do Nominal do TC (= nominal do relé). Por
exemplo:

IN_MÁQUINA = 483 A

I2MAX_PRIM / IN_MÁQUINA = 11%

IN_TC_PRIM = 500 A

I2 > = 11% . (483 / 500) = 10,6%

O fator K de assimetria da máquina é o valor de tempo para (I2/IN) = 1, na curva característica


de carga desbalanceada fornecida pelo fabricante (valor primário).

I2 / IN

1,0

0,5
0,4

0,2

0,11
0,1
t (s)
10 20 50 100 200 500 1000

Figura 2.06 – Característica de Desbalanço de Máquina Rotativa

Para se calcular o valor secundário, para ajuste no relé, deve-se fazer:

I N _ MÁQUINA
K SEC = K PRIM ( )2
I N _ TC _ PRIM

Por exemplo:

K = 20 s para (I2 / IN) = 1 (lado primário da máquina).

IN_MÁQUINA = 483 A

IN_TC_PRIM = 500 A

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 27 de 57


Para ajustar este valor no relé, deve-se fazer:

KSEC = 20. (483 / 500)2 = 18,7 s

O tempo de esfriamento, após reset do valor de I2 > é calculado como:

K
t RESFRIAMENTO =
( I 2 MAX _ PRIM / I N _ MÁQU _ PRIM ) 2

Para o exemplo numérico: tRESFRIAMENTO = 20 / 0,112 = 1650 s

2.4 POTÊNCIA ATIVA (Função 32)

Em grande motor pode haver necessidade de uma função de potência ativa para fins de
controle, isto é, necessidade de manobras ou remanejamentos quando se ultrapassa certos
valores de energia ativa consumida pelo motor. Neste caso se utiliza função direcional de
potência ativa, no sentido do sistema para o motor.

2.5 DIFERENCIAL (87M)

Na proteção de sistemas elétricos de potência, uma das funções mais utilizadas na proteção
é a função DIFERENCIAL. Como o próprio nome indica, seu princípio de funcionamento
baseia-se na comparação entre grandezas (ou composição de grandezas) que entram no
circuito protegido e grandezas de mesma natureza que saem do circuito protegido.

No caso de se apurar diferença entre grandezas comparadas, descontando-se os aspectos


esperados das condições de contorno como erros de TC´s, defasamentos angulares e
diferenças de potencial entre os lados comparados, pode-se concluir quanto à existência de
anormalidade no componente protegido.

A função DIFERENCIAL é utilizada na proteção de transformadores, equipamentos de


compensação reativa, máquinas rotativas, sistemas de barramentos, cabos e linhas de
transmissão. A função diferencial é recomendada para máquinas rotativas com potência
superior a um valor em torno de 1 MW (1000 kW).

Ela pode ser do tipo percentual (a maioria dos casos) ou do tipo “alta impedância”.

2.5.1 Requisitos de uma Proteção Diferencial

Os seguintes são os requisitos básicos de qualquer proteção diferencial:

• Deve considerar os efeitos de erros de precisão nos TC’s e TC’s auxiliares utilizados
para conexão da proteção.
• Deve manter a estabilidade (não atuar) para curto-circuito externo à área protegida,
mesmo com saturação de TC.
• Deve manter a estabilidade para correntes de magnetização transitória (energização)
quanto aplicada a transformadores de potência.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 28 de 57


• Deve ter rápida atuação para curto-circuito interno, mesmo para aquelas faltas de baixa
corrente.
as correntes devem ser devidamente condicionadas antes da medição da diferença entre
as correntes de um lado e do outro. O princípio diferencial percentual é mostrado a seguir:

ID Zona de
Operação

Zona de
Restrição
ID_Mínima

IA + IB
Figura 2.07 – Princípio da Função Diferencial Percentual

As figuras a seguir mostram algumas conexões para uma proteção diferencial:

52
52

Figura 2.08 – Conexão de TC’s para Proteção Diferencial Percentual de Motor

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 29 de 57


52

Figura 2.09 – Conexão de TC’s para Proteção Diferencial Percentual de Motor – Conexão Delta

2.6 SOBRECORRENTE (FUNÇÃO 50/51) E SOBRECORRENTE SUPERVISIONADA POR


TENSÃO (FUNÇÃO 51V)

Para aqueles motores que não possuem proteção diferencial, haverá sempre a necessidade
de proteção para faltas entre fases. Para os motores que têm diferencial, haverá sempre a
necessidade de retaguarda.

Já foi visto que há vários graus de sobrecorrente a serem considerados:

- Sobrecorrente para faixa de sobrecarga (de 100 a 300% da corrente nominal).


- Sobrecorrente de rotor bloqueado ou próximo (de 300 a 500 %).
- Sobrecorrente de curto-circuito (acima de 500% em geral, podendo ser menor).

Função 50

Em geral, se usa elemento instantâneo de corrente de fase, ajustado para valor superior à
corrente de rotor bloqueado, para proteção contra curto-circuito (50).

A corrente de rotor bloqueado pode ser estimada por: ILR = 1 / (X1S + X”d)

Onde X1S = é a impedância total (seqüência positiva) do sistema elétrico que alimenta o
motor.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 30 de 57


X”d = é a reatância subtransitória de eixo direto.

O valor de “pick-up” da função 50 pode ser ajustado em torno de 1,3 a 1,5 x ILR.

Função 51

Pode-se, opcionalmente, utilizar sobrecorrente temporizado de tempo inverso (51) como


retaguarda para condição de sobrecarga e para condição de rotor bloqueado, mas seu uso é
dificultoso considerando que o critério é de Corrente (A) ao invés de Temperatura (graus C).
Mas, é sempre preferível que haja proteção específica para sobrecarga (49) e para rotor
bloqueado (49LR).

Como a proteção específica para rotor bloqueado é para motores médios e grandes, o uso de
51 é mais generalizado para motores pequenos (< 500 kW).

Tempo (s)
51 (retaguarda)

Corrente de
Curva de dano CURTO-
CIRCUITO

Sobre-
carga

50 (prot.
Curto-
circuito)

Corrente
p.u. ou A
Corrente
de Carga

Figura 2.10 – Exemplo de aplicação (opcional) de função 51

Cuidado deve-se tomar no ajuste da função 51, uma vez que:

• O relé parte quando parte o motor, e deve dar “drop-out” quando a corrente cai para o
valor normal da corrente no motor. Assim o valor de ‘pick-up” da função 51 não pode
estar muito próximo da corrente nominal do motor.

• Quando a faixa de corrente entre a corrente nominal do motor e a corrente de rotor


bloqueado é muito estreita, é muito difícil aplicar a função 51. Uma proteção digital teria
características melhores de aplicação, neste caso.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 31 de 57


2.7 PERDA DE CAMPO (FUNÇÃO 40)

Há várias maneiras de se detectar perda de campo e como conseqüência, vários tipos de


funções de proteção para detectar a anormalidade.

• Através de uma função ou relé de “Fator de Potência” (ângulo de fase) – Função 55.

• Através de uma função de medição e detecção de impedância, que cairá numa região
específica do diagrama R/X – Função 40.

• Através de uma função que avalia a curva de estabilidade da máquina no plano da


Admitância (Relé Siemens 7UM) e detecta perda de excitação

Exemplo de Função 55

A figura a seguir mostra o exemplo de uma proteção de “Fator de Potência”.

Q
(VAr)

Zona de Operação
Normal do Motor Zona de Trip da
Proteção 55

1
PMotor PGerador (W)

30o

3
Partida do Motor como
sendo de Indução

Figura 2.11– Exemplo de Proteção 55 de Perda de Campo, para um Motor Síncrono

A proteção deve apresentar recursos para evitar sua atuação durante a partida do motor
síncrono. E também deve ser temporizada, de tal modo que se evite atuação quando de
oscilação de potência, com a característica passando pela área de atuação.

Como se vê, esta proteção é adequada para “Perda de Campo” e menos adequada para
oscilação de potência, mesmo com tendência de perda de sincronismo.

Função 40 com característica R-X clássica.

O uso de característica de impedância no plano R-X, como mostrado na figura a seguir, é a


forma clássica de se ter a função 40 para máquinas síncronas:

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 32 de 57


X

X'd / 2

Diâmetro=
1 p.u.

Diâmetro
= Xd

Figura 2.12 – Função perda de excitação (40). Característica clássica para Motor.

O deslocamento do círculo no sentido –X terá um valor ajustado de X’d / 2 (metade da


reatância transitória de eixo direto da máquina), considerando que, ao se perder o campo, a
impedância medida é maior em móduo que |X’d / 2|.

Classicamente, a característica da função 40 (que no fundo é um relé de impedância) é


ajustada como sendo um círculo de diâmetro igual a Xd (reatância síncrona de eixo direto).
Entretanto, considerando que em condição de oscilação de potência ou outra condição
transitória, a característica pode passar por essa área, há necessidade de temporizar a
função 40 (diâmetro Xd) para dar tempo à atuação de regulador de tensão (atua no campo) e
evitar trip desnecessário.

Há fabricante que oferece proteção 40 também com a característica com diâmetro 1.0 pu
(impedância da máquina), conforme a figura, com atuação instantânea. Isso porque, quando
de perda de campo, a impedância vista vai cair dentro dessa característica.

2.7.1 Proteção Siemens (7UM61 e 7UM62) para Motor e Gerador Síncrono.

Com o advento da tecnologia digital microprocessada para relés de proteção, outros


modos de detectar perda de excitação foram sendo elaborados pelos vários fabricantes. As
proteções digitais da Siemens 7UM61 e 7UM62 implementam essa função 40 através da
avaliação da curva de estabilidade da máquina no plano da Admitância.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 33 de 57


Condutância
IW P
= =G
U U2
Limite de
Estabilidade
em Regime
Gerador

- Susceptância
Sub-excitado Sobre-excitado
1 νN − Ib − Q
ϕN IN = 2 = −B
Xd U U
UN
I EN
UN

Condutância
IW P
= =G
U U2

- Susceptância
Sub-excitado Sobre-excitado
1 νN
ϕN IN − Ib − Q
Xd = 2 = −B
UN U U
I EN
UN
Limite de
Estabilidade
em Regime
Motor

Figura 2.13 – Diagrama de Admitância de Operação de Motor Síncrono

Iw = Corrente Ativa. UN = Tensão Nominal


Ib = Corrente Reativa IN = Corrente Nominal
G = Condutância IEN = Corrente de Excitação Nominal
B = Susceptância νN = Ângulo do Rotor Nominal
P = Potência Ativa ϕN = Ângulo de Carga Nominal
Q = Potência Reativa Xd = Reatância Síncrona

A figura acima mostra o diagrama de carregamento de uma máquina síncrona no plano da


Admitância. Na figura é mostrado o limite de estabilidade em regime, que intercepta o eixo
dos X no valor próximo a 1/ Xd.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 34 de 57


Carac. 2 Condutância
IW P
Carac. 3 = =G
U U2

Sub-
Susceptância excitado − Ib − Q
= 2 = −B
Sobre-excitado U U

α3 α2
I
U
α1 E
U
Carac. 3

Carac. 1
Carac. 2

Figura 2.14 – Função 40. Características de pickup no plano da Admitância

Para a característica 3, ajustado para valor B superior ao limite de estabilidade, a atuação da


proteção pode ser instantânea.

Para as características 1 e 2, ajustados em função de 1 / Xd e ângulos α1 e α2, deve haver


temporização.

2.8 FUNÇÕES 51N / 51G / 67G

2.8.1 Sistema de Alimentação

O sistema de alimentação do circuito do motor pode ser solidamente aterrado, aterrado


através de resistência ou reatância ou ainda isolado. As figuras a seguir ilustram os casos:

AT MT

Motor

Figura 2.15 – Sistema Solidamente Aterrado Alimentando Motor

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 35 de 57


AT MT

Motor

RN

Figura 2.16 – Sistema Aterrado através de Resistência

AT MT

Motor

XN

Figura 2.17 – Sistema Aterrado através de Reatância

AT MT

Motor

Figura 2.18 – Sistema Isolado

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 36 de 57


2.8.2 Curto-Circuito Fase-Terra

Caso o sistema de alimentação seja do tipo solidamente aterrado, a corrente de terra para
curto-circuito fase-terra no circuito do motor pode ser muito grande. Os relés de proteção
do motor não teriam dificuldades para detectar a corrente.

AT MT

Relés + Motor
Disjuntor

Figura 2.19 – CC Fase-terra em sistema solidamente aterrado. Corrente elevada.

Caso o sistema de alimentação seja do tipo isolado, a corrente de terra para curto-circuito
fase-terra pode variar de miliampères a alguns ampères, devido a capacitância dos cabos
de energia da instalação:

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 37 de 57


AT MT

Relés + Motor
Disjuntor

AT MT

Relés +
Disjuntor Motor

Figura 2.20 – CC Fase-terra em sistema isolado. Correntes capacitivas (baixas).

Caso o sistema de alimentação seja do tipo aterrado através de resistência ou reatância,


as correntes de terra para curtos-circuitos fase-terra teriam valores intermediários dos dois
casos anteriores.

2.8.3 Proteção pela função 51N ou 51G

Observa-se que a corrente de terra pode ter valores elevados apenas para motores
alimentados por sistema solidamente aterrado.

Para os demais casos, as correntes seriam bem pequenas, dependendo ainda do tipo de
alimentação e da configuração das instalações.

Há dois tipos de conexão de proteção de sobrecorrente de terra:

a) Através do circuito residual dos secundários de TC’s

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 38 de 57


b) Através de TC’s tipo janela

50G

50/
51N

Figura 2.21 – Conexão para Sobrecorrente de Terra.

O uso de TC tipo janela permite uma sensibilidade bem maior, uma vez que a corrente no
secundário do TC só aparece em condição de terra. Daí, a proteção de terra conectada em
TC de janela ser chamada de alta sensibilidade.

Assim sendo, se utiliza 50N (residual de TC’s) para sistemas solidamente aterrados ou
aterrados através de resistência.

Utiliza-se TC de janela para todos os demais casos, buscando maior sensibilidade para
faltas a terra.

2.8.4 Proteção pela função 67G

Eventualmente, utiliza-se função direcional de terra (67G) com TC de janela, para casos
em que pode haver retorno de corrente capacitiva para curtos externos.

2.8.5 Desempenho da Proteção

O motor trifásico tem conexão triângulo ou estrela, sem neutro. Assim sendo, o desbalanço
de terra que pode haver no circuito alimentador do motor, pelo disjuntor respectivo, pode-
se originar:

• de curto-circuito a terra neste circuito (figura 2.19 ou 2,20 inferior).

• contribuição de corrente capacitiva de desbalanço, para curto fase-terra externo ao


circuito do motor, porém no sistema de alimentação do motor (figura 2.20 superior).

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 39 de 57


No primeiro caso, há detecção pela função 50N ou 51N.

No segundo caso, haveria necessidade de relé direcional 67G para evitar que a proteção
(sensível) atue para curto externo.

De qualquer modo, a proteção terra pode ser ajustada bem sensível, com atuação
instantânea.

2.9 FUNÇÃO 59N ou 64G

Para sistemas isolados e também para sistemas com resistência ou reatância de


aterramento, pode-se utilizar a função 59N ou 64G (conectado a circuito residual de TP’s em
delta aberto) para medir a tensão residual 3.V0.

Esta última conexão permite detectar terra em sistema isolado, mas não consegue detectar a
localidade desse curto.

2.10 TERRA-ROTOR (FUNÇÃO 64R) PARA MOTORES SÍNCRONOS

A proteção aqui mencionada é para aqueles sistemas de excitação com escovas e anéis para
injeção de corrente contínua no campo (rotor). Não se trata de sistemas “brushless”.

O circuito do campo de uma máquina síncrona é um sistema DC não aterrado. Uma simples
falta à terra nesse sistema não afetará a operação do gerador, nem produzirá qualquer efeito
ou dano na máquina.

Entretanto, caso haja a ocorrência de uma segunda falta a terra nesse sistema, a porção do
enrolamento do campo entre as duas faltas estará curto-circuitado, produzindo fluxos
desbalanceados nos entre-ferros da máquina. Os fluxos desbalanceados produzem forças
magnéticas desbalanceadas com conseqüente vibração e danos. Haverá também
desbalanço de corrente com temperaturas desbalanceadas e aquecimento do ferro do rotor.

Com a atuação da proteção “Terra-Rotor”, que detectará a primeira falta a terra no campo,
tem-se as seguintes alternativas:

1. Providenciar desligamento automático e imediato do motor síncrono e abertura do


disjuntor do campo.
2. Providenciar apenas alarme, sendo que as providências de parada da máquina seriam
manuais e controladas.

Há várias linhas de ação entre as concessionárias e os usuários industriais. O desligamento


automático imediato é menos comum. A bibliografia [3] informa que cerca de 82% das
máquinas pesquisadas utilizam esse tipo de proteção e cerca de 30% dos que utilizam
providenciam desligamento automático com a atuação dessa proteção.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 40 de 57


2.10.1 Princípios Utilizados

A figura a seguir mostra três princípios de funcionamento dessa proteção:

EXCITA EXCITA EXCITA


64R TRIZ TRIZ TRIZ

Fonte
Fonte AC
64R AC 64R

Método de Divisão de Método de Injeção de Método de Injeção de


Tensão Sinal AC Sinal DC

Figura 2.22– Princípios da Proteção Terra-Rotor

Eventualmente seria conveniente que o eixo do rotor (ligado ao ferro) seja aterrado através
de escova, uma vez que o filme de óleo introduz resistência suficiente para tirar a
sensibilidade da proteção.

Ferro

Enrolamento
do Campo EXCITA
TRIZ

Escova de
Aterramento

Figura 2.23– Aterramento do Eixo através de Escova

Uma temporização de 2 a 3 s é introduzida na proteção 64R para evitar atuações


intempestivas por desbalanço transitórios, momentâneos (causados por exemplo por
tiristores do retificador).

Uma proteção de retaguarda para a função 64R seria um dispositivo de detecção de


vibração.

Método da Divisão de Tensão

A primeira técnica é conectar resistor em paralelo com o campo. O ponto central do


resistor é aterrado através de um relé de sobrecorrente DC sensível. Quando de curto-
circuito a terra no enrolamento rotórico, haverá corrente através do relé que deverá atuar.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 41 de 57


Note que neste princípio, havendo uma falta a terra no “ponto central” do enrolamento
estatórico, não haverá corrente pelo relé, caracterizando um ponto cego. Há algumas
sofisticações como utilizar varistores e resistores ao invés de simples resistor com ponto
central, para tentar evitar esse ponto cego.

Método de Injeção de Sinal AC

A segunda técnica consiste em aplicar uma fonte de tensão AC através de um ponto do


enrolamento do campo. Havendo terra em algum ponto, uma corrente AC irá circular no
relé (64) provocando sua atuação.

Método de Injeção de Sinal DC

A terceira técnica consiste em aplicar uma tensão DC ao invés de AC, através de um ponto
do enrolamento do campo. Havendo terra em algum ponto, uma corrente irá circular no
relé (64) provocando sua atuação.

2.10.2 Função 64R da Proteção Siemens 7UM6

A figura a seguir mostra a função 64R da proteção Siemens 7UM6, com o princípio de
injeção de tensão AC. Note que há necessidade de dispositivo adicional 7XR61 e
resistores 3PP13:

Figura 2.24– Função 64R da Proteção Siemens 7UM6

A função determina o valor da resistência para terra do circuito do campo RE através de UE


e IE. Em condições normais, o sistema aplica entre 36 e 45 Volts através do dispositivo de

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 42 de 57


acoplamento 7XR61 e a corrente em condição normal de operação é de apenas alguns
mA.

A função calcula o RE levando em conta a capacitância do sistema, a resistência existente


do sistema. Tem filtros para minimizar o efeito das harmônicas introduzidas pelo circuito
retificador. Tem sensibilidade para detectar resistência até em torno de 30 kΩ. Ajuste
típico: Alarme 10 kΩ e trip 2 kΩ.

2.11 SOBRETENSÃO (FUNÇÃO 59)

A proteção de sobretensão (59) não é necessária para a unidade motora, mas é


recomendável para a instalação industrial como um todo. Também deve-se fazer com a
proteção opere para sobretensões trifásicas e sustentadas (proteção temporizada).

2.12 SUBTENSÃO (FUNÇÃO 27)

Uma queda de tensão provoca redução de torque e aumento de corrente, o que pode levar a
aquecimentos indesejados. Alguns fabricantes de motores sugerem o uso de funções de
subtensão para proteção de motores.

Cuidado deve ser tomado para que a função não opere por quedas momentâneas de tensão
ou por quedas de tensão esperadas associadas à partida. Uma proteção de característica de
tempo inverso é desejável.

2.13 FREQUÊNCIA (FUNÇÃO 81)

Para motores, é rara a necessidade de uso e, se houver necessidade, será para médios e
grandes motores síncronos (> 2 MW).

A função de sub-frequência pode, as vezes ser utilizada para “perda de suprimento”, uma vez
que, com a carga ligada, a rotação do motor cairá rapidamente.

2.14 SUBCORRENTE (FUNÇÃO 37)

Dependendo do TIPO DE CARGA, poderá haver necessidade de função de subcorrente para


se detectar condição de operação “sem carga” (casos especiais).

2.15 SUPERVISÃO DE PARTIDA (FUNÇÃO 48 – SEQUÊBNCIA INCOMPLETA)

Função que tem a finalidade de detectar falha na partida do motor. Isso ocorre quando o
torque da carga é muito elevado ou a tensão está abaixo do limite aceitável ou ainda
bloqueio do rotor por qualquer motivo.

O tempo para disparo depende da magnitude da corrente de partida, sendo que a seguinte
fórmula é válida:

I SRT 2
t=( ) .t SRT
I
PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 43 de 57
t = tempo de atuação

I = corrente medida (valor eficaz)

ISRT = corrente de partida (ajustável)

tSRT = tempo de partida (ajustável)

O valor de corrente de partida é ajustado no relé. Assim, a função entra em ação para toda
corrente igual ou superior a ISRT. Com base no tempo ajustado de partida, tem-se uma
característica de tempo inverso.

2.16 SUPERVISÃO DE ROTOR BLOQUEADO (FUNÇÃO 49LR)

Através de contato externo relacionado, por exemplo, a um tacômetro, pode-se ter uma lógica
de rotor bloqueado. Há relé que possui incorporada essa função, para desligamento imediato
quando de rotor bloqueado.

2.17 INIBIÇÃO DE REPARTIDA (FUNÇÃO 66/49R – PARTIDA FREQUENTE)

2.17.1 Finalidade

A temperatura do rotor permanece, geralmente, dentro de valores bem abaixo da


temperatura permitida, durante operação normal ou mesmo durante severas condições de
carga. Entretanto, durante a partida do motor o rotor pode aquecer rapidamente.

Se partidas múltiplas são tentadas num curto intervalo de tempo, o rotor pode sofrer danos
térmicos.

A função 66/49R tem a finalidade de simular (projetar) a temperatura do rotor em condição


de partidas múltiplas e efetuar o bloqueio da partida quando a temperatura se elevar acima
do valor permitido. O sinal de bloqueio permanece até que a temperatura do rotor
(calculada) cai abaixo do valor de “reset”. Uma saída digital da proteção pode ser utilizada
para bloquear a partida.

2.17.2 Determinação da Sobre-temperatura no Rotor

A corrente do estator é utilizada para se estimar a temperatura do rotor. A maior corrente


de fase é utilizada para este fim.

Os valores dos limites térmicos do enrolamento do rotor são baseados nos dados do
fabricante referentes a:

- Corrente nominal de Partida


- Tempo máximo permitido de Partida
- Número de Partidas permitidas a partir das condições fria (ncold) e morna (nwarm).

Através desses valores se efetua o cálculo das condições de temperatura e há emissão de


sinal de bloqueio até que as condições retornem a valores inferiores ao limite.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 44 de 57


Figura 1.25 – Curva de Temperatura do Rotor e a Temperatura da Réplica

Apesar da distribuição da temperatura variar amplamente no rotor, como mostra a figura, é


muito mais importante estabelecer o perfil térmico que é representativo para proteção. Na
figura, verifica-se que a partida da proteção 66/49R ocorre após a segunda partida do
motor.

2.17.3 Limite de Re-partida

Se a temperatura do rotor exceder o limite de re-partida, o motor não pode ser re-partido.
Quando a temperatura do rotor está abaixo do limite de re-partida, isto é, quando
exatamente uma repartida é permitida sem que a temperatura atinja o limite, o sinal de
bloqueio é encerrado. A função utiliza o seguinte critério, dependendo do nCOLD

θ Re − partida nCOLD − 1 θ Re − partida


=
θ Trip nCOLD θ Trip

n COLD Θ Re-partida
(parâmetro do motor)
2 0,5 50,0% da ΘTrip
3 0,667 66,7% da ΘTrip
4 0,75 75,0% da ΘTrip

2.17.4 Tempo de Re-partida

Quando o fabricante dá as máximas quantidades de re-partida em condições fria e morna,


ele parte do princípio que o motor não efetua a partida imediatamente após a parada.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 45 de 57


Somente após um tempo de equilíbrio (dissipação térmica), uma tentativa de partida pode
ser feita.

A função pode obter esse tempo de equilíbrio através de um parâmetro ajustável ou pode
ter esse parâmetro calculado através de outros parâmetros do motor – isso pode ser
observado na documentação técnica da função (Relé Siemens).

Alguns fabricantes de motores estabelecem um tempo Mínimo para esse tempo de


equilíbrio (dissipação térmica). Assim, dependendo da proteção, esse tempo mínimo pode
também ser parametrizado.

2.17.5 Outras

Outras facilidades ou sofisticações podem estar disponíveis como: partida emergencial,


bloqueio da função, reset da função por entrada binária, etc.

PROTEÇÃO DE MOTORES Funções de Proteção 46 de 57


3. ESQUEMAS DE PROTEÇÃO

3.1 INTRODUÇÃO

Este capítulo tem a finalidade de apresentar esquemas de proteção para motores de indução
(tipo gaiola e tipo enrolado) e motores síncronos de média e alta tensão. Os itens aqui
mostrados se aplicam, principalmente, a motores trifásicos e motores de velocidade variável,
onde especificamente indicados.

As aplicações aqui mostradas cobrem as situações usuais de aplicação de motores e não


cobrem todas as situações possíveis. Assim sendo, têm caráter geral.

3.2 REQUISITOS DE PROTEÇÃO

Qualquer que seja a origem do problema, o motor deve ser protegido para que os danos
sejam minimizados ou evitados.

A figura a seguir mostra os itens significativos de um motor de indução, para fins de proteção:

Tempo (s)

Curva de
dano

Característica
de PARTIDA

Corrente
p.u. ou A

Corrente Corrente de Corrente de


de Carga SOBRECARGA CURTO-CIRCUITO

Figura 3.01 – Itens Significativos para Proteção

Em condição de sobrecarga ou aquecimento devido a partida demorada ou excesso de


partidas, o motor deve ser desligado antes que se atinja a curva de dano.

Para condição de curto-circuito, deve-se desligar o motor o mais rapidamente possível. Há,
portanto necessidade de proteção básica para SOBRECARGA e para CURTO-CIRCUITO.

PROTEÇÃO DE MOTORES Esquemas de Proteção 47 de 57


3.3 ESQUEMAS BÁSICOS DE PROTEÇÃO DE MOTOR DE INDUÇÃO

3.3.1 Sobrecargas

O motor necessita ser desligado antes do tempo em que o aquecimento possa provocar
danos. A “curva de dano” ou a “curva de limite térmico” estabelece a referência.

Para sobrecarga, utiliza-se elemento térmico ou relé térmico. Eventualmente, pode-se


utilizar elo fusível (sobrecorrente) com a característica adequada (geralmente como
retaguarda).

A figura a seguir mostra a característica necessária de proteção para condição de


sobrecarga:

Tempo (s)

Curva de dano

Característica
DESEJÁVEL DA
PROTEÇÃO DE
SOBRECARGA

Característica
de PARTIDA

Corrente
p.u. ou A
Corrente Corrente de
de Carga SOBRECARGA

Figura 3.02 – Característica desejada para Proteção contra Sobrecarga

3.3.2 Curtos-circuitos

O motor necessita ser desligado para corrente de curto circuito, que normalmente é
superior à corrente de partida com rotor bloqueado.

A figura a seguir mostra a proteção de curto-circuito feita através de fusível simples:

PROTEÇÃO DE MOTORES Esquemas de Proteção 48 de 57


Tempo (s)

Curva de dano

FUSÍVEL

Corrente
p.u. ou A
Corrente
Corrente de
de Carga
CURTO-
CIRCUITO

Figura 3.03 – Característica de Elo Fusível para Proteção contra Curto-Circuito

Observa-se que a característica do elo não permite proteção de sobrecarga. Assim sendo,
haverá necessidade de proteção de sobrecarga adicional, o que é mostrado na figura a
seguir:

Tempo (s)

Curva de dano

Corrente de
CURTO-
CIRCUITO

SOBRECARGA

FUSÍVEL

Corrente
p.u. ou A
Corrente
de Carga

Figura 3.04 – Característica de Elo Fusível para Proteção contra Curto-Circuito em conjunto
com Proteção de Sobrecarga

PROTEÇÃO DE MOTORES Esquemas de Proteção 49 de 57


Eventualmente pode-se utilizar fusíveis de característica DUAL para cobrir uma situação
de sobrecarga, como mostrado na figura a seguir:

Tempo (s)

Curva de dano

FUSÍVEL -
Elemento DUAL

Corrente
p.u. ou A
Corrente
Corrente de
de Carga
CURTO-
CIRCUITO

Figura 3.05– Característica de Elo Fusível DUAL (retaguarda para Sobrecarga)

Mas neste caso ainda se deseja elemento de sobrecarga, de modo que o elo fusível seja
apenas retaguarda para sobrecargas.

Pode-se usar elemento de sobrecorrente instantâneo ou disjuntor para proteção de curto-


circuito, como mostram as figuras a seguir:

Tempo (s)
Sobrecorrente
Instantâneo
Curva de dano

Proteção de
SOBRECARGA

Corrente
p.u. ou A
Corrente
Corrente de
de Carga
CURTO-
CIRCUITO

Figura 3.06– Característica de Sobrecorrente Instantânea

PROTEÇÃO DE MOTORES Esquemas de Proteção 50 de 57


Tempo (s)

Curva de Disjuntor (Caixa


dano Moldada ou Caixa
Isolada)

Corrente de
CURTO-
CIRCUITO

Proteção de
SOBRECARGA

Corrente
p.u. ou A

Corrente
de Carga

Figura 3.07– Característica de Disjuntor

Verifica-se para os dois casos anteriores que há necessidade também de elemento de


sobrecarga, pois tanto o elemento de corrente instantâneo como a curva de corrente do
disjuntor não cobre condição de sobrecarga.

3.4 ELEMENTOS DE PROTEÇÃO

3.4.1 Baixa Tensão

Contator Magnético com Fusível.

Controlador de partida e parada, com contator magnético, elemento térmico para


sobrecarga e abertura para falta de tensão. Para curto-circuito, a proteção é feita por elo
fusível.

Contator Magnético com Disjuntor de Baixa Tensão (com elemento de corrente).

Controlador de partida e parada, com contator magnético, elemento térmico para


sobrecarga e abertura para falta de tensão. Para curto-circuito, a proteção é feita por
disjuntor com elemento de corrente.

3.4.2 Média Tensão

Contator Magnético com Fusível.

Controlador de partida e parada de média tensão, com contator magnético, elemento


térmico para sobrecarga e abertura para falta de tensão. Para curto-circuito, a proteção é
feita por elo fusível.

PROTEÇÃO DE MOTORES Esquemas de Proteção 51 de 57


Contator Magnético com Relé de Sobrecorrente Instantâneo

Controlador de partida e parada de média tensão, com contator magnético, elemento


térmico para sobrecarga e abertura para falta de tensão. Para curto-circuito, a proteção é
feita por relé de sobrecorrente instantâneo.

Disjuntores de Potência com Relés de Proteção

Controlador de partida e parada de média tensão, onde todo chaveamento e interrupção


são feitos por DISJUNTOR de potência, com o uso de relés para proteção, inclusive
sobrecarga térmica.

3.5 ESQUEMAS DE PROTEÇÃO POR RELÉS PARA MOTORES DE INDUÇÃO

Nota:

kW .1000 HP.746
Corrente = Corrente =
V . 3.FP V . 3.Eficiencia.FP

3.5.1 Motores de Média Tensão de 100 a 500 kW em Sistema Solidamente Aterrado

Para motores de até 1000 kW aproximadamente, recomenda-se o esquema de proteção


mostrado na figura a seguir:

Relé 7SJ60

50 51N 46 49 48

Supervisão de Falha
de Partida do Motor

Figura 3.08 – Esquema de Proteção para Motores Médios, para Sistemas Solidamente
Aterrados

3.5.2 Motores de Média Tensão até 100 a 500 kW em Sistema Aterrado Através de
Impedância / Resistência

Recomenda-se o esquema de proteção mostrado na figura a seguir:

PROTEÇÃO DE MOTORES Esquemas de Proteção 52 de 57


M

51G

50 46 49 48

Supervisão de Falha
de Partida do Motor
Relé 7SJ602

Nota:
O direcional de terra sensível
67G só é aplicável quando o
sistema for isolado ou aterrado
através de bobina de Petersen.

51G

Ver Nota. 67G

50 46 49 48

Relé 7SJ62 Supervisão de Falha


de Partida do Motor

Figura 3.09– Esquema de Proteção para Motores Médios, para Sistemas Aterrados através de
Impedância / Resistência

Neste caso, a corrente de curto-circuito para falta fase-terra é limitada pela resistência de
neutro do sistema, e pode chegar a valores muito pequenos. Assim, há necessidade de
maior sensibilidade para as funções de terra.

Função 51G

Sobrecorrente de terra temporizada de alta sensibilidade, alimentada através de TC de


janela (baixa relação de transformação). Deve ser ajustada para um valor sensível porém
acima do valor esperado de desbalanço esperado do sistema.

PROTEÇÃO DE MOTORES Esquemas de Proteção 53 de 57


Função 67G

Quando o sistema for aterrado através de bobina de Petersen, ou quando é isolado, pode
haver necessidade de saber a direção da corrente de terra (sensível). Apenas neste caso,
a função direcional pode se tornar necessária. Caso raro de ocorrer.

3.5.3 Motores de Média Tensão (entre 500 kW e 2000 kW)

51G Supervisão de 49
Rotor Bloqueado LR
(7SJ531)

67G Supervisão
3.V0 66 de Excesso
se 49R de Partida
Ver Nota. 64 Sistema (7SJ531)
Isolado

50 46 49 48
Relé 7SJ531 ou Supervisão de
7SJ62 Partida
Demorada do
Motor

Nota:

O direcional de terra sensível 67G só é aplicável quando o sistema


for isolado ou aterrado através de bobina de Petersen.

Figura 3.10 – Esquema de Proteção para Motores entre 500 e 2000 kW

Opcionalmente pode-se utilizar 7UM61ao invés dos relés indicados.

PROTEÇÃO DE MOTORES Esquemas de Proteção 54 de 57


3.5.4 Grandes Motores de Média Tensão (igual ou superior a 2000 kW)

Para motores com potência superior a 2000 kW aproximadamente, recomenda-se o uso da


proteção diferencial:

51G Supervisão de 49
Rotor Bloqueado LR
(7SJ531)

Supervisão
67G 66/ de Excesso
3.V0
se 49R de Partida
Ver Nota. 64 Sistema (7SJ531)
Isolado Relé 7UT512

50 46 49 48 87M
Relé 7SJ531 ou Supervisão de
7SJ62 Partida
Demorada do
Motor

Nota: Observação:

O direcional de terra sensível 67G só é 87 - pode ser diferencial de Alta


aplicável quando o sistema for isolado ou Impedância, se TC's são adequados.
aterrado através de bobina de Petersen.

Figura 3.11– Esquema de Proteção para Motores Maiores

Opcionalmente pode-se utilizar a proteção 7UM621 que tem a função diferencial incluída.

PROTEÇÃO DE MOTORES Esquemas de Proteção 55 de 57


3.6 ESQUEMAS DE PROTEÇÃO POR RELÉS PARA MOTORES SÍNCRONOS

3.6.1 Motores de Média Tensão e Inferiores a 2000 kW

Proteção 7UM61 com:

59N, 67G, 50N / 51G, 49, 51V, 50 / 51 / 67, 59, 27, 81, 32R, 60FL

74, 32F, 40, 46, 50BF, 50/27, 59.3H, 21

3.6.2 Motores de Média Tensão entre 2000 e 10.000 kW

Proteção 7UM62 com:

59N, 67G, 50N / 51G, 49, 51V, 50 / 51 / 67, 59, 27, 81, 32R, 60FL

74, 32F, 40, 46, 50BF, 50/27, 51.GN, 59.3H, 64R, 87M, 21

3.6.3 Motores de Média Tensão superiores a 10.000 kW

Proteção 7UM62 com:

59N, 67G, 50N / 51G, 49, 51V, 50 / 51 / 67, 59, 27, 81, 32R, 60FL

74, 32F, 40, 46, 50BF, 50/27, 51.GN, 59.3H, 64R, 87M, 21

Acrescida da Proteção 7SJ64 com:

37, 48, 49LR, 66/49R, Check Sincro.

Edição 1

São Paulo, 30 de julho de 2003.

PROTEÇÃO DE MOTORES Esquemas de Proteção 56 de 57


4. BIBLIOGRAFIA

[1] Skilling, H. H. – “Electromechanics” – John Wiley & Sons, Inc. 1966.

[2] ANSI/IEEE C.37.96 – 1988. “Guide for AC Motor Protection”

[3] IEEE Tutorial on the “Protection of Synchronous Generators – Cmpliments of Beckwith


Electric, Co. – 95 TP 102

[4] STROMBERG – “Application Guide for Protection of Synchronous Machines” – A-T


55.5200 EN1, 1982.

[5] Siemens – Documentação técnica de relés de proteção.

[6] Mason, C. Russell – “The Art and Science of Protective Relaying” - John Wiley & Sons,
Inc. & GE Company, 1956

[7] Grigsby, L. L. (Editor-in-Chief) – “The Electric Power Engineering Handbook. – CRC Press
/ IEEE Press, 2001.

PROTEÇÃO DE MOTORES Bibliografia 57 de 57

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